DIFERENCIAIS DE MORTALIDADE ADULTA POR NÍVEL EDUCACIONAL NO
BRASIL E REGIÕES1
Autores:
Lariça Emiliano da Silva(UFRN)2
Flávio Henrique Miranda de Araújo Freire(UFRN)3
INTRODUÇÃO
O estudo da mortalidade pelos mais variados diferenciais é uma ferramenta importante para
orientar políticas públicas de saúde, pelo fato de melhor discriminar os eventos de mortes de uma
população. Segundo Perez e Turra (2008) ainda se sabe muito pouco sobre as disparidades
socioeconômicas em saúde e mortalidade no Brasil. E entender a mortalidade no que diz respeito às
características e fatores determinantes, é vantajoso quando se observa mudanças na estrutura de
mortalidade.
A educação consiste num dos principais determinantes para o declínio da mortalidade.
Indivíduos com nível educacional elevado possuem menores taxas de mortalidade e maior
escolaridade da mãe implica em menor mortalidade infantil. (Caldwell, 1979, Cordeiro & Silva,
2001; Muller, 2002, Pérez & Turra 2008; Brown et al, 2012).Esse trabalho tem como principal
objetivo, investigar os diferencias de mortalidade adulta por nível de escolaridade nas Grandes
Regiões Brasileiras.
Segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano 2013, os maiores Índices de
Desenvolvimento da Educação (IDH) no Brasil se encontram nos Estados das Regiões Sul, Centro
Oeste e Sudeste. Segundo Rios-Neto (2010), no Brasil de 1981 para 2008 houve um avanço no
Ensino Fundamental e ensino superior, além do ensino médio que também apresentou melhoras nos
indicadores de escolarização, ainda que em menor magnitude. Esses avanços na educação podem
explicar a convergência da mortalidade entre as grandes regiões do Brasil. Analisando os resultados
ao longo do período recente, observa-se claramente que os ganhos nas regiões norte e nordeste do
Brasil foram maiores nesse período, diminuindo os diferenciais regionais.
Figura1–Série histórica da Taxa de Mortalidade Infantil por 1.000 nascidos vivos e da Esperança de Vida, para as
Grandes Regiões brasileiras.
Fonte: IBGE
No entanto,estimar nível e padrão de mortalidade segundo o nível educacional para qualquer
Região Brasileira é um desafio, devido à falta de dados confiáveis sobre a escolaridade da pessoa
falecida. Os registros de óbitos sem declaração de escolaridade do falecido no Sistema de
1
Trabalho apresentado durante o IV Seminário de Estudos Populacionais do Nordeste, PPGDEM/UFRN, realizado em
Natal-RN, 12 e 13 de Novembro de 2013.
2
Graduado em Estatísticapela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Mestrandodo Programa de Pós-Graduação
em Demografia da UFRN.([email protected]).
3Docente do Departamento de Demografia e Ciências Atuariais da UFRN e do Programa de Pós-Graduação em
Demografia da UFRN (PPGDEM). ([email protected]).
[1]
Informação de Mortalidade (SIM) foram de 30% em 2010 para o Brasil como um todo,
inviabilizando a utilização desta base de dados para qualquer tentativa de estudar a mortalidade
diferenciada por grau de escolaridade. Uma alternativa é trabalhar com os dados de óbitos do novo
quesito de mortalidade,incorporado ao Censo 2010 (CD 2010).
Uma questão importante a ser ressaltada é que os dados de óbitos do CD 2010 não tem a
informação da escolaridade do falecido, apenas o sexo e a idade de quem veio a óbito no domicílio.
A ideia, portanto, é estimar a mortalidade segundo o grupo educacional da pessoa de referência do
domicílio. A estratificação de escolaridade adotada foi: Sem Instrução e Ensino Fundamental
Incompleto (SE-EFI), Ensino Fundamental Completo e Ensino Médio Incompleto (EFC- EMI),
Ensino médio e Ensino Superior Incompleto (EMC-ESI) e Ensino Superior Completo (ESC).
Diante do desafio de obtenção dessas informações, calculou-se as probabilidades de morte
entre 15 e 60 anos para as Regiões brasileiras ainda sem a correção do sub-registro de mortalidade.
MATERIAL E MÉTODOS
Neste trabalho, são utilizados como fonte de dados de população, os microdados da amostra
do Censo Demográficos 2010. Para as informações de óbitos, diante das deficiências encontradas
nos registros do SIM, utiliza-se os registros das mortes do CD 2010 através do quesito que
perguntou se houve óbito no domicílio nos últimos 12 (doze) meses, além do sexo e idade do
falecido. Todas as informações de População e óbitos foram organizadas segundo o sexo, idade e
nível educacional para as cinco Grandes regiões brasileiras.
No entanto para a estimação da mortalidade segundo o nível de escolaridade, alguns aspectos
metodológicos devem ser considerados. A disponibilidade do quesito sobre os óbitos traz
informações está em uma base de dados separada, assim como as informações de Pessoas e
Domicílios. Para adquirir as informações para este trabalho, a agregação dessas três bases de dados
(Pessoas, Domicílios e Óbitos) disponibilizadas pelo IBGE se fez necessário.
No que se refere à mortalidade para este trabalho, serão observados os óbitos oriundos de
domicílios segundo o nível educacional da pessoa de referência. Nesse caso, teremos a mortalidade
de pessoas que moravam em domicílios que tinha pessoa de referência do domicílio com nível de
escolaridade x. A maneira de adquirir esses óbitos é agregar as bases de dados: pessoas, domicílios
e de Mortalidade (Ver figura 1). E para obter a informação de pessoas que moram em domicílios
cuja pessoa de referência possui nível x de escolaridade, é preciso fazer alguns procedimentos
também com a base de dados de pessoas (Ver figura 2).
Figura 1 - Ilustração de Obtenção dos óbitos
Figura 2 -- Ilustração de Obtenção da população.
RESULTADOS
Alguns trabalhos na linha de pesquisa sobre diferenciais de mortalidade por nível de
escolaridade,já mencionada no texto, indicam que indivíduos mais escolarizados possuem menores
risco de morte (Brown et al, 2012; Cordeiro & Silva, 2001). Os resultados obtidos nessa pesquisa,
probabilidades de morte entre 15 e 60 anos, corroboram com a literatura, pois os indivíduos de
[2]
todas as regiões brasileiras que possuem pessoa de referência do domicílio menos escolarizada
exibem as maiores probabilidades de mortes, enquanto os que possuem pessoa de referência com
Nível Superior Completo de Escolaridade (ESC), apresentam as menores probabilidades de mortes.
No que se refere às probabilidades segundo o sexo, é notório que as do sexo feminino são as
mais baixas em todas as Regiões e em todos os níveis de escolaridade elas pouco se diferenciam
entre as Regiões, diferentemente, do comportamento das probabilidades para indivíduos do sexo
masculino. Essa masculinização das probabilidades de morte e a variação dessas probabilidades
entre as regiões para este sexo exibem de forma indireta a violência Regional pelo efeito das mortes
por causas externas que segundo Chor; Duchiade & Jourdanet (1992) atinge o público masculino
devido aos modos de vida e condutas diferentes entre esses gêneros.
Outro Resultado que chama a atenção são as probabilidades de morte para indivíduos do
nível de Escolaridade SE-EFI das Regiões Norte e Nordeste que assumem as menores
probabilidades ao comparar com as Regiões mais desenvolvidas do país (Sudeste, Sul e centro
Oeste). Esse comportamento é semelhante ao encontrado por Wood e Carvalho (1994) que
estudando diferenciais regionais brasileiros, percebeu que as famílias menos favorecidas
economicamente (isso pela falta de capacitação escolar) residentes de áreas rurais, possuíam um
tempo maior de vida do que as que moravam em áreas urbanas, provavelmente pela menor
exposição dessas pessoas a um ambiente menos agressivo.
As probabilidades de morte para pessoas que residem em domicílios com pessoa de
referência com nível Superior de Escolaridade completo, pouco se diferenciam entre as Regiões:
Nordeste, Sudeste, Sul e Centro Oeste. O diferencial regional para este nível de escolaridade está na
Região Norte que apresenta maior probabilidade de morte entre 15 e 60 anos. Uma hipótese para
explicar esse comportamento é a falta de estrutura na Saúde para esta região.
Gráfico 22 - Probabilidade de morte entre as idades de 15 e 60 anos segundo Nível de escolaridade e sexo para as
Grandes Regiões brasileiras, 2010.
Fonte: Censo Demográfico 2010
CONCLUSÕES
Vários trabalhos indicam os diferenciais de mortalidade por nível educacional, onde pessoas
mais escolarizadas possuem maiores perspectivas de vida. E o Brasil, por ser um país em
[3]
desenvolvimento e apresentar desigualdades sociais, ainda possui poucos trabalhos voltados a
diferenciais de mortalidade adulta, e os que existem na literatura nacional são trabalhos voltados a
pequenas áreas (Cordeiro e Silva, 2001, Santos e Noronha, 2001), isso acontece pela falta de
informações sociodemográficas mau preenchidas nas Declarações de Óbitos.
Diante das disponibilidades dos óbitos domiciliares contidos no Censo Demográfico de
2010, este trabalho realizou uma investigação com esses dados, que foi observar o nível de
escolaridade da pessoa de referência do domicílio e quantificar os eventos de óbitos ocorridos
nestes domicílios. A partir daí, calculou-se probabilidades de mortes que condizem com a literatura
e demonstra que existem diferenciais visíveis com os níveis de escolaridade, seguindo o gradiente
encontrado pelos pesquisadores, quanto mais escolarizado maiores expectativas de vida e quanto
menos escolarizado for o indivíduo, menores expectativas de vida. Nos diferenciais Regionais foi
observado que a mortalidade masculina são maiores ao comparar com o comportamento da
mortalidade feminina. Observou-se também que pessoas no nível SE-EFI possuem maior
probabilidade de morte na Região Sul, os Indivíduos do nível EFC-EMI tem maior probabilidade de
morte na Região Nordeste, os de nível EMC-ESI na Região Norte e indivíduos do nível ESC tem
maior propensão a morte na Região Norte do País.
O presente trabalho pode contribuir para a literatura Nacional com um estudo no nível
macrodemográfico para os diferenciais de mortalidade adultas com as informações de óbitos do
Censo Demográfico 2010, abrindo as portas para novas pesquisas sobre diferenciais de mortalidade
adulta no Brasil com esse novo método abordado.
REFERÊNCIAS
BROWN,D.C;HAYWARD,
M.D;
MONTEZ,
J.K;
HUMMER,
R.A;CHIU,
C.;
HIDAJAT,M.M.,The Significance of Education forMortality Compression in the United States.
Demography, v. 49, p. 819-840, 2012.
CALDWELL, J. C. – 1979. Education as a factor in mortality decline: an examination of Nigerian
data. PopulationsStudies. London, 33(3):395-413
CARVALHO, J. A. M.; WOOD, C. H. A demografia da Desigualdade no Brasil. Rio de Janeiro, IPEA,
1994.
CHOR, D.; DUCHIADE, M. P.; JOURDAN, A. M. F.,Diferencial de mortalidade em homens e
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no.4 São Paulo Aug. 1992.
MULLER, A. Education, incomeinequality, andmortality: a multipleregressionanalysis. BMJ, v.
324, n. 7.328, p. 23, 2002
PÉREZ, E. R.; TURRA, C. M. Desigualdade social na mortalidade no Brasil: diferenciais por
escolaridade entre mulheres adultas. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
ESTUDOS POPULACIONAIS, 16., 2008. Anais... Caxambu: ABEP, 2008.
Rios-Neto, E. L. G., Guimarães, R., Pimenta, P. S., & Moraes, T. A. (2010, June). Análise da
evolução de indicadores educacionais no brasil: 1981 a 2008 (WorkingPaper No. 386). Belo
Horizonte: Cedeplar, Universidade Federal de Minas Gerais.
STEVENSON, T. H. C., 1928. The vital statistics of whealth and poverty. Journal of the Royal
Statistical Society, 91:207-220.
SANTOS.S.M; NORONHA, C. P., 2001. Padrões espaciais de mortalidade e diferenciais sócio-econômicos
na cidade do Rio de Janeiro. Cadernos de Saúde Pública, v. 17, n. 5, p. 1099-1110, 2001. Disponível em:
<http://www.scielosp.org/pdf/csp/v17n5/6319.pdf> Acesso em 18 abr. 2013
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