AVALIAÇÃO DA POTABILIDADE DE ÁGUA SUBTERRÂNEA DESTINADA AO
CONSUMO HUMANO
Deusmaque Carneiro Ferreira 1, Alex Garcez Utsumi1, Michel Cristeinsen Silva2,
Mauro Luiz Begnini3
1 Professor Pesquisador da Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM,
Uberaba - Brasil ([email protected]).
2 Graduando em Engenharia Química, Universidade de Uberaba – UNIUBE,
Uberaba -Brasil.
3 Prof. Pesquisador da Universidade de Uberaba – UNIUBE, Uberaba -Brasil.
Recebido em: 08/09/2015 – Aprovado em: 14/11/2015 – Publicado em: 01/12/2015
DOI: http://dx.doi.org/10.18677/Enciclopedia_Biosfera_2015_012
RESUMO
O consumo de água subterrânea é uma pratica que vem sendo difundida largamente
entre a população e a qualidade dessas águas está diretamente ligada a questões
de saúde pública e ambiental. O objetivo do presente estudo foi analisar a
potabilidade da água subterrânea destinada ao consumo humano, de duas minas de
uma cidade no interior de Minas Gerais. Na análise das amostras de água coletas
nas minas foi empregado o Standart Methods for the Examination of Water and
Westewater, 20th edition, em estudo longitudinal. Em relação aos parâmetros físicoquímicos e microbiológicos analisados, a maioria apresentou valores em
consonância com a legislação para potabilidade da água, embora, o pH e as
análises de coliformes termotolerantes mostraram-se fora dos padrões máximos
permitidos pela Portaria nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011, do Ministério da
Saúde. Após análise conjunta dos resultados físico-químicos e microbiológicos,
verificou-se que as amostras de água dessas duas minas encontram-se
comprometidas por microrganismos patogênicos, com isso, essas águas
subterrâneas não podem ser destinadas ao consumo humano.
PALAVRAS-CHAVE: Água subterrânea, água contaminada, água da mina , saúde
pública
EVALUATION OF THE POTABILITY OF UNDERGROUND WATER DESTINED
FOR HUMAN CONSUMPTION
ABSTRACT
Groundwater consumption is a practice which has been widespread among the
population and the quality of this water is directly linked to environmental and public
health issues. The aim of this study was to assess the potability of ground water
intended for human consumption from two mines of a city in Minas Gerais. In the
analysis of water samples collected in the mines was the Standard Methods for the
Examination employee of Water and Westewater, 20th edition, in a longitudinal
study. With regard to physical, chemical and analyzed microbiological parameters,
most had values in line with the rules for drinking water quality, although the pH and
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 2934
2015
thermotolerant coliform analysis proved to be out of the maximum standards allowed
by Ordinance No. 2.914, of 12 December 2011, of Ministry of Health. After joint
analysis of physical, chemical and microbiological results, it was found that the water
samples of these two mines are endangered by pathogens, thus, these groundwater
may not be intended for human consumption.
KEYWORDS: Groundwater, public health, mine water, contaminated water.
INTRODUÇÃO
As águas subterrâneas, assim como os recursos hídricos como um todo, são
objetos de preocupação e estudos, uma vez que, o crescimento urbano
desordenado, ao gerar concentração de poluentes que são mal gerenciados, cria um
ambiente propício à poluição das reservas hídricas subterrâneas. Com isso, destacase a relevância de novas pesquisas que objetivem verificar a vulnerabilidade dessas
reservas (LÖBLER et al., 2014).
Os primeiros registros do gerenciamento do uso da água vêm desde as
civilizações mesopotâmicas e egípcias, em que há relatos da preocupação coletiva
em relação à qualidade da água utilizada, dos perigos e doenças vinculadas. Já
eram utilizadas práticas de purificação e acondicionamento, como o armazenamento
em vasos de cobre e a filtragem por carvão ou cascalho. No Brasil, durante todo o
período colonial, mesmo com a intensa exploração dos recursos naturais, não foi
imposta nenhuma ação a respeito de saneamento no país (AZEVEDO NETTO,
1984).
Os poços e minas são fontes de água largamente usadas pela população
brasileira para consumo. A água subterrânea é captada normalmente de aquíferos
livres em função da menor dificuldade de captação e baixo custo, embora, seja mais
suscetível a contaminação pela proximidade da superfície (ASSIS DA SILVA, 1999).
Águas Subterrâneas são todas as águas que se encontram abaixo da superfície da
terra, preenchendo os poros vazios das rochas sedimentares ou das fraturas e
falhas das rochas compactadas. Essas águas cumprem uma fase do ciclo
hidrológico, uma vez que, constituem uma parcela da água precipitada (ABAS,
2015).
As atividades humanas representam um elevado risco aos aquíferos e às
águas subterrâneas. Entre as principais fontes de contaminação dos mananciais no
país, estão: a construção de poços, esgotos domésticos e industriais, resíduos
sólidos, atividades agrícola, postos de combustíveis, mineração e cemitérios. A
proteção dos recursos hídricos subterrâneos é bastante crítica, pois, os custos de
remediação de aqüíferos são altos e tecnicamente são muito difíceis, levando-se em
conta sua recuperação para as condições originais (ZOBY, 2015).
Segundo FREITAS et al. (2011), apesar de todos os esforços para armazenar
e campanhas de conscientização para diminuir o seu consumo, a água está se
tornando, gradativamente um bem escasso, e sua qualidade se deteriora cada vez
mais rápido.
Atualmente, a tecnologia avançada empregada nas estações de tratamento
de água (ETA) melhorou e muito os parâmetros físico-químicos e microbiológicos da
água para consumo. Entretanto, é pior a qualidade das águas nos rios, córregos e
lençóis freáticos, uma vez que, as poluções lançam diretamente nesses corpos
d'água, sem tratamento prévio, uma elevada carga poluidora, resíduos tóxicos e
materiais de difícil biodegradabilidade, comprometendo assim a qualidade da água
até mesmo para as gerações futuras (CAMPOS et al., 2011).
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 2935
2015
Em se tratando de doenças de causas imediatas e até mesmo as que levam à
morte, contaminantes biológicos na água são quase sempre muito mais importantes
do que os químicos. Na verdade, muitos dos microrganismos em águas
subterrâneas estão presentes como resultado de contaminação por fezes humanas
e de animais. Vale ressaltar que apesar das técnicas bem desenvolvidas para a
desinfecção de águas, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, cerca de
4500 crianças morrem diariamente por doenças gastrointestinais em consequências
de águas poluídas e sanidade inadequada (BAIRD & CANN, 2011).
Atualmente, no Brasil a garantia de consumo humano de água segundo os
padrões de potabilidade adequados é questão relevante para a saúde pública.
Esses padrões são estabelecidos pela Portaria nº 2.914, de 12 de dezembro de
2011, do Ministério da Saúde, a qual estabelece que o município deva obedecer às
normas vigentes de água utilizada para consumo humano. A atribuição desses
padrões confere a instância municipal e, também, a responsabilidade da gestão dos
serviços de saneamento. Embora, não exclua os níveis estadual e federal de atuar
no estabelecimento de diretrizes, seja da assistência técnica ou da legislação
(D'AGUILA et al., 2000).
O objetivo do presente estudo foi analisar a potabilidade de água subterrânea
destinada ao consumo humano, de duas minas de uma cidade no interior de Minas
Gerais.
MATERIAL E MÉTODOS
As minas onde foram coletadas as amostras de água foram selecionadas
através da bacia hidrográfica do município de Uberaba, Minas Gerais. Ambas fazem
parte do mesmo manancial hidrográfico. A mina 1 é denominada de Horto Municipal
e a mina 2 de Universitário, nomes atribuídos pela população local. Essas duas
minas representam pontos de grande acessibilidade pela população na área urbana
da cidade de Uberaba. A Figura 1 representa a localização dos pontos de coleta
nessas referidas minas. As amostras foram coletadas semanalmente de janeiro de
2013 a dezembro de 2014. No total, foram coletadas 105 amostras em cada uma
das minas, sendo que, na primeira quinzena do mês de janeiro de 2013, as
amostras foram coletadas no período da manhã, na segunda quinzena desse mês
as coletas forma realizadas no período da tarde. No mês seguinte, as amostras
foram coletadas no período da tarde na primeira quinzena e no período da manhã na
segunda quinzena, as demais coletadas seguiram esse padrão de amostragem. Isso
possibilitou a avaliar a contaminação nessas duas minas em condições climáticas
diferentes e realizar um estudo longitudinal a respeito da qualidade da água dessas
minas.
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 2936
2015
FIGURA 1. Mostra a localização no mapa dos pontos de coleta das águas
subterrâneas de duas minas localizadas no perímetro urbano da
cidade de Uberaba, MG.
Fonte: Os autores.
Os parâmetros analisados para cada uma das amostras coletadas foram de
caráter microbiológico (Coliformes termotolerantes) e físico-químico (pH, metais
tóxicos, turbidez, oxigênio dissolvido e dureza). Todas as análises foram realizadas
em triplicata. Os procedimentos de coleta, tempo para análises e armazenamento
das amostras foram seguidos na íntegra conforme descrito no Standart Methods for
the Examination of Water and Westewater, 20th edition e estão relacionados no
quadro 1.
QUADRO 01. Análises e métodos utilizados.
Análise
Coliformes termotolerantes
Dureza
Gás oxigênio dissolvido
pH
Turbidez
Cd
Cr
Fe
Mn
Pb
Método
Técnica de tubos múltiplos
Método Titulométrico
Método Winkler
Método eletrométrico
Método espectrofotométrico
Espectroscopia de Absorção Atômica
Espectroscopia de Absorção Atômica
Espectroscopia de Absorção Atômica
Espectroscopia de Absorção Atômica
Espectroscopia de Absorção Atômica
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 2937
2015
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Parâmetros Microbiológicos
A Tabela1 mostra os valores médios mensais de contaminação por coliformes
termotolerantes das minas 1 e 2 de janeiro a dezembro de 2013. A Tabela 2 mostra
esses resultados microbiológicos de janeiro a dezembro de 2014. A técnica
empregada nessas análises foi a de tubos múltiplos.
TABELA 1: Resultados de tubos múltiplos das amostras de água, coletadas nas
minas 1 e 2, em área urbana, no município de Uberaba/MG de janeiro
a Dezembro de 2013.
Fonte
Contaminação por Coliformes termotolerantes em 2013 (NMP/mL)
Jan
Fev
Mar
Abr
Maio
Jun
jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Mina1
>16
16
9,2
9,2
9,2
9,2
9,2
16
9,2
9,2
9,2
>16
Mina 2
16
9,2
9,2
16
16
9,2
16
16
9,2
9,2
16
16
TABELA 2 ; Resultados de tubos múltiplos das amostras de água, coletadas nas
minas 1 e 2, em área urbana, no município de Uberaba/MG de
janeiro a dezembro de 2014.
Contaminação por coliformes termotolerantes em 2014
(NMP/mL)
Fonte
Jan
Fev
Mar
Abr
Maio
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Mina1
16
>16
>16
>16
16
9,2
9,2
9,2
9,2
9,2
16,0
16,0
Mina 2
>16
>16
9,2
>16
>16
16
16
9,2
16
16
9,2
9,2
As amostras de água oriundas da mina 1( Horto Municipal) foram as mais
contaminadas, no início da amostragem, por coliformes termotolerantes. Os cinco
tubos analisados apresentaram-se contaminados. Na mina 2 (Universitário), Tabela
1, quatro dos cinco tubos estavam contaminados por Coliformes termotolerantes,
nos meses analisados. Os resultados da Tabela 2 (coletas realizadas no ano de
2014) pouco diferem dos resultados referentes ao ano de 2013 (Tabela 1), isso
mostra, claramente, que a contaminação nessas duas minas por coliformes
termotolerantes segue uma distribuição sazonal.
A portaria 2914/2011 do Ministério da Saúde visa que para o consumo
humano, a água potável deve estar em conformidade com o padrão microbiológico,
valor máximo permitido esteja na ausência em 100 mL no parâmetro Escherichia coli
ou coliformes termotolerantes. Neste caso, foram analisados coliformes
termotolerantes que apresentam bactérias do grupo Escherichia coli, sendo o
principal representante do grupo coliforme. Das análises feitas, as duas minas
apresentam-se contaminadas nos anos de 2013 e 2014 por coliformes
termotolerantes, ficando assim fora dos parâmetros tolerados de potabilidade da
água para consumo humano.
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 2938
2015
Vale destacar também que para esse tipo de estudo longitudinal, as variações
dos resultados microbiológicos encontrados para as minas 1 e 2 ao longo dos meses
de estudos, retratam diretamente a influência do clima. Já que, nos períodos de
estiagem há uma redução na quantidade de água que percola da superfície para os
reservatórios subterrâneos, diminuindo assim a disseminação de coliformes
termotolerantes da superfície para esses reservatórios, alterando assim o número de
bactérias por mL. O contrário se observa nos períodos mais chuvosos, onde a
quantidade de água que percola da superfície é maior. Fatores geográficos também
podem interferir levando a oscilações na contagem de bactérias nessas águas
subterrâneas. Nesse contexto, torna-se indispensável à observação nos critérios da
legislação quanto ao monitoramento das possíveis fontes poluidoras já existentes no
local dessas minas e às que ainda poderão se instalar (LÖBLER et al., 2014).
Parâmetros físico-químicos
A Tabela 3 apresenta os valores médios (pH, dureza, oxigênio dissolvido e
turbidez) encontrados para as amostras de água coletadas na mina 1( Horto
Municipal).
TABELA
Parâmetros
físico-químicos
(Valor médio)
pH
(*VMP 6-9,5)
Dureza
(VMP= 500 mg
-1
L )
O2 dissolvido
-1
(mg L )
Turbidez
(*VMP = 5 UNT)
Parâmetros
físico-químicos
(Valor médio)
pH
(*VMP 6-9,5)
Dureza
(VMP= 500 mg
-1
L )
O2 dissolvido
-1
(mg L )
Turbidez
(*VMP = 5 UNT)
3: Parâmetros Físico-químicos das amostras de água, coletadas na
mina1, Horto Municipal, em área urbana, no município de
Uberaba/MG de janeiro de 2013 a dezembro de 2014.
Meses de coleta na mina 1, no ano de 2013
Jan
Fev
Mar
Abr
Maio
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
5,87
5,95
5,91
5,89
5,64
5,90
5,45
5,87
5,45
5,48
5,78
5,71
40
47
55
38
34
27
28
26
31
29
32
29
5,60
4,78
5,60
4,65
4,36
4,67
4,96
4,77
5,19
4,89
4,39
4,90
1,50
1,74
1,36
1,07
2,30
2,49
2,85
2,15
2,30
2,70
2,25
1,89
Meses de coleta na mina 1, no ano de 2014
Jan
Fev
Mar
Abr
Maio
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
5,93
5,78
5,48
5,62
5,70
5,87
5,52
5,60
5,90
5,86
5,87
5,85
39
46
51
41
36
32
29
30
33
32
35
31
5,30
5,10
5,12
4,90
4,86
4,75
5,13
5,00
5,11
4,93
4,54
4,81
1,45
1,62
1,40
1,23
1,89
2,14
2,80
2,40
2,10
2,40
2,03
2,42
*VMP: valor máximo permitido de acordo com a Portaria nº 2.914, de 12 de
dezembro de 2011, do Ministério da Saúde, em categoria de água para consumo
humano.
A Tabela 4 apresenta os valores médios (pH, dureza, oxigênio dissolvido e
turbidez) encontrados as amostras de água coletadas na mina 2(Universitário).
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 2939
2015
TABELA 4: Parâmetros Físico-químicos das amostras de água, coletadas na mina
2, Universitário, em área urbana, no município de Uberaba/MG de
janeiro de 2013 a dezembro de 2014.
Parâmetros
físico-químicos
(Valor médio)
pH
(*VMP 6-9,5)
Dureza
(VMP= 500
-1
mg L )
O2 dissolvido
-1
(mg L )
Turbidez
(*VMP = 5
UNT)
Parâmetros
físico-químicos
(Valor médio)
pH
(*VMP 6-9,5)
Dureza
(VMP= 500
-1
mg L )
O2 dissolvido
-1
(mg L )
Turbidez
(*VMP = 5
UNT)
Meses de coleta na mina 2, no ano de 2013
Jan
Fev
Mar
Abr
Maio
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
5,49
5,14
5,68
5,47
5,64
5,50
5,79
5,94
5,48
5,87
5,76
50
46
48
39
48
38
29
34
43
39
41
5,80
6,35
5,40
5,60
4,80
6,70
6,85
6,74
5,39
6,60
4,98
4,68
1,18
1,75
2,10
1,30
1,50
1,78
2,00
2,50
2,91
1,78
2,17
2,55
5,69
39
Meses de coleta na mina 2, no ano de 2014
Jan
Fev
Mar
Abr
Maio
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
5,60
5,43
5,70
5,91
5,39
5,29
5,82
5,60
5,43
5,60
5,71
55
51
54
45
41
44
41
40
47
40
37
5,34
5,76
5,55
5,91
5,30
6,25
6,45
6,00
5,85
6,15
5,34
5,97
2,15
2,76
2,87
2,21
1,90
2,15
2,47
2,87
2,24
2,45
2,18
2,59
5,56
46
*VMP: valor máximo permitido de acordo com a Portaria nº 2.914, de 12 de
dezembro de 2011, do Ministério da Saúde, em categoria de água para consumo
humano.
Ambas as amostras apresentaram pH abaixo do permitido em todos os
períodos de amostragem. A portaria 2914/2011 Ministério da Saúde recomenda que
o pH para água de consumo seja mantido na faixa de 6,0 a 9,5. O pH é um
parâmetro de extrema importância de avaliação de qualidade. O decréscimo de pH
indica uma situação de desequilíbrio que pode ter várias causas. Uma delas é a
contaminação do lençol freático por chorume ácido oriundo de efluentes industriais e
domésticos, tendo em vista que as minas se localizam em área urbana onde são
comuns tais atividades.
De acordo com a portaria vigente, o valor máximo recomendado de dureza
para água de consumo e de 500 mg/L. Ambas as minas estão dentro dos padrões
recomendados. Em relação a essa portaria não existem parâmetros para quantidade
de oxigênio dissolvido em água para consumo.
A diferença de pressão parcial faz com que o oxigênio presente na atmosfera
se dissolva na água. Os valores de O2 dissolvido indicam características químicas
como os efeitos de resíduos oxidáveis sobre as águas e a capacidade natural de
manutenção de vida aquática (CETESB, 2011). As águas consideradas adequadas
para consumo humano, normalmente, apresentam altos teores de oxigênio
dissolvido, que quase atingem a saturação, exceto no caso das águas subterrâneas,
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 2940
2015
as quais são comuns uma menor concentração de O2 dissolvido, devido à menor
reaeração em relação às águas superficiais em canais aberto. Assim se comparado,
as minas analisada apresentam baixas concentrações, porém, estão dentro da
normalidade.
A turbidez consiste na presença de materiais sólidos em suspensão e
também pela presença de algas, plâncton e matéria orgânica e outras substâncias
presentes em efluentes domésticos e industriais, sendo um indicativo de poluição.
Segundo SCHWARTZ et al. (2000) foi encontrada uma associação entre índices de
turbidez e ocorrência de doenças gastrintestinais entre a população idosa na
Filadélfia (EUA) no período de 1993-1993. Levando o valor máximo permito de 5
UNT (2914/2011 do MS), as águas coletadas nas minas 1 e 2 de janeiro de 2013 a
dezembro de 2014 estão dentro do limite de aceitação.
Os metais contribuem de forma relevante na contaminação no meio ambiente,
sendo um reflexo de atividades industriais em que os utilizam de forma acelerada.
Combinado com o descarte inapropriado de efluentes industriais, o uso desses
metais podem se tornar um fator preocupante. As Tabelas 5 e 6 demonstram os
teores dos metais cádmio (Cd), cromo (Cr), ferro (Fe), manganês (Mn), chumbo (Pb)
encontrados nas amostras de água coletadas nas minas 1 e 2 respectivamente, de
janeiro de 2013 a dezembro de 2014.
Tem-se estudado diversos aspectos sobre o acúmulo de metais nos sistemas
aquáticos em relação aos efeitos de bioacumulação desses contaminantes nas
cadeias alimentares. Vale destacar que apesar de alguns metais como o manganês,
ferro e zinco possuírem papel fisiológico, micronutrientes, altas concentrações
destes, podem ser prejudiciais (REINFELDER et al., 1998).
TABELA 5: Apresenta as concentrações dos metais analisados na mina 1 de janeiro
de 2013 a dezembro de 2014.
Mês / Ano
Jan/13 e Jan/14
Fev/13 e Fev/2014
Mar/13 e Mar/14
Abr/13 e Abr/14
Maio/13 e Maio/14
Jun/13 e Jun/14
Jul/13 e Jul/14
Ago/13 e Ago/14
Set/13 e Set/14
Out/13 e Out/14
Nov/13 e Nov/14
Dez/13 e Dez/14
VMP**
Cd
<0,001
<0,001
<0,001
<0,001
<0,001
<0,001
<0,001
<0,001
<0,001
<0,001
<0,001
<0,001
0,005
Mina 1 (Valor médio (mg/L)
Cr
Fe
<0,01
0,109
<0,01
0,115
<0,01
0,211
<0,01
0,178
<0,01
0,356
<0,01
0,366
<0,01
0,435
<0,01
0,785
<0,01
0,458
<0,01
0,312
<0,01
0,255
<0,01
0,117
0,050
0,300
Mn
0,144
0,135
0,124
0,136
0,094
0,040
0,135
0,117
0,095
0,147
0,114
0,099
0,100
Pb
0,186
0,147
0,136
0,01
0,09
0,163
0,020
0,057
0,044
0,073
0,047
0,056
0,010
**VMP: Valor máximo permitido de acordo com a Portaria nº 2.914, de 12 de
dezembro de 2011, do Ministério da Saúde, em categoria de água para consumo
humano.
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 2941
2015
TABELA 6: Apresenta as concentrações dos metais analisados na mina 2 de
janeiro de 2013 a dezembro de 2014
Mês /Ano
Jan/13 e Jan/14
Fev/13 e Fev/2014
Mar/13 e Mar/14
Abr/13 e Abr/14
Maio/13 e Maio/14
Jun/13 e Jun/14
Jul/13 e Jul/14
Ago/13 e Ago/14
Set/13 e Set/14
Out/13 e Out/14
Nov/13 e Nov/14
Dez/13 e Dez/14
VMP**
Mina 2 (Valor médio (mg/L)
Cd
Cr
Fe
<0,001
<0,01
0,047
<0,001
<0,01
0,065
<0,001
<0,01
0,048
<0,001
<0,01
0,076
<0,001
<0,01
0,046
<0,001
<0,01
0,025
<0,001
<0,01
0,035
<0,001
<0,01
0,076
<0,001
<0,01
0,064
<0,001
<0,01
0,046
<0,001
<0,01
0,069
<0,001
<0,01
0,071
0,005
0,050
0,300
Mn
0,184
0,186
0,146
0,168
0,176
0,100
0,157
0,097
0,095
0,149
0,165
0,046
0,100
Pb
0,328
0,233
0,214
0,225
0,175
0,163
0,090
0,085
0,078
0,089
0,097
0,078
0,010
**VMP: Valor máximo permitido de acordo com a Portaria nº 2.914, de 12 de
dezembro de 2011, do Ministério da Saúde, em categoria de água para consumo
humano.
As concentrações de cádmio e cromo, minas 1 e 2 ao longo dos dois anos de
estudo, ficaram abaixo do limite de detecção do método utilizado, logo, dentro dos
padrões de aceitação especificados pelo Ministério da Saúde.
O ferro ocorre, principalmente, em águas subterrâneas pela reação entre os
óxidos de ferro, constituintes das rochas, com o gás carbônico dissolvido nessas
águas formando o carbonato ferroso. Mesmo sendo um elemento essencial à
nutrição humana, altas concentrações provocaram características indesejadas na
água como alteração da cor e sabor (CETESB, 2011). A portaria 2914/2011 MS
regulamenta o valor máximo permitido para o ferro de 0,30 mg/L, logo percebe-se
que na grande maioria do período analisado, o parâmetro está dentro dos limites
exigidos. As variações podem ser explicadas em função do teor de gás carbônico
dissolvido nessas águas subterrâneas, maior dissolução dos óxidos de ferro, uma
vez que, a composição rochosa dessas duas minas é semelhante.
O manganês está presente em diversos produtos de uso industrial e
doméstico, como ligas metálicas e produtos de limpeza. Na água pode ser
encontrado em sua forma bivalente ou tetravalente. O manganês é um elemento
essencial para nutrição humana, mas grandes concentrações podem alterar
características, como por exemplo, o escurecimento da água (CETESB, 2011). Os
teores de manganês encontrados em alguns meses ficaram acima do padrão de
aceitação, que regulamenta segundo a portaria 2914/2011, o valor máximo aceitável
de 0,10 mg/L. Porém, o teor de Manganês encontrado foi menor em outros meses,
dentro dos padrões estabelecidos pelo Ministério da Saúde.
De acordo com portaria vigente os valores de Ferro e Manganês são aceitos
valores acima dos valores máximos permitidos, desde que estejam complexados á
produtos químicos de baixo risco à saúde e a concentração de ferro não ultrapasse
2,4 mg/L e manganês 0,4 mg/L. A presença do Chumbo na água ocorre por
deposição atmosférica ou lixiviação do solo. O chumbo raramente é encontrado na
água de distribuição, a não ser quando se utilizam encanamentos a base deste
metal (CESTESB, 2011).
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 2942
2015
O chumbo possui característica acumulativa e pode afetar quase todos os
órgãos e sistemas do corpo, mas o mais sensível é o sistema nervoso central, tanto
em adultos como em crianças. Contatos prolongados levam a um envenenamento
crônico denominado saturnismo (BAIRD & CANN, 2011). O padrão de potabilidade
para o chumbo estabelecido pela Portaria 2914/2011 MS é de 0,01 mg/L.
Nas duas minas analisadas o teor de chumbo encontrado é preocupante.
Concentrações encontradas, no início das amostragens (meses de janeiro)
aproximadamente 19 vezes e 32,8 vezes acima do recomendado como na mina 1 e
mina 2, respectivamente, revelam a contaminação da água por este metal tóxico.
Provavelmente, a fonte de contaminação foi pontual, sendo que ambas as minas
localizam em área urbana e podem estar sujeitas a contaminação por dejetos
industriais. A contaminação dessas águas subterrâneas por chumbo é realmente
preocupante, já que os resultados da amostragem de outros meses foram um pouco
menores, porém, ainda acima do máximo permitido pela lei para consumo pela
portaria do Ministério da Saúde.
CONCLUSÕES
Na maioria dos testes realizados, os resultados das análises de ambas as
minas apresentaram conformidade com a portaria do Ministério da Saúde,
entretanto, os teores de chumbo e os valores de coliforme termotolerantes
encontrados ficaram acima do máximo permitido. Sendo assim, essas águas
subterrâneas não podem ser destinadas ao consumo humano. Sabe-se que a
utilização de águas de minas é de responsabilidade dos próprios usuários, porém, a
fiscalização da qualidade e da utilização dessas fontes é das Secretarias Municipais
de Saúde. Com isso, vale destacar que os resultados dessa pesquisa foram
encaminhados para a Secretaria Municipal de Saúde de Uberaba para avaliação e
providências, já que é direito de todos os cidadãos terem acesso a água potável.
AGRADECIMENTOS
A equipe do laboratório ambiental da Labfert Análises Ltda. pela concessão
das análises dos metais, e a equipe do laboratório de microbiologia e analises físicoquímicas da Universidade de Uberaba pelo auxílio nas análises microbiológicas.
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ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 2944
2015
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avaliação da potabilidade de água subterrânea destinada ao