NOTA ESPECIAL ABMT- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MEDICINA DO TRABALHO FUNDADA EM14/12/1944 . DECLARADA DE UTILIDADE PÚBLICA . DECRETO 40162, DE 10/10/1955 DO GOVERNO FEDERAL. LEI MUNICIPAL 892, DE 12/08/1958 DO RIO DE JANEIRO ANO XL N° 2 - 2o SEMESTRE / 2014 sa No s r i n a t u Do “A redução, neutralização e controle dos riscos inerentes ao trabalho são condições fundamentais para garantir a qualidade do trabalho e do ambiente, a preservação da vida dos trabalhadores e essencial para o desenvolvimento sustentado da nação”. Aconteceu Congresso Comemorativo dos 70 anos da ABMT e 21ª. Jornada de Atualização do Médico do Trabalho ABMT/ Immunitá O ano de 2014 foi um ano especial, pois comemoramos os 70 anos da ABMT, com muitos eventos acontecendo em paralelo. Leia nas páginas de 5 a 7, o que aconteceu e não deixem de acessar a nossa página www.abmt.org.br/ 70anos.. Agenda Nossa programação científica de 2015 será iniciada em 27 de março, no evento de Educação Continuada da ABMT com o CREMERJ, que abordará o tema das "Recentes Mudanças Na Legislação Trabalhista, Previdenciária e do CONTRAN". ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Dr. Daphnis Uma História de dedicação e respeito Dando sequência às comemorações dos 70 anos da ABMT, o NOTA ESPECIAL NE, continua a entrevista com Dr. Daphnis, pois, ainda há detalhes importantes do papel da ABMT. na evolução da formação especializada do Médico do Trabalho. Nessa 2ª parte, vamos focar a sua entrada na Petrobras, quando desenvolveu e formalizou pioneiramente o Programa de Assistência Medica Suplementar - AMS; e mais recentemente o Programa de Complementação das Aposentadorias - Petros (Fundação Petrobras de Seguridade Social). Leia na íntegra a matéria nas páginas de 8 a 12. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A ABMT deseja a todos um Feliz 2015! Conversando com você Uma jornada da vida Expediente Boletim de Divulgação da Associação Brasileira de Medicina do Trabalho - ABMT Av. Almirante Barroso, 63/301 - Centro - RJ CEP: 20031-003 Fax: 0XX(21) 2240-8519 Tel: 0XX(21) 2240-8469 E-mail: [email protected] site: www.abmt.org.br Coordenação Editorial Daphnis Ferreira Souto, Eduardo L. Souto, Nadja de Sousa Ferreira e Armando J. M.Pimenta Diretoria Executiva Presidente: Nadja de Sousa Ferreira Diretor da Área Administrativa: Eliane Monteiro Raposo Adjunto: Valéria Nascimento Brion Diretor da Área Financeira: Ricardo Rodrigues da Cunha Adjunto:Vera Lúcia Santos Nogueira Pinto Diretor da Área Científica: Paulo Antonio de Paiva Rebelo Adjunto: Carla de Matos Queiros Saavedra Diretor da Área de Relações Externas: Luiz Carlos Carnevali Adjunto: Mônica Machado M. Ferreira Werneck Órgãos Deliberativos Conselho Superior Silvia Regina Fernandes Matheus Elisabeth Fialho Cantarelli Jorge da Cunha Barbosa Leite Eduardo Leal Souto Osmond Degow da Rocha Laura Maria Campello Martins Leocádia Sales da Cunha Conselho Técnico - Científico Antonio Edson Alves Sampaio Daphnis Ferreira Souto Armando Jorge Marques Pimenta Sergio Cruz Campos Marcia Jardim Simões Adjunto: Antonio Mario de Almeida Russo Conselho Fiscal Elizabeth Mota Schiavo Laura M. de Povina Cavalcanti Lumena Tereza Gandra Adjuntos: Gualter Nunes Maia Tommaso Di Martino Andrea Morgado Coelho Editoração: Fátima Bréa - Reg.Prof. 3264/RJ Impressão: 3MARC Impressões Gráficas Ltda. Tiragem: 1.000 exemplares - As matérias assinadas são de inteira responsabilidade de seus autores. - Autorizada a reprodução, desde que citada a fonte. 2 ANO XL N° 2/14 C omo mensagem para trilhar os caminhos de um novo tempo, lanço um desafio aos meus caros amigos e pacientes leitores: "Em 2015 proceda com inteligência". O objetivo é leválos a raciocinar sobre a visão que cada um tem da sua maneira de viver o dia-a-dia. Na realidade a mensagem vai mais além, na medida em que se verifica não se tratar somente de ver e perceber os fatos de nossa vida, como se estivessem projetadas em uma tela acontecendo em um dado momento, mas, também, como nos colocamos em face da necessidade de buscar um novo estilo de vida, onde o processo de valorização da saúde e do modo de viver ocupe um lugar de destaque. O problema central será a sensibilidade das pessoas para enxergar e perceber as conexões do modo de viver, das nossas ações, atos e hábitos com os conceitos que a observação e a pesquisa cientifica provam ser agressivas ao organismo humano. São bem conhecidos alguns "cavaleiros do apocalipse" contra a saúde: o fumo, álcool, obesidade, sedentarismo ou atividades em excesso, depressão e alguns outros menos em voga, que com desusada frequência aparecem diariamente nas paginas da imprensa e nos programas de televisão. Apesar de todo esse aparato esclarecedor há uma espécie de entorpecimento, de preguiça para tomada de uma atitude firme por parte de cada um, em seu benefício. Na realidade, muitas pessoas tentam enveredar por outro caminho, por ainda estarem presas ao velho arcabouço comportamental que vem de muitos anos atrás como uma espécie de herança, pelo qual transferem aos outros a responsabilidade pela solução dos problemas criados por seus maus hábitos e costumes. É o que se dá no caso do relacionamento com os médicos do qual esperam, quando já doentes, a solução de problemas por elas mesmas criados por um modo de viver insensato, como se esses profissionais tivessem "o dom" de curar males que se arrastaram por anos até se tornarem crônicos. Em verdade a higidês pessoal depende de um estilo de vida pensado com inteligência, de força de vontade para substituir condições de vida nocivas por práticas mais naturais e saudáveis. Todos sabem que a palavra medicina vem do grego medeor, que significa aquele que cuida. A medicina, juridicamente, não tem compromisso com os resultados, a ela não se pode atribuir o compromisso com a cura. Apenas existe o compromisso de cuidados. Se o médico não tem condições de curar a pessoa, deve estar ao seu lado, cuidando dela ou apoiando-a psicologicamente. A equação que temos de resolver é a necessidade de cada vez maior empenho de atualizar nosso conhecimento sobre os fatos vitais. Quando as pessoas se capacitarem dessa necessidade - mudar alguns hábitos e alguns aspectos do seu modo de viver negativo, segundo o que a lógica da saúde lhes dita, ou atendendo os conselhos vindos da experiência de quem os pode dar, você modifica e recria a você mesmo. Quanto melhor entendermos essa realidade, mais claramente enxergarmos as formas de dar significado à saúde em nossas vidas e em nossas ações no dia-a-dia, haverá um modo de vida bem mais equilibrado e alegre. Cada ato nosso, por mais simples que seja, passa a ser vivenciado com uma forte consciência de que ele está afetando a minha existência e a realização de todos os meus planos, até os mais sutis. Esse é o desafio para todos nós. Para todas as pessoas. Ele exige uma grande abertura que só é possível quando se abre mão dos arcabouços mentais obsoletos, nossas premissas, nossas teorias, nossa própria forma de ver a realidade e se dispuzer a considerar uma outra forma de entender o mundo em uma fantástica e veloz mudança que está envolvendo a própria natureza e a própria vida. O maior desafio está em mudar a maneira de pensar... Não é uma tarefa fácil. Não será algo rápido para muitos, principalmente os mais idosos. Mas se pensarmos bem existe maior desafio do que entender como funciona nosso organismo e como é a base de uma vida alegre e prazerosa! Em verdade esta será uma grande jornada em busca das verdades que nos fazem bem. Humildemente vamos pensar numa "transição", num estado permanente de busca, de descoberta, sempre procurando aprender, desaprender e reaprender. Esse é o convite para fazermos juntos! Desejamos a todos nossos associados, colegas e amigos que neste ano de 2015 sejam felizes, mas não se descuidem da saúde e de seu bem estar! NOTA ESPECIAL ABMT Homenageia André Lopes Netto Arlindo Gomes 1924-2014 1949-2014 Dr. André Lopes Netto. Nasceu no Rio Grande do Sul, em 24 de julho de 1924, e faleceu no dia 20 de maio de 2014. Engenheiro Militar e na época Coronel do Exército. Dentre outras atividades, ele foi o idealizador e membro fundador da Sociedade Brasileira de Engenharia de Segurança -SOBES, presidiu-a de 1992 a 2006. No quadro de associados da ABMT, recebeu o título de EMÉRITO por sua qualificação científica e intelectual, postura moral e pelo reconhecido desprendimento e elevado trabalho profissional, em prol do engrandecimento da Medicina do Trabalho. Transcrevemos abaixo um texto do Dr. Daphinis, proferido por ocasião da morte do amigo. Sobretudo inteligência Difícil dizer algumas palavras sobre o André sem o envolvimento emocional da amizade e de respeitosa camaradagem. Conheço o André há mais de 5 décadas sempre nos consideramos amigos. A dupla condição de ser seu parceiro e colaborador em inúmeros trabalhos já bastaria, pela convivência, para caracteriza-lo como um bom cidadão. Mas ele é mais do que isso. Talvez eu deva empregar aqui uma expressão que, embora menos corrente hoje do que quando o conheci, nada perdeu do seu significado: o Engenheiro André é um homem de bem. Ao lado de suas demais qualidades e pairando acima delas, ao mesmo tempo em que lhe serve de sólida base, está seu caráter: íntegro, firme, responsável, imune ao incorreto; uma espécie de marca registrada sempre nítida, tanto nos grandes eventos como nos acontecimentos do dia-a-dia. Passando do caráter ao temperamento, a tonica não se altera. Firme nas suas convicções, afirmativo como as pessoas que sabem o que querem e para onde vão, não é radical nem muito menos obsessivo. Seguro na defesa de seu ponto-devista é um esgrimista sagaz e argumentador atilado nos debates e nos entendimentos dos quais participa. Nossas eventuais divergências conceituais, ditadas pela diferença de formação acadêmica, já se tornaram tradicionais pelo acalorado debate em público onde é claro preciso estar atento à vivacidade de seu envolvimento e a cerrada lógica de seu raciocínio. Mas to- dos sabem que não é preciso preocuparse com o desfecho, pelo equilíbrio de suas reações e a lisura de sua atitude acima de tudo pelo mútuo respeito que temos um pelo outro. Discreto, contido, reservado quando o ambiente não lhe é de plena familiaridade, se impacienta ante a fraqueza do interlocutor na reserva natural que o despreparo costuma provocar naqueles que dominam o assunto. Não é incomum vê-lo sorrateiramente deixar o auditório e ir "lá fora" apreciar o seu cachimbo, quando o expositor não é original, convincente ou seguro. Todavia sua atitude discreta não provoca mal estar ou vai além do educado constrangimento. Com um pouco mais de audácia de minha parte e saindo do terreno profissional para o pessoal, pelo que posso testemunhar, o que surge é uma pessoa generosa, de bom coração, emocionalmente envolvido nos problemas do trabalhador brasileiro, mas também preocupado com seus colegas de profissão e discípulos. Somos amigos e tenho especial vaidade em mencionar que era do corpo docente da Escola de Saúde Pública, quando André ali esteve, como aluno especializando-se no que já constituía sua principal preocupação, mesmo em sua brilhante carreira militar, a busca de aprimorar seus conhecimento em segurança do trabalho e na preservação da vida das pessoas em suas ocupações, que pressentia com lúcida sensibilidade e privilegiada inteligência. Apaixonado por esse problema sempre se dedicou com rara tenacidade ao Também lamentamos informar que, infelizmente, um pouco antes do nosso Congresso de 70 anos, o nosso ex-Presidente Dr. Arlindo Gomes - 1° a ter mandato trianual (2001/2004), médico do trabalho, faleceu no dia 03/12/2014. Nós da ABMT estamos de luto pelo amigo e médico que foi exemplo de dedicação ao trabalho e sempre disposto a contribuir para o conhecimento e a melhoria das condições de trabalho. Na oportunidade, prestamos nossas condolências e solidariedade aos familiares. estudo e a interpretação precisa dos atos legais nesse campo especializado, ao mesmo tempo em que promove junto às empresas para as quais presta sua colaboração, pertinaz campanhas e medidas de prevenção dos infortúnios do trabalho e promoção de programas que visam melhores condições de salubridade ambiental. Hoje, mais do que antes, não há acontecimento ou situação, no campo da segurança do trabalho, em que ao se fazer sua análise, não esteja presente a figura do Eng° André, mostrando caminhos não vislumbrados imediatamente pelos demais profissionais do fato, sempre por meio do detalhe fundamental, do aspecto inusitado, em princípio insuspeitado, onde se oculta a possibilidade de solução. Esse seu comportamento é usual dentro da especialidade, mas habitualmente assume a liderança das questões de interesse dos engenheiros de segurança principalmente no que se refere à defesa da competência profissional e do comportamento ético. No ensejo dessa homenagem de reconhecimento que seus colegas e amigos lhe prestam é muito importante para mim dizer como eu lhe vejo. Isso que quando comecei a escrever parecia difícil, não foi impossível dado os seus predicados pessoais e intelectuais. NOTA ESPECIAL ANO XL N° 2/14 3 ABMT Eventos Quem foi Ramazzini? Estimados colegas, dia 5 de novembro de 2014, marca os 300 anos da morte de Bernandino Ramazzini, na cidade de Pádua, na Itália, aos 81 anos de vida. Foi médico de grande conhecimento nas áreas de medicina geral, clínica médica, epidemiologia, saúde pública, medicina do trabalho, meteorologia, filosofia, história, letras e poesia. Um sábio que se mantem atual hoje. Na Medicina do Trabalho contribuiu ao sugerir que se incluísse na anamnese a pergunta "qual seu ofício?". Também sistematizou o estudo de 52 ocupações no livro "De Morbis Artificum Diatriba", traduzido para o português com o nome de "As Doenças dos Trabalhadores" pelo médico Dr. Raimundo Estrela, que foi membro e diretor da ABMT. No livro, que é a base conceitual da Medicina do Trabalho, correlaciona os riscos à saúde aos produtos químicos, poeira, metais, sedentarismo, clima e outros agentes. No Congresso Comemorativo dos 70 anos da ABMT, celebraremos também esta data, em homenagem a Ramazzino Ramazzini também foi precursor da Saúde Ambiental e do uso de um derivado do quinino no tratamento da Malária. Se graduou em Medicina em Parma e trabalhou como professor nas Universidades de Pádua e Módena. Ao longo da vida pronunciou 16 conferências, escreveu 42 trabalhos científicos. Ramazzini é, portanto um padrão a ser seguido, devido a sua atualidade, visão sistêmica, contribuição científica, organização do raciocínio e da prática clínica. Por todas essas razões, hoje enaltecemos a sua vida profícua, mesmo na data de sua morte, significando que para nós ele ainda está vivo em nossos corações e mentes. Sabemos que os Médicos do Trabalho são continuidade de Ramazzini. primeira fase de sua vida profissional, Ramazzini teria também trabalhado alguns anos nas comunidades de Canino e de Marta, na província de Viterbo. Consta que Ramazzini, durante seus primeiros anos de prática profissional, teria então adoecido, aparentemente por malária-quartã, com crises de icterícia, o que o forçou a retornar à casa de seus pais, em Carpi. Ramazzini foi precursor no uso dos sais de quinino no tratamento de malária. Porém sua mais importante contribuição à medicina foi o trabalho sobre doenças ocupacionais chamado De Morbis Artificum Diatriba (Doenças do Trabalho) que relacionava os riscos à saúde ocasionados por produtos químicos, poeiras e gases, metais e outros agentes encontrados em contato com os trabalhadores em 52 ocupações. Este foi um dos trabalhos pioneiros e base da medicina ocupacional, que desempenhou um papel fundamental em seu desenvolvimento. Ele trabalhou como professor de medicina na Universidade de Pádua desde 1700 até sua morte. Ramazzini alertava que: "o médico que vai atender a um paciente operário não deve se limitar a pôr a mão no pulso, com pressa. Assim que chegar, sem informar-se de suas condições de vida e de trabalho; não delibere de pé sobre o que convém ou não convém fazer, como se não jogasse com a vida humana. Deve sentar-se, com a dignidade de um juiz, ainda que não seja em cadeira dourada, como em casa de magnatas; sente-se mesmo num banco, examine o paciente com fisionomia alegre e observe detidamente o que ele necessita dos seus conselhos médicos e dos seus cuidados preciosos". Os passos de abordagem utilizados e ensinados por Ramazzini seguem-se pelas visitas ao local de trabalho e pelas entrevistas com trabalhadores. Aliás, como antes visto, foi o impacto da observação do trabalho e a da conversa com o trabalhador que levou Ramazzini a se dedicar ao tema das doenças dos trabalhadores, como o fez. História Bernardino Ramazzini (4 de outubro de 1633, Carpi - 5 de novembro de 1714, Pádua) . Foi um médico italiano. Considerado o Pai da Medicina do Trabalho. Ramazzini desenvolveu sua formação escolar básica em escola jesuítica da mesma cidade onde nasceu, indo aos 19 anos para a Universidade de Parma, a fim de completar sua formação em Filosofia. Cursou posteriormente Medicina na mesma universidade, onde graduou-se em 21 de fevereiro de 1659, portanto com pouco mais de 25 anos. Cabe lembrar que na Itália, desde o século XIII, os estudos filosóficos de três anos de duração antecediam, obrigatoriamente, a formação acadêmica e prática do médico. Sentindo a necessidade de prosseguir seus estudos e ampliar sua experiência prática, Ramazzini fixou-se por alguns anos em Roma, onde, acompanhado de seu mestre Antonio Maria Rossi, trabalhou em diversos hospitais da cidade. Afirmam alguns que, nesta Em 4 de outubro celebramos o dia da Medicina do Trabalho, em homenagem ao nascimento de Ramazzini 4 ANO XL N° 2/14 NOTA ESPECIAL ABMT Eventos Aconteceu Congresso Comemorativo dos 70 anos da ABMT e 21ª. Jornada de Atualização do Médico do Trabalho ABMT/ Immunitá Foi realizado de 11 a 14 de dezembro/ 2014 o Congresso comemorativo dos 70 anos da ABMT, 300 anos de falecimento de Ramazzini e 20 anos do PCMSO. E também o nosso já tradicional Encontro: a 21ª. Jornada de Atualização da ABMT e Immunitá, no Centro de Convenções do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Para celebrar os 70 anos de fundação da Associação Brasileira de Medicina do Trabalho - ABMT, foi realizado no Centro de Convenções do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, um Congresso Comemorativo cujo tema foi "Celebrando as Conquistas e Construindo o Futuro", realizado durante três dias e antecedido por um dia de cursos pré-congresso. Nos dois dias de programação científica, foram realizadas 9 conferências e 13 Mesas Redondas que contaram com 41 palestrantes, vindos do Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás e Brasília. Ocorreram ainda dois eventos paralelos, a 1º Jornada de Médicos Residentes em Medicina do Trabalho, coordenado pelas médicas Nadia El Kadi - RJ, Flávia Souza e Silva Almeida - SP e Laura Campello - RJ, com a participação de colegas residentes do Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia e Minas Gerais e a 21ª Jornada de Atualização do médico do Trabalho ABMT/Immunità que tratou dos temas de doenças emergentes e novidades em vacinação, com os médicos Alberto Lemos e Débora Scholnik. Como parte das comemorações foi montada a exposição "Contribuição de Bernardino Ramazzini à Medicina do Trabalho" cedida pela Fundacentro e que muitos tiveram a oportunidade de visitar e constatar a importância e atualidade dos ensinamentos do grande mestre e mentor, nos 300 anos de seu falecimento. Os trabalhos científicos dos participantes foram apresentados oralmente em seções de temas livre ou expostos como pôsteres, sendo avaliados pela Comissão Cientifica por tres dias. No quarto dia foi realizada a prova de título de especialista em Medicina do Trabalho no Centro de Convenções SulAmérica, na Cidade Nova, com mais de 350 inscritos. Como principal legado, a atual diretoria da ABMT decidiu recuperar a história da Associação e produziu um livro, um documentário em vídeo, do qual participaram com depoimento, todos os presidentes vivos e criou a Editora ABMT. Da solenidade de abertura participaram o Presidente da ANAMT, Dr. Zuher Handar e representantes de Academias de Medicina, Associações de Especialidades Médicas, da SOBES, dos Sindicatos e Conselhos Regionais de Medicina e de Engenharia e familiares de ex-presidentes falecidos. NOTA ESPECIAL ANO XL N° 2/14 5 ABMT Eventos Continuação Congresso Comemorativo dos 70 anos da ABMT e 21ª. Jornada de Atualização do Médico do Trabalho ABMT/ Immunitá Também foi realizado o lançamento oficial do Selo Comemorativo dos 70 Anos da ABMT pela da ECT, com a cerimônia de obliteração. A Conferência de abertura "O Cuidado Humanizado", foi proferida pelo Acadêmico da ANM e Professor da UFRJ Padre Aníbal Lopes, mantendo a tradição da ABMT de abrir seus congressos com palestra de um filósofo ou humanista, versando sobre um tema que não é exclusivamente técnico. A seguir, o Médico Zuher Handar - Presidente da ANAMT, falou sobre "Construindo o Futuro da Medicina do Trabalho". No mesmo dia, o Médico Airton Marinho do Ministério do Trabalho em Minas Gerais e coordenador da Comissão de revisão da NR-I, apresentou a "A Nova NR-1", sendo seguido pelo Médico João Anastácio de Goiás que apresentou a conferência "A NR-4 e a obrigatoriedade da Especialidade de Medicina do Trabalho". Também foram realizadas as seguintes Mesas Redondas: Mesa Redonda 1 - "Risco Psicossocial - O que é e como avaliálo", com os palestrantes Méd. Miguel Chalub - RJ e Méd. Waldoneli Antonio de Oliveira - RJ. Mesa Redonda 2 - "Reabilitação e Readaptação Profissional", com Méd. Mauro Pena - ABMR - RJ e Med. Nadja Ferreira ABMT - RJ. Mesa Redonda 3 - "Monitoramento Biológico de Trabalhadores", com Med. Tarcísio Buschinelli - SP, Med. Basildes Chaves - RJ e Med. Ricardo Garcia Duarte - RJ. Mesa Redonda 4 - "Contratos de Trabalho do Expatriado e Impatriado. Planejamento e documento", palestrantes: Adv. Aline Mendes - RJ, Méd. Cristiano Mota - RJ e Méd. Alice Dadorian - MG. O terceiro dia foi iniciado com a Conferência 4 - "Saúde Ocupacional Integral, Integrada e com a Participação dos Trabalhadores", do Médico Eduardo Bahia Santiago - RJ, seguido da Conferência 5 - "Trabalhadores Agrícolas em Plantações de Cana de Açúcar - Novos Desafios na Vigilância Médica", pela Médica Alice Nobre da British Petroleum do Reino Unido. Mantendo o altíssimo nível técnico científico do dia anterior, foram realizadas as seguintes Mesas Redondas: Mesa Redonda 5 - "Emergência Ampliada - Eu Estive Lá". - Atendimento Médico às Vítimas da Boite Kiss em Santa Maria RS Med. 6 ANO XL N° 2/14 Claudio Azevedo RS com participação da Central de Regulação de Urgências Médicas com a Méd. Sandra Lümer RJ. Mesa redonda 6 - "Avaliação da Aptidão para o Trabalho Off-Shore", palestrantes Méd. Mauricio Souza - RJ, Trabalho da Pessoa com Deficiência", palestrantes: Médica Isabel Maior - RJ, Profa. Ethel Rosenfeld - RJ e Méd. Márcia Bandini - SP. Mesa Redonda 9 - "Uso indevido e Abusivo de Substâncias", palestrantes: Méd. Joaquim Neto - RJ, Méd. Mauri- Méd. Renato Kanto - RJ, Cdt Álvaro Diniz de Carvalho - RJ e coordenado pelo Méd. Sérgio Cruz - RJ. Mesa Redonda 7 - "Segurança e Saúde no Serviço Público" palestrantes Méd. Rosylane Rocha e Méd. Laura Campelo. Mesa Redonda 8 - "A Inclusão pelo cio Souza - RJ e AS Valéria Mello Barbosa - RJ. Mesa Redonda 10 - "Integração PCMSO/PPRA", palestrantes:Méd Elizabeth Schiavo - RJ, Eng. Marlise Matozinho Vasconcelos - Vice Pres. do CREA - SOBES e Méd. Tarcisio Buschinelli - SP. NOTA ESPECIAL ABMT Eventos Continuação Congresso Comemorativo dos 70 anos da ABMT e 21ª. Jornada de Atualização do Médico do Trabalho ABMT/ Immunitá Mesa Redonda 11 - "Análise de Risco Ambiental", palestrantes: Eng. Alexandre Mosca - MSc e PhD -RJ e Eng. Marlise Matozinho Vasconcelos - Vice Pres. Do CREA SOBES Mesa Redonda 12 - "Pericia Médica, Ética e Medicina do Trabalho", palestrantes: Méd. Nadja Sousa Ferreira - RJ e Med. Rosylane Rocha - DF Mesa Redonda 13 - "Vigilância Sanitária e Inspeções aos locais de Trabalho", palestrantes: Méd. Távira Sucupira e Méd Claudia Mello - Vigilância Sanitária - RJ. No último dia, foi realizada pela ANAMT a Prova de Título de Especialista em Medicina do Trabalho - ANAMT/AMB. Completando as comemorações, à noite, foi realizada a Celebração Solene dos 70 anos da ABMT com o Lançamento do Livro Comemorativo dos 70 anos da ABMT - do Médico Paulo Rebelo, Diretor Científico da Associação e Posfácio da Medica Nadja Ferreira atual Presidente, seguido das conferências "A Importância da ABMT para a Medicina do Trabalho" pelo Presidente de Honra - Méd. Daphnis Ferreira Souto e "A Contribuição de Ramazzini - 300 anos" pelo Prof. Rene Mendes. A seguir foi realizada a entrega dos prêmios de melhores trabalhos com apresentação oral e pôsteres e o reconhecimento ao Médico Claudio Azevedo, responsável pelo atendimento médico às vitimas da Boite Kiss em Santa Maria RS, representando os médicos que salvam vidas. À Família do Dr. Carlos Alberto Fontenelle Moreira, que morreu no atendimento às vítimas do acidente na Refinaria de São José dos Campos, representado por sua esposa Sandra e filhos como símbolo do médico que dá a vida pelo paciente e ao Médico Daphnis Ferreira Souto pelo exemplo do médico que dedica a vida ao ensino da medicina do trabalho. Após a cerimônia foi oferecido um coquetel de congraçamento. ERRATA A ABMT reconhece o lamentável erro ocorrido no número 3 de 2013 do Nota Especial. Naquela edição, foi reproduzido, sem a permissão do autor, o artigo "CONHECIMENTO JURÍDICO-LEGISLATIVO QUE ENVOLVE O MÉDICO DO TRABALHO", de autoria de SAULO CERQUEIRA DE AGUIAR SOARES que foi identificado equivocadamente como Especialista em Medicina do Trabalho. O autor é aluno de Pós-Graduação em Medicina do Trabalho. O autor é Especialista em Direito Civil, com ênfase em responsabilidade civil médica. Solicitamos desculpas ao autor pela falha, agradecemos sua compreensão em ter autorizado a publicação do artigo e reafirmamos nosso compromisso de respeitar os direitos de autor e citarmos sempre as nossas fontes. NOTA ESPECIAL ANO XL N° 2/14 7 ABMT Entrevista Dr. Daphnis Uma História de dedicação e respeito Dando sequência às comemorações dos 70 anos da ABMT, o NOTA ESPECIAL - NE, continua a entrevista com Dr. Daphnis, pois, ainda há detalhes importantes do papel da ABMT na evolução da formação especializada do Médico do Trabalho. Nessa 2ª parte, vamos focar o começo de sua vida profissional: quando foi para uma pequena cidade no interior de S.Paulo, até sua entrada na Petrobras, quando desenvolveu e formalizou pioneiramente o Programa de Assistência Médica Suplementar - AMS; e mais recentemente o Programa de Complementação das Aposentadorias - Petros (Fundação Petrobras de Seguridade Social). Além de uma série de iniciativas como o de Assistência Alimentar; o Auxílio Creche; Auxílio Medicamentos e outros mais, dentro da diretriz da empresa dispor de uma orientação geral de Seguridade Social com a participação conjunta da empresa e de todos os demais elementos que a compõem. NE - O Senhor ressalta, quando fala nos empregados, a questão da saúde dos mesmos. Gostaria que o senhor definisse o que é Saúde? Segundo a definição dada pela Organização Mundial da Saúde - OMS "Saúde é um estado de completo bem estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade". Verifica-se que geralmente independe do indivíduo estar doente ou não, é um estado de estar bem em suas relações, seja com seu trabalho, no meio em que vive e com as pessoas que convive. Portanto, um estado de bem-estar físico e mental. É uma definição um tanto utópica, preferimos resumi-la e simplificá-la, para ser melhor entendida: "Assim sendo pode-se dizer: "Saúde como, o equilíbrio entre as nossas funções orgânicas e as condições do ambiente que nos rodeia". NE - E a Saúde do trabalhador? Partindo dessa definição: "Existe saúde quando o trabalhador se encontra satisfeito com aquilo que faz, está integrado ao grupo de pessoas que exerce a mesma atividade, participando da manutenção das condições de salubridade do ambiente em que está inserido, como também em equilíbrio com as condições materiais, econômicas e psicológicas que lhe garante um modo de vida saudável, incluindo o da família 8 ANO XL N° 2/14 NE - Qual a importância da NR7? A NR7 - Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional - estabelece uma diretriz para o tratamento a ser dado à questão da saúde do trabalhador face ao conteúdo das funções e das demais obrigações do trabalho, visando diminuir os acidentes e as demais patologias decorrentes das condições de trabalho. NE - A Medicina do Trabalho cuida da saúde do trabalhador só quando ele está doente? Contrariamente ao que a maioria das pessoas imagina, já dizia Ramazzini, a medicina do trabalho deve estar em permanente vigilância sobre a saúde dos trabalhadores, evitando o adoecimento precoce, contribuindo para sua longevidade útil, usando preferentemente métodos preventivos. Dentro desse pensamento, o médico deve promover e estabelecer programas visando a promoção, a manutenção e a recuperação da saúde dos trabalhadores. Vida Profissional NE - Porque o senhor se decidiu pela Medicina do Trabalho? Comecei a estudar Medicina do Trabalho, influenciado pelos discursos de Getúlio Vargas. Ele dizia que o futuro do Brasil estava em desenvolver bons programas visando a agricultura, a industrialização e ao segmento de petróleo. NOTA ESPECIAL Getulio Vargas dizia que elas deveriam ser desenvolvidas equilibradamente para um futuro promissor para o Brasil. Os governantes atuais não entendem essa verdade. NE - Sua experiência como médico do interior foi proveitosa? Sim. Procurei aplicar àquela medicina que eu tinha observado, junto à missão médica americana, aplicar lá na Amazônia ainda como estudante. Dediquei-me muito a isso. Pouco tempo depois, eu estava entusiasmado e associei-me a dois médicos, que já residiam na cidade, e os ajudei na construção de um pequeno e bem montado hospital em Mococa. Eu era o responsável médico e permanente plantonista. Formei o primeiro grupo de auxiliares de enfermagem. Aprendi muito com os trabalhadores rurais, dado o modo de vida que eles tinham. Nem sempre eles tinham dinheiro para pagar o serviço recebido. Pagavam com sacos de arroz, de feijão, galinhas, frutas. E assim, em contrapartida, comecei a influenciar sobre os seus modos de vida - nos fins de semana quando estava de folga eu ia para uma fazenda e dava aulas de higiene para o pessoal, procurando influenciá-los sobre uma melhor maneira de viver. NE - Como mencionado na entrevista anterior, o senhor voltou para o Rio, se especializou em Medicina do Trabalho, entrou no SESP ABMT Entrevista Continuação Dr. Daphnis Uma História de dedicação e respeito - Serviço Especial de Saúde Pública? Sim. Esse órgão prestou relevantes serviços à saúde pública do país e à Medicina do Trabalho. Criou diversos hospitais em cidades ribeirinhas da Amazônia, Vale do São Francisco e Rio Doce, participou ativamente nas campanhas de erradicação da varíola, da hanseníase e outras doenças transmissíveis nos serviços do SAAE Serviço Autônomo de Água e Esgoto (ao levar água tratada aos rincões do nosso imenso Brasil) e na formação de profissionais de saúde. A criação do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) ocorreu durante a 2ª Guerra Mundial, como consequência do convênio firmado entre os governos brasileiro e norte-americano durante a Terceira Reunião de Consulta aos Ministérios das Relações Exteriores das Repúblicas Americanas, realizada no Rio de Janeiro em 1942. O SESP tinha como atribuições centrais, naquele momento, melhorar o saneamento da Amazônia - onde se produzia a borracha e a região do Vale do Rio Doce, onde se explorava o minério de ferro, matérias-primas estratégicas para o esforço de guerra americano, tendo em vista os altos índices de malária e febre amarela que atingiam os trabalhadores desta região. Neste acordo a Medicina do Trabalho também foi contemplada. NE - E a sua experiência em Niterói, como foi? Foi muito boa! A primeira coisa que fiz foi um inquérito sobre verminose nas escolas. Mas enquanto o laboratório de Higiene Industrial, não estava totalmente pronto, fui designado para o recém criado Centro de Saúde Santa Rosa, na época veio a grande epidemia de poliomielite, e o Dr.Sabin ainda não tinha inventando a vacina. Havia a possibilidade de recuperar as crianças com cirurgias ortopédicas, mudando a ligação muscular. Tinha o Dr. Hernani Silva, que fazia esse procedimento, mas precisava de um bom hospital. Conseguimos combater a epidemia e para dar assistências posterior às crianças eu assumi construir um hospital infantil, juntamente com o arquiteto Orlando Campofiorito. Entregamos em menos de um ano o Getulinho - que está lá no Fonseca até hoje. Um hospital só para crianças e que é um motivo de grande orgulho para mim! Esse nome foi dado atendendo a um pedido de D. Darcy esposa do Presidente Vargas, para homenagear seu filho, que tinha morrido em um acidente de carro. Esse hospital tem uma história muito especial. A data marcada para sua inauguração não pôde ser cumprida, pois, coincidentemente foi a data do suicídio de Getúlio Vargas! NE - O que o senhor aprendeu nos Estados Unidos e aplicou aqui quando voltou ? Eu estava no Serviço Especial de Saúde Pública- SESP. Um dia recebi uma mensagem que dizia: "você vai para os Estados Unidos para estudar Medicina do Trabalho". O governo americano havia oferecido uma bolsa, para fazer o curso completo. Passei lá cerca de 2 anos. Eu quase fiquei por lá, mas o Governo insistiu para eu voltar ao Brasil. Era o tempo da guerra fria - Estados Unidos X União Soviética. Para poder manter a soberania e o poder de intimidação um aos outros, era preciso ter elementos fundamentais, ou seja, armas, conhecimento e capacidade econômica. E principalmente dispor de matéria prima para manter o esforço de guerra. Voltei para o Brasil para iniciar um movimento de mudança da Medicina do Trabalho dentro de novos critérios de prevenção. Continuei trabalhando no laboratório, que passei a dirigir. Foi o primeiro Laboratório de Higiene Industri- al, construído no Brasil voltado para a saúde do trabalhador. Como já dito, os Estados Unidos fizeram três grandes centros de estudos na América do Sul: um no Peru, para fazer a defesa do trabalhador contra a agressividade do chumbo. e o trabalho em alturas pois as minas se situavam nos Andes. O chumbo era fundamental ao desenvolvimento nuclear, não tinha possibilidade da bomba atômica avançar sem a proteção que o chumbo dava, defendendo da radiação. Precisavam também de cobre que era no Chile, que é o grande produtor desse metal no mundo. Para que cobre? Para transmitir a energia elétrica em grande distância, os fios de cobre têm pouca perda de energia, enquanto que o ferro ou o alumínio tem uma grande perda, até de 50% da energia transmitida. No Brasil éramos responsáveis pelo ferro, o manganês e outros metais pesados. A estrada de ferro que vai de Vitória até Belo Horizonte, foi construída pelos Estados Unidos por causa da guerra fria. Eles precisavam do ferro de Minas Gerais e do cristal de rocha do interior do Brasil, senão não tinha comunicação aeroespacial. Todo sistema de comunicação tem um cristalzinho de rocha que é a peça fundamental do sistema. Durante o período que chefiei o Laboratório participei do levantamento sobre as condições de trabalho, abrangendo a maioria das empresas de mais de 50 trabalhadores no Estado do Rio e em decorrência vários estudos para melhorar as condições de trabalho em diversas grandes empresas como já mencionei anteriormente. NOTA ESPECIAL ANO XL N° 2/14 9 ABMT Entrevista Continuação Dr. Daphnis Uma História de dedicação e respeito NE - Em 1957 o senhor entrou para Petrobras, era na ocasião uma empresa recém-criada (1953), o senhor precisou criar tudo na atividade médica? Não. Já existia um incipiente serviço médico, na Bahia. Existia a necessidade de se estabelecer a medicina do trabalho, nos moldes de outras empresas de petróleo, então tive que fazer todo o fundamental. Antes da criação da Petrobras já existia algumas refinarias, como a de Cubatão e da Bahia. Em 1948, o Presidente da República, na época - Eurico Gaspar Dutra, enviou ao congresso um ante projeto que permitia a entrada de capital privado na exploração do petróleo. Não havia empresa nacional com suficientes recursos financeiros e tecnológicos. Pensou-se que as multinacionais de petróleo iriam tomar conta de tudo. Aí então, aconteceu a campanha do "Petróleo é nosso", amplo movimento popular do qual participaram ilustres brasileiros civis e militares. E eu ainda muito jovem, apoiava essas campanhas também! O movimento foi tão grande que em 1953 a Petrobras foi criada e ficou também estabelecido o monopólio. Nesta época foi contratado para trabalhar na Petrobras Mr. Link (1), geólogo, trabalhava na Standard Oil. Ele sabia das coisas, dizia que o petróleo do Brasil estava no mar! Muitos brasileiros não cofiavam nesses estudos, mas aplicações posteriores de técnicas mais avançadas vieram confirmar o que a geologia indicava e hoje temos o présal. NE - Como foi desenvolver a A.M.S - Assistência Médica Supletiva na Petrobras? No início, começaram imitando o Banco do Brasil que representava o habitual na época. Seriam utilizados mé- 10 ANO XL N° 2/14 dicos generalistas locais de caráter privado na prestação serviços para dar assistência aos empregados e seus familiares. O atendimento em geral era gratuito e precário. A responsabilidade do pagamento de despesas não estava definida. Predominava em geral a gratuidade e a falta de critérios. Em verdade, o que predominava era a maneira como era feito no Conselho Nacional do Petróleo, donde provinha a Empresa. Com o desenvolvimento da empresa e aumento de pessoal, a Petrobras começou a desenvolver serviços médicos próprios nas localidades onde esses empregados moravam. Os médicos eram remunerados por meios de preços estabelecidos entre as partes e praticamente sem controle Foi nessa época que cheguei na Empresa. Depois de fazer um levantamento completo sobre as condições dos ambulatórios e das facilidades médicas oferecidas pelo estado, comecei a construir um planejamento em que pudesse fazer a transposição do que existia, para um sistema viável para o interior da Bahia e da Amazônia, locais onde se concentrava a maior força de trabalho da Petrobras, sem criar conflitos ou adversidades de monta. O problema principal foi de se encontrar uma saída de uma gratuidade total, para um modo de integrar todos os empregados para contribuir na manutenção de um sistema provisório para atender sem limitações todas as necessidades de assistência médica, foi quando lancei a primeira orientação que denominei "sistema de livre escolha". Bolei esse sistema de saúde em 1958. Ele é o resultado de uma experimentação de pequeno porte, de uma outra empresa que eu prestava consultoria. Transformei no plano da NOTA ESPECIAL Petrobras após consultar meu amigo Pedro Kassab (2) - Presidente da AMB, que aprovou a iniciativa. Aprovado pela Diretoria da Petrobras, começou a funcionar em 1960. Sua diretriz principal foi proporcionar um atendimento médicohospitalar consistente e de qualidade reconhecendo o direito do trabalhador escolher o profissional ou instituição de sua confiança. Naturalmente obedecido o princípio de solidariedade entre as partes determinado pela Petrobras, ou seja, "em todo programa de caráter assistencial deverá existir a participação de toda a comunidade de trabalho da empresa". Essa iniciativa ia de encontro a um postulado em saúde pública de que a solução dos problemas no campo da saúde "deve ser o resultado do esforço conjugado de toda comunidade". Era um sistema de reembolso. Posteriormente ele evoluiu para um plano misto de seguro saúde de auto-gestão no grande risco e de reembolso no pequeno risco. Sem finalidades comerciais ou de lucro, ele é o mais completo e "barato" plano de saúde em vigor no país. A prestação de serviços pela estrutura de saúde existentes nas cidades é feita através de tabelas adequadamente preparadas pelos órgãos de classe, mais a pesquisa da própria empresa. O funcionamento é através do acreditamento das instituições ou dos profissionais que queiram se filiar ao sistema. Esse sistema já completou mais de 50 anos! Uma empresa da mobilidade da Petrobras tem que dispor de um plano ABMT Entrevista Continuação Dr. Daphnis Uma História de dedicação e respeito com capacidade de atender seus empregados em qualquer ponto do país ou do exterior, disponibilizando os meios de saúde com a agilidade, flexibilidade e com mobilidade, capacitada a dar pronto atendimento aos seus empregados. É preciso chamar atenção que o plano se adapta a qualquer realidade seja no País ou no Exterior. NE - Esse plano se compara aos que existem hoje por aí? Compara sim. A maioria dos planos que existem hoje teve como base o que foi criado para a Petrobras. Uma vantagem do plano é que o mesmo não visa lucro, nem tampouco é pródigo. Visa benefício para a empresa e para os empregados, por várias razões, sendo a principal dela, a tranquilidade que traz para os empregados. Nisso se difere dos outros planos. Também foram estudados e estabelecidos outros aspectos da Seguridade Social, com objetivo de baratear seus custos tanto para o empregado como para a empresa, como exemplo temos o seguro para cobrir custos de medicamentos; auxílio alimentação; auxílio transporte e outros mais, cada qual com características próprias. NE - E o que o senhor me diz da PETROS? A PETROS foi o resultado de uma necessidade sentida pela Petrobras e seus empregados desde a sua fundação. Esse fato decorria das disfunções e precariedades do sistema oficial de previdência social. Algumas iniciativas foram tentadas para resolver essa situação, mas não ofereciam estruturação técnica consistente que garantisse sua aplicação com segurança. Os problemas foram se agravando e já não se justificava deixar de dar algum tipo de solução para os mesmos, pois conforme a empresa crescia também aumentava o número de empregados que se incapacitavam devido às duras condições do trabalho em petróleo ou que se aposentavam em precárias condições financeiras. Foi nessa ocasião que assumi a responsabilidade de estruturar a atividade médica na Petrobras e com ela veio também a questão previdenciária. Comecei a estudar esses dois difíceis problemas, sem me fixar em modelos de outras origens pelas dificuldades de adaptação às nossas condições culturais e econômicas. Parti para uma fórmula própria que dispusesse de todo embasamento conceitual e técnico necessário para atender a situação de uma empresa brasileira, procurando, entretanto, evitar um confronto com o sistema oficial que também passava por um processo de unificação e de reestruturação. Tinha que ser economicamente viável para todos os seus participantes. Era importante não se criar adversidades daí a idéia de uma suplementação ao sistema governamental, que sem pesar financeiramente sobre os demais contribuintes, garantisse ao petroleiro ou aos seus dependentes diretos, manter um padrão de vida digno em seus afastamentos por aposentadorias. NE - Como senhor se inspirou para idealizar a Petros? A Petros é uma Fundação de caráter previdenciário e assistencial criada para complementar a aposentadoria do empregado. Complementar seu provento que passou a fazer jus ao nível do último salário recebido na empresa. Isso com a enormidade que a empresa já era na época, foi muito difícil, porque isso abrange não só o em- pregado como também em caso de morte todo o grupo famíliar oficialmente dependente. Os engenheiros queriam receber o salário integral, mas sem o ônus da contribuição. Como, se não participavam? Conversei bastante com os empregados até formar uma opinião consistente: sempre que eu ia em alguma unidade, aproveitava a hora de almoço para conversar com os empregados. Todos me falavam sobre aposentadoria. Até que um dia levei o assunto à diretoria, então me permitiram estudar o assunto. Eu era médico, não era matemático, nem atuário, nem tão eclético para enfrentar um tema tão difícil, então criei um grupo. Entre eles: Ramiro Tostes, Wolmar Gotschal, Amílcar Giffoni, Marilia Gaspar de Oliveira, Fernando Reys de Andrade, Sergio Piper, Eno Wanke, Aloísio Melo, Banaiote Gazal, Cosme Urubatan, Ednéia Machado, Marilia Sampaio, Marlene Sirnes e outros mais. Comecei a fornecer literaturas para leitura e relatórios de pesquisas sobre o tema, e começamos a trabalhar. O primeiro trabalho, você nem imagina! Fizemos um levantamento de todos funcionários procurando levantar dados referentes ao tema: quanto tempo estava na Previdência, qual o tempo de contribuição, família, tamanho da família, se era casado, se tinha companheira, etc.! Era um trabalho confidencial, então eu tinha que dispor de todos NOTA ESPECIAL ANO XL N° 2/14 11 ABMT Entrevista Continuação Dr. Daphnis Uma História de dedicação e respeito "Era importante não se criar adversidades daí a idéia de uma suplementação ao sistema governamental, que sem pesar financeiramente sobre os demais contribuintes, garantisse ao petroleiro ou aos seus dependentes diretos, manter um padrão de vida digno em seus afastamentos por aposentadorias." os detalhes. Fiz todos os estudos que precisávamos e saí a procura de um especialista de valor, na área da Atuária. Recebi a recomendação de um colega Argemiro Dias, para aproveitar um especialista que já prestava serviços à Petrobras, o professor Rio Nogueira(3), matemático - atuário. Professor catedrático da UFRJ. Eu passava os dados e ele transformava tudo em fórmulas e cálculos. O Rio Nogueira, grande matemático, foi um dos responsáveis pela unificação dos institutos de previdência. Na época eram divididos por categorias, IAPTC, IAPC, dos Marítimos e etc. Cada obstáculo vencido aumentava o entusiasmo dos companheiros que faziam parte do grupo! Estruturamos uma instituição para ser modelo do que se pretendia fazer. Esse estudo foi entregue aos órgãos superiores da empresa. Na época, nos Estados Unidos e Europa, já existiam os chamados fundos de pensão - que eram administrados pela empresa e faziam parte de sua estrutura. Mas não era a mesma coisa que pretendíamos, face à legislação brasileira. Esse trabalho depois de passar pelo julgamento da diretoria da Petrobras, de diversos ministros do governo e aprovação de Roberto Campos - ministro do planejamento e Delfim Neto - ministro da fazenda e de outros órgãos da Administração Pública, levou 9 anos!. Esse plano abrangia todos os empregados, inclusive os que já estavam aposentados, todos receberiam um suplemento da sua aposentadoria. Em 31 de março de 1970, a Petros foi instituída quando a primeira Diretoria Executiva foi empossada. Contudo, o início oficial das atividades foi no dia 1º de julho de 1970. Em 14 de julho deste mesmo ano, a Petros pagou o seu primeiro benefício, um pecúlio de morte. Até a data de 29 de agosto daquele ano mais de 29.000 empregados da Petrobras e da Petros já estavam inscritos no sistema, isentos do pagamento de joia! Notas da Redação (1) Walter Link, mais popularmente conhecido como Mr. Link, prestigiado geólogo da Standard Oil chegou ao Brasil em 1955, a pedido do general Juracy Magalhães, o primeiro presidente da Petrobras, para liderar a busca pelo petróleo nacional. Apesar de ter auxílio de alguns técnicos brasileiros formados, em sua maioria, pelo Conselho Nacional do Petróleo, Link ainda não estava satisfeito com a qualidade dos profissionais e decidiu enviar diversas turmas de profissionais do país para as melhores universidades dos Estados Unidos, como a Colorado School of Mines, a Universidade do Texas e a de ABMT Diversos 12 Oklahoma, por exemplo. Porém, o geólogo corria contra o tempo e a ansiedade do Brasil em se tornar uma potência petrolífera. Assim, Link tomou a ousada decisão de importar dezenas de outros geólogos, geofísicos e engenheiros estrangeiros, que fariam o trabalho dos técnicos brasileiros e, depois, seriam repatriados e substituídos, à medida em que os nossos profissionais voltassem dos estudos nas universidades americanas. (2) Pedro Kassab foi um dos mais notáveis exemplos de médico e educador que já teve o nosso país. Dedicou toda sua vida às causas da medicina e da educação. Na defesa da educação médica e da própria profissão destaca-se sua atuação na Associação Paulista de Medicina (APM) e na Associação Médica Brasileira (AMB) da qual foi Secretário Geral e Presidente durante vários anos. (3) Rio Nogueira - Engenheiro civil, estatístico, atuário, doutor em matemática e ciências econômicas, professor catedrático da Universidade Federal do Rio de Janeiro, criador do modelo atuarial das instituições de seguridade brasileiras e um dos responsáveis pela lei nº 6435, de 15/07/77, 1º ato oficial que regulamentou as entidades de previdência privada. 1. Publicação da Resolução Contran No 517 de 29 de janeiro de 2015 que dispõe sobre exames de aptidão fisica e mental incluindo exames toxicologicos para Motoristas de categoria C,D e E . 2. A primeira turma de Residencia Médica em Medicina do Trabalho do INCA teve sua formatura dia 30 de janeiro de 2015. Parabenizamos as Dras: Lille Gertrudes Costa Hoetz e Raquel Bruno Kalile ANO XL N° 2/14 NOTA ESPECIAL