GUERRA FRIA E INDÚSTRIA CULTURAL NORTE-AMERICANA O cinema foi utilizado como propaganda ideológica no conflito entre comunismo e capitalismo, durante a Guerra Fria. Através desse meio, Estados Unidos e URSS procuraram influenciar os demais países do mundo. Mas os E.U.A levaram vantagem: a indústria cinematográfica norte-americana exercia influência muito mais sedutora e eficaz que a sua concorrente soviética. O cinema foi amplamente empregado pelos E.U.A para exibir a superioridade de seu sistema perante o comunismo soviético. Os bens de consumo, os super-heróis e os líderes norte-americanos eram mostrados como símbolos do bem e da moralidade superior norte-americana. Os E.U.A, através de uma intensa campanha anticomunista, produziram histórias em quadrinhos, desenhos animados e seriados de televisão, explorando a oposição entre liberdade, representada pelo american way of life., e opressão, representada pelo totalitarismo soviético. Exemplos O Capitão América é um super-herói criado durante a Segunda Guerra Mundial para destacar a luta dos norte-americanos contra os nazistas. Depois, no contexto da Guerra Fria, seus inimigos passaram a ser os “vermelhos”. Capitão América – O Filme (1990) Durante a 2ª Guerra Mundial, um franzino soldado americano, Steve Rogers, se submete a uma experiência científica. Assim ele se torna um super-soldado, o Capitão América. Entretanto, o cientista responsável pelo experimento é morto e o segredo de transformar um simples humano num soldado excepcional morre com ele. Nesse filme, o Capitão América confronta o seu arqui-inimigo nazista, o Caveira Vermelha, a serviço dos soviéticos. Capitão América – O caminho para destruição (1966) Neste desenho animado, os camponeses sul-vietnamitas de Saigon (aliados dos E.U.A) são oprimidos pelos vietcongs (comunistas do norte do Vietnã). Ludibriados pelos vietcongs (que se passam pela resistência sul-vietnamita), os Vingadores caem numa armadilha em Saigon, tendo que lutar com um inimigo gigantesco e de força descomunal. . Guerra nas Estrelas (1977) Filme do diretor norte-americano George Lucas, faz uma referência à disputa entre as superpotências. A saga seria uma analogia à Guerra Fria: O Império Galático, com pretensões de implantar um regime cruel e ditatorial em toda a galáxia, representaria a URSS. A Aliança Rebelde, representada por uma federação em heróica luta contra o império do mal, seria os EUA . Rambo II (1985) As sequências deste filme retratam os comunistas como estúpidos, violentos e desumanos; enquanto Rambo, ao contrário, representa a coragem e o valor humano ético e moral. John Rambo é retirado da prisão pelo seu antigo superior, o coronel Trautman, para uma missão secreta de resgate a soldados americanos presos no Vietnã. A sua tarefa é unicamente tirar fotos dos locais onde os soldados estão, mas ele não aceita partir sem salvá-los, e faz uma guerra particular nas selvas vietnamitas. Ao assistir o filme, tem-se a impressão de que Rambo venceu sozinho os vietcongues e os soviéticos presentes no Vietnã. Rambo III - 1988 O filme dá continuidade à saga do soldado John Rambo, procurado pelo Coronel Trautman para uma missão norte-americana de fornecimento de armas aos rebeldes mujahidin que lutam contra o domínio soviético no Afeganistão. Rambo recusa e Trautman acaba sendo capturado pelos soviéticos. Assim, Rambo se oferece para uma missão de resgate ao velho amigo, tendo as milícias afegãs como aliadas. Na época em que Rambo III foi filmado, milícias afegãs lutavam contra a ocupação soviética no Afeganistão. Os mujahidin, expulsaram os soviéticos do seu território, mas se enfraqueceram devido a disputas internas. Isso deu margem à ascensão do Taliban, que se beneficiou da ajuda militar norte-americana contra os soviéticos. O resto da história já é bem conhecida. Rocky 4 (1985) Quando o norte-americano Apollo Creed é morto numa luta de boxe contra o campeão soviético Ivan Drago, Rocky decide desafiá-lo e vingar a morte do amigo. Dessa forma, o conflito Capitalismo X Comunismo ganha vida na luta dos dois boxeadores. A Revolução dos Bichos (1999) Baseado no livro de George Orwell, o filme mostra a história do fazendeiro Jones, um homem beberrão e cruel que explora seus animais. Revoltados com seu proprietário, os animais da fazenda fazem uma revolução e os porcos tomam o poder. Mas o levante se degenera numa tirania ainda mais opressiva que a dos humanos. Escrita em plena Segunda Guerra Mundial e publicada em 1945, a narrativa causou polêmica ao satirizar a ditadura stalinista numa época em que os soviéticos ainda eram aliados do Ocidente na luta contra o eixo nazifascista. São claras as referências: os personagens, os eventos políticos, expurgos e o estado policial refletem o que estava em curso na U.R.S.S . Com o acirramento da Guerra Fria, a obra passou a ser amplamente usada pelo Ocidente como arma ideológica contra o comunismo. O próprio Orwell, adepto do socialismo e inimigo de qualquer forma de manipulação política, sentiu-se incomodado com a utilização de sua fábula como panfleto. Passagem Marcante Sob o comando dos porcos, os animais aprenderam os Sete Mandamentos. O principal deles, o sétimo, ganhou a seguinte forma: “Todos os animais são iguais” Com o passar do tempo, os porcos o modificaram: “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros”. Moscou em Nova York (1984) Vladimir Ivanoff (Robin Williams), um saxofonista do circo de Moscou, sente falta de liberdade em seu país. Quando o circo faz uma exibição em Nova York, Vladimir toma a decisão de desertar e permanecer nesta cidade. Ivanoff faz uma transição de cidadão russo para norte-americano, sendo ajudado por uma vendedora da Bloomingdale’s, que acaba tornando-se sua namorada. Vladimir também é ajudado por um advogado especialista em imigração, que anos atrás fugiu de Cuba em um pequeno barco. Assim, o russo vai se acostumando com os novos hábitos e conhece o estranho e “apaixonante” american way of life. O Sol da Meia Noite (1985) Nikolay Rodchenko (Baryshnikov) famoso bailarino soviético, havia desertado para viver nos EUA. A caminho do Japão, sua aeronave sofre uma pane e pousa em território soviético. Capturado, Rodchenko é obrigado a ficar na URSS. Para vigiá-lo, o governo russo coloca agentes da KGB e um dançarino estadunidense que fez o percurso contrário, morando em Moscou e casandose com uma russa. Rodchenko acaba ficando amigo do casal, sendo forçado pelo governo russo a iniciar uma temporada de espetáculos como forma de propaganda. Com a ajuda dos novos amigos, engana os oficiais soviéticos e foge para o consulado estadunidense, de onde volta aos EUA. O filme tem um tom autobiográfico. Baryshnikov, foi um desertor da URSS que naturalizou-se estadunidense. Claramente anticomunista, o filme tem uma frase emblemática: "Sou russo, não soviético", afirma Rodchenko, que exalta os Estados Unidos como "um ótimo país". O personagem, que recusa-se a falar em russo, depois descobre que recebeu de seu país-natal o tratamento rotineiro dado aos cidadãos tidos como inimigos: foi expurgado da história, o que ele percebe quando a nova geração de bailarinas de Leningrado afirma desconhecê-lo. The Atomic Cafe (1982) The Atomic Cafe é um documentário sobre o início da era nuclear, criado a partir de trechos de filmes da década de 40 a 60. A partir da compilação de clipes, noticiários, propagandas e filmes, aborda o contexto histórico, a opinião pública e a tecnologia dos testes de armas nucleares. A pesquisa para este filme foi feita ao longo de cinco anos pelos diretores Jayne Loader, Kevin e Pierce Rafferty e o resultado final é uma obra prima da montagem cinematográfica.