1 ZENÓBIA DE FÁTIMA BRUNO DA SILVA AMPLIANDO ESPAÇOS DA GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS: CONDIÇÕES E DESAFIOS DE TOBIAS BARRETO SÃO CRISTOVÃO/SE Julho/2003 2 S586a Silva, Zenóbia de Fátima Bruno da Silva Ampliando espaços da gestão de recursos hídricos: condições e desafios de Tobias Barreto / Zenóbia de Fátima Bruno da Silva. –São Cristóvão, 2003. 156p Dissertação (Mestrado em desenvolvimento e Meio ambiente) – Núcleo de Pós-Graduação e Estudos do Semi-Árido, Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal de Sergipe. 1. Gestão ambiental. 2. Gestão de recursos hídricos. 3. Município de Tobias Barreto-Se. I. Título. CDU 504.06:556.18(813.7Tobias Barreto) 3 ZENÓBIA DE FÁTIMA BRUNO DA SILVA Pesquisa desenvolvida por Zenóbia de Fátima Bruno da Silva, como dissertação do mestrado de Desenvolvimento e Meio Ambiente-NESA, sob orientação da profª.Dra. Maria Augusta Mundim Vargas. SÃO CRISTOVÃO/SE Julho/2003 4 ZENÓBIA DE FÁTIMA BRUNO DA SILVA AMPLIANDO ESPAÇOS DA GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS: CONDIÇÕES E DESAFIOS DE TOBIAS BARRETO Dissertação como requisito parcial na obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente junto ao Núcleo de Pós Graduação e Estudos do Semi-Árido (NESA) da Universidade Federal de Sergipe. Orientador:_________________________________________________ Prof. Dra Maria Augusta Mundim Vargas Universidade Federal de Sergipe Examinador: _________________________________________________ Prof. Dr. Demetrios Christofidis Universidade de Brasília – UnB Examinador: _________________________________________________ Prof. Dra Vânia Fonseca Universidade Federal de Sergipe - UFS UFS – Julho/2003 5 DEDICATÓRIA Ao meu pai, Raimundo Antonio (in memorian), A minha doce dolorosa saudade, mas que se faz n’uma forte presença pelas lembranças de sua conduta ética, determinada e bem humorada; À minha mãe, Antonieta, Ainda que distante fisicamente, está por perto sempre pelos mais diferentes canais de expressão de amor maternal; Aos meus filhos, Rebeca e Davi, Por serem testemunhos do melhor de mim; Ao município de Tobias Barreto, Pelo carinho desperto e no desejo que já sejamos diferentes. 6 AGRADECIMENTOS Dias atrás li de uma amiga que precisamos de várias mãos ao elaborar uma dissertação, sinto-me na liberdade de fazer uso de suas palavras e acrescentar que também muitos corações nos conduzem nesta empreitada. Ao longo da realização de um mestrado, nosso cotidiano se altera em acréscimo de responsabilidades e compromissos, não nos afastamos de nossas rotinas nem nos eximimos do que já trazemos. Às vezes, por ser um momento ímpar de desafio intelectual e emocional nos vimos tomando ciência de que sempre temos como vencer limites. Ao longo do tempo de pesquisa nos queixamos da falta de tempo para realizá-la e dos entraves de percurso, mas neste mesmo lapso temporal, tão efêmero, nos submetemos às mais diversas experiências e “mudanças de trajeto”, nos afastamos do mercado de trabalho na busca de ampliá-lo depois, nos afastamos de amigos e parentes, choramos a perda de entes queridos, somos esquecidos por outros que não entendem a árdua busca. E ao concluir a redação do trabalho, percebemos que cumprimos o que nos propomos, dentro do que nos foi possível, passamos por tudo e agora sequer lamentamos mais. Estabelecemos assim, novos limites, já não somos mais os mesmos, estamos preparados para novas lutas, novas metas. Ficamos mais ousados. Desejo que a memória não me traia, e antecipo as desculpas àqueles à quem deveria agradecer e não o faço neste momento. Deixo, no entanto, registrado que àqueles que aqui não estão, que fiquem certos que foram parte deste trabalho e que os mantenho no coração que é um espaço muito maior e que não altera seus registros pela falta de um momento de memória. 7 Agradeço: À minha querida orientadora, Dra Maria Augusta, pela disponibilidade incondicional, pela sensibilidade e delicadeza sem prejuízo da firmeza de suas posições, pela sabedoria de lidar igualmente com os diferentes; A todos os professores, em especial àqueles que não agora, mas há muito têm me conduzido na trilha que escolhi: Antonio Carlos, Daltro, Sandro, Symone, Dra Vânia; A Luiz Antonio por ter me oferecido, através da sua encantadora narrativa, as sementes de interesse pelo município de Tobias Barreto; Aos senhores Aderbal Barbosa, José Francisco Menezes e Prof. Antonio pela fidelidade ao município de Tobias Barreto, pela memória prodigiosa dos fatos idos e vividos, por enriquecerem com emoção o trabalho de pesquisa; Aos órgãos públicos visitados, por disponibilizarem as informações e profissionais afeitos às questões referentes ao objeto de análise; Ao Cláudio pela disponibilidade de acompanhar na pesquisa de campo, pela sempre carinhosa receptividade às súplicas de ajuda técnica; A todos os entrevistados pela contribuição generosa de seu conhecimento, por disponibilizarem seu acervos, por gentilmente terem nos recebido; Aos queridos colegas de turma pela cumplicidade de todas as horas no cumprimento da saga; Ao Ildefonso e família pela delicada acolhida sempre, apesar do horário, do dia, e do que teríamos que trabalhar a ludicidade; Ao NESA, na pessoa do atual coordenador, Dr. Roberto pela atenção e consideração; Ao Almir, Aline e Katiene pelo apoio carinhoso; Ao Engº Ferrari, por ser compreensivo e solidário na realização deste sonho; Aos colegas de trabalho Dayse, George, Manoela, Jaqueline pelo apoio nas atividades profissionais; 8 À Francineide (Fran) e Heleni pelas horas sem fim de discussões, pela cumplicidade de ideais À Lourdes e Sonia pela lealdade e por simplesmente estarem por perto nas situações mais difíceis; A João Carlos, pela sempre disponibilidade técnica, pelo aconchego e carinho nas horas de aflição; Valéria e Lorena, que de modo muito especial e exclusivo me deram tranqüilidade, segurança ao longo desta jornada e em especial nos momentos mais delicados; Aos meus queridos Julieta e Leibimar, pelo carinho e dedicação a mim e aos meus em todas as situações de pesar que tivemos que passar ao longo destes dois anos, por manterem vivas as gratas lembranças de meu pai, por se fazerem meu ninho; Às minhas “tias” Cordélia e Olívia pelas orações protetoras e carinho incentivador; Aos irmãos Carlos e Alexandre, por me fazerem identificar outras cores no arco-íris; À Geruza e Gina, por terem sido meus “braços” domésticos e minimizarem minhas preocupações; A Deus e a Guruji pelo resguardo nos momento de apreço, pela determinação e coragem de vencer cada momento de aflição e inquietação, por acreditar sempre que dias melhores virão. 9 QUEM SOU? de VILMAN Já fui forte, além de nobre De mim não restam sinais Já ninguém ouve meus ais Estou fraco e muito pobre Gauleses me adentraram Caetés bravos mimei Hoje quem sou, nem eu sei Minha beleza empanaram Belchior, atrás de riqueza Do alto me admirou E junto a mim acampou P'ra admirar a beleza Quando forte, todo inteiro Espalhavam-me contente Era de todos servente Do burguês e do roceiro Lembro... as minhas andanças Que de festas, brincadeiras Sobre mim, das ingazeiras Saltando lindas crianças Tiraram-me a sombra amena De dejetos me entulharam Nem em si, loucos, pensaram Vivo hoje a dura pena Sou feito do que é vital Meu sangue dou com bondade Sou nobre, sem vaidade Eu me chamo Rio Real 10 RESUMO O município sergipano de Tobias Barreto insere-se no semi-árido nordestino e mesmo estando na confluência de dois rios (Real e Jabiberi) sofre os reflexos da escassez pela intermitência destes corpos d’água e pelos conflitos de gestão. Esta pesquisa visa ressaltar os conflitos de gestão da política de recursos hídricos, a importância da participação e do envolvimento da população na implantação de medidas de melhorias ambientais, minimizando os efeitos da ação predatória pelo desmatamento das margens, pela contribuição de esgotos domésticos, pelo uso inadequado e pela promoção da poluição, restabelecendo, assim, a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento responsável. Tratou-se de um trabalho exploratório realizado através de levantamento de dados secundários e entrevistas aos órgãos e instituições afeitos à coordenação e controle de recursos hídricos e à população usuária. A análise das informações possibilitou o diagnóstico das condições de disponibilidade e demanda hídrica, situação do leito e condições de uso dos corpos d’água. Procederam-se também as considerações de concepção de indicadores (PER) de pressão, estado e resposta importantes para identificação dos conflitos e desafios da gestão local de recursos hídricos. Constatou-se que os conflitos e desafios encontram-se alicerçados na não aplicação da política de recursos hídricos dado o Rio Real ser pertencente à bacia hidrográfica de gestão federal, o que leva os Estados envolvidos administrarem os conflitos existentes obedecendo às suas limitações geográficas. Identificou-se ainda a omissão da população e dos gestores nos desafios de resgate à sustentabilidade dos recursos hídricos. Palavras chaves: gestão, recursos hídricos, Tobias Barreto, Sergipe. 11 RÉSUMÉ A Sergipe, la commune de Tobias Barreto fait partie de la région semi-aride du Nord-Est et bien que se trouvant dans le confluent de deux fleuves (le Real et le Jabiberi), elle souffre du manque d'eau à cause de l'intermittence de ces fleuves et des conflits de gestion. Cette étude a pour but de signaler les conflits de gestion de la politique de ressources hydriques, l'importance de la participation et de l'engagement de la population dans l'application de mesures cherchent à améliorer l'ernvironnement, reduisant les effects de l'action prédatoire due au défrichement des rives, à l’écoulemnt des égouts domestiques, à l'utilisation inadéquate des fleuves et leur conséquente pollution, et assurant ainsi une amélioration de la qualité de vie et un développement responsable. Il s'agit d'un travail d'exploration fait à la suite d'un recueil de données secondaires et d'interviews réalisées auprès des organismes et des institutions liés à la coordination et au contrôle des ressources hydriques et auprès des usagers. L'étude des informations a rendu possible le diagnostic des conditions de disponibilité et de demande hydrique, de la situation du lit et des conditions de l'utilisation des cours d'eau. Par ailleurs, il a été fait des analyses des indicateurs (PER) de pression, état et réponse importants pour l'évaluation des conflits et des problèmes de la gestion locale des ressources hydriques. Il a été constaté que les conflits et les problèmes sont issus de la non application de la politique de ressources hydriques, étant donné que le fleuve Real se trouve dans un bassin hydrographique relevant de la gestion fédérale, ce qui pousse les Etats concernés à régler les conflits existants en tenant compte de leur limites géographiques. En outre, il a été repéré l'omission de la population et des gestionnaires en ce qui concerne la récupération et le maintien des ressources hydriques. Mots clés: gestion, ressources hydriques, Tobias Barreto, Sergipe. 12 ABSTRACT Tobias Barreto, a town in the State of Sergipe, is inserted in the Northeastern Semiarid region and, in spite of being located in the confluence of two rivers ( Real and Jabiberi), suffers the reflexes of water shortage due to the intermittence of these water bodies and the management conflicts. This research aims to highlight the management conflicts of water resources policy, the importance of community participation and involvement in the implementation of the measures required for environmental improvements, minimizing the effects of the predatory action caused by deforestation of the riverbanks, domestic sewage, inadequate use and pollution promotion, restoring, thus, the improvement in life quality and the responsible development. It is an exploratory study carried out by means of secondary data survey and interviews with users from the community and with organs and institutions concerned with the coordination and control of water resources. The information analysis made possible the diagnosis of the availability and water demand conditions, of the riverbed situation as well as the conditions of the water bodies use. Analyses of pressure state response indicators (PSR) were also made in order to assess the water resources management conflicts and challenges at a local level. It was verified that the conflicts and challenges are founded on the nonapplication of water resources policy, since Real River belongs to a river basin managed by the Federal Government, this fact leads the involved States to manage the existing conflicts by obeying their geographical boundaries. It was also noticed the community and managers omission regarding the challenges of rescueing the water resources sustainability. Key Words: management, water resources, Tobias Barreto, Sergipe. 13 RESUMEN La ciudad sergipana de Tobias Barreto está ubicada en el semiárido nordestino y aunque esté en la confluencia de dos ríos (Real y Jabiberi) sufre los reflejos de la escasez por la intermitencia de estos cuerpos de agua y por los conflictos de gestión. Esta pesquisa visa resaltar los conflictos de gestión de la política de recursos hídricos, la importancia de la participación y del envolvimiento de la comunidad en la implantación de medidas de mejorías ambientales, minimizando los efectos de la acción predatoria por el desmatamiento de las margenes, por la contribucion de alcantarillas domésticas, por el uso inadecuado y por la promoción de la contaminación, restableciendo, así, la mejoría de la calidad de vida y el desarrollo responsable. Se trató de una pesquisa exploratoria realizada a través de levantamiento de datos secundarios y entrevistas a los órganos e instituiciones direccionados a la coordinación y control de recursos hídricos y a la comunidad usuaria. El análisis de las informaciones posibilitó el diagnóstico de las condiciones de disponibilidad y demanda hídrica, situación del lecho y condiciones de uso de los cuerpos de agua. Se procederán también los análisis de los indicadores (PER) de presión, estado y respuesta importantes para evaluación de los conflictos y desafíos de la gestión local de recursos hídricos. Se constató que los conflictos y desafíos se encuentran fundamentados en la no aplicación de la política de recursos hídricos dado el Río Real ser pertenciente a la cuenca hidrográfica de gestión federal, que conduce los Estados involucrados administraren los conflictos existentes obedeciendo a sus limitaciones geográficas. Se identificó aún la omisión de la comunidad y de los gestores en los desafíos de rescate a la sustentabilidad de los recursos hídricos. Palabras claves: gestión, recursos hídricos, Tobias Barreto, Sergipe. 14 LISTA DE FIGURAS FIGURA 01 Situação de Tobias Barreto no Estado de Sergipe....................................... 44 FIGURA 02 Geologia Simplificada do município de Tobias Barreto............................. 45 FIGURA 03 Foto do Local de extração de material para olaria e construção civil, margens da SE-290......................................................................................... 67 FIGURA 04 Foto de olaria às margens da rodovia SE-290............................................. 68 FIGURA 05 Foto do leito do Rio Real – lançamento de efluentes domésticos, comerciais e industriais.................................................................................. FIGURA 06 Foto do leito do Rio Real – dessendentação de animais em pequenas peças................................................................................................................. FIGURA 07 69 Foto de Tobias Barreto – sede do município - deposição de resíduos sólidos em via de tráfego urbano................................................................... FIGURA 08 69 70 Foto de Tobias Barreto – sede do município - deposição de resíduos sólidos às margens da via de tráfego urbano................................................ 70 FIGURA 09 Foto de Tobias Barreto – proximidades do Rio Real – “lixão”.................. 71 FIGURA 10 Foto de Tobias Barreto – sede do município - lançamento de efluentes FIGURA 11 do frigorífico a céu aberto.............................................................................. 71 Foto de Tobias Barreto – sede do município - lançamento de efluentes 71 do frigorífico a céu aberto.............................................................................. FIGURA 12 Domínios hidrogeológicos do Estado de Sergipe.......................................... 77 FIGURA 13 Domínios hidrogeológicos do município de Tobias Barreto....................... 78 FIGURA 14 Traçado do Rio Real – fronteira Bahia/Sergipe........................................... 93 FIGURA 15 Foto de Tobias Barreto– sede do município - enchente do Rio Real em 1969................................................................................................................... FIGURA 16 98 Foto de Tobias Barreto – periferia da sede do município – abastecimento sem controle e próximo de lançamento de esgoto doméstico......................................................................................................... FIGURA 17 FIGURA 18 102 Foto de Tobias Barreto – Tanque dos Missionários – lavagem de roupas e utensílios domésticos.................................................................................... 103 Foto de Tobias Barreto – Tanque dos Missionários – lavagem de roupas 103 e utensílios domésticos.................................................................................... FIGURA 19 Foto do Riacho Capoeira – Itapicuru/Ba – proximidades do ponto de captação da DESO.......................................................................................... 111 FIGURA 20 Idem................................................................................................................. 111 FIGURA 21 Foto do Riacho Capoeira – Itapicuru/Ba – ponto de captação da DESO................................................................................................................ 114 15 LISTA DE TABELAS TABELA 01 Municípios da bacia do Rio Real/SE – população (1991/2000)................................................................................... 60 TABELA 02 Municípios da bacia do Rio Real/SE - Indicadores demográficos (1991/2000) .......................................................... 61 TABELA 03 Cenário prospectivo de população (hab) da bacia do Rio Real/SE - 2005 a 2025................................................................. 81 TABELA 04 Cenário prospectivo da população dos rebanhos da bacia do Rio Real/SE – 2005 a 2025.......................................................... 82 TABELA 05 Demanda de água para abastecimento humano na bacia do Rio Real/SE em m3/dia - 2005 a 2025........................................ 83 TABELA 06 Demanda de água para dessendentação de animais na bacia hidrográfica do Rio Real/SE – Cenário atual (2000) e prospectivos (2005 a 2025)......................................................... 84 TABELA 07 Demanda de água para indústria na bacia hidrográfica do Rio Real/SE - Cenário atual (2000) e prospectivos (2005 a 2025).............................................................................................. 85 TABELA 08 Tobias Barreto - população residente (hab) - 1991 a 2000...... 87 TABELA 09 Bacia do Rio Real - população abastecida pela DESO............ 115 TABELA 10 Bacia do Rio Real - volume de produção de água para abastecimento x perdas (julho/2002)......................................... 115 TABELA 11 Bacia do Rio Real - volume de produção de água para abastecimento x perdas (agosto/2001 a julho/2002)................. 116 16 LISTA DE QUADROS QUADRO 01 Coeficientes de demanda de água para abastecimento animal.......................................................................................... 84 QUADRO 02 Coeficientes de demanda para abastecimento industrial....... 85 QUADRO 03 Sergipe - Serviços prestados de abastecimento pela DESO 1995/1998..................................................................................... 117 QUADRO 04 Sergipe - Serviços prestados de esgotamento sanitário pela DESO - 1995/1998...................................................................... 117 17 SUMÁRIO INTRODUÇÃO........................................................................................ 1 DIMENSÃO AMBIENTAL DE GESTÃO DE 19 RECURSOS HÍDRICOS................................................................................................ 25 1.1 RECURSOS HÍDRICOS...................................................................................... 25 1.2 REPENSAR AMBIENTAL.................................................................................. 28 1.3 SUSTENTABILIDADE E GESTÃO................................................................... 30 1.4 GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS............................................................... 36 1.5 RECURSOS HÍDRICOS E A CONSCIÊNCIA HUMANA................................ 39 2 A PESQUISA............................................................................................ 42 2.1 TOBIAS BARRETO: LÓCUS DO ESTUDO..................................................... 42 2.2 INSTRUMENTOS DA PESQUISA..................................................................... 48 2.3 DESENVOLVIMENTO....................................................................................... 51 2.4 PERFIL DOS ENTREVISTADOS....................................................................... 53 3 BACIA DO RIO REAL........................................................................... 59 3.1 CENÁRIO AMBIENTAL.................................................................................... 59 3.2 AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES HÍDRICAS ................................................. 72 3.3 DA DISPONIBILIDADE .................................................................................... 72 3.3.1 SUPERFICIAL..................................................................................................... 72 3.3.2 SUBTERRÂNEA................................................................................................. 76 3.4 DA DEMANDA .................................................................................................. 81 4 TOBIAS BARRETO – ESPAÇO DE GESTÃO.................................... 87 4.1 SUA GENTE........................................................................................................ 87 4.1.1 SUA HISTÓRIA................................................................................................... 90 4.2 O RIO REAL – VIVIDO E CONCEBIDO......................................................... 91 4.2.1 O RIO ESQUECIDO NO PASSADO DE CADA UM DE NÓS......................... 98 4.3 A ÁGUA NOSSA DE CADA DIA...................................................................... 99 4.4 AS RESPOSTAS ÀS NOSSAS AFLIÇÕES........................................................ 105 4.5 O QUE ELES TÊM A DIZER.............................................................................. 107 18 5 AMPLIANDO ESPAÇOS DA GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS................................................................................................ 5.1 111 “COLOCANDO OS PINGOS NOS “IS”, COLÍRIO DA MUDANÇA DO OLHAR - CONFLITOS E DESAFIOS GESTÃO LOCAL DE RECURSOS HÍDRICOS........................................................................................................... 5.2 111 QUANDO O RIO JÁ NÃO FAZ MAIS PARTE DE NOSSAS VIDAS E TIRAMOS-LHE A VIDA..................................................................................... 118 5.3 O QUE PRETENDEM FAZER DO RIO REAL.................................................. 121 6 SOB UM OUTRO OLHAR..................................................................... 125 6.1 CONDIÇÕES E DESAFIOS................................................................................ 125 6.2 AMPLIANDO POSIÇÕES................................................................................... 130 BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA.................................................... 134 BIBLIOGRAFIA LEVANTADA............................................................ 139 ANEXOS................................................................................................... ANEXO A - Mapa da bacia hidrográfica do Rio Real - Geomorfologia............ 148 ANEXO B - Mapa da bacia hidrográfica do Rio Real – Solos......................... ... 149 ANEXO C – Mapa da bacia hidrográfica do Rio Real – Uso dos solos.............. 150 ANEXO D – Mapa da bacia hidrográfica do Rio Real – Localização das Unidades de Balanço............................................................................................. 151 ANEXO E – Inventário das estações pluviométricas da bacia hidrográfica do Rio Real................................................................................................................ 152 ANEXO F - Inventário das estações fluviométricas da bacia hidrográfica do Rio Real................................................................................................................ 153 ANEXO G – Inventário dos pontos de medição de descarga instantânea – bacia hidrográfica do Rio Real............................................................................. 154 ANEXO H – Vazões médias mensais observadas no posto Fazenda Tourão – 1978/1999 – bacia hidrográfica do Rio Real........................................................ 155 ANEXO I – Vazões médias mensais observadas no posto Cachoeira do Itanhi – 1965/1985 – bacia hidrográfica do Rio Real..................................................... 156 19 20 INTRODUÇÃO Discutir gestão de recursos naturais, em nosso caso específico, a que se refere a de potencial hídrico, torna necessário comentar sobre a conceituação de recursos naturais; destacar as prerrogativas de gestão, em especial no que é pertinente às águas; identificar a atuação dos gestores; comentar sobre a disponibilidade hídrica no país como projeção da potencialidade do local de estudo, bem como ressaltar a relevância da participação e envolvimento da sociedade como alternativa para solução dos conflitos de gestão. Os elementos naturais compreendem aos que compõem os diversos biomas e ecossistemas, compostos pelo homem, plantas, animais, águas interiores e subterrâneas, estuários, mares, solo e subsolo, carvão vegetal e mineral, ouro, ferro, calcário, petróleo e outros elementos encontrados na natureza. A agressão antrópica à natureza tem resultado no empobrecimento da biodiversidade, na intensificação dos processos de desertificação, na irreversibilidade dos danos e comprometimento da qualidade ecológica do meio ambiente para esta geração e para as que hão de vir. Reforça, o caos ambiental gerado, segundo Brito & Câmara (1998), a incompetência administrativa do poder público no gerenciamento dos recursos financeiros, materiais e humanos. A sensibilidade dos gestores e da comunidade em geral pelos problemas ambientais surgidos nos últimos anos como a desertificação por desmatamento desregrado, as dificuldades de abastecimento por escassez ou por contaminação dos mananciais, as restrições energéticas, as alterações climáticas bruscas, a perda da biodiversidade das espécies, a 21 poluição do ecossistema fizeram com que se priorizasse a gestão ambiental e se estabelecesse políticas voltadas para a prevenção, minimização e correção dos recursos naturais. Sob a ótica de Gusmão (2001), há que compatibilizar e efetivar a modernidade, a eficiência e a competitividade com apresentação de indicadores de desenvolvimento econômico e de melhoria na qualidade de vida. No entanto, ele afirma também que “há de se considerar a relevância da fluidez nas articulações necessárias de coordenação”. A dissociação entre políticas ambiental e urbana, incontestavelmente, tem gerado os conflitos de coordenação e de integração das ações, decorrendo na ineficácia e no desperdício dos recursos públicos. Em estudo anterior, Castro (1988) identificou a necessidade de que uma política local harmoniosa promoveria o exercício da gestão de um território dentro dos preceitos ideais, visto ser o elo de ligação entre a região, a quem atribui a percepção das diferenciações espaciais, e o Estado, por retratar uma instância de poder e domínio. Segundo Becker (1988), o poder do Estado no estabelecimento da nova ordem econômica deve-se ao desconhecimento pela sociedade sobre o processo de reorganização do espaço brasileiro, da dinâmica de desenvolvimento e das alterações de conformação das regiões e suas particularidades. Esta falta de representatividade da população ou da sua efetiva organização, promovem a inquestionável majoração de autonomia do Estado nos procedimentos de gestão. O planejamento urbano deve contemplar, no que lhe é pertinente, os aspectos ambientais. Brito & Câmara (1998) ressaltam a importância de serem tratados com criatividade e adequação dos métodos ao que se referem às circunstâncias físicas, sociais, políticas e econômicas, buscando a cooperação e solidariedade junto à sociedade. A adequação da gestão das águas, inserida no entendimento de gestão ambiental, tornou-se uma necessidade premente, mas não isolada, visto as iniciativas terem apresentado 22 resultados medíocres ou frustrados e a realidade apresentar-se nefasta ou de poucas expectativas. Sob o tema Ampliando espaços da gestão de recursos hídricos: condições e desafios de Tobias Barreto, a pesquisa vem estabelecer as diretrizes de desenvolvimento no município sergipano no que se refere à gestão de recursos hídricos sendo considerados a atuação dos gestores da política, a situação ambiental da bacia do Rio Real na localidade, bem como, o envolvimento e a percepção da população no que diz respeito às iniciativas de preservação dos atributos ambientais. O presente trabalho foi norteado pelos seus objetivos que consistem em avaliar a situação ambiental da área da bacia hidrográfica do Rio Real, em especial, a aplicação da política de gestão de recursos hídricos para abastecimento na área urbana do município de Tobias Barreto, bem como a participação e o envolvimento da população na gestão dos recursos hídricos. Estando o espaço de estudo sob análise em dois níveis, quais sejam a bacia hidrográfica do Rio Real e o seu rio principal, fazendo-o através do levantamento das instâncias de gestão e suas atuações; do diagnóstico da situação ambiental da área da bacia hidrográfica do rio Real, com detalhamento quanto às condições do potencial hídrico e as ações predatórias; com a identificação da proximidade da população com as questões ambientais e seu nível de compromisso com a preservação dos recursos hídricos de superfície para o abastecimento local; da análise das condições e desafios da gestão ambiental dos recursos hídricos de superfície para abastecimento em Tobias Barreto, bem como os conflitos existentes. O desenvolvimento da pesquisa justificou-se pelos critérios de aplicação das políticas públicas de gestão de recursos hídricos obedecendo às características sócio-econômicas e de 23 desenvolvimento do lugar, bem como o entendimento e compromisso da população na promoção da qualidade de vida no que se refere aos recursos hídricos. Este documento está dividido em 05 (cinco) seções principais, que trazem melhores esclarecimentos da abordagem desenvolvida ao longo da pesquisa. O Capítulo 1 apresenta, uma revisão bibliográfica através da concepção dos autores, temas correlatos à problemática atual dos recursos hídricos, em especial, ao do Estado; o pensamento de estudiosos sobre o repensar ambiental; exposição do comprometimento da sustentabilidade na gestão política, destacando-se a de Recursos Hídricos. A metodologia de abordagem da pesquisa encontra-se no Capítulo 2, apresentando Tobias Barreto como lócus do estudo, os instrumentos e métodos, bem como procedimentos norteadores. A descrição do método de procedimento estabelece o vínculo entre os objetivos do projeto e as prerrogativas de atuação, necessárias junto aos canais competentes e afeitos ao tema. A metodologia consistiu principalmente na identificação dos gestores da política de gestão de recursos hídricos no município de Tobias Barreto, na abordagem através de entrevistas destes gestores e/ou de seus prepostos para obtenção de informações sobre a situação ambiental através de históricos de dados e relatórios estatísticos e na aplicação de questionários à população para detecção do seu envolvimento com as questões ambientais, mais precisamente no que refere aos mananciais e identificação das condições de conflitos. A consideração de indicadores de sustentabilidade ambiental foi o caminho auxiliar para atingir os objetivos propostos na pesquisa desenvolvida, quais sejam: o de avaliar a situação ambiental da área da bacia do Rio Real, o de avaliar a aplicação da política de gestão de recursos hídricos para o abastecimento na área urbana do município de Tobias Barreto. No que concerne à gestão dos recursos hídricos existentes destacou-se a importância da participação e do envolvimento da população. Dentre os objetivos consistiram ainda, 24 identificar os gestores e suas atuações, diagnosticar a situação ambiental da bacia do Rio Real destacando as condições de potencial hídrico, as ações predatórias existentes, os desafios e os conflitos limitadores de desenvolvimento regional no que diz respeito ao gerenciamento dos recursos hídricos. O Capítulo 3 aborda dados sobre a bacia hidrográfica do Rio Real, expondo seu cenário ambiental na bacia e em especial no município de Tobias Barreto. Aí são apresentados, dados sobre a disponibilidade hídrica e a demanda referente ao cenário atual e de projeção para os próximos 20 anos. O lócus, o município de Tobias Barreto é apresentado no Capítulo 4, com foco na percepção do Rio Real, através dos depoimentos e considerações pessoais dos entrevistados. A fala dos tobienses é privilegiada para a construção de sua história, da percepção dos atributos ambientais do rio no contexto da cidade e da avaliação do abastecimento. O Capítulo 5 traz para discussão os conflitos e desafios apreendidos nos diferentes níveis da pesquisa, o rebatimento da legislação e a ação das instituições, dos gestores e da população. A pesquisa, no Capítulo 6 trata da constatação do cenário - os desafios e conflitos – e de reflexão quanto à ampliação de posições. 25 O SONO DAS ÁGUAS de Guimarães Rosa “Há uma hora certa, no meio da noite, uma hora morta, em que a água dorme. Todas as águas dormem: no rio, na lagoa, no açude, no brejão, nos olhos d'água nos grotões fundos. E quem ficar acordado, Na barranca, a noite inteira, Há de ouvir a cachoeira Que a água foi dormir... Águas claras, barrentas, sonolentas, todas vão cochilar. Dormem gotas, caudais, seivas das plantas, Fios brancos, torrentes. O orvalho sonha nas placas das folhagens e adormece. Até a água fervida, nos copos de cabeceira dos agonizantes... Mas nem todas dormem, nessa hora de torpor líquido e inocente. Muitos vão de estar vigiando, e chorando, a noite toda, porque a água dos olhos nunca tem sono....” 26 1.DIMENSÃO AMBIENTAL DA GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS 1.1. RECURSOS HÍDRICOS Ouvimos com freqüência sobre a crise da escassez de água, da qualidade e potencialidade dos mananciais para abastecimento e as perspectivas tênues de resgate de melhores condições, porém Nalini (2001), ressalta que pelo potencial hídrico existente no Brasil, devemos identificar que a causa das crises de abastecimento se deve à má distribuição, visto que, da Terra, apenas 0,2% da água existente podem ser aproveitados, 97,3% concentram-se nos oceanos, 2,07% nas geleiras e calotas polares e apenas 0,63% é de água doce para uso. O Brasil possui 8% das reservas de água doce de todo o planeta. A maior disponibilidade encontra-se na bacia Amazônica, 80%, para atender 7% da população e o restante, 20%, distribui-se desigualmente no país para suprir as necessidades do restante da população. A ABES (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária) em seu informativo datado de 1996, citado por Brito & Câmara (1998), diz que devem ser computados 50% da produção de água em desperdício. Há de se considerar nosso país especialmente privilegiado, pois, segundo Grippi (2001), além da Bacia Amazônica possuir índices anuais de deflúvios extremamente competitivos e o aqüífero Guarani (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) possuir em seu subsolo uma reserva hídrica maior do que o existente em bacias hidrográficas de vários continentes juntos, acrescenta-se o que destaca Magrini & Santos (2001) sobre o potencial hídrico no âmbito nacional, o Brasil tem uma extensão de 8.547.403 km2 banhados por oito grandes bacias hidrográficas definidas pelas áreas de drenagem e suas características físicas. 27 No que diz respeito à produção hídrica, Bezerra e Munhoz (2000) destacam que o escoamento anual médio dos rios que deságuam no oceano é de 257.790m3/s e apresenta grande diversidade hidrológica, visto os dados do balanço hídrico que consistem em variações dos escoamentos superficiais desde 48,2 l/s/km2 no Atlântico Norte, 34,2 l/s/km2 na bacia Amazônica até 4,5 l/s/km2 na bacia do Rio São Francisco e 2,8 l/s/km2 na região Semi-árida do Atlântico Leste. Em particular, o Estado de Sergipe, considerando a delimitação geográfica de Magrini & Santos (2001), está inserido em área comum a duas das grandes bacias: a do Atlântico – trecho Norte/ Nordeste e a do Rio São Francisco cujas áreas de drenagem correspondem a 990 mil km2 e 630 mil km2, respectivamente, e compostas ao todo por 20 (vinte) sub-bacias. No entanto, apesar dos recursos hídricos disponíveis, Lanna (1999) ao tratar do planejamento urbano, aborda a gestão ambiental integrada com ênfase na gestão das águas. Para ele, essencial se faz a compreensão do problema não só sob o aspecto quantitativo, mas necessariamente sob a escassez qualitativa, tendo em vista o comprometimento dos mananciais por poluição, em áreas de maior concentração populacional e, conseqüentemente, de maior demanda; justificando a busca de modelos de gestão das águas que conciliem as demandas e disponibilidades hídricas, quantitativamente e qualitativamente. Bezerra e Munhoz (2000) elegem outros itens como problemas graves na gestão de recursos hídricos, tais como: a inexistência de dados e informações suficientes ou acessíveis para avaliação adequada; a falta da prática de política integrada de recursos hídricos; a insuficiência da base legal para assegurar a gestão descentralizada; o manejo inadequado do solo; a distribuição injusta dos custos sociais, associada ao uso da água; a tímida participação da sociedade na gestão e dependência das ações do governo constituído; a escassez natural ou causada pela exploração intensiva. 28 Os reflexos da ineficácia do gerenciamento dos recursos hídricos transparecem no resultado da estimativa de desperdício de água nos sistemas públicos que, atualmente, corresponde a 4,68 bilhões de m3 de água produzidos no país, por ano. Esse dado equivale, assim, a 45% em perdas físicas e de faturamento do volume captado e ofertado a população.(BEZERRA E MUNHOZ, 2000) Em contrapartida, no Brasil, apesar do substancial aumento populacional em 26 anos (1970 a 1996) de 137%, elevaram-se também os níveis de atendimento aos domicílios, com ligação à rede geral, de 60% para 91%. Mas segundo Bezerra e Munhoz (2000), a expectativa da sociedade é que a otimização da gestão dar-se-á pelo resgate das condições de abastecimento de 11 milhões de pessoas de áreas urbanas; pela majoração na coleta pública de esgoto produzido, que atualmente restringe-se a 48,9%; pela melhoria das taxas de tratamento do esgoto coletado, que atualmente corresponde a 32% do que é coletado e a minimização do desperdício (perdas físicas e de faturamento). Estando cientes do potencial hídrico, tendo noção dos agravos de demanda e desperdício e reconhecendo a necessidade de implantação de medidas de recuperação ou de conservação dos recursos, há de se considerar a estratégia proposta pelos estudiosos das questões ambientais. Para Bezerra e Munhoz (2000), dada a importância dos recursos naturais, em destaque ao de recursos hídricos, na manutenção das diversas atividades e como insumo básico, há de se estabelecer legislação específica e consistente com fins de disciplinamento de uso, tais como: saneamento, irrigação, produção hidroelétrica, transporte hidroviário, uso industrial da água, pesca e aqüicultura. No Brasil, conforme esclarece Gusmão (2001), a título de organização e desenvolvimento das discussões, os problemas ambientais são classificados em agendas, sendo a verde a que trata das questões relacionadas à flora e fauna, aos solos, à 29 biodiversidade; a chamada marrom, que trata das questões referentes à poluição e degradação urbana e a azul, que envolve os problemas relacionados aos recursos hídricos. A Agenda 21, na discussão das estratégias de solução dos problemas relacionados aos recursos naturais além de estabelecer o diagnóstico sintético dos fatores que o integram ressalta o nível de interação entre eles, bem como, prioriza a atuação antrópica como fato gerador da perda do equilíbrio do ecossistema e responsável pela tomada de decisões para o resgate às condições ideais. Apesar da classificação, as questões de uma agenda não podem ser tratadas sem serem observadas as interfaces com as demais, para que se preservem a otimização dos recursos empregados e a eficácia do gerenciamento. 1.2. O REPENSAR AMBIENTAL Aos olhos de Leff (2001) o repensar ambiental extrapola os propósitos normativos, o conceito de ambiente abre novas perspectivas ao processo de desenvolvimento, considerando novos princípios éticos e potenciais ecológicos. Propõe a transformação com os processos econômicos, políticos, tecnológicos e educativos, tendo como meta construir uma “racionalidade social e produtiva”. Entende que a racionalidade ambiental é fruto da desconstrução da racionalidade capitalista, que considera as contradições e oposições entre as racionalidades bem como as estratégias de construção de um pensar econômico embasado na eqüidade e na sustentabilidade. Define assim, a racionalidade ambiental não como expressão de uma lógica, mas o efeito de um conjunto de interesses e de práticas sociais que articulam ordens materiais diversas, que dão sentido e organizam processos sociais através de certas regras, meios e fins socialmente construídos. A contradição entre a racionalidade ecológica e a racionalidade 30 capitalista se dá pelo confronto de diferentes valores e potenciais, arraigados em esferas institucionais e em paradigmas de conhecimento, através de processos de legitimação com que se defrontam diferentes classes, grupos e atores sociais. Dentre o conjunto de valores e critérios que compõem a racionalidade ambiental, Leff (2001), destaca a cultural, que se esboça como produto da identidade e integridade de cada cultura, refletindo a coerência de suas práticas sociais e produtivas em relação com as potencialidades do espaço geográfico e dos recursos naturais. A racionalidade ambiental, segundo Leff (2001), decorre também do resultado da interação de normas com os valores, interesses e ações socioculturais, que expresse o conflito (de interesses) entre o uso da lei de mercado por uma classe, a busca do bem comum com a intervenção do estado e a participação da sociedade civil. Estabelecendo “um processo de reapropriação da natureza, orientando seus valores e potenciais para um desenvolvimento sustentável e democrático”. Esta “crise” marca um ponto de inflexão na história, onde se desvanecem os suportes ideológicos e as certezas subjetivas que deram origem aos paradigmas de conhecimento e aos dogmas do saber no ambivalente progresso da modernidade. É o exercício não só através da pilhagem de terra e recursos, mas também pelo despojamento de saberes e práticas, pela carência de conhecimentos, pela perda de idéias e pela falta de perspectiva de ação. Os novos atores destes processos da mudança histórica estão se forjando nos movimentos cidadãos, no meio urbano e no meio rural. Neste sentido, segundo Leff (2001), vão se configurando os novos atores sociais e as novas estratégias de poder cidadão, para construir, em oposição à modernidade, um mundo novo, onde a racionalidade ambiental recebe, conjuga e dispersa as luzes e as vozes pela democracia, pela sustentabilidade e pela justiça social. É a reapropriação da natureza e de recriação de seus modos de vida. 31 A cidadania emerge configurando novos atores sociais fora dos campos de atração das burocracias estatais e dos círculos empresariais, que reclamam a autodeterminação de suas condições de existência e a autogestão de seus meios de vida, cidadania que surge como uma reação contra a ordem estabelecida, mas sem uma clara condução estratégica de suas ações. 1.3. SUSTENTABILIDADE E GESTÃO A tomada de consciência dos fatos, o reconhecimento das necessidades e a expectativa de que as mudanças do rumo da história são reflexos de nossas atitudes e vem alicerçar o entendimento da necessidade de desenvolvimento com sustentabilidade dos recursos, e mais, a sensibilidade de estabelecer que o sucesso das iniciativas é de esraem atreladas entre si e que devem se harmonizar tal qual uma orquestra de jazz, um dos cenários de desenvolvimento identificado pela WBCSD1 e citado por Almeida (2002): onde o resultado depende “tanto de cada um dos instrumentistas quanto da harmoniosa cooperação de todos”. A sustentabilidade do desenvolvimento começou ser objeto de discussão já em 1987 na elaboração do esboço conceitual filosófico, pela Comissão de Brundtland, para em seguida ser mais amplamente discutida na realização da Rio-92. Era o momento de discussão e estudos sobre a sustentabilidade, no entanto, poucos sobre ela escreviam e menos ainda, havia aqueles que se expunham na defesa de suas prerrogativas. Sachs (1993) através de suas considerações já preconizava que “a longa luta somente será vencida no dia em que for possível esquecer o adjetivo ‘sustentável’ ou o prefixo ‘eco’ ao se falar de desenvolvimento”. Àquela época, 1993, ele já elegia 5 dimensões de análise e considerações para a sustentabilidade, quais sejam: a sustentabilidade social que consiste no desenvolvimento com 1 WBCSD: World Business Council for Sustainable Development. 32 padrão estável de crescimento, destacando-se pela promoção da distribuição eqüitativa de renda, reduzindo as diferenças sociais. A sustentabilidade econômica viabilizada pela alocação e manejo eficientes dos recursos naturais. A sustentabilidade ecológica implicando no mínimo de deterioração do potencial dos recursos apesar da intensificação do uso. A sustentabilidade geográfica obtida através da configuração equilibrada das zonas rural e urbana, evitando a exaustão dos centros metropolitanos e a perda da biodiversidade. E por último, a sustentabilidade cultural que consiste na continuidade cultural apesar da modernização. Segundo El Serafy (1999), a sustentabilidade tem sido a palavra de ordem em vários fóruns e sob diferentes contextos, decorrendo em significados diferentes para diferentes pessoas, o que se observa que a idéia é acolhida por Bezerra e Munhoz (2000), para eles a visão de sustentabilidade possui diferentes conceituações dependendo da dimensão abordada, quais sejam: ambiental, ecológica, social, política, ou econômica. E especificamente, abrange os critérios de gestão ambiental quando analisa o conjunto de princípios, estratégias, diretrizes e procedimentos para preservação e proteção dos meios físicos e bióticos. A visão de sustentabilidade ambiental se amplia quando abrange as questões de gestão de recursos naturais, analisando, de modo especial os aspectos ambientais e os recursos naturais disponíveis, esboçando para estes, os princípios, estratégias, diretrizes e procedimentos que lhe garantam. Para Almeida (2002) vivemos um momento de transição paradoxal, visto ser assustador pelo que é desconhecido e estimulante pelos desafios inerentes. A ocorrência deste paradoxo ainda não nos organiza, mas não nos deixa inertes, pois há o entendimento comum que as ações, até então incremento à insustentabilidade de crescimento, ressurgem como as principais promotoras do desenvolvimento sustentável possível. 33 Tratar de desenvolvimento sustentável, para Cavalcanti (1999), significa qualificar o crescimento econômico, reconciliando o progresso material com a preservação da base natural da sociedade. Ou ainda, considerar que o processo de desenvolvimento tem que “imitar” os processos da natureza. (destaque nosso) A formalização das intenções de desenvolvimento ocorreu na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente em 1992, quando foi instituída a Agenda 21, que estabelecia consenso de âmbito mundial de critérios inovadores para o desenvolvimento global para o século XXI. Tratava-se de um rol de intenções e compromissos a serem cumpridos pelas nações signatárias em respeito ao equilíbrio ambiental e à justiça social. O Brasil tornou-se um dos signatários. Para Bezerra e Munhoz (2000), a definição de desenvolvimento sustentável do Relatório Brundtland (1987), que o define “naquele desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer as possibilidades das gerações futuras atenderem as suas”, exigiu a ampliação de seu significado em virtude de ajustes e acomodação à realidade atual. Ou ainda, que a sustentabilidade do desenvolvimento se dá pela conciliação do desenvolvimento socioeconômico estável e equilibrado, que acarreta mudanças de comportamento pessoal e social e transformações de produção e consumo. Bezerra e Munhoz (2000) vislumbraram a incorporação nas políticas dos países, de metas relacionadas com o desenvolvimento sustentável. Consolidava-se a ruptura com o modelo de crescimento econômico existente e estabelecimento de novos princípios de desenvolvimento com respeito à qualidade de vida de próximas gerações em ambiente saudável. Para Leff (2001), o desenvolvimento sustentável é orientado pela racionalidade ambiental no seu momento de transição, o qual requer a mobilização de um conjunto de processos sociais: a formação de uma consciência ecológica; o planejamento transetorial da 34 administração pública e a participação da sociedade na gestão dos recursos ambientais; reorganização interdisciplinar do saber, tanto na produção como na aplicação de conhecimentos. E que, compete à participação democrática da sociedade, para que se cumpra a expectativa de um novo estilo de desenvolvimento, que contemple os princípios de sustentabilidade, eqüidade, diversidade e autonomia cultural. Partindo dessas premissas que Marques (2002) citando o pensamento de Sachs, atribui-lhe o entendimento de que desenvolvimento sustentável consiste na satisfação das necessidades básicas; solidariedade para com as gerações futuras; preservação dos recursos naturais, assim como do meio ambiente; estabelecimento de um sistema social que propicie emprego, segurança social e respeito a outras culturas; programas educacionais e envolvimento da população. Sachs, segundo Marques (2002), não menospreza os avanços tecnológicos, tampouco nega o desenvolvimento, desde que haja ética e justiça. Ao longo dos últimos 30 anos, Leff (2001) destaca que os limites de racionalidade econômica foram delineados pela constatação de exploração descontrolada dos recursos naturais, pelo desequilíbrio das condições ecológicas e pelo comprometimento das condições ambientais, cujos reflexos incidiram em crises e custos, que vivenciados e percebidos em contextos diferenciados geraram alternativas diversas quando na elaboração de estratégias de soluções ou mesmo práticas efetivas de uma política. Assim, toda a abordagem apresentada vem subsidiar os avanços alcançados, no que diz respeito ao melhor entendimento e prática dos critérios de gestão, o que não significava tão somente estabelecer diretrizes políticas de atuação, mas também, otimizar o uso dos recursos financeiros, capacitar gestores, há ainda, de se relevar a atuação da comunidade no que concerne ao envolvimento com a política e ao desejo de participação, bem como, seu reconhecimento como fator de solução dos problemas ou de sua minimização. 35 É fato que, segundo Leff (2001), a questão ambiental interfere na distribuição do poder, de renda, na propriedade da terra, nos meios de produção e na efetiva participação da população. No entanto, o efetivo aproveitamento da potencialidade ambiental se dá pelo desenvolvimento sustentável, o qual consiste na geração das condições econômica e política, independente do povo; que propicie a participação da comunidade, com o reconhecimento de suas necessidades; que promova a autogestão de seus recursos e sua autonomia cultural. Para Leff (2001), as dificuldades do poder de instituir meios dentro da perspectiva ambiental de desenvolvimento tornaram emergente a implementação de novas iniciativas sociais de resgate dos recursos naturais, da boa condição do serviço público e ambiental, restabelecendo, assim, a qualidade de vida favorável. Esclarece que a questão ambiental estabelece a necessidade de introduzir reformas democráticas no Estado, a fim de incorporar normas ecológicas ao processo econômico e de criar novas técnicas para controlar os efeitos contaminantes e dissolver as externalidades socioambientais geradas pela lógica do capital. O Estado, segundo Leff (2001), concentra as decisões contraditórias e convergentes de apropriação dos recursos ambientais e de aproveitamento dos recursos naturais e de produção, pois sobrepõe na legislação e na execução os princípios ambientais da descentralização econômica e da autogestão participativa dos recursos com a transferência para os governos estaduais e municipais. A harmonia no discurso e a compatibilidade com as ações nas instâncias do governo propiciam a busca de melhores condições ambientais em obediência ao viés da racionalidade ambiental, do reconhecimento de nova leitura da significação cultural e organização social, bem como, dos valores de produção e estratégias de desenvolvimento particular de cada comunidade. No entanto, dentre as ações devem prevalecer as que promovem e valorizam os atores sociais e resgatam o fortalecimento das organizações públicas afeitas à gestão de recursos naturais contidas na estratégia lembrada por Bezerra e Munhoz (2000). 36 De forma complementar, mas não secundária é importante estabelecer e estimular o apoio aos diferentes aspectos da gestão de recursos naturais por meio da implementação de medidas estruturais, que envolvam o fortalecimento institucional, a capacitação e o treinamento dos recursos humanos, a educação ambiental e a cooperação internacional.(BEZERRA e MUNHOZ, 2000) Na gestão ambiental levanta-se a necessidade de elaborar indicadores interprocessuais capazes de analisar, avaliar e monitorar sistemas e processos ambientais complexos. Consolida-se o pensamento de gerir. Ser signatário da convenção de 1992 fez o Brasil instalar a Comissão Interministerial de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21, que adotou como princípio a sustentabilidade social e ambiental. Como critério de atuação considerou relevantes as potencialidades, as vulnerabilidades, as complexidades, e a problemática sócio-ambiental nos estudos das áreas temáticas, ressaltando ainda, a proposição de instrumentos para o alcance do desenvolvimento sustentável. A Gestão dos Recursos Naturais é um dos segmentos previstos pela Agenda 21 Brasileira. Elaborada por Bezerra e Munhoz (2000), é norteada pelos princípios de participação e transparência. A elaboração do documento pertinente às premissas da Gestão dos Recursos Naturais foi composta de três etapas, quais sejam: elaboração de documento preliminar contendo diagnóstico, propostas e recomendações de sustentabilidade, referindo-se a oito temas, dentre eles o de recursos hídricos; realização de workshop com participação de especialistas e realização de seminário temático. A Agenda estabelece um rol de iniciativas de abrangência nacional e que nas suas linhas gerais se atém ao conhecimento do potencial, da disponibilidade de recursos naturais e econômicos, da fragilidade e dos atores sociais envolvidos nos espaços considerados, 37 observando ainda, que sejam estabelecidas políticas públicas priorizando os aspectos relevantes e obedecendo aos princípios de sustentabilidade social e ambiental. 1.4. GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS Numa extensão aos critérios formulados de gestão para a sustentabilidade dos recursos naturais, Novaes (2000) ressalta que o maior desafio na construção deste conceito encontra-se na gestão eficaz dos recursos hídricos para solução dos problemas gerados pelas secas, que abrange não só as iniciativas tradicionais, mas a elaboração de planos adequados distanciados do condicionamento dos interesses políticos. No que tange à gestão de recursos hídricos, Bezerra e Munhoz (2000) entendem que tratar de gestão é, antes de tudo, tomar ciência das condições do objeto a ser gerido, é descortinar a realidade e estabelecer critérios para atuação em obediência aos parâmetros de monitoramento e controle. Observa-se que a implantação da Política Nacional de Recursos Hídricos, lei 9433/97, associada à existente nos Estados ainda se apresenta, em alguns lugares, no estágio inicial. Em alguns lugares encontra-se na instalação dos comitês de bacia para as decisões pertinentes, ou dirimindo dúvidas quanto às áreas de atuação. Já em outros Estados, até por necessidade antecipada ou por sensibilização dos seus gestores, já se encontram na cobrança de outorga para investimento nas áreas das bacias. Na Agenda 21, Bezerra e Munhoz (2000) identificam como condição de administração dos conflitos de interesse, os itens relacionados com o uso da água pelos setores hidrelétricos, os complexos industriais, a articulação interinstitucional e a adoção de política de gestão integrada dos recursos hídricos. 38 Acrescenta-se à administração dos interesses, a observância ao contínuo monitoramento dos recursos hídricos como instrumento de avaliação dos fenômenos hidrológicos críticos (secas e inundações); a promoção e difusão de ampla avaliação das experiências na área e com a implementação de mecanismos compensatórios e punitivos; o incentivo à criação e à implementação de unidades de conservação; a responsabilização dos usuários no que diz respeito às práticas de proteção e do favorecimento da proteção de áreas de recarga de aqüíferos. E ainda, complementando com a Estratégia 42, da Agenda 21, que prevê a proteção dos mananciais superficiais e subterrâneos usados para abastecimento público de água. Todas essas medidas, citadas por Bezerra e Munhoz (2000), associadas à conservação dos recursos hídricos com vistas ao aumento da disponibilidade de água, a ser desenvolvido no âmbito das bacias hidrográficas e das áreas de aqüíferos, objetivam prevenir a escassez e fazendo o uso das prerrogativas constantes da Lei n° 9.433, quais sejam: implementação da cobrança de uso da água, estudo das tecnologias de reutilização, criação de novas reservas e otimização do uso das existentes. Associa-se às prerrogativas anteriores, a gestão integrada dos resíduos sólidos urbanos, para fins de redução da poluição nos corpos d’água e o controle de poluição dos esgotos urbanos no lançamento nos corpos d’água dentro das práticas corretas de saneamento e com a mobilização social. A consistência dos resultados e a amplitude da gestão se dão pela integração da aplicação de política de recursos hídricos com gestão ambiental. A Agenda 21 também prevê a implantação de programas e projetos comprometidos com o resgate das condições de sustentabilidade dos recursos naturais. Dentre os relacionados por Bezerra e Munhoz (2000), destaca-se o Proágua Semi-Árido, que visa a implementação de 2 Estratégia 4 – Agenda 21 – estabelece medidas de controle da qualidade ambiental com vista à proteção e ao disciplinamento do uso dos recursos naturais, sua implementação implica no desenvolvimento de atividades de monitoramento e fiscalizaçãoe a adoção de ações de comando e controle. 39 política de aumento de oferta d’água bruta nos corpos hídricos com qualidade e em quantidade adequadas. Outros projetos/ programas contemplam a qualidade da águas. O Pró-Saneamento, diz respeito ao aumento da cobertura dos serviços de abastecimento d’água, esgotamento sanitário, drenagem urbana e tratamento dos resíduos sólidos urbanos. O Projeto de Qualidade das Águas e Controle da Poluição Hídrica (PQA), objetiva o apoio técnico e financeiro à elaboração de programas de investimentos no saneamento ambiental de bacias hidrográficas com elevado comprometimento ambiental, estando elas localizadas em áreas de densidade urbana e de atividade produtiva mais intensa. E finalmente, o Programa de Recuperação dos Cursos d’água Contaminados pela Ação Antrópica, visa a minimização da ação poluidora, bem como a recuperação dos corpos d’água, através da conscientização das comunidades quanto aos valores hídricos, manutenção das condições de sanidade dos corpos hídricos como resultado de trabalho participativo e pelo estabelecimento de sistema de monitoramento de qualidade das águas. Como a unidade de estudo é uma bacia hidrográfica, a Agenda 21, através da Estratégia nº 1, estabelece as diretrizes relacionadas com o objeto de nossa pesquisa. Regular o uso e a ocupação do solo por meio de métodos e técnicas de planejamento ambiental, incluindo as diversas formas de zoneamento, articulação e o gerenciamento de unidades espaciais de importância para a biodiversidade e para a conservação dos recursos naturais, tais como corredores ecológicos, unidades de conservação, ecossistemas terrestres, costeiros e marítimos e bacias hidrográficas.(BEZERRA e MUNHOZ, 2000) (grifo nosso). Desta estratégia, ressalta-se o desejo de recuperação, revitalização e conservação de bacias hidrográficas e de seus recursos vivos através da ação de minimização dos efeitos de degradação das bacias hidrográficas, através da formação de comitês, elaboração de Planos Diretores de Bacias, instrumentos econômicos, procedimentos de licenciamento ambiental, outorga de uso, enquadramento dos cursos d’água e educação ambiental. 40 Concluindo, Leff (2001), ressalta que a questão ambiental surge no terreno de problemática social que orienta o saber e a pesquisa para o campo estratégico do poder e da ação política. Observando que o movimento ambiental cidadão não propõe uma redistribuição de poder nem reclama um melhor balanço dos custos ecológicos do processo econômico, mas abre novos processos políticos e jurídicos para apropriação social da natureza. Caracterizando-se pela participação das comunidades na percepção, gestão e manejo de seus recursos bem como, pela fusão dos saberes tradicionais com o conhecimento moderno, não se tratando, no entanto, de uma fuga ao passado. É a ética ambiental que reanima a vontade de poder como um desejo de vida que rompe o silêncio, reabrindo os sentidos da história. O saber ambiental é mobilizado por essa vontade de poder querer, que vincula o conhecimento a uma ética do desejo. 1.5. RECURSOS HÍDRICOS E A CONSCIÊNCIA HUMANA Emoto (1999) através de experiências observou que a estrutura molecular da água apresenta mudanças expressivas, se exposta às energias vibracionais humanas (pensamentos, palavras, idéias, música) quando afetada ou não por resíduos de qualquer natureza ou ainda, quando há a interação entre eles. Christofidis (2002) ressalta, baseado nesta teoria, que esta constatação nos remete à reflexão sobre os milagres da natureza e da consciência de sintonia. Afinal, “a água que compreende 70% do corpo humano é a mesma que cobre igual proporção do planeta”. É a sintonia e ressonância do reino mineral com o humano que tem habilidade de refletir o aspecto visual e molecular do ambiente. Segundo Christofidis (2002), percebe-se que a vida humana conecta-se à qualidade da água, a de dentro de nós ou a que nos está em torno. E, que compete a nós, através dos 41 pensamentos e da sua verbalização em “nossas águas”, as transformações que devemos promover. A pesquisa desenvolvida por Emoto (1999) constitui-se assim, em instrumento essencial e de elevado significado na ampliação da percepção sobre o ambiente e acerca dos seres humanos, no estabelecimento de estreita relação entre a qualidade de vida e a qualidade da água. Para Christofidis (2002) torna-se claro que a transformação dos seres e do planeta é possível pelos pensamentos e pelo modo como estes são praticados, esclarecendo que a sensibilidade encontra-se além da dimensão intelectual. Schwenk (1962) observa que no passado a água era bem mais valorizada, sendo, inclusive, objeto de homenagens religiosas por entendimento de alguns, que era a morada de seres divinos – divindades d’água. Ao longo do tempo perdeu-se o conhecimento e a experiência da natureza espiritual da água, hoje é tratada como substância inanimada para aproveitamento e à serviço do homem. Christofidis (2002) ressalta que a compreensão da natureza física da água e o seu uso fizeram desvanecer o conhecimento e o espírito do elemento, reflexo da mudança de atitudes. A água não é mais um ser, mas tão somente um recurso. Recurso de valor material a ser explorado, dirigido para a utilização em todas as esferas sem respeito aos valores éticos e estéticos. A humanidade, segundo ele, não está perdendo apenas a dimensão espiritual com a natureza da água, mas constata-se também que o faz da substância física. Há a escassez. Em todo o mundo as fontes estão secando, refletindo o aproveitamento alheio á sustentabilidade dos recursos hídricos. Segundo o entendimento de Shwenk (1962), a transformação se faz necessária, há de se observar a água e o ar com novo olhar: transformador e decisivo. 42 TOBIAS BARRETO de Aderbal C. Barbosa Berço amado da minha doce infância, Terra de lindo sol, forte e candente, Onde nos campos sem fim, livremente, Brincou minh'alma com leda inconstância. Ao longo das estradas, à distância Escuta-se o gemer triste e dolente Da meiga rola no galho tremente, Saudando o camponês na sua estância. E minha terra! Terra do Gigante, Daquele que no passado distante Mestre ilustre foi de uma geração. Orgulho sinto de aqui ter nascido E quando deste mundo for banido Quero dormir em seu sagrado chão! 43 2. A PESQUISA Este capítulo esboça em linha gerais, Tobias Barreto, o lócus da pesquisa na bacia hidrográfica do Rio Real, retratando o lugar quanto aos seus aspectos geográficos, os instrumentos usados para coleta dos dados, concepção das questões de pesquisa, como foi desenvolvido o estudo para atingir os objetivos e, finalmente, o perfil daqueles que contribuíram com seus depoimentos. 2.1. TOBIAS BARRETO: LÓCUS DO ESTUDO O município sergipano de Tobias Barreto está inserido no semi-árido nordestino e ainda que na confluência do Rio Real com seu afluente Jabiberi sofre reflexos da escassez pela intermitência destes corpos d’água e pelos conflitos de gestão. A sede do município de Tobias Barreto é uma área de trânsito intermunicipal e interestadual, o que lhe confere uma dinâmica de vida diferenciada de outras localidades do mesmo porte. A cultura mercantilista transparece no atendimento das lojas, das repartições públicas, dos restaurantes, no trânsito caótico e intenso de motos, carros, caminhões e nas pessoas que transitam sempre com pressa, sob sol escaldante. A população está envolvida em realizar negócios, em vender ou comprar qualquer coisa, a qualquer hora, até mesmo a atenção de visitantes. Relevam a outros planos de prioridade os cuidados com o lugar. É visível o pouco embelezamento urbanístico da sede do município: não há praças de urbanização vistosa, há pouca arborização ao longo do canteiro central da avenida principal, não se percebe ser um lugar que se cultue a qualidade de vida, apenas no que se pode obter ou ter. O cenário satisfaz, por hábito ou acomodação, aos que lá habitam, porém distante do 44 imaginário das condições de vida de cidades interioranas em que pese tranqüilidade e segurança; estreitos laços de vizinhança e manutenção de hábitos próprios de pequenas localidades, tais como conversas amistosas nas calçadas; delineamento difuso entre rural e urbano pela representatividade de quintais com fauna, flora e, até mesmo, atividades próprias do meio rural. Considerando as informações do Perfil dos Municípios - SERGIPE (1997), Tobias Barreto está localizado na região centro sul do estado, dá nome à microrregião de Tobias Barreto e se insere na mesorregião do Agreste Sergipano. Dista de Aracaju 127km por rodovia e apresenta altitude média de 180m em relação ao nível do mar, fazendo limites com os municípios de Poço Verde, Simão Dias, Riachão do Dantas, Itabaianinha, Tomar do Geru e com o Estado da Bahia, cuja linha divisória é o Rio Real. (Figura 01) Conforme o diagnóstico elaborado pelo CPRM (2002) o município está inserido no Polígono das Secas, com clima tipo megatérmico semi-árido de transição para seco e subúmido, com temperatura média anual de 24,2ºC e precipitação média anual de 763mm. O período chuvoso concentra as precipitações entre os meses de março a julho. Quanto ao relevo, corresponde à superfície pediplana e tabular erosiva, possuindo formas dissecadas dos tipos tabuleiros e colinas, com aprofundamento de drenagem variando de muito fraco a mediano. No que diz respeito aos tipos de solos destacam os Halomórficos, Litólicos Eutrópficos e Planosol, apresentando vegetação de capoeira, caatinga, campos limpos e campos sujos. 45 Figura 01 - Situação de Tobias Barreto no Estado de Sergipe Fonte: PETROBRAS 2001, Adaptado por Zenóbia Silva 46 Esses solos são predominantemente originários de rochas do Grupo Estância. De acordo com o CPRM op. cit, em 90% do território do município predominam litótipos do Grupo Estância, representados por grauvacas, arenitos feldspáticos e conglomerados da Formação Palmares, e argilitos, siltitos e arenitos da Formação Lagarto. A oeste há os arenitos, siltitos e folhelhos da Formação São Sebastião (Bacia do Tucano Centro). A sudeste existe a associação orto-gnáissica ácido-básica migmatítica do Complexo GnáissicoMigmalítico. E, no extremo nordeste, em área restrita, afloram calcários, dolomitos, metapelitos, e metacherts da Formação Olhos D’água (Grupo Vaza-Barris).(Figura 02) Figura 02 – Geologia simplificada do município de Tobias Barreto Fonte: CPRM – 2002. 47 No que diz respeito à divisão política, o município é composto por 39 povoados, que por particularidades inerentes ao desenvolvimento social, poucos deles se destacam pela área de ocupação, pela infraestrutura e pela atuação de sua representação. A seguir, relatamos de modo genérico, o perfil dos povoados cujos representantes foram entrevistados apresentando, ainda, as condições de abastecimento. Caripau, que acolhe a associação3 dos povoados Caraíbas, Caripau e Macacos, abrange 130 famílias que possuem como fonte de receita para sustento a agricultura e a pecuária. Nestes povoados, ainda com ocorrência de casas de taipa, o abastecimento é com água de barreiro, água coletada das chuvas. Mais recentemente foram feitos 74 sistemas, para abastecer a comunidade e em andamento encontravam-se 4, que em virtude das poucas chuvas não estavam em funcionamento. Quanto às condições de saneamento, o presidente da associação deixou clara a inexistência de rede de esgoto, os despejos são feitos a céu aberto e o lixo amontoado “em algum lugar”, isto é, em qualquer lugar. O rio Caraíba corta as imediações dos três povoados e serve à dessedentação e ao banho de animais, à lavagem de roupa e utensílios domésticos. O povoado Patos localiza-se às margens do Rio Real e, segundo o presidente da associação4, possui de 50 a 100 famílias. O abastecimento de água é proveniente de tanques e de um sistema singelo de abastecimento alimentado por poço tubular profundo instalado pelo projeto Pró-sertão. Não há conhecimento pelos moradores quanto à existência de tratamento ou de como se processa, observando que a população é orientada pelos agentes de saúde a usar cloro, que eles mesmos distribuem. A associação, já elaborou três projetos, um deles referente às melhorias no abastecimento, mas “foram arquivados”. Dentre as iniciativas implementadas para melhorar o abastecimento a abertura de poço artesiano foi frustrada em 3 Associação de Desenvolvimento Comunitário dos Povoados Caripau, Caraíbas e Macacos – presidida por José Martins Filho. 4 Associação de Desenvolvimento Comunitário do Povoado Patos - presidida por Geraldo Higino dos Santos. 48 virtude da má qualidade da água e da baixa vazão obtida com a perfuração. Não vislumbram nenhuma solução imediata. O povoado Alagoinhas, segundo o presidente da associação5, possui como economia de subsistência a pecuária e agricultura familiar. A sede do povoado, assim como as comunidades vizinhas, são abastecidas por rede de adutora, intercalada por 20 caixas de passagem. Há, no entanto, queixa quanto à qualidade da água, que é salobra. Quanto ao saneamento, fazem uso de fossas sépticas e o lixo é recolhido por caminhões em dias alternados da semana e dispostos a céu aberto nas proximidades. O povoado Montes Coelho, localizado às margens do Rio Real, segundo a presidente da associação6, possui cerca de 2.500 famílias. É um dos povoados mais bem servidos de infraestrutura pois, possui rede elétrica, escola, calçamento, posto telefônico, mercado de horti-fruti-grangeiros e clube social. O abastecimento de água é oriundo de poço tubular profundo localizado no povoado Lagoa do Soares, na Bahia. A água é fornecida através de sistema de distribuição domiciliar, é previamente submetida a um processo de dessalinização, por osmose reversa, para o povoado Lagoa do Soares e para Montes Coelho. O abastecimento é da DESO, com água devidamente tratada, para uso doméstico. Os moradores locais são pequenos produtores rurais. O povoado Samambaia é representado por duas associações7 na defesa de seus interesses junto à sede do poder municipal. Sua população também é abastecida pelo poço tubular profundo instalado pela DESO, localizado no povoado Lagoa do Soares, no estado da Bahia, com utilização de dessalinizador. 5 Associação de Desenvolvimento Comunitário do Povoado Alagoinhas – presidida por José Alberto de Oliveira, que também é presidente do Conselho Rural Sustentável. 6 Associação de Desenvolvimento Comunitário Povoado Montes Coelhos – presidida por Maria Vital Macedo. 7 Associação de Desenvolvimento Comunitário da Vila Samambaia – presidida por Luizete de Souza Neto, do Conselho Municipal de Desenvolvimento-CONDEM e Associação de Desenvolvimento Comunitário do Povoado Samambaia. 49 Os povoados Campestre, Curtume, Agrovila, Pedra de Amolar, Roma, Capitoa e Brasília, embora menores também se fazem representar por associações e são abastecidos por reserva de água em tanques públicos ou privados. Os povoados Candeias, Campo Pequeno, Barriga, Saquinho, Jabiberi e Borda da Mata são abastecidos por poço tubular profundo associado a um dessalinizador. O povoado Sutero é abastecido através de captação de poço tubular profundo e cisternas rurais. 2.2. INSTRUMENTOS DA PESQUISA Esta pesquisa visou fazer uma reflexão quanto aos aspectos de gestão de recursos hídricos, condições de abastecimento e a importância da participação e do envolvimento da população, na minimização dos efeitos da ação predatória pelo desmatamento das margens, pela contribuição de esgotos domésticos e industriais, pelo uso inadequado e pela promoção da poluição, restabelecendo assim, a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento responsável. Almejou também avaliar a situação ambiental da área da bacia hidrográfica do Rio Real, em especial, no que se refere à aplicação da política de gestão de recursos hídricos na preservação dos mananciais e para abastecimento na área urbana do município de Tobias Barreto. A organização das idéias desta pesquisa foi amparada pela concepção de indicadores para a sustentabilidade ambiental aplicáveis à gestão de recursos hídricos, à preservação dos recursos existentes e para ao abastecimento, observando o envolvimento dos atores sociais. Segundo Mitchell (1997), o descortinar de uma realidade dá-se pelo realce dos estudos de indicadores escolhidos como ferramenta na obtenção de informações. Caracteriza-se pela 50 síntese na complexidade de dados, pelo transparecer do significado do que é essencial e necessário nas análises, encontrando apoio na aplicação deste conceito nas teorias divulgadas por Hatchuel e Poquet (1992), Bouni (1996). Já o documento DPIE (Australian Department of Primary Industries and Energy 1995) estabelece critérios mais precisos quando esclarece que os indicadores são medidas da condição, dos processos, da reação ou do comportamento, cujo resultado fornece um resumo de sistemas complexos. Ressalta, ainda, que conhecidos os indicadores, estabelecidas as interrelações e interações e observadas as respostas, há de se prever condições posteriores, principalmente àquelas causadas pela ação antrópica, reforça Marzzall (1999). Na caracterização de um indicador há de se preservar o entendimento pleno pelo grupo de pesquisa, dos objetivos a serem atingidos. Segundo o entendimento de De Camino & Muller (1993, 1996), o objetivo a ser atingido é o que norteia o processo e otimiza os resultados da interpretação das análises. Há de considerar certa flexibilidade dos indicadores escolhidos para que se tornem mais visíveis as alterações intrínsecas ao sistema. O uso de indicadores, como metodologia de desenvolvimento para pesquisa, encontrase em aprofundamento, visto ser uma busca de informação e de tratamento de dados muito recente. Dentre as considerações existentes, a mais empregada é a criada pela Organização para a Cooperação Econômica e o Desenvolvimento (OCDE), originalmente desenvolvida por Hammond, et al (1995). A estrutura deste modelo consiste em atender aos aspectos de abordagem de “pressão – estado – resposta” e na identificação, de forma linear, do problema, detecção da sua causa e determinação da respectiva solução, estabelecida assim, a interação necessária à análise. Segundo o documento elaborado pelo CIAT-UNEP Enviromenmental and Sustainability Indicators (1995 e 1996), amplia-se o espectro de atuação, complementando estes indicadores, enfatizando a importância de ainda se considerar, o impacto/efeito e o 51 indicador prospectivo. Estabelecendo cinco indicadores como a seguir são identificados: atribui-se à pressão sobre meio ambiente às causas dos problemas ambientais, referindo-se em especial, às interações sociedade-natureza, aos reflexos das atividades humanas e ao próprio funcionamento dos sistemas naturais. O estado do meio ambiente relaciona-se com a qualidade do meio ambiente em função dos efeitos das ações antrópicas considerando o estado dos ambientes físico, químico e biológico, assim como às condições dos ecosistemas e as funções ecológicas e à população. Ao indicador de impacto/efeito é atribuído á observação das atividades humanas sobre o meio ambiente e vice-versa. São as interações sociedade-natureza que causam as pressões e condições de estado sobre o meio ambiente. Este indicador sofre alteração na proporção das mudanças geradas no tocante a resposta da sociedade gerada sobre o meio ambiente pressionado ou agredido. Os modelos de impacto/efeito concebidos refletem os ajustes de relação entre os problemas, suas causas e as soluções encontradas para o equilíbrio. Destacase, usualmente, como impactos e efeitos, as ocorrências nas condições ecológicas, nos ecossistemas nos recursos naturais e os impactos sobre a sociedade e população. No que se refere à resposta sobre meio ambiente, vinculam-se as medidas e ações tituladas como respostas que a sociedade promove para melhorias. Refere-se às ações geradas pela sociedade em defesa sobre a pressão, na busca de melhoria do estado e obtenção dos seus efeitos sobre o meio ambiente e ao uso dos recursos naturais. A participação popular proporciona resposta acolhida por gestores em todos os níveis de governo ou de entidades não governamentais, e todos aqueles que possuem como objetivo comum à minimização dos agravos, à promoção do uso racional e sustentável dos recursos naturais - a gestão ambiental. E finalmente, o quinto, trata dos indicadores prospectivos que se relacionam com o progresso necessário para que se estabeleça a sustentabilidade dos sistemas, enfatizando a importância de considerar as potencialidades e limitações dos recursos naturais na elaboração 52 de políticas para um desenvolvimento sustentável. As informações fornecidas por esses indicadores identificam quais as medidas ou ações têm dado resultado e as que devem ser ajustadas ou criadas para impedir as causas de degradação ambiental. Neste trabalho, por sua amplitude, fez-se necessário sua divisão em dois focos de análise, distinguindo-se a abordagem e o direcionamento da coleta de dados macro da gestão dos recursos hídricos da bacia do Rio Real da abordagem micro da representação local dos gestores e co-gestores (a população) do rio Real no município de Tobias Barreto. No que concerne à gestão de recursos hídricos, foram observados, principalmente pelos depoimentos dos entrevistados, as causas ou problemas na gestão, o comprometimento do sistema de abastecimento, a existência de conflitos e a participação dos atores sociais. No que se refere ao recurso hídrico local, através do diagnóstico e da aplicação das entrevistas pertinentes, procurou-se esclarecer as pressões sobre o meio ambiente e o estado de degradação em que se encontra, bem como os impactos e efeitos gerados. Procurou-se também identificar e qualificar os projetos em andamento ou previstos, como indicadores das diretrizes futuras da gestão. 2.3. DESENVOLVIMENTO O desenvolvimento da pesquisa consistiu em atingir os objetivos específicos de levantar as instâncias de gestão e suas atuações; diagnosticar a situação ambiental da área da bacia hidrográfica do rio Real, com detalhamento quanto às condições do potencial hídrico e às ações predatórias; identificar o envolvimento da comunidade e seu nível de compromisso com a preservação dos recursos hídricos de superfície para o abastecimento local; analisar as condições e desafios da gestão ambiental dos recursos hídricos superficiais para abastecimento em Tobias Barreto, bem como os conflitos existentes. 53 Para o levantamento das instâncias de gestão e suas atuações foi consultado o órgão gestor da política de recursos hídricos do Estado, SEPLANTEC-SE/SRH, para identificação dos demais gestores (órgãos públicos e instituições) do Estado e do município de Tobias Barreto conferindo-lhes as atribuições e responsabilidades pertinentes, bem como, para o acesso às informações que lhe são afeitos e concernentes às políticas públicas, às normas em vigor, às informações secundárias existentes nos relatórios de acompanhamento, nos históricos de dados e em outros registros. A obtenção desses dados deu-se a partir de entrevistas com a direção do órgão e com responsáveis por setores afins. A elaboração do diagnóstico da situação ambiental da área da bacia do Rio Real foi alcançada através do detalhamento das condições do potencial hídrico e das ações predatórias, com levantamento dos dados estatísticos existentes, sobretudo, da dinâmica fluvial. O registro fotográfico de campo é apresentado como dado atualizado do diagnóstico das condições ambientais da bacia do Rio Real. O detalhamento das condições hídricas dos mananciais e da realidade sócio-econômica do município integra o diagnóstico destacando assim, a área urbana de Tobias Barreto. A aplicação de questionários à comunidade tobiense subsidiou a identificação do envolvimento da comunidade e seu nível de compromisso com as questões ambientais e de preservação do manancial para fins de solução de conflito e ampliação das diretrizes de gestão. Esta identificação estabeleceu-se como o norte desejado para a proposta de ajustes das políticas públicas, em destaque a de recursos hídricos. O número de entrevistas respeitou à avaliação qualitativa através de depoimentos dos citadinos. A escolha dos entrevistados obedeceu ao interesse da pesquisa, qual seja a de conhecimento através dos usuários, sobre as condições de abastecimento e de atuação dos gestores e aos personagens ilustres ou de destaque na comunidade bem como aqueles de idade 54 mais avançada que expressassem a realidade do passado do Rio Real, comparado-a à realidade presente. Nesse contexto foram realizadas 22 entrevistas. Para análise dos conflitos na gestão dos recursos hídricos foram considerados os resultados do diagnóstico ambiental, relacionados com as respostas pertinentes ao compromisso com a sustentabilidade dos recursos e ao cumprimento, pelos gestores, das prerrogativas legais. 2.4. PERFIL DOS ENTREVISTADOS As entrevistas almejaram resgatar informações quanto ao abastecimento, no que se refere à qualidade, quantidade de água, e ainda, considerações da população quanto à atuação dos gestores e o próprio envolvimento da comunidade nas questões ambientais e de preservação. Na sede do município, as entrevistas foram desenvolvidas com moradores da periferia encontrados aleatoriamente fazendo uso da água, representantes de comunidades em reuniões, usuários do comércio, representante de categorias, professores de escola pública e particular, com o pároco da igreja, bem como, residentes antigos e indicados pela comunidade. Nos povoados foram entrevistados os representantes de associações de moradores. Sobre os entrevistados temos a esclarecer, ainda que foram escolhidos, preferencialmente, os residentes usuários, não importando a classe social ou nível de instrução. A abordagem à população, ocorreu através de roteiro de entrevistas que privilegiaram as atitudes, o cotidiano, a participação e a representatividade na comunidade, a fim de detectar seu grau de envolvimento com a situação ambiental existente e sua receptividade à política 55 empregada pelos gestores e, em contraponto, enquête à administração local quanto às suas perspectivas de ação e soluções de conflitos e desafios. Os questionários aplicados à população seguiram um roteiro básico, mas adaptável a cada entrevistado, para livre posicionamento do entrevistado de forma a permitir a expressão de sua opinião sobre as condições de abastecimento local, atuação dos gestores e nível de identidade com o Rio Real. Apresenta-se, a seguir, o perfil dos entrevistados que corroboraram na construção dessa pesquisa. A senhora Josefa Maria dos Santos, dona de casa, reside na periferia da sede do município de Tobias Barreto, sua residência não possui água encanada e que no momento da entrevista se encontrava lavando roupas nas proximidades do Tanque dos Missionários8, mas que em outras situações ela costuma utilizar água da casa de um dos vizinhos. A senhora Valdelice dos Santos, dona de casa, também residente na periferia, é usuária do abastecimento público, mas eventualmente lava a roupa em córregos, rio e no Tanque dos Missionários. Antonio Menezes Souza Filho, universitário, coordenador do Conselho Tutelar, possui residência beneficiada pelo abastecimento público. Ademário Nascimento Costa, fiscal de tributos municipal, nascido na Bahia, mas residente em Tobias Barreto há mais de 21 anos. Dentre as pessoas consideradas de relevante importância na educação da população de Tobias Barreto, elegemos a senhora Dilamar Barbosa, técnica pedagógica de escola pública e o senhor Antonio de Oliveira Silva, sócio de instituição estudantil particular, participante do Projeto Cáritas e observador poético da realidade local. 8 Tanque dos Missionários – antiga fonte de uso comunitário, depois transformado em tanque de criação de patos e mais recentemente, mantido parcialmente cercado, sendo fácil o acesso pela comunidade para lavagem de roupa e utensílios domésticos representante de associações dos povoados. 56 Os senhores Miguel Alves da Silva e J. Alves são radialistas, e em alguns momentos, eles têm sido considerados a voz das pessoas insatisfeitas com as condições de abastecimento, provocando, inclusive, um posicionamento por parte dos gestores. O Ministério Público se fez representar pelo promotor Dr. Ricardo Sobral Souza, que nos esclareceu sobre os conflitos no abastecimento as soluções previstas implementadas pelo gestor com a participação da população. O pároco, Pe. Souza deu-nos uma visão da igreja local no que se refere às condições de abastecimento e às iniciativas de preservação do meio ambiente. O Pe. Melo, antigo atuante político, apresentou um perfil inicial da degradação do Rio Real e as iniciativas à época da constatação. O resgate histórico foi dado pelas figuras ilustres nascidas em Tobias Barreto, historiadores e estudiosos do município, os senhores Aderbal Barbosa, José Francisco Menezes e Luiz Antonio Barreto. Os representantes das associações dos moradores de povoados foram entrevistados durante a reunião ordinária das associações ocorrida na época da pesquisa de campo (julho/2002). Através da enquête contatou-se que as condições precárias de abastecimento não se restringem à sede do município, mas também aos povoados circunvizinhos, conforme exposto por seus representantes: José Martins Filho (povoados Caraíbas, Caripau e Macacos); Geraldo Higino dos Santos (Povoado Patos); José Alberto de Oliveira (Povoado Alagoinhas), também presidente do Conselho Rural Sustentável; Maria Vital de Macedo (Povoado Monte Coelhos), Luizete de Souza Neto (Vila de Samambaia) que também é presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento – CONDEM. O Secretário Municipal de Agricultura e Meio Ambiente, Engº Braz Melo Costa Júnior, cuja pasta compete o acompanhamento das prerrogativas de conservação e manejo é o representante do poder municipal. 57 José Agnaldo de Souza, agente administrativo operacional lotado na Diretoria Técnica da DESO, na Gerencia das Unidades de Negócio do Interior (GUNI) - Regional Sul, que atende aos municípios de Tobias Barreto, Riachão do Dantas e Poço Verde, nos destacou os aspectos operacionais e as dificuldades relatadas pelos entrevistados no que concerne ao abastecimento. Cláudio Júlio M. Mendonça Filho, geógrafo, lotado na Diretoria Técnica da DESO, na Unidade Estratégica de Recursos Hídricos (UEDH), que além de apresentar dados sobre atualização do sistema de abastecimento no município, lócus da pesquisa, acompanhou-nos nas visitas feitas ao município, informando sobre as condições da rede e da situação ambiental da bacia na área restrita a Tobias Barreto. João Carlos da Rocha, geólogo, diretor do Departamento de Administração e Controle de Recursos Hídricos, do órgão gestor dos recursos hídricos do Estado, SRH – Superintendência de Recursos Hídricos, vinculada a SEPLANTEC – Secretaria de Planejamento e Tecnologia de Sergipe. Observou-se que a contribuição dos entrevistados à pesquisa ocorreu mais significativamente naqueles assuntos que lhes era afeito e, em virtude disso, a entrevista se ateve com mais profundidade a alguns temas específicos e destes extraímos as informações relevantes ao entendimento dos resultados. Assim, pelo exposto, a pesquisa se delineou pelos instrumentos adotados na metodologia, inclusive no que concerne ao perfil dos entrevistados, visando a identificação das condições dos espaços físico-geográficos da bacia hidrográfica do Rio Real e do município de Tobias Barreto, a descrição dos aspectos sócio-ambientais, a reflexão da percepção no que diz respeito à responsabilidade dos munícipes nas questões ambientais, a identificação dos desafios na aplicação da política de gestão de recursos hídricos e dos 58 conflitos de implantação de gestão, no que tange às particularidades locais de interação entre o homem, a natureza e sua identidade histórica. 59 RIO REAL de Aderbal C. Barbosa Por senda tortuosa, desigual, Vem ele todo garboso e faceiro, Este nome ostentando, sobranceiro, Desde as lutas ali com Portugal. Da Bahia querida e fraternal Separa o belo Sergipe altaneiro, E aqui fica, em seu longo paradeiro, Formando apenas poços e areal. Sendo por fortes chuvas despertado Agita-se qual um leão zangado E procura investir contra a cidade. Já tem deixado gente ao desabrigo, Mas é considerado um rio amigo, Malgrado essa pequena falsidade..... 60 3. BACIA DO RIO REAL Este capítulo apresenta a bacia hidrográfica do Rio Real, através de descrição do espaço geográfico, inclusive quanto ao cenário ambiental. Apresenta diagnóstico sucinto, destacando as condições dos recursos hídricos para o abastecimento, disponibilidade hídrica atual, e a expectativa de demanda presente e futura. 3.1. CENÁRIO AMBIENTAL A bacia hidrográfica do Rio Real abrange território dos Estados da Bahia e Sergipe, cujo seu leito principal encontra-se sob jurisdição Federal. No Estado de Sergipe situa-se no quadrante de coordenadas cartesianas com latitudes 10º44’02’’ e 11º34’00’’ sul, longitudes 37º23’09’’ e 38º16’40’’ oeste. Esta bacia drena uma área total de 4.798 km2, sendo que parte dessa área, 2.558 km2, pertence ao Estado de Sergipe. A bacia hidrográfica possui como principais cursos d’água: o Rio Real, que determina a divisão geográfica com o Estado da Bahia, Itamirim, Jabiberi, Caripau, Urubu, Jacarezinho, Indiaroba e Paripe e os riachos Jibóia, Baixão, Lizeu, Sena, da Pedra, do Macaco, da Areia, Salgado, do Angico, da Caraíba, do Ingá, do André, Barriga, Grande, Candango, da Roma, da Várzea, do Bispo, Mocambo e Brejo. Esporadicamente, aparecem barragens e tanques públicos e privados que minimizam as dificuldades para o abastecimento rural, para a dessedentação de animais, para a irrigação de pequenas áreas e algumas práticas agrícolas. Conforme material apresentado em 1999, no Seminário Técnico promovido pela JICA (Agência de Cooperação Internacional do Japão) com o apoio da SEPLANTEC-SE, sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos no Estado de Sergipe, a bacia do Rio Real possui 61 como potencial de recurso hídrico9 o equivalente a 722 milhões de m3/ano, sendo que destes, 645 milhões de m3/ano correspondem à contribuição de águas superficiais e 77 milhões de m3/ano de águas subterrâneas adequadas ao consumo humano. Observando o universo do potencial hídrico do Estado que é de 60.218 milhões de m3/ano, no que se refere à bacia do Rio Real, fica claro a pequena participação no cotejo total do potencial hídrico estadual isto devido a parte de sua área de drenagem estar posicionada no Polígono das Secas. Segundo a DESO (1996), por estar posicionada em uma região de poucos rios perenes, o uso das águas obedece a critérios restritivos. A bacia do Rio Real, em 1996, abastecia apenas uma pequena parcela da população total (70.020hab) abrangida por sua área de drenagem correspondendo a apenas 30,7% (21.480hab). Do restante, 35,3% (24.750hab) era suprida pela bacia do Rio Piauí e 34,0% (23.790hab) pela bacia do Itapicuru (BA). Em Sergipe, a bacia abrange totalmente os municípios de Poço Verde, Tobias Barreto, Tomar do Gerú e Cristinápolis e parcialmente, os municípios de Riachão do Dantas, Itabaianinha, Umbaúba e Indiaroba. Segundo os dados do IBGE (2000), perfazem uma população de 213.406hab, sendo 100.746 na área urbana e 112.660 na área rural. De modo mais claro, a seguir expomos, os dados populacionais e indicadores demográficos dos municípios que fazem parte da bacia, (Tabelas 01 e 02). TABELA 1 - Municípios da bacia do Rio Real/ SE – População 1991-2000 Municípios 1991 Total Urbano 10.932 4.921 11.607 3.923 30.885 12.131 17.666 7.849 Rural 6.011 7.684 18.754 9.817 Total 12.774 11.904 32.537 17.612 Cristinapólis Indiaroba Itabaianinha Poço Verde Riachão do 16.992 3.330 13.662 17.820 Dantas Simão Dias 32.196 13.138 19.058 33.707 Tobias Barreto 35.577 21.882 15.695 40.740 Tomar do Geru 11.278 3.027 8.251 12.464 Umbaúba 14.593 8.103 6.490 16.489 Total 183.726 78.304 105.422 196.047 Fonte: IBGE – Censo de 1991; 1996; 2000. 9 1996 Urbano 5.360 4.159 13.593 8.870 Rural 7.414 7.745 18.944 8.742 Total 15.101 12.881 35.123 19.936 2000 Urbano 6.722 4.455 15.552 10.465 Rural 8.379 8.426 19.571 9.471 3.847 13.973 19.174 4.267 14.907 15.165 25.165 3.663 9.222 89.044 18.542 36.795 16.799 19.996 15.575 43.109 27.470 15.639 8.801 12.185 4.129 8.056 7.267 19.102 10.887 8.215 107.003 213.406 100.746 112.660 Potencial de recurso hídrico: somatório da média das vazões das águas superficiais e águas subterrâneas de boa qualidade 62 Identifica-se nos dados que apenas os municípios de Cristinápolis, Poço Verde e Umbaúba apresentam taxa de crescimento relevante que, associada às taxas de urbanização dos respectivos municípios, sugerem majoração na área urbana. O município de Tomar do Geru apresenta decréscimo na taxa de crescimento e uma das mais baixas taxas de urbanização e a menor densidade demográfica, demonstrando situação de êxodo de sua população. O município de Tobias Barreto, lócus da pesquisa, apresenta baixa taxa de crescimento populacional, mas a maior taxa de urbanização confirmada pelos dados populacionais dos anos anteriores que deixam transparecer fraca mobilidade para as áreas rurais ou crescimento pouco substancial. Segundo o CPRM (2002), em 1991, havia em torno de 15.695hab, em 1996, 15.575hab e em 2000, 15.639 habitantes na zona rural. TABELA 2 - Municípios da bacia do Rio Real/SE –Indicadores Demográficos (2000) Municípios Taxa de Cresc. (%) Taxa de Urb. (%) Densidade Demográfica. (hab/km2) Cristinapólis Indiaroba Itabaianinha Poço Verde Riachão do Dantas Simão Dias Tobias Barreto Tomar do Geru Umbaúba 4,27 1,99 1,93 3,15 1,85 2,22 1,42 -0,56 3,75 44,51 34,59 44,28 52,49 22,25 45,66 63,72 33,89 56,99 60,09 41,36 73,17 52,37 36,29 65,61 38,52 36,15 153,92 Fonte: IBGE – 2000. Observa-se que o município de Tobias Barreto, lócus da pesquisa, apresenta um crescimento da taxa de urbanização nos últimos nove anos de 3,61 %, o que se mostra compatível ao cenário estadual, que é de 4,13%. O abastecimento de água à população é complementado com as reservas subterrâneas. No que concerne às condições das águas subterrâneas, nas áreas de rochas cristalinas estão cadastrados 160 poços com profundidade média de 51,0m (variam de 15 à 114m) 63 apresentando, em geral, vazão em torno de 3m3/h. Sob o aspecto físico-químico, as águas armazenadas nas fissuras existentes, são na sua maioria salinizadas, com valores de teores de sólidos totais dissolvidos (STD) entre 2.500mg/l e 7.500mg/l e eventualmente apresentandose superiores, (DESO, 1996). Segundo Davino Filho (1981), são consideradas águas potáveis aquelas cujo teor de sólidos totais dissolvidos apresentam valor inferior ao permissível pela OMS (Organização Mundial de Saúde) que é de 550mg/l. A área da bacia hidrográfica é constituída por rochas cristalinas e sedimentares. O relatório da DESO (1996) ressalta a ocorrência de duas Províncias Geológicas a representada por rochas metamórficas ou de idade Arqueana, estando nestas incluso o Complexo Metamórfico-Magmático e Complexo Granulítico; ou por rochas do Proterozóico do Super Grupo Canudos, que engloba 90% da área da bacia hidrográfica. O restante é compreendido pelos sedimentos do Cretáceo: Grupo Ilhas Indiferenciado (Bacia do Recôncavo) e Formação São Sebastião; do Grupo Massacará (Bacia de Tucano); pelos sedimentos do Terciário, Grupo Barreiras, e pelos depósitos do Quaternário, (ANEXO A). As áreas constituídas por rochas cristalinas têm o potencial hidrogeológico muito baixo, havendo poço tubular profundo cadastrado com 60m de profundidade sem nenhuma vazão. Os poços cadastrados existentes na área do Grupo Barreiras apresentam-se com potencial hídrico muito fraco (vazões inferiores a 3m3/h) e de médio a fraco na faixa dos Tabuleiros Costeiros, quando chegam a atingir 20m3/h. Este aqüífero, no entanto, é de relevante importância na perenização dos cursos d’água existentes em sua área de ocorrência. Quanto às características físico-químicas, consideram-se de boa qualidade com teores de sólidos totais dissolvidos inferiores a 300mg/l. (DESO, 1996) No Grupo Ilhas Indiferenciados - Formação São Sebastião, o potencial hidrogeológico é considerado fraco, visto que dentre os 22 poços cadastrados, 6 apresentaram-se secos, 7 com 64 vazão inferior a 3m3/h, 6 com vazão entre 3 e 10m3/h e 3 com vazão superior a 10m3/h. No que se refere aos aspectos hidro-químicos, apresentam STD de 1000mg/l até 4500mg/l.(DESO, 1996) Nas áreas de depósitos quaternários, o potencial hídrico apresenta-se de médio a fraco, com vazão oscilando entre de 4m3/h a 20m3/h, em 6 poços cadastrados, com profundidade máxima de 33 metros. A qualidade físico-química das águas subterrâneas é pobre, com teores de sólidos totais dissolvidos limitados pelo intervalo entre 1000 a 2500mg/l. Estes resultados as tornam impróprias para o consumo humano, agravando-se pela presença de matéria orgânica.(DESO, 1996) No que diz respeito ao atendimento da demanda, a DESO, principal usuário da bacia para abastecimento humano, em 1996, fez constar no Relatório Síntese da Bacia do Rio Real, que são explorados um volume de água equivalente a 1.477.400 m3/ano da bacia hidrográfica do Rio Real, sendo o volume total de exploração na bacia de 277.400m3/ano de águas superficiais e 1.200.000m3/ano de águas subterrâneas. O abastecimento é complementado com aexploração de 2.200.000m3/ano da bacia do Rio Piauí (SE), e 2.800.000 m3/ano da bacia do Rio Itapicuru (BA). Acrescentam-se a estes valores de exploração, o abastecimento de povoados, sítios e fazendas através de sistemas singelos de abastecimento rural administrados pela COHIDRO e prefeituras. No mesmo relatório, a DESO (1996), traça o perfil dos solos e associações de solos, com ênfase nas condições de permeabilidade e erodibilidade dos mesmos. Na área da bacia hidrográfica foram identificados os solos Planosol solódico eutrófico (PISe) e Planosol eutrófico (Ple), pouco profundos ou rasos, de baixa permeabilidade e de fácil erosão. A textura desses solos vai de arenosa média a argilosa ou muito argilosa. Ocorrem também, Podzólico vermelho amarelo(PV) constituído de argila, quartzo e outros minerais resistentes, 65 predominantemente com textura média argilosa. Esses solos possuem fertilidade natural baixa em virtude do clima e do relevo e ocorrem na zona do litoral da bacia (foz do Rio Real) e na sua área central. O Podzólico Vermelho Amarelo equivalente eutrófico (PE) assemelham-se aos Podzólicos Vermelho Amarelo, diferenciando-se pela média e alta saturação de base e menor acidez, presença de minerais primários de fácil decomposição. Eles ocorrem a noroeste da zona central da bacia. Os solos Litólicos eutróficos (Re) são solos pouco desenvolvidos, rasos, às vezes pedregosos ou cascalhentos encontrados na zona oeste da área da bacia, estão relacionados com o material originário do Grupo Vaza-Barris. São pouco utilizados pela acentuada deficiência de água, pela pouca profundidade e pela elevada pedregosidade. Os chamados Cambisol eutrófico (Ce) possuem alta saturação de base, são rasos, originários da decomposição do calcário, possuem textura argilosa, podem apresentar pH alcalinos ou neutros. São de alta fertilidade natural apesar da falta de água. Finalmente, os solos Halomórficos (SS) ocupam o fundo dos vales, próximos aos canais de drenagem, são de textura arenosa originários da deposição de material transportado das encostas. São normalmente saturados em virtude do relevo que dificulta a drenagem, (ANEXO B). No que se refere às condições de desenvolvimento econômico da bacia do Rio Real, há de observar que a ocupação de sua área apresenta produção agropecuária tradicional, ou seja, agricultura arcaica e pecuária rudimentar. A mecanização e os incentivos agrícolas restringem-se a poucas áreas agrícolas. Nas áreas litorâneas, o plantio de coco destaca para comercialização, enquanto que nas áreas centrais, o cultivo da laranja está voltado para industrialização. Nas áreas restantes da bacia predomina o cultivo de subsistência, (DESO,1996). 66 É possível traçar um panorama da pecuária existente através dos dados do efetivo dos rebanhos na bacia hidrográfica do Rio Real, onde se observa a prioridade na criação de gado e aves. Segundo dados do IBGE (2000), destacam-se os rebanhos de bovinos com 72.201 cabeças, ovinos com 17.984, eqüinos com 6.299, suínos com 5.486, muares com 1.319, asininos com 1.254, caprinos com 1.165 e de aves com 91.500 cabeças. Cunha (2001) analisou o comportamento quantitativo dos rebanhos da bacia hidrográfica do Rio Real e constatou que “os principais fatores que contribuem para queda ou superávit da população de rebanho bovino são preço, clima e doenças”. Ele justificou, assim, a diminuição do efetivo rebanho bovino pelo prolongado período de severa estiagem ocorrida entre 1983 e 1993. A seca de 1993 acarretou em diminuição no rebanho bovino de 15% naquele ano e no ano seguinte, 1994, de 23%, ambos os dados referenciados com o ano base de 1992. Todavia, Lima (2003) observou que, no que diz respeito ao município de Tobias Barreto, o “setor agropecuário do município, em especial a pecuária, encontra-se em terceiro lugar como maior rebanho no Estado de Sergipe”, demonstrando a recuperação do setor nos últimos anos ou a perda generalizada do Estado de Sergipe. Com efeito, as condições de aptidão agrícola da terra local apresentam-se qualificadas entre boa e regular, com restrições para a pastagem natural e sem nenhuma aptidão para silvicultura. Essas restrições devem-se principalmente às condições climáticas aliadas à composição e estrutura dos solos geralmente rasos,(CUNHA, 2001). Em Tobias Barreto, no que se refere ao uso das terras, há predominância de pastagem, com 61.698 ha (80,7%). Os demais usos, menos significativos, correspondem a matas e florestas com 8.696 ha (11,3%), lavoura com 3.698 ha (4,8%), havendo ainda, terras produtivas e não utilizadas com 1.351ha (1,8%) e terras inaproveitáveis com 1.073 ha (1,4%). Dentre as culturas agrícolas predominam milho (1.900 ha), feijão (1.880 ha), mandioca (500 67 ha) e menos expressivas as de batata doce (67 ha) e maracujá (30 ha),(IBGE,1999), (ANEXO C). No que diz respeito à irrigação há apenas um projeto na bacia, o Perímetro Estadual de Irrigação Jabiberi, cuja gestão é de responsabilidade da COHIDRO. Nele se desenvolveram culturas irrigadas de frutas e vegetais com área irrigada de 250ha e vazão de irrigação de 1620m3/h, alimentada pela barragem do Jabiberi10, no curso d’água de mesmo nome. O sucesso deste projeto, segundo conclusões proferidas por Machado (2002), encontra-se comprometido tendo em vista as condições do solo, “76,5% dos lotes estudados apresentam-se salinizados e 46,6% com problemas de compactação”; pela falta de planejamento estratégico da produção de modo a oferecer diversidade e regularidade dos produtos; pelas dificuldades de comercialização dos produtos; pela assistência técnica oferecida pela COHIDRO, visto só um técnico ter que atender a 74 produtores, pelo baixo nível de escolaridade dos produtores e também pela falta de tradição da área, com predomínio da pecuária. Machado (2002) acrescenta que apesar das dificuldades, 86,7% dos irrigantes permanecem no perímetro desde a implantação e que os entraves são obstáculos possíveis de serem resolvidos, permitindo resgatar a sustentabilidade do projeto. De acordo com a EMDAGRO (Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe) e conforme mencionado no documento elaborado pela JICA (1998/2000), há ainda pequenos projetos de irrigação, mantidos por manancial subterrâneo e conduzidos pelos próprios agricultores. O setor industrial na bacia hidrográfica do Rio Real não apresenta valores significativos que deixem transparecer uma significação econômica do setor, mas é possível 10 Barragem do Jabiberi – rio barrado Jabiberi; localizada no município de Tobias Barreto (SE); tem como características: altura: 21,5m, extensão: 290m, volume acumulado: 4.300.000m3, volume morto: 540.000 m3, bacia hidrográfica: 118km2, bacia hidráulica: 60.5ha, volume regularizado: 200l/s, tipo de sangradouro: Creager, extensão do sangradouro:118m, dados extraídos do Diagnóstico do Município de Tobias Barreto contido no Projeto Cadastro da Infra-estrutura Hídrica do Nordeste (2002) 68 destacar algumas atividades, quais sejam: a de produtos alimentícios, de construção civil, de não metal, de aparelhos, têxtil, de metal, de couro, de madeira,(CUNHA, 2001). No município de Tobias Barreto, segundo Lima (2003), destaca-se a indústria de confecções de vestuários, micro empreendimentos familiares, cama, mesa, banho e artigos de recém-nascido, comercializados não só no próprio município e no estado de Sergipe, como também, em outras regiões. Tratando-se das questões ambientais do município e das condições dos recursos hídricos, observou-se o intenso assoreamento dos rios e riachos pela presença de erosão das margens, desmatamento da mata ciliar, lançamentos de efluentes e dejetos oriundos de pocilgas instaladas próximo aos leitos, como no riacho Salgado, afluente do rio Itamirim. Observa-se também a extração de argila, (Figuras 03 e 04) praticada nos taludes às margens do rio Jabiberi. Figura 03 – Foto do local de extração de material para Olaria, margens da SE-290. Foto: Zenóbia Silva/ Francineide Guimarães, 2001 69 Figura 04 – Foto da Olaria às margens da rodovia SE -290 Foto: Zenóbia Silva/ Francineide Guimarães, 2001 A pesca predatória e criminosa é prática usual das comunidades com aplicação de venenos para otimizar o volume. Acrescenta-se à poluição e contaminação o hábito comum de lavagem de roupas, louças, carros e animais diretamente no leito dos rios, principalmente do Jabiberi e Real. O lançamento de esgotos domésticos e efluentes de unidades comerciais e industriais completa o quadro de pressão generalizado sobre os corpos d’águas superficiais na área urbana de Tobias Barreto. O trecho do Rio Real que corta a área urbana de Tobias Barreto, nas épocas de estiagem, apresenta-se seco, e quando há fluxo revela a carga poluidora gerada pelo lançamento de despejos industriais e domésticos no seu leito, (Figuras 05 e 06). 70 Figura 05 –Leito do Rio Real – lançamento de efluentes domésticos, comerciais e industriais. Foto: Zenóbia Silva/ Francineide Guimarães, 2001 Figura 06 –Leito do Rio Real - dessedentação de animais em pequenas peças Foto: Zenóbia Silva/ Francineide Guimarães, 2001 Detendo-se às condições de saneamento no município, lócus da pesquisa, há de se destacar que a produção diária de resíduos sólidos era de 30 toneladas, (IBGE, 2002). Toda a produção é despejada em vazadouros a céu aberto (Figuras 07 e 08). Já os resíduos provenientes dos povoados são dispostos às margens das estradas, em torno da área urbana e nas proximidades das margens dos rios, (Figura 09). Foi observado também, que é comum o uso de agrotóxicos sem os cuidados com descarte das embalagens, jogadas de forma inadequada nos terrenos próximos às lavouras e às margens dos rios. 71 Figura 07 – Foto de Tobias Barreto – Sede do Município – deposição de resíduos sólidos em via de tráfego urbano. Foto: Zenóbia Silva/ Francineide Guimarães, 2001 Figura 08 – Foto de Tobias Barreto – Sede do Município – deposição de resíduos sólidos às margens de via de tráfego urbano. Foto: Zenóbia Silva/ Francineide Guimarães, 2001 72 Figura 09 – Foto de Tobias Barreto – proximidades do Rio Real – “lixão”. Foto: Zenóbia Silva/ Francineide Guimarães, 2001 É condição de agravo do ambiente a existência de abate de animais, no matadouro público (Figuras 10 e 11), cujo despejo de seus efluentes é direcionado para uma lagoa de decantação. Já nos povoados, o abate de animais ocorre sem a devida fiscalização, em estruturas pouco apropriadas e sem higiene. Figuras 10 e 11 –Fotos de Tobias Barreto – Sede do Município -lançamento de efluentes do frigorífico a céu aberto. Foto: Zenóbia Silva/ Francineide Guimarães, 2001 73 3.2. AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES HÍDRICAS Nos subitens a seguir desse capítulo apresentam-se a disponibilidade hídrica atual e uma projeção de demanda. As condições hídricas da bacia foram ressaltadas inclusive, com relação à disponibilidade dos aqüíferos subterrâneos. A projeção da demanda para os próximos 20 anos levou em consideração o consumo pela população, pela dessedentação animal e pelas atividades de irrigação e industriais mais relevantes do município de Tobias Barreto. 3.3 DA DISPONIBILIDADE Quando nos reportamos aos estudos de disponibilidade hídrica de uma bacia hidrográfica, tratamos da aplicação de técnicas hidrológicas convencionais para estimativa das disponibilidades naturais de água em determinados pontos, chamados de Pontos de Controle (PC’s), ao longo do tempo. Inicialmente, são considerados os registros de vazões em postos fluviométricos da bacia. Na ausência ou insuficiência temporal dos registros, modelos de transformação chuva-vazão podem ser devidamente calibrados para gerar séries de vazões nos Pontos de Controle da respectiva bacia. 3.3.1. SUPERFICIAL O estudo específico de disponibilidade da bacia hidrográfica do Rio Real foi elaborado por Cunha (2001), disponível na SEPLANTEC-SRH para apoio do sistema de outorga de direito de uso de recursos hídricos. Convém esclarecer que a bacia do Rio Real, de acordo com estudos realizados pela JICA- JAPAN INTERNATIONAL COOPERATION AGENCY (1998/2000), foi subdividida 74 em seis unidades de planejamento denominadas ‘’Unidades de Balanço’’ e que os estudos de disponibilidade aqui mencionados relacionam-se com estas unidades. As Unidades de Balanço na bacia do Rio Real receberam a seguinte enumeração e denominação: Unidade de balanço 601 – Alto Real; Unidade de balanço 603 – Rio Caripau/Mocambo; Unidade de balanço 604 – Rio Jabiberi; Unidade de balanço 605 – Riacho Quixaba; Unidade de balanço 606 – Rio Itamirim; Unidade de balanço 607 – Rio Paripe/Foz do Real, (ANEXO D). Extrapolações espaciais estimaram as vazões nos PC's (Ponto de Controle), em um mesmo período temporal. Para efeito de balanço hídrico foi necessário estimar as contribuições hídricas geradas nas bacias incrementais afluentes a cada PC. O intervalo temporal das vazões é o mesmo com o qual as demandas foram estimadas. Segundo o relatório, a abordagem é de forma superficial, com base em dados secundários, das características hidrológicas e fisiográficas da bacia em estudo; mas suficiente para compor o inventário da rede de instalação pluviométrica e fluviométrica necessária para análise do comportamento hidro-climatológico da respectiva bacia. Além da ANA – Agência Nacional de Águas, a DESO - Companhia de Saneamento de Sergipe faz medições de descarga na bacia hidrográfica do Rio Real,(ANEXO E e F). E, a COHIDRO - Companhia de Desenvolvimento dos Recursos Hídricos e de Irrigação de Sergipe, por algum tempo também monitorou pontos de medição de descarga nessa unidade geográfica, sendo suspenso em virtude da falta de recursos financeiros, (CUNHA, 2001). Atualmente, a DESO opera 6 (seis) pontos de medição de descarga, todos localizados na região leste da bacia. Trata-se de medição de descarga instantânea, ou seja, não dispõe de leituras limnimétricas diárias, o que, desta maneira, acarreta na inexistência da curva-chave da seção de controle, (ANEXO G). 75 A rede fluviométrica da bacia do Rio Real é constituída dentro do estado de Sergipe de duas estações de medição de cota e descarga ambas operadas pela Agência Nacional de Águas (ANA). Apesar de se ter um inventário com uma quantidade de seções de medições de descargas expressíveis, o estudo da probabilidade da ocorrência de vazões com uma determinada freqüência (curva de permanência) só poderá ser feito para as estações fluviométricas monitoradas pela ANA, visto que, são as únicas estações que contém leitura de nível d’água e medição de descarga sistemática. Na estação fluviométrica localizada na Fazenda Tourão (ANEXO H), no curso médio do Rio Real, à montante de Tobias Barreto, se observa, em termos de média, que um maior escoamento superficial predomina nos meses de maio, junho e julho havendo uma pequena oscilação entre estes, variação esta que é reflexo do comportamento aleatório das precipitações na região em estudo. O mês de julho é o que apresenta a maior contribuição superficial, onde o hidrograma atinge o máximo (7,8 m3/s). Após o mês de julho, inicia-se a recessão da curva onde se observa um ponto de inflexão acentuado no mês de setembro, período este que determina o fim do escoamento superficial e o início do escoamento de base ou subterrâneo, isto devido ao baixo índice pluviométrico, características do solo e da vegetação neste período e concretizando o período de escassez hídrica da bacia. Na estação fluviométrica Cachoeira do Itanhi ou do Abadia (ANEXO I), localizada no curso inferior do Rio Real, à jusante de Tobias Barreto, observa-se em termos de média que o escoamento superficial, predomina nos meses de maio, junho e julho. O mês de junho é o que apresenta a maior contribuição superficial, onde o hidrograma atinge o seu pico (27,9 m3/s). Após o mês de Julho o escoamento superficial começa a decrescer acentuadamente no mês de outubro, finalizando o escoamento superficial e originando o escoamento de base ou subterrâneo. 76 O estudo elaborado por Cunha (2001) visou obter a vazão de referência Q9011, como critério para análise dos pedidos de outorga de direito de uso dos recursos hídricos. Esta vazão de referência está associada aos períodos de estiagem tratando-se das menores vazões que ocorrem na secção fluviométrica para uma determinada probabilidade. As vazões com 90% de permanência no tempo obtidas nos postos existentes na Fazenda Tourão e Cachoeira do Itanhi exprimiram bem a realidade de disponibilidade hídrica na bacia do Rio Real. A estação Fazenda Tourão apresentou disponibilidade hídrica nula para uma garantia de 90% de permanência no tempo, enquanto que a estação Cachoeira do Itanhi, mais a jusante, apresentou Q90 de 1 m3/s, evidenciando o pequeno potencial de disponibilidade hídrica nesta seção. Observou-se que em menos de 5% do tempo a freqüência de vazões nos dois postos foram significativas. À medida que a freqüência relativa elevava-se os valores das vazões decresceram chegando a valores nulos para altas garantias. A estação Fazenda Tourão não permite captação d’água em sua seção para uma garantia de 90% do tempo, isto só será possível com uma freqüência de 85% do tempo onde o valor garantido de vazão for de 0,1 m3/s. Isso é danoso para o processo de outorga na bacia pois, diante de uma demanda crescente, é provável a ocorrência de conflitos relacionados ao aspecto quantitativo. Cunha (2001), ainda esclarece que pelo fato da bacia do Real apresentar uma rede hidrométrica com poucas estações e algumas destas possuírem uma pequena série histórica, não retratando necessariamente uma amostra representativa de muitos anos, torna-se importante a otimização das informações disponíveis; o que seria solucionado através de um estudo de regionalização de vazões. Esta técnica consiste em um conjunto de ferramentas que exploram ao máximo as informações existentes, visando à estimativa das variáveis hidrológicas em locais sem dados ou informações insuficientes. 11 Q90: vazão cuja freqüência de ocorrência se dá em valores iguais ou superiores a ela em 90% do tempo. 77 3.3.2. SUBTERRÂNEA No que concerne às águas subterrâneas, tendo como foco o município de Tobias Barreto, há registro no estudo elaborado pela CPRM (2002), da existência de três domínios hidrogeológicos, que a seguir descrevemos e identificamos as particularidades. (Figuras 12 e 13) O primeiro domínio repousa sobre o Cristalino e tem comportamento de “aqüífero fissural”, caracterizando a ocorrência de poços de baixo potencial hidrogeológico com produção de pequenas vazões e de água com elevado teor de sais dissolvidos12 . Embora pouco representativa em área no município de Tobias Barreto, não perde a importância, visto tratarem da alternativa possível para o abastecimento das pequenas comunidades nos períodos mais severos de estiagem. O segundo domínio encontra-se no Grupo Estância, correspondendo à 92% da área do município de Tobias Barreto. É constituído por rochas sedimentares levemente matamorfozeadas de intenso fraturamento e litificação acentuada com forte compactação, conferindo assim, ao aqüífero, não só o comportamento granular com porosidade primária baixa, mas também características fissurais. Essas características resultam em aqüífero de baixo e médio potencial hidrogeológico, o que significa em fator limitante do município devido a sua representatividade em área. O terceiro domínio assentado em bacias sedimentares é constituído de rochas diversificadas, caracterizadas como os mais importantes reservatórios de água subterrânea. O aqüífero é de alto potencial hidrogeológico dada a grande espessura de sedimentos e a alta permeabilidade de suas litologias, permitindo a explotação de significativas vazões. Propiciam a viabilização de abastecimento de comunidades assentadas e as existentes nas 12 Água salinizada decorre dos efeitos do clima semi-árido associado à composição mineralógica das rochas. 78 adjacências da região semi-árida, mas abrange apenas pequena porção do noroeste e este do município. Figura 12 – Domínios Hidrogeológicos do Estado de Sergipe Fonte: CPRM - 2002 79 Figura 13 – Mapa de Domínios Hidrogeológicos do município de Tobias Barreto Fonte: CPRM - 2002 O estudo da CPRM (2002) também apresenta levantamento referente aos poços ou pontos d’água existentes no município de Tobias Barreto, correspondendo a 73 pontos d’água, dentre eles, 1 de fonte natural e 72 poços tubulares profundos. Os poços tubulares, de acordo com a propriedade do terreno, classificam-se em público, 19 (26%) deles, e particular, os demais 53 (74%). Foi observado também que 13% dos poços tubulares são destinados ao abastecimento comunitário e para os 87% restantes, sequer há identificação da natureza do uso. 80 No que tange à finalidade de uso da água, 7% é para o uso doméstico primário, 3% para o uso doméstico secundário, 7% para o uso múltiplo, 1% para agricultura, e para os restantes 82% não há registro da finalidade. Há registro pela CPRM (2002) de que dentre os de natureza pública (19 poços), 10 poços ou 52% deles, encontram-se abandonados, 4 ou 21%, em operação, 3 ou16%, não estão instalados e 2 ou 11% paralisados. Quanto aos de natureza particular (os 53 restantes) 33 ou 62% deles estão abandonados, 3 ou 6% em operação, 15 (28%) não estão instalados e 2 (4%) estão paralisados. Considerando os poços em operação e os passíveis de entrar em funcionamento, os paralisados e não instalados, observa-se que dentre os poços particulares, 3 estão em efetiva operação e 17 são passíveis de recuperação e aproveitamento, e no que se refere aos de natureza pública, 4 estão sendo utilizados e 4 estão paralisados ou não instalados. Pelo exposto constata-se que dentre os poços públicos, 4 ou 21% estão em operação, 10 ou 52% definitivamente paralisados e 5 ou 27% passíveis de recuperação. Já para os particulares essa relação é de 3 ou 6% estão em operação,33 ou 62% definitivamente paralisados e 17 ou 32% passíveis de funcionamento. As informações revelam a situação precária visto os investimentos realizados para perfuração dos poços não terem oferecido o retorno esperado em termos de atendimento à população e otimização operacional dos sistemas. Observa-se que tanto dentre os poços localizados em área pública (19 poços) como os de área particular (53 poços) predomina o abandono das instalações (43 poços) e o comprometimento daqueles que necessitam de ajustes na manutenção ou no sistema de distribuição (22 poços). Os 7 poços restantes não atendem a necessidade local e identificam a inexistência de estudos anteriores de viabilidade de alternativa. 81 A CPRM (2002) também faz menção aos aspectos qualitativos obedecendo à classificação das águas13 quanto à presença de sólidos totais dissolvidos nos poços em operação, e nos considerados paralisados e não instalados. As análises foram realizadas nos poços que ofereceram condições de coleta de amostras da água, sendo destacado que os poços em operação apresentam total predominância de águas salgadas (6 poços) e dentre os paralisados e não instalados são 10 poços com água salgada e 4 com água salobra. Não há registro de poços, no qual tenha sido possível fazer a coleta, que possua água doce. No que tange ao levantamento quantitativo de produção dos poços avaliados, o estudo da CPRM (2002) não se deteve na apuração observando que não possui valores de referência das vazões das formações geológicas, que há imprecisão das informações coletadas junto aos usuários, bem como carência de perfil geológico dos poços perfurados. A necessidade premente de solução às questões de escassez explica em parte, as iniciativas sem estudo prévio de viabilidade das alternativas de solução e análises mais detalhadas quanto à qualidade e quantidade. No entanto, é pouco consistente para que se justifique a disponibilidade de recursos financeiros, visto não atenderem ao seu objetivo primeiro, o de efetivo atendimento à comunidade. Contudo, tendo já havido o investimento e a possibilidade de minimizar a escassez há de se considerar as medidas de correção e de recuperação necessárias, que neste caso corresponderia a estudos de melhoria nos poços existentes e em operação, de viabilidade econômica na dessalinização para o abastecimento e dessedentação dos animais, de estudos alternativos para irrigação em virtude da salinização do recurso e ainda, estudos para a autogestão dos poços (manutenção pela própria comunidade). Todas essas medidas sugerem melhor aproveitamento dos investimentos já feitos para a promoção de sustentabilidade local. 13 Classificação qualitativa quanto à presença de sólidos totais dissolvidos (STD): 0 a 500mg/l............água doce; 501 a 1.500mg/l ....água salobra e >1501mg/l ............água salgada 82 3.4 DA DEMANDA A abordagem de demanda futura se dá pela exposição das condições de expansão não só da população, mas dos demais itens que geram consumo como a pecuária, irrigação e indústria para em seguida se projetar o consumo. Segundo Cunha (2001), nos é possível observar que a população no ano de 2000, estimada em 92.276 hab., sendo 55.790 hab na área urbana e 36.486hab na área rural, é projetada, por métodos matemáticos, para os anos de 2005 a 2025 para valores crescentes, conforme exposto na tabela a seguir. TABELA 3 - Cenário Prospectivo de população (hab) da bacia do Rio Real (2005/2025) TOTAIS (T1) (T2) 2005 2010 2015 2020 2025 Urbano Rural Urbano Rural Urbano Rural Urbano Rural Urbano Rural 63.893 44.332 73.200 47.023 83.821 50.043 96.178 53.436 110.303 57.257 62.482 43.991 69.175 46.054 75.867 48.118 82.560 56.738 89.252 52.245 Fonte: Cunha, 2001 – Estudos de Demanda Hídrica na Bacia Hidrográfica do Rio Real Obs.: (T1) Projeção Geométrica14, não recomendada para estimativas superiores a 30anos; (T2) Projeção Aritmética15, não recomendada para estimativas superiores a 20 anos. À expansão da população consideram-se também as majorações surgidas nas atividades econômicas, preferencialmente dentro da mesma estimativa temporal para as projeções. No tocante aos rebanhos, o cenário atual16 já foi apresentado. Cunha (2001) elaborou o cenário de valores estimativos projetados para períodos futuros (anos de 2005, 2010, 2015, 2002 e 2025), observando que as condições climáticas, os incentivos empregados, mercado de consumo e competitividade com outros fornecedores interferem, consideravelmente, nos resultados previstos. 14 Projeção Geométrica: crescimento exponencial, considerada sobre população pequena em relação aos recursos regionais, não surte valores consistentes em previsões superiores a 20 anos.(Cunha, 2001). 15 Projeção Aritmética: crescimento linear em virtude de uma relação menos favorável entre os recursos econômicos e a população. Este método não é recomendado para projeções superiores a 30 anos.(Cunha, 2001). 16 Cenário Atual dos Rebanhos: bovinos (72.201 und), suínos (5.486 und.), eqüino (6.299 und.), asinino (1.254 und.), muares (1.319 und.),ovinos (17.984 und.), caprinos (1.165 und.) e aves (91.500 und.). 83 TABELA 4 - Cenário Prospectivo da população dos rebanhos da bacia do Rio Real (2005/2025) Projeção Bovinos Suínos Eqüinos Asininos Muares Ovinos Caprinos Aves 2005 68.872 5.151 5.842 1.161 1.285 15.305 904 104.265 2010 100.796 7.539 8.549 1.698 1.881 22.400 1.323 152.594 2015 125.010 9.350 10.603 2.106 2.333 27.781 1.640 189.252 2020 155.041 11.597 13.150 2.612 2.893 34.455 2.034 234.716 2025 192.287 14.383 16.310 3.240 3.588 42.732 2.523 291.102 Fonte: Cunha, 2001 – Estudos de Demanda Hídrica na Bacia Hidrográfica do Rio Real É interessante observar que os valores atribuídos para o ano de 2005 foram embasados em crescimento mais lento, taxa geométrica de 1%, tendo em vista o déficit em virtude da seca em 1993 e ainda estar havendo a recuperação dos rebanhos. Para os demais períodos considerados foi estabelecido taxa equivalente de 4,4% ao ano, valor da taxa de crescimento anterior ao período de seca de 1993. No que se refere à expansão da irrigação, Cunha op. cit, faz uso das informações constantes no estudo elaborado pela JICA (1998/2000) que tratou de áreas potencialmente irrigáveis, considerando os aspectos de solo, clima, qualidade da água e possibilidade de desenvolvimento dos recursos hídricos. Baseado nestas considerações ele concluiu que a bacia do Rio Real não contempla os aspectos que justifiquem a adoção de projetos de irrigação, pois “não é uma área potencialmente irrigável”. Para a expansão industrial, Cunha op.cit, atribui o percentual de 5% ao ano para fins de projeção de crescimento para a mesma série de anos entre 2005 e 2025. Para as demandas de consumo de água na bacia do Rio Real foram consideradas as expansões de crescimento, já apresentadas anteriormente, associados ao entendimento que deverão ser preservados as condições socioeconômicas e tecnológicas do futuro, chamada de demanda do segmento tendencial, e o consumo decorrente das necessidades inerentes às mudanças de hábitos e costumes, chamados no estudo de demanda do segmento desejável. 84 A estimativa de demanda foi calculada pela multiplicação da quantidade de cada fator de demanda17 destacado pelo respectivo coeficiente de demanda18. Cunha (op. Cit), esclarece que os coeficientes de demanda19 adotados são os praticados pela DESO para áreas rurais e urbanas que possuem abastecimento. Nas áreas onde não ocorre abastecimento foram usados coeficientes definidos pelo PLIRHINE (Plano de Aproveitamento Integrado dos Recursos Hídricos do Nordeste). A seguir, apresentamos tabela de demanda atribuída à população humana, residente na área da bacia, para os próximos anos, projeção chamada de cenário prospectivo. Ressaltamos que para o ano de 2000 os valores consistiam em 8.368.500l/dia e 5.472.900l/dia, para as áreas urbana e rural, respectivamente, perfazendo o total da demanda em torno de 13.841.400l/dia. TABELA 5 - Demanda de água para abastecimento humano na bacia do Rio Real – SE em m3 / dia (2005 a 2025) Demanda 2005 2010 2015 2020 2025 Urbana 9.372 10.376 11.380 12.384 13.388 Rural 6.599 6.908 7.218 8.511 7.864 Total(1) 15.971 17.284 18.598 20.895 21.252 Urbana 9.584 10.980 12.584 14.427 16.545 Rural 6.650 7.053 7.506 8.015 8.589 Total(2) 16.234 18.033 20.090 22.442 25.134 Fonte: Cunha (2001). Total (1): baseado no método da projeção aritmética. Total (2): baseado no método da projeção geométrica. 17 Fator de demanda: representa os elementos, tais como:habitantes, efetivos de rebanho, hectares irrigados, etc. Coeficiente de demanda: correspondem aos gastos de água dos diversos usuários. Cada categoria de usuário tem seu respectivo coeficiente. 19 Coeficientes adotados pelo DESO: 150l/hab.dia, para locais com população superior a 2500hab., 120l/hab.dia, para locais com população inferior a 2500hab.O coeficiente PLIRHINE, atribui 70 L/hab.dia para as comunidades que não têm abastecimento por sistema encanado. 18 85 No que se refere à demanda de consumo animal, são considerados os coeficientes de demanda, unidade BEDA20, identificados pelo PLIRHINE de 50, 40, 10,8 e 0,2l/cabeça por dia para bovinos, eqüinos (asininos e muares), suínos, caprinos (ovinos) e aves, respectivamente. Coeficientes de demanda(l/cabeça) Diário Anual Bovinos 50 18.250 Eqüinos, Asininos e Muares 40 14.600 Suínos 10 3.650 Caprinos e ovinos 8 2.920 Aves 0,2 73 QUADRO 1 - Coeficientes de Demanda de Água para Abastecimento Animal Fonte: Cunha (2001) Animais TABELA 6 – Demanda de água para dessendentação de animais na bacia hidrográfica do Rio Real Cenário atual (2000) e Prospectivos (2005 a 2025) 2000 2005 2010 2015 2020 2025 Bovino (l/dia) Suíno (l/dia) 3.610.050 3.443.604 5.039.777 6.250.487 7.752.046 9.614.325 54.860 51.514 75.392 93.504 115.966 143.825 Eqüino, Asininos, Muares (l/dia) 283.904 331.490 485.142 601.688 746.232 925.500 Ovinos Caprinos (l/dia) Aves (l/dia) Total (l/dia) 24.511 129.673 189.779 235.369 291.912 362.039 18.300 20.853 30.519 37.850 46.943 58.220 3.973.398 3.977.135 5.820.609 7.218.898 8.953.099 11.103.909 Fonte: Cunha (2001). A demanda para irrigação contempla, no cenário atual, o já existente Projeto Jabiberi, cuja vazão corresponde a 1620m3/h, para atender uma área de irrigação de 250ha. No cenário prospectivo, SEPLANTEC / JICA (1998/2000), não se prevê ampliação para irrigação, permanecendo assim a demanda já existente. A demanda industrial obedece aos cálculos resultantes da multiplicação dos fatores de demanda pelos coeficientes de consumo por atividade para abastecimento industrial, conforme apresentado no quadro 2. 20 Unidade BEDA (Bovinos Equivalentes para Demanda de Água), estabelecido pelo PLIRHINE, consiste de unidade hipotética que considera que cada espécie utiliza água em relação ao bovino, que é de 50l/cab/dia. 86 Descrição Transformações de produtos minerais não metálicos Material elétrico e de comunicação Madeira Couros e peles, calçados e artigos de vestiário Têxtil Produtos alimentares Editorial gráfica Transformações de produtos minerais metálicos Indústria e serviços de construção m3/operário/dia 0,30 0,20 0,20 2,80 2,50 5,00 0,30 1,40 0,20 QUADRO 2 - Coeficientes de demanda para abastecimento industrial Fonte: Cunha (2001). Baseados nas informações dos coeficientes foi possível elaborar a tabela a seguir referente à demanda industrial. TABELA 7 – Demanda de água para a indústria na bacia hidrográfica do Rio Real (l/dia) Cenário atual (2000) e Prospectivos (2005 a 2025) 2000 2005 2010 2015 2020 2025 Madeira Couro Têxtil Aparelhos 1.800 2.297 2.932 3.742 4.776 6.095 33.600 42.883 54.731 69.852 89.151 113.782 22.500 28.716 36.650 46.776 59.699 76.193 8.400 10.721 13.683 17.463 22.288 28.445 Produtos Alimentares 775.000 989.118 1.262.393 1.611.169 2.056.306 2.624.425 Não metal 6.600 8.423 10.751 13.721 17.512 22.350 Metal Construção Total 12.600 16.081 20.524 26.194 33.432 42.668 6.400 8.168 10.425 13.305 16.981 21.673 866.900 1.106.408 1.412.089 1.802.223 2.300.144 2.935.631 Fonte: Cunha (2001). Observa-se que foi considerado crescimento de 5% ao ano, relativo ao cenário atual, para fins de cálculo da demanda de consumo prospectivo na indústria. Há de destacar que o planejamento de ações deve contemplar medidas de resultado imediato e à longo prazo, para que se minimize os efeitos da falta de precisão no sistema de controle e que se contemple a demanda estimada para o futuro imediato, que é de pelo menos 23m3/dia para o ano de 2005 e, ainda, para o ano de 2025, para o qual se estima demanda na ordem de 41m3/dia. Observa-se, ainda que a disponibilidade de vazão atual consiste em 13,18m3/s no posto de Itanhi, lado baiano da bacia hidrográfica, e, pelo lado sergipano, nos postos da Fazenda Tourão e a Cachoeira do Itanhi, corresponde a vazão nula e 1m3/s, respectivamente, para uma garantia de 90% de permanência no tempo (Q90), (CUNHA, 2001 e SRH/BA, 2003). 87 ANOITECER de Aderbal C. Barbosa Tomba a tarde, macia e suavemente, Nuvens de ouro lá nas bandas do Ocidente Anunciam estar perto o fim do dia. Os tímidos e sonoros passarinhos Calados vão para os seus pequenos ninhos E o camponês reza a sua Ave-Maria. O gado, vagaroso, vai p'ro curral, Na tarde que cai tristonha e supulcral, Quando a Natureza, serena, adormece. A brisa sacode de leve e arvoredo, Em tudo silêncio... saudade ... segredo ... No alto a lua pálida surge ... Anoitecer. 88 4. TOBIAS BARRETO – ESPAÇO DE GESTÃO Este capítulo descreve o lócus da pesquisa através das informações sobre a população residente e dos indicadores demográficos, dos dados da história local e de depoimentos de entrevistados sobre Rio Real, relevando seus compromissos com a preservação das condições ambientais. 4.1. SUA GENTE... No que se refere aos aspectos demográficos, segundo os dados do IBGE (2000) é possível constatar que de 1991 a 2000 a população residente sofreu uma taxa de crescimento anual na ordem de 1,55 % (de 37.577 para 43.172hab) sendo que o crescimento urbano (de 21.882 para 27.500 hab) destaca-se com relação ao rural (de 15.695 para 15.672hab), resultando na densidade demográfica de 40,70 hab/km2. Observa-se ainda majoração de 25,7% da população urbana e decréscimo de 0,1% na rural, quando considerada a relação entre os anos de 1991 e 2000. TABELA 08 - Tobias Barreto - População residente (hab) - 1991-2000 Situação Total Urbana Rural 1991 37.577 21.882 15.695 1996 40.740 25.165 15.575 2000 43.172 27.500 15.672 Fonte: IBGE - 2000 A predominância na população, em 2000, é do sexo feminino 21.981hab (50,96%) sobre o masculino, que é de 21.140 hab (49,04%). Na distribuição por faixa etária, os percentuais mais significativos encontram-se entre 10 a19 anos (22,9%), 20 a 29 anos 89 (16,6%), 30 a 39 anos (13,1%), 5 a 9 anos (11,5%) e 0 a 4 anos (10,7%), que perfazem, aproximadamente, 75% da população total. Para análise da situação da educação local levou-se em consideração a população com mais de 7 (sete) anos. Segundo o IBGE (1991), Tobias Barreto contava com 30.590hab, com idade superior a 7 anos, sendo 18.036 residentes em área urbana e 12.554hab em área rural. Desse total de 30.590hab, apenas 15.419hab eram alfabetizados, sendo 11.404hab na área urbana e 4.015 na rural. Esses dados retratam que o maior déficit de educação, àquela época, encontrava-se na zona rural. No nordeste de modo geral, a ausência de crianças e adolescentes na escola deve-se primordialmente, pela necessidade delas ajudarem a família no plantio e colheita, gerando assim, taxas elevadas de evasão. Em Tobias Barreto, a taxa de evasão para o 1º grau é de 40%, (PREFEITURA DE TOBIAS BARRETO, 2001). O Conselho Tutelar de Tobias Barreto, em pesquisa para fins de plano administrativo, no ano de 2001, registrou indicadores anuais de uma sociedade “doente“, com os mesmos males dos grandes centros urbanos, destacando a população de crianças e adolescentes que corresponde a 20.908hab ou 47,71% do total. As estatísticas do órgão registraram 53 em situação de mendicância, 14 submetidas a maus tratos, 81 no exercício de trabalhos infantis e 131 em situação de risco. E, apenas dentre o grupo de adolescentes, que perfaziam 10.380hab ou 23,68% registraram 48 usuários de drogas, 78 explorados sexualmente, 13 gestantes precoces, 24 abusadas sexualmente e 240 encontravam-se envolvidas em ato de infração. De forma geral, mas contundente, estimou que uma população de mais de 15.000 crianças e adolescentes encontrava-se sem registro civil no município, dentre elas, mais de 13.000 com idade superior a 6 anos, (PREFEITURA MUNICIPAL DE TOBIAS BARRETO, op. cit). Estes indicadores denunciaram uma sociedade carente de cuidados e recursos para resgate da cidadania e tornaram-se princípios norteadores do Plano Plurianual de Assistência 90 Social, do qual são destacáveis os definidos para redução das desigualdades sociais, respeito à dignidade humana, respeito à igualdade de direito e o respeito à família. Considerada a complexidade dos objetivos há de se pensar na articulação dentro do poder municipal, de modo que a participação de todos que o compõe, gere uma alternativa administrativa coesa, extensiva a todos os munícipes e pouco flexível às nuances de mudanças na alteração de gestores. Há de se saber das causas e se prever que as medidas implantadas terão que ter o poder de resgate de males de uma longa história. Durante o período de realização da pesquisa de campo constatamos a presença freqüente de crianças e adolescentes nas ruas e bares até tarde da noite, principalmente nas noites de domingo para segunda quando ocorre a Feira da Coruja, tradicional evento para comércio dos produtos de confecção. Questionou-se aos entrevistados, de modo informal, das razões que levariam a tal comportamento social, de modo genérico justificaram por se tratar Tobias Barreto ser região fronteiriça com o Estado da Bahia, de intenso trânsito de caminhoneiros e mercadores, também associam às perdas na economia local e relevam as dificuldades de oportunidades formais. Não se percebeu discrição com a problemática. Observou-se que a situação, em parte se justifica, visto os dados estatísticos locais revelarem que, 15,3% da população não possuem rendimentos e 53,5% perceberem no máximo o valor correspondente a um salário mínimo (R$ 200,00). A situação de carência seria a principal agravante para aquelas crianças e adolescentes, tendo em vista suas dificuldades naturais, por serem originários da zona rural, não terem fácil acesso à instrução e às opções de trabalho. Tornam-se excluídos socialmente, em muitos casos, optam por trilhar os caminhos da prostituição, ou pior, se submetem à exploração sexual, no objetivo de manter-se e, às vezes, manter toda a família. 91 4.1.1. SUA HISTÓRIA... As políticas administrativas tornam-se inócuas ou inexeqüíveis, se não houver, além do desejo do poder público, o comprometimento da sociedade. Martins Júnior (1996) entende que a visão contemporânea do espaço urbano consiste no conhecimento da história evolutiva da cultura humana, que é a história da relação homem – natureza. Conforme os registros de datas e fatos históricos de Barbosa (1976) a freguesia foi instituída em 20 de outubro de 1718, sob a invocação de Nossa Senhora de Imperatriz, em virtude de ter sido encontrada, na mata, uma imagem de Nossa Senhora. Neste lugar foi construída uma igreja que hoje é a matriz do município. O crescimento do lugar deu-se em redor da igreja local, passando a se chamar Passagem da Igreja Nossa Senhora dos Campos do Rio Tararipé21, rio que hoje denominamos Rio Real. Posteriormente passou a se chamar Campos; em 1835 foi elevada por Decreto Provincial à categoria de vila e se chamar Nossa Senhora dos Campos do Rio Real; em 1909 obteve foro de cidade, entre 1911 e1923 foi constituído um só distrito – o de Campos; em 1935 foi elevada à categoria de Vila e em 1944 passou a se chamar Tobias Barreto em homenagem ao seu filho mais ilustre. Nos anos de 1953 e 1957, o município de Tobias Barreto, teve seu território reduzido, deixando de estar sob sua jurisdição os distritos de Poço Verde e Riachão do Dantas, respectivamente. Freire (1896), ao retratar o município de Tobias Barreto, ainda sob nome de Vila de Nossa Senhora dos Campos do Rio Real, diz que a “lavoura limita-se à cultura da mandioca e cereais para o consumo local. A indústria consiste na criação de gados que dão para exportar. 21 Tararipé ou Tarapé, no tupi significa formiga, cuja cabeça achatada era usada pelos índios em suas flechas, afim de não errarem o alvo, sinônimo: corupé, (FERREIRA, 1975). 92 A vila [...] está situada em uma planície bastante vasta e pitoresca. É pequena, sem movimento e está em decadência”. Àquela época o município de Tobias Barreto era conhecido como “região curral” pois tanto os fazendeiros de Sergipe como de regiões próximas da Bahia, localizavam ali seus criatórios de gado de corte, mas com a incidência de severas secas que acarretavam rebanhos dizimados e empobrecimento dos fazendeiros. Aos que resistiram às dificuldades restou a confecção de artefatos em couro e a instituição de unidades fabris de curtume, esta última, existindo até hoje mesmo sem destaque, mas com geração de empregos e renda. O surgimento da confecção de bordados manuais foi concomitante à perda de representatividade da atividade pecuária e do artesanato em couro. Em meados do século XX a confecção de Tobias Barreto já era conhecida e comercializada regionalmente. No entanto, apogeu e decadência ocorreram em curto espaço de tempo. Segundo depoimentos informais dos citadinos, o comércio intenso de confecções que há algum tempo justificou alguns negociantes instalarem lojas em Aracaju e em outras cidades do nordeste, tornando-os prósperos, hoje, se apresenta com menor intensidade e com pouca geração de renda, em virtude da perda da hegemonia para outros centros. Atualmente os munícipes se queixam da perda de oportunidades de negócios e de dificuldades de manter seus estabelecimentos em virtude da política econômica estadual e dos estímulos fiscais especiais do governo baiano aos seus municípios para fins de desenvolvimento. 4.2. O RIO REAL: VIVIDO E CONCEBIDO Freire (1896) justifica historicamente a denominação, de Real, atribuindo ao fato da esquadra real ter percorrido seu leito. Acrescenta ainda, que seu nome original era indígena, 93 Itanhy (Itanhi, Hitanhi, Itaen), com nascente em um tanque de nome São Francisco correndo na direção de oeste para leste. Ao longo dos primeiros 180 km, o rio corre sobre terreno acidentado, cujas cachoeiras impedem a navegação. Ele é navegável somente a 54km do mar, onde corre com “maior regularidade em seu álveo largo, profundo e arenoso leito”, (FREIRE,1896). O deságüe se dá no Oceano Atlântico, na divisa dos estados de Sergipe e Bahia. O Rio Real representa, na região, importância histórica, pois serviu, no período dos desbravamentos coloniais, de diminuição do avanço das missões baianas, preservando assim a extensão geográfica hoje existente do Estado de Sergipe. Possui sua nascente no sertão baiano na serra do Tubarão, no município de Cícero Dantas, correndo, consecutivamente, nas direções norte/sul, noroeste/sudeste e oeste/leste, quase sempre sobre rochas cristalinas, vindo desaguar no Oceano Atlântico entre os povoados de Pontal (SE) e Mangue Seco (BA). Em Sergipe, banha as sedes municipais de Indiaroba, Tobias Barreto (possui 98,2km de extensão neste município) e Poço Verde, este último, primeiro município sergipano que é banhado por suas águas. Chega ao estuário, juntamente com o rio Piauí, formando um complexo estuarino com extensa planície coberta por manguezais e restingas. Ao longo de seu curso apresenta perfil longitudinal com declividade média em torno de 4,17m/km. (Figura 14) 94 Figura 14 - Traçado do Rio Real - fronteira Bahia/ Sergipe Fonte:CEI/BA 1994 Bezerra (1952) relata com propriedade os conflitos de demarcação dos limites políticogeográfico do Estado de Sergipe com a Bahia, referindo a um precursor de Rio Branco nas questões de fronteiras, que na descrição das capitanias portuguesas, descreve Sergipe, como oitava Capitania ou Província, dando-lhe como extensão territorial a área compreendida entre “a uma e outra parte das campanhas por onde passam os rios São Francisco e Real”. Fonseca (1963) descreve as circunstâncias de colonização observando que apesar das terras de Sergipe terem sido conquistadas pelas armas com liquidação das forças inimigas que aí se tinham fortificado, os franceses permaneceram interessados pelas terras e por suas riquezas. Empreenderam nova luta, tendo sido batidos pelo sucessor de Cristóvão de Barros, Tomé da Rocha, em 1593 e por Diogo de Quadros, em 1596, nas águas do Rio Real. 95 O Rio Real corta o Estado de Sergipe no sentido geral oeste-leste. Esta configuração perpendicular ao mar justifica a ocorrência de 03 (três) regiões climáticas distintas,(CUNHA, 2001). A região Subúmida tem uma área de 395,21 km2 e representa 15,45% da bacia hidrográfica, lado sergipano. Apresenta temperaturas variando de 19ºC a 32ºC, evapotranspiração anual de 1300mm e pluviometria média anual de 1500mm. Nesta região estão inseridos os municípios de Cristinápolis, Indiaroba, e Tomar do Geru. A região do Agreste tem área de 512,62 km2 que representa 20,04 % da bacia hidrográfica no lado sergipano. Possui temperatura variando entre 18 ºC (na mínima) e 32 ºC (na máxima), evapotranspiração anual de 1200 mm e pluviometria média anual de 900mm. Esta região abrange os municípios de Tobias Barreto e o noroeste de Tomar de Geru. E, finalmente, a região Semi-árida, com área de 1650,17 km2 que representa 64,51 % da bacia hidrográfica no lado sergipano, com temperatura variando entre 16 ºC (mínima) e 36 ºC (máxima), com registro de evapotranspiração anual de 1200 mm e pluviometria média anual de 750mm. Nesta região estão incluídos os municípios Poço Verde e noroeste de Tobias Barreto. As publicações antigas não revelam e nem identificam áreas de assoreamento do Rio Real, ressaltam sempre as condições rochosas do percurso, a abundância em determinados trechos, bem como a inavegabilidade de outros. No entanto, segundo Padre Melo, entrevistado desta pesquisa, a degradação do Rio Real já era fato num passado mais recente, pois há mais de 40 (quarenta) anos foi objeto de preocupação e necessários investimentos para sua recuperação. Na década de 1960, sob a presidência de Jânio Quadros, em reunião de governadores do nordeste na Paraíba, conta ele que o tema principal já era o desenvolvimento sustentável do Nordeste, “medidas que fizessem frente à seca”. 96 Dentre as muitas soluções propostas, destacou-se a de perenização dos rios do semiárido com uso de barragens sucessivas. A idéia acolhida pelos administradores da época foi transferida para execução do DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), determinando a realização dos estudos necessários e pertinentes aos investimentos. Aproveitando a oportunidade e a proximidade com os dirigentes do momento, Padre Melo, já ordenado, sugeriu a perenização22 do Rio Real, observando, naquele momento, ser o mais adequado para os trabalhos, tendo em vista que o rio, em sua margem direita, “lado da Bahia, corre ao pé da serra e do lado de cá, do lado de Sergipe ele corre sobre a várzea, num tabuleiro imenso[...] o solo é todo de massapê e pedra” e, embasado nisso, seu entendimento era de que a opção de barragens promoveria a retenção do fluxo e possibilitaria a perenização e a ampliação de usos tais como irrigação. As idéias de perenização com a execução de barragens foram retomadas recentemente por político da região. Segundo o conhecimento do Pe. Melo, no entanto, frustrou-se o processo por ter sido identificada como obra superfaturada. Expectador das grandes enchentes do Rio Real, Pe. Melo foi enfático ao tratar do envolvimento da população tobiense com o rio: “não acredito mais no rio, ele já foi navegável, ele já foi perene, as margens dele foram povoadas, era rio que tem história, em Sergipe e na Bahia. O povo perdeu amor porque o rio morreu”. Tratar do envolvimento da população nas questões ambientais é mergulhar na percepção das atitudes e nos valores locais. Como bem, identifica Yi-fu Tuan (1980), “é a compreensão de nós mesmos”, no caso específico, é compreender o tobiense e sua realidade através de seu cotidiano. Analisada sob a perspectiva da gestão e, mais especificamente da gestão dos recursos hídricos, o não entendimento desta prerrogativa decorre em soluções de caráter paliativo dos 22 A idéia de perenização se daria pela construção de barragens sucessivas, sendo duas no município de Poço Verde e duas no município de Tobias Barreto. O projeto foi retomado recentemente pela prefeitura de Poço Verde, mas não logrando êxito. 97 problemas ambientais. Há de se avaliar e aprofundar no pensamento de que a participação das pessoas e da identidade coletiva é que formam as soluções definitivas, pois os atores sociais são os verdadeiros promotores das melhorias, por eles passam as efetivas soluções. Falar de percepção demanda especial cuidado aos olhos de Yi-fu Tuan (1980), pois apesar de todos possuirmos os mesmos órgãos sensoriais por sermos da mesma espécie, não nos condicionamos a uma mesma visão, nem quando em grupo. Nossa percepção diferenciase da dos outros, é individual, é particular, assim como nossos resultados de avaliação. O melhor exercício da percepção e compreensão do mundo, segundo Yi-fu Tuan (1980), se dá pelo entendimento da atuação dos cinco sentidos, pelas diferenças relevantes das espécies, pelo amadurecimento sensitivo e pela necessidade de suas inter-relações, inclusive com os outros conhecimentos de cada pessoa, assim se conclui o pensamento da particularidade das avaliações. A importância do Rio Real no passado é também destacada pelos entrevistados, principalmente sob o viés do pensamento econômico: “o Rio Real naquele tempo era fonte de trabalho dos curtumes, por que era cheio de curtumes, fábricas de sapatos, para exportar para Itabuna (BA), para Ilhéus (BA), pro sul da Bahia e por aqui a produção era couro, criava-se muitas cabras e muitas ovelhas e gado”. (José Francisco Menezes)23 A visão do presente foca uma situação de degradação que se acentuou às margens do rio e na região onde há fazendas de porte e àquelas de plantações de subsistência. Verbalizou o senhor J. Alves24: “existem pessoas que têm 1000 tarefas de terras às margens do Rio real e não se preocupa em preservar duas rocinhas, replantando o que eles cortaram[...]essas terras estão desocupadas, desmata pelo prazer de desmatar, tirar a madeira, de ver a terra limpa e o rio se acabando”[...]. 23 24 José Francisco Menezes, historiador, residente da sede do município. J. Alves, radialista, diretor da Rádio Clube, residente da sede do município. 98 Acrescentando ainda, J. Alves, que é testemunhado pelos munícipes a pouca consideração aos interesses comuns da comunidade e o desconhecimento e descumprimento à legislação no que diz respeito aos recursos naturais no tocante ao uso e para benefício de todos. É comum ocorrer a contenção de fluxo de manancial, para fins de irrigação, em benefício exclusivo de alguns proprietários de fazenda mais abastados, como expõe J.Alves:“outra coisa, as barragens desvia para o seu terreno uma água que é de todos”. Questionando sobre a afinidade dos munícipes com o Rio Real, dada sua importância histórica e geográfica, o senhor J. Alves, descortinando a possível causa da falta de zelo e cuidados com o manancial, fez a seguinte assertiva sobre o sentimento presente com o rio: “eu não diria que eles (munícipes) não gostam, eu diria que eles odeiam, é diferente”. Avaliando as colocações dos entrevistados e de suas referências e afinidades com o Rio Real observa-se que a importância histórica ou geográfica não é significativa para todos os munícipes, apenas para os residentes mais idosos, que testemunharam os anos áureos. O sentimento de apreço e respeito é próprio daqueles que “sabem” do Rio Real. E, finalmente, os que guardam em sua memória tempos idos e que nutrem sentimento de carinho e respeito, trazem a inquietude de fazer qualquer coisa para resgatar o seu vigor e sua efetiva participação no cotidiano dos munícipes. Pensando dessa maneira se torna compreensível a afirmação de J. Alves sobre o “ódio” da população ao Rio Real, é demonstrada pelo descaso e negligência com as questões de preservação ambiental, em destaque, o Rio Real, o desgostar, gerado pelo desconhecer dos valores da natureza, valores esses, que se “perderam” na memória de alguns. O Rio Real traz na sua própria história o contraponto entre o “concebido” e o “vivido”. Lembrado que antigamente, foi caudaloso em toda sua extensão, “invasor” de cidades nas enchentes (Figura 15), quase sempre mantinha água sobre seu leito, tinha suas margens 99 preservadas, foi “alimento” dos que pouco tinham. Hoje, é esquecido. O fio d’água que corre denuncia o abandono, a inutilidade como provedor, traz a ameaça de sua insustentabilidade. Figura 15 – Foto de Tobias Barreto – sede do município - enchente do Rio Real em 1969 Fonte: acervo do senhor Aderbal 4.2.1. O RIO ESQUECIDO NO PASSADO DE CADA UM DE NÓS... A imagem do rio real com leito de fluxo contínuo de água está congelada na memória dos moradores mais antigos, retratando o saudosismo. A população de Tobias Barreto lembra sabe de quê?’Eu lembro quando era pequeno eu mergulhava aqui nesse ponto, tomava banho’, mas eles não fazem essas recordações virarem realidade hoje.’Eu quero meus filhos mergulhando nos mesmos lugares onde eu mergulhava’, não fazem nada para isso acontecer.( J. Alves) Até mesmo nos períodos de estiagem o Rio Real sobressaia na certeza que as chuvas devolveriam e devolveram, até a poucos anos, o fluxo d’ água para o abastecimento, para banhos e brincadeiras desses que hoje relacionam-no com suas infâncias. No tempo que havia estiagem, as pessoas vinham pegar água num lugar chamado ‘olhos d’ água’, no próprio Rio Real, existe vários locais onde as pessoas descobriram pequenos minadouros, que eles cavavam e daí chamado olho d’água.[...]essas águas abasteciam quase toda a região.”([...}“assim, na década de 60 eu era menina quando aquele rio era muito bonito. [...], então naquele lugar que antigamente era assim, hoje é absolutamente seco. ( M. Vital de Macedo) 100 A situação se inverte no presente com a constatação de que o passado está apenas na memória: Veja bem, o Rio Real antigamente a gente via como um dos grandes rios da nossa região, mas hoje infelizmente, por causa do pensamento diferente dos humanos, hoje tem setores aí que já se transformou em riacho [...] antigamente eles dependiam dele (referindo-se ao Rio Real), o pessoal da região pescava, tinha bastante peixe, era um rio que tinha muito peixe e hoje você não encontra mais[..] (Luizete de Souza) E ainda, a expressão de tristeza de que a infância passou como passou o rio: Sentimento de tristeza porque o Rio Real que eu conheci quando criança, ele enchia, extravasada, servia de distração pra nós. Muitos tomamos banho em suas águas amarrados pela barriga para a correnteza não levar e quando eu cheguei (após 1985) encontrei um esgoto)[...] o rio mesmo quando secava mantinha determinados poços: poço grande, poço pequeno, poço das mulheres e quando eu voltei não encontrei nada disso[...] encontrei um rio entulhado, que não enche mais, as águas do riacho nem chegam mais a ele, então deixou de ser um rio para ser apenas um esgoto[...] a gente que viu o Rio Real vibrante, forte, é uma tristeza muito grande.(Antonio Oliveira) Acrescenta ainda, o senhor Francisco Menezes: “era ensombrado (o Rio Real), as margens eram coberta de madeira de beira de rio, era pendurada samambaia, a água era limpa naquele tempo...” Tratar do Rio Real e do seu significado junto à população é constatar que aos mais novos não possui nenhuma representatividade histórica ou de sensações, porém aos mais idosos, àqueles que viveram sua infância na grandeza de seu curso, é resgatar a alegria, o compromisso com o futuro, a tranqüilidade do não questionar onde seria perdido o zelo pelo que deveria ser de seus filhos, netos. Há a saudade, mas não houve a vontade de permanência, nem iniciativas para que se tornasse ainda hoje parte da história. Retrata-se o saudosismo impotente. 4.3. A ÁGUA NOSSA DE CADA DIA... O município de Tobias Barreto há mais de 20 anos tinha seu abastecimento proveniente do Rio Jabiberi, mas a exaustão do manancial associada a demanda, à sua não 101 preservação ambiental e a não perenidade do Rio Real tornou necessário o abastecimento originário de poços perfurados em município do Estado vizinho. Observa-se a insensibilidade dos munícipes quanto ao privilégio de possuir mananciais em suas terras e falta de interesse de mantê-los plenos, ao mesmo tempo, os usuários sem noções de custo da água que os serve, dada a distância da captação, ao desperdício presumido e ao uso inadequado. Ônus estes tornando inviável a expansão do sistema de abastecimento para outras áreas do município. Ao questionar os entrevistados quanto às condições de abastecimento percebe-se um entendimento comum da precariedade não só da quantidade, mas da qualidade, custo elevado e passivo de erro atribuído ao consumo. A seguir transcrevemos alguns trechos das entrevistas, cujos perfis dos entrevistados foram descritos em capítulo anterior, fazendo destaque nos pontos de interesse conforme citado anteriormente, no entanto observando a percepção individual sobre a problemática. No que tange a qualidade, há uma insatisfação generalizada na população da sede do município, captada através das respostas aos questionamentos, sendo relevante observar que nem sempre os usuários são precisos quanto às suas queixas no que diz respeito a quanto tempo têm sido mal servidos, nem as causas que levaram às queixas, restringindo-se à informação dos fatos. Na sede do município, sobre a água recebida em casa, mesmo que uma única vez, a senhora Valdelice25 foi enfática na sua simplicidade: “muié, a água chegou que era esgoto vivo, fedendo a fossa, deixou passar 20(vinte) minutos ou mais para poder usar a água, chegou suja, preta”. Já o senhor Antonio26, declarou que: ”a qualidade da água é péssima” [...] e ainda ressaltou, “a água vem preta”... isso depois de dias de intervalos sem abastecimento. Em síntese, os adjetivos recolhidos dos depoimentos qualificam a água recebida como: 25 26 Valdelice dos Santos, dona de casa, residente na periferia da sede do município. Antonio Menezes Souza Filho, universitário, residente da sede do município. 102 Preta, mau cheiro, cheia de bagaço... a gente liga a torneira e passa de meia a uma hora com a torneira ligada para aquela água suja sair pra depois a gente pegar água mais limpa”. [...] “porque é uma água que vem trazer doença, entendeu? Não é uma água tratada como deveria ser e pode trazer prejuízo. Ao mesmo tempo em que os citadinos entram em contato com as deficiências existentes, se deparam com a falta de a quem recorrer, formalmente, para as providências cabíveis. Fazem uso da denúncia verbal através dos meios de comunicação e a solidariedade da mídia e, que pela penetração na sociedade, motiva a atuação do Ministério Público no respaldo da conquista dos cidadãos. Segundo senhor Miguel27, radialista local, tem sido comum a procura da população, através da sua rádio, de soluções para a situação que vivenciam: Tenho recebido muitas queixas (da população sobre o abastecimento), mas é em função da DESO que tem seu manancial no Riacho da Capoeira, município de Itapicuru (BA). Já participei, já promovemos campanha contra o abastecimento de água de Tobias Barreto que é inadequado. Sobre esta situação o senhor J. Alves, através de seu depoimento, melhor esclarece a problemática apresentada anteriormente: A água não tem qualidade, ela não tem bom tratamento. A água vem sempre numa coloração alaranjada, dificilmente você consegue tomar água clara e se você tirar água e colocar em tonéis, que isso aqui é muito dado a essa prática,você pode ver que no dia seguinte você tira muitos resíduos do fundo daquele balde, aquela lama, aquele lodo.”[...] “temos uma rede ainda feita de canos de metal, ferro e em algumas partes da cidade em amianto que é proibido pela OMS (Organização Mundial de Saúde). Temos uma série de irregularidades no sistema de abastecimento de água. E em seguida, ele ainda acrescenta, que não se trata da qualidade, pois “a água é boa para se consumir, mas inadequada por estrutura da DESO que não existe, certo?”. Parece um comentário que contradiz a opinião da população usuária mas, no momento, parece-nos pertinente entendê-los como complementares. A população permanece descontente com a qualidade de água e o radialista sintetiza o descontentamento com o órgão gestor da água, responsável por sua qualidade e distribuição. 27 Miguel Alves da Silva, radialista da Rádio Clube, residente na sede do município. 103 Mas, ainda com toda a precariedade na qualidade, a água recebida, em algumas residências, principalmente nas localizadas na periferia, é reservada em tonéis, (Figura 16). Observa-se que as residências que possuem rede encanada passando a sua porta, muitas vezes fazem sua armazenagem sem o devido tratamento prévio ou os ajustes necessários ao consumo. Isto ocorre também com àqueles que apanham água na captação, visto que o tratamento prévio só se dá na sede do município, bem como, a correção com produtos químicos adequados, que minimizem as ocorrências (degradação das paredes da tubulação, contato com esgotos e outros resíduos) ao longo da rede de distribuição. A retirada de água sem tratamento e controle agrava ainda mais as conseqüências de um abastecimento inadequado, pois fora da área de controle da concessionária e à uma população sem orientação e sem conhecimento decorre em possíveis agravos à saúde. Figura 16 – Foto de Tobias Barreto - periferia da sede do município abastecimento sem controle e próximo de lançamento de esgoto doméstico. Fonte: Zenóbia Silva/ Heleni Ávila No entanto, sob a análise da senhora Valdelice, que lavava roupa com água oriunda do tanque dos Missionários (antigo criatório de patos), de modo geral não se justificam as queixas dos demais munícipes: ”a água é boa, possui medicamento, tem remédio...” (Figuras 17 e 18). 104 Figuras 17 e 18 – Foto de Tobias Barreto – Tanque dos Missionários – Lavagem Fonte:Zenóbia Silva/ Heleni Ávila, 2002 Quanto à disponibilidade diária do abastecimento é unanimidade que o abastecimento não é diário: “que só de 2 (dois ) em 2 (dois ) dias é que tem água”(sra. Josefa28);“chega forte, mas falta negócio de três dia por semana”(Vadelice). Esta situação se prolonga há muito tempo, sem previsão de solução imediata, mesmo que paliativa, pois: “tenho água encanada, mas o abastecimento é precário, não entendo por que vem se alastrando esse problema e a cada dia que tá passando, o problema vai aumentando”, acrescentando ainda, “porque a água não chega constantemente , todos os dias e quando chega, de 2 (dois) em 2(dois) dias, 4 (quatro) em 4(quatro) dias...” ( Antonio) É clara a insatisfação quanto à distribuição e às condições de medição do consumo: “não há freqüência, falta água constantemente. Temos aqui, há mais de 03 (três) anos, dia sim dia não... resultado a gente paga o que já vem contado no hidrômetro, e na verdade essa água não existe na torneira..” (Miguel Silva) O problema não é recente e as medidas implementadas ainda são vistas como paliativas para os que vivenciam o vivenciam: “desde que eu cheguei aqui (1992) não tem água, a verdade é essa. Eu cheguei a morar em uma rua em Tobias Barreto, que chegava a 28 Josefa Maria dos Santos, dona de casa, residente na periferia do município 105 passar 45 dias sem água na torneira, o abastecimento era feito de carroça pagando uma fortuna”.(J. Alves) A alternativa encontrada para solucionar os problemas de abastecimento, após anos de insatisfação e de reclamações não atendidas, foi junto ao Ministério Público que estabeleceu um Termo de Ajuste, em que a DESO se comprometeu a solucionar as pendências existentes e promover melhorias nos sistema de abastecimento. Reportando-se ao momento presente, senhor J. Alves ressaltou que apesar das iniciativas legais para regularização ainda há o que se melhorar pois “esse termo (Termo de Ajuste) tem sido cumprido, nós temos água 1 dia sim e 2 dias não, aí o agravante essa água quando chega, ela chega com resíduos” Quanto ao custo, os citadinos acham-no elevado, principalmente aqueles, que não possuem renda estável, Tá no preço bom. Exagerado (o preço) para o pobre, meu marido não tem emprego, não ganha salário de nada....” e acrescenta,“pagar água, pagar luz, e comer um bocado come que pode, mim diga? Se ganha, se trabaiar 5(cinco) dias na roça de 5 (cinco) reais , diga quanto que é que ganha.Diga se o ordenado dá para pagar isso aí. (sra. Valdelice) O senhor Antonio estabelece outro parâmetro de análise, o de custo-benefício, ao entender que: “de acordo com o abastecimento e a qualidade do produto ele se torna caro, porque se não pagasse, se não pagasse nada, ainda era ruim....por que é uma água que vem trazer doença”. O senhor Miguel Silva observa que se sente lesado pela falta de precisão e de controle no registro de consumo nos hidrômetros: “nós não estamos pagando água, pagamos é ar”. Entendimento idêntico o senhor J. Alves, se estende nas explicações: “Além da água não ter qualidade, tem um agravante maior que é o ar passa nas torneiras e esse ar conta duas vezes mais do que se fosse água normal. Que o ar vem com mais força do que a água normal e é mais leve. E daí o consumidor ter aquele problema de além de não ter água, pagar por uma água que ele não consome através do ar que vem”. 106 4.4. AS RESPOSTAS ÀS NOSSAS AFLIÇÕES Como em qualquer comunidade, existem os que apesar de afetados pelos problemas, optam por ter uma conduta expectante e há os que afetados e sentindo-se lesados se manifestam e buscam solução. De modo geral, os entrevistados, tanto os residentes na sede do município como os dos povoados, desconhecem que iniciativas tomar quando tratam das questões de gestão, a quem se dirigir ou a quem compete tomar decisões ou estabelecer diretrizes. Não é claro para eles as atribuições da Prefeitura e da DESO, na solução dos problemas de abastecimento nem de cumprimento da gestão de recursos hídricos. Quando perguntados sobre as condições de abastecimento, aos citadinos, estes atribuíram, como responsáveis pelos transtornos, a si próprios, ao prefeito, à DESO, ao governo do Estado, às diferenças partidárias entre prefeito e governador da época. Sobre a distribuição irregular, a senhora Josefa revelou: “acho que a gente (o próprio usuário é o responsável por não ter água em casa) porque nunca fomos atrás, por que se a gente tivesse ido atrás ele (prefeito) teria dado força para botar água na casa da gente. Acrescentando, em seguida, justificativa à sua inércia na busca de soluções, “estou querendo pedir, mas não tenho tempo, por que eu vivo pra’ qui, pra’ cola, uma correria braba”. No entanto, os cônscios da situação legal e das prerrogativas de gestão conseguem vislumbrar a falência do sistema. Os poderes públicos, acho que não vêem isso (abastecimento precário) como importante...não dá importância a coisa”, acrescentando ainda,“acho que a empresa (gestor responsável pelo abastecimento local), pelo menos aqui no município de Tobias Barreto é uma empresa irresponsável[...]. a população daqui avalia dessa maneira”[...]“(a população) reclama constantemente, nas rádios, na empresa (DESO), todos os dias”.[...]“o pessoal já colocou a DESO no Ministério Público, já ta na Justiça, já teve várias audiências a respeito desse problema da DESO e nada resolvido.(sr. Antonio) 107 Destarte, a DESO, gestor de Recursos Hídricos em de Tobias Barreto e responsável pela distribuição d’água no município de Tobias Barreto, tem sido exposta pela população insatisfeita, a comentários e questionamento através dos meios de comunicação e participação de reunião, junto ao Ministério Público, para que se formalizem as providências cabíveis quanto às falhas de abastecimento (qualidade, quantidade). Esclarece o senhor Miguel Silva, lembrando o acordo firmado pelo Termo de Ajuste, já mencionado anteriormente: “já fizemos (representantes da população) Termo de Ajuste com a promotoria (Ministério Público) e isso devidamente registrado, pediram prazo, este prazo foi dado e eles (DESO) não cumpriram”. E, indagando sobre a postura da DESO no local, quando exposta à opinião pública desfavorável, foi esclarecido que: Se defende, quer dizer, faz vistas grossas (com relação aos problemas) e aumenta (valor cobrado), quer dizer, assim em vez de se preocupar com a qualidade do produto, com atenção ao consumidor, ao usuário da água, eles (DESO) se preocupam mais em aumentar, sempre aumentando, ‘aumentou a água x%’.(sr. Antonio) Há conhecimento de medidas implementadas, que apesar de onerosas não atendem a expectativa dos citadinos. O governador gastou uns R$18.000.000,00 (dezoito milhões de reais) para construção de uma caixa elevada para abastecer os Conjuntos Irmã Dulce e Padre Pedro, por que só tinha os canos e água não chegava, com essa construção da caixa elevada melhorou um pouquinho para os conjuntos Padre Pedro e Irmã Dulce, mas existe um projeto de melhoria geral.” [...](grifo nosso).Através de 2 (dois) poços artesianos que custa R$180.000,00 (cento e oitenta mil reais), é que o governo não se interessou de fazer ainda essas perfurações. Fazendo essas perfurações teríamos água em Tobias Barreto, em abundância, 24 horas por dia. (J. Alves) Não obstante, é claro que se espera que estudos mais apurados da situação promovam melhorias, a construção das caixas elevadas não atendeu às necessidades da cidade, não houve vazão suficiente para encher os reservatórios. Contudo, tem sido feito investimento pelo governo estadual para minimizar a situação de abastecimento na sede do município. 108 Decorridos seis anos do Termo de Ajuste, persistem os problemas, agrava-se a inquietude da população pela insatisfação da prestação dos serviços. Diante dos acontecimentos a DESO foi novamente acionada pelo Ministério Público, e que, segundo o promotor público, as informações são de que, como solução, a DESO adquiriu área na Bahia para ser perfurado um novo poço, com vazão superior ao já existente a fim de suprir as necessidades da população. 4.5. O QUE ELES TÊM A DIZER... Apresenta-se a seguir o que se caracteriza como “direito de resposta” aos gestores, aos questionamentos e posicionamentos da população. Inicialmente, destaca-se o depoimento do funcionário da DESO, lotado no escritório de Tobias Barreto no momento da pesquisa, cujas informações reportaram às iniciativas previstas e em andamento no que se refere à minimização dos problemas de abastecimento. O fato da construção dos reservatórios não ter sido a solução para os problemas de abastecimento da sede do município de Tobias Barreto e conseqüentemente não ter trazido a satisfação da população, a DESO iniciou a perfuração de dois poços no povoado Catú, município de Itapicuru, Estado da Bahia, poços estes que se prevê o fornecimento de retirada de 150m3/h de cada, levados a sede do município a 17km, através de sistema de adução margeando a estrada. A conclusão dos serviços de perfuração estava prevista para os dias finais de julho/2002, estando em procedimentos licitatórios o contrato de execução da adutora, trecho entre o local dos dois poços e o povoado Boa Vista, onde situam as caixas de passagem. 109 Atualmente, o sistema existente de captação no Riacho Capoeira oferece 360m3/h com aproveitamento de 200/240m3/h, com perdas equivalentes a 60% do valor captado, cuja ocorrência se dá ao longo do trecho entre o local da captação e o povoado Boa Vista. Há de se observar que a proposta de novo sistema composto por dois poços, prevê um fornecimento em torno de 300m3/h, com previsão estimada de perdas de 50m3/h, que correspondem a menos de 20%. A quantidade oferecida pelo novo sistema satisfará à comunidade local, sendo cogitada a possibilidade de sua operação independente. As condições de abastecimento oferecidas pelos poços subsidiarão ao órgão gestor o direito de opção entre manter o sistema antigo em funcionamento concomitante ao que está sendo executado ou seu isolamento definitivo. O novo sistema está previsto entrar em operação até meados de 2003, oferecendo valores de produção próximos ao do sistema já existente e, segundo o funcionário, diferenciando-se do já existente, pela constância de vazão, o que contribuirá no abastecimento regular. É prevista, também, a otimização no controle de consumo de todos os usuários, o que hoje só é feito junto a poucos que possuem hidrômetro, a apuração das perdas geradas na distribuição, o que só é feita no trecho entre a captação e a estação de tratamento e o maior rigor na fiscalização do uso inadequado pela população. Afirma-se também, que a intenção da DESO de por hidrômetros nas ligações consiste não somente na viabilização da cobrança referente aos serviços prestados, mas se tornar menos suscetível à reclamação, viabilizar melhor controle também pelos usuários de seu consumo. Condicionando a população à otimização de uso e possibilitando ao órgão gestor o controle das condições de abastecimento. 110 Sobre as queixas de “faturamento baseado na passagem de ar”, o técnico entrevistado teve a esclarecer a falta de informação da população sobre o funcionamento das instalações e condições de abastecimento como causa dos conflitos com a população, reconhecendo, ao mesmo tempo, que a DESO falha não cumprindo com esta prerrogativa, da comunicação externa no que diz respeito às iniciativas a serem tomadas, às soluções propostas para os problemas eventuais, gerando o comprometimento da imagem da empresa junto à população. 111 RECORDANDO de Aderbal C. Barbosa Para longe vai o meu pensamento Em busca sempre da terra natal, Onde vivi alegre e sem tormento, Brincando às margens do rio Real. Recordando a majestosa quixabeira, A beleza das Campinas sem par, A casa pequenina e prazenteira Que, certo dia, deixei a chorar. Lembro-me (e quanto!) do Jabiberi, Da triste voz da meiga juriti A suspirar os seus doridos ais. Hoje, só, pelo mundo, abandonado, Vou vivendo a recordar o passado Aquele tempo que não volta mais! 112 5. AMPLIANDO ESPAÇOS DE GESTÃO 5.1 COLOCANDO OS PINGOS NOS “IS”, COLÍRIO DA MUDANÇA DO OLHAR - CONFLITOS E DESAFIOS NA GESTÃO LOCAL DOS RECURSOS HÍDRICOS A atuação da DESO como distribuidora iniciou na década de 7029, tendo como fonte de abastecimento o Rio Jabiberi. Anos depois, foi necessária a instalação de nova captação, tendo sido decidido o melhor ponto no Riacho Muniz, afluente do Rio Real pela margem direita, distante 12km, no povoado Boa Vista, no Estado da Bahia. Em decorrência da demanda, em 1984 foi necessária uma nova captação. Desta vez a instalação foi feita no Riacho Capoeira, também afluente da margem direita do Rio Real em terras do município de Itapicuru, no Estado da Bahia, distante 8 km de Tobias Barreto, (Figuras 19 e 20). Figuras 19 e 20 – Foto do Riacho Capoeira – Itapicuru/BA – Proximidades do ponto de captação da DESO Fonte: Zenóbia Silva / Francineide Guimarães, 2001 Em Tobias Barreto, sede do município, a água bruta originária do Riacho Capoeira é recebida na estação de tratamento, onde é feita a desinfecção aplicando o cloro e realizada a fluoretação. Em seguida é armazenada em 2 (dois) reservatórios apoiados de 900m3 e 400m3, 29 A Assembléia Geral da DESO de 27 de dezembro de 1971, aprovou os termos do Convênio a ser celebrado com a CAENE – Companhia de águas e Esgotos do Nordeste, pelo qual obrigava-se a transferir para a DESO “a operação, administração, manutenção e acervo dos Sistemas de abastecimento de Água , construídos ou em construção” [...], dentre outros municípios, o de Tobias Barreto, (SANTANA, 1999). 113 respectivamente, e depois novamente acumuladas em reservatórios elevados de 290m3 e 400m3. A distribuição na sede do município se dá obedecendo às três zonas de abastecimento, definidas pela DESO, que não havendo ocorrência de imprevistos como falta de energia, pane nas bombas ou na tubulação, atende à população das zonas a cada período de 48 horas. A DESO contabiliza aproximadamente 8.000 ligações, equivalente a 40.000 habitantes na sede do município, considerado por zona de distribuição: na zona 1 (um), 3.000 ligações; na zona 2 (dois), de 2.000 a 3.500, e na zona 3 (três), de 1.500 ligações. Na área rural, o sistema de abastecimento pela DESO é independente e se restringe a 4 (quatro) povoados: Monte Coelho, Pilões, Samambaia e Alagoinhas, perfazendo um total aproximado de 1.004 ligações. A origem da distribuição para os povoados se dá em um poço artesiano também situado na Bahia, próximo ao Povoado Montes Coelho para onde é bombeado e levado para Samambaia e para Alagoinhas. De Alagoinhas vai por gravidade para Pilões. Na zona rural a distribuição atende ao consumo humano e dessendentação dos animais, não sendo computada a quantidade de água bruta retirada por agricultores, ao longo da tubulação, para irrigação. A captação possui vazão variável, considerada ótima quando alcança 220m3/h. Quanto à qualidade é tida como boa, de bom paladar, sujeita às falhas humanas eventuais, no tratamento, “eu acho uma das melhores do estado. Da água da DESO é a melhor”. (funcionário da DESO) O tratamento apenas visa melhorias na cor sendo submetida à análise periodicamente, todavia não há registro de controle local, nem de informação à população de seus resultados, restringindo a transparências de seus procedimentos internos, gerando desconfiança e mal estar na população em situações eventuais. 114 É de conhecimento do Ministério Público as limitações da DESO, no que concerne ao abastecimento da cidade e dos povoados servidos por ela, tendo em vista o fornecimento insuficiente para atendimento de demanda: “Tobias Barreto é uma cidade que está numa faixa de 30mil habitantes, pelo que o DESO me falou ela só tem capacidade de suprir cerca de 2/3, quer dizer tem 10mil habitantes que não está recebendo água, então eles fazem o sistema de revezamento”, (Ricardo Sobral). No que diz respeito às perdas de água, o funcionário da DESO deixou claro que são possíveis, mas sempre que detectadas são corrigidas, não sendo mensurável nem controladas as perdas por retirada dos fazendeiros no local da captação e ao longo da tubulação da adutora até a sede do município de Tobias Barreto. Há, ainda, os conflitos de interesses entre os órgãos gestores dos dois Estados, Sergipe e Bahia, bem como pouco empenho das personalidades jurídicas na solução dos conflitos, ainda que pouco relevantes, de uso d’ água. De modo mais claro, o funcionário da DESO, mencionou a falta de interesse por parte do gestor baiano de recursos hídricos e das autoridades jurídicas locais na busca de soluções para “roubos” d’água ao longo do trecho da tubulação da DESO localizada na Bahia, por um pensamento simplista: se não é responsável pela distribuição, não é beneficiada pela arrecadação, o que os faz não considerar as perdas nem os problemas de saúde gerados, tendo em vista que a água “roubada” é bruta, sem nenhum tratamento. E diante da violação da tubulação, as queixas não são acolhidas pela promotoria pública local, o que em conseqüência, não há promoção de termo de acordo; não há uma ação punitiva ou de policiamento contra os transgressores, sendo difícil, inclusive, os contatos para promoção de medidas cabíveis pelas partes. Há, ainda, as perdas domiciliares por vazamentos e desperdícios, pelo uso inadequado (lavagem de calçadas, carros) e sem controle, havendo dias que o consumo por pessoa perfaz 300 litros, quando é estimado em torno de 150 a 200litros/hab/dia. Acrescentou o entrevistado 115 da DESO que o município vizinho de Riachão do Dantas, o abastecimento ocorre com 95litros/hab/ dia. O local da captação para abastecimento (figura 21) é suscetível à contaminação por ser local aberto e sem vigilância. E, de modo particular, foi relatada por entrevistados a ocorrência de contaminação das águas no ponto da captação por uso indevido de agrotóxicos, considerada grave pelas proporções que poderia ter atingido. Figura 21 - Foto do Riacho Capoeira – Itapicuru/BA – ponto de captação da DESO Fonte: Zenóbia Silva / Francineide Guimarães, 2001 Questionado o agente da DESO sobre a contaminação da água na captação, foi confirmada a ocorrência e esclarecido que agricultores com fazendas localizadas à montante do referido ponto, ao lavar os vasilhames de pesticidas ou ao coletar água para pulverização das plantações houve a contaminação do manancial por negligência dos agricultores e falta de segurança no local. Argüido sobre as providências preventivas de novas ocorrências declarou que as medidas de correção tomadas restringiram-se à suspensão da captação e análise das 116 águas, que após o resultado negativo foi liberado o funcionamento. Não tendo sido tomada nenhuma medida preventiva de novas ocorrências. A seguir, fixamos através de tabelas dados das condições de abastecimento, considerando os dados populacionais, os volumes produzidos, os de consumo e os de perdas. TABELA 09 - Bacia do Rio Real - População Abastecida pela DESO – 2002 População Municípios Urbana Rural Total Beneficiada Cristinápolis 6.893 8.367 15.260 7.830 Indiaroba 4.746 8.589 13.335 4.186 Poço Verde 10.518 9.493 20.011 11.985 Tobias Barreto 28.490 16.236 44.726 31.730 3.663(*) 8.801(*) 12.464(*) - 51.486 105.796 55.731 Tomar do Geru Totais 54.310 Fonte: DESO, 2002. (*) - 1996 Observa-se na tabela 9 que, 55.731, total de habitantes beneficiados, corresponde a 52,67% da população abrangida pela bacia, conseqüentemente, 47,33% da população dos municípios sergipanos abrangidos pela bacia, não possuem abastecimento com distribuição regular de rede de abastecimento. TABELA 10 - Bacia do Rio Real – Volume de produção de água para abastecimento x Perdas (m3/mês) - Julho/2002 Municípios Produzido Medido Medido % Perdas Cristinápolis 31.934 16.881 52,86 15.053 Indiaroba 17.414 8.464 48,60 8,950 Poço Verde 39.047 36.126 92,52 2.921 Tobias Barreto 240.910 68.274 28,34 172.636 Tomar do Geru - - - - 329.305 129.745 39,40 199.560 Totais Fonte: DESO, 2002 117 Há de se observar que, não considerando valores de evapotranspiração no período, 60,60% do volume produzido são perdidos no sistema de abastecimento e, de modo particular. Em dados brutos, o município de Tobias Barreto apresentou perda superior ao total de volume medido de todos os municípios envolvidos. Reconhecendo que a informação extraída de um mês de monitoramento, exposta na Tabela 10, poderá refletir dados gerados por casos de ocorrência fortuita, fez-se o histórico de ocorrências ao longo de 1 (um) ano, exibido na Tabela 11, compreendendo, inclusive, as alterações climáticas, mas ainda não relevando as perdas geradas por evapotranspiração no período. TABELA 11 - Bacia do Rio Real -Volume de produção de água para abastecimento x perdas - (m3/mês) - agosto/2001 a julho/2002 Municípios Produzido Medido Medido (%) Perdas Cristinapólis 350.204 213.916 61,08 136.288 Indiaroba 224.793 108.590 48,31 116.203 Poço Verde 472.107 328.637 69,61 143.470 Tobias Barreto 2.754.169 976.481 35,45 1.777.686 Tomar do Geru - - - - 1.627.624 42,81 2.173.649 Totais 3.801.273 Fonte: DESO, 2002 É possível observar que a margem de perdas (57,19%) no ano é inferior apenas 3,42% ao equivalente ao mês de julho/2002 considerado anteriormente. Observa-se ainda que o município de Tobias Barreto mantém o maior volume total de perdas no sistema correspondendo a 5(cinco) vezes, aproximadamente, ao volume medido no consumo em Poço Verde. O município de Tobias Barreto, em 1993, foi um dos beneficiados, dentre 15 localidades, com o início de execução de 216km de adutoras e 127km de rede de distribuição, o que beneficiaria, àquela época, uma população de 122.000 habitantes do interior. 118 A seguir estão expostos quadros que apresentam dados elucidativos sobre os serviços de abastecimento e esgotamento prestados pela DESO. Discriminação 1995 1996 1997 1998 Localidades abastecidas no Estado Sede Povoados População abastecida Nº de ligações região metropolitana(*) Interior Extensão de rede (km) Capital Interior 240 70 170 1.136.577 243.151 132.032 3.867 2.224 1.643 261 70 191 1.191.758 256.672 136.300 4.070 2.289 1.781 277 70 207 1.252.144 266.137 141.273 4.270 2.385 1.885 310 70 240 1.341.293 279.384 148.576 4.357 2.414 1.943 QUADRO 03 – Sergipe – Serviços de abastecimento prestado pela DESO - 1995/1998 Fonte: SANTANA (1999) (*) Região metropolitana: Aracaju, Nossa Senhora do Socorro e Barra dos Coqueiros. O esgotamento sanitário em Sergipe, segundo Santana (1999), não tem recebido a mesma atenção que os serviços prestados de abastecimento. No que concerne ao esgotamento sanitário, conforme exposto a seguir, ainda, eram tímidas as iniciativas de atendimento ao público na capital e no interior. Comparando ao que havia de número de ligações de abastecimento e quilômetros de rede de distribuição com o existente reservado aos serviços de esgotamento sanitário. Discriminação 1995 1996 1997 1998 Localidades Operadas 03 03 03 03 População atendida 171.045 157.379 162.551 171.693 Nº de ligações 28.777 29.771 31.112 33.160 Capital 27.700 28.696 30.077 32.188 Interior 1.077 1.075 1.035 972 Extensão de rede (Km) 247 262 271 271 Capital 230 245 254 254 Interior 17 17 17 17 QUADRO – 04 – Sergipe – Serviços de esgotamento sanitário prestado pela DESO - 1995/1998 Fonte: SANTANA (1999) (*) Região metropolitana: Aracaju, Nossa Senhora do Socorro e Barra dos Coqueiros. Sergipe, a espelho de outros estados brasileiros, tem feito seus investimentos de saneamento privilegiando os centros urbanos maiores, neste caso, Aracaju. Ao longo dos anos foram feitos investimentos no intuito de minimizar o déficit. Mas somente a partir de 1990 que se intensificaram os investimentos nos centros regionais, tais como Lagarto, Própria, 119 Itabaiana e Estância. O município de Tobias Barreto ainda não foi beneficiado com investimentos nessa área, nem a sede do município possui esgotamento sanitário. Os lançamentos domésticos são feitos em fossa séptica ou em galerias da rede de drenagem ou correm ao longo do meio-fio, principalmente na área da periferia da sede do município, ou ainda, lançados junto com os efluentes industriais no leito dos rios Jabiberi e Real. 5.2 QUANDO O RIO JÁ NÃO FAZ PARTE DE NOSSAS VIDAS E TIRAMOSLHE A VIDA... É reconhecido pelos munícipes que a omissão e o não envolvimento nas questões ambientais decorrem em ônus para a comunidade, no entanto, observa-se que eles efetivamente não sabem a quem atribuir as responsabilidades, se a eles próprios, à administração municipal, ao governo estadual, federal ou atribuir a todos sua parcela pertinente. A ineficácia na gestão dos atributos ambientais gera os conflitos detectados na postura e no entendimento dos atores no universo sócio-ambiental. O desconhecimento e a ignorância dos princípios de preservação e conservação do ambiente, agravados pela inexistência de código municipal de ocupação e uso do solo e desrespeito à legislação municipal existente, resultam no atual cenário ambiental do município e, em especial, nas condições dos recursos hídricos locais. A Resolução nº 28630, citada por Santana (1999), quando ainda Vila de Campos, já faz menção à preservação de atributos ambientais, quer pela previsão de descaso ambiental, ou já como conseqüência do uso inadequado e comprometimento da sustentabilidade, ”Art.4 He prohibido lançar-se tingui, e outras substâncias venenosas nos rios, fontes e lagoas deste 30 Resolução nº 286 – 22 de abril de 1850 – na época, Vila de Campos. 120 município: o contraventor sofrerá a multa [...] ou cinco dias de prisão, e o duplo na reincidência”. De 1850 até o presente momento muitos ajustes foram feitos nas legislações municipais, decorrentes dos reflexos dos agravos ao meio ambiente. Os ajustes têm tentado minimizar uma realidade de maior degradação, punir causadores ou estabelecer critérios de recuperação. No entanto, desconhecimento da o cumprimento das prerrogativas da legislação esbarra no legislação ambiental e na restrita sensibilidade com as questões ambientais e conveniências dos munícipes, ressaltado pelo senhor J. Alves: “dentro do Rio Real tem um cemitério, às margens do Rio real se construíram vários curtumes e os couros eram lavados dentro do rio Real, naquela época o Rio Real era um rio perene, será que a população pensava que o rio era eterno?O rio não cansaria?”. As pessoas que possuem discernimento ou interesse específico ainda não se sentem sensíveis à problemática ambiental e ao estudo de soluções, envolvendo-se tão somente com os problemas do cotidiano que demandam soluções imediatas. Diria que eles (tobienses) não estão nem aí pro Rio Real, eu sou franco e eu lhe digo: veja bem em todos esses anos que eu passo aqui, já houve manifestações de tudo, para tirar curtume, manifestação para tirar pocilga, manifestação para tirar galinheiro, manifestação para tira vaca da rua...agora manifestação para salvar o Rio Real, nunca teve.(.J. Alves) Ainda é um pensamento local a busca de culpados ou responsáveis pela geração de danos, não se vislumbra, no entanto, alternativa de solução com visão à longo prazo ou de sustentabilidade do sistema, como é destacado pelo senhor J. Alves: “quem mora às margens do Rio Real, essas pessoas é que são culpadas pela destruição desse patrimônio e ela é que tem que pagar por isso, a gente precisa conscientizar essas pessoas de que são elas as culpadas e forçar elas a plantar as margens do rio” 121 Pensar em culpados ou responsáveis vai-se bem mais além, pois a condição de posse, poder e de conhecimento não minimizam os danos que podem gerar, indiscriminadamente o reflexo ocorrerá no cotidiano de todos, há de se pensar se existe a consciência ou visão das ocorrências. os latifundiários, esses donos de propriedades, eles desmatam toda aquelas árvores grandes que tinha às margens do rio, [...], então que acontece o desmoronamento dos barrancos e hoje o rio ta nessa situação aí[...], 20 anos atrás havia aquela enchente que não passava ninguém, por que o volume de água era enorme, hoje o rio tá entupido, sem correr água, sem nada, (Luzinete). O avanço das aquisições latifundiárias sem restrições quanto ao uso e conservação do solo e o crescimento urbano desordenado e sem estrutura de saneamento básico ou de otimização dos recursos administrativos só comprometem as condições ambientais locais. depois os fazendeiros foram comprando terras, derrubando, derrubando e derrubando e acabaram com o rio,[...]a cidade cresceu e o esgoto botaram pra cair no rio, a água toda poluída e a sujeira, o lixo da cidade se joga no rio[...] o cemitério agora cresceu mais [...]os políticos gastaram não sei quantos milhões nele, (Francisco Menezes). É incontestável que muitos contribuíram e contribuem com a degradação do Rio Real ao longo do seu curso, mas em virtude do cenário apresentado atualmente em contraponto com o existente há alguns anos atrás, há de se considerar que os maiores danos decorrem da falta de visão de sustentabilidade dos munícipes de Tobias Barreto. Segundo o senhor Braz31 “o maior poluidor do Rio Real sem sombra de dúvidas, é a cidade de Tobias Barreto”. É dominante o interesse local pelo aspecto econômico, o que é revelado pela dinâmica das atividades produtivas, destaca-se também a pouca relevância à finitude do recurso água, sobretudo, por tratarmos de municipalidade do semi-árido, onde a escassez é fator determinante. Percebe-se que ao longo dos anos a decadência de disponibilidade deste recurso natural, propiciou o avanço de atividade independente de sua existência, qual seja, bordado, confecções. 31 Secretário Municipal de Agricultura e Meio ambiente de Tobias Barreto 122 O Rio Real efetivamente já não faz parte do cotidiano, não é considerado como problema a ser resolvido, sequer vislumbra-se oportunidades econômicas estabelecidas pela sua revitalização. 5.3 O QUE PRETENDEM FAZER COM O RIO REAL A condição de degradação ambiental do Rio Real é de conhecimento público, o que lhes falta são medidas de prevenção, conservação e preservação, ou seja, pela ação dos poderes constituídos e interação da população com responsáveis pelas iniciativas. Pelos depoimentos, observamos que cada entrevistado possui uma solução para os problemas, predominando, contudo, a falta de um estudo técnico consistente que as justifique e nem sempre contemplam o aspecto prevencionista das propostas. Para que se melhorasse o rio era fazer uma drenagem nele,[...]tratar o esgoto[...] fazer uma limpeza do rio[...] o caminho para tudo isso seria limpar o rio e fazer barragens ao longo do rio[...] tem o Damasceno (topógrafo amigo) que sugeria trazer o Tocantins para o São Francisco e do São Francisco botar nas cabeceiras desses rios todos para tornar permanente, perene.(Francisco Menezes) Eventualmente, percebe-se, mesmo de entrevistados menos cultos, uma consciência de educação ecológica simples, mas de resultados a longo prazo e de tímida significância dado o agravo do dano. Eu faria, entrava com um projeto de recuperação para plantar novamente as árvores e se possível colocar guardas florestais, para que as pessoas não poluam, tenho a certeza que no futuro bem próximo a gente teria o rio de volta [...] e uma conscientização das pessoas para que respeitassem. (Luizete)32 Observa-se que as atitudes isoladas e não programadas em seu contexto global trazem prejuízo de continuidade das ações, da abrangência da atuação dos gestores e da expressão da vontade política. 32 Luizete de Souza Neto, presidente da Associação dos Moradores da Vila de Samambaia e do Conselho Municipal de Desenvolvimento (CONDEM). 123 Seria importante que Sergipe, Bahia e todos os estados que passa o Rio Real que se juntasse fizessem uma reunião , todos eles aí e convidasse o ministro lá e para mostrar a realidade e aí eles tomariam uma decisão eles juntos para indicar Sergipe[...] Sergipe fala uma língua e Bahia fala outra.(Luizete) As iniciativas promovidas pelas administrações municipais quase sempre ocorrem em momentos eleitorais, não se tornando soluções de problemas existentes, quando muito, paliativo do momento. Alimentando a descrença do povo no poder público e nas intenções dos gestores, considerando as investidas administrativas meras apropriações eleitoreiras dos problemas. Caso citado referente à reunião programada para março/ abril de 2001, com os prefeitos dos municípios de Sergipe e Bahia, localizados à margem do Rio Real. Recentemente, há uns 3(três) meses ou 4 (quatro) chegaram aqui com um projeto para salvar o Rio Real, o projeto era com os prefeitos de Poço Verde, de Nossa Senhora do Amparo (BA), Cristinapólis, Tomar do Geru, e Tobias Barreto. Essa reunião era em Tobias Barreto, essa reunião ficou no papel.[...] não aconteceu. (J.Alves) É fato que as decisões dos gestores devem vencer interesses particulares de alguns munícipes, fazendo valer as prerrogativas do bem comum e da propriedade. O governo tem que tomar essa posição: ‘essa água você não pode desviar indiscriminadamente para sua fazenda, ao longo do rio Real’. Toda fazenda tem tantos açudes e a agüinha que o Rio Real deságua nos açudes dessas pessoas, que armazenam durante anos e anos, enquanto que o leito do rio para aquele que poderia ta pegando um pitu, uma traíra, para sua própria subsistência não consegue, por que esses fazendeiros, essas pessoas mais abastadas destruíram isso.( J. Alves) No cômputo das expectativas e dos resultados verifica-se que apesar do Rio Real encontrar-se em bacia hidrográfica comum a dois estados, é de jurisdição federal, o que estabelece conflito de atuação dos envolvidos. Nenhum dos estados, Sergipe e Bahia, possui dentre seus programas e planos para o gerenciamento de recursos hídricos, iniciativas previstas para preservação ou revitalização da bacia, em especial para o trecho correspondente a Tobias Barreto. O Estado da Bahia, disponibiliza, através do “site” de informações estadual, o Plano Diretor sobre as bacias hidrográficas do Rio Real e Vaza-Barris, bem como seus programas e subprogramas de desenvolvimento sustentável para recursos hídricos, onde em nenhum dos 124 documentos citados, o Rio Real, é contemplado com estabelecimento de medidas midigadoras dos agravos ambientais. O Estado de Sergipe possui estudos de disponibilidade hídrica, demanda e documento de cadastro da infra-estrutura hídrica do Estado, consistindo em documentos de avaliação do cenário atual e projeção futura. Não estabelecendo, no entanto medidas de solução para os problemas existentes, apenas oferecem sugestões para as situações críticas do recurso hídrico. No que se refere à atuação do poder municipal, as questões ambientais com relação à bacia hidrográfica não são cogitadas ainda, sequer motivaram estudos detalhados. O gestor de recursos hídricos no município, a DESO, tem se detido na problemática de abastecimento da sede do município e dos povoados que lhe são de competência, mantendo a exploração para a prestação dos serviços em ponto de captação no município de Itapicuru, Estado da Bahia. Não há, todavia, nenhum planejamento no que concerne à bacia hidrográfica ou ao Rio Real de resgate à melhor condição hídrica. Na esfera federal, apesar de alicerçada pela legislação ambiental nacional33, com especial destaque, à Agenda 21, em virtude do estabelecimento de estratégias específicas e ainda que respaldada pela legislação estadual34, neste caso, de Sergipe, dentre tantos programas e projetos de restabelecimento das condições dos recursos hídricos, não privilegia a bacia do Rio Real , nem ao seu rio principal. Creditamos à sua significação e importância para o abastecimento regional, à escassez de seu leito e à qualidade de suas poucas águas, a perda de espaço na gestão nacional de mananciais, demonstrando a manutenção de ações imediatistas até mesmo das instâncias que deveriam planejar de forma preventiva e de longo prazo. 33 Constituição da República Federativa – 1988, artigos: 20, 21, 22, 23, 26, 43, 176, 200 e 231; Código de Águas – Dec. nº 24.643, 10.07.1934; Política Nacional de Recursos Hídricos – Lei das Águas – Lei nº 9.433 – 08.01.1997; Conselho Nacional de Recursos Hídricos – Dec. nº 2.612, 03.06.1998; Agência Nacional de Águas – ANA – Lei nº 9.984, 17.07.2000; Política Nacional de Meio Ambiente – Lei nº 6.938, 31.08.1981; Classificação das Águas, segundo seus usos preponderantes – Resolução CONAMA nº 20, 18.06.1986; Lei de Crimes Ambientais - Lei nº 9.605, 12.02.1998. 34 Constituição do Estado de Sergipe; Legislação Estadual de Recursos Hídricos – Lei nº 3.870, 25.09.1997 e os decretos: nº 18.099, 26.05.1999; nº 18.456, 03.12.1999; nº 18.931, 03.07.2000 e nº 19.079,05.09.2000. 125 SE ... de Aderbal C. Barbosa Se no fundo sombrio do coração Houvesse maior paz e tranqüilidade E ali vicejasse a rosa da ilusão, Bálsamo da sofredora humanidade; Se p'ra sempre o mal deixasse de existir Como quis e aconselhou o Redentor, Quando, majestoso, ao mundo fez sentir A beleza do bem e do casto amor; Se o egoísmo e a ambição desenfreada Afastados fossem da face da terra, E pudesse a vaidade ser refreada Com tudo de pernicioso que ela encerra; Se o homem procurar tudo isso compreender Tornar-se-á sensível, terno, sem maldade, E será suavizado o seu sofrer, Conseguindo assim maior felicidade. 126 6. SOB UM OUTRO OLHAR a água é coerente com as pessoas que a cercam: apenas acompanha o estado de espírito. (Demetrios Christofidis) 6.1 CONDIÇÕES E DESAFIOS Observa Castro (1988) que a análise regional permeia a compreensão do processo de estruturação, que sob análise do seu aspecto geral e o conhecimento da região é considerada sob uma ótica específica. As noções de regionalismo invocam o estudo mais apurado das diferenças, dos conflitos e a identificação do homem com o espaço. Segundo Leff (2001), a qualidade de vida não busca o transbordamento dos imperativos pulsionais nem a satisfação das necessidades reguladas pela racionalidade econômica. É busca de sentidos, abertura do desejo e norma diante do reconhecimento dos limites. Pereira Filho (1999) é ainda mais categórico, quando afirma que o desejo da população é a mola propulsora nas decisões dos seus representantes, visto que, através do voto elege aqueles que refletem seus anseios de melhorias e que serão portadores de seu poder nas tomadas de decisões e deliberações de seus interesses. Diante das considerações sobre a dinâmica econômica local, do descortinamento da transparência da vida citadina, da exposição dos dados estatísticos do Conselho Tutelar, da constatação do abandono ambiental há de se levar em conta o distanciamento da sociedade tobiense dos princípios morais e de conduta, dos valores sociais, do apego ao aspecto lúdico do lugar, do passado em suma de sua própria história e identidade. Observamos que a sociedade tobiense possui características próprias, respaldadas em sua história, em suas interações com a natureza, que devem ser consideradas quando na 127 composição dos esforços para solução de seus conflitos e desafios dentro do cenário ambiental, principalmente, no que diz respeito ao estabelecimento de compromissos de política pública. No que concerne à gestão de recursos hídricos, há de se observar, principalmente pelos depoimentos dos entrevistados, as causas ou problemas na gestão, o comprometimento do sistema de abastecimento, a existência de conflitos e a participação dos atores sociais. E finalmente, quando na exposição das prerrogativas o que se vislumbra como medida de resgate das condições de qualidade de vida da sociedade. O indicador de pressão foi identificado na inexistência de aplicação das políticas de recursos hídricos (federal e estadual), o que reflete existência de um estado do meio ambiente caracterizado por desconfiança nas instituições além do cenário de degradação ambiental, de assoreamento dos rios locais, em especial, do Rio Real, falta de controle da concessionária das taxas de consumo e perdas reais no abastecimento. O indicador de impacto/efeito foi identificado pela captação para abastecimento ocorrer em município do Estado vizinho, pela insatisfação com o abastecimento. Sendo inclusive, questionado judicialmente pelos usuários em virtude da não observância dos parâmetros dos índices de qualidade, da quantidade oferecida à população e do valor cobrado pelos serviços referentes ao abastecimento, e ainda, interferência do Ministério Público na conciliação dos conflitos. Para resposta sobre o meio ambiente, à situação existente, a DESO tem investido em perfuração de novo poço no Estado da Bahia, com previsão inicial de funcionamento a partir de meados de 2003. Dessa situação decorre a celebração do Termo de Ajuste entre DESO e o Ministério Público, sendo que aquela tem procurado atender às reivindicações dos usuários quanto às condições de abastecimento, fazendo-o com regularidade, mas com racionamento. 128 Como indicador prospectivo há de se por em prática as políticas de recursos hídricos (estadual e federal), tendo em vista que o Rio Real ser de jurisdição federal, e ainda, seu enquadramento conforme prevê a Agenda 21, dentre as estratégias de recuperação e revitalização de mananciais, observando a disponibilidade hídrica da bacia (águas superficiais e subterrâneas) e os índices de demanda previstos para o cenário atual e futuros. Acrescenta-se a estes indicadores, os resultados obtidos por estudo feito pela CPRM (2002) em que considerando as condições climáticas da região semi-árida agregada às características de solo oferecem poucos recursos à comunidade na promoção do abastecimento. No entanto, observa-se o distanciamento entre o discurso e a prática política, a morosidade dos programas públicos e o desconhecimento da população dos seus reais direitos tornam mais severas as condições de sobrevivência. Fica claro que apesar das estatísticas poucos favoráveis ao uso, há de se considerar a recuperação dos poços e otimização dos que estão em operação, garanti-lhes o pleno funcionamento em condições de uso satisfatório e saudável, visando não somente o aproveitamento momentâneo, mas com preocupação à permanência do abastecimento, à não exaustão dos recursos disponíveis, prevalecendo a sustentabilidade regional. No que se refere às pressões ao recurso hídrico local, através do diagnóstico e da aplicação das entrevistas pertinentes, têm-se a destacar a falta de alternativa para lançamento dos despejos industriais e domésticos, indiferença e impotência da população quanto às conseqüências da agressão aos atributos ambientais e à não aplicação, pelos gestores, das premissas de política ambiental e, mais especificamente, de recursos hídricos. Constatado pelo cenário ambiental. Em conseqüência destas pressões, o estado ambiental do rio, no trecho compreendido ao município de Tobias Barreto, encontra-se assoreado pelo lançamento de efluentes domésticos e industriais no leito, pela deposição de resíduo sólido feita em área próxima às 129 margens do rio, “lixão”, onde se concentra o resultado da coleta da sede do município. E ainda, pela existência de cemitério às margens do rio, havendo, inclusive, ampliação da área destinada aos túmulos. Resultando no rio praticamente sem curso d’água e poluído. No que diz respeito aos impactos e efeitos gerados pela incidência de fatores, considerados indicadores de pressão e demonstrados pelas condições do estado do meio ambiente, destaca-se o comprometimento do manancial e do solo e possibilidade de incidências de morbidade hídricas. A população local, através do resultado dos depoimentos, parece desconhecer a importância de um manancial, no caso especial, do Rio Real, inclusive no que diz respeito aos aspectos histórico e geográfico, tendo significado apenas na memória dos citadinos que lá residem há muito tempo. Também não vêem o Rio Real como promotor de melhores condições de vida ou propulsor econômico, pois o rio não existe mais. O rio não tem significado no presente e, portanto, deixa distante, num horizonte a ser vislumbrado, o sentido de sua recuperação. A iniciativa prevista de execução de barragem, mencionada pelos entrevistados e objeto de discussão há mais de 30 anos, seria no município de Poço Verde com expansão no município de Tobias Barreto. Sua implantação não continha anuência dos gestores estaduais, SEPLANTEC- SRH e DESO, e por conflitos administrativos gerados não veio a termo. Excetuando-se esta possibilidade, não há resposta, ou seja, não há iniciativas efetivas que minimizem os agravos. O que contrapõe aos que têm consciência de que a água não mais se trata de recurso infinito para consumo indiscriminado, há de se estar, principalmente os gestores, monitorando tão somente a qualidade e quantidade dos mananciais, mas também de manterem sob controle as previsões de demanda, a fim de prever situação de exaustão iminente e propiciar a implantação de ajustes necessários para prevenção da situação crítica. 130 Pelo exposto, o Rio Real, no trecho em estudo, também não é contemplado dentre medidas previstas para o futuro, que possam caracterizar indicadores prospectivos. Considerando sua jurisdição, qualquer iniciativa de melhorias deverá ocorrer, quando na aprovação, a nível federal e daí através de convênio com envolvimento dos demais níveis de poder, ou seja, estaduais e municipais. Há de se concordar com Bezerra e Munhoz (2000), quando ressaltam como sendo os problemas mais graves na gestão dos recursos hídricos, a insuficiência ou inacessibilidade de dados e informações para avaliação dos recursos hídricos; a inexistência de práticas efetivas de gestão de uso múltiplo e integrado dos recursos hídricos; a insuficiência de base legal para uma gestão descentralizada; a inadequação do manejo do solo agrícola; a irracionalidade na distribuição dos custos sociais associados ao uso; a participação pouco relevante da sociedade na gestão; a escassez natural ou por uso indiscriminado; a cultura da abundância dos recursos hídricos. Nesta pesquisa detectamos algumas limitações para procedimentos de melhorias, quais sejam: por se tratar de rio pertencente à bacia de gestão federal, seria o tratamento preconizado pela Agenda 21, de unidade de estudo, nenhum dos Estados (Bahia e Sergipe) envolvidos toma as iniciativas necessárias ao resgate de melhoria ambiental, e se o fazem é de maneira restrita e não comum às duas instâncias de gestão ou à gestão federal. Os levantamentos de dados e estudos restringem-se à delimitação geográfica dos Estados, diferenciando-se na abordagem pelo interesse de cada um; há estudos que não se complementam, que não geram subsídios para uma gestão do recurso hídrico e em virtude disso também não propiciam o avanço nas diretrizes de gestão da bacia; não excluindo a existência de estudos sobre a mesma área com interpretações diferentes e de aplicação de métodos não discutidos pelas instituições envolvidas. E também, constata-se a absoluta 131 ausência da população local quanto ao conhecimento da política de recursos hídricos, bem como a prática, pelos administradores, do que ela estabelece. A realização desta pesquisa vem constatar que nem toda a preocupação dos estudiosos ambientais, nem toda a legislação existente sobre o tema e ainda o interesse de alguns em promover a melhor qualidade de vida justifica ou impulsiona a realização ou tomada de decisão, há de agregar ao desejo político, a vontade política de fazer acontecer, abstendo-se da disputa de poder em respeito à sociedade. 6.2 AMPLIANDO POSIÇÕES a água é um espelho refletindo nossa mente. (Masaru Emoto) Não há como, fazendo parte da realidade de um lugar, mesmo que por poucos dias, não se sentir inquieto, às vezes indignado e desejoso de ser parte das transformações. A necessidade do fazer diferente nos salta aos olhos e nos impulsiona a intervir, mesmo que como sugestão. Há, no entanto, de se questionar prioridades. Como falar em resgate histórico de um rio, quando não se falou no resgate da dignidade de crianças e adolescentes submetidas à condição social sub-humana ou à exploração sexual? Como falar de sustentabilidade de uma bacia hidrográfica, se sequer valorizamos a sustentabilidade humana? Que “cultura” nos leva a devastar a natureza e explorar nossos semelhantes a mais vil das condições? Como sensibilizar uma comunidade sobre questões ambientais quando sua realidade não contempla a natureza como problema? Onde encontramos a solução de nossos questionamentos e inquietudes? Obviamente uma pesquisa muito mais complexa sinalizaria respostas às essas questões, no entanto, nesta oportunidade cumpre-nos dar sugestões mais simples, mas que podem trazer o despertar para um novo caminho. 132 O repensar ambiental em Tobias Barreto, creditamos à educação ecológica e da história local, o alicerce das iniciativas. A população consciente ecologicamente, é agente de gestão responsável e participativa. O conhecimento histórico faz ressurgir o bem querer e valores, justificando o apego e o investimento pessoal de cada munícipe na promoção da qualidade de vida. Expandindo-se aos adultos os novos caminhos através de atividades ribeirinhas de plantio de pequenas hortas, pode se constituir num sentido econômico e de preservação à existência do rio. O estimulo à preservação ribeirinha se dá, principalmente, pela possibilidade de melhora de vida econômica da comunidade lá residente, que sugerimos o incremento de pequenas áreas de plantio, sob orientação de uso do solo e de comprometimento dos atributos ambientais pelo uso inadequado de fertilizantes. No âmbito das diretrizes das políticas, há de se efetivar a prioridade da bacia hidrográfica do Rio Real na agenda nacional de discussões e investimentos, alicerçada por sua importância e de seus afluentes na região semi-árida; revestir o desejo político em vontade política efetiva em todas as instâncias de poder. Para a gestão da bacia hidrográfica do Rio Real e, em especial, do seu rio principal, ressalta-se que por se tratar de rio com águas da união sob jurisdição federal, toda e qualquer intervenção deverá estar centralizada nesta instância, o que não significa que os Estados de Sergipe e Bahia não estabeleçam e cumpram políticas públicas estaduais responsáveis com racionalismo ambiental com reflexos positivos dos municípios da bacia hidrográfica; que elaborem estudos pormenorizados de avaliação de cenário, que estabeleçam medidas de controle das condições ambientais; que mantenham atualizadas as informações e que principalmente, possuam como objetivo comum a preservação e a sustentabilidade dos recursos hídricos, respeitando as particularidades e peculiaridades das comunidades envolvidas. 133 O alcance da sustentabilidade à luz da gestão de recursos hídricos efetivamente passa pelo resgate do sentimento de cada um pelo Rio Real, ou ainda, ainda pelo seu despertar, dando-lhe importância e significado. 134 135 BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA ALMEIDA, F. 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Longit. Início Final Fev/63 Situação CRISTINAPÓLIS SUDENE 11º28'56" 37º45'46 4 CACHOEIRA DE ITANHI INDIAROBA ANEEL 11º32'29" 37º34'16" D 5 INDIAROBA - ESCR. INDIAROBA EMDAGRO 11º31'24" 37º31'37" 1994 O Fev/63 NL O O 6 01137018 INDIAROBA INDIAROBA SUDENE 11º31'24" 37º31'37" 7 01137019 ITABAIANINHA ITABAIANINHA SUDENE 10º16'21" 37º47'37" Jul/64 8 01137021 ITABAIANINHA 83195 ITABAIANINHA INEMET 11º16'21" 37º47'37" Ago/23 9 01137022 ITABAIANINHA ITABAIANINHA DNOS 11º16' 37º47' Out/56 Out/67 D 10 01137020 ITABAIANINHA ITABAIANINHA DNOCS 11º16' 37º47' Mar/12 1990 D O 11 ASS.STA MARIA DA LAGE POÇO VERDE EMDAGRO 10º43'54" 38º05'17" 1998 O 12 CABEÇA VERMELHA POÇO VERDE EMDAGRO 10º43'55" 38º09'41" 1995 O 13 FAZ CACIMBA NOVA POÇO VERDE EMDAGRO 10º44'37" 38º03'12" 1998 O 14 LADEIRA DO TANQUINHO POÇO VERDE EMDAGRO 10º54'09" 38º12'27" 1999 O 15 LAGOA DO MANDACARU POÇO VERDE EMDAGRO 10º45'53" 38º06'15" 1998 O 16 URUBUZINHO POÇO VERDE EMDAGRO 11º47'48" 38º13'25" 1998 O 17 CIBRAZÉM POÇO VERDE DNOCS 11º42'35" 38º10'33" POÇO VERDE DNOCS 18 01038000 POÇO VERDE 10º43' 38º12' D Abr/37 1990 D 19 POÇO VERDE - DNOCS POÇO VERDE EMDAGRO 20 CANDEIAS TOBIAS BARRETO EMDAGRO 11º08'52" 37º53'08" O 21 FAZ.GARAPA TOBIAS BARRETO EMDAGRO 10º52'57" 38º07'10" O 22 LAGOA DA PORTA TOBIAS BARRETO EMDAGRO 11º10'51" 38º00'10" O 23 MONTES COELHOS TOBIAS BARRETO EMDAGRO 10º58'58" 38º09'36 O 24 PILÕES TOBIAS BARRETO EMDAGRO 11º00'20" 38º06'03" O 25 POÇO DA CLARA TOBIAS BARRETO EMDAGRO 10º54'35" 38º08'51" 26 PROJETO JABIBERI TOBIAS BARRETO COHIDRO 11º03'43 37º55'46" 1992 O 01038001 SAMAMBAIA (IGREJA NOVA) TOBIAS BARRETO COHIDRO 10º55'22" 38º03'10" Jan/63 O EMDAGRO 10º57'13" 38º06'45" 27 28 29 30 SUTERO 01138000 TOBIAS BARRETO TOBIAS BARRETO - ESCR. 31 01137003 TOMAR DO GERU JAQUEIRA (2) 32 Situação: O - Operação D - Desativado Fonte: Cunha, 2001 TOBIAS BARRETO D TOBIAS BARRETO DNOCS TOBIAS BARRETO EMDAGRO 11º11' 38º00' TOMAR DO GERU TOMAR DO GERU NL - Não Localizado EMDAGRO 11º22'31" 37º50'23" EMDAGRO NV -Não Vistoriado O O Ago/13 Jan/82 D D Fev/63 O D 154 ANEXO F Inventário de estações fluviométricas da bacia hidrográfica do Rio Real Item Código Nome da Estação Curso d'Água Área Dreng. (Km 2) Entidade Latit. Longit. Início Final Situação 1 50290000 CACHOEIRA DO ITANHI REAL 4320 ANEEL 11º32'29" 37º34'16" O 2 50250000 FAZ. TOURAO REAL 2895 ANEEL 11º11'34" 37º58'27" Dez 77 O Situação: O - em Operação D - Desativado Fonte: Cunha, 2001 NL - Não Localizado NV - Não Vistoriado 155 ANEXO G Inventário dos pontos de medição de descarga instantânea – Bacia Hidrográfica do Rio Real Item Nome da Estação Curso d'Água Entidade 1 COV-01A COVA COHIDRO Fev/96 M ar/96 D/NV 2 ITA-01A ITAM IRIM COHIDRO Fev/96 M ar/96 D/NV 3 CAP DESO FAZ. BOA HORA (DESO 05) ITAM IRIM DESO 11º28'54" 37º39'50" 4 BARR. PROJ. JABIBERI JABIBERI COHIDRO 11º08'00" 37º57'57" 5 BARR.PROJ.JABIBERI (JAB-01A) JABIBERI COHIDRO 11º08'02" 37º58'04" Set/94 M ar/96 D 6 CAP.DESO INDIAROBA (DESO 06) PARIPE DESO 11º30'23" 37º31'43" O 7 BR-101 CRISTINÁPOLIS (DESO 01) REAL DESO 11º34'03" 37º40'27" O 8 CACHOEIRA DO ITANHI (DESO 03) REAL DESO 11º33'05" 37º34'50" O 9 FAZ. CRUZEIRO (DESO 02) REAL DESO 11º32'27" 37º42'09" O 10 REAL (REA 01-A) REAL COHIDRO 11º11'06" 37º00'42" 1996 D 11 BR-101 (REA 02-A) REAL COHIDRO 11º31'09" 37º47'58" 1996 D 12 CAP DESO CRISTINÁPOLIS (DESO 04) RIACHO BREJO O - em Operação Situação : DESO D - Desativado 11º29'47" 37º42'44" O NL - Não Localizado NV - Não Vistoriado Fonte: Cunha, 2001 Latit. Longit. Início Final Situação 1996 D D 156 ANEXO H Vazões médias mensais observadas no posto Fazenda Tourão-50250000 – (1978-1999) Item Nome da Estação Curso d'Água Entidade Latit. Longit. Início Final Situação 1 COV-01A COVA COHIDRO Fev/96 M ar/96 D/NV 2 ITA-01A ITAM IRIM COHIDRO Fev/96 M ar/96 D/NV 3 CAP DESO FAZ. BOA HORA (DESO 05) ITAM IRIM DESO 11º28'54" 37º39'50" 4 BARR. PROJ. JABIBERI JABIBERI COHIDRO 11º08'00" 37º57'57" 5 BARR.PROJ.JABIBERI (JAB-01A) JABIBERI COHIDRO 11º08'02" 37º58'04" Set/94 M ar/96 D 6 CAP.DESO INDIAROBA (DESO 06) PARIPE DESO 11º30'23" 37º31'43" O 7 BR-101 CRISTINÁPOLIS (DESO 01) REAL DESO 11º34'03" 37º40'27" O 8 CACHOEIRA DO ITANHI (DESO 03) REAL DESO 11º33'05" 37º34'50" O 9 FAZ. CRUZEIRO (DESO 02) REAL DESO 11º32'27" 37º42'09" O 10 REAL (REA 01-A) REAL COHIDRO 11º11'06" 37º00'42" 1996 D 11 BR-101 (REA 02-A) REAL COHIDRO 11º31'09" 37º47'58" 1996 D 12 CAP DESO CRISTINÁPOLIS (DESO 04) RIACHO BREJO O - em Operação Situação : DESO D - Desativado 11º29'47" 37º42'44" O NL - Não Localizado NV - Não Vistoriado 1996 D Fonte: Cunha, 2001 Gráfico da vazão média mensal no posto Fazenda Tourão - (1978-1999) Q (m3/s) Vazões médias mensais x tempo 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 7.8 6 5.2 4.4 3.4 1.7 2.6 2 0.8 jan f ev 0.8 mar abr mai jun jul meses Fonte: Cunha, 2001 ago set out D 0.4 nov 0.9 dez 157 ANEXO I Vazões médias mensais observadas no posto Cachoeira do Itanhi-50290000 (1965-1985) Ano Jan 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 Média Fev Mar Abr Mai 7.6 5.5 14.9 2.7 2.9 3.8 5.5 0.8 2.1 2.8 4.3 4.8 4.8 2.7 7.2 1.5 1.2 1.9 0.6 0.6 3 0.4 3.4 2 9.6 4.2 7.6 2.6 69.6 1.2 1.1 2.7 0.4 4.2 8.3 0.8 6.9 4.3 6.1 4.2 30 2.4 6.5 38 0.7 2.1 3 2.7 7.9 Jun Jul Ago Set 58.7 57 30.4 2.6 28.2 23.9 14.7 4.6 3.4 4.9 5.6 4.1 2.3 2.1 5.7 16 65.9 41.3 3.8 8.9 53.8 4.4 3.3 4.4 8.3 5.4 4.6 2.5 33.7 8.8 42.7 3 5 6.5 3.9 2.6 2.6 13 1.7 14.8 36 55 2.1 2 2.7 1.6 18.6 14.6 5.6 6.4 7 7.5 1.9 18.8 9.4 8.1 15 20 96 17 3.9 50 72 5.6 2.8 6.1 9.8 1.7 7.8 30.7 64 12.3 26 17.2 36.7 21.3 101 5.3 25.9 22.4 15.8 7.9 5.7 54.6 3.6 11.2 56.7 27.9 12.1 51.1 39.8 92.3 4.4 28.3 30.2 12.9 12 4.8 13.1 6.2 8.8 26.6 19.3 Out 1.1 19.7 5.8 6.1 24.9 8.4 4.9 1.7 2.7 1.2 8.4 1.2 1.6 10.2 5.9 Nov Dez 2.9 2.4 5.2 2.7 2 2.3 4.5 3.3 3.8 15 4.3 5.1 3.7 2.5 3.3 4.5 1.4 2.1 1.1 1.8 0.8 1.6 2.6 3.7 5.7 3.6 7.7 5.1 12.9 1.5 1.5 1.6 1.8 0.8 3.7 3.7 Fonte: Cunha, 2001 Gráfico das vazões médias mensais no posto Cachoeira do Itanhi (1965– 1985) Vazões médias mensais x tempo 30 27.9 25.5 Q (m3/s) 25 26.6 20 19.3 15 12.3 10 8.3 5 10.2 7.9 5.9 3 3.7 3.7 0 jan f ev mar abr mai jun jul meses Fonte: Cunha, 2001 ago set out nov dez