DO REAL AO VIRTUAL: o uso de objetos virtuais e applets no Curso de Matemática
à distância da Universidade Federal de Sergipe
Fábio Costa Figueirôa1
RESUMO
Este trabalho, ainda em andamento, pretende lançar um olhar sobre as tecnologias
digitais, a respeito de técnicas de ensino com o uso de Objetos Virtuais para a
Aprendizagem (OVA) e Applets em salas de aula on-line formatadas na plataforma
Moodle. Tem como objetivo principal, analisar se a inclusão desses elementos com
recursos de áudio, vídeo, flash e infográficos no curso de graduação à distância em
Matemática da Universidade Federal de Sergipe permitirá aos estudantes um aprendizado
mais eficaz e eficiente sobre os assuntos ministrados pelos professores.
Palavras Chave: Applets. Matemática. Objetos Virtuais de Aprendizagem.
ABSTRACT
This work, still in progress, aims to cast a glance on digital technologies, about teaching
techniques with the use of Virtual Objects for Learning (OVA) and Applets in classrooms
formatted online in the Moodle platform. Its main objective is to examine whether the
inclusion of these elements with features of audio, video, flash and infographics in
undergraduate distance in Mathematics, Federal University of Sergipe allow students a
more effective and efficient learning on the subjects taught by teachers.
Keywords: Applets. Mathematics. Virtual Learning Objects.
1 INTRODUÇÃO
A luta e a persistência do homem em criar meios de registrar e passar adiante
informações são tão antigas quanto a sua existência. A linguagem através de gestos,
sinais de fumaça, pinturas, desenhos nas rochas e da escrita são exemplos de
comunicação desde os primórdios da humanidade. Dos meios de comunicação mais
antigos até os modernos (imprensa, telégrafo, cinema, rádio, televisão e internet),
observa-se que, em qualquer época, o ser humano busca transmitir informações e obter
conhecimento, por meio de tecnologias. As Tecnologias de Informação e Comunicação
(TIC), a exemplo da internet, têm possibilidades de levar conhecimento para os lugares
1
Graduado em Comunicação Social (1998), Mestre em Educação (2004/UFS), Doutorando em Educação
Matemática pela Universidade Bandeirante de São Paulo (UNIBAN), Tutor à Distância e Coordenador
Acadêmico do Instituto Educar (http://www.cursoseducar.com.br) E-mail: [email protected]
302
mais longínquos e até mesmo diminuir distâncias, facilitando o acesso à educação. Mas
ainda são pouco utilizadas como suporte ao ensino presencial. Entendemos que isso
ocorra porque não há uma familiaridade entre essa tecnologia e docentes dos diversos
níveis de ensino.
Mesmo assim, é possível afirmar que as Tecnologias da Informação e da
Comunicação podem levar à constituição de novos espaços de
conhecimento, contribuindo para a busca de caminhos que favoreçam a
democratização e a universalização da educação (LIMA & BOLAÑO, 2001,
p. 27).
Cada vez mais a sociedade se insere nesse novo contexto web, por isso a
necessidade
dos
professores
e,
mais
especificamente,
dos
de
Matemática,
acompanharem esse crescimento, procurando adaptar-se às novas demandas que
crescem gradativamente em todo o mundo. Desse modo, partimos do pressuposto de que
os profissionais de hoje precisam compreender que, além dos princípios básicos da
Matemática, necessitam reformular seus processos e interagirem nesse contexto de
mudanças tecnológicas. Criar espaços criativos, flexíveis, dinâmicos e participativos,
valorizando a inteligência coletiva e com foco no aluno, também faz parte dos desafios da
era digital para os profissionais da Matemática dos dias atuais.
A Educação a Distância (EaD), com o passar do tempo, desde o século XVIII2,
vem crescendo de forma proporcional com o aprimoramento das tecnologias e dos seus
avanços no campo das técnicas de ensino on-line. A EaD trabalha com dois tipos de
comunicação como seus pilares no desenvolvimento do ensino para se atingir a
aprendizagem dos discentes: a síncrona e a assíncrona. A primeira é a comunicação em
tempo real, on-line, o que interpretamos também de ao vivo, onde os interlocutores
podem trocar informações no mesmo instante, a exemplo do chat (bate-papo) ou
videoconferência. Essas ferramentas são utilizadas pelos docentes para aplicar a
sincronia desejada. A segunda é uma comunicação intermitente, na qual os interlocutores
necessitam esperar pela resposta. O e-mail é um tipo de comunicação assíncrona, como
também a ferramenta fórum, onde os participantes, em um Ambiente Virtual de
2
Um jornal da cidade de Boston, a Gazeta de Boston, nos EUA, precisamente em 20 de março de 1728,
trouxe um aviso de mudança de endereço do professor de taquigrafia Cauleb Phillips, que dizia: “toda
pessoa da região, desejosa de aprender essa arte, pode receber em sua casa várias lições semanalmente e
ser perfeitamente instruída, como as pessoas que vivem em Boston”. Este anúncio é tido como o mais
antigo comercial de um curso por correspondência que se tem registro. Disponível em:.
<http://www.inep.gov.br/download/cibec/1996/periodicos/Aberto70.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2004.
303
Aprendizagem (AVA), fazem questionamentos, tutores aplicam atividades ou tarefas,
gerando uma interatividade, mas de forma off-line.
A eficácia dessas ferramentas está sendo constatada por este pesquisador no
curso de graduação presencial em Museologia, da Universidade Federal de Sergipe
(campus de Laranjeiras), com a implantação de um AVA. Para a criação das salas
virtuais, onde cada disciplina tem o seu espaço on-line, a exemplo das de Produção de
Texto I, Tópicos Especiais em Educação e Comunicação em Museus, Educação Especial
em Museus, Introdução aos Estudos Acadêmicos, entre outras, está no ar o site Museus
em Sergipe3. Ele pode ser acessado por todos os alunos devidamente matriculados no
curso, mas para isso, é necessário um cadastramento com base em um nome de usuário
(login) e senha.
Atuar com salas virtuais no ensino presencial tem sido uma oportunidade
enriquecedora para os discentes. Com um AVA servindo como repositório
de conteúdos, com possibilidades do professor realizar atividades a
distância, essa técnica demonstra que, pela constante participação, os
alunos vêm desenvolvendo aprendizagens significativas a cada semestre.
Além de facilitar na produção do conhecimento, o AVA possibilita que os
alunos possam acessar todo o conteúdo ministrado pelo professor, de
qualquer lugar, a qualquer hora, bastando apenas um computador com
acesso à internet... Até o fim do primeiro semestre de 2011, no curso de
Museologia da UFS, já estudaram com o auxílio da internet, pouco menos
de cem alunos (FIGUEIRÔA, 2011, p. B-4).
Observando essa experiência, fica claro perceber que as TIC contribuem para o
desenvolvimento das atividades em um Ambiente Virtual de Aprendizagem durante a
realização de cursos à distância e no apoio aos presenciais. Como pensa Lévy,
as relações entre o homem, o trabalho, a própria inteligência dependem,
na verdade, da metamorfose incessante de dispositivos informacionais de
todos os tipos. Escrita, leitura, visão, audição, criação, aprendizagem são
capturados por uma informática cada vez mais avançada (LÉVY, 1993, p.
4).
3
As salas virtuais do site Museus em Sergipe foram criadas na plataforma Moodle, disponibilizando todo o
conteúdo das disciplinas ministradas para os alunos devidamente cadastrados terem acesso. Disponível
em:. <http://ww.infonet.com.br/museusemsergipe/salavirtual >. Acesso em: 26 out. 2011.
304
Figura 1 – Interface da Sala Virtual do curso de Museologia da UFS
Fonte: http://www.infonet.com.br/museusemsergipe/salavirtual
Esta pesquisa ainda está em fase inicial, mas já é possível demonstrar o valioso
papel das salas virtuais. Entende-se que esses espaços de conhecimento on-line devem
ser considerados, não apenas como mais um recurso e, sim, como a parte principal
durante a realização de um curso de graduação à distância. Este trabalho, que compõe os
primeiros apontamentos da tese de doutoramento do autor em Educação Matemática,
pela Universidade Bandeirante de São Paulo (UNIBAN), dá início a uma discussão sobre
este cenário, em particular, no curso de graduação à distância em Matemática da
Universidade Federal de Sergipe. Pensando assim, analisaremos os seguintes
problemas:
1)
A utilização somente de conteúdos impressos, técnica tipicamente
empregada, na sua grande maioria, pelo ensino presencial, postados nas salas virtuais do
curso de graduação à distância em Matemática da UFS, instaladas na plataforma
Moodle4, e sem nenhuma interatividade, poderá garantir também um desenvolvimento
eficaz e eficiente do ensino por parte dos docentes e da aprendizagem pelos discentes?
4
O Moodle é um Ambiente Virtual de Aprendizagem que pode ser utilizado tanto para o ensino a distância
quanto para complementação das atividades de educação presencial e treinamento de profissionais em
empresas especializadas. Outras informações no http://www.moodle.org.br
305
2)
Fora da era tecnológica, sem a utilização de Objetos Virtuais de
Aprendizagem e de Applets5, o curso de graduação à distância em Matemática da
Universidade Federal de Sergipe terá possibilidades de transmitir conhecimento em
diversas disciplinas, tipo Cálculo I, Vetores e Geometria?
Figura 2 – Applets da função polinomial do primeiro grau
Fonte: http://ecalculo.if.usp.br/funcoes/primeirog/situacoes/applet.htm
Figura 3 – Applets da função polinomial do segundo grau
Fonte: http://ecalculo.if.usp.br/funcoes/segundog/links/applet.htm
5
Applets são animações em java que possibilitam a interação do usuário, sendo ferramentas importantes
para
a
construção
dos
significados
de
determinados
conceitos.
Disponível
em:.
<http://ecalculo.if.usp.br/index.htm>. Acesso em: 26 out. 2011.
306
Para isso, pretendemos alcançar o seguinte objetivo geral:
1)
Analisar se a inclusão de Objetos Virtuais para a Aprendizagem com o
uso de áudio, vídeo e infográficos e de Applets no curso de graduação à distância em
Matemática da Universidade Federal de Sergipe permitirá aos estudantes, um melhor
aprendizado dos assuntos ministrados pelos professores, contribuindo assim, para o
conhecimento de uma Educação Matemática eficaz e eficiente.
Como consequência, os objetivos específicos deste trabalho estão assim
determinados:
1)
Identificar se os alunos vão participar mais efetivamente, acessando o
Ambiente Virtual de Aprendizagem e os conteúdos postados na sala de aula on-line das
disciplinas, do curso de graduação à distância em Matemática da UFS;
2)
Analisar se o uso das tecnologias digitais pode contribuir para o
desenvolvimento do ensino dos professores e da aprendizagem dos alunos à distância
nas disciplinas do curso de Matemática da UFS;
3)
Averiguar se a criação de um banco de dados digital com registros e
informações em formato de áudio, vídeo e infográficos, na plataforma Moodle, sobre os
conteúdos de disciplinas da Matemática, poderá transmitir conhecimento semelhante ao
praticado pelo ensino presencial, onde há a presença contínua de um docente em sala de
aula.
A metodologia utilizada no presente estudo, que ainda está em pleno
desenvolvimento, será delineada para nortear a análise sobre a importância em se
trabalhar com objetos de aprendizagem na sala de aula virtual do curso de graduação à
distância em Matemática da UFS e facilitar o ensino dos professores e a aprendizagem
dos alunos. O trabalho está sendo realizado por meio de artigos, livros especializados,
dissertações de mestrado, teses de doutorado e materiais disponíveis na internet. No
término, o estudo apresentará características qualitativas, optando-se pelo Estudo de
Caso, categoria de pesquisa que tem por objetivo uma unidade que se quer analisar
profundamente. Nesse caso, a unidade aqui se refere apenas ao curso à distância em
Matemática da Universidade Federal de Sergipe. “O interesse do pesquisador recai sobre
a vida de uma instituição. A unidade pode ser uma escola, uma universidade, um clube
etc” (TRIVIÑOS, 1990, p. 35).
O estudo de casos histórico-organizacionais toma a unidade escolhida como foco
do interesse, partindo-se, então, do conhecimento existente sobre a organização que se
307
pretende pesquisar. Assim, as fontes primárias, como os documentos institucionais de
implantação da EaD na UFS, através do CESAD6, os conteúdos impressos do curso de
Matemática instalados na plataforma Moodle e entrevistas com professores, alunos e
tutores da instituição, serão tomados como ponto de partida e essencial para as
definições sobre os encaminhamentos do presente trabalho. Para isso, serão utilizadas
duas fases como método de estudo: uma em que apresentaremos o Estado da Arte da
EaD no mundo e no Brasil, através de pesquisas bibliográficas e experiências; e da
importância em se trabalhar com a linguagem audiovisual; e a segunda, na qual os dados
do Estudo de Caso vão ser tratados quantitativa e qualitativamente para cumprir os
objetivos propostos.
2 DESENVOLVIMENTO
Após anos de prática e experiências em todo o mundo de ensino à distância, a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) que define e regulariza o sistema de educação
brasileiro com base nos princípios presentes na Constituição Federal, em 1996, enfim,
reconheceu a Educação a Distância como uma modalidade de ensino tão válida quanto à
presencial. Esse fato, sem dúvida, trouxe à EaD um avanço inimaginável há poucos anos,
tanto em número de cursos quanto em instituições renomadas que passaram a ofertá-la.
De acordo com o que pensa o filósofo francês Pierre Lévy (1999), os sistemas de
educação e formação necessitam de novas reformas.
A educação aberta e a distância precisam ser assimiladas e incorporadas ao dia a
dia do ensino, transformando-se assim, numa nova forma de pedagogia onde o docente
não consiste mais como o detentor de conhecimento e, sim, passa a ser um “animador da
inteligência coletiva de seus grupos de alunos, em vez de um fornecedor direto de
conhecimentos” (LÉVY, 1999, p. 158). Lévy acredita que isso só é possível por meio das
ferramentas tecnológicas da informática. Moran (1997), em seu trabalho Como Utilizar a
Internet na Educação, ratifica a importância das instituições saberem trabalhar com
ambientes virtuais e como escolher, integrar e para que utilizar cada ferramenta de
comunicação em um curso à distância.
6
Centro de Educação a Distância da Universidade Federal de Sergipe. Outras informações no
http://www.cesad.ufs.br
308
Acreditamos que o ensino e a aprendizagem da Matemática são, até os dias de
hoje, um verdadeiro tabu entre os professores e discentes de todos os níveis
educacionais, desde o básico até o superior. Percebemos que a grande maioria dos
alunos assimila a disciplina como um conjunto de fórmulas que precisam ser decoradas
para solucionar os problemas e exercícios apresentados pelo professor em sala de aula.
A Matemática não está sendo entendida por meio de sua estrutura lógica e nem por sua
própria linguagem.
Não só na Matemática, mas em diversas disciplinas que envolvem cálculos e
regras, a metodologia tradicional de ensino à distância que utiliza na sua grande maioria,
conteúdos textuais, como apostilas e livros em formatos Word e PDF, tem se apresentado
como insuficientes para atender as aflições enfrentadas pelos alunos na hora de resolver
questões de Geometria, Cálculo, Trigonometria, Probabilidade e Estatística, entre outras.
Com isso, torna-se inevitável uma busca por alternativas metodológicas que favoreçam
melhor a compreensão da Matemática.
A Matemática deve ser compreendida assemelhando-se à linguagem jornalística,
de forma precisa, direta, clara, exata, concisa e objetiva. A sua compreensão implica
principalmente no domínio dessa linguagem. Assim, entender Matemática não significa
efetuar apenas cálculos corretamente, mas saber expressar-se corretamente através de
sua linguagem. Desse modo, percebemos que a relação do ensino (professor) e da
aprendizagem (aluno) da Matemática precisa contar com a ajuda de ações de
interatividade com o uso de áudio, vídeo e infográficos, através de atividades que
apresentem a argumentação e justificativa, de modo a incentivar a turma a refletir e
entender melhor as operações matemáticas em toda a sua essência. Em função disso,
como se constrói o conhecimento matemático?
Para Piaget (1983), na obra A Epistemologia Genética, o desenvolvimento
cognitivo defende a ideia de que a ação é a força propulsora do desenvolvimento
humano. O autor coloca que a aprendizagem ocorre a partir das ações do sujeito sobre o
meio. Esta aprendizagem acontece devido ao sujeito viver em busca de um equilíbrio com
seu ambiente. Sempre que este equilíbrio é perturbado pela presença de uma nova
situação, ainda não vivenciada pelo sujeito, este entra em conflito cognitivo. E é
justamente na busca pelo re-equilíbrio que o sujeito constrói novas estruturas cognitivas e
avança no seu conhecimento. O mesmo ocorre com a construção do conhecimento
matemático: a cada novo problema, situações, questões, o aluno é chamado para
309
resolvê-lo. Mas para resolver o problema, o que é necessário? Este trabalho mostra que
novas estruturas podem ser construídas e que permitam aos alunos enfrentá-las, sem
necessariamente precisar da intervenção síncrona do docente, de forma a solucionar e
atingir aprendizagens significativas.
Alguns autores apontam que para aprender Matemática é importante desenvolver
as capacidades de expressão, argumentação e justificativa. Com isso, entendemos que
os Ambientes Virtuais de Aprendizagem são uma válvula de escape para incentivar e
desenvolver essas habilidades, mas sempre possibilitando a visibilidade de objetos para a
aprendizagem em formatos de áudio, vídeo e infográficos. Alan Schoenfeld 7 (1985) afirma
que são necessários quatro pilares de conhecimento ou habilidades para alguém ser bem
sucedido na Matemática: Recursos (conhecimento de procedimentos e questões da
matemática); Heurísticas (estratégias e técnicas para resolução de problemas, tais como
trabalhar o que foi ensinado ou desenhar figuras); Controle (decisões sobre quando e
quais recursos usar) e Convicções (determina como alguém aborda um problema). Com
isso, percebemos, por Schoenfeld, que o uso de desenhos e figuras, além de saber quais
recursos utilizar, são fundamentais para se resolver problemas ou questões matemáticas.
Sendo assim, podemos afirmar que o uso de OVA em cursos à distância deve ser
empregado para facilitar a aprendizagem dos discentes. Para Mercado (2008), os OVA
podem ser classificados em simples (com um tipo de mídia agregada) e compostos
(misturando textos, imagens dinâmicas e simulação).
Este trabalho, ainda em andamento, pretende lançar um olhar sobre as
tecnologias digitais, a respeito de técnicas de ensino, uso de Objetos Virtuais para a
Aprendizagem e Applets em salas de aula on-line formatadas na plataforma Moodle.
Utilizando a técnica de levantamento de dados por meio da Observação Assistemática8,
percebemos que em cursos de graduação e pós-graduação da Universidade Federal de
Sergipe (UFS) na modalidade a Distância, continua-se utilizando estratégias de ensino
típicas da educação presencial. O AVA torna-se um mero repositório de conteúdos de
textos. Com isso, podemos perceber que a EaD no curso de Matemática na UFS, objeto
7
Alan Schoenfeld é matemático americano e pesquisador em desenvolvimento cognitivo. Defende a tese de
que a compreensão e o ensino da Matemática devem ser abordados como um domínio de resoluções de
problemas.
8
A observação é uma técnica científica que utiliza o sentido visual para obter informações da realidade.
Como diz Triviños (1987), não é simplesmente olhar, mas destacar em um conjunto objetos, pessoas,
animais, algo específico, prestando atenção em suas características, como cor, aroma e tamanho, dentre
outras. Esta é a única técnica utilizada na pesquisa social que capta diretamente o fenômeno sem a
intermediação de um documento (questionário) ou de um interlocutor (entrevistador).
310
de pesquisa deste trabalho, utiliza tal plataforma apenas como um acessório. Neste caso
específico, o ensino on-line ainda fica focado nos textos. De acordo com o artigo Práticas
Pedagógicas de Matemática em Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), os OVA no
curso de Matemática, administrado pelo CESAD, ainda não são populares entre os
professores:
Os OVA ainda não se popularizaram nas práticas pedagógicas dos
professores, e no CESAD, a “novidade” naquela fase inicial de implantação
dos cursos não foi assimilada prontamente. (....) No curso de Matemática,
algumas iniciativas foram realizadas muito mais como postagens de
exercícios, muitas vezes lineares, de natureza exploratória dos conteúdos
trabalhados (SOBRAL, 2010, p. 48).
Sobral (2010) identificou ainda que a dinâmica de organização do curso de
Matemática,
administrado
pelo
CESAD,
deu-se
da
seguinte
forma:
os
professores/coordenadores de disciplina, escolhidos entre seus pares nos respectivos
departamentos, escreviam o material impresso, mediante preparação e orientação da
Coordenação de Material Impresso. O referido material era xerografado e distribuído nos
polos onde ocorria o vestibular da universidade. A Plataforma Moodle era organizada pela
Coordenação de Tecnologias da UFS, com a distribuição das atividades didáticopedagógicas
por
polo
e
disciplina,
de
responsabilidade
também
do
professor/coordenador. Os tutores à distância eram preparados para utilizar tanto o
material impresso quanto a se movimentar no Moodle, acompanhando, orientando e
tirando dúvidas dos alunos a respeito dos conteúdos do módulo que era trabalhado a
cada semestre nas respectivas disciplinas.
Neste artigo de Sobral, fica claro que de hipótese alguma são utilizados objetos
de aprendizagem que se expressam, comunicam e interajam com os alunos. Isso
demonstra a importância deste trabalho para o curso de Matemática a distância da UFS.
Para o filósofo francês Pierre Lévy (2003), em A Inteligência Coletiva: por uma
antropologia do ciberespaço, no que diz respeito ao pensamento coletivo, acredita que
fora da coletividade, desprovido de tecnologias intelectuais (oralidade, escrita e
informática) não é possível pensar. Para ele o pensamento já é sempre a realização de
um coletivo.
311
3 CONCLUSÃO
As TIC articulam várias formas eletrônicas de armazenamento, tratamento e
difusão do conhecimento. Tornam-se mediáticas após a união da informática com as
telecomunicações e os audiovisuais. As TIC que utilizamos diariamente, como a internet,
por exemplo, oferecem novas formas de aprendizagem. A democratização do acesso a
esses produtos tecnológicos é um grande desafio para a sociedade atual, demanda
esforços e mudanças nas esferas cultural, social, política e educacional. As Tecnologias
de Informação e Comunicação apresentam-se como um recurso valioso para o
aprendizado significativo de estudantes de cursos à distância. Segundo Paiva (2008), o
surgimento da Word Wide Web fez multiplicar o número de informações disponíveis e,
aos poucos, os sites de busca foram ganhando sofisticação, o que era disperso, passou a
ser encontrado, e a tecnologia de indexação continua a evoluir.
Os últimos anos que a sociedade vem passando estão sendo marcados por
mudanças significativas e grandes evoluções tecnológicas. As mudanças no campo das
ciências, da medicina e, principalmente, da informática são frequentes. A sociedade já
viveu vários tipos de revolução: a industrial, das telecomunicações e atualmente, a
revolução da informação. Vivemos na era da informação, na qual a rede mundial de
computadores será à base de recepção e transmissão de dados.
A internet vem evoluindo a cada dia. Novas funções e usos são acrescentados
aos mecanismos de busca e utilizados como fontes de informações, entretenimento,
serviços, educação e comunicação entre as pessoas.
A Internet tem tido um índice de penetração mais veloz que qualquer outro
meio de comunicação na história: nos Estados Unidos, o rádio levou 30
anos para chegar a sessenta milhões de pessoas; a TV alcançou esse
nível de difusão em 15 anos; a Internet fez em apenas 3 anos [...] O
resto do mundo está atrasado em relação à América do Norte e os
países desenvolvidos, mas o acesso à Internet e seu uso os estavam
alcançando rapidamente nos principais centros metropolitanos de todos
os continente (CASTELLS, 1999, p. 439).
Com a evolução das tecnologias, o homem acompanha ou pelo menos tenta
acompanhar essa inovação de acordo com a sua época. O crescimento tecnológico gera
um novo comportamento entre os indivíduos de uma sociedade. As Novas Tecnologias de
Informação e Comunicação estão surgindo com uma rapidez impressionante. A
312
nanotecnologia está criando diversos equipamentos que vão desde os telefones celulares
que possuem câmeras de fotografia, áudio, vídeo e internet, aos novos softwares de
computadores multimídia, principalmente os que possibilitam uma interação para o
desenvolvimento do ensino e da aprendizagem.
Com o desenvolvimento desta pesquisa, será possível descobrir as respostas dos
objetivos propostos, se as técnicas de EaD aplicadas no curso de graduação à distância
em Matemática da UFS estão sendo aplicadas corretamente e se o aprendizado é
suficiente, apenas sendo trabalhado com materiais impressos postados no AVA, sem
nenhum uso de Applets ou objetos para a aprendizagem em formato de áudio, vídeo e
infográficos. Além de apontar novas formas de se trabalhar com a EaD nos cursos da
instituição. O trabalho pretende ainda entender como os discentes do curso à distância
em Matemática da UFS produzem respostas ou significados e metáforas aos conteúdos
postados no AVA nos formatos Word ou PDF para os conceitos de disciplinas tipo Cálculo
I, Vetores, Geometria, Probabilidade e Estatística, entre outras. Com isso, utilizaremos a
Teoria da Cognição Corporificada (Lakoff & Johnson (2001), Lakoff & Núñez (2000)). “As
Metáforas Conceituais são construtos que podem ajudar essa compreensão” (GOIOS,
2010, p. 21). Segundo Lakoff e Johnson:
A metáfora é, para a maioria das pessoas, um recurso da imaginação
poética e um ornamento retórico – é mais uma questão de linguagem
extraordinária do que de linguagem ordinária. Mais do que isso, a metáfora
é usualmente vista como uma característica restrita à linguagem, uma
questão mais de palavras do que de pensamento ou ação. Por essa razão,
a maioria das pessoas acha que pode viver perfeitamente bem sem a
metáfora. Nós descobrimos, ao contrário, que a metáfora está infiltrada na
vida cotidiana, não somente na linguagem, mas também no pensamento e
na ação. Nosso sistema conceptual ordinário, em termos do qual não só
pensamos, mas também agimos, é fundamentalmente metafórico por
natureza (LAKOFF & JOHNSON, 2001, p. 39, apud GOIOS, 2010, p. 21).
Este artigo fará parte da tese de doutoramento deste autor e vai comprovar que
discussões e ensinamentos das ciências exatas aplicados em cursos à distância, a
exemplo das disciplinas de graduação em Matemática da UFS, podem ser melhorados,
caso venham contar com recursos inerentes aos objetos virtuais. Após a conclusão do
Doutorado em Educação Matemática, esperamos grandes resultados profissionais, entre
eles, criar nas salas virtuais do Moodle, no curso de graduação à distância em
Matemática da UFS, Objetos Virtuais para a Aprendizagem em formatos de áudio, vídeo e
313
infográficos, além de Applets para gerar conhecimentos significativos na relação ensino e
aprendizagem entre os docentes e alunos. Ainda fará parte deste trabalho, a consulta
constante de autores que trabalham com o tema pesquisado direta ou indiretamente,
como: Barto, Bolite, Borba, Villarreal, Ringer, Bicudo, Zulatto, Miskulin, Mometti, entre
outros.
4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura. Lisboa:
Fundaçao Calouste Gulbekian, 1999.
FIGUEIRÔA, F. C. Técnicas de Ensino On-line: uma experiência no curso de
Museologia da UFS. Jornal da Cidade, Aracaju/SE, p.B-4, 7 jul. 2011.
GOIOS, Douglas Ferreira. Potencialidades didático-pedagógicos de um objeto para
aprendizagem: uma análise através da Teoria da Cognição Corporificada para o ensino
de trigonometria. Dissertação apresentada ao programa de pós-graduação Stricto Sensu
em Educação Matemática da UNIBAN. São Paulo, 2010.
LAKOFF, G.; JOHNSON, M. apud GOIOS. Metáforas de La Vida Cotidiana. Tradução
Carmen González Marín, SP – Ediciones Cátedra - 2001.
LAKOFF, George; NÚNEZ, Rafael E. apud GOIOS. Where Mathematics – Comes From
– How the Embodied Mind Brings Mathematics into Being. – Basic Books, 2000.
LÉVY, P. As Tecnologias da Inteligência: o futuro do pensamento na era da informática.
Rio de Janeiro: Editora 34, 1993.
LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.
LÉVY, P. A Inteligência Coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 4. ed. São
Paulo: Loyola, 2003.
LIMA, Maria de Fátima; BOLAÑO, César. Mundo do Trabalho e Educação a Distância.
In Comunicação & Educação: Revista do Curso de Gestão de Processos
Comunicacionais. ECA – USP. Artigo Nacional; São Paulo, Ano VII, jan./abr. nº 20 p.2132. 2001.
MERCADO, Luís Paulo Leopoldo (org.). Explorando objetos virtuais de aprendizagem
na área de Física, Química, Biologia e Matemática com professores do ensino
médio. Maceió: Q-Gráfica, 2008.
MORAN, J. M. Como utilizar a Internet na Educação. Ciência da Informação. Brasília,
Vol 26, n.2, maio/agosto, 1997, p.146-153.
314
PAIVA, Marcus Vinicius Jacob. Os impactos das bibliotecas virtuais sobre os hábitos
de leitura e estudo. Monografia apresentada ao Departamento de Comunicação Social
do Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito
parcial para obtenção do Grau de Bacharel em Comunicação Social. Vitória, 2008.
PIAGET, Jean. A Epistemologia Genética. São Paulo: Abril Cultural, Coleção Os
Pensadores, 1983.
SCHOENFELD, Alan. Mathematical Problem Solving. New York, Academic Press,
1985.
SOBRAL, Maria Neide. Práticas Pedagógicas de Matemática em Ambiente Virtual de
Aprendizagem (AVA). Revista Edapeci. Ano II, Nº 4. Disponível em: <
http://www.edapeci-ufs.net/revista/ojs-2.2.3/index.php/edapeci>. Acesso em: 15 fevereiro
de 2011.
TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa
qualitativa em educação. São Paulo: Ed. Atlas, 1990.
315
Download

DO REAL AO VIRTUAL: o uso de objetos virtuais e