FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT
VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA
O que o
fonoaudiólogo
tem a ver
com isso?
CRFA 2ª REGIÃO TRAÇA PANORAMA DA FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR
2 - REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO
EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006
CONSELHO REGIONAL
DE FONOAUDIOLOGIA
2ª. REGIÃO
7º COLEGIADO
P RESIDENTE
SÍLVIA TAVARES DE OLIVEIRA
V ICE-P RESIDENTE
SANDRA MARIA VIEIRA TRISTÃO DE ALMEIDA
D IRETORA-S ECRETÁRIA
ANAMY CECÍLIA CÉSAR VIZEU
D IRETORA-T ESOUREIRA
MÁRCIA REGINA DA SILVA
C ONSELHEIROS: ANA LÉIA SAFRO BERENSTEIN • ANAMY CECÍLIA CÉSAR
VIZEU • ANDREA WANDER BONAMIGO • CLAUDIA APARECIDA RAGUSA •
CRISTINA LEMOS BARBOSA FURIA • DIVA ESTEVES • DULCIRENE SOUZA
REGGI • F ERNANDO CAGGIANO J ÚNIOR • LICA ARAKAWA SUGUENO •
LUCIANA PEREIRA DOS SANTOS • MÁRCIA REGINA DA SILVA • MARIA CECÍLIA
GRECO • MÔNICA PETIT M ADRID • ROBERTA A LVARENGA R EIS • SANDRA
MARIA RODRIGUES PEREIRA DE OLIVEIRA • SANDRA MARIA VIEIRA TRISTÃO
DE A LMEIDA • S ILVIA R EGINA PIEROTTI • S ILVIA T AVARES DE OLIVEIRA •
T HELMA R EGINA DA S ILVA C OSTA • Y ARA A PARECIDA B OHLSEN
RUA DONA GERMAINE BURCHARD, 331
CEP 05002-061 - SÃO PAULO
FONE/FAX: (011) 3873-3788
SITE: www.fonosp.org.br
D ELEGACIA REGIONAL DA BAIXADA SANTISTA
RUA MATO GROSSO, 380 – CJ. 01
CEP 11055-010 - SANTOS
FONE: (13) 3221-4647 - FAX (13) 3224-4908
E-MAIL: [email protected]
DELEGADA: ISABEL GONÇALVES
D ELEGACIA REGIONAL DE MARÍLIA
RUA BAHIA, 165 - 4 . ANDAR, SALA 43
CEP 17501-080 MARÍLIA
FONE/ FAX: (14) 3413-6417
E-MAIL: [email protected]
DELEGADA: FABIANA MARTINS
O
D ELEGACIA REGIONAL DE RIBEIRÃO PRETO
RUA BERNARDINO DE CAMPOS , 1001 - CJ. 1303
CEP 14015-130 - RIBEIRÃO PRETO
FONE: (16) 632-2555 / FAX: (16) 3941-4220
E-MAIL. [email protected]
DELEGADA: ANA CAMILLA BIANCHI PIZARRO
D EPARTAMENTOS
GERAL
CADASTRO/PERFIL
DEPARTAMENTO PESSOAL
CONTABILIDADE
EVENTOS
FISCALIZAÇÃO
JURÍDICO
REGISTROS/TESOURARIA
SECRETARIA
SUPERVISÃO
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C OMISSÕES
DIVULGAÇÃO
EDUCAÇÃO
ÉTICA
LEGISLAÇÃO E NORMAS
LICITAÇÃO
OUVIDORIA
SAÚDE
CONVÊNIOS MÉDICOS
TOMADA DE CONTAS
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convê[email protected]
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REVISTA DA
N° 67 – MAIO/JUNHO 2006
ISSN – 1679-3048
T IRAGEM: 12.200 EXEMPLARES
C OMISSÃO DE DIVULGAÇÃO
LUCIANA PEREIRA DOS SANTOS - PRESIDENTE
ANA CAMILLA BIANCHI PIZARRO
DIVA ESTEVES
CRISTINA L EMOS BARBOSA FURIA
SANDRA MARIA RODRIGUES P. DE OLIVEIRA
FOTO: RUBENS GAZETA
EDITORIAL
EDITORIAL
Estamos entrando no nosso último ano de
gestão e gostaríamos de compartilhá-lo com todos
os fonoaudiólogos.
Temos como um dos objetivos este ano
participar de, divulgar, apoiar e realizar eventos
que promovam a Fonoaudiologia e sua inserção
na sociedade. Vocês verão nesta revista a
participação do conselho na Ação Global, no Dia
Mundial da Saúde, no Dia da Voz e na
Conferência Nacional de Gestão do Trabalho.
Neste número da revista, vocês poderão ver,
ainda, a preocupação do Conselho em relação a
Saúde Pública, através das inúmeras reportagens
sobre este assunto.Terão oportunidade de ler a
entrevista com a sanitarista Roseni Pinheiro, que
atua no Laboratório de Pesquisas de Práticas de
Integralidade em Saúde - Lappis e o relato do
fórum de Saúde Pública, ministrado pelo dr.
Gilson Carvalho, sobre o Sistema de Saúde no
Brasil e a participação dos profissionais.
Os fonoaudiólogos têm participado em
grande número dos Happy Hours Culturais
realizados na Casa do Fonoaudiólogo e nas
delegacias. Neste ano, continuaremos
promovendo estes eventos, que tem como maior
objetivo atualizar o profissional para sua prática
clínica.
Temos buscado cada vez mais fortalecer
nossas parcerias com a Sociedade Brasileira de
Fonoaudiologia, a Academia Brasileira de
Audiologia, as Universidades e os Conselhos de
Saúde, visando o trabalho multidisciplinar em
benefício da comunidade.
E DITOR E JORNALISTA RESPONSÁVEL:
ELISIARIO EMANUEL DO COUTO (MTB 8.226)
P RODUÇÃO EDITORIAL E GRÁFICA:
INSERT CONSULTORES EM C OMUNICAÇÃO LTDA.
TEL. (11) 5524-8762 / E-MAIL: [email protected]
R EDAÇÃO:
RUA DONA GERMAINE BURCHARD, 331
CEP 05002-061 - SÃO PAULO, SP
FONE/FAX: (011) 3873-3788
E-MAIL: [email protected]
Acreditamos e esperamos que as
informações aqui relatadas possam mobilizar
algumas reflexões e repercutir na prática
profissional e na vida de cada fonoaudiólogo.
I MPRESSÃO:
PROL EDITORA GRÁFICA
P ARA ANUNCIAR:
(11) 5524-8762 OU
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AS
OPINIÕES EMITIDAS EM TEXTOS ASSINADOS SÃO DE INTEIRA RESPONSABILIDADE
DE SEUS AUTORES .
A
REPRODUÇÃO DE TEXTOS DESTA EDIÇÃO É PERMITIDA ,
EXCLUSIVAMENTE PARA USO EDITORIAL , DESDE QUE CLARAMENTE IDENTIFICADA A
FONTE .
TEXTOS ASSINADOS E
FOTOS COM CRÉDITO IDENTIFICADO SOMENTE PODEM
Boa leitura.
Silvia Tavares de Oliveira
Presidente do CRFa 2a Região
SER REPRODUZIDAS COM EXPRESSA AUTORIZAÇÃO POR ESCRITO DE SEUS AUTORES .
EDIÇÃO 66 - MAIO/JUNHO 2006
REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO - 3
FOTO: INSERT
DEBATE
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
O que o fonoaudiólogo
tem a ver com isso?
60% das mulheres sofrem agressões físicas.
10% sofrem violência sexual.
30% dizem que não há justificativa para agressão.
75% afirmam que a esposa tem direito de recusar fazer sexo.
40% sofrem agressão de alguém que não é parceiro.
20% mantém silêncio sobre agressão.
Socos, chutes, ameaças e ataques com armas são mais comuns.
Estes são alguns dos números
contidos em um estudo da Organização
Mundial da Saúde (OMS), que indicou
que aproximadamente uma em cada três
mulheres pesquisadas em duas áreas do
Brasil diz já ter sofrido algum tipo de
violência cometida pelo parceiro.
A pesquisa da OMS foi realizada entre
2000 e 2003, a partir de entrevistas com
24 mil mulheres em dez países. No
Brasil, o estudo ouviu mulheres com
idade entre 15 e 49 anos na cidade de
São Paulo e na Zona da Mata de
Pernambuco. Na capital paulista, 27%
das mulheres disseram já ter sido
vítimas de violência doméstica. Esse
percentual cresce para 34% em
Pernambuco.
Essas agressões, principalmente de
maridos ou parceiros, têm um impacto
direto sobre a saúde das mulheres, mas
nem sempre são reveladas. Pelo menos
20% das entrevistadas nos dez países
disseram que nunca revelaram as
agressões às autoridades. Entre as
vítimas de violências físicas, 40% das
paulistanas e 37% das pernambucanas
admitiram ter sofrido ferimentos ao
4 - REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO
menos uma vez: de escoriações e
cortes e até a ruptura de tímpanos e
queimaduras.
Na comparação com os outros
nove países pesquisados, os índices das
cidades brasileiras foram semelhantes
aos registrados na Tailândia e na
Namíbia. De acordo com os resultados
do estudo, a violência conjugal no Brasil
é maior do que no Japão e na Sérvia.
Em compensação, o problema é menos
grave no país do que na Etiópia, no Peru,
em Bangladesh, na Tanzânia e em
Samoa.
EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006
Na visão de Ana Flávia d’Oliveira,
uma das responsáveis pela pesquisa da
OMS em território brasileiro, os dois
maiores obstáculos para o combate à
violência doméstica no Brasil são a falta
de uma lei específica para esse tipo de
crime e a freqüente relação que se faz
entre os homens e a violência. “Um dos
problemas é a cultura e a formação de
homens e mulheres, com a
masculinidade muito associada à
violência”, diz a pesquisadora. “É a
cultura de gênero que cria homens e
mulheres de forma diferente”.
O Brasil avançou nos últimos anos
em termos de políticas públicas para
coibir a violência conjugal, constata a
pesquisadora, com iniciativas como a
criação de delegacias de defesa da
mulher e serviços de aborto legal,
atendimento à violência sexual e
prevenção contra Aids e outras doenças
sexualmente transmissíveis. “Mas não
é suficiente”, avalia. “Precisamos de
uma melhoria, e precisamos
especialmente de uma integração entre
esses serviços”.
Profissional distante. “As
pessoas em situação de violência,
especialmente as vítimas, procuram
ajuda nas unidades de saúde, sejam
públicas ou privadas. Infelizmente, em
geral, o profissional que atende essas
pessoas não está sensível ao problema,
por não estar suficientemente
capacitado e sensibilizado para
identificar e cuidar de pessoas nessa
situação”, lamenta o médico psiquiatra
Jonas Melman, que atua na Coordenadoria de Desenvolvimento de
Políticas e Programas de Saúde da
prefeitura de São Paulo, e que antes
esteve envolvido no projeto Resgate
Cidadão (hoje está vinculado à área
temática Cultura de Paz, Saúde e
Cidadania).
EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006
“Os profissionais de saúde não
perguntam e a clientela não fala.
A população não identifica na Saúde um
espaço onde pode cuidar disso Por outro
lado, esse profissional muitas vezes não
tem o olhar para captar essa pessoa
como um todo e identificar que ela está
em uma situação de violência. Não
consegue reconhecer que aquilo é
expressão de uma situação mais grave”.
Vários fatores são identificados
pelo psiquiatra para justificar o alheamento do profissional. Um deles é a
formação, que não inclui a questão da
violência como uma questão de saúde
(embora reconheça que este quadro
tenha mudado, ainda de forma incipiente, nos últimos anos). “As organizações sociais e as instituições de formação e os serviços estão mergulhados
nessa cultura da violência, que banaliza
e simplifica o fenômeno. Uma de nossas
funções é a de ajudar as pessoas a
refletir sobre o assunto, no sentido de
que se possa reverter esse quadro,
despertando para a necessidade de
mudar uma situação que a todo mundo
submete e violenta”.
Jonas Melman foi um dos palestrantes do congresso brasileiro promovido pela Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, em Santos (SP), no ano
passado, onde abordou as estratégias de
sua área temática na Secretaria de Saúde, no sentido de pinçar políticas públicas consistentes que contribuam para
reverter o quadro de cultura de violência
para o de uma cultura de paz. “A violência pode ter múltiplas expressões e as
pessoas procuram as unidades ou os
profissionais de saúde com suas queixas
e sintomas. Os projetos terapêuticos
mais consistentes, assim como as políticas públicas para tentar ajudar as pessoas nessa situação, necessitam obrigatoriamente do enfoque multidisciplinar,
onde cada profissional de Saúde tenha a
contribuir no sentido de poder ajudar
essa pessoa, recuperar sua estima, curar
suas feridas, enfim, garantir uma
qualidade de vida mínima, para que seja
feliz novamente”.
O psiquiatra relata que, pela
primeira vez na história da secretaria da
Saúde paulistana, está surgindo “um
projeto integrado que busca uma ação
conjunta entre diversas áreas da própria
secretaria e em parceria com outros
setores do governo, para avaliar a
questão da violência de uma forma
integral, em substituição a ações
segmentadas ou fragmentadas na
dimensão da mulher, da criança, do
adolescente, do índio ou da questão
racial. O mesmo ocorre no Ministério da
Saúde, com a elaboração de um projeto
nacional de construção de uma rede de
prevenção de violência na área da saúde,
para que os secretários municipais de
saúde desenvolvam políticas voltadas a
superação da violência, numa
perspectiva da cultura da paz”.
Na maior favela... A fonoaudióloga Lourdes d’Urso apresentou, no
último congresso da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, um relato sobre
a construção de uma rede de proteção à
criança e ao adolescente em situação de
violência, através do caminho percorrido pela equipe da UBS (Unidade Básica
de Saúde) Jardim Seckler, onde trabalha, e seus desdobramentos na identificação e construção de intervenções em
uma situação de violência doméstica.
Esta UBS é responsável por parte da
população de Heliópolis, a maior favela
de São Paulo (130 mil habitantes), onde
a morbi-mortalidade por causas violentas de crianças ocupa papel de destaque.
Lourdes classifica esta região como de
alto índice de exclusão social e de vulnerabilidade social, com famílias de alta
e altíssima privação.
REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO - 5
acompanhamento terapêutico da
criança na unidade, a atuação junto à
mãe para ampliar sua capacidade de
cuidado e proteção dos filhos, a
inserção na escola e no equipamento
social da comunidade em trabalho
conjunto de estimulação e cuidado, a
parceria com o Conselho Tutelar, com
solicitação ao Judiciário de afastamento
do agressor e o apoio do CRIA Centro de Referência da Infância e
Adolescência, da Unifesp, para todos os
ticos de discussões coletivas, a ampliação da escuta e percepção de casos de
violência, a implantação de um sistema
de vigilância e notificação de violência
na UBS e a maior integração serviçocomunidade. “Este caso de violência nos
ajudou a estruturar uma prática mais
articulada com a comunidade e de abrir
mais a escuta, envolvendo fonoaudiólogas, psicólogas e terapeutas ocupacionais. Ao procurar entender a linguagem de uma criança, não a desvinculo
da realidade social e cultural que existe.
Não se consegue fazer uma clínica focada só no sintoma, o que muda até o projeto de intervenção, que não é apenas
fonoterapia, mas uma abordagem
integrada com a comunidade”.
“Apesar das dificuldades e limitações encontradas, a experiência foi rica
FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT
FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT
O estudo envolveu outros
profissionais da equipe, das áreas de
Medicina Sanitária, Psicologia,
Enfermagem e Assistência Social e teve
como parceiros a UNAS Heliópolis, o
Conselho Tutelar do Ipiranga e o CRIA
da Unifesp, entre outros envolvidos.
A construção da rede teve início
em junho de 2002, com a constatação
do atraso vacinal de todas as crianças de
uma família. Uma filha de sete anos
tinha dificuldade para falar e não
freqüentava a escola e a mãe não
conseguia trazer a criança nas datas
agendadas para consulta e avaliação
fonoaudiológica. Cinco meses depois, a
mãe relatou maus-tratos e violência por
parte do marido e informações confusas
sobre abuso sexual, mas que deixavam
dúvidas em relação à sua veracidade.
O segredo foi sendo desvendado nos
meses seguintes, com a reconstrução
dos relatos fragmentados e a busca de
informações junto a outros familiares e
vizinhos.
“Chama a atenção na situação
apresentada que a rotina de violência já
era de conhecimento de familiares e
vizinhos”, destaca Lourdes d’Urso. “O
forte pacto de silêncio e omissão, que
sustenta e reforça este tipo de prática,
expressa uma banalização da violência
na nossa sociedade. Consideramos este
caso emblemático no que diz respeito à
maneira como se produz e reproduz a
violência”.
Para a construção desta rede de
proteção à criança e ao adolescente em
situação de violência, foi necessária uma
articulação intersetorial, com reuniões
mensais envolvendo as áreas da Saúde,
Educação, Assistência Social, Conselho
Tutelar, movimentos populares e
organizações comunitárias, em um
fórum interinstitucional permanente,
que extravasou os limites da Saúde.
“Esta atenção intersetorial envolveu o
Fonoaudióloga Elisabeth Nakemi Nakagawa
cuidados no atendimento da família.
Um ano depois, era visível a evolução
nos aspectos psico-social, cognitivo e de
linguagem da criança, na melhora de sua
auto-estima e na ampliação da capacidade de cuidado da mãe com os filhos,
apesar da demora nas ações judiciais e
na dificuldade de afastar o agressor”.
Este processo trouxe como
desdobramento a reorganização do
processo de trabalho da UBS.
Inicialmente, houve grande dificuldade
no acolhimento de casos pela equipe de
saúde. “Isso só pôde ser superado
através da integração de diversos
olhares, rompendo com a fragmentação
de saberes e práticas presente no
trabalho da unidade de saúde”.
Essa diminuição da fragmentação
e isolamento dos profissionais ocorreu
com a implantação de espaços sistemá-
6 - REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO
Médico psiquiatra Jonas Melman
em aprendizado. Gerou reflexões e
transformações na prática clínica dos
profissionais e na organização do
serviço de saúde. Possibilitou, ainda,
vivenciar práticas interdisciplinares e
intersetoriais”.
Novos casos continuam a chegar
na unidade e o desafio de intervir e
atuar de forma mais integral na
violência ainda persiste.
Preocupação antiga. O
envolvimento de fonoaudiólogos nas
EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006
FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT
possibilidades de atuação do fonoaudiólogo ultrapassavam esse âmbito clínico, em uma atuação em pesquisa e
prevenção partilhada por todos os profissionais da equipe, com o objetivo de
que as crianças e adolescentes, vítimas
de violência doméstica, pudessem ter
um desenvolvimento bio-psico-social
adequado e digno, assim como
assegurar uma cidadania plena.
FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT
questões relacionadas com a violência
não é de agora.
Esta revista publicou, em sua
edição 51 (o texto completo está no site do
CRFa 2a. Região em “Edições Anteriores”),
um relato do Projeto Ô de Casa, desenvolvido pela fonoaudióloga Márcia
Regina Moscato Amoroso na UBS do
bairro de São Manoel, em Guaratinguetá
(SP), onde teve o primeiro contato com
o fenômeno da violência doméstica
contra crianças e adolescentes. “Num
desses encontros, me foi relatado o
pacto de silêncio que sustenta este tipo
de violência, onde participam os pais
Fonoaudióloga Lourdes d’Urso
Fonoaudióloga Lilian Yumi Simofusa
abusivos, seus parentes, vizinhos,
sociedade e até profissionais da Saúde,
da Justiça, do Serviço Social, da
Educação, da Psicologia e da
Comunicação! Alterações físicas,
emocionais e cognitivas são alguns dos
efeitos em curto prazo que tal violência
gera nas crianças. Os problemas de
linguagem também aparecem como
conseqüência: essas crianças são,
literalmente, proibidas de falar”.
Logo após, ao iniciar seu trabalho
como voluntária no CRIA - Centro de
Referência à Infância e Adolescência em
Guaratinguetá, a fonoaudióloga cogitou
um atendimento terapêutico com crianças que apresentassem distúrbios de
linguagem. Notou, de imediato, que as
EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006
Atuação abrangente. Lílian
Yumi Simofusa é outra fonoaudióloga
que conviveu durante dois anos com as
questões relacionadas com violência
doméstica no CRIA - Centro de
Referência em Saúde Mental para a
Criança e Adolescência do Jabaquara
(conhecido como “Casinha”), desde sua
criação. Hoje, no mesmo bairro paulistano, atua no CAPS-AD, voltado aos
dependentes de álcool e de drogas. As
demandas graves que enfrentou eram
as mais diversas - situações de
abandono, abuso sexual... - atendidas
por uma equipe que incluía psicólogos,
terapeutas ocupacionais e assistentes
sociais ainda sem muita experiência
nessa área.
Quase 80% da demanda estava
relacionada com violência doméstica,
dentro do objetivo do CAPS Infantil
(ou CRIA, na nomenclatura atual) de
atender crianças com transtornos
mentais graves. A proposta estabelecida
desde o início foi a da intervenção
realizada pela equipe, com o olhar
específico de cada profissional.
“Definimos a necessidade de
intervenções junto à escola, à família, a
necessidade de visita domiciliar, o
envolvimento com o Conselho Tutelar e
a Vara da Infância. Se havia necessidade
de algum outro recurso na comunidade,
fazíamos a articulação com projetos
sócio-educativos do bairro”.
Lílian se via muito mais como uma
terapeuta generalista do que uma
profissional específica da Fonoaudiologia. “Embora atuasse com
fonoterapia em casos, em que havia
sentido esse tipo de intervenção,
ocorriam momentos em que era
necessário estabelecer prioridades.
E, ao conhecer cada vez mais as outras
áreas, mais dispunha dos instrumentos
para definir os projetos que o paciente
necessitava”.
“Enquanto setor de Saúde, temos
uma limitação de ação, porque não
existem políticas voltadas para a
diminuição da violência e maior
investimento no campo social. O
paciente continua morando em lugar de
risco, presenciando tiroteios, mortes,
sem oportunidade de emprego...”.
Lílian lembra também a
polaridade entre agressor e vítima.
“Podemos entender que o agressor está
reproduzindo a violência que ele viveu
na infância e precisamos pensar na
atuação também nesse lado, ter uma
visão mais ampla’”.
A necessidade de ampliar seu
campo de atuação fez com que Lílian
Yumi Simofusa enveredasse para a área
da arte e da educação e utilizasse o
conhecimento adquirido no CAPS nos
pacientes “que estão no fundo do poço
e que conseguem, através da arte, se
REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO - 7
emocionar” e, com isso, melhorar a
auto-estima e a auto-confiança.. Hoje
ela realiza oficinas de arte (mas não
como ‘arterapia’, que trabalha a expressão via artes plásticas). Ela entende a
arte como um recurso para a pessoa
encontrar uma outra perspectiva de
vida, fazer uma leitura diferente do
mundo, ampliar o seu repertório e ver
que o prazer não está só na droga ou no
álcool. “A arte faz a gente chorar, faz a
gente rir, se sentir humano, porque
entra em contato com sentimentos”.
Programas intersetoriais. Na
mesma região do Jabaquara, a
fonoaudióloga Elisabeth Nakemi
Nakagawa (poucos a conhecem pelo
nome de batismo, mas sim pelo apelido,
Betinha) esteve diretamente envolvida
com a implantação e gestão de dois
programas intersetoriais relacionados
com a violência: o Projeto Teia e, em
seguida, a Rede Social do Jabaquara.
Convidada a trabalhar no grupo que
analisava as questões de violência,
chamado Resgate Cidadão, ao final
passou a integrar a assessoria da
Supervisão Técnica de Saúde do
Jabaquara e Vila Mariana, ligada a uma
das cinco coordenadorias da Secretaria
de Saúde do município de São Paulo,
onde está até hoje.
Quando trabalhava em uma UBS
da região, Betinha atendeu uma menina
de nove anos, introspectiva e com muito
medo, com queixa de que não falava e
detectou situação de violência velada na
casa onde morava. “Se atuasse apenas
como fonoaudióloga, certamente essa
menina não iria melhorar, porque
trabalharia apenas com a conseqüência.
Quando ela percebeu que podia contar
alguma coisa, começou a falar... O papel
do agente comunitário (do Plano de
Saúde da Família), dentro da comunidade, foi fundamental”.
Betinha lembra outro caso, de um
menino de cinco anos espancado pelo
pai, onde se conseguiu reverter esse
quadro em um trabalho intersetorial,
envolvendo a escola, o agente de saúde,
o Conselho Tutelar e a Assistência
Social. “O que ficou muito marcado para
mim e para a equipe é que a mãe contou
que a vizinhança começou a bater
menos nos filhos...”.
O Projeto Teia (Trabalho Envolvendo Infância e Adolescência) surgiu
em 2004, a partir dessas experiências,
quando já atuava na assessoria de
supervisão de saúde. “O projeto visava
trabalhar principalmente com as
crianças de risco, encaminhadas pelas
escolas localizadas em torno da unidade
pólo de saúde. Tínhamos várias
instâncias: a Teia Local ia com a equipe
da UBS para a escola detectar os casos
mais complexos, discutir e promover
uma atuação conjunta, para que a
criança nessas condições, no período em
que não estivesse na escola, tivesse
garantido um outro espaço que não o da
casa, enquanto por outros meios
tentávamos trabalhar a mãe que bebia,
o papai desempregado... Não adiantava
tratar a criança, se a família continuasse
em situação degradante”.
A instância seguinte era a Teia Regional, que reunia as UBS com todas as
escolas do entorno e, finalmente, uma
Teia Geral, com todas as escolas da região e todas as unidades básicas. “O projeto foi desenvolvido na região do Jabaquara, mas foi descontinuado com a
mudança de gestão, apesar dos pedidos
dos profissionais - tanto da saúde como
da educação - para que fosse retomado”.
“A questão da violência é muito
camuflada, mas é a segunda causa de
morte no bairro do Jabaquara. Com o
encerramento do Projeto Teia, resolvemos desenvolver a Rede Social do
Jabaquara, um projeto mais amplo que,
8 - REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO
no fundo, também trabalha com a
questão da violência, com três objetivos
principais: meio ambiente, cultura e
lazer, e esporte”, relembra a fonoaudióloga. O bairro do Jabaquara possui 98
favelas e a falta de acesso a locais adequados para atender a esses objetivos
levou a reunir três instâncias – o setor
privado (onde se destaca o Senac, que
comanda as ações dessa rede), o setor
público (agentes de saúde e a subprefeitura) e as organizações sociais.
Elizabeth, a Betinha, tem clara a
visão que a violência não pode ser
encarada como problema de uma área
específica. “Tenho consultório, gosto da
atuação clínica, mas acredito
firmemente que, até para crescer
enquanto cidadão e enquanto
fonoaudióloga, é muito importante o
trabalho em equipe, em uma UBS ou em
outros setores, inclusive para a minha
prática dentro do consultório. Ao
mesmo tempo, a prática no consultório
alimenta esse trabalho na rede pública.
Muitos casos que chegam da escola,
como os de leitura e escrita, estão
diretamente associados a questões de
violência”.
“Quando ia fazer as visitas,
percebia que eu própria estava sendo
extremamente violenta nas orientações,
porque as famílias visitadas mal e mal
tinham alguma coisa pra comer. Tenho
certeza que, no lugar dessa mãe, iria sair
muito frustrada com as palavras de
alguém que tem algum poder aquisitivo...Comecei a rever alguns conceitos
que tinha, enquanto fonoaudióloga.
Muitas vezes, como fonoaudióloga, não
notava evolução. Seria incompetência
minha? Só ao ir para a comunidade é
que passamos a ver que, muito antes do
problema de fala, existe um problema
social enorme. Com esta nova visão, o
problema de fala melhora e o seu
trabalho rende muito mais.”
EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006
PARTICIPAÇÃO
Ao assumir, em fevereiro deste
ano, a vice-presidência da SOBRAC –
Sociedade Brasileira de Acústica, a
fonoaudióloga Ana Cláudia Fiorini concretizou um importantíssimo passo para
a integração do profissional de Saúde
com o profissional da área de Exatas.
A entidade, fundada em 1984 com
o objetivo de difundir informações entre
pesquisadores, fabricantes, consultores e
usuários sobre os temas relacionados
com acústica e vibrações, teve o primeiro
envolvimento de fonoaudiólogos em
1992, através de um grupo da PUC São
Paulo, entre as quais estava Ana Cláudia
Fiorini, que participou de um evento
promovido pela SOBRAC no Rio de
Janeiro, e apresentou diversos trabalhos
científicos. Até então, a entidade contava com o envolvimento apenas de
profissionais de Engenharia (normalmente das áreas de Mecânica e Elétrica,
e sempre com pós-graduação em
Engenharia Acústica), de arquitetos e de
físicos. “Com essa participação pioneira,
começamos a agregar ao conhecimento
da produção e da propagação do som
que esses profissionais possuem, o
conhecimento dos fonoaudiólogos
sobre a sensação que o som provoca no
homem, o que acontece em termos de
efeitos na saúde das pessoas, tanto na
exposição a sons como a vibrações”,
relembra a fonoaudióloga.
Ana Cláudia Fiorini, antes de
integrar a diretoria, foi conselheira da
entidade por quatro anos e em dezembro foi eleita em um chapa que tem o
engenheiro Antonio Nabuco de Araújo,
chefe do Laboratório de Acústica e
Vibrações do Inmetro, como presidente.
Na SOBRAC, a contribuição da
EDIÇÃO 67
67 -- MAIO/JUNHO
MAIO/JUNHO 2006
2006
EDIÇÃO
FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT
Fonoaudiólogos e engenheiros,
juntos na SOBRAC
Fonoaudióloga Ana Cláudia Fiorini
Fonoaudiologia é principalmente na área
de ruído, tanto ocupacional como o urbano. Segundo Ana Cláudia Fiorini, “estamos também nos envolvendo em escolas, visando a qualidade acústica das salas de aula. No final de novembro deste
ano, na PUC São Paulo, o encontro nacional da SOBRAC terá um simpósio de
acústica de salas e edificações e iremos
promover um simpósio paralelo para
fonoaudiólogos, sobre ruído em escolas”.
“Participamos em grupos para
estudo e definição de normas de ruído,
sejam relacionadas à calibração de
equipamento, sejam para ruído no
interior da cabina ou para protetores
auditivos. Os engenheiros trabalham
com a vigilância sanitária, para propor
medidas de controle do risco e nós com a
vigilância epidemiológica, dos efeitos
que o risco provoca no homem”.
Esta é uma parceria muito bem
vinda que, na visão da Fonoaudióloga,
envolve não apenas os fonoaudiólogos
que atuam na área de audição, como os
profissionais voltados para a voz, em
razão das questões acústicas de
produção e de percepção de fala. “Tenho
como um de meus objetivos, o de
realizar, no futuro, simpósios conjuntos,
inclusive sensibilizando os profissionais
da voz para essas questões”.
A SOBRAC é constituída por vários
grupos de trabalho: o de Ruído Veicular,
responsável pela organização de
simpósios em São Paulo; o de Acústica
de Edificação, que promove encontros
em conjunto com grupos de Ergonomia
e Conforto Térmico; e o de Conservação
da Audição, que trabalha com outras
entidades de Segurança e Medicina do
Trabalho. A entidade participou das
discussões para a elaboração da Lei do
Silêncio, em 1990, e do Ruído Veicular,
em 1993. Possui, ainda, representantes
na ABNT (Associação Brasileira de
Normas Técnicas) e em outras instituições relacionadas à segurança no trabalho e conforto acústico. Atualmente,
sua sede está nas dependências da
Universidade Federal de Santa Catarina,
em Florianópolis (SC). Um dos projetos
da nova diretoria é de iniciar um processo de certificação de profissionais que atuam na área de acústica e vibrações.
Hoje, existe apenas o processo de acreditação de empresas, junto ao Inmetro.
Ana Cláudia lamenta que a
participação de fonoaudiólogos na
SOBRAC ainda seja muito reduzida,
embora não existam pré-requisitos para
admissão em uma das três categorias
oferecidas: estudantes, profissionais ou
sócios empresariais. Os interessados
poderão obter informações pelos telefones da SOBRAC: (48) 234-4074 ou
(48) 331-9227 - ou através do site www.sobrac.ufsc.br (em reformulação) –
ou do e-mail [email protected].
REVISTA DA
DA FONOAUDIOLOGIA
FONOAUDIOLOGIA -- 2ª
9
REVISTA
2ª REGIÃO
REGIÃO -- 9
DIA DA VOZ
CAMPANHA ALERTA SOBRE
IMPORTÂNCIA DA VOZ SAUDÁVEL
FERNANDÓPOLIS
FOTO: FERNANDÓPOLIS
Os alunos e professores do
curso de Fonoaudiologia da
Atendimento à população na Praça da Matriz
MARÍLIA
FOTO: MARÍLIA
Fonoaudiólogos de todo o país participaram, na semana
de 10 a 16 de abril, da Campanha da Voz 2006, uma ação de
conscientização da população para a promoção de uma voz
saudável, promovida pela Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa), com o apoio do Conselho Regional de
Fonoaudiologia - 2a Região. Em 2006, os Comitês de Voz,
Cancerologia e Telemarketing da SBFa se articularam para
desenvolver a campanha em conjunto.
A campanha, que novamente teve como tema “Seja
amigo da sua voz!”, abordou a importância da voz nas relações
pessoais e profissionais de várias áreas da comunicação,
negócios, saúde e na cultura. Como o Dia da Voz coincidiu
neste ano com o domingo de Páscoa, a SBFa sugeriu que
fossem escolhidos dias da semana para a comemoração, de
forma a atrair mais a atenção da população.
Para a Campanha da voz 2006, fonoaudiólogos
articulados e coordenados pela SBFa organizaram oficinas de
voz, palestras e debates em locais como shoppings centers,
parques, centros de convivência, escolas das redes pública e
privada. Foram feitas parcerias com as Prefeituras e
Secretarias Municipais, instituições de ensino e de saúde,
empresas e entidades nas quais as ações pudessem ser
desenvolvidas.
Como já ocorreu nos anos anteriores, as melhores
campanhas serão premiadas pela SBFa. As regras de
participação e premiação encontram-se disponíveis no site da
SBFa.
A Revista da Fonoaudiologia divulga, nesta edição, os
eventos realizados cujas informações foram encaminhadas à
redação da revista dentro do cronograma estabelecido para a
edição.
FEF - Fundação Educacional
de Fernandópolis realizaram
evento no dia 17 de abril,, na
praça da Matriz, em comemoração ao Dia Mundial da
Voz. Foram realizadas triagens
vocais e orientações sobre
os cuidados com a voz junto
à população por meio de
folders (distribuídos principalmente no comércio local)
e entrevistas em rádios e
jornais locais.
BARUERI
que se estendeu até o dia 28,
com oficinas, de voz, palestras,
distribuição de informativos e
plantões de dúvidas.
FOTO: BARUERI
As fonoaudiólogas das
Unidades Básicas de Saúde do
município de Barueri iniciaram,
no dia 12 de abril, programação
Equipe de fonoaudiólogas da Prefeitura de Barueri
10 - REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO
Docentes e estagiárias, em um dos locais deorientação à população
As atividades do Dia Mundial
da Voz foram realizadas, neste
ano, na segunda-feira,, 17 de
abril, em parceria com a
Prefeitura Municipal de Marília
(SMHS) e a Unesp, quando
foram abordadas cerca de 3.500
pessoas.
Foram desenvolvidas
atividades de orientação à
população em vários pontos do
município: Terminal Urbano
Rodoviário, Shopping e Escolas
Municipais de Ensino Infantil,
com o apoio das fonoaudiólogas
da SMHS, de docentes e de
estagiárias do 3o e 4o anos do
curso de Fonoaudiologia da
UNESP. A população foi
orientada quanto aos cuidados
básicos com a voz, bem como
quanto às alterações vocais
mais comuns e onde encontrar
tratamento especializado.
EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006
Dia Mundial da Saúde
MOGI MIRIM
Coordenadas pela Prefeitura
do município de Mogi Mirim, as
ações do Dia Mundial da Voz
foram realizadas no dia 17 de
abril, com a apresentação do
coral A Priori e do coral
Cantoterapia e palestra da
fonoaudióloga dra. Léslie
Piccolotto Ferreira sobre a Voz
no Trabalho.
A fonoaudióloga Kátia de
Cássia Botasso, chefe da
Seção de Fonoaudiologia da
Prefeitura Municipal de Mogi
Mirim, informa que a programação deverá continuar nos
meses de abril e maio com
oficinas aos alunos e monitores
de teatro e contadores de
histórias; oficinas e palestras
em escolas particulares;
palestra sobre prevenção e
promoção de saúde vocal
infantil e apresentação de
peça de teatro aos alunos do
pré das escolas municipais.
O objetivo dessa programação
é mostrar o perfil epidemiológico da voz do educador
municipal. Os educadores
trabalharão o tema em sala de
aula e os melhores trabalhos
receberão um prêmio e se
apresentarão em um programa
de televisão, para orientar a
população.
FRANCA
A Universidade de Franca Unifran realizou a Campanha
da Voz em seu campus
nos dias 18,19 e 20 de abril,
com participação de docentes
e discentes. A programação
desenvolvida incluiu
orientações com uso de
cartazes e folhetos
disponibilizados pela SBFa.
SÃO PAULO
Os ambientes das 24
centrais de receberam os
profissionais da área de saúde
para a realização de oficinas,
vivências, míni-palestras,
distribuição de folhetos
explicativos e outros materiais
de comunicação dirigida. Os
funcionários apresentarão os
resultados das oficinas aos
fonoaudiólogos e concorrerão
a prêmios como squeezes,
camisetas, bonecos com
mensagens e folhetos com
histórias em quadrinhos. Para
o encerramento da campanha
foi programada a apresentação
de um coral.
TSE exige linguagem de sinais na TV
O Tribunal Superior Eleitoral aprovou por unanimidade que, na campanha eleitoral deste ano, todos os candidatos terão de incluir nas peças publicitárias a serem veiculadas no horário gratuito da TV a linguagem de sinais e legendas, para acompanhamento dos deficientes auditivos.
FOTO: ATENTO
A Atento Brasil, empresa de
contact center pertencente à
Telefônica S.A., da Espanha,
criou uma campanha de saúde
para orientar seus 53 mil
funcionários, distribuídos em
10 cidades (sete das quais,
capitais) sobre o bom uso da
voz, não apenas na profissão,
mas também no seu dia-a-dia.
Durante a semana de 16 a 21
de abril foi desenvolvida uma
intensa programação de
atividades e disseminação de
informações, para atender às
necessidades daqueles que
fazem uso do telefone no
trabalho.
O Conselho Regional de Fonoaudiologia 2a Região, em
conjunto com dez outros Conselhos Regionais com atuação
no Estado de São Paulo na área da Saúde, divulgaram
mensagem publicitária no jornal Folha de São Paulo, com o
título “Luta pela
qualidade da
saúde. Essa é a
nossa missão!”
(veja ao lado), em
que reafirmam o
seu compromisso com a
sociedade de
promoção da
qualidade de vida
das pessoas.
Campanha da Voz em uma das unidades da Atento
EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006
REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO - 11
FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR
HAPPY HOUR CULTURAL S0BRE F0NOAUDIOLOGIA ESCOLAR - FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT
Através do
professor,
o aluno
“O professor vive as dificuldades do seu
próprio espaço,
a da sua relação
com outros professores e a necessidade continuada de uma
formação e
atualização
profissionais,
que vão na
contramão da
jornada estressante que ele
tem de enfrentar. No meu
circulo de atuação, em 90% do casos
eles fazem pelo menos duas jornadas
de trabalho. Se isto traz conseqüências
sérias para a sua saúde vocal, outra
preocupação igualmente séria está
relacionada a sua necessidade de
obter, como formador em relação a
seus alunos, um tempo de dedicação e
de estudo para que possa trabalhar
bem com o desenvolvimento da
linguagem, com a alfabetização, com a
leitura e a escrita....”. A fonoaudióloga
Patricia Calheta traça este quadro com
total conhecimento de causa. É
docente do curso de Fonoaudiologia da
Universidade Metodista, em São
Bernardo do Campo (SP), onde
ministra as disciplinas voltadas para a
linguagem oral e escrita.
Foco no professor.. “Trabalho
com o conceito – discorre Patrícia - de
que o fonoaudiólogo, com seu
conhecimento em linguagem oral e
escrita, pode ajudar, e muito, o
professor em um processo que chamo
de ‘assessoria escolar’, voltado para a
formação do professor, não só em
termos de desenvolvimento da escrita
e da linguagem oral, mas principalmente na geração de estratégias
que sejam importantes e significativas, que tornem a leitura e a escrita
não apenas prazerosa para os alunos,
mas que viabilize a construção do
conhecimento”.
A fonoaudióloga Mônica Petit
Madrid concorda. Docente do curso
de Fonoaudiologia do Centro
12 - REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO
Universitário São
Camilo e, como
conselheira do
CRFa 2ª. Região,
integrante da
Comissão de
Educação da
autarquia, também
detecta falhas na
formação do
professor que
envolvem as
questões da
Fonoaudiologia.
“Em geral ele não
tem a informação,
em sua formação,
sobre a saúde do
aluno, e a sua própria saúde para
desenvolver, por exemplo, uma ação de
promoção de saúde. Entendemos que
se o professor estiver bem capacitado,
ele pode – além de cuidar de sua
própria saúde – cuidar da saúde do
aluno nos aspectos que envolvem
linguagem oral e escrita, audição,
voz e motricidade. E, se ele já estiver
capacitado, o fonoaudiólogo pode
desenvolver um trabalho de assessoria
para, junto ao professor, estabelecer
algumas ações em prol ao escolar”
A fonoaudióloga Ana Teresa
Brant, é também docente do curso de
Fonoaudiologia do Centro
Universitário São Camilo, em São
Paulo (SP) e supervisora de estágio.
Ela acredita em uma prática escolar em
EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006
EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006
FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT
Fonoaudióloga Patrícia Calheta
realidade em que muitos professores
estão afastados do trabalho, eles
necessitam de uma ação terapêutica
por parte do fonoaudiólogo, em suas
clínicas e consultórios”.
Dificuldades. A assessoria
oferecida por Patrícia Calheta começa
com a discussão de teorias de
aprendizagem que são veiculadas na
escola e dos métodos de alfabetização
possíveis e o que a escola entende
como mais significativas. “A partir
daí adentramos no letramento, a
grande questão nas escolas, tanto de
educação infantil como de ensino
fundamental”.
FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT
que se trabalhe apenas com o
professor, “porque isso vai ter reflexos
na qualidade para o aluno. Não preciso
necessariamente trabalhar com o
aluno. Entendo que, dentre outros
temas a voz do professor pode ser
considerada como um dos aspectos
que envolve a qualidade do ensino e da
aprendizagem inseridos em uma
determinada situação escolar. Um
professor que falta várias vezes
durante o ano por causa de sua voz,
tem uma conseqüência no processo de
ensino e aprendizagem do aluno.
Neste sentido, o professor ter a
informação sobre os cuidados com sua
voz é um aspecto que envolve a
qualidade do ensino”.
Em relação especificamente à
voz, a fonoaudióloga Patrícia Calheta
enfatiza que o professor precisa
entender que a voz é o seu
instrumento mais importante e
mantê-la saudável é essencial.
“Existem diversas pesquisas
desenvolvidas no Brasil que mostram
que uma porcentagem significativa de
professores tem problemas vocais e
são afastados em razão desses
problemas. Muitos não tomam alguns
cuidados essenciais, ou por falta de
informação ou pela própria dinâmica
da sala de aula. O que fazemos é
sensibilizar o professor para a
importância desse seu instrumento de
trabalho, através de questões simples
e bem pontuais (beber água no
decorrer de toda a aula, eleger alguns
alimentos que façam parte dessa
manutenção da saúde vocal, como por
exemplo, trocar o cafezinho por uma
maçã, que tem ação adstringente)”.
O fonoaudiólogo também
colabora na definição de elementos
que auxiliem a boa saúde vocal, como
a adequada acústica do ambiente de
trabalho. “Como lidamos com uma
Fonoaudióloga Mônica Petit
O letramento está associado a
práticas sociais de leitura e de escrita
que o professor desenvolve junto aos
seus alunos. “Munidos do nosso saber
sobre a linguagem e o letramento
infantil, assessoramos o professor
para que ele, na sala de aula, escolha
estratégias que sejam as mais efetivas
nesse caminho, para que a criança não
leia só porque tem que ler ou escreva
porque alguém mandou escrever, mas
que encontre sentidos para isso e que
essas práticas de leitura e de escrita
estejam voltadas para um objetivo a
ser alcançado”.
Mônica Petit lembra que
professor e fonoaudiólogo são dois
profissionais que devem ser parceiros.
“Um professor de educação infantil
lida com crianças no processo de
desenvolvimento-aquisição da
linguagem oral, por exemplo. O
professor poderá adotar uma ação que
otimize o desenvolvimento da
linguagem, mas o desconhecimento
das teorias de aquisição de linguagem
faz com que não disponha de toda a
autonomia para atuar. É nesta
instância que os subsídios do
fonoaudiólogo farão a diferença”.
Mônica dá outro exemplo.
“Quando uma criança apresenta uma
suposta dificuldade de escrita e o
professor fica em dúvida se é um
problema a ser tratado por
fonoaudiólogo ou se faz parte do
processo de aprendizagem, se – ao
invés de simplesmente encaminhar –
dialogar antes com o fonoaudiólogo,
o professor pode até evitar esse
encaminhamento. Não estou com isso
transferindo a minha ação para
ele,mas sim enfatizando um papel que
já deveria ser dele”.
No ensino médio, as dificuldades
estão mais focadas na linguagem,
onde o aluno apresenta dificuldades
REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO - 13
FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT
para escrever ou para ler. Patrícia
detalha. “Neste caso, trabalhamos
com as produções escritas dos alunos,
para tentar localizar quais são os
principais problemas, para poder
orientar o professor sobre a forma
que pode trabalhar. No fundo, o fio
condutor desse trabalho é saber como
o professor, na sala de aula, pode
desenvolver atividades para otimizar
o uso da leitura, da escrita e da
Fonoaudióloga Ana Teresa Brant
linguagem oral e escrita para seus
alunos”.
Pesquisas sobre o índice de
analfabetismo funcional mostram
como é elevado o número de pessoas
que não sabem usar a escrita de
maneira adequada, desde o adulto já
alfabetizado já há muito tempo mas
com um conhecimento bem restrito da
escrita para o que ele usa no cotidiano,
até a criança que está começando a
escrever e está sendo apresentada
para um universo pouco mais amplo.
“Essas pesquisas revelam como as
pessoas, hoje, já conseguem dominar
a técnica da alfabetização mas não
sabem usar a escrita de acordo com as
mais diversas solicitações do cotidiano.Você pede para escrever ‘caneta’
e ele sabe que letras utilizar, mas se
solicitado a escrever uma carta ou um
artigo, ou seja, usar a escrita, ele não
sabe como fazer. Que leitores e
escritores estão sendo formados?”,
questiona Patrícia.
Dilemas. Ana Teresa Brant,
além de docente, também atua sob
forma clínica, que é uma outra
possibilidade do profissional atuar
junto à escola. “Sou pesquisadora em
linguagem escrita e atendo também
muitos casos de alteração de
linguagem oral. Conhecer a escola e
suas práticas pedagógicas é
fundamental neste trabalho”.
“A entrada dos fonoaudiólogos
na escola (e também de outros
profissionais) muitas vezes objetiva
criar uma demanda pra a clínica ou
realizar efetivamente um trabalho de
promoção de saúde do escolar?”,
questiona a docente da São Camilo.
“Como supervisora de estágio, nosso
objetivo é formar o aluno para uma
14 - REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO
atuação educacional ampla dentro da
escola. Não significa, no entanto,
efetuar triagens nos alunos, identificar as crianças com problemas com
o intuito de encaminhar para
atendimento, quando necessário, ou
identificar precocemente uma patologia para prevenir o seu avanço.
Embora o CFFa não proíba a triagem,
a princípio, mas apenas a triagem com
fins de encaminhamento para o
próprio profissional, esta é uma
atuação que recebe críticas, pois a
escola não é local para o profissional
de Saúde entrar para gerar demanda
para sua clínica. Poderíamos, isto sim,
utilizar a escola para justamente
minimizar a demanda para a clínica.
Sentimos, na prática, dificuldade em
mudar este perfil de atuação, talvez
porque a escola não conheça bem o
nosso trabalho, acha que se resume à
triagem, quando podemos atuar
junto ao professor, não só nos
cuidados dele com a voz mas também
nas questões de linguagem que são
pertinentes”.
Ana Teresa alerta para uma
inversão de valores: a mãe considera
positivo o fato da escola oferecer
todos os serviços agregados (do
fonoaudiólogo, do ortodontista...).
“É um equívoco a entrada destes
profissionais na escola desta
maneira e com este objetivo, até por
EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006
FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT
uma questão ética. Sempre pode
ocorrer uma busca de clientela...
Será que o profissional da área de
saúde deve ir a escola para fazer
propaganda de seu trabalho? Será
que a escola deve abrir as portas
para esse tipo de ação de
profissionais? Com isto, a escola
ganha um lugar que não é o
educacional, mas o do marketing, da
oferta de serviços.... um ponto de
venda, enfim”.
Ana Teresa lamenta que ainda
exista resistência nas escolas, mas esta
possibilidade de atuação tem que ser
aberta “para que, de forma séria e com
Fonoaudióloga Maria Silvia Cárnio
qualidade possamos fazer com que o
professor encare a dificuldade da
criança como algo natural do processo
e não mais só olhando a doença e
encaminhadapara a clínica. Vamos
além da identificação e do tratamento de doenças; nos direcionando
em ações de promoção de saúde,
para melhorar as condições de
ensino e aprendizagem dentro da
escola”.
Voltada a atuação de
professores de educação especial
desde 1982, primeiro na UNESP em
Marília e depois na USP, a
EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006
fonoaudióloga.Maria Silvia Cárnio
desde 1989 é docente no curso de
Fonoaudiologia da USP e hoje é
responsável pela disciplina
Programa-Escola. Em palestra que
proferiu em 31 de março no Happy
Hour Cultural promovido pelo CRFa
2ª. Região sobre Fonoaudiiologia
Escolar defendeu uma mudança na
forma de avaliar por parte do
fonoaudiólogo. “Temos que parar de
detectar problemas. Não dá mais
para avaliar só pela falha, pelo erro,
mas sim pelo potencial de cada
criança. Temos que buscar qualidade
na formação e nas formas de avaliar,
para que tenhamos um instrumento
para se conhecer individualmente o
aluno e o perfil da classe. E, para
isso, o fonoaudiólogo precisa
conhecer melhor a realidade onde
atua e se colocar como parceiro do
professor e não como um tutor”.
“Temos que trabalhar com
estratégias facilitadoras – afirmou
Maria Silvia Cárnio no Happy Hour para os alunos adquirirem a leitura e
escrita. E só vamos conseguir isso
através de parcerias multidisciplinares entre Educação e Saúde,
de trabalho em equipe, que envolva
fonoaudiólogos, psicólogos,
assistentes sociais, visitadores
sanitários... O envolvimento familiar
é importantíssimo. Se não trouxermos as famílias para a escola, não
vamos mudar nada!”.
A fonoaudióloga Ana Teresa
reconhece que esta reflexão sobre a
mudança de atuação na escola está
muito na teoria e pouco na prática.
“E estamos falando da cidade de São
Paulo, onde a transposição das
discussões teóricas para a prática
ainda se efetiva. Se pensarmos em
termos de Brasil, a coisa se agrava
muito mais”.
REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO - 15
PESQUISA
CRFa 2ª Região
traça panorama da
Fonoaudiologia Escolar
Os fonoaudiólogos estão
presentes no âmbito escolar por
meio de alguma forma de atuação triagem, palestra etc. - em 52% de
101 escolas particulares visitadas na
região centro-oeste da cidade de São
Paulo, embora apenas 4% dos
fonoaudiólogos estivessem presentes
nas instituições no momento da
visita de fiscalização. Dos locais
visitados, o vínculo empregatício que
os fonoaudiólogos estabelecem com
as escolas é, em sua grande maioria
(93%), através de prestação de
serviços.
Estes dados fazem parte de
uma pesquisa iniciada em janeiro de
2005 pelo Conselho Regional de
Fonoaudiologia 2ª Região, através
da Comissão de Orientação e
Fiscalização, com o objetivo de traçar
um panorama de atuação do
profissional neste seguimento.
Nessas visitas fiscalizatórias em
escolas, constatou-se que se poderia
dispor de informações fundamentais
para serem utilizadas não apenas
para a fiscalização, mas para o
mapeamento da realidade da atuação
do fonoaudiólogo na escola, o que
permitiria traçar um perfil
preliminar deste trabalho no
âmbito escolar. A Comissão
pretende dar continuidade a este
trabalho em 2006, que deverá ser
ampliado para todo o Estado de São
Paulo.
As visitas realizadas pela
Comissão de Orientação e
Fiscalização englobaram em grande
parte, as escolas de educação infantil,
fundamental e de ensino médio. Os
dados referentes as 101 escolas
visitadas (das 464 existentes na
região centro-oeste) foram
analisados, embora seus resultados
ainda devam ser considerados como
preliminares, e apresentados no
Fonoaudióloga Renata L. Megale
Happy Hour Cultural realizado no dia
31 de março deste ano, que discutiu
as questões ligadas a Fonoaudiologia
Escolar.
A fonoaudióloga Renata L.
Megale, representante da Comissão
de Orientação e Fiscalização e fiscal
do CRFa 2ª, Região, detalhou nesse
encontro alguns números colhidos
nessa primeira etapa. Dos
entrevistados nas 101 escolas, 50
afirmaram ter atuação do
fonoaudiólogo na escola, 46
16 - REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO
negaram a existência desse
profissional e 5 não sabiam
informar.
O trabalho realizado pela
grande maioria dos profissionais é
o de triagem oral. A triagem
auditiva não aparece nessa
realidade. Renata Megale ressaltou
a necessidade de cautela, para que
esta triagem não seja utilizada
para a captação de clientes, o que
fere a Resolução CFFa nº 309/05
(art. 1º, alínea d). Salientou, ainda, que apenas dois fonoaudiólogos foram detectados como integrantes da equipe escolar, participando do planejamento pedagógico e realizando efetivamente um
trabalho educacional.
Com base nestes resultados
preliminares, o Conselho Regional
de Fonoaudiologia 2ª Região
estuda estratégias de ação que
envolvam a formação dos
profissionais neste campo de
atuação e a promoção de ações de
sensibilização dos profissionais da
educação, para mostrar a
importância do fonoaudiólogo na
escola. Outra estratégia em
elaboração favorece a realização de
fóruns de debates e acompanhamento dos projetos de lei que
envolvam o tema, em parceria com
as Comissões de Orientação e
Fiscalização, Educação e Legislação e Normas. A divulgação dos
acontecimentos nesta área
também faz parte dessas ações.
EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006
Quando o Orkut se instalou na rede de informática,
todos os que a ele aderiram tinham o mesmo pensamento
de seu criador Orkut Buyukkokten: seria uma nova forma
de diversão barata e uma maneira divertida de se conectar
as pessoas. E foi realmente isto que aconteceu... no início.
Vislumbrando que as pessoas entrariam nas diversas
comunidades criadas desprovidas de qualquer “maldade”,
muitos aproveitadores hoje se utilizam do Orkut como uma
ferramenta para aliciar pessoas nas mais diferentes
práticas. Temos lido em vários jornais e visto na televisão,
venda de drogas, falsários comercializando receitas
médicas, grupos levados pelo preconceito desmerecendo
pessoas, intrigas, roubo de senhas, enfim uma série de
imoralidades e ilegalidades cometidas impunemente.
Em nossa área também foram criadas várias
comunidades. Muitas são ligadas a áreas específicas, outras
de discussão geral, algumas são de cursos de graduação ou
pós-graduação em Fonoaudiologia, mas todas, sem exceção,
com conteúdo científico.
Certo? Infelizmente não. Temos visto crescer em
nossa área algumas comunidades que têm utilizado o Orkut
como forma de denegrir nossa imagem ou a de nossos
pacientes. Temos clareza de que o Orkut foi criado para
mera diversão, mas “divertir” não significa “ofender”.
Conteúdos que abordam práticas profissionais sigilosas
citando nomes de pacientes, orientações a pacientes sem
ter sido feita a avaliação fonoaudiológica do mesmo,
menosprezo para com o colega quando este solicita uma
orientação, têm feito parte também das comunidades
encontradas no Orkut.
O CRFa 2a Região tem recebido inúmeros
questionamentos e denúncias por parte de pacientes e
profissionais que se sentem lesados ou ofendidos quando
comentam ou solicitam informação/orientação através do
Orkut. Na medida do possível, temos tentado orientar
individualmente os fonoaudiólogos que gerenciam estas
comunidades, mas com milhares de comunidades existentes
no Orkut, com certeza não conseguiremos atingir a todas.
Não estamos aqui tentando desvirtuar a função
principal do Orkut, que é a de divertir, mas consideramos
que ele sirva também como fonte de informação
profissional, quando um fonoaudiólogo informa sobre as
diversas patologias atendidas, ou sobre as várias linhas de
atendimento terapêutico, ou, ainda, sobre cursos; ele
serve como forma de crescimento profissional, quando
discutimos casos (sem citar nomes!), quando apresentamos
resultados fonoaudiológicos adequados; ele serve ao
paciente, quando o orientamos a procurar um profissional,
antes de determinar este ou aquele método de tratamento,
esta ou aquela terapia, este ou aquele exame, ele serve
de crescimento para a classe, quando divulgamos nossos
sucessos, nossos trabalhos científicos, quando
divulgamos um congresso importante do qual
participamos.
Hoje, muitas empresas de colocação profissional
procuram o candidato no Orkut antes de contratá-lo,
para ver a que comunidades pertence, como se comunica
com o outro. Vamos, então, utilizar esta nova forma de
comunicação para enaltecer ainda mais nossa profissão.
Nosso Código de Ética e a Resolução CFFa no 267/01, que
trata de uso da Internet, nos dão “dicas” de como
podemos utilizar a Internet de forma adequada. Vamos
segui-las! É uma maneira moderna de divulgar nosso
conhecimento.
ANÚNCIO
AUDIOLÓGICAL LAB
18X4 cm
EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006
REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO - 17
SAÚDE PÚBLICA
3A CONFERÊNCIA NACIONAL DE GESTÃO DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃO NA SAÚDE
EM DISCUSSÃO:
GESTÃO DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃO NA SAÚDE
As Conferências de Saúde
são instâncias com representação dos vários segmentos
sociais, com o fim de avaliar e
propor as diretrizes para formulação da política de saúde nas
três esferas de governo: Nacional, Estadual e Municipal.
Participar de uma Conferência é algo inusitado, pra não dizer um trabalho que beira a insanidade, com alto grau de insalubridade. Como descrever quatro dias de muito trabalho, muita
atenção, articulação entre os
participantes, colocações em
momentos oportunos, diálogos
atravessados e compreensões
dúbias, sem tempo para esclarecimento? Isso sem contar a
participação nas etapas municipal e estadual, que antecedem e
preparam para a Conferência
Nacional.
Difícil de descrever, não?
Mas tentemos, afinal o processo
democrático leva tempo, como
dizem alguns e faz-nos exercitar
todas as funções de linguagem.
No Controle Social, há um
assunto permanentemente em
pauta: a valorização do trabalho
e do trabalhador do SUS, ponto
fundamental e que resulta na
qualidade da saúde que se pretende oferecer.
A Conferência de Gestão do
Trabalho e Educação na Saúde
teve sua tese central baseada
na NOB/RH-SUS, construída a
partir da participação da sociedade organizada e deliberada
na 10a / Conferencia Nacional
de Saúde (1996) como estratégia para a efetivação e unifica-
momento foram a instalação da
Mesa Nacional de negociação
do SUS, a criação da Câmara
de Regulação do Trabalho e a
constituição de grupos de trabalho para as diretrizes nacionais
para a desprecarização do trabalho e planos de carreira, cargos e salários (PCCS-SUS).
O CNS aprovou a “Política
Nacional de Formação e Desen-
zação, humanização e saúde do
trabalhador e Controle social na
gestão do trabalho e da educação na saúde.
Eventos paralelos a esta
dinâmica central traziam em seu
bojo os bastidores políticos que
permeavam as discussões que
viriam a seguir: União Européia
e Mercosul: Instituições, Atores
e Políticas; reunião da Câmara
volvimento para o SUS: Educação Permanente”, em fase de
implantação em todo país por
meio dos Pólos de Educação
Permanente, bem como o monitoramento e interrupção de
abertura de novos cursos de
graduação na área da Saúde.
A 3a CNGTES debateu a
questão da gestão do trabalho e
da educação na saúde, levando
estes aspectos: gestão democrática e participativa; agenda
estratégica e financiamento;
controle social; negociação em
busca da valorização, humanização e saúde do trabalhador.
A partir das Conferências
Estaduais, que elencaram 6.055
propostas, a relatoria chegou ao
documento final com 579 propostas, divididas em quatro eixos temáticos: Gestão democrática e participativa na educação em saúde: agenda estratégica e financiamento; Gestão
democrática e participativa no
trabalho em saúde: agenda estratégica e financiamento;Negociação na gestão do trabalho e
da educação na saúde: valori-
de Regulação do Trabalho em
Saúde; Conselhos Profissionais:
existem alternativas para a Regulação Profissional? (organizado pelo movimento estudantil); lançamento de livros; apresentação sobre Regulação,
Controle, Avaliação e Auditoria
(DRAC/SAS), entre outros, além
de uma variedade de moções
de repúdio, de apoio, de advertência, que mostram os movimentos da sociedade organizada e suas solicitações.
Como representante dos
Trabalhadores, por vezes aplaudido, em outras situações mal
compreendido, e dentro deste
segmento com sua especificidade de atuação, os Conselhos
de Fiscalização Profissional se
fizeram representar. Cada qual
por meios diferentes, mas com
um único objetivo: mostrar-se
apto à defesa dos trabalhadores
e lutar por seus direitos, garantindo qualidade no atendimento
à saúde da população.
Neste cenário macro-político,
fica difícil pensar especificamente na inserção da Fonoaudiolo-
FOTO: CRFa 2a. REGIÃO
Com 1.524 participantes (1.372 delegados e 152 convidados)
Brasília hospedou, entre os dias 27 e 30 de março, a 3a Conferência Nacional de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde,
organizada pelo CNS – Conselho Nacional de Saúde e pelo
Ministério da Saúde. As vagas destinadas aos delegados foram
distribuídas proporcionalmente entre usuários, trabalhadores,
gestores e prestadores de serviço. O Conselho Regional de
Fonoaudiologia - 2a Região foi representado nesse encontro pela
fonoaudióloga Claudia Silva Pagotto Cassavia, que elaborou texto
a seguir apresentado, sob forma condensada.
ção normativa dos procedimentos de gestão e para o processo
de descentralização da gestão
do sistema de saúde.
Após duas versões, em 1998
e 2000, na 11a Conferência Nacional de Saúde (2000), foi proposta a organização sistemática
de um debate nacional articulado e articulador de gestores, trabalhadores e formadores de recursos humanos para implementar a NOB/RH-SUS, aperfeiçoá-la e adequá-la às necessidades sociais e às realidades
institucionais de cada região.
As representações dos trabalhadores tiveram participação efetiva e papel de destaque em
todas as fases do processo.
Esse esforço coletivo resultou em uma Política Nacional de
Valorização de Trabalho no
SUS, que implicou diretamente
na criação da Secretaria de
Gestão do Trabalho e Educação
na Saúde (SGTES) com dois
departamentos responsáveis
pela viabilização das propostas
elencadas na NOB/RH-SUS.
As medidas adotadas até o
18 - REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO
EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006
O QUE DESEJAMOS
PARA A SAÚDE PÚBLICA?
“Onde nos enquadramos
enquanto profissionais de
Saúde e enquanto cidadãos?”.
Este foi um dos questionamentos do dr. Gilson Carvalho,
palestrante convidado pelo
CRFa. 2a Região para expor a
sua visão do Sistema de Saúde
no Brasil e da participação dos
profissionais de saúde, em evento realizado no dia 1o de
abril, na Casa do Fonoaudiólogo, em São Paulo (SP) no primeiro dia de abril.
Uma historinha contada por
ele dá conta da dicotomia entre
reabilitação e prevenção. “Qual
é o objetivo dos profissionais de
saúde? Que as pessoas morram bem velhinhas e vivam
bem? E, se ficarem doentes,
que sofram pouco e se curem
logo, sem seqüelas? Desta
forma, estamos dedicando a
nossa vida a recuperá-las das
doenças. E, quanto mais doente
melhor, porque a remuneração
será em cima da produtividade,
em cima do doente... É isto que
realmente queremos? Ou este
é, exatamente, o evento mais
indesejado de todos?”.
O sanitarista discorreu por
quase quatro horas sobre as situações que permeiam a Saúde
FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT
gia, mas garanto que este exercício não é tão difícil assim e a
cada dia torna-se vital para
nossa continuidade como área
de saber e da saúde.
Nesta conferência, foi motivo
de grande defesa e intenso debate o papel dos Conselhos de
Fiscalização Profissional na garantia de saúde de qualidade,
bem como seu papel na regulação da profissão. Desta forma,
em todos os eixos esta defesa
se fez presente.
A luta por equipes multiprofissionais e inclusão de profissionais de diversas áreas do
saber que contribuem para que
princípio de Integralidade seja
respeitado também foi a tônica
da maioria das propostas de
inclusão nos quatro eixos.
A participação numa Conferência é o prelúdio de uma
batalha que se inicia em cada
localidade ao final da Conferência. Cabe a cada um de nós
buscar compreender seu papel
no contexto político loco-regional e usufruir das conquistas
prévias, a fim de atuarmos
junta-mente com outros
segmentos para a modificação
do cenário e dos papéis
atribuídos anterior-mente.
Iniciamos a caminhada, que
não é solitária, e que nos levará
à apreciação de novos
horizontes.
Pública no Brasil, a diferenciação entre o público e o privado,
as diretrizes e princípios técnicos assistenciais e gerenciais, a
regulação, legislação e as questões do financiamento que envolvem o SUS – Sistema Único
de Saúde, “o maior sistema de
saúde do mundo, que usamos
desde quando acordamos até
quando estamos gravemente
doentes, mas cuja dimensão
ainda não é clara para muitas
pessoas”.
O dr. Gilson Carvalho deverá estar
nas páginas da próxima edição da
Revista da Fonoaudiologia
Fonoaudiologia, em
entrevista exclusiva, quando
detalhará a sua visão deste tema e
as formas de participação em
benefício da população.
SEMINÁRIO DISCUTE POLÍTICAS PÚBLICAS
EM SAÚDE AUDITIVA
De 16 a 18 de março, realizou-se, no campus da USP de Bauru
(SP), o seminário Políticas Públicas em Saúde Auditiva, com
o objetivo de discutir ações com o objetivo de propor modelos de
intervenção, a fim de consolidar uma política nacional de atenção
à Saúde Auditiva. O Conselho Regional de Fonoaudiologia 2a
Região foi representado nesse encontro pelas fonoaudiólogas
Thelma Costa e Roberta Alvarenga Reis.
O evento contou com a participação de profissionais e
pesquisadores da área da Saúde de todo o país, que atuam
nas universidades e no Sistema Único de Saúde (SUS), nos
níveis municipal, estadual e federal, desenvolvendo pesquisas
para a otimização do serviço público em saúde auditiva no
âmbito nacional. Eram,, principalmente,, médicos e fonoaudiólogos,
além de membros de entidades de representação profissional e
profissionais de empresas de aparelhos auditivos. O seminário
também foi dirigido a alunos de graduação e pós-graduação
envolvidos em projetos de pesquisa na área de Saúde Auditiva.
EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006
Promovido pelo Departamento de Fonoaudiologia da
Faculdade de Odontologia de Bauru/USP, em parceria com o
Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da USP,
o evento contou com a participação do dr. Andrew W. Smith,
de Genebra, representante da OMS - Organização Mundial da
Saúde.
As atividades foram organizadas em três grupos de trabalho,
para a elaboração de recomendações e sugestões sobre o
assunto discutido. Nessa proposta de trabalho em grupo, que
utilizou metodologia ativa e problematizadora, optou-se por reunir
os grupos de Saúde Auditiva e Formação Profissional (extensão),
de Saúde Auditiva e Sociedades Científicas (pesquisa) e de Saúde Auditiva, Atuação Profissional e Ética, para uma discussão
mais ampliada e produtiva.
O resultado do trabalho produzido foi apresentado em plenária
e deverá compor um documento disponibilizado para a sociedade
e apresentado aos gestores para a discussão de propostas para
possíveis reformulações da política.
REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO - 19
ENTREVISTA
ROSENI PINHEIRO
Coordenadora do Lappis - Laboratório de Pesquisas de Práticas de Integralidade em Saúde
Integralidade no
cotidiano da Saúde
Roseni Pinheiro foi uma das
palestrantes das Oficinas Regionais de
Sensibilização de Docentes e Discentes
de Fonoaudiologia para o Sistema Único de Saúde (veja notícia na última edição)
que estão sendo promovidas pela Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia e que
deverão ser concluídas em junho com
uma Oficina Nacional, em São Paulo.
Laboratório de Pesquisas de Práticas de
Integralidade em Saúde, que reúne um
colegiado de pesquisadores que auxiliam
na identificação e construção de práticas
de atenção integral à saúde e que institucionalizou o projeto ‘Integralidade:
Saberes e Práticas no Cotidiano das
Instituições de Saúde’, criado em 2000.
“O trabalho que desenvolvemos no
Lappis é multidisciplinar e tem como
ponto de partida o conhecimento que é
construído na prática dos sujeitos nas
instituições de saúde e na sua relação
com a sociedade civil. O programa atua
ATENDIMENTO DO PSF EM PARACAMBI, RJ - FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT
“Integralidade é um amplo
conceito, uma ação social que resulta da
interação democrática entre os sujeitos
no cotidiano de suas práticas na
prestação do cuidado da saúde, em
diferentes níveis do sistema”.
É desta forma que a sanitarista
Roseni Pinheiro define este termo chave
de sua atuação à frente do Lappis -
no âmbito do ensino, oferecendo
disciplinas na pós-graduação stricto e
20 - REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO
lato sensu, e no âmbito da pesquisa,
promovendo estudos em diferentes
regiões do país”, destaca a sanitarista.
Professora Adjunta do Instituto de
Medicina Social – IMS da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e
pesquisadora responsável pelo “Projeto
Integralidade - Saberes e Práticas no
Cotidiano das Instituições de Saúde”,
Roseni Pinheiro – enfermeira por
formação - ministra aulas e orienta
alunos de Pós-Graduação em Saúde
Coletiva nas áreas de Movimentos
Sociais, Cultura Política e Modelos
Tecnoassistenciais em Saúde.
A proposta do grupo que coordena
é repensar a noção de integralidade a
partir da análise, divulgação e apoio a
experiências inovadoras. Ela própria,
como coordenadora, em 2002, do
“Projeto Experiências Inovadoras no
SUS”, havia registrado 42 experiências
inovadoras nas áreas de Gestão da Rede
de Serviços de Saúde e Novas Tecnologias Assistenciais de Atenção ao
Usuário.
Os três eixos principais das
pesquisas desenvolvidas pelo Lappis são
apresentados em seu site, em
www.lappis.org.br. No primeiro, busca
compreender como os sujeitos
envolvidos na relação demanda e oferta
nos serviços de saúde entendem o termo
Integralidade. Outro ponto refere-se à
identificação dos efeitos e/ou
repercussões desse entendimento nas
práticas do cuidado da saúde e dos
EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006
Cotidiano, oferta e demanda....
No estudo “As Práticas do Cotidiano na
Relação Oferta e Demanda dos Serviços
de Saúde: um Campo de Estudo e
Construção da Integralidadade”, cujo
texto completo está disponível no site
do Lappis, a sanitarista apresenta os
resultados de um estudo de caso
realizado sobre o sistema de saúde do
município fluminense de Volta
Redonda. Em sua introdução, conceitua
que, “em que pese o termo Integralidade
possuir um caráter polissêmico no
âmbito das políticas de saúde no país, é
assumida nesse estudo como uma ação
social resultante da permanente
interação dos atores na relação demanda
e oferta, em planos distintos de atenção
à saúde (o plano individual - onde se
constroem a integralidade no ato da
atenção individual - e o plano sistêmico,
onde se garante a integralidade das
EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006
ações na rede de serviços), nos quais os
aspectos subjetivos e objetivos sejam
considerados”.
O conceito de cotidiano, apresentado nesse estudo e reafirmado nas
palestras realizadas nas Oficinas
promovidas pela SBFa, é absolutamente
fundamental para as instituições de
serviço e universidades. “Por cotidiano
entende-se o espaço-lugar (locis) onde se
expressam não somente as experiências
de vida, na perspectiva individual que o
termo possa conter, mas contextos de
relações distintas que envolvem tanto
pessoas como coletividades e
instituições, em espaços e tempos
determinados”. Para a coordenadora
do Lappis, estudar os atores, seus
discursos e práticas no cotidiano das
instituições é fundamental, pois
possibilita a localização de elementos
objetivos e subjetivos, por meio dos
quais os atores sociais constroem suas
percepções referentes à vida social, que
inclui a vida institucional. “No caso das
instituições de saúde, o cotidiano dos
atores representa um espaço de lutas,
de exercício de poder, aqui entendido
não como um objeto natural, mas
como uma prática social, influenciada
pelas práticas sanitárias e políticas”.
E não apenas em relação com o
usuário, mas também com o estudante.
E o que a sanitarista chama de
‘cidadania do cuidado e solidariedade
do conhecimento nas relações sociais
e de saúde’. “É entender que o
cuidado é uma prática cidadã.
Cidadania não é apenas o meu
direito individual,mas a
minha capacidade e
habilidade em poder
viver coletivamente,
decidindo sobre o
que vai acontecer”.
A sanitarista
parte do pres-
suposto de que “a integralidade tem nas
categorias oferta e demanda as
principais ferramentas de sua
observação, quando analisadas
relacionalmente, construídas de
maneira dinâmica, resultante de uma
ação social, que tanto pode incluir a
objetividade e/ou a subjetividade de
seus atores, quanto suas falas e práticas
no interior das instituições”.
A construção da relação entre
oferta de serviços de saúde não se
coloca como uma tarefa trivial, mas é
resultante de embates, conflitos e
contradições que permeiam o cotidiano
de técnicos, profissionais e usuários no
dia-a-dia das instituições. “São estabelecidas interações com intermediações complexas que muitas vezes
não são somente explicitadas por
palavras, mas em intenções e gestos dos
atores envolvidos no funcionamento do
sistema de saúde local.
FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT
resultados desse processo para os
usuários dos serviços. Por fim,
essas práticas são comparadas com
as políticas de atenção integral do
Estado.
“Esse trabalho pressupõe que a
Integralidade é uma ação social, um
princípio, que tem a Reforma Sanitária
Brasileira como contexto político, social
e histórico. Isso significa acreditar que a
construção da Integralidade requer,
necessariamente, interações
democráticas entre os sujeitos
envolvidos nas práticas do cuidado da
saúde, e que essas transformações no
cotidiano dos serviços podem garantir a
saúde como direito de cidadania”,
detalha Roseni Pinheiro. Ela usa a
imagem da polifonia para transmitir a
imagem de integralidade, quando se
materializa esse princípio como ação
prática: “há necessidade de se
reconhecer as vozes do usuário, do
profissional, do gestor...”.
REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO - 21
E é justamente nesses aspectos que
residem as questões mais prementes
sobre os limites e as possibilidades de
garantir o principio da integralidade.
Até mesmo porque existe um nexo
recíproco entre a oferta e demanda, no
que diz respeito às práticas exercidas
pelos atores nas instituições de saúde,
que desnuda, por um lado, a situação e o
contexto que vivem e, de outro, põe
em relevo os problemas estruturais
que envolvem as instituições de ação
social”.
Poder versus integralidade.
As questões relacionadas a interdisciplinaridade e a multiprofissionalidade
são destacados pela sanitarista. No
estudo que realizou em Volta Redonda,
constatou que, embora o município
tenha reunido esforços para garantir a
interdisciplinaridade, mediante um
conjunto de medidas para disponibilizar
profissionais como psicólogos,
fonoaudiólogos e enfermeiros, nas
unidades básicas de saúde, “a lógica do
atendimento nesses serviços ainda está
centrada, em sua grande maioria, no
atendimento individual realizado pelo
médico. Isto reforça a tese de que, para
garantir a interdisciplinaridade, não
basta compor equipes com profissionais
de outras áreas, e sim reconhecer a
realidade expressa em termos de
acesso a bens em saúde, um conjunto
de valores, crenças e idéias calcado
na racionalidade médica
contemporânea”.
Em sua palestra aos docentes de
cursos de Fonoaudiologia em Campinas,
na primeira oficina promovida pela
SBFA, Roseni Pinheiro destacou que
“reconhecer a coerência entre a visão do
médico e a do paciente sobre doença é
admitir a existência de um universo
simbólico compartilhado, que no
cotidiano das instituições de saúde tem
obstaculizado, ainda que de maneira
implícita, as mudanças nas práticas
sanitárias no interior das instituições,
como por exemplo a interdisciplinaridade nas equipes de saúde”.
Roseni Pinheiro considera
fundamental a utilização da interdisciplinaridade com as áreas de ciências
humanas e sociais em saúde, nas
tecnologias de gestão ou na formação.
“Saúde é um campo que não é
privativo de nenhuma categoria
profissional. É, isto sim, uma equipe
de profissionais que se responsabiliza
e responde as demandas das pessoas
em suas necessidades em defesa da
vida”.
22 - REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO
A sanitarista defende a construção
coletiva de ferramentas e tecnologias
inovadoras de gestão e cuidado no
cotidiano das práticas de saúde.
“Coletiva porque não pode ser de apenas
uma profissão na área de formação a se
responsabilizar. A multiprofissionalidade é uma estratégia absolutamente
coerente e reivindicada pelas
instituições formadoras, para a
integralidade. Cada vez mais surgem
cursos que em seus campos de estágio e
em suas aulas práticas estão agregando e
incluindo outros profissionais em suas
ações, em uma perspectiva de trabalho
em equipe multiprofissional”.
Papel da Fonoaudiologia.
“A Fonoaudiologia talvez seja a profissão
mais porosa a essa integralidade que
tanto defendo, porque está construindo
e crescendo em um momento de
transformação”, analisa a coordenadora
do Lappis. “Nas profissões mais antigas,
só vejo aprenderem o que tem de ruim:
o corporativismo, a defesa econômica da
categoria... Não há nenhum princípio
ético sendo defendido e não é à toa que
está ai a discussão do ato médico, que
surgiu de uma insuficiência completa da
compreensão acerca da complexidade
das demandas por saúde e da
EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006
EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006
cabeça do generalista todo o conhecimento especializado. Ele não irá
suportar. Todo profissional tem direito
à atualização, seja generalista, seja
especialista. A questão é como? Não
adianta trazer conhecimentos
descontextualizados, ou seja, não de
forma externa aos contextos em que o
profissional se insere e este é outro
equívoco comum da formação”.
Roseni Pinheiro coloca alguns
questionamentos. Um portador de uma
patologia renal crônica, por exemplo,
tem mais direitos do que uma gestante?
“Na fragmentação das ações e dos
conhecimentos em saúde, com vários
programas, como fazer com que – por
exemplo - uma pessoa negra, mulher,
com anemia falciforme e DST consiga
receber o atendimento integral, quando
todas essas abordagens são separadas
em programas? Nas especialidades se
vive essa divisão cotidianamente. Isto é
um desafio para o profissional, que até
tem vontade de desistir, porque não
consegue unir o que foi colocado para
ele separado”.
“Se tomo essa experiência do
cotidiano e com ela aprendo a
aperfeiçoar a minha ação, vou estar
alcançando mais os fins do atendimento
integral do que ficar retido só com o
conhecimento especializado que aprendi
em um curso de pós-graduação. A idéia
de experiência é também a idéia da
inovação, aquilo que é capaz de romper
com o instituído, o estruturado, o
tradicional, o que não é poroso à
transformação da sociedade, a
normatividade da vida, como diria
Canguilhem. A experiência não deve ser
apreendida para ser repetida
simplesmente, passivamente
transmitida, ela acontece para migrar,
recriar, potencializar outras vivências,
outras diferenças. Há uma constante
negociação para que ela exista, não se
PALESTRA EM OFICINA DA SBFa EM CAMPINAS - FOTO: ELISIARIO E. COUTO/INSERT
necessidade de rever os ‘territórios
profissionais’ os quais estão sendo
questionados”.
Em sua experiência na área de
neurologia, Roseni Pinheiro vê o
fonoaudiólogo como um profissional
muito valorizado pelo usuário, quando
ocorre este contato. “A questão é como
vocês ocupam os espaços públicos onde
estão sendo formuladas políticas?
Como fazer isso com o usuário
presente? Se existe um cenário de
ensino e aprendizagem no curso de
Fonaudiologia nos serviços de saúde,
como é discutido esse plano com os
serviços, os profissionais e os usuários?
Onde entram as outras profissões?
Elas incluem a Fonoaudiologia? Como
ela é incluída? Esta é a parte políticoinstitucional Outro é a pedagógica:
como integrar as disciplinas no interior
dos cursos, que faça com que diminua
essa ênfase na especialidade, na
fragmentação? Isso é política em seu
sentido mais puro, para criar condições
dignas de trabalho e ao mesmo tempo,
e principalmente, oferecer serviço de
qualidade para os usuários”.
Por outro lado, as instituições
alimentam a idéia de que a especialidade
é importante e que dá status ao
profissional. “A questão do generalista
se coloca hoje como primordial onde
exista uma política de enfrentamento
dos problemas de saúde da população,
que requer que se tenha um conjunto
de conhecimentos ampliado de saúde,
além de tratar, promover e prevenir as
doenças. Não quero dizer que
fragmentação e a especialidade sejam
um mal ou que o conhecimento
especializado é ruim. O problema é que
esses conhecimentos não dialogam em
outros espaços onde se fazem
primordiais. Quando falo do generalista,
estou olhando a atenção básica, é isso?
O que é perigoso é tentar colocar na
REVISTA
REVISTA DA
DAFONOAUDIOLOGIA
FONOAUDIOLOGIA- -2ª2ªREGIÃO
REGIÃO- -2323
isole. Aprender com a experiência é
sobretudo fazer daquilo que não somos,
mas poderíamos ser, parte integrante de
nosso mundo, como diria Foucault”.
Para Roseni, é na experiência que
podemos encontrar as bases de uma
ética particular e concreta, em que a
obra e vida se nutrem, sem se reduzirem
uma a outra.
“Há a urgente necessidade de uma
atitude para integrar e humanizar os
conhecimentos. A crítica toda é em
relação à desumanização do atendimento por conta da apropriação da
tecnologia e, algumas vezes, acho que
alguns matemáticos e físicos são mais
humanos do que os profissionais da área
de Saúde...”.
Disputa pelo poder. “Existe,
concretamente, uma disputa de espaço,
de poder”, garante a sanitarista, que é
autora de um texto polêmico em que
discute a questão do poder no cuidado.
“Quem tem o poder de cuidar do outro?
Que cuidar é esse? Você só tem eficácia
no seu trabalho se o outro entender e
constatar sua evolução. Se o profissional não conseguir se sensibilizar, se
transformar, enfim aprender com o
paciente para melhor atendê-lo, é
melhor mudar de profissão...”
“A questão toda é saber como
abrimos mão de alguma coisa que nos é
muito cara, que o saber nos dá e que se
chama poder. Poder sobre os corpos,
sobre a vida... Como fica o nosso saber
nessa hora? Somos interlocutores
privilegiados para dizer o que é melhor
para a pessoa, mas não perguntamos
para a pessoa se é melhor para ela...
E pode ser que o que estamos propondo
não seja tão eficaz. É muito mais fácil
manter as coisas como estão. É só
reproduzir. Só que sociedade é pulsante.
Ela não se reduz ao que existe, mas
sempre vai trazer algo novo pra você.
E tudo que a gente aprende é quase que
estático. Por isso que são muito lentas as
coisas na Universidade: ela precisa
sempre de um método, criado
externamente, antecipadamente aos
objetos que investiga, com regras e
parâmetros pré-estabelecidos. Contudo,
vão estar relacionadas a interesses de
determinados segmentos, não
envolvendo necessariamente o real
interessado que são os usuários, a
coletividade”.
Teoria viva. Roseni Pinheiro
mostra o exemplo brasileiro de
políticas governamentais que se
construíram com a participação do
trabalhador e do usuário, onde os
referenciais de conhecimento se
uniram para achar uma resolução para
esses problemas. “Um exemplo
concreto é a política de enfrentamento
dos problemas relacionados à AIDS.
Em lugar de um antropólogo ir para
um canto, o médico para outro,
todo mundo se reuniu para poder
compreender como as pessoas viviam.
É bem diferente de dizer: você deve
fazer isto!”.
Outra perspectiva de inovação
que é vislumbrada pela sanitarista é
“o fortalecimento da capacidade de
gestão, que está em curso e que inclui
responsabilidade sanitária e a
abertura de redes de saúde com
controle social, para que se tenha uma
participação efetiva de todos nas
várias fases de formulação e que
necessariamente requer uma
interface entre saúde, trabalho e
educação”.
A saúde coletiva é um campo de
teoria viva. “O cuidado passa a ser
uma unidade analítica fundamental na
produção de conhecimentos e práticas
de integralidade, porque reconfigura o
atendimento, proporcionando
24 - REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO
acolhimento e vínculo entre usuárioprofissionais-serviços. Na dimensão
dos conhecimentos e da prática dos
trabalhadores de saúde, este é um
processo de construção social,
permeada de conflitos e contradições,
mas é importante participarmos dela,
seja reivindicando direitos, seja
trabalhando na equipe de saúde, seja
participando em espaços públicos
diferenciados”.
Seminário revê
atuação do SUS
O Conselho Regional de Fonoaudiologia 2a Região, representado pela fonoaudióloga Cibele Siqueira, participou do Seminário
“SUS: Situação Atual, Tendências e
Perspectivas”, realizado no dia 17 de
março, na Faculdade de Saúde Pública da USP. O objetivo do evento
foi o de atualizar conhecimentos e
debater o processo de implementação da Política de Saúde e do SUS,
com o objetivo de ampliar o apoio
para sua consolidação, bem como
aprimorá-lo, nos termos da reforma
sanitária brasileira.
O seminário contou com representantes do Ministério da Saúde, do CONASS (Conselho Nacional
de Secre-tários de Saúde), do
CONASEMS (Conselho Nacional de
Secretarias Municipais de Saúde) e
das Secretarias Estadual e Municipal de Saúde de São Paulo. Durante
o debate, destacou-se a discussão
sobre a necessidade de rever o pacto
entre os gestores do SUS, agora
desdobrado em: Pacto pela Vida,
Pacto pelo SUS e Pacto pela Gestão,
nas três esferas de governo, a fim de
consolidar resultados e dar
sustentabilidade ao SUS.
EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006
Há mais de uma década
realizada em São Paulo, a
programação “Ação Global”
desenvolvida pelo Sesi e Rede
Globo, teve uma nova versão
em 18 de março. Realizada
nas dependências do autódromo de Interlagos, contou
com a participação de mais de
três mil voluntários, que atenderam aproximadamente 80 mil
pessoas.
Na área da Saúde Auditiva,
os projetos desenvolvidos foram concebidos por fonoaudiólogos que já realizam atendimento ambulatorial e em escolas da rede pública da região,
por ONGs (como a Vez da Voz
e Ceres) e por empresas de
prótese auditiva.
EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006
As fonoaudiólogas Ana
Maria Torres e Raquel Munhoz,
da Unitron Campinas, detalham:
“foram incluídas atividades
interativas e recreativas, com
apresentações sobre o
funcionamento da audição e as
principais patologias que a
prejudicam, a sensibilização
sobre percepção auditiva e uso
de aparelhos auditivos, o aconselhamento sobre problemas de
audição, orientações quanto à
prevenção da deficiência
auditiva e oficinas de Libras,
com o objetivo de familiarizar a
população com o deficiente
auditivo e as formas alternativas
de comunicação”.
A Unitron Campinas levou o
personagem Otacílio, para
FOTOS: VEZ DA VPZ (FOTO SUPERIOR) E UNTRION (FOTO INFERIOR)
AÇÃO GLOBAL CONTA COM
PARTICIPAÇÃO DE FONOAUDIÓLOGOS
incentivar as crianças a a
passar pela triagem auditiva e
fonoaudiológica. Os adultos
receberam folhetos informativos
sobre cuidados com a audição,
além das orientações fonoau-
diológicas oferecidas pelas alunas da FMU. Triagens fonoaudiológicas foram também
realizadas por profissionais
ligados à ONG Ceres.
Oficinas de Braille, de Libras, contadores de histórias e
muita música foram também
oferecidas pela ONG Vez da
Voz, com o apoio de empresas
de aparelhos auditivos, como
Audibel e Widex. “O objetivo
foi o de fazermos a inclusão
com alegria e levarmos opções
para as pessoas com e sem
deficiência”, afirmou Cláudia
Cotes, presidente da Vez da
Voz. Foram distribuídos mais
livros infantis da Fundação
Educar, alfabetos em Braille e
folders educativos.
REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO - 25
Fonoaudiólogas brasileiras em Congresso na África do Sul
Sete fonoaudiólogas participaram da delegação do Hospital de Reabilitação de Anomalias
Craniofaciais (HRAC) da USP –
Bauru no 10th International Congress on Cleft Palate and Related
Craniofacial Anomalies, que ocorreu de 4 a 8 de setembro de
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Revista da
Fonoaudiologia
Próxima edição: 68
(maio/junho 2006 )
Siga os prazos
Encerramento editorial
e envio de autorizações
publicitárias:
19 de junho
Arquivo digital para publicidade
26 de junho
Circulação
3 de julho
2005, na cidade de Durban, na África
do Sul, sob o tema central Cleft Care
for All. Todas as fonoaudiólogas
brasileiras apresentaram, no congresso,
relatos científicos desenvolvidos no
hospital.
De acordo com o relato das participantes brasileiras, este congresso é o
mais importante na área da fissura labiopalatina e anomalias craniofaciais e
ocorre a cada quatro anos (o próximo
será em 2009, em Fortaleza, CE).
A foto mostra os participantes em
companhia do Superintendente do
HRAC, dr. José Alberto de Souza Freitas. Da esquerda para a direita: Cristina
Guedes de Azevedo Bento Gonçalves,
Silvia Helena Alvarez Piazentin-Penna,
dr. José Alberto,Renata Paciello Yamashita, Rosana Prado de Oliveira, Janaina
Trovarelli Paes, Cristianne Chiquito Netto e Maria Inês Pegoraro-Krook.
Veja no site do CRFA 2ª. Região,
em www.fonosp.org.br, os temas e
autores dos trabalhos científicos
brasileiros apresentados.
Perdas e roubos
Os profissionais abaixo relacionados
comunicaram ao Conselho Regional de Fonoaudiologia 2a Região a perda ou roubo de
seus documentos e/ou carimbos profissionais. Cédula de Identidade Profissional:
Tânia Pereira Donato (CRFa 13.751 e Sandra
Regina de Siqueira Dapuix (CRFa 5.172).
Carimbo profissional: Lucila Leal Calais
(CRFa 12.171) e Selma Elena Fiorini Daronco
(CRFa 8.597). Cédula de Identidade
Profissional e carimbo profissional:
Cristiane Madureira Pivante (CRFa 5.830) e
Carolina F. de Godoy (CRFa 13.195)
Perda de contato
O CRFa 2a Região necessita entrar
em contato com a fonoaudióloga Jeanine
Bordalo Barros, cujo registro foi cancelado
por ordem administrativa. Caso conheça
esta profissional, solicite a ela que contate a
Comissão de Orientação e Fiscalização, em
São Paulo (SP).
26 - REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO
EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006
REPÚDIO À EXPRESSÃO “NÃO MÉDICOS”
O Movimento Nacional Contra o PLS 25/2002, integrado pelos conselhos
profissionais de treze profissões da área da Saúde, elaborou documento
em que repudia a utilização da expressão “não médicos para se referir a estes
profissionais de saúde. Este é o teor do documento, que o CRFa 2ª. Região
encampa em sua totalidade:
As treze profissões da área de saúde - Biologia,
Biomedicina, Educação Física, Enfermagem, Farmácia,
Fisioterapia , Fonoaudiologia, Nutricionistas, Odontologia de
Goiás, Psicologia, Serviço Social, Técnicos em Radiologia e
Terapia Ocupacional, vem por meio deste, repudiar o
tratamento inadequado e, no mínimo equivocado, através do
uso da expressão “não médicos” por parte de algumas
entidades da medicina, quando se referem aos profissionais de
saúde com igual regulamentação, em especial, por ocasião de
audiências e apresentação de documentos que tratam do
Projeto de Lei do Ato Médico.
A expressão “não médicos” é depreciativa, segregadora e
mostra uma certa ignorância por parte daqueles que a
utilizam.
Quando alguém ou alguma entidade se refere aos
“profis-sionais não médicos”, nos remete a pensar que a
onipotência se torna presente e distante, independente e
única, como se medicina não fosse apenas uma profissão de
saúde, e sim, uma profissão diferenciada e destacada em um
nível superior da área da saúde.
Deste modo, entender-se-ia que na área da saúde, apenas
existiriam treze categorias em um único nível, ao se excetuar a
medicina como profissão de saúde deste nível. Seria necessária
muita imaginação e nenhuma documentação daria
EDIÇÃO 67 - MAIO/JUNHO 2006
fundamentação a tal explicação.
Ao se aplicar o principio da igualdade de direitos,
também nesta lógica, poderiam existir os “não médicos”, os
“não odontólogos”, os “não fisioterapeutas”, os “não
fonoaudiólogos”, os “não biomédicos”, os “não terapeutas
ocupacionais”, os “não psicólogos”, os “não profissionais de
educação física”, os “não assistentes sociais”, os “não
farmacêuticos”, os “não médicos veterinários”, os “não
nutricionistas”, não “biólogos”, os “não técnicos em radiologia”
e “os médicos”.
Mas que dificuldade teríamos em manter uma relação
dentro da equipe multiprofissional, pois apenas existiriam
duas categorias e, notadamente, as relações seriam biprofissionais, nunca multiprofissionais, que absurda conclusão!
Esta visão confusa e reducionista da saúde tenta
estabelecer um paradigma de poder nas relações sócioprofissionais, apoiada pela simples afirmação de que,
supostamente, e somente para conveniência de alguns grupos,
existiriam apenas duas classes profissionais na área da saúde
no Brasil, a dos “médicos” e a dos “não médicos”.
É inadmissível, portanto, que o uso de tal expressão
discri-minatória e desigual, perdure, numa sociedade, na qual
sua Cons-tituição Federal, resguarda o direito da livre
expressão, desde que não ultrapasse a linha da cidadania, da
moral e da ética, do respeito mútuo entre os diferentes atores
sociais, e, sobretudo, do respeito às leis, em especial, àquelas
que, regulamentaram as quatorze profissões da área da saúde,
de igual relevância social na prestação de uma assistência à
saúde de modo integral e multidisciplinar ao povo brasileiro.
REVISTA DA FONOAUDIOLOGIA - 2ª REGIÃO - 27
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O que o fonoaudiólogo tem a ver com isso?