PAULO FREIRE E A EaD: UMA RELAÇÃO PRÓXIMA E POSSÍVEL CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA/SENAC/PR Orientadora: Professora. MS. Maria Odette Bettega Isabel Ribas Dezembro/2009 TEMA A relação entre o pensamento de Paulo Freire e a Aprendizagem Colaborativa em Ambientes Virtuais. OBJETIVO GERAL Identificar no Curso de Especialização em Educação a Distância – (TurmaEADPR07) o que existia de comum entre interatividade (dialogicidade) pressuposta tanto no pensamento de Paulo Freire quanto nas propostas de EaD interativas e colaborativas. OBJETIVOS GERAIS Estudar a visão de interatividade sugerida por Paulo Freire e a sua relação com a EaD; Diagnosticar se havia uma relação entre o pensamento de Paulo Freire e a proposta de EaD colaborativa no Curso de Especialização em Educação a Distância - Turma EADPR07 - do SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial; Verificar se a incorporação da perspectiva educacional freireana na EaD era viável e o que era necessário para garantí-la e concretizá-la no Curso em questão. METODOLOGIA A pesquisa foi por amostragem, aplicada entre os alunos matriculados no curso, equipe tutorial e pedagógica. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica e exploratória por meio de um questionário, procurando-se identificar a percepção que os envolvidos tinham quanto à contribuição de Freire para a EaD, no que tange a interatividade e a dialogicidade. Foram aplicados 33 questionários distribuídos conforme segue: 27 entre os alunos participantes do curso (retornaram 09) 05 pesquisas junto a tutores (retornaram 02) 01 pesquisa junto à coordenação do curso. CARACTERÍSTICAS DA TURMA A turma objeto deste estudo era corporativa, já que na sua totalidade era composta por um grupo de pessoas que faziam parte de uma única organização, ou seja, a Federação das Indústrias do Estado do PR (FIEP), com alunos que prestavam serviços para duas das casas que compõem esta instituição: SESI (Serviço Social da Indústria) e SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial). Destes profissionais: • (03) faziam parte da Gerência de Educação do SESI/PR • (02) faziam parte da Gerência de Educação Profissional do SENAI/PR • (01) atuava na Gerência de Articulação Estratégica responsável pela implantação do Núcleo de EaD no sistema FIEP. • (01) da Diretoria de Tecnologia e Gestão da Informação • (20) pedagogos que atuavam nas Unidades Escolares do SESI em todo o estado e que serão os gestoras responsáveis pela implantação e gestão da oferta da EJA na modalidade a distância. A oportunidade da oferta do curso de Especialização em EaD teve como objetivo o aperfeiçoamento e aquisição de novos conhecimentos relativos à essa modalidade de ensino por parte dos profissionais inseridos nesta instituição, já que a entidade estava investindo fortemente nesta modalidade por meio de Cursos de Educação Continuada e da oferta da Educação de Jovens e Adultos a Distância. O cabeçalho do questionário aplicado junto aos alunos matriculados no curso, tutores e coordenação pedagógica, abordou alguns itens importantes para contextualizar este universo como: formação profissional função tempo de atuação no ensino a distância quantidade de cursos realizados na modalidade a distância. FORMAÇÃO PROFISSIONAL A formação profissional dos pesquisados ficou distribuída da seguinte forma: (08) com formação em Pedagogia e (01) com formação em Economia e Tecnologia da Comunicação. Entre a formação Profissional dos tutores, tivemos: um formado em Pedagogia e Mestrando em educação e um Economista e Mestre em Gestão de Negócios. Um deles é tutor e professor universitário e outro é somente tutor. O coordenador pedagógico do Curso de Especialização em Educação a Distância - Turma EADPR07 era formado em Letras Francês Português; Psicologia Escolar, Clínica e Organizacional e Teologia, atuando no Ensino a Distância a 11 anos. Possuía também Especialização em Educação a Distância pela Universidade de Madri, UNED, e pela UFPR. CURSOS REALIZADOS A DISTÂNCIA Do contingente de alunos pesquisados a quantidade de cursos realizados a distância foram de 0 a 05 cursos. A média de cursos por aluno pesquisados foi de 2,71 cursos. Verificou-se que o grupo de alunos já possuía formação em pelo menos um curso de educação a distância, porém, muitos ainda não tinham atuado na modalidade, acumulando conhecimento teórico mas não a prática. TEMPO DE ATUAÇÃO NA EaD O tempo médio de atuação no ensino a distância do contingente de alunos pesquisados foi de 1,14 anos. Importante ressaltar que 4 não tinham nenhuma experiência, dois tinham 4 anos de experiência e um com 9 anos de experiência apenas como aluno de cursos a distância. Um dos tutores começou a atuar com educação a distância naquele ano e outro já atuava há 04 anos. Um tutor já tinha realizado dois cursos a distância (especialização e mestrado) e o outro fez um curso de especialização. MÉTODOS (TEORIAS) E PRÁTICAS EDUCATIVAS APLICADAS EM EaD Quando os pesquisados foram questionados que métodos (teorias) e práticas educativas aplicadas em EaD foram vistas na sua formação, observou-se nas respostas dadas que na formação dos pesquisados a EaD ainda era vista com preconceito e ainda não era muito difundida. As teorias citadas foram a construtivista, associativa, sociocontrutivista, cognitivista. Os teóricos, Piaget, Vygostsky, Keggan e Paulo Freire, foram citados. Um dos tutores respondeu que foram teorias bem diversificadas, desde os mais críticos que abominam a EaD, à aqueles que defendem a modalidade. Outro respondeu que na sua formação viu sobre a Gestão de EaD, tutoria, construtivismo, avaliação processual e técnicas de interatividade. O coordenador do curso em questão colocou que na sua formação teve acesso a todos os grandes Educadores, (Piaget, Vygotsky , Paulo Freire...) APRENDIZAGEM COLABORATIVA EM AMBIENTES VIRTUAIS Quando questionados sobre o que entendiam por Aprendizagem Colaborativa em Ambientes Virtuais, os pesquisados demonstraram conhecer as linhas gerais da proposta. Os tutores responderam: “Conhecimento socialmente construído pelos membros de uma comunidade ou de um ambiente virtual”. “Um tipo de aprendizagem que pressupõe comunicação e interatividade e determina o diferencial pedagógico desta aprendizagem”. Este tutor fez referência também a autora Patrícia Lupion Torres que fez sua tese de doutorado nesta área. A percepção da coordenação “(...) na aprendizagem colaborativa há a troca de experiências para constatação da teoria aprendida e discutida.” A TEORIA DE PAULO FREIRE Sua pedagogia é LIBERTADORA porque pode servir de importante instrumento de emancipação do homem diante da opressão. CONSCIENTIZADORA porque promove o desenvolvimento crítico na tomada de consciência. AUTÔNOMA: porque procura transformar o educando em sujeito, o que implica na promoção da autonomia. O conceito de autonomia é central na pedagogia freireana. Para ele, é impossível viver a prática educativa sem perseguir, sem trabalhar no sentido da autonomia do ser, do educando e do educador. HUMANA porque prima pela construção de um mundo mais justo e humanizado por meio de uma educação crítica e transformadora. DIALÓGICA porque o diálogo é a essência da pedagogia libertadora – ele gera o pensamento crítico, promove a e garante a verdadeira comunicação. O diálogo torna-se mais um componente na busca da autonomia no caminho da libertação, porque humaniza o homem, coloca-o em comunicação com os outros para desvelar a realidade. Na sua teoria ele propõe aos alunos uma leitura de mundo, para escrevê-lo e depois modificá-lo; no conjunto de pensamento de Paulo Freire esta presente a ideia de que tudo esta em permanente transformação e interação. Para ele, aprender é uma descoberta criadora, já que, ensinando se aprende e aprendendo se ensina. A prática docente é fundamentada na interação entre educador e educando, na promoção do espaço adequado para o diálogo, estimulando os ideais de reconhecimento, comprometimento, disponibilidade, identidade cultural, autonomia, convicção e afetividade. UTILIZAÇÃO DA TEORIA DE PAULO FREIRE Ao serem questionados se na sua prática diária de cursistas, utilizavam a teoria de Paulo Freire na realização das atividades propostas e nos Fóruns de Discussão para o desenvolvimento dos módulos, percebemos nas respostas que Paulo Freire é mesmo uma referência em todos os aspectos. Todos os pesquisados colocaram que utilizavam sim a teoria de Paulo Freire para a realização do curso de Especialização em Educação a Distância Quando questionados se costumavam no seu trabalho diário de tutor, utilizar a teoria de Paulo Freire e se conseguiam identificar o que há de comum entre a EaD e o pensamento freireano obtivemos as seguintes respostas: “Acredito que procuro utilizar algumas coisas, principalmente à questão da autonomia tão frisada por este autor; esta é a maior relação que vejo entre o pensamento de Paulo Freire e a EaD.” “Está é a premissa da minha atuação. De comum vejo a visão segundo a qual o conhecimento é construído e não, transmitido.“ (...) “como minha formação é administração conheço Paulo Freire apenas por extratos do seu pensamento.” O coordenador colocou em sua resposta que considerava impraticável que um educador não se utilizasse de Freire para a Educação (...) O QUE EXISTE DE COMUM ENTRE A EaD E O PENSAMENTO FREIREANO Os pesquisados conseguiram identificar a formação dos sujeitos por meio do diálogo, das interações, da autonomia, da participação e da conscientização. Respeito aos saberes dos educandos, aceitação do novo, reflexão crítica sobre a prática, bom senso, tomada de decisões, trabalho coletivo e construção coletiva mediada, cooperação, respeito a cultura dos educandos, aprendizagem colaborativa, problematização, entre outros. LIVROS QUE COMPÕEM A BIBLIOGRAFIA DE PAULO FREIRE Por fim, foi solicitado que os pesquisados citassem os livros que tinham lido e qual deles mais o auxiliavam na sua prática pedagógica e na realização do seu curso a Distância. Tivemos entre os citados: Pedagogia da Autonomia, Pedagogia do Oprimido, Pedagogia da Esperança, Conscientização: Teoria e Prática da Libertação, Importância do Ato de Ler, Professor Sim, Tia não, Política e Educação, Paulo Freire: Uma História de Vida. PEDAGOGIA DA AUTONOMIA O livro mais citado entre os alunos, tutores e coordenação pedagógica do curso em questão, foi Pedagogia da Autonomia que apresenta os Saberes necessários à prática educativa do docente: Pesquisa, Criticidade, Ética, Reflexão Crítica sobre a Prática, Respeito a Autonomia do Educando, Bom Senso, Curiosidade, Comprometimento, Saber Escutar, Disponibilidade para o Diálogo, entre outros. CONSIDERAÇÕES Entender o aluno como agente do processo pedagógico, promover o diálogo como elemento imprescindível da relação pedagógica, valorizar o saber do educando, aproximam o pensamento freireano da educação a distância interativa e colaborativa. Com a realização da pesquisa foi possível perceber que realmente existe uma ligação entre a pedagogia de Paulo Freire e a proposta da EaD colaborativa em Ambientes Virtuais. Ambas buscam formar sujeitos por meio do diálogo, das interações, da autonomia, da participação e da conscientização. Para que a Educação a Distância seja interativa e colaborativa ela precisa, assim como a pedagogia de Paulo Freire, ser autônoma, promotora da dialogicidade, da conscientização, problematizadora e libertária. PARA REFLETIR... FONSECA, Valter Machado - Revista Destaque In “Para se falar de Paulo Freire é preciso alguns requisitos fundamentais. É preciso amar a vida, acreditar nas utopias, na transformação, numa sociedade mais justa e igualitária. Do mesmo modo, é preciso ter dentro de si a esperança, a ousadia, a coragem de enfrentar as adversidades do dia a dia e as repentinas; PARA REFLETIR... (...) é preciso, igualmente, acreditar na integridade, na beleza, e no poder de transformação dentro do ser humano, principalmente daqueles a quem a vida fecha as portas, dos “demitidos da vida”, dos “esfarrapados do mundo”. REFERÊNCIAS Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância - ABED. São Paulo: Monitor, 2006. CARVALHO e MATTA. Paulo Freire e EaD: Campo de Múltiplas Relações. Maio 2007. Disponível em <http:// www.abed.org.br/congresso2007/tc/542007104611AM.pdf.> Acesso em 12 Maio 2009. DOTTA, Silvia. Desafios para o diálogo em Educação a Distância – Portal Educação. Disponível em < http://www.moderna.com.br/moderna/didaticos/sup/artigos/2 006/082006-01.htm.> Acesso em 15 Maio 2009. REFERÊNCIAS FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 17. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001. LITTO, Frederic e FORMIGA, Manuel Marcos (orgs.). Educação a Distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009. SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM COMERCIAL. Sala de aula interativa: em sintonia com a era digital e com a cidadania a educação presencial e a distância. SENAC: Rio de Janeiro, 2006.