Alguns deles o consideravam como o vindouro governo milenário do Messias. Agostinho via o Reino como uma realidade presente e identificada com a igreja. A IGREJA E O REINO DE DEUS - ECLESIOLOGIA 1. A IDÉIA DO REINO DE DEUS. O reino de Deus é primariamente um conceito escatológico. A idéia primordial do Reino de Deus na Escritura é a do governo de Deus estabelecido e reconhecido nos corações dos pecadores pela poderosa influência regeneradora do Espírito Santo, assegurando-lhes as inestimáveis bênçãos da salvação – um governo que, em princípio, é realizado na terra, mas que não chegará à sua culminação antes do visível e glorioso retorno de Jesus Cristo. Sua realização atual é espiritual e invisível. Jesus se apossou deste conceito escatológico e lhe deu proeminência em Seus ensinos. Ele ensinou com clareza a realização espiritual atual e o caráter universal do Reino. Além disso, Ele próprio efetuou essa realização numa medida até então desconhecida e multiplicou grandemente as bênçãos atuais do Reino. Ao mesmo tempo, Ele ofereceu a bendita esperança da futura manifestação desse Reino em glória externa e com as perfeitas bênçãos da salvação. 2. CONCEPÇÕES HISTÓRICAS DO REINO. Para os chamados pais primitivos da igreja, o reino de Deus, o bem supremo, é considerado primariamente como uma entidade futura, a meta do presente desenvolvimento da igreja. Para ele o Reino se identifica primordialmente com os piedosos e santos, isto é, com a igreja como uma comunidade de crentes; mas ele empregava algumas expressões que parecem indicar que também o via incorporado na igreja organizada episcopalmente. A Igreja Católica Romana identificava francamente o reino de Deus com a sua instituição hierárquica, mas os Reformadores recuperaram o conceito de que, nesta dispensação, ele se identifica. Com a igreja invisível. Sob a influencia de Kant, e principalmente de Ritschl, ele foi despojado do seu caráter religioso e veio a ser considerado como um reino ético de fins. Atualmente, muitas vezes é definido como um novo princípio introduzido na sociedade e destinado a transformá-la em todas as suas relações, ou como a organização moral da humanidade mediante ação decorrente da motivação do amor – o fim, último da criação. 3. O REINO DE DEUS E A IGREJA INVISÍVEL. Conquanto o reino de Deus e a igreja invisível sejam até certo ponto idênticos, não obstante se deve fazer cuidadosa distinção entre eles. A condição de cidadão daquele e de membro desta é igualmente determinada pela regeneração. É impossível estar no reino de Deus sem estar na igreja como corpo místico de Jesus Cristo. Constituem um reino em sua relação com Deus em Cristo como o seu Governador, e uma igreja em sua separação do mundo na devoção a Deus, e em sua união orgânica uns com os outros. Como uma igreja, são chamados para serem instrumento de Deus no preparo do caminho para a ordem ideal de coisas e na introdução dessa ordem; e como um reino, representam a realização inicial da ordem ideal entre eles. 4. O REINO DE DEUS E A IGREJA VISÍVEL. Desde que os católicos romanos insistem indiscriminadamente na identificação do reino de Deus e a igreja, sua igreja reclama poder e jurisdição sobre todos os domínios da vida, como a ciência e as artes, o comércio e a indústria, como também sobre as organizações sociais e políticas. As organizações para eclesiásticas e eclesiásticas (escolas, hospitais, universidades cristãs) são manifestações do reino de Deus, nas quais grupos de cristãos procuram aplicar os princípios do Reino a todas as esferas da vida. Certamente se pode dizer que a igreja visível pertence ao Reino, faz parte do Reino e até constitui a mais importante incorporação visível das forças do Reino. Ela compartilha o caráter da igreja invisível (sendo ambas uma só) como meio para a realização do reino de Deus. Como a igreja visível, o Reino também participa das imperfeições às quais o mundo pecaminoso o expõe. Isto fica mais que evidente à luz das parábolas do trigo e o joio, e da rede. NO PERÍODO PATRIARCAL. No período patriarcal as famílias dos crentes constituíam as congregações religiosas; a igreja era mais bem representada nos lares piedosos, onde os pais serviam de sacerdotes. Não havia culto regular, embora Gn 4.26 pareça implicar uma invocação pública do nome do Senhor. Havia distinção entre os filhos de Deus e os filhos dos homens, estes gradativamente ganhando predominância. Por ocasião do Dilúvio, a igreja foi salva na família de Noé, e continuou particularmente na linhagem de Sem. E quando a religião verdadeira estava de novo a ponto de morrer, Deus fez uma aliança com Abraão, deu-lhe como sinal a circuncisão e o separou e aos seus descendentes do mundo, para serem o Seu povo peculiar. Até a época de Moisés, as famílias patriarcas eram os verdadeiros repositórios da verdadeira fé, nos quais o temor de Jeová e o serviço do Senhor eram mantidos vivos. NO PERÍODO MOSAICO. Depois do êxodo, o povo de Israel não só se organizou como nação, mas também se constituiu igreja de Deus. Foi enriquecido com instituições em que não somente a devoção familiar ou a fé tribal, mas a religião da nação podia achar expressão. A igreja ainda não obtivera uma organização independente, mas tinha a sua existência institucional na vida nacional de Israel. Na medida em que a igreja visível serve de instrumento para o estabelecimento e a extensão do Reino, naturalmente ela está subordinada a este como um meio para um fim. A forma particular assumida por ela era a de um estado eclesiástico. Não podemos dizer que os dois estavam completamente aglutinados. Pode-se dizer que o Reino é um conceito mais amplo que a igreja, porque objetiva nada menos que o domínio completo de todas as manifestações da vida. Ele representa o domínio de Deus em todas as esferas do esforço humano. Havia funcionários e instituições civis e religiosos separados dentro das fronteiras da nação. Mas, ao mesmo tempo, a nação toda constituía a igreja; e a igreja estava limitada à nação de Israel, embora os estrangeiros pudessem ingressar nela e incorporar-se à nação. A IGREJA E AS DIFERENTES DISPENSAÇÕES Neste período houve marcante desenvolvimento da doutrina, um aumento na quantidade das verdades religiosas conhecidas e maior clareza na apreensão da verdade. O culto de Deus foi regulamentado nos mínimos pormenores, era grandemente ritual e cerimonial, e estava centralizado num único santuário central. NO NOVO TESTAMENTO. A igreja do Novo Testamento e a da antiga dispensação são essencialmente uma só. No que se refere à sua natureza essencial, ambas consistem de crentes verdadeiros, e tão somente de crentes verdadeiros. E, em sua organização externa, ambas representam uma mistura de bons e maus. Contudo, diversas mudanças importantes resultaram da obra realizada por Jesus Cristo. A igreja foi separada da vida nacional de Israel e obteve uma organização independente. Em conexão com isto, os limites nacionais da igreja foram eliminados. O que até essa época tinha sido uma igreja nacional, agora assumiu caráter universal. E a fim de realizar o ideal de extensão mundial, teve que se tornar uma igreja missionária, levando o Evangelho da salvação a todas as nações do mundo. Além disso, o culto ritual do passado deu lugar a um culto mais espiritual, em harmonia com os privilégios do Novo Testamento, que são maiores. A descrição dada acima parte do pressuposto de que a igreja existiu tanto na antiga dispensação quanto na nova, e era essencialmente a mesma nas duas, a despeito das reconhecidas diferenças institucionais e administrativas. Isso está em harmonia com os ensinos dos nossos padrões confessionais. A Confissão Belga, em seu Artigo XXVII, diz: “Esta igreja existe desde o princípio do mundo, e existirá até o fim dele; o que é evidente pelo fato de que Cristo é Rei eterno, que não poderá ficar sem súditos”. Em pleno acordo com isto, o Catecismo de Heidelberg, diz, sobre o Dia do Senhor, XXI: “Que o Filho de Deus, de toda a raça humana, do começo ao fim do mundo, reúne, defende e preserva para Si, por Seu Espírito e Sua Palavra, na unidade da fé verdadeira, uma igreja escolhida para a vida sempiterna”. Como foi assinalado acima, a igreja é essencialmente a comunidade dos crentes, e esta comunidade existe desde o início da antiga dispensação, até a época atual, e continuará a existir na terra até o fim do mundo.