Como se relacionar melhor com as pessoas B e v e r ly D . F l a x i n g t o n Este livro é dedicado às três pessoas que fazem de cada dia da minha vida uma bênção: Samantha, Kiernan e Cynthia, meus filhos. SUMÁRIO Prefácio 9 Introdução 11 SEGREDO NÚMERO 1: Tudo que importa sou eu 13 SEGREDO NÚMERO 2: Nosso estilo de comportamento se interpõe entre nós 41 SEGREDO NÚMERO 3: Os seus valores falam mais alto que você 66 SEGREDO NÚMERO 4: Não suponha que sei o que você quer dizer 80 SEGREDO NÚMERO 5: Eu estou certo; você não está 100 Agradecimentos 122 Sobre a autora 123 PREFÁCIO Foi um grande prazer avaliar este livro. Enquanto o lia, em caráter profissional, para analisar se seria interessante para os nossos clientes, me senti profundamente atraída pelos conceitos apresentados, e encontrei neles uma aplicação imediata em minha vida pessoal. Quando reconhecemos que a maioria de nós vê a vida através de filtros do tipo “tudo que importa sou eu”, adquirimos certa liberdade nos relacionamentos – a liberdade de não nos frustrarmos com as atitudes daqueles que estão à nossa volta e de parar de tentar fazê-los entender nosso ponto de vista. Após compreender isso, torna-se mais fácil lidar com as pessoas, criar empatia, encontrar soluções para os conflitos, levando em consideração as necessidades do outro. Os conceitos aqui descritos por Beverly D. Flaxington têm sido proveitosos em todos os aspectos da minha vida, seja com a família, com os clientes ou com os colegas de trabalho. Recomendo com entusiasmo esta leitura interessante, divertida e útil! Kim Guimond Dellarocca Vice-presidente de Marketing e Comunicações da Pershing LLC, subsidiária do banco BNYMellon 9 INTRODUÇÃO Há anos as pessoas me perguntam: “O que você faz para se dar bem com todo mundo?”; “Como consegue negociar com tanta facilidade e sempre obter o que deseja?”; “Qual é o seu segredo?”. A resposta não é muito complicada, e você está prestes a descobri-la. Sou coach de carreira e comportamento, consultora de negócios, especialista em comportamento – com certificados em hipnotismo e treinamento de hipnose –, professora universitária e mãe. Tudo isso me dá uma perspectiva única da vida. Quando pediram que eu lecionasse uma matéria chamada “Lidando com pessoas difíceis”, soube imediatamente que tinha encontrado o meu lugar. Agora vou compartilhar meus segredos com você. Espero que possa compreendê-los e usá-los em suas interações diárias. Durante muitos anos, observei profissionais com dificuldades de se comunicar e pessoas que queriam melhorar seu comportamento em relação ao parceiro ou aos colegas de trabalho. Ao longo desse tempo, ofereci tantas informações e explicações sobre as razões que levam alguém a agir de determinada forma que me pareceu lógico escrever sobre isso, na esperança de evitar que as pessoas sofram – ou, pelo menos, para lhes dar algumas ideias sobre como lidar com relacionamentos difíceis. O problema é que muitas das nossas interações diárias acabam sendo “difíceis”. Até aqueles de quem mais gostamos nos irritam 11 às vezes. Quando você menciona as palavras “família”, “esposa”, “marido”, “filho adolescente”, “chefe” ou “sogra”, é comum as pessoas revirarem os olhos. A mera identificação desse tipo de relacionamento já causa mal-estar ou frustração. Estamos sempre lutando para entender o ponto de vista do outro. A falta de comunicação é a raiz de quase todos os nossos problemas – e não saber como resolver isso nos paralisa. Neste livro, reuni todo o conhecimento, as observações e as experiências pessoais e profissionais que adquiri ao longo da minha carreira e os dividi em cinco grandes grupos – são os meus “segredos”. Descobrir e entender cada um deles ajudará você a fazer mudanças incríveis em sua vida e em seus relacionamentos. A melhor maneira de utilizar o livro é absorver um segredo de cada vez. Coloque um deles em prática e só depois passe para o seguinte. Espero que meus ensinamentos lhe deem as ferramentas necessárias para entender aqueles que estão à sua volta – e, mais importante, para entender melhor a si mesmo. 12 SEGREDO NÚMERO 1: TUDO QUE IMPORTA SOU EU Vamos ser sinceros? Todos nós andamos por aí repetindo sem parar o mantra: “Tudo que importa sou eu.” É claro que não dizemos isso realmente, de maneira consciente, mas essa é a verdadeira mensagem por trás de tudo que fazemos. Esse não é um conceito fácil de se aceitar, porque revela que, na maior parte do tempo, as pessoas se concentram nelas mesmas. Não queremos acreditar que somos assim. Parece tão egocêntrico! Porém, se formos honestos e analisarmos com atenção, veremos que a palavra “eu” está no centro de cada pensamento que temos, em cada experiência que vivemos. Será que somos tão obcecados por nós mesmos? Sim, somos. Involuntariamente, enxergamos cada experiência através de nossas próprias lentes. Não é algo que fazemos de propósito, não é egoísmo. Apenas não temos escolha, pois não estamos cientes desse comportamento. Todos nós temos um conjunto de vivências, opiniões e pontos de vista que influenciam cada situação que enfrentamos. Tudo o que vemos, dizemos, ouvimos e fazemos é filtrado pelo mecanismo chamado “eu”. 13 Filtros obstruídos Os filtros que criamos colocam-se entre nós e todas as pessoas que encontramos. Você deve estar se perguntando por que eu os chamo de “filtros” – afinal, não somos máquinas cujas peças são removíveis. O que é uma pena, porque seria muito bom se pudéssemos remover esses filtros e renová-los. Se isso fosse possível, cada experiência recém-adquirida seria realmente original, e não uma cópia de algo que já vivemos no passado. Se pudéssemos observar nossos filtros sob a luz, identificaríamos tudo aquilo que os obstruiu, percebendo que a dificuldade que temos de enxergar as coisas é causada por nosso “eu”, que está no meio de tudo. Isso significa que é impossível lançar um olhar imparcial sobre as coisas, pois vemos tudo através da lente do eu. Sem querer, projetamos sobre todas as situações nossas próprias expectativas, crenças, preocupações e necessidades. Os filtros retêm a combinação de nossas experiências passadas, nossa visão do mundo, nossos conceitos de certo e errado, nosso comportamento e nossos valores. Se pensarmos neles como algo tangível, perceberemos que estão na nossa frente o tempo todo. Assim, é impossível ver claramente qualquer coisa – uma pessoa, um evento –, pois eles obstruem o caminho. O grande problema da comunicação é que cada um de nós tem o próprio filtro, e nenhum deles é imparcial e objetivo. Imagine duas pessoas com os filtros obstruídos tentando estabelecer uma conexão e compreender uma à outra. Queremos acreditar que estamos enxergando direito e que nossa mente está aberta e receptiva, mas a verdade é que eles estão lá, se interpondo a cada interação. Por exemplo, quando alguém diz ou faz 14 alguma coisa, você só consegue ouvi-la e vê-la através do seu ponto de vista, com seu filtro bloqueando a experiência. Os livros sobre relacionamentos costumam afirmar que, para estabelecer uma comunicação verdadeira com outra pessoa, é preciso colocar-se no lugar dela, criando empatia. Parece ótimo, mas como posso fazer isso se tenho os meus filtros? Não é que eu não queira me colocar no lugar do outro; o problema é que, honestamente, não consigo fazer isso. O lugar do outro não é o meu, e eu não entendo nada sobre esse lugar. Não diga “Eu sei o que você quer dizer” Muitas vezes, as pessoas ficam perturbadas quando dizemos “Eu sei o que você está sentindo” ou “Sei o que quer dizer”. Não gostamos quando alguém nos diz isso. Por quê? Não é bom que alguém esteja tentando se solidarizar com nossa situação e nos “entender”? Na verdade, não. Quando eu digo isso, a outra pessoa interpreta que o foco agora está em mim – no fato de que eu sou uma pessoa compreensiva e solidária. Não estou mais me concentrando nela e nos seus problemas; em vez disso, transferi minha atenção para o que eu estou sentindo em relação ao que ela está me dizendo. E, na realidade, é isso mesmo que acontece. O interlocutor percebe. Ele sabe que meu foco não está mais em ouvi-lo; estou concentrado em minha própria reação. Na verdade, para ambas as partes, só o que importa é o eu. Portanto, o melhor é simplesmente não dizer que você “entende” o outro, porque você só pode entender sua própria experiência. Dizer que já passou por uma situação semelhante – e começar a contar tudo sobre ela – é uma deselegância ainda maior. Quando fazemos isso, ime15 diatamente paramos de ouvir o outro e voltamos a centralizar a conversa em nós. Julgando os outros com base no “eu” Quando olho para você e formo uma opinião a seu respeito, faço esse julgamento baseado em mim. Não temos uma opinião sobre os outros – o que temos é uma opinião baseada naquilo que eles nos parecem através de nosso filtro. Esse pode ser um conceito difícil de compreender (e admitir), mas é real. Sempre ouvimos dizer que “semelhante atrai semelhante” e que “recebemos aquilo que esperamos”. Essas não são apenas frases feitas incessantemente repetidas por todos; há veracidade nelas. Você conhece alguém que já foi casado duas ou três vezes com parceiros diferentes, mas que, quando se refere àquele com quem está atualmente, parece estar falando sobre os anteriores? Isso acontece porque a experiência – a visão que tem do outro – é colorida pelo tom de seus filtros e pela maneira como ele interpreta a outra pessoa com base em si mesmo. Assim, é natural que escolha parceiros semelhantes, uma vez que seus filtros turvos o impedem de “enxergar” que o atual é essencialmente o mesmo que os predecessores. Se não aprender a reconhecer esses filtros, ele continuará a fazer as mesmas escolhas equivocadas. Essa ideia também pode ser aplicada a alguém que já teve vários empregos e nunca consegue se dar bem com o chefe, dizendo que eles são todos idiotas. Certamente os chefes não são todos idiotas. O mais provável é que o filtro dessa pessoa esteja obstruído com essa mensagem. 16 O peso das expectativas Não percebemos que nossos filtros não são iguais aos dos indivíduos com quem nos comunicamos. Na verdade, acreditamos instintivamente que todo mundo vê o mundo da mesma forma que nós. Quando nos aproximamos das outras pessoas, carregamos nosso ponto de vista sobre como elas devem reagir. Se não obtivermos o que esperávamos (e pense em como é raro você de fato obter o que espera), ficamos irritados, frustrados e aborrecidos. Às vezes você pode ficar chateado com seu próprio comportamento, por não ter agido da maneira que pretendia. Você não se dá conta de que está frustrado por não ter conseguido provocar no outro a reação que considerava apropriada. Na verdade, se você não tivesse expectativas sobre como as coisas deveriam ser – ou como os outros deveriam reagir –, não haveria problema algum. Seu problema está em seu ponto de vista, em seu filtro turvo e obstruído. É a forma como você vê o mundo, ou como não o vê, que determina a sua experiência. Os filtros bloqueiam informações novas Quase nunca somos capazes de experimentar algo realmente novo. Vivenciamos todas as situações com nossos filtros ativados. Assim, é o meu filtro que define o que estou vendo, e o que vejo é um reflexo de mim, do que eu acredito, espero e aceito como verdadeiro. Por exemplo, minha irmã possui um filtro moldado por experiências, comportamentos e valores diferentes dos meus. Mesmo tendo crescido no mesmo ambiente, com os mesmos pais, nos 17 tornamos pessoas totalmente diferentes e adquirimos filtros distintos. Se meu pai dissesse a nós duas “Você é muito burra!”, talvez tivéssemos reações opostas. Minha irmã poderia pensar: Eu sou burra mesmo. Nunca consigo fazer nada direito. Eu, por outro lado, poderia enfrentar meu pai e dizer: “Você é péssimo para julgar os outros!” Em seguida, daria um jeito de mostrar como sou inteligente. Esses dois filtros distintos resultariam em uma diferença drástica na forma como minha irmã e eu agiríamos dali em diante. Ela talvez perdesse a autoconfiança e a autoestima, e eu talvez fosse desafiada a provar o meu valor. Nenhuma dessas duas abordagens é certa ou errada – cada uma apenas é o que é. Mas elas causariam efeitos opostos em nossa vida quando ambas fôssemos enfrentar o mundo. Olhar e “ver” Em que consistem esses filtros? E qual é seu impacto real em nossos relacionamentos? Quando olho para alguma coisa, vejo uma combinação do que está na minha frente com aquilo que eu mesma criei. Faço suposições sobre o que estou vendo (usando meu filtro para bloquear tudo que não se encaixe em minhas ideias preconcebidas), aplico essas suposições genéricas à situação e tiro minhas conclusões. Então eu sei o que estou vendo. Por exemplo, imagine que eu acredite que todos os jornalistas são pessoas inteligentes e bem informadas. Um dia sou apresentada a um repórter de TV em uma festa e imediatamente o vejo através desse filtro. Vamos supor que eu esteja acompanhada de uma amiga, e ela comece a conversar conosco sobre um fato 18 ocorrido recentemente e que teve certa repercusão mundo afora. E de repente ela se dá conta de que o repórter não sabe do que ela está falando. Como meu filtro está firme em seu lugar, prefiro acreditar que minha amiga está equivocada a abandonar minha convicção sobre os jornalistas. Por mais que ela tente me convencer, dando informações precisas e expondo fatos, vai ser muito difícil me desprender de minha ideia preconcebida. Existe algo muito curioso com relação aos “fatos”. Costuma-se dizer que “os fatos não mentem”; mas será que não mentem mesmo? Se eu decidir ignorá-los ou se não acreditar neles, será que continuarão sendo verdadeiros? Minha amiga tem informações suficientes que provam que ela tem razão, mas meu filtro está me dizendo: “Ela é minha amiga, mas está enganada nessa situação.” Esse é um aspecto realmente interessante do ser humano: temos tanta certeza de que vemos claramente! Não queremos que ninguém nos diga que o que vemos não é real. Só que muitas vezes o que enxergamos é algo distorcido pelo filtro invisível que temos diante de nossos olhos. Talvez, com o tempo, eu acabe admitindo meu engano, mas sempre vou tentar encontrar uma forma de provar que minhas ideias e convicções fazem sentido. Posso dizer a mim mesma: “Minha amiga não expôs o assunto da forma correta, por isso o repórter não entendeu.” Precisamos que nossos filtros permaneçam onde estão, pois eles são a nossa forma de compreender o mundo e nosso lugar dentro dele. Quando reconhecemos essa dinâmica, podemos começar a fazer mudanças. Até isso acontecer, entretanto, os filtros continuarão nos dizendo como agir e quem devemos ser. 19 Quem está falando com você? Existe um conceito chamado “diálogo interno”: são as palavras que ficam girando o tempo todo em nossa mente, falando sem parar. Algumas pessoas se referem a isso como a “trilha sonora da nossa vida”, como um MP3 pessoal que toca continuamente dentro de nosso cérebro. É como se um grupo de pessoas – sua mãe, professores, amigos do passado, um ex-chefe com quem você não se dava bem – se reunisse e lhe dissesse o que fazer, pensar, sentir e experimentar. Às vezes as vozes ficam tão altas que é quase impossível escutar o que você de fato está pensando. E elas falam o tempo todo. Esse grupo raramente para de lhe dizer o que você está vivenciando em cada momento do seu dia. Se começar a prestar atenção ao que é dito, notará que há uma opinião formada sobre tudo, assegurando que sua vida permaneça concentrada em você. Muitos pensadores dizem que é possível substituir essas vozes por mensagens positivas de incentivo. Funciona mais ou menos assim: em vez de dizer “Sou muito inseguro. Meu pai sempre me disse que eu era burro”, você afirma “Sou uma pessoa confiante. Sei o que preciso fazer, e faço. Meu pai era um homem bom, mas seu julgamento sobre mim estava errado”. Embora esse método faça com que você se sinta melhor e mais motivado, o problema é que você ainda está falando consigo mesmo, sobre si mesmo. Essas vozes dentro de nós costumam nos dizer quem somos, o que vemos e o que experimentamos. Talvez até seja bom criar um discurso mais positivo, mas uma ideia melhor ainda é parar de falar sobre si mesmo e simplesmente começar a viver! Ou seja, um dos elementos vitais para realizar uma mudança 20 verdadeira é parar de falar. Pratique ficar em silêncio – dentro de sua cabeça e, às vezes, até fora dela. Mesma professora, experiências diferentes Para demonstrar como cada um vê o mundo através de seus filtros, vou dar um exemplo extraído de minha experiência como professora. Quando dou uma aula para alunos novos, um deles pode achar que a informação que estou dando é empolgante. Outro pode considerá-la chata e inútil. Um terceiro talvez não goste da minha voz e não preste atenção em absolutamente nada do que tenho a dizer. Como é possível que três pessoas assistam à mesma aula e saiam com impressões tão distintas a respeito do que ouviram? Por acaso não sou a mesma professora, dizendo exatamente as mesmas coisas a todos os alunos ali presentes? É claro que sou. Mas os filtros que cada um deles ergue diante de suas experiências, antes mesmo que eu abra a boca, só permitem que me vejam de uma maneira. Meu jeito de olhar para uma pessoa vai ser interpretado por ela de uma forma particular; o modo como inicio a aula parecerá diferente para cada aluno. Por quê? Porque todos já tiveram uma experiência anterior com “alguém parecido” e sabem o que esperar. Defina “difícil” Quando começo minha aula sobre como lidar com pessoas difíceis, peço aos alunos que tentem encontrar uma forma clara de definir “difícil”, e eles logo percebem que essa não é uma tarefa simples. Um aluno diz que acha difícil se dar bem com alguém 21 que não ouve os outros, mas uma aluna afirma que não acha que essa característica defina alguém como “difícil”. Outra pessoa acha que é complicado lidar com aqueles que são insistentes, mas nem toda a classe concorda com isso, pois esse traço pode ser encarado como reflexo de ousadia e determinação. Conclusão: as definições de “difícil” são tão variadas quanto os alunos. Agora pense em sua própria vida. Você já ouviu um amigo descrever uma pessoa como “difícil” e, ao conhecê-la, acabou descobrindo que ela é muito agradável? Você simplesmente não consegue entender por que alguém tão encantador (de acordo com o seu filtro) pode ser considerado “difícil”. Depois, vai conversar com seu amigo para tentar fazê-lo mudar de ideia, na esperança de conseguir consertar esse filtro. Todos já passamos pela experiência de classificar algo como “bom” e ficar em choque ao constatar que outros o qualificam como “ruim”. O que, para mim, é uma atitude positiva você pode interpretar como negativa, dependendo do que está obstruindo nossos filtros e das crenças que carregamos dentro de nós. De motorista barbeira a vizinha educada Tento me manter calma e em silêncio quando estou no trânsito, e confesso que é nessas ocasiões que tenho mais dificuldade para aplicar meu conhecimento e remover meus filtros. Já aconteceu algumas vezes de quase baterem no meu carro. Imediatamente, meu filtro para pessoas mal-educadas entra em ação e começo a ficar irritada. De repente percebo que a motorista barbeira é uma vizinha que eu adoro. Na mesma hora, meu filtro muda para “Ela deve estar estressada com as crianças, 22 ou talvez esteja com pressa. Ela não costuma dirigir assim”. Eu aceno para ela, dou um sorriso e sigo em frente. Isso não faz nenhum sentido. Como a motorista mal-educada que quase bateu no meu carro se transforma tão rapidamente em alguém para quem sorrio? A resposta, mais uma vez, está nos filtros. Meu ponto de vista sobre as pessoas de quem eu gosto são bem diferentes da minha maneira de ver as pessoas rudes que eu não conheço. O mesmo se aplica à situação oposta, quando conhecemos uma pessoa bem demais. Meu marido pode falar algo e me deixar irritada, mas, se um cliente disser a mesma coisa, eu provavelmente ouvirei com atenção. Mais uma vez, é o filtro através do qual vemos a experiência que determina a maneira como iremos reagir. Qual é a minha experiência? Se começar a prestar atenção, você perceberá que essas experiências, essa maneira diversa de ver uma mesma situação, ocorrem o dia todo, todos os dias. Um bebê chorando no restaurante pode ser irritante para um cliente que não goste de crianças ou que esteja com dor de cabeça por causa de uma noite maldormida. Mas o mesmo bebê poderá ser encantador para outra cliente, possivelmente uma mulher que sempre quis ter filhos, mas não pôde. E por aí vai. Os exemplos e as possibilidades são infinitos. Mas as experiências são o que são. No caso acima: restaurante; bebê chorando – fim da história. Mas não é o fim. É apenas o começo, se levarmos em consideração o que ela vai significar para nós depois que passar por nossos filtros. 23 Vamos estender a situação. Há um casal jantando na mesa ao lado. A mulher está triste porque não pode ter filhos, mas adora ouvir o choro do bebê, pelo simples fato de estar perto de um. O marido está com dor de cabeça, cansado de ouvir falar em crianças e não vê a hora de sair do restaurante. Quando terminam o jantar, os dois nem estão mais se falando. Por quê? Porque um bebê chorou e eles enxergaram essa experiência através de seus próprios filtros e a passaram um para o outro. Fazemos isso inconscientemente em todos os momentos do dia. Estamos tão envolvidos no “eu” que não percebemos quanto de cada experiência tem a ver com “nós”. Não conseguimos enxergar e compreender as coisas do mesmo jeito que as outras pessoas, ainda que elas tentem nos fazer entender seu ponto de vista. Como cada filtro é individual e diferente, a experiência resultante será diferente. Enxergue do MEU jeito! Talvez você pergunte: “Qual é o problema de eu enxergar as coisas do meu jeito e os outros enxergarem do jeito deles?” Bem, pense em quanto tempo gastamos tentando mudar o ponto de vista das outras pessoas. Como o que importa sou eu, quero que você veja tudo do jeito que eu vejo, e não vou desistir até você admitir que eu estou certo! É mais ou menos assim que costumamos pensar. Quando você aprender a colocar em prática este primeiro segredo, verá que é uma bobagem desperdiçar sua energia tentando fazer a outra pessoa “ver” de forma diferente. Ela não vai conseguir. E, se você se livrar da necessidade de estar sempre certo e de convencer os demais disso, passará a reservar sua energia para coisas muito mais importantes. 24 Aceitar esse fato e compreender que os outros possuem filtros diferentes dos seus faz com que você deixe de tentar controlar a maneira como as pessoas à sua volta se comportam. Você abandona a ideia de que o mundo gira em torno do seu umbigo e pode eliminar muitos anos de tentativas infrutíferas de mudar a opinião de alguém a respeito das próprias experiências. Quem define os fatos? A vida se complica quando estamos convencidos de que vemos claramente, que conhecemos os fatos e que é nosso dever fazer com que os outros os vejam da mesma maneira. Afinal, fatos são fatos, certo? Alguma coisa é vermelha, ou tem um metro de comprimento, ou é sólida, ou é bonita, ou... Espere um pouco! Beleza não é um fato. Cor, comprimento e composição, sim. O adjetivo “bonita” é fruto da minha interpretação, mas acredito que ele seja um fato e o classifico como tal. Os fatos podem estar presentes (vermelho, um metro de comprimento e sólida são afirmações factuais), mas, depois que lhes atribuímos significado, eles se transformam em nossos fatos. Podemos pegar alguma coisa que é factual e transformá-la em algo relacionado aos nossos gostos – então, novamente, podemos discutir com alguém que o veja de forma diferente. Por exemplo, se gostarmos de algo vermelho, o fato (interpretado pelo nosso filtro) se torna “vermelho é uma cor bonita”. Se um metro nos parece muito, então “algo que tem um metro é grande”. Perdemos a capacidade de distinguir o que é fato e o que é nossa percepção. E os rótulos que colocamos nas coisas são consequências, obviamente, dos famosos filtros que trabalham por nós 24 horas por dia, sete dias por semana. Viver sem ter 25 conhecimento desse processo altera a nossa realidade e a dos outros. A realidade deixa de ser algo “real” e passa a ser somente o resultado do meu próprio ponto de vista. Tudo que importa realmente sou eu! Estamos tão centrados em nós mesmos que nem sequer nos damos conta disso. Mas se examinarmos o que fazemos – e por que o fazemos –, perceberemos que nossas escolhas são baseadas na resposta a estas perguntas: “Como isso vai me afetar?”; “Que impressão vou dar se fizer isso?”. Por exemplo, mesmo se somos gentis e atenciosos, agimos assim para satisfazer nossa própria necessidade de servir os outros. Se tenho uma atitude bondosa em relação a você, talvez eu seja genuinamente gentil e espontânea (pelo menos essa é a minha opinião sobre mim mesma), mas, por outro lado, talvez eu queira me ver como uma pessoa generosa. Não faço essas coisas só por causa da alegria de ajudar (embora isso possa ser um benefício adicional), mas porque gosto da sensação de ser útil. Meu filtro diz: “Eu sou gentil e ajudo as pessoas porque é o certo a se fazer.” Gosto de me ver através dessa lente e farei o que for preciso para garantir que essa imagem permaneça intacta. Embora eu esteja sendo legal com você, a verdade é que o que interessa ainda sou eu – que eu seja uma pessoa útil, generosa e gentil. Durante todo o tempo em que o ajudo, estou pensando na imagem que tenho de mim mesma. Não estou dizendo que isso é bom ou ruim. Apenas é assim. 26 INFORMAÇÕES SOBRE OS PRÓXIMOS LANÇAMENTOS Para saber mais sobre os títulos e autores da EDITORA SEXTANTE, visite o site www.sextante.com.br, curta a página facebook.com/esextante e siga @sextante no Twitter. Além de informações sobre os próximos lançamentos, você terá acesso a conteúdos exclusivos e poderá participar de promoções e sorteios. Se quiser receber informações por e-mail, basta cadastrar-se diretamente no nosso site ou enviar uma mensagem para [email protected] www.sextante.com.br facebook.com/esextante twitter: @sextante Editora Sextante Rua Voluntários da Pátria, 45 / 1.404 – Botafogo Rio de Janeiro – RJ – 22270-000 – Brasil Telefone: (21) 2538-4100 – Fax: (21) 2286-9244 E-mail: [email protected]