Como se
relacionar
melhor com
as pessoas
B e v e r ly D . F l a x i n g t o n
Este livro é dedicado às
três pessoas que fazem de
cada dia da minha vida
uma bênção: Samantha,
Kiernan e Cynthia, meus filhos.
SUMÁRIO
Prefácio
9
Introdução
11
SEGREDO NÚMERO 1: Tudo que importa sou eu
13
SEGREDO NÚMERO 2: Nosso estilo de comportamento se interpõe entre nós
41
SEGREDO NÚMERO 3: Os seus valores falam mais alto que você
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SEGREDO NÚMERO 4: Não suponha que sei o que você quer dizer
80
SEGREDO NÚMERO 5: Eu estou certo; você não está 100
Agradecimentos
122
Sobre a autora
123
PREFÁCIO
Foi um grande prazer avaliar este livro. Enquanto o lia, em
caráter profissional, para analisar se seria interessante para os
nossos clientes, me senti profundamente atraída pelos conceitos apresentados, e encontrei neles uma aplicação imediata em
minha vida pessoal.
Quando reconhecemos que a maioria de nós vê a vida através de filtros do tipo “tudo que importa sou eu”, adquirimos
certa liberdade nos relacionamentos – a liberdade de não nos
frustrarmos com as atitudes daqueles que estão à nossa volta e
de parar de tentar fazê-los entender nosso ponto de vista. Após
compreender isso, torna-se mais fácil lidar com as pessoas, criar
empatia, encontrar soluções para os conflitos, levando em consideração as necessidades do outro. Os conceitos aqui descritos
por Beverly D. Flaxington têm sido proveitosos em todos os
aspectos da minha vida, seja com a família, com os clientes ou
com os colegas de trabalho. Recomendo com entusiasmo esta
leitura interessante, divertida e útil!
Kim Guimond Dellarocca
Vice-presidente de Marketing e Comunicações
da Pershing LLC, subsidiária do banco BNYMellon
9
INTRODUÇÃO
Há anos as pessoas me perguntam: “O que você faz para se
dar bem com todo mundo?”; “Como consegue negociar com
tanta facilidade e sempre obter o que deseja?”; “Qual é o seu
segredo?”. A resposta não é muito complicada, e você está prestes a descobri-la.
Sou coach de carreira e comportamento, consultora de negócios, especialista em comportamento – com certificados em hipnotismo e treinamento de hipnose –, professora universitária e
mãe. Tudo isso me dá uma perspectiva única da vida. Quando
pediram que eu lecionasse uma matéria chamada “Lidando
com pessoas difíceis”, soube imediatamente que tinha encontrado o meu lugar. Agora vou compartilhar meus segredos
com você. Espero que possa compreendê-los e usá-los em suas
interações diárias.
Durante muitos anos, observei profissionais com dificuldades
de se comunicar e pessoas que queriam melhorar seu comportamento em relação ao parceiro ou aos colegas de trabalho. Ao
longo desse tempo, ofereci tantas informações e explicações sobre
as razões que levam alguém a agir de determinada forma que me
pareceu lógico escrever sobre isso, na esperança de evitar que as
pessoas sofram – ou, pelo menos, para lhes dar algumas ideias
sobre como lidar com relacionamentos difíceis.
O problema é que muitas das nossas interações diárias acabam
sendo “difíceis”. Até aqueles de quem mais gostamos nos irritam
11
às vezes. Quando você menciona as palavras “família”, “esposa”,
“marido”, “filho adolescente”, “chefe” ou “sogra”, é comum as
pessoas revirarem os olhos. A mera identificação desse tipo de
relacionamento já causa mal-estar ou frustração. Estamos sempre lutando para entender o ponto de vista do outro. A falta de
comunicação é a raiz de quase todos os nossos problemas – e não
saber como resolver isso nos paralisa.
Neste livro, reuni todo o conhecimento, as observações e as
experiências pessoais e profissionais que adquiri ao longo da
minha carreira e os dividi em cinco grandes grupos – são os
meus “segredos”. Descobrir e entender cada um deles ajudará
você a fazer mudanças incríveis em sua vida e em seus relacionamentos.
A melhor maneira de utilizar o livro é absorver um segredo de
cada vez. Coloque um deles em prática e só depois passe para o
seguinte. Espero que meus ensinamentos lhe deem as ferramentas necessárias para entender aqueles que estão à sua volta – e,
mais importante, para entender melhor a si mesmo.
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SEGREDO NÚMERO 1:
TUDO QUE IMPORTA SOU EU
Vamos ser sinceros? Todos nós andamos por aí repetindo
sem parar o mantra: “Tudo que importa sou eu.” É claro que
não dizemos isso realmente, de maneira consciente, mas essa é a
verdadeira mensagem por trás de tudo que fazemos.
Esse não é um conceito fácil de se aceitar, porque revela que,
na maior parte do tempo, as pessoas se concentram nelas mesmas. Não queremos acreditar que somos assim. Parece tão egocêntrico! Porém, se formos honestos e analisarmos com atenção,
veremos que a palavra “eu” está no centro de cada pensamento
que temos, em cada experiência que vivemos.
Será que somos tão obcecados por nós mesmos? Sim, somos.
Involuntariamente, enxergamos cada experiência através de
nossas próprias lentes. Não é algo que fazemos de propósito,
não é egoísmo. Apenas não temos escolha, pois não estamos
cientes desse comportamento. Todos nós temos um conjunto
de vivências, opiniões e pontos de vista que influenciam cada
situação que enfrentamos. Tudo o que vemos, dizemos, ouvimos
e fazemos é filtrado pelo mecanismo chamado “eu”.
13
Filtros obstruídos
Os filtros que criamos colocam-se entre nós e todas as pessoas que encontramos. Você deve estar se perguntando por que
eu os chamo de “filtros” – afinal, não somos máquinas cujas
peças são removíveis. O que é uma pena, porque seria muito
bom se pudéssemos remover esses filtros e renová-los. Se isso
fosse possível, cada experiência recém-adquirida seria realmente
original, e não uma cópia de algo que já vivemos no passado. Se
pudéssemos observar nossos filtros sob a luz, identificaríamos
tudo aquilo que os obstruiu, percebendo que a dificuldade que
temos de enxergar as coisas é causada por nosso “eu”, que está
no meio de tudo.
Isso significa que é impossível lançar um olhar imparcial sobre
as coisas, pois vemos tudo através da lente do eu. Sem querer,
projetamos sobre todas as situações nossas próprias expectativas,
crenças, preocupações e necessidades.
Os filtros retêm a combinação de nossas experiências passadas, nossa visão do mundo, nossos conceitos de certo e errado,
nosso comportamento e nossos valores. Se pensarmos neles
como algo tangível, perceberemos que estão na nossa frente o
tempo todo. Assim, é impossível ver claramente qualquer coisa
– uma pessoa, um evento –, pois eles obstruem o caminho. O
grande problema da comunicação é que cada um de nós tem
o próprio filtro, e nenhum deles é imparcial e objetivo.
Imagine duas pessoas com os filtros obstruídos tentando estabelecer uma conexão e compreender uma à outra. Queremos
acreditar que estamos enxergando direito e que nossa mente está
aberta e receptiva, mas a verdade é que eles estão lá, se interpondo a cada interação. Por exemplo, quando alguém diz ou faz
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alguma coisa, você só consegue ouvi-la e vê-la através do seu
ponto de vista, com seu filtro bloqueando a experiência.
Os livros sobre relacionamentos costumam afirmar que, para
estabelecer uma comunicação verdadeira com outra pessoa, é
preciso colocar-se no lugar dela, criando empatia. Parece ótimo,
mas como posso fazer isso se tenho os meus filtros? Não é que
eu não queira me colocar no lugar do outro; o problema é que,
honestamente, não consigo fazer isso. O lugar do outro não é o
meu, e eu não entendo nada sobre esse lugar.
Não diga “Eu sei o que você quer dizer”
Muitas vezes, as pessoas ficam perturbadas quando dizemos
“Eu sei o que você está sentindo” ou “Sei o que quer dizer”. Não
gostamos quando alguém nos diz isso. Por quê? Não é bom que
alguém esteja tentando se solidarizar com nossa situação e nos
“entender”? Na verdade, não.
Quando eu digo isso, a outra pessoa interpreta que o foco
agora está em mim – no fato de que eu sou uma pessoa compreensiva e solidária. Não estou mais me concentrando nela e
nos seus problemas; em vez disso, transferi minha atenção para
o que eu estou sentindo em relação ao que ela está me dizendo. E, na realidade, é isso mesmo que acontece. O interlocutor
percebe. Ele sabe que meu foco não está mais em ouvi-lo; estou
concentrado em minha própria reação. Na verdade, para ambas
as partes, só o que importa é o eu. Portanto, o melhor é simplesmente não dizer que você “entende” o outro, porque você só
pode entender sua própria experiência. Dizer que já passou por
uma situação semelhante – e começar a contar tudo sobre ela
– é uma deselegância ainda maior. Quando fazemos isso, ime15
diatamente paramos de ouvir o outro e voltamos a centralizar a
conversa em nós.
Julgando os outros com base no “eu”
Quando olho para você e formo uma opinião a seu respeito,
faço esse julgamento baseado em mim. Não temos uma opinião
sobre os outros – o que temos é uma opinião baseada naquilo
que eles nos parecem através de nosso filtro. Esse pode ser um
conceito difícil de compreender (e admitir), mas é real. Sempre
ouvimos dizer que “semelhante atrai semelhante” e que “recebemos aquilo que esperamos”. Essas não são apenas frases feitas
incessantemente repetidas por todos; há veracidade nelas.
Você conhece alguém que já foi casado duas ou três vezes
com parceiros diferentes, mas que, quando se refere àquele com
quem está atualmente, parece estar falando sobre os anteriores?
Isso acontece porque a experiência – a visão que tem do outro –
é colorida pelo tom de seus filtros e pela maneira como ele interpreta a outra pessoa com base em si mesmo. Assim, é natural que
escolha parceiros semelhantes, uma vez que seus filtros turvos o
impedem de “enxergar” que o atual é essencialmente o mesmo
que os predecessores. Se não aprender a reconhecer esses filtros,
ele continuará a fazer as mesmas escolhas equivocadas. Essa ideia
também pode ser aplicada a alguém que já teve vários empregos
e nunca consegue se dar bem com o chefe, dizendo que eles são
todos idiotas. Certamente os chefes não são todos idiotas. O
mais provável é que o filtro dessa pessoa esteja obstruído com
essa mensagem.
16
O peso das expectativas
Não percebemos que nossos filtros não são iguais aos dos
indivíduos com quem nos comunicamos. Na verdade, acreditamos instintivamente que todo mundo vê o mundo da mesma
forma que nós. Quando nos aproximamos das outras pessoas,
carregamos nosso ponto de vista sobre como elas devem reagir.
Se não obtivermos o que esperávamos (e pense em como é raro
você de fato obter o que espera), ficamos irritados, frustrados e
aborrecidos.
Às vezes você pode ficar chateado com seu próprio comportamento, por não ter agido da maneira que pretendia. Você não se
dá conta de que está frustrado por não ter conseguido provocar
no outro a reação que considerava apropriada. Na verdade, se
você não tivesse expectativas sobre como as coisas deveriam ser
– ou como os outros deveriam reagir –, não haveria problema
algum. Seu problema está em seu ponto de vista, em seu filtro
turvo e obstruído. É a forma como você vê o mundo, ou como
não o vê, que determina a sua experiência.
Os filtros bloqueiam informações novas
Quase nunca somos capazes de experimentar algo realmente
novo. Vivenciamos todas as situações com nossos filtros ativados. Assim, é o meu filtro que define o que estou vendo, e o que
vejo é um reflexo de mim, do que eu acredito, espero e aceito
como verdadeiro.
Por exemplo, minha irmã possui um filtro moldado por experiências, comportamentos e valores diferentes dos meus. Mesmo
tendo crescido no mesmo ambiente, com os mesmos pais, nos
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tornamos pessoas totalmente diferentes e adquirimos filtros
distintos. Se meu pai dissesse a nós duas “Você é muito burra!”,
talvez tivéssemos reações opostas. Minha irmã poderia pensar:
Eu sou burra mesmo. Nunca consigo fazer nada direito. Eu, por
outro lado, poderia enfrentar meu pai e dizer: “Você é péssimo
para julgar os outros!” Em seguida, daria um jeito de mostrar
como sou inteligente.
Esses dois filtros distintos resultariam em uma diferença drástica na forma como minha irmã e eu agiríamos dali em diante.
Ela talvez perdesse a autoconfiança e a autoestima, e eu talvez
fosse desafiada a provar o meu valor. Nenhuma dessas duas
abordagens é certa ou errada – cada uma apenas é o que é. Mas
elas causariam efeitos opostos em nossa vida quando ambas fôssemos enfrentar o mundo.
Olhar e “ver”
Em que consistem esses filtros? E qual é seu impacto real em
nossos relacionamentos?
Quando olho para alguma coisa, vejo uma combinação do
que está na minha frente com aquilo que eu mesma criei. Faço
suposições sobre o que estou vendo (usando meu filtro para
bloquear tudo que não se encaixe em minhas ideias preconcebidas), aplico essas suposições genéricas à situação e tiro minhas
conclusões. Então eu sei o que estou vendo.
Por exemplo, imagine que eu acredite que todos os jornalistas
são pessoas inteligentes e bem informadas. Um dia sou apresentada a um repórter de TV em uma festa e imediatamente o vejo
através desse filtro. Vamos supor que eu esteja acompanhada
de uma amiga, e ela comece a conversar conosco sobre um fato
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ocorrido recentemente e que teve certa repercusão mundo afora.
E de repente ela se dá conta de que o repórter não sabe do que
ela está falando.
Como meu filtro está firme em seu lugar, prefiro acreditar
que minha amiga está equivocada a abandonar minha convicção
sobre os jornalistas. Por mais que ela tente me convencer, dando
informações precisas e expondo fatos, vai ser muito difícil me
desprender de minha ideia preconcebida.
Existe algo muito curioso com relação aos “fatos”. Costuma-se dizer que “os fatos não mentem”; mas será que não mentem
mesmo? Se eu decidir ignorá-los ou se não acreditar neles, será
que continuarão sendo verdadeiros? Minha amiga tem informações suficientes que provam que ela tem razão, mas meu filtro
está me dizendo: “Ela é minha amiga, mas está enganada nessa
situação.”
Esse é um aspecto realmente interessante do ser humano:
temos tanta certeza de que vemos claramente! Não queremos
que ninguém nos diga que o que vemos não é real. Só que muitas
vezes o que enxergamos é algo distorcido pelo filtro invisível que
temos diante de nossos olhos. Talvez, com o tempo, eu acabe
admitindo meu engano, mas sempre vou tentar encontrar uma
forma de provar que minhas ideias e convicções fazem sentido.
Posso dizer a mim mesma: “Minha amiga não expôs o assunto
da forma correta, por isso o repórter não entendeu.”
Precisamos que nossos filtros permaneçam onde estão, pois
eles são a nossa forma de compreender o mundo e nosso lugar
dentro dele. Quando reconhecemos essa dinâmica, podemos
começar a fazer mudanças. Até isso acontecer, entretanto, os
filtros continuarão nos dizendo como agir e quem devemos ser.
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Quem está falando com você?
Existe um conceito chamado “diálogo interno”: são as palavras
que ficam girando o tempo todo em nossa mente, falando sem
parar. Algumas pessoas se referem a isso como a “trilha sonora
da nossa vida”, como um MP3 pessoal que toca continuamente
dentro de nosso cérebro. É como se um grupo de pessoas – sua
mãe, professores, amigos do passado, um ex-chefe com quem
você não se dava bem – se reunisse e lhe dissesse o que fazer,
pensar, sentir e experimentar. Às vezes as vozes ficam tão altas
que é quase impossível escutar o que você de fato está pensando.
E elas falam o tempo todo.
Esse grupo raramente para de lhe dizer o que você está
vivenciando em cada momento do seu dia. Se começar a prestar atenção ao que é dito, notará que há uma opinião formada
sobre tudo, assegurando que sua vida permaneça concentrada
em você.
Muitos pensadores dizem que é possível substituir essas vozes
por mensagens positivas de incentivo. Funciona mais ou menos
assim: em vez de dizer “Sou muito inseguro. Meu pai sempre me
disse que eu era burro”, você afirma “Sou uma pessoa confiante.
Sei o que preciso fazer, e faço. Meu pai era um homem bom, mas
seu julgamento sobre mim estava errado”. Embora esse método
faça com que você se sinta melhor e mais motivado, o problema
é que você ainda está falando consigo mesmo, sobre si mesmo.
Essas vozes dentro de nós costumam nos dizer quem somos, o
que vemos e o que experimentamos. Talvez até seja bom criar
um discurso mais positivo, mas uma ideia melhor ainda é parar
de falar sobre si mesmo e simplesmente começar a viver!
Ou seja, um dos elementos vitais para realizar uma mudança
20
verdadeira é parar de falar. Pratique ficar em silêncio – dentro de
sua cabeça e, às vezes, até fora dela.
Mesma professora, experiências diferentes
Para demonstrar como cada um vê o mundo através de seus
filtros, vou dar um exemplo extraído de minha experiência
como professora. Quando dou uma aula para alunos novos,
um deles pode achar que a informação que estou dando é
empolgante. Outro pode considerá-la chata e inútil. Um terceiro talvez não goste da minha voz e não preste atenção em
absolutamente nada do que tenho a dizer. Como é possível que
três pessoas assistam à mesma aula e saiam com impressões tão
distintas a respeito do que ouviram? Por acaso não sou a mesma
professora, dizendo exatamente as mesmas coisas a todos os
alunos ali presentes?
É claro que sou. Mas os filtros que cada um deles ergue diante
de suas experiências, antes mesmo que eu abra a boca, só permitem que me vejam de uma maneira. Meu jeito de olhar para
uma pessoa vai ser interpretado por ela de uma forma particular;
o modo como inicio a aula parecerá diferente para cada aluno.
Por quê? Porque todos já tiveram uma experiência anterior com
“alguém parecido” e sabem o que esperar.
Defina “difícil”
Quando começo minha aula sobre como lidar com pessoas
difíceis, peço aos alunos que tentem encontrar uma forma clara
de definir “difícil”, e eles logo percebem que essa não é uma tarefa simples. Um aluno diz que acha difícil se dar bem com alguém
21
que não ouve os outros, mas uma aluna afirma que não acha que
essa característica defina alguém como “difícil”. Outra pessoa
acha que é complicado lidar com aqueles que são insistentes, mas
nem toda a classe concorda com isso, pois esse traço pode ser
encarado como reflexo de ousadia e determinação. Conclusão: as
definições de “difícil” são tão variadas quanto os alunos.
Agora pense em sua própria vida. Você já ouviu um amigo
descrever uma pessoa como “difícil” e, ao conhecê-la, acabou
descobrindo que ela é muito agradável? Você simplesmente não
consegue entender por que alguém tão encantador (de acordo
com o seu filtro) pode ser considerado “difícil”. Depois, vai
conversar com seu amigo para tentar fazê-lo mudar de ideia, na
esperança de conseguir consertar esse filtro.
Todos já passamos pela experiência de classificar algo como
“bom” e ficar em choque ao constatar que outros o qualificam como “ruim”. O que, para mim, é uma atitude positiva
você pode interpretar como negativa, dependendo do que está
obstruindo nossos filtros e das crenças que carregamos dentro
de nós.
De motorista barbeira a vizinha educada
Tento me manter calma e em silêncio quando estou no trânsito, e confesso que é nessas ocasiões que tenho mais dificuldade
para aplicar meu conhecimento e remover meus filtros.
Já aconteceu algumas vezes de quase baterem no meu carro.
Imediatamente, meu filtro para pessoas mal-educadas entra em
ação e começo a ficar irritada. De repente percebo que a motorista barbeira é uma vizinha que eu adoro. Na mesma hora,
meu filtro muda para “Ela deve estar estressada com as crianças,
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ou talvez esteja com pressa. Ela não costuma dirigir assim”. Eu
aceno para ela, dou um sorriso e sigo em frente.
Isso não faz nenhum sentido. Como a motorista mal-educada
que quase bateu no meu carro se transforma tão rapidamente
em alguém para quem sorrio? A resposta, mais uma vez, está nos
filtros. Meu ponto de vista sobre as pessoas de quem eu gosto são
bem diferentes da minha maneira de ver as pessoas rudes que eu
não conheço.
O mesmo se aplica à situação oposta, quando conhecemos
uma pessoa bem demais. Meu marido pode falar algo e me deixar irritada, mas, se um cliente disser a mesma coisa, eu provavelmente ouvirei com atenção. Mais uma vez, é o filtro através
do qual vemos a experiência que determina a maneira como
iremos reagir.
Qual é a minha experiência?
Se começar a prestar atenção, você perceberá que essas experiências, essa maneira diversa de ver uma mesma situação, ocorrem o dia todo, todos os dias.
Um bebê chorando no restaurante pode ser irritante para
um cliente que não goste de crianças ou que esteja com dor de
cabeça por causa de uma noite maldormida. Mas o mesmo bebê
poderá ser encantador para outra cliente, possivelmente uma
mulher que sempre quis ter filhos, mas não pôde.
E por aí vai. Os exemplos e as possibilidades são infinitos. Mas
as experiências são o que são. No caso acima: restaurante; bebê
chorando – fim da história. Mas não é o fim. É apenas o começo,
se levarmos em consideração o que ela vai significar para nós
depois que passar por nossos filtros.
23
Vamos estender a situação. Há um casal jantando na mesa ao
lado. A mulher está triste porque não pode ter filhos, mas adora
ouvir o choro do bebê, pelo simples fato de estar perto de um. O
marido está com dor de cabeça, cansado de ouvir falar em crianças e não vê a hora de sair do restaurante. Quando terminam o
jantar, os dois nem estão mais se falando. Por quê? Porque um
bebê chorou e eles enxergaram essa experiência através de seus
próprios filtros e a passaram um para o outro.
Fazemos isso inconscientemente em todos os momentos do
dia. Estamos tão envolvidos no “eu” que não percebemos quanto de cada experiência tem a ver com “nós”. Não conseguimos
enxergar e compreender as coisas do mesmo jeito que as outras
pessoas, ainda que elas tentem nos fazer entender seu ponto de
vista. Como cada filtro é individual e diferente, a experiência
resultante será diferente.
Enxergue do MEU jeito!
Talvez você pergunte: “Qual é o problema de eu enxergar as coisas do meu jeito e os outros enxergarem do jeito deles?” Bem, pense
em quanto tempo gastamos tentando mudar o ponto de vista das
outras pessoas. Como o que importa sou eu, quero que você veja
tudo do jeito que eu vejo, e não vou desistir até você admitir que
eu estou certo! É mais ou menos assim que costumamos pensar.
Quando você aprender a colocar em prática este primeiro
segredo, verá que é uma bobagem desperdiçar sua energia tentando fazer a outra pessoa “ver” de forma diferente. Ela não vai
conseguir. E, se você se livrar da necessidade de estar sempre
certo e de convencer os demais disso, passará a reservar sua energia para coisas muito mais importantes.
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Aceitar esse fato e compreender que os outros possuem filtros
diferentes dos seus faz com que você deixe de tentar controlar a
maneira como as pessoas à sua volta se comportam. Você abandona a ideia de que o mundo gira em torno do seu umbigo e
pode eliminar muitos anos de tentativas infrutíferas de mudar a
opinião de alguém a respeito das próprias experiências.
Quem define os fatos?
A vida se complica quando estamos convencidos de que vemos
claramente, que conhecemos os fatos e que é nosso dever fazer
com que os outros os vejam da mesma maneira. Afinal, fatos
são fatos, certo? Alguma coisa é vermelha, ou tem um metro de
comprimento, ou é sólida, ou é bonita, ou... Espere um pouco!
Beleza não é um fato. Cor, comprimento e composição, sim. O
adjetivo “bonita” é fruto da minha interpretação, mas acredito
que ele seja um fato e o classifico como tal.
Os fatos podem estar presentes (vermelho, um metro de
comprimento e sólida são afirmações factuais), mas, depois que
lhes atribuímos significado, eles se transformam em nossos fatos.
Podemos pegar alguma coisa que é factual e transformá-la em
algo relacionado aos nossos gostos – então, novamente, podemos discutir com alguém que o veja de forma diferente.
Por exemplo, se gostarmos de algo vermelho, o fato (interpretado pelo nosso filtro) se torna “vermelho é uma cor bonita”.
Se um metro nos parece muito, então “algo que tem um metro
é grande”. Perdemos a capacidade de distinguir o que é fato e o
que é nossa percepção. E os rótulos que colocamos nas coisas são
consequências, obviamente, dos famosos filtros que trabalham
por nós 24 horas por dia, sete dias por semana. Viver sem ter
25
conhecimento desse processo altera a nossa realidade e a dos
outros. A realidade deixa de ser algo “real” e passa a ser somente
o resultado do meu próprio ponto de vista.
Tudo que importa realmente sou eu!
Estamos tão centrados em nós mesmos que nem sequer nos
damos conta disso. Mas se examinarmos o que fazemos – e por
que o fazemos –, perceberemos que nossas escolhas são baseadas
na resposta a estas perguntas: “Como isso vai me afetar?”; “Que
impressão vou dar se fizer isso?”. Por exemplo, mesmo se somos
gentis e atenciosos, agimos assim para satisfazer nossa própria
necessidade de servir os outros.
Se tenho uma atitude bondosa em relação a você, talvez eu
seja genuinamente gentil e espontânea (pelo menos essa é a
minha opinião sobre mim mesma), mas, por outro lado, talvez
eu queira me ver como uma pessoa generosa. Não faço essas coisas só por causa da alegria de ajudar (embora isso possa ser um
benefício adicional), mas porque gosto da sensação de ser útil.
Meu filtro diz: “Eu sou gentil e ajudo as pessoas porque é o certo
a se fazer.” Gosto de me ver através dessa lente e farei o que
for preciso para garantir que essa imagem permaneça intacta.
Embora eu esteja sendo legal com você, a verdade é que o que
interessa ainda sou eu – que eu seja uma pessoa útil, generosa e
gentil. Durante todo o tempo em que o ajudo, estou pensando
na imagem que tenho de mim mesma. Não estou dizendo que
isso é bom ou ruim. Apenas é assim.
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