CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA MOTRICIDADE ORAL DISFUNÇÕES DA ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR UMA VISÃO ETIOLÓGICA E TERAPÊUTICA MULTIDISCIPLINAR ERIKA KARINA FAVERO SÃO PAULO 1999 RESUMO As disfunções da articulação temporomandibular ( DTMs ) têm sido muito pesquisadas e discutidas devido às grandes controvérsias existentes nesta área. Neste trabalho teórico, serão mostrados anatômicos e fisiológicos da articulação temporomandibular os componentes ( ATM ), a terminologia e classificação das disfunções temporomandibulares, seus principais sinais e sintomas, as bases etiológicas e os tratamentos envolvidos nesta patologia. Atualmente parece ser consenso que fatores estruturais, funcionais e psicológicos estejam reunidos, caracterizando multifatoriedade à origem dessa disfunção. O tratamento de casos de disfunção da ATM exige um conhecimento profundo da etiologia do problema pois alguns recursos multidisciplinares são necessários. Esta monografia poderá ser útil para vários profissionais como fonoaudiólogos, odontólogos, psicólogos, otorrinolaringologistas, fisioterapeutas e psiquiatras pela própria determinação multifatorial da patologia e a busca do tratamento multidisciplinar. ABSTRACT The temporomandibular joint dysfunctions ( TMD ) have been very investigated and debated due to great controversies that exist in this area. In this theoretical research, it will be showed the anatomical and physiological components of temporomandibular joint, the terminology and classification of temporomandibular joint dysfunctions, theirs main signs and symptons, the aetiologics basis and the treatments involved in this pathology. At this moment concepts be consensus that structurals, functionals and psychologicals factors is reunited, caracterizing multifactorial to the origen of this dysfunction. The treatment of temporomandibular joint dysfunction' cases claims an intense knowledge of the problems' aetiology because some multidisciplines resourses are necessary. This monograph may be useful to many professionals as Speech Language Pathologists, Dentists, Psychologists, Nose and Throat Doctors, Physiotherapists and Psychiatrists for own multifactorial determination of the pathology and the research of the multidisciplinary treatment. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 2. DISCUSSÃO TEÓRICA 2.1 - Articulação Temporomandibular 2.1.1 - Anatomia 2.1.2 - Biomecânica Normal da ATM 2.2 - Disfunções Temporomandibulares 2.2.1 - Terminologia e Classificação 2.2.2 - Sinais e Sintomas 2.2.3 - Diagnóstico das Condições Clínicas 2.3 - Etiologia das Disfunções Temporomandibulares 2.4 - Tratamento das Disfunções Temporomandibulares 2.4.1 - Medicamentos 2.4.2 - Terapia Fonoaudiológica 2.4.3 - Meios Fisioterápicos no Tratamento das DTMs 2.4.4 - Acupuntura 2.4.5 - Tratamento Psicológico 2.4.6 - Terapêutica Protética - Oclusão 2.4.7 - Terapêutica Cirúrgica 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 5. ANEXOS 1- INTRODUÇÂO A articulação temporomandibular ( ATM ) é uma das mais nobres articulações do corpo humano. Por sua complexidade, está sujeita a uma série de interferências e depende da estabilidade anatômica e funcional de todo o sistema estomatognático. O sistema estomatognático compreende, além da ATM, ossos ( maxila e mandíbula ), músculos, dentes, espaços, vasos sanguíneos, nervos, órgãos, glândulas que, ao receberem informações do sistema nervoso central, atuam conjuntamente na execução das funções neurovegetativas ( sucção, mastigação, deglutição, respiração e fala ) e manutenção da postura. Todo este complexo sistema, trabalhando de forma integrada, necessita de sincronia e organização. Qualquer alteração em um de seus componentes pode determinar um desequilíbrio de seu funcionamento. As consequências do desequilíbrio são variadas e podem resultar em uma disfunção temporomandibular. Nos E.U.A., mais de 10 milhões de pessoas sofrem dos Distúrbios da Articulação Temporomandibular. O termo Disfunção da Articulação Temporomandibular representa uma série de problemas clínicos envolvendo a ATM e/ou a musculatura mastigatória. Apesar de ser, tradicionalmente, vista como uma síndrome, atualmente é considerada como um conjunto de desordens relacionadas ao sistema mastigatório. Seu diagnóstico depende da avaliação dos sintomas, que são revelados pelo paciente durante a anamnese, e dos sinais, que são pesquisados pelo profissional durante o exame clínico. O sintoma inicial mais comum é a dor localizada nos músculos mastigatórios ou na região da ATM, geralmente agravada durante a mastigação ou movimentos mandibulares. Outros sintomas incluem dores de ouvido, cefaléia e dores na face. Ruídos na articulação e limitações durante os movimentos mandibulares representam os sinais clínicos mais frequentemente observados. As articulações temporomandibulares como parte integrante do sistema estomatognático têm sido motivo de exaustivos estudos. Ao longo dos anos, tem sido grande o avanço alcançado nas pesquisas dos problemas da disfunção temporomandibular. Com o advento das Academias Americana e Européia de Desordens Craniomandibulares, o enfoque científico sobre o assunto tornou-se mais efetivo e atualmente, mais difundido em todas as partes do mundo. No entanto, grande ainda é a controvérsia que cerca o tema não apenas em bases conceituais como em bases etiológicas e terapêuticas. Em decorrência das divergências de opinião dentro desta temática, é propósito deste estudo teórico demonstrar a etiologia multifatorial das DTM e os diversos tratamentos envolvidos nesta patologia. 2 - DISCUSSÃO TEÓRICA 2.1 - Articulação temporomandibular 2.1.1 - Anatomia Maciel ( 1996 ) afirma que os ossos unem-se uns aos outros para compor o esqueleto. Esta união não tem a finalidade restrita de colocá-los em contato, mas também a de permitir movimento. Como esta união não se faz da mesma maneira entre todos os ossos, a maior ou menor possibilidade de movimento muda com o tipo de união existente. Para indicar estas conexões entre quaisquer partes rígidas do esqueleto quer sejam ossos, quer sejam cartilagens, empregam-se os termos juntura ou articulação. Segundo Solberg ( 1989 ), a articulação temporomandibular, também conhecida como articulação craniomandibular, é filogeneticamente recente, peculiar aos mamíferos e tem muitas características distintas. Molina ( 1995 ) refere que a ATM está localizada entre a região distal e superior terminal da mandíbula e a região inferior e lateral do osso temporal. Está delimitada posteriormente pela espinha pós-glenóide, a região escamosa do temporal, o conduto auditivo externo e a região posterior da fossa glenóide, anteriormente pelo tubérculo articular, medialmente pela espinha do esfenóide, lateralmente pela parede lateral externa da fossa glenóide e o músculo masseter e superiormente pelo osso temporal e arco zigomático. A descrição anatômica a seguir está totalmente baseada em Cabezas( 1997 ), Molina ( 1995 ) e Solberg ( 1989 ) ( Figs. 1 e 2 ) . COMPONENTES ARTICULARES A ATM é um componente do aparelho estomatognático, constituindo um sistema dinâmico. Sendo considerada a juntura mais complexa do corpo humano, é composta principalmente pelo côndilo mandibular, parte móvel que se desloca, e pelo osso temporal, parte fixa. Separando completamente estes dois ossos para que não se articulem diretamente existe um tecido fibrocartilaginoso, resistente, denominado disco articular que divide o espaço virtual entre o côndilo e o osso temporal em superior e inferior. A articulação superior localiza-se entre a fossa mandibular do temporal e a eminência articular e o disco. A mesma funciona com movimento de deslocamento, onde se tem a translação. A articulação inferior, sendo uma articulação giratória, apresenta um movimento de rotação. A ATM difere das outras articulações por não estar revestida por cartilagem hialina, mas por uma camada de tecido fibroso avascular, sendo este tecido resistente às forças compressivas. Todas as superfícies articulares e o disco estão recobertos por tecido fibrocartilaginoso não possuindo sistema vasculonervoso nas áreas que suportam pressão, como o disco, principalmente, em sua porção central fibrosa densa. O teto da fossa mandibular do osso temporal é bastante fino, o que demonstra não ser uma área que suporta pressão, uma vez que o côndilo não se articula neste lugar. CÔNDILO MANDIBULAR O côndilo da mandíbula é composto pela cabeça e pescoço. A cabeça tem o formato ovóide e é muito mais convexa no sentido ântero-posterior do que no sentido mediolateral e com convexidade aumentando ao redor do pólo medial. A parte superior do côndilo é a superfície que articula junto à ATM, apresentando o eixo perpendicular ao ramo da mandíbula. O tamanho do côndilo no adulto é de aproximadamente 15 a 20 mm de comprimento e 8 a 10 mm de largura e sua margem lateral externa está só a 1mm abaixo da pele, o que facilita a palpação durante o movimento mandibular. Anteriormente, o côndilo apresenta uma zona rugosa que se une com o colo do côndilo, chamada fossa pterigóidea, na qual se insere o feixe inferior do músculo pterigóideo lateral. O polo lateral do côndilo é, às vezes, pontiagudo, projeta-se discretamente para o plano dos ramos e apresenta uma área rugosa, onde se une ao disco articular e ao ligamento temporomandibular ou lateral. O pólo medial é frequentemente arredondado e estende-se para dentro do plano dos ramos da mandibula. FOSSA MANDIBULAR A porção do osso temporal que aloja o côndilo mandibular é composto de uma concavidade chamada fossa mandibular, também denominada cavidade glenóide ou articular. A fossa é recoberta por tecido fibrocartilaginoso, assim como o processo condilóide da mandíbula em sua superfície articular. É composta inteiramente pela porção escamosa do osso temporal, situada na face inferior do osso temporal , anterior aos elementos do tímpano do complexo temporal, sendo, na parte posterior, côncava tanto no sentido ântero-posterior quanto lateral. Na parte anterior localiza-se a eminência articular, que anatomicamente apresenta duas vertentes ou paredes, uma anterior mais rasa e outra posterior frequentemente mais íngreme e uma crista, denominada crista da eminência articular. A inclinação anatômica da parede posterior da eminência determina a trajetória dos movimentos condilares. A parte côncava da fossa mandibular não constitui um componente funcional da mesma, servindo apenas como receptor para o côndilo , quando se aproxima a mandíbula da maxila. A parte superior está constituída pela superfície côncava superior do disco e o côndilo da mandíbula. Ao relacionar as superfícies articulares tanto da eminência articular quanto do côndilo mandibular, estas apresentam as superfícies articulares convexas demonstrando uma relação incongruente que torna necessária a existência do disco que passa a ser a compensação funcional desta incongruência. A fossa mandibular situa-se abaixo e na frente do meato acústico externo, sendo limitada, no meio, pela fissura escamotimpânica e atrás pelo tubérculo pós-glenóide do osso temporal que faz o limite posterior da fossa mandibular. A porção timpânica do osso temporal encontra-se atrás da ATM, e com o tubérculo pós-glenóide impede-se um deslocamento posterior que traumatizaria esta área. DISCO ARTICULAR O disco articular é uma placa de forma ovalada, com perfil em S itálico nos cortes sagitais. O disco separa a ATM em dois compartimentos, que além de dividir em duas cavidades por intermédio das superfícies bicôncavas, estas são recíprocas e congruentes nos dois compartimentos, de tal modo que, tanto o côndilo como a eminência articular do osso temporal encontram-se em contato, não entre si, mas contra a superfície oposta do disco. A porção central ou intermediária do disco é de pequena espessura em torno de 1 a 2 mm e está localizada entre as superfícies articulares que suportam pressão. Esta porção do disco é constituida de um tecido conjuntivo denso fibroso, totalmente avascular e aneural e, como consequência, sob qualquer lesão apresenta caráter de irreversibilidade. O disco se insere dentro das margens laterais rugosas do côndilo pela parte medial e lateral. Nesse sentido, o disco e a cápsula estão separadamente unidos medial e lateralmente em inserções independentes da cápsula, o que permite que o disco se movimente com o côndilo. Na parte posterior, o disco está ligado à cápsula por um coxim esponjoso retrodiscal, mostrando uma área de tecido frouxo ricamente vascularizado denominado zona retrodiscal. Ele está constituido por uma camada superior e inferior de feixes alargados de tecido conjuntivo que emergem e divergem do disco para o fuso com a cápsula articular acima e abaixo, denominada zona bilaminar. A lâmina superior liga-se ao processo pós-glenóide e é fixada por fibras elásticas que exercem um efeito retrátil no disco, sob certas condições. Sua borda medial é o verdadeiro limite posterior da articulação. A lâmina inferior curva-se inferiormente ao lado do côndilo, unindo-se à cápsula no limite inferior do espaço articular, no colo condilar. Pela frente, o disco encontra-se em conexão com a cápsula, onde o feixe superior do músculo pterigóide lateral se insere, através da cápsula na parte média do bordo anterior do disco. O disco é estabilizado pelos ligamentos do côndilo, de tal forma que este fique fixo em posição, evitando que se movimente para trás e para cima, quando a mandíbula exerce uma grande pressão. CÁPSULA ARTICULAR A cápsula ou ligamento articular é uma membrana fibrosa e fina que circunda a articulação e une suas partes. É constituída de tecido conjuntivo, cujas fibras ricas em colágeno não se estiram. Apresenta-se em duas camadas, uma membrana fibrosa um pouco frouxa e bem resistente que é externa e a membrana sinovial que constitui a camada interna da cápsula. A cápsula insere-se no osso temporal nos limites médio e lateral da fossa mandibular e na frente, até a eminência articular, e atrás, aparece na superfície anterior da apófise pós-glenóide, inserindo-se no colo do côndilo mandibular. Atua para resistir a qualquer pressão mediana, lateral ou inferior que tende a separar ou deslocar as superfícies articulares, e desta forma, define os limites anatômicos e funcionais da ATM, entre a fossa mandibular, eminência articular e nos polos medial e lateral do côndilo, abaixo da inserção dos ligamentos colaterais. A cápsula é um pouco fina, mas a superfície lateral é reforçada pelo ligamento lateral ou temporomandibular. LIGAMENTOS O ligamento temporomandibular é um ligamento denominado colateral, e apresenta suas fibras orientadas de tal maneira, que nos movimentos da articulação estas fibras não são distendidas ou relaxadas o que indica que os ligamentos da ATM não restringem o movimento normal da mandíbula e não são necessários para o funcionamento da articulação. Embora acredite-se que este ligamento limite os movimentos retrusivos da mandíbula, protegendo os tecidos da região posterior da ATM. O ligamento esfenomandibular é um resquício da cartilagem de Meckel. Eleva-se a partir da espinha angular do osso esfenóide e da fissura petrotimpânica e depois corre em direção posterior e externamente até inserir-se na língua da mandíbula. Este ligamento é passivo durante os movimentos da mandíbula, mantendo relativamente a mesma intensidade de tensão durante a abertura e o fechamento da boca. O ligamento estilomandibular é uma densa concentração localizada na fáscia cervical, estendendo-se a partir do processo estilóide para o ângulo mandibular, cobrindo a superfície externa do processo e do ligamento estilóide e ligando-se ao osso na parte posterior do ângulo mandibular, difundindo-se anteriormente como ampla lâmina fascial cobrindo a superfície interna do músculo pterigóide medial. O ligamento estilomandibular está frouxo quando as arcadas estão fechadas ou quando a mandíbula está em repouso e relaxa-se notoriamente quando a boca está aberta, porque o ângulo da mandíbula oscila para cima e para trás e ao mesmo tempo o côndilo desliza para baixo e para frente. MEMBRANA SINOVIAL A membrana sinovial é a camada mais interna da cápsula fibrosa e ocupa virtualmente todas as áreas de não suporte de tensão dentro da articulação. A camada interna da cápsula é revestida de células endoteliais específicas que formam a estrutura da membrana sinovial, ricamente vascularizada e inervada, cuja função é produzir líquido sinovial e prover nutrientes aos tecidos intracapsulares e capacidade imunológica. Esta membrana é especialmente abundante nos setores mais vascularizados e inervados das superfícies superior e inferior da zona retrodiscal, sempre se apresentando nas regiões periféricas à área funcional. O líquido sinovial é uma ultrafiltragem de plasma sanguíneo composto principalmente de ácido hialurônico altamente polimerizado, que é responsável pela qualidade viscosa escorregadia e deslizante. A quantidade de líquido sinovial aumenta quando a articulação encontra-se sob maior pressão e o número de movimentos mandibulares também é aumentado, promovendo lubrificação e nutrição a todas as superfícies da ATM. Um mecanismo de lubrificação saturada é encontrado quando as superfícies são sujeitas a forças de compressão, sem movimento, evitando fricção acentuada. No entanto, numa compressão prolongada, a capacidade de liberação do líquido pode ser esgotada resultando em alterações nos tecidos intracapsulares. Estes aspectos são comuns em indivíduos que apresentam hábito parafuncional de apertamento dental crônico. VASCULARIZAÇÃO E INERVAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR A ATM é vascularizada pela circulação colateral de todos os vasos sanguíneos na área da articulação. A porção anterior da ATM obtém sua irrigação das artérias profundas, temporal posterior e massetérica. As faces posterior e média da ATM são irrigadas por ramos da artéria maxilar, artérias timpânicas anterior, auricular profunda e meníngea média. As faces posterior e lateral da articulação são irrigadas por ramos da artéria temporal superficial. As veias que drenam a ATM desembocando no plexo pterigóideo, temporal superficial e maxilar correspondem às artérias que a irrigam. Estas mesmas áreas se encontram inervadas, inclusive a cápsula articular, o tecido subsinovial e a periferia do disco articular, porém, as áreas de pressão que são a porção central do disco articular, as superfícies articulares do côndilo e do osso temporal parecem não ter inervação. O nervo trigêmio, com seu ramo do nervo mandibular, desvia ramos articulares de suas divisões anterior e posterior para a ATM. Estes ramos são do mesmo tronco nervoso que enervam os músculos mastigatórios. A porção anterior da ATM está inervada pelo ramo anterior do nervo mandibular ( ramo do trigêmio ) e ramos do nervo massetérico. A porção posterior da ATM está inervada pelos ramos do nervo aurículo-temporal da divisão posterior do ramo mandibular do nervo trigêmio. A ATM possui terminações de Ruffini, órgãos tendinosos de Golgi, terminações de Paccini e terminações livres, sendo estas últimas as mais numerosas. 2.1.2 - BIOMECÂNICA NORMAL DA ATM Segundo Maciel ( 1996 ), em uma posição postural, sem interferências da condição oclusal, o côndilo é estabilizado por uma contração moderada de alguns músculos, o que caracteriza a tonicidade normal do sistema. Os principais músculos envolvidos nesta condição são os temporais, que posicionam os côndilos superiormente na fossa, os masseteres e os pterigóideos mediais, ântero-superiormente são os pterigóideos laterais inferiores que posicionam os côndilos horizontalmente na parede posterior da eminência articular. Cabezas ( 1997 ) refere que a ATM é o único osso móvel do crânio, ligando-se à base craniana através de uma articulação dupla bilateral, que se movimenta sinergicamente. Os componentes ósseos da articulação estão separados por uma estrutura composta de tecido conjuntivo fibroso denso que é o disco articular, e a limitação e integridade são mantidas pelos ligamentos, que são compostos por fibras colágenas que têm comprimento específico. Molina ( 1995 ) acredita que os ligamentos atuam como guias para restringir certos movimentos mandibulares de rotação e translação, bordejantes e intrabordejantes dentro dos limites estabelecidos pela cápsula, ligamentos, músculos e proprioceptores. Okenson ( 1991 ) afirma que o esforço constante dos ligamentos através de movimentos bordejantes poderá alterar seu comprimento uma vez que têm pouca habilidade para esticar-se. Quando isto ocorre frequentemente se alongam, criando mudanças na biomecânica da ATM que podem levar a mudanças patológicas. O mesmo autor ressalta que a ATM é capaz de movimentos de dobradiça e de deslocamento e, portanto, é conhecida como articulação ginglimoartrodial e para simplificar o mecanismo desta articulação complexa, separa-se em duas distintas articulações. A articulação inferior é constituída pelo côndilo e pelo disco articular inserido por ligamentos e que formam o complexo côndilo-disco onde ocorre o movimento de rotação. A articulação superior é formada pelo complexo côndilo-disco que se articula com a fossa mandibular, ocorrendo nela o movimento de translação. Douglas ( 1988 ) refere que os movimentos mandibulares de abertura e fechamento bucal são produzidos pelos músculos elevadores e depressores da mandíbula. Os músculos elevadores têm como função básica a elevação da mandíbula, mas também participam de outros movimentos mandibulares. Dividem-se em: - Temporal: além da elevação, contraem-se os feixes anteriores, na abertura máxima e os feixes posteriores, na retração da mandíbula e age no deslocamento contralateral. Seus fascículos dorsais se contraem na translação com oclusão e os ventrais na rotação com oclusão. Este músculo é o fundamental na determinação do tônus muscular na posição postural da mandíbula ( Fig. 3.1 ). - Masseter: além de ser elevador, contribui significativamente para a projeção anterior da mandíbula, como também para sua lateralidade ( Fig. 3.2 ). - Pterigóideo medial: paralelo ao masseter, é também elevador e age de conjunto com o masseter na protrusão e no movimento de lateralidade da mandíbula com boca fechada ( Fig. 3.3 ). Os músculos depressores têm como função básica a depressão da mandíbula e cumprem também outras funções secundárias ( Figs. 3.4 e 3.5 ). Dividem-se em: - Pterigóideo lateral: alem da depressão, determina projeção da mandíbula para frente, e movimentos de lateralidade, com contração unilateral ( do lado ativo ) e relaxamento contralateral ( do lado passivo). - Digástrico: faz parte dos músculos supra-hióideos. É basicamente depressor, como todos os músculos supra-hióideos, produzindo, ademais retropulsão da mandíbula. Deve-se salientar que na abertura bucal, o iniciador é o pterigóideo lateral e o digástrico segue-o. - Genióideo: é também supra-hióideo e depressor da mandíbula. Quando a boca está fechada, puxa o hióide para cima, diminuindo o soalho da boca e facilitando a deglutição. É ainda retropulsor da mandíbula. - Milóideo: deprime a mandíbula quando o hióide está fixo, caso contrário, favorece a deglutição puxando o hióide para cima, como o faz o genióideo. Osborn, citado por Cabezas ( 1997 ), refere que o côndilo articulase na zona intermediária do disco e é mantido nesta posição pela pressão interarticular constante dada pelos músculos elevadores da mandíbula ( masseter, temporal e pterigóideo medial ) e ligamentos articulares. Apesar da pressão entre o côndilo, disco e fossa mandibular estar de acordo com a atividade dos músculos elevadores, sempre alguma pressão é mantida para prevenir separação das superfícies articulares. Se o contato entre elas for perdido, a possibilidade de deslocamento existirá. Solberg ( 1989 ) relata que durante a abertura bucal, o disco articular gira posteriormente próximo ao côndilo, enquanto o complexo disco-côndilo se move para frente e para baixo, próximo à eminência articular. A forma de tensão do ligamento posterior, em meia abertura, auxilia a trazer para trás o disco em rotação próximo ao côndilo. Cabezas ( 1997 ) refere que anterior ao complexo disco- - côndilo está o músculo pterigóideo lateral com seus feixes superior e inferior. Acredita-se que o feixe inferior do pterigóideo seja ativado juntamente com os músculos depressores da mandíbula durante a abertura bucal. Barros & Rode ( 1995 ) consideram que durante a abertura total da boca, o deslize do disco é anulado pela limitação do estiramento do músculo, pela resistência na cápsula e pela falta de superfície articular disponível. O exagero movimento de abertura da mandíbula além deste ponto causar subluxação, tal como o movimento irregular, espasmódico, do complexo disco - côndilo sobre as superfícies não articulares. Quando a boca é aberta completamente, o tecido mole é sugado nos lados póstero-laterais da articulação. Segundo Solberg ( 1989 ), durante o fechamento a articulação recebe o máximo de tensão. Neste ponto, repentinas forças perturbadoras são criadas sobre o côndilo, pela resistência do bolo alimentar. A atividade no feixe superior do músculo pterigóideo lateral juntamente com os músculos elevadores da mandíbula produz um componente anterior de tensão sobre o disco e faz com que este se mova para frente. O mesmo autor refere que no fechamento, o disco funciona como uma cunha em movimento, para assegurar um contato total entre os componentes da articulação, durante a máxima função. Durante a abertura e fechamento da mandíbula, o disco e o côndilo movimentam-se juntos não pela inserção dos ligamentos mas por duas razões fundamentais: morfologia do disco e pressão interarticular. Maciel ( 1996 ) relata que na primeira fase de abertura ocorre um pequeno movimento do côndilo, que ao girar em torno de seu próprio eixo determina a chamada rotação. Na sequência de abertura, o conjunto côndilo - disco desliza pela parede posterior da eminência articular, caracterizando o movimento de translação. Afirma ainda que no fechamento bucal, a função básica da contração dos músculos pterigóideos laterais superiores parece ser a de coordenar o retorno do disco articular de forma suave à sua posição de repouso. Cabezas ( 1997 ) ressalta que a morfologia do disco e a pressão interarticular sempre presentes garantem a manutenção do côndilo na zona intermediária mais fina do disco. Se existir alguma mudança na morfologia do disco ou uma alteração na pressão interarticular, o movimento disco - côndilo pode ser alterado e, de fato, é o começo de uma desordem de interferência do disco. 2.2 - DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES 2.2.1 - TERMINOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO Okenson , citado por Paiva, Vieira, Costa, Maia (1993), refere que ao longo dos anos os distúrbios funcionais do sistema mastigatório têm sido identificados com as mais variadas expressões. Assim, Distúrbios da Articulação Temporomandibular tornou-se uma designação popular até que em 1959 Shore introduziu o termo Síndrome de Disfunção da Articulação Temporomandibular. Anos mais tarde Ramfjord e Ash criaram a expressão Distúrbios Funcionais da Articulação Temporomandibular. Outras denominações foram ainda criadas, enfatizando os aspectos etiológicos tais como: Distúrbio Oclusomandibular e Mioartropia da Articulação Temporomandibular. Outras ainda, evidenciando o aspecto dor como por exemplo: Síndrome Dor - Disfunção e Síndrome Dor - Disfunção da Articulação Temporomandibular. Paiva, Vieira, Costa, Maia ( 1993 ) relatam que uma vez que os sintomas nem sempre são restritos à articulação temporomandibular, alguns autores acreditam que um termo mais coletivo deveria ser usado, passando então a existir a expressão Desordens Craniomandibulares. Os mesmos autores referem que em 1982, Bell sugeriu então o termo Disfunções Temporomandibulares que tem ganho popularidade em todo o mundo. De modo semelhante à terminologia e à etiologia, muito diversificada também tem sido a classificação das disfunções temporomandibulares. Com base na literatura, a classificação que parece estar sendo mais aceita é aquela proposta por Bell ( 1990 ), que divide as desordens temporomandibulares em: A - Desordens musculares agudas ( espasmo muscular, miosite ); B- Desordens do complexo côndilo-disco; C- Desordens inflamatórias da ATM; D Alterações da mobilidade mandibular e E - Alterações de crescimento -desenvolvimento. 2.2.2 - SINAIS E SINTOMAS Takahashi & Araújo ( 1995 ) verificaram que os principais sinais e/ou sintomas da DTM são: dores nos músculos da mastigação ou nas articulações temporomandibulares ou em áreas vizinhas. As dores são espontâneas ou à mastigação. Apresentam também ruídos articulares, limitação de abertura, incoordenação de movimentos mandibulares, abrasões dentárias acentuadas ou fraturas frequentes de dentes e/ou de restaurações. Rhoden, Nicolini, Sordi, Rambo ( 1992 ) referem que os principais sinais e sintomas são: * Dor na região auricular, podendo irradiar-se para o ângulo mandibular. * Sensibilidade muscular em nível do temporal, pterigóideo e masseter. * Clic e estalido na articulação temporomandibular. * Limitação do movimento da mandíbula. * Sensibilidade em toda musculatura do sistema estomatognático e cervical. Sovieiro, Abreu, Castro, Bastos, Souza ( 1997 ) relatam que o sintoma inicial mais comum é a dor localizada nos músculos mastigatórios ou na região da ATM, geralmente agravada durante a mastigação ou durante movimentos mandibulares. Outros sintomas incluem dores de ouvido, cefaléia e dores na face. Ruídos na articulação e limitações durante os movimentos mandibulares representam os sinais clínicos mais frequentemente observados. Outros sinais incluem a tensão dos músculos mastigatórios e travamento ou luxação mandibular. Aguiar ( 1988 ) enfatiza que os principais sinais e sintomas são: dor de cabeça, dificuldade para deglutir, desvios da mandíbula durante abertura, modificação no encaixe dos dentes, pequenos estalos ao abrir e fechar a boca, sensação de travamento da mandíbula, dores na articulação, face, ombros e pescoço, assimetria da mandíbula, assimetria da face, macrognatismo ( mandíbula grande ) e micrognatismo ( mandíbula pequena ). O mesmo autor afirma que, muitas vezes, as disfunções na ATM não causam dores no local lesionado, mas sim em outras áreas da cabeça. Isto acontece porque o cérebro não consegue interpretar qual é a origem do problema e provoca reações nas musculaturas mais comprometidas. Considera ainda que dores nas têmporas e atrás da cabeça podem ser provocadas pela musculatura fatigada do músculo do pescoço usado em excesso devido às DTMs. Dores atrás dos olhos e no topo da cabeça podem ser provocadas pela musculatura fatigada da parte posterior da cabeça. As dores de cabeça na lateral do crânio, provocadas por contratura dos músculos da mastigação, têm uma ocorrência em torno de 70 a 80 % na população. Costen, citado por Aguiar ( 1988 ), refere que os primeiros sintomas seriam: otalgia, zumbido, sensação de bloqueio nos ouvidos, dor na região occipital e vértex, sensação de queimaduras na faringe e na língua, secura na boca, gosto metálico, entre outras, que se conhece como Síndrome de Costen. Para Rhoden, Nicolini, Sordi, Rambo (1992 ), os sintomas cruciais são dor nos músculos mastigadores ( mialgia ) e disfunção mastigatória. A dor, geralmente unilateral, é descrita pelo paciente como dor surda nas regiões temporal, pré-auricular, goníaca e cervical. Pode ser relativamente constante, porém mais frequentemente o paciente relata que a dor é pior pela manhã, outros relatam que é relativamente suave pela manhã e aumenta gradativamente à tarde, exacerbando-se na hora das refeições. Barros & Rode ( 1995 ) afirmam que a dor decorrente dos distúrbios da ATM decorrem da inervação do nervo trigêmio. O nervo trigêmio tem componentes motores e sensoriais. Apresenta três ramos com fibras aferentes para o gânglio trigeminal ( Gasser ): oftálmico, maxilar e mandibular. As fibras de dor e temperatura têm neurônios secundários que procedem do gânglio para os núcleos sensório e espinal. A aferência central desses neurônios é no córtex sensorial cerebral ( giro pós-central e sistema reticular ativador ascendente ). Essa associação enfatiza os inexplicáveis componentes físico e emocional que caracterizam a dor. Segundo os mesmos autores, as outras estruturas são inervadas pelas segunda e terceira divisões do trigêmio: dura mater, órbita, seios paranasais, membrana timpânica, cavidade oral e dentição, o que explica a dor irradiada apresentada pelos pacientes. Czlusniak & Feres ( 1993 ) relatam que os sintomas otológicos vistos em DTMs são provavelmente devido às relações anatômicas, uma vez que o ouvido médio e externo estão separados da ATM somente pela lâmina timpânica. Muitas vezes o paciente confunde dor na ATM com otalgia, já que otalgia é muito mais frequente e reconhecida. Garcia, Madeira, Oliveira ( 1995 ) demonstraram que os sinais e sintomas da ATM são variáveis de acordo com o grupo de indivíduos estudados, o que justifica a existência de resultados diferentes, encontrados nos vários estudos descritos na literatura. 2.2.3. - DIAGNÓSTICO DAS CONDIÇÕES CLÍNICAS Segundo Cabezas ( 1997 ), a seguir estão apresentados os principais diagnósticos de acordo com a American Academy of Oral Pain ( 1993 ). As DTMs compreendem dois grandes grupos de pacientes: os que apresentam patologias da ATM propriamente dita e os que apresentam distúrbios relacionados aos músculos da mastigação. A ATM é passível às mesmas patologias que as outras articulações do corpo: anormalidades congênitas e do desenvolvimento como deslocamentos, trauma, articular. anquilose, artrites, tumores e alterações do disco intra- Desordens internas - Anomalias congênitas e do desenvolvimento Agenesia condilar Na agenesia condilar pode-se ter outras anomalias associadas como em outras partes da mandíbula, ouvido médio e interno, osso temporal, parótida, músculos da mastigação e nervo facial. O Rx da mandíbula e ATM mostra o grau de envolvimento do osso e ainda outras anomalias. O tratamento é cirúrgico seguido de tratamento ortodôntico, devendo ser precoce a fim de evitar maior deformidade da face, estabelecendo-se a altura normal da mandíbula e restauração da parte de crescimento ausente. Hipoplasia condilar Pode ser de origem congênita, no entanto geralmente é decorrente de infecção, trauma ou irradiação durante o período pós-natal de crescimento. Essa anomalia gera uma deformidade facial caracterizada por diminuição do corpo mandibular e desvio de queixo para o lado afetado. Do lado contralateral temos um alongamento da mandíbula e a face é achatada. O diagnóstico é feito a partir da anamnese, exame físico e sinais radiológicos de deformidade. O tratamento é cirúrgico com aumento do lado hipoplásico ou diminuição do lado normal no adulto, seguido de tratamento ortodôntico, para estabelecer uma oclusão dentária normal. Lesões traumáticas O teto da fossa glenóide é uma camada muito fina de osso separando esta da fossa craniana média. Este osso raramente é fraturado, apesar de em injúrias severas o côndilo poder ser dirigido contra esta barreira fina. Isto é verdade por três razões: * o disco articular absorve o shock. * a cabeça do côndilo é angulada para adiante sobre o pescoço do ramo mandibular. * o pescoço do côndilo, sendo muito mais fino que o ramo ou o côndilo, tende a fraturar primeiro, desta forma protegendo o teto fino e a fossa craniana média. Os sinais e sintomas encontrados são: * dor pré-auricular. * dificuldade para abrir a boca. * se apenas um lado for acometido, há um desvio da mandíbula para o lado afetado. * frequentemente uma mordida anterior. O diagnóstico é baseado em achados físicos e radiológicos. O tratamento constitui-se de fixação maxilomandibular e às vezes redução cruenta. Luxação A mandíbula permanece em posição aberta da boca quando luxada. Podem ser definidas três formas: * episódio simples agudo. * luxação crônica recorrente. * luxação crônica permanente. A primeira requer redução manual sob anestesia local e sedação ou anestesia geral. A luxação crônica recorrente e luxação crônica permanente requerem tratamento cirúrgico. Anquilose As causa mais comuns são: trauma e artrite reumatóide, eventualmente anormalidades congênitas, infecções e neoplasias. Pode-se encontrar dois tipos de anquilose: * envolvimento da articulação. * envolvimento das estruturas extra-articulares. Ao Rx pode-se observar: deformidade condilar, estreitamento e irregularidade do espaço interarticular ou obliteração da morfologia normal do osso. O tratamento é cirúrgico. Artrite São as patologias mais frequentes da ATM, podendo ter várias etiologias: * Traumática: pode ser consequência de traumas de mandíbula sem fratura. O sinais e sintomas são endurecimento, dor e limitação do movimento da articulação. A radiografia pode ser negativa ou mostrar alargamento do espaço interarticular ou hemorragia. Nos casos de crianças, os pais devem ser orientados quanto ao possível retardamento do crescimento mandibular. O tratamento é sintomático com restrição da movimentação da ATM. * Infecciosas: são raras na ATM. Podem estar associadas a infecções sistêmicas como sífilis, gonorréia ou tuberculose, por infecção local ou hematogênica. Caracteriza-se por sinais flogísticos e trismo. O tratamento é feito com antibióticos e antiinflamatórios, eventualmente pode ser necessária drenagem cirúrgica. * Artrite reumatóide: nem sempre se apresenta como primeiro sintoma. Clinicamente apresenta-se com dor bilateral, endurecimento e edema da articulação e limitação do movimento. O tratamento é feito com AINH, corticóide e eventualmente hidroxicloriquina e penicilamida. A cirurgia pode ser necessária na presença de anquilose. Neoplasias São incomuns. Entre os tumores benignos, pode-se encontrar: condroma, osteocondroma e osteoma. Mais raramente entre os tumores benignos encontra-se: mixoma, displasia fibrosa, granuloma de células gigantes, sinovialoma, condroblastoma, osteoblastoma e hemangioma sinovial. Tumores malígnos são ainda mais incomuns: fibrossarcoma, condrossarcoma e mieloma múltiplo. Pode haver invasão da ATM por tumores da bochecha ou parótida. Os sinais e sintomas são: dor, movimento limitado da mandíbula e dificuldade de oclusão dentária. A radiografia mostra destruição óssea, com imagens de aposição e reabsorção. O tratamento é cirúrgico. Deslocamentos do disco articular São causados pelo rompimento ligamentar entre o disco interarticular e o côndilo da mandíbula com consequente deslocamento do músculo pterigóideo lateral. O deslocamento mais comum é antero-medial devido a orientação do músculo pterigóideo lateral. Pode-se dividir os deslocamentos em três tipos: * Deslocamento do disco com redução - O disco está deslocado da sua posição em direção anterior e medial ou lateral, com redução em abertura total, geralmente resultando em um ruído. Sinais e sintomas principais * clique recíproco na ATM tanto em abertura como em fechamento, que ocorre num ponto a pelo menos 5 mm a mais na abertura da distância interincisal do que no fechamento e é eliminado em abertura protrusiva. * clique na ATM nos movimentos de abertura e fechamento e reproduzível em duas ou três tentativas consecutivas e clique durante excursão lateral ou protrusão em duas ou três tentativas consecutivas. * Deslocamento de disco sem redução e com abertura limitada - O disco está deslocado da sua posição normal para uma posição anterior e medial ou lateral, com abertura mandibular limitada. Sinais e sintomas principais * história de limitação significativa de abertura. * excursão contralateral menor que 7 mm e/ou desvio não-corrigido para o lado ipsilateral na abertura. * distensão passiva aumenta a abertura por 4 mm ou menos, além da abertura máxima não-assistida. * ausência de ruído articular ou presença de ruído articular não satisfazendo critérios de deslocamento de disco com redução. * Deslocamento de disco sem redução e sem abertura limitada - Uma condição em que o disco é deslocado da sua posição entre o côndilo e a eminência para uma posição anterior e medial ou lateral, não-associada à abertura limitada. Sinais e sintomas principais * história de limitação significativa da abertura mandibular. * máxima abertura não-assistida maior que 35 mm. * distensão passiva aumenta a abertura em 5 mm ou mais, além da abertura máxima não-assistida. * excursão contralateral maior que 7 mm. * presença de ruídos articulares não satisfazendo critérios de deslocamento de disco com redução. * nos casos que permitem exame por imagens, pode-se utilizar a artrografia ou ressonância magnética que revelam a posição do disco articular sem redução. Desordens musculares Até pouco tempo, os distúrbios musculares eram classificados como Disfunção Miofascial Dolorosa, para classificar as dores dos músculos da mastigação. No entanto recentemente com a consideração de inúmeros fatores, a ela associados, preferiu-se nomear esta síndrome como fibromialgia, sendo o distúrbio da ATM mais comum. Os sinais e sintomas encontrados são dor na ATM, geralmente referida como dor mal localizada que se irradia para a orelha ( área pré-auricular e dentro do ouvido ), mandíbula, têmporas, face, em repouso ou durante função e também em resposta à palpação. Pode limitar a abertura de boca e acomete na maioria das vezes uma das articulações apenas. Podem estar associados a outros sintomas como: cefaléia ( do tipo tensional ), diminuição da audição, zumbido e dor neurálgica, mas que não são explicadas fisiopatologicamente. Esse distúrbio acomete principalmente mulheres entre os 20 e 40 anos de idade. Muitos pacientes apresentam bruxismo diurno ou noturno e distúrbios do sono. O diagnóstico é difícil uma vez que deve-se afastar primeiramente todas as possibilidades de causas orgânicas. Radiografias simples ( transcraniana, transfaríngea ou panorâmica ), tomografia computadorizada e ressonância nuclear magnética para determinar a posição do disco interarticular podem ajudar no diagnóstico. Os exames laboratoriais também podem ser úteis para se afastar doenças sistêmicas como por exemplo a artrite reumatóide. . 2.3 - ETIOLOGIA DAS DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES Sovieiro, Abreu, Castro, Bastos, Souza ( 1997 ) referem que apesar de as DTMS não apresentarem etiologia definida, acredita-se que fatores funcionais, estruturais e psicológicos estejam reunidos, caracterizando multifatoriedade à origem dessa disfunção. Umaña ( 1986 ) afirma que os fatores etiológicos da disfunção são definidos segundo teorias diversas. No mesmo estudo, cita as causas mais frequentes em ordem decrescente: ranger de dentes noturno, ranger de dentes diurno, apertamento dental, mastigação unilateral, onicofagia e hábitos de morder lábios, lápis e outros. De acordo com Vanderas ( 1987 ), maloclusão e disfunção não representam uma relação de simples causa e efeito. Assim sendo, o tratamento precoce de maloclusões não pode garantir a prevenção do desenvolvimento de problemas na ATM. O mesmo autor refere que dos hábitos parafuncionais, o bruxismo tem sido o mais investigado nos estudos que avaliam os fatores relacionados com a DTM. No entanto, ainda não se tem subsídios para determinar até que ponto o bruxismo, por si só, seria suficiente para provocar o aparecimento da DTM. Afirma, ainda, que o desenvolvimento dos sinais e sintomas da disfunção vai depender também da frequência, da duração e da intensidade do hábito parafuncional, que pode variar de indivíduo para indivíduo e, até mesmo, de uma noite para a outra na mesma pessoa. Molina ( 1989 ), num estudo sobre oclusão e articulação temporomandibular, considera que a disfunção da ATM podia estar presente com maior frequência em pacientes com as seguintes características na oclusão: * indivíduos portadores de mordida cruzada posterior uni ou bilateral. * indivíduos portadores de maloclusão Classe II - 2ª divisão de Angle. * pacientes que apresentam oclusões mutiladas. * indivíduos com curva de Spee exagerada, combinada com interferências grosseiras do lado do balanceio. Mostra ainda um resumo da etiologia da disfunção da ATM exposto no Quadro 1 através de um breve histórico. Na opinião de Moyers ( 1991 ) há uma grande evidência de que os sinais e sintomas precoces são, frequentemente, associados com maloclusões morfológicas de Classe II, mordida cruzada, sobremordida profunda e talvez mordida aberta. Rhoden, Nicolini, Sordi, Rambo ( 1992 ) refletem que grande número dos seres humanos passam a vida com maloclusão, sem apresentar a sintomatologia da disfunção muscular da articulação temporomandibular. No mesmo estudo, citam as causas mais comuns em ordem decrescente: perda precoce dos dentes, ausência parcial ou total dos elementos dentários, perda da dimensão vertical ( próteses totais inadequadas ), presença de contato prematuro, mordidas cruzadas, migração dentária, mastigação unilateral, bruxismo e prognatismo e laterognatismo ( maloclusão esquelética ). Czlusniak & Feres ( 1993 ) afirmam que as desarmonias oclusais estão diretamente relacionadas às patologias que envolvem a articulação temporomandibular. Ricketts, citado por Czlusniak & Feres ( 1993 ), relacionou quatro possíveis fatores etiológicos de distúrbios articulares, causados por condições de problemas de oclusão, como função excessiva, posicionamento distal, interferência e perda de apoio posterior. Paiva, Vieira, Costa, Maia ( 1993 ) realizam uma ampla discussão com diversos autores em seus estudos, dos quais irei citar quatro autores a seguir: Laskin ( 1969 ) explicando a sua teoria psico-fisiológica das disfunções da ATM sugere a designação de Síndrome Dor - Disfunção - Miofascial comentando o envolvimento primário dos músculos da mastigação e sua respectivas fascias no estágio inicial do quadro disfuncional. Para o autor, o estresse emocional seria o fator principal na etiologia da disfunção. Krough - Poulsen ( 1980 ) relata que fatores oclusais associados às respostas dos músculos e articulações temporomandibulares e às condições gerais e emocionais do paciente, podem deflagrar o quadro. Gelb ( 1988 ) refere que os fatores etiológicos das desordens craniomandibulares são múltiplos incluindo fatores genéticos, desenvolvimentais, fisiológicos, traumáticos, patológicos, ambientais, mentais e comportamentais. Solberg ( 1989 ) afirma que compreender a etiologia das disfunções temporomandibulares não é simples. Tanto os fatores centrais como os periféricos parecem ser importantes juntamente com os fatores morfo-funcionais ( oclusão e bruxismo ) e psicológicos ( ansiedade e tensão ). Okeson ( 1995 ), num breve histórico, coloca que em 1987 Seligman & Pullinger realizaram um estudo não convincente das relações entre oclusão e desordens funcionais do sistema mastigatório. Cita em seguida os mesmos autores ( 1988 ), numa segunda revisão, os quais afirmam que as mais controladas pesquisas falharam em demonstrar qualquer relação entre o lado de trabalho e não trabalho e sinais ou sintomas das DTM. Por fim, numa terceira revisão ( 1991 ), consideram os achados sobre os fatores oclusais relacionados a DTM inexpressivos se considerados isoladamente e concluem que é importante investigar a relação entre as DTMs e uma combinação de fatores no indivíduo. O mesmo autor relata que existem dois caminhos para a condição oclusal afetar a ATM. O primeiro se relaciona com o aparecimento de mudanças repentinas na condição oclusal. Embora mudanças repentinas possam criar respostas dolorosas no músculo, muito frequentemente novos engramas musculares são desenvolvidos e o paciente se adapta com pequenas consequências. A segunda maneira pela qual a condição oclusal pode afetar a ATM é na presença de instabilidade ortopédica. A instabilidade ortopédica deve ser significante e a sobrecarga deve estar presente para acarretar respostas nos músculos mastigatórios e consequentemente na ATM. Garcia, Madeira, Oliveira ( 1995 ) afirmam que a musculatura em hiperatividade, devido à maloclusão, associado a períodos de estresse e fadiga, pode provocar o aparecimento de sintomas dolorosos na musculatura do complexo condilar. Dawson, citado por Takahashi & Araújo ( 1995 ), destaca que menos de 3% de todos os DTMs são problemas primários de patologias da própria articulação, sendo quase todos os demais distúrbios articulares resultados da incoordenação dos músculos mastigatórios, podendo ou não estar relacionados com vários graus de trauma. Barros & Rode ( 1995 ) enfatizam que tratamento ortodôntico prévio também tem sido observado em mais de 40% de 150 indivíduos que apresentam sintomas e sinais de distúrbios funcionais da ATM. O tratamento ortodôntico pode contribuir para a disfunção e induzir a sequelas ainda maiores como por exemplo alterações articulares degenerativas muitos anos após o tratamento ortodôntico. Portnoi ( 1995 ) cita estudos que mostram que a influência de fatores emocionais no sistema mastigatório tem sido explicada por induzir atividades parafuncionais e por causar aumento da tensão muscular. Takahashi & Araújo ( 1995 ) em pesquisa realizada não encontram um número significativo de pacientes com quadro clínico que os classifiquem como portadores de DTM, de origem oclusal. Ainda referem que além da questão bastante discutida da relação oclusal com ATM, o envolvimento emocional tem sido apresentado como fator relevante no desencadeamento e/ou agravamento dos problemas de DTM. Maciel ( 1996 ) refere que a disfunção da articulação temporomandibular tem sido observada com muita frequência em cantores profissionais, tocadores de violino, datilógrafas, em indivíduos com hábitos viciados para dormir, telefonistas, em indivíduos com hábitos de sexo oral prolongado, entre outros. O fator etiológico mais importante, nestes casos, reside no uso e estiramento prolongado de grupos musculares de cabeça, pescoço, coluna cervical, entre outros. Segundo Sovieiro, Abreu, Castro, Bastos, Souza algumas condições, como maloclusões e parafunções ( 1997 ), ( principalmente bruxismo e travamento dos dentes ), estão presentes com certa frequência em pacientes com sinais de disfunção. No entanto, não se pode afirmar até que ponto estes fatores podem ser considerados predisponentes ou , apenas, coincidentes. Egermark - Ericsson et al, citados por Sovieiro, Abreu, Castro, Bastos, Souza ( 1997 ), consideram que a presença de maloclusão possa atuar como um dos fatores etiológicos da disfunção da ATM. Os autores observam uma correlação estatisticamente significante entre a presença de mordida cruzada posterior e o aumento da tensão da musculatura mastigatória, seguida do surgimento de sintomatologia dolorosa. Em contrapartida, os estudos de Gunn et al e de Boever & Berghe, citados pelos mesmos autores ( 1997 ), não constataram relação entre maloclusão e distúrbios da ATM. Ferreira ( 1997 ) em estudo realizado nos operadores de Pregão da BM&F refere que o nível de stress ao qual o operador está submetido desencadeia alto nível de contração muscular, o que ajudaria na determinação da DTM. Segundo Bianchini ( 1998 ), existem fatores traumáticos na região da ATM, problemas degenerativos, fatores oclusais, efeitos de radioterapia na região de cabeça e pescoço, alterações esqueléticas, perdas dentárias, alterações musculares, hábitos nocivos parafuncionais, problemas emocionais e estresse que podem diminuir a capacidade adaptativa deste sistema de forma a levar à caracterização de disfunção. De acordo com a mesma autora, parece ser consenso atualmente que uma etiologia única para a DTM não existe, sendo um problema de etiologia multifatorial e dessa forma, na maioria das vezes são necessários tratamentos multidisciplinares. 2.4 - TRATAMENTO DAS DISFUNÇÔES TEMPOROMANDIBULARES Barros & Rode ( 1995 ) enfatizam que da mesma forma que o diagnóstico das DTMs e da ATM apresenta um enfoque multifatorial, com muito mais propriedade este fato ocorre no seu tratamento. O tratamento destas disfunções varia enormemente, tanto quantas são as especialidades envolvidas. Necessita-se de uma abordagem multidisciplinar por especialidades como Odontologia, Medicina, Fonoaudiologia, Psicologia e Fisioterapia, e dentro delas as suas subdivisões. Segundo Maciel ( 1996 ), em função da etiologia e o interrelacionamento de vários problemas temporomandibulares serem frequentemente complexos, são sugeridas terapêuticas iniciais cuidadosas e conservadoras. Tratamentos ortodônticos, reabilitadores, por desgastes, ou cirúrgicos, não devem ser estabelecidos antes de se assegurar que serão benéficos ao longo prazo aos pacientes. 2.4.1. - Medicamentos Solberg ( 1989 ) acredita que o primeiro objetivo é controlar a dor. A finalidade é não eliminar toda a dor, já que isto apenas encorajaria o uso indevido da parte injuriada. Sendo assim, os analgésicos narcóticos, que extinguem a dor são contra - indicados. A dor funcional serve para lembrar o paciente que deve evitar uma determinado movimento, permitindo que os tecidos traumatizados se recuperem. O autor também afirma que os analgésicos que não viciam, ou os medicamentos anti - inflamatórios não esteróides, são úteis para combater a dor contínua. O Diazepan é indicado como uma terapia a curto prazo, quando a ansiedade e o espasmo muscular são predominantes. Jorge & Tortamano ( 1995 ) definem medicamentos ansiolíticos como drogas que reduzem a ansiedade. Os ansiolíticos tipo Amplictil e Neozine podem causar efeitos diversos, como queda da pressão arterial, galactorréia, produção de dependência em enfermidade, com o Lorax, Tranxilene e Lexotan. Os mesmos autores ainda referem que dentre os ansiolíticos que possuem pequeno efeito sedante ou calmante, além de discreta ação miorrelaxante, o que os indica nas DTMs, se destacam o Valium e o Dienpax. Também destacam os medicamentos relaxantes musculares com pequeno efeito calmante, como o Beserol, Glifarelax, Mioflex e Paralon. 2.4.2 - Terapia Fonoaudiológica Segundo Bianchini ( 1998 ), a atuação fonoaudiológica é interdisciplinar, podendo abranger vários aspectos, assim divididos: - conscientização e propriocepção - termoterapia - massagem - mioterapia - terapia miofuncional Conscientizão e Propriocepção A conscientização e o conhecimento do problema são indispensáveis para que o paciente colabore. As explicações sobre: o que é ATM, como funciona, que movimentos estão envolvidos e, o que determinado hábito parafuncional provoca na articulação, buscam trazer a conscientização daquilo que se pode ou não fazer em determinadas fases da terapêutica proposta. O trabalho proprioceptivo tem como objetivo que o paciente perceba suas tensões, modificações posturais ou funcionais e seus hábitos. Após a percepção e repetição voluntária da situação inadequada, o paciente pode ser capaz de descrevê-la e evitá-la. O treino sugerido propõe repetições constantes por mínimos períodos. Desta forma, a musculatura estaria sendo constantemente estimulada, buscando sua real modificação. Termoterapia A termoterapia constitui-se basicamente na utilização de compressas quentes e/ou frias com o objetivo de propiciar mudanças na oxigenação da musculatura e relaxamento. O calor é essencialmente indicado em casos crônicos em que exista tensão muscular aumentada e crises de algia. Seu efeito é relaxante e relativamente analgésico. O tempo recomendado é de quinze à vinte minutos. Pode-se utilizar calor úmido sobre a região da ATM, dos músculos masseteres e temporais bilateralmente, seguido de massagens. A aplicação de calor é contra-indicada em casos agudos, na ocorrência de processos inflamatórios, bem como em casos de alterações neurológicas. A utilização de baixas temperaturas, ou crioterapia tem sua indicação nos casos de limitações articulares pós-traumáticas e pós-operatórias, relaxamento de espasmos musculares e processos dolorosos agudos. Sua aplicação é contra-indicada em casos de hipersensibilidade ao frio, doença vascular periférica ou casos de circulação sanguínea deficiente. Massagem A musculatura da cintura escapular e região cervical costuma apresentar-se muito tensa e são facilmente detectados nódulos de tensão. A massagem inicia-se pela região posterior do pescoço, através de compressões em pontos próximos bilateralmente, e , de cima para baixo sobre as vértebras cervicais. Lateralmente, deve-se pressionar a região de mastóide e deslizar por toda a extensão do músculo esternocleidomastóideo. Por fim, deve-se massagear os músculos trapézios. O movimento pode ser de deslizamento póstero-anterior ou de simples pressão. Na região facial podem ser utilizados toques e deslizamentos desde a região da órbita. Na região dos músculos temporais e masseteres são realizados movimentos lentos e rotatórios, porém firmes. Pode ser realizada manipulação bidigital em masseter, iniciando com vibração para inibir possível contração reflexa e segue-se deslizando pelo bucinador. As massagens devem ser realizadas pelo indivíduo durante suas atividades diárias e podem ser seguidas por exercícios com movimentos de ombros e cabeça que auxiliem o alongamento progressivo desta musculatura. As alterações posturais globais devem ser observadas e direcionadas para um trabalho específico de fisioterapia. Mioterapia A mioterapia tem indicação clara na maioria dos casos de DTM. Os dados do exame e consequente diagnóstico devem direcionar a escolha de exercícios. Uma programação específica envolvendo exercícios leva ao desenvolvimento e manutenção de um maior controle neuromuscular. Os exercícios podem ser indicados tanto para relaxar os músculos quanto para melhorar tônus e função. Durante a realização dos exercícios não pode ocorrer dor. A amplitude, frequência e velocidade dos movimentos devem respeitar os limites individuais de cada paciente. Os exercícios devem trazer conforto ao paciente. Alguns deles podem ser mantidos mesmo após ter sido alcançado o objetivo do tratamento para garantir a estabilidade miofuncional a longo prazo. São realizados exercícios com a musculatura cervical, facial, mastigatória e lingual. Seguem-se abaixo algumas sugestões: - musculatura cervical: elevação, abaixamento e rotação dos ombros, hiperextensão e hiperflexão da cabeça, lateralização direita e esquerda da cabeça com alongamento e rotação. - musculatura facial e lingual: existe uma infinidade de exercícios que trabalham esta musculatura. Deve ser indicado o menor número de exercícios. A massagem mostra-se mais eficiente e agradável. Exercícios que envolvem abaixamento da base da língua ou retrusão, com ou sem resistência devem ser evitados, pois modificam a musculatura supra - hioídea e podem levar à contração simultânea dos músculos masseteres para evitar abertura bucal. - exercícios mandibulares: são treinados movimentos de abertura, fechamento, lateralidade e protrusivo em situação dirigida, lentamente e com precisão. Indicados especialmente em casos onde ocorrem desvios no percurso mandibular e/ou limitação dos movimentos. Considera-se uma restrição de abertura uma amplitude menor que 40 mm. O objetivo do exercício pode ser organizar o movimento, aumentar a amplitude ou ambos. A língua auxilia bastante na realização dos movimentos mandibulares. Na presença de dificuldade em movimento de lateralidade mandibular, pode-se associar a rotação lingual em lateralidade com esforço para levar ao movimento mandibular. O posicionamento de ponta de língua em região retro-incisiva durante o exercício de abertura e fechamento mandibular leva a facilitação do exercício, uma vez que direciona o movimento mais facilmente. No entanto, acarreta maior tensão da musculatura supra-hióidea. Terapia Miofuncional Um trabalho envolvendo respiração pode beneficiar o paciente e está relacionado diretamente com o trabalho proprioceptivo e a realização de automassagens. A orientação da mastigação e da dieta alimentar vai sendo modificada no decorrer do tratamento de acordo com a redução da sintomatologia dolorosa. A mastigação deve ser treinada somente com alimentos. O uso de garrotes ou qualquer outro material de borracha ou silicone é contra-indicada por poder provocar sobrecarga na musculatura mastigatória, sem respeitar a modificação normal de cada ciclo mastigatório. Solicita-se o padrão bilateral alternado assim que o paciente tiver condições de realizá-lo. A deglutição pode não necessitar de um trabalho específico, uma vez que na maior parte dos casos, costuma ser consequência da mastigação inadequada. Na persistência das alterações, um treino proprioceptivo é recomendado. O treino da fala e voz envolve percepção da utilização de caixas de ressonância, do abuso vocal e das tensões associadas. Quando a oclusão e situação articular deixam de interferir é possível que ocorra uma adaptação espontânea da fala e voz. O tratamento fonoaudiológico deve respeitar sempre as limitações do paciente impostas pelas etapas do tratamento odontológico. A próxima abordagem fonoaudiológica está totalmente baseada em Felício ( 1994 ) que sugere o início da terapia pelas técnicas de relaxamento, além de todo o diálogo sobre a problemática com o paciente. O relaxamento tem o objetivo de levar o paciente a desenvolver a percepção do próprio corpo e pontos de tensão, realizar o aumento da circulação sanguínea periférica, a eliminação de resíduos metabólicos, aliviando assim a hiperatividade muscular e a dor. As técnicas mais usadas são a de cocheiro e a de ombros, cabeça e pescoço baseada em Van Reich. Em seguida trabalha-se com a colocação da respiração diafragmática - abdominal, uma vez que grande parte das pessoas com DTM apresentam respiração superior. Além disso, controle pneumofonoarticulatório e expansão da capacidade torácica, também são importantes para prevenir que durante a fonação apareça hiperatividade muscular na região laríngea e esta se dissipe para a face. Os exercícios miofuncionais orais devem ser praticados com a pessoa sentada e a cabeça ereta, evitando alterações na postura da mandíbula e assimetrias no trabalho muscular. O objetivo final da terapia miofuncional na DTM é a adequação das funções estomatognáticas, mas um resultado imediato que ela produz é o alívio da dor pela melhor irrigação sanguínea propiciada pelos exercícios. Dentre os exercícios de língua estão: alargar e afilar, protruindo-a; tocar com a ponta da língua os lábios superior e inferior; retirar da língua um elástico ortodôntico de 5/16, retraindo-a; movimentos ântero-posteriores da língua no soalho da boca ou sugada contra o palato, estimulando a retrusão; estalo de língua; abertura e fechamento de boca com a língua sugada. Movimentos e postura de língua na cavidade oral são fundamentais para a condição postural e funções da mandíbula. Estes exercícios trabalham a musculatura intrínseca da língua ( mudança de forma e movimentos finos ) e extrínseca ( movimentos para cima e para baixo, para os lados, para dentro e para fora ). Os músculos intrínsecos da língua são: genioglosso e fibras musculares longitudinais inferiores e superiores, transversais e verticais. Os músculos extrínsecos são: estiloglosso, palatoglosso e hioglosso. Lábios em condição postural desocluída e evertidos, e que durante a mastigação e deglutição apresentam um aumento excessivo de atividade, precisam de exercicios para melhorar sua função e forma. Neste caso, emprega-se exercícios com tubo de látex ( garrote ) de aproximadamente 15 mm de comprimento e 9 mm de espessura, transferindo-o do vestíbulo bucal superior para o inferior e vice - versa, apenas pela ação labial. Se ocorrer ruídos na articulação ou dores durante os exercícios, a conduta deve ser modificada. Sugar a chupeta com a auréola no vestíbulo, puxando-a com certa força para fora, a fim de promover a contra-resistência do músculo orbicular dos lábios; apertar o lábio superior contra o inferior; manter o haltere labial também são úteis para a hipofunção dos lábios. Lábios retraídos, protruídos ou comprimidos, como comumente são encontrados em apertadores dentais, associados à hiperatividade de outros músculos faciais e elevadores da mandíbula, precisam de um trabalho de relaxamento. O garrote pode ser utilizado, mantendo-o parado no vestíbulo superior e depois no inferior sem contrair os lábios, apenas distendendo-os. Outro recurso é colocar água morna e salgada na boca e passá-la do vestíbulo superior para o inferior alternadamente, o que propicia o aumento do suprimento sanguíneo, alem de distender e relaxar a musculatura. Este mesmo recurso pode ser usado para os músculos elevadores, passando de uma bochecha para a outra. O exercício com a chupeta é utilizado mesmo com adultos pela facilidade de exercitação de diversos músculos, como por exemplo ativação de temporal, masseter, supra-hióideos ( abaixadores da mandíbula ), pterigóideo medial ( elevadores ), alternando contração e relaxamento, além de alongamento sem abertura excessiva e trabalho com os bucinadores, orbicular dos lábios e a língua. A sucção da chupeta provoca uma sensação de alívio e relaxamento da musculatura elevadora, uma vez que não se pretende elevar o tônus, tampouco provocar fadiga. Com o objetivo de treinar movimentos simétricos de abertura e fechamento da boca, percepção da força de mordida e alongamento dos músculos elevadores, realiza-se a mordedura suave de um tubo de látex de 9 ou 5 mm de espessura, colocado transversalmente na boca, o qual deve ser tocado pelos caninos bilateralmente. A mordedura é feita pelos caninos porque quanto mais posterior for a mordida, maior força chegará às ATMs. Esse exercício pode ser feito com a pessoa usando a placa oclusal. Nem sempre os estímulos vibratórios proporcionam relaxamento dos músculos elevadores, pois foi comprovado que uma vibração mecânica de 120 a 160 Hz causa mudanças no tônus, ocasionando elevação da força de contração dos elevadores e decréscimo dos antagonistas. Quando a lateralização da mandíbula não provoca ruídos nas ATMs, pode-se iniciar uma preparação para a mastigação bilateral, que consiste em colocar um garrote de 15 mm de comprimento na cavidade oral, fechar os lábios e passá-lo de um lado para o outro sucessivamente. Como os movimentos mastigatórios são relativamentes automáticos e resistentes a mudança, após as correções oclusais, possibilitando a correta mastigação, realiza-se o treino com alimentos. A adequação da oclusão não garante a coordenação da deglutição e respiração nem a mastigação do alimento até uma consistência ideal. Por isso, tornase importante o treino com alimentos sólidos, como coco, pão e maçã. O processo terapêutico não pode desvincular-se da importância da tomada de consciência pela pessoa que se trata sobre esses aspectos. Os exercícios orofaciais, a respiração e o relaxamento criam condições para uma boa articulação da fala e produção da voz. É preciso explicar que a articulação da fala fechada e tensa pode levar à hipertonicidade e encurtamento dos músculos elevadores da mandíbula. Já a função adequada preserva e cria condições que beneficiam a saúde do sistema. 2.4.3 - Meios Fisioterápicos no Tratamento das DTM Segundo Lopes & Rode ( 1995 ), o tratamento neuromuscular pela fisioterapia tem como objetivo devolver à musculatura sua condição de tônus, relaxando os músculos em hiperatividade e trabalhando aqueles em desuso. As técnicas auxiliares fisioterápicas para ATM descritas abaixo estão totalmente baseadas em Lopes & Rode ( 1995 ). Eletroterapia É uma técnica onde se utiliza ondas eletromagnéticas ( ultra- sônicas ou correntes elétricas contínuas, alternadas, sinudoidais ou exponenciais ) com o objetivo de se obter relaxamento muscular e melhora das condições circulatórias e inflamatórias. Ultra - som Equipamento que se utiliza de frequências de ondas com oscilações de 500.000 a 3.000.000 de ciclos por segundo. O mais comumente usado são 1.000.000 de ciclos por segundo ( Fig. 4.1 ). Efeitos fisiológicos e terapêuticos * Efeito térmico - maior irrigação sanguínea, eliminação dos catabólitos e redução do processo inflamatório. * Efeito mecânico - aumento da permeabilidade das membranas, acelerando as trocas de fluidos e a absorção celular. * Diminuição da dor - o efeito térmico é o grande responsável pela diminuição da dor, a ação das ondas sobre os nervos promove uma analgesia. * Efeito químico - acelera as reações químicas. Ondas Curtas Equipamento que se utiliza de calor profundo, através de ondas curtas de alta frequência ( 27.120.000 ciclos por segundo ) ( Fig. 4.2 ). Efeitos fisiológicos e terapêuticos: * Aumento do metabolismo - o aquecimento tecidual acelera as trocas químicas e o metabolismo, havendo aumento do consumo de substâncias nutritivas e de oxigênio. * Aumento da irrigação sanguínea - o calor produz uma vasodilatação, principalmente nos tecidos superficiais. A estimulação das terminações nervosas sensoriais superficiais pode levar a vasodilatação reflexa nas arteríolas, gerando um aumento do aporte sanguíneo na zona tratada com aumento de afluxo de substâncias nutritivas e oxigênio. * Efeitos sobre o tecido muscular - a elevação da temperatura produz relaxamento muscular e eleva com eficácia a sua ação. * Efeitos sobre processo inflamatórios - em estados agudos devese ter cuidado porque a elevação da temperatura pode agravar os sintomas. Em estados subagudos podem-se aplicar doses mais fortes e obter melhores resultados. * Efeitos sobre processos traumáticos e infecciosos - facilita o processo de recuperação, uma vez que favorece a eliminação de catabólitos e aumenta a irrigação sanguínea. * Diminuição da dor - calor produz um efeito de alívio da dor, pela analgesia dos nervos sensitivos. Infravermelho Os raios infravermelhos são ondas eletromagnéticas emitidas por um material incandescente ( Fig. 4.3 ). Efeitos fisiológicos e terapêuticos: Quando os tecidos absorvem os raios infravermelhos mais curtos penetram até as camadas mais profundas da derme ou até o tecido subcutâneo. * Aumento do metabolismo - lei de Vant't Hoff: " Qualquer reação química pode ser acelerada pelo calor, se for acelerada pelo aumento da temperatura. " * Vasodilatação e efeitos sobre nervos sensitivos - há dilatação de arteríolas e capilares, devido ao efeito direto do calor e à ação de metabólitos. * Efeito sobre o tecido muscular - facilita o relaxamento muscular e aumenta a eficácia da ação muscular. * Diminuição da dor - a radiação infravermelha é um meio efetivo para diminuir a dor. * Aumento do fluxo sanguíneo - intenso nos tecidos superficiais. Pode-se aplicar no tratamento de infecções e feridas superficiais. TENS ( Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea ) Os estimuladores clássicos de TENS geram pulsos bifásicos de duração muito reduzida e têm frequências variáveis entre 2 e 200Hz ( Fig. 4.4 ). Efeitos fisiológicos e terapêuticos: * Bloqueio de condução nervosa - o que aumenta a atividade da substância gelatinosa, a frequência de 200Hz produz ação analgésica. * Contração isométrica - aumenta o trofismo e a circulação local. * Massagem de corrente excitante - leva a uma destonificação dos músculos e à redução da dor. * Treinamento cinético - para o tratamento de extremidades imobilizadas e de musculaturas que necessitam de eletroginástica isométrica. Massoterapia É o conjunto de manipulações terapêuticas, baseadas no movimento e pressão, adaptadas às características de cada região a ser trabalhada. Efeitos fisiológicos e terapêuticos: * Ação reflexa - o estímulo tátil produz ação reflexa sobre as estruturas profundas. * Ação mecânica - dada pela pressão e compressão produzindo efeitos sobre a circulação linfática e sanguínea e tecidos contraturados e retraídos. * Na pele - aumenta a temperatura, devido ao efeito mecânico e à ação vasomotora. * Nos músculos - hiperemia ativa , facilitando a nutrição, a circulação e eliminação dos produtos tóxicos. * No domínio psíquico - é favorável à mente do paciente. • No sistema nervoso - depende do tipo de manipulação, duração e força. Técnica de classificação sueca - Mennel * Deslizamento - consiste em deslizar a mão sobre a área a ser tratada, com uma pressão constante. - Superficial: pressão ligeira, empregando toda a mão, que deve fazer um movimento suave e uniforme em todos os pontos. A direção do movimento é aleatória, mas após estabelecida não deverá mudar durante todo o tratamento. O ritmo deve ser uniforme e a velocidade constante ( Fig. 4.5 ). - Profundo: ajuda na circulação venosa e linfática. Pode ser usado com uma ou ambas as mãos. Deve-se aplicar pressão na mesma direção da circulação nervosa e linfática, sem utilizar força. O ritmo deve ser uniforme ( Fig. 4.6 ). * Amassamento - consiste em comprimir ou prensar um grupo muscular, um só músculo ou parte dele ( Fig. 4.7 ). - Pode ser usado com uma ou ambas as mãos, utilizando a face palmar dos dedos, ficando o polegar contra os outros. - A direção é importante. Deve-se fazer na maior parte das vezes em direção centrípeta. - Ritmo e velocidade devem ser uniformes. * Fricção - aplica-se com as falanges distais do primeiro, ou do segundo, terceiro e quarto dedos ( Fig. 4.8 ). - É aplicada para liberar aderentes e evitar aderências em estruturas profundas. - Auxiliar a absorção de derrame local ao redor das articulações. - A pressão é forte, mas não intensa e a velocidade é uniforme. - A direção do movimento é circular e de acordo com a finalidade do tratamento. * Percussão - consiste em uma pequena série de golpes rápidos, empregando as mão alternadamente. Pode ser com a mão em atitude de aplaudir ou em concha, com a ponta dos dedos ou com golpes de punho ( Fig. 4.9 ). * Vibração - consiste em vibrar a mão em forma de concha ( Fig. 4.10 ). Técnica de massagem Reichiana É a flexibilidade entre a tensão e a distensão das couraças musculares. Consiste do seguintes passos: * Deslizamento superficial. * Amassamento. * Pregas cutâneas: é uma manobra realizada na mesma direção das fibras musculares, depois transversalmente. * Fricção. * Percussão. * Vibração. O término da massagem é na periferia com a intenção de dar vazão energética a todos os anéis descritos na teoria das couraças musculares. Esta técnica é muito útil a todas as tipologias de personalidade. Técnica de massagem de manipulação da ATM * Deve-se buscar os pontos dolorosos, para dedicar a estes locais a maior atenção. * Deslizamento superficial, de acordo com cada grupo muscular, em toda a face, seguindo a direção das fibras musculares da mímica ( Figs. 4.11 e 4.12 ). * Pregas cutâneas em região de masseter e zigomático ( Figs. 4.13 e 4.14 ). * Virar a cabeça do paciente para um dos lados, localizar os três feixes do músculo masseter, realizando uma digitopressão no centro de cada feixe e percorrendo-o fazendo círculos. * Com dedo em gancho, realizar pressão digital em ponto de drenagem linfática da porção interna do ângulo da mandíbula ( Fig. 4.15 ). * Repetir no lado não trabalhado. * Efetuar digitopressão no ponto pós-auricular e na porção posterior do ângulo mandibular próximo ao occipital ( Fig. 4.16 ). * Massagear e manipular a mandíbula, tentando levar o paciente em relação central ( Fig. 4.17 ). * Deslizamento superficial. * Pontos de drenagem linfática na face. Cinesioterapia É o conjunto de procedimentos dirigidos à proteção e recuperação das funções da estruturas móveis, mediante o uso de propriedades profiláticas e terapêuticas dos movimentos passivos ou ativos. Efeitos fisiológicos e terapêuticos: A ação do movimento permite obter: - Em nível local * Aumento da amplitude articular, melhorando a nutrição e a mobilidade da cápsula. * Relaxamento muscular. * Hiperemia e hipertermia - Em nível geral * Podem influenciar os sistemas respiratório e cardiovascular. * Os movimentos trabalham a musculatura através de contrações musculares que podem ser do tipo isométricas e/ou isotônicas. * Os exercícios podem ser classificados em: passivos ou autopassivos, ativo assistido e ativos ou livres. * Os exercícios contra resistência iniciam-se sempre com uma resistência mínima, que deve ser aumentada gradativamente. Exercícios Terapêuticos Exercício 1 Produzem relaxamento cervical e dos ombros ( Figs. 4.18 e 4.19 ): * Sentar com os pés apoiados no chão e os dois ossos da bacia ( ísquios ) bem apoiados. * Colocar a mão direita sobre o ombro esquerdo e deixar pender o braço esquerdo. * Levantar o ombro esquerdo, com pequenos e leves movimentos. * Girar o ombro para frente e para trás. * Repetir para o outro lado. Exercício 2 Produz relaxamento da musculatura do pescoço ( Figs. 4.20 e 4.21 ): * Virar a cabeça para o ombro esquerdo e depois para o direito. * Segurar com a mão a pele e os músculos da nuca, soltando os maxilares e a língua. * Fazer pequenos movimentos verticais com a cabeça, tipo sim. * Fazer círculos com a cabeça. * Soltar a nuca e virar a cabeça novamente para a direita e esquerda. Exercício 3 Trabalha-se os músculos risório e zigomático ( Fig. 4.22 ). Realizar um sorriso forçado, contar até dez e relaxar, contar até dez e reiniciar. Repetir de três a cinco vezes. Exercício 4 Trabalha-se os músculos orbicular dos lábios, dos olhos e levantador dos lábios ( Fig. 4.23 ). Enrugar toda a face, lábios, nariz, olhos, contar até dez, relaxar, contar até dez e reiniciar. Repetir de três a cinco vezes. Exercício 5 Trabalha-se os músculos supra - hióideos ( Fig. 4.24 ). Abrir lentamente a boca ao máximo, liberando toda a expressão, contar até dez, relaxar, contar até dez e reiniciar o exercício. Repetir de três a cinco vezes. Exercício 6 Trabalha-se os músculos pterigóideo medial e lateral ( Fig. 4.25 ). Abrir a boca, levar a mandíbula para a esquerda e para a direita, cinco vezes de cada lado, forçando ao máximo o movimento lateral. Relaxar, contando até dez e reiniciar, repetindo de três a cinco vezes. Exercício 7 Trabalha-se com os músculos da língua e masseter ( Fig. 4.26 ). Realizar movimento lingual, passando a língua nas bochechas, gengivas e toda a região interna da boca. Relaxar alguns segundos e repetir de três a quatro vezes. Exercício 8 Trabalha-se os músculos bucinador e orbicular dos lábios ( Fig. 4.27 ). Com os lábios entreabertos, inspirar pelo nariz e expirar pela boca, fazendo com que o ar leve à fibrilação dos lábios. Relaxar e repetir de três a cinco vezes. Exercício 9 Trabalha-se com os músculos da língua e o platisma ( Figs. 4.28 e 4.29 ). Com a boca entreaberta, colocar a língua para fora, tentando encostar a ponta no queixo. Contar até cinco e repetir de três a quatro vezes. Exercício 10 Trabalha-se com os músculos da coluna cervical superior ( C1, C2 ), músculo reto posterior menor da cabeça, músculo reto posterior maior da cabeça, relaxando a musculatura cervical superior. Em pé: posição relaxada, pés paralelos e braços soltos ao longo do corpo. Realizar pequenos movimentos da cabeça, com a ponta do nariz como se desenhasse uma gota. Repetir de três a quatro vezes. Nesta mesma posição, realizar pequenos movimentos coma cabeça como se quisesse crescer, lembrando uma expressão de talvez. 2.4.4 - Acupuntura As considerações abaixo estão totalmente baseadas em Bauer ( 1995 ). A acupuntura consiste na introdução de agulhas em pontos privilegiados da pele, tendo em vista a obtenção de uma resposta terapêutica bem determinada. A energia vital flui pelo nosso organismo através dos meridianos de uma forma cíclica, com ritmo circadiano, ou de 24 horas. Além disso, as energias yin e yang ciclam ao longo dos meridianos, na medida em que uma se transforma na outra. De acordo com a perspectiva da acupuntura, o estado de saúde corresponde a uma condição de equilíbrio e harmonia na circulação da energia, enquanto a doença seria exatamente o contrário, a desarmonia. O acupuntor deve detectar no seu paciente as possíveis desarmonias no fluxo da energia. Ele observa as mudanças mais sutis que possam ocorrer na superfície da pele e da boca, olhos, nariz e orelhas. É capaz de detectar muito mais informações do que qualquer médico tradicional, devido ao fato de que todos os órgãos, através de seus meridianos, se exteriorizam na superfície da pele. Quando a queixa principal de um paciente caracteriza um quadro de DTM, deve-se identificar qual dos meridianos que se projeta para essa região está afetado pelo desequilíbrio energético. Os meridianos cujos trajetos passam pela vizinhança da ATM e dos músculos mastigadores são: vesícula biliar, intestino grosso, estômago, triplo aquecedor e intestino delgado. Outra opção terapêutica, para alívio das dores relacionadas com a DTM, é a utilização da analgesia através da acupuntura ( Fig. 5 ). Existem vários tipos de aparelhos eletrônicos para se proceder à estimulação elétrica das agulhas que devem oferecer possibilidades de controle de voltagem, da intensidade, da frequência, da formada onda e possibilitar a interposição de intervalos de repouso. Geralmente, a utilização de uma sessão de eletroacupuntura por semana é o suficiente para que se consiga eliminação completa, ou ótima melhora do quadro doloroso. A utilização concomitante da auriculopuntura, através da colocação de agulhas semipermanentes, auxilia consideravelmente. 2.4.5 - Tratamento Psicológico Molina ( 1995 ) refere que o objetivo principal do tratamento é reduzir ou eliminar a tensão. Muitos pacientes com distúrbios funcionais do aparelho mastigador apresentam problemas emocionais tão severos que o melhor seria encaminhá-los primeiro para um especialista, para depois eliminar a maloclusão. O mesmo autor ainda relata ter observado casos de pacientes que estavam sendo tratados por causa do bruxismo e que se suicidaram durante o período de tratamento com dentistas. Sendo assim, casos de pacientes neuróticos e com problemas emocionais profundos não devem ser tratados sem o auxílio de psicólogos. Barros ( 1995 ) recomenda a técnica de relaxamento por sugestão. As técnicas do chamado tratamento autógeno apresentam uma solução bastante eficaz e colaboram na instituição do tratamento. Lazarus & Folkman, citados por Portnoi ( 1995 ), afirmam que para compreender e atender suas próprias necessidades, assim como as solicitações do ambiente onde vivem, os indivíduos utilizam todo o conhecimento que podem conseguir através dos recursos intelectuais e emocionais que possuem, realizando uma avaliação cognitiva. Portnoi ( 1995 ) afirma que a avaliação cognitiva se compõem de três etapas: * avaliação primária - avalia se a situação tem implicações relevantes ou irrelevantes, benignas ou malignas, estressoras ou não. * avaliação secundária ou avaliação de coping - realiza o levantamento dos recursos que possui para lidar com a situação, ou seja, quais são as opções disponíveis para controlar ou diminuir os possíveis prejuízos envolvidos na situação. * reavaliação - as informações obtidas nas etapas anteriores podem resultar em mudanças avaliativas e na retomada de todo o processo. 2.4.6 - Terapêutica Protética - Oclusão Articuladores Rodi & Zani ( 1995 ) afirmam que no Glossary of Prosthodontic Terms ( 1977 ) a definição de articulador é: " um dispositivo mecânico que representa as ATM's e os maxilares, aos quais podem fixar-se os modelos superior e inferior ". Heartwell Jr. & Rahn, citados por Rode & Zani ( 1995 ), referem que os propósitos primários do articulador são: * ter movimentos similares ou reproduzir os movimentos da mandíbula a fim de auxiliar no estudo da oclusão existente na dentição natural. * auxiliar no diagnóstico de problemas dentários existentes nas dentições natural e artificial. * ajudar no planejamemto dos procedimentos dentários que envolvam a posição e o contorno de dentes naturais e artificiais, assim como o seu relacionamento na oclusão ou articulação. Bergstrom, citado por Rode & Zani ( 1995 ), classifica os articuladores de acordo com a articulação condilar em: * ARCON - com articulação condilar. Ex: Whip - Mix ( Fig. 6 ). * NÃO - ARCON - sem articulação condilar. Ex: Hannau Weinberg, citado por Rodi & Zani ( 1995 ), classifica os articuladores em quatro grupos: * Arbitrários ou de MONSON * Posicionais ou estáticos ( oclusores ). * Semi - ajustáveis. * Totalmente ajustáveis. Placas e Férulas Molina ( 1995 ) afirma que as placas e férulas de mordida são dispositivos intrabucais que são colocados sobre as superfícies dentárias com a finalidade de diminuir os sinais e sintomas de disfunção muscular, articular ou inibir a presença de atividades parafuncionais. Os tipos de placas, férulas e outros dispositivos de mordida encontrados são: Jig de mordida, Front platteau, Férula estabilizadora superior, Placa de mordida superior, Férula reposicinadora mandibular, Placa de Sved, Placa de Lerman, Férula estabilizadora inferior, Placa inferior e Placa de Gelb. O mesmo autor ainda refere que as maiores vantagens na utilização desses dispositivos terapêuticos são: * custo bastante reduzido. * facilidade na confecção. * confortáveis quando bem ajustados. * efeitos colaterais mínimos. * resposta positiva rápida dos sinais e sintomas. * constituem uma forma não invasiva e conservadora de tratamento. * período de uso relativamente curto: semanas ou meses. * efeitos estéticos indesejáveis ausentes. * a eficiência tem sido comprovada em estudos clínicos e experimentais. * podem ser utilizados com outras formas de tratamento. * podem ser usados numa diversidade de sinais e sintomas. * os efeitos terapêuticos sobre músculos e articulações são obtidos rapidamente. * as funções de mastigação, fonação e outras podem ser realizadas com pouca interferência do aparelho. As placas de mordida têm sido indicadas nas seguintes situações clínicas: * para eliminação temporária das interferências oclusais. * para obter relaxamento muscular. * para diminuir ou eliminar temporariamnete o nível de informação tátil e proprioceptiva a partir da membrana periodontal e cápsula articular. * para diminuir a hiperatividade muscular. * no tratamento dos distúrbios articulares, inclusive a dor e a inflamação local. * para reposicionar o disco articular deslocado anterior e internamente. * para eliminar a miosite. * no tratamento da contratura e imobilização muscular protetiva. * no tratamento dos sinais e sintomas de bruxismo. * para favorecer a cicatrização e remodelamento na ATM. * no tratamento dos sinais e sintomas da síndrome da dor e disfunção miofascial. * como pré - requisito para iniciar o procedimento de ajuste oclusal. * para alterar as relações do côndilo com o disco e cavidade glenóide. * para diminuir a frequência de mordida de lábio e bochecha. * para melhorar a eficiência mastigatória. Ajuste Oclusal Segundo Cardoso & Baratieri, citados por Netto, Araújo, Rego ( 1995 ), ajuste oclusal é o estabelecimento da relação funcional da dentição, para o perfeito equilíbrio com as demais estruturas do sistema estomatognático, através de desgaste, melhorando a eficiência e a função desse sistema. Okeson, citado pelos mesmos autores ( 1995 ), afirma que desgaste seletivo é um procedimento através do qual as superfícies oclusais dos dentes são precisamente alteradas para melhorar os padrões de contatos dentários. A estrutura dentária e seletivamnete removida até que o dente, assim recontornado, tenha contatos oclusais que preencham o objetivo do tratamento. Netto, Araújo, Rego ( 1995 ) referem que o primeiro dos princípios que orientam o ajuste oclusal estabelece que o desgaste seletivo deve ser realizado em duas etapas bem definidas e separadas por um período mínimo de uma semana: * em relação cêntrica mandibular. * nos movimentos de lateralidades direita e esquerda ( lados de trabalho e balanceio ). * movimento de protrusão. Molina ( 1995 ) relata que o ajuste oclusal tem sido indicado nas seguintes situações clínicas: * para eliminar o trauma por oclusão que está presente sobre um ou mais dente. * como terapia coadjuvante no tratamento de alguns casos de bruxismo em que o fator oclusal está envolvido. * quando a estabilidade em determinada posição e movimento mandibular encontra-se comprometida seriamente. * como terapia coadjuvante na presença de distúrbios musculares e articulares. * antes de iniciar um tratamento protético. * após tratamento ortodôntico. * para melhorar a posição postural mandibular e aumentar o nível de coordenação e repouso dos músculos mastigadores disfuncionais. * na presença de pequenas mordidas abertas. Terapia Ortodôntica Molina ( 1995 ) considera que a ortodontia só é utilizada após ter finalizado a terapia oclusal principal e coadjuvante, por exemplo, placas e férulas de mordida e ajuste oclusal. Geralmente é utilizada quando os principais sinais e sintomas de dor e disfunção miofascial e/ou temporomandibular foram aliviados ou eliminados e o paciente encontra-se bastante estável. O mesmo autor ainda cita os principais objetivos da terapia ortodôntica como tratamento coadjuvante das DTM: * eliminação da mordida cruzada. * extrusão de dentes posteriores. * verticalização de dentes posteriores. * obtenção de movimento mesial ou distal de dentes posteriores para aumentar o número de dentes de suporte no segmento posterior. * extrusão de dentes anteriores para melhorar a guia protrusiva. * eliminação da rotação de dentes, principalmente no segmento posterior. * aumentar a estabilidade do sistema. * melhorar o número de guias oclusais. * diminuir ou aumentar o overjet e o overbite de acordo com a oclusão presente no indivíduo. 2.4.7 - Terapêutica Cirúrgica Molina ( 1995 ) refere que a conferência da Associação Dental Americana ( Chicago, 1982 ) e o Encontro dos Especialistas na reunião anual da Sociedade Americana de Equilíbrio Oclusal ( Chicago, 1987 ) se manifestam da seguinte maneira com relação ao tratamento cirúrgico dos distúrbios internos aticulares: * os pacientes devem ser submetidos a cirurgia articular apenas quando outras formas de tratamento foram utilizadas e os resultados considerados insatisfatórios. * as formas de tratamento pré-cirúrgico devem ter seguido critérios racionais e adequados, e vários tipos de terapia devem ter sido utilizadas antes de encaminhar para cirurgia. * pacientes que apresentam sinais e sintomas crônicos ou agudos persistentes, nos quais a dor é o componente principal e os sinais e sintomas são resistentes à terapia convencional. Garcia, Garcia, Souza, Rodrigues ( 1988 ) relatam que a cirurgia de ATM pode ser dividida em duas categorias, a fechada ( artroscopia ) e a aberta ( artrotomia ): * Artroscopia As indicações para a artroscopia são falha do tratamento conservador ou dúvida diagnóstica. Está contra-indicada em infecção regional ou em caso de audição em um único ouvido, devido ao risco de perda auditiva durante este procedimento. Na artroscopia é introduzida uma cânula com uma lente para vídeo no espaço articular superior. Pode ser feita uma incisão lateral para permitir a introdução de instrumentos para biópsia, remodelação de disco articular e lise de adesões. O aspecto mais importante é a melhora da abertura da boca. As complicações são raras. A sequela mais comum é a persistência dos sintomas. Pode ocorrer infecção, fístula sinovial, má oclusão, lesão do ramo temporal do nervo facial, lesão articular e creptação. Das complicações mais graves , as mais comuns são perda auditiva e paralisia facial. * Artrotomia As indicações incluem sintomas intoleráveis, sem respostas ao tratamento conservador. Os procedimentos básicos são reparar o mecanismo deslocado ou meniscectomia. A decisão entre reparar ou remover o disco é durante o ato cirúrgico. Os pacientes devem ser advertidos quanto à possibilidade de persistência de creptação, desordens mastigatórias e dor ocasional, além da paresia facial. Luz ( 1995 ) refere que as principais indicações cirúrgicas são: Hiperplasia Unilateral do Processo Condilar da Mandíbula Representa um aumento de volume lento e progressivo da cabeça da mandíbula, resultando em assimetria facial. Frequentemente é encontada má oclusão importante, em geral manifestada por mordida aberta posterior unilateral, podendo haver disfunção articular. O tratamento varia de acordo com a extensão da hiperplasia, sendo usualmente indicada condilectomia. Esta modalidade de tratamento visa a resolução da má oclusão e da assimetria facial. Há variantes da hiperplasia do processo condilar que atingem toda a hemimandíbula, causando espessamento na região do corpo. Existe a possibilidade de rotação da maxila. Sendo assim, osteotomias da mandíbula e da maxila podem ser associadas ao tratamento. Síndrome do Primeiro e Segundo Arcos Branquiais É um distúrbio de desenvolvimento em que há hipoplasia, geralmente unilateral. Esta síndrome apresenta expressividade variável, com hipodesenvolvimento de ouvido, complexo zigomático, processo condilar e ângulo mandibular, músculo e glândula parótida. As malformações da mandíbula podem ir desde discretas alterações na ATM até à agenesia do ramo mandibular. Ocorrem assimetria mandibular, com desvio para o lado afetado, má oclusão e micrognatismo. O tratamento varia de acordo com a extensão do distúrbio. Quando as estruturas articulares estiverem presentes, são indicadas osteotomias na região do ramo mandibular, a fim de corrigir a assimetria, ou osteotomias da maxila. Se houver ausência da cabeça do côndilo da mandíbula, enxerto autógeno costocondral é indicado, visando a construção de uma nova articulação. Osteoartrite É uma artropatia originária das superfícies articulares e que envolve secundariamente o osso subjacente. O procedimento cirúrgico indicado é a condilectomia alta, sendo que é de grande valor para o bom resultado pós-operatório a reabilitação protética. Artrite Reumatóide Doença sistêmica, representada por poliartrite decorrente de sinovite proliferativa difusa. Pode haver sintomatologia dolorosa e limitação à abertura da boca, podendo evoluir para anquilose. Artroplastias podem ser necessárias diante do quadro de anquilose. Luxação É a perda de contato entre as superfícies articulares, com deslocamento da cabeça do côndilo da mandíbula numa posição anterior ao tubérculo articular, onde fica contido. O trauma ou a solicitação extrema durante a abertura máxima da boca são os fatores desencadeantes mais comuns, podendo ocorrer durante tratamento dentário prolongado e intubação orotraqueal . Existem basicamente dois tipos de tratamento cirúrgico para as luxações nas quais não ocorreu fratura: para as irredutíveis e para as recidivantes. Para as irredutíveis podem-se destacar como exemplos: Hayward ( 1963 ) e Lewis ( 1981 ). Para as luxações recidivantes pode-se citar: eminectomia, condilectomia, osteotomia, cirurgia artroscópica, entre outras. Fraturas Podem ser extra ou intracapsulares. Os métodos cirúrgicos utilizados são: via pós-auricular, vias sub- angular de Risdon, pré-auricular e intra-oral. A osteossíntese pode ser com fios de aço ou placas, com ou sem pressão. Anquilose Representa a limitação parcial ou total do movimento mandibular e é decorrente de união óssea ou fibrosa entre as superfícies articulares. Quanto à técnica cirúrgica, pode-se realizar uma resecção óssea em diferentes regiões do ramo ascendente, sendo a mais adequada e sobretudo a mais funcional aquela que passa através da massa anquilosada, portanto o mais alto possível. Disfunções com Envolvimento do Disco Articular Representam uma relação anormal do disco articular com a cabeça da mandíbula. Em geral, ocorre deslocamento anterior e medial do disco. Quando os procedimentos conservadores não levam à melhora, há indicação de tratamento cirúrgico. A discoplastia é preconizada e a condilectomia alta pode ser utilizada em casos de alterações degenerativas. A meniscectomia deverá ser utilizada somente nos casos de perfuração extensa. 3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo desse trabalho teórico foi pesquisar a etiologia e tratamento das DTMs. As controvérsias existentes e os questionamentos que surgem perante um paciente com DTM que procura o atendimento fonoaudiológico, foram as principais motivações para esta pesquisa. Ao se considerar a etiologia do problema, que normalmente norteia os procedimentos de tratamento, é possível encontrar dois períodos bastante distintos na literatura. O primeiro, iniciado conjuntamente com os relatos de Costen, na década de 30, onde os fatores oclusais eram considerados como sendo os causadores dos sintomas de DTM. Tal grupo acreditava que a presença de contatos prematuros teriam a capacidade de alterar a posição mandibular e condilar, causando contrações musculares anormais e consequente dor. Partindo-se desses conceitos, tornaram-se bastante populares procedimentos irreversíveis de correção oclusal como desgaste seletivo e Reabilitação Oral. Porém, com o passar do tempo e o surgimento de novas instituições voltadas especificamente para o estudo das DTM, passou-se a observar que esses mesmos pacientes , tratados com correção oclusal, voltavam a apresentar os mesmos sintomas. Dessa forma, foi inaugurado um novo período na literatura, onde se considerava vários outros fatores contribuintes como a presença de hábitos parafuncionais, condições sistêmicas, condições psicológicas e posturais. Tornou-se bastante popular, então, a aplicação de modalidades terapêuticas não invasivas, como a utilização de placas oclusais, fisioterapia, medicação, entre outras. Esse último grupo de pensamento tem se tornado bastante fortalecido ultimamente, resultado de conclusões de pesquisas bem elaboradas, seguindo metodologias aceitas internacionalmente. Apesar do aumento do número de estudos realizados nesta área, ainda existem muitas controvérsias, principalmente em relação à sua etiologia e tratamento. No entanto, parece ser consenso atualmente que uma etiologia única não existe, sendo um problema de etiologia multifatorial e consequentemente, muitas vezes são necessários tratamentos multidisciplinares. Existem fatores traumáticos na região da ATM, efeitos de radioterapia na região da cabeça e pescoço, problemas degenerativos, perdas dentárias, fatores oclusais, alterações esqueléticas, alterações musculares, hábitos parafuncionais, estresse e problemas emocionais que podem reduzir a capacidade adaptativa deste sistema de forma suficiente a levar à caracterização da disfunção. O tratamento de casos de DTM exige um conhecimento profundo da etiologia do problema. Um conhecimento adicional sobre anatomia, biomecânica normal da ATM, classificação, sinais e sintomas, diagnóstico, faixa etária onde a síndrome ocorre com maior frequência , sexo mais afetado e métodos de tratamento mais eficiente é também indispensável. A partir do diagnóstico correto, passo inicial e fundamental para o sucesso do tratamento, deve-se indicar a especialidade mais apropriada para atender a disfunção, sempre com o acompanhamento do cirurgião-dentista, que deve ser a mola mestra do tratamento. O estresse parece ser um fator primordial, sendo assim torna-se necessário não só um enfoque psicológico, mas também um relaxamento físico e mental, a fim de controlar o estado emocional e até melhorar o relacionamento entre profissional e paciente. Pela evolução natural, técnicas alternativas são aceitas cientificamente, como é o caso da Acupuntura, milenar técnica chinesa, hoje reconhecida pela Medicina. O tratamento de suporte, ou seja, aquele que vai atuar no sintoma e não necessariamente na etiologia, consta do alívio dos sintomas através da administração de um analgésico que minimiza a dor. Os primeiros pesquisadores reconheceram a oclusão como uma das causas principais do problema, dessa forma, diversos tipos de tratamento têm sido sugeridos: extração dos dentes, placas e férulas oclusais, desgaste seletivo, cirurgia da ATM e outros têm sido utilizados com relativo sucesso. É frequente a utilização de técnicas auxiliares fisioterápicas para o tratamento da ATM como a eletroterapia. Utilizando ondas eletromagnéticas obtém-se relaxamento muscular e melhora das condições circulatórias e inflamatórias. Em alguns casos, a atuação do fonoaudiólogo, torna-se importante coadjuvante no tratamento global do indivíduo. Este tratamento vai depender da fase de tratamento odontológico que o paciente se encontra e de quais são seus sintomas atuais. Todas as informações contidas neste trabalho são de suma importância àqueles que pretendem encaminhar-se para o complexo caminho do diagnóstico e tratamento das DTM. 4 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, A.P. - Introduccion al diagnostico y terapia miofuncional su integracion tratamiento ortopedico maxilofacial. Odont. Postgrado, 2 (1):3-20, 1988. BARROS, J.J. - Técnica de relaxamento por sugestão. In: BARROS, J.J. & RODE, S.M. – Tratamento das disfunções craniomandibulares ATM. São Paulo, Santos, 1995. p. 205-7. BAUER, J.A. - Acupuntura. In: BARROS, J.J. & RODE, S.M. - Tratamento das disfunções craniomandibulares ATM. São Paulo, Santos, 1995. p. 175-82. BIANCHINI, E.M.G. - Como eu trato os problemas da articulação temporomandibular . In: Fonoaudiologia Hoje. São Paulo, Frôntis Editorial, 1998. p.121-38. CABEZAS, N.T. - Desordens temporomandibulares. In: FILHO, O.L. - Tratado de Fonoaudiologia. São Paulo, Roca, 1997. p. 805-20. CZLUSNIAK, G.S. & FERES, M.A.L. - Avaliação radiográfica da posição condílea em pacientes portadores de más-oclusões classe II divisão 1 e classe divisão 2 de Angle.Ortodontia, 26 (2):37-45, 1993. DOUGLAS, C.R. Pancast, 1988. 566p. Fisiologia aplicada à prática odontológica. São Paulo, FELÍCIO, C.M. - Fonoaudiologia nas Desordens Temporomandibulares. São Paulo, Pancast, 1994.166p. FERREIRA, A.E.M. - A incidência de queixas e sinais de disfunção temporomandibular nos operadores de pregão da BM&F. São Paulo, 1997. [ Monografia do Curso de Especialização em Motricidade Oral do CEFAC ] GARCIA, A.R.; GARCIA, I.M.F.; SOUZA, V.; RODRIGUES.J.E. - Disfunção da articulação temporomandibular ( ATM ): observações clínicas e tratamento. Rev. Ass. Paul. Cirur. Dent., 42 (2): 161-64, 1988. GARCIA, A.R.; MADEIRA, M.C.; OLIVEIRA, J.A. - Avaliação clínica e radiográfica da articulação temporomandibular em indivíduos com perda de dentes posteriores e interferências oclusais, antes e após tratamento oclusal. Rev. Odontol. UNESP, 24 (1):125-35, 1995. JORGE, W.A. & TORTAMANO, N. - Tranquilizantes nas disfunções da ATM. In: BARROS, J.J. & RODE, S.M. Tratamento das disfunções craniomandibulares ATM. São Paulo, Santos, 1995. p. 209-13. LOPES, M.G.P. & RODE, S.M. - Meios fisioterápicos no tratamento das disfunções da ATM. In: BARROS, J.J. & RODE, S.M. - Tratamento das disfunções craniomandibulares ATM. São Paulo, Santos, 1995. p. 183-204. LUZ, J.G.C. - Tratamento cirúrgico. In: BARROS,J.J. & RODE, S.M. - Tratamento das disfunções craniomandibulares ATM. São Paulo, Santos, 1995. p. 30312. MACIEL, R.N. - Oclusão e ATM: procedimentos clínicos. São Paulo, Santos, 1996. 397p. MOLINA, O.F. - Fisiopatologia craniomandibular: oclusão e ATM. São Paulo, Pancast, 1995. 677p. MOYERS, R.E. - Ortodontia. Rio de Janeiro, Guanabara, 1991. 483p. NETTO, H.C.; ARAÚJO, M.A.M.; REGO, M.A. - Noções de ajuste oclusal. In: BARROS, J.J. & RODE, S.M. - Tratamento das disfunções craniomandibulares ATM. São Paulo, Santos, 1995. p. 275-99. OKENSON, J.P. - Nonsurgical management of disc interference disorders. Dent. Clin. N. Amer., 35:29-51, 1991. OKENSON, J.P. - Occlusion and functional disorders of the masticatory system. Dental Clinics of North America, 39 (2):285-99, 1995 PAIVA, H.J.; VIEIRA, A.M.F.; COSTA, H.C.C.; MAIA, K.M.F. - Disfunções do sistema mastigatório e da articulação temporomandibular: uma cartilha para o paciente. Revista Periodontia, 2 ( 3 ):65-72, 1993. PORTNOI, A.G. - Estresse e disfunção dolorosa da articulação temporomandibular: relação entre variáveis psicossociais de estresse e manifestação e intensidade dos sintomas da disfunção da articulação temporomandibular. São Paulo, 1993. [ Dissertação de Mestrado - Instituto de Psicologia da USP] PORTNOI, A.G. - Estresse e distúrbios craniomandibulares. In: BARROS, J.J. & RODE, S.M. - Tratamento da disfunções craniomandibulares ATM. São Paulo, Santos, 1995. p.165-68. RHODEN, R.M.; NICOLINI, I.; SORDI, N.N.; RAMBO, M.S.C. - Disfunção muscular da articulação temporo - mandibular. Rev. Médica HSVP, 3 ( 8 ):15-18, 1992. RODE,S.M. & ZANI, I.M. - Articuladores. In: BARROS, J.J. & RODE, S.M. Tratamento das disfunções craniomandibulares ATM. São Paulo, Santos, 1995. p. 217-30. ROHEN, J.W. & YOKOCHI, C. - Anatomia humana. São Paulo, Manole, 1989. p. 52-55. SOLBERG, W.K. - Disfunções e desordens temporo-mandibulares. São Paulo, Santos, 1989. 139p. SOVIEIRO, V.M.; ABREU, F.V.; CASTRO, L.A.; BASTOS, E.P.S.; SOUZA, I.P.R. Disfunção da articulação têmporo-mandibular em crianças: revisão de literatura. Jornal Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Maxilar, 2 ( 9 ):4952, 1997. TAKAHASHI, F.E. & ARAÚJO, M.A.M. - Distúrbios funcionais da oclusão e sua correlação com radiografias transcranianas da articulação temporomandibular em pacientes portadores de fissuras labiopalatais. Rev. Odontol. UNESP, 24 ( 1 ):137-51, 1995. UMAÑA, G. - Predisposicion a la disfuncion temporo - mandibular en niños: estudio epidemiológico. Rev. Fed. Odontol. Colomb., 35 (157):39-45, 1986. VANDERAS, A.P. - Prevalence of craniomandibular dysfunction in children and adolescents: a review. Pediat. Dent, 9 ( 4 ):312-16, 1987.