INSTITUTO DE CIÊNCIA DA SAÚDE FUNORTE / SOEBRÁS HABILIDADES SOCIAIS: UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO BREVE COM ENFERMEIRAS ELIANE MELNIC VIEIRA CACOAL, 2013 INSTITUTO DE CIÊNCIA DA SAÚDE FUNORTE / SOEBRÁS HABILIDADES SOCIAIS: UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO BREVE COM ENFERMEIRAS ELIANE MELNIC VIEIRA Monografia apresentada ao Programa de Especialização em Psicoterapia Breve do ICS – FUNORTE/SOEBRÁS NÚCLEO CACAOL como parte dos requisitos para obtenção de título de Especialista. ORIENTADORA: Prof. Dra. Carmen Maria Bueno Neme CACOAL, 2013 INSTITUTO DE CIÊNCIA DA SAÚDE FUNORTE / SOEBRÁS HABILIDADES SOCIAIS: UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO BREVE COM ENFERMEIRAS ELIANE MELNIC VIEIRA Monografia apresentada ao Programa de Especialização em Psicoterapia Breve do ICS – FUNORTE/SOEBRÁS NÚCLEO CACAOL como parte dos requisitos para obtenção de título de Especialista. Aprovada em _______/________/_________ BANCA EXAMINADORA _____________________________________________ Orientadora: Professora Dra. Carmen Maria Bueno Neme ___________________________________________ Professora Ms. Cristiane Araújo Dameto ___________________________________________ Professor Ms. Plínio Marinho de Carvalho Júnior Dedico a meus pais, José Antônio e Elice, irmãos, Ricardo e Rogério, pelo apoio e as professoras Dra. Carmen Maria Bueno Neme e Ms. Cristiane Araújo Dameto, pela sabedoria nas orientações e pela troca de experiência. Os fenômenos humanos são biológicos em suas raízes, sociais em seus fins e mentais em seus meios. Jean Piaget RESUMO O Treinamento de Habilidades Sociais pode ser utilizado para aumentar a competência social de enfermeiros, contribuindo para o arranjo de contextos interativos entre a equipe hospitalar e os pacientes. A presente monografia apresenta uma proposta destina-se a um grupo de 17 enfermeiras na faixa etária de 23 a 50 anos, das quais uma era auxiliar de enfermagem com o 2º grau, 15 possuíam o 2º grau e curso de técnico em enfermagem e uma tinha ensino superior em enfermagem. Todas as participantes estavam vinculadas a um hospital particular de um município do interior de Rondônia. A proposta foi pensada a partir dos dados coletados por Vieira (2011) através do Inventário de Habilidades Sociais de autoria de Almir e Zilda Del Prette. Ela consiste em 12 encontros para o desenvolvimento de habilidades sociais, visando ampliar o repertório de habilidades sociais e generalização das habilidades sociais aprendidas nos encontros para o contexto hospitalar. Palavras-chave: Habilidades Sociais; Intervenção Breve; Enfermeiros. ABSTRACT The Social Skills can be used to increase the social competence of nurses, contributing to the interactive contexts arrangement between the hospital staff and patients. This monograph presents a proposal aimed at a group of 17 nurses aged 23-50 years, of which one was a nursing assistant with 2nd degree, 15 had 2nd degree and technician course in nursing and had higher education in nursing. All participants were linked to a private hospital in a city in the interior of Rondônia. The proposal was designed from the data collected by Vieira (2011) through the Social Skills Inventory - Del Prette. It consists of 12 meetings for the development of social skills in order to expand the repertoire of social skills and generalization of social skills learned in meetings for the hospital context. Keywords: Social Skills, Brief Intervention, Nurse. SUMÁRIO INTRODUÇÃO...........................................................................................................08 1. HABILIDADES SOCIAIS.......................................................................................09 1.1. Conceito e definição de habilidades sociais..................................................09 1.2. Elementos das habilidades sociais.................................................................13 1.2.1. Elementos comportamentais........................................................................13 1.2.2. Elementos cognitivos....................................................................................19 1.2.3. Elementos situacionais..................................................................................21 1.3. Estilos de comportamento e de comunicação...............................................22 1.4. Aprendizagem e ausência das habilidades sociais.......................................24 1.5. Técnicas de avaliação das habilidades sociais..............................................27 1.6. Treinamento de habilidades sociais................................................................29 2. INTERVENÇÃO BREVE E PONTUAL..................................................................33 3. INVESTIGAÇÃO DAS HABILIDADES SOCIAIS EM ENFERMEIRAS.................36 3.1. Descrição da população...................................................................................36 3.2. Descrição do instrumento................................................................................36 3.3. Apresentação dos resultados..........................................................................37 4. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO BREVE EM HABILIDADES SOCIAIS COM ENFERMEIRAS.........................................................................................................39 4.1. Descrição da proposta de intervenção...........................................................39 4.2. Descrição dos encontros e temas a serem trabalhados...............................39 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................45 REFERÊNCIAS..........................................................................................................46 8 INTRODUÇÃO As habilidades sociais são componentes importantes nas relações humanas, como amizades, relações íntimas, familiares e profissionais, visto que é através da interação com outras pessoas que nos tornamos sujeitos, desenvolvemos nossa individualidade e subjetividade, e ainda, nosso repertório de habilidades sociais. A literatura nos conta que até pouco tempo, salvo algumas exceções, o gerenciamento de pessoal no trabalho valorizava quase tão somente as competências técnicas, em detrimento da competência social nas interações profissionais. Atualmente, para haver maior produtividade no trabalho demanda-se qualidade nas relações interpessoais, uma vez que argumentar, criticar, solicitar mudança de comportamento e cumprir regras é inevitável. Com base na premissa de que a hospitalização traz dor e angústia aos pacientes e seus familiares, cabe aos profissionais da área da saúde, dentro das possibilidades, promover um ambiente agradável e oferecer um atendimento de qualidade proporcionando amenização do sofrimento. Para prestar atendimentos de qualidade visando à recuperação do paciente, além dos aspectos técnicos, é necessário considerar os aspectos relacionais, os quais demandam repertório de habilidades sociais que contribuem para o enfrentamento de possíveis obstáculos, tensões e dificuldades interpessoais. Alguns enfermeiros acreditam que a melhora das enfermidades dos pacientes depende, exclusivamente, de se executar uma técnica precisa, de seguir padrões com frieza e exatidão, aplicar prescrições sem questionamentos, onde não opinam na forma de assistência e veem o médico como se fosse o único portador do conhecimento científico e de todas as formas assistenciais. Em contrapartida, outros 9 acreditam que uma boa assistência deve ser prestada dentro de uma visão holística, na qual a solidariedade e a benevolência para com o próximo são imprescindíveis para a valorização do ser humano, estabelecendo, desta forma, uma relação de ajuda e empatia, fazendo com que a humanização seja à base da profissão de enfermagem (BARBOSA, 2007; LEITE; NUNES; BELTRAME, 2012). Diante das considerações, a presente monografia objetivou propor uma intervenção breve em habilidades sociais com dezessete enfermeiras que atuavam num hospital particular de um município do interior do estado de Rondônia e que foram previamente avaliados por trabalho anterior (VIEIRA, 2011). Logo, a proposta baseou-se nos resultados obtidos com essa mesma população (VIEIRA, 2011), visando à ampliação do repertório dessas habilidades. 10 1. HABILIDADES SOCIAIS 1.1. Conceito e definição de habilidades sociais Houve uma sucessão de termos até chegar ao termo “habilidades sociais”. Primeiramente, nos Estados Unidos, Salter (1949) desenvolveu técnicas para ampliar a expressividade verbal e facial, difundiu a expressão “personalidade excitatória”, a qual Wolpe (1958) substituiu por “comportamento assertivo” designando-o à defesa dos próprios direitos e expressão de sentimentos negativos. Posteriormente, outros autores sugeriram a troca do termo, como, “liberdade emocional” (LAZARUS, 1971), “efetividade pessoal” (LIBERMAN, 1975) e “competência pessoal” (ZIGLER e PHILLIPS, 1960). Apesar dessas sugestões, foi o termo “habilidades sociais”, empregado às interações homem-máquina na Inglaterra que começou a avigorar como suplente de “comportamento assertivo” em meados de 1970 (CABALLO, 2008a). No Brasil, o primeiro trabalho relacionado à temática data da década de 70 (DEL PRETTE, 1978). Todavia, somente a partir da década de noventa com a publicação de artigos e livros por Del Prette e Del Prette (1996; 1999; 2001b; 2005) e Barreto (1999), a escassez de trabalhos sobre habilidades sociais e conceitos relacionados começou a serem amenizadas. O termo habilidade refere-se à capacidade específica requerida para execução competente de uma tarefa. Ao passo que, o termo social é um adjetivo empregado para qualificar o termo habilidade. Esse adjetivo refere-se ao fato de que o interesse na conduta de uma pessoa, dá-se a partir de uma perspectiva social. 11 A habilidade social depende do contexto cultural, da idade, do sexo, da classe social e da educação, visto que os padrões de interação diferenciam-se entre culturas e dentro de uma mesma cultura, e ainda, da situação, porquanto um comportamento considerado adequado em determinada situação pode ser, obviamente, impróprio em outra. Além disso, o grau de eficácia exprimido por uma pessoa provirá do que espera obter na situação específica em que se depare à medida que o indivíduo avalia à situação com base nas suas crenças, capacidades cognitivas, valores e seu estilo de interação. Consequentemente, não existe um critério universal para habilidade social. Todavia, existe um consenso de que as habilidades sociais é um repertório de comportamentos adequados utilizados na interação social. Sendo o desempenho social um comportamento ou agregado desse, manifestado socialmente, a avaliação positiva mediante a funcionalidade e coerência associadas a inúmeras características pessoais, situacionais e culturais desse desempenho é chamada de competência social. Segundo Del Prette e Del Prette (2001a, p. 14), “o desempenho social refere-se à emissão de um comportamento em uma situação social qualquer. Já a competência social tem sentido avaliativo que remete aos efeitos do desempenho social nas situações vividas pelo indivíduo”. Por sua vez, as habilidades sociais são aquelas classes de comportamentos constituintes de uma atuação de desempenho socialmente competente. Para Ferreira, Del Prette e Lopes (2009, p. 49-50), o termo habilidades sociais refere-se às “diversas classes de comportamentos sociais que permitem a uma pessoa usufruírem de relações reforçadoras, saudáveis e produtivas com os outros em qualquer situação e cultura”. 12 Para lidar com as diversas situações interpessoais, as habilidades sociais são compostas de diferentes classes de comportamentos sociais e repertórios. Para Del Prette e Del Prette (2001a), elas são as seguintes: Habilidade social de civilidade: dizer ”por favor,”, agradecer, apresentar-se, cumprimentar e despedir-se; Habilidades sociais assertivas, direito e cidadania: manifestar opinião, concordar e discordar, desculpar-se, interagir com autoridade, estabelecer e encerrar relacionamentos, expressar raiva/desagrado, pedir mudança de comportamento, lidar com críticas, fazer, aceitar e recusar pedidos; Habilidade social de trabalho: coordenar grupos, falar em público, resolver problemas, tomar decisões e mediar conflitos, habilidades sociais educativas; Habilidade social de comunicação: fazer e responder perguntas, pedir e dar feedback, gratificar/elogiar, iniciar, manter e encerrar conversação; Habilidade social de expressão de sentimento positivo: fazer amizade, expressar solidariedade e cultivar o amor; Habilidades sociais empáticas: parafrasear, refletir sentimentos e expressar apoio. Especificamente para o contexto do trabalho, o conceito de habilidades sociais profissionais é proposto e definido por Del Prette e Del Prette (2001a, p. 89) como: “aquelas que atendem às diferentes demandas interpessoais do ambiente de trabalho, objetivando o cumprimento de metas, a preservação do bem-estar da equipe e o respeito aos direitos de cada um”. Por isso, a empatia, capacidade de compreender e colocar-se no lugar do outro, deve estar presente nas relações interpessoais à medida que aumenta os vínculos entre as pessoas e reduz os conflitos. Todavia, não se pode abrir mão da assertividade, expressão dos próprios direitos e sentimentos, causando assim, prejuízos ao trabalhador e/ou ao trabalho. 13 O comportamento socialmente hábil é esse conjunto de comportamentos emitidos por um indivíduo em um contexto interpessoal que expressa sentimentos, atitudes, desejos, opiniões ou direitos desse indivíduo de modo adequado à situação, respeitando esses comportamentos nos demais, e que geralmente resolve os problemas imediatos da situação enquanto minimiza a probabilidade de futuros problemas (CABALLO, 2008a, p. 6). Uma conduta habilidosa é definida com base em seus conteúdos, o que é expresso, e em suas consequências, o que é obtido, uma vez que é por meio deles que poderemos estimar o nível de habilidade social. Por isso, veremos os elementos que compõe as habilidades sociais. 1.2. ELEMENTOS DAS HABILIDADES SOCIAIS As habilidades sociais possuem três elementos: os comportamentais envolvem os tipos de habilidades, os cognitivos que incluem as variáveis pessoais e situacionais que contempla o contexto ambiental. 1.2.1. Elementos comportamentais Os elementos comportamentais das habilidades sociais englobam componentes verbais, paralinguísticos e não verbais. Os componentes verbais imputam ao conteúdo da fala. Enquanto, os componentes paralinguísticos modulam o conteúdo. Já, os componentes não verbais mudam e/ou matizam o conteúdo, sendo comunicativos em si mesmos. Dessa forma, o conteúdo de nossas palavras nas interações, vem acompanhado de outros elementos, e caso estes sejam inadequados, prejudicarão a comunicação (CABALLO, 2008b). 14 O conteúdo verbal expressa o objetivo da fala, como: iniciar e manter conversas; falar em público; expressar opiniões pessoais, sentimentos e desagrado; defender os próprios direitos; pedir e rejeitar favores; fazer e aceitar compridos; desculpar-se; afrontar as críticas; assumir ignorância; e, pedir mudança na conduta dos demais. Numa comunicação eficaz, o tempo de fala de cada interlocutor precisa ser equivalente e a retroalimentação deve ser regular e intermitente, nunca constante, uma vez que ela apenas indicia que estamos escutando e entendendo o emissor, pois o excesso de retroalimentação poderá exprimir um desejo que a pessoa pare de falar. À proporção que, podemos também demonstrar atenção no que nos dizem, mantendo contato ocular, assentindo com a cabeça, utilizando expressões do tipo “sim”, “claro” e “estou vendo”, e ainda, parafraseando ao interlocutor, indicando a emoção sentida ao ouvir o que nos conta. Além disso, a retroalimentação não precisa e não deve centrar-se apenas nos aspetos positivos, podemos também utilizar perguntas para manter a conversação, proporcionar retroalimentação e influir no comportamento dos demais. Existem as perguntas abertas, cuja resposta exige resposta mais ampla, este tipo de pergunta convida ao interlocutor para que fale durante mais tempo, à medida que pergunta fechada induz reposta curta, restringindo a conversação. O conteúdo da fala é modulado pelos componentes paralinguísticos, os quais englobam aspectos como a latência, o volume, o tom, a clareza, a velocidade e a fluidez da fala. Assim como acontece com os componentes não verbais, os paralinguísticos são em muitas ocasiões difíceis de controlar e precisa esforço para mudá-los quando estes prejudicam as interações sociais. 15 Uma das variáveis da voz é a latência, definida como o tempo entre a fala dos interlocutores. Geralmente, as latências são mais curtas relacionadas a conversas acaloradas, ao passo que, as latências largas, à falta de clareza na expressão das ideias. O volume também se apresenta com uma variável da voz, o qual é determinado pela situação. Segundo o contexto, um volume baixo de voz pode indicar submissão, tristeza ou timidez, por sua vez, um volume muito elevado pode transmitir ira ou rudeza, ou ainda, confiança, extroversão ou persuasão. O volume moderado, por sua vez, quase sempre se associa às características positivas, como agrado ou alegria. Sendo assim, volume deve ficar entre o não gritar e ser ouvido com claridade. Entendendo o tom da voz como a qualidade que se produz por uma maior ou menor tensão das cordas vocais, dando como resultado uma voz mais aguda ou mais grave, torna-se essencial considerá-lo, visto que ele pode mudar completamente a intencionalidade da mensagem e até mesmo ter maior credibilidade que o conteúdo verbal quando trouxer informação oposta ao conteúdo. Uma vez que, manter o mesmo tom durante uma conversação traz a sensação de aborrecimento ou monotonia, à vista disso, mudar o tom, transmite dinamismo. A mudança de tom pode ocorrer através da elevação do tom nas palavras que nos interessa ressaltar e ao final das perguntas, e baixando o tom ao final das afirmações. A clareza pode ser prejudicada quando o indivíduo fala depressa ou arranha a língua, dando a impressão de ira ou impaciência, ou arrasta as palavras, indicando chatice ou de tristeza, ou ainda, quando tem forte sotaque. Assim como a clareza, a velocidade da fala também pode prejudicar a comunicação, uma vez que quando é feita de maneira excessivamente devagar pode dificultar o encadeamento das ideias 16 pelo receptor, além de sugerir aborrecimento, depressão ou confusão, ou se for demasiadamente rápida, sugerir variadas emoções como alegria, surpresa, introversão, ansiedade, entre outras (CABALLO, 2008a). Por fim, temos a fluidez, não menos importante do que os outros aspectos. A comunicação é dificultada quando não há fluidez na fala, isso ocorre quando há silêncios prolongados em metade de uma sentença e excessivos uso de bordões, palavras que se repetem para preencher silêncios entre ideias que geralmente indicam que o emissor está nervoso ou chateado. Ainda há as dificuldades como repetições, omissões e pronunciações incorretas, são as mais difíceis de eliminar, pois escapam ao controle consciente das pessoas, dificultando suas superações, todavia para outras, as dificuldades aparecem apenas em situações concretas, nas quais há ansiedade, insegurança, aborrecimento ou falta de interesse pela conversa. Visto que, os componentes paralinguísticos modulam o conteúdo, os componentes não verbais são comunicativos em si mesmos ao enfatizarem ou contradizerem o conteúdo da fala. Os componentes não verbais da comunicação são à base das impressões iniciais que se apresenta, todavia não somos conscientes de todos os elementos que utilizamos para criar uma primeira impressão. Além disso, também é importante conhecer o fato de que os componentes não verbais são difundidos culturalmente (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2001a). Os componentes moleculares não verbais da comunicação são: o olhar, as expressões faciais, o sorriso, a postura/orientação corporal, os gestos, a distância interpessoal, o contato físico e a aparência pessoal (CABALLO, 2008a). O olhar é mais constante quando se está escutando, visto que o discurso é acompanhado por ele. É frequente, o fato de que uma pessoa que olha mais 17 provoca mais resposta comunicativa no outro, mostrando a impressão de interesse e atenção, convidando assim o emissor a continuar. No entanto, a duração do contato ocular dependerá da relação que exista entre as pessoas. Olhar aos olhos com muita intensidade durante um tempo sustenido pode ser interpretado em certas situações como um sinal de hostilidade. Pelo adverso, evitar o olhar, se interpreta como um sinal de tristeza, de vergonha, de timidez e de falta de confiança. Todavia, é a combinação das variáveis externas e internas e da situação que determinará o evento de olhar mais ou menos. Na postura corporal e nos gestos, mesmo que seja por uns segundos, as emoções acabam sendo refletidas. Aliás, há indicadores incontroláveis das emoções, tal como a sudorese em situações ansiógenas (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2001b). As expressões faciais são provavelmente a variável mais observada para obter informação das emoções dos interlocutores, visto que, em muitos casos a expressão facial nos indica se a pessoa sente atração ou repulsão por algo ou por alguém, sem necessidade de palavras. As expressões faciais podem também proporcionar realimentação, à medida que podemos através delas expressar atitudes com os demais ou com a situação, como expressar alegria quando o emissor nos conta uma conquista profissional. Além disso, elas proporcionam mais expressividade ao conteúdo verbal. Há seis emoções básicas, inatas e comuns a todas as culturas, manifestadas através das expressões faciais, sendo elas: alegria, surpresa, tristeza, medo, ira e nojo/desprezo. O sorriso pode ser utilizado para expressar emoções positivas ou mascarar emoções negativas, para paquerar, ou como gesto de cortesia ao cumprimentar, iniciar uma conversa ou despedir-se. Ele pode ainda servir como retroalimentação 18 durante a escuta. Evidentemente, a maneira, a intensidade, a latência e a duração do sorriso, mudarão de acordo com os objetivos. O conteúdo verbal por vezes se apresenta menos comunicativo do que a postura corporal na medida em que as mensagens não verbais podem substituir, repetir, enfatizar ou contradizer a mensagem verbal. Além disso, ela pode chamar a atenção do interlocutor, indicar mudança de assunto, dar maior ênfase a fala ou indicar mudança de interlocutor. A orientação corporal entre os interlocutores assinala o grau de intimidade/formalidade da relação. Se a orientação corporal entre os interlocutores for frontal é sinal que há intimidade e que eles não querem ser interrompidos, mas, se o desvio corporal for muito, há frieza e desinteresse. Não obstante, um ângulo maior de desvio corporal, como num evento social, pode revelar o desejo que mais pessoas participem da conversa. Comumente, desprendemos maior atenção às expressões faciais quando falamos, porém o gesto, movimento do corpo utilizado por uma pessoa para exprimir ideias e sentimentos, usualmente realizados com as mãos e com o rosto, demonstram melhor o estado emocional das pessoas. Há gestos que são controlados facilmente enquanto outros não, como tremer. Apesar de muitos gestos efetuados durante uma conversa não possuírem significado concreto, a harmonia entre os gestos e a fala proporciona maior confirmação desta. “Os gestos que sejam apropriados às palavras que se pronunciam servirão para acentuar a mensagem acrescentando ênfase, franqueza e calor” (CABALLO, 2008a, p.375). Mencionados os movimentos, falemos do espaço pessoal. Ele é a distância mínima a ser mantida entre as pessoas que não provoque desconforto. Essa distância mudará em função da situação, de nosso estado de ânimo, da cultura de 19 procedência e da relação estabelecida com a outra pessoa, e ainda, do gênero, pois em geral, segundo Caballo (2008a, p.51). “as mulheres se aproximam mais aos demais que os homens”. É desejável a observação dos sinais verbais ou não verbais emitidos pelas outras pessoas para não violarmos seu espaço pessoal. Assim como na distância pessoal, o contato físico não pode contravir ao desejo da outra pessoa e também há grandes variações culturais no que se refere à quantidade e o tipo de contato físico. Ele serve para demonstrar sentimentos e para regular a interação social: é o caso dos cumprimentos, as despedidas, os parabéns ou os gestos habituais de cortesia. Por fim, temos a aparência pessoal, um componente também com forte valor comunicativo, pois a primeira impressão que fazemos demais e eles de nós, são feitos a partir da observação da aparência pessoal, segundo Caballo (2008a, p. 57) “as características da aparência pessoal oferecem impressões aos demais sobre atrativo, status, grau de conformidade, inteligência, personalidade, tipo social, estilo e gosto, sexualidade e idade”. O comportamento social é estabelecido a partir da combinação concreta de variáveis externas e internas de uma dada situação, e conhecer estes componentes comportamentais das habilidades sociais pode servir para análise e aperfeiçoamento dos aspectos desse comportamento (CABALLO, 2008a). 1.2.2. Elementos cognitivos Os elementos cognitivos envolvem a maneira como as pessoas percebem, aprendem, recordam e pensam sobre a informação, entre eles encontram-se: a atenção que nos permite selecionar informações; a consciência do processamento 20 das informações; a percepção que é “o conjunto de processos pelos quais reconhecemos, organizamos e entendermos as sensações recebidas dos estímulos ambientais” (STERNBERG, 2003, p.147); a memória que possibilita a retenção e recuperação de informações; a linguagem aprova a compreensão das palavras, resolução de problemas e raciocínio que possibilitam inferir conclusões. Uma sequência de eventos cognitivos antecede as respostas que solucionam habilmente uma interação interpessoal. Essa sequência inicia-se com uma percepção correta de estímulos interpessoais proeminentes, continua com o processamento flexível desses estímulos para originar e ponderar as possíveis alternativas de resposta, das quais se escolheria a melhor, e concluiria com a emissão adequada da alternativa escolhida. Ao se deparar com as diferentes demandas sociais, os indivíduos precisam inicialmente identificá-las (decodificá-las) para, em seguida, decidir reagir ou não, avaliando sua competência para isso. Esta identificação ou decodificação depende, criticamente, da leitura do ambiente social, o que envolve, entre outros aspectos: a) atenção aos sinais sociais do ambiente (observação e escuta); b) controle da emoção nas situações de maior complexidade; c) controle da impulsividade para responder de imediato; d) análise da relação entre os desempenhos (próprios e de outros) e as consequências que eles acarretam (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2001b, p. 20). A diversidade de ambientes sociais configura percepções diferentes que vão da formalidade a restrição e distância. A percepção do ambiente e da postura a ser tomada recebe influencia da idade e gênero do indivíduo e da percepção que este indivíduo acredita que o grupo no qual foi criado ou está inserido tem de uma dada situação ou ambiente. Faz-se necessária a investigação da percepção e interpretação das situações individuais quando houver déficit em habilidades sociais, pois em muitos transtornos psicológicos há percepções e interpretações errôneas do mundo externo. 21 A competência cognitiva é influenciada pelo conhecimento da conduta hábil apropriada, conhecimento dos costumes sociais, conhecimento dos diferentes sinais de resposta, empatia e capacidade de solução de problemas, pois esses elementos estão presentes na avaliação e categorização das construções cognitivas e das realizações comportamentais do mesmo. A percepção e a avaliação cognitiva por parte de um indivíduo de situações, estímulos e acontecimentos momentâneos estão determinadas por um sistema persistente, integrado por abstrações e concepções do mundo, incluindo os conceitos que tem de si mesmo (CABALLO, 2008a, p. 86). As habilidades cognitivas de processamento de informação são ativadas normalmente quando enfrentamos problemas a fim de buscar uma solução adequada. Arón e Milicic (1994) descrevem seis habilidades sócio-cognitivas de solução de problema importantes no campo das habilidades sociais: a geração de alternativas de solução – habilidade em gerar alternativas mentalmente de solução de problemas, com várias alternativas; a consideração das consequências dos próprios atos – capacidade de avaliar as consequências dos próprios atos sobre os outros; o desenvolvimento do pensamento meio-fim – é uma espécie de mapa interpessoal que detalhas procedimentos que devem ser tomados caso ocorra algum tipo de obstáculo; o desenvolvimento do pensamento de causalidade social – e o grau em que uma pessoa entende que os sentimentos e as condutas que ocorre nos problemas interpessoais; a sensibilidade aos problemas interpessoais – habilidade em perceber possíveis problemas interpessoais; orientação dinâmica – capacidade de ver além da superfície do comportamento explícito. 1.2.3. Elementos situacionais 22 Predominantemente, o comportamento humano é influenciado pelo ambiente no qual se desenvolve, sendo assim grande parte do repertório de conduta é aprendido por intermédio das interações sociais. Vamos aprendendo e configurando nossa forma de relacionarmos com os demais ao longo da vida. A esse respeito, Pereira, Del Prette e Del Prette (2009, p. 339) acrescentam: As experiências interpessoais e as condições ambientais tanto podem promover um elaborado repertório de habilidades sociais, quanto restringilo. Para Del Prette e Del Prette (2005), os fatores associados à dificuldade em apresentar um bom desempenho social são: (a) falta de conhecimento do ambiente; (b) restrições de oportunidades e modelos; (c) falhas de reforçamento; (d) ausência de feedback; (e) excesso de ansiedade interpessoal; (f) dificuldades de discriminação e processamento; e (g) problemas de comportamento internalizantes ou externalizantes. 1.3. Estilos de comportamento e de comunicação O comportamento social pode ser classificado em estilo passivo, agressivo ou assertivo (CABALLO, 2008a). No estilo passivo, o sujeito comporta-se de maneira inibida e não expressa com claridade o que deseja ou o que pensa, exprimindo inferioridade e passividade às outras pessoas. Já, no estilo agressivo, o sujeito ambiciona obter seus objetivos sem respeitar os direitos dos demais, e muitas vezes, através de comportamento agressivo para com as outras pessoas. Em contrapartida, no estilo assertivo, busca-se alcançar os objetivos próprios e respeita os direitos básicos dos demais. Geralmente, comportar-se de maneira passiva traz benefícios em curto prazo, pois se evita as situações sociais aversivas e os problemas. No estilo passivo ou inibido, a conduta se caracteriza pela fuga de olhar no rosto, pela voz baixa, pelas hesitações, pela postura corporal retraída e pelos gestos de insegurança e de ansiedade. Mas o certo é que, o comportamento passivo traz consequências 23 negativas, à medida que enfraquece a chance de alcançar os objetivos estabelecidos, possibilita que apenas aos demais decidirem, causando um sentimento de incapacidade e dificulta que outras pessoas o conheçam devido à falta de clareza na expressão de pensamentos e sentimentos. Portanto, as relações sociais em largo prazo podem deteriorar-se. Igualmente ao que acontece com o comportamento passivo, o agressivo também leva uma série de benefícios em curto prazo, pois através desse comportamento o indivíduo libera suas emoções e por vezes intimida os demais, o que pode proporcionar sentimentos momentâneos de poder. Nada obstante, manter comportamento agressivo em largo prazo, geralmente, traz consequências negativas, à proporção que esse tipo de comportamento desgasta as relações sociais, pois causa ressentimento, provocando a evitação, a repressão ou resposta agressiva das pessoas. Isso ocorre por que o agressivo coloca suas necessidades cima das dos demais, o que por vezes contribui para que os objetivos não sejam alcançados. A conduta no estilo agressivo se caracteriza pelo olhar fixo aos olhos de maneira contínua durante um tempo excessivo, pelo tom de voz muito elevado, pela rapidez para falar, por gestos de ameaça, de frieza e/ou superioridade. Por fim, temos o comportamento assertivo, o qual demanda clareza de objetivo e o controle emocional dentro das possibilidades. Ele beneficia as relações na maioria das vezes, pois, aumentando a resolução de problemas, tornando as relações sociais em largo prazo mais satisfatórias. A conduta verbal do estilo assertivo se distingue pela clareza das falas, pela responsabilidade pelo que é dito, pelo respeito pela opinião alheia e pela não utilização de expressões destrutivas, como insultos e ameaças. 24 O comportamento assertivo é o mais almejado, apesar do comportamento é situacional e condicionado culturalmente (CABALLO, 2008a), dessa forma, um comportamento num dado contexto definirá em parte a primazia desse comportamento. Em ocasiões esporádicas, comportar-nos agressiva ou inibidamente traz melhores resultados, embora em longo prazo traga desvantagens, por isso majoritariamente devemos ser assertivos. Portanto, qualificar um comportamento como assertivo, inibido ou agressivo depende não só das características do mesmo, senão dos objetivos que se propõe o comunicador assim como das consequências do mesmo. 1.4. Aprendizagem e ausência das habilidades sociais Há duas suposições quanto ao desenvolvimento das habilidades sociais segundo Del Prette e Del Prette (2005), a primeira postula que as habilidades sociais são inatas e a segunda aponta que é na relação entre o indivíduo e o meio que estas habilidades se desenvolvem. Estas duas suposições se complementam uma vez que se deve levar em consideração que o indivíduo nasce com um equipamento orgânico, mas desprovido de recursos para sobreviver, necessitando continuamente aprender novas habilidades, já que seu ambiente está em constante transformação física e social. Um exemplo disto é o fato de que contatos visuais e contatos físicos, como os que ocorrem nos momentos de higiene ou de carinho, fazem com que desde o nascimento, o indivíduo comece a reagir diferencialmente às situações. A aprendizagem das habilidades sociais se dá através de uma complexa relação entre variáveis pessoais, ambientais e culturais, estando sua adequação e competência determinadas pela interação permanente do sistema interpessoal, o qual precisa adaptar-se a diferentes tarefas e 25 funções do indivíduo, da família e dos papéis sociais que cada um deve cumprir em sua vida (FORMOZO, COSTA e OLIVEIRA, 2009, p.5485-5486). É indispensável prosseguir aprendendo a fim de persistir socialmente hábil, mediante as mudanças dos costumes sociais. Similarmente a isso, as habilidades sociais também podem dissipar-se pelo desuso. Quanto à motivação para a aprendizagem de novas habilidades apenas em caso próximo à psicopatologia ocorre a falta de motivação para a interação social. Pode ocorrer de um indivíduo não ter motivação para relacionar-se com algumas pessoas uma vez que a motivação costuma ser seletiva (CABALLO, 2008a). Ainda que nos casos extremos, a preponderância das predisposições biológicas vigore sobre as experiências interpessoais na determinação dos comportamentos sociais, é presumível que o desenvolvimento das habilidades sociais resulte majoritariamente da maturidade e das experiências de aprendizagem. Sendo assim, a competência social de um adulto depende da situação, à proporção que, haverá predomínio dos fatores temperamentais e da experiência em determinada situação. A aquisição das habilidades sociais ocorre por meio do processo de aprendizagem durante as interações sociais. Na infância, podem ocorrer falhas na aprendizagem do comportamento social se a criança relaciona-se com pessoas com baixo repertório de habilidades sociais, de estilo de comunicação passivo ou agressivo que acabam por não dificultar uma aprendizagem satisfatória de habilidades sociais. Segundo a teoria da aprendizagem social de Bandura (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2005), a aprendizagem precoce da conduta social ocorre por meio: da modelação e instrução, que acontece durante as interações com outras pessoas; do reforçamento ou punição das repostas sociais, provocando aumento e 26 aprimoramento de determinados comportamentos, e diminuição ou extinção de outros; da oportunidade para praticar o comportamento em diversas situações; e, do desenvolvimento das capacidades cognitivas. Del Prette e Del Prette (2001a, p. 14) afirmam que “além da experiência de aprendizagem, há ainda um conjunto de fatores pessoais (pensamentos, sentimentos, valores pessoais, atribuições, crenças, planos e metas) que podem facilitar ou dificultar o exercício desse repertório em uma situação social dada”. Deste modo, a interação social de um indivíduo pode ser prejudicada, ou até mesmo impossibilitada, por distúrbios cognitivos e afetivos mesmo que ele seja capaz de pensar em uma resposta hábil. Alberti e Emmons identificam três barreiras que dificultam a auto-expressão, segundo Caballo (2008a, p.36): "a) pessoas que não acreditam que tem o direito de serem assertivas; b) pessoas que sentem ansiedade ou medo de serem assertivas; c) pessoas que não tem habilidade para se expressar de maneira eficaz”. Quanto à análise funcional do comportamento, Caballo (2008a, p.113) afirma: “se um comportamento desejado não se manifesta, em determinada situação, existem várias possibilidades que podem explicar o fato, incluindo o reforço pouco frequente, o castigo do comportamento, ou um fracasso para desenvolvê-lo”. Além disso, para esse autor, comportamento, emoções, sensações, pensamentos, relações, imaginação, drogas (estado fisiológico) e ambiente podem ser fatores que podem provocar o déficit de habilidades sociais. E ainda, uma situação pode ser composta de uma variedade de respostas nas quais se encontram implicados diferentes fontes de acontecimentos que o mantêm. Mediante a tudo que foi exposto, a importância de avaliar o repertório de habilidades sociais, fundamenta-se em seu enlace com a saúde, a satisfação 27 pessoal, a realização profissional e a qualidade de vida. Segundo Del Prette (2001a, p.12), “as pessoas socialmente hábeis apresentam relações pessoais e profissionais mais produtivas, satisfatórias e duradouras, além de melhor saúde física e mental”. Por outro lado, os déficits e comprometimentos de habilidades sociais estão geralmente associados a dificuldades e conflitos nas relações interpessoais, a uma pior qualidade de vida e a diversos tipos de transtornos. 1.5. Técnicas de avaliação das habilidades sociais Há uma variedade de procedimentos de avaliação das habilidades sociais, todavia esses procedimentos têm uma natureza questionável uma vez que é difícil definir o que constitui um comportamento socialmente hábil e quais critérios externos significativos devem ser utilizados nessa avaliação (CABALLO, 2008a). A aplicação das técnicas de medição pode ocorre antes, durante, após o tratamento ou no período de acompanhamento. Antes do tratamento, consiste em uma análise ampla para determinar os déficits em habilidade social do paciente, tanto dos comportamentos quanto das cognições ligadas a crenças pouco racionais, auto verbalizações negativas, expectativas pouco realista e comportamentos inábeis. Enquanto, durante o tratamento, é feito uma análise da maneira que ocorre a modificação dos comportamentos do indivíduo, por meio de auto-avaliação e avaliação do tipo de intervenção para verificar se o paciente está generalizando o aprendido nos encontros na vida real. Já, depois do tratamento, é averiguado se houve melhora do paciente em termos comportamentais e cognitivos. Por fim, no período de acompanhamento, explora-se o grau em que o paciente manteve as mudanças e/ou progrediu (CABALLO, 2008a). 28 Em uma avaliação das habilidades sociais de um indivíduo, primeiramente, realiza-se uma análise das situações, onde são identificadas e descritas as situações importantes do ambiente que o paciente tem de enfrentar para obter uma amostra de situações interpessoais problemáticas, como: fazer amigos, relacionar-se e interagir com pessoas que são percebidas como diferente. Logo a seguir, enumeram-se os comportamentos em situações interpessoais problemáticas. No sucessivo, ocorre uma avaliação desses comportamentos através de um julgamento e relacionando-os às respostas que são mais ou menos eficazes ou neutras, a fim de obter um conjunto de princípios que governem o comportamento efetivo. Por fim, questionários e testes referentes a habilidades sociais são aplicados. Caballo (2008a) recomenda a utilização de mais de um método porque se houver discrepâncias entre eles, pode servir para indicar que é preciso mais pesquisa. Segundo esse autor, os dez procedimentos mais frequentemente empregados: entrevista com o paciente; auto-registro por parte do paciente; entrevista com outras pessoas significativas do ambiente do paciente; observação direta dos comportamentos-objetivos in situ; informação de outros profissionais consultados; representação de papéis; medidas de autor-informe comportamentais, como é o caso do Inventário de Habilidades Sociais de Del Prette; questionário demográfico; testes de personalidade; e, testes projetivos. O Inventário de Habilidades Sociais de Del Prette tem por objetivo caracterizar o desempenho social em diferentes situações e tem sido utilizado na avaliação do desempenho social de adultos com formação de segundo e terceiro graus (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2001a, p. 15). É um instrumento de auto- relato que serve para aferir o repertório de habilidades sociais usualmente requeridos, por esse motivo foi o instrumento utilizado para obtenção de dados. 29 1.6. Treinamento de habilidades sociais Há controvérsias quanto há origem do treinamento de habilidades sociais. Para Caballo (1996) esse treinamento deriva do Treinamento Assertivo, originário nos Estados Unidos, enquanto para Del Prette e Del Prette (1996; 1999) e Falcone (2002), ele originou, na Inglaterra, das obras de Argyle, mais especificamente, com a publicação do livro The psychology of interpersonal behavior em 1967. O treinamento de habilidades sociais é para Curran (1985, p.122, apud Caballo, 2008a, p.181): “uma tentativa direta e sistemática de ensinar estratégias e habilidades interpessoais aos indivíduos com a intenção de melhorar sua competência interpessoal individual em tipos específicos de situações sociais”. De acordo com alguns autores (CABALLO, 1996; DEL PRETTE; DEL PRETTE, 1999, 2001a, 2001b; FALCONE, 2002), existem vários modelos conceituais que embasam o treinamento de habilidades sociais, como: o cognitivo, o da teoria de papéis, o da assertividade, o da aprendizagem social e o da percepção social. Desses modelos decorrem várias técnicas e ainda diversas combinações entre elas, dependendo do modelo adotado pelo terapeuta e do modo como este desenvolverá estratégias de intervenção. Há as técnicas comportamentais: o ensaio comportamental, a modelação, as instruções, a retroalimentação, o reforço e as tarefas para casa. Além dessas, há as técnicas cognitivas, como treinamento em auto-instruções e solução de problemas, e as técnicas derivadas da Psicologia Social: exposição oral, arranjos de grupos e simulações de desempenho. Há ainda entre essas técnicas, que buscam uma generalização e transferência das habilidades aprendidas à vida real e a outras habilidades não 30 treinadas especificamente, o método vivencial, utilizado na proposta apresentada nessa monografia. Com base no trabalho: “O método vivencial no campo das Habilidades Sociais: construção histórico-conceitual e sua aplicação” (DIAS; OLIVEIRA; FREITAS, 2011), é possível observar que na década de 70 já se identificava aspectos característicos do que consiste nos dias atuais o método vivencial. Contudo, desde 1978 até atualmente, uma série de modificações e aperfeiçoamentos nas técnicas e procedimentos beneficiaram a construção e operacionalização do mesmo. Este método foi apresentado e sistematizado por Del Prette e Del Prette que definiram o conceito de vivências, como: Atividade de grupo, estruturada de modo análogo ou simbólico a situações cotidianas, que cria oportunidades para desempenhos específicos, permitindo que o facilitador avalie os comportamentos observados e utilize as contingências pertinentes para fortalecer e/ou ampliar o repertório de habilidades sociais dos participantes (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2005b, p. 101). Este método ajuda os participantes a saírem do foco de si mesmo, podendo esses aprender a lidar com suas simpatias, similaridades, diferenças, inveja, timidez, medo, atração e competitividade; os membros dão e recebem feedback acerca do significado e efeito de suas várias interações uns com os outros. As pessoas têm estilos de atuação diferentes o que enriquece a aprendizagem pela observação uns dos outros. É importante deixar claro aos participantes que a forma executada no grupo não é a única forma correta de comportar-se naquela situação social específica, mas apenas uma das formas possíveis. 31 Embora adote alguns procedimentos como situações simbólicas e análogas ao cotidiano para o desempenho de papéis, a vivência consiste em um método de aprendizagem de habilidades sociais e não deve ser confundida com a dinâmica de grupo ou Psicodrama que visam à expressão de supostos conflitos e sentimentos e gerar emocionalidade. Quanto à estruturação, as vivências devem ser organizadas de forma que inicie por atividades e objetivos mais simples e gradativamente para as mais complexas. Ademais, as variações de procedimentos podem ser um recurso para evitar a estereotipia natural quando da aprendizagem de novos comportamentos ou como uma estratégia para facilitar a generalização das habilidades aprendidas no treinamento (DEL PRETTE, 1985). Segundo seus sistematizadores, Almir Del Prette e Zilda Del Prette, esse método não deve ser restrito à população com queixas clínicas, podendo também ser utilizado com fins educativos ou de prevenção. Rocha e Del Prette (2010) em artigo teórico destacam a importância do método vivencial, em concomitância com outros procedimentos, para efetividade de programas de habilidades sociais. Contamos ainda com trabalhos que empregaram o método vivencial com crianças de uma escola pública que reconheceu a utilização das vivências como uma ferramenta que contribuiu para melhorar a relação (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2006), com pais de crianças com problemas de comportamento, o qual obteve relatos de melhora qualitativa do relacionamento com os filhos e melhora nos comportamentos das crianças (PINHEIRO, et. al., 2006) e um programa com mães de crianças com Transtorno de Déficits de Atenção e Hiperatividade (TDAH), os resultados mostraram que o programa foi efetivo em promover mudanças significativas para as mães (ROCHA, 2009). 32 Por meio da fundamentação teórica, observou-se que os estudos que empregam o método vivencial se restringem a uma pequena parcela de pesquisadores, contudo os benefícios e vantagens que este método pode proporcionar sugerem a ampliação do emprego desse, favorecendo assim a complementação e aprimoramento do mesmo, contribuindo para seu valor empírico e rigor metodológico. A seguir apresentamos os conceitos e pressupostos básicos necessários à compreensão das Intervenções Breves. 33 2. INTERVENÇÃO BREVE E PONTUAL As técnicas terapêuticas concisas e de curta duração são classificadas em intervenções e terapias breves. À proporção que as terapias breves implicam numa programação mais prolongada de sessões, as intervenções breves não exigem muito tempo. Segundo Junqueira (2010, p.40), a intervenção breve “é uma estratégia bem estruturada, focal e objetiva, que utiliza procedimentos técnicos, permitindo estudos sobre a sua efetividade”. Em 1972, no Canadá, Sanchez-Craiz e colaboradores propuseram a técnica de intervenção breve como abordagem terapêutica para usuários de álcool. Contudo, segundo Junqueira (2010, p.40): “a estratégia não serve apenas para os problemas relacionados ao álcool, mas, também, pode ajudar os pacientes a mudarem uma série de comportamentos como modificar a dieta, parar de fumar, perder peso, entre outros”. Os primeiros referenciais teóricos utilizados como fundamentos para a criação de intervenção breve originaram das teorias comportamental e cognitivista. Atualmente, outras técnicas breves estão sendo implementadas dentro de diferentes abordagens e referenciais teóricos. As intervenções breves devem ser vistas como: um conjunto de estratégias ou procedimentos que variam quanto à duração, estrutura, metas, pessoal responsável, meio de comunicação, ambiente de execução e também em relação aos seus diferentes fundamentos teóricos e premissas filosóficas (MARQUES; FURTADO, 2004, p.29). As intervenções breves têm por objetivo identificar o problema e motivar o indivíduo a tomar uma atitude, visando a sua resolução, por meio de aconselhamento, orientação e, em algumas situações, monitoramento periódico do sucesso em atingir metas assumidas voluntariamente pelo paciente. Em habilidades 34 sociais, as intervenções breves podem ter como objetivo prevenir e reduzir os danos ou dificuldades provenientes do déficit em habilidades sociais e também melhorar o repertório de tais habilidades para melhor desempenho nas relações interpessoais, por meio de orientações de maneira focal e objetiva sobre os efeitos e consequências relacionadas às relações interpessoais. Os pressupostos teóricos das intervenções breves são: “o comportamento disfuncional pode ser mudado; a motivação precisa ser avaliada e adequada para a ação; e a percepção do paciente quanto à sua responsabilidade no processo de equilíbrio deve ser desenvolvida” (MARQUES; FURTADO, 2004, p.29). Segundo a literatura, há seis elementos componentes e característicos de uma intervenção breve. Os mesmos são identificados através do acrônimo FRAMES, formado pela letra inicial das palavras inglesas: Feedback, Responsability, Advice, Menu, Empathic e Self-efficacy (MILLER e SANCHEZ, 1993; MARQUES e FURTADO, 2004). Segue a explicação referente a cada um dos termos: Feedback é aplicado para definir a retroalimentação através da devolutiva dos resultados obtidos na aplicação de um instrumento e esclarecimento do significado do nível atingido em termos de população geral, assim como informa qual a carga de risco associada àquela pontuação obtida pelo paciente. Responsibility refere-se à ênfase na autonomia e responsabilidade do paciente no estabelecimento de metas. Advice equivale às orientações e recomendações alicerçadas no conhecimento empírico atual, sendo por tanto desprendidas de juízo de valor moral ou social, que o profissional fornece ao paciente, todavia resguardando a autonomia de decisão do paciente. 35 Menu é disposição de alternativas de ações ao paciente, pensadas a partir da análise conjunta das situações, que podem ser implementadas por ele. Empathic refere-se à postura empática, solidária e compreensiva do profissional para o paciente. Self-efficacy é atribuído ao ato de promover e facilitar a confiança do paciente em seus recursos e em seu sucesso, correspondendo a um reforço do otimismo e autoconfiança do paciente, voltado a uma maior autopercepção da eficácia pessoal e da consecução de metas assumidas. Bandura (apud Barry, 1999), um teórico cognitivista, propôs que "self-efficacy", auto-eficácia, representa uma influência importante sobre o comportamento que se manifesta numa resposta conjunta dos sistemas cognitivo, motivacional e emocional. Se uma pessoa tem uma percepção de baixa auto-eficácia devido à falta de habilidades de enfrentamento, ela provavelmente terá crenças distorcidas e negativas sobre si mesma e sobre sua condição, e terá menor motivação, mesmo para tentar enfrentar os problemas. No que concerne à questão do atendimento grupal, pode-se citar Moreira (1999), que pesquisou a indicação de grupos de encontro como uma forma de atendimento a mulheres vítimas de violência e percebeu que, através de uma intervenção breve, é possível obter ganhos no sentido de construir estratégias de superação da situação de violência, com as mulheres sentindo-se mais fortes e autônomas. Contudo, a pesquisadora pontuou a importância de que o grupo seja de natureza fechada, para que os conteúdos possam ser aprofundados e melhor trabalhados, já que nos grupos abertos tem-se um recomeço a cada encontro. 36 3. INVESTIGAÇÃO DAS HABILIDADES SOCIAIS EM ENFERMEIRAS 3.1. Descrição da população A presente proposta destina-se a um grupo de 17 enfermeiras na faixa etária de 23 a 50 anos, das quais uma fez curso de auxiliar de enfermagem e o 2º grau, 15 cursaram o 2º grau e o curso de técnico em enfermagem e uma cursou faculdade de enfermagem. Todas as participantes estavam vinculadas a um hospital particular de um município do interior de Rondônia (VIEIRA, 2011). 3.2. Descrição do instrumento O instrumento utilizado para avaliar o repertório em habilidades sociais desse grupo de enfermeiras foi o Inventário de Habilidades Sociais de autoria de Zilda e Almir Del Prette (2001a), publicado pela Editora Casa do Psicólogo. Este inventário indica uma estrutura composta de cinco fatores, que foram utilizados como base para a análise dos dados do presente estudo: Fator 1 – Enfrentamento Com Risco – que retrata situações interpessoais em que a demanda de reação ao interlocutor se caracteriza principalmente pela afirmação e defesa de direitos e autoestima, como risco potencial de reação indesejável por parte do interlocutor relacionando a estrutura conceitual das habilidades sociais; Fator 2 – AutoAfirmação na Expressão de Afeto Positivo – referente às demandas interpessoais de expressão de afeto positivo e de afirmação da autoestima, com baixo risco de uma reação indesejável; Fator 3 – Conversação e Desenvoltura Social – refere-se a 37 situações neutras relacionadas à conversação e desenvoltura social, sendo necessário para isso conhecimento das normas de relacionamento do cotidiano, “retratando a capacidade de lidar com situações sociais neutras de aproximação (em termos de afeto positivo ou negativo), com risco mínimo de reação indesejável, demandando principalmente ‘traquejo social’ na conversação” (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2001a, p.28); Fator 4 – Auto-Exposição a Desconhecidos ou a Situações Novas – inclui basicamente itens de situações que envolvem a abordagem de pessoa desconhecida; e Fator 5 – Autocontrole da Agressividade em Situações Aversivas – reuniu itens que supõe reações de calma e de autocontrole em situações de conflito e/ou agressividade. A análise dos valores obtidos pelo respondente nos diferentes fatores e em itens específicos permite a identificação de necessidades de treinamento ou de atendimento em grupos terapêuticos, sendo fundamental para o planejamento de programas de Treinamento de Habilidades Sociais em grupo. 3.3. Apresentação dos resultados Os valores médios nos cinco fatores da população avaliada, em termos de frequência, indicaram um bom repertório de habilidades sociais, acima da média estabelecida no manual do Inventário. Em outras palavras, as enfermeiras relataram emitir com certa frequência as habilidades avaliadas. Todavia, os dados mostraram que nove das dezessete enfermeiras apresentaram um repertório deficitário de habilidades sociais em um ou mais dos cinco fatores do inventário, sendo assim, indicadores para treinamento de 38 habilidades sociais, consistir em: duas no Fator 1; quatro no Fator 2; quatro no Fator 3; duas no Fator 4; e, uma no Fator 5. Tendo em vista os resultados obtidos por Vieira (2011), apresenta-se nesta monografia uma proposta de intervenção breve para a melhora do repertório de habilidade social para este grupo de enfermeiras. 39 4. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO BREVE EM HABILIDADES SOCIAIS COM ENFERMEIRAS 4.1. Descrição da proposta de intervenção A proposta é composta de 12 encontros de treinamento com duas horas de duração cada, uma vez por semana, perfazendo um total de 24 horas de treinamento. Os encontros terão como objetivo ampliar o repertório de habilidades sociais, por isso deverá participar do grupo todas as enfermeiras. Os encontros terão uma estrutura programada em todos os encontros. No início, será apresentado o tema do encontro de forma a permitir clareza sobre a totalidade do encontro e também o tempo disponível para as atividades propostas. Após a apresentação dos conteúdos, será solicitada a participação do grupo quanto ao tema do encontro no que se refere a expectativas e dificuldades, será utilizado os exemplos do grupo para discutir o tema e realizar as vivências referentes à habilidade alvo do encontro. Ao final de cada encontro, as participantes avaliarão o encontro, oralmente e/ou por escrito, que contemplará o desempenho da facilitadora, dos participantes do grupo e do tema discutido. 4.2. Descrição dos encontros e temas a serem trabalhados ENCONTROS TEMAS 1º Encontro Comunicação: iniciar e manter conversações 2º Encontro Comunicação: fazer e responder perguntas 40 3º Encontro Expressar sentimento positivo, elogiar, dar/receber feedback positivo, agradecer 4º Encontro Conhecer direitos humanos básicos 5º Encontro Expressar e ouvir opiniões (de concordância e de discordância) 6º Encontro Conhecer comportamento assertivo 7º Encontro Expressar sentimentos negativos, dar e receber feedback negativo. 8º Encontro Fazer e recusar pedidos 9º Encontro Lidar com críticas, admitir próprios erros, pedir desculpas. 10º Encontro Falar em público 11º Encontro Expressar empatia 12º Encontro Trabalhar em equipe e resolver problemas Tabela 1: Encontros e seus respectivos temas. Segue a descrição resumida de cada encontro: 1º Encontro – terá primeiramente como objetivo apresentar o programa com explicação sobre o planejamento dos encontros e o contrato (datas, importância da participação, do sigilo, etc.). Para atingir tal objetivo acontecerá: a apresentação e a integração o facilitador e as participantes; fornecimento de informações sobre o procedimento que será aplicado; a elaboração as regras do grupo a partir do relato das participantes sobre o que julgam importante para uma boa condução do encontro; na seqüência, o facilitador ouvirá as expectativas do grupo e corrigirá possíveis distorções. Posteriormente será trabalhado o tema do encontro que é “Comunicação: iniciar e manter conversações”, através do treino das oito maneiras de iniciar conversações assinaladas por Gambrill e Richey (1985), em Caballo (2006): 41 1. Fazer uma pergunta ou um comentário sobre a situação ou uma atividade na qual está implicado; 2. Fazer elogios aos demais sobre algum aspecto de seu comportamento, aparência ou algum outro atributo; 3. Fazer uma observação ou uma pergunta casual sobre o que alguém está fazendo; 4. Perguntar se pode juntar-se à outra pessoa ou pedir à outra pessoa que se junte a ele; 5. Pedir ajuda, conselho, opinião ou informação a outra pessoa; 6. Oferecer algo a alguém; 7. Compartilhar experiências sentimentos ou opiniões pessoais; 8. Cumprimentar outra pessoa e apresentar-se; 2º Encontro – será trabalhado fazer e responder perguntas utilizando a vivência: “perguntas sem respostas” (DEL PRETTE, A.; DEL PRETTE, Z. A. P., 2001b, p.151153). 3º Encontro – será trabalhado a expressão de sentimentos positivos, elogiar, dar e receber feedback positivo e agradecer. Enquanto, elogiar refere-se a qualquer comentário positivo em direção a uma pessoa ou a alguma coisa feita por ela, feedback refere à uma descrição verbal ou escrita sobre o desempenho de uma pessoa. Neste encontro, após ser explicitada a importância do uso de feedback positivo e as consequências de sua ausência, será solicitado as participantes façam ensaios com situações análogas às situações vividas por eles, enfocando as habilidade de expressar sentimentos positivos através de elogios e feedback. 42 4º Encontro – será apresentar um resumo da lista de direitos básicos elaborada por Del Prette e Del Prette (1999): 1. O direito de ser tratado com respeito e dignidade; 2. O direito de recusar pedidos (abusivos ou não) quando achar conveniente; 3. O direito de mudar de opinião; 4. O direito de pedir informações; 5. O direito de ter suas próprias necessidades e considerá-las tão importantes quanto às necessidades dos demais; 6. O direito de ter opiniões e expressá-las; 7. O direito de ser ouvido e levar a sério; 8. O direito de defender aquele que teve o próprio direito violado; 9. O direito de respeitar e defender a vida. Após ser apresentada a lista, será aberta a discussão para que cada participante conte sua experiência em relação a exercer um desses direitos, servindo assim como feedback para os demais. 5º Encontro – solitará as participantes que após ouvirem de outra participante, reflita sobre o que pensa diferente e semelhante e depois diga argumento o que pensa. 6º Encontro – abordará o comportamento assertivo. Primeiramente, serão apresentados critérios que permitem identificar e classificar o desempenho social como assertivo, agressivo ou passivo. Posteriormente, serão apresentadas situações e três respostas possíveis às quais as participantes classificarão, em 43 seguida, serão debatidas as respostas. Para finalizar, as participantes serão convidadas a refletirem sobre as características do próprio desempenho social. 7º Encontro – será pedido para as participantes expressarem sentimentos negativos, dar e receber feedback negativo. Será pedido ainda para que descrevam um comportamento que desagradou, expressem as consequências de tal comportamento e falem as consequências positivas que ocorrerão caso realmente haja mudança de comportamento. 8º Encontro – trabalhará as habilidades de fazer e recusar pedidos por meio da seguinte vivência: um participante realizará um pedido razoável e outro abusivo para outro participante e este deverá aceitar ou não o pedido, avaliando suas possibilidades de realização e vice-versa. 9º Encontro – cada participante escreverá em uma folha uma crítica que já recebeu. Depois de escrito, os papéis serão dobrados e embaralhados e em seguida, serão distribuídos de forma aleatoria. Cada participante deverá assumir um papel como se fosse seu e deverá expor uma solução, gerando assim discussões construtivas. 10º Encontro – o facilitador pedirá para que três participantes voluntários para a vivência, fornecer a eles três histórias pequenas, pedir para que leiam e contem para o grupo o que entenderam. Depois, solicitar que cada participante vá a frente e diga algo sobre as histórias. 44 11º Encontro – com o tema: “Expressar empatia” será aplicada a vivência: “a fumaça e a justiça” (DEL PRETTE, A.; DEL PRETTE, Z. A. P., 2001b, p.191-194). 12º Encontro – para trabalhar as habilidades envolvidas no trabalho em equipe e resolução de problemas será formado um círculo com as participantes e entregue uma bexiga vazia com uma tira de papel dentro escrito: desinteresse, intrigas, fofocas, competições, inimizade, preocupações, ansiedade, pessimismo, intolerância, desconfiança, crítica, falta de cooperação, desamparo, incompreensão, arrogância, impaciência e isolamento. Depois, pedir para imaginarem que as bexigas são os problemas que enfretamos cotidianamente. Cada uma encherá a sua bexiga e brincará com ela jogando-a para cima com as diversas partes do corpo, depois com os outros participantes sem deixar a mesma cair. Aos poucos o facilitador pedirá para alguns dos participantes deixarem sua bexiga no ar e sentarem, os restantes continuam no jogo. Quando o facilitador perceber que quem ficou no centro não está dando conta de segurar todos os problemas peça para que todos voltem ao círculo e então ele pergunta: a quem ficou no centro, o que sentiu quando percebeu que estava ficando sobrecarregado e a quem saiu, o que ele sentiu. Depois destas colocações, o facilitador pedirá que cada uma pegue uma bexiga, estorem-a e peguem o papel. Cada participante lerá e fazerá um comentário para o grupo, o que aquela palavra significa para ela. 45 CONSIDERAÇÕES FINAIS Defronte a ênfase no uso racional de recursos e a escolha de técnicas economicamente viáveis, torna-se cada vez mais relevante o domínio profissional das técnicas breves de intervenção e terapia, assim como a investigação correta de sua adequação cultural às condições brasileiras e a verificação de sua efetividade. Além do mais, na atualidade, as discussões e tendências na área da saúde caminham em busca de melhoria nos modelos de gestão orientada para os pacientes, para o aperfeiçoamento do desempenho das instituições prestadoras desses serviços. Além disso, espera-se que os planejadores e gestores de serviços de saúde adotem as intervenções breves como um recurso básico, efetivo e economicamente viável para o aprimoramento dos profissionais, considerando a relevância de enfermeiras terem uma comunicação empática e assertiva para lidar com os pacientes e com a equipe, e ainda, anseia-se que esta proposta e propostas similares motivem o trabalho com enfermeiros durante a formação acadêmica e capacitação profissional. 46 REFERÊNCIAS ARÓN, A. M; MILICIC, Neva. Viver com os outros; Programa de desenvolvimento de habilidades sociais. Campinas: Editoral Psy, 1994. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520: apresentação de citações em documentos. Rio de Janeiro, 2002a. ______. NBR 6023: informação e documentação – referências – elaboração. Rio de Janeiro, 2002b. ______. NBR 14724: informação e documentação – trabalhos acadêmicos – apresentação. Rio de Janeiro, 2002c. ______. 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