FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT VIOLÊNCIA DOMÉSTICA O que o fonoaudiólogo tem a ver com isso? CRFA 2ª REGIÃO TRAÇA PANORAMA DA FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR 2 - REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006 CONSELHO REGIONAL DE FONOAUDIOLOGIA 2ª. REGIÃO 7º COLEGIADO P RESIDENTE SÍLVIA TAVARES DE OLIVEIRA V ICE-P RESIDENTE SANDRA MARIA VIEIRA TRISTÃO DE ALMEIDA D IRETORA-S ECRETÁRIA ANAMY CECÍLIA CÉSAR VIZEU D IRETORA-T ESOUREIRA MÁRCIA REGINA DA SILVA C ONSELHEIROS: ANA LÉIA SAFRO BERENSTEIN • ANAMY CECÍLIA CÉSAR VIZEU • ANDREA WANDER BONAMIGO • CLAUDIA APARECIDA RAGUSA • CRISTINA LEMOS BARBOSA FURIA • DIVA ESTEVES • DULCIRENE SOUZA REGGI • F ERNANDO CAGGIANO J ÚNIOR • LICA ARAKAWA SUGUENO • LUCIANA PEREIRA DOS SANTOS • MÁRCIA REGINA DA SILVA • MARIA CECÍLIA GRECO • MÔNICA PETIT M ADRID • ROBERTA A LVARENGA R EIS • SANDRA MARIA RODRIGUES PEREIRA DE OLIVEIRA • SANDRA MARIA VIEIRA TRISTÃO DE A LMEIDA • S ILVIA R EGINA PIEROTTI • S ILVIA T AVARES DE OLIVEIRA • T HELMA R EGINA DA S ILVA C OSTA • Y ARA A PARECIDA B OHLSEN RUA DONA GERMAINE BURCHARD, 331 CEP 05002-061 - SÃO PAULO FONE/FAX: (011) 3873-3788 SITE: www.fonosp.org.br D ELEGACIA REGIONAL DA BAIXADA SANTISTA RUA MATO GROSSO, 380 – CJ. 01 CEP 11055-010 - SANTOS FONE: (13) 3221-4647 - FAX (13) 3224-4908 E-MAIL: [email protected] DELEGADA: ISABEL GONÇALVES D ELEGACIA REGIONAL DE MARÍLIA RUA BAHIA, 165 - 4 . ANDAR, SALA 43 CEP 17501-080 MARÍLIA FONE/ FAX: (14) 3413-6417 E-MAIL: [email protected] DELEGADA: FABIANA MARTINS O D ELEGACIA REGIONAL DE RIBEIRÃO PRETO RUA BERNARDINO DE CAMPOS , 1001 - CJ. 1303 CEP 14015-130 - RIBEIRÃO PRETO FONE: (16) 632-2555 / FAX: (16) 3941-4220 E-MAIL. [email protected] DELEGADA: ANA CAMILLA BIANCHI PIZARRO D EPARTAMENTOS GERAL CADASTRO/PERFIL DEPARTAMENTO PESSOAL CONTABILIDADE EVENTOS FISCALIZAÇÃO JURÍDICO REGISTROS/TESOURARIA SECRETARIA SUPERVISÃO [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] C OMISSÕES DIVULGAÇÃO EDUCAÇÃO ÉTICA LEGISLAÇÃO E NORMAS LICITAÇÃO OUVIDORIA SAÚDE CONVÊNIOS MÉDICOS TOMADA DE CONTAS [email protected] [email protected] [email protected] legislaçã[email protected] [email protected] [email protected] [email protected] convê[email protected] [email protected] REVISTA DA N° 67 – MAIO/JUNHO 2006 ISSN – 1679-3048 T IRAGEM: 12.200 EXEMPLARES C OMISSÃO DE DIVULGAÇÃO LUCIANA PEREIRA DOS SANTOS - PRESIDENTE ANA CAMILLA BIANCHI PIZARRO DIVA ESTEVES CRISTINA L EMOS BARBOSA FURIA SANDRA MARIA RODRIGUES P. DE OLIVEIRA FOTO: RUBENS GAZETA EDITORIAL EDITORIAL Estamos entrando no nosso último ano de gestão e gostaríamos de compartilhá-lo com todos os fonoaudiólogos. Temos como um dos objetivos este ano participar de, divulgar, apoiar e realizar eventos que promovam a Fonoaudiologia e sua inserção na sociedade. Vocês verão nesta revista a participação do conselho na Ação Global, no Dia Mundial da Saúde, no Dia da Voz e na Conferência Nacional de Gestão do Trabalho. Neste número da revista, vocês poderão ver, ainda, a preocupação do Conselho em relação a Saúde Pública, através das inúmeras reportagens sobre este assunto.Terão oportunidade de ler a entrevista com a sanitarista Roseni Pinheiro, que atua no Laboratório de Pesquisas de Práticas de Integralidade em Saúde - Lappis e o relato do fórum de Saúde Pública, ministrado pelo dr. Gilson Carvalho, sobre o Sistema de Saúde no Brasil e a participação dos profissionais. Os fonoaudiólogos têm participado em grande número dos Happy Hours Culturais realizados na Casa do Fonoaudiólogo e nas delegacias. Neste ano, continuaremos promovendo estes eventos, que tem como maior objetivo atualizar o profissional para sua prática clínica. Temos buscado cada vez mais fortalecer nossas parcerias com a Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, a Academia Brasileira de Audiologia, as Universidades e os Conselhos de Saúde, visando o trabalho multidisciplinar em benefício da comunidade. E DITOR E JORNALISTA RESPONSÁVEL: ELISIARIO EMANUEL DO COUTO (MTB 8.226) P RODUÇÃO EDITORIAL E GRÁFICA: INSERT CONSULTORES EM C OMUNICAÇÃO LTDA. TEL. (11) 5524-8762 / E-MAIL: [email protected] R EDAÇÃO: RUA DONA GERMAINE BURCHARD, 331 CEP 05002-061 - SÃO PAULO, SP FONE/FAX: (011) 3873-3788 E-MAIL: [email protected] Acreditamos e esperamos que as informações aqui relatadas possam mobilizar algumas reflexões e repercutir na prática profissional e na vida de cada fonoaudiólogo. I MPRESSÃO: PROL EDITORA GRÁFICA P ARA ANUNCIAR: (11) 5524-8762 OU E - MAIL: [email protected] AS OPINIÕES EMITIDAS EM TEXTOS ASSINADOS SÃO DE INTEIRA RESPONSABILIDADE DE SEUS AUTORES . A REPRODUÇÃO DE TEXTOS DESTA EDIÇÃO É PERMITIDA , EXCLUSIVAMENTE PARA USO EDITORIAL , DESDE QUE CLARAMENTE IDENTIFICADA A FONTE . TEXTOS ASSINADOS E FOTOS COM CRÉDITO IDENTIFICADO SOMENTE PODEM Boa leitura. Silvia Tavares de Oliveira Presidente do CRFa 2a Região SER REPRODUZIDAS COM EXPRESSA AUTORIZAÇÃO POR ESCRITO DE SEUS AUTORES . EDIÇÃO 66 - MAIO/JUNHO 2006 REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO - 3 FOTO: INSERT DEBATE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA O que o fonoaudiólogo tem a ver com isso? 60% das mulheres sofrem agressões físicas. 10% sofrem violência sexual. 30% dizem que não há justificativa para agressão. 75% afirmam que a esposa tem direito de recusar fazer sexo. 40% sofrem agressão de alguém que não é parceiro. 20% mantém silêncio sobre agressão. Socos, chutes, ameaças e ataques com armas são mais comuns. Estes são alguns dos números contidos em um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), que indicou que aproximadamente uma em cada três mulheres pesquisadas em duas áreas do Brasil diz já ter sofrido algum tipo de violência cometida pelo parceiro. A pesquisa da OMS foi realizada entre 2000 e 2003, a partir de entrevistas com 24 mil mulheres em dez países. No Brasil, o estudo ouviu mulheres com idade entre 15 e 49 anos na cidade de São Paulo e na Zona da Mata de Pernambuco. Na capital paulista, 27% das mulheres disseram já ter sido vítimas de violência doméstica. Esse percentual cresce para 34% em Pernambuco. Essas agressões, principalmente de maridos ou parceiros, têm um impacto direto sobre a saúde das mulheres, mas nem sempre são reveladas. Pelo menos 20% das entrevistadas nos dez países disseram que nunca revelaram as agressões às autoridades. Entre as vítimas de violências físicas, 40% das paulistanas e 37% das pernambucanas admitiram ter sofrido ferimentos ao 4 - REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO menos uma vez: de escoriações e cortes e até a ruptura de tímpanos e queimaduras. Na comparação com os outros nove países pesquisados, os índices das cidades brasileiras foram semelhantes aos registrados na Tailândia e na Namíbia. De acordo com os resultados do estudo, a violência conjugal no Brasil é maior do que no Japão e na Sérvia. Em compensação, o problema é menos grave no país do que na Etiópia, no Peru, em Bangladesh, na Tanzânia e em Samoa. EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006 Na visão de Ana Flávia d’Oliveira, uma das responsáveis pela pesquisa da OMS em território brasileiro, os dois maiores obstáculos para o combate à violência doméstica no Brasil são a falta de uma lei específica para esse tipo de crime e a freqüente relação que se faz entre os homens e a violência. “Um dos problemas é a cultura e a formação de homens e mulheres, com a masculinidade muito associada à violência”, diz a pesquisadora. “É a cultura de gênero que cria homens e mulheres de forma diferente”. O Brasil avançou nos últimos anos em termos de políticas públicas para coibir a violência conjugal, constata a pesquisadora, com iniciativas como a criação de delegacias de defesa da mulher e serviços de aborto legal, atendimento à violência sexual e prevenção contra Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis. “Mas não é suficiente”, avalia. “Precisamos de uma melhoria, e precisamos especialmente de uma integração entre esses serviços”. Profissional distante. “As pessoas em situação de violência, especialmente as vítimas, procuram ajuda nas unidades de saúde, sejam públicas ou privadas. Infelizmente, em geral, o profissional que atende essas pessoas não está sensível ao problema, por não estar suficientemente capacitado e sensibilizado para identificar e cuidar de pessoas nessa situação”, lamenta o médico psiquiatra Jonas Melman, que atua na Coordenadoria de Desenvolvimento de Políticas e Programas de Saúde da prefeitura de São Paulo, e que antes esteve envolvido no projeto Resgate Cidadão (hoje está vinculado à área temática Cultura de Paz, Saúde e Cidadania). EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006 “Os profissionais de saúde não perguntam e a clientela não fala. A população não identifica na Saúde um espaço onde pode cuidar disso Por outro lado, esse profissional muitas vezes não tem o olhar para captar essa pessoa como um todo e identificar que ela está em uma situação de violência. Não consegue reconhecer que aquilo é expressão de uma situação mais grave”. Vários fatores são identificados pelo psiquiatra para justificar o alheamento do profissional. Um deles é a formação, que não inclui a questão da violência como uma questão de saúde (embora reconheça que este quadro tenha mudado, ainda de forma incipiente, nos últimos anos). “As organizações sociais e as instituições de formação e os serviços estão mergulhados nessa cultura da violência, que banaliza e simplifica o fenômeno. Uma de nossas funções é a de ajudar as pessoas a refletir sobre o assunto, no sentido de que se possa reverter esse quadro, despertando para a necessidade de mudar uma situação que a todo mundo submete e violenta”. Jonas Melman foi um dos palestrantes do congresso brasileiro promovido pela Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, em Santos (SP), no ano passado, onde abordou as estratégias de sua área temática na Secretaria de Saúde, no sentido de pinçar políticas públicas consistentes que contribuam para reverter o quadro de cultura de violência para o de uma cultura de paz. “A violência pode ter múltiplas expressões e as pessoas procuram as unidades ou os profissionais de saúde com suas queixas e sintomas. Os projetos terapêuticos mais consistentes, assim como as políticas públicas para tentar ajudar as pessoas nessa situação, necessitam obrigatoriamente do enfoque multidisciplinar, onde cada profissional de Saúde tenha a contribuir no sentido de poder ajudar essa pessoa, recuperar sua estima, curar suas feridas, enfim, garantir uma qualidade de vida mínima, para que seja feliz novamente”. O psiquiatra relata que, pela primeira vez na história da secretaria da Saúde paulistana, está surgindo “um projeto integrado que busca uma ação conjunta entre diversas áreas da própria secretaria e em parceria com outros setores do governo, para avaliar a questão da violência de uma forma integral, em substituição a ações segmentadas ou fragmentadas na dimensão da mulher, da criança, do adolescente, do índio ou da questão racial. O mesmo ocorre no Ministério da Saúde, com a elaboração de um projeto nacional de construção de uma rede de prevenção de violência na área da saúde, para que os secretários municipais de saúde desenvolvam políticas voltadas a superação da violência, numa perspectiva da cultura da paz”. Na maior favela... A fonoaudióloga Lourdes d’Urso apresentou, no último congresso da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, um relato sobre a construção de uma rede de proteção à criança e ao adolescente em situação de violência, através do caminho percorrido pela equipe da UBS (Unidade Básica de Saúde) Jardim Seckler, onde trabalha, e seus desdobramentos na identificação e construção de intervenções em uma situação de violência doméstica. Esta UBS é responsável por parte da população de Heliópolis, a maior favela de São Paulo (130 mil habitantes), onde a morbi-mortalidade por causas violentas de crianças ocupa papel de destaque. Lourdes classifica esta região como de alto índice de exclusão social e de vulnerabilidade social, com famílias de alta e altíssima privação. REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO - 5 acompanhamento terapêutico da criança na unidade, a atuação junto à mãe para ampliar sua capacidade de cuidado e proteção dos filhos, a inserção na escola e no equipamento social da comunidade em trabalho conjunto de estimulação e cuidado, a parceria com o Conselho Tutelar, com solicitação ao Judiciário de afastamento do agressor e o apoio do CRIA Centro de Referência da Infância e Adolescência, da Unifesp, para todos os ticos de discussões coletivas, a ampliação da escuta e percepção de casos de violência, a implantação de um sistema de vigilância e notificação de violência na UBS e a maior integração serviçocomunidade. “Este caso de violência nos ajudou a estruturar uma prática mais articulada com a comunidade e de abrir mais a escuta, envolvendo fonoaudiólogas, psicólogas e terapeutas ocupacionais. Ao procurar entender a linguagem de uma criança, não a desvinculo da realidade social e cultural que existe. Não se consegue fazer uma clínica focada só no sintoma, o que muda até o projeto de intervenção, que não é apenas fonoterapia, mas uma abordagem integrada com a comunidade”. “Apesar das dificuldades e limitações encontradas, a experiência foi rica FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT O estudo envolveu outros profissionais da equipe, das áreas de Medicina Sanitária, Psicologia, Enfermagem e Assistência Social e teve como parceiros a UNAS Heliópolis, o Conselho Tutelar do Ipiranga e o CRIA da Unifesp, entre outros envolvidos. A construção da rede teve início em junho de 2002, com a constatação do atraso vacinal de todas as crianças de uma família. Uma filha de sete anos tinha dificuldade para falar e não freqüentava a escola e a mãe não conseguia trazer a criança nas datas agendadas para consulta e avaliação fonoaudiológica. Cinco meses depois, a mãe relatou maus-tratos e violência por parte do marido e informações confusas sobre abuso sexual, mas que deixavam dúvidas em relação à sua veracidade. O segredo foi sendo desvendado nos meses seguintes, com a reconstrução dos relatos fragmentados e a busca de informações junto a outros familiares e vizinhos. “Chama a atenção na situação apresentada que a rotina de violência já era de conhecimento de familiares e vizinhos”, destaca Lourdes d’Urso. “O forte pacto de silêncio e omissão, que sustenta e reforça este tipo de prática, expressa uma banalização da violência na nossa sociedade. Consideramos este caso emblemático no que diz respeito à maneira como se produz e reproduz a violência”. Para a construção desta rede de proteção à criança e ao adolescente em situação de violência, foi necessária uma articulação intersetorial, com reuniões mensais envolvendo as áreas da Saúde, Educação, Assistência Social, Conselho Tutelar, movimentos populares e organizações comunitárias, em um fórum interinstitucional permanente, que extravasou os limites da Saúde. “Esta atenção intersetorial envolveu o Fonoaudióloga Elisabeth Nakemi Nakagawa cuidados no atendimento da família. Um ano depois, era visível a evolução nos aspectos psico-social, cognitivo e de linguagem da criança, na melhora de sua auto-estima e na ampliação da capacidade de cuidado da mãe com os filhos, apesar da demora nas ações judiciais e na dificuldade de afastar o agressor”. Este processo trouxe como desdobramento a reorganização do processo de trabalho da UBS. Inicialmente, houve grande dificuldade no acolhimento de casos pela equipe de saúde. “Isso só pôde ser superado através da integração de diversos olhares, rompendo com a fragmentação de saberes e práticas presente no trabalho da unidade de saúde”. Essa diminuição da fragmentação e isolamento dos profissionais ocorreu com a implantação de espaços sistemá- 6 - REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO Médico psiquiatra Jonas Melman em aprendizado. Gerou reflexões e transformações na prática clínica dos profissionais e na organização do serviço de saúde. Possibilitou, ainda, vivenciar práticas interdisciplinares e intersetoriais”. Novos casos continuam a chegar na unidade e o desafio de intervir e atuar de forma mais integral na violência ainda persiste. Preocupação antiga. O envolvimento de fonoaudiólogos nas EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006 FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT possibilidades de atuação do fonoaudiólogo ultrapassavam esse âmbito clínico, em uma atuação em pesquisa e prevenção partilhada por todos os profissionais da equipe, com o objetivo de que as crianças e adolescentes, vítimas de violência doméstica, pudessem ter um desenvolvimento bio-psico-social adequado e digno, assim como assegurar uma cidadania plena. FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT questões relacionadas com a violência não é de agora. Esta revista publicou, em sua edição 51 (o texto completo está no site do CRFa 2a. Região em “Edições Anteriores”), um relato do Projeto Ô de Casa, desenvolvido pela fonoaudióloga Márcia Regina Moscato Amoroso na UBS do bairro de São Manoel, em Guaratinguetá (SP), onde teve o primeiro contato com o fenômeno da violência doméstica contra crianças e adolescentes. “Num desses encontros, me foi relatado o pacto de silêncio que sustenta este tipo de violência, onde participam os pais Fonoaudióloga Lourdes d’Urso Fonoaudióloga Lilian Yumi Simofusa abusivos, seus parentes, vizinhos, sociedade e até profissionais da Saúde, da Justiça, do Serviço Social, da Educação, da Psicologia e da Comunicação! Alterações físicas, emocionais e cognitivas são alguns dos efeitos em curto prazo que tal violência gera nas crianças. Os problemas de linguagem também aparecem como conseqüência: essas crianças são, literalmente, proibidas de falar”. Logo após, ao iniciar seu trabalho como voluntária no CRIA - Centro de Referência à Infância e Adolescência em Guaratinguetá, a fonoaudióloga cogitou um atendimento terapêutico com crianças que apresentassem distúrbios de linguagem. Notou, de imediato, que as EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006 Atuação abrangente. Lílian Yumi Simofusa é outra fonoaudióloga que conviveu durante dois anos com as questões relacionadas com violência doméstica no CRIA - Centro de Referência em Saúde Mental para a Criança e Adolescência do Jabaquara (conhecido como “Casinha”), desde sua criação. Hoje, no mesmo bairro paulistano, atua no CAPS-AD, voltado aos dependentes de álcool e de drogas. As demandas graves que enfrentou eram as mais diversas - situações de abandono, abuso sexual... - atendidas por uma equipe que incluía psicólogos, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais ainda sem muita experiência nessa área. Quase 80% da demanda estava relacionada com violência doméstica, dentro do objetivo do CAPS Infantil (ou CRIA, na nomenclatura atual) de atender crianças com transtornos mentais graves. A proposta estabelecida desde o início foi a da intervenção realizada pela equipe, com o olhar específico de cada profissional. “Definimos a necessidade de intervenções junto à escola, à família, a necessidade de visita domiciliar, o envolvimento com o Conselho Tutelar e a Vara da Infância. Se havia necessidade de algum outro recurso na comunidade, fazíamos a articulação com projetos sócio-educativos do bairro”. Lílian se via muito mais como uma terapeuta generalista do que uma profissional específica da Fonoaudiologia. “Embora atuasse com fonoterapia em casos, em que havia sentido esse tipo de intervenção, ocorriam momentos em que era necessário estabelecer prioridades. E, ao conhecer cada vez mais as outras áreas, mais dispunha dos instrumentos para definir os projetos que o paciente necessitava”. “Enquanto setor de Saúde, temos uma limitação de ação, porque não existem políticas voltadas para a diminuição da violência e maior investimento no campo social. O paciente continua morando em lugar de risco, presenciando tiroteios, mortes, sem oportunidade de emprego...”. Lílian lembra também a polaridade entre agressor e vítima. “Podemos entender que o agressor está reproduzindo a violência que ele viveu na infância e precisamos pensar na atuação também nesse lado, ter uma visão mais ampla’”. A necessidade de ampliar seu campo de atuação fez com que Lílian Yumi Simofusa enveredasse para a área da arte e da educação e utilizasse o conhecimento adquirido no CAPS nos pacientes “que estão no fundo do poço e que conseguem, através da arte, se REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO - 7 emocionar” e, com isso, melhorar a auto-estima e a auto-confiança.. Hoje ela realiza oficinas de arte (mas não como ‘arterapia’, que trabalha a expressão via artes plásticas). Ela entende a arte como um recurso para a pessoa encontrar uma outra perspectiva de vida, fazer uma leitura diferente do mundo, ampliar o seu repertório e ver que o prazer não está só na droga ou no álcool. “A arte faz a gente chorar, faz a gente rir, se sentir humano, porque entra em contato com sentimentos”. Programas intersetoriais. Na mesma região do Jabaquara, a fonoaudióloga Elisabeth Nakemi Nakagawa (poucos a conhecem pelo nome de batismo, mas sim pelo apelido, Betinha) esteve diretamente envolvida com a implantação e gestão de dois programas intersetoriais relacionados com a violência: o Projeto Teia e, em seguida, a Rede Social do Jabaquara. Convidada a trabalhar no grupo que analisava as questões de violência, chamado Resgate Cidadão, ao final passou a integrar a assessoria da Supervisão Técnica de Saúde do Jabaquara e Vila Mariana, ligada a uma das cinco coordenadorias da Secretaria de Saúde do município de São Paulo, onde está até hoje. Quando trabalhava em uma UBS da região, Betinha atendeu uma menina de nove anos, introspectiva e com muito medo, com queixa de que não falava e detectou situação de violência velada na casa onde morava. “Se atuasse apenas como fonoaudióloga, certamente essa menina não iria melhorar, porque trabalharia apenas com a conseqüência. Quando ela percebeu que podia contar alguma coisa, começou a falar... O papel do agente comunitário (do Plano de Saúde da Família), dentro da comunidade, foi fundamental”. Betinha lembra outro caso, de um menino de cinco anos espancado pelo pai, onde se conseguiu reverter esse quadro em um trabalho intersetorial, envolvendo a escola, o agente de saúde, o Conselho Tutelar e a Assistência Social. “O que ficou muito marcado para mim e para a equipe é que a mãe contou que a vizinhança começou a bater menos nos filhos...”. O Projeto Teia (Trabalho Envolvendo Infância e Adolescência) surgiu em 2004, a partir dessas experiências, quando já atuava na assessoria de supervisão de saúde. “O projeto visava trabalhar principalmente com as crianças de risco, encaminhadas pelas escolas localizadas em torno da unidade pólo de saúde. Tínhamos várias instâncias: a Teia Local ia com a equipe da UBS para a escola detectar os casos mais complexos, discutir e promover uma atuação conjunta, para que a criança nessas condições, no período em que não estivesse na escola, tivesse garantido um outro espaço que não o da casa, enquanto por outros meios tentávamos trabalhar a mãe que bebia, o papai desempregado... Não adiantava tratar a criança, se a família continuasse em situação degradante”. A instância seguinte era a Teia Regional, que reunia as UBS com todas as escolas do entorno e, finalmente, uma Teia Geral, com todas as escolas da região e todas as unidades básicas. “O projeto foi desenvolvido na região do Jabaquara, mas foi descontinuado com a mudança de gestão, apesar dos pedidos dos profissionais - tanto da saúde como da educação - para que fosse retomado”. “A questão da violência é muito camuflada, mas é a segunda causa de morte no bairro do Jabaquara. Com o encerramento do Projeto Teia, resolvemos desenvolver a Rede Social do Jabaquara, um projeto mais amplo que, 8 - REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO no fundo, também trabalha com a questão da violência, com três objetivos principais: meio ambiente, cultura e lazer, e esporte”, relembra a fonoaudióloga. O bairro do Jabaquara possui 98 favelas e a falta de acesso a locais adequados para atender a esses objetivos levou a reunir três instâncias – o setor privado (onde se destaca o Senac, que comanda as ações dessa rede), o setor público (agentes de saúde e a subprefeitura) e as organizações sociais. Elizabeth, a Betinha, tem clara a visão que a violência não pode ser encarada como problema de uma área específica. “Tenho consultório, gosto da atuação clínica, mas acredito firmemente que, até para crescer enquanto cidadão e enquanto fonoaudióloga, é muito importante o trabalho em equipe, em uma UBS ou em outros setores, inclusive para a minha prática dentro do consultório. Ao mesmo tempo, a prática no consultório alimenta esse trabalho na rede pública. Muitos casos que chegam da escola, como os de leitura e escrita, estão diretamente associados a questões de violência”. “Quando ia fazer as visitas, percebia que eu própria estava sendo extremamente violenta nas orientações, porque as famílias visitadas mal e mal tinham alguma coisa pra comer. Tenho certeza que, no lugar dessa mãe, iria sair muito frustrada com as palavras de alguém que tem algum poder aquisitivo...Comecei a rever alguns conceitos que tinha, enquanto fonoaudióloga. Muitas vezes, como fonoaudióloga, não notava evolução. Seria incompetência minha? Só ao ir para a comunidade é que passamos a ver que, muito antes do problema de fala, existe um problema social enorme. Com esta nova visão, o problema de fala melhora e o seu trabalho rende muito mais.” EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006 PARTICIPAÇÃO Ao assumir, em fevereiro deste ano, a vice-presidência da SOBRAC – Sociedade Brasileira de Acústica, a fonoaudióloga Ana Cláudia Fiorini concretizou um importantíssimo passo para a integração do profissional de Saúde com o profissional da área de Exatas. A entidade, fundada em 1984 com o objetivo de difundir informações entre pesquisadores, fabricantes, consultores e usuários sobre os temas relacionados com acústica e vibrações, teve o primeiro envolvimento de fonoaudiólogos em 1992, através de um grupo da PUC São Paulo, entre as quais estava Ana Cláudia Fiorini, que participou de um evento promovido pela SOBRAC no Rio de Janeiro, e apresentou diversos trabalhos científicos. Até então, a entidade contava com o envolvimento apenas de profissionais de Engenharia (normalmente das áreas de Mecânica e Elétrica, e sempre com pós-graduação em Engenharia Acústica), de arquitetos e de físicos. “Com essa participação pioneira, começamos a agregar ao conhecimento da produção e da propagação do som que esses profissionais possuem, o conhecimento dos fonoaudiólogos sobre a sensação que o som provoca no homem, o que acontece em termos de efeitos na saúde das pessoas, tanto na exposição a sons como a vibrações”, relembra a fonoaudióloga. Ana Cláudia Fiorini, antes de integrar a diretoria, foi conselheira da entidade por quatro anos e em dezembro foi eleita em um chapa que tem o engenheiro Antonio Nabuco de Araújo, chefe do Laboratório de Acústica e Vibrações do Inmetro, como presidente. Na SOBRAC, a contribuição da EDIÇÃO 67 67 -- MAIO/JUNHO MAIO/JUNHO 2006 2006 EDIÇÃO FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT Fonoaudiólogos e engenheiros, juntos na SOBRAC Fonoaudióloga Ana Cláudia Fiorini Fonoaudiologia é principalmente na área de ruído, tanto ocupacional como o urbano. Segundo Ana Cláudia Fiorini, “estamos também nos envolvendo em escolas, visando a qualidade acústica das salas de aula. No final de novembro deste ano, na PUC São Paulo, o encontro nacional da SOBRAC terá um simpósio de acústica de salas e edificações e iremos promover um simpósio paralelo para fonoaudiólogos, sobre ruído em escolas”. “Participamos em grupos para estudo e definição de normas de ruído, sejam relacionadas à calibração de equipamento, sejam para ruído no interior da cabina ou para protetores auditivos. Os engenheiros trabalham com a vigilância sanitária, para propor medidas de controle do risco e nós com a vigilância epidemiológica, dos efeitos que o risco provoca no homem”. Esta é uma parceria muito bem vinda que, na visão da Fonoaudióloga, envolve não apenas os fonoaudiólogos que atuam na área de audição, como os profissionais voltados para a voz, em razão das questões acústicas de produção e de percepção de fala. “Tenho como um de meus objetivos, o de realizar, no futuro, simpósios conjuntos, inclusive sensibilizando os profissionais da voz para essas questões”. A SOBRAC é constituída por vários grupos de trabalho: o de Ruído Veicular, responsável pela organização de simpósios em São Paulo; o de Acústica de Edificação, que promove encontros em conjunto com grupos de Ergonomia e Conforto Térmico; e o de Conservação da Audição, que trabalha com outras entidades de Segurança e Medicina do Trabalho. A entidade participou das discussões para a elaboração da Lei do Silêncio, em 1990, e do Ruído Veicular, em 1993. Possui, ainda, representantes na ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e em outras instituições relacionadas à segurança no trabalho e conforto acústico. Atualmente, sua sede está nas dependências da Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis (SC). Um dos projetos da nova diretoria é de iniciar um processo de certificação de profissionais que atuam na área de acústica e vibrações. Hoje, existe apenas o processo de acreditação de empresas, junto ao Inmetro. Ana Cláudia lamenta que a participação de fonoaudiólogos na SOBRAC ainda seja muito reduzida, embora não existam pré-requisitos para admissão em uma das três categorias oferecidas: estudantes, profissionais ou sócios empresariais. Os interessados poderão obter informações pelos telefones da SOBRAC: (48) 234-4074 ou (48) 331-9227 - ou através do site www.sobrac.ufsc.br (em reformulação) – ou do e-mail [email protected]. REVISTA DA DA FONOAUDIOLOGIA FONOAUDIOLOGIA -- 2ª 9 REVISTA 2ª REGIÃO REGIÃO -- 9 DIA DA VOZ CAMPANHA ALERTA SOBRE IMPORTÂNCIA DA VOZ SAUDÁVEL FERNANDÓPOLIS FOTO: FERNANDÓPOLIS Os alunos e professores do curso de Fonoaudiologia da Atendimento à população na Praça da Matriz MARÍLIA FOTO: MARÍLIA Fonoaudiólogos de todo o país participaram, na semana de 10 a 16 de abril, da Campanha da Voz 2006, uma ação de conscientização da população para a promoção de uma voz saudável, promovida pela Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa), com o apoio do Conselho Regional de Fonoaudiologia - 2a Região. Em 2006, os Comitês de Voz, Cancerologia e Telemarketing da SBFa se articularam para desenvolver a campanha em conjunto. A campanha, que novamente teve como tema “Seja amigo da sua voz!”, abordou a importância da voz nas relações pessoais e profissionais de várias áreas da comunicação, negócios, saúde e na cultura. Como o Dia da Voz coincidiu neste ano com o domingo de Páscoa, a SBFa sugeriu que fossem escolhidos dias da semana para a comemoração, de forma a atrair mais a atenção da população. Para a Campanha da voz 2006, fonoaudiólogos articulados e coordenados pela SBFa organizaram oficinas de voz, palestras e debates em locais como shoppings centers, parques, centros de convivência, escolas das redes pública e privada. Foram feitas parcerias com as Prefeituras e Secretarias Municipais, instituições de ensino e de saúde, empresas e entidades nas quais as ações pudessem ser desenvolvidas. Como já ocorreu nos anos anteriores, as melhores campanhas serão premiadas pela SBFa. As regras de participação e premiação encontram-se disponíveis no site da SBFa. A Revista da Fonoaudiologia divulga, nesta edição, os eventos realizados cujas informações foram encaminhadas à redação da revista dentro do cronograma estabelecido para a edição. FEF - Fundação Educacional de Fernandópolis realizaram evento no dia 17 de abril,, na praça da Matriz, em comemoração ao Dia Mundial da Voz. Foram realizadas triagens vocais e orientações sobre os cuidados com a voz junto à população por meio de folders (distribuídos principalmente no comércio local) e entrevistas em rádios e jornais locais. BARUERI que se estendeu até o dia 28, com oficinas, de voz, palestras, distribuição de informativos e plantões de dúvidas. FOTO: BARUERI As fonoaudiólogas das Unidades Básicas de Saúde do município de Barueri iniciaram, no dia 12 de abril, programação Equipe de fonoaudiólogas da Prefeitura de Barueri 10 - REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO Docentes e estagiárias, em um dos locais deorientação à população As atividades do Dia Mundial da Voz foram realizadas, neste ano, na segunda-feira,, 17 de abril, em parceria com a Prefeitura Municipal de Marília (SMHS) e a Unesp, quando foram abordadas cerca de 3.500 pessoas. Foram desenvolvidas atividades de orientação à população em vários pontos do município: Terminal Urbano Rodoviário, Shopping e Escolas Municipais de Ensino Infantil, com o apoio das fonoaudiólogas da SMHS, de docentes e de estagiárias do 3o e 4o anos do curso de Fonoaudiologia da UNESP. A população foi orientada quanto aos cuidados básicos com a voz, bem como quanto às alterações vocais mais comuns e onde encontrar tratamento especializado. EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006 Dia Mundial da Saúde MOGI MIRIM Coordenadas pela Prefeitura do município de Mogi Mirim, as ações do Dia Mundial da Voz foram realizadas no dia 17 de abril, com a apresentação do coral A Priori e do coral Cantoterapia e palestra da fonoaudióloga dra. Léslie Piccolotto Ferreira sobre a Voz no Trabalho. A fonoaudióloga Kátia de Cássia Botasso, chefe da Seção de Fonoaudiologia da Prefeitura Municipal de Mogi Mirim, informa que a programação deverá continuar nos meses de abril e maio com oficinas aos alunos e monitores de teatro e contadores de histórias; oficinas e palestras em escolas particulares; palestra sobre prevenção e promoção de saúde vocal infantil e apresentação de peça de teatro aos alunos do pré das escolas municipais. O objetivo dessa programação é mostrar o perfil epidemiológico da voz do educador municipal. Os educadores trabalharão o tema em sala de aula e os melhores trabalhos receberão um prêmio e se apresentarão em um programa de televisão, para orientar a população. FRANCA A Universidade de Franca Unifran realizou a Campanha da Voz em seu campus nos dias 18,19 e 20 de abril, com participação de docentes e discentes. A programação desenvolvida incluiu orientações com uso de cartazes e folhetos disponibilizados pela SBFa. SÃO PAULO Os ambientes das 24 centrais de receberam os profissionais da área de saúde para a realização de oficinas, vivências, míni-palestras, distribuição de folhetos explicativos e outros materiais de comunicação dirigida. Os funcionários apresentarão os resultados das oficinas aos fonoaudiólogos e concorrerão a prêmios como squeezes, camisetas, bonecos com mensagens e folhetos com histórias em quadrinhos. Para o encerramento da campanha foi programada a apresentação de um coral. TSE exige linguagem de sinais na TV O Tribunal Superior Eleitoral aprovou por unanimidade que, na campanha eleitoral deste ano, todos os candidatos terão de incluir nas peças publicitárias a serem veiculadas no horário gratuito da TV a linguagem de sinais e legendas, para acompanhamento dos deficientes auditivos. FOTO: ATENTO A Atento Brasil, empresa de contact center pertencente à Telefônica S.A., da Espanha, criou uma campanha de saúde para orientar seus 53 mil funcionários, distribuídos em 10 cidades (sete das quais, capitais) sobre o bom uso da voz, não apenas na profissão, mas também no seu dia-a-dia. Durante a semana de 16 a 21 de abril foi desenvolvida uma intensa programação de atividades e disseminação de informações, para atender às necessidades daqueles que fazem uso do telefone no trabalho. O Conselho Regional de Fonoaudiologia 2a Região, em conjunto com dez outros Conselhos Regionais com atuação no Estado de São Paulo na área da Saúde, divulgaram mensagem publicitária no jornal Folha de São Paulo, com o título “Luta pela qualidade da saúde. Essa é a nossa missão!” (veja ao lado), em que reafirmam o seu compromisso com a sociedade de promoção da qualidade de vida das pessoas. Campanha da Voz em uma das unidades da Atento EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006 REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO - 11 FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR HAPPY HOUR CULTURAL S0BRE F0NOAUDIOLOGIA ESCOLAR - FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT Através do professor, o aluno “O professor vive as dificuldades do seu próprio espaço, a da sua relação com outros professores e a necessidade continuada de uma formação e atualização profissionais, que vão na contramão da jornada estressante que ele tem de enfrentar. No meu circulo de atuação, em 90% do casos eles fazem pelo menos duas jornadas de trabalho. Se isto traz conseqüências sérias para a sua saúde vocal, outra preocupação igualmente séria está relacionada a sua necessidade de obter, como formador em relação a seus alunos, um tempo de dedicação e de estudo para que possa trabalhar bem com o desenvolvimento da linguagem, com a alfabetização, com a leitura e a escrita....”. A fonoaudióloga Patricia Calheta traça este quadro com total conhecimento de causa. É docente do curso de Fonoaudiologia da Universidade Metodista, em São Bernardo do Campo (SP), onde ministra as disciplinas voltadas para a linguagem oral e escrita. Foco no professor.. “Trabalho com o conceito – discorre Patrícia - de que o fonoaudiólogo, com seu conhecimento em linguagem oral e escrita, pode ajudar, e muito, o professor em um processo que chamo de ‘assessoria escolar’, voltado para a formação do professor, não só em termos de desenvolvimento da escrita e da linguagem oral, mas principalmente na geração de estratégias que sejam importantes e significativas, que tornem a leitura e a escrita não apenas prazerosa para os alunos, mas que viabilize a construção do conhecimento”. A fonoaudióloga Mônica Petit Madrid concorda. Docente do curso de Fonoaudiologia do Centro 12 - REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO Universitário São Camilo e, como conselheira do CRFa 2ª. Região, integrante da Comissão de Educação da autarquia, também detecta falhas na formação do professor que envolvem as questões da Fonoaudiologia. “Em geral ele não tem a informação, em sua formação, sobre a saúde do aluno, e a sua própria saúde para desenvolver, por exemplo, uma ação de promoção de saúde. Entendemos que se o professor estiver bem capacitado, ele pode – além de cuidar de sua própria saúde – cuidar da saúde do aluno nos aspectos que envolvem linguagem oral e escrita, audição, voz e motricidade. E, se ele já estiver capacitado, o fonoaudiólogo pode desenvolver um trabalho de assessoria para, junto ao professor, estabelecer algumas ações em prol ao escolar” A fonoaudióloga Ana Teresa Brant, é também docente do curso de Fonoaudiologia do Centro Universitário São Camilo, em São Paulo (SP) e supervisora de estágio. Ela acredita em uma prática escolar em EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006 EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006 FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT Fonoaudióloga Patrícia Calheta realidade em que muitos professores estão afastados do trabalho, eles necessitam de uma ação terapêutica por parte do fonoaudiólogo, em suas clínicas e consultórios”. Dificuldades. A assessoria oferecida por Patrícia Calheta começa com a discussão de teorias de aprendizagem que são veiculadas na escola e dos métodos de alfabetização possíveis e o que a escola entende como mais significativas. “A partir daí adentramos no letramento, a grande questão nas escolas, tanto de educação infantil como de ensino fundamental”. FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT que se trabalhe apenas com o professor, “porque isso vai ter reflexos na qualidade para o aluno. Não preciso necessariamente trabalhar com o aluno. Entendo que, dentre outros temas a voz do professor pode ser considerada como um dos aspectos que envolve a qualidade do ensino e da aprendizagem inseridos em uma determinada situação escolar. Um professor que falta várias vezes durante o ano por causa de sua voz, tem uma conseqüência no processo de ensino e aprendizagem do aluno. Neste sentido, o professor ter a informação sobre os cuidados com sua voz é um aspecto que envolve a qualidade do ensino”. Em relação especificamente à voz, a fonoaudióloga Patrícia Calheta enfatiza que o professor precisa entender que a voz é o seu instrumento mais importante e mantê-la saudável é essencial. “Existem diversas pesquisas desenvolvidas no Brasil que mostram que uma porcentagem significativa de professores tem problemas vocais e são afastados em razão desses problemas. Muitos não tomam alguns cuidados essenciais, ou por falta de informação ou pela própria dinâmica da sala de aula. O que fazemos é sensibilizar o professor para a importância desse seu instrumento de trabalho, através de questões simples e bem pontuais (beber água no decorrer de toda a aula, eleger alguns alimentos que façam parte dessa manutenção da saúde vocal, como por exemplo, trocar o cafezinho por uma maçã, que tem ação adstringente)”. O fonoaudiólogo também colabora na definição de elementos que auxiliem a boa saúde vocal, como a adequada acústica do ambiente de trabalho. “Como lidamos com uma Fonoaudióloga Mônica Petit O letramento está associado a práticas sociais de leitura e de escrita que o professor desenvolve junto aos seus alunos. “Munidos do nosso saber sobre a linguagem e o letramento infantil, assessoramos o professor para que ele, na sala de aula, escolha estratégias que sejam as mais efetivas nesse caminho, para que a criança não leia só porque tem que ler ou escreva porque alguém mandou escrever, mas que encontre sentidos para isso e que essas práticas de leitura e de escrita estejam voltadas para um objetivo a ser alcançado”. Mônica Petit lembra que professor e fonoaudiólogo são dois profissionais que devem ser parceiros. “Um professor de educação infantil lida com crianças no processo de desenvolvimento-aquisição da linguagem oral, por exemplo. O professor poderá adotar uma ação que otimize o desenvolvimento da linguagem, mas o desconhecimento das teorias de aquisição de linguagem faz com que não disponha de toda a autonomia para atuar. É nesta instância que os subsídios do fonoaudiólogo farão a diferença”. Mônica dá outro exemplo. “Quando uma criança apresenta uma suposta dificuldade de escrita e o professor fica em dúvida se é um problema a ser tratado por fonoaudiólogo ou se faz parte do processo de aprendizagem, se – ao invés de simplesmente encaminhar – dialogar antes com o fonoaudiólogo, o professor pode até evitar esse encaminhamento. Não estou com isso transferindo a minha ação para ele,mas sim enfatizando um papel que já deveria ser dele”. No ensino médio, as dificuldades estão mais focadas na linguagem, onde o aluno apresenta dificuldades REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO - 13 FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT para escrever ou para ler. Patrícia detalha. “Neste caso, trabalhamos com as produções escritas dos alunos, para tentar localizar quais são os principais problemas, para poder orientar o professor sobre a forma que pode trabalhar. No fundo, o fio condutor desse trabalho é saber como o professor, na sala de aula, pode desenvolver atividades para otimizar o uso da leitura, da escrita e da Fonoaudióloga Ana Teresa Brant linguagem oral e escrita para seus alunos”. Pesquisas sobre o índice de analfabetismo funcional mostram como é elevado o número de pessoas que não sabem usar a escrita de maneira adequada, desde o adulto já alfabetizado já há muito tempo mas com um conhecimento bem restrito da escrita para o que ele usa no cotidiano, até a criança que está começando a escrever e está sendo apresentada para um universo pouco mais amplo. “Essas pesquisas revelam como as pessoas, hoje, já conseguem dominar a técnica da alfabetização mas não sabem usar a escrita de acordo com as mais diversas solicitações do cotidiano.Você pede para escrever ‘caneta’ e ele sabe que letras utilizar, mas se solicitado a escrever uma carta ou um artigo, ou seja, usar a escrita, ele não sabe como fazer. Que leitores e escritores estão sendo formados?”, questiona Patrícia. Dilemas. Ana Teresa Brant, além de docente, também atua sob forma clínica, que é uma outra possibilidade do profissional atuar junto à escola. “Sou pesquisadora em linguagem escrita e atendo também muitos casos de alteração de linguagem oral. Conhecer a escola e suas práticas pedagógicas é fundamental neste trabalho”. “A entrada dos fonoaudiólogos na escola (e também de outros profissionais) muitas vezes objetiva criar uma demanda pra a clínica ou realizar efetivamente um trabalho de promoção de saúde do escolar?”, questiona a docente da São Camilo. “Como supervisora de estágio, nosso objetivo é formar o aluno para uma 14 - REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO atuação educacional ampla dentro da escola. Não significa, no entanto, efetuar triagens nos alunos, identificar as crianças com problemas com o intuito de encaminhar para atendimento, quando necessário, ou identificar precocemente uma patologia para prevenir o seu avanço. Embora o CFFa não proíba a triagem, a princípio, mas apenas a triagem com fins de encaminhamento para o próprio profissional, esta é uma atuação que recebe críticas, pois a escola não é local para o profissional de Saúde entrar para gerar demanda para sua clínica. Poderíamos, isto sim, utilizar a escola para justamente minimizar a demanda para a clínica. Sentimos, na prática, dificuldade em mudar este perfil de atuação, talvez porque a escola não conheça bem o nosso trabalho, acha que se resume à triagem, quando podemos atuar junto ao professor, não só nos cuidados dele com a voz mas também nas questões de linguagem que são pertinentes”. Ana Teresa alerta para uma inversão de valores: a mãe considera positivo o fato da escola oferecer todos os serviços agregados (do fonoaudiólogo, do ortodontista...). “É um equívoco a entrada destes profissionais na escola desta maneira e com este objetivo, até por EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006 FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT uma questão ética. Sempre pode ocorrer uma busca de clientela... Será que o profissional da área de saúde deve ir a escola para fazer propaganda de seu trabalho? Será que a escola deve abrir as portas para esse tipo de ação de profissionais? Com isto, a escola ganha um lugar que não é o educacional, mas o do marketing, da oferta de serviços.... um ponto de venda, enfim”. Ana Teresa lamenta que ainda exista resistência nas escolas, mas esta possibilidade de atuação tem que ser aberta “para que, de forma séria e com Fonoaudióloga Maria Silvia Cárnio qualidade possamos fazer com que o professor encare a dificuldade da criança como algo natural do processo e não mais só olhando a doença e encaminhadapara a clínica. Vamos além da identificação e do tratamento de doenças; nos direcionando em ações de promoção de saúde, para melhorar as condições de ensino e aprendizagem dentro da escola”. Voltada a atuação de professores de educação especial desde 1982, primeiro na UNESP em Marília e depois na USP, a EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006 fonoaudióloga.Maria Silvia Cárnio desde 1989 é docente no curso de Fonoaudiologia da USP e hoje é responsável pela disciplina Programa-Escola. Em palestra que proferiu em 31 de março no Happy Hour Cultural promovido pelo CRFa 2ª. Região sobre Fonoaudiiologia Escolar defendeu uma mudança na forma de avaliar por parte do fonoaudiólogo. “Temos que parar de detectar problemas. Não dá mais para avaliar só pela falha, pelo erro, mas sim pelo potencial de cada criança. Temos que buscar qualidade na formação e nas formas de avaliar, para que tenhamos um instrumento para se conhecer individualmente o aluno e o perfil da classe. E, para isso, o fonoaudiólogo precisa conhecer melhor a realidade onde atua e se colocar como parceiro do professor e não como um tutor”. “Temos que trabalhar com estratégias facilitadoras – afirmou Maria Silvia Cárnio no Happy Hour para os alunos adquirirem a leitura e escrita. E só vamos conseguir isso através de parcerias multidisciplinares entre Educação e Saúde, de trabalho em equipe, que envolva fonoaudiólogos, psicólogos, assistentes sociais, visitadores sanitários... O envolvimento familiar é importantíssimo. Se não trouxermos as famílias para a escola, não vamos mudar nada!”. A fonoaudióloga Ana Teresa reconhece que esta reflexão sobre a mudança de atuação na escola está muito na teoria e pouco na prática. “E estamos falando da cidade de São Paulo, onde a transposição das discussões teóricas para a prática ainda se efetiva. Se pensarmos em termos de Brasil, a coisa se agrava muito mais”. REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO - 15 PESQUISA CRFa 2ª Região traça panorama da Fonoaudiologia Escolar Os fonoaudiólogos estão presentes no âmbito escolar por meio de alguma forma de atuação triagem, palestra etc. - em 52% de 101 escolas particulares visitadas na região centro-oeste da cidade de São Paulo, embora apenas 4% dos fonoaudiólogos estivessem presentes nas instituições no momento da visita de fiscalização. Dos locais visitados, o vínculo empregatício que os fonoaudiólogos estabelecem com as escolas é, em sua grande maioria (93%), através de prestação de serviços. Estes dados fazem parte de uma pesquisa iniciada em janeiro de 2005 pelo Conselho Regional de Fonoaudiologia 2ª Região, através da Comissão de Orientação e Fiscalização, com o objetivo de traçar um panorama de atuação do profissional neste seguimento. Nessas visitas fiscalizatórias em escolas, constatou-se que se poderia dispor de informações fundamentais para serem utilizadas não apenas para a fiscalização, mas para o mapeamento da realidade da atuação do fonoaudiólogo na escola, o que permitiria traçar um perfil preliminar deste trabalho no âmbito escolar. A Comissão pretende dar continuidade a este trabalho em 2006, que deverá ser ampliado para todo o Estado de São Paulo. As visitas realizadas pela Comissão de Orientação e Fiscalização englobaram em grande parte, as escolas de educação infantil, fundamental e de ensino médio. Os dados referentes as 101 escolas visitadas (das 464 existentes na região centro-oeste) foram analisados, embora seus resultados ainda devam ser considerados como preliminares, e apresentados no Fonoaudióloga Renata L. Megale Happy Hour Cultural realizado no dia 31 de março deste ano, que discutiu as questões ligadas a Fonoaudiologia Escolar. A fonoaudióloga Renata L. Megale, representante da Comissão de Orientação e Fiscalização e fiscal do CRFa 2ª, Região, detalhou nesse encontro alguns números colhidos nessa primeira etapa. Dos entrevistados nas 101 escolas, 50 afirmaram ter atuação do fonoaudiólogo na escola, 46 16 - REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO negaram a existência desse profissional e 5 não sabiam informar. O trabalho realizado pela grande maioria dos profissionais é o de triagem oral. A triagem auditiva não aparece nessa realidade. Renata Megale ressaltou a necessidade de cautela, para que esta triagem não seja utilizada para a captação de clientes, o que fere a Resolução CFFa nº 309/05 (art. 1º, alínea d). Salientou, ainda, que apenas dois fonoaudiólogos foram detectados como integrantes da equipe escolar, participando do planejamento pedagógico e realizando efetivamente um trabalho educacional. Com base nestes resultados preliminares, o Conselho Regional de Fonoaudiologia 2ª Região estuda estratégias de ação que envolvam a formação dos profissionais neste campo de atuação e a promoção de ações de sensibilização dos profissionais da educação, para mostrar a importância do fonoaudiólogo na escola. Outra estratégia em elaboração favorece a realização de fóruns de debates e acompanhamento dos projetos de lei que envolvam o tema, em parceria com as Comissões de Orientação e Fiscalização, Educação e Legislação e Normas. A divulgação dos acontecimentos nesta área também faz parte dessas ações. EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006 Quando o Orkut se instalou na rede de informática, todos os que a ele aderiram tinham o mesmo pensamento de seu criador Orkut Buyukkokten: seria uma nova forma de diversão barata e uma maneira divertida de se conectar as pessoas. E foi realmente isto que aconteceu... no início. Vislumbrando que as pessoas entrariam nas diversas comunidades criadas desprovidas de qualquer “maldade”, muitos aproveitadores hoje se utilizam do Orkut como uma ferramenta para aliciar pessoas nas mais diferentes práticas. Temos lido em vários jornais e visto na televisão, venda de drogas, falsários comercializando receitas médicas, grupos levados pelo preconceito desmerecendo pessoas, intrigas, roubo de senhas, enfim uma série de imoralidades e ilegalidades cometidas impunemente. Em nossa área também foram criadas várias comunidades. Muitas são ligadas a áreas específicas, outras de discussão geral, algumas são de cursos de graduação ou pós-graduação em Fonoaudiologia, mas todas, sem exceção, com conteúdo científico. Certo? Infelizmente não. Temos visto crescer em nossa área algumas comunidades que têm utilizado o Orkut como forma de denegrir nossa imagem ou a de nossos pacientes. Temos clareza de que o Orkut foi criado para mera diversão, mas “divertir” não significa “ofender”. Conteúdos que abordam práticas profissionais sigilosas citando nomes de pacientes, orientações a pacientes sem ter sido feita a avaliação fonoaudiológica do mesmo, menosprezo para com o colega quando este solicita uma orientação, têm feito parte também das comunidades encontradas no Orkut. O CRFa 2a Região tem recebido inúmeros questionamentos e denúncias por parte de pacientes e profissionais que se sentem lesados ou ofendidos quando comentam ou solicitam informação/orientação através do Orkut. Na medida do possível, temos tentado orientar individualmente os fonoaudiólogos que gerenciam estas comunidades, mas com milhares de comunidades existentes no Orkut, com certeza não conseguiremos atingir a todas. Não estamos aqui tentando desvirtuar a função principal do Orkut, que é a de divertir, mas consideramos que ele sirva também como fonte de informação profissional, quando um fonoaudiólogo informa sobre as diversas patologias atendidas, ou sobre as várias linhas de atendimento terapêutico, ou, ainda, sobre cursos; ele serve como forma de crescimento profissional, quando discutimos casos (sem citar nomes!), quando apresentamos resultados fonoaudiológicos adequados; ele serve ao paciente, quando o orientamos a procurar um profissional, antes de determinar este ou aquele método de tratamento, esta ou aquela terapia, este ou aquele exame, ele serve de crescimento para a classe, quando divulgamos nossos sucessos, nossos trabalhos científicos, quando divulgamos um congresso importante do qual participamos. Hoje, muitas empresas de colocação profissional procuram o candidato no Orkut antes de contratá-lo, para ver a que comunidades pertence, como se comunica com o outro. Vamos, então, utilizar esta nova forma de comunicação para enaltecer ainda mais nossa profissão. Nosso Código de Ética e a Resolução CFFa no 267/01, que trata de uso da Internet, nos dão “dicas” de como podemos utilizar a Internet de forma adequada. Vamos segui-las! É uma maneira moderna de divulgar nosso conhecimento. ANÚNCIO AUDIOLÓGICAL LAB 18X4 cm EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006 REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO - 17 SAÚDE PÚBLICA 3A CONFERÊNCIA NACIONAL DE GESTÃO DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃO NA SAÚDE EM DISCUSSÃO: GESTÃO DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃO NA SAÚDE As Conferências de Saúde são instâncias com representação dos vários segmentos sociais, com o fim de avaliar e propor as diretrizes para formulação da política de saúde nas três esferas de governo: Nacional, Estadual e Municipal. Participar de uma Conferência é algo inusitado, pra não dizer um trabalho que beira a insanidade, com alto grau de insalubridade. Como descrever quatro dias de muito trabalho, muita atenção, articulação entre os participantes, colocações em momentos oportunos, diálogos atravessados e compreensões dúbias, sem tempo para esclarecimento? Isso sem contar a participação nas etapas municipal e estadual, que antecedem e preparam para a Conferência Nacional. Difícil de descrever, não? Mas tentemos, afinal o processo democrático leva tempo, como dizem alguns e faz-nos exercitar todas as funções de linguagem. No Controle Social, há um assunto permanentemente em pauta: a valorização do trabalho e do trabalhador do SUS, ponto fundamental e que resulta na qualidade da saúde que se pretende oferecer. A Conferência de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde teve sua tese central baseada na NOB/RH-SUS, construída a partir da participação da sociedade organizada e deliberada na 10a / Conferencia Nacional de Saúde (1996) como estratégia para a efetivação e unifica- momento foram a instalação da Mesa Nacional de negociação do SUS, a criação da Câmara de Regulação do Trabalho e a constituição de grupos de trabalho para as diretrizes nacionais para a desprecarização do trabalho e planos de carreira, cargos e salários (PCCS-SUS). O CNS aprovou a “Política Nacional de Formação e Desen- zação, humanização e saúde do trabalhador e Controle social na gestão do trabalho e da educação na saúde. Eventos paralelos a esta dinâmica central traziam em seu bojo os bastidores políticos que permeavam as discussões que viriam a seguir: União Européia e Mercosul: Instituições, Atores e Políticas; reunião da Câmara volvimento para o SUS: Educação Permanente”, em fase de implantação em todo país por meio dos Pólos de Educação Permanente, bem como o monitoramento e interrupção de abertura de novos cursos de graduação na área da Saúde. A 3a CNGTES debateu a questão da gestão do trabalho e da educação na saúde, levando estes aspectos: gestão democrática e participativa; agenda estratégica e financiamento; controle social; negociação em busca da valorização, humanização e saúde do trabalhador. A partir das Conferências Estaduais, que elencaram 6.055 propostas, a relatoria chegou ao documento final com 579 propostas, divididas em quatro eixos temáticos: Gestão democrática e participativa na educação em saúde: agenda estratégica e financiamento; Gestão democrática e participativa no trabalho em saúde: agenda estratégica e financiamento;Negociação na gestão do trabalho e da educação na saúde: valori- de Regulação do Trabalho em Saúde; Conselhos Profissionais: existem alternativas para a Regulação Profissional? (organizado pelo movimento estudantil); lançamento de livros; apresentação sobre Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria (DRAC/SAS), entre outros, além de uma variedade de moções de repúdio, de apoio, de advertência, que mostram os movimentos da sociedade organizada e suas solicitações. Como representante dos Trabalhadores, por vezes aplaudido, em outras situações mal compreendido, e dentro deste segmento com sua especificidade de atuação, os Conselhos de Fiscalização Profissional se fizeram representar. Cada qual por meios diferentes, mas com um único objetivo: mostrar-se apto à defesa dos trabalhadores e lutar por seus direitos, garantindo qualidade no atendimento à saúde da população. Neste cenário macro-político, fica difícil pensar especificamente na inserção da Fonoaudiolo- FOTO: CRFa 2a. REGIÃO Com 1.524 participantes (1.372 delegados e 152 convidados) Brasília hospedou, entre os dias 27 e 30 de março, a 3a Conferência Nacional de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, organizada pelo CNS – Conselho Nacional de Saúde e pelo Ministério da Saúde. As vagas destinadas aos delegados foram distribuídas proporcionalmente entre usuários, trabalhadores, gestores e prestadores de serviço. O Conselho Regional de Fonoaudiologia - 2a Região foi representado nesse encontro pela fonoaudióloga Claudia Silva Pagotto Cassavia, que elaborou texto a seguir apresentado, sob forma condensada. ção normativa dos procedimentos de gestão e para o processo de descentralização da gestão do sistema de saúde. Após duas versões, em 1998 e 2000, na 11a Conferência Nacional de Saúde (2000), foi proposta a organização sistemática de um debate nacional articulado e articulador de gestores, trabalhadores e formadores de recursos humanos para implementar a NOB/RH-SUS, aperfeiçoá-la e adequá-la às necessidades sociais e às realidades institucionais de cada região. As representações dos trabalhadores tiveram participação efetiva e papel de destaque em todas as fases do processo. Esse esforço coletivo resultou em uma Política Nacional de Valorização de Trabalho no SUS, que implicou diretamente na criação da Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde (SGTES) com dois departamentos responsáveis pela viabilização das propostas elencadas na NOB/RH-SUS. As medidas adotadas até o 18 - REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006 O QUE DESEJAMOS PARA A SAÚDE PÚBLICA? “Onde nos enquadramos enquanto profissionais de Saúde e enquanto cidadãos?”. Este foi um dos questionamentos do dr. Gilson Carvalho, palestrante convidado pelo CRFa. 2a Região para expor a sua visão do Sistema de Saúde no Brasil e da participação dos profissionais de saúde, em evento realizado no dia 1o de abril, na Casa do Fonoaudiólogo, em São Paulo (SP) no primeiro dia de abril. Uma historinha contada por ele dá conta da dicotomia entre reabilitação e prevenção. “Qual é o objetivo dos profissionais de saúde? Que as pessoas morram bem velhinhas e vivam bem? E, se ficarem doentes, que sofram pouco e se curem logo, sem seqüelas? Desta forma, estamos dedicando a nossa vida a recuperá-las das doenças. E, quanto mais doente melhor, porque a remuneração será em cima da produtividade, em cima do doente... É isto que realmente queremos? Ou este é, exatamente, o evento mais indesejado de todos?”. O sanitarista discorreu por quase quatro horas sobre as situações que permeiam a Saúde FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT gia, mas garanto que este exercício não é tão difícil assim e a cada dia torna-se vital para nossa continuidade como área de saber e da saúde. Nesta conferência, foi motivo de grande defesa e intenso debate o papel dos Conselhos de Fiscalização Profissional na garantia de saúde de qualidade, bem como seu papel na regulação da profissão. Desta forma, em todos os eixos esta defesa se fez presente. A luta por equipes multiprofissionais e inclusão de profissionais de diversas áreas do saber que contribuem para que princípio de Integralidade seja respeitado também foi a tônica da maioria das propostas de inclusão nos quatro eixos. A participação numa Conferência é o prelúdio de uma batalha que se inicia em cada localidade ao final da Conferência. Cabe a cada um de nós buscar compreender seu papel no contexto político loco-regional e usufruir das conquistas prévias, a fim de atuarmos junta-mente com outros segmentos para a modificação do cenário e dos papéis atribuídos anterior-mente. Iniciamos a caminhada, que não é solitária, e que nos levará à apreciação de novos horizontes. Pública no Brasil, a diferenciação entre o público e o privado, as diretrizes e princípios técnicos assistenciais e gerenciais, a regulação, legislação e as questões do financiamento que envolvem o SUS – Sistema Único de Saúde, “o maior sistema de saúde do mundo, que usamos desde quando acordamos até quando estamos gravemente doentes, mas cuja dimensão ainda não é clara para muitas pessoas”. O dr. Gilson Carvalho deverá estar nas páginas da próxima edição da Revista da Fonoaudiologia Fonoaudiologia, em entrevista exclusiva, quando detalhará a sua visão deste tema e as formas de participação em benefício da população. SEMINÁRIO DISCUTE POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE AUDITIVA De 16 a 18 de março, realizou-se, no campus da USP de Bauru (SP), o seminário Políticas Públicas em Saúde Auditiva, com o objetivo de discutir ações com o objetivo de propor modelos de intervenção, a fim de consolidar uma política nacional de atenção à Saúde Auditiva. O Conselho Regional de Fonoaudiologia 2a Região foi representado nesse encontro pelas fonoaudiólogas Thelma Costa e Roberta Alvarenga Reis. O evento contou com a participação de profissionais e pesquisadores da área da Saúde de todo o país, que atuam nas universidades e no Sistema Único de Saúde (SUS), nos níveis municipal, estadual e federal, desenvolvendo pesquisas para a otimização do serviço público em saúde auditiva no âmbito nacional. Eram,, principalmente,, médicos e fonoaudiólogos, além de membros de entidades de representação profissional e profissionais de empresas de aparelhos auditivos. O seminário também foi dirigido a alunos de graduação e pós-graduação envolvidos em projetos de pesquisa na área de Saúde Auditiva. EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006 Promovido pelo Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru/USP, em parceria com o Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da USP, o evento contou com a participação do dr. Andrew W. Smith, de Genebra, representante da OMS - Organização Mundial da Saúde. As atividades foram organizadas em três grupos de trabalho, para a elaboração de recomendações e sugestões sobre o assunto discutido. Nessa proposta de trabalho em grupo, que utilizou metodologia ativa e problematizadora, optou-se por reunir os grupos de Saúde Auditiva e Formação Profissional (extensão), de Saúde Auditiva e Sociedades Científicas (pesquisa) e de Saúde Auditiva, Atuação Profissional e Ética, para uma discussão mais ampliada e produtiva. O resultado do trabalho produzido foi apresentado em plenária e deverá compor um documento disponibilizado para a sociedade e apresentado aos gestores para a discussão de propostas para possíveis reformulações da política. REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO - 19 ENTREVISTA ROSENI PINHEIRO Coordenadora do Lappis - Laboratório de Pesquisas de Práticas de Integralidade em Saúde Integralidade no cotidiano da Saúde Roseni Pinheiro foi uma das palestrantes das Oficinas Regionais de Sensibilização de Docentes e Discentes de Fonoaudiologia para o Sistema Único de Saúde (veja notícia na última edição) que estão sendo promovidas pela Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia e que deverão ser concluídas em junho com uma Oficina Nacional, em São Paulo. Laboratório de Pesquisas de Práticas de Integralidade em Saúde, que reúne um colegiado de pesquisadores que auxiliam na identificação e construção de práticas de atenção integral à saúde e que institucionalizou o projeto ‘Integralidade: Saberes e Práticas no Cotidiano das Instituições de Saúde’, criado em 2000. “O trabalho que desenvolvemos no Lappis é multidisciplinar e tem como ponto de partida o conhecimento que é construído na prática dos sujeitos nas instituições de saúde e na sua relação com a sociedade civil. O programa atua ATENDIMENTO DO PSF EM PARACAMBI, RJ - FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT “Integralidade é um amplo conceito, uma ação social que resulta da interação democrática entre os sujeitos no cotidiano de suas práticas na prestação do cuidado da saúde, em diferentes níveis do sistema”. É desta forma que a sanitarista Roseni Pinheiro define este termo chave de sua atuação à frente do Lappis - no âmbito do ensino, oferecendo disciplinas na pós-graduação stricto e 20 - REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO lato sensu, e no âmbito da pesquisa, promovendo estudos em diferentes regiões do país”, destaca a sanitarista. Professora Adjunta do Instituto de Medicina Social – IMS da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisadora responsável pelo “Projeto Integralidade - Saberes e Práticas no Cotidiano das Instituições de Saúde”, Roseni Pinheiro – enfermeira por formação - ministra aulas e orienta alunos de Pós-Graduação em Saúde Coletiva nas áreas de Movimentos Sociais, Cultura Política e Modelos Tecnoassistenciais em Saúde. A proposta do grupo que coordena é repensar a noção de integralidade a partir da análise, divulgação e apoio a experiências inovadoras. Ela própria, como coordenadora, em 2002, do “Projeto Experiências Inovadoras no SUS”, havia registrado 42 experiências inovadoras nas áreas de Gestão da Rede de Serviços de Saúde e Novas Tecnologias Assistenciais de Atenção ao Usuário. Os três eixos principais das pesquisas desenvolvidas pelo Lappis são apresentados em seu site, em www.lappis.org.br. No primeiro, busca compreender como os sujeitos envolvidos na relação demanda e oferta nos serviços de saúde entendem o termo Integralidade. Outro ponto refere-se à identificação dos efeitos e/ou repercussões desse entendimento nas práticas do cuidado da saúde e dos EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006 Cotidiano, oferta e demanda.... No estudo “As Práticas do Cotidiano na Relação Oferta e Demanda dos Serviços de Saúde: um Campo de Estudo e Construção da Integralidadade”, cujo texto completo está disponível no site do Lappis, a sanitarista apresenta os resultados de um estudo de caso realizado sobre o sistema de saúde do município fluminense de Volta Redonda. Em sua introdução, conceitua que, “em que pese o termo Integralidade possuir um caráter polissêmico no âmbito das políticas de saúde no país, é assumida nesse estudo como uma ação social resultante da permanente interação dos atores na relação demanda e oferta, em planos distintos de atenção à saúde (o plano individual - onde se constroem a integralidade no ato da atenção individual - e o plano sistêmico, onde se garante a integralidade das EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006 ações na rede de serviços), nos quais os aspectos subjetivos e objetivos sejam considerados”. O conceito de cotidiano, apresentado nesse estudo e reafirmado nas palestras realizadas nas Oficinas promovidas pela SBFa, é absolutamente fundamental para as instituições de serviço e universidades. “Por cotidiano entende-se o espaço-lugar (locis) onde se expressam não somente as experiências de vida, na perspectiva individual que o termo possa conter, mas contextos de relações distintas que envolvem tanto pessoas como coletividades e instituições, em espaços e tempos determinados”. Para a coordenadora do Lappis, estudar os atores, seus discursos e práticas no cotidiano das instituições é fundamental, pois possibilita a localização de elementos objetivos e subjetivos, por meio dos quais os atores sociais constroem suas percepções referentes à vida social, que inclui a vida institucional. “No caso das instituições de saúde, o cotidiano dos atores representa um espaço de lutas, de exercício de poder, aqui entendido não como um objeto natural, mas como uma prática social, influenciada pelas práticas sanitárias e políticas”. E não apenas em relação com o usuário, mas também com o estudante. E o que a sanitarista chama de ‘cidadania do cuidado e solidariedade do conhecimento nas relações sociais e de saúde’. “É entender que o cuidado é uma prática cidadã. Cidadania não é apenas o meu direito individual,mas a minha capacidade e habilidade em poder viver coletivamente, decidindo sobre o que vai acontecer”. A sanitarista parte do pres- suposto de que “a integralidade tem nas categorias oferta e demanda as principais ferramentas de sua observação, quando analisadas relacionalmente, construídas de maneira dinâmica, resultante de uma ação social, que tanto pode incluir a objetividade e/ou a subjetividade de seus atores, quanto suas falas e práticas no interior das instituições”. A construção da relação entre oferta de serviços de saúde não se coloca como uma tarefa trivial, mas é resultante de embates, conflitos e contradições que permeiam o cotidiano de técnicos, profissionais e usuários no dia-a-dia das instituições. “São estabelecidas interações com intermediações complexas que muitas vezes não são somente explicitadas por palavras, mas em intenções e gestos dos atores envolvidos no funcionamento do sistema de saúde local. FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT resultados desse processo para os usuários dos serviços. Por fim, essas práticas são comparadas com as políticas de atenção integral do Estado. “Esse trabalho pressupõe que a Integralidade é uma ação social, um princípio, que tem a Reforma Sanitária Brasileira como contexto político, social e histórico. Isso significa acreditar que a construção da Integralidade requer, necessariamente, interações democráticas entre os sujeitos envolvidos nas práticas do cuidado da saúde, e que essas transformações no cotidiano dos serviços podem garantir a saúde como direito de cidadania”, detalha Roseni Pinheiro. Ela usa a imagem da polifonia para transmitir a imagem de integralidade, quando se materializa esse princípio como ação prática: “há necessidade de se reconhecer as vozes do usuário, do profissional, do gestor...”. REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO - 21 E é justamente nesses aspectos que residem as questões mais prementes sobre os limites e as possibilidades de garantir o principio da integralidade. Até mesmo porque existe um nexo recíproco entre a oferta e demanda, no que diz respeito às práticas exercidas pelos atores nas instituições de saúde, que desnuda, por um lado, a situação e o contexto que vivem e, de outro, põe em relevo os problemas estruturais que envolvem as instituições de ação social”. Poder versus integralidade. As questões relacionadas a interdisciplinaridade e a multiprofissionalidade são destacados pela sanitarista. No estudo que realizou em Volta Redonda, constatou que, embora o município tenha reunido esforços para garantir a interdisciplinaridade, mediante um conjunto de medidas para disponibilizar profissionais como psicólogos, fonoaudiólogos e enfermeiros, nas unidades básicas de saúde, “a lógica do atendimento nesses serviços ainda está centrada, em sua grande maioria, no atendimento individual realizado pelo médico. Isto reforça a tese de que, para garantir a interdisciplinaridade, não basta compor equipes com profissionais de outras áreas, e sim reconhecer a realidade expressa em termos de acesso a bens em saúde, um conjunto de valores, crenças e idéias calcado na racionalidade médica contemporânea”. Em sua palestra aos docentes de cursos de Fonoaudiologia em Campinas, na primeira oficina promovida pela SBFA, Roseni Pinheiro destacou que “reconhecer a coerência entre a visão do médico e a do paciente sobre doença é admitir a existência de um universo simbólico compartilhado, que no cotidiano das instituições de saúde tem obstaculizado, ainda que de maneira implícita, as mudanças nas práticas sanitárias no interior das instituições, como por exemplo a interdisciplinaridade nas equipes de saúde”. Roseni Pinheiro considera fundamental a utilização da interdisciplinaridade com as áreas de ciências humanas e sociais em saúde, nas tecnologias de gestão ou na formação. “Saúde é um campo que não é privativo de nenhuma categoria profissional. É, isto sim, uma equipe de profissionais que se responsabiliza e responde as demandas das pessoas em suas necessidades em defesa da vida”. 22 - REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO A sanitarista defende a construção coletiva de ferramentas e tecnologias inovadoras de gestão e cuidado no cotidiano das práticas de saúde. “Coletiva porque não pode ser de apenas uma profissão na área de formação a se responsabilizar. A multiprofissionalidade é uma estratégia absolutamente coerente e reivindicada pelas instituições formadoras, para a integralidade. Cada vez mais surgem cursos que em seus campos de estágio e em suas aulas práticas estão agregando e incluindo outros profissionais em suas ações, em uma perspectiva de trabalho em equipe multiprofissional”. Papel da Fonoaudiologia. “A Fonoaudiologia talvez seja a profissão mais porosa a essa integralidade que tanto defendo, porque está construindo e crescendo em um momento de transformação”, analisa a coordenadora do Lappis. “Nas profissões mais antigas, só vejo aprenderem o que tem de ruim: o corporativismo, a defesa econômica da categoria... Não há nenhum princípio ético sendo defendido e não é à toa que está ai a discussão do ato médico, que surgiu de uma insuficiência completa da compreensão acerca da complexidade das demandas por saúde e da EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006 EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006 cabeça do generalista todo o conhecimento especializado. Ele não irá suportar. Todo profissional tem direito à atualização, seja generalista, seja especialista. A questão é como? Não adianta trazer conhecimentos descontextualizados, ou seja, não de forma externa aos contextos em que o profissional se insere e este é outro equívoco comum da formação”. Roseni Pinheiro coloca alguns questionamentos. Um portador de uma patologia renal crônica, por exemplo, tem mais direitos do que uma gestante? “Na fragmentação das ações e dos conhecimentos em saúde, com vários programas, como fazer com que – por exemplo - uma pessoa negra, mulher, com anemia falciforme e DST consiga receber o atendimento integral, quando todas essas abordagens são separadas em programas? Nas especialidades se vive essa divisão cotidianamente. Isto é um desafio para o profissional, que até tem vontade de desistir, porque não consegue unir o que foi colocado para ele separado”. “Se tomo essa experiência do cotidiano e com ela aprendo a aperfeiçoar a minha ação, vou estar alcançando mais os fins do atendimento integral do que ficar retido só com o conhecimento especializado que aprendi em um curso de pós-graduação. A idéia de experiência é também a idéia da inovação, aquilo que é capaz de romper com o instituído, o estruturado, o tradicional, o que não é poroso à transformação da sociedade, a normatividade da vida, como diria Canguilhem. A experiência não deve ser apreendida para ser repetida simplesmente, passivamente transmitida, ela acontece para migrar, recriar, potencializar outras vivências, outras diferenças. Há uma constante negociação para que ela exista, não se PALESTRA EM OFICINA DA SBFa EM CAMPINAS - FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT necessidade de rever os ‘territórios profissionais’ os quais estão sendo questionados”. Em sua experiência na área de neurologia, Roseni Pinheiro vê o fonoaudiólogo como um profissional muito valorizado pelo usuário, quando ocorre este contato. “A questão é como vocês ocupam os espaços públicos onde estão sendo formuladas políticas? Como fazer isso com o usuário presente? Se existe um cenário de ensino e aprendizagem no curso de Fonaudiologia nos serviços de saúde, como é discutido esse plano com os serviços, os profissionais e os usuários? Onde entram as outras profissões? Elas incluem a Fonoaudiologia? Como ela é incluída? Esta é a parte políticoinstitucional Outro é a pedagógica: como integrar as disciplinas no interior dos cursos, que faça com que diminua essa ênfase na especialidade, na fragmentação? Isso é política em seu sentido mais puro, para criar condições dignas de trabalho e ao mesmo tempo, e principalmente, oferecer serviço de qualidade para os usuários”. Por outro lado, as instituições alimentam a idéia de que a especialidade é importante e que dá status ao profissional. “A questão do generalista se coloca hoje como primordial onde exista uma política de enfrentamento dos problemas de saúde da população, que requer que se tenha um conjunto de conhecimentos ampliado de saúde, além de tratar, promover e prevenir as doenças. Não quero dizer que fragmentação e a especialidade sejam um mal ou que o conhecimento especializado é ruim. O problema é que esses conhecimentos não dialogam em outros espaços onde se fazem primordiais. Quando falo do generalista, estou olhando a atenção básica, é isso? O que é perigoso é tentar colocar na REVISTA REVISTA DA DAFONOAUDIOLOGIA FONOAUDIOLOGIA- -2ª2ªREGIÃO REGIÃO- -2323 isole. Aprender com a experiência é sobretudo fazer daquilo que não somos, mas poderíamos ser, parte integrante de nosso mundo, como diria Foucault”. Para Roseni, é na experiência que podemos encontrar as bases de uma ética particular e concreta, em que a obra e vida se nutrem, sem se reduzirem uma a outra. “Há a urgente necessidade de uma atitude para integrar e humanizar os conhecimentos. A crítica toda é em relação à desumanização do atendimento por conta da apropriação da tecnologia e, algumas vezes, acho que alguns matemáticos e físicos são mais humanos do que os profissionais da área de Saúde...”. Disputa pelo poder. “Existe, concretamente, uma disputa de espaço, de poder”, garante a sanitarista, que é autora de um texto polêmico em que discute a questão do poder no cuidado. “Quem tem o poder de cuidar do outro? Que cuidar é esse? Você só tem eficácia no seu trabalho se o outro entender e constatar sua evolução. Se o profissional não conseguir se sensibilizar, se transformar, enfim aprender com o paciente para melhor atendê-lo, é melhor mudar de profissão...” “A questão toda é saber como abrimos mão de alguma coisa que nos é muito cara, que o saber nos dá e que se chama poder. Poder sobre os corpos, sobre a vida... Como fica o nosso saber nessa hora? Somos interlocutores privilegiados para dizer o que é melhor para a pessoa, mas não perguntamos para a pessoa se é melhor para ela... E pode ser que o que estamos propondo não seja tão eficaz. É muito mais fácil manter as coisas como estão. É só reproduzir. Só que sociedade é pulsante. Ela não se reduz ao que existe, mas sempre vai trazer algo novo pra você. E tudo que a gente aprende é quase que estático. Por isso que são muito lentas as coisas na Universidade: ela precisa sempre de um método, criado externamente, antecipadamente aos objetos que investiga, com regras e parâmetros pré-estabelecidos. Contudo, vão estar relacionadas a interesses de determinados segmentos, não envolvendo necessariamente o real interessado que são os usuários, a coletividade”. Teoria viva. Roseni Pinheiro mostra o exemplo brasileiro de políticas governamentais que se construíram com a participação do trabalhador e do usuário, onde os referenciais de conhecimento se uniram para achar uma resolução para esses problemas. “Um exemplo concreto é a política de enfrentamento dos problemas relacionados à AIDS. Em lugar de um antropólogo ir para um canto, o médico para outro, todo mundo se reuniu para poder compreender como as pessoas viviam. É bem diferente de dizer: você deve fazer isto!”. Outra perspectiva de inovação que é vislumbrada pela sanitarista é “o fortalecimento da capacidade de gestão, que está em curso e que inclui responsabilidade sanitária e a abertura de redes de saúde com controle social, para que se tenha uma participação efetiva de todos nas várias fases de formulação e que necessariamente requer uma interface entre saúde, trabalho e educação”. A saúde coletiva é um campo de teoria viva. “O cuidado passa a ser uma unidade analítica fundamental na produção de conhecimentos e práticas de integralidade, porque reconfigura o atendimento, proporcionando 24 - REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO acolhimento e vínculo entre usuárioprofissionais-serviços. Na dimensão dos conhecimentos e da prática dos trabalhadores de saúde, este é um processo de construção social, permeada de conflitos e contradições, mas é importante participarmos dela, seja reivindicando direitos, seja trabalhando na equipe de saúde, seja participando em espaços públicos diferenciados”. Seminário revê atuação do SUS O Conselho Regional de Fonoaudiologia 2a Região, representado pela fonoaudióloga Cibele Siqueira, participou do Seminário “SUS: Situação Atual, Tendências e Perspectivas”, realizado no dia 17 de março, na Faculdade de Saúde Pública da USP. O objetivo do evento foi o de atualizar conhecimentos e debater o processo de implementação da Política de Saúde e do SUS, com o objetivo de ampliar o apoio para sua consolidação, bem como aprimorá-lo, nos termos da reforma sanitária brasileira. O seminário contou com representantes do Ministério da Saúde, do CONASS (Conselho Nacional de Secre-tários de Saúde), do CONASEMS (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde) e das Secretarias Estadual e Municipal de Saúde de São Paulo. Durante o debate, destacou-se a discussão sobre a necessidade de rever o pacto entre os gestores do SUS, agora desdobrado em: Pacto pela Vida, Pacto pelo SUS e Pacto pela Gestão, nas três esferas de governo, a fim de consolidar resultados e dar sustentabilidade ao SUS. EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006 Há mais de uma década realizada em São Paulo, a programação “Ação Global” desenvolvida pelo Sesi e Rede Globo, teve uma nova versão em 18 de março. Realizada nas dependências do autódromo de Interlagos, contou com a participação de mais de três mil voluntários, que atenderam aproximadamente 80 mil pessoas. Na área da Saúde Auditiva, os projetos desenvolvidos foram concebidos por fonoaudiólogos que já realizam atendimento ambulatorial e em escolas da rede pública da região, por ONGs (como a Vez da Voz e Ceres) e por empresas de prótese auditiva. EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006 As fonoaudiólogas Ana Maria Torres e Raquel Munhoz, da Unitron Campinas, detalham: “foram incluídas atividades interativas e recreativas, com apresentações sobre o funcionamento da audição e as principais patologias que a prejudicam, a sensibilização sobre percepção auditiva e uso de aparelhos auditivos, o aconselhamento sobre problemas de audição, orientações quanto à prevenção da deficiência auditiva e oficinas de Libras, com o objetivo de familiarizar a população com o deficiente auditivo e as formas alternativas de comunicação”. A Unitron Campinas levou o personagem Otacílio, para FOTOS: VEZ DA VPZ (FOTO SUPERIOR) E UNTRION (FOTO INFERIOR) AÇÃO GLOBAL CONTA COM PARTICIPAÇÃO DE FONOAUDIÓLOGOS incentivar as crianças a a passar pela triagem auditiva e fonoaudiológica. Os adultos receberam folhetos informativos sobre cuidados com a audição, além das orientações fonoau- diológicas oferecidas pelas alunas da FMU. Triagens fonoaudiológicas foram também realizadas por profissionais ligados à ONG Ceres. Oficinas de Braille, de Libras, contadores de histórias e muita música foram também oferecidas pela ONG Vez da Voz, com o apoio de empresas de aparelhos auditivos, como Audibel e Widex. “O objetivo foi o de fazermos a inclusão com alegria e levarmos opções para as pessoas com e sem deficiência”, afirmou Cláudia Cotes, presidente da Vez da Voz. Foram distribuídos mais livros infantis da Fundação Educar, alfabetos em Braille e folders educativos. REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO - 25 Fonoaudiólogas brasileiras em Congresso na África do Sul Sete fonoaudiólogas participaram da delegação do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC) da USP – Bauru no 10th International Congress on Cleft Palate and Related Craniofacial Anomalies, que ocorreu de 4 a 8 de setembro de CLASSIFICADOS VENDO URGENTE Audiometro e cabina Vibrasom. Aud. Digital AVS 500 de 1 canal e 1/2 e cabina portátil com 2 meses de uso, entregamos no local! Falar com Alessandra F: 9764-4681 / Pgto.até 3X ALUGO sala, período ou mensal, na Vila Maria junto a consultório dentário.Tel: 69823531ou 9520-0335 Mariana. SALA NO IPIRANGA Alugo a melhor sala no melhor do Ipiranga, com secretária, telefone e a melhor infraestrutura. Confira! Ligue Solange 6168-7008 ou 9783-3193 ALUGA-SE sala (15 m2) c/ WC em clinica Odont. alto padrão c/ l infra-estrutura total, na zona Sul.Tel 5635-0880 Ana VENDO audiometro (ótimo preço) CDA 3000, novo, c/ maleta. VA, VO, LOGO. (11) 84681601 – (11) 8106-9593 c/ Cecília. Revista da Fonoaudiologia Próxima edição: 68 (maio/junho 2006 ) Siga os prazos Encerramento editorial e envio de autorizações publicitárias: 19 de junho Arquivo digital para publicidade 26 de junho Circulação 3 de julho 2005, na cidade de Durban, na África do Sul, sob o tema central Cleft Care for All. Todas as fonoaudiólogas brasileiras apresentaram, no congresso, relatos científicos desenvolvidos no hospital. De acordo com o relato das participantes brasileiras, este congresso é o mais importante na área da fissura labiopalatina e anomalias craniofaciais e ocorre a cada quatro anos (o próximo será em 2009, em Fortaleza, CE). A foto mostra os participantes em companhia do Superintendente do HRAC, dr. José Alberto de Souza Freitas. Da esquerda para a direita: Cristina Guedes de Azevedo Bento Gonçalves, Silvia Helena Alvarez Piazentin-Penna, dr. José Alberto,Renata Paciello Yamashita, Rosana Prado de Oliveira, Janaina Trovarelli Paes, Cristianne Chiquito Netto e Maria Inês Pegoraro-Krook. Veja no site do CRFA 2ª. Região, em www.fonosp.org.br, os temas e autores dos trabalhos científicos brasileiros apresentados. Perdas e roubos Os profissionais abaixo relacionados comunicaram ao Conselho Regional de Fonoaudiologia 2a Região a perda ou roubo de seus documentos e/ou carimbos profissionais. Cédula de Identidade Profissional: Tânia Pereira Donato (CRFa 13.751 e Sandra Regina de Siqueira Dapuix (CRFa 5.172). Carimbo profissional: Lucila Leal Calais (CRFa 12.171) e Selma Elena Fiorini Daronco (CRFa 8.597). Cédula de Identidade Profissional e carimbo profissional: Cristiane Madureira Pivante (CRFa 5.830) e Carolina F. de Godoy (CRFa 13.195) Perda de contato O CRFa 2a Região necessita entrar em contato com a fonoaudióloga Jeanine Bordalo Barros, cujo registro foi cancelado por ordem administrativa. Caso conheça esta profissional, solicite a ela que contate a Comissão de Orientação e Fiscalização, em São Paulo (SP). 26 - REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006 REPÚDIO À EXPRESSÃO “NÃO MÉDICOS” O Movimento Nacional Contra o PLS 25/2002, integrado pelos conselhos profissionais de treze profissões da área da Saúde, elaborou documento em que repudia a utilização da expressão “não médicos para se referir a estes profissionais de saúde. Este é o teor do documento, que o CRFa 2ª. Região encampa em sua totalidade: As treze profissões da área de saúde - Biologia, Biomedicina, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia , Fonoaudiologia, Nutricionistas, Odontologia de Goiás, Psicologia, Serviço Social, Técnicos em Radiologia e Terapia Ocupacional, vem por meio deste, repudiar o tratamento inadequado e, no mínimo equivocado, através do uso da expressão “não médicos” por parte de algumas entidades da medicina, quando se referem aos profissionais de saúde com igual regulamentação, em especial, por ocasião de audiências e apresentação de documentos que tratam do Projeto de Lei do Ato Médico. A expressão “não médicos” é depreciativa, segregadora e mostra uma certa ignorância por parte daqueles que a utilizam. Quando alguém ou alguma entidade se refere aos “profis-sionais não médicos”, nos remete a pensar que a onipotência se torna presente e distante, independente e única, como se medicina não fosse apenas uma profissão de saúde, e sim, uma profissão diferenciada e destacada em um nível superior da área da saúde. Deste modo, entender-se-ia que na área da saúde, apenas existiriam treze categorias em um único nível, ao se excetuar a medicina como profissão de saúde deste nível. Seria necessária muita imaginação e nenhuma documentação daria EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006 fundamentação a tal explicação. Ao se aplicar o principio da igualdade de direitos, também nesta lógica, poderiam existir os “não médicos”, os “não odontólogos”, os “não fisioterapeutas”, os “não fonoaudiólogos”, os “não biomédicos”, os “não terapeutas ocupacionais”, os “não psicólogos”, os “não profissionais de educação física”, os “não assistentes sociais”, os “não farmacêuticos”, os “não médicos veterinários”, os “não nutricionistas”, não “biólogos”, os “não técnicos em radiologia” e “os médicos”. Mas que dificuldade teríamos em manter uma relação dentro da equipe multiprofissional, pois apenas existiriam duas categorias e, notadamente, as relações seriam biprofissionais, nunca multiprofissionais, que absurda conclusão! Esta visão confusa e reducionista da saúde tenta estabelecer um paradigma de poder nas relações sócioprofissionais, apoiada pela simples afirmação de que, supostamente, e somente para conveniência de alguns grupos, existiriam apenas duas classes profissionais na área da saúde no Brasil, a dos “médicos” e a dos “não médicos”. É inadmissível, portanto, que o uso de tal expressão discri-minatória e desigual, perdure, numa sociedade, na qual sua Cons-tituição Federal, resguarda o direito da livre expressão, desde que não ultrapasse a linha da cidadania, da moral e da ética, do respeito mútuo entre os diferentes atores sociais, e, sobretudo, do respeito às leis, em especial, àquelas que, regulamentaram as quatorze profissões da área da saúde, de igual relevância social na prestação de uma assistência à saúde de modo integral e multidisciplinar ao povo brasileiro. REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO - 27