O TRECHO, AS MÃES E OS PAPÉIS Etnografia de movimentos e durações no norte de Goiás ANPOCS Diretoria biênio 2013-2014 Presidente Gustavo Lins Ribeiro (UnB) Secretário Executivo Maria Filomena Gregori (UNICAMP) Secretário Adjunto Claudio Gonçalves Couto (FGV-SP) Diretoria Bruno Pinheiro Wanderley Reis (UFMG) Edna Maria Ramos de Castro (UFPA) Julie Antoinette Cavignac (UFRN) Diretoria de Publicações Marcos César Alvarez (USP) Conselho Fiscal Angela Maria de Randolpho Paiva (PUC-RJ) Antonio Carlos Motta de Lima (UFPE) Tullo Vigevani (UNESP-MARÍLIA) Equipe Administrativa Berto de Carvalho Bruno Ranieri Cristina Sevílio Mírian da Silveira Sônia Maria Reis Acompanhamento Editorial Mírian da Silveira ANPOCS Av. Prof. Luciano Gualberto, 315 1º andar - Cidade Universitária CEP 05508-010 São Paulo SP Tel.: (11) 3091-4664 / 3091-5043 [email protected] www.anpocs.org.br André Dumans Guedes O TRECHO, AS MÃES E OS PAPÉIS Etnografia de movimentos e durações no norte de Goiás Prêmio de Melhor Tese de Doutorado no “Concurso ANPOCS de Obras Científicas e Teses Universitárias em Ciências Sociais – 2012” Copyright © 2013, André Dumans Guedes Direitos cedidos para esta edição à Editora Garamond Ltda. Rua Cândido de Oliveira, 43 – Rio Comprido Cep: 20.261.115 – Rio de Janeiro, RJ Telefax: (21) 2504-9211 Site: www.garamond.com.br Email: [email protected] Revisão Carmem Cacciacarro Editoração Eletrônica Estúdio Garamond / Luiz Oliveira Capa Estúdio Garamond / Anderson Leal sobre foto de Dimas Dario Guedes CONSELHO EDITORIAL Bertha K. Becker (in memorian) Candido Mendes Cristovam Buarque Ignacy Sachs Jurandir Freire Costa Ladislau Dowbor Pierre Salama CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ G957t Guedes, André Dumans O trecho, as mães e os papéis : etnografia de movimentos e durações no norte de Goiás / André Dumans Guedes. – 1. ed. – São Paulo : Garamond, 2013. 456 p. : il. ; 21 cm. (Cultura e economia) Inclui bibliografia ISBN 978-85-7617-302-1 1. Etnologia – Brasil. 2. Igualdade. 3. Mobilidade social. 4. Qualidade de vida. 5. Política social. I. Título. II. Série. 13-04283 CDU: 316 20/08/2013 CDD: 306.01 21/08/2013 Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, por qualquer meio, seja total ou parcial, constitui violação da Lei nº 9.610/98. …de-moram-se na beira da estrada… Zé Ramalho – Admirável gado novo. Dedico este trabalho às valentes e batalhadeiras mães de Minaçu. AGRADECIMENTOS Antes de mais ninguém, agradeço à professora Lygia Sigaud, com quem tive o privilégio de conviver durante meus primeiros dois anos de doutorado. Após o falecimento dela, José Sérgio Leite Lopes aceitou me orientar, e por isso e por todo o apoio também lhe sou muito grato. Agradeço também aos outros membros da banca examinadora da tese que deu origem a este livro: Moacir Palmeira, Luiz Fernando Dias Duarte, Carlos Vainer e Hélion Póvoa Neto. No Museu Nacional, agradeço a todos os professores de quem fui aluno e às diversas ajudas prestadas por Federico Neiburg, Márcio Goldman e John Comerford. Meu irmão João Dumans e os amigos Kleyton Rattes, Cecília Mello e Pedro Braum leram versões preliminares dos capítulos aqui apresentados, e a eles agradeço de modo especial pelas críticas e sugestões. Fernando Rabossi, Christina Toren e João de Pina Cabral me lembraram de qual é o mapa da mina: escrever sobre algo que me apaixonasse. O CNPq e o SECYT argentino forneceram-me bolsas de pesquisa fundamentais para que este trabalho fosse concluído, e a estas instituições agradeço também. Via o Prêmio ANPOCS na categoria melhor tese de doutorado, esta última organização tornou possível esta publicação. No Museu Nacional e suas adjacências, inúmeros amigos me fizeram feliz e satisfeito por ser um antropólogo e poder conviver com antropólogos; em nome deles todos, mando um abraço especial para Raphael Bispo, Beatriz Matos, Letícia Carvalho, Felipe Evangelista, Ana Carneiro e Rogério Brittes (e também para Virna, Zoy, Bruno, Indira, Graziele, João, Marina, Gabriel, Levindo, Débora…). Em nome do ETTERN e do IPPUR, faço uma menção toda especial ao mestre Henri Acselrad e a Daniele Carvalho, incrível companheira de aventuras pelo país por inúmeros anos. Ao meu pai e minha mãe, grandes amigos e companheiros incondicionais, mais uma vez obrigado por tudo. Para Pedro, Joana, Mateus e Alice, outros abraços. A estas outras “mães” que sempre cuidaram de mim, todo o meu amor: Aparecida, Fatinha, Pilar, Izete, Regina e Ivani. A estes tantos amigos do peito, beijos sem fim: para os dois 10 · O TRECHO, AS MÃES E OS PAPÉIS Brunos, Raquel, Bia, Marcelo, Wagner, Guilherme, Juninho, Silvério, Patrícia, Carol, Fernanda, Vivianne, Mazinho, Breno, Régis, Guga, Lívia, Helga, Diogo, Brenda, Gavazza, Ana Pri, Juliano, Carla, Paola e mais todo o pessoal da Praça Imunda/Pavilhão/Celga/Camisa de Força. Em Goiás, agradeço aos bravos companheiros ligados ao Movimento dos Atingidos por Barragens através da pessoa de Agenor Costa. Na casa dos Castilho, mando um imenso abraço para Tiana, Domingos, Teinha e Jefferson. Paula, Maria e Sidnei são outros grandes amigos de quem nunca me esquecerei. Agradeço ainda a Abi, Japão, Paulo Lúcio, Seu Alcides, Seu Clemente, Boiadeiro, Ilakstan, Ana Alice e Fiderico. Agradeço por fim a todos os militantes do MAB do sul do país, e aos colegas da turma Haydée Santamaría, do Curso da Energia. SUMÁRIO PREFÁCIO 15 INTRODUÇÃO 21 Regina e seus dilemas 22 A pesquisa e sua trajetória 24 Formas de pensar e pesquisar a mobilidade 29 Definindo objetos, grupos, áreas e estratégias analíticas 37 CAPÍTULO 1 – AS FEBRES E A MÃE 51 Parte 1 – Minaçu e sua mãe 51 Chegada em Minaçu 51 A Sama 58 Cidades que acabam 67 Parte 2 – Febre da castelita, do ouro, das barragens 70 O garimpo, o dinheiro maldito e as pepitas 70 Uma, duas, três barragens 83 Febres no tempo e no espaço 89 As mães e as febres 96 CAPÍTULO 2 – OS LISOS E OS CATIVOS 101 Parte 1 – Os cativos: passado e presente 101 Primeira situação: o trabalho nas barragens 107 Segunda situação: da firma para o garimpo 115 1) Ascensão social e igualitarismo 127 2) A generosidade do patrão 129 3) Mobilidade, autonomia e independência 134 Terceira situação: lembranças das boiadas 137 Quarta situação: correr atrás da casa própria 142 Quinta situação: o meio ambiente e a sujeição à lei 150 Sexta situação: as espanholas 152 A duração da relação e o valor do que é próprio 155 Parte 2 – Os lisos: o presente basta 161 Jovens a rodar 161 Instabilidade e rotatividade no trabalho 166 Em defesa da sociedade 172 CAPÍTULO 3 – O TRECHO E A FAMÍLIA 177 Parte 1 – O trecho e os peões 177 O trecho na literatura 179 Peões para todo lado 185 Parte 2 – Socialização na e para a mobilidade 189 Homens no trecho, pés-de-pano e barraginhos 191 Encontros e desencontros 203 Andar ou correr? Os pés e suas diferentes velocidades 211 Parte 3 – O mundo e o trecho 219 A família e a mobilidade enquanto valores 219 Do mundo ao trecho 233 CAPÍTULO 4 – CORRIDOS E LIDOS 241 Parte 1 – Os corridos 241 Os corridos lendo (e contando histórias) 241 Os corridos correndo (e aventurando-se) 259 Parte 2 – Os lidos 273 Pesquisadores e detetives 273 Aviões e o fim do mundo 283 Papéis e gravatas 300 Parte 3 – Lidos e corridos no mundo e na fronteira 323 A fronteira e o mundo 323 Um livro e dois ou três bandeirantismos 327 CAPÍTULO 5 – O MOVIMENTO E O SOCIAL Parte 1 – O movimento 339 Direitos, projetos e cestas 340 Andanças com o movimento 343 Da revolta à chegada dos militantes 353 Cursos e aprendizados com os militantes 358 Os documentos e a reparação dos atingidos 373 339 Parte 2 – O social 384 De cabaré a secretaria 384 As cestas, os cadastros, o cativeiro da ajuda 388 O curso e o curral 397 A ação social e a sociedade 408 CONCLUSÃO 423 Fugir do mundo e fugir no mundo: o sossego, o trecho e o milenarismo 423 O trecho, as mães e os papéis – palavras e durações 431 Do que vai e volta às metanarrativas da modernidade 436 BIBLIOGRAFIA 445 PREFÁCIO Quem abriu o livro que se prepare para uma aventura. André Dumans Guedes não nos deixa sossegar: abre no mundo, no rumo dos que circulam no trecho, entre Goiás, Minas, Bahia, Maranhão, Tocantins e por aí afora. E aquilo que tem a dizer coloca em risco maneiras muito cristalizadas de pensar a mobilidade dessas pessoas. Paradoxalmente, para desenvolver suas pesquisas sobre mobilidade, o pesquisador, após sua chegada por via de um “Movimento” (o Movimento dos Atingidos por Barragens) a uma pequena cidade goiana, hoje considerada muito parada por seus habitantes em função da decadência do garimpo, ficou basicamente “parado”. Permanecendo “à toa” próximo à sede do Movimento, hoje voltada principalmente para a distribuição de cestas básicas, andando pela cidade principalmente a pé – esse modo de deslocamento lento claramente marcado por ali como feminino – causou estranhamento aos rapazes que valorizam a velocidade dos carros e motos e narram histórias de farras e andanças pelo mundo em busca de lugares de muito movimento. Justamente em função de ter sido tão central na situação de pesquisa esse jogo entre gênero, modos de permanência, modos de mobilidade e de ausência, posição social, trabalho, (des)mobilização e velocidades, sobre tudo isso o livro tem muito a dizer. Mostra que é impossível pensar a mobilidade e a imobilidade separadamente, ou delimitar entre elas uma relação unívoca ou totalmente previsível. Aponta polos por onde se movem essas pessoas, a mãe e o mundo, o sossego e a aventura, o duradouro e o efêmero, em torno dos quais redesenham seus horizontes, tanto quanto lhes permita a liberdade e autonomia que possam alcançar. Tais polos podem ser concebidos e vividos em diferentes modos de relação, como artifício e realidade, estabilização e fluxo, englobado e englobante, como complementares, ou ainda como momentos distintos, alternados ou subsequentes. Batendo-se contra o senso comum e as interpretações que imaginam e explicam a movimentação incessante de muita gente pelo interior do país afora como irracionalidade, atavismo, anomia, incapacidade 16 · O TRECHO, AS MÃES E OS PAPÉIS de fi xar-se, ou ainda como resultado imediato de imposições exógenas do capital, do Estado ou do latifúndio, muitas vezes vendo em tais movimentações a integral sujeição, alienação e ausência de sentido, Guedes mostra quais as (múltiplas) concepções dessas pessoas a respeito de uma vida que vale a pena ser vivida e como essas concepções se relacionam com variadas experiências de movimentação ou estabilização. Mais do que tomar a mobilidade ou a imobilidade em relação a alguma esfera previamente delimitada, como a família, a economia ou a religião, ou ainda como decorrência de um momento específico de ciclos ou estratégias dispostos em referência a coordenadas espaciais ou econômicas previamente definidas, somos levados a perceber a polaridade entre movimento e estase, provisoriedade e permanência, aceleração e desaceleração, perpassando as mais diversas situações e relações. Nessa polaridade, articulam-se também novos sentidos, enriquecendo e multiplicando vocabulários relativos à partida e à chegada, às relações de gênero, à paisagem e aos lugares, gerando narrativas de saudade, sossego, conforto, casa e mãe, tanto quanto histórias de fascínio, prazer e temor diante do estranho e dos estranhos, do imprevisível, dos encontros e dos excessos do mundo. Explorando maneiras de conceber deslocamentos presentes no universo que estuda, condensadas, por exemplo, em termos como febre (do garimpo, da cassiterita etc.), Guedes escapa de definições de mobilidade que sejam externas ao mundo dos que por ali se movem, e faz isso com uma agilidade que, contrastando com os seus lentos deslocamentos a pé e sossegadas conversas na pequena cidade, faria inveja àqueles dentre seus interlocutores mais dispostos a manobras audazes, rápidas e surpreendentes. Mas se a atenção ao modo de chegar, de partir e de mover-se, bem como de narrar chegadas, jornadas e aventuras, permite a Guedes uma percepção do que constitui uma vida boa e os bons deslocamentos ou permanências para os diferentes interlocutores que encontra no seu universo de pesquisa, permite também perceber o que é tido como uma vida ruim, uma vida que se esvai. E ela pode ser ruim tanto na permanência como no movimento: na imobilidade do cativeiro, ou na movimentação que leva a perder-se no mundo; ao ficar preso ou parado enquanto todos vão adiante, ou ao não encontrar lugar algum para ANDRÉ DUMANS GUEDES · 17 sossegar, construir, criar e descansar. Nesse ponto, o trabalho reencontra as reflexões elaboradas por antropólogos em torno de concepções camponesas de cativeiro e de liberdade, e se soma a elas, trazendo à tona o modo singular pelo qual no universo em foco se articulam horizontes de autonomia, ou a autonomia como horizonte e como luta. Cabe também chamar a atenção para a fina análise da complexa relação entre permanência, provisoriedade, gênero e família. Se o horizonte de tornar-se mãe puxa consigo concepções e expectativas de permanência, esse horizonte não compõe imediatamente ou necessariamente com expectativas e noções de conjugalidade ou paternidade. De modo que a referência básica para o esforço de construir a permanência e estabelecer o contraponto ao mundo (que contudo nunca deixa de fazer parte do horizonte da família) é a figura da mãe. Mas isso não impede que haja momentos em que uma conjunção de mãe/esposa e pai/marido e filhos se ponha no horizonte e se realize como experiência, que, todavia, não necessariamente chega a se articular como estado definitivo ou fi xar-se ao modo de um patrimônio. Guedes nos apresenta vários homens que já tiveram família, hoje não têm mais, mas talvez voltem a ter. Ou que, dentre os vários filhos que têm ou lhes são atribuídos, reconhecem alguns e não outros. Ou um caso em que a partir das necessidades de trabalho um casal constituiu, por algum tempo, “uma família”, tendo jovens peões do trecho como filhos – e isso perdurou em certa medida no tempo e no espaço. As variações parecem ser muitas, tanto para os homens como para as mulheres. A intensidade dos laços não parece necessariamente associada à sua duração no tempo, de modo que podem surgir duplas de jovens que são “como irmãos”, ou turmas que são “como uma família”, mas que subitamente se dissolvem e cada um toma seu rumo, saindo no liso, ágil e surpreendentemente. Mas há configurações que perduram, cristalizam-se e levam a buscar rumo puxando carreta, lenta e planejadamente. As vidas dessas pessoas, inclusive ao configurar-se como vida em família, podem se articular em diferentes velocidades. Percepções mais estáticas, estatais e estatísticas da família terão dificuldades de apreender tais modos de familiarização em todas as suas dimensões, tornando necessário o esforço de descentrá-las, como fez por exemplo James Ferguson em seu trabalho sobre arranjos domésticos e familiares 18 · O TRECHO, AS MÃES E OS PAPÉIS na Zâmbia em processos de urbanização e desurbanização e sobre as leituras feitas em torno desses arranjos, e como o leitor verá acontecer neste livro. Mas essa audaciosa reconsideração dos sentidos da mobilidade e da permanência em populações rurais, feita, na melhor tradição antropológica, a partir do ponto de vista dos interlocutores, não seria possível sem outro aspecto central da reflexão de Guedes. Uma das dimensões da (boa) vida dos corridos, aqueles que correm trecho, é o seu modo de ler os papéis que o mundo oferece, de lê-los como parte do mundo e não à parte do mundo. Instigado pelos surpreendentes diálogos com um velho roceiro em busca de boas conversas (que percebe “pesquisa” como busca e coleta de “provas”), ou pela estranheza que lhe causa certa maneira de encarar os diversos tipos de cursos que estão no horizonte dos jovens, Guedes contrasta esse modo de ler papéis ou acompanhar os cursos com o modo de ler e cursar dos lidos, os letrados que chegam do Sul, assim como contrasta paralelamente o modo de correr o mundo de corridos e o de lidos. Verifica que, em certo sentido, diante dos mesmos papéis, dos mesmos cursos ou dos mesmos deslocamentos geográficos, lidos e corridos estarão diante de objetos ou atividades de distinta natureza e percorrerão mundos diferentes, para fascínio e desconfiança dos corridos, e incômodo e desprezo dos lidos. Com base na etnografia desse desencontro e da reflexão sobre ele, que o leva a falar em distintos regimes de signos, o pesquisador repensa os sentidos e apropriações possíveis tanto da sua atividade de pesquisa, quanto dos cursos promovidos pelo Movimento por via do qual chegou ao campo, e explora também nesses termos os sentidos dos deslocamentos e de suas possíveis apropriações por aqueles que vivem tendo no trecho um horizonte possível. Partindo dessa cidadezinha parada, ele mesmo aventureiramente parado, frequentando a sede fi xa de um movimento que hoje ali pouco “mobiliza”, Guedes nos leva, com o prazer e a curiosidade que reencontra nos seus interlocutores, aos movimentos incessantes de um largo mundo sujeito a febres que mobilizam paixões, habitado por gente saudosa de um sossego que, às vezes, nunca conheceu, e ao mesmo tempo fascinada por um mundo que nunca cessa de surpreender. Assim, o que o leitor irá descobrir nessa leitura não serão peões movidos por algum ANDRÉ DUMANS GUEDES · 19 jogador quase onipotente em um tabuleiro já esquadrinhado, ou gente incapaz de evitar um nomadismo anômico. Com felicidade, Guedes apresenta essas pessoas como possíveis companheiros ou companheiras de aventuras, seus eventuais parceiros ou parceiras de prosas sossegadas mesmo que meio desencontradas, às vezes militantes, às vezes família, às vezes na vida, ou perdidos no mundo, mas sempre buscando, com a devida desconfiança, evitar cativeiros, ainda que nem sempre consigam. John Comerford Professor do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social (PPGAS), Museu Nacional – UFRJ