SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E ECONÔMICA: ESTUDO EM
UMA ASSOCIAÇÃO CATARINENSE DE CATADORES DE LIXO
Autoria: Paulo Roberto Batista Júnior, Maria Luiza Gesser da Silveira, Elisete Dahmer
Pfitscher
RESUMO
O objetivo geral deste estudo é verificar a sustentabilidade ambiental e econômica de uma
associação de catadores de lixo de uma cidade catarinense. O enquadramento metodológico
quanto ao objetivo caracteriza-se como descritivo, quanto aos procedimentos técnicos trata-se
de análise de conteúdo e estudo de caso. Quanto à abordagem do problema, é qualitativa.
Constatou-se que com a aliança feita com a prefeitura do cidade, a associação gera emprego
na comunidade onde atua; além de reduzir a quantidade de resíduos destinados de forma
inadequada, beneficiando indiretamente na comunidade. Quanto ao objetivo geral da
pesquisa, de verificar a sustentabilidade ambiental e econômica de uma associação de
catadores de lixo localizada em uma cidade catarinense, por meio da aplicação do Sistema
Contábil de Gerenciamento Ambiental – SICOGEA foi possível concluir que o índice global
de sustentabilidade da associação é de 52,50%, o qual indica um status quo regular, ou seja, a
entidade apresenta um desempenho médio que apenas atende a legislação vigente.
Palavras-chave: Sustentabilidade. Associação de catadores de lixo. Sistema contábil de
gerenciamento ambiental.
ABSTRACT
The aim of this study is to verify the environmental and economic sustainability of an
association of waste workers in a city of Santa Catarina. The methodological framework on
the goal is characterized as descriptive, the technical procedures as content analysis and case
of study. And as qualitative, the problem’s approach. It was found that with the covenant
made with the mayor of the city, the association creates jobs in the community where it
operates, as well as reducing the amount of waste improperly, indirectly benefiting the
community. Regarding the objective of the research, that was to check the environmental and
economic sustainability of a cooperative of waste workers located in a city of Santa Catarina,
through the application of Environmental Management Accounting System - SICOGEA was
possible to conclude that the overall level of sustainability of the association is 52.50%, which
indicates a regular status quo, in other words, the entity has an average performance that only
meets current legislation.
KEY-WORDS: Sustainability. Cooperative of waste workers. Accounting system of
environmental management.
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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A Revolução industrial foi um marco histórico nos processos produtivos, passou a
incorporar novos métodos aos processos, avançou a mercados inimagináveis e passou a
vislumbrar um desenvolvimento acelerado e tecnológico fomentando uma demanda afoita por
consumir novas descobertas.
No entanto, com o aumento do consumo e da produção, têm-se uma maior geração de
resíduos que se não forem descartados de forma correta, podem comprometer a qualidade do
solo, da água e do ar. Neste cenário surge à possibilidade de estabelecer mecanismos para dar
um destino apropriado aos resíduos oriundos do consumo anteriormente descartados
erroneamente, e gerar renda decorrente dos processos de transformação destes.
Assim, as associações de catadores são organizações aliadas ao processo de destinação
final e adequada de resíduos, e como organização, a mesma também busca estabelecer
constantemente diferenciais que a destaque frente à concorrência, para assim garantir sua
sobrevivência neste mercado.
Conforme De Plácido e Silva, (2000, pg. 89) “associação é toda agremiação ou união
de pessoas, promovida com um fim determinado, seja de ordem beneficente, literária,
cientifica, artística, recreativa, desportiva ou política”. Ademais, as associações têm como
característica a finalidade serem sem fins lucrativos, e são fundadas a partir de pacto social ou
ato coletivo.
Dessa forma, as associações possuem interesse em serem autossustentáveis, gerar
renda para seus associados, manter-se no mercado e suprir a necessidade de destinação correta
dos resíduos provenientes da comunidade onde está localizado. Além de contribuir
positivamente com o meio ambiente, de certa forma reduzir a disposição incorreta de
resíduos, mitigando os problemas decorrentes desses.
Nesta perspectiva, e na busca de analisar como funcionam as associações de catadores
de lixo, propõe-se neste estudo responder a seguinte pergunta de pesquisa: Como se encontra
a sustentabilidade ambiental e econômica de uma associação catarinense de catadores de
lixo?
Para responder ao questionamento supracitado, foi definido o seguinte objetivo geral:
verificar a sustentabilidade ambiental e econômica de uma associação de catadores de lixo
localizada em uma cidade catarinense. Em busca de atender a este objetivo, esta pesquisa se
propõe a dar um panorama da situação da associação pesquisada, assim como tem pretensão
de verificar a quantidade de catadores que atuam na organização; o volume total e por
categoria de lixo coletado mensalmente; e por fim, verificar o valor médio mensal recebido
por trabalhador.
2 REVISÃO TEÓRICA
Nesta seção é apresentada a revisão teórica utilizada para sustentar o estudo
pretendido, a saber: Responsabilidade Social, Contabilidade Ambiental, Sustentabilidade
ambiental e econômica, e Sistema contábil gerencial ambiental – SICOGEA.
2.1 Responsabilidade social
Devido à evidência que o tema responsabilidade social tem recebido no atual contexto,
as organizações tem se deparado com novas exigências, quais sejam, tomar ciência do
assunto, adequar-se a esta realidade através do aprimoramento de seus processos, e após,
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divulgar as devidas informações relacionadas a estes. Neste contexto, as entidades vêm
optando pela publicação de relatórios voltados a este tema. Segundo Milano et al (2002,
p.10), entende-se como responsabilidade social
[...] a conduta ética e responsável adotada pelas empresas na plenitude das suas
redes de relações, o que inclui o universo de seus consumidores, fornecedores,
funcionários, acionistas, comunidade em que se inserem ou sobre a qual exercem
algum tipo de influência, além do governo e do meio ambiente. Em outras palavras,
são pressupostos da responsabilidade social os adequados cumprimentos de toda
legislação (trabalhista, fiscal, ambiental, direitos do consumidor,...) e a postura ética
em todas as relações (governo e comunidade), não sendo possível ser socialmente
responsável burlando a lei ou usando artifícios para escapar aos valores morais e
éticos.
Dessa forma, responsabilidade social é uma obrigação que o estado, as organizações,
pessoas como um todo, tem com a sociedade, e com as gerações futuras. De acordo com
Ashley (2002, p. 6), “a responsabilidade social de uma organização é expressa por seus atos,
que atinjam positivamente a sociedade”.
Com a inserção da responsabilidade social no meio corporativo, as organizações
começam a levar em conta o potencial humano e as atitudes de seus colaboradores, o que
pode refletir na produtividade e no resultado da organização. De acordo com Tinoco (2004,
pg. 24): “a entidade aparece cada vez mais como sendo o resultado de uma coalizão de
interesses entre diferentes grupos sociais. A intensidade de seu poder é diretamente função de
sua organização, isto é, de sua identificação enquanto grupo”.
Percebe-se, portanto, que as organizações têm a possibilidade de aliar suas atividades
operacionais com atitudes mais responsáveis socialmente, conscientizando grupos dentro de
suas estruturas, como também, na comunidade onde atua.
2.2 Contabilidade ambiental
A contabilidade é a ciência que estuda o patrimônio, com isso evidencia suas
variações, estabelece diretrizes para identificação, reconhecimento e mensuração, isso tudo
com o intuito de fornecer informações para a tomada de decisão. A contabilidade como
ciência apresenta condições, de dar alicerces no campo ambiental, com dados econômicos e
financeiros, como por exemplo, aqueles gerados a partir das organizações que utilizam da
exploração do meio ambiente.
Assim, a Contabilidade Ambiental possui como função registrar e mensurar os fatos
econômicos referentes ao meio ambiente. Segundo Ribeiro (1998, apud CUNHA et al, 2008),
o objetivo da contabilidade ambiental é identificar, para poder mensurar os processos
econômicos relacionados a medidas de proteção, preservação e recuperação ambiental, que
ocorreram em determinado período, e assim poder esclarecer a evidenciação da situação
patrimonial de uma entidade.
Com isso, a contabilidade, fornece informações mais claras e com melhores
fundamentos aos usuários internos e externos sobre os eventos ambientais que
proporcionaram mudanças na organização. Para Pfitscher (2004) a contabilidade e a
controladoria são modelos utilizados para gerenciar empresas. Logo o papel da controladoria
ambiental é de suma importância para estabelecer ferramentas que permitam criar controles
internos, fornecer informações aos usuários, principalmente aos gestores, para atender aos
preceitos ambientais.
Segundo Poletto e Morozini (2008), a responsabilidade de se ter um ambiente mais
estável não é só do indivíduo, e sim conjuntamente com as empresas. Muitas visam somente o
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lucro e esquecem o meio em que vivem, deixando assim um rastro de devastação a sua
volta. As organizações precisam reorientar as suas estratégias, criando assim um equilíbrio
entre o lucro operacional e meio ambiente, podendo os dois conviver em harmonia. Segundo
Donaire (1999, p. 13): “a empresa deve preocupar-se com a redução da pobreza, das
iniquidades sociais, da poluição, da degradação do meio ambiente, entre outros.”.
As empresas devem ter uma preocupação com a sociedade, e com o meio ambiente,
buscando fazer investimentos, mesmo que pequenos, nessas áreas, e investimentos como
estes, trazem muitos pontos positivos para as organizações.
2.3 Sustentabilidade ambiental e econômica
A sustentabilidade é um quesito que as organizações estão em uma busca incessante,
ser sustentável, ou seja, ser auto dependente, é o desejo da grande maioria das organizações.
No entanto, o desejo de desenvolver-se de forma sustentável não deve interferir no
desenvolvimento sustentável do outro. Seguindo este contexto, Little (1999) afirma:
“desenvolvimento sustentável é definido como um processo de satisfazer necessidades básicas
da população humana, sem comprometer relações futuras”. Assim, surgem encontros,
reuniões mundiais a fim de controlar melhor as atitudes das organizações para que as mesmas
cresçam sem atingir exageradamente o meio ambiente.
Além dos gastos efetuados nos processos produtivos diretamente identificados como
sendo ambientais, existem outros que, de alguma forma contribuirão para uma evolução do
relacionamento da empresa com seu ambiente natural e, indiretamente com a sociedade. Com
esse pensamento Paiva (2003, p. 32) afirma que “os gastos ambientais contribuem para a
formação, manutenção, recuperação ou degradação da reputação de uma empresa,
dependendo de sua essência e finalidade”.
Para conseguir uma estabilidade entre meio ambiente e os objetivos organizacionais, a
comunidade mundial estabelece limites, diretrizes, normas; além de incentivar através de
premiações, certificações e até a divulgação de uma imagem organizacional mais prestigiada,
o que reflete diretamente em uma vantagem competitiva perante o mercado.
Por fim, tanto empresa como sociedade recebe o ônus dessas atitudes. A empresa
quando tem a possibilidade de alavancar seus resultados através de uma gestão ambiental
consolidada e a população com os benefícios diretos e indiretos que pode ter; diretos quando a
empresa age ativamente na comunidade, e indiretos quando os recursos naturais tornam-se
menos escassos, por exemplo.
2.4 Sistema contábil gerencial ambiental - SICOGEA
Sistema contábil de gerenciamento ambiental – SICOGEA é um modelo desenvolvido
por Pfitscher (2004) para gerenciar os impactos ambientais através do envolvimento da
contabilidade e da controladoria ambiental. O objetivo é disponibilizar informações de cunho
ambiental e social necessários para o controle e a tomada de decisão.
O sistema é formado por três etapas: integração da cadeia produtiva; gestão de
controle ecológico; e gestão da contabilidade e controladoria ambiental. A primeira fase relata
os impactos gerados por cada fase do ciclo de produção ou prestação de serviço. Ocorre a
formação de grupos de trabalho para avaliar os efeitos ambientais, sociais e a verificação dos
interessados.
A segunda fase, gestão de controle ecológico, visa implantar a gestão ecológica e
social para minimizar ou eliminar os impactos decorrentes dos processos desenvolvidos pela
empresa. Nesta etapa ocorre ainda o mapeamento do sistema de produção ou de serviços, sua
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integração com todas as atividades para, assim, constituir o banco de dados da empresa,
que deve estar completo e atualizado.
A etapa denominada de gestão da contabilidade e controladoria ambiental, aplicada
depois de obter as informações, realiza a investigação e mensuração dos dados para elaborar a
lista de verificação. Com as informações, obtidas a partir da aplicação desta lista, são
efetuados os cálculos dos critérios e subcritérios adaptados à empresa e, para obtenção do
índice de sustentabilidade da empresa.
No entanto para fins deste estudo será aplicada apenas a primeira fase da terceira etapa
do SICOGEA geração um, e para os critérios: fornecedores, utilização do produto e
tratamento de separação do material reciclável, subcritérios: ecoeficiência da prestação de
serviço; aspectos e impactos ambientais durante a produção e prestação de serviços;
indicadores gerenciais; e recursos humanos na organização. A lista que foi aplicada, após
entrevista estruturada, busca verificar o comprometimento ambiental da associação de
catadores objeto de estudo.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Sobre a metodologia utilizada, quanto aos objetivos esta pesquisa é caracterizada
como descritiva, conforme Gil (2010), a pesquisa descritiva busca detalhar as características
de determinada população ou fenômeno. Ainda sobre este formato de estudo, o objetivo é
observar fatos, proceder com os registros, analisá-los, para assim poder proceder com a
classificação e interpretação, refletindo assim a realidade sem interferência do pesquisador
(ANDRADE, 2002).
A classificação quanto aos procedimentos técnicos é documental e estudo de caso,
pois é realizada através de visitas a associação de catadores para a realização de entrevistas
aos associados, bem como aplicação da lista de verificação. A abordagem do problema é
qualitativa, de acordo com Silva (2006, p.29) este forma de analisar os dados “[...] preocupase com o significado dos fenômenos e processos sociais, levando em consideração as
motivações, crenças, valores, representações sociais e econômicas, que permeiam a rede de
relações sociais”. Este modelo considera os agentes envolvidos, e busca descrever o
fenômeno e compreender os processos que o envolvem.
O estudo se estrutura em três fases. A primeira etapa traz uma breve introdução que
aborda o questionamento que originou o estudo e seu objetivo. Bem como um breve
referencial teórico sobre os temas ligados ao assunto. A segunda fase apresenta os dados, que
foram obtidos através da aplicação de entrevistas estruturadas, que foram respondidas pelos
membros da uma associação de catadores de lixo, e pela aplicação de uma lista de verificação
baseada no modelo SICOGEA. Pela terceira e última etapa são demonstradas as
considerações finais.
Logo após obter as respostas referentes a lista de verificação e identificados os itens
adequados, deficitários e não adaptados, é possível determinar o índice de sustentabilidade da
organização em estudo através da fórmula de cálculo proposta pelo método SICOGEA:
Índice de Sustentabilidade =______total de quadros A x 100_____
total de questões – total de quadros NA
A Tabela 1 exprime a interpretação conferida ao resultado obtido na aplicação da
referida fórmula.
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Tabela 1 - Avaliação da sustentabilidade e desempenho ambiental
Resultado
Sustentabilidade
Inferior
a
Deficitária – “D”
50%
De 51 a 70% Regular – “R”
Mais de 71%
Adequado – “A”
Desempenho:
competitiva
controle,
incentivo,
estratégia
Fraco, pode estar causando danos ao meio ambiente
Médio, atende somente à legislação
Alto, valorização ambiental com produção ecológica e
prevenção da poluição
Fonte: adaptada de Lerípio (2001) e Miranda e Silva (2002)
4 RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS
Nesta seção são apresentados os resultados colhidos através dos questionários
aplicados aos associados. E partindo disso, apresenta-se a análise dos resultados.
4.1 Breve histórico da associação pesquisada
A Associação de catadores objeto deste estudo iniciou suas atividades em 2002, em
um galpão construído no pátio da COMCAP – Companhia Melhoramentos da Capital, com o
objetivo de propiciar uma fonte de renda para famílias de uma comunidade carente. A obra foi
custeada por recursos oriundos de um projeto financiado pelo Banco do Brasil e coordenado
por uma professora do Instituto Federal de Santa Catarina.
Iniciou suas atividades com 34 integrantes, os associados foram cadastrados pela
Secretaria Municipal de Habitação sob a coordenação de assistentes sociais. No início a
associação contava com apenas uma prensa e a parceria da prefeitura municipal, que, além de
ceder o local para o galpão, ainda coletava o material reciclável e transportava até o referido
galpão.
No princípio a COMCAP subsidiava o transporte dos associados, disponibilizava o
ônibus utilizado para o transporte de seus funcionários, para que os associados se deslocassem
da comunidade onde moravam até o galpão de separação do lixo. Porém, após um período em
atividade, a própria associação passou a arcar com as despesas deste transporte.
Em 2004, a Prefeitura, construiu um galpão na própria comunidade, onde até hoje a
associação está instalada e desenvolve suas atividades através da atuação de 18 associados,
que realizam a triagem mensal e auferem renda para sustento de suas famílias. O transporte do
lixo, potencialmente reciclável, continua sendo fornecido pela prefeitura.
4.2 Investigação e diagnóstico dos dados
A informação sobre o volume mensal de material manipulado não é precisa, o
montante é estimado por parte dos associados, no entanto estes possuem pouca instrução e
seus registros são carentes de informação. Porém dados encontrados nos cadernos, utilizados
para registro de informação, possibilitam estimar que a quantidade de material recebido para
passar pelo processo de triagem é de aproximadamente 20 toneladas mensais.
Dentre o material recebido, segundo relatos dos associados, cerca da metade é
composto por produtos plásticos, o restante é constituído por alumínio, papel, papelão e
objetos para decoração entre outros. Um produto, para o qual não foram encontrados muitos
registros, é o vidro, fato este que, os associados acreditam estar relacionado a campanhas para
que não se coloque vidro em lixeiras comuns, para evitar acidentes de corte quando da coleta
do material pelos garis.
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Um fator interessante, percebido durante o estudo, é que a associação não mantém
registros sobre a quantidade de lixo comum (não reciclável), recebido juntamente com o
material reciclável. A devida mensuração poderia oferecer importante informação de auxílio
para realização de campanhas junto à comunidade, afim de melhorar a separação inicial do
lixo, feita ainda nas residências.
Sobre as atividades exercidas na associação, foram listados os seguintes processos:
primeiro ocorre a separação dos materiais recebidos, em seguida os materiais separados são
levados até a prensa, onde, em seguida é observada a saída do material, onde estes são
separados novamente, para em seguida serem vendidos. Importante destacar que, por senso
comum dos associados, todos são preparados para executarem todas as fases operacionais,
acreditam que desta forma o trabalho não se torna maçante, cansativo e repetitivo, de modo
que a produtividade não diminua.
A associação procura adaptar-se para atender todas as normas estipuladas pelos órgãos
fiscalizadores para proceder com a separação e armazenagem de material reciclável. Em
relação às condições de trabalho, são seguidas as diretrizes da CLT – Consolidação das Leis
de Trabalho, a carga de trabalho semanal é de 44 horas, de segunda a sábado. Sendo que, para
obtenção das informações necessárias para pesquisa, foi aplicado um questionário com 100%
dos associados.
A faixa etária dos associados é diversificada, a associação é composta tanto por
associados jovens quanto idosos. Porém a maior faixa etária é de colabores com idade
superior a 61 anos, estes representam 33% de toda amostra. A composição etária da
associação é apresentada na Figura 1.
Idade
18-25
26-35
36-50
51-60
mais de 61
6%
33%
22%
11%
28%
Figura 1 – Idade dos entrevistados.
Sobre o nível de escolaridade, constatou-se que nenhum associado tem o ensino médio
completo, e que a grande maioria nem completou o ensino fundamental. Logo, os
responsáveis pela administração da associação, são os associados que concluíram o ensino
fundamental. As informações sobre o nível de instrução dos associados constam na Figura 2.
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Escolaridade
Ensino Fundamental Incompleto
Ensino Fundamental Completo
17%
83%
Figura 2 – Idade dos entrevistados.
Geralmente quando se trata de estudos em comunidade carentes, os resultados
apontam famílias numerosas, porém esta não é a realidade verificada nas famílias que compõe
a associação. Dos associados apenas 5 tem família constituída, a maioria dos associados mora
sozinho, não tem companheira, nem filhos, como é possível observar na Figura 3. Para os
associados com filhos, a média é dois filhos por família, e nenhum deles trabalha na
associação ajudando seus pais.
Número de pessoas na família
1 - 2 pessoas
3 - 4 pessoas
5 - 6 pessoas
6%
22%
72%
Figura 3 – Número de pessoas da família
A associação tem como principal característica, a igualdade de remuneração para seus
integrantes, fato este que coopera para que todos desempenhem as tarefas de modo alternado e
que todos cumpram a mesma carga horária. Os responsáveis pela administração afirmam que
desta forma o trabalho coletivo é valorizado e respeitado por todos os associados. Pode
ocorrer que em algum período do ano a associação receba uma quantidade maior de material e
a renda aumente, mas de modo geral cada associado recebe um salário mínimo por mês.
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4.3 Apresentação e interpretação dos dados obtidos na aplicação parcial do SICOGEA
Com objetivo de verificar a sustentabilidade ambiental das atividades desenvolvidas
pela associação foi aplicada uma lista de verificação. Os critérios analisados foram:
fornecedores, utilização do produto e tratamento de separação do material reciclável, sendo
que para o último se adotou, ainda, os subcritérios: ecoeficiência da prestação de serviço;
aspectos e impactos ambientais durante a produção e prestação de serviços; indicadores
gerenciais e; recursos humanos na organização.
CRITÉRIO 1 – FORNECEDORES
1. O serviço de coleta executado pela prefeitura
obedece a alguma norma ambiental?
2. Há apenas um fornecedor de material
reciclável no mercado?
3. Os fornecedores apresentam preocupação
com o meio ambiente?
4. Para a extração/transporte/processamento/
distribuição da matéria prima é necessário
grande consumo de energia?
5. Os fornecedores de material reciclável estão
cientes do tratamento que é utilizado na
empresa?
SIM NÃO NA
OBSERVAÇÕES
A
D
A
A
A
Quadro 1: Lista de verificação – Critério 1 (Fornecedores).
Fonte: adaptado de Lerípio(2001) e Pfitscher(2004).
Com base no Quadro 1, pode-se calcular a sustentabilidade ambiental do critério 1 –
Fornecedores, a qual atingiu um índice de 80%, indicando que quanto ao critério
“fornecedores”, as atividades da associação se mostram adequadas, sendo que o único aspecto
que apresenta deficiência se relaciona ao fato de haver apenas um fornecedor de materiais
recicláveis, no caso a prefeitura municipal através da COMCAP.
CRITÉRIO 2 – TRATAMENTO DE SEPARAÇÃO DO MATERIAL
RECICLÁVEL
a) Ecoeficiência da Prestação de Serviço
SIM NÃO NA OBSERVAÇÕES
6. Os processos de separação do material são
A
poluente ou potencialmente poluentes?
7. A prestação de serviço é poluente ou
A
potencialmente poluente?
8. A associação utiliza produtos químicos na
A
limpeza dos materiais?
9. Existe geração de resíduos durante a
D
limpeza dos materiais recicláveis?
10. Existe geração de resíduos durante na
A
separação dos materiais recicláveis?
11. Os resíduos gerados são reaproveitados
D
na associação?
12. Os resíduos remanescentes são vendidos?
X
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13. Existe o conhecimento do que as empresas
compradoras fazem com os resíduos?
14. A associação atende integralmente as
normas relativas à saúde e segurança dos A
colaboradores internos e externos?
X
Quadro 2: Lista de verificação – Critério 2 – Subcritério A.
Fonte: adaptado de Lerípio(2001) e Pfitscher(2004).
Através dos dados apresentados no Quadro 2, calculou-se a sustentabilidade ambiental
do subcritério 2.a, que atingiu o índice de 71,43%, ou seja, em relação à ecoficiência da
prestação de serviços o resultado mostra que a associação está adequada, mesmo verificado o
não atendimento a dois aspectos da lista de verificação, quais sejam: a venda dos resíduos
remanescentes, e conhecimento do destino dado aos resíduos pelos compradores.
CRITÉRIO 2 – TRATAMENTO DE
RECICLÁVEL
b) Aspectos e impactos ambientais durante a
produção e prestação de serviços
15. Durante a limpeza existe controle da
poluição?
16. Durante a separação existe controle da
poluição?
17. Existe um alto consumo de água na
limpeza dos materiais?
18. Existe um alto consumo de energia elétrica
na separação?
19. Há controle, por parte da associação,
para amenizar a poluição sonora?
SEPARAÇÃO
SIM NÃO NA
DO
MATERIAL
OBSERVAÇÕES
A
A
D
A
D
Quadro 3: Lista de verificação – Critério 2 – Subcritério b.
Fonte: adaptado de Lerípio(2001) e Pfitscher(2004).
O Quadro 3, traz os dados utilizados para o cálculo da sustentabilidade do subcritério
2.b. O mesmo atingiu um índice de 60%, que é considerado regular. A associação precisa
rever seus processos para buscar uma formar de economizar água quando da limpeza dos
materiais utilizados.
CRITÉRIO 2 – TRATAMENTO DE SEPARAÇÃO DO MATERIAL
RECICLÁVEL
c) Indicadores gerenciais
SIM NÃO NA OBSERVAÇÕES
20. A associação está submetida a fiscalizações
por parte dos órgãos ambientais municipais, A
estaduais e federais?
21. A associação é ré em alguma ação judicial
referente a poluição ambiental, acidentes
A
ambientais e/ou indenizações trabalhistas
decorrentes?
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22. Já ocorreram reclamações sobre aspectos e
impactos o processo da prestação de serviços
por parte da comunidade vizinha?
23. Ocorreram acidentes ou incidentes
ambientais no passado?
24. São realizados investimentos sistemáticos
em proteção ambiental?
25. A eficiência da utilização de insumos e
matérias primas é observada?
26. A quantidade mensal de material e água
utilizada por unidade de material reciclável é
crescente?
A
A
D
D
A
Quadro 4: Lista de verificação – Critério 2 – Subcritério c.
Fonte: adaptado de Lerípio(2001) e Pfitscher(2004).
O Quadro 4 trata do subcritério indicadores gerenciais, o qual apresentou um índice de
71,43%, e conforme o resultado do cálculo, os indicadores gerenciais estão adequados. No
entanto, conforme a lista de verificação, a associação apresenta dois pontos deficitários. O
primeiro trata da realização de investimentos sistêmicos em proteções ambientais, e o segundo
diz respeito à observação da eficiência da utilização de insumos e matérias primas.
CRITÉRIO 2
RECICLÁVEL
–
TRATAMENTO
DE
d) Recursos Humanos na Organização
SEPARAÇÃO
SIM NÃO NA
27. A diretoria se mostra efetivamente
comprometida com a gestão ambiental?
28. O corpo funcional apresenta efetivamente
comprometido com a gestão ambiental?
29. A área de Recursos humanos está ciente da
utilização das atividades de combate à poluição A
ao meio ambiente?
30. A mão de obra empregada é altamente
especializada?
31. Os colaboradores estão voltados às
inovações tecnológicas?
32. A criatividade é um dos pontos fortes da
organização e de seus colaboradores?
33. Existe uma política de valorização do
capital intelectual?
34. A associação oferece participação nos
lucros ou outras formas de motivação aos
colaboradores?
DO
MATERIAL
OBSERVAÇÕES
D
D
D
D
D
D
D
Quadro 5: Lista de verificação – Critério 2 – Subcritério d.
Fonte: adaptado de Lerípio (2001) e Pfitscher (2004).
Sobre o subcritério 2.d, exposto no Quadro 5, o resultado foi de 12,50%, o qual
demonstra que quando se trata da gestão dos recursos humanos envolvidos, a organização é
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deficitária, e este é um ponto que precisa de atenção para não prejudicar as atividades
futuras da associação.
Por fim, o índice de sustentabilidade total para o critério 2, considerando todos os seus
subcritérios, foi de 51,85%. Esse resultado indica que a associação deixa a desejar na questão
de tratamento e separação do material reciclado, que é a atividade fim da empresa.
CRITÉRIO 3 - UTILIZAÇÃO DO
SIM NÃO NA
PRODUTO
35. O consumidor tradicional do produto tem
disponibilidade de algum serviço sobre
D
questionamento de qualidade do produto?
36. O produto é perigoso ou requer atenção e
A
cuidados por parte dos usuários?
37. A utilização dos produtos ocasiona impacto
ou risco potencial ao meio ambiente e aos seres
A
humanos?
38. O produto situa-se em um mercado de
D
alta concorrência?
39. O produto apresenta consumo intensivo
D
(artigo de primeira necessidade)?
40. O produto apresenta características de alta
A
durabilidade?
41. O consumidor final está ciente da forma
D
como é feita a limpeza dos materiais?
42. O consumidor final está ciente da forma
D
como é feita a separação dos materiais?
OBSERVAÇÕES
Quadro 6: Lista de verificação – Critério 3
Fonte: adaptado de Lerípio(2001) e Pfitscher(2004).
Quanto ao índice de sustentabilidade do critério “Utilização do Produto”, chegou-se ao
resultado de 37,50%. Em relação à utilização do produto pode-se concluir que este critério
precisa de mais atenção, pois se tiver uma melhor divulgação do produto, o mesmo terá maior
procura.
Por fim, calcula-se a sustentabilidade global da associação, obtendo-se o valor
correspondente a 52,50%, o qual se pode afirmar que a associação tem certa preocupação com
a sustentabilidade, porém precisa melhorar alguns pontos, principalmente quando se trata da
utilização dos produtos e dos recursos humanos.
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Prioridade Critério
Primeiro
Fornecedores
Segundo
Terceiro
Subcritérios
Resultado Sustentabilidade
80,00%
Adequada
Ecoeficiência
da
prestação de serviço;
aspectos e impactos
Tratamento
ambientais durante a
de separação
produção e prestação de 51,85%
Regular
do material
serviços;
indicadores
reciclável
gerenciais; e recursos
humanos
na
organização.
Utilização do
37,50%
Deficitária
produto
Quadro 7: Prioridades de atendimento
Fonte: Dados pesquisados
Em resumo, pode-se concluir que o terceiro critério, o que trata a “Utilização do
produto” é o que apresenta o pior resultado, portanto necessita de certa atenção em prol da
otimização desse critério. O segundo critério que apresentou pior índice foi o de “tratamento e
separação do material reciclado”. E o critério que demonstrou melhor resultado segundo a
lista de verificação foi o de fornecedores, com um percentual de 80%.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A constante difusão do tema meio ambiente, sustentabilidade e lixo na mídia,
representa o destaque e a importância que esses assuntos tem na atualidade, e a necessidade
de elaborar trabalhos científicos a respeito do mesmo. Assim, vislumbrou-se na associação de
catadores de lixo um exemplo de como uma organização pode gerir-se e ainda sustentar as
causas ambientais.
A associação funciona em função da prefeitura pois fez um acordo com a prestadora
de serviço de coleta de lixo, onde recebe mensalmente um percentual das coletas. Assim, gera
emprego na comunidade onde atua, ajudando na renda dos associados, os quais em média
recebem um salário mínimo por mês trabalhado.
A comprovação da essencialidade dessa organização sustenta-se na quantidade de
material que passa pela associação mensalmente, sendo que mesmo os associados não tendo o
número exato, estima-se que os materiais coletados representam aproximadamente 20
toneladas de recicláveis. Percebe-se portanto, que a associação beneficia, também, a
comunidade como um todo, quando destina de forma mais correta os resíduos com potencial
para a reutilização ou o reaproveitamento
Ademais, quanto ao objetivo geral da pesquisa, de verificar a sustentabilidade
ambiental e econômica de uma associação de catadores de lixo localizada em uma cidade
catarinense, constatou-se que o índice global de sustentabilidade da associação é de 52,50%, o
qual indica um status quo regular, ou seja, a entidade apresenta um desempenho médio que
apenas atende a legislação vigente.
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