INTERDISCIPLINARIDADE, CIÊNCIAS HUMANAS E OS DESAFIOS DA FORMAÇÃO INTEGRAL Maria Valéria Barbosa1 Sueli Guadelupe de Lima Mendonça2 Vandeí Pinto da Silva3 Resumo: O artigo tem como objetivo resgatar experiências do projeto do Núcleo de Ensino sobre a temática expressa no título acima e, assim, instigar reflexão acerca da consolidação do Núcleo de Ensino na formação do educador, da valorização das Ciências Humanas no ensino e da relação Universidade e Escola Pública. A realidade educacional brasileira, pautada na racionalização técnico-burocrática de matriz neoliberal, impõe uma concepção de educação da qual as Ciências Humanas encontram-se alijadas. O Núcleo de Ensino, ao aproximar Universidade e Sociedade, permite o diálogo entre teoria e prática na formação de alunos e educadores numa perspectiva humanista e assim a valorização das Ciências Humanas na formação integral da pessoa. Palavras-chave: Núcleo de Ensino, interdisciplinaridade, Ciências Humanas, formação integral, Universidade e Sociedade. INTRODUÇÃO O presente trabalho baseia-se na experiência do projeto do Núcleo de Ensino (NE) denominado “A formação de alunos e professores em ciências humanas: uma perspectiva interdisciplinar”. O projeto foi desenvolvido no período de agosto de 1999 a setembro de 2000, tendo surgido de solicitação de assessoria à Universidade por parte das Escolas Estaduais “Maria Izabel Sampaio Vidal” e “Prof. Antônio Reginato” e do interesse de docentes da Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC) da UNESP – Campus de Marília em articular as dimensões do ensino, da pesquisa e da extensão, com vistas a integrar Universidade e Sociedade. O trabalho desenvolvido nas escolas parceiras buscou contribuir para a melhoria da Educação Básica, através da discussão interdisciplinar das Ciências Humanas nas atividades da escola, e também pela valorização das Ciências Humanas na formação dos alunos e professores da Rede Estadual de Ensino e da Universidade. Esse objetivo foi bastante ousado, tendo em vista a realidade da área de Ciências Humanas (História, Geografia, Sociologia e Filosofia) no sistema educacional brasileiro, com a 1 2 Departamento de Sociologia e Antropologia – FFC/UNESP Departamento de Didática – FFC/UNESP 243 diminuição afrontosa da carga horária dessas disciplinas no currículo da Educação Básica e a formação inadequada dos professores, especialmente dos que atuam nas séries iniciais. Embora ousado, esse objetivo constituiu-se num referencial válido para embasar o trabalho do NE. Dentre as atividades desenvolvidas pelo projeto, optou-se por apresentar reflexões acerca de três temas básicos: consolidação do NE na formação do educador; valorização das Ciências Humanas no ensino e relação Universidade e Escola Pública. No primeiro deles são abordadas questões relativas à formação do educador, abrangendo desde a formação inicial propiciada pelos cursos de graduação em Ciências Sociais e Filosofia, passando pela formação continuada dos professores da rede pública e culminando com o repensar do ensino ministrado na Educação Básica. Em seguida, são discutidos elementos centrais do projeto, referentes à importância das Ciências Humanas na formação integral do homem. Ante as adversidades colocadas pelo processo de produção capitalista, que reduz o indivíduo à condição de mercadoria, torna-se imprescindível resgatar a sua condição de sujeito da própria história. Com efeito, o estudo rigoroso da área de Ciências Humanas contribui sobremaneira para a criação e desenvolvimento das dimensões estéticas, éticas e políticas, atributos esses exclusivos do ser humano. O terceiro tema trata do intercâmbio entre a Universidade e a Sociedade, via diálogo com a Escola Pública. Nesse sentido, o NE constitui-se uma instância viabilizadora desse diálogo, propiciando a articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão e, por conseguinte, a melhoria da qualidade do ensino público oferecido tanto pela Escola Básica quanto pela Universidade. Por fim, considerando os resultados positivos aqui apresentados, conclui-se que projetos com tais características devem ser estimulados e aprimorados no interior da Universidade e da Escola Pública. I - Núcleo de Ensino e Formação do Educador O NE, desde a sua origem, teve como uma de suas preocupações a melhoria da qualidade do ensino ministrado aos alunos da Escola Pública Básica. Nos anos de 1999 e 2000, os projetos tiveram como orientação temática específica a formação continuada de professores. Considerando-se o fato de, na FFC/Campus de Marília, já existirem projetos do NE desde o final dos anos 80 e o fato de, recentemente, existirem demandas das escolas parceiras é que 3 Departamento de Didática – FFC/UNESP 244 surgiu a idéia de um projeto que contemplasse tanto as preocupações dessas escolas quanto as dos cursos de licenciatura em Ciências Sociais e Filosofia. Do ponto de vista teórico, as questões pedagógicas relacionadas com formação docente têm sido objeto de preocupação constante entre docentes e pesquisadores que atuam nos cursos de licenciatura na área de ciências humanas, sobretudo, no momento em que as relações sociais passam a ser profundamente alteradas pelas transformações científicas e tecnológicas; fato que tem gerado expectativas novas, tanto em relação à função social das licenciaturas em Ciências Humanas, quanto em relação ao papel social do educador. A formação do educador não pode ser pensada como uma tarefa isolada da Universidade, desvinculada da realidade de atuação dos futuros professores. Os cursos de licenciatura precisam ser “mais do que o lugar de aquisição de técnicas e de conhecimento, a formação de professores é um momento chave da socialização da configuração profissional” (Nóvoa, 1995, p. 18). Tal formação requer uma prática reflexiva, de modo que os professores possam realizar a reflexão-na-ação – momentos destinados a reformular suas ações no decurso de sua intervenção profissional – e a reflexão-sobre-a-ação, retrospectiva avaliativa sobre a reflexão-na-ação (Zeichener, 1997, p.126). Um dos eixos encontrado para o aprofundamento teórico e o delineamento das ações nas escolas foi o estudo e a discussão de temáticas educacionais voltadas: à própria concepção de educação e o seu financiamento, às implicações do neoliberalismo e da globalização nas políticas educacionais, à interdisciplinaridade, aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e à formação do educador, como núcleo articulador das reflexões teóricas. Tais reflexões eram realizadas entre alunos e professores da UNESP e os professores das escolas parceiras. O desenvolvimento de um projeto fundamentado na ação-reflexão-ação exigiu, também, do grupo uma atuação interdisciplinar, como quesito necessário para que os objetivos programados fossem atingidos. A concepção de interdisciplinaridade adotada não se reduzia à simples junção de projetos ou disciplinas de forma fragmentada, mas objetivava a elaboração e execução coletiva das atividades. Assim, respeitados os ritmos diferenciados de desenvolvimento das várias frentes do projeto nas escolas parceiras, aos poucos, constituiu-se o fio condutor das ações que, na prática, acenou com a complexidade do trabalho interdisciplinar. Efetivamente, a interdisciplinaridade do projeto se construiu nas diferentes ações desencadeadas, tais como: trabalho direto com os alunos nas escolas; formação continuada dos professores; formação dos graduandos; investigação dos 245 problemas do cotidiano escolar; compreensão das dificuldades de ensino/aprendizagem; criação de novas estratégias mobilizadoras de interesses, tanto para professores como alunos. Nesse sentido, a Semana de Ciências e Cultura realizada na E. E. “Prof. Antonio Reginato” oportunizou à escola experienciar um trabalho, na prática, interdisciplinar, com todas as dificuldades e avanços inerentes a ele. A Semana resultou da discussão coletiva dos problemas escolares e teve como objetivo principal o resgate da identidade da escola. Várias reuniões por segmentos (professores, direção e alunos da escola) foram realizadas com a presença da equipe do NE, nas quais a proposta foi paulatinamente construída. O processo não foi perfeito, porém, muito rico e inédito. Os alunos foram incentivados pelos bolsistas e manifestaram-se propondo atividades, chegando até a participar de algumas reuniões gerais do Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC). Os professores, de algum modo, consideraram as propostas apresentadas pelos alunos, discutindo a Semana a partir delas. Uma vez organizada, a I Semana de Ciências e Cultura da E. E. "Prof. Antônio Reginato" foi apresentada à Diretoria de Ensino de Marília e por ela aprovada com louvor. Dentre as atividades realizadas, destacaram-se as seguintes: palestras; apresentação teatral; exposição de trabalhos por área de conhecimento; jogos interclasses; apresentações musicais, concursos de paródia, danças e videokê; gincana cultural; jograis; sessão de filmes, etc. Cabe ressaltar que um dos momentos mais gratificantes para o NE foi o envolvimento de graduandos de licenciatura e do bacharelado de Ciências Sociais e Filosofia e também dos bolsistas, dando palestras aos alunos da escola. Essa experiência foi extremamente positiva para eles, pois tiveram a oportunidade de por em prática o exercício de ser professor, passando pelo preparo, a execução e a gratificação de dar uma boa aula. A Semana significou, portanto, um avanço qualitativo na discussão do projeto políticopedagógico da escola e seus agentes diretos já vislumbraram a realização dessa atividade para o próximo ano, de modo a conciliar as atividades cotidianas de aula com um objetivo mais amplo, que extrapole as quatro paredes da sala de aula e o registro burocrático do diário de classe. Na avaliação geral com os professores e Coordenação Pedagógica ressaltou-se o quão positivo foi a realização dessa atividade na relação professor/professor, professor/aluno e aluno/aluno. Os professores afirmaram que as relações na sala de aula melhoraram sensivelmente. Os alunos encontravam-se mais calmos e motivados, propiciando que professores e alunos viessem a se conhecer melhor nas atividades da semana. 246 Constatou-se, pois, avanços na prática interdisciplinar, o que trouxe ganhos significativos para os agentes envolvidos no projeto, educadores e alunos da escola e da Universidade. Um dos principais obstáculos enfrentados, no entanto, foi a visão disciplinar e fragmentada do conhecimento, arraigada na prática cotidiana dos agentes envolvidos, o que dificultava a percepção da escola como um todo, do conhecimento e do ser humano como totalidade. O grande desafio para pensar a formação do educador consiste na superação de concepções fragmentadas. Assim, esse projeto do NE, por suas características, pode apontar estratégias que solidifiquem experiências interdisciplinares no cotidiano de trabalho do professor, de modo a generalizar aqueles momentos excepcionais empreendidos com êxito, tais como os citados acima. II – Ciências Humanas e Formação Integral O lugar das Ciências Humanas no processo de formação do homem tem sido, ao longo do tempo, condicionado pelas formas de organização social. Na Grécia Antiga, por exemplo, ao mesmo tempo em que se valorizava a arte, a literatura e a filosofia, a produção e apropriação cultural estavam restritas aos grupos dominantes, sendo a escravidão justificada para que a elite “pensante” tivesse direito ao ócio. Tais contradições perpassaram tanto o regime feudal como o capitalista. O desenvolvimento industrial e o advento da informática, em tese, deveriam permitir ao homem dispor de maior tempo para se dedicar à arte e à cultura. No entanto, concepções positivistas e tecnocráticas, embasadas na produção em larga escala e no consumo exacerbado, prevaleceram sobre as concepções humanistas. No âmbito da educação escolar, as chamadas “humanidades” propiciaram, preponderantemente, uma formação moral e cultural elitista. No Brasil não foi diferente. A necessidade apresentada para o país de desenvolver-se a qualquer custo, no sentido de superar o chamado atraso tecnológico, facilitou a adesão acrítica aos ditames positivistas. Nesse sentido, as disciplinas de Ciências Humanas também foram objetivadas em função da consolidação do pensamento hegemônico de “ordem e progresso” (PCN, 1999). Com a instauração do regime militar essas questões se acirraram. No, então, Ensino de 1º Grau as disciplinas História e Geografia foram banidas do currículo e deram lugar aos Estudos Sociais, que incluíam a Educação Moral e Cívica. No Ensino de 2º Grau, incluiu-se Organização Social e Política. Cumpre registrar que as duas disciplinas incluídas na formação básica visavam esvaziar o caráter crítico-reflexivo da área de Ciências Humanas e impor a adaptação e a conformação dos estudantes à ordem vigente. Além disso, a 247 prioridade dada à formação técnico-profissionalizante levou à completa exclusão das disciplinas Filosofia, Psicologia e Sociologia da grade curricular. As últimas reformas implementadas na Educação Básica paulista pautaram-se em parâmetros técnico-burocráticos com vistas a “enxugar a máquina”. A chamada “racionalização administrativa”, ditada por agências financiadoras internacionais e acatada subservientemente pelas autoridades educacionais brasileiras, impôs diretrizes neoliberais embasadas na concepção de educação como mercadoria e negligenciou completamente a dimensão pedagógica de uma reforma (Gentili, 1997). Para atender a dados meramente estatísticos, as salas de aula foram superlotadas, disciplinas foram suprimidas (especialmente na área de Ciências Humanas) e os docentes perderam sua autonomia no processo de avaliação do desempenho escolar dos seus alunos, dando lugar à implementação da “progressão continuada”. Apesar de os neoliberais, em seu discurso, admitirem a formação integral ao estudante, na prática não é isso o que ocorre. O Presidente da República e o Governador do Estado de São Paulo vetaram projetos de lei, aprovados em todas as instâncias legislativas, que tornavam a Filosofia e a Sociologia disciplinas obrigatórias no Ensino Médio. Mais uma vez, o desenvolvimento da reflexão crítica e da autonomia intelectual foi cerceado no projeto educacional brasileiro, com a finalidade de responder às expectativas daqueles que dominam o mercado mundial e de controlar a livre construção e implementação das idéias. Para além dos desdobramentos históricos na política educacional, a preocupação em discutir a teoria a partir da prática docente foi a tônica geral dos trabalhos desenvolvidos pelo projeto da NE. O primeiro passo consistiu na realização de uma investigação junto aos professores da EE “Maria Izabel Sampaio Vidal” referente ao processo de ensino na área de Ciências Humanas, principalmente dos componentes curriculares de História e de Geografia, tendo em vista se tratar de uma escola de Ensino Fundamental. Desde os primeiros encontros, observou-se que os professores da escola traziam, no bojo de sua ação pedagógica, características de uma prática “tradicional”, influenciada pela valorização de determinados conteúdos (Português e Matemática), em detrimento de outros. Dentre os conteúdos previstos para as séries iniciais, os de História e Geografia eram preteridos, postergando a introdução dos alunos no âmbito das Ciências Humanas. A diretriz de atuação, portanto, foi sensibilizar os professores sobre a importância das Ciências Humanas na sua própria formação e de seus alunos. Na EE “Prof. Antonio Reginato”, dentre outras atividades, cumpre destacar o envolvimento do conjunto dos educadores, especialmente os da Área de Ciências Humanas, na 248 discussão sobre as Reformas do Ensino Médio e suas conseqüências diretas para as disciplinas de História, Geografia, Filosofia e Sociologia. Tais discussões, pautadas nos PCN, permitiram o diagnóstico de problemas estruturais da educação e a sensibilização dos educadores acerca de sua responsabilidade na configuração de uma proposta de Ensino Médio que contemple a formação integral do estudante. Em suma, constatou-se que a desvalorização sistemática dos conteúdos de Ciências Humanas nos currículos educacionais tem desencadeado um círculo vicioso, no qual o educador se encontra no centro. Desse modo, é preciso investir tanto nas transformações das diretrizes que regem o ensino, como na formação integral do educador. III – Intercâmbio Universidade e Sociedade O intercâmbio entre a Universidade e a Sociedade se evidencia de modo mais claro na formalização de parcerias, uma vez que estas delineiam a atuação de ambas as partes. Os projetos do NE ganham em organicidade por serem regidos por acordos previamente estabelecidos entre as instituições parceiras e, assim, superam ações isoladas e pontuais. Além da formalidade dos acordos, os projetos do NE são precedidos de diagnósticos da realidade onde serão desenvolvidas as ações, de modo a assegurar que as expectativas das instituições parceiras sejam atendidas e, ao mesmo tempo, que a equipe da UNESP tenha qualificação adequada para implementar as ações. Com esse pressuposto, pela primeira vez o NE da FFC desenvolveu uma experiência conjunta, integrando seis projetos em uma mesma escola. Essa tarefa exigiu dos proponentes uma preparação especial, com encontros quinzenais dos coordenadores e bolsistas, que tratavam de dois pontos básicos: discussão de textos teóricos, que pudessem subsidiar a ação coletiva do grupo na escola e a avaliação das ações de todos os projetos no cotidiano escolar. Foi desafiador criar a dinâmica do trabalho coletivo, porém, extremamente rico ter as diversas áreas do conhecimento discutindo, juntas, dificuldades, problemas e possíveis alternativas para a escola, no caso a EE “Maria Izabel Sampaio Vidal”. Um primeiro ponto importante a ser destacado refere-se à questão da articulação dos projetos da escola com os da Unesp. Na visão dos professores, foi difícil para eles trabalharem com várias propostas ao mesmo tempo, o que significava realizar os projetos da Unesp juntamente com os projetos da escola. Tinham, inicialmente, a percepção de que os projetos eram cumulativos e não viam a possibilidade de adaptá-los à sua realidade de sala de aula. 249 Considera-se que um dos fatores que dificultou essa articulação foi encontrar a mediação adequada entre o desenvolvimento dos projetos do NE e o cotidiano da escola, nos seus vários níveis (sala de aula, relação professor/aluno, professor/professor, professor/Unesp). Outro ponto que constituiu dificuldade para os professores da escola foi, segundo eles próprios, a sua formação "tradicional", tanto do ponto de vista da abordagem dos conteúdos, como da relação estabelecida com os alunos em sala de aula. Isso implicou dificuldades concretas no estabelecimento de relações entre os conteúdos dos diversos projetos do NE, na organização de materiais para as aulas e na implementação das atividades por eles sugeridas. Na avaliação do projeto pelos professores da escola, entretanto, foram destacados vários pontos positivos. Um deles diz respeito às representações que os docentes têm do sistema educacional no qual atuam: eles declararam que no processo de desenvolvimento do projeto se sentiram valorizados como profissionais e como pessoas, em contraposição ao tipo de relação estabelecida nas diversas instâncias da estrutura escolar, predominantemente caracterizada como técnico-burocrática. Apesar das dificuldades enfrentadas pelos professores, eles reconhecem que aprenderam muito com os projetos, começando a perceber a relação que existe entre eles e dando início a uma reflexão sobre sua prática pedagógica. Do ponto de vista da formação de nossos alunos, bolsistas e estagiários, também houve ganho: eles puderam vivenciar, sistematicamente, a dinâmica da prática pedagógica que existe dentro e fora da sala de aula, uma vez que estiveram presentes, durante todo o tempo, na escola, atuando não só como bolsistas, mas como professores da escola, fazendo com que dificuldades e inseguranças coexistissem lado a lado, gerando momentos de tensão e também de muito prazer. A experiência de sala de aula para os alunos da UNESP foi desafiadora, porém extremamente valiosa, numa dimensão que nem eles próprios tiveram condições de avaliar naquele momento. Finalizando, podemos afirmar que foi uma experiência coletiva bastante rica não só para a equipe da UNESP, como também para a escola, apesar das dificuldades apontadas e dos imprevistos que surgiram pelo caminho, cabendo salientar o fato de, durante o nosso trabalho, termos construído uma "âncora" que poderá possibilitar a construção coletiva de uma proposta pedagógica para a escola, superando a dicotomia projeto da escola/projeto da Unesp. Tanto é que existe interesse da escola e também da equipe da Unesp em dar continuidade ao trabalho. 250 CONSIDERAÇÕES FINAIS A cada ano, o trabalho do NE torna-se mais orgânico e ousado. Não por ufanismo ou algo semelhante, mas por possuir uma dinâmica peculiar que lhe permite crescer e consolidar frentes de trabalho cada vez mais amplas. A chave dessa dinâmica talvez esteja justamente na prática do trabalho coletivo e na articulação entre ensino, pesquisa e extensão. O desenvolvimento desse projeto foi um exemplo concreto. As várias frentes de atuação permitiram articular o específico com o geral, a pesquisa com a formação, a teoria com a prática, a Universidade com a escola Básica, a formação inicial com a formação em exercício e permanente de professores. Ao visualizar o conjunto de ações do projeto vai-se desnudando uma nova metodologia do fazer educacional que significa uma produção diferenciada de conhecimento e formação de educadores, em várias dimensões: profissional, pedagógica, política e cultural. O NE se constituiu, na verdade, num espaço privilegiado de formação de educadores nas diversas áreas do conhecimento. Ao tomar a escola na sua totalidade e ter como pressuposto a dinâmica ação-reflexão-ação, propiciou a articulação entre teoria e prática e com isso dá um novo sentido à formação dos graduandos e dos educadores da rede. Os bolsistas e estagiários declararam que tiveram um grande crescimento e amadurecimento durante o período de desenvolvimento do projeto. As questões teóricas passaram a ser mais concretas. O trabalho intenso serviu de estímulo e desafio para o desempenho de suas tarefas, exigindo iniciativa, solidariedade e responsabilidade para com o grupo, quesitos fundamentais para o alcance dos objetivos traçados. Os educadores das escolas parceiras, por sua vez, avaliaram que o trabalho do NE criou espaços efetivos para a discussão da prática pedagógica e, assim, possibilitou uma melhor compreensão do papel das Ciências Humanas na formação integral do homem. Finalmente, da parte dos coordenadores, vislumbrou-se uma rica experiência de integração da Universidade com a Escola Básica. Foi possível contribuir para a melhoria do ensino no nível básico e, ao mesmo, encontrar elementos pertinentes ao aprimoramento dos cursos de Ciências Sociais e Filosofia mantidos pela FFC, especialmente na modalidade das licenciaturas. 251 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL/MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SENEB, 1999. GENTILI, Pablo. Adeus à escola pública. A desordem neoliberal, a violência do mercado e o destino da educação das maiorias. In. GENTILI, Pablo (Org.). Pedagogia da exclusão. 3..ed. Petrópolis: Vozes, 1997. NÓVOA, A. A formação de professores e profissão docente. In NÓVOA, A (Org.) Os professores e a sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1997. ZEICHNER, K. Novos caminhos para o practicum; uma perspectiva para os anos 90. In NÓVOA, A (org.) Os professores e a sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1997. 252