H^W CONSTRUIRÁ* VOZ DE TRABALHADORES Trr - CC^STDM JUt 79 AÇÀO CATÓLICA OPERÁRIA ^ O ACORDAR DO NORDESTE E gostoso ver o Nordeste se açor dar.' Esta saindo de um sono prolongado. Sono forçado. Ficou muito tempo sem pa lavra, sem grito,/sem movimento.DormiaT Mas a gente sabia que aquele sono não ' era o sono eterno. E, de fato, nara nos sa alegria, o Nordeste está se acordan~ do. ' Ai estão as greves dos motoristas de ônibus em diversas cidades. Nada me lhor para atingir logo a população toda e todas as firmas e provocar assim o acordar de todo.s. Foi o caso ainda ulti mamente das cidades de Natal, Recife, T Fortaleza... Ai estão também as greves dos pro fessores em Natal, Salvador, Paraiba,Ite cife. Professores do ensino particulare do ensino público. Outras categorias, na base, estão ameaçando também de parar o trabalho. Todo mundo fala em greve. 0 nordeste acorda... 0 poder econômico e político ten ta freiar e quebrar o movimento no seu nascedouro, declarando as greves ilegais e rompendo o diálogo com os grevis tas. Mas felizmente o povo já aprendeu a fazer a diferença entre legal e ' justo e entre legal e legítimo. Já sa be que a base primeira não e a simples lei, mas a justiça, porque ela vem da ' natureza humana e do próprio Deus. Aqueles que tem o poder recusam o diálogo com os grevistas, exigindo, an tes, a volta ao trabalho. Só querem dialogar com gente prostada, humilhada. So querem lutar com quem aceita colocar a sua arma no chão. Que atitude é essa que exige a covardia do adversário para aceitar o diálogo? E assim que se pensa educar e preparar para o Pais, homens livres e corajosos? Mas o Nordeste está se acordando ' de verdade e o pessoal fica de pé, de vigília, pronto para dialogar como ho mens, que conhecem os seus direitos e ã sua dignidade. Alguns estranham e condenam todo ' esse movimento de reivindicações que se alastra através do pais e atinge atualmente o Nordeste. Dizem que estamos vol tando ã baderna de antes de 64. Aqueles que estão escandalizados ' com as greves de hoje, que nos respon- dam: Por que não se escandalizaram, du rante tantos anos, diante do arrocho sã larial, diantejdas condições insuficien tes do ensino, diante do desemprego, "r diante do custo de vida, diante da fome das famílias operárias e camponesas? Por que nao se escandalizaram diante da enorme injustiça que faz os ricos se en riquecerem sempre mais e os pobres fica" rem sempre mais empobrecidos? A baderna fundamental é essa.Por que nunca se le vantaram contra ela? Não vamos confundir o acordar do ' povo com um ato desordeiro. Pelo contra rio, vamos considerá-lo como uma mani~ festação de vida e de esperança. A popu lação do Nordeste o entende bem assim.De fato, é muito significativo constatar como o povo, em todas as partes, apoia os movimentos grevistas com suas reivin ■dicaçoes. Nao viu nem ve nisso desordem nenhuma, mas um esforço positivo pela ' justiça. 0 povo começa a pensar como o metalúrgico Lula:"Eu acreéito que nesse capitalismo que estamos vivendo,onde os lucros estão acima dos trabalhadores,so parando^o trabalho é que os trabalhadores serão ouvidos." Não ouvir os grevistas pacíficos é uma política perigosa. Uma tal atitude incita os grevistas a recorrer a meto-dos mais duros, pois não vão desistir ' sempre do direito de serem ouvidos. Ninguém pense que o acordar do Nordeste seja uma simples manifestação' de vida passageira. Não é só para assis tir ao levantar do sol. Pelo contrário7 o acordar do Nordeste é para viver uma jornada plena^e nova. Jornada de luta pela sobrevivência e muito mais/jçrnada de luta pelo emprego para todos, pelo ' . salário honesto, 'pelo respeito da digni dade e dos direitos de todos,pela iguaT dade dos nordestinos entre si e do NoF deste em relação ãs outras regiões doBrasil, pela participação real dos trabalhadores do campo e da cidade nas ' orientações e decisões sociais e políti cas do País. Em todos os níveis. Uma jornada de luta pelo direito de ser homem responsável e de ser cias se que assume o seu destino - Uma jornã da de luta pela Liberdade e pela Justiça. No dia 12 de junho, Luiz Inicio da Silva, Lula, Presidente do Sindicato de Sao Bernardo e Di-adema em São Paulo, che gou ao Recife. Fazia 27 anos que Lula ti nha deixado Pernambuco, como retirante,"para não morrer de fome". Passou uma se mana entre nós. Durante esse tempo: Foi recebido na sede da ACO onde se realizou um encontro cordial entre Lula e um bom número de dirigentes sindicais e militan tes operários. Visitou Dom Helder a quem expressou a sua alegria de ver a Igreja se tornar o grande apoio dos trabalhadores e de to dos os oprimidos. Na quadra de esportes do Colégio Sa. lesiano falou para mais de 3.500 pessoas, entre elas, um número importante de tra balhadores de todas as categorias. Viajou para o Interior,onde visitou vários sindicatos rurais. Falou na Assem bléia Legislativa para os Deputados ' e uma assistência que lotava a Casa. Em todos os encontros Lula defendeu a necessidade de se fazer um novo sindi calismo brasileiro. Vamos transcrever LEÍS fí OFlHlfíO aqui algumas das suas mais importantes declarações: -Sou antes de tudo um brasileiro que quer brigar por sua terra. -Eu acredito no sindicalismo dentro das fabricas, na greve dentro das fa bricas e não dentro de uma sala de • sindicato. ^A estrutura do sistema é pelegante e conduz o dirigente sindical a virar pelego. É preciso mudar a estrutura sindical brasileira. -É chegada a hora de tentarmos nos libertar da tutela do Estado e de lu tar pela autonomia sindical. -A luta nao e do político, não é do professor," nao e do metalúrgico. A luta e de todos os que ainda nao têm vinculaçoes com as multinacionais, que ainda se sentem gente. De pe,todos os presentes nos diversos encontros aplaudiram Lula. Lula, que um jornalista definiu como "0 metalúrgico feito daquele metal, que se quebra mas nao se curva". TRBQfílHís-tns DOS TRBBníHfí&cnBS Uma equipe de trabalhadores da ba se e alguns dirigentes sindicais preparou um documento, com cinco itens e o encaminhou i Comissão de Legislação do MDB, na Câmara dos Deputados em Brasi-' lia, com sugestões para a reformulação dá CLT. Os cincos itens referem-se a Estabilidade do Emprego, Prazo Prescricionai para Reclamação Trabalhista, Extinção Gradual da Contribuição Sindical,Li herdade Sindical e Modificação de uma ' alínea da CLT, especifica dos arrumadores. 0 trabalho dessa equipe de estudos e sugestões sobre a mudança das Leis ' Trabalhistas se revelou muito interessan te. De tal modo que a turma decidiu fazer um esforço para que se multipli- v quem, no Estado,essas equipes nos sindi catos ou mesmo fora dos sindicatos.Isso, por achar necessário que os trabalhadores se interessem pelas leis que vão mexer com a vida deles e da classe. m dizem NAO Nos últimos dias de abril,mais de 1.500 motoristas de ônibus do Grande Recife decidiram, em Assembléia, exigir um aumento salarial de 80%. Deram um prazo de 10 dias e, se até lá nao fossem atendidos, entrariam em greve. s Os patrões responderam que so poderiam oferecer 40% e mais nada. Os mo toristas então nao tiveram dúvida e passaram logo da palavra ã ação, quer dizer, decidiram parar o trabalho. E isto mesmo contra a vontade do presi-' dente do seu sindicato. Na madrugada do dia 31 de maio,em todas as garagens e oficinas dás Empre sas de Ônibus, os motoristas discutiam como seriam organizados os piquetes, ' tentavam convencer os companheiros indecisos a se unirem a luta da classe ' por um salário menos miserável, e ao mesmo tempo, viam como impedir a circu laçao dos ônibus. Tudo para que os pa troes e as autoridades vissem o quanto era importante o transporte coletivo e em que estado de miséria e condições de trabalho estavam os seus condu tores. Sabendo que o piquete é uma das ' táticas mais fortes para garantir a vi_ tória de um movimento grevista, os mo toristas trataram de organizá-lo bem. E, com os piquetes bem organiza-' dos, os outros motoristas cada vez mais iam aderindo, ficando a cidade ' sem ônibus mas, cheia de gente nas ruas e pontos de ônibus, a espera de qualquer transporte que os levasse ao trabalho ou escola. Mas, no fundo, a grande maioria dessas pessoas estava ' na rua para ter certeza e expressar o seu apoio aos motoristas em greve. 0 patrão, o prefeito, e a polícia apelavam para os motoristas voltarem ' ao trabalho,falavam em diálogo, em entendimento. Argumentavam que a greve era ilegal. - "E a fome é legal? responderam os motoristas pela voz de Fe lix, um dos lideres da greve. Nao faltaram confusões, a polícia interviu, espancou, apanhou, deu tiro prá cima e no final das contas, pren deu uns 10 motoristas que foram soltos ã noite desse mesmo dia.. No dia 19 de junho, os patrões ce deram e deram os 80% reivindicados. Ven ceram, finalmente, a justiça da causa e a coragem dos motoristas. • Também em NATAL os motoristas acordaram. Os jornais da cidade noticia, ram com destaque o acontecimento e a carta enviada por um companheiro de Ia a amigos de Recife, conta um pouco como foi a coisa e o que houve de positivo. Diz o companheiro: "0 mais importante ' desta greve é que ela nao foi furada em nenhum momento. A turma soube conduzir bem a coisa. Na sexta feira (19 de junho) os motoristas fizeram um piquete no terminal da Rocas (bairro operário ' por onde passam todos òs ônibus da cidade) e lá começou o comando de greve a funcionar de fato. Hoje, segunda feira, a greve continua e os motoristas pre.-j vêem para logo mais a tarde voltarem ao I serviço, se, somente for concedido o ' que eles querem. Houve intervenção do prefeito da capital, no sentido de dialogar com os motoristas e eles disseram simplesmente isso: "NÃO SOMOS EMPREGA DOS DA PREFEITURA, POR ISSO NADA TEMOS A, CONVERSAR COM 0 PREFEITO". E ainda se diz que os operários nao sabem se organizar nem exigir seus direitos." ^^^ reivindicam Os companheiros vi|braram com a ulti ma assembléia realizada no dia 01 de julho no.Sindicato dos Têxteis em Reci fe, pois apesar da chuva pesada que caia sobre a cidade desde a véspera, a assembléia contou com mais de 500 traba lhadores. E todo mundo participando ati vãmente do levantamento das propostas e dos debates. "Fazia anos que nao se via uma coisa dessa", disseram todos. As propostas mais debatidas e apro vadas pela maioria, exigem: - Escalonamento dos aumentos, quer dizer,, aumento maior para quem tem sala rio 'menor ou seja: dias que os professores paralizaram ' suas atividades, reivindicando aumento salarial e melhores condições de "ensino. A proposta feita pela última assem bléia da classe é de 80% e mais 10% em outubro, enquanto o governo se mantém intransigente em oferecer 60%. A greve foi considerada ilegal ' pelo governo, e este se recusa a entrar em diálogo. "Isso, só depois da volta de todo mundo ao trabalho", diz. A partir daí, os professores ■ re solveram se manter em vigília na porta da Secretaria de Educação até serem re cebidos. Um deles nos diz: "Há mais de 25 dias que nós, professores primários e do ensino médio, ficamos dia e noite, no sol e na chuva, .num sistema de rodí sio, na rua e calçada da Secretaria de Educação. Temos recebido ali inúme ras visitas de amigos, artistas, políticos, pais e mães de família, ' todos querendo nos manifestar o seu apoio e solidariedade. 8 0% para quem tem de 1 a 4 salários mínimos; 65% para quem tem de 4 a 8 salários mínimos; 50% para quem tem de 8 a 10 sal.min. - Piso salarial de Cr$ 3.500,00. - Negociação direta com os patrões; - Garantia de "estabilidade" de 90 dias pelo menos, para evitar as de^ missões as vésperas do novo aumento salarial. Para as negociações diretas foi e£ colhida na hora, uma comissão composta_ de um elemento por fábrica. Esta comis sao, a partir daquele dia, deveria se encontrar e planejar o trabalho1 a ser feito para concretizar as decisões da assembléia. Mas, nao é sõ a comissão quem vai se mexer, pois todo mundo viu que a assembléia foi o resultado de um bom e sério trabalho de base. Trabalho que o pessoal decidiu continuar e aumentar ca da dia mais. professores em GREVE No Recife houve, primeiro, a greve da rede do ensino particular que durou poucos dias e terminou com um saldo positivo para os professores. Quanto ã greve dos professores da rede oficial, a coisa foi e continua ' bem diferente. De fato, há mais de 25 m Mas, o poder econômico e político tem se revelado inflexível". - A greve dos motoristas de ônibus foi resolvida rapidamente, como também a greve dos professores do ensino par ticular. Pois, tratava-se de evitar um prejuízo financeiro, enquanto que, no caso dos professores do ensino publico, nao há prejuízo em dinheiro. Só existe um prejuízo, na educação das crianças e dos jovens, mas isso pa rece que nao tem muita importância aos olhos das autoridades. Isso pode esperar.^. Nao estão também esperando os milhões de analfabetos em todo o Bra-1 sil? Dá para pensar... SOMOS CULPADOS? Na nossa fabrica parece que o ' culpado de tudo ê sempre o operário. Culpado da falta de produção quando a maquina se quebra ou quando se quebram as agulhas. Culpado da falta de ener-' gia, de tudo enfim. Será que nas outras fábricas a coisa e diferente? Para ilustrar a nossa"culpa" ai vao dois fa tos: AS AGULHAS:- Quando se quebra ' uma agulha a gente tem que pagar 4,00 por ela. Acontece várias vezes que uma operária "consegue" quebrar 10 e ate ' 15 agulhas por semana (por mês 40 ou 60 agulhas). Já pensaram no tamanho do buraco no seu salário com todo esse ' desconto? E ainda por cima, as agulhas estragadas, isto e, com as pontas gros sas que já foram levadas da secçao e què já foram pagas, eles ajeitam e tra_ zem de volta. Resultado: a agulha fra ca se quebra logo e pagamos de novo... Por que, em lugar de nos escutarem ' nao consertam logo as máquinas causad£ ras de "acidentes" nas agulhas? E A ENERGIA? Mesmo que falte só 10 minutos a gente tem que descontar ' depois do expediente, sem remuneração, embora durante o tempo em que faltou a energia a gente permanecesse dentro da fábrica. E quando a energia demora p£ ra voltar 20,30 ou mais minutos? É claro que todo mundo fica revol tado com tanta "culpa" nas costas. A^ guns mais dispostos e corajosos vao re clamar do empregador, mas ouvem a con versa de sempre: "Eu nao sou o culpado, recebo ordens da Diretoria e tenho que descontar. ÒONCLUSÃO - Muita gente já desço-' briu que exploração e desorganização an dam juntas em nossa fábrica. Já desço-' briu também que os operários precisam se concientizar mais, se unir mais e me lhor para poder defender os seus direitos. Direitos de pessoas humanas e de ' filhos de Deus. t\C*}L?AB SUA ?oRC(oe / yfá rAW bA UA HORA FRA'&&***& e vou pescovrzf? ^ y po seo SACADO, desconto fantasma Na fábrica X do Recife, quase todo fim de mes os operários são surpreendidos com descontos fantasmas, pois aparecem débitos sem que eles devam um centavo ã empresa. Esses descontos va riam de_Cr$ 100,00 ã Cr$ 600,00.Talvez" os patrões estejam pensando que o sala rio mínimo que os trabalhadores rece-' bem seja muito alto e que eles, os pa troes, de tão ocupados, não têm tempo de pensar no sofrimento dos trabalhado^ res e de suas famílias, só tem mesmo * tempo para fazer grandes 'projetos e ' planos para enriquecer cada vez mais,a custa dos operários. Os operários reclamam muito esses descontos, indo várias vezes ao escritório, e lá, dizem, que pode ter sido porque eles faltaram alguns dias, ou que eles compraram algum tecido e não sem lembram. No fim dos argumentos, admitem qué foi erro do computador. Isso ê muito engraçado e leva a gente^ a perguntar: Por que o computador so erra contra o trabalhador? Numa industria metalúrgica situada no Grande Recife, a situação dos traba_ lhadores se torna cada dia mais insupo£ tável. A empresa nao deposita os 8% do FGTS, os banheiros são uma tremenda su jeira, a poluição é grande e o atraso ' de pagamento agrava mais ainda a situação. 0 pagamento quando esta normal e feito em duas datas, 01 e 22 de cada ' mes. No dia 06 de maio a direção toma a decisão de suspender o pagamento sem determinar qual a nova data. Isto faz com que os trabalhadores comecem a pa rar e a convidar os amigos para ver a ' nota no quadro de aviso. No outro dia a resposta dos trabalhadores e dada: A s_i rene toca e eles continuam de braços ' cruzados. Após 45 minutos o supervisor vem conversar, garante que o dinheito sai no outro dia e o pessoal volta ao trabalho. Na quinzena seguinte a Direção to^ ma a mesma decisão e os trabalhadores dão a mesma resposta: braços cruzados. 0 supervisor tenta convencer os traba-' lhadores a voltar ao trabalho. Mas o pessoal continua firme e avisa que so voltara quando souber a data do pagamen to. 0 supervisor diz que nao pode dar a resposta, e a greve continua. Alguns trabalhadores, cerca de cinco,começam a trabalhar mas sao impedidos pelos demais tomando-lhes o material, desligando as máquinas etc. Após algum tempo chega o engenhei^ ro.responsável pela indústria. E revoltado com a posição dos trabalhadores ' diz: "Vocês enfiaram a cara na merdaI• Isto não e atitude de homem.' A indústria está em crise e precisa que vocês traba lhem muito para esta merda crescer I " "Alguns companheiros revoltaram-se e ' ele dizia mais: "Quem nao voltar,vai pa ra o olho da rua; ficarei aqui sozinho com as máquinas." Os trabalhadores se mantêm para-' dos dizendo: "Deixa ele colocar todos pra fora, nós vamos direto ao sindicato, aos rádios e televisão para denun ciar." Depois ele convoca uma reunião ' com os encarregados e determina "Façam uma reunião com o pessoal de cada seção avisando que quem ficar aqui dentro da indústria tem que trabalhar e quem nao quiser pode ir para casa". Então, só de uma seção sairam 12 pessoas e o resto do pessoal ficou para sair depois do almoço, mas, para a decepção dos que fica ram, ãs 11 horas, o almoço era dobradinha podre e a maioria terminou indo pa^ 1*3. CâSâ. Também por conta da atraso no paga mento, o pessoal de uma outra industria (têxtil) parou as suas máquinas por mais de 10 horas. A decisão partiu da 3- turma e foi assumida pela turma seguinte. Ninguém recuou ate a regularização do pagamento. Com muito jeito, com muita diploma cia, os patrões queriam saber quem eram os responsáveis pela decisão da turma. Andaram interrogando a um e a outro, mas a resposta era sempre a mesma: " 0 responsável e a fome, patrão"... E agora? Como aproveitar o que de bom e positivo foi revelado por essas paradas para a gente se conscientizar e se organizar melhor? cai tabu de 30 a Marieta conta a luta que ela e ' suas colegas enfrentaram para derrubar um tabu de 30 anos. 0 fato aconteceu em Sao Luiz do Maranhão, num dos maiores e mais antigos hospitais da cidade. Vamos ver o que Marieta diz: Ha um ano atras comecei a trabalhar naquele hospital como copeira. En contrei lá uma boa turma de colegas, ai gumas com mais de 20 anos de trabalho. 0 trabalho é muito, mas o salário e aquele mínimo que a maioria dos nor-' destinos conhece. Desse salário se descontava o INPS e a comida que a gente comia. Isso era uma norma adotada há ' mais de 30 anos. Conseqüência: no fim do mes a gente recebia, para se manter1 e manter a família, a grande soma de ' Cr$ 800,00. E claro que achei a coisa absurda, pois estava convencida de que quem tra balha com comida nao devia pagar. E co mecei, então, a conversar com os companheiros sobre o assunto até que um dia surgiu a idéia: "E se a gente fosse fa lar com o patrão, dizer que a coisa nacT é certa, que a gente não podia e nem de^ via pagar a comida? 0 homem é brabo,gos ta de humilhar as pessoas, mas a gente enfrenta." Tudo combinado, fomos até a sala de trabalho do patrão e a colega esco-' Ihida por nós tratou de dizer o que a gente queria, quais as nossas reivindicações. Falou com dificuldade, com medo, mas deu o nosso recado. 0 patrão ouviu, mangou do portu gues da colega e nada resolveu. Marcou outra data para ver o assunto, a gente foi de novo e nada. E assim outras vezes. Mas nao perdemos o fio da meada, A" gente estava disposta até a grevar. Eu mesma fui ao sindicato, mas ele nao deu nenhuma orientação que valesse.Disse:sõ que a coisa deveria ser encaminhada ' através do Ministério do Trabalho, atra vés da Justiça. Mas, para nossa surpresa, depois ' de 3 meses de luta e de espera,o patrão deixou de descontar a nossa alimentação. Caiu um tabu de 30 anos, graças a nossa união e a nossa perseverança. E o que é melhor: depois de tudo, a gente ficou muito mais amiga, ficou confiando muito mais umas nas outras. E mais dispostas para continuar a luta. FALA JOÃO PAULO Algumas palavras ditas por João Pau 1° II> no dia 9 de junho passado, por"" ocasião de sua visita a sua terra natal, a Polônia comunista, iluminam bem o con teúdo deste CONSTRUIR. Falando aos trã balhadores de Nova Huta, disse: , ''Recordai unicamente isso: Cristo nao aceitará jamais que o homem seja considerado ou que se considere a si próprio unicamente como instrumento de produção, que seja apreciado, estimado e avaliado segundo esse principio. Cristo nao aceitará jamais isso. Por isso se deixou pregar na Cruz, para opor-se a qualquer degradação do homem, inclusive a degradação diante do trabalho. Disso deve lembrar-se tanto o tra balhador como o patrão, o sistema do" *trabalho e o de retribuição. Disso de vem lembrar-se o Estado, a Nação e ã" Igreja." v AC0-RUA GERVÃRSI0 PIRES,404 RECIFE-PE.