""'~. ~: - a.- ~"" - -- PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA SECRETARIA DE AVIAÇÃO CIVIL Secretaria de Política Regulatória de Aviação Civil Departamento de Regulação e Concorrência Nota Técnica n£eUl/DERC/SPR/SAC-PR Assunto: Possíveis restrições à participação de agentes privados nas concessões dos seguintes aeroportos internacionais: no Estado do Rio Grande do Sul, Aeroporto Salgado Filho, localizado no Municipio de Porto Alegre; no Estado da Bahia, Aeroporto Internacional de Salvador - Deputado Luís Eduardo Magalhães, localizado no Município de Salvador; no Estado de Santa Catarina, Aeroporto de Florianópolis - Hercílio Luz, localizado no Município de Florianópolis; e, no Estado do Ceará, Aeroporto Pinto Martins, localizado 1Í0 município de Fortaleza. Anexo: Nota Técnica n° 33/DERC/SPRlSAC-PR, de 20 de setembro de 2013. Data: 10 de novembro de 2015. I. INTRODUÇÃO A presente Nota Técnica visa analisar a conveniência, a oportunidade e as condições para o estabelecimento de restrições a que um mesmo consórcio privado administre mais de um aeroporto público concessionado dentro da atual conformação do setor aéreo brasileiro, tendo em vista o anúncio da segunda etapa do Plano de Investimento em Logística - PIL do Governo Federal, abarcando a concessão dos seguintes aeroportos internacionais (consubstanciado na publicação do Edital de Chamamento Público nO 1/2015): no Estado do Rio Grande do Sul, Aeroporto Salgado Filho, localizado no Município de Porto Alegre; no Estado da Bahia, Aeroporto Internacional de Salvador Deputado Luís Eduardo Magalhães, localizado no Município de Salvador; no Estado de Santa Catarina, Aeroporto de Florianópolis - Hercílio Luz, localizado no Município de Florianópolis; e, no Estado do Ceará, Aeroporto Pinto Martins, localizado no município de Fortaleza. Para consecução de tal objetivo, será feita, inicialmente, uma breve recapitulação dos principais argumentos teóricos em relação à existência ou não de competição entre aeroportos (destacando-se o caso de infraestruturas localizadas a grandes distâncias) e da importância do benchmarking e da geração de informações independentes para a atividade regulatória do Estado. Na seção seguinte, será revisada a experiência internacional da concessão de aeroportos, com foco na existência/razões da limitação à propriedade cruzada. Para isso, analisa-se o caso do Reino Unido, do México e da Austrália. Conforme se poderá observar, o estabelecimento de restrições à propriedade cruzada em relação a esses ativos foi fimdamental para a conformação posterior da indústria e sua consequente regulação técnica e econômica por parte do Estado. Na sequência, será realizada uma breve apresentação da evolução do setor aéreo brasileiro, destacando-se o papel dos processos de concessões aeroportuárias já realizados e as limitações de propriedade impostas pelo poder público à época dos processos licitatórios. Posteriormente, serão apresentadas as principais características dos aeroportos objeto da presente rodada de concessões, destacando-se possíveis desdobramentos concorrenciais em diferentes mercados (passageiros domésticos, passageiros internacionais, carga doméstica, carga internacional, tráfego de conexão, competição por destino e competição por contratos) no intuito de se responder a três perguntas principais: quais desses aeroportos já concorrem, quais apresentam potencial de concorrência e em quais nichos essa competição - real ou potencial - existe, tanto entre eles, como em relação aos demais aeroportos já concedidos. Na parte final, serão apresentadas as principais conclusões do presente estudo, bem como as recomendações em relação a possíveis restrições de participação e propriedade para a atual rodada de concessões aeroportuárias. 2. REVISÃO DO MARCO TEÓRICO 2.1. Competição entre aeroportos: o mercado aeroportuário global hoje é caracterizado por companhias aéreas menos fixadas em um determinado local, com maiores possibilidades de escolha para os passageiros e aeroportos mais ativos na captação e realização de acordos comerciais (Copenhagen Economics, 2012). Tais fatores fazem com que o tradicional poder de mercado dos operadores dessas infraestruturas seja cada vez menos contundente nas suas negociações com as companhias aéreas e demais parceiros comerciais, uma vez que se trata de um ambiente progressivamente mais competitivo. De fato, a ameaça de troca de aeroporto por parte das companhias aéreas e dos passageiros constitui-se em um incentivo competitivo considerável para o operador da infraestrutura porque a perda de passageiros reflete-se tanto na receita aeronáutica (tarifas) como na não aeronáutica (lojas, estacionamentos, etc.). Por outro lado, o negócio aeroportuário é caracterizado por grandes investimentos afundados, custos fixos e despesas obrigatórias (especialmente ligadas a sa{e/y e security), o que torna a remuneração do capital investido particularmente sensível a grandes variações em sua utilização. A presente seção apresentará os principais aspectos do marco teórico que embasam a discussão sobre a concorrência entre aeroportos. Deve-se ressaltar, contudo, que uma apresentação abrangente sobre o tema já foi realizada por este Departamento de Regulação e Concorrência - DERC por meio da Nota Técnica n° 33/DERC/SPR/SAC-PR, de 20 de setembro de 2013 (em anexo), por ocasião da realização do leilão de concessão dos Aeroportos Internacionais do Rio de Janeiro/Galeão - Antonio Carlos Jobim, no Rio de Janeiro/RJ, e Tancredo Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte/MG. Assim, de forma a manter a objetividade do presente estudo, iremos nos limitar a destacar os pontos essenciais para a análise subsequente do caso em tela. Nesse sentido, deve-se considerar que vários trabalhos recentes buscaram identificar potenciais nichos nos quais a competição entre aeroportos pode ser significante Página 2 de 58 ~ (J&-~ ~ (ACI, 1999; Forsyth et aI., 2010; Starkie, 2002; Tretheway e Kincaid, 2005). Com base nesses trabalhos, podem-se elencar os seguintes nichos de competição aeroportuária 1: competição por mercado local compartilhado; competição por tráfego de conexão; competição por tráfego de carga; competição por destino; competição por contratos. 2.1.1. Competição por mercado local compartilhado A competição por um mercado local compartilhado é, sem dúvida, o tipo mais intuitivo e mais intenso de competição entre aeroportos. Trata-se do caso em que dois ou mais aeroportos encontram-se relativamente próximos um do outro, tendo parte de sua área de influência compartilhada. Nesse caso, esses aeroportos competem tanto por passageiros como por serviços aéreos. Entre os casos mais conhecidos internacionalmente, estão Londres (Heathrow, Gatwick, Stansted, London City, Luton), Nova York (John F. Kennedy - JFK, Newark, La Guardia, Islip/Long Is/and e Westchester County) e Paris (Char/es de Gaulle - CDG e Or/y). A maioria desses exemplos tem em comum o fato de eXistir uma especle de segmentação de mercado pelos aeroportos. Assim, aeroportos maiores (Charles de Gaulle e Heathrow, por exemplo) especializam-se no atendimento do mercado de longa distância e de conexão, enquanto aeroportos menores (Orly e London City) focam sua estratégia em voos regionais, voos de curta duração e empresas de baixo custo. Isso significa que passageiros poderão optar por um aeroporto ou outro dependendo de fatores que não estão sob administração direta do aeroporto (por exemplo, distância) ou de fatores que estão sob administração direta do aeroporto (preço, qualidade do serviço, opções de comércio - ex. duty free - entre outros), o que confere ao setor certo potencial competitivo. Conforme destaca Starkie (20 IO), como não há possibilidade de discriminação de preço em função da localidade de origem, mesmo uma área de sobreposição relativamente pequena pode ter efeitos significativos nos preços cobrados. Dessa forma, em alguns casos, mesmo passageiros localizados fora das áreas de influência podem ser beneficiados pela competição - e da consequentemente redução de preços - entre os aeroportos A e B pelos passageiros localizados dentro da área de influência. Há grande discussão na literatura sobre as distâncias máximas que determinariam a área de influência de um aeroporto. A Civil Aviation AUfhority (CAA) - órgão regulador do Reino Unido -, ao analisar as áreas de influência de aeroportos situados na região sudeste (Londres) e noroeste (Manchester) do Reino Unido, baseou-se em dois limites: uma hora de distância de carro, no caso de voos de curta distância, e duas horas de distância de carro, no caso de voos de longa distância. Entretanto, deve-se ter em conta que o tamanho da área de influência varia, principalmente, segundo o tamanho da viagem (trecho curto ou trecho longo) e o perfil de passageiros (negócios ou turismo). Isso será particularmente importante para análise das áreas de captação e influência para passageiros internacionais e cargas nacionais e internacionais realizada mais adiante. No Brasil, podemos identificar com clareza a ocorrência desse tipo de concorrência em São Paulo (aeroportos de Congonhas, Guarulhos e Viracopos), Rio de Janeiro (aeroportos do Galeão e Santos Dumont) e Belo Horizonte (aeroportos de Confins e Pampulha). I Pode-se falar ainda em competição por serviços não aeronáuticos (lojas, praças de alimentação, etc.) e competição com outros modais de transporte, mas como não dizem respeito estritamente à competição entre aeroportos, decidiu-se limitar o escopo da análise aos nichos mais diretamente afetos ao tema em questão. Página 3 de 58 Y: rk-.~~~ 2.1.2. Competição por tráfego de conexão e formação de hubs Ao contrário da competição por mercado local, a competição por tráfego de conexão é possível mesmo em aeroportos separados por grandes distâncias, considerandose a formação de hubs e a atração de passageiros de conexão. De fato, conforme diversos estudos já mostraram, os próprios responsáveis pela operação desses aeroportos enxergam como principais competidores contrapartes localizados fora das áreas de influência do mercado local. Nesse sentido, em estudo desenvolvido por Hancioglu (2008) sobre a competição entre aeroportos alemães, o Aeroporto de Dusseldorf, ao ordenar seus principais competidores, destacou os aeroportos de Frankfurt, Paris CDG, Amsterdã e Bruxelas como seus principais competidores, ainda que se situassem entre 250 e 450 quilômetros de distância. Ademais, o Aeroporto de Dusseldorf apontou como seu competidor doméstico em voos de longa distância o Aeroporto de Munique, situado a mais de 700 quilômetros de distância. Da mesma forma, Malina (2006), baseado na análise dos preços das passagens e do tempo de viagem, coloca que os dois aeroportos alemães, Frankfurt e Munique, enfrentam uma considerável competição por passageiros em trânsito provenientes de outros hubs europeus, tais como Paris Charles de Gaulle, Amsterdã, Londres Heathrow ou Madrid. Essa percepção não é restrita aos aeroportos alemães. Em estudo do Air Transport Group da European Comission (EU, 2002), quando questionados a respeito dos seus principais competidores, vários aeroportos apontaram contrapartes situadas a grandes distâncias: • O Aeroporto de Lisboa apontou como competidor mais relevante em todas as categorias de tráfego o Aeroporto de Madrid, situado a cerca de 650 quilômetros de distância; • O Aeroporto de Munique apontou como principal competidor nas categorias "transporte regular de longa distância e conexão", "transporte regular de curta distância" e "voos charter" o Aeroporto de Frankfurt, situado a cerca de 400 quilômetros; • O Aeroporto de Vienna assinalou como principal competidor nas categorias "transporte regular de longa distância e conexão", "transporte regular de curta distância" e "voos charter" o Aeroporto de Munique, situado a cerca de 450 quilômetros; • O Aeroporto de Heathrow (Londres) apontou como principal competidor na categoria "transporte regular de longa distância e conexão" o Aeroporto Charles De Gaulle (Paris), situado a cerca de 500 quilômetros; e como principal competidor na categoria "transporte regular de curta distância" o aeroporto de Manchester (Reino Unido), situado a 300 quilômetros. Além da competição por nichos explicitada acima, deve-se ter em conta a competição específica pela formação e desenvolvimento de hubs por parte dos aeroportos. De fato, parte considerável das companhias aéreas tradicionais (legacy carriers) opera no sistema hub-and-spoke, onde um aeroporto central serve como ponto de confluência de diversas demandas derivadas de linhas menores para depois distribuí-las para suas ~ aZ:4:;Y~ destinações finais. Conforme destaca estudo da LCA (2013), sob o ponto de vista do aeroporto, tomar-se um hub significa ter acesso a uma elevada demanda consistente e, por isso, tal fato incentiva a concorrência entre aeroportos para atraírem as operações de longa distância de companhias aéreas, seja por meio de menores preços e/ou melhores serviços. Essa mesma lógica pode ser identificada, guardadas as devidas proporções, no caso de aeropOlios de menor porte, que buscam consolidar-se como hubs regionais. Alguns autores defendem que o principal agente no estabelecimento de um hub não é o aeroporto, mas a empresa aérea. Contudo, por mais que empresas aéreas tenham uma demanda relativamente inelástica ao preço dos serviços aeroportuários quando já instaladas (em virtude da baixa representatividade desse custo no custo total das empresas), no momento em que escolhem um novo destino ou no momento em que escolherão uma nova base de operações para configuração de um hub, as empresas aéreas são muito mais sensíveis ao preço dos serviços e à qualidade oferecida. Nesse sentido, mesmo que as empresas aéreas sejam, de fato, os principais agentes no estabelecimento de 1mb, ainda assim a competição entre aeroportos mostra-se presente, dada a maior elasticidade-preço das empresas no momento pré-instalação. o mercado de aviação civil brasileiro ofereceu, recentemente, dois excelentes exemplos de potencial de concorrência para formação de um hub: a escolha de Campinas como hub da Azul (que contribuiu fortemente para que o Aeroporto de Viracopos saltasse de pouco mais de I milhão de passageiros em 2008 para quase 10 milhões em 2014) e a escolha do novo hub da TAM no Nordeste (processo ainda não concluso até a confecção da presente Nota Técnica). No caso da Azul, a ida da companhia aérea para um ou outro aeroporto era indiferente, uma vez que, independentemente da escolha da empresa, a opção só poderia ser um aeroporto da Infraero, dada a operação comum prevalecente no país até 2011. Contudo, em um cenário com diferentes operadores aeroportuários, seria de se esperar uma grande concorrência para a atração da empresa, com todos os beneficios ao consumidor associados a esse processo - menores preços e maior qualidade de serviço. No caso da TAM, os governos estaduais estão empreendendo diversos esforços para atração da companhia (apresentando diferenciais operacionais e comerciais para viabilizar as operações da empresa no estado), além da possível vantagem de contar com um aeroporto concessionado mais voltado para a eficiência e captação de tráfego. 2.1.3. Competição por tráfego de carga Em vários casos, o tráfego de carga representa uma parcela significativa das receitas de um aeroporto. Segundo a Airports Council International (ACI), o tráfego de carga corresponde a, aproximadamente, 17% da receita anual média de um aeroporto (Tretheway e Kincaid, 2005). No caso brasileiro, a carga doméstica tem uma representatividade muito baixa nas receitas dos aeroportos. É a carga internacional que corresponde à parcela significativa das receitas. Trata-se de um tipo de tráfego com alta elasticidade-preço e para o qual o conceito de "aeroporto próximo" não é o mesmo que para o tráfego de passageiros (PC, 2002). Isso porque o tráfego internacional de carga tem, muitas vezes, como objetivo principal trazer produtos a um país ou a uma região e não necessariamente a uma cidade em específico. Nesse sentido, distâncias que parecem grandes o suficiente para dificultar uma competição por mercado local no tráfego de passageiros - como os 460 quilômetros que separam o Aeroporto de Porto Alegre do Aeroporto de Florianópolis ou os 513 quilômetros d5? Página 5 de 58 ?: _ OVV\~ ~ ~ que separam Fortaleza do Aeroporto de Natal- não são impeditivas para a competição pela atração do tráfego de cargas. Isso porque, se uma empresa tem interesse em trazer carga da Europa para o Brasil ou mesmo para a Região Sul e se as vantagens oferecidas pelo aeroporto de Porto Alegre são superiores àquelas oferecidas pelo de Florianópolis - seja por questões de preço, de qualidade do serviço ou de estrutura logística para o escoamento da carga - não é dificil imaginar a empresa optando pelo aeroporto gaúcho. Deve-se considerar também que, como empresas aéreas cargueiras possuem menores custos operacionais que empresas aéreas de passageiros, a representatividade das tarifas aeroportuárias no total de custos da empresa é maior. Por conseguinte, o valor total dessas tarifas tem um impacto significativo nas decisões de rotas dessas empresas, o que aumenta a capacidade de o aeroporto atrair empresas diminuindo tarifas e aumentando a qualidade dos serviços prestados - ou seja, aumenta a competição entre aeroportos. 2.1.4. Competição por destino A competição por destino é, provavelmente, o tipo de competição menos intuitivo entre aeroportos. Por "competição por destino" quer-se dizer, simplesmente, que aeroportos desempenham um papel importante na atratividade de uma determinada localidade - seja sob o ponto de vista turístico, seja sob o ponto de vista de negócios. Em outras palavras, aeroportos fazem parte do pacote de turismo de uma cidade ou região. Nesse sentido, a qualidade, custo e escopo de serviços oferecidos por um aeroporto impactam diretamente na atratividade geral do destino servido por aquele aeroporto. Tretheway e Kincaid (2005:5) citam, por exemplo, o mercado de convenções: "planejadores de convenções consistentemente ranqueiam serviços aéreos prestados a uma comunidade como um dos dois principais critérios de escolha de um lugar para uma convenção". Outro exemplo trazido pelos autores é o mercado de cruzeiros - cuja decisão sobre o ponto de embarque depende, em larga medida, da integração entre o aeroporto e o porto - ou mesmo o mercado de turismo em geral, uma vez que a decisão por visitar determinada localidade pode passar pela qualidade/preço dos serviços do aeroporto da região. No Brasil, o destino turístico Nordeste é particularmente relevante2• De acordo com pesquisa divulgada pelo Ministério do Turismo no final de 2014, "oito em cada dez entrevistados que pretendem viajar planejam fazê-lo dentro do Brasil nos próximos seis meses, e quase metade deles (46%) apontam a região como destino favorito". Ainda de acordo com a pesquisa, as cidades mais procuradas são Aracaju, Fernando de Noronha, Fortaleza, Ilhéus, João Pessoa, Maceió, Natal, Porto Seguro, Recife e Salvador. Como se pode observar, tanto em termos teóricos como em termos práticos, há possibilidade de competição por destino entre aeroportos, particularmente se situados na mesma região geográfica. 2.1.5. Competição por contratos 2http://www.turismo.gov.br/ultimas-noticias/4239- ferias--nordeste-se-mantem-na-preferencia-nacional (acessado em 22/06/2015) cjl)---- Página 6 de 58 ~~~ ~ ~ Starkie (2010) identifica, ainda, um quinto tipo de competição entre aeroportos: a competição por contratos. Segundo o autor, no período pós-liberalização do mercado europeu de transporte aéreo, um novo e inesperado tipo de competição surgiu entre os aeroportos do continente: a competição para atração de empresas de baixo custo (Low Cost Carriers - LCC), o que, por um lado, aumentou a concorrência entre aeroportos e, por outro, aumentou o poder de barganha das empresas aéreas. o principal instrumento de manifestação dessa competição foi a assinatura de contratos de longo prazo entre aeroportos e LCCs. Esses contratos vão muito além de um simples acordo de preços: regulam também a qualidade dos serviços prestados (por exemplo, tempo máximo de espera em filas ou tempo mínimo de turnaround), a divisão dos custos de marketing ou ainda compromissos detalhados de investimentos futuros pelo aeroporto. Segundo Starkie, as tarifas acertadas pelas empresas aéreas nesses contratos são, em média, muito inferiores às tarifas regularmente cobradas pelos aeroportos, o que demonstra um aumento significativo do poder de barganha das empresas aéreas em relação ao que antes se pensava serem "monopolistas naturais". Ainda sobre esse ponto, Barrett (2000) analisou dezessete casos de competição entre aeroportos na Europa tendo com base a experiência da Ryanair, uma das empresas de low cost mais tradicionais do mundo. Os casos analisados consideraram aeroportos na Irlanda, no Reino Unido, na França, na Itália, na Suécia, na Noruega, na Bélgica e na Alemanha. A conclusão geral do autor foi que, por um lado, a competição entre aeroportos foi um instrumento fundamental de competição da empresa e, por outro lado, a presença de uma empresa de baixo custo foi essencial para o surgimento da competição entre aeroportos. 2.2. Regulação por Comparação (Bencllmark Regulation) Um aspecto central na atividade regulatória é a comparação entre os vanos agentes envolvidos no sistema. Com base nessa percepção, a literatura desenvolveu o que ficou conhecido como Benchmark Regulation ou Yardstick Competition. A lógica por trás desse modelo é que o regulador pode utilizar as características da firma mais eficiente de determinado setor como parâmetro para a regulação. Assim, a tarifa ou o reajuste tarifário a ser permitido para as empresas atuantes em um setor são calculados levando-se em consideração, por exemplo, os custos médios da firma eficiente. Dessa forma, as demais firmas ver-se-iam obrigadas a perseguir a estrutura de custos da firma mais eficiente. Trata-se de uma forma bastante criativa de se introduzir um grau de competição entre, por exemplo, aeroportos geograficamente distantes. Uma das principais características do processo de regulação é a existência de assimetria informacional entre o agente regulado e o regulador. Por essa razão, esse último pode optar por conceber parâmetros que irão auxiliar na comparação entre os mais diversos agentes dentro de um mesmo setor ou entre um agente interno com outros agentes que estão inseridos no mesmo setor de outros países. Dessa forma, estar-se-ia criando uma forma de regular os agentes com base na atividade prestada por outros agentes semelhantes. Para isso, uma das opções à disposição do regulador é criar parâmetros que poderão lhe fornecer informações importantes e que permitirão a comparação entre os mais diferentes agentes, inclusive no que tange à comparação da qualidade do serviço que está sendo prestado. Com isso, o regulador pode reduzir a assimetria de informação com relação ao ente regulado, principalmente sobre o custo da firma. A ideia central é de que o Página 7 de 58 ~L custo da firma pode ser comparado com o custo de outras firmas, inclusive em mercados com áreas geograficamente diferentes, que se utilizam de tecnologia semelhante para dispor de seu produto. A minimização da assimetria informacional é de fundamental importância para o regulador, uma vez que esse constitui, por vezes, grande obstáculo à regulação eficiente. O agente regulado, em geral, não tem incentivo para conceder todas as informações necessárias para o regulador e este tem receio de arbitrar esses dados de forma muito rígida e montar uma estrutura regulatória que pressione excessivamente o agente regulado a ponto deste último vir a desistir do negócio em questão. Segundo Laffont & Tirole (1993), de uma forma geral, por causa da assimetria de informação entre o regulador e o agente regulado, há uma redução da eficácia da regulação, e o regulador deveria usar todas as informações disponíveis para reduzir essa assimetria. Como vimos, uma das formas de compreender melhor a tecnologia utilizada pelo agente regulado - bem como a natureza de seus custos - é comparar o desempenho da firma com a de outras firmas que produzem um bem/serviço semelhante. É importante observar que a regulação por comparação e a regulação por tarifa teto não são mutuamente excludentes, podendo ser usadas de forma a se complementarem. Para a definição e a redefinição do Fator X3, por exemplo, é comum fazer uma avaliação que compara os ganhos de produtividade futura com os passados dentro da indústria em questão. A aferição comparativa da eficiência das diferentes firmas inseridas em determinado contexto regulatório pode ser de fundamental importância na determinação de um Fator X que, de fato, reflita o ganho de produtividade do setor. Assim, segundo a Productivity Comission da Austrália (2002), o objetivo do benchmarking sob um regime de tarifa teto é aumentar os incentivos à maior eficiência em cada uma das firmas. Isso porque, dada a maior quantidade de informações à disposição do regulador, esse dependerá menos das informações fornecidas pela firma "A" para a definição do seu teto tarifário - ou do reajuste de tarifas permitido -, podendo se valer, agora, das informações de diversas outras firmas do setor. Isto daria incentivos para a busca de eficiência de custos e de investimentos adequados. Nesse sentido, deve-se notar que o benchmarking não é importante somente sob o ponto de vista da atividade reguladora, mas tem potencial de gerar externalidades positivas em todo o sistema aeroportuário. Conforme destacado em Scotti apud Pavlyuk (2012: 123), diferentes atores podem se beneficiar de um processo de benchmarking: • A gestão de aeroportos exige a comparação, em termos de eficiência, com outros negócios semelhantes de forma a melhorar suas operações e, consequentemente, a posição do aeroporto em um ambiente competitivo; • A gestão de empresas aéreas está interessada na identificação de aeroportos eficientes para suas atividades operacionais; • Municípios exigem aeroportos eficientes para atração de negócios e turismo à sua região; 3 Fator de produtividade, a ser aplicado nos reajustes tarifários, com o objetivo de compartilhar os ganhos de produtividade e eficiência com os usuários. • Formuladores de políticas necessitam do benchmarking entre aeroportos de forma a criar programas de melhoramentos do setor e para a tomada de decisões ótimas sobre a alocação de recursos. No Brasil, em que pese o fato de ainda não terem sido realizados cálculos do Fator X para a maioria dos aeroportos4 concedidos (para além dos valores já estabelecidos no Contrato de Concessão), é possível verificar os benefícios do benchmarking aplicados à aviação civil em diversos outros aspectos, entre os quais, pode-se citar: • No que concerne especificamente a esta SAC-PR, a possibilidade de avaliar as condições de cada concessionária em dar cumprimento às cláusulas de seu contrato de concessão tem possibilitado o aperfeiçoamento dos contratos celebrados e um acompanhamento institucional mais efetivo. A título de exemplo, pode-se citar o caso dos aeroportos de Galeão e de Confins, cujas obras a cargo do Poder Público não foram realizadas pela Infraero dentro do prazo previsto em contrato e que tiveram avaliações e propostas de solução distintas pelas concessionárias. De fato, o enfrentamento de problema similar por concessionárias distintas favorece a solução de controvérsias contratuais com maior número de propostas e visões para garantir o bom andamento das concessões. • A formação de uma base de dados que possa subsidiar a elaboração de metodologia para melhorar os niveis de serviços previstos nos contratos de concessão. Nesse sentido, a Exposição de Motivos da Audiência Pública ANAC n° 21/2014, que propôs modificar metodologia de cálculo do Fator Q a ser realizada na Primeira Revisão dos Parâmetros da Concessão (RPC) do ASGA, apresentou como objetivo principal da referida Audiência Pública nivelar o Contrato de Concessão aos demais contratos celebrados com as concessionárias nas rodadas anteriores, conforme trecho reproduzido a seguir: "A proposta visa revisar os aspectos metodológicos referentes aos IQS e fator Q. bem como, estabelecer diretrizes necessárias a implementação e aferição desses e uniformizar os indicadores de todos os Contratos de Concessão a .fim de consolidar modelo único e, assim, reduzir custos regulatórios e viabilizar comparação entre os aeroportos. Com efeito, o principal objetivo da I" RPC do ASGA quanto à metodologia do Fator Q é nivelar, com algumas adaptações, o referido Contrato de Concessão com as inovações contratuais aplicadas aos outros aeroportos concedidos pela União (SBBR, SBCF, SBGL, SBGR, SBKP), permitindo assim o preenchimento de lacunas metodológicas no texto contratual vigente, bem como uma gestão contratual dinámica, com baixo custo regulatório e que estabeleça e fiscalize os níveis mínimos de qualidade de serviços a serem prestados nos aeroportos concedidos" . • A formação de uma base de dados que possa subsidiar o cálculo do Fator X previsto nos contratos de concessão. Conforme exposto, já foi realizado o cálculo do Fator X a ser aplicado no Aeroporto Internacional de São Gonçalo do Amarante - RN até 2019 (Resolução Apenas para Aeroporto Internacional de São Gonçalo do Amarante - RN (Resolução ANAC n° 354, de 17 de março de 20 I 5). 4 c:i!f?- Página 9 de 58 ~ (Lk ~ .~ ANAC n° 354, de 17 de março de 2015), mas ainda sem incluir as informações referentes aos anos 2010, 2011, 2012 e 2013 provenientes dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília. A não utilização dos dados deveu-se à transição das operações em 2012 e, também, ao fato dos aeroportos concedidos estarem inseridos em uma realidade consideravelmente diversa (grandes distâncias euclidianas na análise de cluster). Tudo o mais constante, na medida em que mais aeroportos geridos por consórcios privados independentes passem a operar, uma base informacional maior será criada, permitindo cálculos mais precisos do fator de produtividade que deve incidir sobre cada aeroporto. Importante notar também que tal instrumento de comparação entre operações distintas de aeroportos não é utilizado apenas pelo Poder Público, mas também pelos usuários das infraestruturas, uma vez que passaram a comparar tipos de serviços disponiveis, tecnologias, vantagens, etc., e, com isso, passaram a demandar melhorias nos aeroportos que não dispõem das mesmas caracteristicas. 3. EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL NA CONCESSÃO DE AEROPORTOS: LIMITAÇÕES À PROPRIEDADE CRUZADA A presente seção apresentará um breve histórico do processo de privatização/concessão no Reino Unido, México e Austrália, seguida de uma exposição das principais características dos modelos adotados, com destaque para as regras de controle sobre a propriedade cruzada em cada um deles. Da mesma forma que na Seção 2, destacase que uma apresentação abrangente sobre o tema já foi realizada por este Departamento de Regulação e Concorrência - DERC por meio da Nota Técnica n° 33/DERC/SPRlSAC-PR (em anexo), por ocasião da realização do leilão de concessão dos Aeroportos Internacionais do Rio de Janeiro/Galeão - Antonio Carlos Jobim, no Rio de Janeiro/RJ, e Tancredo Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte/MG. Assim, de forma a manter a objetividade do presente estudo, iremos nos limitar a destacar os pontos essenciais para a análise subsequente do caso em tela. 3.1. Reino Unido o Reino Unido foi pioneiro no processo de privatização de aeroportos no mundo. A British Airport Authority (atualmente, BAA) foi privatizada, em julho de 1987, com base no Airports Act (1986). As principais características do modelo britânico de privatização são: i) tratar-se de uma venda definitiva dos ativos para o setor privado (ou seja, uma privatização strictu sensu) e ii) ter vendido em bloco sete dos maiores aeroportos da Inglaterra e da Escócia para o mesmo operador. Assim, além dos aeroportos de Londres (Heathrow, Gatwick e Stansted), a BAA era proprietária dos aeroportos de Glasgow, Edinburgh, Aberdeen e Southampton. o principal objetivo alegado pelo Governo Britânico para privatizar a BAA como uma empresa única foi a necessidade de tomá-la um ativo atrativo para o investimento privado, permitindo que esses aeroportos provessem uma infraestrutura que acompanhasse o crescimento esperado da demanda e a crescente competição entre empresas aéreas. Contudo, mais de 20 anos depois, segundo relatório da Competition Comission (CC) britânica (Competition Comission, 2009), verificou-se que o objetivo não foi plenamente alcançado, uma vez que a propriedade comum de ativos com potencial de competição havia gerado uma oferta inadequada de infraestrutura aeroportuária, insatisfatória qualidade dos serviços, além do fato do mecanismo não prover incentivos adequados à redução dos custos de operação. Com essa avaliação em mente, a CC decidiu impor à BAA ~ fli,ág:na 10;; a venda dos aeroportos de Stansted e Gatwick, além de um dos aeroportos da Escócia (Glasgow ou Edimburgo). Deve-se atentar, contudo, para o fato de que a análise da CC não se limita à análise da competição por mercado local. A CC ampara suas conclusões, também, na relação perversa que considera existir entre a propriedade comum dos ativos e a regulação. Segundo a CC, há uma relação direta entre falhas/dificuldades verificadas no processo de regulação desses aeroportos e o fato de serem propriedade de uma única empresa, a BAA. Isso porque, sob propriedade comum, a Civil Aviation Authority (CAA) - órgão regulador britânico - fica presa à necessidade de uma análise bottom-up da eficiência operacional e de capital da BAA, o que envolve um escrutinio detalhado dos custos da companhia. Além disso, o órgão regulador se vê obrigado a fazer julgamentos de valor por vezes arbitrários ou dependentes da discricionariedade do regulador ou do aconselhamento de empresas de consultoria externas - sobre o nivel de serviços (qualidade) e a eficiência de determinadas despesas de capital. Esse processo é ainda mais dificultado pela assimetria de informação existente entre o órgão regulador e a BAA. Caso os aeroportos regulados estivessem sob diferentes propriedades, a CAA seria capaz de coletar infonnações produzidas por operadores independentes tornando possível algum grau de regulação por comparação por meio do benchmark. Esse mecanismo, a depender da forma como venha a ser implementado, pode permitir, ainda, uma espécie de "competição por comparação" entre diferentes operadores. Dessa forma, a CC evidencia a expectativa de que, de posse desse mecanismo, o regulador conseguiria reduzir custos regulatórios - seja por permitir a redução do nivel de escrutinio necessário ao regulador, seja por aumentar as chances de desenho de um mecanismo regulatório adequado - e, consequentemente, aumentar o nível de serviço e a eficiência de despesas de capital. A experiência britânica é, assim, bastante elucidativa das vantagens associadas à atração de operadores independentes para operação de aeroportos no país. O desenvolvimento do transporte aéreo no Reino Unido deixou evidente a existência de competição potencial entre os aeroportos da BAA que atendiam à região de Londres e dois dos aeroportos escoceses. Essa competição potencial não se transformava em competição real, em grande medida, pela existência de propriedade comum dos ativos. Não se pode ignorar o alto custo político da decisão de um órgão governamental de forçar uma empresa privada a se desfazer de três dos seus principais ativos por argumentos concorrenciais. 3.2. México A decisão de conceder a infraestrutura aeroportuária do país ao setor privado teve como marco inicial a publicação da Ley de Aeropuertos, em 22 de Dezembro de 1995. Esse processo culminou na concessão, em 1998, de 34 dos 58 aeroportos da operadora mexicana ASA à iniciativa privada em um modelo BOT (Build-Operate-Transjer Construir, Operar e Transferir). O processo foi regulamentado por documento intitulado Lineamento Generales para la Apertura a la Inversión em el Sistema Aeroportuario Mexicano, no qual se definiram as principais características do modelo de concessão mexicano. Para o processo de concessão foram formados quatro grupos de aeroportos, com suas respectivas Sociedades Controladoras: a,,~ Página J J de 58 • Grupo Aeroportuario Ciudad de México (GACM) - aeroporto da Cidade do México; • Grupo Aeroportuario deI Sureste (ASUR) - 9 aeroportos, sendo o principal o Aeroporto de Cancún; • Grupo Aeroportuario Centro-Norte principal o Aeroporto de Monterrey; (GACN) - 13 aeroportos, sendo o • Grupo Aeroportuario dei Pacifico (GAP) - 12 aeroportos, sendo o principal de Guadalaraja. Os leilões dos grupos foram realizados em 1998, 1999 e 2000 (ASUR, GAP e GACN, respectivamente) e seguiram o critério de maior outorga entre as empresas que atenderam aos requisitos técnicos minimos. Para evitar abusos de poder de mercado, a abertura foi acompanhada de regulação tarifária e de outras regras de competição. Entre essas, destaca-se a proibição de que o Sócio Estratégico de cada um dos grupos detenha qualquer participação em outro grupo aeroportuário (limitação à propriedade cruzada). Em que pese não termos encontrado documentos do Governo do México com a justificativa oficial para a limitação à propriedade cruzada, pode-se especular sobre as razões que teriam levado a essa decisão. Em primeiro lugar, deve-se notar que, dada a distância entre os principais aeroportos de cada grupo, é pouco provável que um critério de competição pelo mercado local tenha embasado essa decisão (vide Tabela I). Tabela 1 - Distância entre os principais aeroportos mexicanos em km Aeropuerto de Ciudad de Mcxico AeroJluerto de Cancún AcroJluerto de Monterrcy AeroJluerto de Guadalajara Aeropuerto de Ciudad de Mexico - 1.610 938 558 AeroJluerto de Cancún 1.610 - 2.543 2.163 AeroJluerto de Monterrey 938 2.543 - Aeropuerto de Guadalajara 558 2.163 - Fonte: Google Maps (menor distância rodoviária) Assim, sob o ponto de vista estrito da concorrência, o que poderia justificar a restrição à propriedade cruzada seria a possibilidade de competição real ou potencial entre esses aeroportos nos seguintes nichos: i) tráfego internacional de passageiros (conexão internacional); ii) tráfego de conexão doméstico (formação de hubs); e iii) tráfego de carga. Restaria, ainda, o argumento do benchmarking. Sobre esse ponto, vale destacar que, ao se decidir pelo modelo de concessão dos aeroportos no México, aventou-se a possibilidade da concessão dos 35 aeroportos em um único bloco. Um dos motivos que levou à opção pela concessão em blocos distintos foi que esse modelo facilita a comparação no tocante à qualidade dos serviços e dos indicadores de desempenho, tanto para o grupo de forma conjunta como para os aeroportos de maneira individual. Nesse caso, fica evidente que tanto a escolha por conceder em blocos distintos como a decisão de restringir a participação cruzada teve como um dos motivadores principais a importância de se gerar informações que permitam a comparação entre operadores distintos sobre a qualidade de serviço e o desempenho desses operadores, ou, em outras palavras, a importância de se permitir o benchmarking entre operadores aeroportuários distintos e independentes. Vale destacar, por fim, que a Comisión Federal de Competencia (CFC), em relatório divulgado no final de 2007 (CFC, 2007), chamou a atenção para a necessidade de se buscar formas de estimular a maior competição no sistema aeroportuário mexicano. Esse objetivo ficou evidente na análise da situação do Aeroporto Internacional da Cidade do México (ainda público), para o qual a CFC recomendou que o órgão regulador aplicasse regulação tarifária nos mesmos moldes da aplicada para aeroportos privatizados (CFC, 2007:20). Além disso, a CFC recomendou retirar a participação do Governo Federal dos aeroportos situados na região metropolitana da Cidade do México (aeroportos de Toluca, Cuernavaca, Querétaro e Puebla), sob o argumento de que tais aeroportos poderiam competir, em alguns nichos, com o Aeropuerto Internacional Ciudad de Mexico, estimulando, assim, uma maior eficiência econômica, menores custos ao usuário e maior qualidade do serviço (CFC, 2007). Ademais, a CFC trouxe como uma das recomendações assegurar que a concessão de novos aeroportos seja pró-competitiva. Com isso em mente, em decisão recente sobre a concessão greenfield do aeroporto de Riviera Maya, a CFC decidiu vedar a participação da ASUR, administradora do aeroporto de Cancún. Demonstra-se com essas decisões uma grande preocupação do governo mexicano em garantir um ambiente competitivo no sistema aeroportuário do país, não somente com o objetivo de estimular a concorrência, mas também de permitir a comparação no que diz respeito à qualidade de serviço e ao desempenho de cada um dos diferentes operadores. 3.3. Austrália A primeira rodada de concessões dos aeroportos australianos (até então operados por uma empresa pública chamada Federal Airports Corporation - FAC) foi concluída em maio de 1997, sendo composta pelos aeroportos de Melbourne, Brisbane e Perth. Já a segunda, concluída em março de 1998, contemplou os aeroportos de Alice Springs, Canberra, Coolangatta, Darwin, Hobart, Launceston e Townsville. Outros sete aeroportos foram concedidos individualmente em momento posterior e o Aeroporto Internacional de Sydney foi transferido à iniciativa privada somente em 2002. Entre as principais caracteristicas das concessões australianas, destacam-se o leilão por maior outorga, a regulação por tarifa teto (price cap) e possibilidade de aumentos tarifários acima do previsto no caso de investimentos necessários e não previstos. A propriedade cruzada foi restringida para os aeroportos da Fase I e permitida para os aeroportos da Fase 2 (o que levou a algumas combinações societárias entre esses aeroportos e os da primeira fase). As restrições à propriedade cruzada foram estipuladas para os chamados "pares de aeroportos" (Sydney, Melbourne, Brisbane e Perth). Nesse caso, a participação cruzada estava limitada a 15%. c,1f? Página 13 de 58 (kL.-: ~ Y ~ Assim como no caso mexicano, ao analisarmos a distância entre os quatro grandes aeroportos australianos, podemos descartar a possibilidade de que haja qualquer grau de competição pelo mercado local, ou seja, qualquer área de captação em comum. Tabela 2 - Distância entre os principais aeroportos australianos (em km) Aeroporto de Sydney Aeroporto de MelboUl'ne Aeroporto de Brisbane Aeroporto de Perth Aeroporto de Sydney - 855 946 3.916 Aeroporto de Melbourne 855 - 1.690 3.405 Aeroporto de Brisbane 946 1.690 - 4.352 Aeroporto de Perth 3.916 3.405 4.352 - Fonte: Google Maps (menor distância rodoviâria) Assim, resta a possibilidade de que algum grau de competição real ou potencial em outros nichos de mercado - particularmente carga, tráfego internacional de passageiros e atração de companhias de baixo custo (low cost carriers) - possa ter justificado a restrição à propriedade cruzada no caso australiano. Relatório da Productivity Comission (PC) australiana, divulgado em 2002 - ano da concessão do aeroporto de Sydney - destaca, por exemplo, o maior "potencial de substituição de aeroportos" do tráfego de carga em relação ao tráfego de passageiros (PC, 2002:126). Destaca, ainda, que a definição de um "aeroporto próximo" para carga não é a mesma que a definição de um "aeroporto próximo" para passageiro: "Por exemplo, conforme apontado acima, os aeroportos de Melbourne e Sydney são substitutos viáveis para o Aeroporto de Adelaide em certas circunstâncias" (PC, 2002: 127). Destaca-se que, em pesquisa no Google Maps, a menor distância rodoviária entre o Aeroporto de Sydney e o Aeroporto de Adelaide é de 1.373km e entre o Aeroporto de Melbourne e o Aeroporto de Adelaide é de 735 km, o que mostra a predisposição da PC em admitir a possibilidade de competição no mercado de carga mesmo em aeroportos muito distantes entre si, o que parece ser particularmente verdadeiro no caso do tráfego internacional de carga (que tem como foco trazer produtos para o pais e não para uma região em específico). Os gestores do Aeroporto de Melbourne, por exemplo, compartilham dessa opinião. Segundo eles, "Os operadores de serviços defrete parecem estar bastante dispostos a mudar os aeroportos, o que é um reflexo de que seus negócios são guiados, principalmente, pela tarefa de entregar importações à Austrália - e não levar exportações e/ou importações de/para um local especifico do pais. Isto porque o que realmente impulsiona o{ornecimento de serviços de frete aéreo é a disponibilidade de carga de alto valor agregado .. É justamente essa disposição de mudar sua base de operações aliada à disponibilidade geral de capacidade aeroportuária que confere aos aeroportos pequeno poder de mercado em relação aos serviços de frete". (PC, 2002: 127). Admite-se, ainda, a possibilidade de competição pelo tráfego internacional de passageiros entre esses aeroportos: "A competição por tráfego internacional entre esses çJ17 ti:: ~58 fi: aeroportos podem moderar, embora não eliminar, esse último efeito [existência de poder de mercado)" (PC, 2002:144). Segundo a Comissão, é comum que grandes aeroportos ofereçam incentivos e, por vezes, entrem em verdadeiras "guerras de preço" para atração de novas empresas/rotas. Novamente, os próprios gestores aeroportuários parecem concordar com essa avaliação. Segundo o Aeroporto de Sydney: "na situação em que um novo mercado está sendo aberto, para ajuda no primeiro ano, dois, três anos, você pode oferecer incentivos para construir o mercado" (PC, 2011 :79). Esse raciocínio vale tanto para atração de tráfego internacional, quanto para atração de novas empresas de baixo custo. Isso porque o fato de ter como público-alvo passageiros com alta elasticidade-preço da demanda possibilita à empresa maior margem de manobra na escolha do aeroporto e de suas rotas. Chama atenção, ainda, o fato de que, entre os objetivos anunciados pelo governo australiano antes da concessão dos aeroportos, havia o seguinte: "estabelecer diversidade suficiente de propriedade de aeroportos com vistas a estimular a inovação e o benchmarking competitivo" (Hooper et ai, 2000: 196). Essa visão da importância do benchmarking para a regulação é compartilhada pela Productivity Comission - PC. A PC destaca importância do benchmarking entre aeroportos que operam dentro do mesmo contexto regulatório: "Um benchmarking eficaz envolve comparações' apples-to-apples', razão pela qual é comum que os estudos sejam realizados tomando por base ativos submetidos a uma mesma jurisdição ou sistema regulatório" (PC, 2011 :43). Dessa forma, fica evidente a importância de uma amostra de aeroportos dentro de um mesmo contexto regulatório para a utilização desse instrumento de comparação. o próprio órgão de concorrência australiano - Australian Consumer and Competition Comission - publicou, em 2013, relatório intitulado Airport Monitoring Report (ACCC, 2013) no qual realiza uma análise comparativa do desempenho dos aeroportos de Adelaide, Brisbane, Melbourne, Perth e Sidney (comparando, por exemplo, a performance desses aeroportos em termos de qualidade de serviço e receitas por passageiro). Por fim, ao tratar da importância do benchmarking para a atividade regulatória, a PC destaca sua utilidade em dois campos: • Como indicador de performance comparativa entre os aeroportos em um contexto regulatório particular: no caso das concessões brasi leiras, poderíamos traçar um paralelo com a definição das métricas/metas dos níveis de qualidade do servIço; • Como mecanismo para determinação de tarifas aeroportuárias, no que se pode traçar um paralelo com as revisões do Fator X, no caso brasileiro. Um aspecto que chama a atenção da experiência australiana foi a evolução de uma regulação por tarifa teto (price cap) para um modelo de monitoração de preços (ou light handed regulation). Em 2002, após a forte redução na demanda por aviação mundial decorrente dos atentados de 11/9 e a detecção de problemas nos incentivos para investimento do modelo de tarifa teto australiano (vide Forsyth, 2000), o governo do país decidiu abolir a regulação tarifária de todos os principais aeroportos do país. A PC concluiu que uso - ou abuso - de poder de mercado pelos aeroportos poderiam ser limitados por três fatores principais: • Pressões e oportunidades comerciais, principalmente devido ao alto grau de importância das receitas não tarifárias, que estimula a necessidade de atrair passageIros. c;i!.P Página 15 de 58 ~ fL~~ ~ • Estratégias de crescimento a longo prazo: aeroportos têm interesse em trabalhar juntamente com outros provedores de serviço (indústrias de turismo e de aviação) de modo a promover a atratividade de determinada localidade. • Poder compensatório das empresas aéreas: a tentativa de exercer poder de mercado pelos aeroportos pode ser limitada pela atuação em direção oposta das empresas aéreas. As próprias características do modelo deixam evidente a necessidade de haver operadores independentes para que seja sequer cogitada sua adoção. Isso porque, na ausência de operadores independentes, dois dos "mitigadores" do abuso de poder de mercado pelos aeroportos identificados pela Comissão ficam comprometidos: i) sob o ponto de vista do aeroporto, o estímulo para atratividade de uma localidade específica fica comprometido, uma vez que o operador passará a ser indiferente se uma ou outra localidade é mais atraente Gá que é proprietário do aeroporto de ambas localidades); ii) por um lado, o poder compensatório das empresas aéreas fica severamente limitado e, por outro lado, o poder de mercado do operador aeroportuário, acentuado. Além disso, a ausência de produção de informações por firmas diferentes pode comprometer a habilidade do regulador de detectar se há ou não abuso de poder de mercado por um aeroporto específico. Dessa forma, na ausência de operadores aeroportuários independentes, fica praticamente impossível ao órgão regulador sequer cogitar a transição para um modelo de light-handed regulation (regulação leve). Nesse contexto, fica evidente a importância que o Governo Australiano conferiu no seu modelo de concessão à atração de operadores independentes para os principais aeroportos do país, bem como a relevância adicional adquirida pela limitação da propriedade cruzada na transição de um modelo price cap para um modelo de monitoramento de tarifas. Assim como no caso brasileiro, a vedação à participação cruzada parece ter sido justificada por dois fatores principais: i) a possibilidade de competição entre aeroportos em alguns nichos de mercado, particularmente no tráfego internacional de passageiros; ii) a importância de se gerar informação a partir de operadores aeroportuários independentes de modo a subsidiar o processo regulatório. 4. EVOLUÇÃO CARACTERÍSTICAS DO SETOR E DESAFIOS DE AVIAÇÃO CIVIL BRASILEIRO: Primeiramente, cumpre abordar a importância do setor de transporte aéreo para o país, bem como sua evolução nos últimos anos. De fato, o transporte aéreo é de fundamental importância para o desenvolvimento e crescimento sustentado do Brasil, uma vez que os voos impulsionam oportunidades para o incremento dos negócios entre as regiões (representando importante insumo na cadeia produtiva), movimento de pessoas a trabalho e estudo, além de outros fatores que aumentam o bem estar da população, como turismo, lazer, tratamentos de saúde, entre outros. No âmbito das contas externas, o transporte aéreo também exerce influência, uma vez que possibilita receitas e despesas em moedas estrangeiras por meio da exportação e importação de produtos e serviços, além de viagens internacionais. Ao contrário de economias mais amadurecidas, em que a elasticidade renda da demanda por transporte aéreo declina, o Brasil possui grande potencial de crescimento no setor de aviação civil, conforme evidenciam números recentes referentes ao seu mais expressivo e sintético indicador: entre 2005 e 2014, o movimento de passageiros nos aeroportos no país cresceu, em média, 9% ao ano. Página 16 de 58 rL~~ Tal fenômeno de crescimento do mercado interno de aviação é fruto da conjugação de diversos fatores socioeconômicos e concorrenciais: aumentos de renda da população brasileira (efeito renda), a ascensão das classes sociais, a popularização do modal aéreo, a redução de preços das passagens (efeito preço), a entrada de novas empresas no mercado, a comercialização de bilhetes por canais mais acessíveis, dentre outros, o que elevou o setor à condição de modal preferencial para o transporte de passageiros de longa distância no País. 4.1. Oferta de transporte aéreo Vigora, no País, a liberdade de oferta de transporte aéreo no mercado domésticos. Assim, uma vez constituídas, as empresas aéreas são livres para explorar os mercados em que quiserem se estabelecer, observada a prestação de serviço adequado e a disponibilidade de infraestrutura. Os dados de oferta de transporte aéreo apresentados a seguir consideram apenas os voos remunerados das empresas brasileiras e estrangeiras, incluídos os voos regulares, extras, cargueiros não regulares, charter e fretamentos, excluídos os voos de serviço, posicionamento, experiência e instrução. O Gráfico I a seguir exibe a evolução da oferta do transporte aéreo de passageiros em termos de Available Seat Kilometer - ASK (Assento Quilômetro Oferecido) para os mercados doméstico e internacional. O ASK é obtido pela multiplicação da quantidade de assentos oferecidos pela quantidade de quilômetros voados. O número apresentado referese à soma dos produtos obtidos ao multiplicar-se o número de assentos disponíveis em cada etapa de voo pela distância da etapa. Considerando o período de 2005 a 2014, a oferta doméstica cresceu em média 9,6% ao ano, enquanto a internacional 1,7% ao ano. Mais recentemente, a oferta por transporte aéreo doméstico de passageiros em 2014 registrou crescimento de 0,95% em relação à oferta de 2013 e a oferta por transporte aéreo internacional de 2014 diminuiu 1,4% em relação à oferta do ano anterior. Com o resultado de 2014, a oferta doméstica alcançou o segundo maior nível dos últimos dez anos, inferior apenas ao do ano de 2012. A oferta internacional de 2014 também alcançou seu segundo maior patamar nos últimos dez anos, inferior apenas ao do ano de 2013. Lei n°. 11.182/2005: Art. 48. (VETADO) g 10 Fica assegurada às empresas concessionárias de serviços aéreos domésticos a exploração de quaisquer linhas aéreas, mediante prévio registro na ANAC, observada exclusivamente a capacidade operacional de cada aeroporto e as nonnas regulamentares de prestação de serviço adequado expedidas pela ANAC. 5 ~. Página 17 de 58 r Jo/L~ ~ Gráfico 1. Evolução da oferta do transporte aéreo, 2005 a 2014 ASK doméstico e internacional 140 -- ----- --- -- --. ---- ---- ------ - -- -- --- --- -- --- --- -- ---- --- --- --- --- -- -- -- - -- -- -... 116,1 120 119,3 --- --- ---- ---- -..-- ----- ---- --- --- ---- ----- ----- ---- ----- --- ---- 100 --------------------\n l~ ~ in 80 75,4 ------------------67;5----------- 60 57,3 -5-1,2-------- 40 -JU:5 --- --- ----- ---- ---- ---- ---- ---28-2- ----:3]-,0. - - - - - -334 -- • - - - -. 334 ----.- - -- - - 35,9 - -- - - - - -354 - - J - - - _. • 23.3 27,6 , 20 ---'22,3 ..-------------------- o 2005 2006 2007 2008 2009 --Doméstico 2010 2011 2012 2013 2014 --Internacional Fonte: ANAC Já O Gráfico 2 exibe a variação percentual anual da oferta Available Kilometer - ASK (Assento Quilômetro Oferecido) para o mercado doméstico. Seat Gráfico 2. Variação da Oferta do Transporte Aéreo, 2006 a 2014 Variação do ASK em relação ao ano anteriormercado doméstico 20% ____________________________________ _ 19,0% _____ _________________ _ !-- - - -f3;0% --- --- ---- --- ---- -- -- ---- - --- --- ----~~!~~-- 15% 11,9% I tl,7% 1---------------- ------------- r----- 10% 5% I ,n 2.8% I 0,9% i 0% 2006 -5% _ 17,8% 2007 2008 2009 2010 2011~___;01~~' __________________ _ -_~,~_U(~ _ Fonte: ANAC A série histórica do Gráfico 2 revela uma tendência acentuada e ininterrupta de crescimento da oferta de transporte aéreo doméstico entre 2005 e 2012. Não obstante, a partir de 2011, a variação anual da oferta de transporte de passageiros começa a ser significativamente reduzida, culminando em um crescimento de oferta doméstica, em 2012 de 2,8%. Em 2013 houve uma redução de 2,8%, o que pode ser explicado tanto pelo expressivo crescimento da base de assentos ofertados (devido às fortes expansões verificadas em anos anteriores, principalmente para o mercado doméstico) quanto pela recente redução do ritmo de crescimento da economia. No entanto, em 2014 houve uma pequena recuperação desse valor. Deve-se ressaltar, ainda, que as duas maiores empresas do país, TAM e Gol, encontram-se em um período de reestruturação interna, o que tem ocasionado uma diminuição de sua oferta de voos. 4.2. Demanda por transporte aéreo Da perspectiva da demanda, importante ressaltar que o transporte aéreo é considerado um bem intermediário, uma vez que os usuários se utilizam do transporte para atingir algum propósito de deslocamento. Desse modo, a demanda é qualificada como derivada. O Gráfico 3 apresenta a evolução da quantidade total de passageiros pagos transportados pelas empresas aéreas brasileiras no período de 2005 a 2014. Gráfico 3. Evolução da quautidade de passageiros transportados, de 2005 a 2014 Passageiros Pagos Domésticos e Internacionais 120 VI o ~ 100 .- -- -- --- -- --- --- --- -_.. _.. ---. -- --- --- --- ---' -- -- --- --- --- --- -- -88;7- - -- -'9'0-o - -- - '_~,9._. 'ãj 82,1 ' llD III 80 VI t:. OI "C ~ 60 38,7 43,2 47,4 40 '0 ~ :E 20 . _. --- -_. -- --- _.- --- --- --- --- ---- -- ---- -- --- --- --- --- --- --- -- --- -- -- -- --- -- --- -- -6'4- -- _. 43 37 4,6 4,3 5.3 5,8 5,8 6,0 , , 3,5 , 2006 2007 o 2005 -- 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Doméstico .--Internacional Fonte: ANAC No período de janeiro a dezembro de 2014, a quantidade de passageiros pagos domésticos transportados acumulou crescimento de 6,5% em relação ao mesmo período do ano anterior. No mesmo período, a quantidade de passageiros pagos internacionais transportados acumulou aumento de 6,6% em relação ao mesmo período de 2013. Com crescimento médio de 9% ao ano, a demanda total (doméstica e internacional) quase triplicou nos últimos 10 anos. A demanda pelo transporte aéreo foi impactada tanto pela intensificação do uso do modal por aqueles passageiros que já o utilizavam quanto pela substituição de modal de transporte em decorrência dos efeitos renda e preço já mencionados (resultando em forte inclusão de novos passageiros, particularmente passageiros de nível de renda mais baixo, gerando inclusão social), O gráfico 4 apresenta a evolução da demanda por transporte aéreo em termos de Passageiro Quilômetro Pago Transportado (Revenue Passenger Kilometer - RPK) das empresas brasileiras de transporte aéreo regular, no período de 2005 a 2014. O RPK é obtido pela multiplicação da quantidade de passageiros pagantes transportados pela quantidade de quilômetros voados. A demanda (em RPK) por transporte aéreo doméstico de passageiros em 2014 registrou crescimento de 5,9% em relação à demanda de 2013 e a demanda por transporte cjJ2- Página 19 de 58 ~~~ ? 4t aéreo internacional de 2014 cresceu 5% em relação à demanda do ano anterior. Com o resultado de 2014, tanto a demanda doméstica quanto a internacional alcançaram seus maiores níveis nos últimos dez anos. Gráfico 4. Evolução da Demanda do Transporte Aéreo, 2005 a 2014 ---- - _. ------------- RPK doméstico e internacional --- --------------- 93 c487,0 88,2 ' - - - -- - - - -- - - -- - - - -- - - - - - -81 ,5- - - - - - - - - - - -- - - -- 100 90 80 70 VI cu 60 '0 50 .r; - - ~- - - -- - -- - - - - - - - - - - _. - - -49;7- ã:i _~S--'{i _____________ 40 A.S. •.'( _ 40,6 _ 30 20 10 O 2005 2006 2007 2008 2009 --Iloméstico 2010 2011 2012 2013 2014 --Internacional Fonte: ANAC J á O gráfico 5 apresenta a variação percentual da demanda por transporte aéreo em termos de Passageiro Quilômetro Pagos Transportado (Revenue Passenger Kilometer RPK) das empresas aéreas brasileiras no período de 2006 a 2014. Gráfico 5. Variação Anual da Demanda do Transporte Aéreo, 2006 a 2014 Variação do RPK em relação ao ano anterior mercado doméstico 25% - - - - - - - - - - - - - -23,60/0. - - - - - - - - - -- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -- .---.---------- 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Fonte: ANAC A série histórica apresentada no Gráfico 5 revela o crescimento acentuado da demanda por transporte aéreo doméstico entre 2005 e 2014. Não obstante, a partir de 2012, o crescimento anual da demanda por transporte de passageiros reduz-se significativamente, culminando em uma variação da demanda doméstica, em 2012, 2013 e 2014, respectivamente, de 6,7%, 1,4% e 5,9%. Assim como argumentado no caso da oferta, esse comportamento pode ser explicado tanto pelo expressivo crescimento da base de c;lJ?' Página20 de 58 a.,k~ passageiros (devido às fortes expansões verificadas em anos anteriores, principalmente para o mercado doméstico) quanto pela recente redução do ritmo de crescimento da economia (efeito renda). 4.3. Oferta versus demanda A flexibilidade conferida ao regime de exploração do transporte aéreo sob liberdade de oferta e liberdade de tarifa, sem a garantia de equilíbrio econômico-financeiro da atividade, exige das empresas aéreas maior esforço de planejamento e agilidade de execução, de forma a captar movimentos que alterem o comportamento da demanda e, assim, obter o desejado equilíbrio. Incrementa-se, ainda, o potencial de concorrência entre as empresas. Deve-se notar que o procedimento operacional de autorização de voos realizado pelo órgão regulador, após ouvidos o administrador aeroportuário e a autoridade aeronáutica, não constitui óbice à eficiência dessa dinâmica. Os Gráficos 6 e 7 consolidam os dados de oferta e demanda, respectivamente, no mercado doméstico e internacional e denotam a mesma tendência de comportamento. Gráfico 6. Evolução da Oferta e Demanda Doméstica, 2005 a 2014 Oferta (ASK) e Demanda (RPK) Doméstica 140 . 120 _ . 116,1 _~_ _ . II 9,3_ 1l~ t9 117,0 _ 102,7 - - - - - - - 8-1-,5- _..- -87~Õ-"---88;~--- .93,4_ - _. 100 UI Gl '0 .s::. ã:i 80 70;3 60 .SI,2-.. 40 _35,6 ___ 56,9 . 497......... . . . 45,7 l 40 _~____________________________________ _ .. .._.. . 20 o 2005 2006 --Oferta 2007 2008 Doméstica (ASK) 2009 2010 --Demanda 2011 2012 2013 2014 Doméstica (RPK) Fonte: ANAC A variável Assentos Quilômetro Oferecido (ASK) do ano de 2014 no mercado doméstico cresceu 0,95% em relação ao ano anterior e seu crescimento é de 128,5% nos últimos 10 anos, o que configura uma média de 8,6% ao ano. Já a variável Passageiro Quilômetro Pago Transportado (RPK) no mercado doméstico cresceu 5,9% em relação ao ano anterior e seu crescimento é de 162,3% nos últimos 10 anos, o que configura uma média de 10,1% ao ano. 4P' . Página 21 de 58 Gvv~' ~ .fi:C Gráfico 7. Evolução da Oferta e Demanda Internacional, 2005 a 2014 Oferta (ASK) e Demanda (RPK) Internacional \li GJ 40 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -- - - - -- - - - - - - - - - - - - - - - -- 35 ---------------30,5 30 ---- 25 -23,5--- 22;3__ 23,L ~ 20 iii 15 33,4 ..-- -~--------------- 27,6 28,2 19,4 19,5 33,4 31,0 27,8 29.2 -- ~- - - - - -26-,4--" - -26~4- -- - -- - - - - - - -- -- - - - -- -~~:.~- - -- - - - - - - -- - -- - - - -- - - - - - - - - -- -- --- 10 - - - - - - - - - - - - - -- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -- - -- - - - - - - - - -- - - - - - - -- - -- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -- 5 ------------ --------------------- --------------------_.._..--------------------------------- O 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 --Oferta Internacional(ASK) -- Demanda Internacional 2014 (RPK) Fonte: ANAC Já no mercado internacional, a variável Assento Quilômetro Oferecido (ASK) do ano de 2014 teve uma redução de 1,4% com relação ao ano anterior. No acumulado do período, houve um aumento de 16%, o que configura uma média de 1,5% ao ano, No que se refere à variável Passageiro Quilômetro Pago Transportado (RPK) no mercado internacional, houve um crescimento de 5% em relação ao ano anterior e seu crescimento é de 24,2% nos últimos 10 anos, o que configura uma média de 2,2% ao ano, 4.4. Tarifas aéreas e Yield O Yield Tarifa Aérea Médio Doméstico é um indicador que representa o valor médio pago pelo passageiro por quilômetro voado. Tal indicador é o resultado da divisão da Tarifa Aérea Média Doméstica pela distância média direta entre a origem e o destino do passageiro. Tal indicador é muito útil para comparar os preços entre linhas aéreas com diferentes distâncias, A Tarifa Aérea Média Doméstica e o Yield Tarifa Aérea Médio Doméstico são apurados com base nos dados mensalmente registrados pelas empresas aéreas na ANAC. Estes indicadores representam os preços médios efetivamente comercializados (vendidos) ao público em geral em todas as linhas aéreas domésticas de passageiros, O mês de referência dos indicadores corresponde ao de comercialização do bilhete de passagem aérea, independentemente da data de realização do voa, Os valores reais são deflacionados (atualizados) pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) até o mês mais recente apresentado no relatório, de maneira a possibilitar a comparação dos preços ao longo do tempo. As tarifas aéreas que compõem as receitas das empresas são livremente fixadas, conforme assegura a Lei nO 11.182, de 27 de setembro de 20056. A evolução das tarifas Art. 49. Na prestação de serviços aéreos regulares, prevalecerá o regime de liberdade tarifária. ~ 10 No regime de liberdade tarifária, as concessionárias ou permissionárias poderão determinar suas próprias tarifas, devendo comunicá-Ias à ANAC, em prazo por esta definido. 6 dI? f) Página 22 de 58 ~ lsL. <:$: L{y6 aéreas domésticas comercializadas entre 2005 e 2014 revela uma redução de, aproximadamente, 53% em termos reais; o que denota o grande sucesso do regime de liberdade tarifária no país. No ano de 2013, contudo, nota-se uma leve elevação de preços, porém mantendo-se no mesmo patamar dos três anos anteriores. o valor da Tarifa Aérea Média Doméstica Real do 3° Trimestre de 2014 das 52 rotas monitoradas pelas Portarias nO1.213/2001 e nO44712004, apurado em R$ 268,14 (em valores atualizados pelo IPCA a setembro de 2014 comparado ao valor do 3° Trimestre de 2013), teve uma redução de 12,8%. Quando confrontada a Tarifa Aérea Média Doméstica Real do terceiro trimestre de 2014 com aquela apurada no mesmo período de 2005, considerando a série referente às rotas monitoradas desde 2005, verifica-se uma redução de 53%. Já o valor da Tarifa Aérea Média Doméstica Real do 3° Trimestre de 2014 que se refere à apuração do indicador em todas as rotas domésticas, conforme abrangência estabelecida pela Resolução ANAC n° 140/2010, apurado em R$ 317,21, decresceu 11,4%. Este valor representa uma redução de 5,5% em relação ao apurado no terceiro trimestre de 20 I O. Ressalva-se que as tarifas aéreas variam a todo instante por ocasião dos períodos de alta e de baixa demanda, da oscilação dos custos, da concorrência entre as empresas - que realizam ações promocionais com frequência - e de outros fatores. Gráfico 80 Evolução das Tarifas Aéreas Domésticas Comercializadas, 3° Trimestre, 2005 a 2014 Tarifa Aérea Média Doméstica Real (3° Trimestre) 700 "li). *a: 650 E 600 CIJ 550 '" '6 °CIJ 500 ~ 450 •..'" °CIJ 400 _________ ~~~_.~_2 .614.02 __ -5'1 CIJ <l: .ll! 350 300 oi: {2. 200 2005 --.Rotas 2006 2007 2008 2009 2010 2011 MonitoradaspelasPortarias n"1.21312001 e 447/2004 2012 --Todas 2013 2014 as Rotas ••.Yalorcrn em reais atualizados pelo IPCA a sclcrnbro de 2014 Fonte: ANAC o gráfico 9 apresenta a variação percentual da Tarifa Aérea Média Doméstica Real em comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, para todas as rotas domésticas. No terceiro trimestre de 2014, a Tarifa Aérea Média Doméstica Real registrou redução de 11,4% em relação ao mesmo período de 2013. Página 23 de S8 ~ ~L~ ~ Gráfico 9. Variação trimestral da Tarifa Aérea Doméstica Real, 2011 a 2014 Variação % da Tarifa Aérea Média Doméstica Real Trimestral - Todas as Rotas 20 -- --- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -- -- - --- --- - - - - - - - - - - - - - -18;5 - - - - - - - - - - - - - - -- 15 .- --- ---- --- ---- --- ---- ---- ----- ---- ---- ---- -10 5,4 ,*'o.. 5 'i: o •.•. •• ••> 5,2 0,2 3 3"/13 4 1"/14 2"/14} -5 _________ ~6:2 ---: ----------:--:::: :-11,'- --~~~ -:----: --- -- -10 -15 ~I~ ~IA - - - -- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -- - - - - - - - - - - - - - - - -- - - - - - - - - - - - -- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - --- Fonle: ANAC o Gráfico 10 apresenta a evolução de duas séries de apuração de Yield Tarifa Aérea Médio Doméstico Real comercializado no terceiro trimestre de cada ano, Ressalta-se que, em 2014, o passageiro pagou menos da metade do valor que pagava há 10 anos para voar I km, conforme apresentado pelo indicador Yield. Gráfico 10. Evolução do Yield Tarifa Aérea Médio Doméstico Real, 3° Trimestre, 2005 a 2014 1,0 0,9 0,8 --- ---- --0;83S - ---- ---- ---- ---- ---- ..---- ----- --0.769 ----- ----------------- 0,7 0,6 0,5 --------------------. 0,4 ----------------------.- 0,3 _ ---- -----mumu 0,392 .352 u ,:::::Qt7 0,315 0,289 _ ~_'~~370.290' 0.298 0,2 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 --Rotas MonitoradaspelasPortarias u" 1.213/2001 e 44712004 --Todas * VaIarem as Rotas em reais atualizados pelo IPCA a setembro de Fonte: ANAC $ % c:::s . M!>. Página 24 de 58 ~~. Gráfico 11. Variação trimestral do Yield Tarifa Aérea Doméstico Real, 2011 a 2014 Variação % do Yield Tarifa Aérea Média Doméstico Real Trimestral - Todas as Rotas 20 -- -- --- -- --- -- --- -- ---- -- ---- --- ---- ---- -- ---- -- --- --J 8;2--- -- - -- --- --- -- --- -- --- -- -- --_. 15 - - - - - -- - - - - - - - - - - - - - - - - - -- - -- - -- - - - - - -- - -- - -- - - - - - - -- i ii----------~:;-i-10 - ---------------------- ------ ------------------- 5 -------------------------------. 6,0 2:~ _ ',J""'1''~'"."' ~ ': ."""'"'1'"""'" -15 -----------------------------------------------------------_012,2 -----------------01,-.0- Fonte: ANAC 4.5. Taxa de aproveitamento das aeronaves No período de janeiro a dezembro de 2014, houve uma melhora na Taxa de Aproveitamento (RPKI ASK) doméstico das aeronaves, subindo de 76, I%, no mesmo período de 2013, para 79,8%. Gráfico 12. Taxa de Aproveitamento Doméstica (RPKlASK), 2005 a 2014 100% ----------------- 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Fonle: ANAC No período de janeiro a dezembro de 2014, também houve uma melhora na Taxa de Aproveitamento (RPKlASK) internacional das aeronaves, subindo de 77,3%, no mesmo período de 2013, para 82,5%, conforme apresentado no gráfico 13. e::if? Página 25 de 58 ~ (l~~tjt Gráfico 13. Taxa de Aproveitamento Internacional, 2005 a 2014 --~-----------------------------------100% 90% 80% - - - - -- - _., - - - - - - -- - - - - - - - - - - -- --- - - - - -- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -- - - - - - - - - - - - - - - - - 82" SOA-764°/0 78,8% 79,1 % 77,3% _ ,~o - - - - - - - - - - - - - __ - - - - ,." I!. 70,3% 69,2% ---1i3;7%--- 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Fonte: ANAC 4.6. Carga Transportada No período de janeiro a dezembro de 2014, o volume de carga paga doméstica transportada acumulou redução de 4,3% em relação ao mesmo período de 2013, tendo atingido 395,2 mil toneladas. No mesmo período, o volume de carga paga internacional transportada também acumulou redução de 4,2% em relação ao mesmo período de 2013, tendo atingido 171,4 mil toneladas. Gráfico 14. Evolução da Carga Paga Doméstica e Internacional, 2005 a 2014 UI ••• 450 --------- -------- ----- - -------- 400 ----------- -------------m;r------ " ••• 350 Qj c •..o 300 " 200 --------299,3 -317-1--331,1.-' ----325- 250 CII UI ~ 150 ••• .s:. 100 :!: ---4lJ,2--39ã;ã---;fft'''-.i'is,i----386,4- 7 - :180-9 - -: _19 ,°: .186:1:: - -~:;: -: -:: -::::::::::::: -166~ - -148,1 179:0_17~ :~ _ 102,9 95,3 50 - ------------------------------------------ o ----,-----,.........------~~----2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 --Carga PagaDoméstica --Carga PagaInternacional Fonte: ANAC Apesar da queda recente nos volumes de carga aérea transportada, os valores carregados pelo modal aéreo tiveram variação positiva em razão de uma maior movimentação de bens de alto valor agregado_ 4.7. Transporte Interestadual de Passageiros de Longa Distância: entre os modais aéreo e rodoviário Comparativo Para se ter uma visão da evolução da quantidade de passageiros transportados no modal aéreo, foi realizado um comparativo com o transporte rodoviário. Para tanto, considerou-se a quantidade de passageiros que utilizaram o transporte rodoviário Iln~~~ interestadual de longa distância, definido pela Agência Nacional de Transportes Terrestres - ANTT como transporte utilizando ônibus rodoviário (sem catraca ou outro dispositivo de controle de tarifação e que permita o transporte de bagagem em compartimento específico) em percursos com distância superior a 75 km, onde a unidade da federação de destino é diferente da de origem. Assim, os números de passageiros transportados apresentados a seguir para o transporte aéreo consideram apenas voos interestaduais e de distância maior que 75 km. Nos últimos dez anos, o transporte rodoviário interestadual de longa distância teve uma redução de 15,5% no número de passageiros transportados, passando de 67,2 milhões em 2004 para 56,8 milhões em 2013. No transporte aéreo, observou-se um movimento inverso neste mercado, e acentuado, com 29,9 milhões de passageiros transportados em 2004 e 83 milhões em 2013, o que representou um incremento de 177%. Foi no ano de 2010 que o transporte aéreo ultrapassou o transporte rodoviário estadual e se tomou o principal modal de transporte interestadual com distância superior a 75 km no Brasil. Gráfico 15. Comparativo de Passageiros Interestaduais de Longa Distância Transportados, 2004 a 2013 Comparativo de Passageiros Interestaduais Distância Transportados de Longa 90 •••.•••..................•..........••••.....•.•..••••••....•••••.••••••..• VI o so .................................................................. n..... 'ãj 70 -!li.-- --- -~! __ .-_ ..64... _.. -62-.' -•. .. I>l) '" •••'OI" 3 ._- 50 "g 'S3" .. .-- __. _.--- --- ---.6.6. - - - _. 59 59 59 57 ................. '3".... 60 VI VI S2 •••••• 6... 40 ~6,.. _ 40 30 30 VI OI '0 .&: 20 ~ 10 o 2004 • Rodoviário 2005 - Interesladual 2006 2007 2008 2009 de Longa Ois1nucia 2010 2011 • Aéreo - Interestadual 2012 2013 acima de 75 km Fonte: ANAC Vale ressaltar que de acordo com a Pesquisa de Origem e Destino do Transporte Aéreo de Passageiros realizada em 2014 (INSTITUTO OLHAR / EPL, 2014), somente 11,4% dos passageiros que utilizaram o modal aéreo como meio de transporte (voos nacionais) utilizaram outros modais para realizar o mesmo trajeto nos 12 meses imediatamente anteriores'. Tabela 3 - Utilização de Outro Meio de Transporte em Viagens Anteriores - Voos Nacionais '(Jfiliiõü 'outro--rnció i1c'-transpôi.tc"" Não Sim Total . Rcsuftado 2014' . 88,60% 11,40% 100,00% 7 Como era de se esperar, no caso das viagens internacionais, o percentual de pessoas que utilizaram outros modais para realizar o mcsmo trajeto reduz-se significativamente (1,7%). Página 27 dc 58 P ~k ~ ~ Fonte: Instituto Olhar I EPL As principais causas apontadas por esses passageiros para realizar as viagens utilizando outros meios de transporte foram preços (30,8%), mobilidade no destino (21,9%) e tempo de viagem (10%), conforme se observa na tabela abaixo. Tabela 4 - Motivo da Escolha dc Outro Meio de Transporte - Voos Domésticos I I Motivo da Escolha Preços Mobilidade no Destino Temoo de viagem Não escolhi Data/Horário Lotação de voas Dificuldade de acessar o aerooorto Segurança/medo Atraso nos voos Outros Total --- I Resultado 2014 30,8% 21,9% 10,0% 5,3% 5,3% 1,9% 1,5% 1,6% 0,9% 20,8% 100,0% Fonte: Instituto Olhar I EPL Como pode se ver, dado que, por um lado, a grande maioria das localidades no Brasil pode ser atingida por via terrestre e, por outro, existe uma repetida escolha por parte do consumidor pelo modal aéreo, a sua utilização representa um ganho de bem estar bastante considerável para a sociedade. 5. RODADAS DE CONCESSÃO JÁ REALIZADAS Conforme discutido anteriormente nesta Nota Técnica, o crescimento da demanda não foi acompanhado por um crescimento equivalente da oferta de infraestrutura aeroportuária e de navegação aérea8. Para que esse sistema todo funcione adequadamente, os aeroportos são peça fundamental, uma vez que a oferta de serviços de transporte aéreo é limitada pela capacidade da infraestrutura aeroportuária. A tabela 5 abaixo apresenta dados do crescimento experimentado pelo setor, no período compreendido entre os anos de 2003 e 2012, o qual pôde ser observado quando da estruturação das rodadas anteriores de concessões. Tabela 5 - Histórico observado quando das concessões já realizadas Passageiros (embarque e desembarque) Milhões Variação Mil t 2003 71,2 1.215 2004 83 16,6% 1.359 11,9% 1.790 1,4% 2005 96 15,7% 1.360 0,1% 1.841 2,8% Ano Aeronaves Cargas Variação Mil Variação 1.766 Estudo do Setor de Transporte Aéreo no Brasil: Relatório Consolidado (20 IO). Rio de Janeiro: Mekinsey & Company. 8 ~ /) Página 28 de 58 ~&.:.~ 2006 102 6,3% 1.230 -9,6% 1.919 4,2% 2007 110,5 8,3% 1.483 20,6% 2.038 6,2% 2008 112,9 2,1% 1.408 -5,0% 2.129 4,5% 2009 128, I 13,5% 1.216 -13,6% 2.291 7,6% 2010 155,4 21,3% 1.324 8,8% 2.648 15,6% 2011 180 15,8% 1.522 14,9% 2.893 9,3% 20.12 193, I 7,3% 1.437 -5,9% 3.001 3,7% Fonte: Inrraero Conforme se pode observar, o Brasil apresentou crescimento de 171,2% do número de passageiros processados nesse período, de 18,3% na quantidade de carga transportada e de 69,9% em termos de movimentos de aeronaves nos aeroportos administrados pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária - Infraero. Também se deve notar que, em geral, as taxas anuais se apresentam significativamente superiores ao crescimento do restante da economia durante esse mesmo intervalo de tempo, com particular destaque para o crescimento médio do número de passageiros (11,8%) em relação à média registrada do crescimento do PlB (3,2%). De acordo com o Estudo do Setor dc Transporte Aéreo no Brasil, realizado pela McKinsey (2010)9, em face desse crescimento, diversos aeroportos já apresentavam algum tipo de gargalo em 2009 e precisavam receber significativos investimentos nos vinte anos seguintes para evitar maiores restrições em suas operações. Neste sentido, o governo federal estruturou sua primeira concessão aeroportuária à iniciativa privada, rcalizada em agosto de 2011, a qual recebeu um lance final de R$ 170 milhões de reais pelo Consórcio lnframérica (ágio de 228% em relação ao valor inicial) e abarcou tanto a construção como a operação de um novo aeroporto para toda a região da cidade de Natal, no Rio Grande do Norte. O novo Aeroporto de São Gonçalo do Amarante (ASGA) substituiu o Aeroporto Internacional Augusto Severo de Natal (RN) em 2014 e foi planejado para se tornar um dos principais aeroportos do Nordeste, funcionando como hub regional para voos nacionais e internacionais. Os investimentos totais estimados somam R$ 650 milhões ao longo dos 28 anos de concessão. Ainda no ano de 2011, o governo federal decidiu conceder à iniciativa privada os Aeroportos de Guarulhos/SP, Viracopos/SP e BrasílialDF como forma de fazer frente à crescente demanda por infraestrutura e serviços de qualidade nos aeroportos brasileiros. Esses aeroportos foran1 escolhidos, dentre outros fatores, pela grandc necessidade de investimentos em um prazo relativamente exíguo. A tabela 6 abaixo, oriunda do estudo citado acima, apresenta os aeroportos que necessitavam de maiores investimentos. Tabela 6: Aeroportos com maiores necessidades de investimento (2010) r-I 2 3 Aeroportos Viracopos/SP Guarulhos/SP Brasília/DF 9 McKinsey & Company (2010). Estudo do Transporte Janeiro. Brasil. I Aéreo no Brasil: Relatório clJ!-. Consolidado. Rio de Página 29 de 58 tL.&- ~ ? 110 4 5 6 7 8 9 10 Galeão/RJ Salvador/BA Confins/MG Porto Alegre/RS Recife/PE FortalezalCE VitórialES Desde então, porém, a demanda (e a pressão sobre a infraestrutura existente) aumentou consideravelmente em toda a malha aeroportuária nacional. Em particular, cabe notar que de 2009 (ano de realização dos estudos da McKinsey) a 2012 o número de passageiros processados nos aeroportos brasileiros aumentou quase 50% (saindo de 128,1 milhões para 193,1 milhões de passageiros processados) e a movimentação de aeronaves teve um incremento de aproximadamente 31% (saindo de 2,3 milhões para pouco mais de 3 milhões de movimentos). Tais fatores contribuíram para uma considerável necessidade de expansão da infraestrutura aeroportuária em todo o país, e em particular, nos aeroportos que já se encontravam com algum dos seus componentes saturados, como por exemplo, pistas, pátios, terminais, etc. . Após o sucesso da segunda rodada de concessões, que ocorreu em fevereiro de 2012 para os aeroportos de Guarulhos/SP, Viracopos/SP e BrasilialDF, não apenas em relação à concorrência do certame, mas também, aos valores do leilão (outorga fixa de R$ 16,2 bilhões para Guarulhos/SP, R$ 3,82 bilhões para Viracopos/SP e R$ 4,51 bilhões para BrasilialDF) e ainda, os investimentos programados (mais de R$ 16 bilhões nos três aeroportos), o governo federal decidiu conceder outros dois aeroportos centrais que necessitavam de vultosos investimentos: o Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro/Galeão ~ Antônio Carlos Jobim e o Aeroporto Internacional Tancredo Neves/Confins. Os dois mencionados aeroportos foram arrematados pelo valor total de R$ 20.838.888.0001 valor que representou um ágio de 251,74% em relação ao valor mínimo fixado pelo governo, de R$ 5,9 bilhões. As duas propostas vencedoras, somadas, representaram a maior contribuição fixa ao sistema aeroportuário. °, De modo a atender ao crescimento da demanda projetada para os dois aeroportos, diversas obras e melhorias foram planejadas para ocorrer nos aeroportos ao longo do período dos respectivos Contratos de Concessão, com um investimento total estimado em R$ 9,2 bilhões de reais, sendo R$ 5,7 bilhões para o Aeroporto do Galeão e R$ 3,5 bilhões para o Aeroporto de Confins. Essas são, portanto, as concessões já realizadas no âmbito dos aeroportos federais, devendo-se destacar como um importante objetivo da concessão desses aeroportos a celebração de uma parceria com a iniciativa privada que induza a atração de investimentos produtivos para a expansão da infraestrutura aeroportuária, com a celeridade necessária para atender ao crescimento vertiginoso da demanda por transporte aéreo. Por outro lado, a concessão dos aeroportos também traz ao Brasil novas experiências de modelos operacionais, gerenciais e tecnológicos para a gestão aeroportuária, incentivando o investimento em inovação por meio da concorrência entre aeroportos e da melhoria contínua da eficiência operacional. 10 http://www2.anac.gov.br/concessoes/Comunicado/Comunicado _Relevante_I 1_2013. pdf tJP . Página 30 de 58 ~~,~ ? ~ o investimento na infraestrutura aeroportuária, ao ampliar a capacidade dos diferentes componentes dos aeroportos, permite maior oferta de voos e empresas, resultando em maior concorrência, mais possibilidades de escolha para os passageiros e menores preços das passagens, com melhores serviços. A participação da iniciativa privada nesses projetos revela-se como uma alternativa viável para a desoneração do Estado, tanto no que se refere ás obrigações financeiras quanto administrativas. Essa participação irá permitir que sejam atribuídas à iniciativa privada responsabilidades de investimento e gestão plenamente compatíveis com suas capacidades técnica, operacional e financeira. Apresentado esse breve histórico das concessões já realizadas bem como do cenário que as motivaram, e sabendo que a necessidade de novos investimentos para fazer frente à constante demanda pelos serviços aeroportuários é constante, cumpre analisar os contratos de concessão desses aeroportos, quanto às limitações de propriedade impostas pelo poder público à época dos processos licitatórios citados. 5.1. Limitações de propriedade Aeroportuárias Realizadas Impostas pelo Poder Público nas Concessões Como é de conhecimento comum, a operacionalização da concessão dos aeroportos citados à iniciativa privada é precedida de uma série de estudos e decisões sobre diferentes matérias. Uma das diretrizes mais importantes diz respeito à permissão ou à limitação à propriedade cruzada. Na prática, isso significa decidir se i) em um mesmo lote o vencedor da licitação por um dos aeroportos escolhidos também poderá consagrar-se vencedor do outro; e ii) se os Concessionários dos Aeroportos de Natal, Brasília, Viracopos, Guarulhos, Galeão e Confins, poderão participar do processo de concessão dos Aeroportos de Salvador, Fortaleza, Florianópolis e Porto Alegre. Antes da análise e conclusão sobre tais questões, passamos a descrever como os Contratos de Concessão em vigor trataram tais limitações. A princípio, se tratando da concessão de um único aeroporto - Aeroporto de São Gonçalo do Amarante - ASGA, as regras para participação no leilão, descritas no Edital do Leilão nO1/2011, não traziam vedações quanto à propriedade. Todavia, previam limitações à Participação no seguinte sentido: 3.13. Não poderão participar deste Leilão pessoas jurídicas, isoladamente ou em Consórcio, que: 3.13.1. tenham sido declaradas inidôneas por Ato do Poder Público; 3.13.2. estejam impedidas de licitar ou contratar com a Administração Pública do Governo Federal ou qualquer de seus órgãos descentralizados; 3.13.3. tenham participado da elaboração dos estudos que serviram de base à estruturação deste Edital; 3.13.4. tenham sido condenadas, por sentença transitada em julgado, à pena de interdição de direitos devido à prática de crimes ambientais, conforme disciplinado no ar!. 10 da Lei nO9. 605, de 12. 02.1998; 3.13.5. tenham dirigentes ou re.\ponsáveis técnicos que sejam ou tenham sido ocupantes de cargo efetivo ou emprego na ANAC, no Ministério da Defesa, na Secretaria de Aviação Civil ou ocupantes de cargo de direção, assessoramento Página 31 de 58 ~~~ superior ou assistência intermediária da União, nos últimos 180 dias anteriores à data da publicação do Edital. 3.14. As Empresas aéreas, suas Controladoras, Controladas e Coligadas, não poderão participar deste Leilão isoladamente, sendo admitida a sua participação como membro de consórcio desde que observadas as seguintes condições: 3.14.1. participação máxima no Consórcio, considerando a consolidação das participações diretas e indiretas, limitada a 10% (dez por cento),. e 3.14.2. vedação à previsão, por qualquer forma, inclusive acordo de acionistas, de participação na administração da SPE, ficando impossibilitada de eleger membros do Conselho de Administração ou da Diretoria enquanto vigente o Contrato de Concessão. Muitas das regras acima especificadas foram repetidas quando da segunda rodada de concessões, Edital do Leilão n° 2/2011, para os Aeroportos de Brasília, Viracopos e Guarulhos. Aprimoramentos, porém, foram incorporados ao processo, seguindo disposições contidas na Resolução nOII, de 15 de dezembro de 2011, do Conselho Nacional de Desestatização - CND: r Art. Aprovar a concessão como modalidade operacional para a exploração dos Aeroportos Internacionais Governador André Franco Montoro e Viracopos, no Estado de São Paulo, e Presidente Juscelino Kubitschek, no Distrito Federal. S Os aeroportos constantes no caput deverão ser concedidos para grupos econômicos distintos, coriforme estabelecido no Edital de Concessão. {. .} Art. 5° Poderá a Agência Nacional de Aviação Civil - ANAC estabelecer restrições à participação de empresas prestadoras de serviço de transporte aéreo no capital do concessionário, podendo definir restrições distintas no caso de entidades de direito público e de direito privado. r De fato, a primeira diferença existente entre os dois Editais está na participação máxima em Consórcio, pelas Empresas aéreas, suas Controladoras, Controladas e Coligadas, que passaram de 10% (dez por cento) - item 3.14 do Edital n° 1/2011 - para 2% (dois por cento) - item 3.17.1 do Edital n° 2/20 li. Importante inovação também trouxe o Edital n° 2/2011 quanto às regras de limitação à propriedade, descritas no Capítulo 1ll do Edital, vejamos: 3.2. Não será permitida a participação de membro consorciado, suas Coligadas, Controladas, Controladora, ou sob controle comum, em mais de um Consórcio, ainda que com participações ou membros distintos entre si, ou isoladamente, ainda que relativo à proposta para outro Aeroporto. 3.3. Uma mesma entidade, suas Controladoras, Controladas, Coligadas, ou entidades sob controle comum, isoladamente ou em Consórcio, somente poderão ser vencedoras de um dos Aeroportos objeto deste Edital, devendo observar as regras aplicáveis ao Leilão. 3.4. As Proponentes serão representadas no Leilão, necessariamente, por Representantes Credenciados e Corretoras Credenciadas. Ato contínuo, quando da terceira rodada de concessões, referente aos aeroportos do Galeão e de Confins - Edital do Leilão n° 1/2013, o Poder Público decidiu pela manutenção das diretrizes adotadas no processo anterior, vedando que o operador de um dos aeroportos já concedidos à iniciativa privada participasse/ganhasse a licitação por outro. A decisão pela continuidade da estratégia de limitação à propriedade cruzada teve tJi} Página 32 de 58 tL-k~ dois motivos principais: garantir a concorrência real e potencial entre os aeroportos concedidos e estimular a entrada de um maior número de operadores aeroportuários no país, visando à geração de benchmarking a respeito das melhores práticas de gestão aeropOliuária. Essas mesmas razões motivaram, na segunda rodada de concessões, a vedação a que um Consórcio pudesse ganhar a concessão de mais de um aeroporto. De fato, a Resolução na 15, de 2 de outubro de 2013, do CND consignou que: Art. 30 Os r~feridos aeroportos deverão ser concedidos para grupos econômicos distintos, conforme estabelecido no Edital de Concessão. Parágrafo único. Poderá a Agência Nacional de Aviação Civil - Anac estabelecer restrições à participação, de natureza regulatória e concorrencial. Por sua parte, assim dispôs o Edital do Leilão na 1/2013 (Galeão e Confins), quanto à propriedade: 3.18. Os acionistas dos Acionistas Privados das concessionanas de serviço público de infraestrutura aeroportuária federal definidas pelo Leilão na 2/2011, suas Controladoras, Controladas e Coligadas não poderão participar deste Leilão isoladamente, bem como as Controladas e Coligadas das Controladoras e das Controladas dos referidos acionistas 3.19. É admitida a participação dos acionistas dos Acionistas Privados das concessionárias de serviço público de infraestrutura aeroportuária federal definidas pelo Leilão na 2/2011, suas Controladoras, Controladas e Coligadas, bem como as Controladas e Coligadas das Controladoras e das Controladas dos referidos acionistas como membro de Consórcio, observadas as disposições da presente cláusula. 3.19.1. Um ou mais dos referidos acionistas não poderão ter participação igual ou superior a 15% (quinze por cento) do Consórcio, considerada a soma de suas participações. 3.19.2. Para fins do disposto no item 3.19.1 acima, serão consideradas cumulativamente, a participação no Consórcio de quaisquer das pessoas jurídicas mencionadas no item 3.19. 3.20. Em qualquer hipótese, a participação das entidades indicadas no item 3.18 estará sujeita à vedação à previsão, por qualquer forma, inclusive acordo de acionistas, de participação na administração do Acionista Privado e da Concessionária, ficando impossibilitada de eleger membros do Conselho de Administração ou da Diretoria. Quanto às limitações à Participação, o Edital na 1/2013, repetiu muitas das previsões contidas desde o Edital n° 1/2011 em seus itens: 3.13, 3.13.1, 3.13.2, 3.13.3, 3.13.4,3.13.5. Por outro lado, trouxe inovações: 3.22. É admitida a participação de Empresas Aéreas, suas Controladoras, Controladas e Coligadas, bem como as Controladas e Coligadas das Controladoras e das Controladas das Empresas Aéreas como membro de Consórcio, observadas as disposições da presente cláusula. 3.22.1. Uma ou mais Empresas Aéreas não poderão participar com mais de 4% (quatro por cento) no Consórcio, considerada a soma de suas participações. 3.22.2. Para .fins do disposto no item 3,22.1 acima, serão consideradas, cumulativamente, a participação no consórcio de quaisquer das pessoasjurídicas mencionadas o item 3.22. dJ?' Página 33 de 58 .-P ~k~ ~ 3.23. Caso o Operador Aeroportuário, que atenda os requisitos de Habilitação Técnica previstos na Subseção IV da Seção V do Capítulo IV deste Edital, se enquadre em uma das situações prevista no subitem 3.22, sua participação no Consórcio não será considerada para verificação do limite de que trata o item 3.22.1, sendo aplicáveis as regras especificas do Contrato de Concessão, exceto quando tal participação se der diretamente por meio da empresa aérea no consórcio. 3.24. Em qualquer hipótese, com exceção das situações previstas no item anterior, a participação das entidades indicadas no item 3.22 estará sujeita à vedação à previsão, por qualquer forma, inclusive acordo de acionistas, de participação na administração do Acionista Privado e da Concessionária, .ficando impossibilitada de eleger membros do Conselho de Administração ou da Diretoria. (Renumeração dadapelo Comunicado Relevante n° 07/2013) Percebe-se que em cada processo de concessão foi indispensável uma adequação à realidade do setor, principalmente, a fim de resguardar a concorrência, a participação de um maior número de operadores aeroportuários no pais, garantir melhores práticas de gestão aeroportuária e excelência na prestação dos serviços. Nesse sentido, sendo essas as previsões contidas nos contratos de concessões em vigor, quanto às limitações de propriedade e participação, passa-se à análise das principais características dos aeroportos objeto da próxima rodada de concessões, destacando-se possíveis desdobramentos concorrenciais em diferentes mercados. 6. ATUAL RODADA DE CONCESSÕES: CARACTERÍSTICAS AEROPORTOS E AVALIAÇÃO CONCORRENCIAL DOS A complexidade inerente às operações e aos investimentos realizados no setor de transporte aéreo faz com que o Estado tenha dificuldades na gestão de seus diversos componentes, notadamente no componente aeroportuário. As premissas de contratação de serviços e aquisição de produtos a que é submetido o setor público brasileiro comprometem a gestão eficiente de um ativo aeroportuário, o qual depende fundamentalmente da agilidade nas tomadas de decisão, de modo a permitir que os gestores possam reagir prontamente aos constantes processos de modernização e avanços tecnológicos inerentes ao setor de transporte aéreo. o anúncio da concessão dos Aeroportos Internacionais de Florianópolis, Porto Alegre, Fortaleza e Salvador pelo Governo Federal, no ãmbito do Plano de Investimentos em Logística - PIL 2 para o setor de aeroportos, concatenado a outras ações anunciadas no referido Plano, objetiva enfrentar, de forma sistêmica, os desafios do setor, e reflete uma visão integrada com os demais modais de transporte. o referido anúncio está em linha com as diretrizes do Programa Nacional de Desestatização - PND, bem como com os objetivos verificados na comparação com a experiência internacional em gestão aeroportuária, configurando mais um passo em direção à modernização da gestão aeroportuária brasileira, dinamizando o mercado de aviação civil em suas diversas frentes. A parceria com a iniciativa privada induzirá a atração de investimentos produtivos para a expansão da infraestrutura aeroportuária, com a celeridade necessária para atender ao crescimento vertiginoso da demanda por transporte aéreo nas regiões metropolitanas de Florianópolis, Porto Alegre, Fortaleza e Salvador. #~ Página 34 de 58 ~k~ Espera-se que a concessão dos aeroportos em tela contribua com a prestação de serviços de qualidade aos usuários aliada à gestão operacional sustentável, resultando em impactos positivos tanto para os passageiros como para a economia regional e nacional, funcionando assim como vetores de desenvolvimento e agregando qualidade de vida à população. Além disso, ao conceder estes aeroportos à iniciativa privada, o Poder Público poderá concentrar esforços no desenvolvimento de outros aeroportos, que necessitam maior atenção do Estado para proporcionar a oferta adequada de serviços à população. Tem-se, assim, um arcabouço muito positivo para os investimentos e a gestão dos aeroportos brasileiros, unindo-se esforços públicos e privados onde cada um for mais adequado, com vistas a implantar, no setor, o ritmo de desenvolvimento proporcional ao desafio imposto pela crescente evolução da demanda por transporte aéreo no Brasil. 6.1. Movimento de passageiros Segundo dados da Infraero" e das concessionárias de aeroportos, no ano de 2014, o Aeroporto Internacional de Salvador (SBSV) foi o 8° aeroporto que mais processou passageiros, representando 4,3% dos passageiros transportados no Brasil, processando cerca de 9,2 milhões de viajantes. Já o Aeroporto Salgado Filho (SBPA) foi o 9° aeroporto mais movimentado, processando 8,4 milhões de passageiros, o que corresponde a 4% do total. Por sua vez, o Aeroporto Pinto Martins (SBFZ) apareccu na 12" posição nacional, participando com 3,1% dos passageiros processados, o equivalente a 6,5 milhões de passageiros. Por fim, o Aeroporto de Florianópolis (SBFL) processou 3,5 milhõcs de passagciros naquele ano, o que representa 1,7% dos passageiros processados no país. Os quatro aeroportos juntos processaram cerca de 27,7 milhões de passageiros, o que equivale a 13,1% de todos os passagciros transportados pela Rede Infraero e pelos concessionárias de serviço público de infraestrutura aeroportuária federal. Tabela 7 - Movimento de Passageiros nos lS Principais Aeroportos do País Movimento de Passllgeiros em 2014 Posição 10 Doméstico Guarulhos (SI3GR) 25.955.074 % 1nternllcionlll % Total % 13,6% 13.582.174 63,7% 39.537.248 18.6% Brasilia (SI3I3R) 17.515.937 9,2% 630.279 3.0% 18.146.216 8.5% 3° Congonhas (SI3SI') 18.134.768 9,5% 0,0% 18.134.768 8.5% 4° Galena (SI3GL) 13.889.693 7.3% ° 4.222.397 19.8% 18.112.090 8.5% 5° Confins (SI3CF) San!os DUlllou! (SI3R.I) Viracopos (SBKI') 10.869.886 5,7% 454.917 2.1% 11.324.803 5,3% l). 924.977 5.2% O 0.0% 9.924.977 4.7% 9.743.620 5.1% 103.145 0,5% 9.846.765 4.6% Salvador (SBSV) I'oo'h, Alegre (SBI>A) 8.835.077 4.6%, 317.082 ],5%1 9.152.159 4.3%, 7.832.914 4,:14Yo 614.466 2,9%, 8.447.380 4.0'X1 ~o 6° r 8" 9" 11 Aeroporto hltp://www.infraero.gov.br/index.phplbr/estatistica-dos-aeroportos.htm I ~ Página 35 de 58 ~k~ 2 4h 10" Curitiba (SIKT) 7.228.326 3.80/0 148.~ 17 0.7% 7.376.7~3 3.5°/0 11° Recife (SI3RF) 6.889.246 3,6% 301.135 1.4% 7.190.381 3.4% 12 Fortaleza (SBFZ) 6.259.552 3,3cY!1 242.264 1,1%1 6.50U1I6 3,I(X. 13° Belém (SBI3E) 3.796.721 2,0% 94.062 0.4% 3.890.783 1,8% 14" Florianópolis (SIWL) 3.456.301 1,R%. 172.603 0,8%1 3.628.904 1,7'X. 3.521.824 1.8% 850 0,0% 3.522.674 1.7% 190.925.6]5 100% 21.315.657 100% 212.241.272 100% 11 15° Vitória (SI3VT) Total ]nfraero + Concedidos Fonte: lnfraero e Dados das Concessionárias Note-se que os números apresentados na Tabela 7 acima referem-se a passageiros processados nos aeroportos, enquanto que aqueles apresentados no Gráfico 3 referem-se a passageiros transportados pelas companhias aéreas. 6.2. Movimento de Aeronaves Ainda de acordo com dados da (nfraero e das concessionanas, o Aeroporto Internacional de Salvador (SBSV) foi o 9° do País em números de movimentos de aeronaves em 2014, com 107.255 movimentos, correspondendo a 3,6% do total compreendido pelos aeroportos que compõem a Rede Infraero e pelos aeroportos concedidos à iniciativa privada. Já o Aeroporto Salgado Filho (SBPA) foi o 10° aeroporto em número de movimentos de aeronaves, contando com 92.960 movimentos, ou seja, 3, 1% do mesmo total. Na sequência, o Aeroporto Pinto Martins (SBFZ) apareceu na 14" posição, respondendo por 2,3% do total, com 68.695 movimentos. Por fim, o Aeroporto dc Florianópolis (SBFL) alcançou a 22" posição no número de movimentos, com 50.707 movimentos. Os quatro aeroportos juntos foram responsáveis por cerca de 319,6 mil movimentos, o equivalente a 10,8% daquele total. Tabela 8 - Movimento de Aeronaves nos Principais Aeroportos do Pais Movimento de Aeronaves em 2014 Aeroporto ])oméstico % % Total % 1° Guarulhos (SI3GR) 223.512 8.0% 81.704 52.5% 304.586 10.3% 2° C:ongonhas (SBSI') 205.407 7.3% O 0.0% 205.407 7.0% 3° Confins (SI3CF) 183.409 6,6% 3.799 2.4% 187.208 6.30/0 4" Brasilia (SBBR) 181.603 6.5tXI 5.239 3.40/0 186.842 6.3% 5° Galeiío (SBGL) 121.332 4,3% 30.477 19.6% 151.809 5,1% 6" Viracopos (SBKI') 123.117 4.40/0 8.414 5.4% 131.531 4.5% 7° Santos Dumon! (SBR.J) 125.656 4,5% 142 0.1% 125.798 4~3% 8° Campo de Marte (SBMT) 116.924 4.20/;. 164 0,1% 117.088 4.0% 9" Salvador (SBSV) 104.811 3,7 X, 2.444 1,6°.1.) 107.255 3,6(Yo 10" Porlo Alcgre (SBPA) 85.744 3,1%1 7.216 4,6'XI 92.960 3,1 'XI Posição l Internacional áP Página 36 de 58 ~L~ L ~ li" Curitiba (SBCT) 75.515 2.7% 3.275 2,1% 78.790 2,7% 12° Jacarepagu<Í (SBJ R) 76.233 2.7(% O 0.0% 76.233 2.6'X1 13" Recife (SBRF) 72.830 2,6% 2.588 1,7% 75.418 2,6% (SIlFZ) 66,730 2,4%, 1.965 1,3(% 6lUi95 2,3%, Goiânia (SBGO) 65.559 2.3% 119 0.1% 65.678 2,2% 48.630 1,7%1 2,077 1,3%, 50,707 1,7%, 2.796.405 100% 155.512 100% 2.951.917 100% 14" 15" 22" F"rlall".a Florianópolis (SIlFL) + Concedidos Total Infraero Obs.: Movimcnto dc Aeronaves (pousos c decolagens) Fonte: Infraero e Dados das Concessionárias 6.3. Movimento de Carga Aérea Com relação ao movimento de carga, no ano de 2014, o Aeroporto Pinto Martins (SBFZ) atingiu a 6" posição, representando 3,6% da carga movimentada em toda a Rede Infraero somada à carga processada nos aeroportos concedidos, Já o Aeroporto Internacional de Salvador (SBSV) foi o 10°, movimentando o equivalente a 2,4% do mesmo total, enquanto o Aeroporto Salgado Filho (SBPA) apareceu na 12" posição com 1,8% do total e, por fim, o Aeroporto de Florianópolis (SBFL) alcançou a 19" posição com 0,6% do mesmo total. Juntos, os quatro aeroportos movimentaram 8,4% de toda carga da Rede Infraero somada à carga processada nos aeroportos concedidos. Tabcla 9 - Movimento Movimento de Carga Aérea + Correios (Kg) nos 20 Principais Aeroportos do País de Carga Aérea + COI'reios (Kg) em 2014 % Total % 3 11,309.671 44,3% 554.662.962 34.8% 2.2% 223.403.41 I 31.8% 242.727.860 15.2% 122.569.773 13.8% 33.761,607 4.8% 156.33 I .380 9,8% Galeão (SBGL) 44.775.219 5.0% 66.052.724 9.4% 110.827.943 7.0% 5" Congonhas (SBSP) 59.587.822 6.7% O 0,0% 59.587.822 3,7% lJ" FOI.tall'1.a (SIlFZ) 52.722.003 5,9 Y-, 4.361.431 0,6%1 57.083.434 3,6%, 7" Recife (SBRF) 47.668.468 5.3% 4.826.53 I 0.7% 52.494.999 3,3% 8" Brasília (SBI3R) 43.717.851 4.9% 4.719.845 0.7% 48.437.696 3.0% 9" Curitiba (SBCT) 13.190.369 15% 26.129.339 3,7% 39.3 19.708 2.5% 30.849.067 3,5%, 7.916.944 ],1 (Yo 38.766.011 2,4%, Belém (SBBE) 36.531.203 4,1% 576.851 0,1% 37.108.054 2.3% Alcgn~ (SIlI'A) 24.187.432 2,7%, 5.044.159 0,7%, 29.231.591 J,RIX, 13° Confins (SBCF) 14.041.767 1,6% 4.425.411 0,6% 18.467.178 1,2% 14 Vitória (SI3VT) 14.111,245 1.6% 2.150.646 0.3% 16.261.891 1.0% Aeroporto Doméstico % I" Guarulhos (SBGR) 243.353.291 27.3% 2" Viraeopos (SBKP) 19.324.449 3" Manaus (SBEG) 4" Posição 10" 1I n Salvador (SBSV) - Ir 11 P()I"f'() 1 Internacional d3 ,S- Página 37 de 58 ~~ ~ 15° Cuiabá (SBCY) 12.697.547 1,4% 16° Goiânia (SBGO) 12.540.542 1,4% 17" São Luís (SBSL) 10.060.065 1,1% 7.864.967 0,9% 9.361.320 J,J fYo 8. I I 1.804 0.9% 18° 19° 20° Natal (SBNT/SBSG) Florianópolis (S8FL) Teresina (SI3TE) ° ° ° 0,0% 12.697.547 0,8% 0,0% 12.540.542 0.8% 0,0% 10.060.065 0,6% 1.781.211 0.3% 9.646.178 0,6% ° ° 0,0%1 9.361.320 0,6% 0,0% 8.1 I 1.804 0.5% 1.594.218.351 100% Total Infraero + 891.337,834 702.880.517 100% 100% Concedidos Obs.: Mo"imento em Kg (Carregada + Descarregada) Fonte: Infraero e Dados das Concessionárias Note-se que os dados apresentados na tabela acima diferem daqueles apresentados no Gráfico 14 por incluírem o movimento referente aos correios e à carga não paga. 6.4. Dados de Conexão No que se refere ao percentual de passageiros em conexão em relação ao total de passageiros movimentados nos aeroportos já concedidos e a serem concedidos à iniciativa privada tanto os aeroportos de Porto Alegre e Florianópolis quanto os de Salvador e Fortaleza apresentaram os seguintes percentuais de conexão em 2014: 1,8%,4,7%,8,4%, 6,7% do total de passageiros processados, respectivamente. Não obstante, ao compararmos esses dados com o percentual de passageiros de conexão de Brasília (45%) e Viracopos (43,5%), por exemplo, percebe-se o grande diferencial existente entre os aeroportos, conforme mostrado na Tabela 10. Tabela 10 - Participação de passageiros em concxão no total de passageiros 2013 2014 Brasília (SI3BR) 39,9% 45,0% Conlins (SI3CF) 13,2% 13,6% Ga leão (S BG L) 13,0% 12,3% GlIarlllhos (SBGR) 15,1% 25,8% Viraeopos (SI3KP) 30,3% 43,5% Aeroporto 1'01'10Alegre (S81' A) 1.6~. 1,8%, 8,8%. 8,4% • Fortalcza (SBFZ) 6,O'X, Íl,7'X, Flo,.;an"l,oJis (SBFL) 4,3%1 4,7%, Sal"ador . - .... (SBSV) - Fonte: Infraero e Concessionárias Q ~ Página 38 de 58 ~k ~ F ~ 6.5. Distância entre os Aeroportos A Tabela 1i a seguir mostra a distância aproximada entre os seis aeroportos já concedidos à iniciativa privada e os quatro aeroportos a serem concedidos. O Aeroporto Salgado Filho (SBPA) e o Aeroporto de Florianópolis (SBFL) são os mais próximos entre si, enquanto que a maior distância é verificada entre o aeroporto de Porto Alegre e o de Fortaleza. Como veremos nos próximos capítulos, a distância entres os aeroportos é fator importante para se analisar a competição entre eles, ainda que o raciocínio não seja tão simples como pareça à primeira vista: uma maior distância entre aeroportos não significa que eles não competem, mas que o nicho de competição entre eles é distinto. Tabela 11 - Distância entre os aeroportos concedidos e a conceder Distância entre os "eroportos (km) I SBBR I SBBR --- -- . ---- ,- SBCF _- --- . -. 712 ._._ .. --- I I SBCR ... .. -, I SBKP 1.023 921 623 633 _.- . --- . -- SBCF 712 SBCR 1.023 623 SBKJ' 921 633 115 SBCL 1.154 473 402 499 SBSC 2.398 2.376 2.955 SBFZ 2.149 2.384 SBSV 1.468 SBFL SBPA --- .. SBSC I 2.398 1.154 .. _- .. . .._._. -- . 473 2.376 SBFZ I SBSV I SBFL I SBPA 2.149 1.468 1.675 2.099 2.384 1.414 1.328 1.752 402 2.955 2.963 1.979 729 1.153 499 2.967 2.975 2.004 771 1.195 --- 2.588 2.596 1.626 1.131 1.555 2.967 2.588 --- 508 1.078 3.662 4.086 2.963 2.975 2.596 513 --- 1.195 3.670 4.094 1.414 1.979 2.004 1.626 1.081 1.197 --- 2.695 3.119 1.675 1.328 729 771 I. 131 3.662 3.670 2.695 --- 2.099 1.752 1.153 1.195 1.555 4.086 4.094 3.119 .- ._. 115 I SBCL --- .. .- .. 460 460 --- Fonte: Google Maps (menor distância rodoviária) 6.6 Avaliação da Concorrência Conforme já exposto nesta Nota Técnica, podem-se elencar os seguintes nichos de competição aeroportuária: competição por mercado local compartilhado; competição por tráfego de conexão; competição por tráfego de carga; competição por destino; competição por contratos. Logicamente, essa competição só é efetiva em um ambiente no qual não haja propriedade cruzada, ou seja, concentração de propriedade na mão de poucos ou mesmo um operador. Como destaca Forsyth (2010:430): Para que aeroportos compitam. é necessário que eles estejam sob propriedades distintas. Isso é reconhecido nas propostas para forçar a BBA a se desfazer de Uln ou dois de seus aeroportos em Londres ( ..) Em particular. existem exemplos de formação de alianças de aeroportos. tais como aquela proposta entre Amsterdan Schipol e Aéroports de Paris. Um dos motivos para alianças é alinhar os objetivos de entidades separadas umas com as oulras e. deste modo. remover o escopo para competição. Ações minoritárias podem ser utilizadas para reforçar o alinhamento de objetivos e diminuir a competição. Fusões de aeroportos independen/es eliminarão a competição entre eles - frequentemente esse é objetivo primário da fusão. (Grifo nosso) (Forsyth, 20 I0:430)." ° ° " Original em inglês: "For airports lO compele, Ihcy need lo be undcr scparale oWl1ership. This is recognised in lhe proposals lo force BAA lo divesl ilselfofone or Iwo ofits London airports ( ... ) In particular, lhere are inslances af airport alliances fonning, such as Ihal proposcd belween Amslerdam Schiphol and Aéroports dc p Página 39 de 58 ~ evv~ ~ ~ Parece prudente, portanto, ao se detectar a existência de potencial competitivo entre os aeroportos ora em análise, que o governo opte pelo caminho de permitir que esse potencial se desenvolva no futuro. Nesse sentido, é interessante notar as respostas dadas pelos passageiros na Pesquisa de Origem Destino 2014 quanto ao motivo de escolha de um determinado aeroporto para iniciar sua viagem. Conforme se pode observar na tabela abaixo, apenas 43% dos passageiros entrevistados nos voas domésticos responderam que a causa da seleção foi ser "a única opção". Esse percentual é bastante semelhante ao obtido para voas internacionais, 45,7% 13. Tabela 12 - Motivo da Opção pelo Aeroporto de Embarque Internacionais - Voos Domésticos e 11 43,0% 27,3% 9,5% 7,0% 4,1% 3,3% 3,0% 1,2% 1,7% 100% 45,7% 14,0% 12,6% 13,7% 3,6% 1,7% 2,9% 3,8% 2,1% 100% Fonte: Instituto Olhar / EPL Se aglutinannos os resultados mais diretamente ligados ao fator locacional, quase 70% dos passageiros domésticos e 60% dos internacionais relatam que esse é o principal fator para escolha do aeroporto, o que, de fato, está em linha com a expectativa das investigações teóricas revisadas. Contudo, esses dados referem-se a apenas um dos nichos relevantes de competição entre aeroportos (mercado compartilhado de passageiros), e, dada as dimensões do Brasil e a heterogeneidade dos ativos considerados, faz-se necessário analisar mais detidamente cada realidade específica e o possível comportamento do consumidor frente a infraestruturas com proprietários distintos. Resta necessário, portanto, analisarmos a existência de competição real ou potencial entre os aeroportos a serem concedidos. O objetivo desse capítulo é, justamente, aplicar a teoria vista no capítulo 2 ao caso brasileiro, realizando uma análise empírica Paris. One motivation af alliances is to align lhe objectives af separate entities with Dne another, and to thus remove the scope for compelition. Minority shareholdings may be used to strengthen the alignment of objectives and lessen competition. Mergers af independent airports \ViII eliminate competition between them - ofien this is the primary objective ofthe merger."(Forsyth, 20 I0:430). 13 Esses percentuais são relevantes mesmo se levarmos em consideração que São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte (três capitais com mais de um aeroporto disponível para utilização) responderam por, respectivamente, 15,8%, 10,6% e 4,5% dos municípios de origem dos passageiros entrevistados (em outros termos, quase 70% com origem em cidades sem mais de uma infraestTutura local). Página 40 de 58 J?: rL~~ ~ sobre a existência e a possibilidade de competição entre os aeroportos a serem concedidos na atual rodada e, ademais, entre estes e os que já operam sob o regime de concessão. 6.6.1. Mercado Relevante Produto Os aeroportos prestam diversos serviços que podem ser segmentados em atividades aeronáuticas e não aeronáuticas. As primeiras envolvem serviços relativos à navegação aérea, pouso, decolagem, estacionamento de aeronaves e serviços auxiliares (abastecimento, manutenção e limpeza de aeronaves, processamento de bagagens de cargas, etc.). O operador aeroportuário é o responsável direto pela provisão e manutenção da infraestrutura do aeroporto, o que inclui pistas de pouso e decolagem e terminais de embarque e desembarque, e pelos serviços necessários ao pouso, decolagem, operação e movimentação de aeronaves, cargas e passageiros (Fiuza e Pioner, 2009:37). Já as atividades não aeronáuticas envolvem, grosso modo, as atividades comerciais do aeroporto, tais como lojas, bares, restaurantes, bancos, aluguel de veículos e etc (Fiuza e Pioner, 2009:35-42). A inclusão de atividades não aeronáuticas (comerciais) no mercado relevante não é usual, tendo em vista que ela não afeta significativamente a demanda por serviços aeronáuticos, configurando, assim, um mercado à parte, que, no caso do Brasil, é desregulado. Seguindo a metodologia já adotada nas análises das concessões passadas (Notas Técnicas 24/DEOUT/SPR/SAC-PR, de 9 de dezembro de 2011, e 33/DERC/SPR/SAC-PR, de 20 de setembro de 2013), iremos considerar três tipos de tráfego aos quais os aeroportos em análise ofertam sua infraestrutura e demais serviços: (i) Tráfego de passageiros, (i.a) doméstico; e (i.b) internacional; (ii) Tráfego de carga, (ii.a) doméstico; e (ii.b) internacional; e (iii) Tráfego de conexão de passageiros (quando o tráfego utiliza o aeroporto como ponto de conexão), (iii.a) doméstico; e (iii.b) internacional. Esses três tipos de tráfego, para fins da análise concorrencial, podem ser considerados como sendo os mercados relevantes produto nos quais os aeroportos competem. Como todas as infraestruturas aqui consideradas atendem a esses três tipos de tráfego, pode-se concluir que, no tocante à dimensão produto do mercado relevante, há sobreposição horizontal entre as atividades. Necessita-se definir, portanto, a dimensão geográfica em que esses serviços estão inseridos para que se possa verificar o real potencial de realização dessa competição. 6.6.2. Mercado Relevante Geográfico No caso da presente rodada de concessões, temos quatro aeroportos em duas regiões brasileiras: dois no Sul e dois no Nordeste. Dadas as grandes distâncias envolvidas entre as duas regiões (o Aeroporto de Florianópolis está a 2.695 km do Aeroporto de Salvador - menor distância entre os dois grupos), considera-se apropriado analisar, para cada tipo de tráfego, a possível competição entre Porto Alegre e Florianópolis e, em sequência, avaliar a possibilidade de competição entre Salvador e Fortaleza. Página 41 de 58 ~~~ p 6.6.2.1. Da Concorrência Salvador/Fortaleza 6.6.2.1.1 entre os Aeroportos dePorto Alegre/Florianópolis e Tráfego de Passageiros Para estimar o nível de substituibilidade, quanto ao tráfego de passageíros, entre os aeroportos do Porto Alegre e de Florianópolis e, de outro lado, entre Salvador e Fortaleza, deve-se, em suma, determinar a área de influência de cada um desses aeroportos. Isso significa auferir qual seria a região (usualmente determinada por um raio com o centro no aeroporto) em que seus habitantes utilizam o aeroporto como ponto de chegada e saída das viagens aéreas. Considera-se que há substituibilidade entre dois aeroportos quando a área de influência dos mesmos for razoavelmente sobreposta. Ou seja, parte considerável da população da região pode utilizar tanto um quanto outro aeroporto como altcrnativa de embarque ou desembarque de seus voos. Morrcl (2003) assinala que o tamanho dessa área de influência depende do tipo de voo. Em voos de curta c média distância, a área de influência tende a ser menor do que em voos internacionais de longa distância, quando os passagciros estariam dispostos a pcrcorrer maiores distâncias até o aeroporto. Como visto, estudo do órgão regulador da aviação civil britânica, quando da análise da concentração aeroportuária no Reino Unido, concluiu que uma proxy de mercado relevante geográfico para aeroportos englobaria as árcas localizadas a até uma hora do aeroporto, no caso de voos de curta distância, c a até duas horas do aeroporto, no caso de voos internacionais ou de longa distância. No caso brasileiro, cabe notar alguns dados gerais sobre a escolha do passageiro em relação ao aeroporto de acesso ao modal aéreo. De acordo com a Pesquisa de Origem e Destino 2014, aproximadamente 1/3 dos passageiros de voos domésticos levaram mais de 1 hora para chegar até o aeroporto de partida. Tabela 13 - Trajeto até o Aeroporto - Voos Domésticos Jil I , I Até 59 minutos 68,5% 17,7% Entre Ih e 1h59min Acima de 1h59min 138% Total 100% Fonte:InstitutoOlhar/ EPL Olhando sob a perspectiva do custo desses deslocamentos até o aeroporto em voos domésticos, observa-se que pouco mais de metade dos passageiros gastou até R$ 49,00 para acessar a infraestrutura, 27% até R$ 99,00 c quase 20% acima desses valores. Tabela 14 - Custo do Trajeto até o Aeroporto - Voos Domésticos I Até 49 reais De 50 até 99 reais De 100 até 199 reais Acima de 200 reais Total • I 53,2% 27,1% 9,7% 100% 100% cfJJ' Página 42 de 58 . flL ~ L ~ Fonte:InstitutoOlharI EPL Em linha com a experiência internacional, nos voos internacionais, o percentual de passageiros que levou mais de I hora para chegar ao aeroporto selecionado foi consideravelmente maior, de aproximadamente 45%, sendo que quase 20% empreendeu mais de 2 horas no trajeto até a infraestrutura. Tabela 15 - Trajeto até o Aeroporto - Voos Internacionais I I Até 59 minutos Entre Ih e Ih59min Acima de Ih59min Total Fonte:InstitutoOlharI EPL .S!L 55,4% 25,1% 19,5% 100% Isso se reflete nos custos incorridos pelos passageiros para chegar até o aeroporto. Comparando-se com os dados sobre voos domésticos, observa-se que o gasto realizado é significativamente superior: apenas y.; dos passageiros gastou até R$ 49,00, sendo que quase 40% gastou acima de R$ 100,00. Tabela 16 - Custo do Trajeto até o Aeroporto - Voos Internacionais I I Até 49 reais 26,1% De 50 até 99 reais 35,9% De 100 até 199 reais 23,1% 14,9% Acima de 200 reais Total 100% Fonte:InstitutoOlharI EPL De fato, os aeroportos de Porto Alegre e Florianópolis estão a uma distância de 460 km, ou aproximadamente 5hl5min de carro, fato que torna a competição por tráfego doméstico, a princípio, bastante difícil, mesmo para aquela população que mora ao norte da capital gaúcha ou ao sul da capital catarinense. Ademais, entre as duas cidades há o Aeroporto de Criciúma, em que há oferta, ainda que pequena (aproximadamente 75 mil passageiros em 2014), de voos regulares para Campinas e, de lá, para todo o Brasil. Resta ainda a possibilidade de competição por destino c por contratos, mas esses temas serão analisados mais detidamente nas próximas seções. Se no tráfego doméstico as perspectivas de substituição entre os aeroportos é baixa, há, com alta probabilidade, uma considerável zona de captação de passageiros sobreposta entre os dois aeroportos para o tráfego internacional. Deve-se notar que não existe, entre as duas capitais, aeroporto internacional intermediário e, portanto, parte dos passageiros do norte gaúcho e do sul eatarinense que se destinam ao exterior (ou que dele provem) deve escolher qual das infraestruturas utilizar. Fatores como o valor das taxas aeroportuárias internacionais (hoje em R$ 85,99 nos aeroportos Infraero Categoria I), quantidade de voos disponíveis, facilidade de conexões, disponibilidade de fi"ee shops e qualidade da experiência do passageiro podem influenciar a decisão final do passageiro c, portanto, representam fatores sobre os quais os aeroportos podem atuar para atrair essa demanda. Ademais, é essencial lembrar que, como os aeroportos não têm como discriminar os passageiros com base no seu local de procedência, mesmo os habitantes de outras regiões de ambos os estados irão se beneficiar de eventuais melhorias nas tarifas e nos serviços oferecidos pelos concessionários. $ Página43 de 58 ~ ~.lsz-:~ ~ Assim, pode-se concluir que, apesar da falta de perspectiva de substituição entre os dois aeroportos no caso do transporte doméstico, há relevante potencial de competição por tráfego internacional e, portanto, seria importante manter as duas infraestruturas com propriedades distintas. Já para o caso dos aeroportos de Salvador e Fortaleza, temos uma distância significativamente maior: 1.195 km, ou aproximadamente l6h30min por via terrestre. Nesse caso, a competição por tráfego local está completamente descartada. Adicionalmente há diversos aeroportos com voos regulares entre as duas capitais com volume de tráfego comparável aos dois aeroportos (caso do Aeroporto de Recife que processou 7,2 milhões de passageiros em 2014) que podem servir como infraestruturas alternativas. o mesmo se verifica no tráfego internacional, onde a distância inviabiliza qualquer competição nesse nicho de mercado. Ademais, conta com diversos aeroportos internacionais e seria praticamente consumidor trocar um aeroporto pelo outro nesse contexto, mesmo grandes diferenças de preço e qualidade. 6.6.2.1.2 entre os aeroportos a região Nordeste impossível algum que se verifiquem Tráfego de Cargas A análise quanto ao potencial competitivo entre os aeroportos em relação ao tráfego de cargas é semelhante a do tráfego de passageiros. Entretanto, em linha com a literatura do setor (Tretheway e Andriulaitis, 2010) e com a experiência internacional (PC, 2002), pode-se considerar que a área de influência de um aeroporto no caso de cargas é consideravelmente maior. A título de exemplo, Mueller et ai (201 O), ao analisar o poder de mercado do Aeroporto de Schiphol, afirmam que, apesar de a abordagem mais adequada seja deixar a definição de mercado relevante geográfico em aberto, há fortes indícios de que, no caso do tráfego de cargas, esse mercado abranja toda a União Europeia. Ademais, o tráfego de cargas, em comparação com outras modalidades, é mais sensível às tarifas e custos aeroportuários, sendo que as tarifas de armazenagem e capatazia são mais significativas do que as de pouso e decolagem (Air Transport Group, 2002). Há também outros fatores que influenciam na atratividade de um aeroporto, tais como horários mais amplos de operação, procedimentos de alfândega mais ágeis e eficiência no carregamento e descarregamento das cargas (Tretheway e Kincaid, 2005). Todos esses elementos conferem maior elasticidade à demanda das empresas aéreas nesse mercado por infraestrutura aeroportuária. Um fator importante na movimentação de cargas no Brasil é que a carga doméstica praticamente não gera receitas tarifárias relevantes para o aeroporto, uma vez que a estrutura tarifária vigente não permite a cobrança das tarifas de armazenagem e capatazia sobre esse tipo de movimentação. Os recursos auferidos são decorrentes do uso de áreas aeroportuárias pelas companhias aéreas, inclusive cargueiras, e de tarifas de pouso e permanência das aeronaves. Assim, na análise sobre o potencial de competição entre aeroportos, deve-se ter particular interesse na movimentação internacional, uma vez que os incentivos para captura desse tipo de demanda são maiores. A movimentação de cargas nos aeroportos a serem concedidos na atual rodada é apresentada abaixo: Tabela 17 - Movimento Movimento Posição Aeroporto de earga aérea e correios nos aeroportos de Carga Aé,'e" Doméstico % a serem concedidos + Co •.•.eios (Kg) em 2014 Intern"cional % Tot,,1 % - 6" SHFZ 52.722.003 5,46% 4.361.431 0.62% 57.083.434 3,43 (XI 10" SUSV 3(1.1149.067 3,19% 7.916.944 1,13% 38.766.011 2,33%, 12" SBl'A 24.187.432 2.50% 5.044.159 0,72% 29.231.591 ],75%, 19 SUFL 9.36.1.320 O,97 X, O 0,00'1" 9.361.320 0,56%. 966.331.328 100% 699.766.954 100% 1.666.098.282 100% t1 Totallnfr"ero Concedidos + 1 Obs.: Movimento em Kg (Carreg"d" + [)esc"rreg"da) Fonte: Infr.ero Do ponto de vista financeiro, as tarifas de annazenagem e capatazia (que, como vimos, estão diretamente relacionadas ao processamento de cargas, mas que não exaure, de forma alguma, a receita total obtida com esse tipo de processamento, uma vez que nessas operações também há oportunidade de ingressos com aluguel de áreas, hangares, tarifas de pouso e permanência, etc.) representaram de 5 a 10% das receitas operacionais desses aeroportos: Tabela 18 - Receitas Incidentes i Diretamente sobre cargas aéreas Aeroporto Armazenagem & Cap"tazia 2014 I{('c('ita Opel'acional 2014 % Forl"leza (SUFZ) 8.371.093,45 112.980.956,00 7,41% Salvado,' (SUSV) 10.598.448,27 171.605.315,89 6,18% P••rlo Alegre (SBl' A) 17.122.174,93 175.100.916,48 9,78% Florianópolis 3.723.119,97 Fontc: Infracro 70.034.121,63 5,32% (SUFL) Analisando-se o primeiro par de aeroportos (Porto Alegre e Florianópolis), podese perceber que o aeroporto gaúcho processa quase três vezes mais carga total (ocupando o 6° lugar no ranking nacional) do que sua contraparte catarinense (que fica apenas na 19" posição). Além disso, 17,26% da carga em Porto Alegre é internacional, enquanto que em Florianópolis toda a carga é doméstica. Por fim, em linha com esses resultados, as receitas com armazenagem e capatazia representam pouco menos de 10% em Porto Alegre, enquanto que em Florianópolis esse percentual ultrapassa ligeiramente 5%. Interessante notar que apesar de não possuir movimentação de carga internacional pelo modal aéreo, o aeroporto de Florianópolis auferiu quase R$ 3,5 milhões em tarifas relacionadas a essa atividade. De acordo com Quintilhano (2014), isso ocorre porque a movimentação de cargas internacionais (sobretudo importação) no aeroporto decorre do desembarque desse tipo de carga nos aeroportos de São Paulo, Curitiba e Porto Alegre que, posteriornlente, seguem até Florianópolis de caminhão, mediante Declaração de Trânsito Aduaneiro (DTA) e, finalmente, realizam o processo de regularização da carga de acordo com os parâmetros da Receita Federal e outros órgãos públicos, recolhendo, assim, as taxas de triagem e annazenamento da carga ao tenninal de Florianópolis. Se de um lado esse fato mostra relevante disparidade entre os dois aeroportos, demonstra também que há claro espaço para recepção de carga internacional no aeroporto de Florianópolis. Sob controles distintos e sendo realizadas melhorias na infraestrutura, é possível que o concessionário do Aeroporto de Florianópolis busque capturar esse tráfego. Ademais, dada a distância de apenas 460 km entre os dois aeroportos, concessionários distintos podem competir pelo tráfego de carga internacional destinado à região Sul, uma vez que, como visto, esse tipo de movimentação é mais sensível a tarifas e custos aeroportuários, procedimentos de alfândega, eficiência no manuseio das cargas (fatores sob controle total ou parcial dos aeroportos) e interligação com os demais modais de transporte. Já com relação a Salvador e Fortaleza, percebe-se que o aeroporto cearense movimenta quase 50% mais carga total que o aeroporto baiano. Todavia, considerando-se apenas a carga internacional, a situação se inverte, com Salvador transportando quase 57% a mais que Fortaleza. Apesar disso, as receitas de armazenagem e capatazia são relativamente próximas, o que indica que, mais uma vez, temos o processamento de carga internacional vinda de outros modais nesses aeroportos. Mesmo considerando o maior raio de captação para o mercado de cargas aéreas, a distância de 1.195 km dificulta consideravelmente a competição entre os aeroportos pela carga doméstica. No caso das cargas internacionais, onde os produtos, conforme visto, se destinam a toda uma região, ou mesmo a um país, há possibilidade, ainda que no momento incipiente, de competição na atração de carga internacional destinada à Região Nordeste. Com a continuidade do desenvolvimento da aviação nos próximos anos, não se pode descartar, especialmente no contexto de formação de um hub para essa parte do país, que as receitas decorrentes dessa atividade se tornem significativas e objeto de disputa entre os aeroportos. 6.6.2.1.3 Tráfego de Conexão Conforme visto na Seção 2.1.2, a competição por tráfego de conexão é possível mesmo em aeroportos separados por grandes distâncias, pois isso significa ter acesso a uma elevada demanda consistente que não necessariamente se destina à cidade ou região da infraestrutura central. Tal fato incentiva a concorrência entre aeroportos a atraírem as operações de longa distância de companhias aéreas, seja por meio de menores preços e/ou melhores serviços. Essa mesma lógica pode ser identificada, guardadas as devidas proporções, no caso de aeroportos médios, que buscam consolidar-se como hubs regionais. Fiuza e Pioneer (2009) destacam que uma empresa aérea passa a operar em um hub se (I) a externalidade de rede for grande; (2) o número de linhas aéreas operando no mesmo hub for grande; e (3) não houver grande aumento de competição entre linhas aéreas devido à sua entrada. Por outro lado, as firmas que já operam no hub se beneficiam se: (I) a externalidade de rede for grande, (2) a linha aérea a se associar for grande e (3) não houver grande aumento de competição entre linhas aéreas devido á sua entrada. De fato, para que uma empresa aérea tome a decisão de alterar o hub de um aeroporto pra outro, os incentivos devem ser maiores quando comparados aos demais mercados (tráfego de passageiros e de carga). Já no caso da formação inicial de um hub em determinada região, além dos fatores relacionados ao volume de tráfego, há influência considerável do nível das tarifas, das facilidades operacionais encontradas no aeroporto e dos beneficios tributários existentes. Em qualquer dos casos, porém, deve-se destacar que a tJJ!' Página 46 de 58 ~k~ área geográfica que possibilita essa escolha é bcm maior, o que aumenta significantemente o mercado relevante geográfico do tráfego de conexão. Nesse sentido, é interessante notar que, de acordo com a Pesquisa de Origem e Destino 2014, pouco mais de y.. dos passageiros cm voos nacionais fizeram conexão ou escala antes de chegar aos seus destinos finais, percentual que sobe para quase 38% no caso dos voos internacionais. Tabela 19 - Escala ou Conexão - Voos Domésticos e Internacionais I II I I I I I Não 73,2% 62,1% Sim 26,4% 37,7% Não Sabe / Não Respondeu 0,5% 0.2% Total 100% Fonte: Instituto Olhar / EPL m:L.. 100% A proporção de passageiros cm conexão nos aeroportos em análise é apresentada abaixo: Tabela 20 - Percentual de Passageiros em Conexão nos Aeroportos Concedidos T,,,,-to_Alcgrc (SBPA) _!.z.60%~.__ 8,80%, Sal\'ado,' (SBSV) J'0'.lal_c'"'j.5BFZ1 Florianópolis (SBFL) _ a Serem 1,~%1 8,4%, 6,00% 6.7 % 4,30%. 4,7%, 1 Inicialmente, considerando os pares de aeroportos aqui analisados, cabe notar a baixa participação das conexões no processamento nos aeroportos de Porto Alegre e Florianópolis. De fato, por se tratar de aeroportos no Sul do país, o espaço para o desenvolvimento das conexões domésticas é limitado. Trata-se, no jargão do setor, de aeroportos que recebem voos de "final de linha", especialmente no caso gaúcho. Por outro lado, as conexões intcrnacionais que potencialmente poderianl se desenvolver nos voos envolvendo os países do Cone Sul dependem do aumento de passageiros internacionais nessas localidades e da competição com os aeroportos do Sudeste (que concentram aproximadamente 84% do tráfego internacional). Assim, não se vê, a princípio, um grande potencial de aumento no tráfego de conexão nesses aeroportos e, por conseguinte, a existência de grandes incentivos para a competíção nesse nicho de mercado. Já no caso de Salvador (8,4% de passageiros em conexão em 2014) e Fortaleza (6,7% de passageiros em conexão em 2014), o tráfego de conexões é mais significativo, apesar de ainda distante dos principais aeroportos brasileiros, como Brasília (45%), Guarulhos (25,8%) ou Galeão (12,3%). A princípio, esses percentuais pareceriam limitar a competição por conexão entre os aeroportos. Todavia, a intensa disputa pelo Hub da TAM no Nordeste entre três cidades que distam até 785 km (no caso de Recife e Fortaleza), evidencia que há espaço para disputa entre aeroportos muito distantes por esse tipo de tráfego. Ademais, a localização das cidades nordestinas coloca-as na rota de passagem de diversos voos para Europa e América do Norte, sendo essa uma condição favorável para o desenvolvimento de conexões para voos internacionais. p' Página 47 de 58 ~~~ ~ ~ Assim, se por um lado vê-se pouco incentivo para competição por conexão nos aeroportos do Sul (apesar de não se poder descartar essa possibilidade), há uma disputa por formação de hub entre as cidades nordestinas que evidencia a viabilidade de substituição entre cidades consideravelmente distantes. 6.6.2.2. Da Concorrência com os Aeroportos já Concedidos Conforme explicitado no Capítulo 5, já foram concedidos à iniciativa privada os aeroportos de Natal (na região Nordeste), Brasília (região Centro-Oeste) e Guarulhos, Viracopos, Galeão e Confins (todos no Sudeste). Dada a localização dos aeroportos da atual rodada de concessões (dois no Sul e dois no Nordeste) e as distâncias envolvidas entre essas infraestruturas e os aeroportos jà concedidos (apresentadas na Tabela 11), considera-se apropriada a apresentação de análise apenas em relação às possiveis interações entre o Aeroporto de Natal (SBSG) e os aeroportos da região Nordeste a serem concedidos, Salvador (SBSV) e Fortaleza (SBFZ). Como os aeroportos atuam no mesmo mercado do ponto de vista do produto, serão apresentadas, a seguir, as considerações pertinentes à análise concorrencial do ponto de vista geográfico, utilizando-se a mesma estrutura da Seção 6.6.2. 6.6.2.3. Tráfego de Passageiros A determinação da área de influência de cada um dos aeroportos segue a mesma lógica exposta na Seção 6.6.2.1. Nesse sentido, deve-se observar, inicialmente, que o Aeroporto de Natal está a 508 km do Aeroporto de Fortaleza e a 1.078 km do Aeroporto de Salvador. Analisando-se o par Natal-Fortaleza, constata-se que o deslocamento entre os dois aeroportos demandaria quase 6h30min por via terrestre, fato que toma a competição por tráfego doméstico, a princípio, dificultada. Ainda assim, não se pode descartar que populações que vivem entre essas duas cidades possam optar entre uma e outra infraestrutura. É o caso, por exemplo, da cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, que possui população estimada em 284 mil habitantesl4 e está localizada a 238 km de Fortaleza e 267 km de Natal. Nesse caso, não existe uma opção inequivoca por um dos aeroportos. Fatores já elencados como quantidade de voos, conexões, tarifas, preços dos produtos, acessibilidade e qualidade dos serviços podem ser altamente relevantes na determinação da demanda por uma ou outra cidade. Ademais, resta lembrar que como aeroportos não têm como discriminar a demanda com base no local de procedência, mesmo zonas de sobreposição pequenas podem gerar beneficios para a totalidade dos consumidores. O mesmo pode ser dito, em até maior proporção, para o tráfego internacional, uma vez que, como visto, a área de captação é mais abrangente. Atualmente, sem considerar as possibilidades de conexão em outros aeroportos, Natal possui voo regular diário para a Europa (Lisboa), e de lá para as demais cidades do continente, e semanal para Buenos Aires. No caso de Fortaleza, há voos regulares para Lisboa, Frankfurt, Miami e Buenos Aires. 14 http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun~240800 ~ Página 48 de 58 {LlL~ Já em relação ao par Natal-Salvador, constata-se que o deslocamento entre os dois aeroportos demandaria quase 13h30min por via terrestre, fato que torna a competição por tráfego doméstico, ou mesmo internacional, impraticável. O deslocamento entre as duas cidades, por um modal que não scja o aéreo, é, além de demorado, muito dispendiosol5, de forn1a a inviabilizar a substituição entre os aeroportos pela ótica da demanda. Assim, só se identifica potencial de substituição (e concorrência) entre os aeroportos de Natal e Fortaleza, não se constatando tal possibilidade em relação a Salvador para esse nicho de mercado. 6.6.2.4. Tráfego de Cargas O movimento de carga aérea no Aeroporto de Natal (conforme pôde se observar na Seção 4.2.3) foi de 9,6 mil toneladas, figurando como o 18° aeroporto nacional nesse tipo de processamento e o 5° da Região Nordeste. Decompondo o resultado agregado em carga doméstica e internacional, vê-se que Natal processou 7,9 mil toneladas de carga doméstica em 2014 e 1,8 mil de carga internacional nesse mesmo ano. Tabela 21 - Carga Aérea e Correios na Região Nordeste Movimento de Carga Aérea + CO'Teios (Kg) em 2014 (Região Nordeste) 6° Fortaleza (SI3FZ) 52.722.003 5.9% 4.361.431 0.6% 57.083.434 3.6% 7" Recife (SI3RF) 47.668.468 5,3% 4.826.531 0.7% 52.494.999 3,3% 10° Salvador (SI3SV) 30.849.067 3.5% 7.916.944 1,1% 38.766.011 2.4% 17" São Luís (SI3SL) 10.060.065 1.1% O 0.0% 10.060.065 0,6% 0.3% 9.646.178 0,6% Natal 1.781.21 I 7.864.967 0.9% (SBNT/SBSG) Totallnfraero + 891.337.834 100% 702.880.517 Concedidos Obs.: Movimento em Kg (Carregada + Desearregada) Fonte: Infraero 18" 100% 1.594.218.351 100% Em termos de receita de armazenagem e capatazia (que, como vimos, está diretamente relacionada ao processamento de cargas, mas que não exaure, de forma alguma, a receita total obtida com esse tipo de processamento por conta das receitas com aluguel de áreas, hangares, tarifas de pouso e permanência, etc.), em 2013, o Aeroporto de Natal obteve R$ 1.548.893,87, ou aproximadamente 4% de suas receitas operacionais. Se a distâneia e a ausência de outros aeroportos entre Fortaleza e Natal Ja permitiam algum grau de competição por passageiros, essa dinâmica é ainda mais possível no caso de cargas que, conforme a literatura especializada mostra, possui uma área de abrangência significativamente maior. Ademais, pelo fato de as cargas normalmente não se destinarem a um únieo ponto no território após o desembarque, mas a toda uma região, a substituição entre os dois aeroportos é bastante factível. " A título de exemplo, o deslocamento entTeas duas cidades utilizando-se ônibus custaria R$ 522,63. Site: http://www.tell1onibus.comlpassagem-onibuslsalvador-ba-x-natal-m. Acesso em t 8106/20 15. Jf!-" Página 49 de 58 (L~ Já no caso de Salvador e Natal, a possibilidade de competição centra-se primordialmente na atração de carga internacional destinada à Região Nordeste, dada a distância de mais de 1.000 km entre as duas capitais. Fatores como tarifas e custos aeroportuários, procedimentos de alfândega, eficiência no manuseio das cargas e interligação com demais modais de transporte podem determinar o ponto de entrada (ou saida) do comércio internacional. A titulo de exemplo, na Austrália, mesmo aeroportos com mais de 1.000 km de distância são considerados substitutos como portas de entrada no pais16. Assim, no caso de cargas, a possibilidade de substituição entre os aeroportos de Natal e Fortaleza é bastante factivel e, portanto, com o estabelecimento de propriedades distintas entre os ativos, pode-se ter real competição entre operadores. No caso de Natal e Salvador, essa substituição, embora mais escassa, pode ser relevante no mercado internacional, sendo possivel uma diretriz de politica pública que preveja vedação de controle comum entre os aeroportos com o intuito de manutenção desse potencial, particularmente à medida que o mercado de carga se desenvolva de forma mais vigorosa no país. 6.6.2.5. Tráfego de Conexão Por fim, resta analisar o grau de competição potencial entre o Aeroporto de Natal e os aeroportos de Fortaleza e Salvador pelo tráfego de conexão e formação de hubs. Incialmente, cabe notar que o Aeroporto de Natal processou aproximadamente 1,05% de passageiros em conexão no ano de 201417, percentual que pode ser considerado baixo se comparado a outros aeroportos maiores da região Nordeste: conforme visto, 8,4% do tráfego de Salvador em 2014 foi de conexões, enquanto que em Fortaleza esse percentual aproximou-se de 6%. Assim, mesmo a distância sendo um fator menos restritivo para esse tipo de tráfego, a representatividade das conexões em relação ao processamento existente no Aeroporto de Natal indicaria pouco incentivo para competição nesse nicho de mercado. Por outro lado, tem-se o fato, já relatado nesta Nota Técnica, de intensa disputa pela instalação de hub da TAM no nordeste. De fato, hospedar o centro de distribuição da companhia poderia levar a uma considerável elevação do número de voos e conexões em qualquer dos aeroportos. Nesses casos, conforme já relatado nesta Nota Técnica e destacado por Fiuza e Pioner (2009), a presença de economias de rede na aviação civil faz com que os efeitos da oferta de um voo adicional sobre a demanda aeroportuária seja muito distinta em aeroportos hubs e não hubs. Apesar de, a princípio, essa disputa se dar entre Natal, Fortaleza e Recife, não é desarrazoado imaginar que sob administração privada o Aeroporto de Salvador também empreendesse esforços para atração de companhias aéreas, aproveitando-se de sua posição já estabelecida como maior aeroporto da região. Como visto, uma das condições para que 16 Em relatório, a Productivity Comrnission explica que: "Por exemplo, confonne apontado acima, os aeroportos de Melbourne e Sydney são substitutos viáveis para o Aeroporto de Adelaide em certas circunstâncias" (PC, 2002: 127). Destaca-se que a menor distância rodoviária entre o Aeroporto de Sydney e o Aeroporto de Adelaide é de 1.373km e entre o Aeroporto de Melbourne e o Aeroporto de Adelaide é de 735km. 17 Dado referente ao período dejunho a dezembro de 2014 -período de operação do novo aeroporto. ~ Página 50 de 58 ~ ~ t2,~. uma companhia aérea constitua um novo centro de distribuição é o grande número de linhas aéreas operando no mesmo aeroporto. Assim, tal como na análise realizada para na Seção 2.1.2, observa-se que existe um considerável grau de substituibilidade entre aeroportos distantes para recepção do tráfego de conexão, especialmente no caso de atração de companhias aéreas em busca de infraestruturas localizadas em uma mesma região. 6.6.3. Competição por Destino e Competição por Contratos entre os aeroportos de Natal, Fortaleza e Salvador A existência de competição por destino e de competição por contratos entre aeroportos é bastante intuitiva. No entanto, como se trata de dois tipos de competição de dificil mensuração empírica, sua análise na literatura é normalmente feita de forma qualitativa, abordagem que adotaremos no presente estudo. No caso da competição por destinos, como vimos na seção 2.1.4, Tretheway e Kincaid (2005) apontam que a disponibilidade/qualidade do serviço aéreo é considerada por organizadores de convenções um dos dois fatores mais importantes na escolha de um lugar para realização de um evento. Nesse sentido, aeroportos podem se tomar fonte de diferencial competitivo de suas respectivas localidades ao oferecer, por exemplo, nível superior de qualidade de serviço para a recepção dos participantes ou uma estrutura diferenciada para o atendimento de turistas. Especificamente em relação aos aeroportos a serem concedidos, é possivel identificar um potencial de competição pelo destino entre os aeroportos de Salvador, Fortaleza e Natal. De fato, conforme visto na Seção 2.1.4, grande parte do turismo doméstico tem como preferência a região Nordeste, sendo alguns dos principais destinos Fortaleza, Natal e Salvador. Buscando destinos relacionados a praia e belezas naturais, o fator decisivo quando da escolha de um desses aeroportos como destino final poderá ser o diferencial apresentado pelos serviços oferecidos por aquela cidade (tais como disponibilidade de voos diretos, hospedagem, preços, infraestrutura e serviços de informações ao turista), uma vez que todas as capitais consideradas apresentam características naturais e turisticas bastante atrativas. Nesse sentido, pode-se citar o exemplo do Governo da Bahia. Conforme exposto em seu site, a fim de garantir bons resultados na atração do turismo nacional e estrangeiro "o governo do Estado, por meio da Secretaria do Turismo (Setur) e da Bahiatursa, realiza uma série de ações que vão desde a promoção turística nos mercados emissores no Brasil e no exterior, até investimentos em infraestrutura, qualificação profissional e realização de eventos na capital e no interior". Mais: "A Bahiatursa também atua na captação de voos charters e regulares vindos do exterior para o estado. Nesta temporada de verão, serão 12 charters da Argentina, que sairão das cidades de Córdoba, Buenos Aires e Rosário com destino a Salvador e Porto Seguro, trazendo mais de 20 mil visitantes. Outras operações para paises como França, Portugal e Itália também estão em curso e prometem aquecer ainda mais o verão baiano. [...] Na área da aviação regional, municípios baianos como Lençóis, Ilhéus, Barreiras, Vitória da Conquista e Porto Seguro foram beneficiados com um decreto Página 51 de 58 governamental que prevê a redução de impostos sobre o Querosene de Aviação, a fim de alavancar o setor" 18. No caso de Ceará, o governo do estado, por meio de sua Secretaria de Turismo, tem realizado diversos encontros com personalidades da área de turismo de negócios, a fim de atrair a realização de eventos no Estado, conforme exposto em seu site: "'Nosso objetivo é conseguir trazer para a capital, feiras e congressos médicos. São pelo menos 50 congressos que acontecem anualmente. Temos infraestrutura e equipamentos de excelente qualidade para recepcionarmos os participantes. Nosso Centro de Eventos é um dos mais modernos do país, além da qualidade e quantidade de leitos em nossa rede hoteleira". Ainda de acordo com o secretário executivo de turismo, Fortaleza vai sediar em 2016 um congresso de Cardiologia que deve receber mais de 7 mil pessoas. "Fortaleza só tem a ganhar com a captação de eventos desse porte. O turista de negócios geralmente vem acompanhado de familiares ou retoma ao destino trazendo sua família, se tornando um turista de lazer", concluiu Erick Vasconcelos". O turismo de lazer também vem sendo estimulado pelo governo do Estado do Ceará por meio de projetos com esse fim: "Na tarde desta quinta-feira (16.04.2015), agentes de viagens de Recife, Salvador e Goiânia, tiveram a oportunidade de conhecer um dos destinos mais procurados pelo país. A ação faz parte do projeto Fortour, desenvolvido pela Secretaria de Turismo de Fortaleza, que tem como objetivo fazer a promoção da capital. Ao longo de 2015, 500 agentes de viagens e jornalistas devem visitar a cídade, para conhecer pontos turísticos e toda a infraestrutura que é oferecida aos turistas". Por fim, o estado do Rio Grande do Norte também vem realizando ações de promoção e divulgação desse destino. Ao longo de todo o mês de junho de 2015 está sendo realizada uma tour potiguar que já passou por Belo Horizonte e se estenderá pelo Brasil e Argentina. A iniciativa, que faz parte da estratégia de interiorização do turismo, é coordenada pelo Governo do Estado, através da Secretaria de Estado do Turismo (Setur) e Empresa de Promoções Turísticas do RN (Emprotur/RN), com parte dos recursos do RN Sustentável, e viabilizado em parceria com a Prefeitura de Natal, ABlH/RN e Natal Convention Bureau. O mercado de competição por contratos é ainda mais amplo. Vimos como Starkie (2010) e Barrett (2000) identificaram um grande potencial de competíção nesse mercado, principalmente para a atração de empresas aéreas de baixo custo. A evolução do mercado de aviação civil brasileiro certamente tornará o país cada vez maís atrativo para a operação desse tipo de empresa, o que potencializa as vantagens advindas de um mercado aeroportuário competitivo. A flexibilização do limite de capital estrangeiro nas empresas aéreas seria, certamente, uma medida bastante impactante nesse mercado. Esse limite é hoje definido pelo Código Brasileiro de Aeronáutica (CBA) em 20%, mas já existem várias propostas em tramitação no Congresso Nacional no sentido de aumentá-lo para 49% ou, até mesmo, extinguir a limitação. Essa liberalização, ao criar estímulo adicional para a atração de 18 http://bahia.com.br/noticias/pesquisa-confirma-bahia-como-terceiro-destino-turislico-do-brasi II c/!J/ Página 52 de 58é iLl:~ ~ empresas aéreas para o país - particularmente empresas aéreas de baíxo custo -, aumentaria significativamente o potencial de competição entre os aeroportos em análise. Entre os beneficios enumerados pelo Senador Flexa Ribeiro, que apresentou um dos projetos de lei (PLS 2/201519) que tratam do tema, estão a desconcentração do mercado doméstico, o aumento do número de cidades atendidas e de rotas operadas, a redução das tarifas, a melhora na qualidade do serviço, a diminuição do custo regulatório e a diversificação de serviços e produtos. Deve-se notar, ainda, que tanto Starkie (2010) quanto Barrett (2000) focam grande parte de seus argumentos na atração de empresas de baixo custo, o que é compreensível dada sua representatividade no mercado britânico. No entanto, a competição por contratos não se resume a esse caso. Pode significar, por exemplo, a atração de centros de manutenção de empresas aéreas. A Gol Linhas Aéreas, por exemplo, demonstrou interesse em instalar seu centro de manutenção no Aeroporto de Brasilia, mas acabou decidindo pelo Aeroporto de Confins, em parte devido ao esforço do governo de Minas Gerais em atrair a empresa. Sob o ponto de vista do operador aeroportuário, a escolha era indiferente, uma vez que, ao tempo da decisão, os dois aeroportos eram da Infraero. Contudo, em um cenário com operadores independentes, tenderia a haver uma forte concorrência dos operadores na negociação para atração do centro de manutenção e de outros contratos geradores de receitas. 7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES o momento de transição do controle público para o privado é fundamental para a estruturação de qualquer indústria. Conforme Viscusi, Harrington & Vermon (2014:520) explicam: "Uma decisão importante relacionada com a privatização diz respeito à alocação de ativos da empresa do governo. Quantas empresas privadas devem ser criadas, e como devem ser distribuidos os ativos entre elas? Essas decisões fo0dem ter implicações de longo prazo para a estrutura da indústria e a eficiência alocativa." o A experiência internacional examinada demonstrou que essa preocupação não é desarrazoada no caso das concessões aeroportuárias. Conforme mostrou o processo de privatização britânico, a despreocupação inicial com a propriedade comum de diversos aeroportos levou a um problema de subinvestimento e de dificuldade da ação regulatória por parte do Estado, causados tanto pela falta de concorrência entre os diferentes ativos como pela ausência de informações independentes para serem utilizadas pelo órgão regulador. Já no caso mexicano, e especialmente no australiano, a restrição à participação cruzada entre os principais aeroportos propiciou a introdução de um sistema com maiores incentivos à concorrência e que permite a comparação de cada um dos diferentes operadores em termos de qualidade de serviço e eficiência. Deve-se destacar, ainda, que a recente adoção de uma regulação menos intrusiva - a light handed regulation - na Austrália só foi possível por conta da opção, realizada quando da concessão dos ativos, por terem operadores independentes em cada aeroporto. 19 PLS encontra-se na CCJ - Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado desde 07/05/2015 aguardando designação do relator. 20 No original: "An important decisÍon associated with privatization concerns the allocation Df the govemment enterprise's assets. How many privately owned firrns should be created, and how should assets be distributed among them? These decisions can have long-run implications for industry structure and allocative efficiency" Vê-se, portanto, que se está diante de um momento privilegiado para o estabelecimento de regras que gerem uma menor concentração no setor, estimulem a competição e gerem benefícios à sociedade. A partir desse aspecto, o processo de concessão dos aeroportos brasileiros tem se pautado pelo estímulo à competição e à geração de informações independentes através do estabelecimento de restrições à participação cruzada entre aeroportos concedidos que possuem potencial de competição entre si. Conforme visto, as regras para participação nos leilões foram aperfeiçoadas em cada edital. A princípio, verificou-se a ausência de vedações quanto à propriedade por parte do Edital n° 1/2011 (Aeroporto de São Gonçalo do Amarante), que trouxe apenas algumas limitações para a composição do Consórcio participante, em que se destaca o limite de 10% (dez por cento) de participação máxima pelas empresas aéreas, suas controladoras, controladas e coligadas. o Edital nO2/201 1(Aeroportos de Brasília, Viracopos e Guarulhos), por sua vez, manteve as regras anteriores e restringiu a participação das empresas aéreas a 2% (dois por cento). O mesmo Edital tratou ainda de vedar: i) a participação de membro consorciado, suas Coligadas, Controladas, Controladora, ou sob controle comum, em mais de um Consórcio. ainda que com participações ou membros distintos entre si, ou isoladamente, ainda que relativo à proposta para outro Aeroporto; e ii) que uma mesma entidade, suas Controladoras, Controladas, Coligadas, ou entidades sob controle comum, isoladamente ou em Consórcio, sejam vencedoras em mais de um dos Aeroportos objeto do Edital. Por fim, o Edital mais recente, de n° 1/2013 (Galeão e Confins), manteve as diretrizes adotadas no processo anterior, vedando ainda que o operador de um dos grandes aeroportos já concedidos (Brasília, Viracopos e Guarulhos) participasse isoladamente da licitação, permitindo apenas que um ou mais dos referidos acionistas2! pudessem ter participação inferior a 15% (quinze por cento) do Consórcio, considerada a soma de suas participações. Finalmente, o limite para participação de empresas aéreas passou a ser de 4% (quatro por cento) no Consórcio, considerada a soma de suas participações. Conforme discutido anteriormente, a decisão pela continuidade da estratégia de limitação à propriedade cruzada buscou garantir a concorrência real e potencial entre os aeroportos concedidos e estimular a entrada de um maior número de operadores aeroportuários no país. Por esses mesmos motivos, vedou-se, já na segunda rodada de concessões, que um Consórcio pudesse ganhar a concessão de mais de um aeroporto. No caso dos próximos aeroportos a serem concedidos, verificou-se que há considerável potencial de competição entre os aeroportos de Porto Alegre e Florianópolis nos segmentos de passageiros internacionais, carga doméstica e carga internacional, devido, essencialmente, à existência de sobreposição na área de captação desses nichos. Em relação a Salvador e Fortaleza, pôde-se verificar potencial de competição por tráfego de conexão (e formação de hub), destino e, em menor grau, carga internacional. Considerando a interação com aeroportos já concedidos, o único caso relevante para o estabelecimento de restrições à participação cruzada é o do Aeroporto de Natal (SBSG) com os aeroportos a serem concedidos na mesma região. Conforme observado, no caso de Fortaleza e Natal há relevante possibilidade de substituição e competição entre as 21 Os acionistas dos Acionistas Privados das concessionárias de serviço público de infraestrutura aeroportuária federal definidas pelo Leilão n' 2/2011, suas Controladoras, Controladas e Coligadas não poderão participar deste Leilão isoladamente, bem como as Controladas e Coligadas das Controladoras e das Controladas dos referidos acionistas /.;J Página 54 de 58 t2.L~ infraestruturas em todos os mercados considerados (passageiros domésticos e internacionais, carga doméstica e internacional, conexão, destino e contratos). No caso de Natal e Salvador a interação é menos evidente, mas, tal como no caso da interação entre Fortaleza e Salvador, há potencial de competição nos casos de conexão (e formação de hub), destino e, em menor grau, carga internacional. Por fim, deve-se destacar mais uma vez o papel fundamental do benchmarking. Tal como relatado, a existência de operadores independentes já tem se mostrado relevante para o acompanhamento do setor e para comparabilidade dos desempenhos operacionais dos aeroportos. Em particular, a determinação do fator de produtividade para os aeroportos concedidos nos próximos anos será diretamente afetada pela existência de um conjunto de operações suficientemente semelhantes e autônomas. Assim, com base nos estudos realizados, este Departamento de Regulação Concorrência da Secretaria de Aviação Civil (DERC/SPR/SAC-PR) recomenda que: e • Em relação aos aeroportos Salgado Filho (Porto Alegre) e Hercílio Luz (Florianópolis), que o Edital apresente cláusula de vedação que impeça que o vencedor da licitação por um aeroporto possa vencer a do outro. Ademais, no caso em que uma participação cruzada minoritária de menos de 15% seja permitida, tal como na última rodada de concessões aeroportuárias, vede-se a possibilidade de participação do sócio privado minoritário que detenha participação em um desses aeroportos no Conselho de Administração do outro aeroporto; • Em relação aos aeroportos de Salvador e Pinto Martins (Fortaleza), que o Edital apresente cláusula de vedação que impeça que o vencedor da licitação por um aeroporto possa vencer a do outro. Ademais, no caso em que uma participação cruzada minoritária de menos de 15% seja permitida, tal como na última rodada de concessões aeroportuárias, vede-se a possibilidade de participação do sócio privado minoritário que detenha participação em um desses aeroportos no Conselho de Administração do outro aeroporto; • Em relação aos aeroportos de Salvador e Pinto Martins (Fortaleza), que o Edital apresente cláusula de vedação á participação do atual Concessionário do Aeroporto de Natal no processo de licitação. Caso se opte por flexibilizar a vedação, tal como na última rodada de concessões aeroportuárias, deve-se limitar a propriedade cruzada a uma participação minoritária de menos de 15%, com garantias contratuais efetivas de modo a que o detentor de um dos aeroportos não possua influência nas decisões relevantes do outro. Ressalta-se que a adoção das condições acima dispostas, além de convenientes, oportunas e adequadas à construção de um ambiente pró-concorrencial e de alta qualidade regulatória, não representa grandes limitações à participação dos potenciais licitantes. De fato, um mesmo grupo poderá deter a concessão simultânea de até dois (no caso de grupos que ainda não operam qualquer aeroporto federal no Brasil) ou mesmo três grandes aeroportos internacionais (caso o vencedor já seja operador de aeroportos concedidos). Ademais, cabe ressaltar que, caso não haja qualquer restrição, um mesmo consórcio poderia ficar responsável pela operação de quatro a seis grandes infraestruturas. Conforme exposto, o negócio aeroportuário é consideravelmente complexo e, na experiência desta Secretaria, as fases iniciais de adequação da infraestrutura em meio à operação cotidiana são particularmente desafiadoras. Não é de forma alguma claro que um mesmo grupo possa conduzir todo o processo em tantos locais distintos e heterogêneos ~ ~&:a~8~~ sem incorrer em problemas operacionais e na execução dos investimentos obrigatórios. A adoção das medidas propostas teria, assim, a vantagem adicional de minimizar o potencial de problemas gerenciais e operacionais que poderiam afetar o bem estar dos usuários desses aeroportos. À consideração superior. 1~~f.~. RICARDO SAMPAIO S. FONSECA Coordenador ~if2SlT~ HE~U MA LH S Especialista em Po íticas Públicas e Gestão Governamental ~~~~ Coordenador-Geral de Acompanhamento de Mercado THIAGõtOST A M. CALDEIRA Coordenador-Geral de Políticas Regulatórias De acordo. À consideração superior. MARTHA SEILLIER Diretora do Departamento de Regulação e Concorrência da Aviação Civil Encaminhe-se à Secretaria-Executiva para providências cabíveis. Brasília, 10 de novembro de 2015. O_~'-'~ ~ RO~~IXEIRA COIMBRA Secretário de Política Regulatória de Aviação Civil Página 56 de 58 ANEXO REFERÊNCIAS I BIBLIOGRÁFICAS ACI - Airports Council Internacional (1999). European Airports: A Competitive Industry. Policy papel' submitted by the ACI Europe Policy Committee, ACI Europe, October 22nd. Air Transport Group (2002). Study on Competition between Airports and the Application of State Aid Rules. European Commission. Directorate-General Energy and Transport. Cranfield University. Cranfield, United Kingdom. Auslralian Consumer and Competilion Comission - ACCC (2013). Airport 2011-2012. Commonwealth of Australia. Barrett, S. D. (2000). Airport competition in the deregulated European Journal of Air TranspOlt Management, V 01. 6, No. I, Dublin, 2000, pp. 14-27. Monitoring Report aviation market. Civil Aviation Authority - CAA (2006). Airport Regulation: Price Control Review. Initial proposals for Heathrow, Gatwick e Stansted Airports, Supporting Papel' lI. London. 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