ANAIS ELETRÔNICOS III ENILL Encontro Interdisciplinar de Língua e Literatura. 29 a 31 de agosto de 2012, Itabaiana/SE: Vol.03, ISSN: 2237-9908 1 LITERATURA INFANTIL E IDENTIDADE ETNICORRACIAL NO COTIDIANO ESCOLAR Jiselda Meirielly de França (PIBIC/UFS) Maria Batista Lima (Orientadora PIBIC/ UFS) INTRODUÇÃO A problemática da questão racial no Brasil apesar de antiga ainda é polêmica, além de ser um problema atual e presente em nossa sociedade. Dessa forma, é de suma importância que questões como esta sejam abordadas, principalmente, no âmbito escolar por ser um ambiente de discussão, aprendizagem, saber e conhecimento. Tal iniciativa é uma tentativa de desconstruir toda, e qualquer ideia ou conceito pré-concebido que permeia o imaginário social a respeito da questão racial brasileira e de nossas matrizes culturais africanas. Esse artigo trás resultados parciais do Projeto de pesquisa “Identidades e Diferenças: diversidades etnicorracial, de gênero e de orientação sexual no Contexto Educacional”, esse projeto pretendeu observar se a questão etnicorracial é trabalhada de forma adequada/ ou não na instituição pública do município investigado, priorizando alguns pontos relevantes em prol de uma prática pedagógica capaz de desmistificar/desconstrói muitas ideias errôneas e equivocadas a respeito da questão racial presente no imaginário social, o que colabora na tentativa de desconstrução de estereótipos e preconceitos de raça. O estudo é situado na aplicabilidade da Lei Federal: 10.639/2003, que atribui a todas as áreas do conhecimento a responsabilidade da inclusão da história e cultura africana e afro-brasileira nos currículos escolares, especialmente nas áreas de Educação Artística, de Literatura e História Brasileira (BRASIL, 2003). Para o entendimento e a localização das representações identitárias nessas escolas foram analisados questionários e entrevistas com dez professoras da Educação Infantil do município de Itabaiana. Esse trabalho tem o objetivo de perceber/discutir alguns pontos relevantes a cerca da temática ressaltada no decorrer deste estudo, a saber: Identificação e ANAIS ELETRÔNICOS III ENILL Encontro Interdisciplinar de Língua e Literatura. 29 a 31 de agosto de 2012, Itabaiana/SE: Vol.03, ISSN: 2237-9908 2 Formação das professoras da escola; O Projeto Político Pedagógico da Escola e a Diversidade. Abordagem das Temáticas Africanas e Afro-Brasileiras na Escola e em sala de aula; O Preconceito, a discriminação e Atitude na/da Escola e a Literatura na Prática Pedagógica. A ênfase maior do presente trabalho foram os livros de Literatura Infantil utilizados em sala de aula pelas docentes dessa respectiva instituição do município de Itabaiana-SE. Assim, a partir da análise dos questionamentos e de algumas observações na sala de aula chegamos há algumas conclusões a respeito dos desafios, das possibilidades e das implicações de inserir uma prática pedagógica antirracista nessa instituição pública de ensino, com base em uma Literatura que contemple a cultura negra. Logo, o estudo buscou contribuir para a prática pedagógica inclusiva no que s e refere à diversidade étnica e a inclusão de nossas matrizes africanas no ambiente escolar infantil. 1. REFERENCIAL TEÓRICO 1.1 Literatura Infantil A literatura infantil é relevante na educação inicial, pois é através dela que a criança desperta/exercita o imaginário e aprende com o contato oral das histórias infantis a descobrir/compreender o mundo. Desta forma, esse tipo de literatura voltada para o público infantil é considerada indispensável para a etapa da alfabetização, na qual as crianças estão vivendo a fase de aquisição de leitura e escrita. De acordo com Aguiar: "Os contos de fadas mantêm uma estrutura fixa. Partem de um problema vinculado à realidade (como estado de penúria, carência afetiva, conflito entre mãe e filhos), que desequilibra a tranqüilidade inicial. O desenvolvimento uma busca de soluções, no plano da fantasia, com a introdução de elementos mágicos. A restauração da ordem acontece no desfecho da narrativa, quando há uma volta ao real. Valendo-se desta estrutura, os autores, de um lado, demonstram que aceitam o potencial imaginativo infantil e, de outro, transmitir à criança a idéia de que ela não pode viver indefinidamente no mundo da fantasia, sendo necessário assumir o real, no momento certo". ANAIS ELETRÔNICOS III ENILL Encontro Interdisciplinar de Língua e Literatura. 29 a 31 de agosto de 2012, Itabaiana/SE: Vol.03, ISSN: 2237-9908 3 AGUIAR, Vera Teixeira de. Era uma vez (contos de Grimm). Porto Alegre, Kuarup.1990. Diante dessa premissa, percebemos que é relevante que a escola insira na prática pedagógica uma Literatura Infantil que contemple nossa cultura e matrizes africanas. No entanto, o docente deve está atento em trabalhar com esse recurso didático (livro infantil) em sala de aula sem criar estereótipos, estigmatizar, ou até mesmo invisibilizar determinada etnia e cultura (como acontece com os negros). Partindo do pressuposto de que Literatura é uma disciplina curricular e que a escolha do material didático (os livros de literatura infantil ou infanto-juvenil) adequado contribui muito para uma prática educativa capaz de desmistificar préconceitos que permeiam o imaginário social a respeito da questão etnicorracial brasileira e de nossas matrizes africanas, torna-se relevante o estudo da literatura como fonte dessa representação identitária no contexto da diversidade etnicorracial brasileira. Desta forma, são relevantes as afirmativas das autoras Flúvia Rosemberg e Nelly Coelho, citadas abaixo: O livro infanto-juvenil ensina e ensina muito. A sua postura aberta e declaradamente didática se faz sentir na temática escolhida, na estrutura narrativa, na própria transmissão de princípios morais e de outras informações, ou ainda na eleição de personagens modelares.(ROSEMBERG, 1985, p.59). A literatura infantil é, antes de tudo, literatura; ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem, a vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática, o imaginário e o real, os ideais e sua possível/impossível realização. (COELHO, 2000, p. 9) Diante dessa conceituação da Literatura Infantil, esse gênero literário é um meio pelo qual o respectivo leitor aprende a desenvolver a criatividade, o senso crítico, a perceber através de determinadas situações princípios moralizantes, além de remeter a (re)afirmação de determinados valores culturais tidos como referência. Com isso, o leitor é direcionado a internalizar personagens modelos e estes podem estar apenas se referindo a uma determinada etnia. Desta forma, remete o/a leitor/a há uma hierarquização social a partir dessa criação de estereótipos para com determinados personagens nas narrativas. Assim, a autora Coelho (2002, p. 15) afirma ANAIS ELETRÔNICOS III ENILL Encontro Interdisciplinar de Língua e Literatura. 29 a 31 de agosto de 2012, Itabaiana/SE: Vol.03, ISSN: 2237-9908 4 que: “Se a criança, bem como os adultos, forem capazes de desvelar todos os aspectos ideológicos subjacentes nas obras literárias, como ficará o caráter de fruição e de apreciação do belo, presentes nestes livros?” Assim, é relevante frisar que as obras literárias são e agem como instrumentos de construção identitária, construções essas individuais e coletivas, ou nas palavras da autora Nelly Coelho (2002, p.15) “tem uma tarefa fundamental a cumprir nesta sociedade em transformação: a de servir como agente de formação”. Essa hierarquização está atrelada ao período histórico em que estava inserida tanto a literatura infantil quanto a infanto-juvenil e ao surgimento tardio de personagens negros/as em nossa literatura brasileira, com isso direcionou uma inserção tardia que mostrava a população negra em situação subalterna. Sobre esse fato Jovino pontua: A literatura dirigida ao público infantil começa a ser publicada no Brasil nos fins do século XIX e início do século XX. No início tinha fins didáticos, ou seja, eram publicações destinadas à educação formal, à moralização, ou à evangelização de crianças e jovens. Mas os personagens negros só aparecem a partir do final da década de 20 e início da década de 30, no século XX. É preciso lembrar que o contexto histórico em que as primeiras histórias com personagens negros foram publicadas, era de uma sociedade recém saída de um longo período de escravidão. As histórias dessa época buscavam evidenciar a condição subalterna do negro. Não existiam histórias, nesse período, nas quais os povos negros, seus conhecimentos, sua cultura, enfim, sua história, fossem retratados de modo positivo. (JOVINO, 2006, p. 187). Ampliando a discussão em torno dessa questão é interessante frisar os vários aspectos da ideologia presentes na produção literária infanto-juvenil, em uma pesquisa da década de 1980 o livro Literatura Infantil e Ideologia, de Fúlvia Rosemberg (1985). A obra apresenta a proposta de “estudar a relação adulto-criança implicada e veiculada pela literatura infanto-juvenil, indagando se ela reflete a mesma bipolarização dominador-dominado observado no tratamento imposto a outras categorias sociais” (p. 20), sendo este trabalho de grande importância para o campo da literatura infantil, destacando-se como marco teórico-metodológico para autores/as com produções que remetem as ideologias no ambiente escolar, tais como Oliveira (2001, 2003). Na referida obra de Rosemberg foram objeto de análise 168 livros infanto-juvenis (dos ANAIS ELETRÔNICOS III ENILL Encontro Interdisciplinar de Língua e Literatura. 29 a 31 de agosto de 2012, Itabaiana/SE: Vol.03, ISSN: 2237-9908 5 anos de 1955 e 1975) a respeito dos personagens, observando as imagens e os discursos. 1.2 Conceitos e Identidade etnicorracial Neste estudo foram inseridos textos que são de grande importância para o entendimento da questão racial, além de provocar discussão/reflexão a cerca dessa temática. Desta forma, a partir dessas leituras o receptor poderá perceber o quanto é relevante discutirmos na escola o conhecimento histórico, as contribuições dos negros/as em nossa cultura, e a discriminação racial. Em relação às identidades, os autores Sodré (1999) e Hall (1999): afirmam que as identidades são construídas e reconstruídas socialmente; dinâmicas e múltiplas. Podem ser modificadas de acordo com os momentos e os fatos históricos. Essa Pesquisa centrou-se no referencial teórico que contemplou os seguintes quesitos: Identidades; diversidade; Identidades Etnicorraciais Negras; Africanidades, Culturas Negras, e Práticas escolares. Em relação às nomeações de “raça, racismo, discriminação racial” segundo Souza E Silvia (2007), o primeiro mostra-se importante para o combate ao racismo explica e afirma sua existência. “Também explica a trajetória de resistência e de produção de conhecimento de inúmeras pessoas e de organizações dos movimentos sociais e negros”. O segundo racismo doutrina que defende a superioridade de certos grupos racistas e étnicos. “É um modo hierárquico de classificação dos seres humanos que os distingue com base nas propriedades físicas e nos marcos culturais”. Já o terceiro, “Discriminação racial é o preconceito materializado em ações e condutas que desqualificam e inferiorizam um grupo em detrimento de outro.” Dentro dessa concepção, é relevante explanar que com as teorias racistas inventadas no século XIX na Europa e nos Estados Unidos como uma maneira de explicar as origens e características da sociedade foi aceita nos anos de 1870 e 1930. Essas teorias afirmavam que através da biologia as mesmas leis da natureza eram aplicadas na sociedade e que o fenótipo dos sujeitos poderia ser capaz de afirmar, ou ANAIS ELETRÔNICOS III ENILL Encontro Interdisciplinar de Língua e Literatura. 29 a 31 de agosto de 2012, Itabaiana/SE: Vol.03, ISSN: 2237-9908 6 negar se determinado indivíduo tinha capacidade intelectual, sendo expandida para outras civilizações do mundo. Assim, naquele período as pessoas passaram a ser classificada de acordo com os estágios civilizatórios. Nesse sentido a Europa era adiantada se comparada com os indígenas e africanos, recusando de certa maneira a diversidade. Segundo os autores: Podemos dizer que foram basicamente quatro os argumentos da “ciência racial” que tiveram grande aceitação na sociedade brasileira daquele tempo: o primeiro, que havia raças diferentes entre os homens; segundo, que a “raça branca” era superior à “raça negra”, ou seja, os brancos eram biologicamente mais inclinados à civilização do que os negros; terceiro, que havia relação entre raça, características físicas, valores e comportamentos; e, ainda, que as raças estavam em constante evolução, portanto era possível que uma sociedade pudesse ir de um estágio menos desenvolvido para outro mais adiantado, sob certas condições. (ALBUQUERQUER E FILHO, 2006, p.320). Essas teorias, embora secularmente contestadas ainda circulam seus efeitos no imaginário social, contribuindo para a reprodução das desigualdades a partir da discriminação e inferiorização dos grupos considerados pelas referidas teorias como inferiores, de acordo com seu conceito de civilização. O branqueamento visto como condição civilizatória, implementado sob a forma de política de imigração, mas alimentado na inculcação de que para se desenvolver precisa se branquear o país e para ser feliz no âmbito pessoal também se precisa se perseguir esse ideal. A ideologia do branqueamento e a mestiçagem como estratégia de negociação das identidades passa a alimentar pensamento e imaginário social, conforme Munanga (1999). Nesse sentido, as teorias racistas esperavam era que o branqueamento do país “corrigisse os defeitos dos negros e indígenas, considerados, nesse entender racista como inferiores” (LIMA, 2010, p.6). Conceituando às africanidades e culturas negras que foram tomadas também como referenciais Sodré (1999); Lima (2006); Lima e Trindade (2009) O entendimento é de que são elementos de raízes e produção africanas e afro-brasileiras presentes na cultura e na história brasileiras. Assim, “Africanidades se define os repertórios culturais brasileiros que em sua origem, dispositivos de base ou (re) elaboração histórica remetem ou se relacionam com as ancestralidades africanas”. ANAIS ELETRÔNICOS III ENILL Encontro Interdisciplinar de Língua e Literatura. 29 a 31 de agosto de 2012, Itabaiana/SE: Vol.03, ISSN: 2237-9908 7 2. DIALOGANDO COM OS DADOS A pesquisa foi direcionada a educação infantil de uma Instituição Pública de Itabaiana-SE. Partimos do pressuposto de que porque essa é uma etapa importante para as crianças, já que, está em processo de formação, construção de conhecimentos e decodificando o código escrito. Assim, a partir dos questionários e entrevistas podemos perceber como a Literatura Infantil e aspectos a respeito da identidade etnicorracial estão sendo trabalhadas em sala de aula, nessa respectiva instituição. Abaixo as informantes responderam perguntas referentes aos seguintes tópicos: Identificação e Formação; Na escola pesquisada no que refere a esse quesito o corpo docente da educação infantil é composto por dez (10) professoras. Quanto à identificação racial quatro (04) docentes consideram-se pardas e seis (06) declararam-se brancas. A faixa etária das docentes é de 34 a 47 anos de idade. No que se refere à formação dessas docentes: duas (02) entre as dez possuem nível médio e as demais nível superior (uma (01) formada em história, uma (01) formada em geografia, e as seis (06) em pedagogia). Ao continuar a análise dos dados, o tempo de atuação das docentes na educação infantil varia de 02 a 11 anos de experiência nessa série. Dos alunos matriculados que frequentam regularmente a educação infantil nessa escola, as turmas variam de 23 a 30 alunos por sala de aula, com faixa etária de 4 a 6 anos de idade. Literatura na Prática Pedagógica. No que concerne a Literatura infantil na prática em sala de aula a maioria das professoras afirmaram que é indispensável nas séries iniciais inserir a vivência literária, e que a escola possui muitos livros voltados à educação infantil. No entanto, ao pedir que especificassem esse material didático das dez (10) informantes oito (08) delas afirmam existir na instituição de ensino obras literárias voltadas para a questão ANAIS ELETRÔNICOS III ENILL Encontro Interdisciplinar de Língua e Literatura. 29 a 31 de agosto de 2012, Itabaiana/SE: Vol.03, ISSN: 2237-9908 8 etnicorracial destinado a educação infantil. Uma delas afirmou sem especificar que: “Existe duas coleções de livros que trabalha com o preconceito”, já duas (02) professoras disseram que não existir esse tipo de material na escola. Sabemos da importância desse recurso didático para o ensino nas séries iniciais perguntei como as docentes conceituariam literatura infantil, diante das respostas obtidas destaquei algumas respostas, como: “São livros ou textos destinados às crianças, cujos objetivos são os de conduzir o interesse pela leitura e incentivar a imaginação”; “A literatura infantil é uma maneira de a criança viajar através dos seus pensamentos”; “É um caminho que leva a criança a desenvolver a imaginação, emoção e sentimentos de forma prazerosa” e “É a arte do encanto de imaginar e se descontrair”. Partindo desse pressuposto de que a criança no processo de ensinoaprendizagem dos anos iniciais necessita de professores/as que trabalhem com uma literatura capaz de despertar a criatividade, o conhecimento e o cognitivo nas crianças, no entanto sem criar estereótipos e nem estigmas. Apesar de não trabalharem cotidianamente com a temática racial através da literatura, as docentes são cientes da importância das histórias infantis nesse primeiro contato da criança com a escola. A partir dessa premissa deram destaque para os clássicos da Literatura Infantil, como: “Branca de neve, os três porquinhos... várias vezes eles gostam” de determinada maneira como a professora b afirmou que é através “interpretação, de textos, pinturas, leituras”. Abordagem das Temáticas Africanas e Afro-Brasileiras na Escola; No quesito desenvolvimento da escola em ações e atividades relacionadas à história e culturas africanas e afro-brasileiras foram recorrente a afirmação de que existem seis projetos na escola e que são desenvolvidos durante o ano letivo todas participam, mas, não citaram quais são esses respectivos projetos. No que concerne ao material didático-pedagógico oito (08) professoras disseram que existem duas coleções de livros relacionados à temática etnicorracial, e ANAIS ELETRÔNICOS III ENILL Encontro Interdisciplinar de Língua e Literatura. 29 a 31 de agosto de 2012, Itabaiana/SE: Vol.03, ISSN: 2237-9908 9 essas coleções estão direcionadas a educação infantil, uma dela afirmou que trabalha em sala de aula através de “Leituras de histórias, dramatização, de poemas, leituras de textos, pinturas, cartazes, etc”, duas (02) das informantes da pesquisa não responderam esse quesito. Das dez (10) professoras sete (07) afirmam utilizarem esse material didático pedagógico entre uma ou duas vezes por semana, já três (03) docentes usam “de vez em quando”. Abordagem das Temáticas Africanas e Afro-Brasileiras na Sala de Aula; Todas as docentes sabem da relevância de trabalhar com a questão da identidade e diversidade etnicorracial em sala de aula e das contribuições desse tema para uma prática educacional inclusiva. De acordo com as entrevistas existem nessa escola planejamentos pedagógicos executados pelo SEDUC (Secretária do Estado de Educação) que englobam a diversidade etnicorracial. As docentes afirmaram que: “Se focarmos na diversidade cultural e racial, estamos fortalecendo a importância da origem e miscigenação do povo brasileiro”; “Nossa cultura tem herança africana e indígena, ao trabalhar com a diversidade cultural e racial, estamos dinamizando e fortalecendo a importância da origem e miscigenação do povo brasileiro”. Preconceito, discriminação e Atitude na/da Escola; Com relação a esse quesito das dez (10) informantes da pesquisa oito (08) professoras afirmaram não existir preconceito e discriminação racial na educação infantil, entretanto, duas (02) professoras afirmam que “existe preconceito e discriminação racial na sala de aula através de apelidos”. Esses apelidos geralmente estão relacionados ao fenótipo dos negros/as, e ao serem usados por crianças brancas remete a criança negra uma espécie de interiorização/animalização, que causa estigma e estereótipos. De qualquer forma percebendo ou não esse tipo de discriminação racial, as docentes em uma das perguntas demonstraram a relevância de discutir em sala de aula essa temática, e em “caso mais grave encaminhar para o conselho da escola”. A ANAIS ELETRÔNICOS III ENILL Encontro Interdisciplinar de Língua e Literatura. 29 a 31 de agosto de 2012, Itabaiana/SE: Vol.03, ISSN: 2237-9908 10 preocupação delas com relação às crianças refere-se ao poder aquisitivo das mesmas. Como afirma uma das profissionais: “As dificuldades afloram independente da cor, o que pesa muito é a questão socioeconômica”. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados demonstraram a necessidade de uma maior dedicação por parte, das secretárias de educação; do município investigado; um investimento maior da equipe pedagógica da escola no que remete a uma prática educativa que inclua as práticas de políticas públicas, em especial, a igualdade racial. Assim, esse será um dos caminhos viáveis para uma prática pedagógica capaz de acolher a diversidade/alteridade. É interessante ressaltar que as professoras muitas vezes utilizam a literatura infantil como uma forma de chamar a atenção para a leitura, despertando a curiosidade delas para decodificarem as letras e a partir disso começarem a trabalhar com a leitura e escrita com as crianças. Segundo a autora Bento (2002, p.7 -80) a questão das relações raciais na sociedade brasileira podem ser presenciadas no cotidiano (família, escola, sociedade, etc.) das pessoas, sendo relevante abordar histórias relacionadas às desigualdades ao longo dos séculos no Brasil, nas quais, acabam geralmente a estimular a competitividade (auto- afirmação/ negação do outro) que as pessoas dão sustentação a esse tipo de sociedade preconceituosa. Assim, considerando a amplitude que tem tomado à temática da identidade etnicorracial trabalhada em sala de aula, é importante que essa perspectiva desperte reflexões, que tem como objetivo “provocar” a população brasileira através de vários exemplos, como por exemplo: depoimentos, relatando atos e ações discriminatórias em relação às praticas raciais contra a mulher negra, poemas reflexivos, grupos racistas que defendem a questão do branqueamento. A obrigatoriedade do ensino da cultura afro- brasileira nas instituições de ensino é de suma importância, pois a escola tem um papel importante na redução do ANAIS ELETRÔNICOS III ENILL Encontro Interdisciplinar de Língua e Literatura. 29 a 31 de agosto de 2012, Itabaiana/SE: Vol.03, ISSN: 2237-9908 11 preconceito. Ao analisar os questionários percebe- se que existe uma predominância de uma visão reducionista da incorporação da história e dos valores culturais. Assim, é interessante que haja investimentos na formação das docentes e das pessoas que compõem a gestão escolar (diretores e coordenadores) para que essa temática seja abordada com mais ênfase. Portanto, é necessário um conjunto de fatores atuando contra o preconceito, seja, ele na mídia ou na família. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, Vera Teixeira. Era uma vez... na escola: formando educadores para formar leitores. Belo Horizonte: Formato, 2001. BENTO, Maria Aparecida Silva. Cidadania em Preto e Branco. 3º edição. Editora ática, 2002. Pág.: 07- 80. CAVALLEIRO, Eliane. Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo, preconceito e discriminação na educação infantil. São Paulo: Contexto, 2000. ______ (Org.) Racismo e anti-racismo na educação: repensando nossa escola . São Paulo: Summus, 2002. COELHO, Nelly Novaes. Dicionário Crítico da Literatura Infantil e Juvenil Brasileira. São Paulo: Quíron, 1983. COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: teoria, análise, didática. 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