La revista desde la calidad de vida: el periodismo especializado en una publicación brasileña Frederico de Mello Brandão Tavares Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Brasil) y Universidad Rey Juan Carlos (España) [email protected] Este texto reflexiona sobre la revista como un producto del periodismo. Se busca, a partir de cuestiones originadas del contraste entre un quehacer periodístico específico (el periodismo de revista) y un tema (la calidad de vida), elaborar un mapa sobre la revista Vida Simples, revelando sus dimensiones constituyentes y cómo éstas engendran la formación de un proceso comunicativo que construye sentidos sobre el bienestar en la sociedad. Esta publicación brasileña hace un tipo de periodismo que se centra en la prescripción de patrones y estilos de vida, con objetivos así definidos por ella: “ayudar a simplificar el día a día; a transformar la casa en un hogar más tranquilo y agradable; a trabajar con más alegría; a arreglar la apariencia, sin descuidar la esencia”. Teniendo en cuenta su contenido y la forma como éste se presenta mensualmente en sus páginas, el artículo hace un análisis mixto que se propone, desde las estructuras de la publicación, desarrollar una reflexión sobre el periodismo de revista y sus principales características. Observando aspectos de la periodicidad, del soporte y de la materialidad (elementos visuales y textuales), la investigación apunta para un conjunto de disposiciones y estratégias que hablan de la revista como un dispositivo que, además de indicar un sentido para la calidad de vida contemporánea, pone en escena maneras de construcción de este significado por el periodismo especializado. Palabras-clave: periodismo especializado, revista, calidad de vida, prensa A revista vista pela qualidade de vida: o jornalismo especializado em uma publicação brasileira Este texto reflete sobre a revista como um produto jornalístico. Busca-se, a partir de questões que envolvem a tensão entre um fazer jornalístico específico (o jornalismo de revista) e uma temática (a qualidade de vida), mapear a revista Vida Simples, revelando suas dimensões constitutivas e como as mesmas engendram a formação de um processo comunicativo e jornalístico que constroi sentidos sobre o bem-estar na vida social. Esta publicação brasileira realiza um tipo de jornalismo voltado para a prescrição de padrões e estilos de vida, com objetivos assim demarcados por ela: ajudar a descomplicar o dia-a-dia, transformar o lar em um lugar “ainda mais tranqüilo e gostoso”, trabalhar com mais alegria, “cuidar da aparência sem descuidar da essência”. Considerando seu conteúdo e a maneira como o mesmo se apresenta mensalmente em suas páginas, realiza-se neste trabalho uma mescla analítica que propõe, a partir das características da publicação, fundamentar uma reflexão sobre o jornalismo de revista e suas principais características. Observando aspectos relativos à periodicidade, ao suporte e à materialidade da publicação (elementos visuais e textuais), a investigação realizada aponta para um conjunto de arranjos e estratégias que dizem de agenciamentos matriciais que, além de indicar um sentido para a qualidade de vida contemporânea, permitem perceber formas de construção deste significado. Palavras-chave: jornalismo especializado, revista, qualidade de vida, jornalismo impresso Actas del I Congreso Internacional Latina de Comunicación Social, 2009 ISBN: 978-84-9941-001-2 . Universidad de La Laguna (Tenerife) / SLCS Página 1 1. Uma temática, um jornalismo Historicamente, a preocupação humana com o bem-estar coletivo e individual, com a qualidade de vida, sempre existiu. Desde a Antiguidade, a sociedade se organizou em torno de instituições e papéis sociais que indicaram formas de ser e estar no mundo, permitindo e oferecendo aos sujeitos posicionamentos e procedimentos sobre “um certo viver”. Na modernidade, este objetivo passou a estar legitimado por discursos originados de outros campos, principalmente o científico. Entre os séculos XV e XVIII, estudos sobre sanidade mental e corporal passaram a permear o imaginário acerca de novos hábitos e valores dentro de uma sociedade que passava a valorizar, cada vez mais, um saber nascido e identificado a partir das ciências naturais. No século XVIII, e principalmente no século XIX, estudos de outras áreas começaram a se formar, relevando aspectos mais culturais, geográficos e históricos, o que causou a ampliação do papel das instituições em relação ao “comportar-se no mundo”, seus significados, suas expressões e manifestações “mais adequadas”. No final do século XIX e ao longo do século XX, há uma mudança dupla, que reconfigura essa dinâmica: o surgimento de novos discursos especializados, materializados em outros “lugares-de-fala” institucionais e/ou pessoais – principalmente o midiático – e uma nova demanda de “interpretações” do mundo (e para o mundo) relacionada àquilo que muitos autores apontam como uma “crise da modernidade” ou a configuração de uma “alta modernidade”/ “modernidade tardia”. Outros espaços discursivos passam a atuar no cotidiano organizando a experiência individual e coletiva, buscando não apenas interpretá-la, mas torná-la inteligível e mais estável. Assim, como nos diz Giddens, [...] na alta modernidade a influência de eventos distantes sobre eventos próximos, e sobre as intimidades do eu, se torna cada vez mais comum. A mídia impressa e eletrônica obviamente desempenha um papel central. A experiência canalizada pelos meios de comunicação, desde a primeira experiência da escrita, tem influenciado tanto a auto-identidade quanto a organização das relações sociais (Giddens, 2002, p.12). A duplicidade deste movimento diz de um fenômeno que se promove na confluência de campos distintos dentro da sociedade e na qual mídia e várias temáticas se entrecruzam, formando novos elementos na realidade, tornando-a mais densa. Há uma modificação do real a partir de uma leitura do mesmo, passando não só a construí-lo, mas também a constituí-lo. Actas del I Congreso Internacional Latina de Comunicación Social, 2009 ISBN: 978-84-9941-001-2 . Universidad de La Laguna (Tenerife) / SLCS Página 2 No último século, cada nova mídia, menos que substituir a anterior, contribuiu para a constituição da mesma, permitindo-a descobrir e aprimorar cada vez mais suas singularidades, suas formas de falar sobre o mundo e a ele pertencer. Os diferentes suportes midiáticos, advindos aceleradamente dos processos tecnológicos que aí se instalaram e se desenvolveram, modificaram as práticas e as formas de inscrição e representação do mundo. As materialidades utilizadas e escolhidas condicionaram e recondicionaram o intercâmbio simbólico no interior das sociedades1, agregando à vida social outros2 elementos de interação e mediação. Nos últimos cem anos aproximadamente, os vários suportes comunicacionais e as práticas deles e neles envolvidas inauguraram novas maneiras de se estar no mundo e de se habitar o mundo, condicionando (dando forma e sentido) e acompanhando um certo “espírito do tempo”. Assim, no desenvolvimento e no diálogo das mídias contemporâneas (impressa, rádio, televisão e internet) observa-se três questões importantes e que dizem dos efeitos (co-determinados) tanto da mídia sobre ela mesma, quanto da mídia sobre a sociedade: 1) as modificações das práticas profissionais (jornalismo, relações públicas, publicidade e propaganda, radialismo etc), 2) a variação de temáticas abordadas pelos veículos e 3) a segmentação de produtos e programas – o que diz de uma questão não só mercadológica, mas também cultural. Nesse cenário, retomando nossas questões iniciais, perguntamos: o que acontece no momento em que qualidade de vida e mídia se encontram? Que discursos se formam? Com que características? Com quais significados? Como os veículos e essa temática passam a se co-determinar? As respostas para tais questões necessitam de uma demarcação de especificidades, a fim de se evitar generalizações. Nesse sentido, uma investigação nos aparece com bastante força: a de compreensão do encontro qualidade de vida e revista; mais detidamente, de tal temática com o jornalismo especializado de revista. A revista, desde o seu surgimento como veículo jornalístico no século XIX (Mira, 1999), sempre caracterizou-se pela abordagem de temáticas mais amplas, que permeiam a sociedade em seu cotidiano, não necessariamente no que lhe há de extraordinário, mas no que lhe cabe ou seja possível interpretar. Melhor dizendo, a este veículo jornalístico coube – e cabe – um olhar diferenciado sobre a realidade, abordando grandes temáticas que permeiam o dia-a-dia em sua sociabilidade. Além disso, há sobre ele a demanda de falar para um público mais específico, para um leitor mais definido. Como aponta a jornalista Marília Scalzo, “[...] quem define o que é uma revista, antes de tudo, é o seu leitor” (Scalzo, 2004, p. 12). Tais palavras resumem, podemos dizer, Actas del I Congreso Internacional Latina de Comunicación Social, 2009 ISBN: 978-84-9941-001-2 . Universidad de La Laguna (Tenerife) / SLCS Página 3 histórica e estrategicamente o processo de penetração e consolidação deste meio na sociedade. Um processo que se fez ao longo de décadas por meio do diálogo entre editores e públicos, entre editoras e faixas de mercado. Um diálogo que explicita uma interação comunicativa peculiar, cujas explicações podem ser apontadas principalmente, pela ótica dos processos de midiatização da sociedade marcados, como vimos dizendo, pela modernização das formas de produção de cultura. A revista sempre oscilou entre a posição de veículo de massa e de veículo segmentado. Sua emergência e desenvolvimento construíram ao longo dos anos um processo interacional no qual mídia e público atuaram reciprocamente, um atuando na constituição do outro. Para Maria Celeste Mira, “[...] um dos fatores que faz que o mercado tenha que se empenhar cada vez mais em cada grupo de indivíduos capazes de formar um segmento é esse processo de demarcação das diferenças sociais, que já pode ser considerado de longa duração” (Mira, 2004, p.252)3. No que diz respeito à temática da qualidade de vida, mais que falar para um grupo de indivíduos, a revista passa a falar também sobre um tópico que perpassa a coletividade social, que diz respeito às maneiras “gerais” de se portar e viver no mundo, independentemente de gênero, classe social ou faixa etária. Caminha-se para uma abordagem sobre valores e hábitos, questões éticas e morais que deveriam perpassar (ou, pelo menos a priori, perpassam) a sociedade em geral. De forma mais concreta, podemos dizer que tais questões estariam sempre presentes, direta ou indiretamente, no jornalismo como um todo. Mas no caso do jornalismo de revista, parece haver uma explicitação discursiva deste movimento, marcando uma produção e circulação distinta de sentidos sobre o tema. As matérias de comportamento são os grandes exemplos dessa concretização. No entanto, o que acontece quando uma revista específica passa a ter por tema principal essa questão sobre o bem-viver na sociedade? O que passa a ocorrer – jornalisticamente – no momento em que uma publicação específica assume essa temática como o “mote” de sua produção? Que diálogo passa a existir entre mídia e sociedade? Como uma revista especializada no tema em questão “realiza” e “faz funcionar” esse encontro? Dirigimos estas questões especificamente para a revista Vida Simples (atual “grande representante” do gênero de revistas voltadas para o tema do “bem-estar”), publicada pela Editora Abril. Tal periódico, definido estrategicamente como a revista “para quem quer viver mais e melhor!” (slogan da publicação), realiza um tipo de jornalismo voltado para a prescrição de padrões e estilos de vida, com objetivos assim demarcados4: Actas del I Congreso Internacional Latina de Comunicación Social, 2009 ISBN: 978-84-9941-001-2 . Universidad de La Laguna (Tenerife) / SLCS Página 4 ajudar a descomplicar o dia-a-dia, transformar o lar em um lugar “ainda mais tranqüilo e gostoso”, trabalhar com mais alegria, “cuidar da aparência sem descuidar de essência”. Dessa forma, com base em tal contexto (e fenômeno midiático) perguntamos: como a temática da “qualidade de vida” é abordada pelo jornalismo especializado de revista ao mesmo tempo em que o caracteriza? 2. A revista Vida Simples Publicada mensalmente pela Editora Abril, a revista Vida Simples afirma-se como uma publicação destinada para “[...] falar com um público que se preocupa cada vez mais com qualidade de vida”5 e complementa: “repleta de dicas sobre como morar, comer, comprar e, principalmente, se conhecer melhor, Vida Simples tornou-se uma companheira para homens e mulheres acima dos 30 anos que querem fazer do bem-estar uma prioridade em suas vidas”6. Atualmente, sua tiragem é de cerca de 45 mil exemplares, sendo que destes há um total de 20.500 edições voltadas para assinantes e com um número estimado de 129 mil leitores por mês7. A distribuição é nacional e internacional. A publicação hoje possui destaque no segmento editorial voltado para o tema da qualidade de vida, sendo, junto à revista Bons Fluidos – também da Editora Abril, mas voltada para o público feminino – o veículo jornalístico especializado em “bem viver e qualidade de vida” de maior circulação no Brasil, não possuindo similares junto às outras grandes editoras do país. Ao longo de suas mais de 90 edições (até dezembro de 2009) a revista passou por duas reformulações editoriais, com mudanças principalmente na sua parte gráfica, sem fugir, no entanto, de seus propósitos originais. Visualmente, o periódico apresenta um layout (ver imagens abaixo) que condiz com a produção de sentido proposta pelos textos (“consonância” entre texto, imagem e design), bem como com o estilo “do bem viver” proposto editorialmente. Além de estar em versão impressa, o conteúdo da revista apresenta-se disponível em versão on-line, com seções exclusivas destinadas aos assinantes. Actas del I Congreso Internacional Latina de Comunicación Social, 2009 ISBN: 978-84-9941-001-2 . Universidad de La Laguna (Tenerife) / SLCS Página 5 Fig. 1: Seção “Mente aberta” (Ed. 61, Dez. 2007) Fig. 2: Seção “Comer” (Ed. 61, Dez. 2007) Todas as edições possuem uma matéria de capa, cujos assuntos abordam “grandes temas” sobre a qualidade de vida. As seções específicas cujo mapeamento temático deixa à mostra uma série de valores e formas de vida daquilo que corresponderia a uma vida simples na contemporaneidade e, conseqüentemente, a um conjunto de comportamentos morais e representações imagéticas e simbólicas deste “estilo qualificado de vida”. O que diz também de um certo público que aparece estrategicamente nas páginas da revista (um leitor, sem nome e sem rosto, mas, necessariamente, representante de um certo segmento social, de um específico padrão social contemporâneo). Se retomamos o que se diz em geral sobre as revistas, pode-se afirmar que, ao realizarem um tipo de jornalismo especializado, as revistas – incluindo aí Vida Simples – incorporam uma cobertura mais aprofundada que aquela realizada diariamente. Como todo jornalismo especializado, buscam “la información oculta y sus temáticas pueden variar por todo el ámbito de la actividad humana” (Atala, 2005, p. 9). E, segundo Scalzo, “[...] cobrem funções culturais mais complexas que a simples transmissão de notícias. Entretêm, trazem análise, reflexão, concentração e experiência de leitura” (Scalzo, 2004, p. 13). Por falar diretamente a um público leitor, participando de um processo comunicativo próprio, e constituindo-o ao mesmo tempo, tal dispositivo midiático cumpre funções culturais complexas, dotando-se de uma “sensibilidade” própria para falar do mundo e para o mundo. Nesse sentido, e considerando as dimensões de Vida Simples apontadas acima, algumas pistas aparecem para se traçar um quadro geral sobre a revista em geral (como meio de comunicação) e sobre esta publicação em específico (como veículo jornalístico específico voltado para o bem-viver). De um ponto de vista relacional, que une estas duas dimensões – “ser revista” e “viver bem” – parece emergir um processo singular de arranjos e agenciamentos. Actas del I Congreso Internacional Latina de Comunicación Social, 2009 ISBN: 978-84-9941-001-2 . Universidad de La Laguna (Tenerife) / SLCS Página 6 Ao tratar a qualidade de vida, propondo uma maneira de ser e estar “qualitativamente” no mundo, Vida Simples, constrói e se utiliza de algumas estratégias que dialogam com duas práticas, sendo delas derivadas, mas ao mesmo tempo as modificando: o jornalismo de revista e o jornalismo especializado. O encontro destas duas “técnicas”8 com a temática do bem-estar configuram um conjunto comunicacional que coloca em evidência uma série de operações e estratégias que variam em níveis principalmente técnicotecnológicos e discursivos; possibilitando, também, situações particulares de interação entre publicação e público-leitor – sendo este último, representado e “convocado” a todo o momento. 3. Vida Simples entre operações e estratégias 3.1. Tempos e espaços da revista A revista é, acima de tudo, um produto jornalístico. No entanto, não vale apenas pensá-la como subordinada aos procedimentos que este campo lhe impõe, mas também pensá-la como um produto que convoca, dadas as suas características, um certo arranjo, uma certa organização, para as operações jornalísticas que sobre ele operam. Nesse sentido, um entendimento deste contexto operacional diz respeito à necessidade de compreensão de como a técnica e a tecnologia da e na revista influenciam e determinam a leitura que seus agentes – jornalistas e editores – farão da realidade – o mundo para o qual e sobre o qual ela se propõe falar. Neste universo de inscrições e instrumentos, operações e materiais, dois âmbitos permitem pensar condicionamentos sobre a prática jornalística e que dizem do tipo de produto jornalístico que vem a ser a revista: os tempos e os espaços que a envolvem9. A produção informacional para revista, independentemente do conteúdo que venha a ser publicado, está ligada a uma periodicidade10 e a uma materialidade. Jornalistas e editores11, em sintonia com suas competências e necessidades profissionais, produzem e operam de acordo com tempos e espaços de uma mídia impressa que difere das outras – inclusive e, fundamentalmente, de sua “irmã” mais próxima, o jornal diário – e que, portanto, demarca outras lógicas de objetivação da realidade. No caso de Vida Simples, trata-se de uma revista de circulação mensal, especializada em um “único” tema e que, através de tempos e espaços específicos (de produção e audiência) dota-se de algumas características próprias, ao mesmo tempo em que densifica (torna mais densos) os sentidos sobre si mesma e sobre os conteúdos que são abordados12. Actas del I Congreso Internacional Latina de Comunicación Social, 2009 ISBN: 978-84-9941-001-2 . Universidad de La Laguna (Tenerife) / SLCS Página 7 3.1.1. Temporalidades Toda revista está cercada por duas determinantes temporais: uma do tempo de produção da notícia e outra do tempo de duração da notícia. Diferentemente da lógica temporal de uma cobertura jornalística diária, a revista – e consequentemente sua produção noticiosa – possui um regime de produção “alargado”. Seja ela semanal, seja ela quinzenal, mensal, anual13, a extensão do tempo marca e impele ao jornalista um outro tipo de fazer, o que diz, com certeza, da existência de posturas e olhares diferentes sobre a realidade e sobre o referente nela observado; bem como incidirá, relacionalmente, no processo comunicativo a ser instaurado tanto no âmbito interacional (com o leitor), quanto no âmbito textual. Referindo-se à revista semanal de informação e como a questão do tempo nela opera, Scalzo (2004) aponta ser impossível imaginar uma publicação semanal de informações que se limite “a apresentar para o leitor, no domingo, um mero resumo do que ele já viu e reviu durante a semana. É sempre necessário explorar novos ângulos, buscar notícias exclusivas, ajustar o foco para aquilo que se deseja saber, e entender o leitor de cada publicação” (Scalzo, 2004, p. 41). Não focando exatamente este pensamento sobre o leitor, mas principalmente a questão do texto, Villas Boas (1996) diz que a periodicidade semanal implica às revistas de informação o preenchimento dos “vazios informativos” deixados pelas coberturas dos jornais. Em ambos os casos, fica evidente a questão temporal atuando sobre a prática jornalística, criando e configurando necessidades outras de investigação, apuração, redação etc. Uma necessidade de rearranjo técnico (das operações) de tecnologias (instrumentos) de cobertura de fatos e temas14. Em Vida Simples cada edição é pensada a partir de grandes temáticas que, mensalmente, caracterizam os conteúdos a serem tratados. No editorial (Carta ao Leitor) da edição de março de 2007, há uma descrição sobre o processo de elaboração da revista, que remete a essa temporalidade da produção da publicação: uma rápida reunião de pauta, para “todo” um mês (tema) de produção. Relacionando ao tema central do mês, “O nosso lado B”, o editor Leandro Sarmatz aponta o processo de produção da revista como um momento de explicitação das capacidades e sensibilidades dos integrantes da equipe produção e como as mesmas são importantes para se reconhecer em cada um dos membros sua personalidade, seus lados “A” e “B”. Escreve o editor: Actas del I Congreso Internacional Latina de Comunicación Social, 2009 ISBN: 978-84-9941-001-2 . Universidad de La Laguna (Tenerife) / SLCS Página 8 Pois falo daquelas reuniões, no mais das vezes marcadas para dali um segundo, reuniões a jato, combinadas de forma quase mediúnica, em que todos se concentram no meio da redação para falar de uma idéia que tiveram para a próxima edição. É preciso ver para crer. Sai uma pá de idéias, insights, iluminações profanas (como diria o filósofo Walter Benjamin). Sacadas absolutamente geniais de arte, texto e edição. Dá gosto de ver a Adriana, a Camila, o João (sim: o João Zambom, o estagiário que está nos deixando, pois afinal o cara já é bacharel e agora vai imprimir sua marca em várias coisas legais, aguarde), a Márcia, a Priscilla (e este vosso modesto interlocutor) falando e falando e falando. E criando com entusiasmo, empolgação e amor. [...] Um pouco do melhor de nós costuma aparecer nestas páginas. Tem coisa mais bacana que saber qual é a nossa melhor porção? (Vida Simples, Carta ao Leitor, p. 14, Março de 2007)15. Além disso, há, muitas vezes, um gancho jornalístico temporal com o mês em que circula a revista. Exemplo da edição de dezembro de 2007, cuja seção “Comer” (voltada para uma alimentação “saudável” que combine com o estilo de vida proposto pela revista) apresenta uma matéria sobre frutas secas, alimento muito consumido no mês do Natal. A chamada de capa para esta matéria diz: “Muito além do Panetone”. No jornalismo de revista, tais afetações do tempo da produção estão envolvidas por uma outra temporalidade: a da duração dos conteúdos que serão produzidos. A revista, “publicação de periodicidade mais larga obriga-se a não perecer tão rapidamente, a durar mais nas mãos do leitor” (SCALZO, 2004, p. 42). Dessa forma, o jornalismo de revista, no casamento de suas operações com seus conteúdos, deve ser feito e existir em consonância com uma noção de longevidade, que marcará também a presença da publicação e de seus temas no próprio cotidiano da sociedade: tanto como elemento constituinte, quanto elemento constituidor. Em Vida Simples, outros exemplos podem ser pensados sobre este aspecto. Um primeiro deles diz respeito aos “grandes temas” da revista, explícitos principalmente nas matérias de capa. Tais reportagens e temas possuem uma qualidade atemporal, que permite lê-los não apenas no mês em que a publicação está circulando. De janeiro a outubro de 2007, são tratados: a auto-estima (“Você gosta de você?”), compaixão (“O despertar da compaixão”), auto-conhecimento (“Afinal, quem é você?”, “Maturidade”, “Ansiedade”, “Nosso lado B”), mudanças na vida (“Acabou. Saiba dizer adeus”, “mudar é bom”), ficção (“Era uma vez”), limites (“A gota d’água”). Os textos norteados por estes grandes tópicos, pretendem mapear uma temporalidade da sociedade contemporânea (temporalidades sociais, portanto), considerando-a problemática, colocando no centro da resolução dos conflitos por ela Actas del I Congreso Internacional Latina de Comunicación Social, 2009 ISBN: 978-84-9941-001-2 . Universidad de La Laguna (Tenerife) / SLCS Página 9 impostos os próprios sujeitos, e dizendo, ao mesmo tempo, como estes devem se portar e agir16. Sua temporalidade diz muito mais de um “espírito do tempo” do que de um fato isolado, algo corrente no jornalismo. Mais que “matérias frias” ou “de gaveta” – para usar o jargão jornalístico – tais reportagens lidam com tópicos que permeiam “acontecimentos de longa-duração”17 na nossa sociedade e que, no caso deste tipo de publicação, referem-se a contextos muito mais amplos, cujos tempos se constituem por temas. Aqui, especificamente, a qualidade de vida. Um segundo exemplo relaciona-se ao próprio texto da revista, indicando ao leitor uma temporalidade de leitura. Caso da matéria de capa da edição de setembro de 2007, sobre o tema da Ansiedade, que, em algum momento, diz: Se você chegou até aqui nesta reportagem é porque dedicou um tempinho do seu dia para uma reflexão. Então responda: que diferença faz a velocidade com que você responde a uma pergunta, desde que a resposta seja correta? A não ser que esteja se preparando para uma profissão como salva-vidas ou motorista de ambulância, você acha mesmo importante dar valor a essa mesma velocidade que causa ansiedade e superficialidade? (Vida Simples, Setembro de 2007, Matéria de Capa, p. 33). Os arranjos temporais acima selecionados ainda estão envolvidos e relacionados por um outro tipo de arranjo, que diz da revista (e, também, de forma específica sobre Vida Simples): o espaço. 3.1.2. Espacialidades Além da organização proposta e imposta pelo tempo, outro elemento organizador da produção noticiosa de revista, condicionante da leitura e da presença que esta tem sobre a realidade, está caracterizado pela sua materialidade (elemento, vale dizer, indissociável da questão temporal). Como veículo impresso, com tamanhos e formas variados, mas condizentes com o dito formato próprio que lhe caracteriza e lhe diferencia frente a outras publicações, a revista também atua materialmente sobre o jornalismo que lhe compõe bem como sobre o texto que este gera. Além de ser um objeto possível de ser guardado, colecionado, recortado – o que é oferecido pela sua qualidade material (bom papel, boa impressão, tamanhos razoáveis) – a revista também é um suporte, um substrato que marca distintivamente as inscrições que lhe são direcionadas. Não se pode, é claro, confundir o suporte com o Actas del I Congreso Internacional Latina de Comunicación Social, 2009 ISBN: 978-84-9941-001-2 . Universidad de La Laguna (Tenerife) / SLCS Página 10 dispositivo. No entanto, também não se pode negar a presença e a influência deste primeiro nos agenciamentos realizados pelo segundo. No caso de Vida Simples, tal condicionamento fica evidente quando se pensa a relação texto-imagem-projeto gráfico. O espaço da revista é “ocupado”, “inscrito” por lógicas que buscam, acima de tudo, funcionar em consonância com o grande tema da publicação. Há uma presença visual na ocupação espacial que agencia uma leitura sobre o texto norteada pela idéia da simplicidade, da leveza, o que, relembrando a questão dos tempos, diz também de um certo ritmo do e para o espaço da revista e para o conteúdo neste presente. Alguns exemplos: Fig. 3: Seção “Personagem” (Dez. 2007) Fig. 4: Seção “Mente Aberta” (Dez. 2007) Nas duas figuras acima é possível perceber o papel da programação visual na construção de sentido proposta pela revista. Em ambas as imagens fica clara a importância da composição da página e sua co-determinação na construção de significados para o texto e para o tema tratado. Na “Figura 3”, a disposição das fotografias e do texto na página e os conteúdos de ambas, em diálogo, corroboram o tom do perfil em questão. A personagem “Dona Cano”, exala simplicidade e qualidade de vida, tal qual mostram e “fazem respirar”, texto e imagem. O mesmo pode-se dizer da encenação (Maingueneau, 2001) proposta na “Figura 4”. O título “Me leva?”, bem abaixo do olho (e do olhar!) do cachorro em cena, corrobora uma das “dicas” da seção “Mente Aberta”, do mês de dezembro de 2007: “Adote um animal de estimação”. A imagem, ocupando toda a página, colabora também para o “chamado” da “chamada” do texto. Como nos lembra Mouillaud, “os dispositivos são lugares materiais ou imateriais nos quais se inscrevem (necessariamente) os textos [...]” (Mouillaud, 2002, p. 34). Os conteúdos presentes nas publicações estão impressos nas páginas sob a forma de enunciados tanto textuais, quanto visuais (figurativos) e gráficos (relativos ao design da página), cujas maneiras de expressão18, apontam para uma grande relevância dos processos de enunciação19 aí presentes. São processos que se estendem para além dos Actas del I Congreso Internacional Latina de Comunicación Social, 2009 ISBN: 978-84-9941-001-2 . Universidad de La Laguna (Tenerife) / SLCS Página 11 textos e que remetem para as configurações jornalísticas propostas pela publicação; para a relação destas com tamanhos, custos, formatos; para a relação com leitores (e segmentos de público); e para a interlocução de tais operações com aspectos contextuais (sociais) que as envolvem. Tal conjunto, no tensionamento entre processos enunciativos e enunciados, compõe uma relação estratégica, envolvida por quadros de sentido (Rodrigues, 1994, p. 147) que lhes são anteriores, mas que, ao mesmo tempo, lhe constituem. Na tensão de materialidade, de seus textos e visualidades, a revista apresenta também, a partir de seu projeto gráfico, diferentes propostas comunicativas, ditando um ritmo distinto de leitura e oferecendo uma relação de sentidos que “foge” aos padrões canônicos do jornalismo impresso20. Na revista, e em Vida Simples, podemos dizer, está corroborada uma importante idéia do professor espanhol Gonzalo Abril: “Si los mecanismos retóricos y narrativos sirvieron en otra época para sostener la coherencia semántica y pragmática del texto, son mecanismos de ‘consistencia visual’ y de ‘correspondencia sinestésica’ los que hoy principalmente sustentan la de los textos informativos” (Abril, 2003, p. 25). Partindo da configuração acima exemplificada, a questão discursiva, entrelaçada pela questão espacial e temporal, merece também algumas considerações específicas. 3.2. Enunciados, leitores e enunciações Os textos (aqui no sentido verbal) inscritos e condicionados pela matriz constituída pela revista marcam um outro eixo de compreensão do processo comunicativo por ela instaurado. Na relação com a sociedade (leitores), com técnicas e tecnologias, as palavras – inscritas – são marcadas e são marcantes de processos específicos envolvendo enunciados e enunciações. Neste âmbito, duas categorias ganham destaque: o discurso jornalístico presente e a inscrição dos sujeitos leitores. Ambas, direcionadas pelas três esferas que aqui estudamos: 1) a do jornalismo especializado de revista, 2) a da qualidade de vida e 3) a da confluência, do encontro entre as duas. 3.2.1. O discurso jornalístico de revista em Vida Simples21 Tomar o discurso jornalístico de revista significa pensar o texto para além de sua dimensão apenas verbal, implica extrapolar a delimitação que muitos realizam para pensar o jornalismo de revista localizando sua interpretação apenas de um ponto de vista Actas del I Congreso Internacional Latina de Comunicación Social, 2009 ISBN: 978-84-9941-001-2 . Universidad de La Laguna (Tenerife) / SLCS Página 12 dos gêneros discursivos. Se considerarmos que o jornalismo é um “tipo” de discurso e que o jornalismo de revista, configurar-se-ia como um “gênero” discursivo no interior deste, vale pensar o discurso aí presente para além dos códigos e das significações implícitas, buscando relevar o nível dos sentidos que envolvem o todo deste processo22. Nesse sentido, se quisermos dimensionar um quadro de compreensão sobre o “jornalismo de Vida Simples”, é necessário recorrer a algumas noções caras ao jornalismo e cruzar algumas características do discurso específico da revista com outros discursos sobre a temática do “bem-estar” que circulam em diferentes materialidades no interior da sociedade. Deve-se pensar, pois, primeiramente, duas questões já mencionadas ao longo deste artigo: o jornalismo de revista e o jornalismo especializado. Segundo os conhecidos manuais de redação jornalística, o texto que se produz para revista deve, segundo Sérgio Vilas Boas (1996), acima de tudo, preencher os vazios informativos deixados pelas coberturas dos jornais. O estilo magazine, como aponta o autor, deve ser mais interpretativo e documental do que os jornais diários, o rádio e a TV; mas, diferentemente do livro-reportagem, ser menos “avançado e histórico”. Complementando sobre essa “vocação estilística”, Marília Scalzo (2004) afirma que o texto da revista deve cobrir funções culturais mais complexas que a simples transmissão de notícias. Cabe a ele, segundo a autora, oferecer ao leitor reflexão, análise sobre a realidade e experiência de leitura. O texto ali produzido deve compreender o contexto cultural e social para o qual se dirige, buscando nestes mesmos contextos, formas e códigos de linguagem para dialogar com um público específico, com as demandas e identidades deste. Retomando a idéia de segmentação, que tratamos anteriormente, é justamente o segmento para o qual se volta a revista, um dos fatores determinantes e constituintes do discurso jornalístico que nela se produz. Além disso, há um outro fator a se considerar: a relação com as fontes. Uma vez que se trata de um jornalismo especializado, temos, na revista não um discurso propriamente especializado, mas sim, construído especializadamente. As fontes ouvidas, consideradas especialistas, são chamadas não só de forma a fornecer informações e conteúdos para os textos, mas também para colaborar com as estratégias de legitimidade e credibilidade do discurso jornalístico que ali se constrói. No caso específico de Vida Simples essas qualidades jornalísticas ganham outros pormenores. Ao lidar com a temática da “qualidade de vida” a revista parece mesclar dois tipos de matérias jornalísticas (comportamento e prestação de serviços) a um tipo de discurso muito presente e difundido na sociedade, o discurso da “auto-ajuda”. Ao caracterizar-se por praticar um “tom” bastante prescritivo, o discurso jornalístico da revista Actas del I Congreso Internacional Latina de Comunicación Social, 2009 ISBN: 978-84-9941-001-2 . Universidad de La Laguna (Tenerife) / SLCS Página 13 aproxima-se das lógicas que norteiam este “ramo best-seller” da literatura mundial contemporânea. O discurso da revista dota-se de um caráter de verdade, que pode – e deve – ser tomando como uma espécie de profilaxia. É possível notar no discurso da revista uma mistura de espiritualidade e cientificismo coisificador, dois elementos marcantes do discurso de auto-ajuda (Rudiger, 1996). Os textos da revista, muitas vezes, tomam por fontes uma série de especialistas (psicólogos, psicanalistas, fisiologistas etc) e entrelaçam a fala destes com a de outras fontes, menos acadêmicas, mas sábias no que diz respeito a valores espirituais. Assim, não se perde a credibilidade jornalística, nem se faz propriamente auto-ajuda, mas, na junção destas duas formas discursivas, o discurso ali construido “objetiva a subjetividade”, tal qual apontam Giddens (2002) e Bauman (1998), com relação aos discursos reflexivos dos “novos” intérpretes que atuam na organização de sentido na sociedade contemporânea. Outro fator interessante está no fato de sempre, ao final matéria de capa, fazer-se referência a livros, utilizados como fontes ao longo das reportagens, indicando a leitura destes para “saber mais” sobre o assunto tratado23. O que lembra também aspectos hipertextuais da publicação bem como a própria noção de hiperdispositivo (Carlón, 2004). Alguns exemplos podem ser citados. No que diz respeito ao caráter prescritivo e “objetivante” dos textos: ANSIEDADE! O mundo está mais rápido, há muitas demandas e você precisa dar conta de tudo, não é mesmo? Respire fundo e aprenda a se ligar em uma coisa de cada vez (Vida Simples, Setembro de 2007, chamada de Capa). QUEM É VOCÊ? Você é diferente em casa, no trabalho, com os amigos. Saiba como manter o equilíbrio sem perder sua essência (Vida Simples, Junho de 2007, chamada de Capa). ESTÁ NO AR. Aromas detonam lembranças, imagens e emoções. Ao estimular a capacidade de sentir cheiros, você aumenta sua saúde. E também o seu prazer (Vida Simples, Maio de 2007, Seção “Pé no Chão”, p. 45). No que diz respeito às fontes. Na matéria sobre o “Nosso Lado ‘B’”, já citada anteriormente, encontramos as seguintes referências, entrelaçadas na tessitura do texto: Na psicologia, outros fatores de influência sobre as emoções forma descobertos e pesquisados. Freud trouxe o peso do inconsciente nas respostas emocionais, Jung acrescentou a importância do inconsciente coletivo e da força dos arquétipos [...] (Vida Simples, Março de 2007, Matéria de Capa, p. 31-32). “Ao contrário, se você cultivar emoções positivas, como a bondade, a generosidade, a alegria, a simpatia e a compaixão, as emoções negativas vão diminuindo. O ideal budista é que elas Actas del I Congreso Internacional Latina de Comunicación Social, 2009 ISBN: 978-84-9941-001-2 . Universidad de La Laguna (Tenerife) / SLCS Página 14 desapareçam”, diz o Dalai Lama no livro Como Lidar com Emoções Destrutivas (Vida Simples, Março de 2007, Matéria de Capa, p. 34). Com relação ao diálogo deste discurso com a materialidade (espaços e tempos) de outros, um exemplo interessante pode ser citado. Não mais de um texto jornalístico, mas de uma carta de leitor (que, de certa forma, foi selecionada pela edição da revista): Quando viu Vida Simples, minha mãe disse: “Parece um livro”. E nada como um livro para soltar a imaginação (Vida Simples, Maio, 2007, Seção Cartas, p. 12). Tal mensagem, que é bastante interessante para pensarmos a enunciação do discurso jornalístico aí presente, remete também a uma outra dimensão discursiva da e na revista, justamente aquela em que o leitor aparece implícita e explicitamente. 3.2.2. Leitores e discursos, leitores no discurso A temática da qualidade de vida, além do tratamento jornalístico, atrela-se também a um tratamento textual-conversacional. Ao tratar das grandes temáticas a que se propõe, Vida Simples, assim como é comum ao jornalismo de revista, chama o leitor de “você”, estabelecendo com ele uma “verdadeira conversa”. Uma conversa que, neste caso, apóia-se no caráter prescritivo do texto, já citado acima, dando a esse diálogo proposto e estabelecido, características de uma relação não apenas de “audiência-meio”, mas também de, principalmente, “leigo-especialista”, oscilando também entre “mestre-aprendiz”, “gurudiscípulo”. Nesta dinâmica, o leitor aparece ora explicitamente, ora implicitamente, o que fica claro no entrecruzamento dos espaços físicos destinados a ele no interior da publicação e no interior dos próprios textos. Vejamos alguns exemplos. Nos textos, o estilo prescritivo propõe uma relação bastante específica: Quando o relacionamento, o emprego ou seu estilo de vida não têm mais a ver com vocês, é hora de pôr um ponto final (Vida Simples, Maio de 2007, Chamada de Capa). É fundamental conhecer de perto nossas emoções negativas para mudar o que incomoda (e assim deixar tudo bem afinado) (Vida Simples, Março de 2007, Chamada de Capa). Nos editoriais, um momento explícito de conversa: Vale a pena descobrir um pouco mais sobre um dos temas mais importantes da nossa vida. De qual delas? De todas, Actas del I Congreso Internacional Latina de Comunicación Social, 2009 ISBN: 978-84-9941-001-2 . Universidad de La Laguna (Tenerife) / SLCS Página 15 independentemente da máscara que você esteja usando agora (Vida Simples, Junho de 2007, Editorial, p. 14). Por falar em fins e começos, você deve estar sentindo falta do redator-chefe Leandro Sarmatz, que todo mês ocupa com maestria essa página. É que Leandro despediu-se da vida de solteiro, entrou para o time dos casados e está em lua-de-mel com sua musa Milena – mas no mês que vem está de volta! (Vida Simples, Maio de 2007, Editorial, p. 16). Nas cartas dos leitores, aparece o posicionamento destes a partir de “seu lugar de fala”. No exemplo abaixo, um leitor remete24 a como a revista tratou deste “lugar” na edição anterior, ao citar o repórter responsável pelo texto. Descobri esta revista tão relaxante há bem pouco tempo. Lê-la é um refrigério para a alma. Sou feliz porque tive avós, tias, babás e minha própria mãe que encheram minha vida de histórias e livros. Viver, na verdade, é escrever um livro cheio de linhas e, sobretudo, entrelinhas. Obrigada, Fabrício Carpinejar, por me lembrar da importância do “era uma vez”... (Vida Simples, Maio de 2007, Seção “Cartas”, p. 14). Nos trechos citados, aparece de forma interessante um outro aspecto a ser trabalhado e pensado ao se tomar relacionalmente a revista, tal qual a proposta que aqui esboçamos: o contrato de leitura assumido pela publicação. Como nos relembra Fausto Neto (1995), baseando-se em Verón, devemos observar a interação entre a instância da produção e da recepção como um processo sujeito a um “conjunto de regras e instruções construídas pelo campo da emissão para serem seguidas pelo campo da recepção, condição com que ele se insere no sistema interativo proposto e pelo qual ele é, consequentemente, reconhecido como tal” (Fausto Neto, 1995, p. 1999). Realiza-se, pois, uma captura do leitor que, no caso de Vida Simples, potencializa-se ainda mais dada a natureza intertextual e originariamente prescritiva de seu discurso. 4. Ser revista e viver bem “Na concorrência difusa entre os meios, o segredo é ser o que se realmente é. No caso, o segredo é ser ‘revista’” (Scalzo, 2004, p. 52). A frase de Scalzo nos serve como boa síntese do que pretendemos neste texto. Buscamos, a partir de um objeto empírico determinado, apontar para um conjunto inicial de aspectos (matriciais e constituintes) da revista como produto jornalístico, elencando algumas bases para se perceber a trama das Actas del I Congreso Internacional Latina de Comunicación Social, 2009 ISBN: 978-84-9941-001-2 . Universidad de La Laguna (Tenerife) / SLCS Página 16 dimensões que a compõem, permitindo, ao mesmo tempo, pensá-la de uma maneira que lhe seja própria. Considerando os tensionamentos entre jornalismo e qualidade de vida (desde uma lógica matricial, que considera o processo comunicativo aí instaurado), a problematização aqui construída pretendeu esboçar e apresentar um desenho possível para a localização e compreensão da revista no contexto da imprensa jornalística, apontando suas singularidades e os sentidos que a compõem. Não se buscou, com isso, criar certas generalizações sobre este meio de comunicação, mas, sobretudo, refletir sobre uma prática jornalística que não é propriamente “noticiosa” e que, portanto, merece, também, ser pensada de forma específica. Como nos lembra Verón, “O fato de um mesmo conteúdo, um mesmo domínio temático possa ser assumido por dispositivos de enunciação muito diferentes, reveste-se de um interesse particular” [...] (Verón, 2004, p. 219). Nesse sentido, buscamos tatear e propor uma compreensão da revista em suas processualidades e ambiências, compreendendo o conjunto aí formado diz da construção de um objeto de estudo e sobre este objeto de estudo. Entender a articulação entre os eixos apontados não significa apreender (neste momento) o significado da qualidade de vida proposta por Vida Simples, assim como não esgota outros pormenores jornalísticos que se encontram na tensão entre o “ser revista” e o “viver bem”. De qualquer forma, ver Vida Simples em seus agenciamentos e contextos, corresponde a uma visada atenta às maneiras de constituição de mercados discursivos contemporâneos, bem relaciona-se à percepção sobre arranjos “revistativos” (Tavares, 2008) que reatualizam e sofisticam o “bem viver” na e para a sociedade. 5. Referências ABRIL, G. (2003). Cortar y Pegar: la fragmentación visual en los orígenes del texto informativo. Madrid: Catedra, 2003. ANTUNES, E. (2007). “Temporalidade e produção do acontecimento jornalístico”. Em Questão (UFRGS). Porto Alegre, v. 13, p. 25-40,. ATALA, F. G. (2005). “Bases conceptuales para considerar (y transformar) al periodismo de investigación una nueva herramienta de especialización informativa”. In: Estudios de Periodismo y Relaciones Públicas. Comunicación y Política. Universidad de Viña del Mar. Chile. Año V – Nº 5. AUMONT, J. (2001). A imagem. Campinas: Papirus. BAUDRY, J.L. (2003). “cinema: efeitos ideológicos produzidos pelo aparelho de base”. In: XAVIER, Ismail. A experiência do cinema. Rio de Janeiro: Edições Graal. p. 383-399. Actas del I Congreso Internacional Latina de Comunicación Social, 2009 ISBN: 978-84-9941-001-2 . Universidad de La Laguna (Tenerife) / SLCS Página 17 BAUMAN, Z. (1998). O mal estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. BERGER, C.; TAVARES, F. M. B. (2008). (Re)pensando o jornalismo: contribuições espanholas. Revista Lumina (UFJF). V. 2. n. 2. BRAIT, B.; MELO, R. (2005). Enunciado/ enunciado concreto/ enunciação. In: BRAIT, Beth (Org.). Bakhtin: conceitos-chave. São Paulo: Contexto. p. 61-78. CARLÓN, M. (2004). Sobre lo televisivo: dispositivos, discursos y sujetos. Buenos Aires: La Crujía, 2004. DEBRAY, R (1993). A dinâmica do suporte. In: DEBRAY, Régis. Curso de Midiologia Geral. Petrópolis: Vozes. p. 205 – 240. DUBOIS, P. (2004). “Máquinas de imagens: uma questão de linha geral”. In: DUBOIS, Philippe. Cinema, vídeo, Godard. São Paulo: Cosac Naify. p. 31-67. FAUSTO NETO, A. (1995). A deflagração do sentido. Estratégias de produção e de captura de recepção. In: SOUSA, Mauro Wilton de (org.) Sujeito, o lado oculto do receptor. São Paulo: Brasiliense. p. 189-222. FONTCUBERTA, M. (1993). La noticia. Barcelona: Paidós. GIDDENS, A. (2002). Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. MAINGUENEAU, D. (2001). Análise de Textos de Comunicação. São Paulo: Cortez. MIRA, M. C. (2004). Cultura e Segmentação: um olhar através das revistas. In: SILVA, Ana Amélia da; CHAIA, Miguel (Orgs.). Sociedade, cultura e política: ensaios críticos. São Paulo: EDUC. p. 246-259. MIRA, M. C. (2001) O leitor e banca de revistas: a segmentação da cultura no século XX. São Paulo: Olho d”Água/Fapesp. MOUILLAUD, M.; PORTO, S. D. (Orgs.) (2002). O jornal: da forma ao sentido. 2. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília. p. 09-190. NEVEU, É. (2006). Sociologia do jornalismo. São Paulo: Edições Loyola. RODRIGUES, A. D. (1994). Comunicação e Cultura: A experiência Cultural na Era da Informação. Lisboa: Presença. RÜDIGER, F. (1996). Literatura de auto-ajuda e individualismo: contribuição ao estudo da subjetividade na cultura de massa contemporânea. Porto Alegre: Ed. UFRGS. SCALZO, M. (2004). Jornalismo de Revista. 2. ed. São Paulo: Contexto. TAVARES, F. M. B. (2009). Temas que acontecem: operações entre jornalismo de revista e qualidade de vida. Eco-Pós (UFRJ), v. 12, p. 87-101. Actas del I Congreso Internacional Latina de Comunicación Social, 2009 ISBN: 978-84-9941-001-2 . Universidad de La Laguna (Tenerife) / SLCS Página 18 TAVARES, F. M. B. (2008). “Revista e Vida Simples: complexidades na relação jornalismo e qualidade de vida”. Relatório de Qualificação de Doutorado. São Leopoldo, UNISINOS Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação. VERÓN, E. (2004). Fragmentos de um Tecido. São Leopoldo: Ed.Unisinos. VILAS BOAS, S. (1996). O Estilo Magazine: o texto em revista. São Paulo: Ed. Summus. 1 Suportes duros e pesados impõem um tipo de inscrição e de instrumento, assim como o oposto também. Relembrando Régis Debray (1993), a matéria e o utensílio nela utilizado modificam o espírito do traçado, o estilo de um Zeitgeist. 2 Não queremos dizer com isso que tais movimentos sejam propriamente inéditos na história do homem. O que nos interessa, no entanto, é identificar que particularidades e especificidades são por eles marcadas e os marcam tomando como contexto a sociedade dos “nossos dias atuais”. 3 “Mas o aspecto que mais interessa ao debate sobre a segmentação é que a família, que já havia sido desarticulada como unidade de produção desde o início do capitalismo, começa a ser desmontada enquanto unidade de consumo. Na segunda metade do século XX, novos sujeitos sociais e novos sujeitos consumidores entrarão em cena” (Mira, 2004, p. 252). 4 Disponível em: http://publicidade.abril.com.br/homes.php?MARCA=52. Acesso em 12 de novembro de 2009. 5 Disponível em: http://publicidade.abril.com.br/homes.php?MARCA=52. Acesso em 12 de novembro de 2009. 6 Disponível em: http://publicidade.abril.com.br/homes.php?MARCA=52. Acesso em 12 de novembro de 2009. 7 Disponível em: http://publicidade.abril.com.br/homes.php?MARCA=52. Acesso em 12 de novembro de 2009. 8 Como propõe Aumont (2001), a noção de técnica pode ser tomada como prática, regra operatória da ação humana; estando a tecnologia ligada à ordem dos instrumentos e da materialidade que se associam a essa prática. Sobre essa discussão ver também Baudry (2003) e Dubois (2004). 9 “O dispositivo tem uma forma que é a sua especificidade, em particular, um modo de estruturação do espaço e do tempo” (Mouillaud, 2002, p. 35). 10 Antunes, ao postular que a abordagem da temporalidade seja apreciada no âmbito de uma problemática sócio-discursiva, na qual as categorias do sentido acham-se, ao mesmo tempo, orientadas para o exterior e para o interior da linguagem, diz, baseado em Eliseo Verón: “A temporalidade afigurar-se-ia como um elemento ao mesmo tempo intra e extradiscursivo, faz parte das gramáticas de produção e reconhecimento e também das condições de produção e reconhecimento” (Antunes, 2007, p. 97). 11 Os leitores não estão excluídos deste processo, ocupando um espaço cognitivo tanto no repertório que adquirem sobre estas práticas, quanto no reconhecimento que os produtores fazem de sua existência. Nesse sentido, como relembra Aumont (2001), além das dimensões espaço e tempo, uma terceira dimensão permite pensar a questão do dispositivo: a dimensão simbólica (relacionada ao tensionamento técnica e ideologia). Neste texto, especificamente, não trataremos deste terceiro âmbito. 12 Compartilhamos com Mouillaud da seguinte idéia, que toma os vê os dispositivos “matricialmente”: “Os dispositivos não são apenas aparelhos tecnológicos de natureza material. O dispositivo não é o suporte inerte do enunciado, mas o local onde um enunciado toma forma. Os dispositivos da mídia também não exercem o simples papel de contextos” (Mouillaud, 2002, p. 85). 13 Tais diferenças temporais também trazem distinções entre o tipo de jornalismo produzido pelas diferentes publicações – revistas – aí envolvidas. 14 A leitura realizada por Scalzo, quase que um relato de sua experiência como jornalista de revista durante muitos anos, é propícia e instigante para pensarmos essa relação. De jornalista de uma redação diária, de jornal, para jornalista de uma publicação mensal, a revista, a autora relata: “Demorei para entender a necessidade de sair da factualidade excessiva, da superficialidade do diaa-dia. Entender o ritmo de cada publicação e o quanto se permite mergulhar numa pauta – e voltar Actas del I Congreso Internacional Latina de Comunicación Social, 2009 ISBN: 978-84-9941-001-2 . Universidad de La Laguna (Tenerife) / SLCS Página 19 a tempo de fechar a edição – é aprendizado urgente para o jornalista que quer trabalhar em revistas. Tão importante quanto conhecer seus leitores” (Scalzo, 2004, p. 42). Sobre a produção “alargada” nas revistas, Érik Neveu acrescenta: “O jornalismo de revistas é também o terreno das soft news. Se uma parte dessa imprensa deve seguir o calendário dos acontecimentos que se impõem a ela, como as competições esportivas, a maior parte das revistas (cozinha, saúde) pode construir seus conteúdos jornalísticos de uma forma relativamente desconectada da atualidade dos acontecimentos imprevisíveis. A preparação das edições especialmente para as mensais e trimestrais, se realiza com meses de antecedência” (Neveu, 2006, p. 54). 15 Tal fala ainda deixa claro outras operações e estratégias da revista: a lógica de aproximação com o leitor (característica deste tipo de jornalismo), o que se observa no tom conversacional do texto e na citação aos nomes dos integrantes da equipe (como pessoas que seriam próximas e conhecidas dos leitores); assim como também o estilo jornalístico da revista, mais interpretativo, e que no caso de Vida Simples, faz-se muitas vezes com citações e referências a grandes autores e pensadores, caso, neste editorial, de Walter Benjamin. Tais estratégias evidenciam também a configuração da revista no que diz respeito ao segmento de público para o qual ela se volta e que poderíamos caracterizar, em linhas gerais, como “sofisticado”; bem como apontar para suas marcas discursivas, o que discutiremos posteriormente. 16 “Tempo e temporalidades já são de alguma data objeto de certo modismo intelectual, com amplo espaço e apelo no ambiente da mídia e em toda sorte de literatura voltada para a ‘boa’ gestão da vida cotidiana (auto-ajuda e afins). Nesse ‘mercado de idéias’ faz sucesso a tematização de uma crise das sociedades lastreadas em maneiras de lidar com o tempo que criam ‘tiranias’ e ‘doenças’ decorrentes do culto da ‘pressa’ e do ‘imediato’” (Antunes, 2007, p. 26). 17 Em nossa tese de doutoramento tratamos desta questão no tensionamento entre a noção de acontecimento jornalístico e tema. Sobre essa reflexão ver Tavares (2009). 18 Hoje, aponta Mar de Fontcuberta, “no hay lugar para la improvisación en la maqueta de una página, compaginación de un diario o revista, la elección de una fotografía, o del entorno físico que rodea al presentador del telediario. Tampoco hay azar a la hora de seleccionar las sintonías o formatos en la radio o la televisión. Todo es parte de un conjunto en el que el binomio contenido/forma se ofrece trabado de tal manera que establece relaciones mutua de dependencia” (Fontcuberta, 1993, p. 65) 19 “[...] o enunciado e as particularidades de sua enunciação configuram, necessariamente, o processo interativo, ou seja, o verbal e o não-verbal que integram a situação e, ao mesmo tempo, fazem parte de um contexto maior histórico, tanto no que diz respeito a aspectos (enunciados, discursos, sujeitos etc.) que antecedem esse enunciado específico quanto ao que ele projeta adiante” (Brait; Melo, 2005, p. 67). 20 Diz Scalzo (2004): “Um ponto que diferencia visivelmente a revista dos outros meios de comunicação impressa é o seu formato. Ela é fácil de carregar, de guardar, de colocar numa estante e colecionar. [...] Seu papel e impressão também garantem uma qualidade de leitura – do texto e da imagem – invejável” (p. 39). “Ainda devido à qualidade do papel e da impressão, outro grande diferencial positivo das revistas, principalmente em relação aos jornais, é a sua durabilidade. Revistas duram mais (graças à qualidade do papel, é verdade, mas pelo conteúdo também)” (p. 41). 21 Não pretendemos nesta seção realizar uma “análise de discurso” propriamente dita sobre o discurso jornalístico de Vida Simples, mas sim caracteriza-lo em linhas gerais a fim de que, futuramente, desenvolvamos linhas analíticas mais concretas para o mesmo. 22 Sobre a discussão de gêneros textuais ver Maingueneau (2001). Sobre a discussão de gêneros textuais jornalísticos ver Berger e Tavares (2008). 23 É possível encontrar ao longo das mais de 90 edições já publicadas muitas referências a livros de auto-ajuda. 24 Vale lembrar, como nos aponta Verón, que “[...] um discurso não pode ser analisado em si mesmo e que analisar um discurso pressupõe a definição prévia de um nível de pertinência da análise e que, consequentemente, a análise sempre relaciona o discurso com qualquer outra coisa que não ele próprio, então isso implica que essa ‘outra coisa’ não será a mesma na produção e no reconhecimento, relativamente a um mesmo discurso” (Verón, 2004, p. 160). Actas del I Congreso Internacional Latina de Comunicación Social, 2009 ISBN: 978-84-9941-001-2 . Universidad de La Laguna (Tenerife) / SLCS Página 20