O PERIGO DOS PRODUTOS QUÍMICOS DOMÉSTICOS
1
João Lopes da Silva Neto; 2Thayana Santiago Mendes; 3Djane de Fátima Oliveira
1 (AUTOR) Discente do curso de Licenciatura em Química - UEPB
2 (COLABORADORA) Discente do curso de Licenciatura em Química - UEPB
3 (ORIENTADORA) Doutora em Engenharia de Processos - UFCG
Resumo: Este trabalho teve como objetivo inicial verificar até que ponto a população em geral
tem informações para manipulação, armazenamento e descarte dos produtos químicos
domésticos. Dos resultados obtidos com o questionário aplicado na comunidade do município
de Campina Grande – PB, detectou-se a necessidade de implementar ações educativas no
sentido de suprir a comunidade de informações científicas importantes para a utilização
segura dos produtos. Nesse sentido, foram distribuídos panfletos com informações
importantes, visando conscientizar a população dos riscos. Os resultados observados
permitiram concluir que a maioria dos entrevistados tem conhecimento prévio e mostram-se
interessada em novas informações sobre o adequado manuseio e produtos. Fatores sociais,
econômicos e/ou culturais, entretanto, contribuem para a persistência de atos descuidados no
manuseio, armazenamento e descarte dos produtos químicos domésticos.
Palavras-chave: Produtos químicos;
Introdução
Quando se fala em produtos químicos, a população, geralmente, associa a uma ideia
distante da vida comum, manuseados apenas em laboratórios químicos científicos. No
entanto, há uma imensa diversidade de produtos químicos que são utilizados diariamente nas
atividades domésticas: sabões, brinquedos, alimentos, cosméticos, produtos de limpeza, são
apenas alguns dos exemplos.
Grande parte dos produtos químicos que estão disponíveis no mercado, em especial os
produtos de limpeza, não foram submetidos a nenhum teste e são fabricados de maneira
artesanal e, em diversos casos, sem nenhuma higiene. Levando-se em conta, que muitas das
pessoas não se apercebem da necessidade de procedimentos de segurança para utilização
desses produtos, surgem aí, chances de causarem sérios problemas à saúde. Dentro deste
contexto, podemos citar a utilização de substâncias destinadas ao asseio corporal, como
cremes dentais e desodorantes, e a limpeza de ambientes, como sabões, detergentes e
desinfetantes.
Os produtos químicos têm sido úteis na erradicação de doenças e epidemias, no
controle de pragas e outras aplicações, mas o uso de um grande número de substâncias
potencialmente tóxicas tem provocado sérios riscos à saúde humana e dos ecossistemas. Tudo
depende de uso que se fizer das substâncias químicas.
As estatísticas afirmam que a grande maioria dos acidentes domésticos acontece pela
desinformação ou inobservância de atitudes simples como a leitura dos rótulos dos produtos
usados. Os acidentes com produtos químicos domésticos, geralmente, são ocasionados por
armazenamento em local inadequado, tendo como vítimas mais frequentes as crianças e os
idosos (SINITOX).
A educação acadêmica formal, muitas vezes, omite-se de participar das questões
cotidianas. Com esse distanciamento perde-se a oportunidade da transmissão do chamado
“conhecimento útil”, aquele conhecimento diretamente ligado às necessidades reais da
população.
Diante do exposto, reconhece-se como necessária uma política de conscientização
sobre maneiras adequadas dos produtos químicos domésticos, visando a prevenção da
contaminação do solo, do ar e água.
O presente trabalho trata dos perigos e riscos associados ao uso e descarte de resíduos
de produtos domésticos perigosos, que passam a se constituir num grupo de resíduos que
apesar de fazer parte do cotidiano da população, tem sua periculosidade percebida como algo
distante e de ação limitada.
Metodologia
A pesquisa desenvolvida neste trabalho pode ser classificada como experimental, visto
que foram coletados dados da realidade diária da cidade de Campina Grande-PB, fornecidos
pela comunidade local.
Para o estudo do tema proposto, foi realizada uma pesquisa qualitativa apoiada em
observações, além dos dados obtidos com os sujeitos envolvidos na pesquisa. Segundo Bogdan
e Biken (citado por LUDKE & ANDRÉ, 1989, p.11) a pesquisa qualitativa “tem o ambiente
natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento” e,
além disso, “envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do
pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se
preocupa em retratar a perspectiva dos participantes”.
Para atingir os objetivos almejados da pesquisa, participaram 50 pessoas (80% do sexo
feminino e 20 % do sexo masculino) residentes no município de Campina Grande-PB.
Os questionários da pesquisa foram formulados de tal maneira a permitir a construção
das seguintes categorias de análise: formas de uso, manuseio, consciência das informações e
descarte.
A coleta de dados foi realizada durante o período de Julho a Agosto de 2011.
-ETAPAS:
1ª etapa:
Inicialmente, foi realizada a pesquisa em bairros da cidade, quanto às práticas e
informações comuns à população entrevistada.
2ª etapa:
A partir dos resultados colhidos foram confeccionados panfletos; procedeu-se a
distribuição das informações contidas dos panfletos durante as visitas às pessoas envolvidas.
3ª etapa:
Nessa etapa foi discutida a importância das formas corretas de manipular os produtos
químicos domésticos, buscando com a construção de uma nova conscientização dos indivíduos
participantes.
4ª etapa:
Nessa etapa foram reunidas as ideias trocadas do estudo, onde se pôde constatar o
grande interesse dos entrevistados pelas informações.
Produto final:
O desenvolvimento do projeto produziu como produto final um panfleto informativo,
próprio para a utilização em ações educativas junto à comunidade em geral.
Resultados e discussões
O tema escolhido ‘Produtos químicos domésticos’ visou identificar no público alvo os
principais fatores que contribuem para atitudes de descaso no uso correto na manipulação,
armazenamento e descarte de produtos químicos domésticos.
Inicialmente foram coletadas informações a respeito do perfil social do grupo
estudado.
HOMENS
20%
Sexo
- MULHERES
80%
Faixa etária (%)
20-40 anos
40-60 anos
+60 anos
46%
34%
20%
Escolaridade (%)
Analfabeto
Ens. Fundamental
Ens. Médio
Ens. Superior
04%
30%
30%
36%
De acordo com a tabela 1 percebe-se que 46% dos sujeitos envolvidos na pesquisa
encontram-se na faixa etária de 20-40 anos de idade. No que diz respeito ao gênero é
constituído na sua maioria, por mulheres (80%).
Quanto ao nível de escolaridade observa-se uma marcante aproximação entre os
níveis fundamental (39%), médio (30%) e superior (36%), dados que revelam que a maior parte
do público alvo é jovem e possuidora de instrução variada, logo as ações educativas devem ser
adequadas para as características desse público.
Traçado o perfil social, o questionário avaliaram os hábitos de consumo de
entrevistados. Abaixo estão os dados apresentando quais são os produtos químicos mais
consumidos no cotidiano do público avaliado.
Produtos químicos mais consumidos
120,00%
100,00%
80,00%
60,00%
40,00%
20,00%
0,00%
Limpeza
Alimentação
Beleza
Combustíveis
Agrícolas
A totalidade dos entrevistados ressaltou utilizar os produtos de limpeza. Dentre os
quais, foram citados os sabões em pó ou em barra, detergentes, desinfetantes e outros.
Os produtos de higiene pessoal, maquiagem e alimentos não eram vistos como
produtos químicos usados no cotidiano, dificultando para muitas pessoas a sua identificação
quanto à presença da química.
Quanto à maneira de manipulação dos produtos químicos domésticos foi possível
evidenciar que 94% das pessoas não consideram necessário utilizar qualquer tipo de proteção.
Vale salientar que a presença de compostos químicos perigosos, corrosivos ou tóxicos,
existentes os produtos utilizados que podem ser cloro, soda cáustica, formaldeído e fenóis.
Grande parte dos entrevistados desconhece que tais produtos são agressivos à pele e
danificam o sistema respiratório, por exemplo, podendo, então, causar danos à saúde humana.
Embora a grande maioria dos entrevistados seja alfabetizada, dentre os avaliados
somente 60% afirmaram ler as informações contidas nos rótulos dos produtos químicos de uso
doméstico, mas 46% dos indivíduos pesquisados não conseguem compreendê-las, sendo
assim, uma leitura em vão.
Conforme as respostas dos sujeitos questionados, 80% verificam a data de validade
dos produtos de uso doméstico. Segundo os tais, no caso de vencido o produto químico, se
forem detergentes, maquiagens, sabões e outros, descartam (88%). Quando questionados
sobre o que fariam no caso de um produto de gênero alimentício, 62% das pessoas descartam,
enquanto 34% relataram que devolveriam ao local da compra.
Formas de armazenamento dos produtos químicos
domésticos
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Separados por classe
Embaixo da pia
Em locais altos
Todos juntos
Pode-se observar que 48% das pessoas dizem que guardam os produtos químicos em
suas casas separados por classes, limpeza, alimentos, por exemplo.
A mesma atitude de descaso é observada na hora do descarte dos vasilhames ou
resíduos dos produtos. A seguir, dados com os hábitos mais comuns da população entrevistada
quanto ao descarte dos produtos químicos domésticos, onde, no gráfico abaixo, podemos ver
que 82% do público pesquisado dizem que descartam todas as embalagens no lixo doméstico
comum.
Forma de descarte dos vasilhames e resíduos dos
produtos químicos
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Lixo doméstico
Reutilização
Reciclagem
As três atitudes relatadas geram, de algum modo, preocupação quando são
realizadas sem informações científicas seguras. No caso do descarte em lixo doméstico,
realizado por 82% do público entrevistado, os danos à saúde pública e ao meio ambiente são
notórios. Além da possível contaminação do solo e água com resíduos químicos, há também a
proliferação de insetos e roedores comumente associados aos lixões a céu aberto.
A opção de reutilização, ainda que ambientalmente correta, pode representar um
grande risco de intoxicação, se desconsiderada a natureza química dos compostos
originalmente contidos no recipiente. Neste aspecto, também, a população precisa de
instrução científica correta.
Ao abordar a questão de como agir em caso de intoxicação por algum tipo de
produto químico, pôde-se deduzir que 84% dos entrevistados relataram que iriam à procura de
atendimento médico de urgência e 22% relataram que primeiro tomariam remédios caseiros
antes de procurarem um atendimento especializado.
Também pode-se concluir que não há uma clara associação entre má qualidade dos
produtos adquiridos e os possíveis riscos à saúde.
Produtos químicos
Detergentes
Desinfetantes
Sabões
Sabonetes
Xampus
Maquiagem
Refrigerantes
Enlatados
Cremes faciais
Frios
Merca conhecida (%)
26
20
58
80
72
36
68
52
32
52
Preço baixo (%)
76
82
42
26
16
06
10
28
04
08
Para alguns produtos, notadamente no setor de limpeza, o principal convencimento
para compra é realmente o menos preço disponível, conforme se observa n gráfico acima. A
marca consolidada no mercado como detentora de qualidade só é considerada nos casos de
higiene pessoal e alimentos. Apenas 20% dos entrevistados responderam que adquiriram
produtos como detergentes e desinfetantes pela qualidade; os demais afirmaram que nestes
itens, escolhiam os produtos de fabricação caseira e, deveras, de origem duvidosa, motivados
somente pelo preço baixo.
O critério da aquisição do produto pelo menos preço pode, em muitos aspectos,
expor a população a riscos insuspeitos, seja pela baixa qualidade, pouca eficiência da ação do
produto, nenhum controle de qualidade de produção e, portanto, maiores possibilidades de
agravos diversos à saúde por formação de resíduos tóxicos.
Desse diagnóstico inicial, o que de pôde concluir é que a população ainda carece, em
muitos aspectos, de ações educacionais que lhes assegurem uma informação científica
aplicada às suas necessidades reais. Dentro do tema proposto, produtos químicos domésticos,
a informação precisa ser fornecida de modo adequado, facilitando a assimilação pelas diversas
camadas socioculturais do público envolvido.
Conclusão
O estudo realizado permitiu concluir que a população em geral não faz uso de
critérios de qualidade para compra de produtos domissanitários, como detergentes e
desinfetantes. Dessa maneira, ao adquirirem inúmeros produtos vendidos em lojas e
supermercados, passam a conviver com uma série de riscos involuntários.
Quanto às informações contidas nos rótulos dos produtos destinados ao uso doméstico, a
maioria da população tende a ignorá-las, seja porque tais informações não são redigidas de
modo a facilitar o entendimento ou porque não trazem esclarecimentos adequados para as
principais dúvidas relacionadas ao uso correto do produto.
Conclui-se que a falta de cuidado ao manusear e descartar produtos químicos utilizados na
rotina diária está relacionada a fatores sociais e econômicos, entre outros. As ações
educacionais devem, portanto, contemplar as diversas realidades do público alvo, buscando
envolve-lo na descoberta do conhecimento.
Algumas ações podem ser realizadas na busca de soluções para os problemas
relativos aos resíduos domésticos perigosos adotando-se instrumentos como sistemas de
informações para a comunidade, capacitação de profissionais do comércio e da saúde,
educação ambiental para as crianças e uma maior fiscalização por parte dos sistemas políticos
e legais.
Referências
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Resíduos sólidos – Classificação, NBR 10004.
Rio de Janeiro: Brasil, 1987.
BRISK, M. A.
An Arco Book – Science Projects.
Center for Biomedical Education at City
College of New York. A. Simon & Schuster Macmillan Company - Macmillan – USA. 1994
Engenharia Sanitária. Engenheiro Cívil Antonio de Siqueira. 10a. Edição Volume II. Editora
Globo. 1950 LAMARE, R. A vida do bebê e cuidados até adolescência. 35a. Edição.Bloch
Editores S.A.
LUDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. . Pesquisa em educação: abordagens qualitativa. São Paulo: EPU.
1986
SCHIO, R. Caracterização Toxicológica de Produtos domésticos que geram resíduos sólidos
perigosos e sua destinação no município de Campo Grande – MS (Dissertação de Mestrado
UFMS). 2001
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