PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 425 • ANO XXXVIII DEZEMBRO 2008 • MENSAL • € 1,50 ABERTURA SOLENE DO ANO LECTIVO NA ESCOLA NAVAL MENSAGEM DE NATAL MUITO MAIS DO QUE “DAR”, “DARMO-NOS” “… e abrindo os seus cofres deram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra” (Mt. 2,11) V ale a pena saborear este conto: “Um caçador saiu para caçar. Percorreu planícies e passado algum tempo disparou contra um pintassilgo. Este, ferido numa asa, caiu sem que o caçador o tivesse encontrado. Durante algum tempo, o pintassilgo conseguiu sobreviver com aquilo que encontrava. Era Outono e havia sempre uns grãos perdidos pelos campos. Uma fria manhã, procurando desesperadamente alguma coisa para comer, o pintassilgo esvoaçou e foi poisar num espantalho. Era um espantalho muito amigo dos pássaros. Tinha o corpo de palha metido num velho fato de cerimónia. A cabeça era uma grande abóbora e duas nozes faziam de olhos. Gentil como sempre, perguntou-lhe: - Que se passa pintassilgo? - O frio está a matar-me e não tenho onde me refugiar. Também tenho muita fome. - Não tenhas medo. Já que estás com frio, refugia-te aqui debaixo do meu casaco. A minha palha está seca e quente. Restava o problema do alimento. Tornava-se cada vez mais difícil para o pintassilgo encontrar sementes. Um dia, o espantalho disse-lhe: - Pintassilgo, vejo que estás com fome. Come os meus dentes: são ópti mos grãos de milho. O pintassilgo, surpreendido por tal generosidade, respondeu: - Mas tu ficarás sem dentes! - Não importa. E passou a sorrir-lhe com os seus olhos de noz. Alguns dias depois foi a vez do nariz de cenoura. O espantalho, numa das visitas que o pintassilgo lhe fez, disse‑lhe: - Come-o. É rico em vitaminas. Chegou depois a vez do espantalho lhe oferecer as nozes que serviam de olhos. O pintassilgo perguntou-lhe: -Que devo fazer para te agradecer tudo o que me dás? -Basta-me poder continuar a escutar os teus cantos, respondeu‑lhe o espantalho Finalmente, ofereceu também a última coisa que possuía e que podia ser comida: a abóbora que servia de cabeça. Quando chegou a Primavera, o espantalho já não existia. Mas o pintassilgo, continuava a entoar as suas melodias e a voar no imenso céu azul”. (Autor anónimo) Aproveitando este contexto natalício e no respeito pelas díspares convicções sobre a vida e o mundo, dirigimo-nos mais uma vez a todos aqueles que servem Portugal na Marinha. Nesta época tão especial em que para muitos milhões se revisita o “acontecimento mais” da história da humanidade, partilhamos convosco o nosso olhar, sustentados no acontecimento de Belém. Para além de outras abordagens certamente válidas que esta quadra sempre tem o condão de suscitar, há um exercício que é incontornável nestes dias: desde os mais pequenos aos maiores estamos preocupados com o que vamos oferecer e eventualmente ansiosos com o que vamos receber. Apesar de constrangimentos vários e não obstante a nossa proverbial crítica aos defeitos de uma sociedade desregradamente consumista, também nós, vamos ser protagonistas no momento de visitar as “grandes superfícies”. Perdoem-nos o à vontade: o “dar” vai ser um gesto apreciado por quem “receber”, mas “não vai doer muito” Vai doer imensamente mais quando milhares de voluntários, dando-se (as suas pessoas e o seu tempo) colaborarem com várias instituições na recolha de alimentos e que prescindindo do calor dos seus lares se sentarem à mesa com um ” sem – abrigo “. Nessa mesa, mesmo que não seja convidado, o “Natal” vai estar sentado. Revisitando as primeiras linhas desta mensagem, o ”espantalho” num assomo de grande nobreza deixou de existir. Esqueceuse de si. Deu-se. Num mundo, em que com alguma legitimidade (mas não toda) os projectos de cada um é que são prioritários, este é certamente um modo de estar na vida “muito à frente”, mas que é subscrito por muitos dos nossos semelhantes. Talvez o que se senta ao teu lado, mas que por modéstia não to diz. Para esses o Natal não foi há 2000 anos. Porque eles não deixam. Porque se “dão”. Os Magos, que segundo S. Mateus visitaram Jesus, deram-lhe presentes. Para gente seguramente bem remediada como seriam eles, isso foi o mais fácil. Mas o mais difícil também já eles tinham feito: tinham deixado os seus projectos comezinhos, inebriados pela alegria de poderem encontrar uma estrela. Não descansaram enquanto não a encontraram. Os Magos “deram” e “deram-se”. Milhões e milhões fizeram o mesmo ao longo de séculos. Em pleno “Ano Paulino” recordemos a figura ímpar de S. Paulo. Ele foi um desses milhões:“Sei em quem acreditei” (2 Tim. 1, 12). Paulo também se “ deu” Para todos os militares, militarizados e civis da Marinha bem como para todos os seus familiares votos de um Santo Natal e de um novo ano a transbordar de esperança. Da nossa parte como da tua, com muita coerência e “doação”. Pode doer um pouco, mas vai-nos curando! Porque “um Deus ao homem dado” será sempre o nosso “eterno presente” José Ilídio Fernandes da Costa CMG Capelão SUMÁRIO Publicação Oficial da Marinha Periodicidade mensal Nº 425 • Ano XXXVIII Dezembro 2008 Director CALM EMQ Luís Augusto Roque Martins Chefe de Redacção CMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira Redacção 2TEN TSN Ana Alexandra Gago de Brito Secretário de Redacção 1SAR M António Manuel L. Pires Afonso Colaboradores Permanentes CFR Jorge Manuel Patrício Gorjão CFR FZ Luís Jorge R. Semedo de Matos CFR SEG Abel Ivo de Melo e Sousa 1TEN Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves Administração, Redacção e Publicidade Revista da Armada Edifício das Instalações Centrais da Marinha Rua do Arsenal 1149-001 Lisboa - Portugal Telef: 21 321 76 50 Fax: 21 347 36 24 Endereço da Marinha na Internet http://www.marinha.pt e-mail da Revista da Armada [email protected] Fotocomposição, paginação electrónica, fotolito, montagem e produção Página Ímpar, Lda. Estrada de Benfica, 317 - 1º F 1500-074 Lisboa Tiragem média mensal: 6000 exemplares Preço de venda avulso: € 1,50 Registada na DGI em 6/4/73 com o nº 44/23 Depósito Legal nº 55737/92 ISSN 0870-9343 PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 425 • ANO XXXVIII DEZEMBRO 2008 • MENSAL • € 1,50 ABERTURA SOLENE DO ANO LECTIVO NA ESCOLA NAVAL Foto CAB FZ Ramos ANUNCIANTES: MAN Ferrostaal Portugal, Lda.; ROHDE & SCHWARZ, Lda. 6 NRP “Álvares Cabral” no POST Portuguese Operational Sea-Training 11 Escola Naval Abertura Solene do Ano Lectivo 2008-2009 14 Adriano Moreira e a Marinha 20 Estratégia, Poder e Inovação MENSAGEM DE NATAL 2 A ACÇÃO DO ESTADO A BORDO DE NAVIOS ESTRANGEIROS 4 POSSE DO NOVO DIRECTOR DO IESM / MISSA DE FIÉIS DEFUNTOS 5 EXERCÍCIO “LUSÍADA 2008” 7 EXERCÍCIO DE COMBATE À POLUIÇÃO DO MAR “DARQUE 2008” / POLUIÇÃO DA VALA NOVA – BENAVENTE 8 ACADEMIA DAS CIÊNCIAS 9 A MARINHA DE JOÃO III (40) 10 PORTUGAL E O MAR 12 CONCEITO ESTRATÉGICO NACIONAL 18 XIVa REUNIÃO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA DA NÁUTICA 19 INSTITUTO DE SOCORROS A NÁUFRAGOS / FAROL DO CABO SARDÃO - PROTOCOLO COM A JUNTA DE FREGUESIA 23 TOMADA DE POSSE / ENTREGA DE COMANDO 24 HOMENAGEM AO MARQUÊS DE NISA EM MALTA 25 VIGIA DA HISTÓRIA 5 / MAIS UMA APREENSÃO DE DROGA 26 REAL REGATA DE CANOAS - 2008 / DIRECÇÃO DE TRANSPORTES NA HOLANDA 27 PÁGINA DA SAÚDE 15 / HOSPITAL DA MARINHA - GABINETE DO UTENTE 29 DIVAGAÇÕES DE UM MARUJO (30) 30 O CURSO DE “DUARTE PACHECO PEREIRA” NA ESCOLA NAVAL / PRÉMIOS “INFANTE D. HENRIQUE” E “CARAVELA” NA CONFERÊNCIA DO U.S. POWER SQUADRONS DISTRICT 5 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 INSTALAÇÕES DA MARINHA CONTRACAPA Revista da Armada • DEZEMBRo 2008 3 A ACÇÃO DO ESTADO A BORDO DE NAVIOS ESTRANGEIROS A cooperação no combate aos tráficos A Convenção SUA. Breve abordagem jurídica dos seus navios automaticamente na comunicação que devem fazer para o Secretariado da IMO respeitante à ratificação da s procedimentos que vêm referenConvenção. Trata-se de uma prerrogativa, ciados (Parte I) suscitam-nos a iminovadora, dos Estados em permitir tal acportância de, no âmbito de actos ção. No entanto, para que a ratificação da perpetrados a bordo de navios, elaborar Convenção surta efeitos objectivos práticos, um complemento conceptual do que sucetorna-se necessário que o direito interno de, em termos de regime convencional indo país que ratifique tal convénio, especiternacional, quanto à repressão dos actos ficamente no seu quadro jurídico-criminal, ilícitos a bordo de navios. Isto, não obstanpreveja e puna os ilícitos criminalizados te existir uma obrigação internacional de pela Convenção; ora este desiderato legal, intervenção dos Estados-bandeira, em sede algo importante e fundamentador de fada Convenção das Nações Unidas Sobre ses futuras na matéria ora em apreço, não o Direito do Mar (CNUDM) – artigo 108º parece existir no direito interno nacional perante situações de tráfico ilícito de estuactual, não obstante a existência de legispefacientes, induzindo o princípio da coopelação avulsa que visa prevenir e reprimir ração internacional. actividades ilícitas ligadas ao terrorismo, De facto, tal como sucede em sede de vide a Lei n.º 52/2003, de 22 de Agosto de tráfico ilícito de estupefacientes, também 2003 (Lei de combate ao terrorismo). Tornar-se no âmbito do com‑ía, eventualmenbate à proliferação te, adequada, uma de meios e produtos análise específica destinados a servir mais contextualiintentos ilícitos e zada ao tecido de criminosos, as autocrimes - do foro ridades nacionais marítimo – actual podem deparar mente previstos, o com dificuldades que diminuiria as em exercer a judificuldades de inrisdição nacional criminação judicial Exemplo de submersível utilizado nos tráficos. Fonte: The Sunday Telegraph, 19 OUT08 a bordo de navios de determinadas suspeitos de terem praticado alguma das terroristas cometidos contra alvos sedia- situações detectadas. infracções – hoje - tipificadas na Convenção dos nos e dos Estados Unidos da AmériConsiderando a inovação jurídica e o SUA (Supression of Unlawful Acts Against the ca, e seus aliados, alargou o seu âmbito de poderoso instrumento (até de exercício de Safety of the Navigation Convention). A SUA aplicação; designadamente, procedeu-se à autoridade) estabelecido nesta Convenção, Convention é, hoje, um dos instrumentos extensão do conceito de agentes do ilícito, os Estados-Parte (entre outros, os Estados convencionais internacionais cuja valora- às formas de concretização do ilícito tendo Unidos da América, a Austrália, o Canação dogmática terá mais importância no sido tipificadas novas ilicitudes. dá, a Holanda e a Dinamarca) iniciaram futuro próximo, inclusive pelo ambiente Atentos os outros mecanismos interna- diligências internas no sentido de adequar temático em que foi assinada, desenvolvi- cionais hoje já disponíveis, e operantes a sua legislação aos ditâmes da Convenda e aperfeiçoada. – até de âmbito regional -, a grande po- ção SUA de forma a viabilizar, num futuro Podendo considerar-se que o terrorismo tencialidade prática da SUA consiste no próximo, uma abordagem a um navio esmarítimo possa remontar as suas origens facto dos Estados que procederem à sua trangeiro suspeito de praticar um dos ilímais recentes a 1985, data em que o navio ratificação terem, no momento do depósi- citos previstos. A Espanha constitui uma de cruzeiro “ACHILLE LAURO”, no Medi- to do instrumento de ratificação junto do excepção, tendo já procedido à ratificação terrâneo, foi tomado de assalto por um gru- Secretariado da International Maritime Or- da SUA Convention, uma vez que o terrorispo com ligações políticas direccionadas, foi, ganization (IMO), que proceder à notifica- mo é, desde há bastante tempo, um crime mais especificamente, a partir de SET2001 ção da entidade internacional competente previsto e punido na legislação espanhola, - data em que membros de uma rede terro- no sentido de que consentem o boarding e e ainda porque a legislação interna esparista perpetraram em território norte ame- search de navios registados no seu espaço nhola foi recentemente alterada no sentido ricano (World Trade Centre em Nova Iorque soberano por outros navios, pertencen- de introduzir novas tipologias penais dee Washington) diversos ilícitos criminais, tes a Estados-Parte da Convenção (SUA), signadamente em sede do Código Penal, utilizando meios, e modelo de agressão, sempre que esteja em causa a suspeita da permitindo, desta forma, o exercício da antes impensáveis – tal como fenómenos prática de algum dos ilícitos tipificados jurisdição do Estado espanhol a situações que ocorreram posteriormente com o USS no texto da Convenção (flag sate consent extra-territoriais. “COLE” e o petroleiro francês “LIMBURG” normal), e/ou que esse consentimento é Neste âmbito, o grande obstáculo existenem OUT2002 -, que a Comunidade Inter- presumido depois de decorridas 4 horas, te e que poderá inviabilizar o exercício da nacional, através da Intenacional Maritime sem qualquer resposta, após o pedido de jurisdição nacional a bordo de um navio esOrganization (IMO), decidiu alterar a SUA boarding pelo Estado Requerente. trangeiro suspeito de transportar material/ Convention, que havia sido assinada em Deve sublinhar-se que os Estados-Parte substâncias proibidas consiste no facto de, Roma em 1988, no sentido de reforçar a tu- não são obrigados a consentir a abordagem em direito interno, não existir tipificação O 4 DEZEMbro 2008 • Revista da Armada tela penal no mundo marítimo, em especial actos ilícitos a bordo de navios, ou contra eles. Aliás, não foi concebida, e publicada, qualquer disposição específica em matéria de security na IMO até DEZ2002, altura em que foram aprovadas as primeiras alterações à Convenção SOLAS. A SUA foi concebida, e assinada, com o propósito principal de desenvolver a cooperação internacional entre os Estados na concepção e adopção de medidas eficientes e práticas para a prevenção de todos os actos ilícitos contra a segurança da navegação marítima e para o julgamento e punição dos infractores. A alteração do texto desta Convenção (como se viu, a versão original é de 1988, aprovada para ratificação pela Resolução da Assembleia da República n.º 51/94, de 12 de Agosto), concretizada em 2005, na sequência dos inúmeros ataques Parte II 1TEN TSN Alexandra Lima Jurista Delegada nacional ao Legal Committee da IMO Posse do novo Director do IESM R ealizou-se no passado dia 6 de Novembro, no Salão Nobre do Ministério da Defesa Nacional, no Restelo, em Lisboa, a cerimónia da tomada de posse do novo Director do Instituto de Estudos Superiores Militares (IESM), VALM Álvaro Sabino Guerreiro, presidida pelo Ministro da Defesa Nacional, Prof. Doutor Nuno Severiano Teixeira. Após a tomada de posse, usou da palavra o Ministro da Defesa Nacional que começou por elogiar o trabalho do director cessante, TENGEN Duarte Reis. Depois de caracterizar o novo Instituto que foi criado em 2005, em substituição dos Institutos Superior Naval de Guerra, de Altos Estudos Militares e de Altos Estudos da Força Aérea, o Ministro reafirmou a sua confiança no novo director para atingir os objectivos da missão do IESM. O VALM Sabino Guerreiro exercia as funções de Comandante Operacional dos Açores desde Julho de 2007 e foi também Sub ‑director do IESM. Missa de Fiéis Defuntos bração na qual participaram todos os capelães da Marinha e outros capelães militares. Também estiveram presentes o Ministro da Administração Interna, o CEMGFA, o Secretário de Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar, o Secretário de Estado Adjunto para a Administração Interna, o CEMA, o CEME, o CEMFA, o Comandante Geral da GNR, um representante do Director Nacional da PSP, vários Oficiais Generais e ainda muitos outros militares e civis dos três Ramos das Forças Armadas e das Forças de Segurança que também quiseram estar nesta jornada de respeito e memória. Podemos dizer que esta bela e imensa igreja não tinha lugares por ocupar. O Coro dos Cadetes da Escola Naval superiormente orientado pelo 1 SAR B Nuno Batalha foi o responsável pela parte coral da Eucaristia. Neste dia 04 de Novembro quisemos mais uma vez dizer que aqueles que nos deixaram fisicamente continuam vivos na nossa memória. Que o seu exemplo perdure sobretudo nas nossas vidas. Fotos CAB L Figueiredo que enquadre e puna determinados tipos de ilícitos. Ou seja, no limite, uma unidade naval nacional poderá ser autorizada a abordar e inclusive adoptar medidas cautelares relativas ao navio, à carga e/ou tripulantes e demais pessoas nele encontradas, mas não exercer a concomitante acção penal – sem activação do mecanismo contencioso que poderia existir em âmbito nacional - por eventual desarticulação, ou inadequação, legislativa do regime vigente. Isto mesmo pode ocorrer, em moldes de análise similar, com o crime de pirataria, e o quadro de aplicação do disposto nos artigos 287º e 288º do Código Penal (CP); mas essa é matéria que, pela sua importância e impactes, merece, certamente, uma análise aprofundada na oportunidade própria. Esta situação torna-se relativamente delicada, uma vez que para efeitos da SUA constitui, igualmente, ilícito criminal, o facto de os agentes perpetradores do ilícito utilizarem um navio petroleiro ou outra plataforma que transporte hidrocarbonetos ou outras substâncias tóxicas e/ou altamente perigosas (hazardous and noxious substances) como alvo, sobretudo em espaços junto à costa, podendo afectar, de forma que pode ser dramática, a economia do(s) Estado(s) afectado(s), independentemente dos mecanismos de direito internacional a que se possa recorrer para minimizar os impactes dos danos ocorridos, ou para activar responsabilidades jurídicas no foro contencioso próprio. Ora, usando os criminosos uma qualquer modalidade de small boat, ou outros modelos não previamente detectáveis de intervenção (ver fotografia da página anterior), o sacionamento dos responsáveis pelo ilícito poder-se-á encontrar prejudicado face à ausência de legislação penal adequada. A relação substantiva que tem que existir entre ambos os quadros normativos é, pois, fundamental. O que vem referido indicia-nos uma reflexão final. Novos modelos de tráfico e reformulados sistemas e circuitos do crime impõem quadros cooperantes mais eficazes entre Estados, e procedimentos de intervenção mais céleres e ágeis; a Proliferation Security Initiative (PSI), a Container Security Initiative (CSI), e a Secure Border Initiative (SBI) são, entre outros, alguns desses exemplos, mas que, atento o espaço de comentário, não analisaremos no presente artigo. Internamente, contudo, cada Estado tem que conceber e aprovar, nos quadros penais vigentes, tipos jurídicos adequados de forma a sustentar aquelas intervenções e operações; de contrário, estarão os Estados fora das modernas formas de combate aos tráficos e aos actos de proliferação, ficando-se por manifestações plásticas de intenções. O que, convenha‑se, face às matérias em questão, pode ser determinantemente negativo. N o âmbito das Actividades da Diocese das Forças Armadas e de Segurança, realizou-se no passado dia 4 de Novembro na Igreja de Nossa Senhora de Belém, no Mosteiro dos Jerónimos, a tradicional e sempre sentida celebração eucarística do Dia de Fiéis Defuntos onde são recordados todos os militares, militarizados e civis que não estão já no meio de nós e que fizeram parte da família naval. O Bispo castrense, D. Januário Torgal Ferreira, presidiu a esta solene concele- José Ilídio Costa CMG CAP Revista da Armada • DEZEMbro 2008 5 N.R.P. “Álvares Cabral” no POST – Portuguese Operational Sea-Training – Introdução “From the start of training, an enthusiastic and wholly positive ships company demonstrated their willingness to learn...”. estado do material. Esta avaliação permite estabelecer o patamar inicial a partir do qual irá evoluir o treino do navio. Após o MASC, as actividades de treino desenrolaram-se ao longo de um programa estru- F oi com este espírito de permanente disponibilidade, transcrito da mensagem final do “Flag Officer Sea Training” (FOST), que a fragata “Álvares Cabral” concluiu mais um exigente programa de treino e avaliação no Reino Unido, o “Portuguese Operational Sea Training” (POST), que decorreu entre 15 de Setembro e 23 de Outubro nas áreas de N.R.P. “Álvares Cabral” atracado em Devonport - Plymouth. exercício de Plymouth, durante o qual efectuou cerca de 1122 horas de missão, turado e focado nas necessidades que se identi392 horas de navegação tendo percorrido 4622 ficaram como mais prementes, considerando o leque de situações em que uma unidade deste milhas náuticas. Para a sétima guarnição da “Álvares Cabral” tipo pode vir a ser empenhada. No caso coneste período de treino apresentava-se como creto da “Álvares Cabral” foi também consideum acrescido desafio: por um lado, assumia-se rada a próxima missão como navio-almirante como instrumental à preparação para o navio da SNMG1, relevando-se a área de operações desempenhar as funções de navio-almirante do associada a essa missão, com a particular inciStanding NATO Maritime Group 1 (SNMG1) dência em aspectos relacionados com ameadurante primeiro semestre de 2009; por outro ças à segurança marítima, nomeadamente a do lado, permitiria validar um novo desenho de terrorismo, tendo presente a vulnerabilidade da treino a implementar pela Flotilha, decorrente operação junto a estreitos e choke-points. das recentes alterações ao ciclo operacional das fragatas (FFGH). O treino O novo modelo de treino das FFGH pressupõe a realização de um Período de Treino Operacional (PTO), nacional, de quatro semanas (duas de terra e duas de mar), seguido do POST, desenvolvido ao longo das tradicionais seis semanas (duas de terra e quatro de mar). Nesta nova versão o POST contempla, adicionalmente, a participação na “Weekly War” nas semanas de terra, e uma fase de “free play”, com o navio em Condição Geral 2, a decorrer na última semana de mar. A “Álvares Cabral” cumpriu um planeamento de transição, em que o PTO de quatro semanas foi substituido por um período de Treino Assistido (TA) de duas semanas (uma de terra e uma de mar), realizado em Março do corrente ano, ao qual se seguiu um conjunto de missões durante as quais se procurou complementar as acções de treino necessárias à preparação prévia ao POST. Assim, e chegados a Plymouth em 11 de Setembro, deu-se início a um conjunto de visitas preliminares de preparação do período de treino, o qual se viria a iniciar, formalmente, em 15 de Setembro, com a realização do “Material Assessement and Safety Check” (MASC). Com o MASC visa-se a aferição dos padrões do navio nos seus aspectos básicos de segurança e do 6 DEZEMbro 2008 • Revista da Armada Elemento de Segurança FZ durante ameaça assimétrica. Equipas Médicas prestando assistência. Elementos da equipa de segurança em acção de vistoria (a bordo do RFA “Orangeleaf”). Ao longo das duas semanas de terra com o navio atracado na Base Naval de Devonport, continuaram diversos exercícios em várias áreas, com destaque especial para a limitação de avarias (com incêndios de porto), e para a segurança do navio quando atracado, em que foram recriadas situações que visam preparar o navio a lidar com um alargado espectro de situações, seja na presença de manifestantes inamistosos, seja quando confrontado com ameaça terrorista nas suas diversas formas de actuação (que vão da introdução de engenhos explosivos a bordo, ao ataque de viaturas com explosivos, ou ao ataque por recurso a embarcações rápidas, ou a atiradores furtivos). Ainda no período de terra, o navio actuou na prestação de auxílio a uma população vítima de catástrofe natural, no decurso do “Disaster Relief Exercise” (DISTEX). No DISTEX, a par do elevado nível de comando e controlo requerido (situação na qual são projectados para terra mais de cem elementos da guarnição e quase cinco toneladas em material), há que saber corporizar a flexibilidade de emprego do pessoal e das valências de bordo, num ambiente terrestre. Já no decurso das semanas de mar, o treino incidiu sobretudo nas áreas das operações navais e das disciplinas conexas, exercitando-se, numa primeira fase, cenários contra ameaças simples, e, posteriormente, situações de combate em ambiente de multi-ameaça integrando uma força naval. Simultaneamente, foram ainda exercitadas acções de vistoria em navios mercantes, de controlo da navegação mercante, de tiro de artilharia contra alvos rebocados e de tiro contracosta. O treino na área da marinharia foi também amplamente exercitado, com enfase nas acções de reboque e de reabastecimento. A par do treino no ambiente da “Batalha Externa”, está também sempre presente o treino em limitação de avarias, de armas e electrónica, de logística e na área médica, conjugando, assim, o ambiente externo com o ambiente de “Batalha Interna”. Tal facto evidencia um muito complexo e exigente, mas igualmente estimulante, desafio de comando e controlo e de desempenho. Cumulativamente, foi profusamente exercitado o relacionamento com órgãos de comunicação social, factor de acrescida importância nos actuais quadros de actuação. Em síntese, a “Álvares Cabral” atingiu a avaliação global final de “Satisfactory”, iniciada com a classificação de “Safe – Satisfactory” durante o MASC, e atingindo as avaliações nas áreas base de “Very Satisfactory” em “Manpower”, de “Very Satisfactory” em “Equipment”, de “Satisfactory” em “Training” e de “Very Satisfactory” em “Sustainability”. Conclusão O POST continua a disponibilizar condições ímpares de treino, realizadas num quadro de grande exigência e complexidade, constituindose ainda como um momento único para a prática, teste e validação de novos procedimentos e doutrina. Tal só é possível pelo enquadramento proporcionado por uma organização de exce- O lência, de onde se destacam a experiência e o conhecimento do staff do FOST, mas também pela inquestionavel mais valia em que se traduz o acompanhamento e ligação efectuados pela equipa da Flotilha destacada no FOST, o PLTEAM. A frequência do POST tem permitido, ao longo de anos de participação dos navios portugueses, a agregação de conhecimentos e competên- cias não só nas FFGH, mas tem sido igualmente fonte de difusão deste vasto leque de conhecimento e experiência às demais unidades da Esquadra, ajudando a Marinha a adaptar-se à crescente exigência e complexidade das missões que lhes são atribuídas. (Colaboração do COMANDO DO NRP “ÁLVARES CABRAL”) Exercício “LUSÍADA 2008” “Lusíada 2008” é um exercício conjunto conduzido pelo EMGFA, envolvendo os três ramos das FA’s, com o propósito de proporcionar treino operacional às forças atribuídas à Força de Reacção Imediata (FRI). No período de 3 a 10 de Novembro, num cenário de resposta a uma situação de crise, Art.º 5º da Carta das Nações Unidas, o CEMGFA determinou a activação da FRI, tendo a Componente Naval sido composta pelos NRP “Côrte-Real” (navio-chefe), NRP “Jacinto Cândido”, pela Força de Desembarque (Companhia de Fuzileiros Nº 21) e Unidade de Mergulhadores (CDT), comandada pelo CFR Gonçalves Alexandre, com a missão de efectuar uma operação de evacuação de cidadãos não combatentes (NEO) num país fictício “IDASSE” (Algarve). Tendo em vista apoiar a evacuação dos cidadãos através de dois pontos de embarque (PE) criados para o efeito, por via marítima e por via aérea, o exercício contou com a instalação de dois Centros de Controlo de Evacuados (CCE), instalados no PAN de Portimão e em Faro. Neste exercício participou ainda o Destacamento de Acções Especiais (DAE) integrando uma Força de Operações Especiais que conduziram um conjunto de acções isoladas, culminando no resgate de um cidadão português sequestrado pelas “Forças de Libertação 20” (FL20). O exercício decorreu em quatro fases, uma inicial, durante o trânsito para a área de operações, consistindo na realização de um conjunto de exercícios, tendo como objectivos promover a integração das unidades e melhorar o adestramento e desempenho da componente naval, com vista à concretização da operação NEO. Após a chegada à área de operações, foi iniciada a segunda fase (fase de Implementação), concretizando-se as acções indispensáveis à Interdição e Segurança Marítima, assim como à defesa da Componente Naval contra a ameaça terrorista assimétrica existente, entre os meridianos de Sagres e Portimão, garantindo as condições necessárias para a projecção anfíbia da Força de Desembarque e de um dispositivo em terra destinado a efectuar a recolha (áreas de concentração – AC) e o processamento dos evacuados indicados pela Embaixada Portuguesa. O desembarque foi efectuado, no PAN Portimão a simular uma área de concentração e um ponto de evacuação de PEEVAC (Pessoal Elegível para Evacuação), com o apoio da Unidade de Mergulhadores, num elevado estado de alerta de protecção de força. Foram transferidas pelo helicóptero orgânico Lynx MK95, duas toneladas de material: tendas, duas viaturas “moto 4”, dois atrelados e diverso material contentorizado. Entre 06 e 08 de Novembro, foi conduzida a fase três (fase de Recolha), num cenário de complexidade crescente. Assim, no dia 07 de Novembro, e após rapto por parte das FL20 de um cidadão português, os militares do DAE estiveram empenhados no seu resgate, tendo conduzido com enorme êxito essa operação junto à praia da Salema. Estiveram igualmente envolvidos o CDT, na “Clearance” da praia, e o helicóptero “DAXTER”, com a tarefa de proceder à evacuação do cidadão. A Componente Naval teve nesta fase um grande empenhamento e teste às suas capacidades. Com os navios na enseada de Sagres, no dia 07 de Novembro, a Componente Naval foi envolvida no plano de evacuação, por via marítima, de quarenta e oito PEEVAC, a partir da extinta Estação Rádio Naval de Sagres até ao CCE de Portimão, tendo todos os PEEVAC embarcado no NRP “Jacinto Cândido” a partir da Baleeira. A ameaça foi constante com acções de sabotagem, tentativas de infiltração de elementos das FL20 junto dos PEEVAC, minagem de praias, ataques aos navios por aeronaves a baixa altitude e embarcações a alta velocidade armadas com armamento ligeiro, com perfil suicida, o que permitiu testar a sustentação e resposta da Força Naval. Já com os navios fundeados em Portimão, procedeu-se ao desembarque dos 48 PEEVAC. Quando tudo parecia aparentemente mais calmo, surgiu na tarde do dia seguinte uma “piroga”, simulada por uma semi-rígida, com dois elementos desconhecidos embarcados, a navegar em direcção ao NRP “Côrte-Real”. “Aviso de ameaça de Superfície Vermelho – Estado de Alerta 1 em vigor”, foram as palavras que soaram ao ETO, testando a organização interna de defesa contra ameaça terrorista. Junto ao navio os dois homens solicitaram auxílio, já que a “piroga” começava a meter água, simulando um afundamento, tornando uma acção defensiva numa acção de salvamento no mar. Resgatados os dois indivíduos, foram ‑lhes prestados os primeiros-socorros. Os dois indivíduos de “IDASSE” acabaram por solicitar asilo político, tendo sido autorizado o seu transporte para Portugal. Em terra, junto do CCE de PAN Portimão, as interacções com a população a requerer evacuação continuavam e o trabalho de controlo de evacuados por parte da Força de Desembarque parecia não abrandar. Para testar aquela organização, surgiu um pedido de auxílio por parte de uma cidadã francesa que tinha entrado em trabalho de parto. Foi equacionada a sua evacuação para o NRP “Côrte-Real”, mas era demasiado tarde pois o bebé poderia nascer a todo o momento. Desembarcou o médico do navio-chefe e foram-lhe prestados os cuidados essenciais, ficando o recém-nascido e a mãe bem de saúde. Na madrugada de 09 de Novembro, iniciou ‑se a quarta e última fase, correspondendo à Recolha da Força de Desembarque, embarque de material logístico e retracção para Território Nacional, com um total de cento e cinquenta e um PEEVAC evacuados de IDASSE. De salientar ainda a visita do Comandante da FRI, COR Carlos Pereira, à Componente Naval na tarde do dia 08 de Novembro, tendo tido a oportunidade de visitar o NRP “Côrte-Real”, o NRP “Jacinto Cândido” e a Força de Desembarque nas instalações do PAN Portimão. O exercício “LUSÍADA 2008” constituiu uma excelente oportunidade para treino de Força Naval de projecção anfíbia para operações face a situações de crise – evacuação de cidadãos não combatentes, testando a capacidade de resposta e protecção própria num cenário com permanente ameaça assimétrica. Revista da Armada • DEZEMbro 2008 7 D Exercício de Combate à Poluição do Mar “Darque 2008” e acordo com o objectivo de realizar um mínimo de dois exercícios anuais com um significativo empenho de recursos, a Autoridade Marítima Nacional, em cooperação com a Agência Europeia de Segurança Marítima (EMSA) da União Europeia (UE), realizou nos dias 16 e 17 de Setembro, o exercício de combate à poluição do mar por hidrocarbonetos “Darque 2008”, perto do farol de Montedor, a Norte de Viana do Castelo, com uma componente de praia e outra de mar. Este exercício decorreu a par da operação que decorria na Vala Nova de Benavente, e na qual o SCPMH estava empenhado com pessoal e material. No “Darque 2008”, simulou-se a resposta a um “acidente” marítimo grave: na noite de 16 de Setembro, uma explosão num navio ‑tanque a cerca de 5 milhas a Oeste do farol de Montedor, provocou um derrame de 1.000 m3 do combustível IFO 380, que veio a atingir a costa na praia do Camarido, freguesia de Carreço. O “acidente” obrigou à activação do Plano Mar Limpo, e o cenário de “maré negra” localizada apontou para o 3º grau de prontidão, no qual a direcção e a coordenação das operações de combate à poluição cabem ao Capitão do Porto, neste caso, de Viana do Castelo, ainda que com apoio substancial em meios do Departamento Marítimo do Norte (DMN) e do Serviço de Combate à Poluição do Mar por Hidrocarbonetos (SCPMH) da Direcção-Geral da Autoridade Marítima (DGAM). Perante a constatação do “derrame”, o exercício simulou na noite de 16 de Setembro o pedido de cooperação internacional, através N Poluição da Vala Nova – Benavente a manhã do domingo 14 de Setembro, foi detectada uma descarga de combustível na Vala Nova de Benavente, com origem na fábrica IDAL, que assumiu de imediato a responsabilidade pelo acidente de poluição. Por se tratar de um espaço fora da jurisdição da autoridade marítima, a coordenação das operações de emergência coube às autoridades de protecção civil, as quais, por falta de capacidades de combate à poluição das águas por hidrocarbonetos, pediram de imediato apoio à Marinha, através do COMAR, o qual transmitiu o pedido à Capitania do Porto de Lisboa e esta ao Serviço de Com8 do Monitoring and Information Center (MIC) da União Europeia (UE), e de que resultou a “contratação” do N/T “Galp Marine”, basea do em Sines e sob contrato da EMSA para apoiar os Estados-membros da UE em situações deste tipo. Ao nascer do Sol de 17 de Setembro, iniciou-se a colocação do dispositivo do DMN e do SCPMH na praia do Camarido, para efectuar as operações de limpeza, e instalou-se o dispositivo no mar, para conter e recolher o poluente derramado. Na praia, aproveitando os sargaços trazidos pelo mar para simular o poluente, deu ‑se especial ênfase à formação do pessoal do DMN e do SCPMH na limpeza de rochas e da areia, e na articulação com as autoridades locais quanto à remoção e eliminação dos resíduos. Estiveram envolvidos 40 homens e mulheres nas operações da praia, que se concluíram pelas 14h. No mar, onde o produto derramado como é usual nestes casos foi simulado por pipocas, montou-se uma barreira oceânica com cerca de 500 metros, para conter e orientar o poluente e recorreu-se ao N/T “Galp Marine” para o recolher. Foram rápida e eficazmente lançados ao mar 400 kg de pipocas pelo pessoal do NRP “Cisne” e a barreira foi rebocada por dois rebocadores do porto de Viana do Castelo, tendo o N/T “Galp Marine” logo atrás recolhido cerca de 80% daquelas pipocas. O Comando Naval atribuiu o NRP “Baptista de Andrade” para embarcar as autoridades e os convidados a observar a componente de mar do exercício, e a Força Aérea Portuguesa cedeu um helicóptero Alouette III para a EMSA efectuar filmagens aéreas. A agitação marítima, com ondulação inferior a um metro, e as condições meteorológicas, com vento fraco e temperatura amena, foram muito favoráveis e foram determinantes no êxito do exercício no mar e na possibilidade de o observar desde a praia. Além do Comando Naval, da DGAM e da Autoridade Marítima Local, colaboraram no exercício “Darque 2008”, a GNR, a Câmara Municipal de Viana do Castelo, a Junta de Freguesia do Carreço, as autoridades regionais e locais da protecção civil, o INEM, os Bombeiros Voluntários e Municipais de Viana do Castelo, a Cruz Vermelha Portuguesa e o Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade. Assistiram às operações do “Darque 2008”, na praia ou embarcados na corveta, cerca de 30 convidados, das autarquias locais, das autoridades ambientais, da protecção civil e policiais, de empresas petrolíferas, de centros de investigação e universidades. Todas estas entidades deram corpo a um espírito de cooperação pluridisciplinar e pluri-institucional, que visa dotar Portugal da capacidade de responder adequadamente a todo o tipo de episódios de poluição do mar. DEZEMbro 2008 • Revista da Armada bate à Poluição do Mar por Hidrocarbonetos (SCPMH) da Direcção-Geral da Autoridade Marítima (Autoridade Marítima Nacional). Passadas quatro horas sobre o pedido inicial do Comando Nacional das Operações de Socorro ao COMAR, o SCPMH, presente com o seu chefe, dois sargentos e cinco praças, mais uma semi-rígida e material absorvente e de lavagem em dois veículos pesados, assegurou a colocação, conforme pedido, de uma barreira de material absorvente que bloqueou a passagem das manchas superficiais de poluente para o rio Tejo. Por entender ser adequado, o SCPMH colocou mais uma barreira de material absorvente, na saída da bacia onde desemboca a descarga da fábrica, por onde saiu o combustível, que o SCPMH concluiu tratar-se de fuelóleo. Conteve-se assim muito poluente que continuava a ser descarregado na bacia, e que não veio a poluir mais ainda a Vala Nova. Com a ajuda da maré, que esteve a encher até cerca das 18h, e do vento fraco, as duas barreiras permitiram conter os danos ambientais, e foram eficazes desde então. Mais tarde, o SCPMH veio a colocar uma terceira barreira junto ao cais, para proteger espaços já tratados. O poluente espalhou-se, forman- do uma camada superficial muito fina, por mais de metade do espelho líquido da Vala Nova e quase todo o seu perímetro; os componentes voláteis evaporaram-se ao longo do primeiro dia, criando um intenso cheiro a combustível no local; algumas emulsões formadas afundaram-se e acumularam-se no fundo, enquanto outras se mantiveram à superfície a flutuar ou impregnaram objectos flutuantes, a vegetação e as terras das margens. Apesar disso, a observação ao longo dos dias seguintes não revelou um aumento significativo da mortalidade de peixes ou aves no local, o que sugere não ter havido danos graves para o ecossistema local. As operações de combate à poluição de emergência, iniciadas pelo SCPMH na tarde desse domingo, tiveram duas vertentes: por um lado, com apoio em material absorvente da Administração do Porto de Lisboa e em lanchas e pessoal dos Bombeiros de Benavente, colocaram-se mantas absorven- T tes na Vala Nova e iniciou-se o processo de recolha de objectos flutuantes impregnados de poluente. Por outro lado, com a colaboração do poluidor e sob a direcção técnica do SCPMH, iniciaram-se as operações de recolha na bacia de descarga e na barragem a Leste do cais, as quais prosseguiram ao longo da semana, tendo-se recolhido cerca de 100 toneladas de água e fuelóleo entretanto emulsionado. O SCPMH tratou ainda da la- vagem das infra-estruturas portuárias locais, ao longo da semana, pois as marés a encher traziam sempre mais poluente e sujavam o que já fora limpo antes. Concluídas as operações de combate de emergência, e até que as autoridades ambientais aprovaram as operações de remediação, a executar por empresa especializada contratada pela seguradora do poluidor, o SCPMH manteve pessoal seu em Benavente, para assegurar a integridade das barreiras, o acompanhamento especializado da situação e o apoio técnico às autoridades distritais e municipais de protecção civil, tendo contado sempre com o eficaz apoio logístico da Câmara Municipal de Benavente e, em particular, do Comando Municipal de Operações de Socorro e dos Bombeiros de Benavente, apoio imprescindível para o sucesso da operação de combate à poluição das águas da Vala Nova de Benavente. CMG ECN Jorge Silva Paulo, Chefe do SCPMH (DGAM) ACADEMIA DAS CIÊNCIAS eve lugar, no passado dia 9 de Outubro no salão nobre da Academia das Ciências de Lisboa, uma sessão de conferências em que foram oradores convidados o ALM. Vieira Matias, ex-CEMA e o VALM Ferraz Sachetti, Presidente da Academia de Marinha. Presidiu à sessão o Professor Doutor Adriano Moreira, Presidente da Academia de Ciências, ladeado pela Vice- Presidente da classe de Ciências e pelo Secretário-Geral da Academia e dos dois oradores. A abrir a sessão o Professor Adriano Moreira fez uma breve apresentação curricular dos dois oradores, recentemente eleitos membros da Academia das Ciências. Usou então da palavra o VALM Ferraz Sachetti que dissertou sobre o tema “O Mar Português e a Fronteira Marítima Europeia”, que segundo o orador teve o “título inspirado na evolução actual da formação da União Europeia e que recorda uma situação já vivida na história do século XIX, quando da extensão das soberanias europeias para a construção dos Impérios Ultramarinos”. Relatou com pormenor a evolução na Europa desde a Conferência de Bruxelas (1876), passando pela Conferência de Berlim (1885), as duas guerras mundiais, a fundação da NATO e mais detalhadamente as Convenções relativas ao Mar Territorial, Mar Alto, Pescas e Plataforma Continental. Também citou a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, rati- ção em vários interessantes capítulos a destacar: “As descobertas do fundo do mar”, “As novas fontes minerais no mar”, “A bio diversidade marinha e as novas formas de vida” e “O valor das novas descobertas”. A terminar, salientou que esta nova, ou quarta descoberta do mar, o levou a uma cogitação, orientada para a forma de Portugal ficada por Porparticipar emtugal em 1997, penhadamenque demorou te nessa aven24 anos a reditura cientifica gir e é um dos Mesa da Presidência e um aspecto da assistência. e que para tal mais importanpropósito se identificam os conhecimentes documentos das Nações Unidas. Relativamente à moderna Lei do Mar ex- tos científicos de diversas universidades, a plicou as duas estruturas criadas pelo Go- diversidade de fundos marinhos existentes verno: “Estrutura da Missão para a Extensão na extensão da zona marítima sob jurisda Plataforma Continental” e “Estrutura da dição de Portugal e a cultura de amizade e tolerância que caracteriza os países de Missão para os Assuntos do Mar”. Por último debruçou-se sobre o recente língua portuguesa, todos eles marítimos e “Tratado de Lisboa” e dos aspectos relacio- com interesse em privilegiar a sua relação nados com os nossos interesses marítimos e com o mar. O Presidente da Academia encerrou a da necessidade de ver bem o Tratado, o que consente e a quem consente, salientando sessão com elogiosas palavras sobre as coque o Tratado é novo, mas o processo não municações apresentadas a uma assistência muito concorrida, em que estiveram presenestá encerrado. Seguiu-se a comunicação do ALM. Vieira tes muitos oficiais de marinha e entidades Matias sobre o tema “A Nova Descoberta ligadas ao mar. do Mar”. O orador dividiu a sua intervenRevista da Armada • DEZEMbro 2008 9 A MARINHA DE D. JOÃO III (40) O curto governo de um homem sensato e honesto D iz-nos Diogo do Couto que quando impusesse pelas armas a todos os seus inimi- que o dote do casamento de cada uma das a Armada de Garcia de Sá chegou a gos, mas teve um administrador sensato que filhas foi de cerca de 20 mil cruzados, que era Baçaim, em Janeiro de 1549, o sultão soube congregar esforços e apaziguar ânimos. tudo quanto tinha e irrisória quantia para um Mohamed de Cambaia, lhe mandou recado A História é ingrata com este tipo de perso- fidalgo que tantos anos estivera no Oriente, requerendo o fim das hostilidades que se ar- nagens, preferindo salientar as vitorias glorio- apontando-o como exemplo de quem servira rastavam desde o violento cerco de Diu. Os sas e os feitos exuberantes, mas é importante de forma desinteressada e desprendida dos seus súbditos estavam exaustos e empobre- recordar que a prolongada presença de Por- valores materiais. cidos, dispostos a chegar a um acordo que tugal num espaço ultramarino, cuja vastidão Feitos os ofícios religiosos solenes, e antes pusesse fim a tantos anos de sofrimento e ultrapassou largamente o que se esperaria de ainda de ser enterrado, foram de novo abertas canseira. E o governador aceitou as propos- um pequeno país europeu com escassa popu- as sucessões que estavam fechadas no cofre tas do sultão, consciente que estava, de apropriado e que já fora utilizado por como a paz poderia trazer grandes vanocasião da morte de D. João de Castro. tagens aos próprios portugueses. Como A nomeação de Garcia de Sá foi a terhomem experiente das coisas da Índia, ceira sucessão indicada, cabendo agosabia que as forças portuguesas atravesra abrir a quarta, depois de verificada savam um momento crítico, carecenpelo Vedor da Fazenda, e na presença do dos meios e vontade para a guerra. dos fidalgos do Conselho. Caiu a escoO mundo asiático era um esplendor lha em Jorge Cabral que fora para Bade oportunidades que alimentavam o çaim como capitão e que não poderia sonho de um regresso a Lisboa com a regressar a Goa antes de Setembro, dafortuna e a glória suficientes para uma das as condições da monção. Para este vida regalada, mas a guerra constante caso, em que o governador escolhido afrontava esses mesmos sonhos. É visínão estava em Goa, mas estava na cosvel como, nalguns casos, ela limitava – ta indiana, “entre o Cabo Comorim e a em vez de beneficiar – as possibilidades costa de Diu”, mandava um regimento de comércio e de riqueza para a coroa e real que se esperasse pela sua chegada para os privados. E eu creio que Garcia enquanto o governo era exercido em de Sá teve perfeita consciência disso. regência pelo Bispo, pelo Capitão de Depois desta missão no norte, onde Goa e pelo Ouvidor Geral. Tinha esta trocou o exercício activo do poder naval regra o objectivo de evitar os probleportuguês sobre os navios que demanmas que se levantaram a quando da davam o Guzerate, por um acordo de sucessão de Pero de Mascarenhas, que paz que desse alguma folga a ambas as estava em Malaca, e se viu substituído partes, regressou a Goa e empreendeu por Lopo Vaz de Sampaio (Marinha de resolver o conflito em que se enconD. João III (10)). travam envolvidos Jordão de Freitas e Jorge Cabral recebeu a notícia em Bernardim de Sousa, enquanto capitães Baçaim, ainda durante as chuvas da que se sucederam nas Molucas. Esclamonção e dizem algumas fontes que receu todas as dúvidas e suspeitas que ponderou seriamente não aceitar o carpesavam sobre o primeiro e enviou-o go para que estava a ser nomeado. Na Jorge Cabral: Governador da Índia (1549-1550) – Lendas da Índia. de volta à sua capitania, para que termisua ideia, a notícia da morte de D. João nasse o mandato, usando da sensatez e tacto lação, deve tanto ao vigor dos que ousaram de Castro chegara a Lisboa a tempo de que a necessários para que nenhum deles perdesse cometer grandes feitos como à sensatez dos armada que viesse em Setembro já trouxesse a face ou a honra. Jordão de Freitas embarcou que, na altura certa, souberam equilibrar, con- novo governador, fazendo com que ocupasno galeão da carreira, comandado por Jorge ciliar, negociar e apaziguar. se o sublime cargo da Índia apenas por um de Eça, e seguiu para Malaca e Ternate junto No princípio de Junho de 1549, Garcia de mês. Nessas condições acabaria por regressar com uma caravela a mando de Cristóvão de Sá adoeceu “de umas febres agudas” que, ao reino, sem nada de seu e, sobretudo, sem Sá. E, sabendo como o momento da rendição em poucos dias, lhe consumiram a réstia de aquilo que previra recolher enquanto capitão no cargo era propício a conflitos e desacatos, energia que a sua avançada idade lhe deixa- de Baçaim. No contexto moral em que se enquando um dos capitães assumia o poder e o va. Tinha acabado de casar as suas duas úni- contrava a Índia, não é difícil acreditar que a outro se recolhia a bordo de um navios, teve o cas filhas: a mais nova, Joana Albuquerque, decisão deve ter sido difícil: poderia estar a cuidado de enviar uma carta secreta com or- com Dom António de Noronha que seguiu trocar quatro anos de capitão de uma fortadens para que Cristóvão de Sá ocupasse o car- para capitão de Malaca, e a mais velha, Leo- leza rentável, por um mês como governador go, enquanto Bernardim de Sousa estivesse nor Albuquerque, com Manuel de Sousa Se- sem nenhum proveito pessoal. A decisão penpresente, e só desse posse a Jordão de Freitas púlveda. Estes dois últimos esposos foram os deu para a assunção do cargo, mas as dúvidas quando o outro tivesse partido para Malaca. protagonistas do naufrágio do galeão S. João são significativas da mentalidade e do estado Era sua intenção evitar os desacatos entre dois ocorrido em 1552, seguido de um penoso moral dos fidalgos portugueses no Oriente. homens despeitados, prevenindo algo que já calvário pelas praias da costa do Natal onde Governou durante um ano, apenas, mas disso acontecera várias vezes e que causara graves perderam a vida, no que foi um dos mais fu- daremos conta na próxima revista. danos ao prestígio português. nestos episódios relatado na compilação feiO Estado Português da Índia não teve em ta por Bernardo Gomes de Brito na História J. Semedo de Matos CFR FZ Garcia de Sá um governador vigoroso que se Trágico-Marítima. Diogo do Couto diz-nos 10 DEZEMbro 2008 • Revista da Armada ESCOLA NAVAL Abertura Solene do Ano Lectivo 2008-2009 D ecorreu no passado dia 14 de Novembro a Abertura Solene do ano lectivo na Escola Naval. Esta cerimónia tem um significado académico especial que abre formalmente o ano lectivo com uma tradição que remonta às universidades medievais e aos colégios maiores que reiniciavam a sua actividade dentro dum ritual que invocava o carácter sagrado do acto de estudo e de aprendizagem, na instituição que se assumia como o centro do saber e da cultura. Assim se manteve até à actualidade, mesmo com a evolução recente das instituições universitárias, lembrando-nos o respeito que nos merece a via da aprendizagem e a da sabedoria, com o seu máximo expoente na actividade universitária. Na Escola Naval a cerimónia foi presidida pelo Presidente da República, Prof. Doutor Aníbal Cavaco Silva, estando presentes o Ministro da Defesa Nacional, o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, os Chefes do Estado-Maior dos três Ramos, a Presidente da Câmara Municipal de Almada, o Secretário de Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar e diversas entidades civis e militares. O Presidente da República chegou à Escola Naval cerca das 15h00 e foi recebido pelo Chefe do Estado ‑Maior da Armada, Almirante Melo Gomes, acompanhado pelo Ministro da Defesa Nacional, General CEMGFA, Secretário de Estado da Defesa e pelo Comandante da Escola, CALM Macieira Fragoso. Cumprimentou os membros do Corpo Docente e recebeu as honras militares devidas, prestadas pelo Batalhão Escolar, comandado pelo Comandante do Corpo de Alunos, CFR Machado da Silva, seguindo para o gabinete do comandante, onde recebeu a medalha comemorativa das Jornadas do Mar 2008, cujo encerramento formal teve lugar na mesma altura. A comitiva dirigiu‑se, então, ao auditório, dando-se início à cerimónia oficial, com o Hino da Escola Naval cantado por todos os cadetes. O CALM Fragoso proferiu, então, um discurso onde explicou as circunstâncias em que decorria a transformação do ensino na Escola Naval, na sequência do compromisso nacional de adesão aos princípios da Declaração de Bolonha. Nesses termos, a Escola elevou o nível académico de formação, para que os alunos terminem o curso com o grau de Mestre, adaptando, para o efeito, algumas das suas estruturas. Um dos ajustamentos efectuados foi a ins- titucionalização de um Centro de Investigação e Desenvolvimento que congrega, de forma organizada e apoiada, a investigação que vinha sendo desenvolvida apenas com base na iniciativa voluntarista de alguns Departamentos e pessoas. Tal Centro constituirá um elemento indispensável de suporte à elaboração das dissertações de mestrado dos alunos, melhorando consideravelmente as capacidades científicas da Escola Naval, suportadas naturalmente por um corpo docente em que cresceu o número de doutorados e em processo de doutoramento. Mas, acrescentou o Comandante que, apesar disto, a Escola não descurará a formação militar naval dos seus alunos, mantendo uma intensa e indispensável prática de mar com grande exigência de tempo e dedicação, assegurando “o correcto equilíbrio na formação dos futuros oficiais de Marinha”. Neste contexto – disse o CALM Fragoso – manter-se-á, igualmente, “a abertura ao mundo académico civil e militar, nacional e estrangeiro”, de que é exemplo a realização das Jornadas do Mar 2008, que nesse dia encerraram. Pela sua importância, este evento merecerá, aliás, um desenvolvimento específico na próxima Revista. Terminada a alocução do CALM Comandante da Escola Naval, o Prof. Doutor Adriano Moreira proferiu a “lição inaugural”, subordinada ao tema, “Portugal e o Mar”, cujo texto vai integralmente transcrito nesta Revista, a que se seguiu a sua condecoração com a medalha de Cruz Naval de 1ª classe, por portaria do Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada. O Presidente da República acedeu à imposição desta condecoração, que premeia os inestimáveis serviços prestados à Marinha Portuguesa pelo ilustre professor. A cerimónia terminou com o Hino Nacional cantado em pé por todos os presentes. Antes de abandonar as instalações, o Prof. Cavaco Silva teve ocasião de prestar declarações aos órgãos de comunicação social, realçando as suas funções de Comandante Supremo das Forças Armadas e o interesse que lhe merecem instituições como a Escola Naval. Saudou com particular ênfase a realização das Jornadas do Mar, sublinhando a importância da interligação entre o Ensino Superior Militar e o Sistema Universitário em geral, que as mesmas representavam. Foto Júlio Tito Fotos CAB FZ Ramos Revista da Armada • DEZEMbro 2008 11 A PORTUGAL E O MAR relação secular de Portugal com o Mar, cujo ponto histórico de referência na definição de um conceito estratégico nacional está no Plano de expansão formulado pela Dinastia de Aviz, tem essa relação essencial com o interesse nacional, mas também com uma dinâmica que em primeiro lugar levou à mundialização das interdependências, e, no século XX, às exigências prementes de uma redefinida governança dessa mundialização. A geração que, nesta entrada do Milénio, se prepara nas Academias Navais para servir a Marinha, inicia as suas responsabilidades num ponto de ruptura que é extremamente desafiante para os interesses nacionais. Os responsáveis políticos pela formação que as escolas actuais assumiram, foram participantes activos durante o esgotamento da governança mundial anterior, que se traduzia no que tenho chamado Império Euromundista, porque todo o poder supremo da governança mundial esteve repartido entre potências ocidentais, soberanias especialmente sediadas nas margens do Atlântico, e nem sempre guardando entre si a paz pelo direito. Esta última circunstância teve um desenvolvimento catastrófico com a Guerra Mundial de 1939-1945, que obrigou ao desmantelamento desse Império Euromundista, incluindo inevitavelmente a parcela em que consistia o Ultramar Português, de modo que a Revolução de 1974 (dos Cravos) foi, do ponto de vista nacional, o ponto final do Projecto da Dinastia de Aviz. Desse passado temos, no Património Nacional, a marca indelével na identidade portuguesa, o testemunho de uma forte intervenção na definição da identidade ocidental, e também a marca deixada na globalização anunciada num texto de projecção universal que são Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões. A implantação da língua portuguesa na geografia dos 3 AAA (Ásia, África, América Latina), acompanha a responsabilidade de redefinir a nossa in12 DEZEMbro 2008 • Revista da Armada tervenção nos futuros incertos do mundo, com salvaguarda da memória histórica, e honrando a continuidade da capacidade de assumir riscos, agora os inerentes à globalização. Que o actual milénio se define como uma época de incerteza, que a debilidade da prospectiva está assumida, que no passado nunca aconteceu tudo, que a definição do futuro é responsabilidade de saberes sempre contestáveis, são componentes da nossa circunstância geralmente assumidos. Mas não seria apropriado imaginar que a incerteza era menos desafiante quando a Casa de Aviz iniciou a expansão, quando o Infante D. Henrique decidiu chamar o apoio dos saberes do tempo que lhe aconteceu viver, quando conseguiu que o carisma pessoal animasse a decisão de enfrentar o desconhecido. Falando a marinheiros, recordarei que foi por isso que dediquei um dos meus modestos trabalhos à memória de Bartolomeu Dias, com esta evocação, que repito – Um marinheiro que morreu tentando. De facto, por três vezes embarcou empenhado na tarefa de descobrir o caminho marítimo para a Índia, foi quem dobrou o Cabo da Boa Esperança, por então chamado Cabo das Tormentas, e na terceira viagem perdeu-se no mar salgado pelas lágrimas de Portugal, como séculos depois diria Fernando Pessoa. Mas nunca desistiu, e certamente não deixou de acreditar que a sua devoção e sacrifício ficariam nos alicerces do projecto que não seria abandonado pelas gerações seguintes. O mesmo sentimento que inspira a divisa da Marinha - Honrai a Pátria, que a Pátria vos contempla. Aconteceu, ao longo dos séculos da história portuguesa, que a determinação, saber, e coragem, nunca deixaram de avaliar, com prudência governativa, o equilíbrio com poderes políticos concorrentes ou mesmo adversários, e por isso a acção diplomática foi sempre essencial, assim como a necessidade de um apoio externo, vista a dimensão relativa do poder político português na comunidade internacional, também nunca foi dispensável, tudo acompanhado pela cautela de evitar intervir nas querelas interiores da cristandade. A Aliança Inglesa foi a mais permanente das solidariedades, com os custos inerentes à desigualdade dos poderes, até que o fim do Império Euromundista, sem formalmente a pôr em causa, obrigou a outras definições. Tendo conseguido manter a chamada neutralidade colaborante na guerra de 1939-1945, sem ter podido evitar o sacrifício de Timor invadido novamente por aliados e japoneses, o apoio à reorganização da segurança do Atlântico Norte, logo que a solidariedade da URSS na guerra foi substituída pelo desafio que deu origem a meio século de guerra fria, foi um imperativo do facto de o mar nos chamar ao grupo de fundadores da NATO, garantia desse mar ocidental, base do projecto de libertar a Europa do Atlântico aos Urais, e de implantar a democracia, os direitos do homem, e o desenvolvimento sustentado, não apenas nesse espaço matricial dos ocidentais, mas com expressão mundial. Neste caso talvez deve admitir-se que não foi o país que se lançou a longe pelo mar agora bem conhecido, foi a função do mar, na definição do espaço ocidental, que incluiu o país, por imperativo ao mesmo tempo da geografia, da funcionalidade do sistema de aliança estabelecida, e da defesa dos valores matriciais do Ocidente, nos quais está também impressa a marca do passado português que nos chama às responsabilidades pelo futuro. Foi todavia durante os cinquenta anos da guerra fria que Portugal teve de responder ao doloroso processo de desmobilização do Império Euromundista, na parte que lhe pertenceu gerir até 1974. Depois desta data, que se foi importante para alterar o curso histórico do país, também o foi para o equilíbrio mundial da Ordem dos Pactos Militares, a pertença à NATO não era resposta suficiente para o apoio externo de que sempre necessitámos, e por isso a adesão à União Europeia foi uma decisão sem alternativa. Esta decisão ainda obedeceu principalmente a objectivos de desenvolvimento sustentado com adesão aos modelos democráticos, e rejeição da ameaçadora implantação das estruturas do socialismo real: a evolução europeia foi por nós acompanhada, com adesão à crescente estruturação de um modelo final ainda mal definido de unidade política, e com expressão incerta no chamado Tratado de Lisboa (2008), agora em período de reflexão. Uma reflexão que é sobretudo responsabilidade cívica. Mas, entretanto, a circunstância mundial, no sentido de Ortega, depois de 1989, queda do Muro de Berlim, alterou-se radicalmente em termos de segurança e defesa. Para tomar curta uma história longa, que certamente foi abordada nos cursos da Academia, a NATO sofreu vários desafios nascidos do processo de mudança da circunstância, entre eles os seguintes: a europeização da Defesa, uma exigência que teve origem na exigência de distribuir equitativamente os encargos entre os EUA e a União Europeia; a alteração do conceito estratégico, que deixou de referir-se à linha de encontro dos dois Pactos Militares em confronto, para se terem em vista os interesses da NATO em qualquer ponto do mundo; a assunção da legitimidade própria para exercer o direito - dever de intervenção, com lamentável exercício no Kosovo; e sobretudo a deriva para o unilateralismo da administração republicana do Presidente Bush, que levou ao desastre do Iraque, ao agravamento do capital de queixas no Levante, e finalmente ao receio do regresso à guerra fria com o programado alargamento da NATO às áreas de influência da Rússia, com expressão na grave crise que explodiu no Cáucaso por causa do desmantelamento da Geórgia. Tudo isto estando a Europa numa situação de carência de matérias-primas, de energia, de mão-de-obra, de reserva estratégica alimentar, e também desenvolvendo uma política de alargamento sem estudos prévios de governabilidade, e de responsabilidade de segurança sem conceito prévio de fronteiras amigas. Uma referência que também faltou à NATO na tentativa de admitir antigos satélites sem prestar devida atenção aos interesses da Rússia. Se acrescentarmos a terrível demonstração do ataque do fraco ao forte que o terrorismo global exerce, fazendo do Ocidente o alvo indiviso, por tudo temos de admitir que a histórica natureza exógena de Portugal se acentuou, porque não pode considerar-se alheio a nenhuma das mudanças da circunstância que se desenvolveu ao redor do Ocidente, da NATO, do Atlântico Norte e, acrescento, do Atlântico Sul. Sobretudo nesta área, convirá não esquecer que o espaço da NATO foi limitado ao Atlântico Norte numa data em que o processo descolonizador ainda não provocara atenção à segurança do Atlântico Sul, porque a multiplicação de soberanias na costa africana não somara os seus interesses aos das soberanias do continente americano, estas nascidas de movimentos de europeus emigrados, e não de nativos. Nesta data, a segurança do Atlântico Sul exige uma definição articulada com a do Atlântico Norte, onde se espera e vaticina que a modera- ção regresse ao impulso unilateralista dos EUA, pacificando as divergências que tal unilateralismo causou na União Europeia, permitindo olhar com determinação para a segurança do Mediterrâneo a que a França apela, e ter uma doutrina prudente de fronteiras amigas e governabilidade a leste. A carência europeia que referi espelha ‑se com gravidade desigual pelos países da União, e Portugal não é um dos elos mais fortes do sistema. Mas acontece que, pela geografia, e pela definição dos interesses dos Estados e dos grandes espaços em que estão incluídos, Portugal está na articulação da segurança do Atlântico Norte com a segurança do Atlântico Sul, na articulação destas seguranças com a segurança do Mediterrâneo, titular da soberania, em redefinição geral, no território continental e nos Arquipélagos da Madeira e dos Açores, obrigado com os Estados de Língua Portuguesa na CPLP, que tem no Atlântico Sul uma importante e poderosa presença. Tendo presentes as debilidades do Estado Português, é necessário acrescentar o risco de a gestão dos recursos vivos da Zona Económica Exclusiva transitar para a Comissão Europeia. Tudo ponderado, é certamente possível que uma atitude de desistência ou descaso leve a minimizar a narrativa de heróis do mar que marca a identidade portuguesa: mas o que não pode ser atenuado é o facto de o Mar vir ter com Portugal com exigências às quais ou teremos vontade e capacidade de responder com voz própria, ou a deriva para destinatários das decisões alheias, em que a nossa voz não será escutada, começará a desenhar-se no horizonte. É nestas horas de perplexidade nacional que o exemplo da Dinastia de Aviz e do Infante, o lema da Marinha que manda honrar a Pátria, a coragem em face de uma época de incerteza, o amor ao país e ao seu povo, servem de alicerce à vontade de colocar a inteligência e o saber ao serviço da invenção de novos futuros, informados de que nunca aconteceu tudo no passado, e que é na incerteza que avulta o exemplo de Bartolomeu Dias, um grande marinheiro que morreu tentando, e a cujo esforço o futuro deu razão. É certo que ninguém escolhe o povo e a terra onde lhe aconteceu nascer, e que partir é um direito de ir e andar pelo mundo. Mas a outra decisão, que é um acto de amor, é decidir ficar. A Marinha é um conjunto de homens que decidiram ficar. Adriano Moreira Presidente da Academia das Ciências de Lisboa Professor Emérito da Universidade Técnica de Lisboa Revista da Armada • DEZEMbro 2008 13 Adriano Moreira e a Marinha A Meio século de cooperação “estratégica” celebração dos 50 anos da ligação do extintos). Mas é com a Marinha e o seu InsSenhor Professor Adriano Moreira tituto que a ligação é mais antiga, intensa à Marinha, teve o seu ponto alto na e afectiva, podendo ser descrita como uma Escola Naval, por ocasião da abertura so- relação de orgulhosa pertença e cúmplice lene do ano lectivo de 2008/09, onde esta intimidade. respeitada figura do meio público e acadéTudo começou em 1958, com um convite mico e prestigiado mestre no plano da for- para conferencista no então ISNG, o orgamação dos oficiais do “botão de âncora”, nismo que, na estrutura da Marinha e até proferiu a lição inaugural e foi justamente 29 de Setembro de 2005, data da sua extinhomenageado pelo Almirante Chefe do Es- ção, foi responsável pelo ensino superior tado-Maior da Armada (CEMA) com a con- pós-graduado, militar e naval, dos seus cessão da Cruz Naval de 1ª classe, imposta quadros de oficiais. pelo Senhor Presidente da República, no decurso daquela cerimónia. Achou por bem a Revista da Armada associar-se ao sentido profundo daquela homenagem, convidando o signatário a delinear “para memória futura”, não tanto uma apreciação subjectiva, mas antes uma visão comum entre as diversas gerações de oficiais, acerca do importante papel e influência que aquela eminente figura tem exercido ao nível do desenvolvimento de um pensamento estratégico proporcionado ao Corpo de Oficiais da Armada, através da sua valiosa colaboração com a Marinha em simbiótica partilha de ambição e propósitos. A responsabilidade da tarefa cedo cedeu perante o gosto do ensejo, o desafio do encargo, o dever da gratidão e a justiça do reconhecimento, num genuíno e despretensioso testemunho de quem, como os demais oficiais, teve o privilégio de aprender e de privar com o nosso Professor, fazendo uso, para o efeito, da simples circunsProfessor Adriano Moreira. tância de fortuna, oportunidade e conEssa colaboração como conferencista dição de seu aluno e auditor (nos cursos do Instituto Superior Naval de Guerra), mas passa, dez anos depois, a processar-se em também “colega” professor e último direc- moldes mais regulares, com o início da função de Professor e integrando, com vínculo tor do “nosso” extinto ISNG. Propomo-nos falar daquele trajecto de permanente, o respectivo corpo docente, cooperação, mutuamente vantajosa e re- por diploma de nomeação do Ministro da compensadora, como estamos seguros de o Marinha, com a concordância do Ministro poder afirmar, sistematizando algumas fa- da Educação (conforme o Decreto-Lei de 04 cetas bem representativas da excelência do de Janeiro de 1968, publicado no Diário do contributo e do impulso regenerador que Governo, II Série, n.º 30, de 05 de Fevereiro o Prof. Adriano Moreira prestou à causa e do mesmo ano). Inaugurava-se, deste modo, em Portugal em prol do ensino superior militar na Marinha, aqui reconduzido, sintética e iden- e logo no ISNG, o ensino da disciplina de titariamente, à tripla dimensão de mestre, Política Internacional, curricularmente autonomizada, iniciativa cujo alcance se espedoutrinador e referência. Mas antes, em nota introdutória sobre lhou na significativa elevação do nível de essa ligação à Marinha, deve assinalar-se formação do Corpo de Oficiais da Armada a excelente relação que o Professor Adria- e no prestígio do próprio Instituto. Alguns anos depois surgia o 25 de Abril no Moreira sempre cultivou, por respeito e apreço institucionais, com os outros ramos de 1974, com as conhecidas convulsões podas FA´s, bem como a sua frequente cola- líticas e culturais. Nesse fervor social afecboração, como conferencista, com os de- taram-se instituições e vidas profissionais, mais Institutos de Altos Estudos (IAEM/ como aconteceu com o Instituto (encerraria Exército e IAEFA/Força Aérea, igualmente com vista à reformulação da sua orgânica 14 DEZEMbro 2008 • Revista da Armada de funcionamento e das estruturas curriculares dos seus cursos navais de guerra) e com o próprio Professor Adriano Moreira, forçado a sair do país, seguindo com a família para o Brasil que o acolhe com entusiasmo e lhe permite, para sustento da vida, retomar a actividade docente, agora na Universidade Católica do Rio de Janeiro, nas Escolas Militares de Comando e Estado-Maior das Forças Armadas brasileiras e na de Guerra Naval da sua marinha. Nem nesse momento delicado se esqueceu da Marinha, dirigindo um texto explicativo aos “Senhores Oficiais dos Cursos do Instituto Superior Naval de Guerra”, bem revelador do respeito institucional pelo “.... último lugar onde exerci uma função pública..”, contendo alguns comentários, em introdução às acusações e respostas dadas ao questionário do processo de saneamento que lhe foi movido, em forma de análise da conjuntura que se vivia e de olhar prospectivo sobre o devir nacional que desejava assente em “..... trave mestra (que) tem de ser a possibilidade de os portugueses viverem em paz, e em paz decidirem o seu futuro.”, que se extrai da publicação “Saneamento Nacional”, editada em 1976. O ISNG reabriria em 1978, com renovada filosofia de ensino e, dois anos volvidos, regozijava-se com o regresso do Professor ao seu seio, permitindo recuperar tão imprescindível colaboração na docência e, bem assim, um convívio agora reforçado em consideração e respeito mútuos, forjados na saudade que a interrupção indesejada fez crescer. Com a extinção do Instituto em 2005, aceitou a Marinha o pedido do seu Professor, de lhe ser dada por finda a função de docente, fechando-se, desta forma, um ciclo de quase meio século de colaboração directa, de incalculável valia na qualificação dos oficiais e de inestimável contribuição, também como amigo e artífice no projecto partilhado de perseverante construção de uma Marinha mais capaz. Para uma melhor compreensão do alcance dessa relação, convirá recordar o facto, evocado recorrentemente pelo próprio Professor Adriano Moreira, de ter sido o ISNG, de entre todas as instituições públicas portuguesas, a única “casa” que o poupou à injustiça, desconsideração e dano de um saneamento político e forçado exílio, que escapavam a qualquer normal entendimento. Desde a primeira hora de tão feliz parceria, a Marinha tem sabido reconhecer o inestimável valor da contribuição do Professor Adriano Moreira, não apenas em favor do ensino, mas no plano mais geral que nos ocupa particularmente, o enside uma Armada ao serviço do país, dota- no superior militar naval, toda a compeda de um pensamento e doutrina estraté- tência científica e labor académico que o gicos bem conceptualizados e estrutura- Professor Adriano Moreira concretizou ao dos e operada por um quadro de oficiais longo de uma prolongada e brilhante carqualificados em moldes abrangentes e ac- reira docente, aproveitando o ISNG largatualizados. mente dessa obra e do seu amadurecido Vejamos, então, algumas dimensões que pensamento e capacidade analítica, num sobressaem desse contributo. vasto leque das ciências sociais. Os alunos Do Mestre – sentem, a Marinha e todos os dos diversos cursos navais de guerra não seus oficiais e antigos alunos, uma enorme esquecem as aulas do Professor Adriano dívida de gratidão, estima e respeito pelo Moreira. Essas várias gerações de oficiais Professor Adriano Moreira, por alguém que da Armada recordar-se-ão certamente do congrega a excelência do professor univer- sortilégio dos momentos e da mais-valia da sitário, a integridade do servidor público aprendizagem; eram lições pautadas pela e a estatura cultural e cívica do cidadão, fluidez própria da experiência e cultura numa grandeza difícil de resumir nestas académicas (teorizando e conceptualizanbreves anotações, possibilitando, apenas, do em áreas relevantes para a função milium modesto traço do riquíssimo perfil de tar como a Ciência Política, a Política Interhumanista presente no homem de cultura nacional e as Relações Internacionais), pela e de serviço público, além de notável académico. Nessa estatura ressalta, obrigatoriamente, a elevação e tolerância com que conseguiu enfrentar as vicissitudes e algumas “dificuldades” da sua vida, em boa medida coincidentes e contemporâneas com as da Marinha e da própria nação, entendendo-as, não como incidências meramente pessoais, o que seria redutor, mas numa perspectiva sociológiO edíficio da Administração Central da Marinha onde funcionou o ISNG até 1960. ca, histórica e política de cidadão livre que sempre se manteve, simplicidade da comunicação (tão benéfica de homem de ciência e saberes que é e de em disciplinas com o seu quê de novidade) académico e universitário que nunca dei- e pelo domínio e articulação das matérias xará de ser. São estas múltiplas valências (eficácia do enquadramento, lucidez da que fazem do Professor Adriano Moreira, análise, perspicácia da prospectiva, disciuma das figuras cimeiras da nossa cultura plina do debate, rigor da terminologia, moe personalidade de valor e prestígio ímpa- dernidade da linguagem, para enumerar res, que a Instituição Militar teve o privilé- apenas alguns dos atributos). Mas, talvez gio de acolher e testemunhar os serviços re- mais importante, ainda, para a qualificação levantes, extraordinários e distintos, por si dos oficiais, o facto de muitos destes quaprestados e merecedores de justo e público dros terem tido a oportunidade de testar e reconhecimento, em diversas ocasiões, pe- aplicar esses ensinamentos e conceitos exlos altos responsáveis militares. tremamente úteis, em benefício do posteEsta dimensão de “Mestre” é, quiçá, o rior exercício de funções, dentro e fora da grande timbre de todo um trajecto dedica- Marinha, quer em cargos nacionais, quer do ao ensino, a imagem de marca e influ- internacionais, num jeito de ajuda imateência que os alunos do Professor Adriano rial ao mais proficiente desempenho proMoreira, incluindo os oficiais de marinhas fissional, crescentemente necessitado de estrangeiras, jamais esquecerão. Uma tal tais ferramentas académicas. impressão sai ampliada pelo seu exemplo Todos aproveitaram das “viagens guiade vida pública e percurso académico, num das” por aquelas áreas disciplinares, conregisto de simplicidade e lucidez analítica duzidas pelo Professor Adriano Moreira, servidas por uma capacidade invulgar de ao longo de várias gerações e anos lectivos. sistematização sobre questões e desafios A propósito, é interessante referir aqui, reimpositivamente colocados por uma rea- portado a 1970, o registo editorial de uma lidade nacional e internacional em acele- das suas obras de referência, o livro “Teo rada mudança. ria das Relações Internacionais”, onde, Constituiu um inegável benefício para na introdução, menciona o ISNG. Quem o ensino universitário em geral e para o consultar o livro – de leitura indispensá- vel para qualquer estudante universitário destes domínios do saber - lá encontrará uma menção ao “seu” Instituto, elevado à condição de primeira escola onde, no citado ano, organizou e leccionou as matérias versadas nessa obra (em 5ª edição) aos alunos dos Cursos Navais de Guerra, onde se incluíam, como já referido, oficiais representantes de marinhas amigas e aliadas, designadamente dos PALOP´s, Brasil, Espanha, Alemanha, Marrocos e Tunísia. Já dois anos antes, a publicação do Instituto de Relações Internacionais, do ISCSP – Política Internacional – de sua autoria, prefaciava “O papel pioneiro do Instituto Superior Naval de Guerra e do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica teve a sua primeira expressão nestas lições, do ano lectivo de 1967-1968 (a propósito da sua reedição em 1990) .......”. Assim deixou registada mais uma das suas múltiplas provas de carinho pela Marinha, que não se cansou de lhe dispensar; Quem, de entre os seus estudantes, se pode esquecer das penetrantes análises, onde permanece fiel à inspiração da sabedoria que acumulou, às leis da ciência que sabe aplicar e às da consciência que quer firme e coerente? Quem não reconhece a sua acção de pensador orientada para a descoberta e a inovação conceptual? Quem poderia resistir ao conteúdo estratégico do pensar Portugal, integrado na Europa e aí valorizado pelas ligações transatlânticas advindas da diversificada experiência histórica, na busca de entendimentos e interesses comuns com outras áreas da nossa inserção no mundo, especialmente África e o espaço da lusofonia, conferindo-lhe utilidade acrescida face a parceiros dotados de outros recursos de que o país não dispõe? Quem não captou a ideia-força da complexidade da relação de Portugal com a sua circunstância, na qual, como sintetizou o Professor, “.... é movediça a estrutura e reformulação da NATO, são incertos o projecto e a consistência do pilar europeu da defesa, sofrem redefinição profunda as várias não coincidentes fronteiras portuguesas – geográfica, económica, política, cultural, de segurança, de cada uma delas ...” (extracto de “O Indefinido Conceito Estratégico Nacional”, Adriano Moreira, Encontros do Porto, 2002). Como é tonificante para todos nós, discípulos do Mestre, recordar o significado e importância que atribuía aos valores e princípios, que exemplificava através do “eixo e roda”, com aquele, a representar a perenidade referencial de tais valores a Revista da Armada • DEZEMbro 2008 15 16 DEZEMbro 2008 • Revista da Armada os elementos da direcção e os professores militares que assistiam à lição, se juntavam à amena e instrutiva cavaqueira matinal na merecida pausa para café, tomado no bar da Messe de Oficiais e, ultimamente, no “cantinho do Prof. Adriano Moreira” – a ante-câmara da sala de aula no 3º piso do edifício da Junqueira, sobriamente requalificada para o efeito. Regista-se também a capacidade inspiradora, dinamizadora quase sempre, que o Prof. Adriano Moreira emprestava às diversas iniciativas e actividades do Instituto, em complemento da formação curricular. Fazia-o, impelido pelo sentimento de pertença e de partilha das preocupações e ambições, em prol de uma casa que cedo “perfilhou” e incentivou, através da realização de projectos, programas e eventos académicos, nomeadamente a nível de Conferências, Seminários, Colóquios, bem como no âmbito da tutoria, orientação e arguência dos Estudos de Média Duração (EMD) dos auditores do CSNG, trabalhos académicos algo semelhantes às teses de dissertação a nível universitário. Apenas um exemplo, destacado pela oportunidade e valia do elenco, como foi a sua iniciativa de lançamento de um Painel, em 2003, subordinado ao tema “O terrorismo sem fronteiras”, que contou com a participação de alguns dos autores do livro coordenado pelo próprio Professor Adriano Moreira sobre “Terrorismo” (patrocinado pelo Instituto D. João de Castro e editado pela Almedina, em Janeiro de 2004), cujas intervenções anteciparam o essencial dos seus contributos para essa obra. Foi por esta via que o ISNG pôde beneficiar da diversificada colaboração de prestigiadas figuras públicas e académicas, que o peso do nome e a malha de contactos do Professor Adriano Moreira facilmente permitiam recrutar para a participação naqueles eventos com regular expressão no planeamento anual das actividades de ensino do Instituto, que se orgulhou de ter podido ostentar, em contínuo, o elenco de conferencistas mais numeroso e reputado a nível das instituições académicas portuguesas. Ora organizador, moderador, orador, editor das intervenções, a nível dos eventos académicos já referidos, ora impulsionador de tarefas inerentes à formação contínua dos oficiais e à actualização dos conteúdos, ora, ainda, promotor de outras Foto CAB L Figueiredo defender em qualquer momento, onde se (des)ordem, cujas complexidade, incerteza incluem a Pátria, a Nação, a História e o e imprevisibilidade mais a faziam aproxiDireito, e a segunda, a sujeitar-se a todos mar do estado de “anarquia madura”, que os caminhos e vicissitudes de conjuntura, “.... não o caos .....”, como se apressava a premodo e circunstância; ou lembrar, ainda, os cisar, pela crença conferida ao Direito, tido apelos da governança mundial e das legiti- por indispensável regulador das relações midades como substractos intransponíveis entre agentes. Assim, nos domínios das do movimento dos povos num mundo de Relações Internacionais, Ciência Política e desordem (“.... da nova ordem só se conhe- Política Internacional, apresentava as quesce que a velha findou ....”, como gostava de tões fundamentais para a compreensão dos aditar) que felizmente descobriu a ONU, mundos de ontem e de hoje, conseguindo, organização que, juntamente com as suas com reconhecido talento e grande clareprestimosas agências especializadas, tinha za, despertar o interesse dos seus alunos e por indispensável, porque valorizada na auditores militares para aquelas áreas do base da única fonte de legitimidade, ain- saber, embevecidos com a luminosidade da que necessitada de reformas que tarda- das sínteses substantivas, sem perder de vam, como não se cansava de sublinhar ..... vista os tais contextos de enquadramento ideias, valores e princípios que, realmente, e prospectiva. Tudo era escutado e absorvideixam marca indelével na elaboração do do com indisfarçável sofreguidão, porque a nosso próprio entendimento das coisas e outra dimensão de “mestre” conseguia pedo mundo. Como esquecer, ainda, o convívio e as fascinantes conversas durante o almoço, após as aulas, com a direcção do Instituto e estudantes convidados, retomando amiúde temas debatidos durante a segunda hora de exposição, outras vezes deambulando pelos episódios e peripécias das suas trajectórias política e académica, preenchidas de múltiplos cargos e responsabilidades públicas? Não há oficial de Edifício na Junqueira onde funcionou desde 1960 a 2005 o ISNG. Marinha que prescinda do registo em memória desses pri- netrar nos oficiais com os seus exemplares vilegiados momentos de gastronómico e conceitos “operacionais”, de enorme acutilância interpretativa do “modelo obsercultural convívio. Tudo isto constitui o acervo legatório do vado”. Quem esqueceu ou nunca invocou Mestre, que, como um simples professor do a “soberania de serviço”, o “Estado exíguo”, a Instituto, nunca se eximiu a aceitar solici- “revolta dos passivos”, as “comunidades transtação, incumbência ou horário que a “sua fronteiriças”, as “colónias interiores”, a “relaescola” lhe propusesse, atitude tanto mais ção de confiança”, a “governança mundial”, o de enaltecer quanto mais elevado ia sendo “tempo tríbulo”, só para lembrar algumas o estatuto universitário e aura académica. das sumarentas expressões, que muito faciDo doutrinador – para esta dimensão litavam a compreensão do enquadramento alinham-se alguns elementos que procu- e descodificação de cenários geopolíticos e ram sintetizar a proeminência da figura e geoestratégicos, que o exercício de funções o “magistério de influência” exercido pelo militares não dispensava, especialmente Professor Adriano Moreira, numa cons- em contexto internacionalizado. Tudo isto fluía em perfeita harmonia e tante preocupação de estimular os seus estudantes na organização de pistas para clareza, nas conferências e em aulas com interpretar a fenomenologia do relaciona- uma primeira metade dedicada à exposição mento dos agentes soberanos e lidar com do tema curricular e a segunda consagrada a perspectiva de evolução dos problemas ao debate interactivo com os alunos, moe acontecimentos internacionais, em cujo mentos sempre ansiados, porque alicianquadro se inscreve tantas vezes a utilização tes, dir-se-iam mesmo mágicos e, por isso, das FA´s e da Marinha muito especialmen- consumidos com enorme avidez, suscitada te. Fazia-o, recorrendo, instrumentalmente, pela modernidade dos temas, densidade aos seus eficazes “conceitos operacionais” da comunicação, interesse dos debates ..... e “modelos observantes”, que nos entre- com o inoportuno, mas inevitável, escoa abriam perspectivas explicativas de uma mento do tempo. No intervalo, também actividades conexas, de toda essa multifaCarta esta, que mereceu do CEMA a res- complicado dispensar a Referência em que o Secetada intervenção resultou uma cobertu- posta justa, porque também ela revelado- nhor Professor se constitui no âmbito do Corpo de ra eficaz e um tratamento consistente das ra do sentimento de elevada consideração, Oficiais da Armada .... Cumprirei como solicitado questões relativas às áreas da Defesa e da respeito e estima, e que aqui se resume: “.... para, oficialmente, dar por finda a sua função de Segurança, onde o instrumento militar e o O Senhor Professor sabe que faz parte do patri- Professor ...... No entanto, rogo-lhe que mantenha processo da modernização das FA´s têm mónio de afectos de todos que prestaram serviço a sua disponibilidade para podermos contar com presença destacada. no Instituto, principalmente dos que tiveram o o Senhor Professor na qualidade de conferencisAinda neste capítulo, permanecem igual- privilégio de terem sido seus auditores e alunos ta e, mais do que isso, como Amigo e Artífice da mente como activos importantes daconstrução de uma Marinha sempre mequela acção, a já aflorada orientação lhor ....”. E, assim, tem sucedido e cone supervisão que dedicou à realização tinuado, como o comprova a recente de estudos e trabalhos de investigação investidura, sob o decisivo impulso do dos corpos docente e discente, assim Prof. Adriano Moreira, dos Almirantes como o brilhantismo que emprestou Vieira Matias e Ferraz Sacchetti, como às sessões solenes de abertura do anos académicos da Academia das Ciências lectivo, em especial quando convide Lisboa, na esteira dos anteriores redado para proferir a lição inaugural, presentantes da Marinha naquela presa última das quais, no início do ano tigiada instituição da cultura portuguelectivo 2002/03, tratou o tema, semsa e grandes vultos de marinheiros que pre actual e omnipresente, dos “Enforam os Almirantes Gago Coutinho e contros e desencontros na história das Sarmento Rodrigues. Eis mais um bom nações ibéricas”. exemplo da reciprocidade intrínseca, o Da referência - para além da marca “académico almirante” a apadrinhar do mestre e doutrinador, o Professor “almirantes académicos”. Adriano Moreira constituiu-se, ainda, No final e em jeito de balanço, percomo uma referência. Referência para manece o sabor doce e indestrutível o trabalho persistente da Marinha no das memórias, dos encantos e dos desenvolvimento dos conceitos e funafectos. Das memórias, de uma instidamentos de uma doutrina estratégica tuição da Marinha que já foi (o ISNG), naval e de uma estratégia portuguesa do convívio e dos ensinamentos do assente nos nossos valiosos atributos Mestre que preparou os oficiais da da “maritimidade”, do “atlantismo” e Armada a aprender sobre o devir de da “lusofonia”, pilares estruturantes Portugal e do mundo. Dos encantos, de um conceito estratégico nacional da convivência, das conferências, das que sempre lhe cogitou o pensamenaulas, das lições do Mestre que, felizO Professor Adriano Moreira na abertura do ano lectivo no ISNG em to e enformou os seus textos, fazendo mente e em boa hora, aceitou ser um 6 de Novembro de 2002. dele um expoente da academia portudos professores do seu corpo docente, guesa nos diversos saberes, nomeadamente .... É muito difícil encontrar forma de reconhecer para lhe conferir todo o prestígio que colonos domínios da geopolítica e da estratégia. cabalmente a gratidão da Marinha pelos serviços cou incondicionalmente ao serviço daquela Referência, também, para a necessidade de prestados por Vossa Excelência. Mas é ainda mais que desejou e sentiu sempre como a “sua” um esforço permanente no plano da teoricasa. Dos afectos, de continuados e enrização, da elaboração de um conceito estraquecedores anos de privilegiado convívio tégico e da afirmação do papel “evangelie conivente entendimento. Tempos da ligação à Marinha zador” da maritimidade e vocação atlântica O seu grande amigo e também trans1958 – Início da colaboração como do país, da preservação do elo transatlânmontano, Almirante Sarmento Rodrigues, Conferencista; tico, da reinventada comunidade lusófona no texto que escreveu sobre o contra-torpe1968 - Contrato Cargo Professor em do “Mar Moreno” com que baptizou o Sul deiro “Lima”, sob o seu comando, em 1944, 04JAN1968 (Decreto-Lei do Ministro da do Atlântico. Referência, ainda, e aqui volintitulado “O seu navio e os seus heróis”, defiMarinha, publicado no DG II Série, n.º tamos ao “eixo” da roda, de princípios e niu, no contexto do “nosso navio”, os “ho30, de 05FEV68, com a concordância do valores, entre os muitos que preenchem a mens da Marinha” como sendo aqueles que Ministro da Educação); sua vida, como os da dignidade e do senti“.... têm o privilégio de passar noites infernais 1975 – Despacho ME, de 16JUL1975, do institucional e ético de serviço público, sob tormenta, sem um queixume e, sobretudo, a sanear ope-legis ; bem retratados na preocupada diligência sem que ninguém pense que pode ser pago em 1980 – Despacho ME, de 16JUL1975, visando desobrigar a Marinha de vínculos moedas tão imaterial sacrifício; .... que dia-a-dia revogado extunc (à posteriori), conforcontratuais aquando da iminente publicaaprendem a lutar lealmente com mares e ventos; me Resolução do CR, de 23MAR1976, ção do diploma de extinção do ISNG, atraque podem, em toda a sua magnitude, sentir a na sequência de parecer da Comissão vés de carta dirigida ao Almirante Chefe dureza e fragilidade da vida; que preferem ao de Análise e Recurso, transmitida por do Estado-Maior da Armada (CEMA). Reconforto o risco, a miséria ao luxo, a honra ao Ofício de 28JUL1980; cupera-se, a título ilustrativo, a ideia central dinheiro ....”. Pois bem, a Marinha sabe que 1980 – re-início da actividade docenda missiva: “..... No dia 29 de Setembro (2005) o Professor Adriano Moreira se irmana do te com os Cursos Navais de Guerra do estarei presente nas cerimónias que marcarão a “espírito e honraria de pertencer ao navio”, ano lectivo 1980/81 extinção do ISNG, ao qual está ligada muito da a mesma Marinha que se honra e envaide1987 – Despacho Conjunto MDN/ minha vida, do meu afecto, da minha gratidão, ce de o considerar, por razão de gratidão MF, de 07AGO1987, a regular remudo meu serviço público .... Peço que V. Ex.ª dê e absoluto merecimento, como “destacado nerações; oficialmente por finda a minha função de Promembro da sua guarnição”, o seu “Almi1987 – Contrato de 1 ano renovável, fessor com efeito na mesma data, entre outras rante (de) cinco estrelas”. com Despacho Director ISNG (V/Alm. razões porque me conforta simbolicamente o Sacchetti); sentimento de ter acompanhado a minha EscoA. C. Rebelo Duarte VALM la até ao último dia ...”; Revista da Armada • DEZEMbro 2008 17 CONCEITO ESTRATÉGICO NACIONAL C Contributo para o processo de formulação ompletam-se este trimestre 50 anos de magistério do professor doutor Adriano Moreira na Marinha. Ao longo deste período foram muitos os oficiais que beneficiaram das suas extraordinárias lições, onde tratou com inigualável mestria temas de ciência política, de relações internacionais, de geopolítica e de estratégia. Por isso, a justa e oportuna homenagem da Marinha. Como modesto tributo de gratidão pessoal, apresento este artigo sobre o conceito estratégico nacional, orientação objectiva e geral para a construção do futuro de Portugal, cuja necessidade o senhor professor vem proclamando com tanta intensidade e persistência, a ponto de se poder considerar actualmente a sua mensagem política e académica mais forte. Em todos os países deve existir uma visão estratégica para o futuro. Isto é, um sentido amplamente partilhado de quem se é, do que se valoriza, da direcção e dos propósitos nacionais, afirmado de forma convicta e determinada pelos líderes nacionais. A condução de um país no sentido dessa visão, implica a existência de um conceito estratégico nacional, que estabeleça as ideias estratégicas fundamentais para orientar as acções públicas e privadas, destinadas a alcançar ou manter os objectivos nacionais permanentes, de tal forma que seja difícil aos seus contendores provocarem-lhe prejuízos significativos. Até 1974 Portugal dispôs de três conceitos estratégicos nacionais, decorrentes de outras tantas visões estratégicas: a da fundação da Nação; a da expansão ultramarina; e a da exploração imperial. O primeiro vigorou entre o início da conquista do território peninsular e a assumpção do português como língua oficial. O segundo prevaleceu a partir da organização permanente da marinha de guerra e culminou com a proibição de construção de fortalezas no Oriente. O terceiro surgiu com a exploração económica do Brasil e entrou em ruptura com a independência das colónias. Como notou o Professor Adriano Moreira, uma leitura atenta dos Lusíadas permite identificar as três missões estratégicas e os conceitos estratégicos adoptados para fundar, expandir e sustentar Portugal. O processo de desenvolvimento destes três conceitos estratégicos nacionais possui como principais características comuns: a longa gestação das respectivas ideias estratégicas fundamentais; a considerável vigência temporal; e 18 DEZEMbro 2008 • Revista da Armada um ponto culminante que é, simultaneamente, de ruptura desencadeada pelo decisor político máximo. Este, sem desprezar as realizações do passado, afirma uma nova visão estratégica para o futuro de Portugal, que implica a formulação de um novo conceito estratégico nacional. Nele são estabelecidas diversas ideias estratégicas fundamentais, que no passado, foram sempre uma expressão da inteligência de estrategistas visionários, dotados de intuição natural sobre como tirar partido do poder nacional e possuidores de um modo idiossincrático de pensar, no qual o país e as relações internacionais se fundem em interacção dinâmica. Por isso, puderam sintetizar com gran- de oportunidade, clareza e acerto, o conceito estratégico nacional que viabilizou a materialização dos objectivos nacionais permanentes, apesar das circunstâncias do seu tempo. A revolução do 25 de Abril, de que resultou a independência das colónias, foi o último grande momento de ruptura estratégica nacional, que desencadeou uma nova visão estratégica centrada na afirmação europeia. Ciente das principais características comuns do processo de desenvolvimento dos anteriores conceitos estratégicos nacionais, o professor Adriano Moreira tem sido incansável no seu apostolado político e académico, chamando continuamente a atenção dos responsáveis nacionais para a importância e urgência da definição clara das ideias estratégicas fundamentais para orientar as acções de Portugal e dos Portugueses nos próximos séculos. Porém, os estrategistas visionários, capazes de, por si sós, procederem com oportunidade, clareza, acerto e aceitabilidade às sínteses conceptuais daquelas ideias, são muito raros em todos os países. Em presença desta realidade, colocam-se duas possibilidades aos nossos governantes. Na primeira opção, os governantes aceitam naturalmente a dificuldade do processo de desenvolvimento dos conceitos estratégicos nacionais, decorrente da raridade dos estra- tegistas visionários. Nestas circunstâncias, até que surja um dotado de inteligência invulgar e de capacidade para produzir as ideias estratégicas fundamentais, o destino nacional será conduzido tendo como referência os objectivos políticos de curto prazo de cada Governo eleito, o que provoca frequentes variações de rumo e dificulta a concretização dos objectivos nacionais permanentes. No fundo, é como fazer uma longa viagem marítima em busca de melhores paragens, utilizando um navio de considerável porte, navegando sempre junto a terra, em águas restritas. A velocidade é menor, pelo que se gasta mais tempo. O esforço é maior, porque a tripulação está a “bordadas”. O perigo é maior, porque os riscos de acidente aumentam muito, sobretudo se os documentos náuticos estiverem desactualizados, ou não existirem, ou se o mar se levantar subitamente. Ora, isto tem como consequência prometerem ‑se muitas coisas e poucas se cumprirem, muitas se começarem e poucas se concluírem, muitas se anunciarem e poucas se conhecerem quanto à sua real exequibilidade. Na segunda opção, os governantes subordinam as grandes realizações nacionais, ligadas à visão estratégica para o futuro de Portugal, a um conceito estratégico nacional que as desenvolve e concretiza através de planos estratégicos estruturados, aprovados, flexíveis e plurianuais, focalizados na resolução dos problemas postos à construção de um país melhor. Neste modelo, a edificação progressiva do futuro nacional é feita com a garantia de estabilidade de uma obra assente em princípios, orientações e medidas, os quais asseguram que a melhoria do país se realizará e perdurará. Neste caso, é como se a viagem marítima no navio de grande porte fosse feita em alto mar, à velocidade económica, com a tripulação a “quatro quartos” e dispondo de bons documentos náuticos. Mesmo que o mar se levante repentinamente há maior capacidade para superar a tormenta. Por isso, esta opção é inquestionavelmente melhor. Todavia, obriga a estabelecer um processo racional de trabalho liderado e executado por estrategistas, que facilite o aparecimento de empreendimentos cooperativos e de perícias complementares, destinados a promover a formulação célere das ideias estratégicas fundamentais que darão corpo ao conceito estratégico nacional que Portugal tanto necessita. Com base nele, os estrategas, públicos e privados, conseguirão operacionalizar os correspondentes planos estratégicos. Na tentativa de contribuir para a definição do processo de trabalho racional antes referido, e com base em investigações próprias recentemente concluídas, parece aceitável afirmar que pode ser iniciado com a conjugação dos resultados das apreciações dos ambiente interno e externo do país, efectuada, por exemplo, com recurso à técnica da matriz SWOT (strenghts, weakness, opportunities, threats, ou seja, potencialidades, vulnerabilidades, oportunidades e ameaças). Tendo presente a visão estratégica adoptada, utiliza-se esta matriz para cruzar as ameaças e as oportunidades do ambiente externo, com as potencialidades e as vulnerabilidades do ambiente interno, de forma a obter quatro conjuntos de ideias estratégicas fundamentais, verdadeiramente alternativas e nacionais, destinadas a orientar as acções públicas e privadas na construção do devir colectivo. Essas ideias estratégicas são essenciais: no emprego das potencialidades para usufruir as oportunidades, adoptando uma postura ofensiva; na exploração das oportunidades para corrigir as vulnerabilidades, perfilhando uma postura de manutenção; na aplicação das potencialidades para superar ameaças, elegendo uma postura defensiva; na correcção das vulnerabilidades para superar ameaças, escolhendo uma postura de retirada. A postura ofensiva está associada à predominância de oportunidades, que permitem pôr em prática acções estratégicas que tiram partido das potencialidades nacionais, de forma a empregá-las, preferencialmente, no exterior. A postura ofensiva mais forte, corresponde à intensa diversificação dos empenhamentos externos do país. Como tal, só as grandes potências conseguem pôr em prática estas acções, que exigem muitos recursos e capacidades para influenciar decisivamente o ambiente externo, de forma a usufruírem das oportunidades que apresenta. A postura de manutenção é adoptada quando, apesar de haver predominância de vulnerabilidades, o ambiente proporciona, mesmo assim, bastantes oportunidades que podem ser exploradas. Nesta situação, são lançadas novas acções estratégicas que, ao corrigirem as vulnerabilidades, permitem um desempenho estratégico estável, que garante a continuação da exploração de oportunidades proporcionadas pelo ambiente externo. A adopção da postura de manutenção está associada, essencialmente, aos aspectos económicos e diplomáticos de internacionalização das actividades do país. A postura defensiva é usada quando se podem identificar ameaças, mas o país possui um conjunto razoável de potencialidades, que lhe permitem conservar a posição alcançada. Para isso, internamente procura-se consolidar as potencialidades e minimizar vulnerabilidades. Relativamente aos contendores, visa-se maximizar e explorar as suas vulnerabilidades e minimizar e degradar as suas potencialidades. A postura defensiva não obriga a grandes reduções nos esforços para alcançar os objectivos nacionais permanentes nas áreas do progresso e bem-estar. Mostra-se adequada para fazer face a dificuldades moderadas, quando o risco é enfrentável. A postura de retirada é adoptada como última alternativa, quando os ambientes interno e externo são adversos, isto é, apresentam, respectivamente, um elevado índice de vulnerabilidades e ameaças, sendo o risco alto e associado a situações de crise ou de declínio nacional. Numa acção deste tipo, o país concentra todos os seus recursos e apoios na correcção das principais vulnerabilidades e na superação das ameaças mais graves, que o podem aniquilar. Para isso, os cidadãos abdicam dos seus anseios na área do desen- volvimento e realizam esforços decisivos na área da segurança. Desta forma, procuram garantir a sobrevivência do Estado. Por exigir grandes sacrifícios, a postura de retirada não pode ser mantida indefinidamente como um objectivo nacional permanente do tipo “sobreviver por sobreviver”. Do exposto resulta que as acções públicas e privadas devem ser posicionadas segundo as quatro ideias estratégicas identificadas, correspondendo cada uma delas a uma determinada postura estratégica nacional. Cabe ao Governo decidir e gerir as principais acções nacionais, de modo a que os objectivos nacionais permanentes se encontrem, preferencialmente, na zona de postura ofensiva, evitando, ao máximo, a zona da postura de retirada. É neste contexto que o conceito estratégico nacional dá orientação sobre o caminho que deve ser seguido e dos esforços que precisam de ser realizados para a materialização dos objectivos nacionais permanentes. Porém, o conceito estratégico nacional também é essencial para consubstanciar a energia fundamental, o impulso permanente e o compromisso de todos os portugueses para tornar o país bem sucedido naquelas acções. Para esse efeito, alinha as múltiplas perspectivas dos diferentes grupos sociais, para que sejam partilhadas por todos, requisito essencial para garantir a sua participação e compromisso na materialização dos objectivos nacionais permanentes. Nestas circunstâncias, conforme refere o professor Adriano Moreira, sem um novo conceito estratégico nacional é muito difícil, senão impossível, a estruturação das acções públicas e privadas, orientadas para a construção de um futuro para Portugal mais seguro e com maior desenvolvimento. António Silva Ribeiro CALM XIVª Reunião Internacional de História da Náutica N o passado mês de Outubro, teve lugar no Departamento de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, a XIVª Reunião Internacional de História da Náutica, contando com a presença de trinta e seis conferencistas, representando países como Alemanha, Canadá, Espanha, Estados Unidos, Hungria, Itália, Marrocos, México, Portugal e Reino Unido. O estudo e investigação no âmbito da História da Náutica é algo que nos transporta aos fundamentos científicos do que foi a actividade marítima ao longo dos séculos, e interessa particularmente à nossa Marinha, que sempre apoiou esta disciplina. Os trabalhos abriram no dia 23, pelas 10 horas, com uma sessão solene presidida pelo Prof Doutor Luís Meneses, representante do Reitor da Universidade de Coimbra e Vice-Presidente do Conselho Directivo da Faculdade de Ciências e Tecnologia que saudou os presentes dando-lhes as boas vindas e salientando a satisfação da Universidade e da Faculdade em ter presente uma reunião que repete, quarenta anos depois, a iniciativa levada a cabo pelos Professores Armando Cortesão e Luís Albuquerque. Na mesma sessão usaram da Palavra a Profª. Doutora Maria da Nazaré Mendes Lopes, Presidente do Departamento de Matemática, e o Prof. Doutor Francisco Contente Domingues, Presidente da Comissão Internacional de História da Náutica. Seguiram-se três intensos dias de trabalho, com sessões que abordaram temas de arqueologia e construção naval, cartografia, ciência náutica (propriamente dita), historiografia e outros temas associados às explorações marítimas e navegações do passado, suscitando debates vivos e diversificados, como seria de esperar do amplo leque de nacionalidades presentes. A Marinha Portuguesa marcou a sua presença nas sessões, com as conferências feitas por seis Oficiais, e com a colaboração permanente de dois cadetes da Escola Naval no respectivo secretariado. Na noite de dia 25 – terminados que foram os trabalhos – teve lugar no Convento de S. Francisco um excelente concerto da Banda da Armada organizado em colaboração com a Empresa Municipal de Turismo de Coimbra. O espectáculo foi aberto à população, contou com a presença do Presidente da Câmara de Coimbra, Dr. Carlos Encarnação. Revista da Armada • DEZEMbro 2008 19 Estratégia, Poder e Inovação INTRODUÇÃO O Senhor Professor Doutor Adriano Moreira ensinou ‑nos que as nossas deci sões devem ser susten tadas numa ciência de acção e não em julgamen tos intuitivos. Esta mesma mensagem tem procura do passar aos nossos go vernantes, no sentido de se elaborar um conceito estratégico nacional, que permita desenvolver uma grande estratégia nacio nal. O Senhor Professor bem sabe que a realidade da vida moderna, do am biente agónico em que vivemos e a intensa competição entre os di versos actores do sistema internacional não permite que os Estados baseiem as suas de cisões em julgamentos intuitivos, capazes de gerarem riscos enormes. Para promover um determinado futuro, o Estado tem de saber empregar as (sempre limitadas) potenciali dades, corrigir as vulnerabilidades, superar problemas e explorar eventualidades. O Almirante Silva Ribeiro demonstra a importância de um Conceito Estratégico Na cional. Mostra claramente a necessidade de uma ciência de acção (estratégia) para en frentar as dificuldades e permitir tomar, em tempo, as melhores decisões. Aproveitando este contexto, que outra per gunta se poderia fazer senão: qual é o papel das Forças Armadas na estratégia do Estado? Como podem aumentar o seu potencial? A ESTRATÉGIA Ao mais alto nível do Estado é a acção es tratégica que consegue articular com coerên cia os meios nacionais de natureza política, económica, psicossocial e militar, no espaço e no tempo de acção para, em situações de dis puta internacional, materializar os objectivos nacionais. A estratégia tem sempre associada a divergência nas relações internacionais e pressupõe o potencial uso da força. Encon tramos aqui o papel principal das Forças Ar madas enquanto instrumento fundamental de um país. Como demonstrou o Almirante Sil va Ribeiro, um Estado pequeno não pode ter muitos objectivos nacionais e não podem ser demasiadamente ambiciosos. Se atentarmos nas definições de Poder encontramos justifi cação para esta aproximação. O PODER “…. Capacidade de fazer cumprir” Adriano Moreira 20 DEZEMbro 2008 • Revista da Armada “... Capacidade de uma unidade política impor a sua vontade às outras unidades” Raymond Aron “A capacidade de uma nação para usar os seus recursos, de modo a afectar o compor tamento de outras nações” J. Stoessinger Para Max Weber o poder é a capacidade de obrigar, o que implica coacção. Para Nor berto Bobbio o poder é a capacidade de in fluenciar, podendo implicar também meios de persuasão. O Poder surge sempre como relativo (a ou tro), como capacidade de influenciar as ac ções dos outros de uma forma previsível. Numa interpretação, porventura simplis ta, pode dizer-se que o Poder tem uma ex pressão violenta, depende das qualidades de quem o exerce, evolui constantemente, tem um carácter multifacetado e desgasta-se com a aplicação à distância. Além disso, quanto maior, maior é a ambição e a tendência para uma actuação isolada. O Poder na política externa designa-se por Poder Nacional, na política interna designase por Poder Governativo. O Poder Governa tivo é responsável por organizar, fortalecer e aplicar o Poder Nacional. Para Hans J. Morgenthau os elementos constitutivos do Poder Nacional são: • A Terra (espaço geográfico situado); • Os Recursos Naturais; • A Capacidade Industrial; • A Preparação Militar; • A População (a demografia); • O Temperamento Nacional (carácter); • Espírito Nacional (moral); • A Diplomacia; • O Governo (o carácter e a capacidade do Poder Governativo). A Escola Superior de Guerra do Brasil tem uma boa definição de Poder Nacional: “Expressão integrada dos meios de toda a ordem de que dispõe a nação, accionados pela vontade nacional, para alcançar e manter, interna e externa mente, os objectivos na cionais.”. Nas relações internacio nais a função do Poder é fazer prevalecer o interes se nacional de um Esta do sobre o dos outros. O que mais importa é a per cepção de poder de uns relativamente a outros. No limite, o Poder pode usar meios militares. Para se ter Poder, é preciso ter Força. A política internacional tem sido, até hoje, dominada e orientada pela procura do Poder, isto é, pela afirma ção do Poder Nacional de um Estado sobre o Poder Nacional de outros Estados. Não se trata apenas de garantir a soberania mas sim de a afirmar. Em resumo, pode dizer-se que para um Es tado atingir objectivos nas relações interna cionais precisa de ter Poder, por isso precisa de ter Força e desta forma Forças Armadas. O PAPEL DAS FORÇAS ARMADAS As Forças Armadas desempenham mui tas missões para o Estado, a principal delas é controlar acontecimentos. É assim neces sário que tenham uma visão clara do que se está a passar no Mundo e que estejam preparadas para intervir com oportunidade, eficácia e eficiência na defesa dos interesses nacionais. Tal só é possível se forem altamen te tecnológicas e contarem com profissio nais com elevadas capacidades intelectuais e morais. Esta capacidade só emerge se as Forças Armadas se mantiverem em perma nente transformação. O QUE A HISTÓRIA NOS ENSINOU. As transformações militares de sucesso resultaram sempre em novas capacidades de combate, o que quase sempre implicou mudanças em algumas ou em todas as com ponentes principais: tecnologia, processos, organização e pessoal. Há muitos exemplos em que a vantagem competitiva resultou da exploração de apenas uma inovação, numa componente chave. De entre os exemplos, citam-se a Falange Romana (inovação orga nizacional), a pólvora (inovação tecnológi ca), a criptografia (inovação processual) e os exércitos profissionais (inovação ao nível do pessoal). Na maior parte das vezes, a inova ção ao nível de uma só componente não foi suficiente para determinar superioridade de luz de ameaça externa incluem: a táctica ale coerência táctica. A formação dos oficiais combate. Mas a conjugação de várias ino mã de tropas de assalto do General Erich von na Kriegsakademie passou a seleccionar os vações ao nível da tecnologia, do proces Ludendorff durante a Primeira Guerra Mun oficiais numa base de competição, de 120 so, da organização e do pessoal permitiram dial, a criação de porta-aviões americanos no oficiais admitidos apenas 40 terminavam o uma nova capacidade de combate de enor período entre-guerras e a implementação da curso e desses o General Moltke escolhia me magnitude (que corresponde a um factor guerra de manobra descentralizada pelo Pa 12 para o Estado-Maior General. O treino, de mudança dez) num domínio militar vital. raguai durante a Guerra do Chaco, de 1931 a prática e a acção em que participavam Esta multiplicação por dez ocorreu com o a 1935. Em cada um desses casos as organi era sempre alvo de análise, o que permitiu aparecimento do porta-aviões (alcance do zações militares mudaram radicalmente uma a elaboração inovadora de uma doutrina ataque), das unidades de combate mecani boa parte da sua doutrina, organização e ta militar coerente que podemos observar no zadas (velocidade de manobra) e da defesa refas funcionais para criarem forças comba Manual de Moltke de 1869, Instruções para aérea (alcance da detecção). tentes mais eficazes. Comandantes de Grandes Unidades. Esta or No início da 2ª Guerra Mundial só o exér No entanto, a simples existência de apa ganização, liderança, planeamento, treino e cito alemão foi capaz de combinar com su rente ameaça não é suficiente para ga articulação com o desenvolvimento interno, cesso a inovação tecnológica com as inova rantir que a inovação ocorrerá. É preciso, nomeadamente com o sistema ferroviário, ções processuais e organizacionais, criando também, que os líderes tenham completa justificam o rápido sucesso nas Guerras de novas capacidades de combate. A combi compreensão da ameaça e dos limites do Unificação Alemã e na Guerra Franco-Prus nação dos carros de combate com a infan ambiente do campo de batalha em que es siana. Este mesmo espírito ainda pôde ser ob taria, o uso eficaz do rádio e o apoio aéreo, tão a operar. Sem este conhecimento a ino servado mais tarde no período entre-guerras, permitiu aos alemães conquistarem rapida vação pode ser mal dirigida ou inexistente. a cultura de liderança alemã foi muito recep mente não só a Polónia, tiva ao novo pensamento em 1939, mas também a dos oficiais subalternos, o França em 1940. As forças que veio a permitir criar e mecanizadas dos exércitos empregar uma nova dou alemães percorriam cen trina. As Forças Armadas tenas de quilómetros por britânicas, contudo, per dia enquanto os exércitos maneceram instituciona inimigos, que combatiam lizadas e reprimiram ino a pé ou a cavalo, apenas vações referentes à guerra conseguiam umas dezenas mecanizada. de quilómetros por dia. Tal como nos ensinou O exército britânico e Moltke, o ensino é vital o francês também tinham para garantir que a organi carros de combate mas zação militar possa explo não souberam explorar as rar a atmosfera inovadora suas formas de emprego. O cultivada pela liderança. que parecem ser questões Devem existir programas processuais e organizacio que forneçam ao soldado, nais relativamente simples ao longo de sua carreira, O aparecimento do submarino e do porta-aviões alterou radicalmente a balança do Poder. eram, na altura, objecto de treino técnico-organiza grandes divergências no seio dos exércitos São exemplos deste ponto a confiança do cional e doutrinário de vanguarda. A aná britânico e francês, impedindo a sua evo Exército Confederado na doutrina ofensiva, lise crítica e cuidadosa de exemplos his lução. As divergências quanto às mudanças durante a Guerra de Secessão Americana, tóricos ajuda a valorizar a importância da processuais relacionavam-se com a questão a decisão alemã de abandonar o desenvol inovação. Os programas de ensino têm de de saber se os carros de combate deveriam vimento de submarinos durante o período ser permanentemente actualizados, pois só apoiar a infantaria ou vice‑versa. O elemen entre‑guerras. assim evitarão a estagnação do pensamen to humano era fulcral nesta discussão, cujo A Política Governativa também pode afec to progressivo dentro das Forças Armadas. A resultado determinaria a manutenção, o re tar a capacidade de inovar das Forças Ar cópia das boas práticas de outras Forças Ar forço ou a diminuição da importância das madas já que a liderança civil determina os madas é importante, pelo que se deve pro elites combatentes da época - a infantaria e objectivos nacionais e pode configurar as or mover a participação em exercícios e mis a cavalaria. A partir do momento em que as ganizações militares. Esses líderes são, eles sões internacionais. inovações tecnológicas e processuais iniciais próprios, influenciados pela opinião popu Enquanto a competição e o debate po foram aceites no exército alemão passou-se lar, pelas pressões internacionais e pelas suas tenciam o pensamento inovador, a burocra à definição da melhor organização, ou seja, próprias experiências. cia pode estar a trabalhar para anular estes a definir-se qual a dimensão das unidades Historicamente, os aspectos institucionais avanços. O desenvolvimento do apoio aé mecanizadas que deveriam ser criadas (bri internos de uma organização militar têm reo próximo nas tácticas de blitzkrieg da gadas ou divisões Panzer). maior influência na inovação militar do que Segunda Guerra Mundial, pelo Exército e os factores externos. Quando a liderança Força Aérea alemães, apresenta um grande militar favoreceu um ambiente de descen exemplo de como a combinação de análise COMO ACONTECE A INOVAÇÃO tralização e um pensamento criador, a ino crítica com atitude cooperadora pode levar MILITAR? vação esteve mais prevalecente do que em à inovação positiva. Em sentido contrário, o A presença de uma ameaça externa sig ambientes tradicionais altamente centraliza exemplo britânico de rivalidade de Forças, nificativa aparece em numerosos casos de dos. Encorajar o pensamento inovador, con entre a Royal Air Force e a Royal Navy, levou inovação militar. Há exemplos disto tanto tudo, não basta. a um impasse na inovação dos porta-aviões em ambientes de guerra como de paz, assim Um exemplo muito interessante é o da logo após a sua concepção. Esta rivalidade como no rescaldo de uma derrota ou vitó criação do Estado-Maior General pelo Ge também impediu inovações tanto no ataque ria. Estes factores, no entanto, não parecem neral Prussiano Moltke, que procurou um aéreo com torpedos, como no bombardea tão importantes como a existência de uma método mais informal de organização para mento picado, tudo isto limitando a eficácia ameaça aparente. Exemplos de inovação à poder criar eficácia operacional e assegurar britânica global de combate. Revista da Armada • DEZEMbro 2008 21 COMO AUMENTAR O POTENCIAL (FORÇA) DAS FORÇAS ARMADAS? Muitos pensarão, de imediato, que bas taria assegurar financiamento para a aqui sição de armamento moderno e para bons vencimentos, que cativassem os melhores profissionais. É bem verdade que ajuda ria muito, mas, como já vimos, não é sufi ciente. O caminho que se está a explorar é o da obtenção de potencial através da di ferenciação, que é essencialmente obtida por inovação (tecnológica, organizacional e processual). As Forças Armadas precisam de uma or ganização burocrática, com uma estrutura organizacional bem definida, para respon derem bem, em especial, nas situações de crise, conflito ou guerra. Nas Forças Arma das nunca se podem perder os dois pilares fundamentais que são a hierarquia (lide rança) e a confiança. Idealmente, as Forças Armadas devem ser do tipo “burocracia aprendente” na perspectiva envolvente de que compete a todos melhorar o sistema, embora seja muito difícil combinar a com plexidade da organização com a comple xidade das pessoas. A componente humana da mudança é o factor mais complexo na transformação, in dependentemente de se tratar do sector pri vado, público ou militar. Por conseguinte, os líderes responsáveis por mudanças têm de se concentrar no elemento humano e na sua realização profissional. O poder do significado (símbolos) está também muito ligado à liderança e deve ser promovido numa perspectiva unificadora e moralizadora da transformação. A arte e a ciência devem unir-se para as segurar a competitividade. Deve procurar criar-se um pensamento estratégico dife renciador, gerir uma organização como se gere a acção estratégica. Idealmente deve conseguir-se um modelo de ciclo estratégi co (análise de ambiente, formulação estra tégica, operacionalização, controlo e re troacção) simples na complexidade, mas meticuloso na abrangência. O Poder é a capacidade e a Política é o Poder em acção. A Política nas organiza ções tende a ser vista como um fenómeno desestabilizador, disfuncional e altamente pernicioso para as organizações, no entan to, a habilidade política positiva permite a criação de redes sociais que são fundamen tais para fazer valer ideias inovadoras. As sim, quer internamente, quer externamente, devem promover-se as redes sociais que in fluenciam o comportamento dos outros. A participação de militares em organiza ções civis deve assim ser vista como positiva para a inovação, na perspectiva da criação de redes de poder que influenciam. A comunicação organizacional tem de ser promovida para aproximar o que a es trutura organizacional distancia. A comuni cação interna pode ser promovida de uma forma eficaz através da tecnologia, nomea 22 DEZEMbro 2008 • Revista da Armada Asa voadora capaz de se auto-sustentar durante inúmeras horas, consumindo a energia gerada pelos painéis solares e acumulada em baterias. Pode-se imaginar que, no futuro, a Marinha tenha veículos deste tipo para patrulhar a costa, bem como assegurar a retransmissão de comunicações de alto débito (vídeo) entre navios e terra (papel actual dos satélites dos países ricos). damente da Intranet, e através da criação de grupos multidisciplinares de estudo e reflexão, que incorporem elementos com diferentes valias e antiguidades. Temos de ter sempre presente que as tecnologias de informação e comunicação só são gera doras de potencial diferenciador se forem acompanhadas de inovação processual e organizacional. É assim que se pode fazer mais com menos, libertando alguns para se empenharem noutras actividades em preendedoras. A formação contínua e actualizada é fun damental para o espírito inovador. Assim se justifica a realização de cursos e acções de formação ao longo da carreira. Esta in teracção também promove as redes sociais que ajudam a apoiar o espírito inovador. A educação, como fenómeno abrangente, é fundamental para o desenvolvimento das faculdades físicas, morais e intelectuais, que nos permite perceber os outros. A participação em missões internacionais é importante, pois permite a percepção do que os outros fazem melhor ou pior do que nós. As melhores práticas, como aconte ceu com a ida dos navios Portugueses aos Operational Sea Training, são motivadoras de mudança e propulsionadores de trans formação interna. As redes sociais que se podem estabelecer para fora das Forças Armadas são sempre ge radoras de mais valias. Por exemplo, a Mari nha Portuguesa, no início da década de 80, decidiu dar um passo de gigante, na altura, ao avançar com a especificação técnica que serviu de base à concepção, desenvolvimen to e produção do primeiro Sistema Integrado de Controlo de Comunicações (SICC). Mais tarde, o desenvolvimento do MMHS (Mili tary Messaging Handling System) veio tam bém a revelar-se um sucesso. Este exemplo de parceria com empresas civis é um bom potenciador de inovação. Finalmente, importa também mencionar que se deve promover uma cultura organi zacional onde o mérito e a inovação sejam premiados. Deve haver recompensas para as boas ideias e mecanismos que promovam a sua validação e experimentação prática. CONSIDERAÇÕES FINAIS. Portugal precisa de compatibilizar os seus interesses nacionais com o seu Poder Na cional. Sendo um país com parcos recur sos devemos conciliar as nossas ambições com a liberdade de acção que uma peque na potência pode explorar (ocupar vazios de poder; diplomacia mais activa; uso do poder funcional; participação em alianças e cooperação; promoção da coesão inter na; participação na segurança internacio nal, etc). Para um Estado atingir objectivos nas re lações internacionais precisa de ter Poder. Para se ter Poder é preciso ter uma estraté gia que permita gerar recursos, organizar e empregar os meios. As Forças Armadas são um importante ins trumento de Poder. Para terem Poder têm de ter Força. Adquirir meios não chega, é pre ciso antecipar mudanças naturais em assun tos da esfera militar e da cooperação interna, através da combinação de conceitos, capaci dades, indivíduos e organizações, exploran do as forças da nação. Neste conceito está subjacente o Poder como capacidade de um país no domínio interno e externo. Não podendo ter todos os meios necessá rios importa explorar novas formas de fun cionamento e promover a inovação (tecno lógica, processual e organizacional) como forma de gerar vantagens estratégicas dife renciadoras no ambiente estratégico dinâ mico internacional. Neste contexto, a inovação manifesta-se se conseguirmos fazer melhor que outros e com menos esforço. Armando J. Dias Correia CFR INSTITUTO DE SOCORROS A NÁUFRAGOS T Balanço da Época Balnear 2008 erminada a época balnear de 2008, é chegada a altura de se fazer o balanço da actividade desenvolvida, divulgar os resultados, colher ensinamentos e sempre que adequado rever procedimentos. Neste sentido, no passado dia 7 de Outubro, nas instalações da Direcção de Faróis, realizou-se uma breve cerimónia para apresentação do balanço da época bal near 2008. Nesta cerimónia, presidida pelo DGAM/ CGPM VALM Silva Carreira, estiveram presentes o CALM SDGAM/2ºCGPM, o Director de Faróis, o Director do ISN, representantes dos diversos organismos com responsabilidade nesta área, representantes dos parceiros do ISN, na vertente da responsabilidade social, diversos convidados e Órgãos de Comunicação Social. Após umas breves palavras de boas vindas do Director do ISN, passou-se à apresentação do trabalho desenvolvido no âmbito quer da formação pelo Núcleo de Formação de Socorros a Náufragos, quer da certificação e inspecção da actividade dos nadadores-salvadores pelos serviços do ISN. Seguiu-se a apresentação dos dados estatísticos relativos aos acidentes ocorridos nas praias vigiadas e não vigiadas, inseridas nos espaços de jurisdição marítima, às acções de salvamento efectuadas pelos nadadores salvadores e aos projectos desenvolvidos em parceria com as entidades com as quais existem protocolos na vertente da responsabilidade social, nomeadamente a Mitsubishi Motors de Portugal, Fundação Vodafone e Samsung Portugal. Após esta apresentação, o VALM Silva Carreira, atribuiu duas Menções de Apreço a nadadores-salvadores, que se distinguiram pelas suas acções no âmbito do salvamento e assistência a banhistas, e proferiu uma breve alocução onde enfatizou a necessidade de se continuar a apostar na prevenção através de campanhas de sensibilização, na melhoria das condições para o exercício da actividade de nadador-salvador e no reforço da cooperação institucional entre os organismos intervenientes nesta área. Terminou manifestando apreço pela excelente colaboração prestada pelas entidades com as quais existem protocolos estabelecidos e fazendo votos para que as nossas praias sejam cada vez mais seguras. (Colaboração do ISN) Farol do Cabo Sardão D Protocolo com a Junta de Freguesia ecorrente da comunhão de interesses e de objectivos entre a Marinha e a Junta de Freguesia de S. Teotónio (Concelho de Odemira), foi assinado em 08 de Julho de 2006 um protocolo, permitindo a utilização da antiga casa do chefe do Farol do Cabo Sardão como infra-estrutura de apoio ao complexo desportivo da aldeia de Cavaleiro, contíguo ao farol e incentivador da prática desportiva pela juventude local. No âmbito da Marinha, o protocolo permitiu garantir a preservação do património e a dinamização e valorização da sua imagem junto das populações ribeirinhas, para além de englobar um importante e significativo conjunto de contrapartidas. As contrapartidas constantes do protocolo, cuja execução foram assumidas na sua globalidade pela autarquia local, incluíram: - a recuperação e futura manutenção da antiga casa do chefe do farol, mantendo a traça original; - a ligação do farol do Cabo Sardão às re- des públicas de abastecimento de água (cerca de 400 metros) e de esgotos (cerca de 500 metros); - a vedação da área delimitada do farol, em conformidade com a regulamentação do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, numa extensão de cerca de 400 metros. No cumprimento do protocolado, é da mais elementar justiça realçar e enaltecer a postu- ra extremamente digna, correcta, vertical e amiga do Presidente da Junta de Freguesia de São Teotónio, Sr. José Manuel Constantino, o qual cumpriu o serviço militar na Marinha como marinheiro telegrafista, com incorporação em Outubro de 1971. Para assinalar a conclusão das obras e, especialmente, para expressar publicamente o reconhecimento institucional pela excepcional postura e elevação de princípios sempre manifestada, destacando-se o facto de ter sido dada prioridade à conclusão prévia das contrapartidas com interesse directo para a Marinha, teve lugar no passado dia 24 de Junho de 2008 na Capitania do Porto de Sines uma cerimónia de merecida homenagem presidida pelo Valm Medeiros Alves, Director-Geral da Autoridade Marítima e Comandante-Geral da Polícia Marítima, na presença dos representantes da Direcção de Faróis, da Capitania e do Comando Local da Polícia Marítima. (Colaboração da DIRECÇÃO DE FARÓIS) Revista da Armada • DEZEMbro 2008 23 TOMADA DE POSSE DIRECTOR-GERAL DA AUTORIDADE MARÍTIMA E COMANDANTE-GERAL DA POLÍCIA MARÍTIMA acção do Estado no mar. Para tal, toma especial relevo a articulação entre a DGAM e o C N.” Mais adiante, disse ainda que: “No plano das colaborações com outros organismos, merecem-me especial realce os significativos passos dados com a celebração do protocolo com a Protecção Civil, no âmbito da salvaguarda da vida humana, e a constituição do Centro Coordenador Marítimo, agregando todos os principais actores com acção no mar, o que veio criar as condições necessárias à geração de múltiplas sinergias e consequente aumento da eficiência e eficácia no controlo e segurança dos espaços marítimos. (…)” Foto CAB L Figueiredo l Realizou-se no passado dia 29 de Julho, na Casa da Balança, a cerimónia da tomada de posse do VALM Silva Carreira como Director da Direcção-Geral da Autoridade Marítima (DGAM) e entrega de comando de Comandante-Geral da Polícia Marítima (CGPM). A sessão foi presidida pelo CEMA e Autoridade Marítima Nacional (AMN), ALM Melo Gomes, estando presentes as mais altas hierarquias da Marinha, a Governadora Civil de Lisboa, representantes de Autoridades e Departamentos Governamentais, nomeadamente, da Direcção-Geral de Política de Defesa Nacional, da Direcção-Geral de Infra-estruturas, da Direcção-Geral das Alfândegas e dos Impostos Especiais sobre o Consumo, da Direcção-Geral da Saúde, da PJ, da PSP, da GNR, do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa, do Instituto da Água, IP, do IPTM, IP, os directores dos diversos organismos dependentes e militares, militarizados e civis que prestam serviço na estrutura da AM. Das palavras proferidas pelo novo Director-Geral, é de salientar: “(…) Como base funcional das suas capacidades, a Autoridade Marítima integra a vigilância, a fiscalização e o exercício da polícia marítima cometido a uma força de polícia especializada e seu instrumento operacional.” Referiu ainda que: “Como quadros temáticos de intervenção, a AM inclui a salvaguarda da vida humana no mar, o salvamento marítimo, o socorro a náufragos e a assistência a banhistas, a segurança da navegação, o combate à depredação de recursos marinhos, a salvação marítima e a protecção e preservação dos recursos marinhos, sobretudo no patamar do combate à poluição do mar, bem como a função registral patrimonial marítima; (…)” O ALM CEMA, no seu discurso salientou que: “(…) A Marinha de Duplo Uso só pode ser fundada numa colaboração sã entre os diversos componentes que a constituem, numa genuína demonstração de unidade de propósito, potenciando assim a cooperação com outros organismos e agências do Estado e permitindo à Marinha assumir, pela competência, pela experiência de muitos anos e pela qualidade dos seus meios humanos e materiais, o papel de charneira que lhe compete na O VALM José Manuel Penteado e Silva Carreira entrou para a EN, tendo sido promovido a GMAR em 1972. Como oficial subalterno desempenhou funções em vários navios no NRP “ALM Pereira da Silva” em comissão na STANAVFORLANT, no NRP “Pico” e como oficial de guarnição e oficial imediato do NRP “Fogo”. Em 1974, iniciou carreira nos SS’s, tendo sido oficial de guarnição e imediato dos “Albacora”, “Barracuda” e “Delfim”. Comandou o NRP “Albacora”. Desempenhou diversos cargos na Esquadrilha e representou a Marinha em vários grupos de trabalho permanentes da NATO, designadamente o Submarine Escape and Rescue WorKing Party e a NATO Submarine Staff Officers Conference. Em 1992 assumiu funções na Divisão de Pessoal e Organização do EMA onde participou em estudos e trabalho de concepção nos domínios da organização, relacionados com a organização da Marinha, das FA’s e da Defesa Nacional, tendo ainda desenvolvido actividades de defensor oficioso no Tribunal Militar de Marinha, de assessoria jurídica no EMA e de docência no ISNG. Em 1996, graduou-se pelo Colégio de Defesa NATO, em Roma, onde frequentou o 88 Senior Course. Após o qual assumiu os cargos de Adjunto de Marinha na Representação Militar Portuguesa junto do Comité Militar da NATO, em Bruxelas, e de Membro do NATO Naval Board. Em 2000, foi Chefe da Div. de Pessoal e Organização do EMA. Frequentou o CSNG e de seguida foi Coordenador da Área de Ensino de Estratégia no ISNG. Foi Subdirector-Geral da AM e 2.º Comandante-Geral da PM. É especializado em AS e SS’s. Frequentou o CGNG, o Curso Monográfico de Informações Militares, o CCNG e o NATO Staff Officers Orientation Course, sendo ainda licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde exerceu funções docentes. Da sua folha de serviços constam vários louvores e condecorações. ENTREGA DE COMANDO ESCOLA DE TECNOLOGIAS NAVAIS l No passado dia 25 de Julho, realizou-se no pólo do Alfeite a cerimónia de entrega do Comando da Escola de Tecnologias Navais, presidida pelo CEMA, ALM Melo Gomes. As Forças em Parada, constituídas por elementos da guarnição e alunos que frequentam os mais diversos cursos de formação, compunham um Batalhão a cinco Companhias comandado pelo Comandante do Corpo de Alunos da ETNA - CTEN M Bernardino Santos. O Comandante cessante - CMG Casqueiro de Sampaio, no seu discurso, aludindo à importância estratégica que representa a formação militar e técnica dos sargentos e praças para a Marinha, agradeceu a todos aqueles que contribuíram de forma pró-activa para o cumprimento da Missão. O Comandante Casqueiro de Sampaio foi agraciado pelo CEMA com uma Medalha Militar de Serviços Distintos – Prata. O novo Comandante da ETNA - CMG Antunes Rodrigues, agradeceu a confiança em si depositada e salientou as grandes prioridades sobre as quais será focalizada a sua acção de comando, referindo em especial atenção “ … são o projecto de concentração, no Alfeite, da maior parte da formação técnico-profissional da Marinha, por via da conclusão do Processo de Reordenamento do Parque Escolar, permitindo ganhos económicos e de eficiência. Após terem sido co-localizadas todas as infra-estruturas escolares e de 24 DEZEMbro 2008 • Revista da Armada apoio no Alfeite, será prioritário estabilizar o seu correcto funcionamento e garantir, com harmonia nos processos e estabilidade no corpo de formadores, a plena consolidação do Novo Sistema de Formação Profissional da Marinha por forma a satisfazer, na plenitude, com qualidade e prontidão, as necessidades da Marinha…”. O ALM CEMA tomando a palavra, reiterou o elogio expresso no Despacho de Concessão de Medalha ao Comandante cessante e exortou o novo Comandante para mais este desafio na sua carreira de Marinha, agora como Comandante da ETNA, de forma a dar continuidade a um conjunto de desígnios no âmbito da missão da Escola. A cerimónia militar foi encerrada com o desfile das forças em parada. O CMG M Valentim José Pires Antunes Rodrigues, nasceu em 17JAN64, é exaluno dos Pupilos do Exército, e ingressou na Escola Naval em 07SET81, tendo sido promovido a GMAR em 01OUT86. Foi oficial imediato da LDG NRP “Alabarda” e da Corveta N.R.P. “João Roby”. Chefiou o Serviço de Manutenção da Esquadrilha de Helicópteros (Lynx MK95). Comandou o N.R.P. “João Coutinho”. Foi Comandante do Corpo de Alunos da EN e Comandante do Agrupamento de Navios da Escola Naval (A.N.E.N. – NRP “Polar” e NRP “Vega”). Ao longo da sua carreira foi distinguido com diversos louvores e condecorações. Homenagem ao Marquês de Nisa em Malta N o passado dia 2 de Setembro, em cerimónia presidida pelo Presidente de Malta, foi descerrado um memorial evocativo da presença e auxilio prestado pela Esquadra Portuguesa comandada pelo Marquês de Nisa à revolta pro-independência dos malteses contra a ocupação francesa e que ocorreu em 2 de Setembro de 1798. A iniciativa que partiu de um grupo de intelectuais malteses, teve o imediato acolhimento por parte do Governo português. Recordemos então a História. Napoleão, a caminho da sua expedição militar ao Egipto, procurou abastecer os navios da esquadra onde seguia em Malta, então sob o domínio da Ordem dos Cavaleiros Hospitalários de S. João de Jerusalém, também conhecida como Ordem de Malta, em Portugal mais designada como Ordem do Hospital ou Ordem do Crato. Arrogando-se do poder soberano o Grão ‑Mestre de então recusou a entrada da esquadra francesa. Mas o tempo em que os Cavaleiros eram um poder bélico com algum valor já tinha terminado. Conscientes da sua superioridade, os franceses desembarcam em 12 de Junho de 1798 e sem recontros militares dignos de relevo ocupam as duas ilhas do Arquipélago, Gozo e Malta, recambiam os Cavaleiros para Itália, apresam uns tantos navios da Ordem e deixam uma guarnição de cerca de 4000 homens sob o comando do General Vaubois, afirmando-se como potência administrante, propondo-se “libertar” os malteses dum domínio feudal e retrógrado. Mas muito cedo a soldadesca francesa iniciou conflitos com os locais, com desacatos e pilhagens de várias igrejas. Profundamente católicos, os malteses revoltaram-se menos de três meses depois, encabeçados pelos notáveis da terra e sobretudo pelos padres. Mas sem auxílio exterior, mal armados e sem munições, seriam muito facilmente desbaratados por um corpo de tropas experientes muito melhor equipado. Pediram auxílio ao Rei Fernando IV das Duas Sicílias, então em Nápoles, cidade usada como base da esquadra mediterrânea de Nelson, onde estava integrada a portuguesa com cinco navios: quatro naus e uma fragata. Em trânsito, vinda de Alexandria, a armada portuguesa é avisada para montar um bloqueio às ilhas e prestar todo o auxílio à rebelião. O Marquês de Nisa chega a 20 de Setembro e organiza a sua força para iniciar o bloqueio naval. Bloqueio rigoroso. Enquanto foi apenas garantido pelos portugueses ninguém entrou e ninguém saiu… Logo no dia 21, uma deputação da ilha de Gozo chegou a bordo, tendo o Almirante Marquês de Nisa fornecido de imediato armas e munições aos insurrectos. Desembarcaram forças portuguesas que participaram activamente nos combates: em 15 de Outubro morreu um artilheiro português e o 2ºTen Mateus ficou ferido. Os navios ingleses comandados pelo C. Alm Ball só chegaram em meados de Outubro. Ball era mais moderno que D. Domingos, mas não lhe ficou subordinado por indicação de Nelson … que o incumbiu do Comando das forças em terra! A 30 de Outubro a esquadra portuguesa levantou ferro e saiu para Nápoles para reparações urgentes. Nelson considerou que a ilha cairia em pouco tempo… Mas os combates prologaram-se. A pedido dos malteses, o Cap. Ten. Gonçalves Pereira ficou como especialista em artilharia e “bom engenheiro”. Em 1799 a esquadra portuguesa foi de novo para Malta, os britânicos não só não conseguiram fazer com que os franceses se rendessem, como sozinhos não conseguiram assegurar o bloqueio naval que foi furado por várias ocasiões. É conhecida a insistência de Nelson junto de D. Rodrigo de Sousa Coutinho e do Príncipe Regente para que a esquadra portuguesa permanecesse em Malta como peça fundamental para a rendição dos franceses. Chegaram a estar cerca de 400 portugueses em terra, alguns pagando com a vida a sua participação nos combates. É conhecida a disposição britânica sobre a sua actuação no mundo e o seu papel (sempre glorioso) na História. Os ingleses encarregaram-se, primeiro de menorizar, depois de varrer da memória maltesa a participação portuguesa. Foi o que se procurou reparar com o descerramento de uma lápide, de dimensões apreciáveis, num dos locais mais carregados de História de La Valetta: os Upper Barrack´s Gardens, onde em inglês, português e maltês fica para a posteridade a homenagem ao Marquês de Nisa e à participação portuguesa na primeira tentativa de independência de Malta. Na cerimónia estiveram presentes as mais altas individualidades do Estado maltês, além de elevado número de diplomatas acreditados, membros do clero e representantes de instituições e grémios profissionais excedendo os 100 lugares sentados. Começou a cerimónia com umas breves palavras do Embaixador da Republica Portuguesa, Dr. Russo Dias, que fez um breve historial do processo antecedente, agradecendo a dignidade que lhe conferia a presença do Presidente de Malta Dr. Edward Fenech Adami, além do Presidente cessante Ugo Bonîci e respectivas esposas. Seguiu-se uma palestra pelo Professor Henry Frendo do Instituto de Estudos Malteses da Universidade de Malta com o sugestivo titulo “Making Amends With History: a Vindication of Maltese-Portuguese Relations”. Encerrou a sessão com um pequeno discurso o Presidente de Malta, tendo descerrado a lápide e sido ouvidos os hinos nacionais maltês e português O Chefe de Estado-Maior da Armada fez-se representar pelo CALM MN RES Rui de Abreu, que recebeu de S. Excia o Presidente Edward Adami a manifestação do seu apreço pela presença nesta cerimónia de um elemento da Marinha Portuguesa . Pela imprensa local, TV e jornal da net foi dado relevo ao acontecimento, ocupando as páginas centrais dos jornais durante três dias: 1, 2 e 3 de Setembro. (Colaboração da COMISSÃO CULTURAL DA MARINHA) Revista da Armada • DEZEMbro 2008 25 VIGIA DA HISTÓRIA M A Latitude de Lisboa anuel Pimentel, filho do cosmógrafo mor do Reino Luís Serrão Pimentel, terá nascido em 1650, vindo a suceder, no cargo, ao pai por volta do ano de 1679. Não deixa de ser curioso que o pai, no único exame para piloto da barra que conheço, efectuado pelo cosmógrafo mor, na circunstância a Manuel Miguens para o cargo de piloto mor da Figueira da Foz, efectuado cerca do ano de 1678, tenha deixado lavrado, no termo do exame, o seguinte: “Este ofício requer indústria pessoal e não é daqueles a que podem ter direito os filhos à propriedade”. Esta consideração resultava do facto da filha do anterior piloto mor da barra considerar que o ofício lhe pertencia, por morte do pai, devendo por isso receber o pagamento de uma pensão por quem viesse a ser provido no cargo. (1) Seja como for o facto é que Manuel Pimentel exerceu o cargo de cosmógrafo mor tendo deixado um conjunto de obras de que se salienta “A Arte de Navegar”, publicada em 1699, e que durante mais de um século constituiu o elemento fundamental na preparação teórica dos pilotos (2). O episódio que agora se relata ocorreu, em data não determinada, mas anteriormente a 1699. O Conde de Valadares solicitou, com carácter de urgência, que lhe fosse fornecida, para o Paço, informação quanto à altura (latitude) da cidade de Lisboa, tanto na opinião de Manuel Pimentel como na de outros autores. É a resposta a essa solicitação que seguidamente, e julgo que pela primeira vez, (3) se transcreve: “Sr. Conde de Valadares Os roteiros antigos e outros autores dizem que a altura do Polo de Lisboa é de 38 graus e 40 minutos. Porém eu a observei mais de oitenta vezes por um gnomon (4) de 21 palmos de alto, que eu mesmo reparti em 5690 partes, e achei 38 graus e 48 minutos. Um inglês chamado Henrique Jacob bom matemático com quem tive muito trato achou por suas observações 38 graus e 50 minutos, mas vindo ele ao meu quintal a ver fazer uma observação pelo gnomon que digo, mudou de opinião e seguiu os 38 graus e 48 minutos que eu tenho por verdadeira, pelo que o mesmo achei por outras observações feitas pelas alturas de algumas estrelas. A longitude de Lisboa tenho calculado no meu livro que estou com- A pondo de 9 graus e um quarto começando a contar do meridiano da ilha Ferro a mais ocidental das Canárias Mui servidor de Vª Senhoria” Ass: Manuel Pimentel. É pena que Manuel Pimentel não nos tenha deixado descrito o método utilizado para o cálculo da latitude, que não se apurou como pudesse ser feito sistematicamente com um gnomon, nem qual o objectivo da sua graduação. Os valores que Pimentel apresenta são os mesmos que veio a inscrever no seu livro “Arte de Navegar” os quais, curiosamente, estão errados, a latitude situa-se entre os valores de Pimentel e dos autores antigos enquanto a longitude em relação ao meridiano da ilha Ferro, tanto quanto a pude calcular, é inferior a 9º. Com. E. Gomes Notas: (1) Era normal que o exercício de um ofício fosse transmitido hereditariamente. No caso da Figueira da Foz, por exemplo, o cargo de piloto mor da respectiva barra foi exercido, durante quase 80 anos, por 3 membros da família Fernandes Bicho, António Fernandes Bicho exerceu-o desde 1777 até cerca de 1800, tendo sucedido ao pai Damião Fernandes Bicho que o exercera durante 30 anos, portanto de 1747 a 1777 e que, por sua vez, havia sucedido a seu pai Cristóvão Fernandes Bicho que o havia exercido de 1707 a 1747. Que o convencimento que o cargo era hereditário resulta do facto de António Fernandes, que era simultaneamente capitão de navios, ter requerido que, nos seus impedimentos, o lugar fosse desempenhado por seu irmão. O que maior perplexidade suscita é o facto de que o mesmo princípio, criticado por Luís Serrão, se aplicar ao cargo de cosmógrafo em que o filho, Manuel Pimentel, sucedeu ao pai e que, nos seus impedimentos, foi substituído pelo irmão Francisco. É caso para se dizer “Bem prega frei Tomás” (2) Ainda em 1824 a Gazeta de Lisboa anunciava, no seu número de 6 de Setembro, a venda do livro “A Arte de Navegar” de Manuel Pimentel como já, em anos anteriores, acontecera. (3) A carta já havia sido referenciada por Luís de Albuquerque no livro “A Arte de Navegar de Manuel Pimentel” sem, no entanto, a transcrever ou analisar. (4) Gnomon – O gnomon mais não é do que um vara cuja sombra marca as horas ou as alturas do Sol. Fontes: Registo Geral de Mercês D. Afonso VI Livro 29 fol. 274V Código 46 – VIII – 21 fol 52 e 53 da Biblioteca da Ajuda Mais uma apreensão de droga o abrigo do protocolo assinado com a Marinha de Guerra Portuguesa e da Polícia Judiciária, foi desenvolvida uma operação de combate ao narcotráfico que tinha por objecto a intercepção de um veleiro suspeito de tráfico de estupefacientes, oriundo da América do Sul, e a dirigir ‑se para o continente europeu. A operação que durou quatro dias, iniciou-se com a aproximação do veleiro suspeito, com 13,5 metros e de mastro único, de nacionalidade norte-americana, das águas nacionais do Arquipélago da Madeira. Os seus movimentos foram seguidos e controlados pelo N.R.P. “António Enes” que contou com a colaboração de meios aéreos da Força Aérea Portuguesa. A intercepção e apreensão ocorreram na noite de 7 para 8 de Outubro, traduzindo-se em mais uma operação bem sucedida. Após identificação positiva e explorando o factor surpresa, foi empenhado o Destacamento de Acções Especiais dos Fuzileiros. O veleiro foi interceptado a acerca de 200 milhas de Portugal 26 5 DEZEMbro 2008 • Revista da Armada Continental. Dentro da embarcação, foram apreendidos 48 pacotes de cocaína, com cerca de 50 quilos, e detido um tripulante do sexo masculino, de 48 anos. O velejador solitário foi surpreendido, não se encontrava armado e não ofereceu resistência no momento da detenção. Sob escolta da corveta, com os elementos do Destacamento de Acções Especiais e da Polícia Judiciária embarcados, o veleiro com o tripulante e a droga, foram encaminhados para o Porto da Baleeira, onde ficaram sob custódia da Polícia Marítima. Conforme destacado na conferência de imprensa, acredita-se que a operação permitiu “…desmantelar uma importante rede internacional, “ a julgar pela extensa lista de contactos apresentada e capacidade financeira.”, tendo, mais uma vez, a contribuição da Marinha sido decisiva para o êxito da operação. (Colaboração do COMANDO DO N.R.P. “ANTÓNIO ENES” E “DAE”) Real Regata de Canoas – 2008 O rganizada pela Associação dos Proprietários e Arrais das Embarcações Típicas do Tejo (APAETT), Centro Náutico Moitense, Associação Naval Sarilhense e Associação Náutica da Marina do Parque das Nações, realizou-se no passado dia 4 de Outubro, pela terceira vez, a comemoração da Real Regatta de Canoas, evento com início em 1845 que ocorria anualmente nos primeiros dias do mês de Outubro. Pelas 12.30 horas, arrais e tripulantes de 41 embarcações, canoas e catraios, entretanto alinhadas na praia de Pedrouços nos lugares ditados por sorteio, foram recebidos no Museu de Marinha pelo seu Director, Comandante Rodrigues Pereira, na presença do Professor Carvalho Rodrigues, Presidente da APAETT e principal dinamizador da prova e dos elementos do júri presidido pelo ALM. Castanho Paes, tendo-se seguido uma visita ao Museu. A corrida, termo usado no século XIX, iniciou-se às 15.00 horas para as canoas e às 15.05 horas para os catraios, tendo o morteiro de largada sido disparado pelo Secretário de Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar, Dr. João Mira Gomes, para as canoas e pelo Director-Geral da Autoridade Marítima, VALM Silva Carreira, em representação do ALM. CEMA, para os catraios. Ouvidos os disparos dos morteiros todas as embarcações suspenderam cumprindo a tradição de largar a ferro isto é, a partir de fundeado, desferraram depois as velas e rumaram ao Montijo. E A bandeira Atlântico Azul, identificativa das embarcações da Marinha do Tejo, era bem visível em todos os mastros ou ovéns. Durante a tarde o Tejo reviveu as suas embarcações. A lucta, termo do Regulamento de 1845, decorreu animadamente mercê do forte empenho e entusiasmo das tripulações, entre as quais se contava a da canoa “Boneca” do Grupo de Amigos do Museu de Marinha (GAMMA). A ausência de vento foi o único contratempo que não teve outra consequência senão o pequeno atraso com que todos chegaram ao Montijo. Seguindo o costume o júri elaborou um Relatório, patente ao público no pavilhão das Galeotas no Museu de Marinha, onde é feita uma descrição do modo como decorreu a regata, caracterizando o comportamento das tripulações e dando a conhecer a classificação obtida pelas embarcações intervenientes. Estes encontros, para além da notoriedade que dão ao Tejo, revertem-se de um fortíssimo significado histórico e cultural, ao qual a recém-criada Marinha do Tejo deu novo alento, contribuindo para o reforço da nossa identidade e para o reencontro das duas margens do rio. Pode assim afirmar-se que esta Real Regatta constituiu uma medida no sentido de imprimir um maior desenvolvimento à náutica tradicional. Dr. Carlos Saraiva da Costa Vogal da Direcção do GAMMA Direcção de Transportes na Holanda ncontrando-se na Holanda a Equipa Técnica para a Transferência das Fragatas Class-Me o pessoal que vai inte grar as primeiras guarnições, colocou-se a necessidade de transportar diariamente os militares destacados entre os seus alojamentos e os centros de formação e ainda nos trajectos entre o Aeroporto de Amesterdão e a Base Naval em Den Helder. Desde o primeiro instante, a Direcção de Transportes mostrou-se disponível para apoiar este projecto, considerando que a sua concretização para além de perspectivar vantagens nos custos comparados com o mercado e na maior facilidade de gestão da sua utilização pelos destinatários, seria uma oportunidade para planear e preparar os recursos necessários com requisitos mais desafiantes atendendo ao seu contexto. Após avaliação das necessidades, procedeu-se à escolha e preparação da viatura a deslocar, tendo em conta a sua adequação aos quantitativos de militares ao longo do tempo e às condições climáticas, bem como ao estudo dos itinerários. Com o aproximar da fase final dos trabalhos de aprontamento da fragata N.R.P. “Bartolomeu Dias”, surgiu também a necessidade de efectuar o transporte logístico de material destinado a apetrechar esta nova unidade naval, tarefa que mais uma vez foi efectuada com sucesso por esta Direcção de Transportes, tendo sido empregue uma viatura de mercadorias com 12.500 Kg de peso bruto que partiu do Alfeite em 11 de Outubro e regressou no dia 16 do mesmo mês, após ter percorrido 4.670 Km. Desde 4 Janeiro de 2008, que a Marinha conta com a presença permanente na Holanda, de um autocarro que assegura a mobilidade do pessoal, que proporciona padrões de conforto actuais e “aproxima” a Marinha daqueles que em terras distantes se preparam para se fazerem ao mar. Nesta missão que se prevê que continue durante o ano de 2009, já se somam até à presente data 30.000 quilómetros percorridos. (Colaboração da DIRECÇÃO DE TRANSPORTES) Revista da Armada • DEZEMbro 2008 27 PÁGINA DA SAÚDE A Medicina Dentária Militar dentição saudável é um factor importante da saúde geral do indivíduo sendo factor desencadeante ou agravante de um grande leque de patologias, algumas graves e potencialmente incapacitantes ou mortais. O dente é constituído do exterior para o interior por: esmalte na coroa e cemento na raiz, dentina e finalmente a polpa (constituída por um nervo, uma artéria e uma veia). O dente está inserido num alvéolo dentário ósseo contactando com o osso através do ligamento periodontal e a gengiva. Os dentes anteriores têm não só a função estética, como também fonética e mastigadora. Os dentes posteriores têm fundamentalmente função mastigadora, apesar de também terem função estética. A boca faz a sua auto-higiene através dos movimentos conjugados da língua e lábios nos dentes, assim como a própria salivação tem poder de limpeza. No entanto existem zonas mais susceptíveis como os sulcos, fissuras, bolsas periodontais, espaços interproximais. A higiene oral deve envolver sempre o uso de fio/fita dentária e escovagem de dentes e língua. Deve ser realizada após as refeições e ao deitar. O fio dentário deve passar entre os dentes e remover todos os detritos do sulco gengival. A escovagem deve ser feita por movimentos rotatórios em todas as superfícies dentárias. A língua deve ser raspada. Temos dor quando existe uma lesão que envolve a dentina, isto acontece porque a porosidade da dentina transmite o estímulo agressivo à polpa que se encontra no seu interior. As extracções dentárias são tratamentos de última linha que se realizam apenas quando o dente não tem qualquer viabilidade, nomeadamente quando tem lesão da furca, lesão infraóssea, doença periodontal avançada ou lesão periapical com história de tratamentos prévios sem êxito. A infecção mais prevalente é a cárie dentária, sendo esta formada quando existe acumulação de resíduos alimentares nas superfícies dentá- N 15 rias que promovem acumulação de um grande foco de bactérias. Os mergulhadores devem ter especial cuidado com os dentes, pois uma cavidade de ar dentro de um dente pode levar à sua fractura e a uma dor muito exacerbada, devido às diferenças de pressão – Baurotraumatismo Dentário. No que concerne às Inspecções Dentárias, estas são anuais ou pré-missão e obrigatórias visando a melhor qualidade de vida, prevenindo e resolvendo problemas de saúde graves (ex. abcessos, quistos, tumores), interacção com doenças graves (ex. imunodeprimidos, candidatos a transplantes, doentes cardíacos), prevenindo e resolvendo os problemas de saúde em missão. Permite ainda identificar cadáveres que se encontram num estado muito degradado, visto o esmalte ser dos tecidos mais resistentes do organismo. As Inspecções Dentárias são realizadas a todos os militares do activo registando-se em Ficha Dentária (odontograma e algumas alterações mais evidentes). Todos os militares que vão em missão realizam Panorâmica, sendo feito na mesma altura o plano de tratamento segundo prioridades (1º Instrução higiénica, 2º Exodontias e ou drenagem de abcessos, 3º Endodontias, 4º Dentisterias, 5º Tratamento Periodontal / Destartarização). Estas Consultas são efectuadas nos Serviços de Medicina Dentária do Centro de Medicina Naval, ETNA, Escola de Fuzileiros, Hospital da Marinha e brevemente Base de Fuzileiros. As unidades de Medicina Dentária da Base do Alfeite estão mais vocacionadas para fazer os aprontamentos militares, pois estão posicionadas perto de unidades operacionais, onde se requer prontidão imediata. Deste modo, a Marinha tem vindo a reestruturar e renovar os Serviços da margem Sul para melhor servirem os militares. (Colaboração da DIRECÇÃO DO SERVIÇO DE SAÚDE) SAIBAM TODOS l Para cumprimento do determinado relativamente à saúde dentária existem consultas a funcionar diariamente no/a: Hospital da Marinha, Centro de Medicina Naval, Escola de Tecnologias Navais (ETNA-alfeite), Escola de Fuzileiros e futuramente na Base de Fuzileiros Hospital da Marinha - Gabinete do Utente o Hospital da Marinha, foi identificada a necessidade de criar um órgão que proporcionasse aos utentes o direito de participarem, através das suas iniciativas, na melhoria da qualidade dos cuidados de saúde aí prestados. Assim por despacho do VALM SSP foi criado um órgão, denominado Gabinete do Utente e dotado de competências singulares e inexistentes na actual estrutura do Hospital da Marinha. Tal como o nome indica, trata-se de um serviço inteiramente destinado aos utentes, que permitirá a estes manifestarem os seus direitos, tais como, efectuar sugestões, reclamações e conselhos relativos à prestação dos cuidados de saúde disponibilizados, bem como, um local onde possam ser obtidas informações relativas aos serviços, direitos e deveres dos utentes. Fortemente empenhados na qualidade e humanização dos serviços, a criação do novo Gabinete visa constituir um instrumento de gestão fundamental para a melhoria da qualidade da prestação dos cuidados, a satisfação dos utentes e o desempenho global do Hospital da Marinha. O Gabinete do Utente na sua actividade diária é responsável por: • Informar os utentes sobre os seus direitos e deveres em relação aos serviços de saúde prestados no Hospital da Marinha • Receber as reclamações relativas ao funcionamento dos serviços ou ao comportamento dos funcionários; •Redigir as reclamações orais feitas nos termos da alínea anterior, quando os utentes não o possam fazer; • Receber as sugestões, elogios/agradecimentos formulados pelos utentes no que se refere à organização e aos serviços prestados; • Promover junto das entidades competentes a divulgação da existência do Gabinete e dos serviços por ele prestados; • Efectuar a avaliação e tratamento estatístico das exposições apresentadas; O tratamento estatístico dos resultados obtidos permitirá monitorizar a percepção dos utentes acerca do desempenho do hospital, detectar áreas de melhoria e novas áreas a atingir, contribuindo assim, para a concretização e garantia da excelência em saúde. O novo serviço funciona no Gabinete de Serviço Social, no piso 2 entre as 9h00 e as 16h00. Contactos Gabinete do Utente do Hospital da Marinha Gabinete de Serviço Social – Piso 2 STEN. Andreia Oliveira Telefone: 218840998 - ext. 326111 Revista da Armada • DEZEMbro 2008 29 DIVAGAÇÕES DE UM MARUJO (30) Radar Astronómico É sabido que as guerras põem em marcha um cortejo de morte e devastação, mas também é verdade que, na maior parte dos casos, para além de restabelecerem o equilíbrio da situação de tensão que as criou, acabam por trazer, graças à pressão colocada sobre os grandes cérebros das partes beligerantes, importantes inovações científicas e tecnológicas que vêm beneficiar a Humanidade e, paradoxo dos paradoxos, salvar vidas. Tal foi o caso do radar, cujo grande desenvolvimento, durante a Segunda Guerra Mundial (apesar de a sua invenção ser muito anterior), se deveu à necessidade de detecção antecipada dos bombardeiros alemães que vinham flagelar território inglês. E já aqui se pode dizer que este invento poupou, logo à partida, muitas vidas e bens britânicos, embora, no reverso da 30 DEZEMbro 2008 • Revista da Armada medalha, se revelasse mortal para as tripulações das aeronaves inimigas, assim como para muitos heróicos pilotos ingleses enviados para as enfrentar. No entanto, o balanço acabou por ser francamente positivo em termos de análise contabilística geral referida à espécie humana e ao património mundial, a menos que façamos contas separadas para um e para outro dos lados em conflito. Hoje em dia, é inegável que o radar tornou muito mais seguras as navegações marítimas e aéreas, permitindo aos navios e aeronaves “ver” quando as condições de visibilidade desarmada não são as melhores, prestando um valioso auxílio nas manobras anti-colisão e, por fim, apoiando a navegação costeira através da medição de distâncias a pontos conspícuos da linha de costa. Devo, no entanto, mencio- nar uma outra modalidade de utilização deste equipamento que foi descoberta, há quase vinte anos, por um dos meus camaradas de curso da Escola Naval durante um proveitoso embarque de fim-de-semana. Passo a explicar: Estava o jovem cadete (a quem passaremos a chamar M.M.) entretido nas suas funções de assistência ao Oficial de Quarto à Ponte quando foi por este incumbido de registar o azimute do Sol no momento do seu ocaso. Para os menos conhecedores destes assuntos – e convido, desde já, os leitores com mais experiência marinheira a passarem ao parágrafo seguinte – esclareço que esta operação, que consiste em medir a diferença angular, contada em graus, no sentido dos ponteiros do relógio, entre o Norte da girobússola (“giro” para os amigos) e o Sol serve para medir o erro da dita, uma vez que o ângulo que o Astro forma, quando nasce e quando se põe, com o Norte Geográfico é sempre o mesmo ao longo de uma determinada latitude e pode ser previsto nas tabelas astronómicas dos almanaques. Naturalmente, a comparação do valor medido com o valor tabelado dá-nos o erro da “giro”, que é utilizado para corrigir as medições dos azimutes observados e das proas a que se navega. Está percebido? Estou certo de que os camaradas especializados na mui nobre arte da Navegação dariam uma explicação tecnicamente mais correcta e compreensivelmente mais acessível, mas para não os importunarmos com minudências desta natureza fiquemo-nos por este leigo fraseado. (Os leitores que passaram directamente para esta linha nem sabem do que se livraram! Os outros bem arrependidos devem estar, nesta altura, por não terem, a tempo, arrepiado caminho. Mas prossigamos…) Pôs-se, então, o M.M. a “fazer pontaria” ao Sol com a mira do aparelho de marcar, mas o diabo é que o “magano”, apesar de descendente no horizonte, ainda ofuscava, impedindo-o de ler correctamente a escala da repetidora. Eis, então, que lhe ocorre um simples, mas engenhoso, expediente capaz de fazer corar o inventor do Ovo de Colombo ou o desmanchador do Nó Górdio: como o Sol se estava a pôr junto a uma ponta de terra, nada melhor do que azimutar essa ponta na obscuridade do monitor do radar, onde devia aparecer bem recortada no perfil costeiro. E se bem o pensou, melhor o fez… Foi então que o Oficial de Quarto, ao vê-lo tão diligente naquela actividade, se lembrou de o interrogar sobre o motivo de toda aquela azáfama, tendo obtido, como resposta “Estou a tirar um azimute radar ao Sol”. É fácil imaginar o espanto do Oficial, que decerto lhe terá perguntado com que artes mágicas teria conseguido visualizar o Sol no radar, imediatamente antes de o despachar, com um ou dois berros, para outra tarefa. E nem sequer se dignou a ouvir a explicação do atarantado adjunto, que, no fundo, até tinha alguma lógica, não obstante o facto de se tratar de um procedimento, no mínimo, muito pouco rigoroso. Os outros cadetes presentes no local também não se deram ao trabalho de obter qualquer esclarecimento, tendo-se limitado a assistir à cena com risinhos abafados. Claro que, assim que regressaram à Escola, trataram de “pôr a boca no trombone”, espalhando aos N quatro ventos o inusitado feito do M.M.. E nem na récita de apresentação da mancebia primeiranista o coitado se livrou de ouvir uma “boca” de um improvisado “admirador”, que queria aprender com ele como é que se tirava um azimute radar ao Sol. Espero, com esta descrição circunstanciada dos acontecimentos, repor a verdade dos factos e fazer alguma justiça ao incompreendido camarada, cuja versão da história foi abafada pelas parangonas que, na altura, a anunciaram ao mundo escolanavalense. De resto, o radar não é o único equipamento de bordo a conhecer utilizações invulgares, pois também vos posso aqui falar no indispensável rádio VHF. Mas, antes de ir por aí adiante, contenhamo ‑nos a tempo de deixar os extenuados leitores tomarem algum fôlego, deixando este caso para tema de uma outra história... J. Moreira Silva CTEN O Curso de “Duarte Pacheco Pereira” na Escola Naval o passado dia 9 de Outubro, recentemente falecido chefe de curso, pelas 10 horas da manhã, o dirigiu uma alocução aos cadetes em “DP” regressou à Escola Naque evocou as circunstâncias histórival para comemorar os 50 anos da cas vividas pelo “DP”, especialmensua entrada. te os desafios que o teatro de guerra Na Sala Reserva Naval, um primeiro impunham ao sentido de justiça e aos encontro com oficiais, presentemente valores recebidos e cultivados, tendo a prestar serviço na Escola, juntamente terminado a sua exortação com as secom dois cadetes que nos acompanhaguintes palavras: Olhai à vossa volta, ram durante toda a visita e alguns dos nesta Escola, para os seus símbolos naantigos professores, que tanto contrivais e para a sua história. Tudo induzirá buíram para a nossa formação e agora ao pensamento dos horizontes distannos honraram com a sua imprescindítes que vos esperam. Nós estivemos lá vel presença. e valeu a pena. No seu gabinete o CALM Macieira Na Sala Macau foram então servi(Da esquerda para a direita) Fragoso, comandante da Escola, recedos os aperitivos que anteciparam, 1ª fila: VALM Cavaleiro Ferreira, CALM ECN Balcão Reis **, CMG Perei beu-nos formalmente tendo, na ocana Camarinha do Comandante, um ra Bastos, CALM Macieira Fragoso ***, CMG Saturnino Monteiro *, ALM Vieira Matias. sião, sido-lhe dirigidas umas palavras almoço volante, durante o qual profe2ª fila: 1TEN Paiva Boléo, CFR EME Palma Ruivo, CALM Nobre de Carva adequadas ao momento pelo ALM riram breves palavras alusivas ao evento lho, CTEN Mattioli *, CFR Joaquim Rodeia *, CMG Martins e Silva *. Vieira Matias, antigo CEMA e actual o decano do “DP”, o antigo professor 3ª fila: CTEN Ilharco de Moura, CALM Leiria Pinto, 1TEN Ortigão Neves, decano do curso. Enquanto se assinaCMG Saturnino Monteiro e o comanCMG Homem de Gouveia. va o Livro de Honra foram recordados dante da Escola. * antigos professores ** chefe do internato de 1958 *** comandante da EN episódios que o local suscitava. Às 1800 h, na Capela de S. Roque, Após as tradicionais fotografias, frente à entra- vistas, o CALM Balcão Reis, chefe do internato foi celebrada uma missa por um “DP”, frei Euda principal, no Auditório Jornadas do Mar, even- em 1958. génio Paiva Boléo, tendo sido recordados os faVisitado o Simulador de Navegação, o Museu lecidos: VALM Barata Botelho, 1TEN ECN Bessa to bianual a cuja origem estão ligados elementos do “DP”, foi feita, pelo CALM Fragoso, uma apre- e o Pólo da Biblioteca, foi descerrada no átrio da Cruz e 2TEN Sequeira Cantinho, que estasentação da actual Escola Naval, salientando o do Internato Velho a evocativa placa. vam representados por familiares. reforço de actualização imposto pela evolução Por fim, no Hotel Mundial, decorreu um anida sociedade, das novas tecnologias e dos ditamado jantar de curso com cônjuges, em que foNÃO ESQUECEMOS. VALEU A PENA mes da legislação nacional e europeia. ram reforçados os laços de amizade e camara1958-2008 Convidado para falar sobre o tema “Navegar dagem que nos ligam desde há meio século. Perante a formatura geral do Corpo de Alué preciso, inovar também” , dissertou, em se guida, com competência, humor e ironia pre- nos o CMG Pereira Bastos, em substituição do (Colaboração do “DP”) Prémios “Infante D. Henrique” e “Caravela” na Conferência do U.S. Power Squadrons District 5 D ecorreu entre 7 e 8 de Novembro de 2008 a Conferência de Outono do U.S. Power Squadrons – 5th District, em Solomons, no estado de Maryland, EUA, tendo o Cte. Carlos Lopes da Costa, adido naval na Embaixada de Portugal em Washington DC, e esposa sido convidados de honra. O U.S. Power Squadrons promove a instrução e prática da náutica de recreio nos EUA. No jantar formal de 8 de Novembro, com a presença de cerca de 200 pessoas, foram entregues os prémios “Prince Henri”e “Caravel” a associados que se destacaram pela autoria de trabalhos, forma muito digna com que aquela organização presta homenagem e reconhecimento à História Marítima de Portugal. Na ocasião foi dado o uso da palavra ao adido naval que proferiu uma alocução sobre os Descobrimentos Portugueses, e em particular o papel do Infante D. Henrique e das caravelas, tecendo elogios à actividade do U.S. Power Squadrons em prol da formação e segurança da náutica de recreio, com alcance em todo o território americano. Durante a Conferência, foi partilhado de excelente ambiente e bom convívio com os organizadores e participantes. Revista da Armada • DEZEMbro 2008 31 QUARTO DE FOLGA JOGUEMOS O BRIDGE PALAVRAS CRUZADAS Problema Nº 113 Problema Nº 396 TAPE OS JOGOS DE W-E PARA TENTAR RESOLVER A 2 MÃOS. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Norte (N): Oeste (W): 10 7 D D 9 2 V 4 10 3 5 3 2 R V 9 8 D 10 8 7 4 7 6 6 5 Sul (S): A 8 7 3 A 4 A R R D 9 8 3 Este (E): V 6 5 2 6 A V 5 R 10 4 9 2 Todos vuln. Como deverá S jogar para cumprir o contrato de 6♥, recebendo a saída ♦D? SOLUÇÕES: PROBLEMA Nº 113 Como facilmente se verifica o cumprimento do contrato depende exclusivamente da distribuição das ♠ 3-3, ou não, pelo que tem de tentar fazer uma contagem das mãos, conforme vamos ver no desenvolvimento que deve ser seguido pelo carteador: na saída E vai meter o R e voltar o A que será cortado, jogada de E que indicia ter só 2♦, pelo que W terá 6; joga trunfo para o morto e um terceiro ♦ para cortar e ter a certeza sobre a distribuição do naipe; seguidamente destrunfa e constata que W só tem 2♥, havendo agora que conhecer quantas ♠ e ♣ terá; bate ♣AR e vai ao morto em ♠R para jogar um ♣ para cortar, ficando então vísivel que W tinha 2♥+6♦+3♣, logo 2 cartas de ♠, e permitindo-lhe ir ao morto em ♠D para fazer a passagem ao V com a certeza absoluta. Como se verifica, esta questão da contagem das mãos da defesa, quer da distribuição, quer da pontuação, sempre que isso for possível, é muito importante para evitar os meros palpites no cumprimento de alguns contratos. HORIZONTAIS: 1 – Célere filósofo grego, discípulo de platão. 2 – Povo selvagem da costa Oriental da África. 3 – Gratificação ou beberete, que se dá aos trabalhadores depois de concluírem a sua tarefa; andava; mil e cem romanos. 4 – Diz-se das veias e artérias situadas na parte inferior da língua (pl); época. 5 – Rezaras; também (Ant). 6 – O mesmo que a; aspecto; comarca da Bélgica. 7 – Coragem; nota musical (inv). 8 – Que se não penitência. 9 – Andara com grande velocidade; rei não confusão. 10 – Esconder em lapa; multidão de pessoas. 11 – Que, por hidratação, produzem açúcar. VERTICAIS: 1 – Plantas que apresentam flores hermafroditas e masculinas sem flores femininas. 2 – Emitira raios; bolo de farinha de grãos de trigo torrado, usado nos sacrifícios da antiga Roma. 3 – Magnetiza; árvore corilácea (inv). 4 – Pedra preciosa; irra (inv). 5 – Passar a nado; rena na confusão. 6 – Letra grega (inv); sózinho (inv); tumor canceroso ou que se torna canceroso. 7 – Bigorna de ourives; lugar onde se orçam os direitos que têm de ser pagos por pescadores à vista do peixe que pescaram. 8 – Exprime espanto; nome que se dá à República da Irlanda; base. 9 – No meio de alsa; unidade de trabalho do sistema C.G.S.; elemento gasoso, de símbolo Ne. 10- Duas do mar; natural. 11 – Que contém açúcares. SOLUÇÕES: PALAVRAS CRUZADAS Nº 396 HORIZONTAIS: 1 – Aristoteles. 2 – Namarrais. 3 – Diafa; Ia; Mc. 4 – Raninos; Era. 5 – Oraras; Er. 6 – Ar; Ligni. 7 – Cor; Af. 8 – Impenitente. 9 – Correra; Eir. 10 – Alapar; Povo. 11 – Sacarogenos. VERTICAIS: 1 – Andronoicas. 2 – Raiara; Mola. 3 – Imana; Aprac. 4 – Safira; Erpa. 5 – Tranar; Near. 6 – Or; Os; Cirro. 7 – Tais; Lota. 8 – Eia; Eire; Pe. 9 – Ls; Erg; Neon. 10 – Mr; Nativo. 11 – Sacaríferos. Nunes Marques Carmo Pinto CALM AN 1TEN REF CONVÍVIOS ALMOÇO DE MARINHEIROS DO CONCELHO DE FERREIRA DO ZÊZERE “FILHOS DA ESCOLA” DE JANEIRO DE 1973 l Decorreu no passado dia 4 de Outubro em Bésteiras – Águas Belas, Ferreira do Zêzere mais um almoço dos marinheiros e ex ‑marinheiros do concelho de Ferreira do Zêzere, levada a cabo pela Associação de Marinheiros do concelho de Ferreira do Zêzere. No almoço reinou a boa disposição estando presentes cerca de 80 pessoas, e onde se divulgaram algumas actividades e eventos dese jados para um futuro não muito distante, nomeadamente a possibi lidade desta Associação de Marinheiros, tudo ir fazer para trazer a Ferreira do Zêzere a Banda da Armada. O próximo convívio anual de marinheiros ficou marcado para 3 de Outubro de 2009. l Para comemorar o 36º aniversario do ingresso na Briosa vai realizar-se em 17 de Janeiro um convívio no Restaurante “Casa do Ermitão” na Senhora do Castelo em Mangualde. A comissão organizadora irá solicitar à Marinha transporte para os interes sados em se deslocar ao evento. Os interessados devem contactar: SCH E José Armada TM 918 659 381; SCH E Fernando Pereira TM 917 101 673; SCH E Ma nuel Pais TM 936 265 993; SCH FZ João Marques TM 966 877 631; SCH M Amândio Nascimento TM 919 870 179; 1SAR M António Cardoso TM 934 492 272. Revista da Armada • DEZEMbro 2008 33 NOTÍCIAS PESSOAIS COMANDOS E CARGOS NOMEAÇÕES CALM José Carlos Torrado Saldanha Lopes nomeado para o cargo de Coman dante Naval em substituição do VALM Fernando Manuel de Oliveira Vargas de Matos CALM Fernando Manuel de Macedo Pires da Cunha nomeado para o cargo de Comandante da Flotilha em substituição do CALM José Domingos Pereira da Cunha CALM António Manuel Fernandes da Silva Ribeiro nomea do para o cargo de Sub-Chefe do Estado-Maior da Armada em substituição do VALM José Carlos Torrado Saldanha Lopes CALM Luís Miguel Matos Cor tes Picciochi nomeado para o cargo de Comandante do Corpo de Fuzileiros em substituição do VALM João da Cruz Carvalho Abreu. RESERVA VALM Fernando Manuel de Oliveira Vargas de Matos CMG Febo Nuno de Oliveira Vargas de Matos CMG EMQ Victor Abel Simões CFR SEP Albino Manuel Pereira de Sousa Costa. REFORMA CMG AN João Sadler Simões CMG FZE António João Carreiro e Silva CFR Oue rubim Meirelles Reisinho CTEN Ulisses Manuel Cordeiro Jerónimo da Silva 1TEN OT Óscar José Mendonça Pinto SMOR CE Luís Manuel Pereira Alves SMOR A Manuel Custódio Patrocínio SCH TF Fernando de Jesus da Costa SCH R Albano Parente Vieira SAJ L Joaquim Manuel Teixeira Belo SAJ L Manuel Campos da Sil va SAJ L José Domingos Rita Marcos SAJ FZ Valdemar António Lopes Morgado SAJ E Francisco Maria Couto de Oliveira SAJ FZ Sérgio Manuel Batista SAJ A António Brochado Ratão SAJ CE Fernando Neves Messias SAJ E Domingos An dré Veríssimo Batista SAJ CM Victor Manuel Ferreira Gomes SAJ CE Ismael dos Reis Nunes SAJ TF António Alberto Cardoso Guedes SAJ R Álvaro Manuel Costa Ferreira SAJ E Joaquim Pedro Mendonça Ramalho 1SAR M João Manuel Chaves Sousa 1SAR A Orlando Pereira Marques 1SAR A Carlos do Nascimento Roque 1SAR E José Manuel Viegas Luz Costa 1SAR M António da Costa Alves 1 SAR CM Carlos Fernando Santos Dias 1SAR CM Fernando dos Santos Nunes CAB FZ Manuel de Sousa Pereira CAB CCT António dos Anjos Cangueiro CAB CCT João Manuel da Silva Santos CAB A António Franklin da Costa Óscar de Matos CAB A José Ramos da Encarnação Cabecinha CAB L Belmiro Teixeira da Silva CAB CM António João da Silva Nunes Filipe CAB A João Pedro Gonçalves CAB T Dário Rui Pinto Palminha CAB FZ João Rui Lampreia de Brito. FALECIMENTOS CMG AN REF António Gomes da Silva Cruz SMOR MQ REF José Augusto da Encarnação Figueira SCH FZ REF Leonel Fernando Alves SAJ CH REF Joaquim José Carvalho SAJ CE REF António da Costa Azevedo SAJ M REF António Manuel Dionísio SAJ L REF João de Matos Evaristo 1SAR B REF Valdemar do Carmo Rodrigues 1SAR FZ REF Manuel António Guerra CAB FZ REF António da Costa Oliveira CAB TFH REF Américo Pinto Mocaes CAB REF José Araújo Pires CAB CM REF Amável do Nascimento Ribeiro AG 1CLASS PM APOSEN. Carlos Manuel da Conceição Fonseca. CONVÍVIOS ENCONTRO da COMPANHIA Nº 2 DE FUZILEIROS l Realizou-se no passado dia 13 de Setembro na Quinta do Moínho, Aixados, Porto de Mós, o primeiro almoço da Companhia Nº 2 de Fuzileiros, que fez comissão em Moçambique em 62/65. O encontro decor reu em ambiente de sã camaradagem e contou com uma ra zoável participação de antigos camara das e familiares. Contacto: Carlos Manuel Silva TM: 91 196 77 96. “FILHOS DA ESCOLA” DE SETEMBRO DE 1962 l Para comemorarem o 46º Aniversário da sua in corporação na Armada, os “Filhos da Escola” efec tuaram no passado dia 27 de Setembro na cidade de Almeirim, a sua habitual confraternização anual. Foi celebrada, na Igreja Paroquial uma Missa por intenção de todos os ex-companheiros de Armas já falecidos. Posteriormente, realizou-se o almoço no Restaurante “O Forno”, onde estiveram presentes cerca de 180 pessoas entre “Filhos da Es cola”, familiares e amigos onde reinou a boa disposição e se recor daram os “bons velhos tempos”. 54º ANIVERSÁRIO – CURSO DE A.C.M. / MAQUINISTAS NAVAIS l Teve lugar no passado dia 12 de Outubro, no restaurante “Flôr da Mata”, Fogueteiro-Sesimbra, um almoço de confraternização dos ex-alunos A.C.M./Maquinistas Navais, afim de comemorarem o 54º aniversário do seu ingresso na Escola de Mecânicos. Em am biente de franca e sã camaradagem, não se deixou de recordar al gumas facetas da vida na “Briosa” de camaradas, alguns dos quais já há muitos anos afastados. Para o próximo ano, como respon sável da organiza ção do convívio foi indigitado o Cte Alberto Gago dos Santos. “FILHOS DA ESCOLA” DE OUTUBRO 1967 l Realizou-se no passado dia 18 de Outubro no Restaurante “Toca do Júlio” em Almoçageme, Sintra, um almoço-convívio comemorativo do 41º aniversário da incorporação na “Briosa”. Cerca de 120 “Escolas “ e seus familiares confraternizaram em ambiente de sã camaradagem e de grande alegria. Este evento repetir-se-á no próximo ano em Penacova. 34 DEZEMbro 2008 • Revista da Armada Instalações da Marinha 10. A Escola de Tecnologias Navais A Escola de Tecnologias Navais (ETNA) é uma unidade da Marinha, que tem por missão principal a formação profissional dos sargentos e praças, sem prejuízo das competências específicas de outras entida‑ des no mesmo âmbito. Actualmente, a ETNA compreende dois pólos: um que ocupa uma área de 65 hectares no Alfeite que corresponde às instalações do ex‑Grupo n.º 2 de Escolas da Armada (G2EA) e outro, de 15 hectares, em Vila Franca de Xira, que corresponde às instalações do ex-Grupo n.º 1 de Escolas da Armada (G1EA). No âmbito do projec‑ to de Reordenamento do Parque Escolar prevê-se a localização de todos os departamentos de formação na área do Alfeite, agregando ao seu perímetro um espaço adjacente que corresponde ao edifício da GOAME-DIV E, em fase de reformulação para o efeito. Em termos de património edificado, a ETNA herdou dois espaços de considerável dimensão e interesse histórico: 1. No que se refere ao pólo de Vila Franca de Xira, a Marinha ad‑ quiriu a Quinta das Torres em 1924. Um ano mais tarde, aí se insta‑ lava a Base da Flotilha Ligeira. Em 1934 era criada a Escola de Me‑ cânicos, onde passaram a ser ministrados os cursos de Electricidade, Torpedos e Minas, Máquinas e Radiotelegrafia. Cinco anos mais tar‑ de, a Quinta das Torres recebeu a Escola de Alunos Marinheiros, que ficou agregada à Escola de Mecânicos e sob a autoridade do mesmo Comandante, embora com um 2º Comandante próprio. Em 1954 era criada, na Escola de Mecânicos, a Escola de Rádio-Detecção, embrião da futura Escola de Informações de Combate. Com a reestruturação do ensino na Armada, em 1961, foi extinta a Escola de Mecânicos e criado o G1EA, constituído pelas seguintes escolas: de Sargentos, de Máquinas, de Electrotecnia, de Comunicações, de Armas Submarinas, de Escriturários, de Informações de Combate e de Alunos Marinhei‑ ros. Em 1963 a Escola de Comunicações foi transferida para o G2EA e a Escola de Escriturários deu lugar à Escola de Abastecimento. A Es‑ cola de Armas Submarinas foi transferida para o G2EA em 1972. Em 1979, a Escola de Alunos Marinheiros foi considerada como Unida‑ de da Armada, embora continuasse adstrita ao G1EA. Em 1993 a Es‑ cola de Informações de Combate foi transferida para o G2EA. Com a reordenação de 1994, o G1EA passou a compreender as Escolas de Máquinas, Electrotecnia e Abastecimento. Em 1996 a Escola de Alu‑ nos Marinheiros foi extinta e a sua missão passou para a Escola de Fuzileiros em Vale de Zebro. 2. Na área do pólo do Alfeite iniciaram-se, em 1914, obras para construção da Escola de Aplicação de Marinha. Esta escola, contudo, nunca se chegou a instalar, pois as obras foram suspensas em 1915, depois de se ter dado início à construção do Corpo de Marinheiros. Cerca de 1924 foi extinto o Corpo de Marinheiros e substituído por Brigadas Autónomas, uma delas a Brigada de Marinheiros que passou a ocupar as instalações no Alfeite. Em 1934 o Corpo de Marinheiros ressurgiu, reintegrando as Brigadas e instalando-se, pela primeira vez, no aquartelamento do Alfeite, onde antes estivera instalada a Briga‑ da de Marinheiros. Aí permaneceria até à sua extinção definitiva, em 1961, altura em que seria substituído pelo G2EA. O começo do G2EA foi bastante modesto, pois limitou-se a agrupar as Escolas de Artilharia e de Limitação de Avarias, que, respectivamente desde 1937 e 1959 se situavam, já, na sua actual localização, e a juntar-lhes a Escola de Fuzileiros, com ele criada em 3 de Junho de 1961 (esta, sendo a única escola geograficamente afastada, por se situar em Vale do Zebro, viria a tornar-se independente em 1969, sendo posteriormente integrada na estrutura do Corpo de Fuzileiros). Conforme referido anteriormente recebeu, entre 1971 e 1993, as escolas até então colocadas no G1EA. Entretanto, em 1985, fora criada a Escola de Tecnologia de Instrução e Treino. Além das escolas, já referidas criou-se, em Abril de 1979, o Departamento de Instrução Comum, com o fim de coordenar o ensi‑ no das disciplinas de cultura geral e de formação. Este departamento viria a ser extinto em 1995, dando origem a dois departamentos de formação: Departamento de Formação de Sargentos e o Departamento de Formação de Língua Inglesa. Ficaram então no G2EA englobadas as seguintes escolas: de Artilharia Naval; de Limitação de Avarias; de Comunicações; de Armas Submarinas; de Informações de Combate; de Marinharia; de Escola de Tecnologias de Educação e Treino; e o Departamento de Formação de Língua Inglesa/Departamento de For‑ mação de Sargentos (ex-DIC). O decreto regulamentar nº 34/94, de 1 de Setembro, estabeleceu uma nova estrutura orgânica para os Grupos de Escolas, pois já previa a necessidade da criação de novas classes de sargentos e praças (reflec‑ tindo a organização departamental implementada a bordo das unidades navais mais recentes) e de um reordenamento do parque escolar, de modo a rentabilizar infra-estruturas e a racionalizar o pessoal. Por outro lado, a aplicação do modelo departamental também à estrutura escolar permitiria a flexibilização das estruturas físicas, com espaços de forma‑ ção comuns. Assim, em1998, inicia-se um processo de transformação que devia ser simultaneamente conduzido em duas frentes: - Reestruturação do Sistema de Formação da Marinha, visando o es‑ tabelecimento de uma nova estrutura orgânica para a Formação; - Reordenamento do Parque Escolar, tendo em vista a concentração de toda a Formação da Marinha numa estrutura física comum. Com o primeiro processo, as escolas técnicas foram transformadas em departamentos de formação, de modo a reflectir a estrutura fun‑ cional existente a bordo dos navios e as novas classes de sargentos e praças daí resultantes: Operações, Electromecânicos e Técnicos de Armamento. Tal como nas unidades navais, foram criados os depar‑ tamentos de Operações, Propulsão e Energia, Armas e Electrónica e Logística. O segundo processo, fundamental para a concretização do primei‑ ro, conduziu à gradual transferência das escolas do G1EA para as ins‑ talações do G2EA, de modo a concentrá-las no mesmo espaço físico e com uma estrutura de apoio comum. Posteriormente, resultante de uma reorganização do sistema de for‑ mação profissional da Marinha, em Outubro de 2004 dá-se a extinção do G1EA e do G2EA, sendo criada a ETNA, cuja vocação manifesta a necessidade de centralizar serviços e recursos. Nestes termos, a ETNA tem um comando único para ambos os pólos, do qual dependem duas estruturas fundamentais: a de formação e a de apoio. A estrutura de formação contempla no pólo do Alfeite os departamentos de Armas e Electrónica, de Comunicações e Sistemas de Informação, de Ope‑ rações, de Formação Geral, de Formação e Tecnologias de Educação, de Limitação de Avarias e a Escola de Autoridade Marítima que ali está localizada embora com uma dependência distinta. No pólo de Vila Franca de Xira permanecem, por enquanto, os departamentos de Pro‑ pulsão e Energia e Administração e Logística. Por sua vez, os departa‑ mentos de Pessoal e Segurança, Material, Administração Financeira e o Serviço de Comunicações e Sistemas de Informação apoiam toda a actividade da ETNA, repartindo-se por ambos os pólos. Actualmente decorrem obras de construção em algumas infraestru‑ turas logísticas e de formação no Alfeite, tendo em vista aumentar a capacidade e qualidade das infra-estruturas da Escola. A ETNA conta com uma lotação de 765 oficiais, sargentos, praças e civis que têm por missão formar e apoiar com um elevado padrão de qualidade uma média de 1000 alunos/dia (oficiais, sargentos e praças) em ambos os pólos, em cursos de carreira e cursos complementares. (Colaboração da ETNA) Instalações da Marinha 10. A Escola de Tecnologias Navais Foto Esquadrilha de Helicópteros Alfeite Vila Franca de Xira