SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
MÊS – SETEC
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MATO GROSSO
DEPARTAMENTO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
REGINA LÚCIA OLIVEIRA DO VALE
BASQUETEBOL EM CADEIRA DE RODAS: um olhar sobre
a acessibilidade
Cuiabá - MT
Novembro 2009
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA –IFET
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL TECNOLÓGICA INCLUSIVA
REGINA LÚCIA OLIVEIRA DO VALE
BASQUETEBOL EM CADEIRA DE RODAS: um olhar sobre
a acessibilidade
Cuiabá - MT
Novembro 2009
REGINA LÚCIA OLIVEIRA DO VALE
BASQUETEBOL EM CADEIRA DE RODAS: um olhar sobre
a acessibilidade
Trabalho
de
conclusão
de
Curso
apresentado ao Departamento de Pesquisa
e Pós-graduação do curso de Educação
Profissional Tecnológica Inclusiva, do Centro
federal de educação Tecnológica de Mato
Grosso, como exigência para a obtenção do
título de especialista.
Orientador: Prof. MSc. Celso michillis
Cuiabá - MT
Novembro 2009
REGINA LÚCIA OLIVEIRA DO VALE
BASQUETEBOL EM CADEIRA DE RODAS: um olhar sobre a
acessibilidade
Trabalho de conclusão de Curso em Educação
Profissional Tecnológica inclusiva, submetido à
Banca
Examinadora
composta
pelos
Professores do Programa de Pós-graduação do
Centro tecnológico de Mato grosso como parte
dos requisitos necessários à obtenção do título
de Especialista.
Aprovado em: ___________________
_____________________________________________
Prof. MSc. Celso Michillis (orientador)
_____________________________________________
Prof. MSc. Marcelo Bezerra da Silva (orientador)
_____________________________________________
Prof. MSc. Kamila Ferreira Batista (Membro da Banca)
Cuiabá - MT
Novembro 2009
Dedico este trabalho em especial àqueles
que de alguma forma buscam promover a
acessibilidade os deficientes em geral e
que contribuem para tornar este sonho
possível.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, que através de Sua
Sabedoria criou um mundo magnífico para ser
desfrutado por TODOS os seres,
Aos meus pais, que com todo o seu amor e fé,
me dedicaram a vida, me ensinando sempre que
devemos acreditar na nossa força, naquilo que
desejamos e que jamais devemos desistir antes de
tentar,
Aos meus familiares os meus verdadeiros amigos os quais considero os
Anjos que Deus enviou para iluminarem a minha vida,
Ao Prof. de Educação Física Wilson Flávio da Silva Correa (ALLSTAR RODAS) e
seus respectivos atletas que se
Em especial ao meu orientador Celso Michiles
pela ajuda na confecção deste trabalho.
Obrigada!
RESUMO
A deficiência física abrange uma variedade de condições reais que afetam o
indivíduo em termo de mobilidade, de coordenação motora geral ou de fala em
decorrência de lesões neurológicas, musculares e ortopédicas, ou ainda de má
formação congênita ou adquirida. Este trabalho tem a intenção de analisar as
contribuições do basquetebol em cadeira de rodas para praticantes com deficiência
física bem como as dificuldades enfrentadas para a continuidade de sua participação
nesta modalidade esportiva. Este estudo se apresenta no sentido de refletir a cerca
da inclusão através da acessibilidade, na construção das relações sociais, na
qualidade de vida e no beneficio físico que esta prática desportiva pode proporcionar
às pessoas com deficiência física.
Palavras-chave: Deficiência. Basquetebol. Acessibilidade. Inclusão. Necessidades
Especiais.
ABSTRACT
The physical deficiency includes a variety of real conditions that affect the individual
in term of mobility, of general coordination motora or of speech as a result of
neurological, muscular and orthopedical injuries, or still of bad congenited or
acquired formation. This search intends to analyse the contributions of the basketball
in wheelchair for apprentices with physical deficiency and also the difficulties faced
for the continuity of their sporting kind. The study shows up in the sense of
considering about the inclusion through the accessibility, in the construction of the
social relations, in the quality of life and for the people with physical deficiency.
Keywords: Disability. Basketball. Accessibility. Inclusion. Special Needs.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
10
CAPITULO I – HISTÓRICO DO BASQUETEBOL EM CADEIRA DE RODAS
13
1.1 ASPECTOS GERAIS
13
1.2 HISTÓRICO DO CLUBE DOS DEFICIENTES FÍSICOS DO PARÁ ALL
STAR RODAS
14
CAPITULO II – ASPECTOS TÉCNICOS SOBRE O BASQUETEBOL EM
17
CADEIRA DE RODAS
2. 1 CADEIRA DE RODAS
17
2.2. PREPARAÇÃO DO ATLETA
18
2.2.1. Técnicas de manejo em cadeiras de rodas
18
2.2.2. Formas diversas de locomoção
19
2.2.3. Classificação funcional
19
2.3 REGULAMENTO DO JOGO
20
2.3.1 Regulamento da quadra
21
2.3.2 Pontuação do jogo
21
2.3.3 Regra para iniciar a bola em jogo
21
2.3.4 Violações específicas no basquetebol em cadeira de rodas
21
2.3.5 Violação das linhas divisórias
22
2.3.6 Violação de percurso
22
2.3.7 Violação de 3 segundos
22
2.3.8 Faltas pessoais
23
2.3.9 Falta técnica
23
2.3.10 Falta antidesportiva
23
CAPITULO III – INCLUSÃO E ACESSIBILIDADE: TUDO A VER
25
3.1 DEFINIÇÃO DE ACESSIBILIDADE
25
3.2 1981: UM ANO A SER LEMBRADO
25
3.3 MUDANÇA DE OLHAR
26
3.4 A ACESSIBILIDADE DIMINUI A DESVANTAGEM
26
3.5 ACESSIBILIDADE É UM DIREITO HUMANO
27
3.6 DESENHO UNIVERSAL
27
CAPITULO IV – A INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA FÍSICA
ATRAVÉS DA ACESSIBLIDADE
30
4.1 ASPECTOS GERAIS DA INCLUSÃO
30
4.2 A INCLUSÃO SOCIAL DE ALUNOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS
32
CAPITULO V – METODOLOGIA
35
5.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA
35
5.2 DISCUSSÃO
35
5.3 BENEFÍCIOS DO BASQUETEBOL EM CADEIRA DE RODAS
37
5.4 CONSTRUÇÃO DAS RELAÇÕES SOCIAIS DOS COMPONENTES DO
ALL STAR RODAS
39
CONSIDERAÇÕES FINAIS
41
REFERÊNCIAS
43
INTRODUÇÃO
Historicamente, o ser humano vive em busca de melhorar sua condição de ser
e de viver. Muitas foram as barreiras enfrentadas para que a ciência e a tecnologia
pudessem trazer bem estar e melhores condições de vida.
Nem sempre a tecnologia esteve a favor das pessoas com deficiência física,
em alguns aspectos, até mesmo limitou o progresso destas pessoas. No entanto,
hoje vemos um crescendo de recursos tecnológicos sendo criados estrategicamente
para se adaptar à realidade dos que precisam se locomover, utilizar os espaços
físicos e sociais além de integrar-se no meio em que vivem e buscar novas fronteiras
para realizações de sonhos pessoais.
A deficiência física abrange uma variedade de condições reais que afetam o
indivíduo em termo de mobilidade, de coordenação motora geral ou de fala em
decorrência de lesões neurológicas, musculares e ortopédicas, ou ainda de má
formação congênita ou adquirida.
Este trabalho tem a intenção de analisar as contribuições do basquetebol em
cadeira de rodas para praticantes com deficiência física bem como as dificuldades
enfrentadas para a continuidade de sua participação nesta modalidade esportiva.
Este estudo se apresenta no sentido de refletir a cerca da inclusão através da
acessibilidade, na construção das relações sociais, na qualidade de vida e no
beneficio físico que esta prática desportiva pode proporcionar às pessoas com
deficiência física.
A prática do basquetebol em cadeira de rodas, pode se tornar uma porta de
reentrada da pessoa com deficiência na sociedade, visto que a maioria dos atletas
que pratica esta modalidade, não nasceu deficiente ou não adquiriu a deficiência
quando crianças, mas a maioria se tornou deficiente quando jovens, ou mesmo
adultos, e que através do esporte adaptado muitos destes cidadãos retomam ideais
e sonhos antes esquecidos, e principalmente o anseio do reconhecimento de suas
histórias por meio do esporte.
Algumas instituições tem se destacado na busca da melhoria da qualidade de
vida dos deficientes físicos. No Brasil, existem vários projetos de apoio a estes
deficientes e que priorizam o retorno dessas pessoas ao convívio social e melhor
qualidade de vida na família além de propor emancipação no nível cultural e
estudantil de seus freqüentadores
Atualmente
há
instituições
em
Belém
que
estão
contribuindo
significativamente para o desenvolvimento esportivo e de lazer desses cidadãos.
Dentre elas se destaca o CLUBE DOS DEFICIENTES FÍSICOS DO PARÁ – ALL
STAR RODAS, fundado no ano de 1997. Para além de contribuírem na inserção de
pessoas com deficiência física em atividades físicas de esporte e de lazer, essa
instituição reconhecidamente, tem também um papel relevante na inclusão social
desse segmento da população na sociedade.
Essa instituição procura ainda sensibilizar a população e a sociedade em
geral para as barreiras arquitetônicas e atitudinais sofridas pelos deficientes em suas
idas e vindas diárias, além de fazer uso dos avanços tecnológicos para a melhoria
da qualidade de vida de seus atletas, sejam essas melhorias em termos médicos,
fisioterápicos e materiais esportivos que se adéqüem à realidade dos praticantes da
modalidade.
O basquetebol sobre rodas vem sendo utilizado pelo All Star Rodas como
uma das ferramentas para o desenvolvimento integral das pessoas com deficiência
física e como meio de re-aprendizagem física e social, priorizando uma relação
saudável com o corpo e a mente, envolvendo todas as dimensões da relação da
pessoa com deficiência e consigo mesma, com os demais e com o mundo.
CAPITULO I
HISTÓRICO DO BASQUETEBOL EM CADEIRA DE RODAS
1.1 ASPECTOS GERAIS
A história do basquete em cadeira de rodas confunde-se com a história dos
demais esportes para deficientes.
Apesar de há muito tempo os deficientes utilizarem várias práticas esportivas
em forma de lazer, o primeiro registro oficial de esporte paraolímpico data de 1932,
quando foi criado na Inglaterra, uma associação de jogadores de golfe com um só
braço.
O principal marco histórico do esporte paraolímpico se dá durante a Segunda
Guerra Mundial quando, em 1944, em Aylesbury, na Inglaterra, o neurologista
Ludwig Guttmann, que escapara da perseguição aos judeus na Alemanha nazista
criou, a pedido do governo britânico, o Centro Nacional de Lesionados Medulares do
Hospital de Stoke Mandeville, especializado no tratamento a soldados do exército
inglês feridos na Segunda Guerra Mundial, onde se trabalhava com atividades de
Arco e Flecha.
Em 1948, Guttman cria os I Jogos Desportivos de Stoke Mandeville, com a
participação de 14 homens e 2 mulheres da Forças Armadas Britânicas em uma
única modalidade, Arco e Flecha. Em 1952, Sir Guttmann realizou o II Jogos
Desportivos de Stoke Mandeville com a participação de 130 atletas entre ingleses e
holandeses.
Paralelo a esses acontecimentos, surgiu nos EUA o Paralyzed Veterans of
America (Veteranos Paralisados da América), que começaram a desenvolver
atividades esportivas. É aí que surge o primeiro registro de um jogo de basquete em
cadeira de rodas, na divisão da PVA em New England, EUA, mas a mais popular foi
a divisão da PVA na Califórnia, EUA, indo depois para Boston, Memphis, Richmond,
New York, Canadá e Inglaterra. A equipe mais popular nos EUA era a equipe da
região Oeste, a Birmingham Flying Wheels, que também era uma divisão da PVA.
O primeiro campeonato oficial ocorreu em 1948 denominado I Campeonato
Nacional da PVA nos EUA de basquetebol em cadeira de rodas, se sagrando
campeã a equipe Flying Wheels da Califórnia. A popularização do esporte levou à
formação da primeira equipe que não era formada por militares, a Kansas City
Wheelchairs Bulldozers.
A primeira paraolimpíada aconteceu em 1960, em Roma, quando o médico
italiano Antonio Maglio, diretor do Centro de Lesionados Medulares de Ostia, cidade
italiana, sugeriu que os Jogos Internacionais de Stoke Mandeville fossem disputados
naquele ano na capital da Itália, na seqüência e nas mesmas instalações da XVI
Olimpíada. A Olimpíada dos Portadores de Deficiência - na verdade, os Jogos
Paraolímpicos - contou com 400 atletas em cadeira de rodas, representando 23
países. As autoridades italianas deram todo apoio à competição que teve calorosa
acolhida do Papa João XXIII.
A contar daquela edição, exceto em raras impossibilidades de alguns paísessede, os Jogos Paraolímpicos são disputados na mesma cidade e nas mesmas
instalações das Olimpíadas.
No Brasil, devemos a Sérgio Del Grande a introdução da modalidade. Em
1951, ele sofreu um acidente durante uma partida de futebol, e ficou paraplégico. Os
médicos recomendaram a ele que viajasse para buscar tratamento nos Estados
Unidos. Naquele país, Sergio percebeu o quanto era dado valor para a prática
esportiva associada ao processo de reabilitação. Em meados a década de 50, Del
Grande voltou para o Brasil, trazendo consigo uma cadeira de rodas especial para a
prática do basquetebol. Fundou o clube dos Paraplégicos de São Paulo e procurou
incentivar outras pessoas com deficiência para praticar a modalidade, através de
exibições. Como sua cadeira havia sido fabricada nos Estados Unidos e não existia
modelo parecido no Brasil, um fabricante procurou Sergio para desenvolver aquele
material aqui, utilizando sua cadeira de rodas como protótipo. Em troca, Del Grande
solicitou que o fabricante desse a ele 10 cadeiras de rodas, para que a primeira
equipe fosse formada. E foi o que aconteceu.
1.2 HISTÓRICO DO CLUBE DOS DEFICIENTES FÍSICOS DO PARÁ ALL STAR
RODAS
O Clube dos Deficientes Físicos do Pará – All Star Rodas é uma organização
não governamental, sem fins lucrativos, fundada no ano de 1997, que tem por
finalidade promover o bem-estar e a integração social da pessoa com deficiência
através de atividades esportivas, de lazer e social. É reconhecida nacionalmente e
internacionalmente
como
uma
entidade
que
desenvolve
um
trabalho
de
responsabilidade social através do esporte paraolímpico e preocupada em promover
ações que efetivamente contribuam para o crescimento da qualidade de vida da
pessoa com deficiência, oferecendo instrumentos que permitam a superação de
conceitos e direitos atuando assim no crescimento da auto-estima do deficiente, ao
mesmo tempo, disponibiliza para a sociedade como um todo informações e
exemplos de quanto este segmento é estigmatizado pelo preconceito e que como
pode ser simples promover a inserção dos mesmos. Proporcionando-lhe autonomia
intrínseca a cidadania.
Durante alguns anos o Clube All Star Rodas trabalhou especificamente com
basquetebol em cadeira de rodas, mas, devido ao grande número de pessoas com
deficiência nas atividades do projeto, houve a necessidade de expandir o trabalho
esportivo para outras modalidades paraolímpicas, haja vista que nem todos
desenvolvem habilidade para o basquetebol, então, atualmente, trabalha com
atletismo, natação, tênis de mesa, dança e halterofilismo, como forma de atuação de
lazer ativo, reabilitação, socialização e treinamento esportivo, para que todas as
pessoas com deficiência dentro do projeto tenham acesso às metodologias do
treinamento esportivo adaptado, possibilitando melhoras significativas em suas
atividades motrizes, seu condicionamento físico e a técnica de manejo de cadeira de
rodas desenvolvendo assim sua auto-estima e sua confiança.
Para executar suas atividades esportivas e sociais o All Star Rodas conta com
uma sólida parceria de patrocínio do Banco da Amazônia que oferece toda a infraestrutura para participar nas competições esportivas e em eventos sociais, assim
como a Secretaria Executiva de Esporte e Lazer (SEEL) que disponibiliza o
professor Wilson Flávio da Silva Corrêa com a parte de sua carga horária para
aplicar no projeto e faz a liberação de recurso quanto necessário para o clube além
do apoio da Prefeitura Municipal de Belém, através da Guarda Municipal, que cede o
professor em tela para desenvolver as atividades do clube assim como empresta
seu ginásio esportivo para a realização dos treinamentos.
Os treinamentos são aplicados de forma educacional buscando a massificação
do esporte paraolímpico e servindo de base para as atividades em busca de talentos
esportivos para atuarem no âmbito local, regional, nacional e internacional, tendo
como resultado da aplicação do projeto, a participação do All Star Rodas nos jogos
Parapanamericano realizado na cidade do Rio de Janeiro/2007. A participação da
equipe nos referidos jogos, promoveu a consolidação do projeto como referência de
trabalho paraolímpico no Brasil, uma vez que a seleção feminina de Basquetebol em
Cadeira de Rodas tinha como base três atletas do clube paraense, além do técnico e
do mecânico do clube na direção técnica da Seleção Brasileira, o que levou o Brasil
a um resultado inédito, pois conseguiu através dos para atletas paraenses sua
classificação para as paraolimpíadas de Pequim/2008.
O Brasil, em toda a sua história, participou de uma paraolimpíada, como
convidado, sendo que, a seleção Brasileira, já foi convocada no ano de 2008, na
qual dezesseis atletas, o técnico e o mecânico da seleção paraense da equipe do All
Star Rodas compõem esta equipe. Temos também o atleta Eduardo Sales
convocado para a Seleção Brasileira Masculina de Basquetebol em Cadeira de
Rodas e 08 (oito) atletas na categoria SUB-21 também formando a seleção brasileira
que participará das seletivas para o Mundial de basquetebol em cadeira de rodas.
O Clube All Star Rodas através de sua equipe feminina representou o Brasil no
campeonato de Basquetebol Feminino do México ficando como vice-campeão. O
clube teve também, a satisfação de receber através de seu técnico, uma
homenagem do Ministério do Planejamento Social e Combate a Fome, através de
um certificado Especial Fome Zero – Legado Social dos Jogos Pan-Americanos e
Parapanamericanos no Rio de Janeiro/2007 demonstrando o reconhecimento da
eficiência deste projeto que atua de forma integrada nas vertentes do esporte
educacional, participativo e de rendimento.
Hoje, o projeto do All Star Rodas conta com 90 atletas, sendo 50 atletas do
time de rendimento na faixa etária de 13 à 40 anos, alguns com lesões medulares,
poliomielite, paralisia cerebral, amputados. A maioria dos entrevistados adquiriu a
deficiência física em decorrência da violência urbana (brigas de gangues, acidente
de moto, assaltos e atropelamentos). Dos 15 atletas entrevistados, uma cursa a
faculdade de educação física, um faz o curso técnico de enfermagem, três estão se
preparando para o vestibular na área de enfermagem, dois são funcionários
públicos, os outros entrevistados não possuem renda fixa, recebem uma ajuda de
custo do governo federal para se manterem no projeto, pois a renda familiar da
maioria é baixa caracterizando uma das maiores barreiras encontradas por esses
atletas, que possuem mulher e filhos.
CAPITULO II
ASPECTOS TÉCNICOS SOBRE O BASQUETEBOL EM CADEIRA DE RODAS
2.1 A CADEIRA DE RODAS
Sempre que possível, é feita sob medida, levando em consideração a
limitação física e a característica do jogador quanto ao jogo de basquete. A cadeira
deverá ser dotada de certos requisitos (medidas), no intuito de garantir a segurança
e igualdade na competição. A cadeira deverá ter 3 ou 4 rodas; duas rodas grandes
localizadas na parte traseira da cadeira e uma ou duas rodas pequenas na parte da
frente.
Atualmente, a regra permite que uma pequena rodinha seja colocada na parte
traseira, para que, em contato com o solo possa dar uma maior segurança ao
jogador. Os pneus traseiros deverão ter um diâmetro máximo de 0,66m e a roda
deverá possuir um aro para o seu manejo (impulsão).
A altura máxima do assento não pode exceder a 0,53 m do solo e o descanso
para os pés não poderá ultrapassar os 0,11m do solo, com as rodas dianteiras em
posição alinhada para movimento para frente.
A parte de baixo do descanso para os pés deverá ser desenhada de tal
maneira que não danifique a superfície da quadra. O jogador deve usar uma
almofada de material flexível sobre o assento da cadeira.
A almofada deverá ser da mesma largura e comprimento do assento da
cadeira e não pode exceder 0,10 m de espessura, exceto para os jogadores das
classes 3.5, 4.0 e 4.5, onde a espessura máxima permitida é de 0,05 m. os
jogadores são obrigados a usar cintas e suportes para segurar o corpo na cadeira e
cintas para manter as pernas juntas. É permitido o uso de órteses e próteses.
Não são permitidos pneus pretos, mecanismos de direção, freios ou
mecanismos de acionamento na cadeira. Antes do início da partida, o Árbitro fará a
vistoria em todas as cadeiras para verificar se estão de acordo com os requisitos do
jogo. (RIBAS, p12, 1986).
A ficha de classificação do jogador deverá indicar o uso de órteses ou
próteses, assim como as adaptações para o posicionamento do jogador na cadeira.
Trinta minutos antes do início de cada partida, o árbitro realiza uma avaliação e
medição da cadeira de rodas (seating).
2.2 PREPARAÇÃO DO ATLETA
Os atletas que iniciam a prática do basquetebol em cadeira de rodas devem
passar pelos seguintes processos: preenchimento de uma ficha individual do atleta,
avaliação com médicos, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, preparadores
físicos e classificadores funcionais e outros profissionais afins. O Clube All Star
Rodas não fornece esta avaliação diretamente. O atleta traz esta avaliação dos
médicos e profissionais que os acompanha há mais tempo.
Tecnicamente, para fins de possibilitar um melhor desempenho desportivofuncional, é feita uma avaliação, por parte dos profissionais, com o atleta sentado na
nova cadeira, onde são acrescentadas faixas de fixação (straps), para lhes dar maior
segurança. É explicado detalhadamente o desenvolvimento do manejo da cadeira; a
pegada, propulsão e a freada (para frente e para trás), giros, inclinação (tilt), etc.
É de vital importância a orientação no desenvolvimento dos fundamentos
técnicos do basquetebol: diversas variações de dribles, passes, recepção,
arremessos, bloqueios, rebotes, corta-luz e falso corta-luz, e muitos outros.
Desenvolvimento dos fundamentos táticos do basquetebol, ofensiva e
defensivamente, transição, quadrado, jogadas defensivas e ofensivas read and
react, jogadas em situações específicas. Todos os itens acima são desenvolvidos
conforme o planejamento e as avaliações realizadas pela equipe multidisciplinar.
2.2.1 Técnicas de manejo em cadeiras de rodas
Durante a 1ª fase de ativação do futuro usuário de cadeira de rodas, o
aprendizado e treinamento do manejo de cadeira de rodas representam uma função
terapêutica importantíssima. Este aprendizado contribuirá para uma maior
autonomia da pessoa.
Nesta fase, as técnicas de manejo, transferência e condicionamento físico
básico são ministrados por um fisioterapeuta, as demais, com aperfeiçoamento das
técnicas de manejo, aprimoramento da condição física geral, iniciação desportiva e
vivências de dinâmicas de grupo visando à reinserção social e melhor equilíbrio
emocional.
O treinamento de manejo de cadeira de rodas conduz não apenas ao
aprendizado e ao aperfeiçoamento de suas técnicas, mas também a ativação do
sistema cardiovascular. O treinamento do manejo de cadeira de rodas engloba
outros aspectos.
2.2.2 Formas diversas de locomoção
a. 1 - As transferências de cadeira de rodas para uma cama, uma cadeira ou
para um assento de carro.
b. 2- O manejo de cadeira de rodas em pisos acidentados e nas ruas.
c. 3- A locomoção mais veloz e mais resistente.
Fase preparatória: tem por finalidade o posicionamento dos braços e das
mãos para que se possa efetuar a propulsão de maneira econômica, eficaz e
segura. Sua maior característica se baseia nos movimentos de flexão dos cotovelos
com o direcionamento dos braços para trás.
Pegadas: o apoio das mãos nas rodas é feito principalmente com a região
tênar das mãos, região média, polegar e ponta dos dedos.
2.2.3 Classificação funcional
A pontuação de cada atleta varia de 1.0, 1.5, 2.0, 2.5, 3.0, 3.5, 4.0 e 4.5
pontos, sendo que os pontos 1.0 são jogadores que normalmente apresentam uma
lesão alta, podendo comprometer o seu equilíbrio de tronco e os seus membros
superiores; o ponto 4.5 pode ser, por exemplo, aquele atleta que apresenta uma
amputação do membro inferior (abaixo do joelho) lesão baixa. (www.add.com.br)
Sugestão de Educativos. Segundo NETTO E GONZALES (1996), temos:
Quicar a bola ao chão, ao lado, um pouco mais à frente da cadeira, ora com
uma mão, ora com outra mão.
Em coluna, os atletas deslocam-se na quadra, cada um com uma bola.
Andar na quadra, em linha reta na cadeira de rodas.
Andar na cadeira de rodas com velocidade, ficar com as duas mãos e depois
com uma alternadamente.
Fazer movimentos de reversão para um lado e para o outro, até realizar o
pivô.
Exercícios envolvendo destreza por entre os obstáculos
Trabalho específico de habilidade com a bola na cadeira de rodas: recepção,
arremessos parados, em movimento, passes longos, recepção com uma só
mão, passe com uma só mão parada e em movimento e, após desviando-se
dos obstáculos.
Trabalhos de arremessos à cesta, parado e em deslocamento.
Com a cadeira em movimento, comprimir a bola contra os raios da roda, eixar
a bola girar junto com a roda, segurando-a com leve pressão e trazendo-a
para si.
2.3 REGULAMENTO DO JOGO
O basquetebol em cadeira de rodas é composto de duas equipes com o
mínimo de 5 e no máximo 7 jogadores cuja finalidade é lançar a bola com as mãos
para fazer a cesta no campo adversário. Compreende-se o basquetebol adaptado
como a utilização dos princípios básicos da modalidade basquetebol (essência)
aplicado ás pessoas com deficiência, realizando algumas adaptações nas regras. É
praticado por indivíduos com lesões que afetam principalmente os membros
inferiores com disfunções que o impeçam de correr, saltar e pular como uma pessoa
sem lesão.
Como no basquete convencional, o jogo consiste de cinco jogadores em cada
time com duração de dois tempos de 20 minutos cada, ou, quatro quartos de 10
minutos, medidos com cronômetro com escala de 30 segundos. No caso de empate
no escore, ao final do último quarto, será jogado com uma prorrogação de 05
minutos para o desempate. Em caso de novo empate, tantas prorrogações de 5
minutos quantas forem necessárias.
2.3.1 Regulamento da quadra
A quadra regular para o jogo é de tamanho normal, 28.00 m x 15.00 m, usada
para competições da I W B F. A quadra deverá ser marcada com linhas divisórias de
áreas, linhas para lances livres e linhas para arremesso de 3 pontos, de acordo com
o regulamento da FIBA/IWBF. O basquete em cadeira de rodas usa uma cesta
padronizada, instalada a 3.05 m de altura, idêntica a cesta usada para o jogo de
basquete comum.
2.3.2 Pontuação do jogo
Como no basquete comum, um arremesso da linha de lance livre conta 1 (um)
ponto. Um arremesso da área de jogo 2 (dois) pontos. Um arremesso da linha de 3
pontos conta 3 (três) pontos.
2.3.4 Regra para iniciar a bola em jogo
Para começar cada tempo de jogo será feito um arremesso vertical da bola
(bola morta), no circulo central da quadra, um jogador de cada time ficará
posicionado frente a frente para tomar posse da bola que será arremessada pelo
arbitro da partida. Como ao jogador não é permitido se elevar do assento da cadeira
(falta técnica), o jogador com maior estatura terá maior chance de obter a posse da
bola. No caso de bola presa, ou seja, os dois jogadores segurar a bola é assegurado
a cada um dos times a posse para por a bola em jogo em alternadas sucessões, a
direção da próxima posse após a bola presa será indicada por uma seta colocada na
mesa do apontador ou no placar. Por exemplo: Se após a bola ao alto o time A
obtiver a posse de bola, quando da marcação de uma próxima bola presa, esta será
reposta de fora para dentro da quadra por um atleta da outra equipe.
2.3.4 Violações específicas no basquetebol em cadeira de rodas
Violações são infrações cometidas contra as regras, onde o time que comete
perde a posse da bola. A devolução será feita pelo time adversário por intermédio de
um lançamento de fora para dentro da quadra, no ponto mais perto do local onde foi
cometida a violação.
2.3.5 Violação das linhas divisórias
O jogador é considerado fora da quadra quando ele ou alguma parte de sua
cadeira estiver em contato com o solo sobre ou fora da linha divisória. A bola é
considerada fora, quando a mesma ultrapassar a linha divisória. O causador da bola
fora será o ultimo jogador a tocá-la. Entretanto, se um jogador atirar
deliberadamente a bola contra seu adversário ou contra sua cadeira e esta sair da
quadra, a mesma será reposta pelo adversário no ponto mais próximo onde ocorreu
à violação.
2.3.6 Violação de percurso
O jogador só poderá impulsionar as rodas duas vezes antes de: driblar,
passar, ou arremessar a bola. Se o jogador impulsionar as rodas três vezes,
incluindo movimentos de pivô, será considerada violação de percurso, a famosa
"andada".
2.3.7 Violação de 3 segundos
O jogador não pode permanecer mais que 3 (três) segundos na área restritiva
do adversário. A não ser que a bola esteja no ar durante um arremesso para a cesta,
durante o rebote ou quando a bola estiver parada. O jogador que permanecer mais
de 3 segundos na área restritiva do adversário receberá uma falta por violação de 3
segundos. Durante o período de bola morta, os três segundos não são contados.
Violações de 5 ou 10 Segundos
Um jogador marcado de perto que estiver de posse da bola deverá passá-la,
arremessá-la, driblá-la ou rolá-la dentro de cinco segundos. Igualmente, o time
deverá movimentar a bola do fundo de seu campo para frente dentro de dez
segundos. Tempo excessivo associado a estas duas situações resulta em violação.
Faltas
Faltas são infrações das regras envolvendo contatos pessoais com o
oponente ou comportamento anti-esportivo. A falta é cobrada contra o ofensor e a
penalidade poderá ser tanto a perda de posse da bola, como um arremesso livre ou
uma serie de 3 arremessos livres em favor do adversário, dependendo da natureza
da falta. A cada jogador só será permitido cometer 5 (cinco) faltas durante o jogo,
quando este jogo for realizado em dois tempos de vinte minutos. Após a quinta falta
o jogador será automaticamente excluído do jogo
2.3.8 Faltas pessoais
O Basquete em cadeiras de rodas é um esporte sem contatos físicos. Uma
falta pessoal é cobrada contra o jogador que bloquear, segurar, empurrar, carregar
ou impedir o progresso de jogo do adversário com seu corpo ou com sua cadeira.
Agressão desnecessária também é sancionada como falta pessoal. Para estas
faltas, a cadeira de rodas é considerada como parte componente do corpo do
jogador, o contato não acidental entre cadeiras constitui em falta. Se o jogador que
receber a falta estiver no ato de um arremesso e pontuar, a ele será concedido um
arremesso livre. Se o arremesso for nas áreas de 2 ou 3 pontos a ele será
concedido 2 e/ou 3 arremessos livres respectivamente.
2.3.9 Falta técnica
Uma falta técnica será cobrada sempre que um jogador demonstrar
deliberadamente conduta antidesportiva: quando um jogador elevar-se do assento
da cadeira ou quando um jogador remover os pés do descanso de pé ou usar outra
parte do corpo que não as mãos, para obter vantagens, tais como frear ou manobrar
a cadeira. A cobrança para a falta técnica é de 2 (dois) arremessos livres concedidos
ao adversário. O capitão do time cobrador da falta designará o jogador que
executará os arremessos
2.3.10 Falta antidesportiva
É aquela que é aplicada contra o atleta que a houver cometido
intencionalmente. É quando o atleta despreza a bola e faz contato físico deliberado
com o seu oponente ou sua cadeira. Anteriormente era mais conhecida como falta
intencional.
CAPITULO III
INCLUSÃO E ACESSIBILIDADE: TUDO A VER
3.1 DEFINIÇÃO DE ACESSIBILIDADE
O dicionário nos diz que "acessibilidade" é um substantivo que denota a
qualidade de ser acessível; "acessível", por sua vez, é um adjetivo que indica aquilo
a que se pode chegar facilmente; que fica ao alcance. Na área da Deficiência,
quando este termo começou a ser utilizado, estava restrito ao ambiente construído e
designava a eliminação de barreiras arquitetônicas. Na verdade, a expressão mais
freqüentemente usada era "eliminação de barreiras", pois ficava subentendido que a
pessoa se referia às barreiras arquitetônicas. A sensação que as pessoas tinham
(tanto as pessoas com deficiência quanto familiares, amigos e profissionais) era
muito negativa: a cidade era vista como um lugar perigoso, cheio de armadilhas e
obstáculos a serem enfrentados, que requeriam disposição e paciência, todo dia.
Nada era fácil, nada era possível. A ilustração de Ricardo Ferraz 1 traduz
brilhantemente a percepção e o sentimento dessa época.
3.2 1981: UM ANO A SER LEMBRADO
Gradualmente, o panorama foi mudando. 1981 foi um marco significativo: a
ONU - Organização das Nações Unidas decretou que esse era o Ano Internacional
das Pessoas Portadoras de Deficiência (AIPPD). Parece que um farol se acendeu: a
sociedade se deu conta que havia pessoas com deficiência e que eram muitas. A
visibilidade recém adquirida, com respaldo da ONU, estimulou a mudança de
atitudes: organizações DE pessoas com deficiência foram criadas; o tema foi matéria
de jornais, televisões e rádios; direitos foram conquistados; as pessoas com
deficiência puderam fazer soar sua voz e expressar desejos e vontades. Ou seja,
começaram a sair da atitude de imobilismo e perplexidade que o cartum mostra.
No bojo desta mudança, que se processa de forma gradual e que até hoje está
acontecendo, podemos destacar fatos e tendências. Um deles foi a substituição do
termo "barreiras arquitetônicas" por "acessibilidade", invertendo o sinal das lutas e
dos olhares: não era "contra", era "a favor". Já havia passado o momento do
antagonismo, do grupo das pessoas com deficiência contra a sociedade toda.
Chegou o dia das pessoas com deficiência dizerem que queriam ficar junto com os
outros e, melhor ainda, isso começa a se tornar realidade.
3.3 MUDANÇA DE OLHAR
Nessa inversão de sinal, o significado do termo "acessibilidade" foi ampliado.
Percebemos que acessibilidade era mais do que construir rampas - embora rampas
sejam, sempre, fundamentais. Mas representam, literalmente, apenas o primeiro
passo. Rampas precisam levar a escolas, centros de saúde, teatros, cinemas,
museus, shows de rock... Este novo sentido foi aplicado a outras esferas do fazer
humano; passamos, então, a refletir sobre a acessibilidade (e o acesso a) na
Educação, no Trabalho, Lazer, Cultura, Esportes, Informação e Internet.
Alcançar condições de acessibilidade significa conseguir a equiparação de
oportunidades em todas as esferas da vida. Isso porque essas condições estão
relacionadas ao AMBIENTE e não às características da PESSOA. Falar sobre
alcançar condições de acessibilidade implica em falar de processo, que tem tempos
e características diferentes em cada lugar, que tem idas, vindas, momentos que
parecem de estagnação - mas, na verdade, são momentos em que novos conceitos,
novas posturas e atitudes estão germinando. Processos são demorados e precisam
do cuidado de todos.
3.4 A ACESSIBILIDADE DIMINUI A DESVANTAGEM
O ambiente pode piorar a forma de funcionamento de uma pessoa. Um
restaurante com muitas mesas e pouco espaço de circulação entre elas exige que o
garçom seja um malabarista, para equilibrar pratos e copos e que os clientes sejam
ágeis e flexíveis, para chegar aos seus lugares. Se forem idosos, ou grávidas, ou
obesos, ou simplesmente distraídos... a probabilidade de acidente é alta. O mesmo
acontece com pessoas com deficiência: se o ambiente não oferece condições
adequadas de acessibilidade, elas ficam em situação de desvantagem e sua
condição de funcionamento (surdez, cegueira ou outra) se agrava ou até mesmo fica
inviabilizada.
É importante perceber que, embora esses fatores ambientais não constituam
barreiras para os que não têm deficiência, sua eliminação favorece a TODOS. Um
ambiente acessível é bom para todos, não apenas para pessoas com determinadas
características físicas, pois oferece qualidade de vida, segurança e permite a
convivência e a interação entre diferentes.
3.5 ACESSIBILIDADE É UM DIREITO HUMANO
Ao lutar pela acessibilidade, estamos defendendo um Direito Humano, que
possibilita a equidade de oportunidades e que é condição sine qua non para que a
inclusão social aconteça. Segundo Romeu Sassaki, "O paradigma da inclusão social
consiste em tornarmos a sociedade toda, um lugar viável para a convivência entre
pessoas de todos os tipos e condições na realização de seus direitos, necessidades
e potencialidades. Neste sentido, os adeptos e defensores da inclusão, chamados
de inclusivistas, estão trabalhando para mudar a sociedade, a estrutura dos seus
sistemas sociais comuns, as suas atitudes, os seus produtos e bens, as suas
tecnologias etc. em todos os aspectos: educação, mostra, trabalho, saúde, lazer,
mídia, cultura, esporte, transporte etc."2 Para que a inclusão aconteça, a sociedade
deve incorporar os requisitos de acessibilidade, pois o primeiro passo é freqüentar o
mesmo espaço, com dignidade e tranqüilidade. Como saber mais sobre esses
requisitos de acessibilidade? Quem os estabelece?
3.6 DESENHO UNIVERSAL
Os produtos, equipamentos, ambientes e meios de comunicação devem ser
concebidos do ponto de vista do Desenho Universal, que recomenda que tudo (mas
tudo mesmo) deve poder ser utilizado por todos, o maior tempo possível, sem
necessidade de adaptação, beneficiando pessoas de todas as idades e
capacidades. Está respondida a pergunta acima: é o Desenho Universal que
estabelece os requisitos de acessibilidade. Vale à pena conhecer mais sobre esse
conceito3, que tem como pressupostos:
Equiparação nas possibilidades de uso;
Flexibilidade no uso;
Uso simples e intuitivo;
Captação da informação;
Tolerância para o erro;
Dimensão e espaço para uso e interação.
Quando o ambiente se torna acessível, pois, adota os critérios e a filosofia do
Desenho Universal, ele possibilita a Inclusão e, consequentemente, as pessoas com
deficiência podem desfrutar de uma Vida Independente. Vida Independente O
conceito de vida independente é outra peça chave no cenário da Acessibilidade. Ele
foi desenvolvido por Ed Roberts e mais sete companheiros, todos com deficiência
física, nos anos 60, na cidade de Berkeley, Califórnia, EUA, que ficaram conhecidos
como o grupo dos "Tetra Rolantes" (por serem tetraplégicos e se locomoverem em
cadeira de rodas). Lembrem-se que os Rolling Stones (tradução: Pedras Rolantes)
eram sucesso, nessa época, daí a brincadeira com o nome do grupo. Fundaram o
primeiro Centro de Vida Independente, a partir de valores e princípios 4:
As pessoas com deficiência é que sabem o que precisam para ter melhor
qualidade de vida;
Suas necessidades variam como as de qualquer ser humano e, por isso, só
podem ser atendidas por uma variedade de serviços e equipamentos;
A tecnologia assistiva pode significar a diferença entre a dependência e a
independência, em determinadas situações;
As pessoas com deficiência devem viver com dignidade, integradas em suas
comunidades;
A cidadania não depende do que uma pessoa é capaz de fazer fisicamente,
mas sim das decisões que ela puder tomar por si só;
A pessoa com deficiência é que deve ter o controle de sua situação;
A autodeterminação, a auto-ajuda e a ajuda mútua são processos que liberam
as pessoas com deficiência para controlar suas vidas;
A integração entre pessoas com diferentes deficiências facilita a integração
entre pessoas com e sem deficiência;
Vida Independente é um processo onde cada usuário ajuda a moldar e
mantê-la e não um produto para ser consumido indistintamente por diversos
tipos de usuários.
O conceito de inclusão é recente em nossa cultura. Estamos começando a
usar esta palavra. Como qualquer situação nova, a inclusão incomoda, desperta
curiosidade, indiferença ou negação, encontra adeptos e também críticos; envolve
praticamente todas as esferas do social, apontando para a necessidade de
repensar, de alterar hábitos, posturas, atitudes, começando pelo plano individual,
tirando-nos de nossa costumeira zona de conforto: temos que abrir espaço em
nosso mundinho interno para que mais pessoas caibam nele.
Além de recente, este conceito é abrangente: envolve acesso aos bens
sociais, culturais e econômicos, à educação, à saúde, ao trabalho, à tecnologia... e
assim por diante. Ora, para que as pessoas com deficiência sejam incluídas nas
escolas, shopping centers, igrejas, cinemas, empresas, Telecentros, etc. é preciso
que eles sejam acessíveis. Se não, elas nem conseguem entrar... e como vão estar
incluídas, se ficarem do lado de fora? Olhando para o passado e o futuro Olhando
para trás, vemos quantas conquistas temos para comemorar, inclusive no que se
refere à acessibilidade. Ao mesmo tempo, constatamos quanto ainda temos a
conquistar, nesse processo rumo à construção de uma sociedade inclusiva.
A sociedade acessível garante qualidade de vida para todos; portanto, é um
compromisso que deve ser assumido por todos nós, em nossas respectivas esferas
de ação e influência. Como diz um site português sobre Acessibilidade:
“Para a maioria das pessoas, a tecnologia torna a vida mais fácil. Para as pessoas
com deficiência, a tecnologia torna a vida possível."
CAPITULO IV
A INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA FÍSICA ATRAVÉS DA
ACESSIBLIDADE
4.1 ASPECTOS GERAIS DA INCLUSÃO
De acordo com dados do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), de 2001, há no Brasil, 24,6 milhões de pessoas com deficiências
(PPDs). Destas, mais de 9 milhões apresentam algum tipo de deficiência física. Para
o Instituto, pessoa com deficiência física é aquela que "tem alguma das seguintes
deficiências: paralisia permanente total; paralisia permanente das pernas; paralisia
permanente de um dos lados do corpo; falta de perna, braço, mão, pé ou dedo
polegar.
Pela pesquisa foi revelado que a cada 100 brasileiros, no mínimo 14
apresentam limitações de ordem física ou sensorial. Por outro lado, os dados
revelam a exclusão praticada no país, afinal, nem todos têm possibilidade de acesso
a emprego, educação, saúde, lazer, dentre outros direitos fundamentais. É essencial
para o exercício da democracia que as políticas públicas, portanto, introduzam a
política da acessibilidade para que se garanta a inclusão dos deficientes fisicos aos
direitos usufruídos pela maioria.
Deve-se ressaltar que a inclusão social dos deficientes físicos que
faticamente são excluídos da sociedade brasileira é um desafio, e demonstra um
viés suficientemente crítico, haja vista que a sociedade latino americana já é
resultado da exclusão eurocêntrica, e mesmo assim a população brasileira não está
integralmente livre das políticas alijatórias pelas implicações que a própria exclusão
interna desencadeia, ou seja, é o Outro excluindo o outro.
Nos Estados Democráticos modernos, as pessoas com deficiência têm
proteção garantida por lei que visa à inclusão nos mais variados segmentos sociais,
seja na acessibilidade, na educação, no mercado de trabalho, dentre outros.
A acessibilidade é definida pela Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT), através da norma NBR 9050/94, que dispõe acerca da “Acessibilidade de
pessoas com deficiências a edificações, espaço mobiliário e equipamentos urbanos
– A possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e
autonomia, de edificações, espaço, mobiliário e equipamento urbano.”
A gênese da Política Pública ora denominada Acessibilidade se deu em 1981,
quando as Nações Unidas declarou como o Ano Internacional dos Portadores de
Deficiência. Em 03.10.1982, através da Resolução 37/82, a Assembléia Geral das
Nações Unidas, foi aprovado o Programa de Ação Mundial para Pessoas com
Deficiência, eqüalizando o direito das pessoas com deficiência às mesmas
oportunidades que os demais cidadãos além de usufruir das melhorias nas
condições de vida resultantes do avanço econômico e social.
Este
programa
demonstra
o
significado
de
impedimento,
deficiência,
incapacidade, que são definições da Organização Mundial de Saúde – OMS, como
em <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/default_censo_2000.shtm>1321
também aponta os conceitos de prevenção, reabilitação e equiparação de
oportunidade, que são incorporados à discussão, dos quais se destacam:
Impedimento – Situação desvantajosa para um determinado indivíduo, em
conseqüência de uma deficiência ou de uma incapacidade, que limita ou impede o
desempenho de um papel que é normal em seu caso (em função de idade, sexo e
fatores sociais e culturais) [...] O impedimento está em função da relação entre as
pessoas incapacitadas e seu ambiente. [...] Essa relação ocorre quando essas
pessoas enfrentam barreiras culturais, físicas ou sociais que a impedem de ter
acesso aos diversos sistemas da sociedade à disposição dos demais cidadãos. O
impedimento é, portanto, a perda ou a limitação das oportunidades de participar na
vida da comunidade na igualdade de condições com os demais.
Equiparação de oportunidades é o processo mediante o qual o sistema geral
da sociedade – como o meio físico e cultural, moradia e transporte, serviços sociais
e de saúde, oportunidade de educação e de trabalho, vida cultural e social, inclusive
instalações desportivas e de lazer – se torna acessível a todos. Deste modo,
constata-se que o impedimento está no ambiente e nas barreiras criadas neste que
impedem a pessoa deficiente física de deter isonomia de possibilidade e igualdade
de direitos. Adriana Romeiro de Almeida Prado enfatiza que: (2006.p. 9 a 11)
[...] não é possível pensar em uma cidade que não se proponha a rever seu
planejamento discutindo programas/ações com metas para facilitar a
circulação, a interação, promovendo a inclusão das pessoas com
deficiências e aquelas com mobilidade reduzida, que por conta de alguma
limitação temporária (...) se vêem limitadas.
E conclui: O objetivo da acessibilidade é permitir um ganho de autonomia e de
mobilidade a um número maior de pessoas, até mesmo àquelas que tenham
reduzido a sua mobilidade ou dificuldade em se comunicar, para que usufruam os
espaços com mais segurança, confiança e comodidade. Sandra Lia Símón
(2006.p.280) destaca:
Assegurar a essa significante parcela da população bens e direitos é
obrigação do Estado, que deve zelar ela concretização dos direito
fundamentais de todos os cidadãos, sempre pautados na cidadania e na
dignidade da pessoa humana. Para tanto, respaldado pelo princípio da
igualdade, deverá expedir norma que garanta o usufruto desses bens e o
gozo desses direitos.
Os relatos de Werneck (2007. p. 24) esclarecem:
[...] que a inclusão é incondicional, é fazer do mundo um mundo para todos,
sem deixar ninguém de lado. Que todos estejam aptos a vivenciar situações
comuns é o que se pressupõe no conceito de inclusão. A pessoa com
deficiência não precisa buscar a integração na sociedade, pois nasce
fazendo parte dela.
Werneck (2007) explica que o conceito de inclusão não aceita que as pessoas
sejam excluidas do meio social em razão das características físicas que possuem,
como qualquer outra, como cor de pele, cor dos olhos, altura, peso e formação
física. A autora considera que a inclusão está ligada a todas as pessoas porque
cada uma tem sua característica única.
Sassaki (1997. P.42) acrescenta que:
para a sociedade incluir todas as pessoas, ela deve entender que precisa
ser capaz de atender ás necessidades dos que integram seu corpo social.
Deve ocorrer o desenvolvimento das pessoas com deficiência através da
educação, reabilitação, esporte, qualificação profissional, entre outros, num
processo de inclusão e não como uma exigência para que esses indivíduos
possam vir a fazer parte da sociedade.
4.2 A INCLUSÃO SOCIAL DE ALUNOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS
O ser humano obedece a um padrão de desenvolvimento motor, de acordo
com a sua idade. Este padrão não é igual para todos. Há crianças que tem um
desenvolvimento mais rápido, enquanto outras são mais lentas. A criança com
algum tipo de deficiência física tem mais dificuldades de seguir estas etapas; daí a
necessidade de fazer exercício de estimulação e de usar equipamentos e aparelhos,
que são de grande ajuda ao seu dia-dia.
Há diversos tipos de aparelhos e adaptação para o deficiente físico além de
profissionais habilidosos que usam a criatividade e fazem improvisações, utilizando
materiais disponíveis. O fundamental é que funcione e garanta autonomia à pessoa
que o utiliza.
Segundo a psicóloga Rosana Glats a influência da família no processo de
integração social é uma questão que deve ser analisada levando-se em
consideração dois ângulos: o que traz a facilitação ou impedimento para a
integração da pessoa com deficiência física na própria família.
Estes dois aspectos são, sem dúvida, interdependentes. Quanto mais
integrado em sua família com deficiência for, mais esta família vai tender a tratá-la
de maneira natural ou "normal" deixando que na medida de suas possibilidades,
participe e usufrua dos recursos e serviços da sua comunidade conseqüentemente,
mais integrada na vida social esta pessoa será.
Paralelamente, quanto mais ela estiver participando das atividades da
comunidade e levando uma vida normal equivalente a de outras pessoas da sua
faixa etária, mas ela será vista pelos membros de sua família como igual ao demais.
A sociedade por sua vez, precisa viver com suas diferenças individuais. O
professor e toda a equipe escolar devem criar uma relação de confiança com o
aluno descartando a hipótese de ele vir a ter medo ou vergonha de não aprender
imediatamente o que esta sendo ensinado. As pessoas com deficiências têm direito,
podem e querem tomar suas próprias decisões e assumir a responsabilidade por
suas escolhas. Como bem enfatiza Sassak (1997, p. 3):
[...] é fundamental equipararmos as oportunidades para que todas as
pessoas incluíssem pessoas com deficiências, possam ter acesso a todos
os serviços, bens, ambientes construídos e ambientes naturais, em busca
da realização de seus sonhos e objetivos.
Para a autora, talvez seja este o momento de se passar da idéia de que
"todos devem ter as mesmas oportunidades" para a noção de que todos deveriam
ter oportunidades diferentes para desenvolver as suas potencialidades e satisfazer
as suas necessidades, dadas as nossas diferenças individuais. Rttner (2000) afirma
que a inclusão não pode restringir-se apenas a entrada no mercado de trabalho,
mas deve considerar também as formas de manter tal inserção. Para este autor, "a
inclusão torna-se viável somente, quando através da participação em ações
coletivas, os excluídos são canazes de recuperar sua dignidade e conseguem, além
de emprego e renda, acesso a moradia decente, facilidades culturais e serviços
sociais como educação e saúde".
Num sentido amplo percebemos que a evolução da tecnologia caminha na
direção de tornar a vida mais fácil.
Sem
perceber
utilizamos
constantemente
ferramentas
que
foram
especialmente desenvolvidas para oferecer e simplificar as atividades do cotidiano
como, talheres, canetas, computadores, controle remoto, automóveis, telefones
celulares, relógios, em fim um interminável lista de recursos que já esta assimilada a
nossa rotina e, num censo geral, "são instrumentos que facilitam nosso desempenho
em funções pretendidas".
CAPITULO V – METODOLOGIA
5.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA
Para a configuração deste estudo optamos pela modalidade etnográfica de
pesquisa. O processo de coleta de informações fará uso de observações e de
entrevistas que serão realizadas no segundo semestre de 2008, e primeiro semestre
de 2009. Participarão desta pesquisa 15 pessoas com deficiência física, com idade
entre 18 e 30 anos. Os depoimentos serão coletados por meio de entrevistas semiestruturadas. As respostas serão gravadas em áudio e posteriormente analisadas.
As entrevistas serão realizadas no local de treinamento do Time de Basquetebol em
Cadeiras de Rodas All Star Rodas.
Para configurar este estudo, utilizamos os seguintes instrumentos para a coleta
de dados:
Observação dos atletas
Questionário aberto (Anexo ___)
Registro através de áudio de alguns depoimentos de atletas com deficiência
Câmera digital
5.2 DISCUSSÃO
Meus irmãos, vocês que crêem no nosso glorioso Senhor Jesus Cristo,
nunca tratem as pessoas de modo diferente por causa da aparência delas.
(Tiago 2:1)
Durante esta pesquisa detectamos relatos de atletas que foram discriminados
pela própria família. É difícil para eles entenderem, que na falta de um membro ou
da sua funcionalidade, são a causa de sua rejeição. Se todos somos filhos de Deus
nossas diferenças deveriam nos unir e não nos separar.
. Cada sujeito tem a consciência da existência de pessoas com deficiência,
muito embora esta seja, muitas vezes, uma imagem errônea , pos existem pessoas
que discriminam , pelo fato de verem em meio a socidade uma pessoa diferente. A
consciência das pessoas se transforma em algo limitado á reprodução de idéias já
formuladas.Muitas pessoas mesmo vivendo em sociedade não procuram ver as
qualidades, as potencialidades ,destas pessoas que são consideradas diferentes.
Percebem apenas a aparência externa e não a essência existente nos seres
humanos.
O ponto relevante para esta transformação, talvez seja a educação, que se
inicia na própria família, havendo ou não pessoas com deficiência. Educação na
escola, de forma a receber e estar preparada para receber e atender o aluno real,
com todas as suas diferenças, e não o aluno ideal como geralmente acontece.
Existem diversos modos de re-significar a prática de atividade física e
esportiva para pessoas com deficiência, atividade física e esporte são afetados por
multifacetados sentidos, de acordo com a ordem do discurso em que eles são
significados.
Atravessados e afetados pelos discursos é que homens e mulheres com
deficiência constroem seus discursos sobre as principais barreiras ambientais
enfrentadas na prática esportiva e no lazer. Suas dificuldades e lutas permanecem
ecoando em seus discursos, ainda que ditos em silêncio
Discurso que se transformaram em luta, permitindo desta forma que os
cadeirantes do All Star Rodas em Belém, tenham acesso á prática do basquetebol
em cadeira de rodas.
5.3 BENEFÍCIOS DO BASQUETEBOL EM CADEIRA DE RODAS
Barreiras ambientais, preconceitos sociais e baixos poder aquisitivo são
apenas alguns dos exemplos, que podem ser citados com o intuito de evocar as
falas contidas nos discursos dos atletas que praticam o basquetebol em cadeira de
rodas no All Star.
Dentre os itens assinalados pelos atletas entrevistados, se configuram como
barreiras ambientais e sociais em Belém do Pará: locomoção, descaso do governo,
pré-conceito da sociedade, falta de oportunidade, pré-conceito de si mesmo, falta de
informação.
De fato a locomoção não apenas em Belém, mas em todo o estado do Pará, é
considerado um grande obstáculo para as pessoas com deficiência. Através do
projeto All Star podemos declarar que os deficientes conseguiram sensibilizar os
empresários, e hoje já se podem ver alguns ônibus adaptados, porém em números
bem reduzidos, o que prejudica diretamente as idas e vindas dos deficientes de suas
casas, do trabalho e do lazer, pois a maioria depende desse meio de transporte para
locomoção.
Circular sozinho pelas ruas de Belém é quase impossível para uma pessoa
com deficiência, pois freqüentemente esbarram em barreiras arquitetônicas
Quanto ao apoio da família, alguns entrevistados colocaram que suas famílias
são o porto seguro que precisam para a sua superação dos obstáculos. Enquanto
outros entrevistados declaram que sofreram exclusão dentro da própria família.
Segundo relato da atleta Naildes (Nana) de 31 anos de idade, que adquiriu
poliomielite aos 2 anos de idade, a sua vida foi de quase total exclusão por parte da
família que a tratava como uma coitadinha, mas, que servia para lavar louça e
roupa. O único momento de contato com outras pessoas era quando ela ia à igreja
e à escola: “eu não tinha vida social, e a minha vida piorou quando perdi meus pais”.
Nana sofreu retrações até aos 19 anos, quando foi convidada para treinar o
basquete em cadeira de rodas. “Até aí eu desconhecia o meu potencial, e a minha
família por falta de informações achava que eu estava perdendo o meu tempo
treinando, mas se eu posso cuidar de uma casa porque não posso praticar esporte.
Saí de casa fui morar sozinha, pagava aluguel com o beneficio que recebia”.
Somente com a consagração de receber o prêmio de melhor atleta na
categoria “Necessidades Especiais” pelo grupo Rômulo Maiorana de Comunicações,
Nana nos relata que: “graças ao basquetebol eu resgatei a minha auto-estima,
posso dizer que hoje eu tenho uma identidade, me sinto parte da sociedade e
principalmente passei a receber total apoio da minha família. Tudo isso consegui
com a prática do basquetebol em cadeira de rodas e ninguém me tira.”
Além do basquetebol alguns atletas entrevistados realizam outras atividades
(trabalho e deveres doméstico), sendo que a maioria só pratica o basquetebol em
cadeira de rodas.
Segundo o depoimento da atleta Ticiane a prática do basquetebol em cadeira
de rodas trás benefícios como: “melhorei o meu condicionamento físico, consegui
perder peso, sou muito feliz e me sinto mais bonita”
De acordo com o relato da Ticiane que além dos benefícios fisiológicos que o
basquetebol proporciona, pode-se afirmar que o principal beneficio está relacionado
com o restabelecimento da auto-estima e conseqüentemente com a diminuição da
depressão provocada pelo impacto da nova realidade que o espera, nos casos de
lesões adquiridas, facilitando assim á reintegração a sociedade.
Todos os entrevistados afirmaram gostar da prática do basquetebol em cadeira
de rodas. Isso pode ser observado no relato da atleta Batatinha: “não sei viver longe
do basquetebol, onde encontro prazer para viver, total superação, motivo este que
me levou a fazer o vestibular para o curso de Educação Física, e hoje curso a
faculdade me realizando plenamente, e mostrando para a sociedade do que eu sou
capaz.
Para falar dos benefícios do basquetebol em cadeira de rodas, se faz
imprescindível relatar que cinco dos relatados praticavam algum tipo de esporte
antes de sua patologia e o resto não tinham por hábito praticar esporte.
Segundo Martinez (2000) O Basquetebol em cadeira de rodas tem
experimentado uma metamorfose nos últimos 40 anos. Isto tem sido demonstrado
com relação á sofisticação tecnológica e a um aumento de aceitação popular em
considerá-lo um esporte que gera esforço físico e conseqüentemente trás benefícios
físicos e psicológicos.
Entre estes benefícios podemos destacar, além da melhora geral da aptidão física,
um grande ganho de independência e autoconfiança para a realização das
atividades diárias, além de uma melhora do auto-conceito, e da auto-estima como
relatou a atleta Batatinha. Costa (2000, p.85) afirma que:
[...] a atividade física, realizada em grupo, é de fundamental importância,
pois permite aos seus integrantes adquirirem uma identidade social, sentir e
ter compromisso com algo e com o grupo, de viver o sentimento de
confiança, sentir reforço sociais proveniente do grupo, desenvolver um
grande grau de amizade com outros participantes e viver a relação de
companheirismo [...] e são responsáveis por comportamento afetivo.
O que condiz com o relato do atleta do Allstar Carlos Vanderley “[...] com a
convivência com o grupo do allstar, procuro ocupar a minha cabeça com bons
pensamentos passei a me aceitar do jeito que sou hoje posso dizer que tenho
amigos e uma nova família, pois conheci minha esposa a Nána nos treinos hoje sou
pai de um menino de 3 meses de idade. Estou melhorando cada vez mais meu
condicionamento físico e técnico, ajudo nos treinamentos dos atletas recém
chegados ao Allstar. Tudo isto eu agradeço ao basquetebol.”
5.3 CONSTRUÇÃO DAS RELAÇÕES SOCIAIS DOS COMPONENTES DO ALL
STAR RODAS
No decorrer da pesquisa através das observações e entrevistas detectamos a
presença de algumas fases diferentes na vida destas pessoas que praticam o
basquetebol em cadeira de rodas no ALLSTAR.
A primeira fase que se apresenta e é percebida por nós, de como era as
relações sociais de alguns atletas antes de apresentares u deficiência. Nesta fase
como relata o atleta Edileno ele estava presente no social, onde não encontrava
muitas barreiras para superar as dificuldades impostas pela sociedade capitalista
que vivemos.
A segunda fase logo após ter apresentado a sua deficiência, Edileno nos relata
que houve uma retração em relação ao social, ou seja, ele ficava somente em casa
com a família, não saia, existia certa dependência física e psicológica. Por um
determinado tempo Edileno sentiu-se afastado do direito de ir e vir com igualdade.
A terceira fase se caracterizou, quando o Edileno começou a praticar o
basquetebol em cadeira de rodas na equipe do ALLSTAR RODAS de Belém do
Pará, relatando que o social voltou para a sua vida de forma que a prática do
basquetebol vem resgatar ou transformar o convívio com as pessoas, os amigos, a
família proporcionando um bem estar físico, psicológico e uma sensação de
independência, oportunidade de viajar, são alguns benefícios que o basquetebol em
cadeira de rodas traz para transformar a vida de seus praticantes bem como
resgatar sua identidade perante a sociedade.
Ribeiro (2001) explica que o esporte, através de suas dimensões sociais, pode
viabilizar uma ação inclusiva, considerando-se que as atividades esportivas fizeram
e ainda fazem parte do processo de construção do homem no seu meio cultural. A
busca pela inclusão efetiva através da prática da atividade esportiva torna
importante que todos os envolvidos façam parte do objetivo da atividade.
Vale ressaltar, que os profissionais que atuam diretamente com esporte devem
buscar sensibilizar os pais, responsáveis, professores esportistas entre outros sobre
a proposta inclusiva. Os envolvidos devem buscar informações, além dos livros, ou
seja, com as pessoas que estão ligadas diretamente ao trabalho de inclusão e em
especial com o individuo que tem algum tipo de limitações, podendo então encontrar
resposta para varias questões.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através deste estudo e pesquisa tentamos demonstrar, que o basquetebol ou
outro tipo de atividade, além de estimular a autonomia e a independência, e prevenir
doenças secundárias, resulta nos seguintes benefícios psicomotores: desenvolve
força muscular, velocidade, flexibilidade, agilidade, capacidade, cardio- respiratório
raciocínio, atenção, concentração e melhora a percepção espaço temporal. Esta
pesquisa mostra que a pessoa com deficiência tem toda capacidade de exercer o
seu papel de cidadão dentro da sociedade e de praticar atividade promovendo
saúde física e mental, sociabilizando com este mundo, onde a maioria das coisas é
voltada para a competição, mas para isto dar certo é necessário uma transformação
coletiva e individual, desta dependerá a primeira. Passando por uma reeducação e
reivindicando do estado áreas próprias para o lazer , melhoria em transporte e
locomoção em vias públicas para o deficiente.
Acreditamos que a prática do basquetebol em cadeira de rodas, para os atletas
do Allstar foi o fator estimulante que os impulsionou, juntamente com seus
familiares, a retomada de sua dignidade enquanto sujeito de uma sociedade. A
oportunidade de aprender a jogar o basquetebol em cadeira de rodas e o
entusiasmo demonstrado nas entrevistas supera todas as barreiras de acesso que
esses atletas enfrentam diariamente.
No desenvolver desta pesquisa, nos deparamos com situações problemáticas
das barreiras arquitetônicas e urbanas. Fica claro que para propor espaço deve-se
considerar a possibilidade de uma rota acessível, buscando atingir o uso do espaço
pelo maior número possível de pessoas, no qual as idéias de independência de
democracia, segurança e autonomia se estabeleçam nos percursos públicos e
privados.
Ainda que existam dificuldades, deixamos aqui uma parte da riqueza da história
destes atletas formada por tristeza, sofrimentos, sonhos e alegrias. Consideramos
que na medida em que a compreensão a cerca das origens e dimensões das
pessoas com deficiência aumentam na sociedade, elevar-se-á conjuntamente o
compromisso social com estes cidadãos,
A inclusão só será concretizada eficientemente quando cada um de nós
conhecermos as barreiras que nutrimos e buscar amenizar, e erradicá-las, “A
inclusão é uma visão, uma estrada sem fim, com todos os obstáculos, alguns dos
quais estão em nossa mente e em nossos corações.” (Mittler, 2003, p.21).
Finalmente entendemos que o processo de inclusão não pode ser constituído
em sua totalidade, na falta da acessibilidade.
A possibilidade de facilitar e de promover o acesso as pessoas com deficiência
é que vai garantir o reconhecimento da sua participação e inclusão, bem como
avançar culturalmente em uma sociedade que reconhece a natureza da convivência
na diversidade.
REFERÊNCIAS
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Costa, A, M. DA Atividade física e a relação com a qualidade de vida, ansiedade
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isquêmico (AVCI); Tese doutorado, Faculdade de Educação Fisica, Universidade
Estadual Campinas, Campinas, 2002.
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