Teste dos Contos de Fadas: Estudo de Validade Discriminante
XI Salão de
Iniciação Científica
PUCRS
Katherine Flach, Laura Potrich, Francine Bossardi, Vivian Roxo Borges, Blanca Susana Guevara
Werlang (orientador)
Resumo
Introdução
Para que um instrumento psicológico possa ser utilizado com segurança é preciso
garantir sua legitimidade e cientificidade. Assim, os testes psicológicos devem apresentar
características de fidedignidade e validade que justifiquem o fato de se ter confiança nos
dados que produzem, sendo necessária a adaptação dos mesmos para a realidade na qual serão
administrados. Uma das categorias dos testes psicológicos está constituída pelos testes
projetivos, que se estruturam no conceito de projeção e nos fundamentos da psicologia
projetiva. Neste contexto se insere o Teste dos Contos de Fadas (TCF), instrumento projetivo
temático, organizado por Coulacoglou (1995, 2002a, 2002b) na Grécia. O TCF destina-se a
crianças com idades entre 6 e 11 anos e é composto por 21 desenhos de personagens,
agrupados em sete séries com três desenhos cada. Os personagens são oriundos de contos de
fadas popularmente conhecidos (Chapeuzinho Vermelho, Branca de Neve e João e o Pé de
Feijão) e estão desenhados em três versões. A proposta não é a de contar histórias, mas sim,
que se responda a algumas perguntas, pois o conto já existe o os personagens são conhecidos
das crianças. São poucos os instrumentos projetivos que se tem atualmente no mercado
brasileiro para a avaliação da personalidade de crianças. Assim, o presente projeto objetiva
desenvolver um estudo de validade discriminante com o intuito de colaborar com a adaptação
deste instrumento para o Brasil. A validade discriminante permite verificar se o instrumento é
capaz de discriminar sujeitos da população geral e da população clínica, no que diz respeito a
elementos analisados nas 30 variáveis do Sistema de Categorização de Respostas do TCF.
Método
Esta pesquisa tem um caráter quantitativo, transversal, de levantamento e associação de
variáveis. Será utilizada uma amostra da população geral (não-clínica), uma amostra clínicapsiquiátrica. A amostra clínica-psiquiátrica será composta por 30 crianças, com idades entre 6
e 11 anos, com diagnósticos de Transtorno Depressivo, Transtorno de Conduta e Transtorno
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de Déficit de Atenção/Hiperatividade (total 90 crianças). A amostra não-clínica será
constituída por 90 crianças entre 6 e 11 anos. As características apresentadas pelos
componentes do grupo clínico-psiquiátrico darão origem às características para a organização
do grupo não-clínico quanto à idade, ao sexo e ao nível socioeconômico.
Para a coleta dos dados estão sendo utilizados: uma Ficha de Dados Sócio-demográficos
para a caracterização da amostra; Teste Matrizes Progressivas Coloridas de Raven – Escala
Especial (ANGELINI, ALVES, CUSTÓDIO, DUARTE, DUARTE, 1999) para avaliação
cognitiva dos sujeitos; Teste dos Contos de Fadas – TCF; e o Inventário de Comportamento
da Infância e Adolescência – CBCL (BORDIN, MARI, CAIEIRO, 1995), que será
respondido por todos os pais do grupo amostral.
Para a composição da amostra não-clínica, estão sendo realizados contatos com escolas
públicas e privadas de Porto Alegre, que possuam alunos com idades entre 6 e 11 anos, para
obter a autorização necessária para a testagem das crianças. Para a coleta de dados das
crianças do grupo clínico já foi contatada uma instituição hospitalar que atende crianças com
os transtornos anteriormente mencionados. Para a análise dos dados (amostras clínicapsiquiátrica e não-clínica), primeiramente a verbalização das crianças para cada um dos 21
desenhos que compõe o TCF será classificada com base nas 30 variáveis do Sistema de
Categorização de Respostas. Posteriormente a validade discriminante será verificada através
dos coeficientes de correlação de Pearson e Spearman e coeficiente de regressão será utilizado
para verificação do poder do TCF em discriminar sujeitos da população não-clínica, médicoclínica e clínica. O projeto maior de pesquisa em que este estudo está inserido já foi aprovado
pelo do Comitê de Ética em Pesquisa da PUCRS e pelo Comitê de Ética em Pesquisa do
Hospital Nossa Senhora da Conceição/GHC.
Resultados Parciais
Até este momento foi possível coletar dados com 46 crianças da amostra clínicapsiquiátrica com diagnósticos Transtorno Depressivo (19), Transtorno de Conduta (12) e
Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (15). Da mesma forma, foi possível testar 46
crianças do grupo não clínico para o pareamento com as crianças do grupo clínico.
No momento o maior esforço está centrado na coleta de dados para completar as
amostras. Por outro lado já foi iniciada a classificação dos protocolos do TCF. As respostas
dadas para cada cartão são analisadas, levando em conta o seu conteúdo temático em conexão
com a temática que cada personagem e cena refletem. Cada série de cartões busca eliciar
temas específicos, conforme o quadro abaixo. Ainda as respostas são classificadas conforme
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um sistema de 30 variáveis subdivididas em 5 grupos maiores de componentes da
personalidade: Desejos e Necessidades (Desejo por coisas materiais, Desejo de
Superioridade, Desejo de Ajudar, Necessidades Orais, Necessidade de Afiliação, Necessidade
de Aprovação, Necessidade de Afeto, Necessidade de Proteção); Impulsos (Preocupação
Sexual, Bizarro, Agressão Oral, Agressão Tipo A, Agressão como Dominância, Agressão
Instrumental, Agressão Tipo B – Agressão como Defesa, como Retaliação, por Inveja,
Agressão por Ciúme), Relações Objetais (Relação com a mãe e Relação com o pai), Estados
Emocionais (Medo de Agressão, Ansiedade, Depressão), Funções do Ego (Ambivalência,
Auto-estima, Moralidade, Senso de Propriedade, Senso de Privacidade, Adaptação ao
Conteúdo do Conto, Repetição).
Quadro 1. Temas e Conflitos eliciados na Série de Cartões do Teste Contos de Fadas.
Série de Cartões
Temas e Conflitos
Chapeuzinho
Vermelho
Conflito entre a autonomia e a obediência à autoridade, auto-imagem,
sentimentos sexuais, ansiedade de separação, formas de lidar com o perigo.
Conflito entre controlar ou liberar seus próprios desejos, conflito entre a
agressão e o superego, necessidades orais, dominância.
Medo de possíveis perigos/insegurança. Necessidades afetivas, formas de
lidar com o perigo, auto-imagem.
Relacionamento mãe-filho, sentimentos narcisistas, rivalidade entre irmãos,
sentimentos edipianos, superego, agressão (mais frequentemente agressão
como inveja/ciúme), dominância/ambições, auto-imagem.
Agressão (mais freqüentemente Dominância Tipo A), necessidades orais,
auto-imagem, sentimentos sexuais, relacionamento pai-filho.
Lobo
Anão
Bruxa
Gigante
Cenas da
Chapeuzinho
Vermelho
Imagem materna, severidade do superego, conflito entre prazer e restrições
morais, ansiedade da separação, depressão.
Cenas da Branca
de Neve
Relacionamento homem-mulher, relacionamento pai-criança, ansiedade de
separação, conflito entre a autonomia e a obediência ao pai, conflito entre
envelhecer e permanecer criança.
Fonte: Coulacoglou, 1995, 2002a, 2002b
Referências
ANGELINI, A.L., ALVES, I.C.B., CUSTÓDIO, E.M., DUARTE, W.F.., DUARTE, J.L.M. Matrizes
Progressivas Coloridas de Raven. Escala Especial. São Paulo: Centro Editor de Testes e Pesquisas
em Psicologia, 1999.
BORDIN, I. A. S.; MARI, J. J.; CAEIRO, M. F. Validação da versão brasileira do Child Behavior
Checklist (CBCL) (Inventário de Comportamentos da Infância e da Adolescência): dados
preliminares. Revista ABP – APAL, v. 17, n. 2, 1995.
COULACOGLOU, C. Teste de los Cuentos de Hadas. Madrid: TEA Ediciones, 1995.
COULACOGLOU, C. (2002a). Construct Validation of the Fairy Tale-Test-Standardization data.
International Journal of Testing, 2(3, 4), 217-242.
COULACOGLOU, C. (2002b). Psychometrics & Psychological Assessment. Athens: Paparazisis.
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