O mundo das pequenas coisas: estampas para tecido feitas com objetos do universo da costura The little things’ world: prints for textile made with objects of sewing universe Cavalcante, Vanessa Peixoto; Bacharel em Desenho Industrial; Universidade de Brasília [email protected] Resumo Projeto de estampas para tecidos feitas com imagens de objetos do universo da costura. Uma fase de experimentação com esses objetos gerou fotografias que exploram as possibilidades gráficas deles. A partir da repetição dessas fotos, desenvolveram-se padronagens e estampas que enfatizam os aspectos positivos dos objetos – textura, simbologia e expressão. O primeiro resultado deste projeto é uma análise comparativa entre formas dos objetos e estampas. O segundo é um conjunto de doze estampas representativas da amplitude de resultados gráficos obtidos no estudo. Palavras-chave: Estampa; Padronagem; Objeto. Abstract Project of textile prints made with images from the sewing universe. Experimental stage with those objects produced photos which explore their graphic possibilities. Those photos were repeated for the development of patterns and prints that emphasize the positive aspects of the objects – texture, symbology and expression. The first outcome of this project is a comparative analysis between object shapes and prints. The second is a set of twelve prints that represents the amplitude of the graphic results obtained in the study. Keywords: Print; Pattern; Object. O mundo das pequenas coisas: estampas para tecido feitas com objetos do universo da costura Introdução O projeto tem como objetivo geral desenvolver estampas para aplicação em tecido, utilizando objetos do universo da costura como elementos gráficos. Situa-se no cenário do design de superfície, que, segundo Renata Rubim (2004, p. 22), abrange o design têxtil, de papéis, cerâmico, de plásticos, de emborrachados, desenhos e/ou cores sobre utilitários. Metodologia A metodologia adotada teve como fase inicial a pesquisa bibliográfica amparada por textos de Rubim (2004), sobre design de superfícies; de Dinah Bueno Pezzolo (2007), a respeito de estampagem de tecidos; e de Ellen Lupton e Jennifer Cole Phillips (2008, p. 53), em que foram pesquisados materiais gráficos compostos por objetos em três dimensões. Na fase de levantamento de similares, foram selecionadas texturas, fotografias, ilustrações e estampas feitas com objetos ou elementos gráficos de configuração similar a de botões, fitas, agulhas, entre outros. Também foram analisadas estampas comuns às obtidas a partir da impressão a jato de tinta em tecidos. Essas pesquisas apontaram requisitos estéticos, simbólicos e de métodos de produção. Aqueles que nortearam o projeto definiam que era necessário compor as estampas com imagens de objetos do universo da costura: instrumentos e acabamentos, assim como explorar a metalinguagem, definida por Samira Chalhub (2002, p. 8) deste modo: “[...] linguagem da linguagem [...] é metalinguagem – uma leitura relacional, isto é, mantém relações de pertença porque implica sistemas de signos de um mesmo conjunto onde as referências apontam para si próprias [...]”. Os últimos requisitos principais eram: estabelecer como método de estamparia a impressão a jato de tinta e desenvolver estampas para tecidos que seriam utilizados em produtos de moda. A etapa seguinte foi marcada por experimentos livres com fitas, botões, agulhas, alfinetes, miçangas, entre outros. O objetivo era explorar as possibilidades gráficas desses objetos, os quais eram manipulados sobre uma superfície e fotografados a partir de diversos ângulos. Após seleção das fotos, notou-se que essas tinham características plásticas distintas em relação à cor, à textura e às formas, mas todas mostravam objetos expressivos e delicados. A figura 1 apresenta seis exemplos dessas fotos. Figura 1: Exemplos das fotos dos objetos do universo da costura A fim de se estabelecer critérios para a construção das estampas, pesquisou-se também a respeito dos princípios para a criação de padronagens e fundamentos que orientam o desenvolvimento de projetos gráficos. A partir desses critérios, a geração de alternativas foi feita repetindo-se cada foto de diversos modos, formando várias estampas. A repetição podia ser orientada pela diagramação, relação de figura/fundo, dimensões dos elementos, entre outros. E, mesmo atendendo aos requisitos do projeto, a geração de alternativas também foi marcada pela experimentação. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design O mundo das pequenas coisas: estampas para tecido feitas com objetos do universo da costura Análise das estampas em relação às formas dos objetos Junto ao desenvolvimento do projeto em si, apontou-se uma possível formulação teórica para observação e análise dos resultados obtidos. Durante a geração de alternativas, notou-se que a harmonia visual das estampas não dependia somente da diagramação e de como as fotos eram repetidas mas também das formas dos objetos nas fotografias e das características físicas deles. Decidiu-se posicionar fotos representativas do conjunto das imagens selecionadas em gráficos orientados por dois critérios. O primeiro diz respeito à concentração da forma no espaço e o segundo, à característica de mutabilidade do objeto ou composição. Este critério refere-se à natureza do objeto e à percepção de que a própria configuração pode ser facilmente modificada por um fenômeno físico. Os gráficos são mostrados a seguir. Gráfico 1: Fotos ordenadas de acordo com o critério de concentração das formas No primeiro extremo do gráfico 1, estão formas que apresentam concentração de cor, compostas por somente um objeto ou por elementos agrupados. No outro extremo, estão aquelas que ultrapassam as margens das fotografias, cujas cores são mostradas espalhadas. No meio do gráfico, estão imagens nas quais se intercalam áreas de preenchimento e áreas vazias. Gráfico 2: Fotos ordenadas de acordo com o critério de mutabilidade das formas 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design O mundo das pequenas coisas: estampas para tecido feitas com objetos do universo da costura O gráfico 2 é iniciado com formas estáveis, arquitetadas e de configuração simples. No outro extremo, estão fotos que mostram objetos ordenados ao acaso, sobre os quais se tem a impressão de que podem ser modificados por intervenções físicas com facilidade. No meio do gráfico, estão imagens que podem ser obtidas ao acaso, mas são mais estáveis. Com o objetivo de avaliar a relação entre formas dos objetos e estampas, os resultados da geração de alternativas foram observados a partir dos dois critérios. Para isso, foram feitos dois gráficos de estampas ordenadas na mesma sequência de suas respectivas fotos nos gráficos anteriores. No gráfico 3, a seguir, visualiza-se estampas ordenadas de acordo com o critério de concentração das formas. Gráfico 3: Estampas ordenadas de acordo com o critério de concentração das formas A análise desse gráfico mostrou que, nas estampas do nível 1 do gráfico, as formas que apresentam maior concentração comportam-se como pontos ou linhas, ao serem repetidas. O ritmo da estampa é definido principalmente pela diagramação. As estampas obtidas a partir de imagens com pouca concentração, mostradas no nível 3, apresentaram algumas características semelhantes. Nelas, os objetos comportam-se como linhas – retas ou curvas. O ritmo da composição é definido pela diagramação e pelas formas, pois estas apresentam angulações ou curvas que direcionam o olhar do observador de uma maneira específica. Porém, essas características não geram incômodo visual, pois cada objeto apresenta desenhos contínuos em toda sua extensão. Nas estampas do nível 2, feitas com imagens nas quais se intercalam áreas de preenchimento e áreas vazias, foi possível observar que as formas são mais complexas do que as citadas anteriormente e se mostram como combinações de linhas e pontos. Ao serem repetidas, interferem no ritmo estabelecido pela diagramação e, em alguns casos, geram ruídos visuais à composição. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design O mundo das pequenas coisas: estampas para tecido feitas com objetos do universo da costura As estampas também foram ordenadas de acordo com o critério de mutabilidade das formas, como visto no gráfico 4, a seguir. Gráfico 4: Estampas ordenadas de acordo com o critério de mutabilidade das formas Ao analisar as estampas do nível 1 desse gráfico, observou-se que as formas de natureza estática aceitam ser repetidas de diversas maneiras, sendo mais fácil criar composições harmônicas e estáveis com a repetição delas. Já nas estampas referentes a objetos de natureza mutável, ordenadas nos níveis 2 e 3, viu-se que o uso de diagramação regular e ritmo constante tende a diminuir a expressividade das formas repetidas. Objetos muito finos ou imagens constituídas por muitas unidades espalhadas, vistos nas estampas de nível 3, são mais frágeis e não valorizados quando repetidos. Notou-se também que os mesmos aspectos que levam uma forma a apresentar a tendência à mutabilidade geram ruídos visuais quando esta é repetida. Comparando os resultados dos gráficos 3 e 4, pode-se fazer algumas afirmações a respeito do comportamento das configurações dos objetos nas estampas. Primeiramente, concluiu-se que formas semelhantes a pontos e linhas retas têm natureza estática e aceitam ser repetidas e organizadas de modos diversos, gerando estampas harmônicas. Imagens que mostram linhas curvas ou desenhos orgânicos, os quais apresentam continuidade ou concentração, requerem mais cuidado ao serem repetidas para que a expressividade não seja perdida. E, por fim, foi visto que formas nas quais áreas de preenchimento e áreas vazias são intercaladas, feitas de pequenos ou finos elementos, apresentam o maior nível de natureza mutável. Ao serem repetidas, não são valorizadas e podem gerar ruídos visuais nas composições. Essa análise comparativa entre as formas dos objetos e as estampas foi possível por ter-se adotado metodologia baseada na livre experimentação, durante o registro fotográfico dos objetos e geração de alternativas de estampas. A amplitude de resultados gráficos dessas etapas forneceu dados para a execução dessa análise, a qual é útil não somente a este mas também a outros projetos de estampas feitas a partir de grafismos, desenhos ou fotografias. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design O mundo das pequenas coisas: estampas para tecido feitas com objetos do universo da costura Estampas para tecido feitas com objetos do universo da costura Diante das alternativas geradas, foi feita a seleção de doze estampas representativas da variabilidade de resultados gráficos obtidos. Esse conjunto de estampas deveria também apresentar coerência com a análise descrita anteriormente, assim como atender aos requisitos do projeto. A seguir, pode ser visualizada uma amostra com seis estampas. Figura 2: Seis das doze estampas finais do projeto Conclusão As estampas finais exploram as possibilidades da impressão a jato de tinta em tecidos por serem compostas por diversas cores, fotografias e, em alguns casos, desenhos de grandes extensões. As texturas dos objetos agrupam essas estampas em um conjunto coeso e as caracterizam como representações de objetos reais. Essas texturas são essenciais para o cumprimento do requisito de se explorar a metalinguagem e permitir que o observador de um tecido estampado com alguma dessas composições seja remetido ao universo da costura. As estampas apresentam grande variedade de soluções e são adequadas a demandas diversas. Elas permitem adaptação de cores de fundo, organização dos elementos e alteração das dimensões de acordo com as necessidades do cliente. Se utilizadas em peças de roupas de grande extensão, as padronagens e os objetos com os quais são feitas são valorizados. Já pequenas peças relevam detalhes e texturas. Desse modo, as estampas resultantes deste projeto têm grande aplicabilidade em tecidos para roupas e acessórios de moda. Referências CHALHUB, Samira. A metalinguagem. 4. ed. São Paulo: Ática, 2002. LUPTON, Ellen; PHILLIPS, Jennifer Cole. Novos fundamentos do design. São Paulo: Cosac Naify, 2008. PEZZOLO, Dinah Bueno. Tecidos: história, tramas, tipos e usos. São Paulo: SENAC São Paulo, 2007. RUBIM, Renata. Desenhando a superfície. São Paulo: Rosari, 2004. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design