Ciência e capitalismo. E a psicanálise com isso? Autora: Maria de Nazaré Avelino Resumo: Podemos encontrar atualmente a marca do capitalismo em diversos os campos. Com a ciência não é diferente: em muitas produções científicas encontramos sinais deste sistema de pensamento. Vários autores abordam esta influência na sociedade atual, apontando as conseqüências para as pessoas, os limites que deveriam ser impostos a esta influência e as possibilidades para a relação do capitalismo com diversos campos. O objetivos deste trabalho é abordar a relação do capitalismo com a ciência, suas conseqüências e motivações possíveis e como a psicanálise pode contribuir para a compreensão desta relação. Para isso, serão estudados alguns autores que se ocupam do tema da sociedade contemporânea e sua relação com o capitalismo e apontadas algumas maneiras possíveis de se compreender a influência do capitalismo sobre a ciência moderna e como lidar com esta influência à luz da psicanálise. Ciência e capitalismo. E a psicanálise com isso? Desde o seu surgimento, a ciência pretende responder às dúvidas que o homem tem. Sua busca por respostas levou a conquistas grandiosas e a novas dúvidas que motivaram novas conquistas. A ciência surge das dúvidas e seu nobre objetivo é respondê-las. Para cumprir esta tarefa, diferentes ciências utilizam diferentes métodos. Embora vários cientistas tentem situar seus trabalhos fora dos domínios de uma ideologia, esta posição é sempre limitada. Reconhecendo a dificuldade de uma produção não ideológica, alguns cientistas e pensadores das ciências se posicionam de uma maneira crítica com relação aos seus achados e métodos. Outros, considerando que a ciência e a produção de conhecimento podem não ser ideológicas, acabam reproduzindo a ideologia dominante e servindo a ela, ainda que pensem não fazê-lo. Não é possível pensar uma ação sem esquecer que ela é guiada por uma ideologia. No mundo em que vivemos, o capitalismo aparece como ideologia reinante e podemos encontrar sua marca em diversos campos. O capitalismo precisa criar necessidades de consumo para garantir a sua existência. Atualmente, quase tudo em nossas vidas é dirigido pela lógica de consumo capitalista. O capitalismo cria necessidades para oferecer produtos para supri-las. Um novo alimento, enriquecido com vitamina X, parece ser tudo o que sempre precisamos para nossas carências nutricionais, embora só tenha chegado no mercado ontem. Se antes vivíamos sem ele, agora se torna um artigo de primeira necessidade, mas somente até o surgimento do alimento enriquecido com vitamina X+. Quando um cientista social, estuda identidades (sexual, étnica, profissional...), o faz acreditando na universalidade da identidade em questão. Busca, e encontra, características e necessidades específicas para um determinado grupo. Assim, o mercado cria produtos específicos para atender a todos os que são identificados de uma ou outra maneira. Nada menos específico do que uma necessidade comum a todos e que pode ser suprida pelo mesmo produto em todos os casos. Mas, e a psicanálise com isso? Ao trazer o sujeito para o centro da discussão, a psicanálise se opõe a todas as generalizações. O sujeito do inconsciente é singular porque o inconsciente é singular. Ao enunciar a teoria dos quatro discursos (histérica, mestre, universidade, analista), Lacan aponta as maneiras como o laço social pode ser feito. Os quatro discursos escrevem os laços sociais onde o outro não é mais algo específico mas um lugar que pode ser ocupado por quatro tipos de outro, segundo a maneira como este é tratado. Os discursos são modalidades de tratamento do outro que não é visto como um semelhante. Aponta, ainda, um quinto discurso, que chama do capitalista, que não faz laço social. O discurso do capitalista, como apresentado por Lacan em 1972, se apresenta como um “deslizamento” do discurso do mestre e tem como característica a foraclusão, a rejeição da castração. No discurso do capitalista não há laço social entre o agente do discurso, o sujeito dividido e o outro, significante do saber. Lacan aponta para isso como a foraclusão da castração. Ribeiro[1] ao comentar o discurso do capitalista afirma que: “Se é a foraclusão o que caracteriza o discurso do capitalista, o que ele produz e sustenta não é o laço social baseado na lei edipiana do pai. São antes relações esquizofrênicas e esquizofrenizantes que vêm comoproduto deste discurso: ao foracluir a castração, este foraclui o próprio laço social.” (p. 167) Para movimentar os discursos, possibilitando que diferentes maneiras de laço sejam experimentadas, é preciso que opere o discurso do analista. A psicanálise, ao apontar uma maneira de girar os discursos, abre a possibilidade de trazer a ciência para um discurso onde seja possível o laço social. A tarefa do psicanalista é permitir que a ciência volte a se aliar a outros discursos, possibilitando novas formas de laço social. Referências Bibliográficas Ribeiro, M. A. C. Capitalismo e Esquizofrenia. In: Alberti, S. (org.) Autismo e Esquizofrenia na Clínica da Esquize – Marca d’ Água Editora. Rio de Janeiro, 1999. [1] Autismo e esquizofrenia na clínica da esquise