UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI TIAGO AGUIL CAETANO REFORÇO DE VIGAS DE CONCRETO COM FIBRA DE CARBONO São Paulo 2008 ii TIAGO AGUIL CAETANO Reforço de Vigas de Concreto com Fibra de Carbono Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Graduação do Curso de Engenharia Civil da Universidade Orientador: Professor MSc. Eng. Fernando José Relvas São Paulo 2008 iii TIAGO AGUIL CAETANO Reforço de Vigas de Concreto com Fibra de Carbono Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Graduação do Curso de Engenharia Civil da Universidade Trabalho Reforço de Vigas de Concreto com Fibra de Carbono: ____________________________________________ Orientador: Professor MSc. Eng. Fernando José Relvas ____________________________________________ Comentários:_____________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________ iv A DEUS, pelas graças concedidas, ontem, hoje e sempre Aos meus irmãos que ao meu lado sempre estarão. Aos amigos que compartilharam este caminho. Ao meu Pai, que sempre acreditou em mim. E ao meu anjo da guarda que chamo de Mãe v AGRADECIMENTOS SIKA S.A. – Na pessoa do Eng. Oto Guimarães, que possibilitou o acesso aos dados, manuais e amostras da Fibra de Carbono. EXATA ENGENHARIA. – Disponibilizando material didático e seus profissionais. Ao meu prof. Orientador Fernando José Relvas, pela atenção, dedicação e compromisso com o meu aprendizado. A Universidade Anhembi Morumbi, por todo conhecimento, oportunidades oferecidas e o respeito com que nos instruiu para trilhar novos caminhos. vi RESUMO Este trabalho apresenta uma técnica de reforço estrutural de vigas de concreto armado com aplicação de laminados e tecido de polímero reforçado com fibra de carbono (PRFC). O PRFC, por ter como uma de suas principais características uma excelente resistência a tração é usado para vários tipos de reforço estrutural, atendendo as inúmeras exigências imposta numa obra de reforço. O procedimento adotado foi o de colagem da fita de fibra de carbono com resina epóxi diretamente na peça de concreto a ser reforçada, de modo a incorporar a estrutura as características da fibra de carbono. Como estudo de caso foi analisada uma obra em que a estrutura apresentou problemas com relação ao dimensionamento estrutural, havendo a necessidade de ser contratar de outro escritório de calculo para chegar aos verdadeiros números de resistências, momentos e flechas. O escritório de reforço, avaliou todos os memoriais de cálculos para chegar na conclusão de se fazer um reforço estrutural com fibra de carbono. Também prevaleceu para a escolha da fibra, a necessidade de não mudar o pé-direito do pavimento, a agilidade do processo de reforço, já que a obra tinha se iniciado, e a garantia do sistema. A aplicação foi apresentada passo a passo, por meio de fotos ilustrativas, destacando a simplicidade e rapidez do sistema de reforço com fibra de carbono. Para a aplicação da fibra foi contratada mão de obra especializada, assim visando maior segurança ao procedimento Palavras Chave: Polímero Reforçado com Fibra de Carbono(PRFC), Fibra de Carbono, Reforço. vii ABSTRACT This work presents a technique for structural reinforcement of beams of reinforced concrete with application of polymer laminates reinforced with carbon fiber (PRFC). The PRFC, for having as one of its main features an excellent resistance to pull this material is used for various types of structural reinforcement, given the many requirements imposed on a reinforced work. The procedure adopted was a collage of the tape of carbon fiber with epoxy resin directly on the piece of concrete to be strengthened in order to incorporate the structure characteristics of carbon fiber. As a case study was considered a work in which the structure was disabled in structural calculations, and the need to be hired another office of calculation to get the real numbers of resistance, moments and arrows. The office-building, assessed all memorials of calculation to arrive at the conclusion of making a structural reinforcement with carbon fiber. Also prevailed in the choice of fiber, the need not change the ceiling height of the floor, the agility of the process of strengthening, since the work had started, and the security of the system. The application was presented step by step, through photos illustration, emphasizing the simplicity and speed of the system with carbon fiber reinforcement. For the application of the fiber was hired labor-specialized, thus giving greater security. Key Worlds: Polymer Laminates Reinforced with Carbon Fiber (PRFC), Carbon Fiber, Reinforcement. viii LISTA DE FIGURAS Figura 5.1: Perspectiva eletrônica e vista ampliada em microscópio...............................9 Figura 5.2: Diagrama Tensão x Deformação....................................................................9 Figura 5.3: Viga reforçada com fita de carbono..............................................................16 Figura 5.4: Operário lixando a superfície da viga com uma lixadeira.............................17 Figura 5.5: Ilustração dos tipos de reforços....................................................................19 Figura 5.6: Diagrama de domínios..................................................................................22 Figura 5.7: Diagrama de Tensão x Deformação do concreto a compressão.................22 Figura 5.8: Diagrama de Tensão x Deformação do aço.................................................23 Figura 6.1:Fissura na face inferior da viga......................................................................31 Figura 6.1.1: Valores do Coeficientes C em relação ao K e x/L......................................31 Figura 6.3.1.1: Ação estrutural na combinação viga-parede...........................................35 Figura 6.3.1.2: Resultados de análises numéricas de Stfford Smith...............................37 Figura 6.3.1.3: Distribuição vertical das tensões na interface parede-viga.....................39 Figura 6.3.1.4: Cálculos dos coeficientes a, g e B segundo variação de H/L.................40 Figura 6.3.1.5: Planta de estrutura do teto da transição V.214.......................................42 Figura 6.3.1.6: Vista da Parede TP 04............................................................................42 Figura 6.5.1: Corte da planta mostrando o pé direito do térreo.......................................48 Figura 6.6.1: Viga usada pelo programa de cálculo........................................................49 Figura 6.7.1: Laje reescorada para alívio das cargas na viga.........................................51 Figura 6.7.2: Funcionário lixando a superfície de aplicação...........................................52 Figura 6.7.3: Risco na superfície a ser colada................................................................53 Figura 6.7.4: Funcionários dosando os componentes da resina epóxi, e misturando em misturador mecânico.......................................................................................................54 Figura 6.7.5: Aplicação da resina na fita de carbono, com a caixa de passagem.........54 Figura 6.7.6: Aplicação do rolo metálico por toda a extensão da fita..............................55 Figura 6.7.7: Aplicação da fita de fibra de carbono na viga............................................55 Figura 6.7.8: Viga reforçada com duas fitas de fibra de carbono....................................56 ix Figura 6.7.9: Viga reforçada com cinco fitas de fibra de carbono...................................56 LISTA DE TABELAS Tabela 5.1: Propriedades das fibras de carbono a tração..............................................10 Tabela 5.2: Propriedades típicas das resinas mais usadas............................................12 Tabela 6.3.1: Comparação dos resultados dos três métodos mencionados e resultados experimentais..................................................................................................................41 Tabela 6.4.1:Vigas analisadas no Bloco 2 .....................................................................45 x LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BS Norma Britânica CFC Compósito de Fibra de Carbono ELU Estado Limite Último NBR Norma Brasileira Regulamentadora PAN Fibra de carbono a base de PoliacriloNil PICH Fibra de Carbono a base Alcatrão derivado do Petróleo PRF Polímero Reforçado com Fibra PRFC Polímero Reforçado com Fibra de Carbono Tg Temperatura de transição do carbono xi LISTA DE SÍMBOLOS Af Área da Fibra d Altura útil de uma viga E Módulo de Elasticidade Md Solicitação de Momento Projetado Rcd Parcela de resistência do concreto a compressão Rsd Parcela resistência do Aço a tração x Distancia da face superior a linha neutra Z Distancia entre as linhas de ação das reações Rsd e Rcd εc Deformação no Concreto εs Deformação no Aço εt Deformação Total Final εti Deformação Total inicial σcd Tensão no Concreto σsd Tensão no Aço xii SUMÁRIO 1.INTRODUÇÃO..........................................................................................................1 2 OBJETIVOS...............................................................................................................3 2.1. OBJETVO GERAL..............................................................................................3 2.2. OBJETIVO ESPECÍFICO..................................................................................3 3. MÉTODO DE TRABALHO...................................................................................4 4. JUSTIFICATIVA......................................................................................................5 5. O SISTEMA DE REFORÇO COM FIBRA DE CARBONO.........................6 5.1 ESTUDO DO CONCRETO ARMADO.............................................................6 5.2 CARACTERISTICAS DA FIBRA DE CARBONO........................................7 5.3 REFORÇO COM FIBRA DE CARBONO – APLICAÇÃO.......................14 5.3.1 REFORÇO DE VIGAS A FLEXÃO E AO CISALHAMENTO..............15 5.4 TIPOS DE REFORÇO.......................................................................................18 5.5 DIMENSIONAMENTO.......................................................................................20 5.6 EXEMPLOS..........................................................................................................25 6. REFORÇO DO ED. SPAZIO SAN LÁZZARO...............................................28 6.1 A ESTRUTURA...................................................................................................29 xiii 6.2 DETECÇÃO DO PROBLEMA.........................................................................31 6.3 AVALIAÇÃO DO PROBLEMA.......................................................................32 6.3.1 O EFEITO ARCO............................................................................................34 6.4 CONCLUSÃO PELO REFORÇO...................................................................43 6.5 OPÇÃO PELA FIBRA DE CARBONO.........................................................47 6.6 O DIMENSIONAMENTO E PROJETO.........................................................48 6.7 A APLICAÇÃO....................................................................................................51 7. CONCLUSÃO........................................................................................................57 8. ANÁLISE CRÍTICA...............................................................................................58 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................59 ANEXOS......................................................................................................................60 1 1. INTRODUÇÃO A viga é elemento fundamental em uma estrutura de concreto armado, por isso deve ser dimensionada à resistir os esforços solicitantes atendendo assim as necessidades do fim a que se destina. As estruturas de concreto armado são as mais utilizadas no Brasil, desde pequenas construções até as chamadas Obras de Arte. Sendo assim o número de ocorrências de deficiência de estruturas de concreto armado é freqüente. Outro motivo para o grande número de ocorrência de deficiências é a falta de controle da execução da estrutura, devido a mão de obra desqualificada, e a necessidade de atender as grandes demandas de projetos urgentes, fazendo com que o controle nos cálculos estruturais seja menos rigoroso em função do rendimento do trabalho. A deficiência em um cálculo de dimensionamento de uma viga de concreto armado pode ocasionar em comprometimento na estabilidade da estrutura chegando a ocasionar risco de vida. Por serem de extrema importância, na construção, esses erros devem ser tratados com a maior urgência e responsabilidade. Quando há uma deficiência na estrutura na qual o problema é o sub-dimensionamento da armadura tracionada, podemos em boa parte dos casos utilizar um método de reforço com Fibra de Carbono. O emprego desta técnica de PRFC(Polímero Reforçado com Fibra de Carbono) como elemento de recuperação, foi impulsionado inicialmente pela necessidade de uma alternativa ao aço em estruturas sujeitas a ambientes altamente corrosivos, e a mudança de dimensões iniciais das peças de concreto quando reforçadas por métodos convencionais. 2 Os métodos convencionais, como a adição de Concreto de Alta Resistência (CAD), armadura suplementar, aplicação de chapas de aço entre outros, trazem consigo a alta concentração de equipamentos, logística e complexa aplicação, ficando o PRFC, com o maior custo direto mas com fácil manuseio e aplicação, por isso hoje o PRFC, é considerado a alternativa mais moderna em reforço de estruturas de concreto. 3 2. OBJETIVOS Este trabalho propõe o aprofundamento em um sistema de reforço de estruturas inovador, a fibra de carbono, mostrando suas qualidades, vantagens, método de aplicação e noções de dimensionamento. As informações aqui encontradas serão de fácil entendimento e compreensão, procurando mostrar a sua eficiência para o uso no reforço de estruturas. 2.1. Objetivo Geral Serão analisados os aspectos os quais levarão uma estrutura de concreto armado a sofrer um reforço estrutural e a escolha do uso de Fibra de Carbono levando em conta seu desempenho em relação a outras formas de reforço mais convencionais. 2.2. Objetivo Específico Este trabalho aborda todos os aspectos técnicos da Fibra de Carbono, como agem em uma viga, os esforços solicitantes e combatidos por ela, e a necessidade do seu uso. A influência no custo direto e indireto da obra. Em decorrência do aumento do uso desta solução, o tipo de mão-de-obra utilizada, e seus processos de aplicação. Será apresentado um método de dimensionamento do reforço com fibra de carbono, bem como um exemplo prático, de forma simples para o fácil entendimento. 4 3. MÉTODO DE TRABALHO O trabalho foi desenvolvido e embasado em livros com enfoques nos cálculos de dimensionamento da Fibra de Carbono, manuais técnicos dos fabricantes, entrevistas com técnicos das empresas aplicadoras, obtenção de amostras do material para uma simples analise. Visita e supervisão na aplicação da Fibra de Carbono em obra, sendo registrado por máquina fotográfica todo o procedimento desde seu dimensionamento até a aplicação final. Foram feitos dimensionamentos, usando modelos simples e usuais em uma estrutura real, para a maior compreensão dos dados abordados. 5 4. JUSTIFICATIVA Visando a grande demanda de reforço de estruturas em concreto armado, o trabalho apresentado tem importância impar para fixação de conceitos e conhecimento da tecnologia da Fibra de Carbono, produto de alta tecnologia, enfocando seu uso no reforço de estruturas de concreto seguindo uma tendência mundial na prática moderna de reforços. 6 5. O SISTEMA DE REFORÇO COM FIBRA DE CARBONO O desenvolvimento de materiais poliméricos avançados possibilitou a utilização dos mesmos em uma gama muito diversificada de aplicação comercial e industrial. Por diversos anos esses materiais tem sido empregados nas indústrias aeroespacial e de defesa, nas construções navais, na indústria automotiva e até mesmo na de equipamentos esportivos. Por causa do alto custo inicial da produção desses materiais, junto com a falta de mãode-obra especializada e aliado a falta de pesquisas e informações técnicas adequadas limitaram e inibiram por longo tempo a utilização dos materiais poliméricos avançados na industria da construção civil. 5.1 Estudo do Concreto Armado Usado em grande escala na construção civil, o concreto armado que é a união do aço e do concreto em uma mesma peça, tem como finalidade dar forma as mais diversas estruturas idealizadas pelos engenheiros e arquitetos. Nada mais justo já que estamos falando de um material que tem como características a boa trabalhabilidade, boa durabilidade, boa resistência mecânica, monolitísmo estrutural, boa aderência entre outras, além de seu custo acessível o que tornou muito popular. As peças de concreto armado, são projetadas e para resistirem a esforços solicitantes segundo a NBR-6118, sendo que seu Estado Limite de Serviço é quem determina as máximas cargas que a peça resistirá. Quando as peças de concreto armado não suportam aos esforços solicitantes, seja por erro de cálculos, uso indevido ou imprevisões, começa a apresentar sinais desta deficiência, como flechas acima do previsto, fissuras, trincas ou até mesmo o seu rompimento por completo. 7 Na maioria dos casos de deficiência da estrutura, é possível a recuperação da mesma sem necessidade de substituição da peça, ou seja, pode ser executada acrescentando mais área de secção, aço ou fibra de carbono, etc. 5.2 Características da Fibra de Carbono As fibras contínuas, como as de carbono, tem como utilização mais comum os reforços estruturais em sistemas compósitos(concreto armado por exemplo).As fibras tem como papel principal colaborar com as características de resistência e espessura podendo ser consideradas o “esqueleto” do sistema. Segundo( MACHADO, 2002) As fibras de carbono resultam do tratamento térmico (carbonização) de fibras precursoras orgânicas tais como o poliacrilonitril (PAN) ou com base no alcatrão derivado do petróleo ou do carvão (PITCH) em um ambiente inerte. O processo de produção consiste na oxidação dessas fibras precursoras seguido do processamento de elevadas temperaturas (variando de 1.000ºC a 1.500ºC para as fibras de carbono). Nesse processo térmico, as fibras resultantes apresentam átomos de carbono perfeitamente alinhados ao longo da fibra precursora, característica que confere extraordinária resistência mecânica ao produto final. De modo geral as fibras de carbono disponíveis comercialmente apresentam as seguintes características básicas: • Resistência mecânica; • Resistência a ataques químicos diversos; • Não são afetadas pela corrosão por se tratar de um produto inerte; • Rijeza; • Estabilidade térmica e reológica; • Bom comportamento a fadiga e à atuação de cargas cíclicas; 8 • Peso especifico da ordem de 1,8g/cm³, o que lhe confere extrema leveza (a ponto de não se considerar o seu peso próprio nos reforços). O peso especifico(densidade) das fibras de carbono varia entre 1,6 e 1,9 g/cm³. Observa-se que o material tem peso específico cerca de 5 vezes menor que o aço estrutural, a mesma ordem de 7,85g/cm³. O coeficiente de dilatação térmica dos compósitos unidirecionais de CFC varia segundo suas direções longitudinal e transversal e depende do tipo da fibra, da resina e do volume de fibra no compósito. A temperatura a partir da qual a fibra de carbono começa a “amolecer” é conhecida como temperatura de transição vítrea (Tg). Acima desta temperatura o modulo de elasticidade é significativamente reduzido devido a mudanças a sua estrutura molecular. O valor de Tg depende fundamentalmente do tipo da resina, mas normalmente situa-se na faixa entre 80ºC e 100ºC. Como principal característica das fibras de carbono unidirecional, é o seu baixo módulo de elasticidade e uma grande resistência à tração. Os sistemas compostos com fibras de carbono, PRFC (Polímero Reforçado com Fibra de Carbono) são constituídos por dois materiais principais: a fibra de carbono, elemento resistente do sistema, e a resina saturante, que conforma a matriz epoxídica do sistema. A representação esquemática do sistema com fibras de carbono e a sua ampliação em microscópio eletrônico são mostradas na Figura 5.1. 9 Figura 5.1: Perspectiva eletrônica e vista ampliada em microscópio, (Machado, 2002) Os plásticos utilizados nos sistemas compostos caracterizam-se por terem o gráfico (tensão x deformação) linear até à ruptura, característica dos materiais frágeis, como mostra a figura 5.2. FIGURA 5.2: Digrama de Tensão x Deformação (Machado, 2002) As fibras de carbono disponíveis possuem baixo módulo de elasticidade e grande resistência a tração. Essa característica esta bem demonstrada na figura 5.2(anterior) e na tabela abaixo que indica o ACI 440 para os sistemas compósitos estruturados com fibra de carbono. 10 Tabela 5.1 – Propriedades da Fibras de Carbono à Tração Tipo da Fibra de Carbono De uso geral Alta Resistência Ultra Alta Resistência Alto Módulo Ultra Alto Módulo Módulo de Elasticidade(Gpa) Resistencia Máxima de Tração(Mpa) Deformação de Ruptura(%) 220 - 235 220 - 235 < 3790 3790 - 4825 > 1,2 > 1,4 220 - 235 345 - 515 515 - 690 4825 - 6200 > 3100 >2410 > 1,5 > 0,5 > 0,2 Fonte: ACI commiittee 440. Segundo (MACHADO, 2002) Todos os sistemas de fibras de carbono têm os seus materiais constituintes desenvolvidos após exaustivos testes materiais e estruturais, incluindo aí todas as resinas, tais como os imprimadores primários, os regularizadores de superfície, os saturante, os adesivos, os revestimentos protetores e as fibras que os estruturam. Os imprimadores primários são utilizados com o objetivo de penetrar no substrato de concreto para permitir, com o seu adesivo específico, a construção de uma ponte de aderência para a resina de saturação ou outros adesivos a serem aplicados posteriormente. O imprimador utilizado pode ser um composto epóxi-poliamina curada, bi-componente de baixa viscosidade e com 100% de sólidos, com as seguintes características: • resistência à tração: 13,0 a 15,8 MPa • alongamento máximo à tração: 10 a 30% • módulo tangencial: 689,0 a 826,8 MPa Os regularizadores de superfície são utilizados para o preenchimento de vazios ou correção de imperfeições superficiais objetivando uma superfície lisa e desempenada 11 sobre a qual o sistema será colado. O regularizador de superfície do sistema é denominado pasta, adesivo bi-componente com 100% de sólidos e consistência firme, com as seguintes características: • resistência à tração: 23,0 MPa • alongamento máximo de tração: 1,6% • módulo de tração: 262,0 MPa A matriz polimérica de uma peça de concreto envolve completamente as fibras dando proteção mecânica e contra agentes agressivos e promovendo a transferência de tensões. A seleção da matriz influencia diretamente a fabricação e o custo final da peça de concreto. As matrizes poliméricas podem ser baseadas em resinas termoplásticas ou em resinas termoendurecíveis. Segundo (MACHADO, 2002) As resinas termoplásticas são caracterizadas por macromoléculas mais lineares e podem ser repetidamente fundidas quando aquecidas e endurecidas quando resfriadas. Por terem mais ductilidade e tenacidade, são mais resistentes a impactos e micro-fissuração que as resinas termoendurecíveis. No entanto, sua alta viscosidade dificulta a incorporação de fibras longas e, por conseqüência, a fabricação de compósitos com tais fibras. Uma vez curadas, as resinas termoendurecíveis são caracterizadas por um alto grau de polimerização das moléculas e endurecimento irreversível, se aquecidas depois de endurecidas não fundem e se decompõem se expostas a altas temperaturas. Essas resinas impregnam facilmente as fibras sem necessidade de condições especiais, como altas temperaturas ou grandes pressões, e, comparadas às resinas termoplásticas, oferecem melhor estabilidade térmica e química, além de menor retração e relaxação. 12 As resinas mais utilizadas nas peças de concreto reforçadas são as termoendurecíveis da classe dos poliésteres insaturados, dos vinil ésteres e dos epóxidos. As resinas epóxi são bastante usadas nos compósitos de alta performance pela extensa gama de propriedades físicas e mecânicas, apesar do alto custo. A Tabela 5.1 traz as propriedades típicas das resinas termoendurecíveis mais usadas segundo Taerwe et al. (1997). TABELA 5.2 – Propriedades típicas das resinas mais usadas TIPO DE RESINA Poliéster Vinil éster Epóxi Resistência Módulo de Peso Retração a Tração elasticidade Especifico na Cura (Mpa) (Gpa) (kg/m³) (%) 35 - 104 2.1 - 3.5 1100 - 1400 5 - 12 73 - 81 3.0 - 3.5 1100 - 1300 5 - 10 55 - 130 2.8 - 4.1 1200 - 1300 1-5 Fonte: Taerwe it al. (1997). As maiores vantagens das resinas epóxicas são a excelente resistência à tração, boa resistência à fluência, boa resistência química e a solventes, forte adesão com as fibras e baixa retração durante a cura. O preço e o longo período de cura são as desvantagens. Ainda, elevadas temperaturas comprometem a resina epóxica, que se torna elastomérica e sofre reduções consideráveis de resistência. A temperatura que representa a passagem de um estado vítreo para um estado elástico e dúctil é chamada temperatura de transição vítrea e a aproximação desta temperatura faz com que as propriedades mecânicas como resistência e rigidez da resina diminuam acentuadamente. Esse problema pode ser amenizado com o uso de sprinklers e/ou de pintura especial no acabamento do reforço para aumentar a resistência ao fogo. Enquanto não endurecida, são importantes as noções dos tempos de utilização e de endurecimento da resina epóxica. 13 O período em que a resina mantém suas características de aderência e pode ser manipulada sem dificuldade é chamado de tempo de utilização (“pot life"). Quanto maior a temperatura e quantidade de material a ser preparado, menor o tempo de utilização. Isto ocorre em função da maior quantidade de calor e conseqüente aceleração das reações. Segundo (MACHADO, 2002) O tempo de endurecimento (“open time”) é o tempo que a resina leva para endurecer e é o intervalo no qual o compósito deve ser colado para que suas propriedades se desenvolvam satisfatoriamente. Este tempo é influenciado pelas temperaturas do ambiente, do compósito e da superfície a ser reforçada. Além da resina, “fillers” e aditivos costumam também compor a matriz. Os “fillers” têm a função de diminuir o custo e melhorar as propriedades da matriz (controlar a retração, melhorar a capacidade de transferência de tensões e controlar a tixotropia da resina). Para aumentar a resistência da matriz e facilitar a fabricação do compósito, vários tipos de aditivos podem ser usados. Os mais comuns são os inibidores da ação de raios ultravioleta, os antioxidantes, os catalisadores e os desmoldantes. Todos os sistemas compósitos estruturados com fibras de carbono devem atender a uma série de recomendações das normas técnicas para poderem ser utilizados no reforço de estruturas de concreto armado. Segundo a norma ACI Committee 440, uma das mais utilizadas para a regulamentação do uso dos sistemas CFC (compósito de fibras de carbono), para que um sistema compósito possa ser reconhecido como tal e liberado para utilização, deve atender ás seguintes recomendações: “Item 1.3 – O uso de Sistemas Patenteados de Polímero reforçados com Fibras – Esse documento se refere especificamente ao sistema de polímeros reforçados com fibras 14 patenteados disponíveis comercialmente, ccomposto de fibras e resinas combinadas de uma maneira específica e instalados por método específico. Combinações não testadas de fibras e resinas podem conduzir a uma gama inesperada de propriedades assim como a uma potencial incompatibilidade dos materiais. Qualquer sistema de polímeros reforçados com fibras considerado para uso deve possuir suficientes dados testados demonstrando a adequado desempenho de todo o sistema em aplicações similares, incluindo o seu método de instalação. O uso de sistemas apropriados de polímeros reforçados com fibras baseado em caracterização dos materiais e testes estruturais é recomendado. O uso de combinações não testadas de fibras e resinas deve ser evitado”. O item 3.6 da norma ACI Committee 440, estipula todas as informações que o fabricante ou fornecedor de um sistema de polímeros reforçado com fibra deve apresentar ao consumidor, inclusive dados de testes estruturais para cada tipo de aplicação que esta sendo considerada. “ O fabricante do sistema de polímeros reforçado com fibra deve fornecer dados demonstrando que o sistema atende a todos os requisitos físicos e mecânicos, incluindo tensão a tração, durabilidade, resistência a deformação, colagem ao substrato e temperatura de transição vítrea.” O rigor do ACI commiittee 440, quando se trata de polímeros reforçados com fibras deve as grandes solicitações de tensões normais e tangenciais com que o sistema ira trabalhar, à inibição da ação de sistemas “piratas” que sem nenhuma pesquisa ou testes de relevância possam vir a comprometer o desempenho garantido por empresas que realizam os teste e oferecem qualidade. 5.3 Reforço com Fibra de Carbono - Aplicação Dado o diagnostico de necessidade de reforço na estrutura, avalia-se a viabilidade do projeto, escolhendo-se o melhor material para a solução adotada e em conseqüência o método de aplicação, partindo para o projeto e execução do reforço. 15 Os compósitos de fibra de carbono para utilização em concreto armado são comercializados em duas categorias: como barras e grelhas para armadura em substituição ao aço e como tecidos e laminados para reforço. A segunda categoria é dividida em dois grupos: os sistemas pré-fabricados (laminados) e os sistemas curados “in situ”. Segundo (MACHADO, 2002) Os sistemas pré-fabricados (lâminas) se apresentam na forma de compósitos totalmente curados, com forma, tamanho e rigidez definidas, prontos para serem colados no elemento a ser reforçado. Tipicamente, possuem um teor de fibras em torno de 70% e espessura entre 1,0 e 1,5 mm. Em relação aos sistemas curados “in situ”, têm a vantagem do maior controle de qualidade, uma vez que só as propriedades do adesivo são afetadas pela execução sendo menos flexíveis. A aplicação de feixes de fibras contínuas na forma de fios, em estado seco ou préimpregnado, sobre um adesivo epóxico previamente espalhado na superfície a ser reforçada constitui os chamados sistemas curados “in situ”. O adesivo, ao impregnar as fibras, transforma o conjunto em um PRFC e faz a ligação deste com o substrato. A espessura final de um compósito curado “in situ” é inferior à espessura de um compósito pré-fabricado e difícil de ser determinada. Para a fibra em estado seco, essa espessura varia entre 0,1 a 0,5 mm. 5.3.1 Reforço de Vigas a Flexão e ao cisalhamento As fibras de carbono podem ser utilizadas para absorver os esforços a tração devidos aos momentos fletores positivos e negativos, bem como as tensões tangenciais decorrentes dos esforços de cisalhamento, como indica a Figura. 5.3 16 Foto 5.3. Viga reforçada com fita de fibra de carbono. Existem vários fabricantes da fibra de carbono, portanto sua aplicação parte das indicações do fabricante, mas de modo geral a aplicação tem sido feita no caso de Fita de fibra de carbono, com seqüência pré determinada. Segundo (MACHADO, 2002) O funcionamento apropriado do reforço depende de sua colagem contínua ao substrato. Antes da execução do reforço, o concreto deteriorado deve ser removido e as barras com corrosão (caso existam) devem ser substituídas. Quinas e cantos angulosos na superfície do concreto devem ser arredondados para evitar a delaminação do compósito. Para o concreto, a resistência à compressão mínima recomendada pelo ACI Committee 440 (2001) é de 17 MPa e a mínima resistência à tração direta (fct,dir,determinada pelo teste de pull-off) é de 1,4 MPa. Ainda, nos manuais da SIKA (2000), o valor mínimo recomendado para fct,dir é igual a 1MPa. As áreas que vão receber o reforço devem ser apicoadas ou lixadas para remover a camada superficial de concreto(conforme Foto 5.4). Uma vez limpa e seca, a superfície do concreto pode ser melhorada com a aplicação de um primer especificado pelo fabricante. O primer é um produto que penetra no concreto por capilaridade com a 17 função de melhorar a capacidade adesiva da superfície para a recepção da resina de saturação ou do adesivo. Foto 5.4 – Operário lixando a superfície da viga com uma lixadeira. Quando necessário, a superfície deve ser regularizada com a aplicação de “putty”, uma argamassa que deve ser compatível com o primer utilizado. Para a colagem do compósito na superfície do concreto difere para cada tipo de PRF, já a colagem dos PRF curados “in situ” (tecidos e mantas) um adesivo/resina saturante com alta viscosidade é usado para colar quanto para impregnar o compósito. Os reforços que estarão sujeitos à radiação solar ou a ataques químicos devem ter acabamento apropriado. Segundo (MACHADO, 2002) A temperatura, a umidade relativa do ar e a umidade da superfície durante a execução do reforço têm grande influência na performance do compósito. Embora altas temperaturas não sejam indicadas durante a execução do 18 reforço por apressarem a cura da resina, baixas temperaturas e dias chuvosos também prejudicam o serviço, pois tornam a resina muito viscosa e a cura bastante lenta. A temperatura deve estar acima de 5ºC e pelo menos 3ºC acima do ponto de orvalho (SIKA, 2000) para possibilitar a adesão da resina na superfície do concreto. (SIKA,2000) recomenda que a umidade do substrato, quando da aplicação do reforço, deve ser inferior a 4% e o controle feito por equipamento adequado. Segundo Matthys (2000), a adesão obtida é insuficiente quando a umidade relativa do ar é maior que 80%. Para a melhor eficiência dos compósitos de fibra de carbono e para que critérios de dimensionamento sejam estabelecidos requer-se maior compreensão dos mecanismos que envolvem esse tipo de reforço de estrutura. O dimensionamento do reforço e a resistência da ligação entre o concreto, o adesivo e o compósito são pontos decisivos para o comportamento estrutural do elemento reforçado. 5.4 Tipos de Reforço Devido ao seu comportamento excelente, e suas características de suportar os esforços solicitantes, o compósito de fibra de carbono é usado em varias condições e tipos de reforços, afim de solucionar as mais diversas situações a ele impostas. Como dito anteriormente e principal condutor deste trabalho a flexão de vigas é um dos tipos de reforço no qual o compósito de fibra de carbono é usado. A solicitações de esforços cortantes de vigas (Figura 5.5) flexão de lajes . 19 Já no caso de pilares o CFC, pode ser utilizado de duas maneiras distintas, aumentando a resistência a flexão e aumentando a resistência compressão por confinamento da seção (Figura 5.5) Também aplicado para aumentar a ductibilidade das colunas de forma resistir aos efeitos sísmicos. Neste caso devendo ser feito o confinamento previamente, de modo a minimizar os efeitos de possíveis ocorrências de sismos, chaminés, tanques, silos e reservatórios também podem ser recuperados no caso de rupturas ou aparecimentos de fissuras por tração. Outro tipo de reforço utilizado é a aplicação do CFC no reforço de estruturas de concreto sujeitas a impactos e explosões, combatendo assim esforços tangenciais ocasionados por estes eventos. Figura 5.5 – Ilustração dos Tipos de reforços (Machado, 2006) 20 5.5 Dimensionamento Segundo a ACI, o acréscimo de capacidade à flexão que os polímeros reforçados com fibra de carbono podem chegar de 10% a 160%.Entretanto, é conveniente levar-se em conta os conceitos de ductibilidade e de utilização, e nesta situação o intervalo situa-se entre 5% e 40%.(Relvas,2003) Para o dimensionamento à flexão de uma estrutura de concreto armado reforçada com fibras de carbono, admite-se as seguintes considerações, já pré-estabelecidas: -Os cálculos serão efetuados com base nas dimensões existentes das seções e da quantidade e da distribuição das armaduras de aço da mesma, assim como das propriedades e características mecânicas dos materiais constituintes do elemento de concreto a ser reforçado; -Prevalece a lei de Bernoulli, ou seja, as seções permanecem planas até a ruptura; -Despreza-se a resistência a tração do concreto; -A deformação máxima do concreto comprimido é de 3,5/1000 -A deformação será considerada linear até a ruptura do material compósito; -A aderência entre o material compósito e o substrato de concreto deve ser perfeita. (Relvas,2003) Devemos avaliar as seções reforçadas com base nos conceitos do ESTADO LIMITE ULTIMO (ELU) que estabelecem a capacidade resistente a flexão de um elemento deve exceder aos esforços solicitantes. O estado limite ultimo além de analisar a capacidade de resistência da seção pelas combinação de condição e equilíbrio das deformações, compatibilidade das tensões também avalia o comportamento do concreto e demais materiais constituintes da seção na ruptura. Existem possíveis modos de ruptura à flexão, são eles: 21 - ruptura por alongamento excessivo do aço antes do esmagamento do concreto; - ruptura por alongamento excessivo do aço antes da ruptura do sistema PRFC; - ruptura por esmagamento do concreto antes da ruptura por alongamento excessivo do aço; - ruptura do sistema PRFC antes da ruptura por alongamento excessivo do aço. O comportamento dúctil da estrutura acontece nos dois primeiros modos apresentados, sendo o desejável para o caso. O comportamento frágil da estrutura acontece nos dois últimos casos apresentados, sendo menos desejável que o caso anterior. Segundo (Relvas, 2003) para o calculo do reforço de uma viga de concreto armado com a utilização de sistemas compósitos estruturados com fibra de carbono PRFC, ainda pode-se adotar o seguinte procedimento para dimensionamento a flexão: - determinar o momento fletor resistente (Md,resist), da viga em função das características geométricas da seção e das características mecânicas dos materiais constituintes; - comparar Md,Max com Md,resist. Se Md,resist > Md,Max, a viga não precisa de reforço a flexão. Se entretanto Md,resist < Md,Max, a viga precisará de reforço. Para o dimensionamento das peças a flexão, são admitidos os denominados Domínios (figura 5.6) em função da combinação das deformações unitárias específicas na seção. 22 Figura 5.6 –Diagrama de Domínios - NBR-6118(2003) Os domínios 2 e 3, são indicados para um dimensionamento a flexão simples, nesses domínios o concreto comprimido apresenta uma deformação máxima de encurtamento variando de o a 35/1000 (figura 5.7)e para o aço tracionado a deformação de alongamento variando de εyd a 10/1000.(figua 5.8) εcd2 σcd = 0,85fcd εcd - x 0,85xfcd 4 σc 2,0% 3,5% (Figura 5.7) – Diagrama de Tensão x deformação do Concreto a compressão NBR 6118(2003) εε 23 (Figura 5.8) – Diagrama de TensãoxDeformação Aço, NBR 6118(2003) O dimensionamento inicial se dá por três equações de equilíbrio, sabendo que usamos as equações simplificadas dos domínios 2 e 3 para facilitar os cálculos eo próprio entendimento. Eq. nº1 Md= Rcd x z Eq. nº2 Md= Rsd x z Eq. nº3 Rcd = Rsd Assim Temos: Md = bw x 0,85 x fcd x y(d - 0,5y) – eq.(1) Md = As x fyd x (d - 0,5y) – eq. (2) As x fyd = 0,85 x bw x y x fcd – eq(3) 24 Todo o dimensionamento para as peças reforçadas com PRFC, será baseado no mesmos conceitos do dimensionamento convencional das vigas de concreto armado a flexão, em ELU, mas teremos agora que considerar a parcela de colaboração do PRC, que pode trabalhar em conjunto ou não com a armadura já existente na viga. As tensões nos materiais serão função exclusiva das deformações unitárias resultantes do equilíbrio de forças e momentos resistentes. É importante a consideração sobre a condição inicial de instalação do reforço no que se refere ao carregamento pré-existente. A peça pode estar totalmente descarregada e portanto não haverão deformações unitárias iniciais. Por outro lado quando a peça por qualquer motivo não pode ser descarregada totalmente, o carregamento remanescente imporá a peça, deformações unitárias iniciais, em função dos esforços internos solicitantes correspondentes. Estas deformações iniciais deverão ser levadas em conta do dimensionamento do reforço, mais especificamente da deformação real do PRFC, uma vez que a deformação a ser considerada será só a correspondente ao carregamento adicional ao remanescente.(Relvas, 2003) Observando o acréscimo da parcela do PRFC nas equações Eq. 4 Md= Rcd x z Eq. 5 Md= Rsd x z Eq. 6 Rcd = Rsd Assim Temos: Md = bw x 0,85 x fcd x y(d - 0,5y) – eq.(4) Md = As x fyd x (d - 0,5y) + Af x ff x (h – 0,5y) - eq.(5) As x fyd + Af x ff = 0,85 x bw x y x fcd – eq.(6) 25 5.6 EXEMPLO Para um fácil entendimento, e compreensão foi desenvolvido exemplo abaixo (Relvas,2003). Vamos analisar o caso de uma viga, cujas condições originais são: fck = 20 MPa Mkgo =29 kN.m bw = 20 cm Aço CA50 As = 9,45 cm² h = 69 cm d = 65 cm E que por alteração no carregamento o momento fletor final a ser absorvido será Mk=206 kN.m SOLUÇÃO: 1º. Vamos verificar a real capacidade da seção original. Da equação nº3 Rsd = Rcd 9,45 x (50/1,15) = 0,85 x 20 x y x (2,0/1,4) y = 16,9 cm Na equação nº2 Md = Rsd x z Md = 9,45 x (50/1,15) x (65 – 0,5 x 16,9) Md = 23.235 kN x cm = 232,4 kN x m Mkresist. = Md/gf Mkresist = 232,/1,4 = 166,0 kN x m Portanto Mkresist < Mk ou 166,0 kN.m < 206 kN.m Conclusão: Há necessidade de reforço. 26 2º. DEFORMAÇÕES INICIAIS A viga foi descarregada, exceto do peso próprio, cujo momento fletor correspondente é de 29 kN.m. Para este momento: Da equação nº1: Md = Rcd x z 2900 x 1,4 = 0,85 x (2,0/1,4) x 20 x y x (65 –0,5 y) y = 2,6 cm, portanto x = 3,3 cm Rcd = 0,85 x (2,0/1,4) x 20 x 2,6 = 63,14 kN σsd = 63,14/9,45) = 6,68 kN/cm2...............εsi = (6,68/2,1 x 104)= 0,32/1000 εti = εsi x (h –x)/(d – x) εti = (0,32/1000) x (69 –3,3)/(65 – 3,3) = 0,34/1000 3º. DIMENSIONAMENTO DO REFORÇO Da equação nº4: Md = Rcd x z 20600 x 1,4 = 0,85 x (2,0/1,4) x 20 x y x (65 – 0,5 x y)....y = 22 cm, portanto x = 27,5 cm εs = εc x (d –x)/x εs = (3,5/1000) x (65 – 27,5)/27,5 = 4,77/1000 εt = εs x (h – x)/(d – x) εt = (4,77/1000) x (69 – 27,5)/(65 – 27,5) = 5,28/1000 portanto εf = εt - εti = (5,28/1000) – (0,34/1000) = 4,94/1000 Utilizando-se o compósito da MBT, Mbrace CF 130, temos as seguintes características: Espessura = 0,165 mm Tensão de ruptura = 3800 MPa Modulo de elasticidade = 227 GPa = 227.000 MPa De acordo com a lei de Hooke: E = σ/ε σ=Exε - ff = Ef x εf ff = 22.700 x (4,94/1000) = 112,1 kN/cm2 Partindo-se agora da equação 5 ou 6: 27 Escolhendo-se a Eq. nº5; 20600 x 1,4 = 9,45 x (50/1,15) x (65 – 0,5 x 22) + Af x 112,1 x (69 – 0,5 x 22) Af = 1,02 cm2 largura necessária = 1,02/0,0165 = 62 cm Solução : 3 camadas de 20 cm 28 6. REFORÇO DO EDIFICIL SPAZIO SAN LÁZZARO A obra Spazio San Lázzaro, localizada à rua Pasquale Gallupi, 201, no bairro do Morumbi, executada pela empresa MRV Engenharia e Participações S.A. contém 2 Blocos de 36 apartamentos que foram executados em estrutura mista, ou seja, parte em pilares e vigas maciças de concreto “in loco”, e outra parte em alvenaria estrutural. Sendo 4 pavimentos tipo acima do transição,e dois subsolos, respectivamente abaixo do transição, sendo que somente o pavimento de transição foi feito em concreto maciço. A obra começou a apresentar problemas de estrutura (estrutura in loco) logo que foram concretados dois pavimentos acima da estrutura citada, como flechas muito acentuadas e fissuras no meio das vigas(Foto 6.1), criando uma desconfiança por parte da equipe técnica. Foto 6.1. Fissura na face inferior da viga. Para a equipe de engenharia foi relativamente fácil diagnosticar, pois já haviam feitos obras similares, mas com outras dimensões de estrutura. A coordenação da empresa construtora tinha pela frente um desafio a ser superado, pois a estrutura já estava sendo levantada e o atual escritório de cálculo afirmava garantia do que estava sendo 29 executado. Seria também necessária uma solução que atendesse a questão agilidade, já que estavam envolvidos também de contratos com clientes com datas de entrega dos apartamentos. Foi contratado um novo escritório para avaliação, da estrutura da obra onde foram solicitados os projetos de estrutura, memórias de cálculo, mapeamento do concreto executado em obra e seus respectivos ensaios de resistência. Para melhor entendimento, denominaremos Escritório de Cálculo, o calculista inicial da obra, e Escritório de Reforço, o calculista contratado para a revisão e análise dos projetos iniciais e reforços propostos. 6.1 A ESTRUTURA O projeto estrutural, realizado pelo Escritório de Cálculo, contemplava dois pavimentos subsolo e um pavimento térreo em estrutura mista, e quatro pavimentos tipo em alvenaria estrutural, conforme já falado anteriormente. Para o cálculo do dimensionamento da alvenaria estrutural foi utilizada a Norma Brasileira NBR 10837 - “Cálculo de Alvenaria Estrutural de Blocos Vazados de Concreto”. Foram utilizados também, como critério de verificações, parâmetros da Norma Britânica BS 5628. A NBR 10837 adota o método das tensões admissíveis que busca garantir a distância apropriada entre as tensões atuantes e as que provocam o escoamento ou ruptura dos materiais, estando toda a segurança embutida no próprio valor da tensão admissível. 30 Pode-se calcular as tensões admissíveis em alvenaria não armada com base na resistência de paredes, medida em ensaio normalizado pela NBR 8949 “Paredes de Alvenaria Estrutural – Ensaio de Compressão Simples”, através da seguinte fórmula: f alv ,c=0,20*f p*R Sendo R, R=1−[ H/ (40*t )]³ Onde: f alv ,c= Tensão Admissível a Compressão f p= Resistência do Prisma R= Fator de Redução da Resistência Associada a Esbeltez H= Altura da Parede t=Espessura da Parede Para o dimensionamento da estrutura de transição foram utilizados os critérios da Norma Brasileira NBR 6118. Além destes, o projetista optou por considerar efeito de arco na interação entre vigas e paredes estruturais de alvenaria considerando 80 cm como distância de redistribuição das cargas distribuídas ao longo de seu comprimento. Através de memorial de cálculo fornecido concluiu-se que o efeito arco foi calculado pelo modelo simplificado de Wood and Simms. “ - Wood, um dos pioneiros no estudo do efeito arco, descreveu em 1952 o comportamento de uma parede sobre viga como sendo a de um arco atirantado, onde a viga funciona como um tirante e o arco se forma na parede. Além disso, enunciou regras empíricas baseadas em resultados de ensaios que permitiam a redução do momento fletor até uma relação da ordem de PL/100 (situação sem aberturas de portas ou janelas próximas aos apoios) ou PL/50 (para o caso de aberturas de portas ou janelas próximas aos apoios). Na notação empregada, L é o vão da viga e P a carga dada pelo peso próprio do sistema parede-viga acrescido de alguma sobrecarga 31 existente. É importante ressaltar que nas formulações propostas a Inércia da viga não é levada em consideração...”(Keber, 2007) Segundo Wood and Simms, 1969, o cálculo das tensões, pela norma britânica BS 5628, nessas regiões de apoio é feito através de uma aproximação dada por: C F B ( Fk / Gm) > 1,50 ( Fk / Gm) Onde F é a relação entre a tensão de solicitação do parede e a resistência admissível da parede. E sendo, C= k / 8 e x / L= 4/k Para encontrar valores de C em relação a x/L e k utiliza-se a tabela abaixo: Figura 6.1.1 – Valores do coeficiente C em relação ao k e x/L (ARNOLD E. HENDRY, 1981). 6.2 DETECÇÃO DO PROBLEMA Ao se executar uma obra com base em projetos, o engenheiro responsável pela obra costuma fazer uma prévia avaliação do projeto, como forma de prever eventuais adaptações necessárias, compras de material e a própria análise critica do projeto 32 estrutural afim de levantar as questões referentes a execução em si, já que na prática, é comum os projetos precisarem de ajustes locais. Segundo o engenheiro residente da obra, os projetos executivos fornecidos pelo Escritório de Cálculo para utilizar no canteiro de obra, constavam vigas diferentes das quais ele estava acostumado a trabalhar, ou que já tivesse visto nas demais obras da própria empresa. A partir desta dúvida, o engenheiro residente pediu uma reunião com o Escritório de Cálculo com a intenção de entender mais sobre as considerações feitas para a confecção do projeto de estrutura. Mesmo após a reunião as considerações apresentadas não convenceram o engenheiro, que solicitou uma revisão dos cálculos por outro escritório competente. Como a obra estava em andamento, havia a necessidade de uma resposta rápida, pois quanto mais tempo demorassem, mais pavimentos seriam concretados, e mais carregamentos seriam aplicados a estrutura. A primeira providência tomada pelo Escritório de Reforço foi solicitar a obra todos os projetos e rastreamento de concretagem, e ao Escritório de Calculo as memórias de cálculo referentes a obra citada, para a análise. Quando a obra atingiu dois pavimentos acima do pavimento transição, isso quer dizer, o pavimento com probabilidade de problemas, foi dado o alerta, para que as concretagens futuras não fossem feitas pois haveria necessidade de reforço estrutural. 6.3 AVALIAÇÃO DO PROBLEMA O Escritório de Reforço constatou que ao ser utilizado o programa de dimensionamento EBERICK V5 para a distribuição das cargas das lajes. São calculadas as cargas totais e acidentais para diferenciá-las foram separadas em cargas permanentes e acidentais. 33 Nesta etapa do cálculo foi observado que o carregamento total utilizado foi: g1 + g2 + 0,6.qlaje, uma vez que o programa EBERICK V5, em um dos outputs fornece esse valor para as reações das lajes. Tendo em vista que o projetista obteve os valores das cargas acidentais a partir da diferença da carga total e a carga permanente obteve, como valor de carga acidental apenas 60% do total fornecido ao programa. Para a distribuição das cargas dos pavimentos foi considerado o efeito de distribuição dos carregamentos. “...O Escritório de Reforço opta por não espraiar as cargas, em edificações de pouca altura uma vez que esta consideração é a favor da segurança e que neste tipo de edificação (até quatro pavimentos) essa distribuição de carregamentos pode não acontecer completamente...”(Keber, 2007) Foi considerada a ação do vento, segundo os parâmetros da NBR 6123 – Forças Devidas ao Vento em Edificações, para se ter ordem da grandeza. O Escritório de Cálculo calculou as cargas de vento considerando deformações elásticas e seções não fissuradas nas paredes. Para a combinação de carregamentos as ações foram simplesmente somadas para serem utilizadas pelas normas que trabalham com tensões admissíveis. Também foram realizadas combinações com majoração por coeficientes parciais de segurança previstos pela norma britânica. “...Ao utilizar-se mais de uma norma, principalmente quando estas são baseadas em conceitos diferentes, corre-se o risco de se negligenciar parâmetros importantes durante o dimensionamento da estrutura...”(Keber,2007) No dimensionamento da alvenaria utilizou-se a norma brasileira NBR 10837, conforme apresentada anteriormente, sendo apresentados os valores médios de resistência dos blocos por andar e por pavimentos com base nos valores de resistência de paredes e 34 prismas. As verificações ao cisalhamento foram realizadas utilizando parâmetros da norma britânica e da norma brasileira. Durante o cálculo das transições foi considerado o efeito “ARCO” na interação entre vigas e paredes. A distribuição das cargas concentradas é considerada retangular e não triangular, o que segundo o Escritório de Reforço é a favor da segurança. “...Uma vez que o Escritório de Calculo considera um retângulo médio para o carregamento, esta concepção é a favor da segurança apenas para a viga. Porém, deixa de considerar as tensões de pico causadas pela carga triangular na parede, o que é contra a segurança...”(Keber, 2007) 6.3.1 Efeito Arco O efeito arco é uma redistribuição do carregamento das paredes, distribuídos ao longo do seu comprimento, para regiões menores próximas aos apoios. Estas regiões serão tão menores quanto menor for a rigidez à flexão da viga de apoio. Devido à transferência de carga para os apoios, ocorrem concentrações de tensões de compressão verticais e cisalhantes horizontais na parede. Em casos usuais, e com vigas de pouca inércia, tanto as tensões verticais quanto as tensões cisalhantes são pequenas na região central e crescentes em direção aos apoios. Pela interação da parede com a viga, as flechas obtidas nestes sistemas são sempre muito pequenas, desde que os apoios sejam teoricamente indeformáveis. Quanto aos esforços de tração na viga, costuma-se dizer que uma parede sobre viga bi-apoiada sujeita a carregamento vertical comporta-se como um arco atirantado. O arco forma-se na parede e a viga funciona como tirante para impedir que o arco se abra(Figura.6.3.1.1). Os esforços de tração na viga atingem seu valor máximo no centro. 35 Figura 6.3.1.1 – Ação Estrutural na combinação viga-parede a) Forças do Arco na Parede b) Forças verticais e cisalhantes na viga (Structural Brickwork, Arnold W. Hendry, 1981). Os estudos quase sempre se referem a paredes cheias sobre vigas diretamente apoiadas e destacam-se duas situações: se adotada a simplificação de distribuição linear de carga nos apoios do arco, então a viga de transição será mais solicitada; na situação real conduz-se a uma distribuição triangular, com níveis de tensões muito mais elevados nas alvenarias. Pela existência do chamado efeito arco, cargas aplicadas pela alvenaria em vigas de concreto armado sobre apoios discretos, como pavimentos de pilotis e fundações sobre estacas, tendem a ser muito diferentes dos valores uniformes usualmente adotados. Assim, pode-se superestimar os esforços nestas estruturas de concreto armado pela adoção incorreta do carregamento a que estarão submetidas. Por outro lado, existirão 36 concentrações de tensões na alvenaria que deixarão de ser consideradas,podendo-se reduzir o coeficiente de segurança a níveis críticos. O Escritório de Reforço, preparou um laudo comparativo mostrando vários processos de cálculos e considerações feitas para este tipo de estrutura e dimensionamento. Veremos como foram estes comparativos: Para Keber, entre os modelos matemáticos simplificados capazes de determinar de forma expedita os principais esforços necessários para o dimensionamento de sistemas parede-viga, além do processo de Wood and Simms utilizado pelo Escritório de Cálculo, estão os apresentados a seguir: O modelo matemático descrito por Stafford Smith and Riddington, 1977, foi desenvolvido a partir de análises numéricas e experimentais. As análises numéricas, feitas a partir do método dos elementos finitos, consideram a abertura na interface parede viga, mas não consideram o deslizamento. Para verificar a precisão dos resultados numéricos, foram feitos vários ensaios em escala reduzida . As diferenças máximas entre os resultados experimentais e numéricos foram de 10% para tensões na parede e 20% para momento, tração e flecha na viga. Através dos resultados obtidos nas análises em elementos finitos, foram elaborados ábacos em função da rigidez relativa K, como mostra a (fig.6.3.1.2) . 37 Figura 6.3.1.2 – Resultados das análises numéricas descritas em STAFFORD SMITH & RIDDINGTON(1977). Os autores sugeriram fórmulas simplificadas para estimar a tensão máxima vertical na parede. Esta fórmula está apresentada a seguir: Tmax= [(1,63*Ww ) / Lt] * k Sendo: k= ((Ew*t*L3) / (E*I))0,28 Onde: Ww=Carregamento Vertical Total de um feixe de Parede Ew=Modulo de Elasticidade da Parede 38 EI=Módulo de Rigidez L=Altura da Parede t=Espessura da Parede Lt=Altura total da Edificação Em 1977, DAVIES & AHMED propõem um modelo simplificado que envolve um número maior de parâmetros, quando comparado com os modelos matemáticos simplificados desenvolvidos por Smith e Riddington. Este modelo matemático foi desenvolvido baseado em análises numéricas utilizando o método dos elementos finitos. Este modelo utiliza dois parâmetros adimensionais. O primeiro parâmetro é uma rigidez relativa Rf, semelhante ao parâmetro K proposto por Smith e Riddigton nos modelos anteriores. O outro parâmetro é a rigidez axial Ka da viga. O cálculo da máxima tensão nas regiões de apoio é dado por: Tm = W w / Lt . (1+B . Rf ) Onde: Rf = 4√(Ew * t * H3) / ( EI ) Sendo: Ww=CarregamentoVertical Total deum feixe de Parede Ew=Modulo de Elasticidadeda Parede EI=Módulo de Rigidez H=Altura da Parede t=Espessura da Parede Lt=Altura total da Edificação 39 B=Fator de Redução da Resistência devido a Excentricidade A distribuição vertical das tensões na interface parede-viga do parâmetro Rf conforme ilustrado na figura 6.3.1.3 abaixo: Figura 6.3.1.3 – Distribuição vertical das tensões na interface parede-viga descritas em ARNOLD W HENDRY (1981). 40 Os parâmetros a, g e B, utilizados para calcular as tensões, são obtidos através do ábaco a seguir: Figura 6.3.1.4 – Cálculo dos coeficientes a, g e B segundo a variação de H/L em DAVIES and AHMED (1977). Em Arnold Hendry, foi realizada uma comparação entre os resultados experimentais e os valores calculados através dos métodos apresentados anteriormente. Para uma melhor visualização desses resultados a tabela 6.1 é apresentada a seguir: 41 Tabela 6.1 - Comparação dos resultados dos três métodos mencionados e resultados experimentais Fonte: (ARNOLD W. HENDRY, 1981). Analisando a tabela, observa-se que o método de Wood e Simms fornece valores normalmente abaixo dos valores experimentais, portanto contra a segurança. Assim o modelo que Stafford Smith e Riddington propõem mostra-se muito a favor da segurança. E os cálculos apresentados por Davies e Ahmed mostram-se mais próximos com a realidade. Com base nos gráficos apresentados, vemos que ao surgir os picos de tensões em algumas regiões das paredes devido ao efeito arco, a resistência calculada para os blocos é menor que a resistência necessária para suportar essas solicitações. “...Optouse por realizar o cálculo da resistência a compressão das paredes de alvenaria, utilizando os valores de carregamento informados pelo Escritório de Cálculo como critério de verificação...” ( Keber, 2007) Para essa verificação real do problema, escolhemos a parede TP04, a qual descarrega sobre a viga da estrutura de transição V414. Segue abaixo a vista(fig. 6.3.1.6) e planta(Figura. 6.3.1.5) das vigas e paredes que foram usadas para verificação. 42 Figura 6.3.1.5 – Planta de Estrutura do teto da transição – V.214(Arco, 2007) Figura 6.3.1.6 – Vista da parede TP 04 (Arco, 2007) Como primeiro ponto, observamos que a parede não atende necessariamente as hipóteses estabelecidas pelos autores citados anteriormente durante o estudo do efeito arco, como por exemplo, o aparecimento de uma porta, ao longo da extensão da parede que usamos de consideração do efeito. 43 O surgimento dessa abertura altera as considerações sobre o efeito arco. Isso acontece por que a eficiência do desempenho estrutural dos sistemas parede-viga é decorrente da grande rigidez obtida através da ação conjunta da parede com a viga. No entanto, quando existem aberturas na parede, ocorre uma redução nesta rigidez, o que pode gerar alterações na configuração final deste sistema. (Keber, 2007) As alterações mais significativas já observadas nas paredes com aberturas são: • Alterações nos diagramas de momento fletor e tração na viga. • Surgimento de novos pontos de concentrações de tensões na parede; • Aumento de flecha na viga; • Diminuição da resistência da parede e mudanças no seu modo de ruptura; 6.4 CONCLUSÃO PELO REFORÇO Quando falamos em recalcular uma estrutura, logo pensamos que encontraremos, pequenos erros de considerações, ou até mesmo, divergências por regras usuais de norma para norma, e que seria bom não encontrarmos essas diferenças, assim evitando o retrabalho e os problemas de ter uma obra de reforço estrutural a ser executada. Abaixo veremos as comparações de cálculos feitas pelo Escritório de Reforço: a) Calculando por Wood and Simms: C*F*B*( Fk / Gm) > 1,50 *( Fk / Gm) Para x/l = 0,80/(2,47*2) = 1/6, C=3. Como F sempre maior que 1 tem-se: 44 Fk= Gm*Nk = 2,5*2360 = 52,6 kgf/cm² = 5,26MPa (t*L) (14*80) b) Calculando por Stafford Smith and Riddington: Tmax=1,63*Ww = *k (L*t) k= (Ew*t*L3 )0,25 = ( 160000 *14 * 2473)0,25 = 5,12 (E*I ) (210000*234346,6) Tmax= 1,63*Ww * k = 1,63*18880*5,12 = 46,5 Kgf /cm2 = (L*t) (14*247) 4,65MPa Fk = Gm * G f * Tmax=2,5*1,5*4,65 = 17,4 MPa Onde Gm e Gf são os coeficientes de material e de carregamento respectivamente. c) Calculando por Davies e Ahmed: Tmax=W w * (1+B*Rf ) (L*t) R f = ( Ew*t*H3)0,25 = (160000 * 14 * 2623)0,25 = 5,35 (E*I) (210000*234346,6) Onde B = 1,25 foi retirado do ábaco da figura X mostrada. Tmax=W w * (1+B Rf ) = 18880 *(1+1,25*5,35) = 41,96 Kgf / cm2=4,20 MPa (L*t) (14 * 247) Fk = Gm * G f * Tmax = 2,5*1,5*4,20 =15,7MPa Onde Gm e Gf são os coeficientes de material e de carregamento respectivamente. 45 Com exceção do método de Wood and Simms, que possui uma aproximação do carregamento médio, contra a segurança da alvenaria, podemos observar que nos outros dois métodos excedem consideravelmente a resistência de cálculo dos blocos de concreto especificados pelo Escritório de Cálculo, mesmo considerando tratar-se de carga razoavelmente concentradas. Após o recalculo detalhado de cada um dos pavimentos, constatou-se por método semelhante ao mostrado, que nas vigas da transição do bloco 2, algumas vigas apresentam flechas maiores que as admissíveis e/ou também problemas de seção e armadura. Estas vigas estão indicadas nas tabelas a seguir: Tabela 6.4.1 – Vigas analisadas no Bloco 2 PAVIMENTO TETO DO TERREO BLOCO 2 VIGA V201 V205 V206 V207 V209 V212 V213 FLECHA FLECHA ADMISSÍVEL CALCULADA L / 300 L / 265 L / 300 L / 130 L / 300 L / 261 L / 300 L / 130 L / 300 L / 267 L / 300 L / 248 L / 300 L / 257 V214 L / 300 Fonte: (Keber, 2007) L / 257 Encontrado o problema o Escritório de Reforço emitiu um comunicado a empresa construtora da necessidade de reforço estrutural, onde concluiu-se assim: “...As estruturas, tanto de concreto armado, quanto de alvenaria estrutural, quando hiperestáticas, possuem grande capacidade de reorganização e redistribuição das cargas, tendo, portanto, boa capacidade de absorver algumas modificações ou 46 perturbações no modelo estrutural concebido inicialmente. Esta capacidade é dependente de um lançamento estrutural que implique em elementos transitivos cuja rigidez possibilite estas sobrecargas. Sob este ponto de vista o Escritório de Reforço enfatiza a necessidade da manutenção dos coeficientes de segurança das peças que compõem uma estrutura nos patamares recomendados por norma. Ao analisar o lançamento das cargas sobre a estrutura, observou-se a não consideração de 40% das cargas acidentais do projeto, o que leva a uma diminuição da segurança para utilização da edificação. Com referência à utilização do efeito arco por parte do projetista, observou-se um método de cálculo simplificado, que resulta em valores contrários à segurança da alvenaria. Conforme demonstrado nos itens anteriores, através dos outros dois métodos, mais precisos, calculamos de tensões superiores atuantes na alvenaria, no caso de se adotar tal modelo no projeto. Observou-se, também com relação ao efeito arco, que muitas considerações impostas pelos autores do modelo de cálculo não eram satisfeitas. Por exemplo, os apoios são muitas vezes indiretos, ou seja, bastante deformáveis e as paredes de alvenaria possuem muitas aberturas. As evidências arroladas neste estudo, permitem concluir como segue: – Ainda que certamente tensões muito elevadas se fariam presentes, não podemos prognosticar desequilíbrio estático da obra ou de qualquer de suas partes; – A quantidade de segurança presente no projeto é inferior àquela necessária do ponto de vista legal ou normativo. 47 – As deformações nas vigas de transição, estimadas segundo os ritos da NBR 6118 são superiores aos limites máximos permitidos por aquela norma, mesmo sob o carregamento favorável decorrente da adoção do efeito arco; – Pelo exposto, somos de opinião, firme, que se deve renunciar ao efeito de arco para o que se faz necessário ampliar a rigidez dos elementos de transição via reforço estrutural objeto do projeto específico...”( Keber, 2007) 6.5 OPÇÃO PELA FIBRA DE CARBONO Com a missão de levantar uma solução que atendesse as expectativas dos investidores do empreendimento, e que agradasse aos olhos atentos dos proprietários, que ao passarem pela obra assustavam-se ao vê-la parada, o Escritório de Reforço começou a analisar as reais possibilidades e eventuais soluções existentes no mercado. Ao analisarem o projeto arquitetônico com o estrutural, deparam-se com uma situação bem comum, onde o pé-direito do estacionamento(fig.6.5.1), situado no andar térreo já era de 2,10m, não sendo possível aumentar as seções das vigas. Além disso o prazo de execução teria que ser extremamente curto para não causar mais prejuízos, e por ultimo, que neste caso foi avaliado com menor importância, já que estávamos falando de vidas, o custo da solução. 48 Figura 6.5.1 – Corte da planta mostrando o pé-direito do térreo. (Arco, 2007) Com todas estas premissas em mãos, o Escritório de Reforço optou pelo uso do Sistema de Fita de Fibra de Carbono, onde poderiam ser atendidas todas as exigências de projetos e normas regentes a uma estrutura, e as necessidades externas da construtora. Ao decidir-se pelo sistema de Fita de Fibra de Carbono, passou-se a confecção dos cálculos e projetos para obra. 6.6 O DIMENSINAMENTO E PROJETO Com os projetos de estrutura e arquitetura em mãos, o Escritório de Reforço, usou de um programa para execução do projeto(Anexo A) e os cálculos dos reforços. A Figura.6.6.1, nos mostra uma viga calculada pelo programa. 49 Figura 6.6.1 – Viga usada pelo programa de calculo Utilizamos a viga da Figura 6.6.1 para dimensionar o reforço com fibra de carbono, pelo método apresentado neste trabalho, e verificar a real necessidade de um reforço, sendo que esta viga é uma viga executada na obra. 1º VERIFICANDO AS SOLICITAÇÕES E RESISTÊNCIAS Mg0 = 45 kN.m Mf = 112 kN.m 6,0 x (5000 / 1,15) = 54 x y .(200/1,4) x 0,85 y = 3,98 cm Mdresit = 6,0 x (5000/ 1,15) x (38 – 3,98/2) = 939.391 kgf.cm Mk = 939.391/1,4 / 10000 = 67,1 kN.m < 112 kN.m • NECESSITA DE REFORÇO 2º DEFININDO A DEFORMAÇÃO DA VIGA COM g0 450.000 x 1,4 = 0,85 x 200 x 54 x y x (38 – y/2) y = 1,85 cm Rcd = Rsd Rcd = 0,85 x 200 x 54 x 1,85 = 16.983 kgf Portanto Rsd = 16.983 kgf 50 σ = 16.983 / 6,0 = 2.830 kgf/cm² de acordo com a Lei de Hooke E=σ /ε portanto ε = 2.830 / 2,1x10-6 ε = 0,0014 = 1,4%0 3º DEFININDO A DEFORMAÇÃO DA VIGA COM Mf 11.200.000 x 1,4 = 0,85 x 200 x 54 x y x ( 38 – y/2) y = 4,8 cm portanto X=6,0 cm e βx 0,158 Dominio 2ª 4º DEFORMAÇÃO RESIDUAL εs = 10%0 no aço εt = 11,25 %0 na fibra inferior da viga εf = 11,25 – 1,56 = 9,69%0 5º APLICANDO A FIBRA E = 1.650.000 kgf/cm² (segundo SIKA, 2007) E = ff / ε ff = 1.650.000 x 9,69 / 1000 ff = 15.988 kgf/cm² 1.120.000 x 1,4 = 6,0 x 5000 / 1,15 x (38 – 4,8/2 ) + Af x 15.988 x (42 – 4,8/2) Af = 1,01 cm² ou 101 mm² 1,2 x 50 = 60mm² para cada fita Portanto 2 LAMINAS para a viga calculada, exatamente como o programa de reforço apresentou no projeto do Escritório de Reforço. 51 6.7 A APLICAÇÃO Para a aplicação da Fita de Fibra de Carbono foi necessário a contratação de uma empresa especializada, já que o Escritório de Reforço não a faria. A empresa para aplicação também foi selecionada e contratada dentro dos parâmetros de necessidades de urgência e cuidados especificados em projeto. Os produtos usados foram, a fita Sika Carbordur e o adesivo epóxi SikaDur 30, da Sika. Para o início do processo foi necessário o reescoramento das lajes que se apóiam as vigas para aliviarem a tensões e cargas atuantes como mostra a figura 6.7.1. Figura 6.7.1 – Laje Reescorada para alivio das cargas na viga 52 Segundo, (Sika 2000), a superfície deve estar sã limpa, seca, livre de partículas soltas, pinturas, desmoldantes, contaminações de graxa, óleos, pó, agentes de cura, nata de cimento ou quaisquer outros materiais estranhos. Pode-se utilizar uma lixadeira elétrica conforme figura 6.7.2. Figura 6.7.2 – Funcionário lixando e superfície de aplicação 53 Após a superfície estar limpa e seca, (pois não se pode aplicar a resina epóxi com uma umidade média acima 80%), faz-se a medição e risca-se a superfície para balizar a colocação da fita , figura 6.7.3. Figura 6.7.3 – Risco na superfície a ser colada a fita. Com todas etapas de locação acertadas, vem o preparo da resina epóxi Sikadur 30, que exige um maior cuidado. Por ser bi-componente deve ser misturada na proporção de 1:1(Sika,2007) fig. 6.7.4. A resina tem o seu tempo de utilização curto, por isso deve ser preparada apenas no momento da aplicação. Após preparada conforme as indicações do fabricante, ela deve ser posta em uma “caixinha de passagem” para que seja aplicada à fita sem desperdício e maior controle da espessura de resina a ser aplicada, conforme fig. 6.7.5. 54 Figura 6.7.4. – Funcionários dosando os componentes da resina epóxi, e misturando em misturador mecânico. Figura 6.7.5 – Aplicação da resina na Fita de Carbono, com utilização da Caixinha de Passagem. Com a fita impregnada com a resina, é feita a colocação da mesma na superfície da viga marcada, pressionando-a com um rolo metálico até que a resina saia pelas laterais 55 deixando uma camada de resina entre viga e a fita, de no máximo 2mm de espessura(fig. 6.7.6). Com uma espátula, tira-se este excesso lateral, pressionando a fita por 10min. (fig. 6.7.7). Figura 6.7.6 – Aplicação do rolo metálico por toda a extensão da Fita Figura 6.7.7 – Aplicação da Fita de Fibra de Carbono na Viga. 56 Figura 6.7.8 – Viga reforçada com duas Fitas de Fibra de Carbono Figura 6.7.9 – Viga reforçada com cinco Fitas de Fibra de Carbono 57 7. CONCLUSÃO A realização do reforço com Fibra de Carbono em uma estrutura mostra-se prático e eficiente, compatível com a rapidez executiva necessária nas construções atuais, desde que observadas as recomendações técnicas específicas. A fibra de carbono cuja característica mais representativa é a resistência a tração, unida ao esqueleto da estrutura, adicionando a estrutura essa característica, apresentam desempenho tem sido satisfatório para todos, levando-se em consideração que o edifício ainda não está habitado, seu desempenho ainda não pode ser julgado como ótimo. Ao executar-se um cálculo estrutural, deve-se ter o cuidado de adotar sempre o método mais próximo com a realidade, para que o sistema funcione como especificado, não havendo surpresas futuras. Neste trabalho foi analisado, ainda que em apenas uma viga, como essa escolha pode influenciar na estratégia de uma empresa. Com a busca constante de novas tecnologias afim de, suprir cada dia mais as necessidades da construção civil, a Fibra de Carbono tende a ser não só instrumento de reforços de estruturas, mas sim grande aliado na concepção de projetos que utilizarão da fibra como seu principal material de resistência. 58 8. ANÁLISE CRITICA Diante da necessidade de uma solução rápida e que atendesse as particularidades da obra em referência, não seria viável qualquer outra solução de reforço supostamente proposto. Ainda que as soluções avaliadas e propostas tivessem valores monetários diretos mais acessíveis, não atenderiam um ou outro item, tendo que ser solucionada por outro método em utilização conjunta, o que inevitavelmente aumentaria os gastos. Assim a solução de reforço da estrutura de concreto com a fibra de carbono foi a melhor escolha, não havendo nenhuma restrição à sua utilização. É importante frisar que o reforço com a fibra de carbono tem suas particularidades, sendo necessária avaliação de um especialista para tomar esta decisão, já que existem outros métodos de reforço de estrutura para serem comparados. 59 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACI Committee 440, 2001, Guide for the Design and Construction of Externally Bonded FRP Systems for Strengthening Concrete Structures. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT), NBR-6118, 2001, Projeto de Estruturas de Concreto (Projeto de revisão da NBR 6118). Brasil. FONSECA, TATIANA DE CÁSSIA C. S. DA, “ Reforço e Incremento da Rigidez à Flexão de Ligações Viga-Pilar de Estruturas e Concreto Pré-Moldado com Polímero Reforçado com Fibra de Carbono” – 2007 – São Carlos KEBER, JOÃO ALBERTO – “ Laudo Técnico de Verificação Estrutural, Edifício Residencial San Lázzaro” – 2007 – Florianópolis MACHADO, ARI DE PAULA – “Reforço de Estruturas de Concreto Armado com Fibras de Carbono” – 2002 - São Paulo – PINI. MACHADO, ARI DE PAULA – “Refuerzo a Sísmicos de Estructuras de Concreto Armado com Sistemas CFC” – 2006 – Santiago de Chile. RELVAS, FERNADO JOSÉ – “Curso Prático de Diagnostico, Preparo, Proteção e Reforço de Estruturas de Concreto” – 2003 – São Paulo. TAERWE, L. et al, “Behavior of RC Beams Strengthened in Shear by External CFRP Sheets”. In: Proceedings of the Third International Symposium of Non-metallic (FRP) Reinforcement for Concrete Structures, v. 2, pp. 559-566, Japan, october,1997. TÉCHNE. Reforço de estruturas de concreto com fibras de carbono. Revista Téchne: a revista do engenheiro civil, São Paulo: Editora Pini, n.125, p. 23-27, agosto de 2007. 60 ANEXO A Projeto de locação e especificação da fita de fibra de carbono, elaborado pelo escritório de Reforço.