NOTA ESPECIAL
ABMT- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MEDICINA DO TRABALHO
FUNDADA EM14/12/1944 . DECLARADA DE UTILIDADE PÚBLICA .
DECRETO 40162, DE 10/10/1955 DO GOVERNO FEDERAL.
LEI MUNICIPAL 892, DE 12/08/1958 DO RIO DE JANEIRO
ANO XL N° 2 - 2o SEMESTRE / 2014
sa
No s r i n a
t
u
Do
“A redução, neutralização e controle dos riscos inerentes ao trabalho são condições
fundamentais para garantir a qualidade do trabalho e do ambiente, a preservação da
vida dos trabalhadores e essencial para o desenvolvimento sustentado da nação”.
Aconteceu
Congresso Comemorativo dos 70 anos da ABMT e 21ª. Jornada de
Atualização do Médico do Trabalho ABMT/ Immunitá
O ano de 2014 foi um ano
especial, pois comemoramos
os 70 anos da ABMT, com
muitos eventos acontecendo
em paralelo.
Leia nas páginas de 5 a 7,
o que aconteceu e não
deixem de acessar a nossa
página www.abmt.org.br/
70anos..
Agenda
Nossa programação científica de 2015 será iniciada em 27 de março, no evento de Educação Continuada da ABMT com o CREMERJ, que abordará o tema das "Recentes Mudanças Na Legislação Trabalhista, Previdenciária e do CONTRAN".
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Dr. Daphnis
Uma História de dedicação e respeito
Dando sequência às comemorações dos 70 anos da ABMT, o NOTA ESPECIAL NE, continua a entrevista com Dr. Daphnis, pois, ainda há detalhes importantes do
papel da ABMT. na evolução da formação especializada do Médico do Trabalho.
Nessa 2ª parte, vamos focar a sua entrada na Petrobras, quando desenvolveu e
formalizou pioneiramente o Programa de Assistência Medica Suplementar - AMS; e
mais recentemente o Programa de Complementação das Aposentadorias - Petros (Fundação Petrobras de Seguridade Social). Leia na íntegra a matéria nas páginas de 8 a 12.
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A ABMT deseja a todos um Feliz 2015!
Conversando com você
Uma jornada da vida
Expediente
Boletim de Divulgação da Associação Brasileira
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ANO XL N° 2/14
C
omo mensagem para trilhar os
caminhos de um novo tempo,
lanço um desafio aos meus caros amigos e pacientes leitores: "Em 2015
proceda com inteligência". O objetivo é leválos a raciocinar sobre a visão que cada um
tem da sua maneira de viver o dia-a-dia.
Na realidade a mensagem vai mais
além, na medida em que se verifica não se
tratar somente de ver e perceber os fatos
de nossa vida, como se estivessem
projetadas em uma tela acontecendo em
um dado momento, mas, também, como
nos colocamos em face da necessidade
de buscar um novo estilo de vida, onde o
processo de valorização da saúde e do
modo de viver ocupe um lugar de destaque.
O problema central será a sensibilidade das pessoas para enxergar e perceber
as conexões do modo de viver, das nossas
ações, atos e hábitos com os conceitos que
a observação e a pesquisa cientifica provam ser agressivas ao organismo humano.
São bem conhecidos alguns "cavaleiros do apocalipse" contra a saúde: o fumo,
álcool, obesidade, sedentarismo ou atividades em excesso, depressão e alguns
outros menos em voga, que com desusada frequência aparecem diariamente nas
paginas da imprensa e nos programas de
televisão. Apesar de todo esse aparato
esclarecedor há uma espécie de entorpecimento, de preguiça para tomada de uma
atitude firme por parte de cada um, em seu
benefício.
Na realidade, muitas pessoas tentam
enveredar por outro caminho, por ainda
estarem presas ao velho arcabouço
comportamental que vem de muitos anos
atrás como uma espécie de herança, pelo
qual transferem aos outros a responsabilidade pela solução dos problemas criados
por seus maus hábitos e costumes.
É o que se dá no caso do relacionamento com os médicos do qual esperam,
quando já doentes, a solução de problemas por elas mesmas criados por um
modo de viver insensato, como se esses
profissionais tivessem "o dom" de curar
males que se arrastaram por anos até se
tornarem crônicos. Em verdade a higidês
pessoal depende de um estilo de vida pensado com inteligência, de força de vontade
para substituir condições de vida nocivas
por práticas mais naturais e saudáveis.
Todos sabem que a palavra medicina
vem do grego medeor, que significa aquele que cuida. A medicina, juridicamente,
não tem compromisso com os resultados,
a ela não se pode atribuir o compromisso
com a cura. Apenas existe o compromisso de cuidados. Se o médico não tem condições de curar a pessoa, deve estar ao
seu lado, cuidando dela ou apoiando-a
psicologicamente.
A equação que temos de resolver é a
necessidade de cada vez maior empenho
de atualizar nosso conhecimento sobre os
fatos vitais. Quando as pessoas se capacitarem dessa necessidade - mudar alguns hábitos e alguns aspectos do seu
modo de viver negativo, segundo o que a
lógica da saúde lhes dita, ou atendendo
os conselhos vindos da experiência de
quem os pode dar, você modifica e recria a você mesmo. Quanto melhor entendermos essa realidade, mais claramente enxergarmos as formas de dar significado à
saúde em nossas vidas e em nossas
ações no dia-a-dia, haverá um modo de
vida bem mais equilibrado e alegre.
Cada ato nosso, por mais simples que
seja, passa a ser vivenciado com uma forte consciência de que ele está afetando a
minha existência e a realização de todos
os meus planos, até os mais sutis.
Esse é o desafio para todos nós. Para
todas as pessoas. Ele exige uma grande
abertura que só é possível quando se abre
mão dos arcabouços mentais obsoletos,
nossas premissas, nossas teorias, nossa própria forma de ver a realidade e se
dispuzer a considerar uma outra forma de
entender o mundo em uma fantástica e
veloz mudança que está envolvendo a própria natureza e a própria vida. O maior desafio está em mudar a maneira de pensar...
Não é uma tarefa fácil. Não será algo
rápido para muitos, principalmente os
mais idosos. Mas se pensarmos bem
existe maior desafio do que entender
como funciona nosso organismo e como
é a base de uma vida alegre e prazerosa!
Em verdade esta será uma grande jornada em busca das verdades que nos fazem bem. Humildemente vamos pensar
numa "transição", num estado permanente
de busca, de descoberta, sempre procurando aprender, desaprender e
reaprender.
Esse é o convite para fazermos juntos!
Desejamos a todos nossos associados, colegas e amigos que neste
ano de 2015 sejam felizes, mas não se descuidem da saúde e de seu bem
estar!
NOTA ESPECIAL
ABMT Homenageia
André Lopes Netto
Arlindo Gomes
1924-2014
1949-2014
Dr. André Lopes Netto. Nasceu no Rio Grande
do Sul, em 24 de julho de 1924, e faleceu no dia 20
de maio de 2014. Engenheiro Militar e na época
Coronel do Exército.
Dentre outras atividades, ele foi o idealizador e
membro fundador da Sociedade Brasileira de Engenharia de Segurança -SOBES, presidiu-a de 1992
a 2006.
No quadro de associados da ABMT, recebeu o
título de EMÉRITO por sua qualificação científica
e intelectual, postura moral e pelo reconhecido desprendimento e elevado trabalho profissional, em prol
do engrandecimento da Medicina do Trabalho.
Transcrevemos abaixo um texto do Dr. Daphinis, proferido por ocasião da
morte do amigo.
Sobretudo inteligência
Difícil dizer algumas palavras sobre
o André sem o envolvimento emocional
da amizade e de respeitosa camaradagem.
Conheço o André há mais de 5 décadas sempre nos consideramos amigos. A dupla condição de ser seu parceiro e colaborador em inúmeros trabalhos já bastaria, pela convivência, para
caracteriza-lo como um bom cidadão.
Mas ele é mais do que isso. Talvez eu
deva empregar aqui uma expressão que,
embora menos corrente hoje do que
quando o conheci, nada perdeu do seu
significado: o Engenheiro André é um
homem de bem.
Ao lado de suas demais qualidades
e pairando acima delas, ao mesmo tempo em que lhe serve de sólida base, está
seu caráter: íntegro, firme, responsável,
imune ao incorreto; uma espécie de
marca registrada sempre nítida, tanto
nos grandes eventos como nos acontecimentos do dia-a-dia.
Passando do caráter ao temperamento, a tonica não se altera. Firme nas
suas convicções, afirmativo como as
pessoas que sabem o que querem e
para onde vão, não é radical nem muito
menos obsessivo.
Seguro na defesa de seu ponto-devista é um esgrimista sagaz e argumentador atilado nos debates e nos entendimentos dos quais participa.
Nossas eventuais divergências
conceituais, ditadas pela diferença de
formação acadêmica, já se tornaram tradicionais pelo acalorado debate em público onde é claro preciso estar atento
à vivacidade de seu envolvimento e a cerrada lógica de seu raciocínio. Mas to-
dos sabem que não é preciso preocuparse com o desfecho, pelo equilíbrio de
suas reações e a lisura de sua atitude
acima de tudo pelo mútuo respeito que
temos um pelo outro.
Discreto, contido, reservado quando
o ambiente não lhe é de plena familiaridade, se impacienta ante a fraqueza do
interlocutor na reserva natural que o
despreparo costuma provocar naqueles
que dominam o assunto.
Não é incomum vê-lo sorrateiramente
deixar o auditório e ir "lá fora" apreciar o
seu cachimbo, quando o expositor não é
original, convincente ou seguro. Todavia
sua atitude discreta não provoca mal estar ou vai além do educado constrangimento.
Com um pouco mais de audácia de
minha parte e saindo do terreno profissional para o pessoal, pelo que posso testemunhar, o que surge é uma pessoa generosa, de bom coração, emocionalmente envolvido nos problemas do trabalhador brasileiro, mas também preocupado
com seus colegas de profissão e discípulos.
Somos amigos e tenho especial vaidade em mencionar que era do corpo
docente da Escola de Saúde Pública,
quando André ali esteve, como aluno especializando-se no que já constituía sua
principal preocupação, mesmo em sua
brilhante carreira militar, a busca de aprimorar seus conhecimento em segurança do trabalho e na preservação da vida
das pessoas em suas ocupações, que
pressentia com lúcida sensibilidade e privilegiada inteligência.
Apaixonado por esse problema sempre se dedicou com rara tenacidade ao
Também lamentamos informar que,
infelizmente, um pouco antes do nosso
Congresso de 70 anos, o nosso ex-Presidente Dr. Arlindo Gomes - 1° a ter
mandato trianual (2001/2004), médico do
trabalho, faleceu no dia 03/12/2014.
Nós da ABMT estamos de luto pelo
amigo e médico que foi exemplo de dedicação ao trabalho e sempre disposto
a contribuir para o conhecimento e a
melhoria das condições de trabalho.
Na oportunidade, prestamos nossas
condolências e solidariedade aos familiares.
estudo e a interpretação precisa dos atos
legais nesse campo especializado, ao
mesmo tempo em que promove junto às
empresas para as quais presta sua colaboração, pertinaz campanhas e medidas de prevenção dos infortúnios do trabalho e promoção de programas que visam melhores condições de salubridade
ambiental.
Hoje, mais do que antes, não há acontecimento ou situação, no campo da segurança do trabalho, em que ao se fazer
sua análise, não esteja presente a figura
do Eng° André, mostrando caminhos não
vislumbrados imediatamente pelos demais profissionais do fato, sempre por
meio do detalhe fundamental, do aspecto inusitado, em princípio insuspeitado,
onde se oculta a possibilidade de solução.
Esse seu comportamento é usual dentro da especialidade, mas habitualmente assume a liderança das questões de
interesse dos engenheiros de segurança principalmente no que se refere à defesa da competência profissional e do
comportamento ético.
No ensejo dessa homenagem de reconhecimento que seus colegas e amigos lhe prestam é muito importante para
mim dizer como eu lhe vejo. Isso que
quando comecei a escrever parecia difícil, não foi impossível dado os seus
predicados pessoais e intelectuais.
NOTA ESPECIAL
ANO XL N° 2/14
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ABMT Eventos
Quem foi Ramazzini?
Estimados colegas, dia 5 de novembro de 2014, marca os 300 anos da morte
de Bernandino Ramazzini, na cidade de
Pádua, na Itália, aos 81 anos de vida.
Foi médico de grande conhecimento nas
áreas de medicina geral, clínica médica, epidemiologia, saúde pública, medicina do trabalho, meteorologia, filosofia, história, letras e poesia.
Um sábio que se mantem
atual hoje.
Na Medicina do Trabalho
contribuiu ao sugerir que se
incluísse na anamnese a pergunta "qual seu ofício?". Também sistematizou o estudo de
52 ocupações no livro "De
Morbis Artificum Diatriba",
traduzido para o português
com o nome de "As Doenças
dos Trabalhadores" pelo médico Dr.
Raimundo Estrela, que foi membro e diretor da ABMT. No livro, que é a base
conceitual da Medicina do Trabalho,
correlaciona os riscos à saúde aos produtos químicos, poeira, metais,
sedentarismo, clima e outros agentes.
No Congresso Comemorativo dos
70 anos da ABMT, celebraremos também esta data, em homenagem a
Ramazzino
Ramazzini também foi precursor da
Saúde Ambiental e do uso de um derivado do quinino no tratamento da Malária. Se graduou em Medicina em
Parma e trabalhou como professor nas
Universidades de Pádua e Módena. Ao
longo da vida pronunciou 16 conferências, escreveu 42 trabalhos científicos.
Ramazzini é, portanto um padrão a
ser seguido, devido a sua atualidade, visão sistêmica, contribuição científica, organização do raciocínio e da prática clínica.
Por todas essas razões, hoje
enaltecemos a sua vida profícua, mesmo na data de sua morte, significando
que para nós ele ainda está vivo em
nossos corações e mentes.
Sabemos que os Médicos do Trabalho são continuidade de Ramazzini.
primeira fase de sua vida profissional,
Ramazzini teria também trabalhado alguns anos nas comunidades de Canino
e de Marta, na província de Viterbo.
Consta que Ramazzini, durante seus
primeiros anos de prática profissional,
teria então adoecido, aparentemente por
malária-quartã, com crises de icterícia,
o que o forçou a retornar à casa de seus
pais, em Carpi.
Ramazzini foi precursor no uso dos
sais de quinino no tratamento de malária. Porém sua mais importante contribuição à medicina foi o trabalho sobre
doenças ocupacionais chamado De
Morbis Artificum Diatriba (Doenças do
Trabalho) que relacionava os riscos à
saúde ocasionados por produtos químicos, poeiras e gases, metais e outros
agentes encontrados em contato com
os trabalhadores em 52 ocupações. Este
foi um dos trabalhos pioneiros e base
da medicina ocupacional, que desempenhou um papel fundamental em seu
desenvolvimento. Ele trabalhou como
professor de medicina na Universidade
de Pádua desde 1700 até sua morte.
Ramazzini alertava que: "o médico
que vai atender a um paciente operário
não deve se limitar a pôr a mão no pulso, com pressa. Assim que chegar, sem
informar-se de suas condições de vida
e de trabalho; não delibere de pé sobre
o que convém ou não convém fazer,
como se não jogasse com a vida humana. Deve sentar-se, com a dignidade de
um juiz, ainda que não seja em cadeira
dourada, como em casa de magnatas;
sente-se mesmo num banco, examine o
paciente com fisionomia alegre e observe detidamente o que ele necessita dos
seus conselhos médicos e dos seus cuidados preciosos". Os passos de abordagem utilizados e ensinados por
Ramazzini seguem-se pelas visitas ao
local de trabalho e pelas entrevistas com
trabalhadores. Aliás, como antes visto,
foi o impacto da observação do trabalho e a da conversa com o trabalhador
que levou Ramazzini a se dedicar ao
tema das doenças dos trabalhadores,
como o fez.
História
Bernardino Ramazzini (4 de outubro
de 1633, Carpi - 5 de novembro de 1714,
Pádua) .
Foi um médico italiano. Considerado o Pai da Medicina do Trabalho.
Ramazzini desenvolveu sua formação escolar básica em escola jesuítica
da mesma cidade onde nasceu, indo aos
19 anos para a Universidade de Parma,
a fim de completar sua formação em
Filosofia. Cursou posteriormente Medicina na mesma universidade, onde graduou-se em 21 de fevereiro de 1659,
portanto com pouco mais de 25 anos.
Cabe lembrar que na Itália, desde o século XIII, os estudos filosóficos de três
anos de duração antecediam, obrigatoriamente, a formação acadêmica e prática do médico.
Sentindo a necessidade de prosseguir seus estudos e ampliar sua experiência prática, Ramazzini fixou-se por
alguns anos em Roma, onde, acompanhado de seu mestre Antonio Maria
Rossi, trabalhou em diversos hospitais
da cidade. Afirmam alguns que, nesta
Em 4 de outubro celebramos o dia da Medicina do Trabalho, em homenagem ao nascimento de Ramazzini
4
ANO XL N° 2/14
NOTA ESPECIAL
ABMT Eventos
Aconteceu
Congresso Comemorativo dos
70 anos da ABMT e 21ª. Jornada de Atualização do Médico
do Trabalho ABMT/ Immunitá
Foi realizado de 11 a 14 de dezembro/ 2014 o Congresso comemorativo dos 70 anos da ABMT, 300 anos
de falecimento de Ramazzini e 20 anos do PCMSO. E
também o nosso já tradicional Encontro: a 21ª. Jornada de Atualização da ABMT e Immunitá, no Centro de
Convenções do Colégio Brasileiro de Cirurgiões.
Para celebrar os 70 anos de fundação da Associação Brasileira de
Medicina do Trabalho - ABMT, foi realizado no Centro de Convenções do
Colégio Brasileiro de Cirurgiões, um
Congresso Comemorativo cujo tema
foi "Celebrando as Conquistas e
Construindo o Futuro", realizado durante três dias e antecedido por um
dia de cursos pré-congresso.
Nos dois dias de programação científica, foram realizadas 9 conferências e 13 Mesas Redondas que contaram com 41 palestrantes, vindos do
Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro,
Minas Gerais, Goiás e Brasília.
Ocorreram ainda dois eventos paralelos, a 1º Jornada de Médicos Residentes em Medicina do Trabalho,
coordenado pelas médicas Nadia El
Kadi - RJ, Flávia Souza e Silva
Almeida - SP e Laura Campello - RJ,
com a participação de colegas residentes do Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia e Minas Gerais e a 21ª Jornada de Atualização do médico do Trabalho
ABMT/Immunità que tratou dos temas de doenças emergentes e novidades em vacinação, com os médicos Alberto Lemos e Débora
Scholnik.
Como parte das comemorações
foi montada a exposição "Contribuição de Bernardino Ramazzini à Medicina do Trabalho" cedida pela
Fundacentro e que muitos tiveram a
oportunidade de visitar e constatar a importância e atualidade dos ensinamentos
do grande mestre e mentor, nos 300 anos
de seu falecimento.
Os trabalhos científicos dos participantes foram apresentados oralmente em seções de temas livre ou expostos como
pôsteres, sendo avaliados pela Comissão
Cientifica por tres dias.
No quarto dia foi realizada a prova de
título de especialista em Medicina do Trabalho no Centro de Convenções
SulAmérica, na Cidade Nova, com mais de
350 inscritos.
Como principal legado, a atual diretoria da ABMT decidiu recuperar a história da Associação e produziu um livro, um documentário em vídeo, do qual
participaram com depoimento, todos os
presidentes vivos e criou a Editora
ABMT.
Da solenidade de abertura participaram o Presidente da ANAMT, Dr. Zuher
Handar e representantes de Academias de Medicina, Associações de Especialidades Médicas, da SOBES, dos
Sindicatos e Conselhos Regionais de
Medicina e de Engenharia e familiares
de ex-presidentes falecidos.
NOTA ESPECIAL
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ABMT Eventos
Continuação
Congresso Comemorativo dos 70 anos da ABMT e 21ª. Jornada de
Atualização do Médico do Trabalho ABMT/ Immunitá
Também foi realizado o lançamento oficial do Selo Comemorativo dos 70
Anos da ABMT pela da ECT, com a cerimônia de obliteração.
A Conferência de abertura "O Cuidado Humanizado", foi proferida pelo Acadêmico da ANM e Professor da UFRJ Padre Aníbal Lopes, mantendo a tradição
da ABMT de abrir seus congressos com palestra de um filósofo ou humanista,
versando sobre um tema que não é exclusivamente técnico.
A seguir, o Médico Zuher Handar - Presidente da ANAMT, falou sobre "Construindo o Futuro da Medicina do Trabalho".
No mesmo dia, o Médico Airton Marinho do Ministério do Trabalho em Minas
Gerais e coordenador da Comissão de revisão da NR-I, apresentou a "A Nova
NR-1", sendo seguido pelo Médico João Anastácio de Goiás que apresentou a
conferência "A NR-4 e a obrigatoriedade da Especialidade de Medicina do Trabalho".
Também foram realizadas as seguintes Mesas Redondas:
Mesa Redonda 1 - "Risco
Psicossocial - O que é e como avaliálo", com os palestrantes Méd. Miguel
Chalub - RJ e Méd. Waldoneli Antonio
de Oliveira - RJ.
Mesa Redonda 2 - "Reabilitação e
Readaptação Profissional", com Méd.
Mauro Pena - ABMR - RJ e Med. Nadja
Ferreira ABMT - RJ.
Mesa Redonda 3 - "Monitoramento
Biológico de Trabalhadores", com Med.
Tarcísio Buschinelli - SP, Med. Basildes
Chaves - RJ e Med. Ricardo Garcia
Duarte - RJ.
Mesa Redonda 4 - "Contratos de
Trabalho do Expatriado e Impatriado.
Planejamento e documento",
palestrantes: Adv. Aline Mendes - RJ,
Méd. Cristiano Mota - RJ e Méd. Alice
Dadorian - MG.
O terceiro dia foi iniciado com a Conferência 4 - "Saúde Ocupacional Integral, Integrada e com a Participação dos
Trabalhadores", do Médico Eduardo
Bahia Santiago - RJ, seguido da Conferência 5 - "Trabalhadores Agrícolas em
Plantações de Cana de Açúcar - Novos
Desafios na Vigilância Médica", pela
Médica Alice Nobre da British Petroleum
do Reino Unido.
Mantendo o altíssimo nível técnico
científico do dia anterior, foram realizadas as seguintes Mesas Redondas:
Mesa Redonda 5 - "Emergência Ampliada - Eu Estive Lá".
- Atendimento Médico às Vítimas da
Boite Kiss em Santa Maria RS Med.
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ANO XL N° 2/14
Claudio Azevedo RS com participação
da Central de Regulação de Urgências
Médicas com a Méd. Sandra Lümer RJ.
Mesa redonda 6 - "Avaliação da Aptidão para o Trabalho Off-Shore",
palestrantes Méd. Mauricio Souza - RJ,
Trabalho da Pessoa com Deficiência",
palestrantes: Médica Isabel Maior - RJ,
Profa. Ethel Rosenfeld - RJ e Méd. Márcia Bandini - SP.
Mesa Redonda 9 - "Uso indevido e
Abusivo de Substâncias", palestrantes:
Méd. Joaquim Neto - RJ, Méd. Mauri-
Méd. Renato Kanto - RJ, Cdt Álvaro
Diniz de Carvalho - RJ e coordenado pelo
Méd. Sérgio Cruz - RJ.
Mesa Redonda 7 - "Segurança e
Saúde no Serviço Público" palestrantes
Méd. Rosylane Rocha e Méd. Laura
Campelo.
Mesa Redonda 8 - "A Inclusão pelo
cio Souza - RJ e AS Valéria Mello Barbosa - RJ.
Mesa Redonda 10 - "Integração
PCMSO/PPRA", palestrantes:Méd
Elizabeth Schiavo - RJ, Eng. Marlise
Matozinho Vasconcelos - Vice Pres.
do CREA - SOBES e Méd. Tarcisio
Buschinelli - SP.
NOTA ESPECIAL
ABMT Eventos
Continuação
Congresso Comemorativo dos 70 anos da ABMT e 21ª. Jornada de
Atualização do Médico do Trabalho ABMT/ Immunitá
Mesa Redonda 11 - "Análise de Risco Ambiental",
palestrantes: Eng. Alexandre Mosca - MSc e PhD -RJ e Eng.
Marlise Matozinho Vasconcelos - Vice Pres. Do CREA SOBES
Mesa Redonda 12 - "Pericia Médica, Ética e Medicina do
Trabalho", palestrantes: Méd. Nadja Sousa Ferreira - RJ e Med.
Rosylane Rocha - DF
Mesa Redonda 13 - "Vigilância Sanitária e Inspeções aos
locais de Trabalho", palestrantes: Méd. Távira Sucupira e Méd
Claudia Mello - Vigilância Sanitária - RJ.
No último dia, foi realizada pela ANAMT a Prova de Título
de Especialista em Medicina do Trabalho - ANAMT/AMB.
Completando as comemorações, à noite, foi realizada a
Celebração Solene dos 70 anos da ABMT com o Lançamento do Livro Comemorativo dos 70 anos da ABMT - do Médico
Paulo Rebelo, Diretor Científico da Associação e Posfácio da
Medica Nadja Ferreira atual Presidente, seguido das conferências "A Importância da ABMT para a Medicina do Trabalho" pelo Presidente de Honra - Méd. Daphnis Ferreira Souto
e "A Contribuição de Ramazzini - 300 anos" pelo Prof. Rene
Mendes.
A seguir foi realizada a entrega dos prêmios de melhores trabalhos com apresentação oral e pôsteres e o reconhecimento
ao Médico Claudio Azevedo, responsável pelo atendimento médico às vitimas da Boite Kiss em Santa Maria RS, representando os médicos que salvam vidas. À Família do Dr. Carlos Alberto Fontenelle Moreira, que morreu no atendimento às vítimas do
acidente na Refinaria de São José dos Campos, representado por sua esposa Sandra e filhos como símbolo do médico que dá
a vida pelo paciente e ao Médico Daphnis Ferreira Souto pelo exemplo do médico que dedica a vida ao ensino da medicina do
trabalho. Após a cerimônia foi oferecido um coquetel de congraçamento.
ERRATA
A ABMT reconhece o lamentável erro
ocorrido no número 3 de 2013 do Nota
Especial.
Naquela edição, foi reproduzido, sem
a permissão do autor, o artigo "CONHECIMENTO JURÍDICO-LEGISLATIVO QUE ENVOLVE O MÉDICO DO TRABALHO", de autoria de SAULO CERQUEIRA DE AGUIAR
SOARES que foi identificado equivocadamente como Especialista em Medicina do
Trabalho. O autor é aluno de Pós-Graduação em Medicina do Trabalho. O autor é
Especialista em Direito Civil, com ênfase
em responsabilidade civil médica.
Solicitamos desculpas ao autor pela
falha, agradecemos sua compreensão em
ter autorizado a publicação do artigo e reafirmamos nosso compromisso de respeitar os direitos de autor e citarmos sempre as nossas fontes.
NOTA ESPECIAL
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ABMT Entrevista
Dr. Daphnis
Uma História de dedicação e respeito
Dando sequência às comemorações dos 70 anos da ABMT, o
NOTA ESPECIAL - NE, continua a entrevista com Dr. Daphnis,
pois, ainda há detalhes importantes do papel da ABMT na evolução
da formação especializada do Médico do Trabalho.
Nessa 2ª parte, vamos focar o começo de sua vida profissional:
quando foi para uma pequena cidade no interior de S.Paulo, até sua
entrada na Petrobras, quando desenvolveu e formalizou pioneiramente o Programa de Assistência Médica Suplementar - AMS; e mais recentemente o Programa de Complementação das
Aposentadorias - Petros (Fundação Petrobras de Seguridade Social). Além de uma série de iniciativas como o de Assistência Alimentar; o Auxílio Creche; Auxílio Medicamentos e outros mais, dentro da diretriz da empresa dispor de uma orientação geral de Seguridade Social com a participação conjunta da empresa e de todos os demais elementos que a compõem.
NE - O Senhor ressalta, quando
fala nos empregados, a questão da
saúde dos mesmos. Gostaria que
o senhor definisse o que é Saúde?
Segundo a definição dada pela Organização Mundial da Saúde - OMS "Saúde é um estado de completo bem
estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade".
Verifica-se que geralmente
independe do indivíduo estar doente ou
não, é um estado de estar bem em suas
relações, seja com seu trabalho, no
meio em que vive e com as pessoas
que convive. Portanto, um estado de
bem-estar físico e mental. É uma definição um tanto utópica, preferimos resumi-la e simplificá-la, para ser melhor
entendida: "Assim sendo pode-se dizer:
"Saúde como, o equilíbrio entre as nossas funções orgânicas e as condições
do ambiente que nos rodeia".
NE - E a Saúde do trabalhador?
Partindo dessa definição: "Existe
saúde quando o trabalhador se encontra satisfeito com aquilo que faz, está
integrado ao grupo de pessoas que
exerce a mesma atividade, participando da manutenção das condições de
salubridade do ambiente em que está
inserido, como também em equilíbrio
com as condições materiais, econômicas e psicológicas que lhe garante um
modo de vida saudável, incluindo o da
família
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NE - Qual a importância da NR7?
A NR7 - Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional - estabelece uma diretriz para o tratamento a ser
dado à questão da saúde do trabalhador
face ao conteúdo das funções e das
demais obrigações do trabalho, visando
diminuir os acidentes e as demais patologias decorrentes das condições de trabalho.
NE - A Medicina do Trabalho cuida da saúde do trabalhador só quando ele está doente?
Contrariamente ao que a maioria das
pessoas imagina, já dizia Ramazzini, a
medicina do trabalho deve estar em permanente vigilância sobre a saúde dos
trabalhadores, evitando o adoecimento
precoce, contribuindo para sua
longevidade útil, usando preferentemente métodos preventivos. Dentro
desse pensamento, o médico deve promover e estabelecer programas visando a promoção, a manutenção e a recuperação da saúde dos trabalhadores.
Vida Profissional
NE - Porque o senhor se decidiu
pela Medicina do Trabalho?
Comecei a estudar Medicina do Trabalho, influenciado pelos discursos de
Getúlio Vargas. Ele dizia que o futuro
do Brasil estava em desenvolver bons
programas visando a agricultura, a industrialização e ao segmento de petróleo.
NOTA ESPECIAL
Getulio Vargas dizia que elas deveriam ser desenvolvidas equilibradamente
para um futuro promissor para o Brasil.
Os governantes atuais não entendem
essa verdade.
NE - Sua experiência como médico do interior foi proveitosa?
Sim. Procurei aplicar àquela medicina que eu tinha observado, junto à missão médica americana, aplicar lá na
Amazônia ainda como estudante. Dediquei-me muito a isso. Pouco tempo
depois, eu estava entusiasmado e associei-me a dois médicos, que já residiam
na cidade, e os ajudei na construção de
um pequeno e bem montado hospital em
Mococa. Eu era o responsável médico
e permanente plantonista. Formei o primeiro grupo de auxiliares de enfermagem.
Aprendi muito com os trabalhadores
rurais, dado o modo de vida que eles tinham. Nem sempre eles tinham dinheiro para pagar o serviço recebido. Pagavam com sacos de arroz, de feijão, galinhas, frutas. E assim, em contrapartida,
comecei a influenciar sobre os seus
modos de vida - nos fins de semana
quando estava de folga eu ia para uma
fazenda e dava aulas de higiene para o
pessoal, procurando influenciá-los sobre
uma melhor maneira de viver.
NE - Como mencionado na entrevista anterior, o senhor voltou
para o Rio, se especializou em Medicina do Trabalho, entrou no SESP
ABMT Entrevista
Continuação
Dr. Daphnis
Uma História de dedicação e respeito
- Serviço Especial de Saúde Pública?
Sim. Esse órgão prestou relevantes
serviços à saúde pública do país e à
Medicina do Trabalho. Criou diversos
hospitais em cidades ribeirinhas da
Amazônia, Vale do São Francisco e Rio
Doce, participou ativamente nas campanhas de erradicação da varíola, da
hanseníase e outras doenças
transmissíveis nos serviços do SAAE Serviço Autônomo de Água e Esgoto
(ao levar água tratada aos rincões do
nosso imenso Brasil) e na formação de
profissionais de saúde.
A criação do Serviço Especial de
Saúde Pública (SESP) ocorreu durante
a 2ª Guerra Mundial, como
consequência do convênio firmado entre os governos brasileiro e norte-americano durante a Terceira Reunião de
Consulta aos Ministérios das Relações
Exteriores das Repúblicas Americanas,
realizada no Rio de Janeiro em 1942.
O SESP tinha como atribuições centrais, naquele momento, melhorar o saneamento da Amazônia - onde se produzia a borracha e a região do Vale do
Rio Doce, onde se explorava o minério
de ferro, matérias-primas estratégicas
para o esforço de guerra americano,
tendo em vista os altos índices de malária e febre amarela que atingiam os
trabalhadores desta região. Neste acordo a Medicina do Trabalho também foi
contemplada.
NE - E a sua experiência em
Niterói, como foi?
Foi muito boa! A primeira coisa que
fiz foi um inquérito sobre verminose nas
escolas. Mas enquanto o laboratório de
Higiene Industrial, não estava totalmente pronto, fui designado para o recém
criado Centro de Saúde Santa Rosa,
na época veio a grande epidemia de
poliomielite, e o Dr.Sabin ainda não tinha inventando a vacina. Havia a possibilidade de recuperar as crianças com
cirurgias ortopédicas, mudando a ligação muscular. Tinha o Dr. Hernani Silva, que fazia esse procedimento, mas
precisava de um bom hospital. Conseguimos combater a epidemia e para dar
assistências posterior às crianças eu
assumi construir um hospital infantil, juntamente com o arquiteto Orlando
Campofiorito. Entregamos em menos de
um ano o Getulinho - que está lá no Fonseca até hoje. Um hospital só para crianças e que é um motivo de grande orgulho para mim! Esse nome foi dado
atendendo a um pedido de D. Darcy esposa do Presidente Vargas, para homenagear seu filho, que tinha morrido
em um acidente de carro. Esse hospital
tem uma história muito especial. A data
marcada para sua inauguração não
pôde ser cumprida, pois, coincidentemente foi a data do suicídio de Getúlio
Vargas!
NE - O que o senhor aprendeu
nos Estados Unidos e aplicou aqui
quando voltou ?
Eu estava no Serviço Especial de
Saúde Pública- SESP. Um dia recebi
uma mensagem que dizia: "você vai para
os Estados Unidos para estudar Medicina do Trabalho". O governo americano havia oferecido uma bolsa, para fazer o curso completo. Passei lá cerca
de 2 anos. Eu quase fiquei por lá, mas o
Governo insistiu para eu voltar ao Brasil. Era o tempo da guerra fria - Estados Unidos X União Soviética. Para
poder manter a soberania e o poder de
intimidação um aos outros, era preciso
ter elementos fundamentais, ou seja,
armas, conhecimento e capacidade econômica. E principalmente dispor de
matéria prima para manter o esforço de
guerra.
Voltei para o Brasil para iniciar um
movimento de mudança da Medicina do
Trabalho dentro de novos critérios de
prevenção. Continuei trabalhando no laboratório, que passei a dirigir. Foi o primeiro Laboratório de Higiene Industri-
al, construído no Brasil voltado para a
saúde do trabalhador. Como já dito,
os Estados Unidos fizeram três grandes centros de estudos na América do
Sul: um no Peru, para fazer a defesa
do trabalhador contra a agressividade
do chumbo. e o trabalho em alturas pois
as minas se situavam nos Andes. O
chumbo era fundamental ao desenvolvimento nuclear, não tinha possibilidade da bomba atômica avançar sem a
proteção que o chumbo dava, defendendo da radiação. Precisavam também de cobre que era no Chile, que é
o grande produtor desse metal no mundo. Para que cobre? Para transmitir a
energia elétrica em grande distância,
os fios de cobre têm pouca perda de
energia, enquanto que o ferro ou o alumínio tem uma grande perda, até de
50% da energia transmitida. No Brasil
éramos responsáveis pelo ferro, o
manganês e outros metais pesados. A
estrada de ferro que vai de Vitória até
Belo Horizonte, foi construída pelos
Estados Unidos por causa da guerra
fria. Eles precisavam do ferro de Minas Gerais e do cristal de rocha do interior do Brasil, senão não tinha comunicação aeroespacial. Todo sistema
de comunicação tem um cristalzinho
de rocha que é a peça fundamental do
sistema.
Durante o período que chefiei o Laboratório participei do levantamento
sobre as condições de trabalho, abrangendo a maioria das empresas de mais
de 50 trabalhadores no Estado do Rio
e em decorrência vários estudos para
melhorar as condições de trabalho em
diversas grandes empresas como já
mencionei anteriormente.
NOTA ESPECIAL
ANO XL N° 2/14
9
ABMT Entrevista
Continuação
Dr. Daphnis
Uma História de dedicação e respeito
NE - Em 1957 o senhor entrou
para Petrobras, era na ocasião uma
empresa recém-criada (1953), o
senhor precisou criar tudo na atividade médica?
Não. Já existia um incipiente serviço médico, na Bahia. Existia a necessidade de se estabelecer a medicina do
trabalho, nos moldes de outras empresas de petróleo, então tive que fazer
todo o fundamental. Antes da criação
da Petrobras já existia algumas refinarias, como a de Cubatão e da Bahia.
Em 1948, o Presidente da República, na época - Eurico Gaspar Dutra,
enviou ao congresso um ante projeto
que permitia a entrada de capital privado na exploração do petróleo. Não havia empresa nacional com suficientes
recursos financeiros e tecnológicos.
Pensou-se que as multinacionais de petróleo iriam tomar conta de tudo. Aí então, aconteceu a campanha do "Petróleo é nosso", amplo movimento popular
do qual participaram ilustres brasileiros
civis e militares. E eu ainda muito jovem, apoiava essas campanhas também! O movimento foi tão grande que
em 1953 a Petrobras foi criada e ficou
também estabelecido o monopólio.
Nesta época foi contratado para trabalhar na Petrobras Mr. Link (1),
geólogo, trabalhava na Standard Oil. Ele
sabia das coisas, dizia que o petróleo
do Brasil estava no mar! Muitos brasileiros não cofiavam nesses estudos, mas
aplicações posteriores de técnicas mais
avançadas vieram confirmar o que a
geologia indicava e hoje temos o présal.
NE - Como foi desenvolver a
A.M.S - Assistência Médica Supletiva na Petrobras?
No início, começaram imitando o
Banco do Brasil que representava o habitual na época. Seriam utilizados mé-
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ANO XL N° 2/14
dicos generalistas locais de caráter privado na prestação serviços para dar assistência aos empregados e seus familiares. O atendimento em geral era gratuito e precário. A responsabilidade do
pagamento de despesas não estava definida. Predominava em geral a
gratuidade e a falta de critérios. Em
verdade, o que predominava era a maneira como era feito no Conselho Nacional do Petróleo, donde provinha a
Empresa.
Com o desenvolvimento da empresa e aumento de pessoal, a Petrobras
começou a desenvolver serviços médicos próprios nas localidades onde esses empregados moravam. Os médicos
eram remunerados por meios de preços estabelecidos entre as partes e praticamente sem controle
Foi nessa época que cheguei na
Empresa.
Depois de fazer um levantamento
completo sobre as condições dos ambulatórios e das facilidades médicas
oferecidas pelo estado, comecei a construir um planejamento em que pudesse
fazer a transposição do que existia, para
um sistema viável para o interior da
Bahia e da Amazônia, locais onde se
concentrava a maior força de trabalho
da Petrobras, sem criar conflitos ou adversidades de monta. O problema principal foi de se encontrar uma saída de
uma gratuidade total, para um modo de
integrar todos os empregados para contribuir na manutenção de um sistema
provisório para atender sem limitações
todas as necessidades de assistência
médica, foi quando lancei a primeira orientação que denominei "sistema de livre escolha".
Bolei esse sistema de saúde em
1958. Ele é o resultado de uma experimentação de pequeno porte, de uma
outra empresa que eu prestava
consultoria. Transformei no plano da
NOTA ESPECIAL
Petrobras após consultar meu amigo
Pedro Kassab (2) - Presidente da AMB,
que aprovou a iniciativa. Aprovado pela
Diretoria da Petrobras, começou a funcionar em 1960. Sua diretriz principal foi
proporcionar um atendimento médicohospitalar consistente e de qualidade reconhecendo o direito do trabalhador escolher o profissional ou instituição de sua
confiança. Naturalmente obedecido o
princípio de solidariedade entre as partes determinado pela Petrobras, ou seja,
"em todo programa de caráter
assistencial deverá existir a participação
de toda a comunidade de trabalho da
empresa". Essa iniciativa ia de encontro
a um postulado em saúde pública de que
a solução dos problemas no campo da
saúde "deve ser o resultado do esforço
conjugado de toda comunidade". Era um
sistema de reembolso. Posteriormente
ele evoluiu para um plano misto de seguro saúde de auto-gestão no grande risco e de reembolso no pequeno risco.
Sem finalidades comerciais ou de lucro,
ele é o mais completo e "barato" plano
de saúde em vigor no país.
A prestação de serviços pela estrutura de saúde existentes nas cidades é
feita através de tabelas adequadamente
preparadas pelos órgãos de classe, mais
a pesquisa da própria empresa. O funcionamento é através do acreditamento
das instituições ou dos profissionais que
queiram se filiar ao sistema. Esse sistema já completou mais de 50 anos!
Uma empresa da mobilidade da
Petrobras tem que dispor de um plano
ABMT Entrevista
Continuação
Dr. Daphnis
Uma História de dedicação e respeito
com capacidade de atender seus empregados em qualquer ponto do país ou
do exterior, disponibilizando os meios de
saúde com a agilidade, flexibilidade e
com mobilidade, capacitada a dar pronto
atendimento aos seus empregados.
É preciso chamar atenção que o plano se adapta a qualquer realidade seja
no País ou no Exterior.
NE - Esse plano se compara aos
que existem hoje por aí?
Compara sim. A maioria dos planos
que existem hoje teve como base o que
foi criado para a Petrobras. Uma vantagem do plano é que o mesmo não visa
lucro, nem tampouco é pródigo. Visa
benefício para a empresa e para os empregados, por várias razões, sendo a
principal dela, a tranquilidade que traz
para os empregados. Nisso se difere
dos outros planos.
Também foram estudados e estabelecidos outros aspectos da Seguridade
Social, com objetivo de baratear seus
custos tanto para o empregado como
para a empresa, como exemplo temos
o seguro para cobrir custos de medicamentos; auxílio alimentação; auxílio
transporte e outros mais, cada qual com
características próprias.
NE - E o que o senhor me diz da
PETROS?
A PETROS foi o resultado de uma
necessidade sentida pela Petrobras e
seus empregados desde a sua fundação. Esse fato decorria das disfunções
e precariedades do sistema oficial de
previdência social. Algumas iniciativas
foram tentadas para resolver essa situação, mas não ofereciam estruturação
técnica consistente que garantisse sua
aplicação com segurança. Os problemas foram se agravando e já não se
justificava deixar de dar algum tipo de
solução para os mesmos, pois conforme a empresa crescia também aumentava o número de empregados que se
incapacitavam devido às duras condições do trabalho em petróleo ou que se
aposentavam em precárias condições
financeiras.
Foi nessa ocasião que assumi a responsabilidade de estruturar a atividade
médica na Petrobras e com ela veio
também a questão previdenciária. Comecei a estudar esses dois difíceis problemas, sem me fixar em modelos de
outras origens pelas dificuldades de
adaptação às nossas condições culturais e econômicas. Parti para uma fórmula própria que dispusesse de todo
embasamento conceitual e técnico necessário para atender a situação de uma
empresa brasileira, procurando, entretanto, evitar um confronto com o sistema oficial que também passava por um
processo de unificação e de
reestruturação. Tinha que ser economicamente viável para todos os seus participantes. Era importante não se criar
adversidades daí a idéia de uma
suplementação ao sistema governamental, que sem pesar financeiramente sobre os demais contribuintes, garantisse
ao petroleiro ou aos seus dependentes
diretos, manter um padrão de vida digno em seus afastamentos por aposentadorias.
NE - Como senhor se inspirou
para idealizar a Petros?
A Petros é uma Fundação de caráter previdenciário e assistencial criada
para complementar a aposentadoria do
empregado. Complementar seu
provento que passou a fazer jus ao nível do último salário recebido na empresa. Isso com a enormidade que a
empresa já era na época, foi muito difícil, porque isso abrange não só o em-
pregado como também em caso de
morte todo o grupo famíliar oficialmente dependente.
Os engenheiros queriam receber o
salário integral, mas sem o ônus da
contribuição. Como, se não participavam?
Conversei bastante com os empregados até formar uma opinião consistente: sempre que eu ia em alguma unidade, aproveitava a hora de almoço
para conversar com os empregados.
Todos me falavam sobre aposentadoria. Até que um dia levei o assunto à
diretoria, então me permitiram estudar
o assunto.
Eu era médico, não era matemático, nem atuário, nem tão eclético para
enfrentar um tema tão difícil, então
criei um grupo. Entre eles: Ramiro
Tostes, Wolmar Gotschal, Amílcar
Giffoni, Marilia Gaspar de Oliveira,
Fernando Reys de Andrade, Sergio
Piper, Eno Wanke, Aloísio Melo,
Banaiote Gazal, Cosme Urubatan,
Ednéia Machado, Marilia Sampaio,
Marlene Sirnes e outros mais.
Comecei a fornecer literaturas para
leitura e relatórios de pesquisas sobre
o tema, e começamos a trabalhar. O
primeiro trabalho, você nem imagina!
Fizemos um levantamento de todos
funcionários procurando levantar dados referentes ao tema: quanto tempo
estava na Previdência, qual o tempo
de contribuição, família, tamanho da família, se era casado, se tinha companheira, etc.! Era um trabalho confidencial, então eu tinha que dispor de todos
NOTA ESPECIAL
ANO XL N° 2/14
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ABMT Entrevista
Continuação
Dr. Daphnis
Uma História de dedicação e respeito
"Era importante não se
criar adversidades daí a idéia
de uma suplementação ao
sistema governamental, que
sem pesar financeiramente
sobre os demais contribuintes, garantisse ao petroleiro
ou aos seus dependentes diretos, manter um padrão de
vida digno em seus afastamentos por aposentadorias."
os detalhes. Fiz todos os estudos que precisávamos e saí a procura de
um especialista de valor, na área da Atuária. Recebi a recomendação
de um colega Argemiro Dias, para aproveitar um especialista que já
prestava serviços à Petrobras, o professor Rio Nogueira(3), matemático - atuário. Professor catedrático da UFRJ. Eu passava os dados e
ele transformava tudo em fórmulas e cálculos. O Rio Nogueira, grande
matemático, foi um dos responsáveis pela unificação dos institutos de
previdência. Na época eram divididos por categorias, IAPTC, IAPC,
dos Marítimos e etc.
Cada obstáculo vencido aumentava o entusiasmo dos companheiros que faziam parte do grupo! Estruturamos uma instituição para ser
modelo do que se pretendia fazer. Esse estudo foi entregue aos órgãos
superiores da empresa.
Na época, nos Estados Unidos e Europa, já existiam os chamados
fundos de pensão - que eram administrados pela empresa e faziam
parte de sua estrutura. Mas não era a mesma coisa que pretendíamos,
face à legislação brasileira. Esse trabalho depois de passar pelo julgamento da diretoria da Petrobras, de diversos ministros do governo e
aprovação de Roberto Campos - ministro do planejamento e Delfim
Neto - ministro da fazenda e de outros órgãos da Administração Pública, levou 9 anos!. Esse plano abrangia todos os empregados, inclusive
os que já estavam aposentados, todos receberiam um suplemento da
sua aposentadoria.
Em 31 de março de 1970, a Petros foi instituída quando a primeira
Diretoria Executiva foi empossada. Contudo, o início oficial das atividades foi no dia 1º de julho de 1970. Em 14 de julho deste mesmo ano,
a Petros pagou o seu primeiro benefício, um pecúlio de morte. Até a
data de 29 de agosto daquele ano mais de 29.000 empregados da
Petrobras e da Petros já estavam inscritos no sistema, isentos do pagamento de joia!
Notas da Redação
(1) Walter Link, mais popularmente conhecido como Mr. Link, prestigiado
geólogo da Standard Oil chegou ao Brasil em 1955, a pedido do general Juracy
Magalhães, o primeiro presidente da
Petrobras, para liderar a busca pelo petróleo nacional. Apesar de ter auxílio de
alguns técnicos brasileiros formados,
em sua maioria, pelo Conselho Nacional do Petróleo, Link ainda não estava satisfeito com a qualidade dos profissionais e decidiu enviar diversas turmas de profissionais do país para as
melhores universidades dos Estados
Unidos, como a Colorado School of
Mines, a Universidade do Texas e a de
ABMT
Diversos
12
Oklahoma, por exemplo. Porém, o
geólogo corria contra o tempo e a ansiedade do Brasil em se tornar uma potência petrolífera. Assim, Link tomou a
ousada decisão de importar dezenas de
outros geólogos, geofísicos e engenheiros estrangeiros, que fariam o trabalho
dos técnicos brasileiros e, depois, seriam repatriados e substituídos, à medida em que os nossos profissionais voltassem dos estudos nas universidades
americanas.
(2) Pedro Kassab foi um dos mais notáveis exemplos de médico e educador
que já teve o nosso país. Dedicou toda
sua vida às causas da medicina e da
educação. Na defesa da educação médica e da própria profissão destaca-se
sua atuação na Associação Paulista de
Medicina (APM) e na Associação Médica
Brasileira (AMB) da qual foi Secretário
Geral e Presidente durante vários anos.
(3) Rio Nogueira - Engenheiro civil, estatístico, atuário, doutor em matemática e ciências econômicas, professor catedrático da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, criador do modelo atuarial das
instituições de seguridade brasileiras
e um dos responsáveis pela lei nº 6435,
de 15/07/77, 1º ato oficial que regulamentou as entidades de previdência privada.
1. Publicação da Resolução Contran No 517 de 29 de janeiro de 2015 que dispõe sobre exames de aptidão
fisica e mental incluindo exames toxicologicos para Motoristas de categoria C,D e E
.
2. A primeira turma de Residencia Médica em Medicina do Trabalho do INCA teve sua formatura dia 30 de
janeiro de 2015. Parabenizamos as Dras: Lille Gertrudes Costa Hoetz e Raquel Bruno Kalile
ANO XL N° 2/14
NOTA ESPECIAL
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NOTA ESPECIAL - Associação Brasileira da Medicina do Trabalho