V. 1 | N. 1 | JUL – DEZ 2011 1 Revista do Curso de Educação Física – UNIJORGE A PRÁTICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR COM ADOLESCENTES THE PRACTICE OF PHYSICAL EDUCATION SCHOOL WITH ADOLESCENTS Nilton César Cardoso Souza1 RESUMO A Educação Física Escolar sugere grande mudança na postura dos professores que buscam a aplicação de inúmeras abordagens para identificar a que melhor se adapte ao seu modo de trabalho. Este artigo teve como objetivo analisar o nível de satisfação dos adolescentes com as aulas de Educação Física e identificar possibilidades para o trabalho com adolescentes no universo escolar. Para atingir os objetivos previstos, foi realizada uma pesquisa de campo, aplicada a uma amostra de 120 (cento e vinte) estudantes de nível médio de duas escolas da cidade de Salvador, sendo 50% alunos da rede pública e outros 50% da rede particular. Concluímos que não existe uma formula mágica que garanta o sucesso, cabendo ao professor identificar as necessidades de cada turma e trabalhá-las auxiliando na formação do senso crítico dos adolescentes, sendo este um dos objetivos mais importantes da Educação Física Escolar. PALAVRAS-CHAVE: Educação Física Escolar; Metodologia de ensino; Adolescentes. 1 Bacharel em Ciências Contábeis pela UNEB e Graduado - Licenciatura em Educação Física pela UNIJORGE. E-mail: [email protected] V. 1 | N. 1 | JUL – DEZ 2011 2 Revista do Curso de Educação Física – UNIJORGE ABSTRACT The Physical Education suggests a relevant change in the attitude of teachers that look for numerous approaches to identify the one that best suits at the way they work. This article aims to analyze the level of satisfaction of teenagers with physical education classes and identify opportunities to work with teenagers in the school environment. To achieve the planned objectives, a field study was conducted, applied to a sample of 120 (one hundred and twenty) high school students from two schools in the city of Salvador, 50% of public school students and 50% in private school. We conclude that there is no magic formula that will guarantee success, leaving the teacher to identify the needs of each class and work to help them in the formation of a critical sense of teenagers, because that is one of the most important objectives of physical education. Keywords: Physical Education; Teaching methodology; Teenagers. INTRODUÇÃO Ao idealizar um tema para investigar e confeccionar este Trabalho de Conclusão de Curso, avaliei pesquisar muitas áreas da Educação Física, contudo uma pergunta simples não saía de minha mente: Por que os adolescentes rejeitam tanto as aulas de Educação Física? A verdade é que nunca havia parado para refletir sobre o assunto, sobre as possíveis causas para a falta de estímulo, e ainda, sobre como fazer algo que pudesse melhorar essa situação. Mais ainda, seria bastante interessante e consistente que os próprios estudantes me ajudassem a identificar os problemas e dessa forma me fornecessem as respostas de que necessitava. Observa-se que a Educação Física Escolar atravessa uma fase de mutação, caracterizada pelo amadurecimento na postura de seus professores, que buscam hoje não apenas ministrar suas aulas com práticas simplórias sem um contexto pedagógico claro, mas preocupam-se com a aplicação de metodologias que estejam fundamentadas nas diferentes tendências pedagógicas da Educação Física. V. 1 | N. 1 | JUL – DEZ 2011 3 Revista do Curso de Educação Física – UNIJORGE A prática da Educação Física Escolar, enquanto prática pedagógica, está respaldada na necessidade humana em tematizar as formas de expressão corporal buscando a disseminação da cultura de um povo. Entretanto, não basta apenas concentrar os esforços na fundamentação teórica das aulas, é necessário buscar formas de conduzir as atividades para torná-las atrativas aos adolescentes, fazendo com que eles se envolvam e participem ativamente das práticas e vivências propostas pelo professor. EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NO BRASIL Observa-se hoje no Brasil uma evolução da Educação Física Escolar. Percebendo-se uma mudança de postura dos profissionais da área que passam a visualizar outras possibilidades de trabalho no ambiente escolar, muito além da simples prática esportiva ou repetição mecânica de movimentos. Nota-se a preocupação dos profissionais com a continuidade da formação na busca por especializações que garantam um melhor preparo para o ensino de Educação Física Escolar. Ainda assim, há uma grande dificuldade dos professores de Educação Física em tornarem as suas aulas interessantes aos adolescentes. Vê-se ainda muito frequente a prática de atividades baseadas em repetições cadenciadas de movimentos padronizados, sem muita levar-se em conta a vontade, o prazer dos alunos, e mais ainda, muitas vezes não é identificado o objetivo oculto na prática proposta. Existem, então, formas mais prazerosas e atraentes de ministrar aulas de Educação Física a adolescentes? Sabe-se que o processo educacional de um indivíduo compreende não apenas educação acadêmica. Torna-se importante que os sistemas de ensino entendam a necessidade da formação geral do estudante e não apenas enfoquem o conhecimento, autenticando outras formas de aprendizagem, através das quais seja admitida a educação como um grande organismo que alicerça a formação do indivíduo, V. 1 | N. 1 | JUL – DEZ 2011 4 Revista do Curso de Educação Física – UNIJORGE pensante e participante, buscando reformas educativas e práticas pedagógicas que se adaptem à dinâmica da sociedade. Betti (1997, p.07) comenta “sobre as duas grandes "matrizes" que geram os diversos entendimentos atuais de Educação Física no Brasil: uma, que vê a Educação Física como ciência (básica ou aplicada); outra, que a vê como prática pedagógica.” Na primeira matriz, considera-se a Educação Física como uma ciência autônoma ou relativamente autônoma, que possui seu próprio objeto de estudo (motricidade humana, ação motora, movimento humano etc.) e caracteriza-se por ser uma área de conhecimento interdisciplinar. Como sinal de ruptura, outras denominações são propostas para a área: "Cinesiologia", "Ciência da Motricidade Humana", ou "Ciências do Esporte", esta última resultante da influência alemã. A "Educação Física", entendida como aplicação ou ramo pedagógico, seria, então, uma subárea desta ciência. (BETTI, 1997, p. 07) Freire (2009, p. 194) argumenta que “Fala-se muito de uma nova Educação Física, transformadora, comprometida com uma sociedade mais humana, democrática, digna. Mas é preciso construir e colocar em prática uma Educação Física assim.” Historicamente a Educação Física sempre sofreu preconceitos, principalmente por sempre ser confundida como ginástica, pura e simples repetição de movimentos, sem a preocupação com a fundamentação teórica. A introdução da Educação Física oficialmente na escola ocorreu, no Brasil, em 1851, com a reforma Couto Ferraz, embora a preocupação com a inclusão de exercícios físicos na Europa, remonte ao século XVIII, com Guths Muths, J.J. Rosseau, Pestalozzi e outros. Em reforma realizada, por Rui Barbosa, em 1882, houve recomendação para que a ginástica fosse obrigatória, para ambos os sexos, e que fosse oferecida para as Escolas Normais. Todavia, a implantação, de fato, dessas leis ocorreu apenas em parte no Rio de Janeiro (capital da República) e nas escolas militares. (BETTI, 1991, APUD DARIDO, RANGEL, 2008, p. 02) Após esse período, teve início uma concepção chamada “higienista”, através da qual a maior preocupação era com hábitos de higiene e saúde, onde foi valori- V. 1 | N. 1 | JUL – DEZ 2011 5 Revista do Curso de Educação Física – UNIJORGE zado o desenvolvimento físico em busca de uma geração de indivíduos fortes fisicamente e capazes de serem bem aproveitados em um combate de guerra. Entretanto, após o período das grandes guerras, este modelo cai em desuso e passa a dar lugar a um mais “esportivista”, na tentativa de implementar uma educação física diferenciada da militarista e através da qual era incentivada, principalmente a prática de esportes como o futebol, “pegando carona” no sucesso da seleção brasileira nas copas do mundo de 1958 e 1962, o que foi sustentado, principalmente, com a tomada de poder pelos militares em 1964. Eles incentivaram a prática de esportes de rendimento, buscando sustentação ideológica na Educação Física Escolar, já que esta proporcionaria ascensão do país em competições internacionais de alto nível. Observa-se que ao longo do tempo surgiram inúmeras formas de se tratar a Educação Física na escola, inclusive um enfoque mais recreacionista que perdura e é ainda hoje bem aceito em inúmeras instituições, onde professores seguem a prática do “dar a bola” deixando os alunos tomarem as rédeas das aulas. Esse modelo, algumas vezes chamado de recreacionista, embora este não seja um nome muito adequado, aconteceu por duas razões principais: primeiramente, porque o discurso acadêmico passou por muitos anos discutindo o que não fazer nas aulas de Educação Física, e não apresentando propostas viáveis e exequíveis para a prática; o outro fator diz respeito à falta de políticas públicas que facilitem de fato o trabalho do professor, como condições de trabalho, espaço, material adequado, políticas salariais e, principalmente, apoio às ações de formação continuada (KUNZ, 1994, APUD DARIDO, RANGEL, 2008, p. 04). De acordo com Darido (2003), existem duas correntes que dividem as opiniões de educadores acerca da melhor abordagem para a prática de Educação Física Escolar: a abordagem desenvolvimentista e a corrente construtivista. Os defensores do sistema desenvolvimentista tendem a focar seus trabalhos em aprendizagem de movimentos, preocupando-se com o desenvolvimento motor acima de qualquer outro aspecto, provocando com isso uma mecanização das aulas de Educação Física. V. 1 | N. 1 | JUL – DEZ 2011 6 Revista do Curso de Educação Física – UNIJORGE Darido (2003, p.4) afirma ainda que, de acordo com a abordagem desenvolvimentista, “uma aula de Educação Física deve privilegiar a aprendizagem dos movimentos, embora possam ocorrer outras aprendizagens em decorrência da prática das habilidades motoras.” Ao se partir para o ponto de vista de que o movimento é o objeto de estudo e aplicação da Educação Física, o propósito de uma atuação mais significativa e objetiva sobre o movimento pode levar a Educação Física a estabelecer, como objetivo básico, o que se costuma denominar aprendizagem de movimento (TANI et al.1988, p. 64). Os entusiastas da corrente construtivista procuram focar-se no processo de desenvolvimento global do indivíduo, por meio da aplicação de métodos alternativos de ensino. [...] além de procurar valorizar as experiências dos alunos e a sua cultura, a proposta construtivista também tem o mérito de propor uma alternativa aos métodos diretivos, tão impregnados na prática da Educação Física. O aluno constrói seu conhecimento a partir da interação com o meio, resolvendo problemas (DARIDO 2003, p. 08). CARACTERÍSTICAS DA ADOLESCÊNCIA Adolescência é a fase do desenvolvimento humano imediatamente após a fase da terceira infância. A adolescência dura aproximadamente 10 anos, dos 11 ou 12 anos até pouco antes ou depois dos 20 anos. Seu ponto de início ou de término não é claramente definido. Em geral, considera-se que a adolescência começa com a puberdade, processo que conduz à maturidade sexual ou fertilidade, ou seja, a capacidade de reprodução. Antes do século XX, as crianças das culturas ocidentais entravam no mundo adulto quando amadureciam fisicamente ou quando iniciavam um aprendizado vocacional. Hoje, o ingresso na idade adulta leva mais tempo e é menos bemdefinido. A puberdade começa mais cedo do que antes, e o ingresso em uma profis- V. 1 | N. 1 | JUL – DEZ 2011 7 Revista do Curso de Educação Física – UNIJORGE são tende a ocorrer mais tarde, pois sociedades complexas exigem períodos mais longos de educação ou de treinamento profissional para que o jovem possa assumir responsabilidades adultas (PAPALIA et al, 2006, p. 440). O último dos períodos de desenvolvimento da inteligência descritos por Piaget começa na adolescência e introduz o indivíduo no mundo dos sistemas e teorias. “Comparado a uma criança, o adolescente é um indivíduo que constrói sistemas e teorias.” Nesse período denominado por Piaget operatório-formal ou hipotético-dedutivo, o sujeito rompe as barreiras da realidade concreta, da prática atual e se interessa por problemas hipotéticos [...] (FREIRE, 2009, p. 31). A adolescência é a fase do desenvolvimento do indivíduo onde são estabelecidos padrões comportamentais que irão influenciar seu desenvolvimento físico e psicológico para o resto da vida, tornando-se importante grande acompanhamento por parte dos responsáveis, buscando orientá-los, ainda que permitindo seu desenvolvimento através da experimentação responsável. A adolescência está carregada de riscos ao desenvolvimento saudável, assim como de oportunidades de crescimento físico, cognitivo e psicossocial. Padrões de comportamento de risco, como consumo de bebidas alcoólicas, abuso de drogas, atividade sexual, envolvimento em gangues e uso de armas de fogo, tendem a se estabelecer no início da adolescência. Entretanto, cerca de quatro a cada cinco jovens não enfrentam maiores problemas, pois apesar de estarem expostos a tais fatores de riscos, não desenvolvem tais comportamentos (PAPALIA et all, 2006, p. 471). A EDUCAÇÃO FÍSICA E OS ADOLESCENTES Existem formas diferentes de ministrar aulas de Educação Física que dependerão de fatores diversos para sua determinação. Considera-se, contudo como um dos mais importantes a formação do professor regente da turma, como fator determinante sobre a forma de trabalho adotada com cada turma. V. 1 | N. 1 | JUL – DEZ 2011 8 Revista do Curso de Educação Física – UNIJORGE Buscando relacionar a ação pedagógica do professor à sua formação profissional, Darido (1996) identificou dois tipos de formação: aquela tradicional, voltada à valorização da prática esportiva em detrimento de outras práticas educativas, valorização da competição e da performance, e outra mais científica, a qual enfatiza a teoria e o conhecimento científico derivado das ciências-mães. No primeiro tipo de formação parece não haver dúvidas quanto à prática pedagógica dos professores, [...] é bastante aproximado ao papel do treinador. Ele seleciona e organiza os conteúdos, a metodologia e a avaliação, ele é disciplinador, ou seja, ele é um treinador que vigia, dirige, aconselha, corrige. Além disso, ele mantém relações impessoais com os alunos, com o objetivo de garantir a sua autoridade. No entanto, na formação mais cientifica, a qual tenta corrigir as falhas detectadas na formação dita tradicional, os resultados da prática não se apresentaram muito bem, [...] os conhecimentos adquiridos, por exemplo, em disciplinas como Fisiologia do Exercício, Aprendizagem Motora ou Sociologia não são utilizados pelos professores em suas aulas, ficando sua prática pedagógica atrelada ainda aos esportes tradicionais, ao gesto técnico ou à postura acrítica. (DARIDO, 1996, apud GALVÃO, 2002, P. 66). Seria então responsabilidade direta do professor o encaminhamento das aulas de Educação Física de forma mais prazerosa? Para Darido (2008, p. 109) a interação professor-aluno é um aspecto fundamental no processo ensino e aprendizagem. Costuma-se desde cedo avaliar as aulas de Educação Física sob uma visão mecanicista, onde a repetição de movimentos ganha ênfase e status, e onde qualquer outra prática que fuja dos moldes ditos comuns pela sociedade acaba enfrentando grandes barreiras de aceitação. Julga-se muitas vezes como excelente uma aula de Educação Física onde os alunos puderam se organizar e conseguiram desenvolver um jogo de futebol em 50 minutos de aula sem a interferência do professor. Entendemos que a Educação Física Escolar é uma prática cultural, com uma tradição respaldada em certos valores. Ela ocorre historicamente em um certo cenário, com um certo enredo e para um certo público, que V. 1 | N. 1 | JUL – DEZ 2011 9 Revista do Curso de Educação Física – UNIJORGE demanda uma certa expectativa. É justamente isso que faz a Educação Física Escolar ser o que é. Sendo uma prática tradicional, ela possui certas características, muitas vezes inconscientes para seus atores. Em outras palavras, existe um certo estilo de dar aulas de Educação Física, estilo que é, na maioria das vezes, valorizado pelos alunos, comunidade e direção da escola (DAOLIO, 1996, p.40). Mas a Educação Física Escolar tem muito mais a oferecer aos alunos que apenas a simples prática esportiva, ou a repetição cadenciada de movimentos, ela tem a função de ajudar a criar seres pensantes competentes na solução de problemas e que possam continuar a se desenvolver face aos desafios do cotidiano. Essa tradição cultural, no entanto, tem se mostrado perversa para um grande contingente de alunos, que estão sendo alijados da Educação Física, ou sendo subjugados nas aulas, em nome de uma excelência motora que só alguns são capazes. É comum ouvirmos pessoas adultas falando de sua experiência de Educação Física com muita tristeza ou com muita raiva. Pessoas que ficaram à margem das aulas e que não possuem hoje autonomia para usufruir da cultura corporal (DAOLIO, 1996, p.40). Mas então como fazer com que as aulas de educação física tornem-se atrativas aos adolescentes, que estão sempre tão ávidos por novas experiências, novos desafios, e ainda assim conseguir atingir seus objetivos enquanto componente da formação social do cidadão? Pode-se utilizar recursos como os jogos cooperativos, que através de seu caráter lúdico buscam evidenciar o prazer de jogar, desvinculando um pouco o aspecto competição, mostrando que este é apenas um dos resultados da prática e não a razão do jogar. [...] É tarefa da Educação Física, preparar o aluno para ser um praticante lúcido e ativo, que incorpore o esporte, o jogo, a dança e as ginásticas em sua vida, para deles tirar o melhor proveito possível. Isto implica também compreender a organização institucional da cultura corporal em nossa sociedade; é preciso prepará-lo para ser um consumidor do esporte espetáculo, para o que deve possuir uma visão crítica do sistema esportivo profis- V. 1 | N. 1 | JUL – DEZ 2011 10 Revista do Curso de Educação Física – UNIJORGE sional, e instrumentos conceituais e perceptivos para uma apreciação estética e técnica do esporte. É preciso preparar o cidadão que vai aderir aos programas de ginástica aeróbica, musculação, natação, etc, em instituições públicas e privadas, para que possa avaliar a qualidade do que é oferecido e identificar as práticas que melhor promovam sua saúde e bemestar. [...] (BETTI, 1997, p. 15). Torna-se necessário, então, fornecer uma direção aos adolescentes, uma vez que estando em processo de formação do caráter, em momentos de escolhas que levarão para o resto de suas vidas, é imprescindível saber opinar e avaliar criticamente as opções que surgirão, e nesse ponto entra a base dada pela educação. É preciso sempre oferecer opções de atividades que venham despertar no adolescente o interesse por algum campo da Educação Física, para que assim, após experimentar várias opções, possa identificar enfim alguma, ou várias que lhe agradem mais. Através da experimentação de várias atividades distintas e de formas diferentes de se praticar uma mesma atividade, a Educação Física Escolar consegue trabalhar conteúdos como inclusão social e discriminações diversas, de uma forma bem mais eficaz e menos carregada que as matérias tradicionais, promovendo o convívio e a interação entre os adolescentes. Nesse sentido, temos proposto uma Educação Física Plural, cuja condição mínima e primeira é que as aulas atinjam todos os alunos, sem discriminação dos menos hábeis, ou das meninas, ou dos gordinhos, dos baixinhos, dos mais lentos. Esta Educação Física Plural parte do pressuposto que os alunos são diferentes, recusando o binômio igualdade/desigualdade para compará-los. Sendo eles diferentes e tendo a aula que alcançar todos os alunos, alguns padrões de aula terão que, necessariamente, ser reavaliados (DAOLIO, 1996, p. 41). Experimentando práticas dos elementos de cultura corporal, os estudantes têm a possibilidade de se livrar de preconceitos e de assumir posturas críticas frente a situações cotidianas. V. 1 | N. 1 | JUL – DEZ 2011 11 Revista do Curso de Educação Física – UNIJORGE As aulas de Educação Física Escolar ministradas para os adolescentes devem tornar-se atrativas e motivadoras e, para isso, precisam abordar temas atuais e impactantes do cotidiano. Podem ser realizadas práticas alternativas de esportes adaptados, jogos pré-desportivos, brincadeiras populares, corridas de aventura, jogos cooperativos, lutas etc. Há uma enorme gama de opções a serem usadas pelos professores, no intuito de motivar a participação do grupo nas aulas. OBJETIVO O presente artigo teve como objetivo, analisar o nível de satisfação dos adolescentes em relação aos aspectos metodológicos utilizados durante as aulas de Educação Física, evidenciando metodologias que promovam uma prática mais prazerosa no universo escolar. METODOLOGIA Para atingir os objetivos previstos, foram identificados pontos e fatos relevantes colhidos nos resultados de uma pesquisa de campo, aplicada a uma amostra de estudantes da cidade de Salvador entre a segunda e a terceira semanas do mês de agosto de 2010. O instrumento utilizado foi um questionário que abordou os aspectos de estrutura física, questionando sobre local, horário e frequência de realização das aulas de Educação Física; organização didática, indagando sobre a aceitação de turmas mistas (ambos os sexos) e preferência por conteúdos a serem abordados; preferência dos alunos quanto às formas de avaliação (prova escrita), material didático (livros e textos); e, por fim, uma questão aberta para sugerir qualquer forma de melhoria para as aulas de Educação Física ou reclamar de algum problema recorrente em sua escola. Vale ressaltar que os indivíduos não foram avisados previamente sobre a pesquisa, e que o tempo médio usado para preenchimento do ques- V. 1 | N. 1 | JUL – DEZ 2011 12 Revista do Curso de Educação Física – UNIJORGE tionário foi de 15 minutos. O questionário não apresentou nenhum item que promovesse a identificação do indivíduo ou da instituição em que estudava. Este trabalho foi desenvolvido com base em pesquisa de campo, que identificou pontos e fatos relevantes e auxiliou a compreender as facetas do universo do ensino de Educação Física na adolescência, nos orientando sobre formas alternativas para tornar as aulas para essa faixa etária mais atraentes, na percepção dos próprios alunos. A pesquisa foi realizada em duas escolas da cidade do Salvador, Estado da Bahia, que tiveram seus nomes preservados, sendo uma da rede pública, denominada Escola 1(E1), situada em Brotas, atendendo principalmente às crianças e adolescentes residentes nas regiões próximas a este bairro. A escola possui estrutura física contendo salas de aula, espaço de circulação e convivência, cantina para merenda escolar, estacionamento, 3 quadras poliesportivas descobertas; campo de futebol e sala de musculação. A outra escola pertence à rede particular, denominada neste trabalho de Escola 2(E2), localizada no bairro do Itaigara que atende aos segmentos da educação fundamental até o ensino médio e possui uma estrutura física, composta de lanchonete, espaço de circulação e convivência, salas equipadas (audiovisual), biblioteca, quadra poliesportiva descoberta, sala de artes, sala de vídeo, rampas de acesso. Os sujeitos envolvidos na pesquisa foram representados por uma amostra de 120 (cento e vinte) adolescentes, compreendidos na faixa etária de 14 a 18 anos, todos estudantes do 1º (primeiro) ano do ensino médio, sendo 60 alunos da escola pública e 60 da escola particular. Na amostra analisada, nota-se uma realidade bem próxima entre as duas instituições, retratando uma convivência entre estudantes que estão em plena adolescência e outros já próximos à idade adulta. Optou-se por essa amostra pela acessibilidade promovida pela prática de estágio na escola pública e pela ajuda de colegas professores da Escola da rede particular, o que proporcionou a agilidade na aplicação dos questionários. Os dados levantados nos questionários foram analisados através de percentuais e agrupados em tabelas individuais conforme gênero e escola em que estudava 13 V. 1 | N. 1 | JUL – DEZ 2011 Revista do Curso de Educação Física – UNIJORGE o indivíduo, gerando assim quatro quadros comparativos que abordavam aspectos como a satisfação com os conteúdos abordados na matéria, horário das aulas e metodologia do professor. Buscou-se registrar de forma mais simples possível as opiniões dos maiores interessados no assunto, os alunos. RESULTADOS E DISCUSSÃO A primeira análise feita pela pesquisa foi a caracterização da amostra, identificando a faixa etária dos alunos, conforme demonstrado na tabela 1 a seguir. Tabela 1 - Faixa etária dos alunos de 1º ano do ensino médio Idade Meninas E2 Meninas E1 Meninos E2 Meninos E1 14 anos 7,9% 15,8% 18,2% 9,1% 15 anos 57,9% 36,8% 31,8% 22,7% 16 anos 28,9% 23,7% 31,8% 36,4% 17anos 5,2% 23,7% 13,6% 22,7% 18 anos 0% 0% 4,5% 9,1% Total 100% 100% 100% 100% Fonte: Própria Observa-se que, em ambos os colégios, as aulas de Educação Física são efetuadas em dois períodos de 50 minutos, em horários intercalados às aulas regulares, no mesmo turno. Quando questionados sobre a satisfação com o horário das aulas, obteve-se resultado quase unânime de aprovação na escola pública, tendo apenas uma parcela de cerca de 5% dos meninos que reprovaram a execução das 14 V. 1 | N. 1 | JUL – DEZ 2011 Revista do Curso de Educação Física – UNIJORGE aulas intercaladas com outra disciplinas no mesmo turno. Na escola particular, cerca de ¼ dos alunos de ambos os sexos admitiram não que não gostam do horário das aulas de Educação Física, mostrando satisfação da grande maioria, não sendo este fator, portanto, impeditivo para a execução das aulas práticas, conforme a Tabela 2. Tabela 2 – Horário preferido pelos alunos de 1º ano do ensino médio para as aulas de Ed. Física Itens Meninas E2 Meninas E1 Meninos E2 Meninos E1 Gostam/aceitam o ho- 74,2% 100% 72,7% 94,4% 25,8% 0 27,3% 5,6% 100% 100% 100% 100% rário das aulas Não gostam do horário das aulas Total Fonte: Própria Ao serem questionados sobre a preferência de local para realização das aulas de Educação Física, detecta-se uma preferência expressiva entre as meninas da escola pública pelas aulas em sala de aula. Tal fenômeno pode ser creditado à forma com que a Educação Física foi vivenciada até hoje por esse grupo (meninas da escola pública) que podem ter sido por muitas vezes preteridas das atividades práticas em prol do “baba” dos meninos ou podem ter sofrido os efeitos da ginástica calestênica e de atividades sem propósito explícito. Na escola da rede particular, houve um posicionamento oposto por parte da maioria dos participantes da pesquisa, demonstrado na Tabela 3. V. 1 | N. 1 | JUL – DEZ 2011 15 Revista do Curso de Educação Física – UNIJORGE Tabela 3 – Local preferido pelos alunos de 1º ano do ensino médio para as aulas de Ed. Física Itens Meninas E2 Meninas E1 Meninos E2 Meninos E1 Preferem aulas na sala 13,2% 73,7% 9,1% 36,4% Preferem aulas fora da sala 86,8% 22,3% 90,9% 65,6% Total 100% 100% 100% 100% Fonte: Própria Sobre o sistema de avaliação, os alunos opinaram se gostariam que a matéria tivesse prova escrita como forma avaliativa e mais da metade das meninas estudantes da escola pública foram favoráveis à prova escrita na matéria de Educação Física. Já entre os meninos o resultado foi bem equilibrado, pois cerca de 10% dos garotos de ambas as escolas gostariam que houvesse prova escrita na disciplina, conforme exposto na Tabela 4. Tal resultado pode ser entendido como uma demonstração de preocupação com o rendimento escolar, expressa pelas alunas da escola pública. Tabela 4 – Forma de avaliação preferida pelos alunos de 1º ano do ensino médio para Ed. Física Itens Meninas Meninas Meninos Meninos E2 E1 E2 E1 Gostariam de prova escrita como avaliação 23,7% 68,4% 9,1% 13,6% Não gostariam de prova escrita como 76,3% 31,6% 90,9% 86,4% 100% 100% 100% 100% avaliação Total Fonte: Própria V. 1 | N. 1 | JUL – DEZ 2011 16 Revista do Curso de Educação Física – UNIJORGE As avaliações têm papel fundamental no desenvolvimento dos processos educacionais, representando grandes possibilidades de melhoria através da troca de experiências entre professores e alunos. As práticas avaliativas produtivo-criativas e reiterativas buscam imprimir à avaliação uma perspectiva de busca constante de identificação de conflitos no processo ensino-apendizagem, bem como a superação dos mesmos, através do esforço crítico e criativo coletivo dos alunos e as orientações do professor (CASTELLANI FILHO et all, 2009, p. 102). Quando inquiridos sobre a preferência por conteúdos abordados em Educação Física, o tema jogos e brincadeiras foi destaque entre os alunos da escola pública, afirmando-se como preferência de 1/4 das meninas e 1/3 dos meninos. O futebol foi o esporte mais citado como preferido na pesquisa e obteve-se o resultado de cerca de 60% dos alunos da escola pública e de aproximadamente de 45% dos meninos da escola particular, além de ser o escolhido de 21% das alunas da escola pública, demonstrando um aumento no interesse pela prática do futebol feminino concentrado nas classes de menor poder aquisitivo. O handebol continua destacando-se na preferência das meninas, de ambas as escolas, como esporte coletivo. Observa-se também o voleibol como uma das opções preferidas dos alunos da escola pública, de ambos os gêneros. Temas como lutas (cerca de 9%) e danças (entre 13 e 21 %) tiveram também uma pequena participação, demonstrando que, em geral, os estudantes costumam ser conservadores nas escolhas dos temas das aulas práticas, talvéz por não ter oportunidade de vivenciar novas atividades. Observa-se um percentual elevado de meninas da escola particular (13%) que declaram não ter interesse em nenhum conteúdo proposto pelo questionário e não opinaram sugerindo nenhum outro conteúdo, conforme Tabela 5. V. 1 | N. 1 | JUL – DEZ 2011 17 Revista do Curso de Educação Física – UNIJORGE Tabela 5 – Conteúdos de Ed. Física preferidos pelos alunos de 1º ano do ensino médio Temas Meninas E2 Meninas E1 Meninos E2 Meninos E1 Basquete 0% 0% 22,7% 0% Futebol 21,0% 0% 63,6% 45,4% Voleibol 0% 26,3% 13,6% 13,6% Lutas 0% 0% 0% 9,1% Danças 13,2% 21,0% 0% 0% Jogos/Brincadeiras 21,0% 26,3% 0% 31,8% Handebol 31,6% 26,3% 0% 0% Nenhum 13,16% 0% 0% 0% Total 100% 100% 100% 100% Fonte: Própria Os conteúdos representam subdivisões dos temas a serem abordados em um programa de Educação Física escolar. Cada escola apresenta seu programa próprio, sendo os conteúdos geralmente bem parecidos, diferenciando-se quanto à forma em que são organizados durante o ano letivo. Uma nova representação da Educação Física implica considerar certos critérios pelos quais os conteudos serão organizados, sistematizados e distribuídos dentro de um tempo pedagogicamente necessário para a sua assimilação (CASTELLANI FILHO et all, 2009, p. 64). Castellani Filho et al. (2009, p. 65) argumenta que na organização do conhecimento, deve-se levar em consideração que as formas de expressão corporal dos alunos refletem os condicionantes impostos pelas relações de poder com as classes dominantes no âmbito de sua vida particular, de seu trabalho e de seu lazer. V. 1 | N. 1 | JUL – DEZ 2011 18 Revista do Curso de Educação Física – UNIJORGE O resultado da pesquisa confirma a representatividade do futebol na vida de adolescentes de menor poder aquisitivo, e dos homens em geral, entretanto percebe-se uma grande aceitação para atividades que promovam desenvolvimento social e diferentes formas de interação como os jogos cooperativos e lúdicos, tratados nesta pesquisa como jogos e brincadeiras. Freire (2009, p. 187) afirma que a Educação Física não conseguiu firmar-se no quadro mais geral da educação brasileira como uma atividade imprescindível à formação dos cidadãos. Torna-se necessária, portanto, a participação ativa da sociedade, e em especial dos alunos, no processo de construção da Educação Física, identificando suas falhas e sugerindo melhorias contínuas com base nos anseios pessoais e do grupo. Segundo Resende (1994 b, apud Darido, 2008, p. 110) a aula de Educação Física encontra-se repleta de conflitos, inerentes a qualquer forma de interação social, que, nesse caso, emergem da interação do aluno com o meio social e cultural da aula. Darido (2008, p. 110) ressalta que a relação professor – aluno deve contemplar o diálogo, e o professor, no papel de mediador, deve provocar um ambiente de reflexão, trocas e decisões superadoras das situações problemas. Ao serem questionados sobre quais seriam os problemas mais frequentes enfrentados por eles nas aulas de Educação Física, os alunos componentes da amostra nos retornaram as seguintes informações expostas na íntegra na tabela 6. Boa parte dos meninos da escola pública (cerca de 2/3 da amostra) referiuse às faltas frequentes do professor como sendo o pior prolema. Mais da metade das meninas de ambos os colégios queixam-se de falta de material didático sobre os temas abordados, enquanto apenas os meninos da escola particular (100%) estão satisfeitos com essa falta de informação. Menos de 10% dos meninos da escola particular cobraram inovação nas aulas, os demais estudantes não opinaram este item. 19 V. 1 | N. 1 | JUL – DEZ 2011 Revista do Curso de Educação Física – UNIJORGE Apenas as meninas (cerca de 10% da escola particular e 3% da escola publica) admitem não gostar da matéria Educação Física. Além disso, cerca de 4% dos meninos da escola pública gostariam de ter professores separados para teoria e prática de Educação Física. Cerca de 8% das meninas da escola particular cobram aulas mais dinâmicas, enquanto cerca de 13% dos alunos de ambos os sexos da escola pública pedem mais aulas práticas. Aproximadamente 10% das alunas da escola particular sugeriram mudar o professor da matéria como forma de melhoria. Em torno de 10% dos meninos, de ambas as escolas, sugeriram realização de campeonatos esportivos intercolegiais. Tabela 6 – Problemas, opiniões e sugestões dos alunos de 1º ano do ensino médio Itens Meninas E2 Meninas E1 Meninos E2 Meninos E1 Gostariam de material 50,0% 65,8% 0 36,4% 0 0 9,1% 0 0 5,6% 0 72,7% 10,5% 2,6% 0 0 0 0 0 4,5% 7,9% 0 0 0 didático Gostariam de inovação nas aulas Cobram assiduidade do professor Afirmam não gostar da matéria Queriam professores Separados prática / teoria Gostariam de aulas mais dinâmicas 20 V. 1 | N. 1 | JUL – DEZ 2011 Revista do Curso de Educação Física – UNIJORGE Gostariam de mais au- 0 13,2% 0 13,6% Mudar o professor 10,5% 0 0 0 Gostariam de campeo- 0 0 9,1% 13,6% las práticas natos Inter-colegiais Citaram duas opções (63,5%) Não opinaram 22% 12,8% 81,8% 22,73% Total 100% 100% 100% 100% Fonte: do autor Castellani Filho et al. (2009, p. 33) defende que o confronto do saber popular (senso comum) com o conhecimento científico universal, selecionado pela escola, é, do ponto vista metodológico, fundamental para a reflexão pedagógica. Quando solicitado aos alunos que dessem suas opniões pessoais sobre a matéria e que sugerissem melhorias para tornar as aulas de Educação Física mais agradáveis, boa parte deles, principalmente da escola particular, preferiu não opinar, demonstrando certa falta de senso crítico ou simplesmente comodismo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao buscar-se mensurar o nível de satisfação dos adolescentes com as aulas de Educação Física e, com isso, identificar formas de tornar as aulas mais sedutoras a estes indivíduos, acaba-se descobrindo algo além de uma receita de bolo, sendo as opiniões expressadas pelos alunos participantes de suma importância para a resposta a esta questão. Existem então formas de ministrar aulas de Educação Física que estejam mais sintonizadas com os interesses dos adolescentes? Sim, existem possibilidades V. 1 | N. 1 | JUL – DEZ 2011 21 Revista do Curso de Educação Física – UNIJORGE de se fazer um trabalho mais proveitoso do que o que tem sido feito na maioria das escolas da cidade. A pesquisa de campo realizada, não confirma a ideia de mudança de postura dos professores de Educação Física atuantes no universo escolar. Falta interesse em aplicar abordagens pedagógicas diversas e tentar um melhor aproveitamento nas turmas trabalhadas. Mostra-se, contudo, uma leve preocupação com a interação multidisciplinar que se demonstra, através do enfoque de temas “transversais” ao longo das unidades letivas. Nesta pesquisa, encontrou-se duas escolas que apresentam estrutura propícia à prática da Educação Física, com quadras abertas, logo a questão do espaço estaria resolvida nestes casos em especial. Demonstrou-se, entretanto, uma preferência dos alunos da escola pública por aulas realizadas na sala de aula, o que nos faz refletir sobre que fatores poderiam estar influenciando essa escolha: falta de segurança e privacidade; submeter-se à prática de atividades que não lhes agrada como esportes ou jogos; fuga de atividades muito desgastantes, são alguns dos fatores considerados. Já os alunos da escola particular, em sua expressiva maioria, aprovaram as aulas na quadra, como um momento de relaxamento, onde podem afastar-se do ambiente fechado das salas e podem interagir mais com os colegas. Quanto ao horário de realização das aulas, grande parte dos alunos respondeu que estava satisfeita com as aulas sendo intercaladas com outras matérias no mesmo turno. Nota-se claramente a preferência por prática de esportes coletivos (futebol e vôlei) entre os alunos da escola particular, enquanto os da escola pública mostram-se divididos quanto aos conteúdos trabalhados na matéria, dando ênfase aos elementos da cultura popular e aos jogos cooperativos, citados aqui neste trabalho como jogos e brincadeiras. Identifica-se uma diferença de conscientização, quando observa-se a cobrança do grupo da escola pública por material didático, inovação e até mesmo pela presença de professores nas aulas, enquanto a grande maioria dos colegas da rede V. 1 | N. 1 | JUL – DEZ 2011 22 Revista do Curso de Educação Física – UNIJORGE particular preocupa-se apenas com a possibilidade da prática do esporte. Fica evidente, então, que muitos adolescentes ainda encaram a Educação Física Escolar, não como um componente curricular, que possui conteúdos a serem discutidos e trabalhados, mas sim como um simples espaço de diversão. Costuma-se responsabilizar o professor pelo fracasso das aulas de Educação Física, mas evidencia-se aqui ser esta responsabilidade de todo o sistema de ensino que não prepara os jovens para enxergarem a importância sócio-crítica de se trabalhar os conteúdos propostos. Uma aula de Educação Física estimulante está baseada no respeito mútuo, que deve ser focado pelo professor enquanto mediador do processo. O professor deve ter a sensibilidade para conquistar seus alunos e mantê-los agregados e atentos durante as atividades, para que possam ser conduzidos com maestria e companheirismo. Deve também demonstrar domínio dos conteúdos propostos, assumindo as responsabilidades e encarando os desafios propostos pela turma. Constata-se não haver uma fórmula mágica, cada turma possui suas características próprias que vão ser apresentadas ao professor. Cada indivíduo tem uma bagagem cultural distinta, exigindo uma forma de tratamento que pode não ser semelhante a nenhum outro colega. Cabe ao professor identificar quais os melhores caminhos a seguir, porém vale lembrar que não adianta tentar impor sua vontade, afinal um dos grandes objetivos da Educação Física Escolar é auxiliar na formação de indivíduos com senso crítico e autonomia de decisões, pessoas capazes de se posicionar frente aos obstáculos da vida e de se desenvolver para solucionar os problemas, e isso começa na aula. Um bom começo é pensar as aulas de Educação Física cada vez menos exclusivas, que promovam sempre uma maior interação entre os gêneros, respeitando as individualidades de cada aluno e exaltando suas qualidades, provocando suas adaptações frente aos desafios e incentivando o desenvolvimento de seu senso crítico. V. 1 | N. 1 | JUL – DEZ 2011 23 Revista do Curso de Educação Física – UNIJORGE REFERÊNCIAS AZEVEDO, Edson Souza de; SHIGUNOV, Viktor. Reflexões sobre as Abordagens Pedagógicas em Educação Física. Mestrado em Educação Física CDS/UFSC, 2000. Disponível em:<www.boletimef.org>. Acesso em: 29 mar. 2010. BETTI, Mauro. A JANELA DE VIDRO: ESPORTE, TELEVISÃO E EDUCAÇÃO FÍSICA. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS 1997. Disponível em :<http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/conteudo/ artigos_teses/EDUCACAO_FISICA/teses/Betti_Tese.pdf>. Acesso em: 02 abr. 2010. CASTELLANI FILHO, Lino; et all: Metodologia do Ensino de Educação Física. 2 ed. Ed. Cortez. São Paulo, 2009. DAOLIO, Jocimar. Educação física escolar: em busca da pluralidade. Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, supl.2, p.40-42, 1996. Disponível em:< http://www.usp.br/eef/rpef/supl2/supln2p40>. Acesso em: 05 abr. 2010. DARIDO, Suraya Cristina. Educação física na escola: Questões e Reflexões. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 2003. DARIDO, Suraya Cristina; RANGEL, Irene Conceição Andrade. Educação física na escola: Implicações para a prática pedagógica. Rio de janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 2008. FREIRE, João Batista. Educação de corpo inteiro: Teoria e Prática da Educação Física. São Paulo: Scipione, 2009. V. 1 | N. 1 | JUL – DEZ 2011 24 Revista do Curso de Educação Física – UNIJORGE GALVÃO, Zenaide. Educação física escolar: a prática do bom professor. Rev Mackenzie de Educação Física e Esporte – 2002, p. 65-72. Disponível em:<http://www3.mackenzie.br/editora/index.php/remef/article/viewFile/1352/ 1048>. Acesso em: 31 mar. 2010. PAPALIA, Diane E; OLDS, Sally Wendkos; FELDMAN, Ruth Duskin. Desenvolvimento humano. 8. ed. São Paulo: Ed Artmed, 2006. TANI, Go; KOKUBUN, Eduardo; MANOEL, Edison de Jesus; PROENÇA, José Elias de. Educação física escolar: Fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo: Ed. EPU, Universidade de São Paulo, 1988.