Livros Obrigatórios UNICAMP 2015
Sonetos - Camões
AUTOR
Luís Vaz de Camões (1524 - 1579 ou 1580), poeta de Portugal, é considerado uma das maiores figuras da
literatura em língua portuguesa e um dos grandes poetas do Ocidente.
Pouco se sabe com certeza sobre a sua vida. Frequentou a corte de D. João III, iniciou a sua carreira como
poeta lírico e envolveu-se em amores com damas da nobreza e, possivelmente, plebeias, além de levar uma vida
boêmia e turbulenta. Acredita-se que, por conta de um amor frustrado, exilou-se na África, alistado como militar,
onde perdeu um olho em batalha. Voltando a Portugal, feriu um servo do Paço e foi preso. Perdoado, partiu para o
Oriente, passando lá vários anos, enfrentou uma série de adversidades, foi preso várias vezes, combateu ao lado das
forças portuguesas e escreveu a sua obra mais conhecida, a epopeia nacionalista Os Lusíadas. De volta à pátria,
publicou Os Lusíadas e recebeu uma pequena pensão do rei D. Sebastião pelos serviços prestados à Coroa, embora
tenha, nos seus anos finais, enfrentado dificuldades financeira.
Camões foi um renovador da língua portuguesa e fixou-lhe um duradouro cânone; tornou-se um dos mais
fortes símbolos de identidade da sua pátria e é uma referência para toda a comunidade lusófona internacional. Hoje,
sua fama está solidamente estabelecida e é considerado um dos grandes vultos literários da tradição ocidental,
sendo traduzido para várias línguas e tornando-se objeto de uma vasta quantidade de estudos críticos.
MOVIMENTO LITERÁRIO (Classicismo)
O Classicismo espalhou-se rapidamente pela Europa com a criação da imprensa, pois as informações eram
divulgadas com maior rapidez. Ocorreu dentro de um grandioso momento histórico social, o Renascimento,
período de renovação, momento de grandes transformações culturais, políticas e econômicas.
Esse período foi marcado pelas grandes navegações, o desenvolvimento da matemática, o estudo das
línguas e o surgimento das primeiras gramáticas, originando, assim, o antropocentrismo (―Homem como centro do
Universo‖) em substituição ao teocentrismo (―Deus como centro do Universo‖) da Idade Média.
Os escritores classicistas retomaram a ideia de que a arte deve fundamentar-se na razão, que controla a
expressão das emoções. Por isso, buscavam o equilíbrio entre os sentimentos e a razão, procurando alcançar uma
representação universal da realidade, desprezando o que fosse puramente ocasional ou particular. Os versos deixam
de ser escritos em redondilhas (cinco ou sete sílabas poéticas) – que passa a ser chamada medida velha – e passam
a ser escritos em decassílabos (dez sílabas poéticas) – que recebeu a denominação de medida nova. Além disso,
introduz-se o soneto, 14 versos decassilábicos distribuídos em dois quartetos e dois tercetos.
Em 1527, quando Francisco Sá de Miranda retornava a Portugal, vindo da Itália, trazendo o doce estilo
novo (soneto + medida nova).
No Brasil Colônia, o Classicismo português do período cultista também influenciou a literatura, como por
exemplo na obra Prosopopeia de Bento Teixeira, que imitava os versos de Camões, até meados do século XVIII,
quando surgiria uma literatura nacional ou brasileira.
TEXTOS DA OBRA
005
Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
003
Busque Amor novas artes, novo engenho,
para matar me, e novas esquivanças;
que não pode tirar me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.
Que dias há que n'alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói não sei porquê.
092
Mudam se os tempos, mudam se as vontades,
muda se o ser, muda se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria, e, enfim,
converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía.
133
O tempo acaba o ano, o mês e a hora,
a força, a arte, a manha, a fortaleza;
o tempo acaba a fama e a riqueza,
o tempo o mesmo tempo de si chora.
Tempo busca e acaba o onde mora
qualquer ingratidão, qualquer dureza;
mas neo pode acabar minha tristeza,
enquanto não quiserdes vós, Senhora.
O tempo o claro dia torna escuro,
e o mais ledo prazer em choro triste;
o tempo a tempestade em grã bonança.
1
Mas de abrandar o tempo estou seguro
o peito de diamante, onde consiste
a pena e o prazer desta esperança.
018
Quando o Sol encoberto vai mostrando
ao mundo a luz quieta e duvidosa,
ao longo de üa praia deleitosa,
vou na minha inimiga imaginando.
Aqui a vi, os cabelos concertando;
ali, co a mão na face tão fermosa;
aqui, falando alegre, ali cuidosa;
agora estando queda, agora andando.
Aqui esteve sentada, ali me viu,
erguendo aqueles olhos tão isentos;
aqui movida um pouco, ali segura;
Qui se entristeceu, ali se riu;
enfim, nestes cansados pensamentos
passo esta vida vã, que sempre dura.
016
Se as penas com que Amor tão mal me trata
quiser que tanto tempo viva delas
que veja escuro o lume das estrelas
em cuja vista o meu se acende e mata;
E se o tempo, que tudo desbarata,
secar as frescas rosas sem colhê-las,
mostrando a linda cor das tranças belas
mudada de ouro fino em bela prata;
Vereis, Senhora, então também mudado
o pensamento e aspereza vossa,
quando não sirva já sua mudança.
Suspirareis então pelo passado,
em tempo quando executar-se possa
em vosso arrepender minha vingança.
030
Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia ao pai, servia a ela,
e a ela só por prémio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
passava, contentando se com vê la;
porém o pai, usando de cautela,
em lugar de Raquel lhe dava Lia.
lhe fora assi negada a sua pastora,
como se a não tivera merecida;
Começa de servir outros sete anos,
dizendo: —Mais servira, se não fora
para tão longo amor tão curta a vida.
012
Vossos olhos, Senhora, que competem
co Sol em fermosura e claridade,
enchem os meus de tal suavidade
que em lágrimas, de vê-los, se derretem.
Meus sentidos vencidos se sometem
assi cegos a tanta majestade;
e da triste prisão, da escuridade,
cheios de medo, por fugir remetem.
Mas se nisto me vedes por acerto,
o áspero desprezo com que olhais
torna a espertar a alma enfraquecida.
Ó gentil cura e estranho desconcerto!
Que fará o favor que vós não dais,
quando o vosso desprezo torna a vida?
Vendo o triste pastor que com enganos
EXERCÍCIOS
1. (Pucrs 2013) Compare o poema de Camões e o poema ―Encarnação‖, leia as afirmativas que seguem e preencha os
parênteses com V para verdadeiro e F para falso.
Poema 1
Transforma-se o amador na cousa amada,
por virtude do muito imaginar;
não tenho, logo, mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.
Mas esta linda e pura semideia,
que, como o acidente em seu sujeito,
assim coa alma minha se conforma,
Está no pensamento como ideia;
[e] o vivo e puro amor de que sou feito,
como a matéria simples busca a forma.
Se nela está minha alma transformada,
que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
pois consigo tal alma está liada.
Poema 2
Carnais, sejam carnais tantos desejos,
carnais, sejam carnais tantos anseios,
palpitações e frêmitos e enleios,
das harpas da emoção tantos arpejos...
Sonhos, que vão, por trêmulos adejos,
à noite, ao luar, intumescer os seios
láteos, de finos e azulados veios
de virgindade, de pudor, de pejos...
Sejam carnais todos os sonhos brumos
de estranhos, vagos, estrelados rumos
onde as Visões do amor dormem geladas...
Sonhos, palpitações, desejos e ânsias
formem, com claridades e fragrâncias,
a encarnação das lívidas Amadas!
(
(
(
(
) Os dois poemas falam mais sobre o sentimento do amor do que sobre o objeto amado.
) No poema de Camões, o amor figura-se no campo das ideias.
) Quanto à forma, os dois poemas são sonetos.
) O título ―Encarnação‖ contém uma certa ambiguidade, aliando um sentido espiritual a um erótico.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é:
a) F–F–V–F
b) V–V–F–V
c) V–F–V–F
d) V–V–V–V
e) F–V–F–F
2. (Pucrs 2013) Leia o poema a seguir, de Luís de Camões.
Transforma-se o amador na cousa amada,
por virtude do muito imaginar;
não tenho, logo, mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela está minha alma transformada,
2
que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
pois consigo tal alma está liada.
Está no pensamento como ideia;
[e] o vivo e puro amor de que sou feito,
como a matéria simples busca a forma.
Mas esta linda e pura semideia,
que, como o acidente em seu sujeito,
assim coa alma minha se conforma,
Com base no poema e em seu contexto, afirma-se:
I. Criado no século XVI, o poema apresenta um eu lírico que reflete sobre o amor e sobre os efeitos desse sentimento no ser
apaixonado.
II. Camões é também o criador de Os Lusíadas, a mais famosa epopeia produzida em língua portuguesa, que tem como
grande herói o povo português, representado por Vasco da Gama.
III. Uma das características composicionais do poema é a presença de inversões sintáticas.
A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são
a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas. d) II e III, apenas.
e) I, II e III.
3. (Ufpe 2013) A poesia lírica é o espaço ideal para a temática do amor, desde a antiguidade clássica até a atualidade. Mudamse os tempos, as ideologias, e o amor continua um sentimento indecifrável e paradoxal. Daí ser motivo dos dois poemas que
seguem. Leia-os e analise as proposições que a eles se referem.
Sete anos de pastor Jacó servia
Sete anos de pastor Jacó servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prêmio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora,
Como se não a tivera merecida,
Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: – Mais servira se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida!
(Camões)
Soneto de Fidelidade
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
(Vinícius de Moraes)
( ) Nos dois poemas, pertencentes, respectivamente, ao Classicismo e ao Romantismo, o tema do amor é trabalhado
numa forma fixa.
( ) São dois sonetos que mantêm relação de intertextualidade, pois o segundo retoma o primeiro em sua forma e em
seu conteúdo.
( ) Nos dois poemas, a concepção de amor é diversa, pois o primeiro expressa a finitude desse sentimento, e o segundo,
ao contrário, apresenta-o como eterno.
(
) No último verso de seu poema, Camões usa uma antítese para dar conta da idealização do amor. Vinicius de
Moraes, nos dois últimos versos do segundo quarteto, recorre também a oposições, que expressam o desejo de viver o
sentimento amoroso em todos os momentos.
(
) Enquanto o segundo soneto apresenta uma concepção do amor mais fiel à vivência dos afetos no século XX, o
primeiro traz uma visão platônica idealizada do sentimento amoroso, própria do Classicismo do século XVI.
4. (Insper 2012)
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria, e, enfim,
converte em choro o doce canto.
3
E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
Luís Vaz de Camões
que não se muda já como soía*.
*soía: Imperfeito do indicativo do verbo soer, que significa costumar, ser de costume
Assinale a alternativa em que se analisa corretamente o sentido dos versos de Camões.
a) O foco temático do soneto está relacionado à instabilidade do ser humano, eternamente insatisfeito com as suas condições de
vida e com a inevitabilidade da morte.
b) Pode-se inferir, a partir da leitura dos dois tercetos, que, com o passar do tempo, a recusa da instabilidade se torna maior,
graças à sabedoria e à experiência adquiridas.
c) Ao tratar de mudanças e da passagem do tempo, o soneto expressa a ideia de circularidade, já que ele se baseia no postulado
da imutabilidade.
d) Na segunda estrofe, o eu lírico vê com pessimismo as mudanças que se operam no mundo, porque constata que elas são
geradoras de um mal cuja dor não pode ser superada.
e) As duas últimas estrofes autorizam concluir que a ideia de que nada é permanente não passa de uma ilusão.
5. (Enem 2012)
Leda serenidade deleitosa,
Que representa em terra um paraíso;
Entre rubis e perlas doce riso;
Debaixo de ouro e neve cor-de-rosa;
Presença moderada e graciosa,
Onde ensinando estão despejo e siso
Que se pode por arte e por aviso,
Como por natureza, ser fermosa;
LXXVIII (Camões, 1525?-1580)
Fala de quem a morte e a vida pende,
Rara, suave; enfim, Senhora, vossa;
Repouso nela alegre e comedido:
Estas as armas são com que me rende
E me cativa Amor; mas não que possa
Despojar-me da glória de rendido.
CAMÕES, L. Obra completa. Rio de janeiro: Nova
Aguilar, 2008.
A pintura e o poema, embora sendo produtos de duas linguagens artísticas diferentes, participaram do mesmo
contexto social e cultural de produção pelo fato de ambos
a) apresentarem um retrato realista, evidenciado pelo unicórnio presente na pintura e pelos adjetivos usados no poema.
b) valorizarem o excesso de enfeites na apresentação pessoa e na variação de atitudes da mulher, evidenciadas pelos adjetivos
do poema.
c) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela sobriedade e o equilíbrio, evidenciados pela postura, expressão e
vestimenta da moça e os adjetivos usados no poema.
d) desprezarem o conceito medieval da idealização da mulher como base da produção artística, evidenciado pelos adjetivos
usados no poema.
e) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela emotividade e o conflito interior, evidenciados pela expressão da
moça e pelos adjetivos do poema.
Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio;
O mundo todo abarco e nada aperto.
É tudo quanto sinto um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora certo.
Estando em terra, chego ao Céu voando;
Numa hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar uma hora.
4
Se me pergunta alguém por que assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
(www.fredb.sites.uol.com.br/lusdecam.htm)
Que só porque vos vi, minha Senhora.
6. (G1 - ifsp 2012) Considere:
• ardor x frio
• choro x rio
• abarco x nada aperto
Esses jogos de palavras, exemplos do pré-Barroco na poesia de Camões, constituem
a) eufemismos que revelam o sofrimento do eu lírico.
b) antíteses que confirmam o desconcerto do eu lírico.
c) sinestesias que marcam as contradições do eu lírico.
d) hipérboles que exageram o sofrimento do eu lírico.
e) metáforas que comparam a dor com a vida do eu lírico.
7. (Enem 2ª aplicação 2010) Texto I - XLI
Ouvia:
Que não podia odiar
E nem temer
Porque tu eras eu.
E como seria
Odiar a mim mesma
E a mim mesma temer.
HILST, H. Cantares. São Paulo: Globo, 2004).
Texto II - Transforma-se o amador na cousa amada
Transforma-se o amador na cousa amada,
por virtude do muito imaginar;
não tenho, logo, mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.
Camões. Sonetos. Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br.
Nesses fragmentos de poemas de Hilda Hilst e de Camões, a temática comum é
a) o ―outro‖ transformado no próprio eu lírico, o que se realiza por meio de uma espécie de fusão de dois seres em um só.
b) a fusão do ―outro‖ com o eu lírico, havendo, nos versos de Hilda Hilst, a afirmação do eu lírico de que odeia a si mesmo.
c) o ―outro‖ que se confunde com o eu lírico, verificando-se, porém, nos versos de Camões, certa resistência do ser amado.
d) a dissociação entre o ―outro‖ e o eu lírico, porque o ódio ou o amor se produzem no imaginário, sem a realização concreta.
e) o ―outro‖ que se associa ao eu lírico, sendo tratados, nos Textos I e II, respectivamente, o ódio o amor.
Texto I
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
Camões
Texto II
Amor é fogo? Ou é cadente lágrima?
Pois eu naufrago em mar de labaredas
Que lambem o sangue e a flor da pele acendem
Quando o rubor me vem à tona d'água.
E como arde, ai, como arde, Amor,
Quando a ferida dói porque se sente,
E o mover dos meus olhos sob a casca
Vê muito bem o que devia não ver.
Ilka Brunhilde Laurito
8. (Mackenzie) Assinale a alternativa correta sobre o texto II.
a) A liberdade formal dos quartetos, associada à contenção emotiva, é índice da influência parnasiana.
b) Por seguir os princípios estéticos clássicos, sua expressão é de teor mais universalista que individualista.
c) O caráter reflexivo das interrogativas iniciais impede que a linguagem seja marcada por índices de emotividade.
d) Recupera, do estilo camoniano, a preferência por imagens paradoxais, como, por exemplo, mar de labaredas.
e) Vale-se de recursos estilísticos conquistados pelos modernistas, como, por exemplo, versos decassílabos e expressão
coloquial.
9. (Mackenzie) Assinale a alternativa correta sobre o texto I.
a) Expressa as vivências amorosas do "eu" lírico em linguagem emotivo-confessional.
b) Apresenta índices de linguagem poética marcada pelo racionalismo do século XVI.
c) Conceitua o amor de forma unilateral, revelando o intenso sofrimento do coração apaixonado.
d) Notam-se, em todos os versos, imagens poéticas contraditórias, criadas a partir de substantivos concretos.
e) Conceitua positivamente o amor correspondido e, negativamente, o amor não-correspondido.
10. (Mackenzie) Assinale a alternativa correta.
a) O texto I, com sua regularidade formal, recupera do texto II o rígido padrão da estética clássica.
b) Os dois textos, ao negarem uma concepção carnal do amor, enaltecem o platonismo amoroso.
c) O texto I e o texto II são convergentes no que se refere à concepção do sentimento amoroso.
d) O texto II contesta o texto I no que se refere ao ponto de vista sobre o amor.
5
e) Os dois textos convergem quanto à forma e à linguagem, mas divergem quanto ao conteúdo.
11. (Unicamp) Leia o seguinte soneto de Camões:
Oh! Como se me alonga, de ano em ano,
a peregrinação cansada minha.
Como se encurta, e como ao fim caminha
este meu breve e vão discurso humano.
Vai-se gastando a idade e cresce o dano;
perde-se-me um remédio, que inda tinha.
Se por experiência se adivinha,
qualquer grande esperança é grande engano.
Corro após este bem que não se alcança;
no meio do caminho me falece,
mil vezes caio, e perco a confiança.
Quando ele foge, eu tardo; e, na tardança,
se os olhos ergo a ver se inda parece,
da vista se me perde e da esperança.
a) Na primeira estrofe, há uma contraposição expressa pelos verbos "alongar" e "encurtar". A qual deles está associado o
cansaço da vida e qual deles se associa à proximidade da morte?
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b) Por que se pode afirmar que existe também uma contraposição no interior do primeiro verso da segunda estrofe?
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c) A que termo se refere o pronome "ele" da última estrofe?
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12. (Ufrgs) Leia o soneto a seguir, de Luís de Camões.
Um mover de olhos, brando e piedoso,
sem ver de quê; um riso brando e honesto,
quase forçado, um doce e humilde gesto,
de qualquer alegria duvidoso;
um despejo quieto e vergonhoso;
um desejo gravíssimo e modesto;
uma pura bondade manifesto
indício da alma, limpo e gracioso;
um encolhido ousar, uma brandura;
um medo sem ter culpa, um ar sereno;
um longo e obediente sofrimento:
Esta foi a celeste formosura
da minha Circe, e o mágico veneno
que pôde transformar meu pensamento.
Em relação ao poema acima, considere as seguintes afirmações.
I - O poeta elabora um modelo de mulher perfeita e superior, idealizando a figura feminina.
II - O poeta não se deixa seduzir pela beleza feminina, assumindo uma atitude de insensibilidade.
III - O poeta sugere o desejo erótico ao se referir à figura mitológica de Circe.
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas III.
c) Apenas I e II.
d) Apenas I e III. e) I, II e III.
13. (Fuvest)
Quando da bela vista e doce riso,
tomando estão meus olhos mantimento,1
tão enlevado sinto o pensamento
que me faz ver na terra o Paraíso.
Tanto do bem humano estou diviso,2
6
que qualquer outro bem julgo por vento;
assi, que em caso tal, segundo sento,3
assaz de pouco faz quem perde o siso.
Em vos louvar, Senhora, não me fundo,4
porque quem vossas cousas claro sente,
sentirá que não pode merecê-las.
Que de tanta estranheza sois ao mundo,
que não é d'estranhar, Dama excelente,
que quem vos fez, fizesse Céu e estrelas.
(Camões, ed. A.J. da Costa Pimpão)
1 Tomando mantimento - tomando consciência. 2 Estou diviso - estou separado, apartado.
3 Sento - sinto.
4 Não me fundo - não me empenho.
a) Caracterize brevemente a concepção de mulher que este soneto apresenta.
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b) Aponte duas características desse soneto que o filiam ao Classicismo, explicando-as sucintamente.
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GABARITO
1-D
Verdadeiro. Os dois poemas falam do amor distante e irrealizável, entre o desejo e a idealização.
Verdadeiro. O poema de Camões trata a amada à moda do platonismo neoclássico. Portanto, o amor será sempre
distante e idealizado.
Verdadeiro. Os dois poemas são sonetos, pois são compostos por dois quartetos e dois tercetos com versos
decassílabos.
Verdadeiro. O título Encarnação tem a ver com o sentido espiritual idealizador e com o sentido mais sensual
característicos do Simbolismo.
2-E
[I] Correta. O poema faz parte da lírica camoniana composta no século XVI.
[II] Correta. Camões é autor de Os Lusíadas, obra baseada nas epopeias clássicas, foi composta em versos
decassílabos para narrar o nascimento de um povo e de uma nação, quando são celebrados pela coragem e pela ousadia das
navegações.
[III] Correta. As inversões sintáticas são recursos estilísticos bastante utilizados pelo poeta.
3- F – V – F – V – V.
Primeira afirmação: incorreta. O primeiro poema pertence ao Classicismo e o segundo, ao Modernismo.
Terceira afirmação: incorreta. O segundo poema expressa a finitude do sentimento amoroso.
4-D
A primeira estrofe apresenta uma generalização filosófica: a inconstância faz parte de tudo que existe (―todo o mundo
é composto de mudança‖), devido a permanente instabilidade do mundo exterior e interior do ser humano (―Mudam-se os
tempos, mudam-se as vontades‖). Assim, não é específica do homem, nem do grau de experiência que vai adquirindo ao longo
da vida, como se afirma em [A] e [B]. Tampouco as opções [C] e [E] analisam corretamente o sentido dos versos de Camões,
pois a ideia de circularidade presente nas últimas estrofes confirma a constância das transformações a ponto de que nem a
própria mudança acontece sempre da mesma forma e no mesmo ritmo. Assim, é correta apenas [D], já que a segunda estrofe
apresenta um eu lírico desiludido que vê o seu ―doce canto‖ convertido em triste ―choro‖.
5-C
Os adjetivos ―leda‖, ―deleitosa‖, ―doce‖, ―graciosa‖, ―fermosa‖ e ―rara‖ refletem a visão idealizada da mulher, mas
sem o exagero de emotividade característico do Romantismo. Ao contrário deste, a estética clássica defende a contenção
emocional e privilegia o equilíbrio e a sobriedade, características sugeridas nos termos ―moderada‖ e ―suave‖ referindo-se à
imagem feminina, e na expressão ―alegre e comedido‖ com que se define o eu lírico. Assim, é correta a opção [C].
6-B
Trata-se de antítese, figura de linguagem que consiste na aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos.
Recurso especialmente utilizado pelos autores do período Barroco, estabelece jogos de contraste que enfatizam os conceitos
envolvidos e realçam a expressividade.
7
7-A
Ambos os poemas refletem conceitos do platonismo amoroso. Para Platão, as realidades concretas deste mundo, dito
mundo sensível, são sombras das ideias que existem no mundo inteligível, reminiscências de um mundo ideal a que
volveremos após a morte. Em Cantares de Hilda Hilst, o eu lírico afirma não poder odiar nem temer o outro, já que o outro é o
ser em que ele mesmo se transformou em virtude da idealização amorosa (―Porque tu eras eu‖). Camões também compartilha
da ideia de que o amor torna os amantes inseparáveis, fazendo-os voltar à ―antiga condição‖ de ser uno e perfeito (―por virtude
do muito imaginar (...) em mim tenho a parte desejada‖).
8-D
9-B
10-D
11-
a) O verbo "alongar" associa-se a cansaço da vida. O "encurtar" relaciona-se à proximidade da morte.
b) Há no primeiro verso da segunda estrofe uma oposição entre "gastando" e "cresce". Quanto mais a idade avança, o
poeta aproxima-se do fim da vida.
c) O pronome "ele" refere-se ao vocábulo "bem".
12-D
13a) A mulher é vista não como uma companheira mas como um ser angelical. A beleza converte-se em Beleza pura,
que leva ao "mundo das ideias" e à divindade.
b) O soneto composto por dois quartetos e dois tercetos e a medida nova (versos decassílabos) são características do
Classicismo. Ainda, há figuras de linguagem como o hipérbato, a seleção lexical e outros.
REFERENCIAL TEÓRICO
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_de_Cam%C3%B5es
http://pt.wikipedia.org/wiki/Classicismo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Literatura_classicista
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Resumo do livro Sonetos - Camões - Cursinho Gratuito Primeiro de