OTIMIZAÇÃO DA PRODUÇÃO de calcário em plantio direto. Em média, cerca de 70% do comprimento de raízes de cevada, trigo e milho foram encontrados na camada de solo de 0-20 cm, e 30% nas camadas do subsolo (20-60 cm), independentemente da aplicação de calcário na superfície ou com incorporação, no sistema plantio direto. Assim, salientou que a preocupação com respeito à aplicação de calcário na superfície promover maior concentração de raízes na camada superficial do solo e comprometer a absorção de água e nutrientes em períodos de estiagem não deve existir, considerando os critérios que têm sido empregados para a recomendação de calagem na superfície em sistema plantio direto. Estudos com trigo, por exemplo, mostraram que, mesmo com a ocorrência de falta de chuvas por longos períodos durante a fase vegetativa, a aplicação superficial de calcário não influenciou o comprimento relativo de raízes no perfil do solo e proporcionou adequado estado nutricional das plantas. Quanto à influência da calagem superficial na nutrição das plantas, Eduardo disse que os estudos existentes a esse respeito são, em sua maioria, referentes à aplicação de calcário dolomítico. Em seis safras de soja, por exemplo, observou-se que a calagem realizada na superfície aumentou os teores foliares de Ca e Mg em três de seis cultivos com soja, e nos dois cultivos com milho. No entanto, em outros solos ácidos manejados em plantio direto com teores mais elevados de Ca2+ e Mg2+ trocáveis, a calagem proporcionou alterações muito pequenas nas concentrações de Ca e Mg nas folhas de cevada, trigo, soja e milho, mesmo quando incorporada ao solo, indicando que, mesmo em condições ácidas no sistema plantio direto está havendo boa absorção de Ca pelas plantas porque nesses solos os teores de Ca são suficientes. Observou-se também que, muitas vezes, a absorção de Mg tem sido mais favorecida com a aplicação de calcário dolomítico do que a própria absorção de Ca. Explicou que maiores cuidados devem ser tomados com a adubação potássica em solos muito ácidos e que demandam grande quantidade de calcário, para que a produção de grãos não seja prejudicada por desequilíbrios nutricionais de cátions na planta, principalmente por antagonismo entre Mg e K. No Brasil, vários estudos com calagem em Latossolos ácidos demonstraram a eficiência do calcário aplicado na superfície sobre a produção de grãos de culturas em rotação no sistema plantio direto. Merece atenção, no entanto, as altas produtividades das culturas na ausência de calcário, em solos com elevada acidez (pH baixo e alumínio trocável alto), em plantio direto. As explicações para essas altas produtividades das culturas em solos ácidos sob plantio direto têm sido relacionadas com os seguintes fatores: (a) menor toxicidade do alumínio para as plantas, (b) concentrações suficientes de cátions trocáveis, (c) maior umidade disponível no solo e (d) genótipos tolerantes ao alumínio. Em um estudo sobre calagem na superfície a longo prazo em sistema plantio direto, na região centro-sul do Paraná, foi obtido um expressivo aumento na produção de grãos de trigo, moderadamente sensível ao alumínio, com a aplicação superficial de calcário, quando houve falta de chuvas durante longos períodos da fase vegetativa e logo após o florescimento da cultura (Figura 1). A produção de trigo, avaliada em 2003, foi aumentada de forma quadrática com as doses de calcário aplicadas em 1993. A máxima produção de trigo foi alcançada com a dose de 4,5 t ha-1 de calcário, ocasionando aumento da ordem de 2,5 t ha-1 de grãos. Assim, o elevado incremento na produção de grãos de trigo, resultante de períodos de déficit hídrico que ocorreram durante a fase de desenvolvimento vegetativo da cultura, mostra de forma bastante clara que a resposta das culturas à calagem na superfície, INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 117 – MARÇO/2007 Figura 1. Produção de grãos de trigo em função da calagem na superfície em sistema plantio direto. Calcário dolomítico aplicado em 1993 e produção de trigo avaliada em 2003. em sistema plantio direto, depende do regime hídrico que ocorre durante o ciclo de desenvolvimentodas plantas. Por essa razão, os estudos que visam a definição de critérios para a recomendação de calagem na superfície em plantio direto devem ser realizados por longo prazo no campo e devem considerar a tolerância dos genótipos ao alumínio e às condições climáticas. Eduardo finalizou concluindo que: • A calagem na superfície em sistema plantio direto apresenta eficiência na correção da acidez do solo e no suprimento de Ca e Mg como nutrientes. Mais estudos são necessários para melhor elucidar os mecanismos envolvidos na melhoria das condições químicas do subsolo por meio da calagem na superfície; • Do ponto de vista da nutrição das plantas em Ca e Mg, seria importante a realização de estudos envolvendo diferentes fontes de calcário com variados teores de Mg; • A resposta das culturas à calagem na superfície depende do regime hídrico que ocorre durante o ciclo de desenvolvimento das plantas. A complexação do Al com ligantes orgânicos e a toxicidade do Al para as plantas cultivadas em plantio direto precisam ser mais estudadas em condições de seca. • A calagem na superfície em sistema plantio direto deve ser recomendada somente para solo com pH (CaCl2) < 5,6 ou V < 65 %, na camada de 0-5 cm. • O cálculo da necessidade de calagem na superfície em sistema plantio direto deve ser feito pelo método da elevação da saturação por bases para 70%, em amostra de solo da camada de 0-20 cm. • A dose de calcário calculada deve ser distribuída sobre a superfície em uma única aplicação ou de forma parcelada durante até 3 anos. Palestra: CÁLCIO NOS SOLOS E NAS PLANTAS – Klaus Blankenau, Research Centre Hanninghof, Yara International, Alemanha, email: [email protected] (apresentado por João Eduardo S. Maçãs, Yara Brasil, Porto Alegre, RS, email: [email protected]) Segundo Klaus, o cálcio (Ca) é um nutriente importante para as plantas e somente uma pequena parte do total que está na solução do solo encontra-se disponível. A remoção pelas culturas e a 17 OTIMIZAÇÃO DA PRODUÇÃO lixiviação de Ca geram a acidificação do solo, e a deficiência do elemento geralmente é encontrada em solos ácidos, com níveis menores que 5 mg L-1 de Ca. Assim, é necessário o seu suprimento contínuo. O Ca melhora a estrutura, a permeabilidade e a infiltração de água no solo e ajuda a planta a suportar o estresse por salinidade. Por isso, é sempre importante manter o equilíbrio do Ca com os outros cátions do solo para evitar o antagonismo e a competição. Em termos de absorção pelas plantas, o Ca compete com outros cátions, como N+, K+, Mg2+, NH4+, Fe2+ e Al3+. Solos ácidos, contendo Al3+ livre ou uma grande quantidade de amônio aplicada ao sistema, podem diminuir a absorção de Ca pelas plantas. Há uma faixa ótima de equilíbrio entre os teores de Ca, Mg e K para as culturas. Em laranja, por exemplo, observa-se que a produção relativa encontra-se próxima a 100 quando a relação Ca:K está na faixa de 4,0. Em banana, altas doses de K podem promover deficiência de Ca e diminuir a produção. Klaus disse que o Ca é absorvido pelas plantas junto com a água do solo, por fluxo de massa, e se desloca principalmente para os órgãos de transpiração, acumulando-se nas folhas, sendo limitado o seu transporte, via floema, para os frutos. Assim, ele não é redistribuído das folhas mais velhas para as mais novas, nem das folhas para os frutos ou sementes (Figura 1). Cálcio: transporte limitado via floema para o fruto Cálcio la co Cálcio Lamela média: junção de duas células Célula 2 Célula 1 Célula 3 Figura 2. Na lamela média, o cálcio está unindo as células como uma “cola”. Em batata, a deficiência de Ca provoca perda da permeabilidade da parede celular, causando a podridão mole; em maçã, causa a podridão amarga (bitter pit), diminuindo a firmeza do fruto e o tempo de estocagem. Klaus explicou que o calcário e o gesso são essenciais para estabelecer o pH ótimo do solo e fornecer Ca para o crescimento do sistema radicular das culturas. Disse que o calcário disponibiliza o Ca na solução do solo aos poucos, o que pode ser suficiente para satisfazer as exigências regulares de Ca para o desenvolvimento da cultura. Porém, há condições nas quais são necessárias quantidades maiores de Ca do que as fornecidas pelo calcário O cálcio não é ou outras fontes de Ca insolúveis em água, redistribuído das como nas culturas fertirrigadas, onde o suprifolhas velhas para as mento regular de Ca solúvel é mais eficiente do mais novas ou das que a liberação gradual da fração insolúvel do folhas para os frutos solo. ou sementes A Tabela 1 apresenta diferentes fontes de Ca com diferentes solubilidades em A absorção de cálcio segue a absorção da água pura. Observa-se que 1 L de água dissolágua e sua ve 1 kg de nitrato de cálcio, enquanto são nedistribuição na planta cessários 55 L de água para dissolver 1 kg de fosfato monocálcico e 66.000 L de água para dissolver 1 kg de carbonato de cálcio (CaCO3) ou 10.000 L de solução do solo rica em CO2. Figura 1. O movimento do cálcio ocorre principalmente para os órgãos que transpiram. Até 90% do total de Ca está localizado na parede celular, ou mais especificamente na lamela média, onde é o “cimento” que une as células, constituindo uma barreira física contra o ataque de patógenos (Figura 2). Aos frutos, ele confere firmeza e qualidade e melhor condição para armazenamento. Assim, se houver deficiência de Ca nos frutos haverá desintegração das células. A podridão apical (fundo preto) em tomate, por exemplo, é um distúrbio fisiológico atribuído à deficiência de Ca e é mais pronunciada sob condições de estresse hídrico, alta salinidade e desequilíbrio por excesso de amônio na solução. Na planta, o Ca é importante para o crescimento das raízes e dos brotos e aumenta a tolerância ao estresse por calor, vento e frio (Figura 3). Em pomares comerciais de citros, a deficiência de Ca nos frutos provoca a deformação no albedo (creasing), que pode ser causada por desequilíbrio entre as doses de K e de Ca na adubação, além de rachadura (splitting) (Figura 4). Pulverizações foliares de nitrato de cálcio reduzem os sintomas de splitting. 18 B A Ca Sem Ca Com Ca Figura 3. Efeito do cálcio sobre o crescimento da parte aérea e das raízes (A) e sobre a tolerância das plantas ao calor, plantas de batata com 4 semanas, sob temperaturas diurna e noturna de 30oC e 20oC, respectivamente (B). INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 117 – MARÇO/2007 OTIMIZAÇÃO DA PRODUÇÃO A bém concentrações de média a alta do íon amônio para não reduzir a germinação do algodão e causar a deficiência temporária de Ca por competição com aquele íon. B Figura 4. Sintomas de splitting (A) e de creasing (desintegração do albedo) (B) em citros. Tabela 1. Solubilidade de diferentes fontes de cálcio em água. Fonte Nitrato de cálcio Cloreto de cálcio Fosfato monocálcico Sulfato de cálcio Óxido de cálcio Carbonato de cálcio Ca (%) 19 36 16 23 71 40 Litros de água para dissolver 1 kg do produto 1 1,3 55 415 770 66.000 Klaus explicou que o nitrato de cálcio pode fornecer o Ca disponível rapidamente não somente para culturas sob sistemas de fertirrigação, mas também para aquelas com rápido crescimento e em períodos específicos de alta demanda de Ca. O algodão, por exemplo, tem uma demanda relativamente alta de Ca e se desenvolve melhor se o elemento encontra-se em quantidade suficiente e dissolvido na solução do solo já nos primeiros dias após a germinação, e uma aplicação de nitrato de cálcio solúvel em água como starter resulta em aumentos na produtividade, quando comparada à prática tradicional. Mas, o desafio no uso de nitrogênio é evitar a aplicação de dose elevada após o florescimento para impedir o crescimento vegetativo muito intenso, o desenvolvimento impróprio das maçãs e o atraso da maturação. Por outro lado, deve-se evitar a utilização de pouco N no início do desenvolvimento, para não comprometer o crescimento inicial da planta, o pegamento de frutos e a produção de fibras. Evitar tam- Klaus finalizou dizendo que as pesquisas de campo indicam que as plantas adubadas com nitrato de cálcio como starter apresentam-se mais saudáveis e mais resistentes a pragas e doenças devido ao efeito sinérgico do nitrato e do cálcio na redução da pressão por doenças. Citou, por exemplo, o efeito importante do íon nitrato na redução da severidade da fusariose em tomateiro como na inibição da esporulação e da germinação de esporos de Fusarium oxysporum (Figura 5). O íon nitrato também diminui a sensibilidade do tomateiro ao ácido fusárico, uma toxina liberada pelo patógeno. Assim, a redução na incidência de doenças pode ser explicada pela função dos dois elementos na planta: • O cálcio fortalece as paredes celulares da planta e forma uma barreira física contra patógenos. • O nitrato promove alta eficiência de uso do N, sem perdas por volatilização, com menor fitotoxicidade às plantas e com menor imobilização microbiana, comparado à amônia e à uréia, e sem acidificar o solo. Assim, o uso de nitrato de cálcio reduz as perdas de mudas jovens de citros por Phytopthora, a severidade do ataque de Fusarium em tomate, o risco de Botrytis em morango e roseira, de Erwinia em batata e de Cercospora em café. Palestra: MAGNÉSIO NOS SOLOS E NAS PLANTAS – Toni Wiend, Potabrasil, São Paulo, SP, e-mail: [email protected] De acordo com Toni, o magnésio (Mg) é o 8º mineral mais abundante na crosta terrestre e seu conteúdo nos solos varia de 0,1% em solos de textura grossa, arenosos, em regiões úmidas, até 4% em solos de textura fina, em regiões áridas ou semi-áridas, formados a partir de rochas com alto teor de Mg. O magnésio do solo origina-se da decomposição de rochas contendo minerais primários como dolomita e silicatos com Mg (hornblenda, olivina, serpentina e biotita) ou ainda em minerais de argila secundários, como clorita, ilita, montmorilonita e vermiculita. Com a decomposição das rochas primárias e liberação do Mg para a fração trocável do solo, o elemento pode ser lixiviado em Figura 5. Nitrato de cálcio reduz a severidade do ataque de Fusarium em tomateiro. INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 117 – MARÇO/2007 19