VIVIANE DOS SANTOS BRANDÃO TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS DE SUINOCULTURA UTILIZANDO FILTROS ORGÂNICOS Tese apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Curso de Engenharia Agrícola, para obtenção do título de “Magister Scientiae”. VIÇOSA MINAS GERAIS – BRASIL DEZEMBRO – 1999 VIVIANE DOS SANTOS BRANDÃO TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS DE SUINOCULTURA UTILIZANDO FILTROS ORGÂNICOS Tese apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Curso de Engenharia Agrícola, para obtenção do título de “Magister Scientiae”. APROVADA: 13 de agosto de 1999. _______________________________ _______________________________ Prof. Eduardo de Sá Mendonça Pesq. Maria Aparecida N. Sediyama (Conselheiro) (Conselheiro) _______________________________ _______________________________ Prof. Demetrius David da Silva Prof. Rubens Alves de Oliveira _______________________________ Prof. Antonio Teixeira de Matos (Orientador) Àqueles que sempre foram para mim exemplo de dignidade, respeito, dedicação e, principalmente, amor não só para com eles mesmos, mas também para com todos aqueles que deles se aproximam: meus pais. ii AGRADECIMENTO A Deus, pela oportunidade deste momento. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela concessão da bolsa de estudo. À Universidade Federal de Viçosa (UFV) e aos Departamentos de Engenharia Agrícola e de Solos, pelas condições de realização deste trabalho. Ao Professor Antonio Matos, pela preciosa orientação, pelo estímulo e pela disponibilidade, o que foi fundamental para o sucesso deste trabalho. Aos meus pais Paulo e Norma, por tudo aquilo que eles representam na minha formação não só profissional, mas, principalmente, pessoal; agradeço a eles pelos puxões de orelha e pelas palavras de apoio que me estimularam a chegar até aqui. Aos meus irmãos Lilian, Vinícius e Luis Paulo, pelo companheirismo e pelas alegrias. Aos meus avós Moysés, Francisca e Maria, pelo carinho demonstrado em cada dia de nosso convívio. Aos meus tios, pela participação, com tanto otimismo, nesta caminhada. A Giselly e Márcia, pela amizade e pela colaboração na execução do experimento e das análises. Aos meus colegas Sandro, Ricardo e Raimundo Gomes, pelo valioso auxílio na execução do experimento. iii A Paulo Gabriel, Odair, Nelci e Marcelo, pela amizade, pelo carinho e pela paciência. Aos Professores Maurício Fontes, Mauro Martinez, Eduardo Mendonça e Márcio Mota, pelas contribuições e pelas sugestões. Aos funcionários do Departamento de Engenharia Agrícola Antônio, Carlos e Gilberto, pela força física e moral, sem o que não teria sido possível a realização deste trabalho. Aos funcionários do Departamento de Solos José Francisco, Carlos Henriques e Carlos Cotréia, pela disponibilidade, pela paciência e pela dedicação. iv BIOGRAFIA VIVIANE DOS SANTOS BRANDÃO, filha de Paulo Norberto Bueno Brandão e Norma dos Santos Brandão, nasceu na cidade do Rio de Janeiro, RJ, no dia 28 de agosto de 1974. Em maio de 1992, iniciou o Curso de Graduação em Agronomia na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, em Seropédica, RJ, graduandose em março de 1997. Em março de 1997, iniciou o Curso de Mestrado em Engenharia Agrícola, concentrando seus estudos na área de concentração em Irrigação e Drenagem, na Universidade Federal de Viçosa, em Viçosa, MG. v CONTEÚDO Página EXTRATO ................................................................................................ vii ABSTRACT ............................................................................................. ix 1. INTRODUÇÃO .................................................................................... 1 2. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................... 4 2.1. Produção de resíduos em granjas suinícolas .............................. 5 2.2. Caracterização das águas residuárias de suinocultura ............... 7 2.3. Poluição decorrente da disposição inadequada das águas residuárias de suinocultura no meio ambiente ............................ 10 2.4. Legislação ambiental vigente ....................................................... 15 2.5. Tratamento das águas residuárias ............................................... 17 2.5.1. Filtração ................................................................................. 17 2.5.1.1. Filtração rápida ................................................................ 18 2.5.1.2. Filtração lenta ................................................................... 20 2.5.2. Sentido do fluxo ..................................................................... 21 2.5.3. Eficiência do tratamento ......................................................... 22 2.5.4. Uso de filtros no tratamento das águas residuárias de suinocultura ............................................................................ 24 3. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................... 26 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................... 34 5. RESUMO E CONCLUSÕES ............................................................... 50 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 53 APÊNDICE .............................................................................................. 58 vi EXTRATO BRANDÃO, Viviane dos Santos, M.S., Universidade Federal de Viçosa, dezembro de 1999. Tratamento de águas residuárias de suinocultura utilizando filtros orgânicos. Orientador: Antonio Teixeira de Matos. Conselheiros: Maurício Paulo Ferreira Fontes e Mauro Aparecido Martinez. A suinocultura moderna é uma atividade pecuária sabidamente concentradora de dejetos em pequenas áreas, em razão da produção em regime de confinamento dos animais. Para remoção de poluentes de águas residuárias, podem ser empregados processos físicos, químicos e biológicos. Os processos físicos, como a filtração, podem ser utilizados como alternativa de grande eficiência na remoção de sólidos totais em suspensão e, dependendo do material filtrante, até dissolvidos. Por ser a água residuária de granjas suinícolas muito rica em sólidos em suspensão e dissolvidos, o uso de filtros convencionais de areia não é recomendável, sendo, por isso, necessário o estudo de materiais alternativos. A utilização de material que seja subproduto de atividades agropecuárias e industriais é interessante, considerando-se a sua abundância, as dificuldades para sua disposição no ambiente e o seu baixo custo de aquisição. Como material filtrante para o tratamento de águas residuárias da suinocultura, foram utilizados a casca de arroz, a casca de café, o bagaço de cana-de-açúcar, o sabugo de milho triturado, a serragem de madeira e o fino de carvão vegetal. Para caracterização do material dos filtros, vii determinaram-se a massa específica, o pH e a sua composição química. As colunas de filtragem foram constituídas de tubos de PVC de 100 mm de diâmetro e comprimento de 600 mm. O material filtrante foi acondicionado nas colunas até atingir a altura de 500 mm, sofrendo compressão de 12.490 N m-2. O experimento foi arranjado em delineamento em blocos inteiramente casualizados, sendo constituído de seis tratamentos (seis materiais filtrantes) e quatro repetições. Foram avaliadas as alterações químicas e físicas ocorridas tanto no material filtrante como na água residuária, em função do volume de poros efluentes das colunas, além da eficiência de remoção de poluentes. As análises químicas e físicas foram realizadas em amostras dos efluentes coletadas a cada 1,5 L, até um total de 15 L, e posteriormente convertidas em volume de poros efluente. Houve remoção de mais de 90% dos sólidos sedimentáveis e de, aproximadamente, 37% do Cu presente na água residuária, independentemente do material orgânico empregado como filtro. Os materiais filtrantes que apresentaram maior capacidade de retenção de poluentes foram o bagaço de cana-de-açúcar e a serragem de madeira. viii ABSTRACT BRANDÃO, Viviane dos Santos, M.S., Universidade Federal de Viçosa, December 1999. Treatment of pig wastewater using organic filters. Adviser: Antonio Teixeira de Matos. Adviser: Antonio Teixeira de Matos. Committee Members: Maurício Paulo Ferreira Fontes and Mauro Aparecido Martinez. The modern swine breeding is an activity well-know concentrater of dejections in small areas, in reason of the production in regime of confinement of the animals. For the removal of pollutings of wastewaters, physical, chemical and biological processes can be used. The physical processes, as the filtration, they can be used as alternative of great efficiency in the removal of total solids, in suspension and, depending the use material, until dissolved. Wherein the liquid swine manure of farms very rich in solids in suspension and dissolved, the use of conventional sand filters is not advisable, for this reason, it’s necessary the study of alternative materials. The use of materials that they are subproducts of agricultural and industrial activities is interesting considering its abundance, the difficulties for its disposition in the atmosphere and the low acquisition cost. As filtering material, for the pig wastewater treatment were used the husk of rice, the husk of coffee, the sugar-cane trash, the trituredcorncob, the wood sawdust and the fine of vegetable coal. For the material characterization of the filters were determined the specific mass, the ix pH and the chemical composition were determined. The columns of filtration were constituted by tubes of PVC of 100 mm diameter and of 600 mm length. The filtering material was conditioned in the columns until reaching the height of 500 mm, submitted compression of 12490 N m-2. The experiment was arranjed in a randomized complete block design, and constituted by 6 treatments (6 filtering materials) and 4 repetitions. Chemical and physical alterations were appraised, both in the filtering material and in the pig wastewater, in function of the volume of pores effluent of the columns, besides the efficiency of pollutings removal. The chemical and physical analyses were accomplished in samples of the effluent collected each 1,5 L, until a total of 15 L, and later on converted for volume of pores effluent. There was removal of more than 90% of the sedimentable solids and about 37% of the present Cu in the pig wastewater, independent of the organic material employee as filter. The sugar-cane trash and the sawdust wood showed larger capacity of pollutings retention. x 1. INTRODUÇÃO A suinocultura moderna é uma atividade pecuária conhecidamente concentradora de dejetos em pequenas áreas. A produção e o acúmulo de grande quantidade de resíduos nas granjas suinícolas fazem com que essa atividade tenha elevado potencial poluidor do solo, do ar e da água. O potencial poluidor das águas residuárias de suinocultura está relacionado com a presença de sólidos em suspensão e dissolvidos, matéria orgânica, nutrientes (nitrogênio e fósforo, dentre outros), patógenos, metais pesados e sais diversos. O volume total de água residuária no sistema de produção depende da quantidade de água desperdiçada nos bebedouros e do volume de água usada na limpeza das instalações. Quanto maior for esse volume, tanto maiores serão os custos agregados a essa atividade. A crescente preocupação da sociedade com questões ambientais, plenamente justificada perante a degradação dos recursos naturais do planeta, vem forçando os governantes a tomarem atitudes disciplinadoras e fiscalizadoras para o exercício de atividades potencialmente poluidoras. Assim, nos últimos 15 anos, muita atenção passou a ser dada à necessidade de desenvolvimento tecnológico com vistas à disposição dos resíduos gerados por animais, de forma a causar o mínimo impacto sobre o ambiente. A legislação ambiental vigente determina que, no caso de lançamento de efluentes em cursos d’água, a DBO5 a 20°C deve ser de no máximo 1 60 mg L-1. Este limite somente poderá ser atingido, ou mesmo ultrapassado, caso a eficiência do sistema de tratamento seja maior que 85% em termos de redução de DBO e, ainda, quando o efluente lançado não alterar os padrões de qualidade ou classificação do curso d’água (VON SPERLING et al., 1995). Com os intuitos de amenizar o impacto ambiental provocado pelo descarte dos resíduos das granjas suinícolas e reduzir os custos de implantação e de operação dos sistemas de tratamento, inúmeras alternativas têm sido estudadas. Considerando o valor fertilizante dos dejetos de suínos, que possuem, em média, 0,60 dag kg-1 de nitrogênio, 0,25 dag kg-1 de fósforo e 0,12 dag kg-1 de potássio (OLIVEIRA, 1993), o seu aproveitamento na fertirrigação de culturas agrícolas tem levado ao aumento de produção e produtividade. O uso deles como fonte de N para produção de compostos orgânicos tem, também, sido utilizado com sucesso (MATOS et al.,1998). Dentre as formas alternativas de remoção de poluentes presentes nas águas residuárias está a filtração. A ação mecânica de eliminação dos sólidos em suspensão por filtração está baseada no princípio de que um meio poroso pode reter impurezas de dimensões menores do que as dos poros da camada filtrante (POVINELLI e MARTINS, 1973). No entanto, esses mecanismos de remoção são temporários ou finitos, tendo em vista a obstrução gradativa dos poros do leito filtrante, com o conseqüente aumento da perda de carga no filtro. Por ser a água residuária de granjas suinícolas muito rica em sólidos em suspensão e dissolvidos, o uso de filtros convencionais de areia não é recomendável, dados a sua rápida colmatação superficial e o impedimento ao fluxo normal da água residuária. Por essa razão, torna-se necessário o uso de materiais filtrantes que sejam passíveis de sistemáticas trocas nas colunas e que não venham a constituir nova fonte de poluição ambiental. A utilização de materiais capazes de absorver/adsorver solutos e reter sólidos em suspensão e que sejam subprodutos de atividades agropecuárias e industriais torna-se opção interessante, dados a sua abundância, o seu baixo custo de aquisição e o fato de serem resíduos que podem ser dispostos de forma harmônica no ambiente. Resíduos orgânicos como a casca de arroz, a casca de café, o bagaço de cana-de-açúcar, o sabugo de milho, a serragem de madeira e o fino de carvão vegetal podem constituir importante opção de material filtrante para uso 2 no tratamento de águas residuárias de suinocultura. Após suplantada a capacidade filtrante desses materiais, a eficiência de tratamento deverá diminuir, o que tornará necessária a substituição do filtro em intervalos definidos de tempo. Os materiais filtrantes utilizados, ou seja, saturados de material absorvido, adsorvido ou simplesmente retido em seus poros, constituem lotes de material a ser compostado, podendo produzir, ao final do período de maturação, adubo orgânico de considerável valor fertilizante. Diante do exposto, o presente trabalho enfocou o tratamento das águas residuárias provenientes da suinocultura, tendo como objetivo avaliar as alterações químicas e físicas ocorridas tanto no material filtrante quanto na água residuária, bem como determinar a eficiência de remoção de poluentes da água residuária de suinocultura. 3 2. REVISÃO DE LITERATURA A partir da segunda metade da década de 70, a atividade suinícola em Minas Gerais, principalmente na região da Zona da Mata, sofreu grande expansão com o crescimento das granjas então existentes e a implantação de inúmeros projetos novos (MINAS GERAIS, 1995). A suinocultura moderna é uma atividade pecuária conhecidamente concentradora de dejetos em pequenas áreas, em razão da produção em regime de confinamento dos animais. No Brasil, esta atividade é predominantemente explorada em pequenas propriedades. Cerca de 81,7% do plantel de suínos é criado em unidades de até 100 ha (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,1983, citada por OLIVEIRA, 1993). O rebanho mundial de suínos em 1989, segundo dados estimados pela FAO (Food and Agriculture Organization), das Nações Unidas, era de 842.220 mil cabeças, com uma produção de 65.518 mil toneladas de carne. Em 1989, o plantel suinícola brasileiro era constituído de um rebanho efetivo de 28 milhões de cabeças, contribuindo com cerca de 3,32% do total mundial. Nesse período, a produção brasileira alcançou o patamar de 1 milhão de toneladas de carne, colocando o país na 14a posição, com 1,53% da produção mundial. O Brasil, em termos de produtividade, ocupa a 4a posição no "ranking" mundial, segundo dados da FAO de 1989, citada por OLIVEIRA (1993). Até a década de 70, os dejetos de suínos não constituíam fator preocupante com relação à sua disposição no meio ambiente, pois os animais 4 eram criados extensivamente, o que possibilitava sua automática distribuição no campo ou, quando se recolhiam, os dejetos eles eram utilizados como adubo orgânico (OLIVEIRA, 1993; PERDOMO, 1995). Como conseqüência da intensificação da produção suinícola, houve aumento do volume de dejetos produzidos por unidade de área, o que tem gerado problemas de manejo, armazenamento, distribuição, tratamento ou disposição no solo, aumentando, com isso, os custos operacionais da atividade. 2.1. Produção de resíduos em granjas suinícolas A quantidade de dejetos de suínos produzidos por dia por um animal adulto corresponde, aproximadamente, à quantidade produzida por seis a oito pessoas (LOURES, 1998). A quantidade total de resíduos líquidos produzidos varia de acordo com o desenvolvimento ponderal dos animais. A produção diária de dejetos varia de 6 a 8% do peso corporal do animal (LOEHR, 1984). No Quadro 1 estão apresentados os valores de produção média para diferentes fases do ciclo de produção de suínos. Quadro 1 – Produção média diária (d) de resíduos em granjas suinícolas Fase do ciclo de produção Dejeto Dejeto+ urina Águas residuárias kg d-1 kg d-1 L d-1 Suínos de 25-100 kg 2,30 4,90 7,00 Porcas em gestação 3,60 11,00 16,00 Porcas em lactação 6,40 18,00 27,00 Macho 3,00 6,00 9,00 Creche 0,35 0,95 1,40 Média 2,35 5,80 8,60 Fonte: OLIVEIRA (1993). 5 O volume de águas residuárias produzido nos sistemas de criação de suínos não depende, exclusivamente, das quantidades de dejeto e urina produzidos pelos animais, dependendo também da quantidade de água desperdiçada nos bebedouros e do volume de água utilizados na higienização das edificações e dos animais. O consumo total de água pelos suínos depende de fatores como tamanho corporal, tipo de dieta, temperatura do ambiente, saúde e diferenças individuais. Em situações livres de estresse, a ingestão diária corresponde a 5 ou 6% do peso corporal do animal. No Quadro 2 estão apresentadas as exigências de água por suínos, de acordo com a fase do ciclo de produção. O aumento do consumo de água é acompanhado de maior perda de água pela urina (PERDOMO, 1995). Em termos gerais, de cada litro de água ingerido por um suíno resulta 0,6 a 0,7 L de urina (LOEHR, 1984). Quadro 2 – Exigências de água pelo animal de acordo com a fase do ciclo de produção Exigências (L animal-1 dia-1) Fase do ciclo de produção Mínima Máxima Leitão lactente 0,1 0,5 Creche 1,0 5,0 Suínos 25-50 kg 4,0 7,0 Suínos 50-100 kg 5,0 10,0 Porcas em gestação 20,0 35,0 Porcas em lactação 15,0 23,0 Cachaços 10,0 15,0 Fonte: PERDOMO (1995). OLIVEIRA (1994), comparando o consumo de água por suínos em crescimento e terminação, nos bebedouros dos tipos nível e chupeta, concluiu que o bebedouro tipo nível apresentou desempenho superior, gastando 2,32 6 vezes menos água do que o tipo chupeta, sem ocorrer interferência no ganho de peso diário dos animais. A pressão adequada para o acionamento do bebedouro não deve exceder a 0,5 kgf cm-2 no tipo taça, usado para leitões na maternidade; e a 1 kgf cm-2 no tipo chupeta, utilizado para leitões em creche. Pressões baixas ou altas demais aumentam o desperdício. O consumo de água para limpeza em sistemas de produção de suínos, segundo Sobestiansky, citado por OLIVEIRA (1994), é de 6 L porca-1 dia-1 e 2 L animal-1 dia-1 na terminação. Esse consumo é considerado elevado, aumentando, consideravelmente, o volume de águas residuárias produzido. Uma das soluções alternativas para reduzir o consumo de água são a limpeza a seco e o uso de piso ripado em pocilgas. Nesse caso, a freqüência de limpeza passa a ser menor, e o uso de água se faz necessário somente na saída do lote de animais das pocilgas. Dessa forma, as quantidades de efluente produzidas nas edificações podem ser reduzidas, primeiro, pela redução das perdas de água (desperdícios) e, segundo, pela redução do consumo desnecessário de água em função da dieta. A região da Zona da Mata mineira, que possui um plantel de aproximadamente 30.000 matrizes de suínos de raças especializadas, enfrenta problemas com o volume das águas residuárias produzidas pelos animais, em sistema de confinamento (SEDIYAMA et al., 1995). Com base nos índices de produção média de águas residuárias por matriz em produção, apresentados por KOZEN et al. (1997), pôde-se calcular que a quantidade de águas residuárias produzidas na Zona da Mata era cerca de 2.691 m3 d-1. 2.2. Caracterização das águas residuárias de suinocultura Segundo Kozen, citado por CHATEAUBRIAND (1988), os dejetos de suínos apresentam grandes variações nas composições mineral e orgânica, dependendo do tipo de exploração, da alimentação dos animais e da forma como os dejetos são manuseados e armazenados. Em relação aos dejetos sólidos e, mais precisamente, em comparação com fertilizantes minerais, observou-se que eles apresentam menores concentrações de nutrientes totais. 7 A relativamente baixa concentração de nutrientes nas águas residuárias aumenta os custos de armazenamento, transporte e aplicação por unidade de nutriente, limitando sua utilização econômica como fertilizante para áreas próximas à sua produção (SCHERER e BALDISSERA, 1994). Conforme já comentado, a constituição química dos dejetos de suínos é muito variável. No que se refere às águas residuárias produzidas, essa variação se amplia ainda mais, uma vez que está também condicionada à forma de manejo dos dejetos e à quantidade de água incorporada a eles. No Quadro 3 está mostrada a composição média das águas residuárias da suinocultura, segundo apresentado por diversos autores. SCHERER et al. (1995) verificaram grande diferença entre os sistemas de criação, tanto no teor de matéria seca quanto na concentração de nutrientes. As maiores concentrações de nutrientes foram observadas no esterco das unidades de terminação e de ciclo completo e as menores, naquelas provenientes de esterqueiras de maternidade. Segundo esses mesmos autores, existe estreita relação entre o teor de matéria seca do esterco e sua qualidade fertilizante, principalmente nas concentrações de nitrogênio e fósforo. Aproximadamente, dois terços do nitrogênio, um terço do fósforo e quase 100% do potássio encontram-se na água residuária na forma mineral, isto é, numa forma prontamente assimilável pelas plantas. Em águas residuárias de suinocultura, parte do nitrogênio encontra-se na forma amoniacal e a maior parte está na forma orgânica, exigindo que ocorra a mineralização para que seja disponibilizado para as plantas. Entretanto, para maior aproveitamento do nitrogênio, as preocupações devem estar voltadas para a redução das perdas de N-NH3 por volatilização e de NNO3- por lixiviação. A utilização de doses elevadas de resíduos orgânicos poderá causar aumento no potencial de denitrificação, favorecida pela lixiviação de nitratos para zonas do perfil do solo com baixos teores de oxigênio (SCHERER e BALDISSERA, 1994). A disponibilidade de N no dejeto deve ser conhecida de maneira a planejar práticas de aplicação que maximizam o valor fertilizante da água residuária enquanto minimizam os impactos ambientais adversos. 8 Quadro 3 – Composição média da matéria seca de águas residuárias de suinocultura Componentes (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) pH 6,50 7,60 8,40 - 7,80 - - Relação C/N 8,35 - - - - 10,10 - C (dag kg-1) 36,56 - - - - 21,31 - N (dag kg ) 4,38 4,45 28,22 11,84 7,15 2,10 8,80 P (dag kg-1) 1,41 3,08 2,50 2,45 2,65 2,11 2,30 K (dag kg-1) 4,10 1,73 13,39 7,76 1,29 0,48 4,10 Na (dag kg-1) - - - - 0,24 - - Ca (dag kg-1) 4,16 - - - 7,42 6,52 2,00 Mg (dag kg-1) 1,00 - - - 2,63 0,63 1,00 S (dag kg ) 0,71 - - - 1,30 0,55 - Fe (dag kg-1) - - 0,19 0,28 0,24 0,37 - Mn (mg kg-1) - - - - 1454 484 400 Cu (mg kg-1) - - 167 735 1560 958 90 Zn (mg kg-1) - - - - 1771 303 800 B (mg kg-1) - - - - 1011 - - -1 -1 Fonte: (1) CHATEAUBRIAND (1988), (2) CLAUBEY et al. (1994), (3) EDWARDS e DANIEL (1993), (4) EDWARDS e DANIEL (1994), (5) KOZEN et al. (1995), (6) MATOS et al. (1998) e (7) WARMAN (1986). 9 No caso do fósforo, a sua combinação com compostos orgânicos e sua mineralização gradual durante o ciclo da cultura fazem com que ele permaneça no solo menos sujeito às reações de adsorção e fixação aos óxidos de ferro e de alumínio. Além disso, podem os ácidos orgânicos dos dejetos competir com os íons fosfatados pelos sítios de adsorção dos argilominerais, mantendo no solo maior disponibilidade de fósforo para as plantas (Scherer, citado por SCHERER e BALDISSERA, 1994). Com demanda química de oxigênio (DQO) superior a 30.000 mg L-1, a água residuária de suinocultura, quando lançada em corpos d’água, pode proporcionar redução na quantidade de oxigênio nela dissolvido, podendo atingir valores inferiores às necessidades da fauna aquática e provocar a morte de peixes e outros seres vivos (SCHERER et al., 1995). LOURES (1998) apresentou uma análise da composição média de efluente de 11 suinoculturas. Os valores de DQO variaram entre 10.000 e 136.344 mg L-1, sendo a média de 14.609,6 mg L-1, enquanto na demanda bioquímica de oxigênio (DBO) a média foi de 14.094,1 mg L-1. Com relação à concentração de sólidos, o referido autor encontrou valores médios de 285 mL L-1 e 5.745 mg L-1, respectivamente em sólidos sedimentáveis (SP) e em suspensão (SS). 2.3. Poluição decorrente da disposição inadequada das águas residuárias de suinocultura no meio ambiente Apesar do importante papel da suinocultura, dos pontos de vista social e econômico, sua exploração é considerada pelos órgãos de controle ambiental como atividade potencialmente causadora de degradação ambiental. Isso se deve ao lançamento direto de águas residuárias sem tratamento prévio nos cursos d’água, transformando-se em fonte poluidora dos mananciais de água, fator de risco para a saúde animal e a humana e obstáculo da suinocultura como atividade econômica (PERDOMO, 1995; OLIVEIRA, 1994). Anualmente, no Estado de Santa Catarina, são produzidos 10 milhões de m3 de águas residuárias provenientes da exploração suinícola. Como a maior parte desse resíduo não é tratada, cerca de 85% das fontes de água das regiões produtoras estão poluídas e, ou, contaminadas, em razão do 10 lançamento das águas residuárias nos mananciais (CARMO JÚNIOR et al., 1999). Além da poluição das águas superficiais e subterrâneas, outros riscos potenciais para o ambiente, pela aplicação de doses inadequadas de resíduos orgânicos, são salinização do solo, poluição do solo e plantas com metais pesados, efeitos prejudiciais à estrutura e macroporosidade do solo e da contaminação de homens e animais por agentes patogênicos provenientes dos dejetos (MATOS e SEDIYAMA, 1995). O aumento dos teores de NPK das águas superficiais pode promover o crescimento de plantas aquáticas e algas, promovendo o fenômeno da eutrofização (Weller e Willetts, citados por MATOS e SEDIYAMA, 1995). A taxa de aplicação de águas residuárias de suinocultura usadas para produção agrícola deve ser suficiente para suprimento adequado de nutrientes, mas não deve provocar riscos de poluição do solo e das águas superficiais e subterrâneas. Na prática de utilização das águas residuárias de suinocultura como fertilizante agrícola, o elemento que exige maior cuidado, por estar sujeito à maior lixiviação no solo, é o nitrogênio (SCHERER e BALDISSERA, 1994). Enquanto o nitrogênio estiver na forma de cátion amônio, a possibilidade de sua perda por lixiviação é baixa. Entretanto, em condições normais de solo cultivado, o amônio é oxidado a nitrato, íon de carga negativa, que se move mais livremente com a água do solo. A lixiviação pode ocorrer se o nitrato estiver presente em grandes quantidades no solo antes do plantio quando a cultura não estiver utilizando esse nutriente com rapidez ou, ainda, quando a irrigação ou a chuva excederem a capacidade de retenção do solo e o requerimento de água pela cultura (LOEHR, 1984; OLIVEIRA, 1993). Segundo OLIVEIRA (1993), os teores de nitrato, detectados nas águas subterrâneas de solos tratados durante muitos anos com altas taxas de águas residuárias de suinocultura (160 m3 ha-1), foram 10 vezes maiores do que os encontrados em solos não-tratados. A cada aplicação de resíduos no solo, o teor de sais, principalmente de Na, K e bicarbonatos, tende a aumentar, já que as fezes e a urina são ricas em sais, o que pode tornar-se prejudicial ao desenvolvimento das plantas (Gianelo e Ernani, citados por MATOS e SEDIYAMA, 1995; SUTTON et al.,1986). 11 Dentre os metais pesados, o cobre e o zinco têm sido motivos de maior preocupação, uma vez que são importantes componentes do suplemento dietético de rações e de formulações de antibióticos (SCHERER e BALDISSERA, 1994), aumentando os riscos de contaminação ambiental. Os dejetos suínos possuem grande número de microrganismos patogênicos ao homem, porém evidências indicam que o ambiente do próprio resíduo e o ambiente do solo não são adequados à sua sobrevivência, sendo por isso considerado, por LOEHR (1984), um problema pouco crítico. O transporte de poluentes por escoamento superficial depende de fatores como taxa de aplicação, intervalo de tempo entre a aplicação e a primeira precipitação e intensidade da chuva, bem como de outros fatores como condições do solo e de cobertura vegetal. Geralmente, concentração e transporte por escoamento superficial de nitrogênio, fósforo, demanda química de oxigênio (DQO), sólidos em suspensão (SS) e condutividade elétrica (CE) estão diretamente correlacionados com as taxas de aplicação das águas residuárias. Ao contrário, intensidades de chuva maiores tendem a diminuir a concentração desses constituintes das águas residuárias, indicando diluição dos constituintes suspensos ou dissolvidos (Khaleel et al., citados por WESTERMAN et al., 1987; EDWARDS e DANIEL, 1993). WESTERMAN et al. (1987) avaliaram, durante um período de quatro anos, a qualidade da água de escoamento superficial e as propriedades químicas do solo cultivado com Festuca arundinacea (L. Schreb.), utilizando-se fertilizante mineral (201:34:65 kg ha-1 ano-1 de N:P:K, respectivamente), águas residuárias de suinocultura na forma bruta (670 kg ha-1 ano-1 de N) e efluentes de lagoas de estabilização (1.200 e 600 kg ha-1 ano-1 de N). A concentração de N-NO3-, à profundidade de 200 cm, foi maior no tratamento com aplicação de N como efluente de lagoa (1.200 kg ha-1 ano-1 de N) e água residuária de suinocultura, seguidos da aplicação de efluente de lagoa com 600 kg ha-1 ano-1 de N e do fertilizante comercial, com a ressalva de que este último não diferiu do tratamento-testemunha. Análises de N-NO3- no solo e na água de escoamento superficial indicaram que as taxas aplicadas de efluente de lagoa de estabilização com 1.200 kg N ha-1 ano-1 e água residuária (670 kg ha-1 ano-1 de N) e, talvez, o efluente de lagoa com 600 kg N ha-1 ano-1 forneceram N em excesso. 12 Esses autores verificaram que o risco de poluição de águas superficiais e subterrâneas está diretamente associado às taxas de aplicação utilizadas. Verificaram ainda que a contaminação da água de escoamento superficial foi maior quando a precipitação ocorreu logo após a aplicação do dejeto ou do fertilizante. WESTERMAN et al. (1985) observaram aumento da concentração de nutrientes nas águas escoadas superficialmente de parcelas cultivadas com Cynodon dactylon (L. Pers.), irrigadas com efluente de lagoa, quando comparada com as concentrações típicas de águas de chuva escoadas superficialmente de áreas agrícolas, embora o volume de água e a massa de nutrientes transportados fossem pequenos. Esses autores verificaram movimento de N-NO3- para água subterrânea e acúmulo de P no solo. KING e MORRIS (1974) recomendaram fazer aplicação de águas residuárias de suinocultura em áreas que disponham de cultura em crescimento, a fim de aumentar as taxas de absorção, evaporação e transpiração e evitar a erosão do solo. A cultura deve ser colhida periodicamente para haver remoção dos nutrientes presentes, sendo por isso ideal a aplicação em capineiras. MATOS et al. (1997) não verificaram diferença significativa entre as concentrações médias de N, K e Na dos perfis do solo que receberam águas residuárias de suinocultura, em taxas de até 200 m3 ha-1, e o solo-testemunha, revelando que a vegetação foi capaz de absorver grandes quantidades desses nutrientes, imobilizando-os na forma de biomassa e, por conseqüência, tornando-os poucos suscetíveis à lixiviação do solo. SHARPLEY et al. (1990), avaliando o impacto, no longo prazo, da aplicação de dejetos de suínos e de aves em três solos do oeste de Oklahoma, não constataram efeito significativo sobre as propriedades físicas e sobre o pH do solo. Contudo, verificaram aumentos médios de duas e nove vezes na concentração de P-total e P-disponível, respectivamente, nos 50 cm superficiais do solo. Isso representou aumento de 27 kg P ha-1 para cada 100 kg P ha-1 adicionado como dejeto. Ao contrário do P, aumentos não consistentes na concentração de N e K na superfície do solo foram observados, embora ligeiro acúmulo de N e K tenha sido verificado em profundidades maiores do que 150 cm. Isso se deve, provavelmente, à maior 13 mobilidade desses elementos no solo e à remoção de N e K das camadas superficiais com a colheita da forragem. KING et al. (1985) verificaram, em experimento com irrigação de efluente de lagoa da suinocultura em Cynodon dactylon L. Pers., que as concentrações de nitrato no solo foram maiores quando a taxa de aplicação foi de 1.340 kg ha-1 ano –1 de N e se equivaleram quando as taxas foram de 670 e 335 kg ha-1 ano –1 de N. A recuperação do N aplicado foi estimada pela combinação das quantidades acumuladas no solo e removidas pela cultura. Para altas taxas, 56% do N aplicado não foi removido pela cultura, constituindo as perdas ou o aumento da concentração no solo. Para esses autores, vários mecanismos de perda podem ter ocorrido: volatilização de NH3 e denitrificação, tendo sido verificado poucas evidências de lixiviação no solo. Evidências de movimento de P para profundidades de até 60 cm foram observadas. Concentrações de Ca e Mg na superfície do solo foram baixas em comparação com as de Na, K e NH4. O pH do solo foi proporcionalmente reduzido com a redução da taxa de aplicação. A concentração de matéria orgânica no solo não foi afetada pelos tratamentos, no período de estudo de seis anos. Os dados de concentração de nitrato no perfil do solo indicaram possível poluição das águas subterrâneas durante o uso de altas (1.340 kg ha-1 ano-1 de N) e, possivelmente, médias (670 kg ha-1 ano-1 de N) taxas de aplicação de águas residuárias. EVANS et al. (1984) verificaram que a aplicação de nutrientes, além da capacidade de utilização da cultura, resultou em transporte de nutriente na água de drenagem subsuperficial, sendo as concentrações de N-NO3- de 6, 18 e 27 mg L-1, para taxas de aplicação de 325, 650 e 1.300 kg ha-1 ano-1 de N, respectivamente. Esses valores representaram aplicações de N de uma, duas e quatro vezes a taxa geralmente recomendada para adubação de Cynodon dactylon L. Pers. As aplicações de N tanto em taxas médias como altas resultaram em concentrações de N-NO3- na água de drenagem subsuperficial que poderiam, potencialmente, contaminar os cursos d’água e as águas subterrâneas, porque ultrapassam o padrão de potabilidade da água, que é de 10 mg L-1 de N-NO3-. Embora os solos fixassem P, houve evidências de movimento de P na água de drenagem no quinto ano de aplicação das mais altas taxas de águas residuárias de suinocultura. 14 2.4. Legislação ambiental vigente A proteção ambiental no Brasil é exercida, levando-se em conta uma série de leis, decretos e portarias. A lei ambiental mais recente, no Brasil, é a Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que regulamenta as atividades ligadas ao meio ambiente. É conveniente esclarecer que existe, em nível federal, uma legislação pertinente que deve ser observada, embora em cada estado ou município possa haver legislação complementar (LOURES, 1998). O Conselho Estadual de Política Ambiental do Estado de Minas Gerais editou Deliberação Normativa que estabelece normas para o licenciamento e o controle da atividade de suinocultura. O processo de licenciamento e controle da atividade de suinocultura segue os critérios gerais para proteção, conservação e melhoria do meio ambiente, fixados pela Lei Estadual n° 7.772, de 8 de setembro de 1980. Isso significa que as atividades de suinocultura devem submeter-se ao processo ordinário de licenciamento na Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM). Esse licenciamento está vinculado à adoção de medidas de controle ambiental que eliminam ou minimizam os impactos ambientais causados, especificamente, por esse tipo de atividade. O único elemento inovador constante da referida deliberação normativa é a fixação de um prazo de 120 dias para que seja encerrado o lançamento de efluentes da atividade suinícola fora dos padrões estabelecidos pela Deliberação Normativa COPAM 010/86. A Deliberação Normativa 010/86 estabelece normas e padrões para a qualidade das águas e o lançamento de efluentes nas coleções de água (BARACHO JÚNIOR, 1995), sendo uma complementação da Resolução CONAMA 20/86. Os limites de concentração de poluentes em efluentes a serem lançados em corpos hídricos são, segundo as legislações estaduais, os seguintes: • Demanda bioquímica de oxigênio (DBO). A maior parte dos estados adota o valor de 60 mg L-1. Vários estados incorporam, também, o conceito de eficiência de remoção mínima nos casos em que o atendimento ao padrão de 60 mg L-1 não for atendido. Dos estados que utilizam o critério da eficiência, a maioria adota a eficiência de 80%, com exceção de Minas Gerais, que adota 85%. Esse critério só é aceitável quando o efluente lançado não altera os 15 padrões de qualidade ou a classificação do curso d’água (VON SPERLING, 1995). • Demanda química de oxigênio (DQO). Apenas dois estados (Minas Gerais e Alagoas) possuem padrões para DQO, os quais são de 90 mg L-1 e 150 mg L-1, respectivamente. O padrão de Minas Gerais, 90 mg L-1, é, reconhecidamente, muito restritivo ao se comparar com o padrão de DBO de 60 mg L-1, uma vez que dificilmente se verificam em um efluente tratado valores de relação DQO/DBO menores do que 2. No momento, Minas Gerais está analisando a adoção de um padrão de eficiência de remoção mínima de 90%. • Sólidos em suspensão (SS). Minas Gerais adota o valor médio de 60 mg L-1 e máximo de 100 mg L-1, e os demais estados não possuem padrões de lançamento para SS. • Nitrogênio total. A Resolução CONAMA 20/86 estabelece padrões de lançamento para amônia de 5 mg L-1. • Cobre. A Resolução CONAMA 20/86 estabelece padrões de lançamento de 1 mg L-1. No entanto, o Estado de Minas Gerais estabelece o limite de 0,5 mg L-1. • Zinco. A Resolução CONAMA 20/86 estabelece padrões de lançamento de 5 mg L-1. O Estado do Rio Grande do Sul incorporou o princípio de lançamento por carga, ou seja, quem descarta menores volumes de efluentes tem a prerrogativa de lançar o efluente com uma concentração de matéria orgânica e sólidos em suspensão maior, e quem lança maiores volumes de efluentes tem que descartá-los com menor concentração de matéria orgânica e sólidos em suspensão (VON SPERLING e NASCIMENTO, 1999). Na Dinamarca, a legislação ambiental estabelece que produtores com mais de 30 unidades animais (uma unidade animal equivale a uma vaca leiteira ou oito suínos em fase de engorda) devem ter tanques com capacidade de estocagem de águas residuárias por nove meses. Produtores, em outros países da Europa, têm problemas similares. Na França, por exemplo, a exigência é de quatro meses. Na Dinamarca, é aceitável aplicar no solo, por meio de irrigação, 40 kg ha-1 de N durante o período de 1o de setembro a 15 de março, o que 16 corresponde a 500 cm3 de águas residuárias purificadas por hectare, com uma concentração de 80 mg L-1 de N. Se a parte líquida é tratada de acordo com as regulamentações dinamarquesas para trabalhos com água de esgoto (< 8 mg L-1 de N), lançamento direto nos cursos d’água pode ser possível (HERINKSEN et al., 1998). 2.5. Tratamento das águas residuárias O tratamento preliminar objetiva apenas a remoção dos sólidos grosseiros, enquanto o tratamento primário visa à remoção de sólidos sedimentáveis e à parte da matéria orgânica. Em ambos, predominam os mecanismos físicos de remoção de poluentes. No tratamento secundário predominam mecanismos biológicos, e o objetivo é, principalmente, a remoção de matéria orgânica e, eventualmente, nutrientes (nitrogênio e fósforo). O tratamento terciário objetiva a remoção de poluentes específicos (usualmente tóxicos ou compostos não-biodegradáveis) ou, ainda, a remoção complementar de poluentes não-suficientemente removidos no tratamento secundário. O tratamento terciário é muito raro no Brasil (VON SPERLING, 1996). 2.5.1. Filtração O tratamento primário pode ser feito, utilizando-se sedimentadores ou filtros. A ação mecânica de eliminação dos sólidos nos filtros está baseada no princípio de que um meio poroso pode reter impurezas de dimensões menores que os poros da camada filtrante. Ao entrar em operação, as partículas vão sendo retidas nos poros do meio filtrante, proporcionando seu acúmulo e, com isso, perda de carga. À proporção que se desenvolve a filtração, os vazios vão sendo obstruídos pelas partículas, reduzindo o diâmetro dos poros e passando, por conseguinte, a eliminar partículas de diâmetros cada vez menores (POVINELLI e MARTINS, 1973). No processo de filtração, além da remoção de sólidos em suspensão, podem-se remover cor, gosto, odor, ferro e manganês (STEEL e MCGHEE, 1979). De acordo com a taxa de infiltração utilizada no filtro, esses sólidos podem ser classificados como rápidos ou lentos. 17 2.5.1.1. Filtração rápida A filtração rápida, geralmente, vem acompanhada de processos de coagulação, floculação, clarificação, filtração e desinfecção Os filtros rápidos foram desenvolvidos por serem mais adequados para o tratamento de águas rurais turvas. As características essenciais de um filtro rápido são as seguintes: • a turbidez da água não deve exceder a 10 unidades; • a taxa de filtração é de 120 a 240 m dia-1, ou maior; • as unidades filtrantes são lavadas por reversão do fluxo, para que ocorra a remoção de sedimentos retidos no material filtrante. Um filtro rápido é constituído de uma coluna de material grosseiro, tal como areia, com altura de 300 mm a vários metros. A cinética de remoção de partículas menores que os poros do meio poroso da coluna proporciona retenção gradual do material particulado. A retenção de partículas em suspensão pode ser aumentada se há uso de agentes floculantes. Nesse caso, a retenção de partículas é de natureza química, sendo influenciada por pH, composição iônica da água, idade do floco, natureza e dosagem do polímero e composição e condição superficial do meio filtrante. O meio filtrante e as partículas suspensas podem apresentar cargas que podem inibir ou ajudar a retenção. Essas cargas superficiais podem ser afetadas pelo pH e pela adição de coagulantes químicos. À medida que as camadas sucessivas do filtro passam a ficar saturadas com o material removido, a perda de carga na coluna vai aumentar devido à restrição ao fluxo. As partículas de maior diâmetro não tendem a ser retidas nas camadas mais superficiais dos filtros, proporcionando rápido aumento da perda de carga. Esse fenômeno fica mais evidente se o meio filtrante apresentar poros de pequeno diâmetro. Partículas mais finas vão tender a penetrar mais profundamente em filtros grosseiros, distribuindo melhor, ao longo da coluna, a restrição ao fluxo e, com isso, produzindo menor perda de carga, considerando-se igual remoção em idêntico intervalo de tempo. Uma vez que 18 mais profunda penetração é esperada, meios filtrantes grosseiros devem ter colunas de maior altura. Pela teoria da filtração, a área exposta do meio filtrante deve ser o critério de dimensionamento. Entretanto, como essa área é função do tamanho da partícula e da profundidade da coluna, aumento do diâmetro das partículas do meio filtrante vai requerer, por compensação, aumento da profundidade da coluna. Um meio filtrante ideal deve ser constituído de partículas de diâmetro e tipo de material que venham proporcionar um efluente em condição satisfatória, reter um máximo de quantidade de sólidos e ser rapidamente limpo com um mínimo de água de refluxo de lavagem. O tamanho do material filtrante deve ser especificado pelo tamanho efetivo, que pode ser definido como a malha, em mm, da peneira que permite a passagem de 10% (em peso) do material filtrante. A uniformidade, em termos de diâmetro, é especificada pelo coeficiente de uniformidade, que é definido como a razão entre a malha da peneira que permite a passagem de 60% (em peso) do material filtrante e o tamanho efetivo. Materiais filtrantes mais finos deverão proporcionar a produção de um efluente mais depurado, entretanto produzirão, também, maior perda de carga nas camadas superiores da coluna filtrante, proporcionando, assim, pequeno período de operação do filtro. Meios filtrantes mais grosseiros vão permitir mais profunda penetração do floco, maior volume poroso para remoção e armazenamento de partículas suspensas, maiores períodos de operação do filtro e mais fácil limpeza por reversão do fluxo. Areia é o meio filtrante mais barato e tem sido amplamente utilizada no tratamento de água com vistas à obtenção de sua potabilidade. Para ser usada em filtros rápidos, a areia deve ser limpa, dura e resistente e ser preferencialmente de quartzo ou quartzito. Ela não deve perder mais de 5% de peso após colocada em ácido hidroclorídrico por 24 horas. A profundidade da coluna de areia, quando utilizada sozinha, varia de 600 a 700 mm, em muitas aplicações. Na prática, tem sido usado areia com tamanho de 0,45 a 0,55 mm e com coeficiente de uniformidade entre 1,2 e 1,7. 19 Antracita tem sido usada, em alguns casos, em substituição total ou parcial da areia e de outros materiais em meios filtrantes. Além da areia e da antracita, que são os materiais filtrantes de maior uso, outros materiais localmente disponíveis como o vidro moído, escória, minérios metálicos, casca de coco desfiada e casca de arroz queimada podem ser usados como meio filtrante. O carvão ativado pode ser obtido de lignina, resíduos de papel, pó de serra e materiais similares, pelo aquecimento em uma retorta e oxidação, ou “ativação”, por meio de ar ou vapor, a fim de remover hidrocarbonetos, os quais podem interferir na adsorção de matéria orgânica. O carvão “ativado” é um material poroso de grande área superficial e propriedades adsortivas, o que possibilita a retenção de grande quantidade de impurezas da água. Por essa razão, tem sido aplicado em tanques, a fim de depurar a água em seu deslocamento no meio aquoso até a sua sedimentação no fundo. O carvão ativado pode ser utilizado em dimensões menores que 0,075 mm para, dessa forma, apresentar grande superfície específica. Desde que a adsorção é um fenômeno superficial, o aumento da superfície específica faz aumentar sua efetividade em remoção de solutos, embora apresente menor velocidade de sedimentação e seja de mais difícil remoção do meio líquido (STEEL e MCGHEE, 1979). Por muitos anos, a taxa de filtração aplicada ficou em torno de 120 m dia-1. Hoje, taxas de 300 a 360 m dia-1 e de até 1.200 m dia-1 têm sido reportadas como sendo usadas com sucesso na separação de sólidos da água. Taxas de filtração muito altas tendem a carrear flocos profundamente na coluna; além disso, podem ser suficientes para desestruturá-los e, com isso, possibilitar sua saída juntamente com o efluente. 2.5.1.2. Filtração lenta Filtros lentos têm sido usados no tratamento de água em algumas cidades, em seqüência a filtros rápidos. As características de filtros lentos são: • lenta taxa de infiltração (3 a 6 m dia-1); 20 • necessidade de pré-tratamento da água, principalmente, no tratamento de água de elevada turbidez, ocasião em que a clarificação prévia é recomendável; • necessidade de retirada do material filtrante da coluna durante sua saturação (não há limpeza por reversão do fluxo). A ação do filtro lento é muito semelhante à dos filtros rápidos. A menor taxa de filtração dá à coluna maior eficiência na remoção de bactérias. A altura da coluna de filtragem varia de 300 a 600 mm, podendo ser a seleção de material menos rigorosa do que a exigida para filtros rápidos. Entretanto, a tendência é usar materiais mais finos como filtro. Uma especificação comumente usada é de tamanho efetivo entre 0,25 e 0,75 mm e um coeficiente de uniformidade não superior a 3. Quando a perda de carga alcançar de 1 a 2 m, os filtros de areia lentos têm, geralmente, seu material filtrante retirado da coluna. O tempo de uso do filtro depende de fatores como temperatura, qualidade de água, quantidade de matéria orgânica e incidência luminosa, que atuam diretamente sobre o desenvolvimento da biomassa microbiana no filtro, provocando gradativa obstrução dos poros do leito filtrante e aumento da perda de carga (GOLD et al., 1992). A coluna filtrante, operando a uma taxa de 5 m dia-1, pode ter um período de operação de, geralmente, quatro dias. A quantidade de areia a ser retirada da coluna depende da profundidade de penetração das partículas em suspensão. A lavagem da areia deve ser feita, submetendo-a uma lavagem em água corrente. Após a lavagem, a areia é recolocada na coluna, por meios manuais ou hidráulicos (STEEL e MCGHEE, 1979). 2.5.2. Sentido do fluxo Em filtros, a água pode percolar através da camada filtrante no sentido descendente, o mais comum, ou ascendente. Em filtros descendentes, a água é admitida por cima e percola no sentido vertical com a ação da gravidade. Em filtros ascendentes, a direção do fluxo é a mesma usada na reversão de fluxo de filtros descendentes. A água deverá passar por camadas compostas de materiais progressivamente mais 21 finos à medida que percola verticalmente, no sentido ascendente, na coluna. Tais tipos de filtros permitem a maximização na capacidade de armazenamento de partículas suspensas no filtro e, assim, proporciona maior período de operação dos filtros. 2.5.3. Eficiência de tratamento O crescimento de colônias de microrganismos nas partículas pode proporcionar maior eficiência na remoção de matéria orgânica suspensa, o que pode ocorrer tanto em filtros lentos como em filtros rápidos. Por essa razão, o filtro necessita de “amadurecimento” antes de obter a máxima eficiência de remoção, que demanda alguns dias de operação (STEEL e MCGHEE, 1979). O amadurecimento dos filtros de areia para atingir a capacidade máxima é, na maioria das vezes, curto, dentro de poucos meses, mas períodos superiores a seis meses, aproximadamente, são necessários para alcançar nitrificação completa (GOLD et al., 1992). Segundo Kristansen et al., citados por GOLD et al. (1992), durante os primeiros 6 a 12 meses de utilização do filtro de areia ocorre a retenção dos nutrientes por adsorção às partículas ou por incorporação na biomassa viva ou na matéria orgânica morta. No entanto, esses mecanismos parecem ser somente mecanismos de remoção temporários ou finitos. Pesquisas têm mostrado que os sistemas de filtro de areia na Dinamarca removem de 90 a 95% de substâncias orgânicas, 30 a 45% de nitrogênio e 40 a 60% de fósforo de esgotos domésticos. Em geral, sistemas de filtros de areia indicaram alta capacidade de remoção de DBO e SS. Eficiências de purificação são tipicamente superiores a 90%. A remoção de nitrogênio depende do processo de nitrificação, que requer bom suprimento de oxigênio, uma vez que se trata de uma reação de oxidação e, ainda, de zonas anóxicas no filtro com denitrificação, que consiste de uma reação de redução. A melhor maneira de alcançar boa nitrificação é usar areia de granulometria grossa. A remoção de P é afetada pelas propriedades químicas da areia. Em areia enriquecida com Fe, é possível alcançar eficiências de remoção de 70 a 90% de P em afluente contendo de 10 a 15 mg L-1 de P. 22 A operação descontínua dos filtros, aparentemente, promove purificação melhor e com maior estabilidade, mas não há regras exatas entre o período de descanso e a operação do sistema (NIELSEN et al.,1993). Segundo Pell e Nyberg, citados por NIELSEN et al. (1993), a remoção do fósforo nos filtros de areia é determinada por diferentes processos. No início do período de operação, a adsorção removerá altas quantidades de P até que a saturação seja atingida. GOLD et al. (1992), avaliando o desempenho de dois tipos de filtros de areia, constataram que a proporção de N removido foi significativamente diferente, com média de remoção, para o período de três anos, de 20,4% para filtros de areia com recirculação e 8,4% para filtros enterrados, de simples passagem. Ambos os filtros mantiveram o mesmo grau de tratamento aeróbio com concentração de DBO5 menor que 5 mg L-1 no efluente do filtro. O filtro de areia com recirculação proporcionou remoção de mais P do que os filtros enterrados, com remoção média anual de 31,9% para filtro com recirculação e 0,9% para filtros enterrados. Em ambos os filtros, houve redução substancial do número de indicadores microbiológicos no efluente de tanque séptico. Durante as amostragens de verão, a concentração média de coliformes fecais nos efluentes de ambos os filtros aproximou-se dos padrões de potabilidade da água estabelecidos por RIDEM ("Rhode Island Department of Environmental Management"), e a concentração de Enterococcus em ambos os efluentes esteve bem abaixo daquela recomendada pela USEPA ("U. S. Environmental Protection Agency") para águas marinhas de recreação. CHECK et al. (1994), avaliando sistema de filtro de areia de fluxo lateral no tratamento de efluente de tanque séptico, verificaram que o grau de redução de DBO foi alto, sendo sempre superior a 99%, e a redução de carbono orgânico total variou entre 86 e 91%. Nesses modelos, a nitrificação pareceu desenvolver-se depois de um período de três meses. Depois desse período inicial de operação, houve reduções de amônia superiores a 99,9%. Contudo, esses autores atribuíram essas reduções na concentração de amônia às alterações nas formas de nitrogênio, uma vez que houve aumento proporcional na concentração de nitrato e nitrito em relação ao valor presente no afluente. A concentração de SS foi, geralmente, inferior a 10 mg L-1, sendo 23 a média de SS do afluente de 147 mg L-1. Isso representou remoção superior a 99%. FAROOQ et al. (1994) verificaram que a remoção de DBO, DQO, nitrato, fosfato e sulfato variou de 79 a 92%, 40 a 60%, 17 a 30%, 8,3 a 84% e 5 a 10%, respectivamente, em várias profundidades e granulometrias de areia mantidas nos filtros. JOWETT e MCMASTER (1995), usando biofiltros absorventes nãosaturados, constituídos de partículas plásticas, observaram, em ensaio de campo, remoção de 97,8% de DBO, 96,1% de SS e 99,5% de coliformes fecais para uma carga de esgoto de 49 cm d-1. ADACHI e FUCHU (1991), estudando a capacidade de tratamento de filtros biológicos aerados, encontraram remoção de sólidos em suspensão (SS) de 85 e 98,5% de esgoto doméstico e de água residuária da produção de papel, respectivamente. ELLIS (1987) encontrou remoção de 88% de SS do esgoto doméstico em filtros lentos de areia. CHECK et al. (1994), avaliando o tratamento de efluente de tanques sépticos em sistemas de filtros de areia de fluxo lateral, verificaram concentrações de SS geralmente inferiores a 10 mg L-1 no efluente do filtro, sendo a média de SS no afluente de 147 mg L-1. Isso representou uma remoção superior a 99%. 2.5.4. Uso de filtros no tratamento das águas residuárias de suinocultura As águas residuárias brutas de pocilgas apresentam conteúdos de sólidos totais em torno de 40.000 mg L-1 e sedimentáveis de cerca de 350 a 500 mL L-1 (SILVA, 1973). Em termos comparativos, no esgoto doméstico, a concentração de ST e SP varia entre 750 e 1.350 mg L-1 e 10 e 20 mL L-1, respectivamente (VON SPERLING, 1996). Por ser a água residuária de granjas suinícolas muita rica em sólidos, o uso de filtros convencionais de areia não é recomendável, dados a sua rápida colmatação superficial e o impedimento ao fluxo normal da água residuária, visto que esses filtros são dimensionados para o tratamento de esgotos domésticos. Por essa razão, o estudo de diferentes meios porosos deve ser realizado. 24 A utilização de materiais que sejam subprodutos das atividades agropecuárias e industriais é de grande interesse, dados a sua abundância, o baixo custo de aquisição e, mesmo, a própria dificuldade de disposição desses materiais no ambiente. Uma vez suplantada a capacidade dos filtros de reter poluentes, os materiais utilizados como meio filtrante poderão ser compostados produzindo, ao final do processo de maturação, adubo orgânico de considerável valor fertilizante, o que pode compensar os custos com a confecção de filtros para tratamento das águas residuárias de suinocultura. 25 3. MATERIAL E MÉTODOS Para se avaliar a eficiência de remoção de poluentes de águas residuárias de suinocultura na filtragem com materiais alternativos, foi conduzido um experimento, em casa de vegetação, na Área Experimental do Departamento de Engenharia Agrícola, para o qual foram montadas colunas de filtragem constituídas de seis materiais orgânicos distintos. O experimento foi arranjado num delineamento em blocos inteiramente casualizados, com seis tratamentos (seis materiais orgânicos filtrantes) e quatro repetições. Foram utilizados como meio filtrante: o bagaço de cana-de-açúcar, a casca de arroz, a casca de café, o fino de carvão vegetal, o sabugo de milho e a serragem de madeira. O bagaço de cana-de-açúcar e o sabugo de milho foram previamente triturados, e todos os materiais foram secados ao ar. Para se obter granulometria mais uniforme, todos os materiais foram passados em peneira de malha de 2 mm, sendo o material retido utilizado para preenchimento da coluna. Como a casca de arroz apresentou dimensões inferiores a 2 mm, a peneira foi substituída por outra de malha de 0,5 mm. O fino de carvão vegetal apresentou granulometria muito desuniforme. Por essa razão, as suas dimensões foram enquadradas entre os limites de 2,0 e 6,0 mm. A água residuária foi coletada em uma suinocultura de 250 matrizes, cujo plantel se encontrava em diferentes estádios de produção, localizada em São Miguel do Anta, MG. O tanque de estocagem, onde foi feita a coleta, era o 26 receptor de águas residuárias provenientes de todas as baias e, por ser de grande volume, possibilita a decantação de grande parte do material grosseiro, o que proporcionou a coleta de um sobrenadante de baixo conteúdo desse material. Ainda assim, para evitar entupimentos das mangueiras de alimentação das colunas durante o experimento, a água residuária foi passada em peneira de malha de 5,0 mm. Para armazenar a água residuária coletada, foram utilizados galões de 60 L, cuja base foi perfurada para instalação de uma mangueira flexível de 1” equipada com uma torneira, o que permitiu o controle do fluxo de entrada da água residuária nas colunas de filtragem. As colunas de filtragem (Figura 1) foram montadas em tubos de PVC de diâmetro de 100 mm e comprimento de 600 mm. Em uma das extremidades do tubo, colou-se um tampão, onde foi feito um furo para adaptação, na sua parte externa, de uma mangueira flexível de 10 mm de diâmetro e, na parte interna do orifício, uma tela (malha 1,0 mm), que foi colada para evitar o transporte do material filtrante para fora da coluna. Para controlar o fluxo de saída do efluente da coluna, foram adaptados grampos na mangueira de saída. ,,,,, , Figura 1 – Desenho esquemático da estrutura montada para execução da filtragem da água residuária de suinocultura e da coleta do efluente dos filtros. 27 O material filtrante foi acondicionado nas colunas de forma gradual, em camadas de 5 cm de espessura, sob compressão de 12,490 N m-2, até ser atingida a altura de 50 cm. Esse valor de pressão foi definido como se a compactação do material no filtro fosse obtida como peso de um homem (± 70 kg) Para minimizar o fluxo preferencial na parede interna da coluna, o próprio material de preenchimento foi colado às paredes internas do tubo para aumento da tortuosidade. Além disso, comprimiu-se com as pontas dos dedos a periferia do material acondicionado na coluna durante o seu preenchimento. Para evitar que o material flutuasse ao receber a água residuária, foram usadas telas de 1,0 mm de malha na parte superior da coluna. A partir do conhecimento do volume ocupado e da massa do material filtrante foi possível calcular a massa específica global do material. A massa específica das partículas de cada material foi determinada, seguindo-se a metodologia da EMPRESA... – EMBRAPA (1997). De posse desses valores (massa específica global e das partículas), foi possível calcular a porosidade do material e o volume de poros, que, de acordo com MATOS (1995), pode ser definido como o volume ocupado pelos poros da coluna de material filtrante. A porosidade e o volume de poros do material acondicionado na coluna foram calculados, usando-se, respectivamente, as equações 1 e 2, ou seja: P= (ρ p − ρg ) Eq. 1 ρp em que P = porosidade, cm3 cm-3; ρp = massa específica das partículas, g cm-3; e ρg = massa específica global da coluna, g cm-3. VP = Eq. 2 V Vt ⋅ P em que VP = volume de poros, adimensional; V = volume filtrado, cm3; Vt = volume total da coluna filtrante, cm3; e P = porosidade do material da coluna, cm3 cm-3. 28 Para realização do experimento, foi confeccionada uma estrutura constituída de duas bancadas de madeira. Na bancada mais alta foram instalados os seis galões-reservatório de 60 L cada e, na mais baixa, as seis colunas de filtração, constituídas de diferentes materiais, de forma que a mangueira transportasse, por gravidade, a água residuária até o topo da coluna. Na Figura 1 está apresentado um desenho esquemático da visão lateral da estrutura de madeira, galões-reservatório, colunas de filtração e frascos de coleta, conforme foram utilizados no experimento. Para coletar o afluente e o efluente das colunas, foram utilizados frascos plásticos de 1,5 L, coletando-se para cada coluna 15,0 L de efluente, num total, portanto, de 10 frascos. As seis colunas filtrantes foram, simultaneamente, preenchidas com água residuária de suinocultura até que fosse atingida a altura de 50 cm, quando, então, abriu-se o registro de saída do filtrado, permitindo-se a coleta do efluente na parte inferior da coluna. Nesse momento, abriu-se o registro de alimentação do afluente, acionou-se o cronômetro e mediu-se o tempo para coleta de 1,5 L de efluente, com o objetivo de determinar a taxa de infiltração do líquido no filtro. O escoamento foi mantido na condição permanente, em meio saturado, durante toda a fase de filtração das águas residuárias de suinocultura. Ao final da coleta dos 10 frascos de efluente das colunas, amostras do material filtrante foram coletadas nos terços superior, mediano e inferior da coluna. Para caracterização da água residuária afluente, foram coletadas, aleatoriamente, quatro amostras de 1,5 L nos galões-reservatório. Das amostras do afluente e do efluente, retiraram-se alíquotas de 200 mL, que foram imediatamente acondicionadas em "freezer" (-4°C) para posterior análise química. As amostras retiradas do material filtrante também foram preservadas em "freezer". No restante das amostras do efluente e do afluente foram determinados condutividade elétrica (CE), usando-se condutivímetro digital marca Orion, modelo 125; densidade, utilizando-se densímetro de escala: 1,000 a 1,100 (SCHERER et al., 1995), e sólidos totais (ST) e sedimentáveis (SP) (BRAILE e CAVALCANTI, 1979). 29 O teor de N-total foi determinado em alíquota de 3,0 mL, pelo método de Kjeldahl (TEDESCO et al., 1985). Alíquotas de 5,0 mL foram mineralizadas via digestão nítrico-perclórica (3 mL de ácido nítrico: 1 mL de ácido perclórico). Nos extratos de digestão, as concentrações de Ca2+, Mg2+, Cu2+ e Zn2+ foram determinadas por espectrofotometria de absorção atômica, sendo as concentrações de K+ e Na+ determinadas por fotometria de emissão de chama e as do P-total, por colorimetria, pelo método do ácido ascórbico modificado por BRAGA e DEFELIPO (1974). Os resultados das análises física e química da água residuária afluente encontram-se nos Quadros 4 e 5, respectivamente. Quadro 4 – Caracterização física da água residuária de suinocultura utilizada como afluente Parâmetro Valores médios CE (dS m-1) 6,234 Densidade 1,005 SP (mL L-1) 88,250 ST (g L-1) 5,500 Sendo: CE – condutividade elétrica, SP – sólidos sedimentáveis e ST – sólidos totais. Quadro 5 – Caracterização química da água residuária de suinocultura utilizada como afluente Elemento Valores médios P-total (dag L-1) 0,0088 N-total (dag L-1) 0,0936 Ca (g L-1) 0,1300 Mg (g L-1) 0,0505 Na (g L-1) 0,2047 K (g L-1) 0,5049 Cu (mg L-1) 1,6090 Zn (mg L-1) 1,1542 30 Nos resíduos orgânicos a serem utilizados como filtro, foi realizada a seguinte análise física: determinação do conteúdo de umidade (KIEHL, 1985) e da massa específica de partículas. As análises químicas constituíram-se na determinação do pH (H2O e KCl), pelo método potenciométrico, e na soma de bases removíveis (valor S), pelo método da soma de bases, utilizando-se os extratores de KCl 1 mol L-1 para determinação de Ca2+ e Mg2+; HCl 0,05 mol L-1 para determinação de Na+ e K+; e acetato de cálcio, a pH 7, para determinação de H+ + Al3+ (EMBRAPA, 1997). No Quadro 6 estão apresentados os valores de umidade (U), as massas específicas das partículas (ρp) e global (ρg), a porosidade (P) e o volume ocupado pelos poros (VP) para cada material filtrante testado. Quadro 6 – Caracterização física do material filtrante Material filtrante ρp U dag kg-1 ρg P --------g cm-3------- cm3 cm-3 Vt ⋅ P cm3 Casca de arroz 12,66 1,20 0,15 0,88 3.439,35 Casca de café 17,94 1,09 0,21 0,80 3.157,80 Bagaço de cana-de-açúcar 13,62 0,51 0,10 0,80 3.147,46 Sabugo de milho 13,31 0,97 0,34 0,65 2.565,53 Serragem de madeira 13,01 0,95 0,12 0,89 3.447,81 Fino de carvão vegetal 4,84 0,68 0,35 0,48 1.900,16 Sendo: U – umidade do material, ρp – massa específica das partículas, ρg – massa específica global, P – porosidade e Vt.P – volume ocupado pelos poros da coluna. No Quadro 7, encontram-se algumas características físico-químicas do material filtrante. Como os valores de pH (H2O) são superiores aos de pH (KCl), foram obtidos valores de ∆pH negativos para todos os materiais filtrantes, o que significa que os materiais em questão são eletronegativos, ou seja, as cargas negativas predominam em relação às positivas. 31 Quadro 7 – Caracterização química do material filtrante ∆pH1 pH Material filtrante acidez2 valor S3 -------cmolc dm-3-------- (H2O) (KCl) Casca de arroz 6,6 5,49 -1,11 6,88 24,05 Casca de café 4,5 4,03 -0,42 32,54 146,90 Bagaço de cana-de-açúcar 6,0 4,58 -1,45 5,12 6,55 Sabugo de milho 6,1 5,51 -0,63 8,30 27,84 Serragem de madeira 5,4 3,99 -1,39 18,61 7,10 Fino de carvão vegetal 7,4 6,71 -0,66 0,00 2,48 1 ∆pH = pHKCl − pHH O . 2 2 3 acidez = H + Al (acidez removível). S = Ca2 + + Mg2 + + Na+ + K + (bases removíveis). Dentre os resíduos orgânicos utilizados como material filtrante, o bagaço de cana-de-açúcar, a serragem de madeira e a casca de arroz foram os que se mostraram mais eletronegativos, enquanto a casca de café, o sabugo de milho e o fino de carvão vegetal foram os de menor eletronegatividade. Acredita-se que, em parte, esses resultados possam ser atribuídos à maior superfície específica dos primeiros. Os valores de soma de bases (S) e acidez removíveis (H +Al) indicam ser o material filtrante detentor de cátions removíveis com ácidos fracos, podendo estar adsorvidos no complexo de troca ou não. A soma dos cátions adsorvidos ao complexo de troca seria indicação do valor de CTC do material. Nesse aspecto, quanto maiores os valores de CTC, maior será a capacidade do material filtrante em reter os cátions presentes nas águas residuárias de suinocultura. Como o método usado para determinação do parâmetro CTC (EMBRAPA, 1997) desenvolvido para a ciência de solos não foi muito preciso, não sendo, portanto, adequado para essa determinação, não se obteve nenhum dado nessa determinação. Dos resíduos orgânicos “in natura” e daqueles coletados após o uso nas colunas de filtração (previamente descongelados e secados a 60-65°C, por 48 32 horas, em estufa de circulação forçada e moídos em moinho de folha Haley), foram retiradas amostras de 0,5 g para determinação do N-total, pelo método Kjeldahl, e para mineralização, via digestão nítrico-perclórica (3 mL de ácido nítrico: 1 mL de ácido perclórico). No extrato, foram feitas as mesmas determinações citadas anteriormente para o afluente e o efluente. Nesses mesmos materiais foi determinado o teor de C-orgânico, pelo método da perda por ignição (KIEHL, 1985). O volume de efluente, coletado durante a condução dos ensaios, foi convertido em volume de poros. Curvas relacionando as concentrações de Ptotal, N-total, Ca, Mg, Na, K, Cu, Zn, SP, ST, densidade, CE e taxa de infiltração do efluente com o volume de poros percolados foram obtidas para análise da capacidade de retenção do material filtrante ao longo do seu uso como filtro. As análises estatísticas realizadas compreenderam análises de variância e testes de médias para comparar possíveis efeitos dos tratamentos. Análises de regressão foram utilizadas para obtenção de equações matemáticas que possibilitassem a estimativa do desempenho do sistema de filtragem, tendo como variável independente o volume de poros de água residuária filtrada. As análises estatísticas foram processadas, utilizando-se o programa estatístico SAEG versão 5.0/1993, desenvolvido pela Universidade Federal de Viçosa, em Viçosa, MG. 33 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO No Quadro 8 está apresentada a caracterização química do material filtrante no perfil da coluna antes e depois da filtragem da água residuária de suinocultura. No Apêndice (Quadro 1A), encontram-se os valores de coeficiente de variação para o teste de média feito para caracterização química. Com relação à concentração de fósforo (P-total), os materiais filtrantes casca de arroz, sabugo de milho e fino de carvão vegetal não apresentaram diferenças significativas, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, antes e depois da filtragem, ao longo do perfil da coluna. No entanto, o bagaço de cana-de-açúcar e a serragem de madeira sofreram enriquecimento desse elemento, e a serragem de madeira apresentou maior retenção na parte superior do perfil da coluna de lixiviação, o que é indicativo da grande reatividade desse material. A casca de café mostrou comportamento muito distinto dos outros resíduos orgânicos, ou seja, perdeu fósforo para a água residuária. Em termos de tratamento da água residuária, isso é um fator muito negativo, já que o material filtrante prejudicou a qualidade do efluente no que se refere à concentração de P em solução. Quanto ao nitrogênio (N-total), a maioria dos materiais filtrantes tiveram acréscimo deste elemento após a filtragem, com exceção do sabugo de milho. Embora numericamente tenha sido possível observar certo aumento na concentração de N-total nesse material, pelo teste de Tukey não foram 34 35 36 encontradas diferenças significativas entre as médias, em nível de 5% de probabilidade. O aumento da concentração de nitrogênio no material filtrante seria muito desejável, considerando-se o abaixamento da relação C/N fundamental para a posterior compostagem do material orgânico. Ao contrário do que se sucedeu com o N-total, a concentração de Corgânico no material filtrante não variou com a filtragem ao longo da coluna, à exceção da casca de café, resíduo orgânico que proporcionou incremento desse elemento. Isso, provavelmente, seja devido ao fato de esse material ser o que apresentou maior retenção de sólidos sedimentáveis da água residuária (Figura 6-a), resultado que será apresentado posteriormente. A relação C/N decresceu na maioria dos materiais filtrantes, o que é resultado do aumento da concentração de N nos resíduos orgânicos. Exceções ocorreram no sabugo de milho, porque não houve aumento significativo de N; e na casca de café, que apresentou incremento da concentração de C-orgânico com a filtragem. A relação C/N é um parâmetro comumente utilizado para avaliação do processo de compostagem. Para que a compostagem seja rápida e eficiente, admite-se que a relação C/N se encontra entre os limites de 26 e 35 (KIEHL, 1985). Dessa forma, a casca de café foi o único material que se adequou a esse preceito, mesmo antes da adição da água residuária. Baseado nisso, verificou-se que, para adequação da relação C/N dos demais compostos, serão necessários acréscimos periódicos de água residuária durante o processo de compostagem para aumentar a concentração de N das medas (SEDIYAMA et al., 1995). Com relação ao cálcio, os materiais orgânicos casca de arroz, casca de café, bagaço de cana-de-açúcar e serragem de madeira retiveram, significativamente, a presença desse elemento. Na serragem de madeira, a maior retenção ocorreu na parte superior do perfil da coluna, não diferindo significativamente do material original nas demais partes. Já o sabugo de milho e o fino de carvão vegetal não apresentaram diferenças significativas na concentração de Ca após o uso desses materiais na filtragem da água residuária de suinocultura. O comportamento do magnésio foi idêntico ao do cálcio quanto aos seguintes materiais: casca de café, sabugo de milho, serragem de madeira e 37 fino de carvão vegetal. Com relação aos demais materiais, a casca de arroz proporcionou redução da concentração de Mg, perdendo este para a água residuária, enquanto no caso do bagaço de cana-de-açúcar não houve alteração na concentração desse elemento após seu uso na filtragem da água residuária de suinocultura. Tanto o sódio como o potássio, elementos que se encontram quase que totalmente na forma mineral na água residuária (SCHERER et al., 1995), tiveram suas concentrações reduzidas na casca de arroz, na casca de café e no sabugo de milho. O bagaço de cana-de-açúcar reteve Na, entretanto não houve diferença significativa na concentração de K no material filtrante após seu uso como filtro de água residuária de suinocultura. Retenções de sódio e de potássio foram observadas na serragem de madeira, que teve suas concentrações aumentadas após seu uso como filtro. As concentrações de ambos os elementos no fino de carvão vegetal não foram alteradas após a filtragem. As elevadas disponibilidades de sódio e potássio nos materiais orgânicos antes da filtragem podem estar associadas às altas solubilidades desses sais presentes ou deslocados do complexo de troca. Com relação ao Cu, houve aumento da sua concentração na maioria dos materiais filtrantes, mas tal diferença só foi estatisticamente significativa pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade, na casca de arroz, casca de café e serragem de madeira. O mesmo comportamento foi constatado no Zn, entretanto, neste elemento, além dos resíduos orgânicos citados anteriormente, deve-se incluir o bagaço de cana-de-açúcar. A retenção de metais pesados em resíduos orgânicos (casca de arroz) foi verificada por MUNAF e ZEIN (1997). Eles obtiveram retenção de até 85% dos metais pesados Cr2+, Zn2+, Cu2+ e Cd2+ em solução, dependendo do tamanho das partículas da casca de arroz. A parede celular da casca de arroz consiste principalmente de celulose, sílica, lignina e carboidratos, apresentando grande número de grupos hidroxílicos em sua estrutura. Segundo esses autores, a propriedade de troca de íons na casca deve ser devida à presença desses grupos funcionais. Avaliando os resíduos orgânicos utilizados como filtros, pode-se constatar que os materiais filtrantes que mostraram menor interação com a água residuária foram o sabugo de milho, que até prejudicou a qualidade da 38 água residuária, devido à lixiviação de Na e K; e o fino de carvão vegetal, apesar da sua capacidade de reter nitrogênio. Casca de arroz e casca de café, embora sejam capazes de adsorver importantes elementos poluentes como N, Ca, Cu e Zn, liberaram na água residuária quantidades significativas de Na e K. Os materiais que apresentaram os melhores resultados foram o bagaço de cana-de-açúcar e a serragem de madeira, que foram capazes de reter a maioria dos elementos poluentes sem que, com isso, houvesse a liberação de outros no efluente dos filtros. Na Figura 2-a, encontra-se o gráfico que se refere à concentração de Ptotal no afluente e efluente do filtro. Visualmente, pode-se observar que todos os valores de concentração de P-total no efluente estão acima dos valores determinados para o afluente. Como era de se esperar, os valores mais altos de P-total no efluente foram observados quando o material filtrante utilizado foi a casca de café, uma vez que se encontrou decréscimo significativo desse elemento na casca de café usado nos filtros. O uso de materiais filtrantes casca de arroz, casca de café e sabugo de milho proporcionou redução nas concentrações de P-total no efluente do filtro com o aumento do volume de poros. Nos demais materiais, não houve resposta desse parâmetro em relação ao volume de poros filtrados. Com relação à concentração de N-total (Figura 2-b), os valores encontrados no efluente dos materiais filtrantes flutuaram em torno daqueles determinados para o afluente. Apesar de ser observado aumento da concentração de N-total na maioria dos resíduos utilizados como filtro, a quantidade retida não foi suficiente para causar alterações sensíveis na concentração do efluente dos filtros. Com relação ao Ca (Figura 3-a), encontraram-se, nos efluentes da maioria dos materiais filtrantes, valores de concentração abaixo daqueles determinados no afluente, à exceção da serragem de madeira. Curvas de comportamento decrescente na concentração do efluente com o aumento do volume de poros foram ajustadas para a casca de café, bagaço de cana-deaçúcar e fino de carvão. Apesar disso, a maior remoção de Ca foi apenas de 13,4%, ocorrendo quando a casca de arroz foi empregada como filtro da água residuária de suinocultura. 39 0,025 2 0,5 P = 0,0244 - 0,0227**VP 0,021 P-total (dag L -1) (a) 2 P = 0,0233 - 0,0062**VP + 0,0008*VP r =0,90 0,023 0,019 1,5 + 0,0126*VP2 - 0,0024*VP 0,5 P = 0,0130 - 0,0030*VP 2 r =0,94 2 + 0,0008*VP r =0,81 0,017 P = 0,0092 0,015 P = 0,0095 0,013 P = 0,0098 0,011 0,009 0,007 0,005 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Volume de poros 0,103 N = 0,1023 0,102 (b) N-total (dag L -1) 0,101 N = 0,1007 0,1 0,099 0,098 0,097 N = 0,0971 N = 0,0958 0,096 0,095 N = 0,0935 0,094 0,093 N = 0,0933 0,092 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Volume de poros CA CC BC SM SR FC AF Figura 2 – Concentração de P-total (a) e N-total (b) em função do volume de poros em diferentes materiais utilizados como filtro, sendo: CA – casca de arroz, CC – casca de café, BC – bagaço de cana-deaçúcar, SM – sabugo de milho, SR – serragem de madeira, FC – fino de carvão vegetal e AF – afluente. 40 0,16 2 3 2 Ca = 0,1627 - 0,0577**VP + 0,0215*VP - 0,0025*VP r = 0,82 0,15 2 (a) 3 2 Ca = 0,1402 - 0,0412*VP + 0,0195*VP - 0,0027*VP r = 0,55 Ca (g L-1) 0,14 Ca = 0,1328 0,13 2 3 2 Ca = 0,1382- 0,0191*VP + 0,0048°VP - 0,0004°VP r = 0,54 0,12 Ca = 0,1190 0,11 Ca = 0,1125 0,1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Volume de poros 0,085 0,5 Mg = 0,0561 + 0,0394* VP 0,08 Mg (g L -1) 0,075 1,5 - 0,0327* VP + 0,0075* VP Mg = 0,0687 2 r = 0,76 (b) Mg = 0,0648 0,07 Mg = 0,0618 0,065 0,06 Mg = 0,0600 0,055 2 2 Mg = 0,0822 - 0,0140* VP + 0,0018° VP r = 0,73 0,05 0,045 0,04 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Volume de poros CA CC BC SM SR FC AF Figura 3 – Concentração de Ca (a) e Mg (b) em função do volume de poros em diferentes materiais utilizados como filtro. 41 As concentrações de Mg (Figura 3-b) no efluente de todos os materiais filtrantes foram superiores às obtidas no afluente, embora nas análises químicas dos materiais utilizados como filtro só tenha sido constatado perda desse elemento quando o material filtrante foi a casca de arroz. Os valores de concentração de Na no efluente em relação ao volume de poros (Figura 4-a) estão coerentes com o que foi verificado nas análises químicas do material usado como filtro, visto que os materiais filtrantes que mais perderam esse elemento foram a casca de arroz, a casca de café e o sabugo de milho. Nesses casos, foi possível ajustar curvas de valores decrescentes de concentração no efluente com o aumento do volume de poros, com a ressalva de que as concentrações de Na no efluente tenderam para os valores encontrados no afluente. No efluente dos demais materiais, encontraram-se valores de concentração próximos aos do afluente, não havendo, dessa forma, resposta desse parâmetro em relação ao volume de poros filtrados. Como esperado, comportamento idêntico foi observado para K (Figura 4-b) no efluente do material filtrante. O aumento da concentração de P, Ca, Mg, Na, K, Cu e Zn nos primeiros volumes de poros de efluentes coletados, que ocorreu principalmente quando foi utilizada a casca de café como material filtrante, pode ser atribuído à forma de processamento do fruto do cafeeiro. Com a secagem dos frutos em "coco", é possível que haja transporte de solutos do fruto, por fluxo de massa, na água que migra para o seu exterior. O transporte de solutos até a casca coloca-os passíveis de mais fácil solubilização pela água; daí a possibilidade da “lavagem” das cascas quando elas estiveram sob o fluxo da água residuária de suinocultura. Dentre as análises realizadas, os resultados mais promissores foram observados no Cu (Figura 5-a), e todos os valores de concentração deste elemento no efluente encontraram-se abaixo daquele do afluente. Isso tornou possível o ajuste de curvas de valores de concentração decrescentes com o volume de poros. Os valores de cobre no efluente decresceram até que se atingisse um patamar que resultasse em eficiências de remoção de 34,4; 29; 40,1; 39,9; 43,6; e 33,1%, para efluente dos filtros de casca de arroz, casca de café, bagaço de cana-de-açúcar, sabugo de milho, serragem de madeira e fino de carvão vegetal, respectivamente. MUNAF e ZEIN (1997) encontraram 42 1 2 Na = 0,2407 - 0,0519*** Log(VP) r =0,73 0,9 0,8 Na = 1/(0,9915 + 0,5970*** VP) r =0,97 0,7 Na (g L-1) (a) 2 1,5 2 Na = 0,2257 - 0,0259* VP + 0,0050* VP 0,6 r =0,61 2 3 2 Na = 0,5917 - 0,2326*** VP + 0,0578** VP - 0,0051* VP r =0,97 0,5 0,4 Na = 0,2138 0,3 Na = 0,1895 0,2 0,1 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Volume de poros 3 2 K = 1/(1,4257 + 0,1365*** VP) r = 0,77 2,5 0,5 K = 0,3823 + 0,6046** VP 2 K (g L-1) (b) 2 K = 1/(0,3057 + 0,2244*** VP) r = 0,98 1,5 2 - 0,6521 **VP + 0,1937*** VP 2 r = 0,94 3 2 K = 1,3537 - 0,6718*** VP + 0,1627** VP - 0,0140* VP r = 0,98 1,5 K = 0,5279 K = 0,4891 1 0,5 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Volume de poros CA CC BC SM SR FC AF Figura 4 – Concentração de Na (a) e K (b) em função do volume de poros em diferentes materiais utilizados como filtro. 43 2,3 2 3 2 2 3 2 Cu = 1,5753 - 0,8005*** VP + 0,3598** VP - 0,0488** VP r = 0,89 2,1 Cu = 2,2488 - 0,9586*** VP + 0,2916** VP - 0,0304** VP r = 0,98 1,9 2 Cu (mg L -1) (a) 3 2 Cu = 1,5777 - 0,7510*** VP + 0,2960*** VP - 0,0365** VP r = 0,94 1,7 0,5 1,5 Cu = 3,3165 - 4,3580** VP 1,5 2 + 2,5234** VP - 0,4684* VP r = 0,97 1,3 1,1 0,9 Cu= 0,9897 0,7 0,5 Cu = 3,0564 - 3,3051** VP 1,5 2 + 1,7700** VP - 0,3054* VP r = 0,88 0,5 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Volume de poros 3 Zn = 1,4424 Zn = 1,8689 2 2,5 (b) 3 2 Zn = 1,7494 - 0,9260* VP + 0,4551* VP - 0,0641* VP r = 0,71 Zn (mg L -1) 2 Zn = 1/(0,6716 + 0,0757** VP) r = 0,52 2 0,5 Zn = 3,1572 - 3,1101** VP 1,5 2 + 1,0602** VP r = 0,75 1 2 Zn = 1,0202 + 0,3496**/VP r = 0,71 0,5 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Volume de poros CA CC BC SM SR FC AF Figura 5 – Concentração de Cu (a) e Zn (b) em função do volume de poros em diferentes materiais utilizados como filtro. 44 sorção de 40% de íons metálicos pela casca de arroz não-tratada, com a ressalva de que esse percentual aumentou até 85% quando o tamanho da partícula foi reduzido e o material, tratado previamente com ácido clorídrico. Esses resultados indicaram que, caso o tamanho das partículas dos materiais filtrantes fosse menor, poderiam ter sido obtidas eficiências ainda maiores de retenção de cobre. Já os valores de concentração de Zn (Figura 5-b) no efluente do filtro de casca de arroz e casca de café acima daqueles do afluente, ainda assim, não apresentaram resposta com relação ao volume de poros filtrado. Curvas de valores decrescentes foram ajustadas para o efluente dos filtros dos demais materiais filtrantes, e as maiores remoções foram obtidas para sabugo de milho e serragem de madeira. Nas Figuras 6 a 8 estão apresentados os resultados das análises físicoquímicas de sólidos sedimentáveis (SP) e totais (ST), densidade (d), condutividade elétrica (CE) e taxa de infiltração (TF) do afluente e efluente dos filtros em função do volume de poros filtrado e material filtrante. Resultados importantes, no que se refere à eficiência na remoção de SP, foram alcançados (Figura 6-a), sendo tal eficiência superior a 90% em todos os materiais filtrantes, chegando a atingir 97,2% de remoção nos primeiros volumes filtrados quando o material filtrante utilizado foi a casca de café. Com relação à concentração de ST (Figura 6-b), a eficiência máxima de remoção encontrada foi de 33% quando o material filtrante utilizado foi fino de carvão vegetal. O uso de casca de café como filtro aumentou a concentração de sólidos totais nos primeiros volumes de poros de efluente, mas, com a filtragem, tendeu a atingir os valores encontrados para o afluente. A relativamente baixa eficiência de remoção de ST deveu-se à presença de grande quantidade de sólidos de pequeno diâmetro em suspensão ou solução nas águas residuárias de suinocultura. As evidências são de que esse material fino poderia ter sido retido com maior eficiência caso fosse menor o diâmetro médio das partículas do material filtrante. No tocante à densidade (Figura 7-a), observou-se sua pequena redução quando comparada à da água residuária afluente. O efluente da casca de café teve densidade inicial muito acima da determinada para o afluente, mas, com a filtragem, essa densidade tendeu aos valores obtidos no afluente. 45 100 0,5 SP = 32,7740 - 50,3105**VP 90 2 80 (a) 3 2 SP = 5,6060 - 13,6127*VP + 8,7207*VP - 1,4037*VP r = 0,74 70 SP (mL L -1) 2 + 21,4085**VP r =0,79 0,5 SP = 215,745 - 504,445**VP 60 1,5 2 + 381,586**VP - 91,6804**VP 0,5 1,5 2 + 260,966**VP - 55,3225***VP SP = 198,414 - 396,558**VP 50 40 + 137,171**VP - 33,313**VP 0,5 + 97,3284*VP - 18,4498*VP SP = 87,4933 - 159,718**VP 20 r =0,97 0,5 SP = 71,6242 - 175,326***VP 30 r =0,96 1,5 2 r =0,98 1,5 2 r =0,90 10 0 -10 0 1 2 3 4 5 6 7 Volume de poros 2 (b) ST = 1/(0,2104 + 0,0205**VP) r = 0,58 22,5 2 ST = 13,2309 - 13,8693***Log(VP) r = 0,96 17,5 0,5 ST (g L-1) ST = 10,1511 - 13,2191***VP 0,5 ST = 5,4850 - 3,1631*VP 12,5 1,5 2 + 9,0052**VP - 1,9923**VP r = 1,5 2 + 1,8604°VP - 0,3563°VP r = 0,70 2 ST = 5,9508 - 30859***Log(VP) r = 0,94 2 ST = 4,3661 - 1,2812**Log(VP) r = 0,72 7,5 2,5 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Volume de poros CA CC BC SM FC AF Figura 6 – Concentração de sólidos sedimentáveis (SP) (a) e totais (ST) (b) em função do volume de poros em diferentes materiais utilizados como filtro. 46 1,012 d = 1,0040 1,011 (a) 2 2 d = 1,0121 - 0,0042***VP + 0,0006**VP r = 0,90 1,01 0,5 d = 1,0049 - 0,0019***VP d (g cm-3) 1,009 1,5 2 + 0,0013***VP - 0,0003**VP r = 0,96 2 2 d = 1,0044 - 0,0002*VP + 0,00003°VP r = 0,58 1,008 d = 1,0040 1,007 d = 1,0040 1,006 1,005 1,004 1,003 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Volume de poros 13 2 CE = 8,1470 - 0,2190*Log(VP) r = 0,51 12 (b) 2 CE = 9,7183 - 3,6334***Log(VP) r = 0,73 -1 CE (dS m ) 11 2 CE = 9,1917 - 1,5131***Log(VP) r = 0,95 10 2 3 2 CE = 6,0863 - 0,3379°VP + 0,2007°VP - 0,0285°VP r = 0,66 CE = 8,3140 9 8 7 2 2 CE = 7,7383 - 0,0688*VP + 0,0118°VP r = 0,63 6 5 0 1 2 3 4 5 6 SR FC 7 8 Volume de poros CA CC BC SM AF Figura 7 – Densidade (d) (a) e condutividade elétrica (CE) (b) em função do volume de poros em diferentes materiais utilizados como filtro. 47 250 0,5 TF = 80,0706 + 193,354**VP 230 1,5 2 - 169,188**VP + 41,3814**VP 0,5 TF = 168,994 + 123,730**VP 210 TF (cm h-1) 2 - 64,4499***VP r = 0,92 0,5 TF = 202,438 - 71,0395*VP 190 r = 0,92 2 + 20,2247*VP r = 0,73 170 150 130 110 0,5+ TF = 177,004 - 62,7315**VP 90 1,5 2 0,5 1,5 2 TF = 71,0316 + 76,5910**VP 50 0 1 2 3 r = 0,99 0,5+ - 66,1231*VP + 16,1951*VP TF = 92,9663 + 90,6143**VP 70 1,5 2 - 37,0886**VP - 8,7421**VP r = 0,92 - 40,7701**VP + 6,9468**VP 4 5 6 r = 0,92 7 8 Volume de poros CA CC BC SM SR FC AF Figura 8 – Taxa de infiltração (TF) em função do volume de poros em diferentes materiais utilizados como filtro. A condutividade elétrica no efluente (Figura 7-b), exceto no caso de uso da serragem de madeira como filtro, manteve-se sempre acima dos valores determinados para o afluente, provavelmente em função da lixiviação de sais do material filtrante, o que proporcionou aumento da sua concentração no efluente das colunas filtrantes. Esses resultados devem ser creditados principalmente ao potássio e ao sódio, que foram deslocados das colunas e aumentaram a concentração desses efluentes. A taxa de infiltração (Figura 8) tendeu a valores entre 100 e 150 cm h-1 (24 e 36 m d-1), na maioria dos materiais filtrantes, exceto na casca de café, que teve, no início dos testes, valores de velocidade acima de 200 cm h-1, mas que tendeu a atingir os valores mencionados anteriormente, ao final do teste. Tais valores são intermediários entre aqueles recomendados para uso em filtros lentos (2 a 9 m d-1) (POVINELLI e MARTINS, 1973) e filtros rápidos (120 a 240 m d-1) (STEEL e MCGHEE, 1979). A maior taxa de infiltração nas colunas preenchidas com casca de café está associada à maior porosidade, cerca de 0,804 cm3 cm-3 (Quadro 6) e, possivelmente, à maior macroporosidade do material. Com o aumento do 48 volume de águas residuárias de suinocultura tratada, os sólidos sedimentáveis retidos podem ter diminuído o diâmetro dos poros, o que ocasionou redução na taxa de infiltração da água residuária. Pode-se constatar que os filtros orgânicos estudados neste trabalho foram capazes de atingir o nível de tratamento primário, devido à remoção de sólidos sedimentáveis e totais, e, ainda, abranger parte do tratamento terciário, em função da remoção de cobre da água residuária de suinocultura. Assim, com a utilização de filtros orgânicos, pode-se dispensar o emprego de tanques de sedimentação primária, já que, com eficiência de 90% na remoção de sólidos sedimentáveis e de cerca de 30% na remoção de sólidos totais, a etapa de remoção de sólidos grosseiros foi cumprida. Acredita-se que, com a redução do tamanho de partículas do material orgânico utilizado nos filtros, maiores eficiências de remoção de metais pesados e outros poluentes sejam alcançadas devido à possibilidade de maior retenção de sólidos nos pequenos poros, ao aumento da superfície específica e à exposição de maior número de sítios de troca do material filtrante. 49 Quadro 8 – Caracterização química do material filtrante antes e depois da filtragem da água residuária de suinocultura Material filtrante Perfil da coluna P-total N-total C-orgânico Relação Ca Mg Na K Cu Zn C/N -1 -----------------------------g kg-1----------------------------- -------------------dag kg -----------------CAAF CAPF 0,120 a* 0,411 a 43,803 a 106,455 b 0,793 a 0,153 b Superior 0,108 a 0,510 b 43,645 a 85,656 a 1,445 b 0,119 a 1,614 a 1,504 a 12,964 b 34,618 b Mediana 0,128 a 0,508 b 43,333 a 85,663 a 1,393 b 0,120 ab 1,651 a 1,464 a 11,108 b 32,101 b Inferior 0,105 a 0,492 b 43,763 a 89,145 a 1,446 b 0,118 a 1,663 a 1,514 a 10,667 b 31,020 b 0,213 b 1,876 a 51,195 a 27,295 a 2,957 a 0,287 a 40,723 b 47,046 b 18,662 a 4,354 a Superior 0,082 a 2,162 b 53,565 b 24,782 a 4,922 b 0,363 b 4,494 a 8,755 a 23,096 ab 14,828 b Mediana 0,082 a 2,124 b 53,636 b 25,413 a 4,545 b 0,377 b 7,203 a 11,122 a 24,031 ab 16,672 b Inferior 0,088 a 2,158 b 53,656 b 24,863 a 4,559 b 0,366 b 7,279 a 12,603 a 25,145 b 18,240 b 0,028 a 0,229 a 53,024 a 232,032 b 0,830 a 0,119 a 0,934 a 1,820 a 8,130 a 15,472 a CCAF CCPF BCAF BCPF 4,549 b 2,329 a 19,525 a Superior 0,126 b 0,449 b 50,753 a 109,052 a 1,989 b 0,161 a 1,389 b 1,855 a 30,699 a 48,408 b Mediana 0,103 b 0,446 b 52,658 a 119,336 a 1,857 b 0,139 a 1,609 b 2,007 a 28,743 a 43,455 b Inferior 0,109 b 0,432 b 52,192 a 125,251 a 1,860 b 0,146 a 1,653 b 2,077 a 28,626 a 43,874 b 0,046 a 0,290 a 54,849 a 189,027 a 0,315 a 0,060 a 6,550 b 7,215 b 4,667 a 39,097 a Superior 0,057 a 0,357 a 54,953 a 160,348 a 1,107 a 0,086 a 1,685 a 2,206 a 19,534 a 60,651 a Mediana 0,059 a 0,334 a 55,032 a 164,751 a 0,792 a 0,060 a 1,798 a 2,262 a 8,289 a 52,594 a Inferior 0,055 a 0,351 a 55,044 a 159,251 a 0,772 a 0,070 a 2,026 a 2,525 a 11,978 a 56,918 a SMAF SMPF 4,538 b -------------mg kg-1------------ Quadro 8, Cont. Material filtrante Perfil da coluna P-total N-total C-orgânico Relação Ca Mg Na K Cu Zn C/N -1 -----------------------------g kg-1----------------------------- -------------------dag kg -----------------SRAF SRPF 0,007 a* 0,232 a 55,181 a 237,834 b 1,358 a 0,057 a 0,670 a 1,175 a 1,818 a 14,618 a Superior 0,144 b 0,539 b 54,269 a 102,619 a 2,658 b 0,159 b 1,333 b 1,637 b 43,911 b 63,424 b Mediana 0,089 b 0,417 b 54,872 a 132,883 a 2,101 ab 0,090 ab 1,240 b 1,545 b 24,512 ab 38,258 ab Inferior 0,074 ab 0,428 b 54,984 a 131,549 a 2,067 ab 0,091 ab 1,374 b 1,639 b 22,345 ab 37,383 ab 0,025 a 0,210 a 55,180 a 262,184 b 1,831 a 0,067 a 7,568 a 2,796 a 1,944 a 8,376 a Superior 0,032 a 0,271 b 55,164 a 206,097 a 1,576 a 0,054 a 9,130 a 2,931 a 4,254 a 10,606 a Mediana 0,036 a 0,278 b 55,161 a 198,584 a 1,734 a 0,054 a 10,158 a 3,129 a 5,648 a 10,778 a Inferior 0,038 a 0,268 b 55,140 a 205,828 a 1,784 a 0,061 a 9,816 a 3,044 a 5,554 a 11,266 a FCAF FCPF -------------mg kg-1------------ Sendo: CAAF – casca de arroz antes da filtragem, CAPF – casca de arroz após a filtragem, CCAF – casca de café antes da filtragem, CCPF – casca de café após a filtragem, BCAF – bagaço de cana-de-açúcar antes da filtragem, BCPF – bagaço de cana-de-açúcar após a filtragem, SMAF – sabugo de milho antes da filtragem, SMPF – sabugo de milho após a filtragem, SRAF – serragem de madeira antes da filtragem, SRPF – serragem de madeira após a filtragem, FCAF – fino de carvão vegetal antes da filtragem e FCPF – fino de carvão vegetal após a filtragem. * Médias seguidas da mesma letra não diferem significativamente, a 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey. 5. RESUMO E CONCLUSÕES A suinocultura moderna é uma atividade pecuária sabidamente concentradora de dejetos em pequenas áreas, em razão da produção em regime de confinamento dos animais. Para remoção de poluentes de águas residuárias podem ser empregados processos físicos, químicos e biológicos. Dentre os processos físicos, a filtração pode ser utilizada como alternativa de grande eficiência na remoção de sólidos totais em suspensão e, dependendo do material filtrante, até dissolvidos. Por ser a água residuária de granjas suinícolas muito rica em sólidos em suspensão e dissolvidos, o uso de filtros convencionais de areia não é recomendável, sendo, por isso, necessário o estudo de materiais alternativos que possam substituí-la. A utilização de materiais que sejam subprodutos de atividades agropecuárias e industriais é interessante, considerando-se a sua abundância, as dificuldades para sua disposição no ambiente e o baixo custo de aquisição. Como materiais filtrantes, utilizaram-se a casca de arroz, a casca de café, o bagaço de cana-de-açúcar, o sabugo de milho triturado, a serragem de madeira e o fino de carvão vegetal. Para caracterização do material dos filtros, foram determinados a massa específica, o pH e a soma de bases e acidez removíveis. As colunas de filtragem foram constituídas de tubos de PVC de 100 mm de diâmetro e comprimento de 600 mm. O material filtrante foi acondicionado às colunas até ser atingida a altura de 500 mm, sofrendo 50 compressão de 12.490 N m-2. O experimento foi arranjado em delineamento em blocos inteiramente casualizados, com seis tratamentos (seis materiais filtrantes) e quatro repetições. Foram avaliadas as alterações químicas e físicas ocorridas, tanto no material filtrante como na água residuária em função do volume de poros efluente das colunas, além da eficiência de remoção de poluentes. As análises químicas e físicas foram realizadas em amostras dos efluentes coletadas a cada 1,5 L, até um total de 15 L, e, posteriormente, convertidas para volume de poros de efluentes. Com base nos resultados obtidos no presente trabalho, pode-se concluir que resíduos orgânicos podem ser empregados como materiais filtrantes da água residuária de suinocultura, uma vez que proporcionaram melhoria nas qualidades química e física do efluente. Dentre os materiais orgânicos avaliados, o bagaço de cana-de-açúcar e a serragem de madeira foram os que apresentaram maior capacidade de reter poluentes. Sabugo de milho e fino de carvão vegetal foram os que mostraram menor interação com a água residuária, chegando mesmo a prejudicar a sua qualidade em alguns dos parâmetros avaliados. A casca de arroz e casca de café, embora tenham, também, prejudicado a qualidade do efluente em alguns aspectos, proporcionaram a retenção de grandes quantidades de N, Ca, Cu e Zn. A concentração de N-total aumentou na maioria dos materiais utilizados como filtro, à exceção do sabugo de milho. Pequena ou nenhuma alteração na concentração de N-total, Ca, Mg e Zn no efluente do filtro foi detectada durante o processo de filtração. O aumento na concentração de P-total, Na e K foi observado nos primeiros volumes de poros de efluente quando os materiais orgânicos empregados como filtro foram casca de arroz, casca de café e sabugo de milho, embora esses valores se aproximem daqueles determinados para o afluente. Importante redução da concentração de Cu foi constatada em todos os materiais utilizados como filtro, atingindo-se eficiência de remoção de 43,6% quando o material filtrante foi a serragem de madeira. Os resultados das análises físicas do efluente do filtro indicaram importante redução na concentração de sólidos totais (ST) e sedimentáveis (SP). Eficiências de remoção de SP superiores a 90% foram verificadas em 51 todos os materiais orgânicos utilizados como filtro. A maior eficiência na remoção de ST foi observada com a utilização de fino de carvão vegetal (33,0%). Os resultados obtidos na remoção de sólidos sedimentáveis são indicativo de que os filtros orgânicos proporcionam nível de tratamento equivalente ao primário para a água residuária de suinocultura, dispensando-se a utilização de tanques de sedimentação no processo. Com a verificação da remoção de Cu, pode-se afirmar, também, que o tratamento terciário foi, parcialmente, obtido. 52 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADACHI, S., FUCHU, Y. Reclamation and use of wastewater by biological aerated filter process. Water Science Technology, v. 24, n. 9, p. 195-204, 1991. BARACHO JÚNIOR., J. A. O. O licenciamento e controle ambiental da atividade de suinocultura. In: SEMINÁRIO MINEIRO SOBRE MANEJO E UTILIZAÇÃO DE DEJETOS DE SUÍNOS, 1, 1995, Ponte Nova - MG. Anais... 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Ca Mg Na K Cu Zn 6,30 12,56 13,42 6,76 28,44 11,32 9,23 8,51 17,15 12,07 12,42 26,76 23,79 31,20 14,83 6,43 46,24 29,98 72,03 61,95 11,88 10,94 153,29 39,87 15,42 33,53 9,23 6,83 51,93 33,93 10,05 14,96 31,10 12,38 43,26 22,78 de cana-de-açúcar, SM – sabugo de milho, SR – serragem de Quadro 2A – Caracterização química da água residuária de suinocultura em função do volume de poros filtrados e do material filtrante Material filtrante Afluente Casca de arroz Casca de café Volume de poros 0,22 0,65 1,09 1,53 1,96 2,40 2,84 3,27 3,71 4,14 0,24 0,71 1,19 1,66 2,14 2,61 3,09 3,56 4,04 4,51 P-total N-total Ca Mg Na K Cu Zn -1 -1 -1 ------dag L ------- --------------------g L --------------------- -------mg L ------0,009 0,094 0,130 0,050 0,205 0,505 1,609 1,154 0,012 0,098 0,123 0,072 0,263 0,680 1,414 1,817 0,011 0,091 0,106 0,071 0,266 0,699 1,179 1,304 0,011 0,097 0,119 0,077 0,255 0,663 1,099 2,962 0,010 0,111 0,103 0,063 0,222 0,574 1,014 1,084 0,011 0,094 0,119 0,070 0,220 0,560 1,034 1,149 0,010 0,103 0,114 0,067 0,214 0,537 1,019 1,179 0,010 0,099 0,108 0,067 0,236 0,590 1,029 1,619 0,011 0,094 0,114 0,069 0,234 0,578 1,204 1,074 0,010 0,090 0,106 0,065 0,199 0,495 1,034 1,119 0,010 0,095 0,113 0,066 0,206 0,503 0,964 1,117 0,021 0,096 0,149 0,075 0,795 2,394 2,022 2,279 0,022 0,101 0,137 0,084 0,893 2,699 1,767 3,012 0,016 0,085 0,114 0,063 0,619 1,847 1,407 1,402 0,014 0,079 0,109 0,059 0,464 1,388 1,292 1,982 0,014 0,091 0,123 0,063 0,447 1,307 1,289 1,917 0,012 0,088 0,115 0,057 0,359 1,042 1,192 1,484 0,013 0,096 0,121 0,061 0,355 1,004 1,207 1,884 0,011 0,101 0,117 0,055 0,319 0,894 1,099 1,592 0,011 0,095 0,114 0,058 0,289 0,818 1,154 1,654 0,011 0,102 0,118 0,056 0,285 0,784 1,072 1,484 Quadro 2A, Cont. Material filtrante Bagaço de cana-de-açúcar Sabugo de milho Volume de poros 0,24 0,71 1,19 1,67 2,14 2,62 3,10 3,57 4,05 4,53 0,29 0,88 1,46 2,05 2,63 3,22 3,80 4,38 4,97 5,55 P-total N-total Ca Mg Na K Cu Zn ------dag L-1------- --------------------g L-1--------------------- -------mg L-1------0,010 0,099 0,130 0,064 0,218 0,546 1,434 1,582 0,010 0,104 0,122 0,069 0,215 0,541 1,117 1,254 0,010 0,096 0,111 0,068 0,201 0,515 1,094 1,114 0,009 0,103 0,120 0,062 0,193 0,496 0,979 1,354 0,009 0,100 0,116 0,059 0,197 0,484 0,969 1,132 0,010 0,090 0,110 0,067 0,180 0,466 0,997 1,197 0,010 0,105 0,120 0,067 0,206 0,498 0,962 1,512 0,010 0,101 0,118 0,069 0,190 0,493 0,997 1,267 0,011 0,104 0,128 0,071 0,210 0,528 1,022 1,162 0,008 0,105 0,100 0,051 0,206 0,592 0,832 0,962 0,015 0,096 0,114 0,069 0,523 1,454 1,182 1,489 0,012 0,095 0,115 0,071 0,440 1,216 0,937 1,312 0,011 0,094 0,117 0,067 0,367 0,986 1,007 1,077 0,011 0,087 0,115 0,070 0,299 0,809 1,004 1,222 0,010 0,092 0,117 0,067 0,263 0,690 0,927 1,617 0,011 0,099 0,133 0,064 0,297 0,776 1,079 1,142 0,010 0,095 0,126 0,065 0,276 0,722 0,944 0,877 0,010 0,099 0,128 0,065 0,256 0,662 0,949 1,124 0,011 0,086 0,108 0,065 0,212 0,546 0,849 0,852 0,010 0,092 0,118 0,066 0,223 0,579 1,019 0,954 Quadro 2A, Cont. Material filtrante Serragem de madeira Fino de carvão vegetal Volume de poros 0,22 0,65 1,09 1,52 1,96 2,39 2,83 3,26 3,70 4,13 0,39 1,18 1,97 2,76 3,55 4,34 5,13 5,92 6,71 7,50 P-total N-total Ca Mg Na K Cu Zn ------dag L-1------- --------------------g L-1--------------------- -------mg L-1------0,010 0,096 0,144 0,058 0,215 0,542 1,793 1,947 0,009 0,104 0,135 0,059 0,228 0,567 1,163 1,143 0,010 0,107 0,137 0,065 0,232 0,571 1,010 1,457 0,009 0,096 0,118 0,059 0,194 0,478 0,890 0,780 0,009 0,104 0,133 0,059 0,218 0,535 0,953 0,930 0,009 0,090 0,126 0,058 0,205 0,503 0,787 0,783 0,009 0,114 0,135 0,060 0,216 0,532 0,887 0,830 0,010 0,112 0,138 0,066 0,214 0,529 0,977 0,923 0,009 0,094 0,123 0,060 0,192 0,474 0,900 1,347 0,009 0,106 0,140 0,056 0,224 0,548 0,960 1,137 0,011 0,091 0,131 0,064 0,182 0,479 1,617 1,949 0,009 0,096 0,122 0,062 0,194 0,496 1,114 1,210 0,009 0,098 0,117 0,058 0,197 0,505 1,054 1,057 0,010 0,097 0,116 0,063 0,198 0,503 1,134 1,319 0,010 0,097 0,119 0,062 0,190 0,490 1,114 1,089 0,009 0,097 0,109 0,059 0,188 0,485 0,997 0,913 0,009 0,097 0,111 0,060 0,187 0,482 1,024 1,137 0,010 0,098 0,127 0,068 0,201 0,505 1,187 1,017 0,010 0,090 0,118 0,064 0,191 0,488 1,074 1,423 0,009 0,096 0,109 0,058 0,182 0,458 0,992 0,977 Quadro 3A – Caracterização física da água residuária de suinocultura em função do volume de poros filtrados e do material filtrante Material filtrante Efluente Casca de arroz Casca de café Volume de poros 0,22 0,65 1,09 1,53 1,96 2,40 2,84 3,27 3,71 4,14 0,24 0,71 1,19 1,66 2,14 2,61 3,09 3,56 4,04 4,51 Velocidade de escoamento cm h-1 176,084 152,084 152,124 147,226 141,948 141,971 143,054 145,524 124,759 149,039 216,951 221,670 226,863 221,918 211,681 202,616 204,732 158,102 149,176 147,957 Condutividade elétrica mS cm-1 6,234 8,267 8,182 8,197 8,027 8,277 8,047 7,984 7,922 8,059 8,029 11,694 11,532 10,019 6,835 8,372 7,842 8,109 7,822 7,842 7,772 Densidade g cm-3 1,005 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,010 1,011 1,007 1,006 1,006 1,005 1,005 1,004 1,005 1,005 Sólidos sedimentáveis mL L-1 88,250 15,000 2,425 6,150 4,150 4,275 6,625 6,375 13,000 2,425 0,225 0,150 1,025 0,200 4,725 7,500 3,333 Sólidos totais g L-1 5,500 4,448 6,004 3,947 3,810 3,893 3,725 3,567 3,547 3,635 3,559 21,065 17,627 12,724 9,158 7,373 6,510 5,832 5,672 5,451 5,218 Quadro 3A, Cont. Material filtrante Bagaço de cana-de-açúcar Sabugo de milho Volume de poros 0,24 0,71 1,19 1,67 2,14 2,62 3,10 3,57 4,05 4,53 0,29 0,88 1,46 2,05 2,63 3,22 3,80 4,38 4,97 5,55 Velocidade de escoamento cm h-1 148,883 159,481 159,926 145,768 140,137 140,216 138,003 136,096 138,067 137,351 152,413 144,279 139,401 136,486 136,805 133,706 130,737 126,941 125,517 120,527 Condutividade elétrica mS cm-1 8,227 8,352 8,369 8,599 8,254 8,242 8,264 8,302 8,292 8,242 9,972 9,474 8,967 8,429 8,479 8,464 8,262 8,304 8,299 8,012 Densidade g cm-3 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,005 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 Sólidos sedimentáveis mL L-1 5,677 4,008 3,892 3,916 3,988 3,967 3,719 3,745 3,827 3,679 7,928 6,054 4,805 5,265 4,482 4,034 4,300 3,964 3,939 4,016 Sólidos totais g L-1 50,875 1,675 4,625 6,375 5,000 9,125 8,250 8,333 52,500 6,300 5,750 7,050 2,725 5,800 7,000 5,500 Quadro 3A, Cont. Material filtrante Serragem de madeira Fino de carvão vegetal Volume de poros 0,22 0,65 1,09 1,52 1,96 2,39 2,83 3,26 3,70 4,13 0,39 1,18 1,97 2,76 3,55 4,34 5,13 5,92 6,71 7,50 Velocidade de escoamento cm h-1 121,661 134,529 132,366 133,097 134,235 135,089 135,835 137,421 138,673 138,661 104,595 115,126 119,031 116,107 115,873 117,192 116,350 115,727 118,369 116,481 Condutividade elétrica mS cm-1 5,994 5,992 5,937 5,887 5,967 6,082 6,089 6,039 6,254 6,062 7,687 7,617 7,742 7,714 7,599 7,649 7,694 7,717 7,724 7,969 Densidade g cm-3 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 1,004 Sólidos sedimentáveis mL L-1 5,310 4,695 4,201 4,395 3,147 3,864 3,972 3,705 3,806 3,759 4,169 3,752 3,641 3,708 3,978 3,801 3,619 3,606 3,443 3,600 Sólidos totais g L-1 16,333 1,633 0,933 1,533 2,600 5,200 7,667 5,500 21,500 3,200 4,700 8,750 8,875 7,125 11,250 10,000