CELULARES, SMARTPHONES E TABLETS NA SALA DE AULA: COMPLICAÇÕES OU CONTRIBUIÇÕES? MATEUS, Marlon de Campos – UFPR [email protected] BRITO, Gláucia da Silva – UFPR [email protected] Eixo Temático: Comunicação e Tecnologia Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este trabalho objetiva pesquisar a presença de dispositivos móveis em sala de aula para então visualizar possíveis contribuições. A presença, cada vez mais constante de celulares, smartphones e tablets em sala de aula pode contribuir com a aprendizagem dos alunos? Em busca de resposta para tal questionamento contamos com os estudos de LÉVY (1999); RAMAL (2002); DANIEL (2003); LEMOS (2003; 2004); BRITO e PURIFICAÇÃO (2008); CANCLINI (2008), entre outros autores que pesquisam tecnologias, comunicação e educação. A escola hoje está repleta de alunos com perfil multitarefa, tecnologia e velocidade são comuns a essa geração e está cada vez mais difícil para o professor atrair esses alunos apenas com o quadro negro e giz branco feito de sulfato de cálcio. Nos últimos tempos, novos aparelhos têm surgido no espaço escolar. São os celulares, que em versão mais completa, são chamados de smartphones e, de forma ainda tímida, os tablets. Reclamações surgem de todos os lados e, o que se dissemina é a nocividade desses aparelhos à sala de aula, por dificultarem a concentração e atrapalharem a aprendizagem. Mas será que não é possível encontrar nenhuma contribuição? Muitas vezes a proibição aumenta a vontade de utilizar esses equipamentos, o que gera ainda mais conflitos. Para este estudo também foram ouvidos professores do setor centro da cidade de Curitiba – Paraná. Os resultados indicam que é possível aproveitar essas tecnologias em aulas, aliando ao conteúdo e ao planejamento. Na disciplina de Artes, podem ser utilizados em um trabalho com fotografias. Em Língua Portuguesa, para consultar dicionários e nas mais diversas disciplinas como importante ferramenta de pesquisa. Existem sim complicações, mas também possibilidades de contribuição que podem e devem ser exploradas. A presença do professor como estimulador, incentivador e provocador da aprendizagem, nunca foi tão importante e necessária. Palavras-chave: Escola. Professor. Tecnologias. Celulares. Smartphones. Tablets. 9516 Introdução Toda a evolução da telefonia móvel trouxe possibilidades antes consideradas impossíveis. Hoje inúmeras pesquisas apontam que existem mais celulares do que habitantes no Brasil, ou seja, muitas pessoas possuem mais de um aparelho, que atualmente não exercem apenas a função de telefone, são pequenos, leves, possuem baterias duradouras e funcionam em quase todos os lugares. É possível ouvir músicas em mp3, rádio, assistir TV, fazer filmes, gravar voz, tirar fotos, jogar, acessar a Internet, enviar e receber e-Mails, etc. Os telefones celulares com funcionalidades avançadas e que possuem um sistema operacional são chamados de smartphones. Antes caros e inacessíveis, hoje com preços menores, são cada vez mais a preferência de crianças, adolescentes e jovens. As novidades não param de chegar e, uma enorme tendência da tecnologia pessoal, que surgiu recentemente em 2010, são os tablets, computadores em forma de prancheta eletrônica com teclado virtual e tela sensível ao toque. Estão disponíveis no mercado vários modelos de diversas marcas e possuem conexão com a internet via Wi-Fi1 e 3G2. Os tablets, assim como os smartphones, têm uma infinidade de funções, mas se destacam no tamanho. A tela vai de 7 a 10 polegadas, permitindo a leitura de e-Books3 com mais conforto. O formato também é sugestivo, pois é leve e parece com um livro. A diferença é que em apenas um equipamento é possível ter uma biblioteca de e-Books instalados. Mas o que esses dispositivos têm a ver com Educação? Complicações que não existiam há tempos atrás passam a fazer parte do cotidiano escolar e levam, cada vez mais, a discussões sobre tecnologias e educação. Muitas leis municipais e estaduais propõem a proibição desses equipamentos no espaço escolar, o que tem provocado grande polêmica e dividido opiniões. Será possível utilizar esses dispositivos móveis como recurso pedagógico? 1 Termo licenciado pela Wi-Fi Alliance para se referir a redes sem fio baseadas no padrão IEEE 802.11. Na prática, é entendido simplesmente como uma tecnologia que permite a conexão entre vários dispositivos sem fio. Leia mais em: http://www.tecmundo.com.br/197-o-que-e-wi-fi-.htm#ixzz1VgdhCcHJ 2 É uma tecnologia móvel que permite ao usuário navegar na internet em alta velocidade sem a utilização de fios. Pode ser usada através de um modem (para computadores e notebooks) ou por celulares, smartphones e tablets. Leia mais em: http://www.tecmundo.com.br/226-o-que-e-3g-.htm#ixzz1Vgh6iRXk 3 Se você consegue estabelecer a diferença entre uma carta e um e-Mail, certamente sabe, por analogia, que livros e e-Books se encaixam no mesmo conceito. Termo de origem inglesa, e-Book é uma abreviação para “electronic book”, ou livro eletrônico: trata-se de uma obra com o mesmo conteúdo da versão impressa, com a exceção de ser, por óbvio, uma mídia digital. Os formatos em que essas obras são encontradas variam, sendo que os mais tradicionais são .pdf, .doc, .odt, .txt, .lit e .opf; devido a essa variedade de extensões, foram desenvolvidos programas específicos para a leitura de e-Books. Leia mais em: http://www.tecmundo.com.br/1519-o-que-e-e-book-.htm#ixzz1VgtOhMYi 9517 Tecnologias e Educação: a cibercultura na escola do século XXI Em uma época de grandes transformações sociais, econômicas, políticas, culturais, ideológicas, a noção de “sociedade do conhecimento” parece modificar-se, como sugere Demo (2005), para noção de “sociedade intensiva de conhecimento”. Surgem novas maneiras de pensar, de conviver em sociedade e faz-se necessário compreender toda essa mutação contemporânea para então atuar nela. Neste sentido, Lévy (1999, p. 22) destaca a impossibilidade de separação do humano de seu ambiente material, pois, “as tecnologias são produto de uma sociedade e de uma cultura.” O volume de informações, cada vez mais acelerado, se multiplica e é cada vez mais complicada a tarefa de filtrar tais informações. Internet, redes sociais, programas de comunicação instantânea, blogs e microblogs são algumas das possibilidades que o avanço da tecnologia tornou possível. Porém, é preciso cuidado ao usar o termo tecnologia, pois é amplo e pode receber inúmeros significados dependendo do contexto. Tecnologia está ligada a alguns conceitos como: artefato, ferramenta, cultura, técnica, conhecimento, trabalho, ciência e outros. Na educação as tecnologias4 são entendidas como recursos pedagógicos que podem auxiliar na prática docente. Em sua definição de tecnologia, John Daniel fala de um envolvimento entre pessoas e máquinas, que é o que faz sentido ao uso de tecnologias de informação e comunicação (TIC)5 na escola. Muitas pesquisas já comprovam que não é suficiente apenas a disponibilização de aparatos tecnológicos, que é importante entender como utilizá-los a favor da mediação do conhecimento e da informação e também como possibilidade de interação e de colaboração entre integrantes do cotidiano escolar. 4 John Daniel define tecnologia como “[...] aplicação do conhecimento científico, e de outras formas de conhecimento organizado, a tarefas práticas por organizações compostas de pessoas e máquinas. Para combinar pessoas com a tecnologia na educação devemos envolver seus sistemas sociais, e é necessário também que haja atividades interativas.” (DANIEL, 2003, p.26) 5 Tedesco (2004, p.96) define TIC (Tecnologias da Informação e da Comunicação) como “[...] conjunto de tecnologias microeletrônicas, informáticas e de telecomunicações que permitem a aquisição, produção, armazenamento, processamento e transmissão de dados na forma de imagem, vídeo, texto ou áudio. Para simplificar o conceito, chamaremos novas tecnologias da informação e da comunicação às tecnologias de redes informáticas, aos dispositivos que interagem com elas e a seus recursos.” Para Brito e Purificação (2008) as TIC são recursos tecnológicos que permitem o trânsito de informação, que podem ser os diferentes meios de comunicação (jornalismo impresso, rádio e televisão), os livros, os computadores [...]. 9518 É importante então que aconteça uma apropriação e interpretação da tecnologia também no espaço escolar, que não pode estar deslocado da sociedade e nem alheio as modificações. No cotidiano do homem do campo ou do homem urbano, ocorrem situações em que a tecnologia se faz presente e necessária. Assumimos, então, educação e tecnologia como ferramentas que podem proporcionar ao sujeito a construção de conhecimento, preparando-o para saber criar artefatos tecnológicos, operacionalizá-los e desenvolvê-los. (BRITO & PURIFICAÇÃO, 2008, p. 23). O professor hoje se vê envolto por um processo de virtualização aligeirado e muitas vezes assustador. Novos espaços de leitura e escrita, novos ambientes antes nem imaginados surgem e muitas vezes se impõem como uma necessidade inquestionável. Ao mesmo tempo em que o sentimento é de se estar perdido diante desses novos espaços, entende-se a web como um local de referências, onde é possível também “se encontrar”, pois configura-se como espaço de aprendizagem, de diversão, de pesquisa. Tanto o filósofo francês Pierre Lévy quanto o professor André Lemos entendem a web como espaços de informação, mas também de conhecimento e aprendizagem. Para Lemos (2004) o ciberespaço é uma rede social complexa, e não somente tecnológica. No ciberespaço existe leitura, escrita e comunicação específica que, de certo modo, vem modificando a vida social e cultural. Lévy (1999, p.17) pontua que cibercultura6 é como um “conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o ciberespaço”. É inquestionável que a atual sociedade desenvolveu uma dependência jamais vista das tecnologias. Até mesmo quem não se sente a vontade ou não gosta de utilizá-las se vê obrigado a aderir certos hábitos que são inevitáveis. A intenção é que todas as criações ajudem a melhorar a qualidade de vida das pessoas, contribuam e potencializem suas ações. Por que na educação seria diferente? 6 O professor André Lemos (2003, p.12) define cibercultura como “[...] a cultura contemporânea marcada pelas tecnologias digitais, vivemos já a Cibercultura. Ela não é o futuro que vai chegar, mas o nosso presente (homebanking, cartões inteligentes, celulares, palms, pages, voto eletrônico, imposto de renda via rede, entre outros). Trata-se assim de escapar, seja de um determinismo técnico, seja de um determinismo social. A Cibercultura representa a contemporaneidade sendo consequência direta da evolução da cultura técnica moderna.” 9519 Um novo desafio se monta na educação e a preocupação com novas formas de ensinar é constante. Ramal (2002, p. 252) afirma que “educar na cibercultura implicará formar seres conscientes, críticos e capazes de gerenciar informação, o que também poderá provocar uma revisão do papel do professor [...]”. A questão é que a escola está com sérias dificuldades em lidar com todo esse cenário de mudanças que acontece cada vez mais rápido. As proibições relacionadas ao uso de dispositivos móveis, como celulares, é um exemplo dessa dificuldade. Não é simples mesmo. Ser professor está cada vez mais difícil, mas o otimismo do filósofo Pierre Lévy pode ser um importante estímulo para a educação. Talvez seja necessário voltar os olhares para os pontos positivos e buscar assim novas possibilidades, novas configurações de sala de aula, de trabalho docente, de leitura. Hoje conhecemos um novo espaço de leitura e escrita. As letras concretas e palpáveis se transformam em bites digitais; a página em branco é o campo do monitor; a pena é o teclado e há uma estranha separação entre nosso corpo, real, e o texto, virtual. Até não ser impresso, o texto pode ficar indefinidamente nessa outra materialidade. (RAMAL, 2002, p. 65) Hoje é possível ler, corrigir e reestruturar um trabalho por intermédio do computador. O professor pode acessar seu e-Mail e responder dúvidas de seus alunos, alterando assim o conceito de distância. Um trabalho escrito no espaço virtual torna-se um “(...) documento dinâmico, aberto, ubiquitário”. (LÉVY, 1999, p. 159). Dispositivos móveis como recurso pedagógico em sala de aula: é possível professor? Dispositivos móveis podem sim atrapalhar e muito, não apenas em sala de aula, mas em qualquer outro lugar onde a utilização em excesso causa constrangimentos e desconfortos. A sala de aula é um espaço de aprendizagem, de interação, informação e conhecimentos e é neste espaço que reclamações quanto ao uso desses aparelhos estão cada vez mais comuns. A impressão é que são equipamentos vilões que foram criados para a destruição do ser humano e que não possuem nada de bom. Para os pesquisadores Viana e Bertocchi (2009) sataniza-se o equipamento, o celular, e destaca-se o quanto os alunos envolvem-se por tudo o que esta tecnologia de informação e comunicação possibilita, deixando assim de se interessarem pelas aulas dos seus professores. Os autores pontuam que perde a sociedade e perde a educação com a censura desses equipamentos em sala de aula. Essa proibição não inibe os alunos, que são hábeis, inteligentes e antenados o suficiente para burlar tais leis. 9520 Alunos com smartphones conectados a internet podem sim se dispersar durante aula, entrando em redes sociais, se comunicando com amigos em momentos inadequados e até mesmo atrapalhar a aula e outros colegas. No entanto, poderá também pesquisar em dicionários on-line ou em aplicativos já disponibilizados pelas editoras, existem vários. A câmera, presente em praticamente todos os modelos, pode ser utilizada na disciplina de Artes em um trabalho com fotografias. A rede social Foursquare7, disponível nos smartphones, pode ser aproveitada na disciplina de Geografia, assim como ferramentas de localização e mapas on-line. Uma infinidade de possibilidades surge quando os dispositivos móveis em questão deixam de ser vistos como vilões e passam a ser aceitos como novas ferramentas para a aprendizagem. Os tablets e e-readers8, ainda não muito comum nas escolas, também são importantes ferramentas que poderão contribuir com a educação, facilitar o estudo e talvez torná-lo ainda mais atraente. A maioria dos modelos disponíveis é cara, por isso a presença nas escolas, principalmente em públicas, ainda é tímida. Porém, com base na evolução e barateamento de equipamentos parecidos nos últimos anos, não é difícil prever que é questão de tempo para tornarem-se cada vez mais presentes nas escolas e consequentemente, em salas de aula. Mas e quanto ao professor? Qual seria seu posicionamento sobre a presença desses equipamentos ou dispositivos em sala de aula? São questões difíceis de serem respondidas dada a complexidade do momento que escola e sociedade passam. Como em qualquer questão polêmica, as respostas são muitas e opiniões dividem-se no meio educacional. O professor é quem direciona os trabalhos, provoca a curiosidade e incita ao debate, a crítica, a pesquisa. É o especialista em sala de aula e sua responsabilidade é enorme. O professor, em primeiro lugar, é um ser humano e, como tal, é construtor de si mesmo e da sua história. Essa construção ocorre pelas ações num processo interativo permeado pelas condições e circunstâncias que o envolvem. É criador e criatura ao mesmo tempo: sofre as influências do meio em que vive e com as quais deve autoconstruir-se. (BRITO e PURIFICAÇÃO, 2008, p. 45) 7 Permite que você indique onde está através de um aplicativo no seu smartphone. Você indica o lugar em que chegou, escolhe se vai avisar seus amigos ou não e se quer que esse check-in (nome que o Foursquare dá para a ação que você executa no aplicativo para dizer que chegou em algum lugar) apareça no Twitter e Facebook. Leia mais em: http://www.interney.net/?p=9771175 8 E-readers são leitores digitais, o mais conhecido da categoria é o Kindle, primeira opção de compra da maioria dos consumidores. É da Amazon, um dos maiores vendedores virtuais de livros no mundo. Leia mais em: http://www.tecmundo.com.br/3052-e-readers-tendencias-para-o-futuro.htm#ixzz1VglgEhR1 9521 Segundo as autoras, se o compromisso do professor é com o homem concreto, com sua humanização e libertação, ele não deve prescindir nem da ciência e da tecnologia e sim instrumentalizar-se para então melhorar sua prática e sua luta por sua causa. É possível então utilizar tudo como recurso pedagógico? É claro que um liquidificador não é uma tecnologia educacional, mas pode perfeitamente ser utilizado em uma aula prática de Ciências, por exemplo. O que não significa que o professor tem que usar tudo que aparece como novidade em todas as suas aulas, mas sim utilizar tudo que possa contribuir, ajudar, auxiliar no processo de aprendizagem dos alunos. Professores de um colégio público estadual, localizado no setor centro da cidade de Curitiba, foram questionados, exclusivamente para este estudo, sobre a possibilidade de dispositivos móveis serem utilizados em suas aulas com encaminhamento pedagógico. Foram consultados 15 (quinze) professores, dos quais 9 (nove) responderam a seguinte questão: Você acredita que celulares, smartphones e tablets podem ser utilizados como recursos pedagógicos em suas aulas? Como? As respostas se dividem em três categorias: há os que se posicionam completamente contra a utilização desses dispositivos em sala de aula e ressaltam todos os possíveis pontos negativos; alguns não se importam com a presença dos equipamentos, mas também não veem nenhum potencial pedagógico; e há também os que utilizam, mesmo que de forma tímida, em explicações, em apresentações de trabalho e até mesmo para pesquisas rápidas durante a explanação do conteúdo. A maior parte dos professores afirma não ver qualquer finalidade pedagógica nesses aparelhos e ressalta a dificuldade em dar aulas, e explicar o conteúdo, com alunos utilizando tais equipamentos. Uma das educadoras diz “Não consigo ver nada de positivo na presença de celulares nas aulas. Antes, me sinto totalmente desconfortável com a possibilidade de ser filmada ou fotografada”. A professora diz que sente sua privacidade ameaçada e que não consegue esconder seu incômodo. E completa: “Sou sim a favor da proibição desses equipamentos, não na escola, mas em sala de aula”. Um professor, pertencente ao grupo dos que não se importam com os equipamentos afirma: “Não me preocupo quando vejo meus alunos com celulares, tomo atitudes em casos extremos, em que realmente o aluno atrapalha a aula e os colegas. Penso que o aluno pode sim se dispersar com um dispositivo móvel conectado à Internet, mas essa dispersão pode também acontecer com uma revista ou até mesmo conversando com um colega”. O professor 9522 não culpa o aparelho, mas sim o comportamento do aluno, que pode ser negativo com ou sem o celular e finaliza dizendo “[...] confesso que não sei como utilizar em minha disciplina, na verdade nunca pensei nisso”. A menor parte dos professores consultados diz utilizar o celular com finalidade pedagógica. “Como sou professora da disciplina de “Arte”, um dos conteúdos programados em meu planejamento é o trabalho com fotografias e, como a maioria dos meus alunos possuem celulares com câmera, desenvolvi um projeto em que eles tinham que utilizar seus aparelhos”. Outros abordaram a grande possibilidade que os equipamentos proporcionam para a pesquisa quando são conectados à Internet, mas revelam também que sentem dificuldade. Como qualquer outro objeto, o celular pode sim favorecer a distração dos alunos, assim, a presença do professor é cada vez mais indispensável na escola do século XXI. Para Ramal (2002, p. 206) “Na escola da cibercultura, será tão importante verificar a que respostas o aluno chegou quanto saber os caminhos que foram utilizados para isso.” Assim, a maneira como os alunos aprendem é tão importante quanto o ato de aprender ou conseguir respostas para seus questionamentos. Celulares, smartphones e tablets são realmente invenções espetaculares e objetos de desejo de muitos, principalmente de crianças, adolescentes e jovens. Inúmeros modelos e diversas marcas oferecem aplicativos fantásticos que se tornam grandes atrativos. Agora, o melhor caminho é realmente proibir esses dispositivos? Talvez o caminho seja utilizá-los como recursos que favoreçam a aprendizagem, a curiosidade, a busca por respostas, por informação e conhecimento. Neste sentido, Canclini (2008, p. 18) afirma que Insistem em formar leitores de livros, e, à parte, espectadores de artes visuais (quase nunca de televisão), enquanto a indústria está unindo as linguagens e combinando os espaços: ela produz livros e também áudio-livros, filmes para o cinema e para o sofá e o celular. O autor pensa a comunicação e a cultura cotidiana em seus diferentes aspectos e questiona se as instituições latino-americanas estão preparadas para essa nova época de utilização intensa de diversas e novas tecnologias que surgem a todo momento e que podem ser consideradas como aliadas – e não como vilãs – nos espaços escolares. 9523 Considerações Finais É claro que vivemos uma época de reconfigurações e que certas inovações assustam e causam dúvidas. A escola é um espaço de aprendizagem, onde a interação e a colaboração são sempre necessárias e, a integração com diversas tecnologias deve então acontecer com tal objetivo. Não é simples responder a questão levantada por este estudo, talvez novas dúvidas tenham surgido, mas o fato é que a educação não pode pautar-se em proibições, sendo ela um espaço aberto para a aprendizagem, para a curiosidade. A presença, cada vez mais constante de celulares, smartphones e tablets em sala de aula pode contribuir com a aprendizagem dos alunos? Mesmo que de forma tímida é possível destacar a inserção desses dispositivos em aulas, pois com tantas funções, tantos aplicativos de imagem, som, vídeo e comunicação instantânea, é impossível que não se encontre nenhuma possibilidade de aprendizagem. Este trabalho não pretendeu trazer uma única resposta, nem mesmo utilizar o provérbio popular “Se não pode com o inimigo, junte-se a ele.” A intenção foi a de provocar uma discussão sobre a presença desses equipamentos em sala de aula. Tanto os autores pesquisados quanto os professores consultados ajudaram a constatar que existem sim possibilidades de utilização pedagógica de celulares, smartphones e tablets em sala de aula. É possível sim discutir e fazer uso, no espaço escolar, não apenas de computadores, TVs, projetores multimídia, mas também celulares e outros dispositivos móveis com ou sem acesso à Internet. Com tantas modificações acontecendo na sociedade, a escola se depara cada vez mais, com novos e complicados desafios e, a presença do professor nunca foi tão necessária como agora. É preciso pensar que os problemas são comportamentais e não podem ser transferidos aos aparelhos, e que proibições talvez não sejam as melhores alternativas. Em uma época em que se fala tanto em liberdade de expressão e de opinião, censuras não combinam, principalmente em espaços escolares. REFERÊNCIAS BRITO, Gláucia da Silva; PURIFICAÇÃO, Ivonélia da. Educação e novas tecnologias: um repensar. Curitiba: Ibpex, 2008. CANCLINI, Néstor García. Leitores, espectadores e internautas. Tradução Ana Goldberger. São Paulo: Iluminuras, 2008. 9524 DANIEL, John. Educação e tecnologia num mundo globalizado. Brasília: UNESCO, 2003. DEMO, P. A educação do futuro e o futuro da educação. Campinas, SP: Autores Associados, 2005. LEMOS, André. Cibercultura, tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Porto Alegre: Sulina, 2004. LEMOS, André. Olhares sobre a Cibercultura. Porto Alegre: Sulina, 2003. LÉVY, Pierre. Cibercultura. Tradução: Carlos Irineu da Costa. São Paulo, Editora 34, 1999. RAMAL, Andrea Cecília. Educação na Cibercultura: hipertextualidade, leitura, escrita e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2002. TEDESCO, Juan Carlos (org.) Educação e Novas Tecnologias: esperança ou incerteza? São Paulo: Cortez; Buenos Aires: Instituto Nacional de Planejamento de la Education. Brasília: UNESCO, 2004. VIANA, Claudemir Edson. BERTOCCHI, Sônia. Pelo celular...lá na escola! Mobilidade e convergências nos projetos pedagógicos. Publicado em 08/12/2009. Disponível em: <http://www.educared.org/educa/index.cfm?pg=revista_educarede.especiais&id_especial=49 3> Acesso em: agosto de 2011.