UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A LINGUAGEM DA DANÇA AUXILIANDO NO DESENVOLVIMENTO DO ALUNO COM SÍNDROME DE DOWN Prof. Luiz Cláudio Lopes Alves Aluna: Eliane Cabral de Lima Rio de Janeiro 2007 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A LINGUAGEM DA DANÇA AUXILIANDO NO DESENVOLVIMENTO DO ALUNO COM SÍNDROME DE DOWN OBJETIVOS: Esta publicação atende a complementação didático-pedagógica de metodologia da pesquisa e a produção e desenvolvimento de monografia, para o curso de pós-graduação. 3 AGRADECIMENTOS A todos os autores, corpo docente do Instituto “A vez do Mestre”, ao professor Cláudio pela orientação. Aos meus colegas e pessoas que direta e indiretamente, contribuíram acadêmico. para a realização desse trabalho 4 DEDICATÓRIA Dedico essa monografia a minha família que tanto colaborou para que eu pudesse me dedicar as pesquisas e elaboração desse trabalho, em especial minha mãe formação. que sempre contribuiu para minha 5 RESUMO Este trabalho tem como objetivo compreender de que maneira a dança pode contribuir para o desenvolvimento do aluno com Síndrome de Down nas classes comuns. Nele, apresento uma análise dos documentos e leis que prevêem e legitimam as linhas de ação para o atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais. Faço uma reflexão sobre o pensamento de alguns autores que defendem a educação inclusiva, tais como Aranha (2003), Carvalho (1998) e Mantoan (2005). Para conhecer o aluno com a Síndrome de Down, trago as principais características das pessoas com essa síndrome, bem como as possíveis causas e as possíveis prevenções, através dos estudos de Puechel (1993), Sampedro, Blasco e Hernádez (1993). E por fim, buscando entender como as linguagens artísticas, no caso da minha pesquisa, a dança, influenciam no desenvolvimento dos alunos com algum tipo de deficiência, em especial a Síndrome de Down, abordo um pouco da história e evolução dessas manifestações, assim como a importância que elas tem nos processo de ensino-aprendizagem, partindo da visão de Fusari e Ferraz (1993) e Bertazzo e Varella (2002), bem como Strazzacapa (2001). Palavras-Chave: Educação Inclusiva – Síndrome de Down – Artes - Dança 6 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................... 7 CAPÍTULO I – A EDUCAÇÃO INCLUSIVA ....................................... 11 1.1. O que é a Educação Inclusiva .................................................................. 11 1.2. As Disposições Legais .............................................................................. 14 1.3. As Teorias Metodológicas da Educação Inclusiva .................................... 16 CAPÍTULO II – O ALUNO COM SÍNDROME DE DOWN ............... 20 2.1. Caracterização da Criança com Síndrome de Down ............................... 20 2.2. Causas e Prevenções .............................................................................. 22 2.3. A Relação Escola/Família ........................................................................ 24 CAPÍTULO III – A LINGUAGEM DA DANÇA ..................................... 27 3.1. Artes na Construção de um Novo Olhar ................................................... 27 3.2. A Arte do Movimento ................................................................................ 30 3.3. A Dança e o Desenvolvimento do Aluno com Síndrome de Down ........... 34 CONCLUSÃO .............................................................................................. 37 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................... 38 ANEXO .......................................................................................................... 42 7 INTRODUÇÃO Este trabalho visa pesquisar e refletir acerca dos objetivos uma educação inclusiva onde as aulas de dança possam auxiliar no desenvolvimento de crianças Síndrome de Down. A minha principal meta é discutir se essas aulas de dança podem realmente contribuir para os processos de inclusão dos alunos com Síndrome de Down em escolas comuns. Para isso, portanto, precisei pesquisar sobre o que dizem os teóricos que defendem uma educação inclusiva, escolhendo o tema “A linguagem da dança auxiliando no desenvolvimento do aluno com Síndrome de Down”. Afinal, há tempos me deparo com discussões sobre as diferentes propostas de inserir pessoas com deficiências nas escolas comuns e percebo que pouca coisa ainda é feita. Assim, a partir das discussões realizadas durante o curso de pedagogia, e posteriormente de pisicopedagogia, busquei me aprofundar ainda mais no tema sobre a educação inclusiva, também chamada de “Educação para Todos”. Com isso, tentei estabelecer relações entre a dança e sua contribuição no processo de rompimento das barreiras da segregação social; no favorecimento do desempenho cognitivo, afetivo, expressivo e social; no desenvolvimento dos valores; na estimulação da auto-estima e a autonomia; como também no auxílio da superação de conflitos internos dos alunos com Síndrome de Down. Em meus estudos, pude perceber que a educação inclusiva só começou a ser discutida com seriedade no final do século passado, com o surgimento de debates sobre uma escola mais democrática. Contudo, essa visão contemporânea já era anunciada e discutida por inúmeras pessoas ligadas à educação. Prova disso foi a Conferência sobre Educação realizada na Espanha, no ano de 1994, da qual resultou o documento oficial denominado como “Declaração de Salamanca”, que veio a oficializar o termo Inclusão e estabelecer uma série de compromissos dos governos participantes, com as minorias estigmatizadas pela sociedade (BRASIL, 1994, p. 9). 8 A atual Lei de Diretrizes e Bases (LDB), Lei 9.394/96, Capítulo V, artigo 58, prevê preferencialmente o oferecimento da rede regular de ensino para educandos portadores de necessidades especiais (CURY, 2002, p. 46). E sob essa nova perspectiva de educação, acreditando que algumas escolas estão estabelecendo novas propostas educacionais e buscando alternativas para uma educação inclusiva, cito Becker (1992, p. 91) que define o construtivismo como a “interação do indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo das relações sociais”. Baseada nas propostas do Parâmetro Curricular Nacional (2000, p. 67) que diz que “a arte da dança faz parte das culturas humanas e sempre integrou as religiões e as atividades de lazer”, ou seja, ela é uma manifestação inerente aos povos de qualquer parte do mundo e envolve movimento corporal, que é uma atividade necessária ao desenvolvimento humano (BRASIL, 2000, p. 67), como futura psicopedagogia, acredito que a dança seja mais um caminho para auxiliar no desenvolvimento amplo das crianças, em especial as com Síndome de Down, o objeto de minha pesquisa. A Síndrome de Down é um acidente genético que pode acontecer em qualquer casal, provocando anomalia cromossômica, onde várias reações químicas irão influenciar o bom desempenho ou não, dos sistemas do organismo, e podendo atingir a área cognitiva, onde é acarretado um atraso, contudo não uma incapacidade de aprender (PUECHEL, 1993, p. 60). Ao longo da história, diferentes teorias e definições foram sendo elaboradas a respeito das deficiências. Com o avanço científico, conceitos foram sendo ultrapassados e outros até abolidos. Graças não só à medicina, como também à psicologia e à educação, as pessoas com deficiências começaram a ocupar seus lugares no mundo. Aos poucos foram deixando de ser tratadas como indivíduos incapazes de aprender e conviver de maneira mais autônoma na sociedade. Para Mantoan (2004, p. 44) a inclusão é “uma conseqüência da transformação do ensino regular e do aprimoramento de suas práticas”. A autora reforça a idéia de que mesmo com as dificuldades específicas de aprendizagem, as crianças com deficiência mental podem evoluir até chegar a 9 vida acadêmica, como também ingressar no mercado de trabalho. Assim, ainda, segundo ela, o que vem sendo feito ainda é muito pouco na educação brasileira com relação ao grande número de debates levantados e declarações estabelecidas em congressos pelo mundo. E é nesse contexto que Carvalho (2000, p. 24) vê ainda como o grande desafio nesse milênio a conscientização da sociedade com relação às dificuldades advindas das diferentes deficiências, sem que estas sejam confundidas com impedimentos de realização de qualquer atividade. Afinal, o importante é a valorização daquilo que cada indivíduo pode fazer e não a valorização do que lhe é impossibilitado, pois todos nós temos habilidades adaptativas nas mais variadas áreas, sejam elas, afetivas, cognitivas, sociais ou artísticas. Influenciada por essas questões, acredito que muitos fatores ainda precisam ser levados em consideração quando pensamos em educação inclusiva. Pois com oportunidades, treinamentos, motivações e respeito às diferenças e individualidade de cada aluno, podemos criar possibilidades ainda maiores de inserção dessas crianças na sociedade. Isso implica em busca, boa vontade, extinção de preconceitos e aceitação do novo. Sendo assim, mesmo com tanta discussão acerca do tema, leis e propostas sendo adotadas, penso que ainda se faz necessário investigar e refletir sobre essa demanda educacional e os conflitos que nela persistem. Afinal, muita coisa precisa ser realmente concretizada, como: reavaliação curricular, adaptação de recursos materiais, capacitação profissional, e também uma mudança de postura, onde não seja permitido qualquer tipo de rotulação. Desejo que esta pesquisa venha contribuir para que os profissionais que trabalham com a educação inclusiva tenham a possibilidade de refletir acerca das propostas e práticas vigentes nos dias atuais, compreendendo o quanto é importante, também, se utilizar das mais diferentes linguagens artísticas para trazer a tona todo o potencial, que sabemos, podem ter os alunos com Síndrome de Down. Assim, espero auxiliar no aprofundamento das questões que levanto, pois apesar do tema já ser discutido por inúmeros teóricos, acho que ele merece estar sempre em pauta porque o problema da inclusão na 10 escola, dos alunos com deficiência, ainda deixa muito a desejar. É fundamental para o aluno com Síndrome de Down o reconhecimento e garantia dos seus direitos de cidadão. Este trabalho trata-se de uma pesquisa científica, baseada em textos escritos por especialistas em educação e educadores de dança terapeutica. O Capítulo I desta monografia aborda a contextualização histórica da Educação Especial e o movimento inclusivo, a partir do pensamento de Aranha (2002) e Carvalho (1998). Nele exponho as disposições legais apoiada nos documentos emitidos pelo Ministério da Educação do Brasil e pela Declaração de Salamanca (1994), como também, as propostas utilizadas com relação a inclusão defendidas por Carvalho (2000), Mantoan (2005), e também as linhas de ação do PCN (2000) e as leis da LDB analisadas por Cury (2002). No segundo capítulo, com o objetivo de caracterizar o aluno com Síndrome de Down, apoio-me nos estudos do autor Pueschel (1993) e nas pesquisas de Sampedro, Blasco e Hernández (1993). Com relação à dança, no terceiro e último capítulo faço uma pesquisa visando, caracterizá-la, através dos autores Barbosa (2002), Strazzacappa e Varella, Bertazzo e Jaques (2002). E para mostrar a importância das demais linguagens artísticas para o desenvolvimento humano utilizo as autoras Ferraz e Fusari (1993), bem como a contribuição da dança no desenvolvimento do aluno com Síndrome de Down, baseando-me nos Parâmetros Curriculares Nacionais (2000) e nos autores Freire (2002), Rodrigues e Chagas (2002) e Biglia de Pau (2002). Esta monografia destina-se à pedagogos e psicopedagogos interessados na busca de diferentes caminhos para a inserção de alunos com deficiências, bem como todos que desejam debater um pouco mais sobre o assunto. 11 CAPÍTULO I - A EDUCAÇÃO INCLUSIVA 1.1 O que é a Educação Inclusiva Como sabemos, o movimento de inclusão é internacional e, felizmente, o Brasil também faz parte dele. Esse movimento vem se caracterizando por exigir que os direitos de cidadão de todos os indivíduos sejam respeitados. Nele, prevalece a idéia de inserção e permanência do aluno com necessidades educacionais especiais em escolas regulares, independentes de sua situação física, econômica, social ou cultural, mas cabendo à escola preparar-se, criando condições para recebê-lo. Entretanto, apesar do que muitos pensam, a inclusão apesar de ter surgido do conceito de integração, difere um pouco desta. Segundo Carvalho (1998, p. 158), enquanto a inclusão afirma que a escola deve se adaptar para o acolhimento desse aluno independente de suas condições físicas ou psíquicas, visando um desenvolvimento pleno, inserido numa classe regular, a integração gradual do aluno com deficiência é um processo pelo qual são estabelecidos objetivos e etapas que o aluno deverá alcançar e superar para só depois ser integrado na escola regular. No processo de integração, é a criança com necessidades educacionais especiais que aos poucos é integrada ao grupo, mediante sua capacidade de adaptação ao mesmo. Com o esforço centrado no aluno com necessidades educacionais especiais, o processo de inclusão difere da integração pois, segundo a educação inclusiva, a escola deve oferecer os recursos e adaptações e o aluno é inserido de imediato no contexto da classe regular sem ter que freqüentar previamente espaços segregadores como a escola ou classe especial. Na integração, o foco de atenção tem sido transformar a educação especial para apoiar a integração de alunos com deficiência na escola comum. Na 12 inclusão, porém, o centro da atenção é transformar a educação comum para eliminar barreiras aprendizagem e que limitam participação a de numerosos alunos e alunas (BRASIL, 2005, p.7). Sendo assim, a inclusão, influenciada pelas conferências e congressos internacionais, reforça uma educação mais democrática que reconheça a existência das mais variadas diferenças, não deixando que preconceitos de qualquer espécie, rejeite ou desprestigie pessoas consideradas, usando um termo ultrapassado, “anormais”. Mas afinal o que é “ser normal”? Ao meu ver o conceito de normalidade parte do princípio de acharmos que aquele que supostamente foge das regras imposta pela sociedade em que vivemos, é uma pessoa fora dos padrões. Na verdade, o que importa é compreendermos que o outro, que é ou vive com costumes e normas que diferem das nossas, não está errado, mas sim, tem uma existência diferente. E que essa diversidade só trará benefícios e a compreensão da natureza humana. E para que essa idéia de inclusão social fosse difundida nas diferentes partes do mundo, uma das mais importantes conferências realizou-se em Jomtien na Tailândia, no ano de 1990, denominada Conferência Mundial de Educação para Todos. Financiada pela Organização das Nações unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e pelo Banco Mundial, convocou governos, organismos não governamentais, associações e personalidades ligadas a educação para debaterem os rumos da educação no novo milênio. Ela objetivou fortalecer o compromisso dos países com maior índice de analfabetismo do mundo, a assegurarem programas que qualificassem melhor a área de educação destinada as crianças, os jovens e adultos. (SHIROMA, 2004, p. 56-57). 13 Essa conferência na verdade impulsionou um novo encontro em Salamanca, na Espanha, em 1994, que deu origem a Declaração de Salamanca, onde também foram firmados compromissos com a “Educação para Todos” e reforçado a grande necessidade de rapidamente os alunos com necessidades educacionais especiais terem seu ensino ministrado nas escolas comuns (BRASIL, 1994, p. 9). Com certeza, essas conferências lançaram desafios e esquentaram discussões a cerca de uma educação mais integradora, nos quatro cantos do mundo, conforme os princípios dos Direitos Humanos já exigiam. Elas delinearam para o século XXI, um caminho de paz, liberdade e justiça social. Em termos de educação inclusiva, a Declaração de Salamanca foi ao meu ver, a mais importante, na medida que veio a reafirmar o direito à educação de cada indivíduo, independente das diferenças individuais, reconvocar os princípios das Declarações dos Nações Unidas, como também firmar o compromisso da participação dos governos que estavam na conferência (BRASIL, 1994, p. 10). Mas, concordando com Carvalho (2000, p. 19) o maior desafio será encontrar estratégias para que esses direitos aconteçam e não fiquem só nas discussões. Mesmo entendendo que a educação esteve ligada as questões mais econômicas e financeiras, do que realmente sociais, na medida que muitas vezes buscou-se a capacitação profissional para o fortalecimento do mercado de trabalho, acredito que o processo de construção do respeito aos diferentes seguimentos da sociedade foi se modificando e, consequentemente, a compreensão de que é possível o desenvolvimento das pessoas que tenham qualquer tipo de deficiência. Essas mudanças nortearam o trabalho no campo educacional, traduzido nos chamados Paradigmas da Educação Especial. No Brasil, segundo Aranha (Uma leitura sócio histórica, In: www. tvebrasil. Acessado em 12/02/2004), desde 1854, quando foi fundado por Pedro II, no Rio de Janeiro o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, até os dias atuais, o tratamento dado aos deficientes foi passando por essas diferentes fases. No princípio, com uma proposta de ordem assistencialista, surgiu o Paradigma da Institucionalização, que consistia em encaminhar aos asilos ou 14 internatos as pessoas que poderiam trazer prejuízos à comunidade em que viviam. Esse, pelo menos era o discurso dos que detinham e exerciam nessa época, algum tipo de poder ou influência sobre a sociedade, como médicos e governantes. Os anos de 1960 trouxeram o capitalismo com força total para o país, e com ele novos caminhos que se abriam com relação ao atendimento às pessoas com deficiências. Sob a influência de pensadores estrangeiros que achavam essa proposta muito excludente e em concomitância a uma nova prática que vinha aparecendo, a da integração, começou a se formar o Paradigma de Serviços. Este era caracterizado por oferecer um tratamento que levasse os deficientes a alcançar um nível considerado pela sociedade de “normalidade”. Influenciado pelas novas discussões na década de 1990, foi surgindo uma outra proposta para os alunos com necessidades educacionais especiais. Nela, como para qualquer pessoa, esse seguimento da sociedade deveria ter as mesmas oportunidades de ensino e capacitação: era o Paradigma de Suportes. Este, tinha como objetivo a inclusão social ou a escola para todos, entendido como um processo bilateral, pelo qual ocorre um ajuste tanto dos deficientes como da sociedade em prol do bem comum. 1.2. As Disposições Legais Com relação ao aspecto legal, leis e decretos vêem fortalecendo o processo de conscientização da sociedade com relação as pessoas com necessidades educacionais especiais. A própria Constituição Federal prevê garantias de atendimento e rege que a inclusão seja para todos. A atual LDB, Lei 9.394 de dezembro de 1996, Capítulo V, artigo 58, prevê preferencialmente o oferecimento da rede regular de ensino alunos com necessidades educacionais especiais. Esta modalidade de educação é considerada como um conjunto de recursos educacionais e de estratégias de apoio que estão à disposição de todos os alunos, oferecendo diferentes alternativas de 15 atendimento (CURY, 2002, p. 46). Essa mesma lei, também ressalta em seu parágrafo 3º, a garantia da educação especial para alunos com idade de 0 à 6 anos. A Legislação é clara quando se refere à obrigatoriedade do atendimento em creches e escolas de educação infantil para alunos com necessidades educacionais especiais. Pelo menos, teoricamente, o discurso é sempre esse. É claro que existem controvérsias. Enquanto alguns especialistas em educação enaltecem a importância de haver um capítulo da LDB dedicado especialmente a Educação Especial, outros fazem crítica acirradas, pois acreditam que a Educação Especial colocada dessa maneira lhes parece estar sendo tratada mais uma vez de maneira separada, como se devesse haver uma modalidade à parte da educação regular. Para Carvalho (2000, p. 16) o termo “modalidade” conforme consta na lei, pressupõem duplicidade de educação, ou seja um outro tipo de educação, que no caso viria a ser o atendimento especial separado ou fora das classes comuns do ensino regular. Isso nos traz também uma reflexão com relação aos termos “especializado” e “preferencialmente” também expressos no texto da LDB. Eles permitem interpretações contestadas pelas teóricos que defendem a inclusão. Além de fortalecer a integração, em detrimento da inclusão, sugere que aluno com deficiência só poderá freqüentar o ensino regular quando estiver apto, como também dão brecha para a abertura e continuidade das escolas especiais, consideradas instituições segregadoras. De qualquer forma, as leis existem e o que nos cabe é exigir e contribuir para que sejam cumpridas, afinal só elas não bastam se não tivermos real vontade de auxiliar nesse processo de renovação do ensino. 16 1.3. As Teorias Metodológicas da Educação Inclusiva Quando falamos em inclusão, logo pensamos em não segregação, ou melhor, na não exclusão de pessoas por qualquer motivo que seja. Mantoan (2004, p. 44), diz que “uma inclusão escolar envolve, primordialmente, uma mudança de atitude face ao Outro (...) e o Outro é alguém essencial para a nossa constituição como pessoa”. Nesse sentido, de respeito e valorização do potencial das pessoas com necessidades educacionais especiais, o setor educacional brasileiro estabeleceu diferentes propostas de atendimento, que garantam os direitos de ensino desse seguimento da população, como propõem as linhas de ação da Declaração de Salamanca. Na rede regular de ensino, que vai desde a educação infantil até o ensino profissionalizante, as propostas são de contemplar os aspectos físicos, que nada mais são do que as adaptações que facilitarão o acesso dos alunos com necessidades educacionais especiais aos estabelecimentos de ensino; como também os aspectos pedagógicos (BRASIL, 1995, p. 33). A Secretaria de Educação Especial (Brasil, 1995, p. 34-39) cita, em documento sobre as diretrizes da educação, os tipos de atendimento, que o Governo Federal exige. São eles: as classes comuns, que devem ter adaptações ao ambiente físico, e estar sempre buscando apoio técnico/especializado paralelamente e o apoio dos pais; a classe especial integrada à escola comum onde haja um planejamento, com acompanhamento contínuo, atividades criativas e dinâmicas, e sendo necessário a conscientização de toda a equipe da escola como também um trabalho complementar junto à família, tendo como objetivo, adequar da melhor forma possível o ensino às necessidades e ao ritmo de aprendizagem dos alunos; a sala de recursos que situada em local previamente escolhido, deve ser usada para: observação, ensino, avaliação, demonstração de 17 aprendizagem e complementação curricular. Nela, o atendimento pode ser individual ou coletivo; o professor itinerante, profissional especializado que atua na escola regular, tanto na Educação Infantil tanto no Ensino Fundamental, podendo atender em pequenos grupos de até 3 alunos; as escolas especiais, que se propõem a assegurar plena capacitação individual. Necessita de adaptações curriculares e desenvolve um trabalho individual, sendo suas técnicas diferenciadas e específicas, visando a integração escolar. Ela pode oferecer várias alternativas de atendimento, como: Terapia Ocupacional, fisioterapia, psicomotricidade, psicologia, arte, terapia, dança terapia, teatro terapia, fonoaudiologia. Fierro (1995, p. 247) cita também como linha de ação a educação precoce, que destina-se a favorecer o desenvolvimento do aluno, devendo seus programas educacionais, acontecer logo nos primeiros anos de vida. Caracteriza-se por oferecer às crianças, a oportunidade de vivenciarem experiências enriquecedoras e adquirir novas aprendizagens. Ela é valida, na verdade para qualquer tipo de criança e necessita de profissionais especializados. No entanto, por ser uma inovação, infelizmente a inclusão tem sido por vezes distorcida e confundida, como já disse antes, com a integração que prevê apenas a inserção daqueles alunos considerados com condições de freqüentar o ensino regular. E apesar da existência de leis e decretos que legitimam esse tipo de educação, muitas escolas e professores se dizem ainda despreparados para enfrentar esse desafio. Ao meu ver, isso é um disparate, afinal, já se fala nessa proposta de inclusão, há pelo menos dez anos, quando foi emitido o documento Declaração de Salamanca, tempo suficiente, pelo menos para se refletir e se reformular a esse respeito. A inclusão, como conseqüência de um ensino de qualidade para todos os alunos provoca e exige da escola brasileira novos posicionamentos e é um motivo a mais para que o ensino se modernize e 18 para que os professores aperfeiçoem as suas práticas. É uma inovação que implica num esforço de atualização e reestruturação das condições atuais da maioria de nossas escolas de nível básico ((MANTOAN, In: www. Caminhos pedagógicos da inclusão. Acessado em 13/04/2005). Como se pode perceber, uma visão inclusiva, implica em não deixar ninguém de fora da escola, incluindo até os deficientes considerados severos. Essa visão implica também numa maior sensibilidade e competência da equipe escolar, mudança de currículo e de metodologia. Dessa maneira a inclusão oferecerá oportunidades de aprendizagem variada para todos, pela riqueza da diversidade de experiências humanas e pelo espírito de solidariedade que certamente acontecerá nas escolas. Estamos sendo convidados, ou melhor, convocados a mudar nossa perspectiva com relação a educação assumindo o compromisso também de respeitar o próximo. Assim, a escola precisará atuar de maneira a respeitar os alunos como pessoas entendendo que todos nós temos limitações, mas também habilidades. Deverá estabelecer um planejamento mais participativo, envolvendo toda a equipe da escola, juntamente com as pessoas especializadas no ensino especial, fazendo adaptações pedagógicas e ambientais na escola para minimizar as possíveis diferenças entre os educandos. Carvalho (2000, p. 25), diz que “pior do que a barreira física ou mental enfrentada pelos alunos com necessidades educacionais especiais, é a barreira atitudinal, de alguns profissionais que, com declarada ou não declarada rejeição à deficiência, fazem manifestações de tolerância tratado-os ora como coitados ora como incapazes.” Por esses e outros motivos, a especialista Mantoan (In: Caminhos Pedagógicos da Inclusão. Acessado em 13/04/2005) visando mudar os aspectos de organização das escolas e o ensino por elas ministrado, exige que 19 tenhamos urgência em enfrentar o trabalho e as dificuldades advindas dessa nova proposta de educação. Ela propõem colocarmos a aprendizagem como eixo central, garantindo que todos tenham seu “tempo” de aprender respeitado. Acredita, que por parte de todos os envolvidos no processo escolar, deve-se incentivar a cooperação, o diálogo, a solidariedade, a criatividade e o espírito crítico. Sugere um maior estímulo e valorização contínua do professor, elaborando-se, por parte dos dirigentes, planos de cargo e aumento de salário. Mantoan (In: Caminhos Padagógicos da Inclusão. Acessado em 13/04/2005) vai mais além e sugere ações que poderiam ser implementadas para que a escola torne-se mais qualificada. Ela dá suma importância a autonomia da escola na elaboração de um Plano Político Pedagógico mais participativo, através de uma gestão também com essa perspectiva. Defende a elaboração de uma currículo voltado para a realidade da clientela atendida que deixa de lado a avaliação com caráter classificatório e parte para um processo mais contínuo e qualitativo. Certamente nesses moldes, todos os profissionais de educação darão prioridade as possibilidades de aprendizagem de cada aluno em vez de se preocuparem somente com o desempenho. O trabalho tornar-se-á mais coletivo e diversificado, com parcerias e trocas entre os envolvidos, compartilhando riscos e responsabilidades. O professor logicamente, não pode e não deve ficar a margem dessa nova proposta de educação. Consciente do seu papel, de mediador, deve estabelecer estratégias inovadoras e criativas de valorização e respeito às diferenças. Mas, para isso precisa buscar uma formação continuada, participando de cursos de especialização, seminários, congressos e outros. Ou seja, necessita formar-se um professor/pesquisador, sempre pronto a trocar idéias e conhecimentos com outros profissionais. 20 CAPÍTULO II - O ALUNO COM SÍNDROME DE DOWN 2.1. Caracterização da Criança com Síndrome de Down Antes mesmo do médico inglês Langdon Down publicar em 1866, um trabalho onde descrevia algumas das características da Síndrome de Down, outros cientistas já faziam referências à crianças com essa aparência, sem contudo chegarem à muitas conclusões e certezas em suas pesquisas. Baseado na teoria da evolução de Darwin, o referido médico, de maneira como hoje sabemos errônea, chamou essas crianças de “mongolóide”, e/ou “idiota” devido ao que ele pensava serem implicações raciais de um tipo racial primitivo de povo (PUESCHEL, 1993, p. 48). Segundo Pueschel (1993 p. 76), pesquisadores, nos anos de 1930, com métodos de estudos que já possibilitavam investigações mais precisas, foram descobrindo as influências cromossômicas. Descobriram que as pessoas com Síndrome de Down, do mesmo jeito que as demais, apresentam os aspectos físicos e funcionais influenciados pelos genes, mas que estas tem características que são comuns, por conta da existência de um cromossomo a mais, provocando assim problemas de desordem cerebral, físico, fisiológico, como também de saúde. Com relação aos aspectos físicos, destaco as principais características apresentadas por Pueschel (1993, p. 79-82): Cabeça: de tamanho menor que as outras crianças, tem a parte posterior levemente achatada. Suas moleiras geralmente são maiores e demoram mais para fechar. Com ossos faciais pouco desenvolvidos, seu rosto também tem a aparência de chatos, com nariz e boca pequenos e olhos de pálpebras mais estreitas e com dobra nos cantos. As orelhas também são pequenas e com a borda geralmente dobrada e os canais do ouvido estreitos. Em algumas crianças, o pescoço é largo, porém curto. E os cabelos geralmente claros e lisos. 21 Corpo: o tórax pode apresentar um osso peitoral afundado, e apesar de geralmente seus pulmões serem normais muitas dessas crianças apresentam problemas cardíacos. O abdome, de modo geral não apresenta anomalias, mas seus músculos abdominais podem ser um pouco fracos e protuberantes. São raros os casos em que os órgãos genitais sejam afetados. Membros: As mãos e os pés quase sempre são pequenos e grossos, com impressões digitais diferentes das demais pessoas. Os dedos tendem a ser curtos e com espaços entre eles. Entretanto, além dessas características apresentadas, as crianças com Síndrome de Down podem ter a pele normalmente clara e seca e meio arroxeada nos primeiros meses de vida. Podem ainda, ser de estatura mais baixa que a média das demais pessoas, como também com tendência a obesidade. As autoras Sampedro, Blasco e Hernández (1993, p. 232) ressaltam em seu livro os aspectos mentais e cognitivos, também imprescindíveis para compreendermos as crianças com Síndrome de Down. Elas dizem que essa síndrome traz para o indivíduo uma deficiência mental, que acarreta uma defasagem cognitiva. Defasagem essa, que pode ser observada nas áreas da percepção, da discriminação visual e auditiva, no reconhecimento tátil, na reprodução de figuras geométricas, na reação perceptiva e na atenção e memória. A linguagem de uma criança com Síndrome de Down, costuma sofrer muitos atrasos e consequentemente, muitos problemas na expressão verbal. E com relação às outras áreas, ela é a mais prejudicada, devido à dificuldade acarretada na estruturação do pensamento. No entanto, acho importante ressaltar que independente das deficiências ou dificuldades de uma criança com Síndrome de Down, ela possui potencial e com certeza poderá se desenvolver, mesmo que de maneira vagarosa. Por isso, para que essa criança possa desenvolver todo o seu potencial, ela precisa de uma estratégia de trabalho direta e seriamente ligada à estimulação, desde o início de sua vida. O importante é não esquecermos que ela faz parte de diversidade humana, onde como as demais pessoas, também contribui para as 22 trocas fortalecendo as relações interpessoais fazendo com que nos tornemos pessoas mais sensíveis e respeitadoras das diferenças. Ao receber um aluno com Síndrome de Down em nossa sala de aula, devemos antes de mais nada nos despirmos dos “pré conceitos” e “achismos”. Se pouco ou nada sabemos sobre essa síndrome, obrigatoriamente devemos pesquisá-la. Se já conhecemos, ou lidamos com esse tipo de aluno, não podemos nunca fazer comparações, porque apesar de crianças com Síndrome de Down terem muitas características que as tornam semelhantes, cada uma delas traz sua própria carga genética familiar, como também sua bagagem de experiências de vida. Assim, não persistamos no erro de achar que todas os alunos com Síndrome de Down terão o mesmo comportamento, até mesmo porque nem numa turma dita homogênea, todos são iguais. Vamos sim, respeitar cada criança em sua individualidade, favorecendo o desenvolvimento de suas mais fortes habilidades. Para Sampedro, Blasco e Hernádez (1993, p. 238-247) antes de se traçar qualquer tipo de intervenção no aluno, faz-se necessário um profundo estudo sobre o mesmo, buscando informações de ordem médica, psicopedagógica como também familiar. E destaca ainda as intervenções pedagógicas que podem ser feitas além da estimulação precoce, nas áreas da: percepção, atenção, memória, aspectos psicomotores, leitura e escrita, lógicomatemática, linguagem, conteúdos vivenciais e aspectos socioafetivos. 2.2. Causas e Prevenções A Síndrome de Down trata-se de uma alteração genética ocorrida ainda no início da gravidez quando o bebê se forma. Enquanto as demais pessoas teem em suas células um total de 46 cromossomos divididos em 23 pares os indivíduos com Síndrome de Down possuem 47 cromossomos, sendo o cromossomo extra ligado ao par 21. Pôr isso, essa alteração também é chamada de trissomia 21 (SAMPEDRO, BLASCO E HERNÁDEZ, 1993, p. 225). 23 Segundo Pueschel (1993, p. 54) esse cromossomo, que são minúsculas estruturas em forma de barras, trazem tanto os genes da mãe como do pai, somando as duas metades, e obviamente as características dos dois genitores. Sampedro, Blasco e Hernández (1993, p. 226) falam que esta alteração genética, trissomia 21, pode advir de três fatores que nos levam então, a três tipos de Síndrome de Down. Como o caso mais freqüente, há a trissomia homogênea que é constituída de um erro na distribuição dos cromossomos antes da fertilização, acontece durante o desenvolvimento do óvulo ou do espermatozóide, ou até mesmo na primeira divisão da célula. Existe também, o mosaicismo, ocorrido na produção da segunda ou terceira divisão celular, e recebendo esse nome porque apresenta um quadro que lembra um mosaico. E por último a translocação, caracterizada pela ligação de um ou parte de um cromossomo à outro. Apesar do total nesse caso ser de 46 cromossomos, ocorre novamente a contagem de 21 cromossomos. Ela pode ocorrer no momento da formação do óvulo ou do espermatozóide, ou na hora que está acontecendo a divisão celular. Não existe ainda nenhuma teoria que realmente comprove as causas dessa alteração cromossômica. Foi na década de 1930, de acordo com Puschel (1993, p. 54) que alguns médicos, através de seus estudos começaram a suspeitar que a Síndrome de Down poderia acontecer devido a um problema cromossômico. E só no final da década de 1950, com o avanço dos métodos laboratoriais e depois da descoberta de que temos 46 cromossomos e não 48, que esses cientistas da área médica perceberam que a crianças com Síndrome de Down tem um cromossomo a mais. Baseados em diversos fatores, os cientistas fazem algumas suposições. Uma delas, diz respeito ao fator hereditário, onde pode haver alguma incidência familiar, como no caso da mãe que é afetada pela síndrome ou no caso de translocação em um dos pais. Há também o fator etiológico, que é pela possibilidade da idade da mãe ser avançada. Um outro fator, é o externo, causado por processos infecciosos como: hepatite ou rubéula; exposição a radiações; agentes (alta quantidade de flúor na água ou poluição atmosférica); tireóide das mães; elevadas taxas de imunoglobulina e de tiroglobulina no 24 sangue materno; deficiência vitamínica (Sampedro, Blasco e Hernádez, 1993, p. 228). Para Sampedro, Blasco e Hernández (1993, p. 229) assim como as causas fica também um pouco difícil, se fazer prevenções realmente certeiras. Fica claro que o que podemos fazer é tomar medidas que nos levem a de certa maneira evitar que esse problema genético aconteça. Pode-se tomar um maior cuidado com a idade da mãe, pois a partir dos 35 anos começa a haver uma maior probabilidade de se nascer uma criança com Síndrome de Down. Os futuros pais podem também, buscar um aconselhamento genético ou fazer um estudo estatístico que possibilitem saber os riscos de se ter uma criança com Síndrome de Down. E ainda há a aminiocentese, que é um exame ainda considerado por alguns como novo, onde se retira o líquido amniótico, antes do nascimento do bebê. Entretanto, esse procedimento traz à tona uma discussão carregada de questões humanas, morais e religiosas, com relação as escolhas que os pais poderão fazer ao saber que está sendo gerada uma criança com Síndrome de Down (SAMPEDRO, BLASCO e HERNÁDEZ, 1993, p. 238). Ou seja, sabemos que o Brasil não permite o aborto, como em outros países, mas sabemos que existem muitas clínicas que funcionam na clandestinidade, transmitindo uma série de riscos de vida para a mãe. 2.3. A Relação Escola/Família Pensando nos desafios que a educação inclusiva ainda tem que enfrentar, acredito em como a família precisa ser parceira e colaboradora dessa proposta, interagindo a todo o momento com a escola. Ela tem que estar consciente do seu papel, exigindo seus direitos e cumprindo com seus deveres. “Cabe aos pais lutar pela garantia do direito de seus filhos de não serem discriminados, de não aprenderem o preconceito e de serem educados em uma escola para todos competente e acolhedora “ (MANTOAN, 2004, p . 45). 25 A educação inclusiva implica em mudança de atitudes e posturas não só da escola, mas também de toda a sociedade, sendo o papel da família de suma importância. Cabe a ela antes de mais nada aceitar e acreditar nessa criança dando-lhe suporte emocional, afetivo, como também material, desde os primeiros meses de vida. E antes mesmo da entrada na escola, que deve ser de preferência logo na educação infantil, é valido por parte dos pais, estimular toda a parte sensorial, essencial para o desenvolvimento dessa criança, como para a prevenção de comprometimentos que ela possa vir a ter. Tudo isso, através do contato físico e demonstrações de amor e carinho durante toda e qualquer atividade diária, como amamentação, banho, troca de fraldas e outros (BRASIL, 2004, p.12). Não só como colaboradora, mas também aliada da escola, a família de crianças com necessidades educacionais especiais deve estar disposta a auxiliar no que for preciso. Deve, com respeito ao diagnóstico, apresentar todos os exames feitos com seu filho, assim como solicitar que a escola interaja com a equipe médica. Em relação aos hábitos e comportamentos, responder com o máximo de sinceridade, as anamineses e os questionamentos da equipe escolar. E não só deixar que seu filho participe, como estar sempre com ele em eventos, festas, passeios e outras atividades coletivas promovidas pela escola. Quanto ao papel da escola, esta também tem que estar comprometida com o respeito aos seus alunos, assim como à suas famílias. Deve permitir que as famílias e comunidade participem de maneira ampla do cotidiano escolar, através da promoção de atividades coletivas e individuais, bem como na participação da construção dos projetos e propostas. Cabe a direção da escola “ser dinâmica, comprometida e motivadora para a participação de todos os autores sociais” (...) “ser respeitosa nas relações interpessoais” (BRASIL, 2004, p. 13). Quando a família participa realmente de maneira ativa e responsável da vida da escola, vai aos poucos desenvolvendo uma consciência de que aquele espaço também lhe pertence. Isso com certeza só trará benefícios às crianças com necessidades educacionais especiais, como as demais. E por fim, uma outra questão que devemos levar em consideração, com relação as atribuições da escola, diz respeito a garantia de acessibilidade das 26 crianças com necessidades educacionais especiais. Ela deve adotar, as normas estabelecidas pela legislação federal brasileira, a NBR 9050. Estas normas são não só na parte física da escola, como também nas humanas e metodológicas (BRASIL, 2004, P. 21). 27 CAPÍTULO III - A LINGUAGEM DA DANÇA 3.1. Artes na Construção de um Novo Olhar A Arte é uma linguagem presente na história desde o início da vida humana, e suas manifestações refletem as relações do ser humano com o meio (BUORO, 1998, p. 19). Apresentava-se de diferentes formas, tanto nas pinturas nas paredes das cavernas no período Paleolítico, como na confecção de ferramentas utilizadas para dominar a natureza e satisfazer as necessidades de sobrevivência, já na vida mais organizada dos grupos sociais da fase Neolítica. Assim, através dessas diferentes produções acompanhamos as manifestações da vida dos primeiros seres humanos que se tem notícia. Segundo Buoro (1998, p. 20). A Arte foi, é e sempre será um meio de conhecimento e compreensão do ser humano com relação a si mesmo e ao mundo que habita. Esse meio básico de conhecimento para a sobrevivência e os modos de representá-los faz parte do próprio processo humano de ampliação do saber, e "pressupõe o desenvolvimento de capacidades de abstração da mente", pois leva o indivíduo a "identificar, selecionar, classificar, analisar, sintetizar e generalizar". Portanto, acredita-se que os processos de construção figurativas do período Paleolítico, desenvolveram-se partindo das interações do ser humano com a natureza e o seu desejo de se apropriar da figura animal como objeto de algum tipo de ritual mágico, enquanto que as representações abstratas da época Neolítica surgiram das práticas de quando o ser humano já fazia atividades agrícolas. Ou seja, essas representações abstratas, nada mais são do que a capacidade inventiva do ser humano, transformando a natureza em instrumentos para cultivo, caça, abrigo e adornos. Avançando uma grande parte da história e chegando ao Renascimento, Buoro (1998, p. 24) conta que nessa época a arte encontrava-se mais voltada para a busca da "perfeição absoluta", onde a Geometria era utilizada como recurso de estruturação espacial para as construções arquitetônicas. Era na 28 verdade, uma necessidade do ser humano fazer representações artísticas mais abstratas possíveis do real, mostrando-se assim um sujeito mais racional. De qualquer maneira o que vale ressaltar nessa pequena análise histórica da Arte feita por Buoro (1998, p. 25), é a compreensão de que as manifestações artísticas, sejam elas quais forem, são produto de sua época. Ou melhor, cada momento histórico vivido pelo ser humano é representado pelas mudanças sofridas na sociedade ao longo dos anos. Assim, entendendo que a Arte como uma forma do ser humano interpretar o mundo, pode e deve ser considerada como importante recurso para a construção do conhecimento. E este modo do ser humano interpretar o mundo, para Martins (1992, p. 8) trata-se da absorção de idéias que vão se entrelaçando e resultando em novos significados. Em contrapartida, sabemos que muitas pessoas ainda não se deram conta da importância que a Arte exerce, e a consideram como algo supérfluo. Até mesmo as escolas e professores não lhes dispensam o devido tratamento, e constantemente a consideram somente como mais um complemento do processo de ensino aprendizagem. Contudo, sendo um espaço de expressão livre, a Arte de diferentes maneiras, influencia no desenvolvimento global da criança, sendo o seu processo criador mais importante que o resultado final. Ela considera os seres humanos de modo amplo e total, implicando em favorecer o desenvolvimento da criatividade, sensibilidade, conhecimento de si mesmo e do mundo a sua volta., podendo ser mais um excelente meio para se estudar a história e evolução de um grupo social. Presente na vida do ser humano desde a mais tenra idade, a Arte é introduzida na vida da criança pelos adultos, através das manifestações culturais da sociedade em que está inserida, como: as imagens, as músicas, as falas, os movimentos, as histórias, os jogos e informações passadas pela vida cotidiana (FERRAZ E FUSARI, 1993, p. 16) Como expressão natural da singularidade individual de cada pessoa, a Arte auxilia na captação das impressões do meio, desenvolvendo no indivíduo um olhar sensível sobre as coisas que o cercam, mobilizando-o de maneira 29 global e criativa, tornando-o um leitor do mundo. “(...) o ato de ler, que não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo” (FREIRE, 2005, p. 11). Desse modo, partindo da idéia de que a arte faz parte do cotidiano de nossas vidas, desde pequenos, e que vamos assimilando os conhecimentos acumulados pela sociedade, podemos dizer que a Arte auxilia o indivíduo na percepção e compreensão da realidade que o cerca, tornando-o um sujeito mais crítico. De acordo com Pillar (2002, p. 74) "o olhar de cada um está impregnado com experiências anteriores, associações, lembranças, fantasias, interpretações". Assim, fica claro porque cada um de nós tem visão particular das coisas. Especialistas em arte-educação, defendem e ressaltam o quanto o ensino da Arte se faz imprescindível na educação. Pillar (2002, p. 71) afirma que "o papel da Arte na educação está relacionado aos aspectos artísticos e estéticos do conhecimento". Para ela a Arte possibilita a criança tomar posse de todas as formas de leitura, sejam elas partidas do cotidiano, ou das obras de arte. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 2000, p. 18) o ensino da Arte apresenta-se como um recurso onde são propiciados aos alunos experiências que ampliem a sensibilidade, a percepção, a reflexão e a imaginação. Baseada nos pressupostos de que a educação através das diferentes linguagens da Arte deve alcançar objetivos que dizem respeito ao desenvolvimento dos saberes artísticos e estéticos por parte dos alunos, assim como a história dos mesmos, o ensino será muito mais do que simplesmente se ensinar a tocar um instrumentos, fazer uma linda pintura ou mesmo um difícil passo de dança. Segundo Ferraz e Fusari (1993, p. 20) os conteúdos programáticos precisam incluir: As noções a respeito da arte produzida e em produção pela humanidade, inclusive nos dias de hoje (incluindo artistas, obras, espectadores, comunicação dos mesmos) 30 e a própria autoria artística e estética de cada aluno (em formas visuais, sonoras, verbais, corporais, cênicas, audiovisuais). Isto significa trabalhar com os estudantes o fazer artístico (em desenho, pintura, gravura, modelagem, escultura, música, dança, teatro, articulando e vídeo, etc.) sempre complementando com vivências e apreciações estéticas da ambiência cultural. Ferraz e Fusari (1993, 21 e 121-123) vão mais além e colocam que no caso do ensino para crianças e jovens, o professor deve ser tanto um conhecedor, como bom organizador gradual dos assuntos abordados e trabalhados no fazer e apreciar a arte. Assim, numa postura de mediador de conhecimentos, ele deverá estar atento tanto às características, como os interesses e direitos de cada faixa etária, usando para iniciar o trabalho as vivências dos próprios alunos. Quanto a avaliação educacional, esta não deve se fixar na preocupação de se medir e classificar as produções artísticas, mas sim acompanhar o processo de aprendizagem e criação, para assim verificar, diagnosticar e refletir que caminhos o professor deverá seguir daí por diante. 3.2. A Arte do Movimento Quando se pensa em movimento, em geral, as pessoas ficam presas nos gestos e atos de se mover, esquecendo-se que o movimento também é crescimento e desenvolvimento da expressão de vida do homem. Entretanto, movimento abrange desde as formas mais primitivas de expressão, até o simples fato de estarmos vivos, lembrando que o movimento é utilizado pelo corpo e mente para responder corretamente ao significado de uma ação, situação, coisa ou pessoa. Isto significa, que o movimento não acontece por 31 acaso. Segundo Bertazzo (2002, p. 119) “o modo como cada espécie animal se movimenta está ligado à sua maneira de absorver elementos do meio ambiente e estabelecer trocas com ele e com seus semelhantes”. Por isso mesmo que o movimento humano não pode ser estudado de maneira isolada, mas abrangendo todos os aspectos de sua vida, que são eles biológicos, emocionais, sociais, intelectuais, e até mesmo filosóficos. Bruhns (1985, p. 68) discorre sobre como a criança vai descobrindo o mundo através da experimentação dos sentidos sobre as coisas, desde que nasce. Ela ouve, vê, cheira, toca, come, recebendo as informações sobre o que ocorre dentro e fora do nosso corpo. Com o tempo, começa a perceber que reagindo gritando, chorando ou esperneando, suas necessidades serão satisfeitas. Dessa maneira, todas essas informações, mais as adquiridas por meio da imitação do que fazem os adultos, as crianças vão estruturando sua imagem corporal, e consequentemente seus impulsos, que de primitivos, passam a ser intencionais, na medida que assimila os atos e valores sociais. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (2002, p. 67) diz que “toda ação humana envolve a atividade corporal” e é essa ação que nos fará buscar aquilo que desejamos para satisfazer nossas necessidades. Essa atividade, também chamada movimento, irá desenvolver as áreas motoras, afetivas e cognitivas. E esses três fatores juntos farão surgir o impulso da expressão humana. Então, esta conexão, aliada aos traços culturais do indivíduo, origina o impulso da dança, pois cada movimento dessa atividade é um conjunto de idéias, emoções, sensações e estado de espírito. “A experiência motora permite observar e analisar as ações humanas propiciando o desenvolvimento expressivo que é o fundamento da expressão estética” (BRASIL, 2000, p.70). No sentido social a dança traz a união coletiva de pessoas, que num mesmo momento se dedicam de forma total a essa atividade, redescobrindo a beleza do movimento e fortalecendo suas potencialidades motoras e expressivas. Com relação aos aspectos intelectuais e filosóficos, a dança da mesma forma que as outras artes, dá condições para que o ser humano desenvolva uma visão crítica e reflexiva do mundo, adquirindo assim uma postura autônoma e criativa. 32 Baseada nessas questões, acredito, que é importante desenvolver na criança através do ensino da Dança, o conhecimento de que ela pode através do movimento expressar uma intencionalidade, um pensamento, um desejo. Ela precisa compreender que não se deve usar o movimento para exaltar o corpo, mas sim, para demonstrar, para dizer com o corpo o que o espírito sente. Para isso o ensino da dança não pode ser fechado em si mesmo, mas aberto às infinitas possibilidades. Nessa perspectiva de dispensar a padronização, ditada pelo caminho historicamente percorrido pela dança, seu ensino deve ultrapassar a questão de se ensinar a técnica puramente dita, e preocupar-se mais com a formação artística, a ação cultural, com o auxílio correto ao desenvolvimento saudável da criança e com atividade lúdica. A criança é, por natureza, ativa, e a necessidade dela mover-se está ligada às exigências de seu desenvolvimento psíquico e físico. Assim o desenvolvimento criativo do movimento corporal implica na disponibilidade de um amplo repertório de movimentos. Desse modo, em conformidade com os aspectos criativos e artísticos, o profissional que se propõem a ensinar a dança, precisa estabelecer estratégias que auxiliem os alunos a experimentar, criar, executar e se expressar. Ao planejar as aulas, o professor deve considerar o desenvolvimento da criança, observar suas naturais. Deve ações e estimular habilidade a pesquisa consciente a fim de ampliar o repertório gestual, capacitar o corpo para o movimento, dar sentido e organização às suas potencialidade. Deve estimular o aluno a reconhecer ritmos - corporais externos -, explorar o espaço, inventar seqüências de movimento, explorar as imaginação, desenvolver seu sentido de forma e linha e se relacionar com os outros alunos buscando dar forma e 33 sentido às suas pesquisas de movimento. Esses devem ser elementos básicos para introduzir o aluno na linguagem da dança. (BRASIL, 2000, p. 68) Segundo Strazzacappa (2001, p. 45) a figura do “professor de dança” aqui no ocidente, surgiu no final do século XII, quando as danças foram transmitidas das aldeias aos salões da aristocracia, pelos artistas troubadours (trovadores) que se apresentavam e ensinavam a nobreza a dançar. Os gestos naturais dos aldeões se transformaram em gestos extremamente requintados e com códigos de comportamentos da nobreza. Luís XIV, grande incentivador da dança espetacular, financiou muitas apresentações de dança e fundou teatros do Palais Royal. Vale ressaltar, que mais do que a dança em si, Luís XIV, divulgava padrões de etiquetas, que até hoje são procurados pelos pais que matriculam seus filhos nas escolas de balé. Como se pode verificar, a profissão do “professor de dança”, nasceu da relação da dança com a corte. Quanto às danças populares, essas até então tinham o professor como dispensável, e eram aprendidas pela transmissão oral. Hoje em dia, esse professor de dança assume novas funções, e mais do que um simples reprodutor de passos marcados e sistematizados, ele deve ser um criador. E levar em consideração que “o que interessa como conteúdo da dança escolar são os elementos da linguagem criativa por meio do movimento” (STRAZZACAPPA, 2001, p. 47). Para mostrar a abrangência com relação as diferentes formas de manifestação e aplicação da linguagem da dança, Strazzacappa (2001, p. 43) apresenta uma síntese: A dança nas escolas da rede de ensino, como propiciadora de expressão da criança por meio do movimento, de descoberta do corpo expressivo (dança dita “educativa”); A dança ensinada em escolas especializadas, como conservatórios e academias, com técnicas de dança específicas para a formação do artista 34 profissional que irá atuar em companhias profissionais de dança, em teatro, cinema, televisão, shows, etc.; A dança, em seu aspecto terapêutico e social, ou seja, como atividade terapêutica e social em programas de apoio a desfavorecidos, sejam menores de rua, adolescentes infratores, ex-farmacodependentes, crianças vítimas de violências de todos os tipos; A dança como recreação, ensinada e praticada por indivíduos como forma de lazer, por puro prazer de dançar, por divertimento; A dança como manifestação de uma determinada cultura, que compreende o rito, a religião, as festas populares, as cerimônias. 3.3. A Dança e o Desenvolvimento do Aluno com Síndrome de Down Como já sabemos, a dança é a linguagem do corpo em movimento. Através dela, todo e qualquer ser humano exprime sensações, sentimentos, emoções e até mesmo, pensamentos. E sendo muito mais do que simplesmente repetir passos e coreografias pré-determinadas, possibilita que tanto o professor, quanto o aluno crie e mostre o que um ser humano pode ser capaz de fazer, quando lhes são dadas oportunidades. Pôr isso mesmo, o olhar sobre um espetáculo de dança onde há a presença de pessoas com deficiências, deve ser um olhar sem preconceitos, e percebedor de que mais importante do que o produto final é todo o seu processo de criação e construção. Biglia de Pau (2002, p. 107) afirma que cada pessoa tem identidade própria e maneiras específicas de desempenho, como também potencial, que se bem trabalhado, permitirá uma auto-realização. Assim, para desenvolver o conhecimento e controle do corpo, a independência e a confiança dos alunos com Síndrome de Down, nada melhor do que a dança. A dança desvinculada de normas rígidas de elaboração e execução promove o desenvolvimento do processo de livre expressão e criação, tão 35 enriquecedor para o ser humano de modo geral. E esse processo de livre criação, resultará numa capacidade de ousar com o corpo, criando diferentes formas de movimentos, que por sua vez estimulará o conhecimento corporal, o desenvolvimento do equilíbrio e da coordenação motora, bem como propiciará a autoconfiança, a auto-estima e outros aspectos psicológicos que auxiliarão na eliminação de preconceitos com relação a pessoas com necessidades educacionais especiais (BIGLIA DE PAU, 2002, p. 108). A dança para pessoas com necessidades educacionais, que no caso da minha pesquisa, são alunos com Síndrome de Down, promoverá um conhecimento mais amplo do conceito de beleza e estética, desafiando a padronização e até robotização ainda vigente no mundo atual. Freire (2002, p. 63) diz, no seu trabalho com pessoas cegas, que buscou “através da dançaeducação, proporcionar a essas pessoas outras experiências que lhes possibilitassem a apropriação das qualidades de beleza”. E partindo da idéia de que a beleza está nos olhos de quem vê, acredito que para as demais pessoas que não possuem supostamente nenhum tipo de deficiência, só mesmo uma boa dose de sensibilidade as fará enxergar além do ato de somente ver. Enxergar implica em abrir-se a novas formas de viver e conviver com o outro. Entendo que são as diferenças que tornam as relações humanas mais intensas, interessantes e apreciáveis. Infelizmente, não só na dança ou em outra linguagem da arte, mas em todo o setor da sociedade, o que vemos são padrões de beleza ditados por aqueles que de alguma maneira se destacaram socialmente ou detém o poder. E essa insossa padronização nos modos de falar, agir, vestir e por aí vai, é claramente legitimada por parte da mídia, que reforça sempre a idéia de um consumo desmedido. Entretanto, como o mundo está em constante mutação é possível que a sociedade passe, mesmo como tem sido, de maneira lenta, a compreender o real sentido da beleza, que nada mais é do que os sentimentos e as emoções que guardamos dentro de nós. Entendendo que a criança necessita de movimento para descobrir o mundo e assim aprender e apreender conhecimentos, a dança pode muito bem ser incorporada ao conteúdo das escolas. Segundo Neves (2002, p. 66), é 36 comum encontrar nas grandes cidades, hoje em dia, crianças que se destacam nas matérias como lingüística e matemática, mas que demonstram poucas habilidades motoras, espaciais e perceptivas. Isso se dá, devido à falta de locais adequados para essas crianças brincarem e se desenvolverem. O trabalho corporal feito através de uma proposta de dança criativa e estética, precisa ter como ponto de partida a observação e análise do repertório dos movimentos dos próprios alunos, que naturalmente, já é bastante rico. Com o objetivo de conservar a espontaneidade e a alegria que o domínio lhes propicia, podem ser oferecidas estratégias que desenvolvam nos alunos suas habilidades física e criativas, integrando-as no nível cognitivo. (NEVES, 2000, p. 68). Para Neves (2000, p. 70) “a dança é prazerosa e não competitiva”. Logo, como caminho para a inclusão, pode não só juntar num mesmo espaço, pessoas com ou sem algum tipo de deficiência. A dança é uma linguagem sem limites, ou fronteiras, pois não exclui nenhuma pessoa com relação às ordens econômicas, sociais ou culturais. Até porque, ela é uma manifestação artística dos povos que habitam a terra, desde a chegada do ser humano nela. A dança vem para romper limites e estabelecer novas descobertas. E como proposta de trabalho para crianças com Síndrome de Down, existem objetivos que podem ser alcançados com o seu ensino. Ela pode favorecer o desenvolvimento da auto-estima e estimular a criatividade; promover a inserção e a interação social; despertar o gosto pela dança, pelo movimento, pela música; desenvolver o espírito de cooperação e incentivar a busca de alternativas para o preenchimento compartilhado dos momentos livres, tornando-os prazerosos. Enfim, a dança também pode e deve ser articulada em conjunto com as outras linguagens da arte, para auxiliar nos programas ou projetos que visem o desenvolvimento processo de ensino aprendizagem. 37 CONCLUSÃO Com essa monografia busquei conhecer sobre o universo das linguagens artísticas, em especial a dança, e como esta linguagem pode contribuir para o desenvolvimento e a inclusão social do aluno com Síndrome de Down. Assim, realizei uma pesquisa bibliográfica que embasou todo o meu trabalho, onde pude refletir sobre as proposta de uma Educação Inclusiva. Através da leitura das leis e dos teóricos que defendem a inclusão, me foi possível notar que muito pouco tem sido feito pelas escolas regulares. Alias, há divergências entre as leis decretadas, os pressupostos teóricos e o que é cumprido na prática. Ou seja, mesmo já havendo leis específicas, educadores que defendem essa proposta, muitas escolas e professores se dizem despreparados para lidarem com alunos com necessidades educacionais especiais. Ora, se o discurso for sempre esse e a sociedade não se mobilizar, pouca coisa será feita para os próximos anos. Com esse trabalho pude verificar o quanto a Dança pode contribuir para o processo de ensino-aprendizagem, na medida em que trabalha o corpo e a mente dos alunos, mobilizando de forma integrada aspectos cognitivos, afetivos, sociais. Ela proporciona aos alunos a descoberta de como podem ser também, sujeitos ativos, participativos e criadores. Como conseqüência, além do desenvolvimento motor, cognitivo, mental e emocional, lhes são propiciados momentos de alegria e satisfação, não muito encontrados numa sociedade que está mais preocupada com resultados imediatos e digamos assim, “perfeitos”. Enfim, espero ter conseguido mostrar um pouco desse lado belo, sensível e harmonioso que tem a linguagem da dança, em especial, a dança inclusiva, que está bem distante dos modelos padronizados e ainda tão valorizados em vários setores da sociedade. Infelizmente as pessoas que dessa sociedade fazem parte, muitas vezes, não enxergam que todos somos diferentes, e que cada um tem habilidades em algumas áreas e deficiências em outras. 38 BIBLIOGRAFIA ARANHA, Maria S. F. Integração e inclusão: conceitos e objetos da intervenção. Disponível em:<http:/www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2002/feei/teimp.htm. Acesso em: 24/04/2003. __________. Educação especial: uma leitura sócio-histórica. Disponível em:<http:/www.tvebrasil.com.br/salto/boletims2002/feei/tetxtl.htm. Acesso em: 12/2/2004. __________ (org.). Educação Inclusiva: a escola, Vol. 3. IN: BRASIL. Ministério da Secretaria e do Desporto. Secretaria de educação Especial. Brasília, MEC/SEEP, 2004. __________ (org.) 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