Perdas fetais de repetição: Abordagem clínica e terapêutica Ricardo Barini Disciplina de Obstetrícia Ambulatório de Aborto Recorrente Reprodução Humana CAISM/DTG/FCM/UNICAMP II Simpósio de Medicina Fetal e Gestação de Alto Risco da Maternidade Albert Einstein - 2006 Frequência das alterações associadas a perdas gestacionais:o passado % 40,00 35,00 30,00 25,00 20,00 15,00 10,00 5,00 0,00 Genético Hormonal Uterino Multifatorial Indeterminado Coulan, 1992 Fatores etiológicos associados aos aborto recorrente • Genético • Uterino • Hormonal • Imunológico • Trombofilia adquirida e hereditária Genético • Cariótipo de sangue periférico do casal com bandas • Translocações equilibradas • Frequência na população: 4% • Aconselhamento: risco de 13 a 17% de perdas (menor que o risco teórico esperado) Fator hormonal: fase lútea deficiente • Diagnóstico: – dosagem hormonal seriada 2a fase do ciclo – biópsia de endométrio – afastar hiperprolactinemia • Freqüência: 23% das pacientes Fator hormonal: fase lútea deficiente • Tratamento • Indução de ovulação • (Cictrato de clomifeno ou gonadotrofinas) • Reposição – – – – – progesterona natural ou dehidrogesterona Início: segunda fase fase do ciclo 100 mg / dia pg natural 10 mg / dia dehidro Dobrar a dose com ßHCG +, manter até 16 - 20 sem HCG na segunda fase do ciclo (?) • Tratar hiperprolactinemia se necessário (bromoergocriptinia ou carbergolina) Efeito protetor imunológico induzido pela progesterona • “The impact of dydrogesterone supplementation on hormonal profile and progesterone-induced blocking factor concentrations in womam with threatened abortion” Kalinka & Szekeres-Bartho • AJRI 2005;53: 166-171 – Grupo tratado induz PIBF – Mesma evolução que grupo controle normal Alterações imunológicas em aborto recorrente • Ausência de reconhecimento imune e produção de anticorpos bloqueadores • Identificação de auto anticorpos com ou sem a presença de doença auto imune ativa • Trombofilia hereditária e adquirida • Hiperatividade das células NK Grupo 1:Ausência de anticorpos bloqueadores • Gravidez normal reconhecimento imunológico e produção de anticorpos anti-HLA-G. (Suciu-Foca, 1987) • Casal compartilha antígenos HLA em excesso (HLA DQ ) (Beer et al, 1983) • Ausência de produção de anticorpos antiHLA-G (Kwak et al, 1994) • Resposta imune Th1(Beer, 1992) Consequências da interação inadequada HLA-G feto/mãe Interpretação da gravidez como algo próprio e anormal Produção de linfocinas Th1- estímulo NK Início de reações de auto imunidade Agressão imune à unidade fetoplacentárea morte fetal Identificação das pacientes do Grupo 1 • Tipagem HLA DQ alfa ( DNA) • Prova cruzada ou crossmatch • RESULTADO: NEGATIVO – técnicas – microlinfocitotoxicidade (menor sensiblidade, maior especificidade) – citometria de fluxo (maior sensibilidade e menor especificidade) Terapêutica Grupo 1: imunização com concentrado de leucócitos • Separação do “buffy-coat” por fracionamento em gradiente de Ficoll-Histopaque • Injeção intradérmica de duas sessões com intervalo de 4 semanas • Confirmação do efeito terapêutico – crossmatch • Indicação de reforço paterno e/ou doador não aparentado Resultados do Crossmatch (X-M) antes e após imunização Crossmatch antes do tratamento ILP Crossmatch depois do tratamento ILP negativo positivo positivo N = 116 negativo Barini et al, RBGO, 1998 Resultados do Crossmatch (X-M) - segunda série de imunizações Crossmatch após reforço com ILP negativo Crossmatch após tratamento ILP + Doador NA positivo negativo N = 116 positivo Barini et al, RBGO, 1998 Estudo randomizado duplo cego com imunoterapia (ILP) “Induction of MLR-Bf and protection of fetal loss: a current double blind randomized trial of paternal lymphocyte immunization for women with recurrent spontaneous abortion” Manoj Kumar Pandeya & Suraksha Agrawal Molecular Medicine Program, Guggenheim -18, Mayo Clinic, 200, First Street, SW, Rochester, MN-55905, USA Department of Medical Genetics, SGPGIMS, Lucknow, India International Immunopharmacology 4 (2004) 289–298 "Estudo randomizado duplo cego com imunoterapia com linfócitos paternos em cinco grupos de mulheres com aborto recorrente" Pandeya & Agrawal International Immunopharmacology 4 (2004) 289–298 Linfócitos autólogos 28 linfócitos doador não aparentado 31 linfócitos paternos 32 solução salina 19 sem tratamento 14 gestções confirmadas 12 gestações confirmadas 19 gestações confirmadas 25 gestações confirmadas 8 gestações confirmadas 9 nascidos vivos 4 nascidos vivos 6 nascidos vivos 21 nascidos vivos 2 nascidos vivos 9 Taxa de sucesso 33% Taxa de sucesso 31% Taxa de sucesso 84% Taxa de sucesso 25% Taxa de sucesso 44% Evidência para não utilizar células estocadas Loss of Surface CD200 on Stored Allogeneic Leukocytes may Impair Anti-abortive Effect In Vivo • Clark DA, Chaouat G. Loss of surface CD200 on stored allogeneic leukocytes may impair anti-abortive effect in vivo. AJRI 2005; 53:13–20 Grupo 2 : Auto imunidade • Identificação de auto anticorpos com ou sem doença auto imune • Redução nas taxas de gravidez em ciclos de reprodução assistida • Associação com aborto recorrente • Associação com hiperatividade NK • Presente em 8% das pacientes com aborto recorrente Barini et al, RGO, 2000 Principais auto anticorpos identificados no Grupo 2 • • • • • Anti - DNA Anti - ENA Anti - histonas Fator anti-núcleo Anti preroxidade tireoideana • Anti tireoglobulina Terapêutica para o Grupo 2 • AAS 81 mg a partir do dia 1 do ciclo concepcional planejado • Prednisona 5mg/d a partir do dia 16 do ciclo concepcional planejado; 10mg/d a partir do resultado do -HCG positivo até semana 24; esquema de retirada lenta até semana 28 • Tratamento específico com doença auto imune ativa Grupo 3: Trombofilia adquirida Síndrome antifosfolipídica Conjunto de antecedentes clínicos, obstétricos e detecção laboratorial de anticorpos antifosfolipídicos. • Primária ou secundária a doença auto imune ou outras patologias • Presente em 17% das pacientes com aborto recorrente Couto, Annichino-Bizzachi e Barini, 2005 SMJ Anticorpos antifosfolipídicos • Anticoagulante lúpico • Anticardiolipina Síndrome Antifosfolipídica Características obstétricas Aborto recorrente Óbito fetal Restrição de crescimento intraútero Pré eclâmpsia precoce e severa Trombocitopenia Síndrome Antifosfolipídica Características clínicas Trombofilia arterial e venosa Doença valvular adquirida Hipertensão pulmonar Associação com doença auto imune ativa Associação com doenças infecciosas (HIV) Triplet, 1982 Fisiopatologia da SAF Interação com endotélio, plaquetas e trofoblasto - promove trombofilia Impede a fusão do citotrofoblasto na formação do sinciciotrofoblasto falência no desenvolvimento da placenta Trombofilia adquirida P C R P. F. • Fator V de Leiden • Mutação G20210A do gene da protrombina • Mutação C677T do gene da MTHFR • Deficiência de proteína C • Deficiência de proteína S • Deficiência de Antitrombina III Terapêutica para o Grupo 3 • AAS 81mg a partir do dia 1 do ciclo concepcional planejado • Heparina 5.000UI/d a partir do dia 16 do ciclo concepcional planejado; 10.000UI/d com resultado do -HCG positivo • Anticoagulação terapêutica na presença de fenômeno tromboembólico Terapêutica alternativa para SAF + IgGIV 400mg/kg/dia/3 dias/28 dias (em média 20g por dia = R$ 3.000,00) Heparina de baixo peso molecular Enoxparina (20mg – 40 mg) Fraxparina (0,3 ml – 0,6 ml) Deltaparina (2500UI – 5000UI) Resultado reprodutivo e período de início da terapia - Grupo 2 e 3 % de partos 80 70 60 50 40 30 sem txt txt pós txt pré 20 10 0 Kwak et al, 1992 Am. J. Obstet. Gyncol. Resultados reprodutivos pós tratamento imunológico Evolução N % Aborto 22 19 Parto 94 81 Total 116 100 Barini et al, RBGO, 1998 Perdas fetais de repetição: Abordagem clínica e terapêutica II Simpósio de Medicina Fetal e Gestação de Alto Risco da da Maternidade Albert Einstein Dúvidas? www.barini.med.br [email protected] Grupo 4: hiperatividade das células NK Múltiplas alterações auto imunes em mulheres com aborto recorrente ou falhas em ciclos de reprodução assistida Resposta endometrial inadequada à estimulação hormonal Resposta inflamatória intensa após transferência de embriões ou concepção espontânea Identificação das pacientes do Grupo 4 Sintomas clínicos durante gravidez espontânea ou ciclo assistido Testes de auto imunidade anormais Imunofenótipo com níveis elevados de células CD3-16+56+ Teste de atividade NK com demonstração de hiper atividade Teste da atividade NK Iodeto de propidium Células NK recuperados do sangue periférico Cultura de células de placenta corados com ficoeritrina Medida da % de apoptose celular = / Redução da proporção de células NK/células de placenta 50:1 25:1 12,5:1 Com a redução das células NK espera-se redução proporcional da porcentagem de apoptose Exemplo de atividade NK normal 50:1 13% de apoptose 25:1 6% de apoptose 12,5:1 3% de apoptose Exemplo de atividade NK anormal 50:1 23% de apoptose 25:1 19% de apoptose 12,5:1 15% de apoptose Protocolo terapêutico para hiperatividade de células NK • Imunização com linfócitos paternos • Imunoglobulina Humana Intravenosa 400 mg/K nos seguintes dias: – sexto dia do ciclo concepcional planejado – com resultado do -HCG positivo – a cada três semanas até 12a semana de amenorréia Resultados terapêuticos Grupo 4 • 24 pacientes com teste de atividade NK • 18 com teste anormal e 6 normais • 12/18 receberam IGGIV + LIT gravidez a termo no primeiro ciclo concepcional • 6 não receberam IGGIV nenhuma gravidez neste grupo Perdas fetais de repetição: Abordagem clínica e terapêutica II Simpósio de Medicina Fetal e Gestação de Alto Risco da da Maternidade Albert Einstein Dúvidas? www.barini.med.br [email protected]