UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA Análise da expressão imunoistoquímica da proteína p63, receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) e Notch 1 em cistos radiculares, cistos dentígeros e tumores odontogênicos queratocísticos Claudia Kallás Gonçalves Orientador: Prof. Dr. Danyel Elias da Cruz Perez Ribeirão Preto 2009 Claudia Kallás Gonçalves Análise da expressão imunoistoquímica da proteína p63, receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) e Notch 1 em cistos radiculares, cistos dentígeros e tumores odontogênicos queratocísticos Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Odontologia da Universidade de Ribeirão Preto, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Odontologia – área de concentração Endodontia. Orientador: Prof. Dr. Danyel Elias da Cruz Perez Ribeirão Preto 2009 Ficha catalográfica preparada pelo Centro de Processamento Técnico da Biblioteca Central da UNAERP Universidade de Ribeirão Preto – G635a Gonçalves, Claudia Kallas, 1973 Análise da expressão imunoistoquimica da proteína p63, receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) e Notch 1 em cistos radiculares, cistos dentígeros e tumores odontogênicos queratocísticos / Claudia Kallas Gonçalves. - Ribeirão Preto, 2009. 80 f.: il. color. Orientador: Prof. Dr. Danyel Elias da Cruz Perez. Tese (doutorado) - Universidade de Ribeirão Preto, UNAERP, Odontologia, área de concentração: Endodontia. Ribeirão Preto, 2009. 1. Odontologia. 2. Endodontia. 3. Cisto radicular. 4. Imunoistoquimica. Tumor odontogênico. I. Título. CDD: 617.6342 Este trabalho foi realizado no Laboratório de Pesquisas em Odontologia e no Laboratório de Patologia Bucal da Universidade de Ribeirão Preto- UNAERP. “Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância.” Sócrates Dedicatórias Dedico mais esta etapa da minha vida a Deus, que me faz entender como a vida se torna simples e mais bela quando tudo está em suas mãos. Obrigada por me dar paciência e me fazer compreender que tudo tem a sua hora, que nem sempre é a que eu gostaria, mas é a hora certa para que tudo aconteça na minha vida. Aos meus pais Roberto Gonçalves de Pádua e Elza Kallás Gonçalves pelo amor incondicional e pelo exemplo a cada dia. Obrigada por estarem sempre presentes em todos os momentos. Vocês são o que de melhor existe na minha vida. Obrigada por compreenderem as minhas ausências e o meu silêncio, mas mesmo nestes momentos vocês me amaram exatamente como sou. Aos meus irmãos Marcelo Kallás Gonçalves e Rodrigo Kallás Gonçalves, aos quais me orgulho pelo jeito amoroso, carinhoso e companheiro de ser. Obrigada meus irmãos! A tia Ionne Kallás pelo amor, preocupação e exemplo em todos as etapas da minha vida. Obrigada tia, o seu amor me impulsionou a ser sempre melhor. Agradecimentos Ao meu orientador Prof. Dr. Danyel Elias da Cruz Perez pela sua atenção e disposição. A sua competência se tornou um exemplo em minha vida e levarei no decorrer da minha vida profissional. Sem a sua orientação não seria possível a realização deste trabalho. Obrigada por confiar em mim. Ao programa de Pós-Graduação em Odontologia da Universidade de Ribeirão Preto – UNAERP, representado pela Magnífica Reitora Profa. Dra. Elmara Lúcia de Oliveira Bonini Corauci. À Profa. Dra. Yara Terezinha Corrêa Silva Sousa, coordenadora do curso de Pós-Graduação em Odontologia da Universidade de Ribeirão Preto, área de concentração Endodontia, obrigada pelo apoio, amizade e paciência. Muitas vezes que não sabia como recomeçar a sua presença foi imprescindível. O meu Muito Obrigada é pouco neste momento. Ao Prof. Dr. Manoel D. Sousa Neto, pela sua competência e dedicação. Obrigada por contribuir para minha vida profissional. Aos professores do Curso de Doutorado em Odontologia, área de concentração Endodontia, da Universidade de Ribeirão Preto, Profa. Dra. Neide Aparecida de Souza Lehfeld, Profa. Dra. Cristina Paschoalato, Prof. Dr. Lucélio Bernardes Couto, Prof. Dr. Lucas de Souza Lehfeld, Prof. Dr. Luis Pascoal Vansan, Prof. Manoel Henrique Gabarra, Profa. Dra. Silvana Maria Paulino, Prof. Dr. Ricardo Gariba Silva, Prof. Dr. Sílvio Rocha Corrêa Silva, Profa. Dra. Rosemary Cristina Linhares R. Pietro, pelos ensinamentos durante o curso. Aos amigos e companheiros de turma de doutorado, Prof. Dr. Álvaro Henrique Borges, Profa. Dra. Ângela Delfina Bittencourt Garrido, Prof. Dr. Bráulio Pasternak Júnior, Profa. Dra. Cleonice da Silveira Teixeira, Prof. Dr. Edson Alfredo, Prof. Dr. José Antônio Saadi Salomão, Prof. Dr. Marcos Pôrto Arruda, Profa. Dra. Melissa Andréia Marchesan e Profa. Dra. Michele Regina Nadalin pelos laços de amizade criados no decorrer do curso. Obrigada por me incentivarem sempre e contribuírem com o meu crescimento profissional. Com o nosso convívio pude ser uma pessoa melhor. À Cecília Maria Zanferdini, secretária da Pós-Graduação, pela atenção e disponibilidade. Sua amizade foi essencial neste momento. Muito obrigada. À Rosemary Alexandre, pelo apoio, carinho e disponibilidade. Obrigada por me transmitir tanta tranqüilidade em todos os momentos. Aos meus familiares e amigos que sempre estiveram ao meu lado torcendo para que este estudo fosse, além de uma pesquisa científica, o meu crescimento como pessoa. Obrigada por entender as minhas ausências e mesmo assim fazer questão da minha presença. Resumo _____________________________________________________________________________Resumo O objetivo deste estudo foi analisar e comparar as características histopatológicas e expressão imunoistoquímica da proteína p63, receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) e Notch 1 no revestimento epitelial de cistos radiculares, cistos dentígeros e tumores odontogênicos queratocísticos. Para tanto, foram analisados 35 casos de cisto radicular, 22 de cisto dentígero e 17 de tumor odontogênico queratocístico, todos oriundos dos arquivos do Laboratório de Patologia Bucal da Universidade de Ribeirão Preto. Os dados clínicos e epidemiólogicos foram coletados dos formulários de registro das lesões enviadas ao Laboratório. Cortes histológicos de 3 µm de espessura foram obtidos de blocos de parafina, nos quais foram realizadas reações imunoistoquímicas, utilizando o método estreptavidina-biotina-peroxidase. Para determinar a porcentagem de células positivas, as lâminas foram avaliadas por 2 examinadores de forma independente, em aumento de 400x, adotando os seguintes critérios: negativo - <5% de células positivas, expressão fraca - 5%-50% de células positivas e expressão forte - >50% de células positivas. Além disso, a intensidade da expressão de EGFR e Notch 1 também foi avaliada, considerando-a como fraca (+) ou forte (++). Para análise estatística, utilizou-se o teste exato de Fisher e a correlação de coeficientes de Spearman, adotando significância de 5%. Comparando a expressão e intensidade de expressão de EGFR no epitélio cístico das 3 lesões estudadas, não se observou diferença estatística significante (p=0,2; p=0,1), o mesmo observado quanto a expressão e intensidade de expressão de Notch 1 (p=0,1; p=0,08). Entretanto, a expressão de p63 foi significativamente maior no revestimento epitelial dos tumores odontogênicos queratocísticos (p<0,001). Em todas as lesões houve correlação positiva entre os imunomarcadores. Com esses achados, parece que o receptor Notch 1 participa da manutenção da integridade do epitélio de revestimento cístico, contribuindo para a persistência da lesão. Adicionalmente, a alta expressão da proteína p63, alta intensidade de expressão de EGFR e a correlação existente entre elas, sugere a participação dessas proteínas no desenvolvimento das lesões. Summary ____________________________________________________________________________Summary The aim of this study was analyze the comparative immunohistochemical expression of the p63 protein, epidermal growth factor receptor (EGFR) and Notch 1 in the epithelial lining of radicular cysts, dentigerous cysts and keratocystic odontogenic tumor. For the study, it was analyzed 35 cases of radicular cyst, 22 dentigerous cysts and 17 keratocystic odontogenic, all from the files of the Oral Pathology Laboratory, University of Ribeirao Preto. The clinical and epidemiological data were retrieved of the register forms of the lesions sent to Laboratory. Histological sections of 3 µm were obtained from paraffin-embedded tissue blocks, in which the immunohistochemical reactions were carried out, using the streptavidin-biotinperoxidase method. In order to determine the percentage of positive cells, the slides were independently evaluated by 2 observers, in high power fields (400x), according to following criteria: negative - < 5% of positive cells, low expression – 5%-50% of positive cells and high expression - > 50% of positive cells. Moreover, the intensity of EGFR and Notch 1 expressions was also evaluated, classifying as weak (+) or strong (++). For statistical analysis, it was used Fisher exact test and the Spearman correlation coefficients, considering a significance of 5%. Comparing the EGFR expression and intensity in the epithelial lining from the 3 studied lesions, no significant statistical difference was observed (p=0.2; p=0.1); the same finding was observed regarding to Notch 1 expression and intensity (p=0.1; p=0.08). However, the p63 expression in the epithelial lining was significantly higher in the keratocystic odontogenic tumors (p<0.001). Positive correlation between the immunomarkers was observed in all lesions. According to these findings, Notch 1 receptor seems to participate of maintenance and integrity of epithelial lining, favoring the lesion persistence. In addition, the high expression of p63 protein, strong intensity of expression of EGFR and the correlation between the immunomarkers, suggests an important role in the development of these lesions. Sumário ____________________________________________________________________________Sumário RESUMO SUMMARY INTRODUÇÃO .......................................................................................... 01 REVISTA DA LITERATURA ......................................................................... 10 PROPOSIÇÃO ........................................................................................... 37 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................ 39 RESULTADOS ........................................................................................... 48 DISCUSSÃO ............................................................................................. 64 CONCLUSÕES .......................................................................................... 71 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 73 ANEXOS Introdução _______________________________________________________________________Introdução 2 Lesões císticas odontogênicas são formadas a partir de remanescentes embrionários de epitélio odontogênico, entretanto, apresentam características clínicas, histológicas, radiográficas e comportamento biológico distintos. Essa diferença pode ser atribuída às características específicas que o tecido epitelial adquire nas diferentes lesões císticas odontogênicas, provavelmente devido a diferentes taxas de proliferação celular e expressão normal ou alterada de proteínas envolvidas na diferenciação e ciclo celular, além de fatores associados ao potencial de reabsorção óssea. Esses mesmos fatores podem também ser diferencialmente expressos na cápsula cística dessas lesões, além de citocinas inflamatórias importantes na indução de reabsorção óssea, o que pode contribuir para origem e progressão das lesões. Entre as lesões císticas odontogênicas, destacam-se o cisto radicular, de origem inflamatória, os de desenvolvimento o cisto dentígero e o queratocisto odontogênico (AGARAM et al., 2004; BARNES et al., 2005; KICHI et al., 2005; MALCIC et al., 2008). A Organização Mundial da Saúde publicou em 2005 uma nova classificação para os tumores odontogênicos, na qual o queratocisto odontogênico foi considerado uma neoplasia odontogênica benigna cística, sendo denominado tumor odontogênico queratocístico (BARNES et al., 2005). O desenvolvimento do cisto radicular ocorre devido a uma reação inflamatória no periodonto apical em resposta a infecção localizada no interior do canal radicular, o qual apresenta tecido pulpar necrótico. Essa reação inflamatória juntamente com produtos bacterianos oriundos do canal radicular estimula os restos epiteliais de Malassez a se proliferarem, causando consequente degeneração desse epitélio reativo _______________________________________________________________________Introdução 3 e finalmente formando a cavidade cística (BROWNE, 1975; MAIN, 1985; SHEAR; SPEIGHT, 2007). Os cistos dentígeros estão sempre associados à coroa de dentes não erupcionados, localizados na junção cemento-esmalte e são formados pela expansão dos folículos dentários resultante do acúmulo de fluidos entre a coroa do dente e componentes epiteliais. O epitélio do cisto dentígero origina-se do epitélio reduzido do órgão dentário, o qual recobre completamente a coroa de um dente não erupcionado (GROSSMANN et al., 2007; SHEAR; SPEIGHT, 2007). Já os tumores odontogênicos queratocísticos originam-se dos resíduos da lâmina dental (BROWNE, 1975; KICHI et al., 2005; SHEAR; SPEIGHT, 2007). Radiograficamente essas lesões apresentam características peculiares, mas não patognomônicas. O cisto radicular apresenta-se como lesão radiolúcida, circunscrita, localizada no periápice ou lateralmente à raiz de um dente com necrose pulpar. Por outro lado, o cisto dentígero caracteriza-se por uma imagem radiolúcida unilocular, a qual apresenta margens escleróticas bem definidas, sempre associada à coroa de um dente não erupcionado (SHEAR; SPEIGHT, 2007). Os tumores odontogênicos queratocísticos são lesões radiolúcidas, uni ou multiloculares, circunscritas e com delgada cortical radiopaca. Quando múltiplas não é raro a presença bilateral e o envolvimento com a síndrome do carcinoma nevóide basocelular (síndrome de Gorlin-Goltz) (TSUKAMOTO et al., 2002). Na análise histopatológica, o cisto radicular caracteriza-se por uma cavidade revestida internamente por epitélio escamoso estratificado com número variável de camadas celulares e uma cápsula de tecido conjuntivo fibroso que o reveste _______________________________________________________________________Introdução 4 externamente, a qual frequentemente apresenta infiltrado inflamatório crônico de intensidade variável. Além dessas características histopatológicas comuns, a lesão pode ainda apresentar células mucosas, ciliadas ou com capacidade de formar queratina, todas elas produto de uma metaplasia sem causa determinada. O conteúdo cístico é formado por células epiteliais descamadas, células inflamatórias, cristais de colesterol, ácido hialurônico e proteínas (BROWNE, 1975; NAIR et al., 2002; NAIR, 2004; SHEAR; SPEIGHT, 2007). Os aspectos morfológicos do tecido epitelial podem ser considerados um reflexo da atividade funcional do cisto radicular. Lesões com epitélio escamoso estratificado atrófico, de espessura regular e contendo até 10 camadas celulares, na maioria das vezes exibia infiltrado inflamatório leve a moderado no tecido conjuntivo e são considerados cistos quiescentes. Entretanto, nos cistos com epitélio escamoso estratificado hiperplásico, com espessura irregular, geralmente são encontrados arcos proliferativos e infiltrado inflamatório intenso na cápsula, caracterizando lesões ativas (SHEAR; SPEIGHT, 2007). Histologicamente, o cisto dentígero é caracterizado por uma cavidade revestida por tecido epitelial, constituído por 2 a 4 camadas celulares, onde a camada basal é formada por células cubóides e a superficial, por células poliédricas. Apresenta também uma cápsula de tecido conjuntivo frouxo, que pode apresentar vários ninhos de epitélio odontogênico. Entretanto, se houver uma reação inflamatória associada, o revestimento epitelial pode se apresentar hiperplásico e com metaplasia escamosa (BROWNE, 1975; STOLL et al., 2005). Devido às suas características clínico- _______________________________________________________________________Introdução 5 radiográficas e microscópicas próprias, o diagnóstico definitivo de cisto dentígero é dado pela análise desses achados em conjunto. As características histopatológicas de um tumor odontogênico queratocístico intacto são patognomônicas. Consiste em uma cavidade cística revestida por uma fina camada de tecido epitelial escamoso estratificado, de 5 a 10 camadas celulares, onde as células da camada basal são colunares e os núcleos se dispõem em paliçada, com frequente desprendimento do revestimento epitelial da cápsula de tecido conjuntivo fibroso, que se apresenta delgada e raramente com infiltrado inflamatório. Além disso, o corrugamento da camada de paraqueratina superficial é comumente observado. O conteúdo cístico é geralmente semi-sólido, composto predominantemente por queratina e células epiteliais descamadas, e em menor quantidade pode-se observar albuminas e globulinas (BROWNE, 1975; KICHI et al., 2005; SHEAR; SPEIGHT, 2007). Da mesma forma, o comportamento biológico e a evolução dessas lesões também são distintos. O tumor odontogênico queratocístico é localmente mais agressivo, apresentando características mais infiltrativas, o que representa clinicamente lesões maiores e com maiores taxas de recidiva (KICHI et al., 2005; SHEAR; SPEIGHT, 2007). Vários estudos observaram no tumor odontogênico queratocístico, uma maior taxa de proliferação epitelial e expressões diferenciais de fatores de crescimento e genes supressores de tumor (PIATTELLI et al., 2004; KICHI et al., 2005; MALCIC et al., 2008), quando comparado às outras lesões císticas odontogênicas mais comuns, o cisto radicular e o cisto dentígero. Esses achados _______________________________________________________________________Introdução 6 podem explicar, pelo menos parcialmente, o comportamento biológico diferente dessas lesões. Pesquisas recentes têm se preocupado em estudar diferentes proteínas, receptores, fatores de crescimento e citocinas inflamatórias, na tentativa de elucidar os mecanismos envolvidos no início, manutenção e progressão das lesões císticas odontogênicas (PIATTELLI et al., 2004; KICHI et al., 2005; LO MUZIO et al., 2005; MALCIC et al., 2008). O gene p63 pertence à família do gene supressor de tumor TP53 e codifica uma proteína de mesmo nome, a proteína p63. O p63 é fundamental no desenvolvimento do tecido epitelial, membros e estrutura craniofacial. Animais knockout para o gene p63 apresentam severa deformação dos membros e significativos defeitos no desenvolvimento craniofacial, assim como na diferenciação de tecidos com epitélio estratificado, como pele, mucosa bucal, esôfago, mama, urotélio e próstata. Além disso, esses animais não apresentam dentes, folículos pilosos e glândulas salivares, lacrimais e mamárias (CHEN et al., 2003). Recentemente o p63 tem despertado interesse considerável devido à sua expressão quase restrita ao tecido epitelial, à sua mutação infrequente e a superexpressão em várias neoplasias sólidas, o que indica um papel oncogênico na regulação da proliferação e diferenciação em lesões epiteliais malignizáveis e malignas (LO MUZIO et al., 2005). Além disso, como as lesões císticas odontogênicas são essencialmente epiteliais, o p63 pode ser importante na manutenção e na progressão dessas lesões. Entretanto, apenas 1 estudo avaliou a expressão da proteína p63 em lesões císticas _______________________________________________________________________Introdução 7 odontogênicas, o qual detectou positividade mais intensa e difusa no revestimento epitelial dos tumores odontogênicos queratocísticos quando comparado aos cistos dentígero e radicular (LO MUZIO et al., 2005). Fatores de crescimento e os seus respectivos receptores são fundamentais para o crescimento dos tecidos normais, além do desenvolvimento e progressão de neoplasias. O fator de crescimento epidérmico (EGF) é um peptídeo presente em vários tecidos, o qual regula a proliferação tanto de células normais quanto de células neoplásicas (SHRESTHA et al., 1992; VERED et al., 2003). As atividades desse fator são mediadas pela união ao domínio externo do seu receptor transmembrana específico, denominado receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR). A expressão de EGFR foi observada em epitélio normal, incluindo a mucosa bucal, além de tecidos envolvidos no desenvolvimento dentário, sugerindo que EGF e EGFR participam na diferenciação de células epiteliais odontogênicas e no controle de suas funções celulares (HEIKINHEIMO et al., 1993; TANIKAWA; BAWDEN, 1999). LI et al. (1997) observaram que EGFR foi mais expresso em ameloblastomas, tumores odontogênicos queratocísticos e cistos dentígeros do que em cistos radiculares. EGFR também pode ser um indicador do potencial de ninhos epiteliais remanescentes da odontogênese desenvolverem cistos e tumores odontogênicos (BAUMGART et al., 2007). O sistema Notch foi inicialmente descrito em Drosophilas e o primeiro gene homólogo de Notch em mamíferos foi observado em um subgrupo de leucemias de células T em humanos. A ativação do sistema Notch é essencial na modulação das _______________________________________________________________________Introdução 8 decisões e na determinação do destino celular (ARTAVANIS-TSAKONAS et al., 1999; KUMAMOTO et al., 2008). Os receptores Notch (Notch 1, Notch 2, Notch 3 e Notch 4) são clivados por proteinases quando há união com seus ligantes (Delta 1, Delta 3, Delta 4, Jagged 1 e Jagged 2), que são expressos por células adjacentes, caracterizando a ativação do sistema Notch. Após a ativação, o domínio intracelular livre do receptor entra no núcleo e interage com uma proteína ligada ao DNA para ativar a transcrição de genes alvos selecionados. A atividade de Notch afeta a diferenciação, proliferação e a apoptose, que são mecanismos importantes no controle de vários processos de desenvolvimento, como neurogênese, somitogênese, hematopoiese, vasculogênese diferenciação e crescimento de queratinócitos, além de desenvolvimento dentário (MITSIADIS et al., 1995; ARTAVANIS-TSAKONAS et al., 1999; RANGARAJAN et al., 2001; HARPER et al., 2003). Distúrbios na função de Notch tem sido associados a neoplasias, incluindo malignidades hematológicas e tumores sólidos (KUMAMOTO; OHKI, 2008). A ativação do sistema Notch pode agir tanto como um supressor quanto como um promotor de tumor, dependendo do tipo celular, do contexto tecidual, nível de expressão e potencial de se interagir com outras cascatas de ativação (MIELE et al., 2006). No melanoma cutâneo, a ativação do sistema Notch representa um evento precoce no crescimento tumoral e a manutenção da sua ativação sustenta a progressão tumoral (MASSI et al., 2006). A ativação aberrante do sistema Notch é frequentemente oncogênica, com os receptores Notch agindo como oncogenes. Alta expressão de receptores Notch e seus ligantes foram observados em linfoma de _______________________________________________________________________Introdução 9 Hodgkin, leucemia linfóide crônica, mieloma múltiplo e leucemia mielóide aguda. Além disso, expressão desregulada do sistema Notch também foi observada em carcinomas de mama, próstata, pâncreas, rins, gliomas e meduloblastomas (MIELE et al., 2006). Recentemente, ZHANG et al. (2008) observaram que a ativação do sistema Notch é crucial para a manutenção de células tronco pulpares no seu estado indiferenciado. Além disso, a expressão dos receptores Notch 1, Notch 2 e Notch 3 foi largamente observada em ameloblastomas, predominantemente nas células neoplásicas centrais das ilhas tumorais, sugerindo que essas moléculas ativadas podem contribuir para o controle da diferenciação das células neoplásicas e supressão da proliferação celular em tumores odontogênicos (KUMAMOTO; OHKI, 2008). Entretanto, não há estudos que avaliem a expressão de receptores Notch em lesões císticas odontogênicas. A preservação da integridade física e metabólica das células epiteliais que formam o revestimento cístico são essenciais para a manutenção das lesões císticas odontogênicas. Além disso, diferenças na expressão de fatores de crescimento, genes supressores de tumor, receptores de fatores de crescimento e proteínas envolvidas na diferenciação celular podem explicar o comportamento biológico distinto das lesões císticas odontogênicas. Assim, o estudo da expressão concomitante da proteína p63, EGFR e receptor Notch 1 ou a expressão isolada de cada uma dessas proteínas é relevante nesse grupo de lesões. Revista da Literatura ________________________________________________________________Revista da Literatura 11 BROWNE (1975) discutiu a patogênese dos 3 cistos odontogênicos mais comuns. Ele postula que o cisto radicular surge da proliferação dos restos epiteliais de Malassez, devido a um foco de inflamação estimulada por necrose pulpar dos dentes associados. A lesão progride pela expansão unicêntrica da pressão hidrostática de seu conteúdo. O cisto dentígero surge a partir do exsudato inflamatório, que é derivado das veias foliculares obstruídas por um dente retido e acumula entre o epitélio reduzido do órgão dentário e a coroa do dente, também progredindo pela expansão unicêntrica da pressão hidrostática do seu conteúdo. Já o queratocisto odontogênico surge da proliferação dos resíduos da lâmina dental, possivelmente como uma anormalidade hamartomatosa. O crescimento da lesão é dado pela expansão multicêntrica devido à proliferação de grupos de células epiteliais localizadas no revestimento cístico e por expansão unicêntrica da pressão hidrostática do seu conteúdo. SHRESTHA et al. (1992) avaliaram a expressão imunoistoquímica do receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) em 67 casos de cistos odontogênicos e 35 casos de tumores odontogênicos. Com relação aos cistos odontogênicos, observou-se que 60% dos casos de queratocisto odontogênicos, 35% dos cistos radiculares e 47,4% dos cistos dentígeros apresentaram epitélio de revestimento cístico positivo para EGFR. Caracterização citoquímica de EGFR no epitélio cístico foi do tipo membranosa, como ocorre no epitélio normal. Nos tumores odontogênicos não foi observada expressão de EGFR. Os autores concluem que devido a diversidade de ________________________________________________________________Revista da Literatura 12 expressão de EGFR sugere que não há ativação de EGFR pela ligação de EGF nas lesões odontogênicas estudadas. HEIKINHEIMO et al. (1993) avaliaram a expressão do fator de crescimento epidérmico (EGF), fator de crescimento transformante (TGF)-alfa e receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) em dentes fetais humanos (da fase de capuz até a formação inicial de tecido duro) e em vários tumores odontogênicos. RNAm de EGFR e células positivas para EGFR foram localizadas principalmente no epitélio odontogênico. A expressão de EGFR esteve sujeita à variação no tempo das diferentes fases do desenvolvimento dentário. RNAm de EGF e TGF-alfa foram detectados em dentes fetal apenas pela transcrição reversa da reação em cadeia da polimerase (RT-PCR). No entanto, células positivas para EGF e TGF-alfa foram observadas em elementos epiteliais do germe dental, sugerindo que os peptídeos parcialmente provêm de fontes não-odontogênicas. Nos tumores odontogênicos, RNAm de EGFR e células positivas para EGFR foram confinados ao epitélio neoplásico. Transcritos de TGF-alfa, foram detectados em tumores odontogênicos originados do epitélio odontogênico, epitélio e ectomesênquima odontogênico e do exclusivamente do ectomesênquima odontogênico. Os autores concluíram que a regulação do EGFR é importante na odontogênese humana. Além disso, o epitélio odontogênico é o principal tecido-alvo para EGF e TGF-alfa durante o desenvolvimento do dente. TGF-alfa e seus receptores também podem estar envolvidos na tumorigênese odontogênica. ________________________________________________________________Revista da Literatura 13 LI et al. (1994) determinaram o padrão imunoistoquímico da expressão do fator de crescimento transformante (TGF)-α, fator de crescimento epidérmico (EGF) e TGF-β em tumores odontogênicos queratocísticos (n=27), cistos dentígeros (n=10) e radiculares (n=10). O revestimento epitelial de todos os casos se mostrou positivo para TGF-α, o qual estava localizado principalmente nas camadas basal e suprabasal. O epitélio dos tumores odontogênicos queratocísticos expressou altos níveis de TGFα, quando comparado aos níveis apresentados pelos cistos radicular e dentígero. A expressão de EGF foi similar em todos os grupos, mais fraca que aquela de TGF-α e predominantemente suprabasal. TGF- α e EGF foram também observados em células endoteliais, fibroblastos e células inflamatórias localizadas nas cápsulas císticas. A expressão mais intensa de TGF-β foi nas cápsulas fibrosas, independente da lesão. A expressão diferencial de TGF- α e EGF nos diferentes tipos de cistos odontogênicos indica que esses fatores de crescimento podem estar envolvidos na patogênese dessas lesões, por via autócrina e/ou parácrina. FORMIGLI et al. (1995) avaliaram a natureza dos processos de reabsorção óssea em cistos radiculares. Para o estudo, fragmentos de cistos associados ao tecido ósseo adjacente foram analisados por métodos histoquímicos e ultraestruturais. Além disso, o conteúdo cístico foi avaliado quanto à presença de citocinas com atividade osteolítica. As cápsulas císticas frequentemente apresentavam extensões, as quais infiltravam o tecido ósseo adjacente. Várias células positivas para a fosfatase ácida resistente ao tartrato foram observadas nas extensões intra-ósseas da cápsula cística e em contato direto com o tecido ósseo. Adicionalmente, células mononucleares ________________________________________________________________Revista da Literatura 14 positivas para TRAP também estavam presentes na cápsula cística. Altos níveis de prostaglandina E2 (PGE2) e interleucina-6 (IL-6) foram detectados nos fluidos císticos. Os autores concluíram que a reabsorção óssea ativa pode contribuir significativamente para o crescimento dessas lesões no complexo maxilo-mandibular. MITSIADIS et al. (1995) avaliaram a expressão de Notch 1, Notch 2, e Notch 3 em germes dentários de ratos. Os genes Notch 1, 2 e 3 mostram padrões de expressão distintos de acordo com o tipo de célula. A expressão de Notch é ausente em células que estão em íntimo contato como o mesênquima, fato que pode ser importante para aquisição da diferenciação dos ameloblastos, sugerindo que o mesênquima regula negativamente a expressão de Notch no epitélio. Além disso, os resultados revelam que a expressão de Notch foi inibida nas células epiteliais odontogênicas adjacentes ao mesênquima, indicando que o epitélio odontogênico necessita de um sinal derivado do mesênquima para manter a inibição da expressão de Notch. Houve super expressão de Notch no mesênquima odontogênico numa região embebida em ácido retinóico (50-100 microgramas/ml), mas não no fator de crescimento fibroblástico-2 (100-250 microgramas/ml). Estes dados sugerem que os genes Notch podem estar envolvidos na mediação de alguns efeitos biológicos do ácido retinóico durante o desenvolvimento normal e após a exposição teratogênica. MEGHJI et al. (1996) avaliaram a atividade biológica de citocinas osteolíticas potentes em 6 tumores odontogênicos queratocísticos. Fragmentos das lesões obtidos de remoção cirúrgica foram mantidos em culturas e os meios de cultura foram avaliados com relação à atividade e capacidade de reabsorção óssea das ________________________________________________________________Revista da Literatura 15 citocinas – interleucina-1 (IL-1), interleucina-6 (IL-6) e fator de necrose tumoral (TNF). Todas as lesões avaliadas apresentaram bioatividade de IL-1 e IL-6; entretanto, a bioatividade de TNF foi imensurável. Os meios contendo os fragmentos de cistos dialisados estimularam a reabsorção óssea e este processo foi completamente inibido por um anticorpo monoclonal que neutralizava IL-1 alfa e IL-1 beta. As células epiteliais do revestimento cístico apresentaram também imunoexpressão de IL-1 alfa e IL-6, mas não expressaram IL-1 beta e TNF. Desta forma, os autores propuseram que IL-1 alfa é a principal citocina osteolítica produzida por tumores odontogênicos queratocísticos e que IL-6 e IL-1 podem contribuir para o crescimento da lesão promovendo proliferação das células epiteliais e reabsorção óssea, respectivamente. LI et al. (1997) estudaram a expressão imunoistoquímica do fator de crescimento transformante alfa (TGF-alfa), fator de crescimento epidérmico (EGF) e TGF-beta em cistos radiculares, cistos dentígeros e tumores odontogênicos queratocísticos. Para avaliar os fatores de crescimento propostos, foram realizadas reações imunoistoquímicas em 27 tumores odontogênicos queratocísticos, 10 cistos dentígeros e 10 cistos radiculares, utilizando a técnica de estreptavidina-biotina peroxidase com anticorpos monoclonais contra TGF-alfa (clone 213-4,4) e TGF-beta (clone TB21), e um anticorpo policlonal dirigido contra EGF (Z-12). Os epitélios de revestimento de todos os cistos epiteliais apresentaram positividade para TGF-alfa, a qual foi localizada principalmente nas camadas basal e suprabasal. O revestimento epitelial dos tumores odontogênicos queratocísticos expressou os níveis mais altos de ________________________________________________________________Revista da Literatura 16 TGF-alfa, quando comparado ao epitélio dos cistos dentígeros e radiculares. A positividade para EGF foi semelhante em todos os grupos de cistos, sendo mais fraca do que a expressão de TGF-alfa e predominantemente na camada suprabasal. TGFalfa e EGF também foram detectados em células endoteliais, fibroblastos e células inflamatórias na cápsula fibrosa das lesões císticas. TGF-beta foi o fator de crescimento que apresentou maior positividade na cápsula fibrosa, independente do cisto estudado. Com esses resultados, os autores sugerem que TGF-alfa, EGF e TGFbeta possam estar envolvidos na patogênese dessas lesões, por via autócrina e/ou parácrina. ARTAVANIS-TSAKONAS et al. (1999) em revisão de literatura, postularam que o estabelecimento de sinais externos entre células vizinhas por meio de receptores Notch pode amplificar e consolidar diferenças moleculares, os quais eventualmente determinam o destino celular. Assim, a ativação de Notch controla como as células respondem a estímulos de desenvolvimento intrínsecos e extrínsecos que são necessários para programas de desenvolvimento específico. A ativação de Notch afeta a implementação da diferenciação, proliferação e programas apoptóticos, proporcionando uma ferramenta de desenvolvimento geral para influenciar a morfogênese e a formação de órgãos. TANIKAWA; BAWDEN (1999) avaliaram a expressão imunoistoquímica de fosfolipase PLCgamma, fator de crescimento epidérmico (EGF), fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF) e receptores de fatores de crescimento fibroblástico (FGF) nas células odontogênicas do órgão do esmalte durante os eventos ________________________________________________________________Revista da Literatura 17 diretamente relacionados à formação do esmalte em primeiros molares de rato. Houve co-expressão imunoistoquímica de PLCgamma, EGF, PDGF e receptores de FGF nos pré-ameloblastos da alça cervical, adjacente às células mesenquimais indiferenciadas da polpa dentária. Esta expressão desapareceu logo após o início da mineralização dentinária. Todos os quatro anticorpos foram expressos na extremidade proximal da diferenciação pré-secretora de ameloblastos ao nível do início de deposição da matriz de pré-dentina e continuou nos ameloblastos secretores. Com esses resultados, parece que EGF, PDGF e FGF têm papéis na diferenciação dos ameloblastos e no controle das funções celulares na pré-secreção e secreção dos ameloblastos. AGARAM et al. (2000) avaliaram a perda de heterozigosidade de genes supressores de tumor em tumores odontogênicos queratocísticos. Foram estudados 10 tumores odontogênicos queratocísticos, utilizando um microdissecador e análise da genotipagem semi-quantitativa. A análise incluiu 10 genes supressores de tumor comuns, bem como o gene PTCH que está mutado na síndrome do carcinoma nevóide basocelular. A perda de heterozigosidade foi observada em 7 de 10 casos, com uma freqüência entre 11% e 80% dos genes estudados. Os genes que apresentaram a frequência mais alta de perda de heterozigosidade foram os genes p16, p53, PTCH, e MCC (75%, 66%, 60% e 60%, respectivamente). Cistos satélites foram associados com uma maior freqüência de perda alélica (p=0,02). Os autores concluíram que um número significativo de tumores odontogênicos queratocísticos mostrou a perda clonal de heterozigotos comuns de genes supressores de tumor. A ________________________________________________________________Revista da Literatura 18 detecção de mutações clonais no DNA genômico destes cistos suporta a hipótese de que eles são neoplásicos e não lesões císticas de desenvolvimento. GÜLKESEN et al. (2001) avaliaram a expressão imunoistoquímica do antígeno nuclear de proliferação celular (PCNA), receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) e proteína p53 em 12 casos de adenoma da paratireóide. Correlações entre os índices de PCNA, expressão de EGFR, proteína p53, idade, níveis séricos de paratormônio, Ca e P, e diâmetro tumoral foram analisados. Índice de PCNA foi 45,8 +/-33,1 (média +/- desvio padrão). Cinco casos (41,67%) foram positivos para EGFR. Todos os casos foram p53 negativos. Houve uma correlação entre índice de PCNA e nível sérico do paratormônio (p=0,036). De acordo com estes resultados, a síntese do paratormônio é elevada quando a atividade proliferativa dos adenomas paratireoidianos é elevada. Quatro dos cinco pacientes EGFR-positivos tinham menos de 35 anos de idade. Estes dados podem indicar que a formação do adenoma da paratireóide em pacientes jovens está relacionada com um mecanismo envolvendo EGFR. Ausência da expressão p53 sugere que a mutação p53 não é um componente comum dos adenomas da paratireóide. NAIR et al. (2002) descreveram 3 casos de cistos radiculares com revestimento cístico formado por células epiteliais ciliadas, além de 1 caso de cisto radicular infectado com Actinomyces. Entre 256 casos de cistos radiculares, 3 casos apresentavam epitélio ciliado, os quais foram avaliados em microscópio eletrônico de transmissão para determinar a estrutura das células ciliadas. Duas das lesões continham epitélio escamoso estratificado. Todas as 3 lesões afetavam os premolares ________________________________________________________________Revista da Literatura 19 superiores. A luz de 1 destes cistos também revelou a presença de colônias típicas de Actinomyces, as quais se apresentavam tipicamente com aspecto de raios de sol. À microscopia de luz, as células ciliadas se dispunham em epitélio pseudo-estratificado. A microscopia eletrônica de transmissão revelou células ciliadas com núcleo basal, rico em eucromatina e citoplasma contendo numerosas mitocôndrias e retículo endoplasmático rugoso. A borda luminal das células ciliadas apresentava cílios bem organizados e distintos, e se apresentavam em várias direções. Além disso, vários neutrófilos eram observados entre os espaços intercelulares das células ciliadas. Embora o componente estratificado escamoso dos epitélios de cistos radiculares relatados possa ser derivado dos restos de Malassez, as células epiteliais ciliadas podem ser de origem sinusal. Agentes microbianos presentes nos canais radiculares podem avançar para cistos radiculares, particularmente nos cistos em bolsa, podendo acometer o seio maxilar. TSUKAMOTO et al. (2002) compararam tumores odontogênicos queratocísticos associados ou não a terceiros molares inferiores impactados. Radiografias panorâmicas de tumores odontogênicos queratocísticos associados com terceiros molares inferiores foram comparados a radiografias de tumores odontogênicos queratocísticos não associados a terceiros molares inferiores impactados. A média de idade dos pacientes das lesões associadas a dentes foi menor que a dos pacientes com lesões não associadas a dentes. A área média dos cistos associados a dentes era maior que aqueles não associados. Os autores concluíram que os tumores ________________________________________________________________Revista da Literatura 20 odontogênicos queratocísticos associados a dentes não erupcionados apresentam tendência de crescimento mais rápido. HARPER et al. (2003) em pertinente revisão da literatura, comentaram que o primeiro gene homólogo de Notch em mamíferos foi descoberto em translocações cromossômicas em um subgrupo de leucemias de células T humanas. Estudos posteriores em humanos e animais mostraram que a sinalização de Notch tem papel fundamental em vários estágios da hematopoiese e também regula o desenvolvimento ou homeostase de células em vários tecidos e órgãos. Assim, a ocorrência de mutações que provocam uma ruptura na sinalização de Notch causa uma grande quantidade de cânceres e distúrbios do desenvolvimento. VERED et al. (2003) investigaram a presença de EGFR em uma série de ameloblastomas. Para o estudo, foram utilizados 58 espécimes de ameloblastoma, previamente fixados em formol e embebidos em parafina. Foram obtidos cortes, os quais foram incubados com o anticorpo monoclonal anti-EGFR, clone 31G7. Controles positivos e negativos determinaram a especificidade do anticorpo. A análise imunoistoquímica se baseou na intensidade da expressão e na proporção de células positivas, estabelecendo escores que variaram entre 0 e 2. Todos os espécimes foram EGFR positivos, sendo que 8 (14%) casos apresentam o escore máximo de 2 e 19 (33%) apresentaram escore entre 1 e 2. Os autores concluíram que os ameloblastomas são tumores EGFR positivos, e que agentes anti-EGFR podem reduzir o tamanho dos tumores grandes e irressecáveis, permitindo intervenção cirúrgica posterior. ________________________________________________________________Revista da Literatura 21 NAIR (2004) realizou uma revisão dos fatores relacionados a etiopatogênese da periodontite apical e as causas relacionadas às falhas no tratamento endodôntico, com persistência da lesão periapical. O autor postulou que a periodontite apical é uma sequela originada de uma infecção endodôntica e manifesta como uma resposta de defesa própria do hospedeiro a microrganismos patogênicos. Considerou essas lesões como uma reação dinâmica entre fatores relacionados aos microrganismos e a resposta de defesa do hospedeiro na interface entre a polpa radicular infectada e o ligamento periodontal, resultando em inflamação local, reabsorção de tecidos duros, destruição de outros tecidos periapicais e eventual formação de lesões periapicais. O tratamento da periodontite apical, caracterizada como uma doença proveniente de um canal radicular infectado consiste na eliminação ou redução significativa dos microrganismos, e obturação do canal radicular para evitar reinfecção. Embora o tratamento endodôntico tenha altas taxas de sucesso, ele pode falhar. A maioria das falhas no tratamento é de natureza técnica, não conseguindo controlar e eliminar a infecção no canal radicular. Além disso, outros fatores também podem contribuir para a persistência da periodontite apical, como a formação de uma reação inflamatória granulomatosa de corpo estranho associada a cristais de colesterol ou a materiais ou substâncias exógenas. PIATTELLI et al. (2004) avaliaram a expressão imunoistoquímica do fator de crescimento transformante (TGF)-β1 em 30 cistos radiculares, 27 cistos dentígeros e 28 tumores odontogênicos queratocísticos. TGF-β1 foi avaliado em vasos sanguineos, fibroblastos e epitélio escamoso do revestimento cístico. A expressão de TGF-β1 foi ________________________________________________________________Revista da Literatura 22 determinada, em cada espécime, pela avaliação de 1.000 células no revestimento epitelial e 500 células na cápsula fibrosa, contando as células positivas. O número de vasos positivos foi avaliado em 10 campos de maior aumento. Uma expressão estatisticamente superior foi observada nas camadas basal e suprabasal (p=0,0011), epitélio superficial odontogênicos (p=0,05) e células queratocísticos, quando estromais (p=0,0002) comparada com cistos de tumores radiculares e dentígeros. Essas diferenças sugerem que o controle do ciclo celular pode ser anormal em tumores odontogênicos queratocísticos. Essas lesões podem ter um potencial de crescimento intríseco, não apresentando pelas outras lesões císticas. KICHI et al. (2005) avaliaram a expressão imunoistoquímica da proteína p53, Ki-67 e bcl-2, além da técnica TUNEL no revestimento epitelial de tumores odontogênicos queratocísticos e cistos dentígeros. Células TUNEL-positivas foram observadas na camada superficial e em células basais e intermediárias dos tumores odontogênicos queratocísticos e cistos dentígeros. Nos tumores odontogênicos queratocísticos, as células da camada intermediária foram significativamente mais positivas para Ki67 e proteína p53. Bcl-2 foi positivo somente nas células da camada basal de tumores odontogênicos queratocísticos. Estes resultados sugerem que a proliferação e morte celular são reguladas em associação com as proteínas relacionadas a apoptose no revestimento epitelial de tumores odontogênicos queratocísticos. Assim, eles se apresentam como lesões císticas e não como massas tumorais. ________________________________________________________________Revista da Literatura 23 LO MUZIO et al. (2005) avaliaram a expressão imunoistoquímica da proteína p63 em 123 casos de cistos odontogênicos, sendo 30 cistos foliculares, 35 cistos radiculares, 53 queratocistos, 4 cistos odontogênicos calcificantes e 1 cisto odontogênico glandular. Nos cistos radiculares, a p63 mostrou-se positiva não só na camada basal e parabasal, mas também na camada intermediária. Aproximadamente um terço dos casos apresentou uma percentagem entre 0% e 5% de células positivas entre 0 e <5%, e os outros dois terços entre 6% e 50%. A proteína p63 mostrou positividade restrita às camadas basal e parabasal do epitélio dos cistos dentígeros, com a maioria dos casos apresentando entre 0% e 5% de células positivas. Por outro lado, os queratocistos odontogênicos apresentaram uma imunoexpressão de p63 mais intensa e difusa, quando comparado aos outros cistos estudados. Esses achados sugerem que a expressão p63 pode ser útil para identificar tipos de cistos com fenótipos mais agressivos e invasivos, suportando a hipótese de uma proliferação mais acentuada na camada suprabasal dos queratocistos odontogênicos. STOLL et al. (2005) avaliaram o perfil da expressão de citoqueratinas em cistos radiculares, dentígeros e tumores odontogênicos queratocísticos. Trinta casos de cistos dentígeros e radiculares, respectivamente, bem como 15 casos de tumores odontogênicos queratocísticos foram estudados. Expressão das citoqueratinas 5/6, 7, 10, 13, 17, 19 e 20 foi avaliada, além da expressão imunoistoquímica de Ki-67. A expressão da citoqueratina 17 foi observada em 93,3% dos tumores odontogênicos queratocísticos, mas foi observada em apenas 35,0% dos cistos dentígeros e radiculares (p<0,001). Citoqueratina 19 foi detectada em 48,3% dos cistos ________________________________________________________________Revista da Literatura 24 dentígeros e radiculares e todos os casos de tumores odontogênicos queratocísticos foram negativos (p<0,002). Os autores concluíram que a detecção imunohistoquímica das citoqueratinas 17 e 19 parece ser um parâmetro adicional valioso na distinção entre os tumores odontogênicos queratocísticos e os outros cistos odontogênicos, especialmente os cistos dentígeros e radiculares. TAKEDA et al. (2005) avaliaram a prevalência de células ciliadas e mucosas no revestimento epitelial de cistos radiculares, dentígeros e tumores odontogênicos queratocísticos. As células mucosas foram encontradas em 20,8% de todos os cistos examinados, enquanto as células ciliadas foram encontradas em 11,4% dos casos. As células ciliadas foram quase sempre acompanhadas por células mucosas. A prevalência de células mucosas nos cistos radicular e dentígero, e de células ciliadas no cisto radicular foram maiores na maxila do que na mandíbula. Por outro lado, a prevalência de células mucosas e ciliadas nos tumores odontogênicos queratocísticos e de células ciliadas nos cistos dentígeros foram maiores na mandíbula que na maxila. Os resultados do presente estudo indicam uma origem metaplásica das células mucosas e cilidadas no revestimento epitelial das lesões císticas estudadas, mas a causa e o significado biológico deste fenômeno ainda são desconhecidos. CLARK et al. (2006) avaliaram as características morfológicas e a expressão imunoistoquímica da proteína p53, Ki-67 e receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) em 16 casos de tumores odontogênicos queratocísticos antes e após o tratamento por descompressão. As expressões de p53 e Ki-67 não se mostraram diferentes antes e após a descompressão. Não foi observada correlação ________________________________________________________________Revista da Literatura 25 entre inflamação ou tempo de descompressão e as expressões de EGFR, p53 e Ki-67. O grau de modificação morfológica do revestimento epitelial cístico foi variável e a redução do tamanho dos cistos foi considerável (média de 47,6%). Os autores concluíram que as alterações morfológicas do revestimento epitelial não pode ser correlacionada com as expressões de p53, Ki-67 e EGFR, nem com a redução do tamanhos das lesões ou com o tempo de descompressão. MENEZES et al. (2006) determinaram a expressão imunoistoquímica de RANKL e osteoprotegerina (OPG) associada à destruição óssea em cistos e granulomas periapicais. Os autores utilizaram 20 lesões periapicais crônicas (10 granulomas periapicais e 10 cistos radiculares), as quais foram coletadas após cirurgia apical, fixadas em formol 10% e processadas histologicamente. Em seguida, as reações imunoistoquímicas foram realizadas. Em ambas as lesões, neutrófilos, macrógafos, células endoteliais e linfócitos expressaram RANKL e OPG. Células epiteliais também foram positivas para RANKL e OPG nos cistos radiculares. Foi realizada também análise quantitativa, estabelecendo uma relação entre o número de células positivas e o número total de células no campo microscópico. A relação de células RANKL positivas/total de células foi maior que a relação de célula OPG positivas/número total de células nos granulomas (p<0,0012) e cistos periapicais (p<0,0001). As relações de células OPG positivas/número total de células (p<0,0001) e células RANKL positivas/número total de células (p<0,03) foi maior nos granulomas do que nos cistos. Entretanto, a diferença na relação células RANKL positivas/células OPG positivas nos granulomas e cistos periapicais não foi estatisticamente significante. De ________________________________________________________________Revista da Literatura 26 acordo com os autores, esses achados indicam que a presença de RANKL e OPG em cistos e granulomas periapicais sugerem o envolvimento dessas proteínas no desenvolvimento de lesões periapicais. MIELE et al. (2006) realizaram uma extensa revisão sobre os achados mais recentes sobre a ativação ou sinalização de Notch em câncer e discute as suas implicações clínicas potenciais. Os autores comentaram que as funções e os papéis do sistema Notch na patologia e fisiologia humana são estudados por um grande número de investigadores. Enquanto a via de sinalização canônica é simples, as consequências da ativação de Notch sobre a diferenciação e o destino das células são complexas e dependem do contexto e local onde ocorrem. Há um crescente interesse em modular a sinalização de Notch com objetivos terapêuticos, visto que esse sistema tem papel importante em vários tipos de neoplasias malignas, benignas, desordens imunes e neurológicas. Algumas drogas que modular a ativação de Notch já são utilizadas em ensaios clínicos e outras estão ainda em desenvolvimento. Além disso, o papel da sinalização de Notch em células tronco normais e transformadas tem sido intensamente investigado. VARINAUSKAS et al. (2006) avaliaram a prevalência de cistos maxilomandibulares dos arquivos da Universidade de Kaunas durante o período de 19862004, e outros aspectos de interesse clínico e terapêutico, tais como suas características clínicas, mudanças que causaram nas estruturas faciais e os dentes que tinham causado a patologia. Um total de 850 casos foi estudado, sendo 455 homens e 395 mulheres. A idade dos pacientes variou de 4 a 87 anos, com uma ________________________________________________________________Revista da Literatura 27 média de 35,8. Mais da metade dos cistos diagnosticados (63%) localizavam na maxila e restante (37%) deles na mandíbula. As queixas comuns dos pacientes eram aumento de volume, dor, presença de fistula, mobilidade aumentada dos dentes e parestesia. As lesões foram mais frequentemente observadas na região dos dentes anteriores inferiores, seguida da região superior anterior, pré-molares superiores, pré-molares inferiores, molares superiores e molares inferiores. Foi observado que os cistos odontogênicos podem se apresentar em ambos os gêneros; os cistos maxilares são 1.5 vezes mais freqüentes que os cistos mandibulares. Essa patologia pode igualmente afetar ambos os lados das maxilas, mas a maioria dos cistos que são diagnosticados são da região anterior da maxila. O tratamento para cistos é cirúrgico. BAUMGART et al. (2007) avaliaram a expressão imunoistoquímica do receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) em folículos pericoronários, como um possível fator preditivo de progressão para cistos e tumores odontogênicos. A expressão de EGFR foi analisada no epitélio reduzido do órgão dentário e em ninhos de epitélio odontogênico associados a folículos de molares impactados. Amostras de mucosa bucal normal foram utilizadas para comparação. A co-expressão de EGFR na membrana plasmática e citoplasma foi observada na mucosa bucal normal principalmente nas camadas celulares proliferativas (basal e suprabasal), diminuindo a expressão nas células das camadas mais superficiais. Sete ninhos de epitélio odontogênico apresentaram positividade apenas na membrana e a maioria apresentou tanto expressão restrita ao citoplasma quanto a expressão combinada citoplasma/membrana. Os padrões observados no epitélio reduzido do órgão dentário ________________________________________________________________Revista da Literatura 28 foram o combinado (citoplasma/membrana) e apenas citoplasmático. De acordo com esses achados, os autores sugerem que a expressão de EGFR restrita à membrana plasmática em ninhos de epitélio odontogênico pode ser um indicador potencial para o início da formação de cistos e tumores odontogênicos . GROSSMANN et al. (2007) determinaram o perfil demográfico de cistos odontogênicos e não odontogênicos em uma população brasileira, diagnosticados histologicamente num período de 50 anos. As informações clínicas foram obtidas dos prontuários dos pacientes, arquivados no Serviço de Patologia Oral da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, Brasil, durante o período de 1953-2003. Entre 19.064 biopsias orais, 2.905 (15.2%) apresentaram critérios histopatológicos de cistos odontogênicos (CO) e nãoodontogênicos (NCO). Destes, 2.812 espécimes (14.7%) foram diagnosticados como CO e 93 (0.5%) representaram NCO. Os 3 CO mais frequentemente diagnosticados foram o cisto radicular (61.0%), cisto dentígero (25.3%), e o queratocisto odontogênico (7.2%). O NCO mais freqüente foi o cisto do ducto nasopalatino (2.2%). Os resultados demonstram que há uma larga escala de CO e de NCO, com alguns cistos que têm uma predileção por idade, o gênero, e a localização. Também foram apresentados aspectos demográficos e características clínicas destes cistos. LEFORT et al. (2007) avaliaram a expressão gênica de Notch 1 e p53 em queratinócitos normais, tumorais e células em cultura de carcinomas epidermóides. Os autores observaram que a supressão da sinalização de Notch em queratinócitos humanos, associada com o gene ras ativado, é suficiente para causar a formação de ________________________________________________________________Revista da Literatura 29 carcinoma epidermóide agressivo. Além disso, demonstraram que a expressão e atividade do gene Notch 1 são substancialmente inibidas em cultura de células de queratinócitos neoplásicos e em carcinomas epidermóides, com a expressão deste gene estando sob controle do gene p53. Assim, o gene Notch 1 é um alvo de p53 com um papel na supressão tumoral em queratinócitos neoplásicos. KUMAMOTO; OHKI (2008) avaliaram a expressão dos receptores Notch 1, 2 e 3 e seus ligantes Delta 1 e Jagged 1 em ameloblastomas e germes dentários normais. Amostras teciduais de 9 germes dentários e 32 ameloblastomas foram avaliados por RT-PCR e por hibridização in situ para determinar a expressão das proteínas estudadas. A expressão do RNAm de Notch1, Notch2, Notch3, Delta1 e Jagged1 foi detectada em todas as amostras de tecidos odontogênicos normais e neoplásicos. Nos germes dentários, os receptores Notch foram expressos no epitélio odontogênico (exceto no epitélio interno do esmalte), e a expressão dos ligantes de Notch foi menor no epitélio interno do esmalte do que nos outros componentes epiteliais. Componentes odontogênicos mesenquimais foram fracamente positivos para todas as proteínas analisadas. Os ameloblastomas apresentaram positividade para os receptores Notch e seus ligantes nas células neoplásicas poliédricas centrais. Notch 2, Delta 1 e Jagged 1 foram expressos em algumas células neoplásicas vizinhas à membrana basal. A expressão dos receptores Notch e seus ligantes não foi observada nas células escamosas e granulares nos diversos subtipos histológicos do ameloblastoma. Células do estroma foram fracamente positivas para as moléculas sinalizadoras de Notch. Os autores concluíram que a expressão dos receptores Notch ________________________________________________________________Revista da Literatura 30 e seus ligantes em germes dentários e ameloblastomas sugerem que a sinalização de Notch pode controlar a diferenciação e a proliferação celular do epitélio odontogênico normal e neoplásico. MALCIC et al. (2008) avaliaram a expressão da tríade da histidina frágil (FHIT) e da proteína p53 em tumores odontogênicos queratocísticos, cistos radicular e dentígero. Para o estudo, foram utilizadas a técnica de imunoistoquímica e genética molecular, incluindo a perda de heterozigosidade (LOH) e sequenciamento genético. a expressão da proteina FHIT foi diferente entre os grupos. A intensidade de expressão aberrante (negativa) da proteína FHIT foi diferente entre as lesões (p=0,00078), sendo maior nos tumores odontogênicos queratocísticos do que nos cistos radiculares e cistos dentígeros. Embora a maioria dos casos tenha sido negativa para a proteína FHIT, nos casos positivos a expressão foi citoplasmática, localizada principalmente na camada suprabasal dos tumores odontogênicos queratocísticos e na camada basal dos cistos radiculares e cistos dentígeros. A intensidade da imunoexpressão da proteína p53 foi fraca, sendo maior no tumor odontogênico queratocístico; entretanto, a análise estatística não mostrou diferença entre as lesões (p=0,9344). Perda de heterozigosidade foi detectada em 22,6% e 12,9% das lesões para FHIT e p53, respectivamente. Mutação do gene p53 no códon 237 foi observada em apenas dois espécimes (1 tumor odontogênico queratocístico e 1 cisto dentígero). Das seis amostras congeladas, três apresentaram perda de heterozigosidade do gene FHIT (2 cistos radiculares e 1 tumor odontogênico queratocístico). Tumores odontogênicos queratocísticos apresentaram perda dos ________________________________________________________________Revista da Literatura 31 exons 6-7 no locus FHIT e mutação no códon 237 no locus p53. Com esses dados, os autores concluírem que aberrações dos genes p53 e FHIT poderiam ser consideradas marcadores responsáveis para o desenvolvimento de lesões odontogênicas. NADALIN (2008) avaliou a expressão imunoistoquímica de syndecan-1 (CD138), Ki-67, p53, α-actina de músculo liso e MMP-2 em cistos radiculares (CR), cistos dentígeros (CD) e tumores odontogênicos queratocísticos (TOQ). Além disso, avaliou também a intensidade de expressão de syndecan-1. O tumor odontogênico queratocístico apresentou positividade estatisticamente superior para Ki-67 na camada suprabasal (p<0,001) em relação às outras lesões estudadas. Nos cistos radiculares, observou-se correlação positiva entre a expressão da proteína p53 e Ki67 basal (p=0,03), expressão (p=0,02) e intensidade (p=0,0001) de syndecan-1, além de correlação positiva entre a expressão de Ki-67 e intensidade de syndecan-1 (p=0,01) e entre a expressão e intensidade de syndecan-1 (p<0,001). Diferente do que ocorreu nos cistos radiculares, nos tumores odontogênicos queratocísticos a positividade de Ki-67 na camada suprabasal correlacionou positivamente com expressão (p=0,01) e intensidade (p=0,01) de syndecan-1. A expressão de α-actina de músculo liso foi observada em 34,2% dos cistos radiculares, 36,3% dos cistos dentígeros e 46,9% dos tumores odontogênicos queratocísticos, enquanto a expressão de MMP-2 foi positiva em praticamente todos dos casos, sendo 97% dos CRs, 90,9% dos CDs e 94% dos TOQs. A expressão de MMP-2 foi significativamente mais forte nos CRs (p=0,009). O autor concluiu que nos cistos radiculares e tumores ________________________________________________________________Revista da Literatura 32 odontogênicos queratocísticos, syndecan-1, miofibroblastos e MMP-2 parecem ter papel importante na progressão das lesões. NG et al. (2008) investigaram a expressão de receptores Notch, in vivo e in vitro, em células epiteliais do cordão umbilical humano. Secções de cordão umbilical foram analisadas com anticorpos específicos para Notch 1, 2, 3 e 4. Expressão dos receptores Notch in vitro foi determinada por RT-PCR e a expressão protéica foi avaliada pela técnica de Western Blot. Usando um sistema da cultura tridimensional organotipico que promove a diferenciação epidérmica terminal, a expressão de Notch foi analisada e mudanças no nível da expressão foram analisadas por meio da PCR quantitativa em tempo real. Imunocoloração dos tecidos epiteliais do cordão umbilical revelou a expressão de todos os quatro receptores Notch, com distribuição espacial diferencial. A expressão de RNAm de Notch e sua proteína codificada foi observada no cordão umbilical in vitro. Especificamente, Western Blot revelou a presença de unidade transmembrana do receptor Notch 1 heterodimérico ativado células do cordão umbilical e queratinócitos epidérmicos. Em cultura organotipica, o RNAm de Notch foi expresso nas células do cordão umbilical e na superfície das camadas epiteliais diferenciadas. Os autores concluíram que as células do cordão umbilical expressam receptores Notch, assim como queratinócitos epidérmicos. A presença de Notch tem implicações para o seu envolvimento na diferenciação programada de tecido epitelial estratificado. PANELOS et al. (2008) avaliaram a expressão imunistoquímica de Notch 1 e seus ligantes, Jagged 1, Jagged 2 e Delta-like 1, em uma série de carcinomas ________________________________________________________________Revista da Literatura 33 cutâneos pré-invasivos e invasivos, incluindo 4 queratoses solares, 5 casos de doença de Bowen, 5 carcinomas epidermóides de pele exposta ao sol, 6 carcinomas epidermóides de pele protegida do sol e 14 carcinomas basocelulares de diferentes tipos histológico (nodular, tipo superficial, esclerodermiforme/infiltrativo e basoescamoso). Expressão do Notch 1 foi diminuída em queratoses solares e carcinomas epidermóides invasivos localizados na pele exposta ao sol. Em contraste, marcação do Notch 1 foi observada nos casos de doença de Bowen extragenitais, assim como nos órgãos genitais (pênis), onde o papiloma vírus humano está relacionado à sua patogênese e carcinomas epidermóides invasivos de áreas não expostas ao sol. A expressão de Notch 1 foi detectada em carcinomas basocelulares superficiais e nodulares, enquanto os tipos esclerodermiforme/infiltrativo e baso-escamoso mostraram uma baixa ou ausente expressão de Notch 1. As proteinas Jagged 1, Jagged 2 e Delta-1 foram expressas em todos os tecidos examinados. Esses achados mostram expressão divergente de Notch 1 em cânceres de pele, dependendo da localização anatômica e do tipo histológico do tumor. Assim, como a expressão de Notch 1 foi diminuída em lesões associadas a fotocarcinogênese pela radiação UV, Notch 1 pode desempenhar um papel de supressor de tumor. Adicionalmente, a expressão de Notch 1 foi mínima em subtipos de carcinoma basocelular com maior risco de recorrência (esclerodermiforme/infiltrativo e baso-escamoso), em comparação com os tipos nodulares e superficiais. SHI et al. (2008) avaliaram a expressão de receptores Notch e seus ligantes no epitélio de transição normal da bexiga e no carcinoma de células transicionais da ________________________________________________________________Revista da Literatura 34 bexiga, correlacionando sua expressão com suas características clínicas e patológicas. Para o estudo, os autores avaliaram a expressão imunoistoquímica de Notch 1, 2, 3 e seus ligantes Jagged 1 e Delta 1 em 70 casos de carcinoma de bexiga, 10 amostras de urotélio normal e em 2 linhagens celulares. RT-PCR e Western Blot também foram utilizados para análise da expressão de Notch 1 e Jagged 1. Todos os 5 tipos de fatores de Notch foram intensamente positivos no epitélio de transição normal da bexiga, mas a expressão foi significativamente diminuída nos tecidos tumorais. Além disso, a expressão de 5 genes em tumores papilares foi menor do que em tumores invasivos, mas apenas o Notch 1 e Jagged 1 mostrou uma diferença estatisticamente significativa. Análise de regressão de Cox identificou a expressão de Jagged1 como um fator independente para o prognóstico de pacientes com carcinoma de células transicionais (RR 3,09, p=0,011). Concluiu-se que o padrão de expressão da família Notch em carcinoma papilar de transição da bexiga é diferente daquele em carcinoma invasivo de células transicionais da bexiga. Baixa expressão do Notch 1, bem como Jagged 1 é potencialmente um marcador útil para sobrevida em pacientes com carcinoma papilar de células transicionais da bexiga. ZHANG et al. (2008) avaliaram o quanto o sistema Notch regula a diferenciação de células tronco pulpares humanas em odontoblastos. Os autores observaram que a super-expressão do ligante de Notch, Jagged 1, ativou a via de sinalização de Notch em células tronco pulpares. Jagged 1 inibiu, in vitro, a diferenciação das células tronco pulpares em odontoblastos. Células tronco pulpares expressando Jagged 1 não conseguiram formar tecido mineralizado in vivo. Além ________________________________________________________________Revista da Literatura 35 disso, a super-expressão do domínio intra-celular ativado Notch 1 também inibiu a diferenciação de células tronco pulpares em odontoblastos. Dessa forma, os autores concluíram que a ativação do sistema Notch pode inibir a diferenciação de células tronco pulpares em odontoblastos. LIMA (2009) avaliou a expressão imunoistoquímica comparativa de PTHrP e seu receptor PTH/PTHrP tipo I no revestimento epitelial e na cápsula fibrosa de 35 cistos radiculares, 22 cistos dentígeros e 17 tumores odontogênicos queratocísticos. Comparando a expressão de PTHrP no epitélio cístico das 3 lesões estudadas, não se observou diferença estatística significante (p=0,9), o mesmo observado quanto a expressão do receptor PTH/PTHrP (p=0,3). Entretanto, as intensidades de expressões de PTHrP (p=0,01) e receptor de PTH/PTHrP (p=0,007) no epitélio cístico foram significativamente mais fracas nos cistos radiculares, quando comparadas aos cistos dentígeros e tumores odontogênicos queratocísticos. Na cápsula fibrosa, as diferenças na expressão (p=0,1) e intensidade da expressão (p=0,9) de PTHrP entre as lesões não foram estatisticamente significantes, o mesmo sendo observado na intensidade de expressão do receptor PTH/PTHrP (p=0,7). A expressão do receptor PTH/PTHrP na cápsula fibrosa dos cistos radiculares foi significativamente mais forte (p=0,04), quando comparada à expressão nos cistos dentígeros e tumores odontogênicos queratocísticos. Com esses achados, concluiu-se que a intensidade de expressão de PTHrP e do seu receptor PTH/PTHrP-1R é significativamente mais fraca no revestimento epitelial do cisto radicular, quando comparada ao cisto dentígero e tumor odontogênico queratocístico. Além disso, a co-expressão de PTHrP e seu ________________________________________________________________Revista da Literatura 36 receptor PTH/PTHrP-1R em quase todos os casos analisados sugere um papel importante dessas proteínas no desenvolvimento e crescimento dessas lesões. YAN et al. (IN PRESS) identificaram o perfil genético relacionado ao Notch em células de leucemia mielóide aguda resistentes a quimioterápicos e propor estratégias para terapia dessas células droga-resistentes. Células droga-resistentes foram 65 vezes mais resistentes a adriamicina, quando comparadas às células não resistentes. Nas células droga-resistentes, cDNA mostrou marcado aumento de colágeno e união de genes relacionados à proliferação e diminuição dos genes relacionados à transdução de sinal e fatores de transcrição, entre eles Notch. Os autores concluíram que os genes relacionados à via de sinalização de Notch podem contribuir para resistência de células de leucemia mielóide aguda a agentes quimioterápicos. Proposição ___________________________________________________________________Proposição 38 O objetivo deste estudo foi analisar a expressão imunoistoquímica comparativa da proteína p63, receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) e Notch 1 no revestimento epitelial de odontogênicos queratocísticos. cistos radiculares, cistos dentígeros e tumores Material e Métodos _______________________________________________________________Material e Métodos 40 Seleção da Amostra Foi realizado um estudo retrospectivo, cujos dados clínicos e epidemiológicos foram obtidos dos formulários clínicos de encaminhamento das lesões ao Laboratório de Patologia Bucal da Universidade de Ribeirão Preto. O estudo foi aprovado sem restrições pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Ribeirão Preto, registrado sob o ComÉt 085/06 (Anexo). Para o estudo, foram selecionados 35 casos de cisto radicular, 22 de cisto dentígero e 17 de tumor odontogênico queratocístico, pertencentes ao arquivo do Laboratório de Patologia Bucal, Universidade de Ribeirão Preto, São Paulo, diagnosticados entre 1994 e 2006, totalizando 74 casos. Consideraram-se como critérios de inclusão no estudo: 1 - os casos de cisto radicular que apresentaram cavidade cística bem formada, com tecido epitelial de revestimento se mostrando bem diferenciado, pavimentoso e estratificado; 2 – os casos de cisto dentígero que apresentavam informações clínicas e radiográficas confiáveis, proporcionando diagnóstico inequívoco da lesão; 3 – disponibilidade de material arquivado em parafina suficiente para confirmação histopatológica e para novos cortes histológicos, os quais foram utilizados nas reações de imunoistoquímica. Análise Histopatológica A partir do material existente nos blocos de parafina, realizaram-se 2 novos cortes com 5 µm de espessura, os quais foram corados com hematoxilina-eosina (HE), e posteriormente analisados para descrição morfológica e confirmação do _______________________________________________________________Material e Métodos 41 diagnóstico. Na descrição microscópica, foram avaliados diferentes aspectos nas lesões císticas estudadas: 1. Característica do epitélio de revestimento cístico – hiperplásico ou nãohiperplásico. No cisto radicular, foram classificados com epitélio não-hiperplásico aqueles com até 10 camadas celulares; no cisto dentígero até 6 camadas celulares e no tumor odontogênico queratocístico, foi considerado epitélio normal o que apresentava as características típicas da lesão, com paraqueratina superficial corrugada, células da camada basal dispostas em paliçada e com cerca de 6 camadas celulares. 2. Intensidade da reação inflamatória na cápsula cística foi classificada em leve (escassas células inflamatórias focais ou dispersas no tecido conjuntivo) ou intensa (grande quantidade de células inflamatórias difusas ou dispersas no tecido conjuntivo adjacente ao revestimento epitelial). Reações imunoistoquímicas Após a revisão histopatológica e confirmação do diagnóstico, selecionou-se os casos de cistos radiculares e dentígeros, além daqueles que apresentavam quantidade de material suficiente para as fases subsequentes do experimento. Assim, para o preparo do material que foi submetido às reações de imunoistoquímica, foram realizados cortes histológicos de 3 μm de espessura, os quais foram colocados sobre lâminas devidamente revestidas com organo-silano (Sigma-Aldrich, St Louis, MO, EUA) _______________________________________________________________Material e Métodos 42 Os cortes obtidos foram submetidos à técnica imunoistoquímica, pelo método da estreptavidina-biotina-peroxidase. Os cortes foram desparafinados deixando-os por 24 horas em estufa 60ºC, xilol a 60ºC por 20 minutos, xilol à temperatura ambiente por 20 minutos e, em seguida, hidratados em etanol 100%, 95%, 70% e água corrente e destilada. A recuperação antigênica foi realizada fervendo-se a solução tampão de citrato 10 mM pH 6,0, em panela de pressão (Eterna®, Nigro, Araraquara, São Paulo, Brasil) destampada. Após isso, mergulharam-se as lâminas e lacrou-se a panela com a válvula de segurança aberta. Ocorrendo a saída do vapor saturado, abaixou-se a válvula de segurança e aguardou-se a pressurização total. Transcorridos 4 minutos, a panela ainda fechada ficou sob água corrente até a despressurização total, seguido por sua abertura e lavagem das lâminas em água destilada. O bloqueio da peroxidase endógena foi realizado com H2O2 3%, com 4 trocas de 5 minutos cada e por lavagem em água destilada e com solução salina tamponada com fosfatos (PBS-phosphate buffered saline) 10 mM, pH 7,4 por 5 minutos. Posteriormente, realizou-se incubação com anticorpos primários diluídos em títulos previamente estabelecidos (Tabela I) em tampão PBS contendo albumina sérica bovina (BSA) 1% (Sigma-Aldrich, cat # A9647, St Louis, MO, EUA) e azida sódica 0,1%, por 18 horas a 4ºC em câmara úmida. Foram realizadas três lavagens em tampão PBS com 3 trocas de 3 minutos cada. _______________________________________________________________Material e Métodos 43 Tabela I - Lista de anticorpos primários utilizados no estudo. Anticorpos Clones Títulos Anti-p63 4A4 1:2000 Anti-EGFR EGFR-25 1:100 Anti-Notch 1 A6 (Ab-1) 1:100 Fabricantes Dako Novocastra Thermo Scientific Seguiu-se a técnica com o sistema de amplificação, onde as lâminas foram incubadas por 30 minutos a 37° C com Post Primary Block (NovoLink Max Polymer cat # RE7260-k, Newcastle Upon Tyne, Reino Unido), seguido por três lavagens com tampão PBS com 3 trocas de 3 minutos cada. Posteriormente, foram incubadas com o NovoLink Polymer por 30 minutos a 37°C e, novamente levados a lavagens em tampão PBS com 3 trocas de 3 minutos cada. As lâminas foram então reveladas em solução substrato contendo 60 mg de 3,3’ tetrahidrocloreto de diaminobenzidino (DAB) (Sigma-Aldrich, cat # D-5637, St Louis, MO, EUA), 1 mL de Dimetilsulfóxido (DMSO) e 1 mL de H 2O2 6% (água oxigenada 20 vol) em 100 mL de PBS incubadas por 5 minutos a 37ºC, ao abrigo da luz. Em seguida, as mesmas foram lavadas em água destilada, sendo contracoradas com Hematoxilina de Harris por um minuto. Posteriormente, foram lavadas em água destilada e imersas duas vezes em água amoniacal (hidróxido de amônio 0,5%), lavando em seguida em água corrente e destilada. Os cortes foram então desidratados em banhos de etanol 80%, 95% e 100% por duas vezes de 30 segundos cada, 2 banhos de xilol (5 minutos cada) e procedeu-se a montagem das lâminas com Entellan neu (Merck, cat #1.07961, Darmstald, Alemanha) e lamínulas. Controles positivos, que consistiram de espécimes de pele normal para p63 (Figura _______________________________________________________________Material e Métodos 44 1), glândulas mucosas do intestino grosso para EGFR (Figura 2) e placenta normal para Notch 1 (Figura 3), e negativos (controles positivos com supressão do anticorpo primário) foram incluídos em todas as reações. Figura 1 – Controle positivo para a proteína p63. Queratinócitos da epiderme positivos para p63 (setas) (estreptavidina-biotina-peroxidase, 200x). _______________________________________________________________Material e Métodos 45 Figura 2 – Controle positivo de EGFR. Células mucosas presentes no intestino grosso apresentam intensa positividade citoplasmática e membranosa de EGFR (setas) (estreptavidina-biotina-peroxidase, 200x). Figura 3 – Controle positivo de Notch 1. Células normais da placenta apresentam positividade citoplasmática de Notch 1 (setas) (estreptavidinabiotina-peroxidase, 200x). _______________________________________________________________Material e Métodos 46 Análise das reações imunoistoquímicas Para avaliação da reação imunoistoquímica foi utilizado microscópio óptico modelo Eclipse E600 (Nikon, Tóquio, Japão), com as objetivas de 20 e 40x. A leitura das reações foi realizada de forma semi-quantitativa por dois observadores calibrados, que fizeram as avaliações de forma separada e independente, considerando a expressão e a intensidade de expressão de EGFR e Notch 1, e expressão de p63, de acordo com os critérios que serão descritos a seguir. Nos casos em que a marcação imunoistoquímica foi inespecífica ou não foi possível avaliar fragmento representativo da lesão, o caso foi considerado não avaliável. Considerouse célula positiva aquela que apresentava coloração acastanhada, conferida pelo cromógeno DAB. A expressão de p63, EGFR e Notch 1 foi analisada nas células epiteliais do revestimento cístico. Para EGFR, foram consideradas células positivas aquelas que tiveram a membrana e/ou citoplasma marcados; para Notch 1 foi considerada positividade citoplasmática e/ou nuclear e para 63 considerou-se uma célula positiva aquela que mostrava apenas marcação nuclear. A porcentagem de células positivas em 10 campos de maior aumento (400x) foi utilizada para classificar cada lesão cística, utilizando os seguintes valores: negativo: <5% de células positivas; expressão baixa: 5%-50% de células positivas; expressão alta: >50% de células positivas. Além disso, analisou-se a intensidade da expressão de EGFR e Notch 1 nas células epiteliais (+: fraca intensidade; ++: forte intensidade). Considerou-se como fraca intensidade de expressão os casos que apresentavam a maioria das células positivas (>50%) com _______________________________________________________________Material e Métodos 47 pálida coloração marrom/dourada e como forte intensidade de expressão, os casos que apresentavam a maioria das células positivas (>50%) com densa coloração marrom/dourada no citoplasma e/ou membrana para EGFR e citoplasmática e/ou nuclear para Notch 1. Análise Estatística Inicialmente foi feita análise descritiva dos marcadores, identificando a freqüência absoluta e relativa das respostas obtidas. Depois foi comparada a expressão dos marcadores entre as lesões pelo teste exato de Fisher e a correlação entre as proteínas estudadas em cada uma das lesões císticas, por meio da correlação de coeficiente de Spearman, adotando significância de 5%, por meio do software SAS (Cary, Carolina do Norte, EUA). Resultados _______________________________________________________________________Resultados 49 Dos 35 casos de cistos radiculares, 21 (60%) ocorreram em homens e 14 (40%) em mulheres. A idade média dos pacientes foi de 42,2 anos (variando de 19 a 78 anos) e a maxila mais acometida (57,1%) que a mandíbula (42,9%). Os dados referentes às características demográficas estão dispostos na Tabela II. Microscopicamente, observou-se tecido epitelial estratificado, pavimentoso, não queratinizado e com espessura variável. Dezoito casos (51,4%) se apresentavam com epitélio de revestimento não-hiperplásico e 17 (48,6%) mostravam hiperplasia epitelial. Vinte e três casos (65,7%) apresentaram cápsula fibrosa com reação inflamatória crônica intensa (difusa) e 12 (34,3%) com inflamação leve (focal). Nos 22 casos de cisto dentígero, os pacientes apresentavam idade média de 29 anos (variando de 7 a 68 anos), onde 13 casos (59,1%) ocorreram em homens. A maxila foi acometida em 17 casos (77,3%) e a mandíbula em 5 casos (22,7%) (Tabela II). Histologicamente, em 15 casos (68,2%) se observou epitélio de revestimento formado por duas a quatro camadas celulares, constituídas frequentemente por células epiteliais cúbicas. Entretanto, em 7 casos (31,8%) o epitélio cístico se apresentava hiperplásico. Na cápsula conjuntiva, reação inflamatória crônica foi observada em 13 casos (59,1%), sendo classificada como leve em 11 (84,6%) e intensa em 2 (15,4%). Entre os tumores odontogênicos queratocísticos, dez casos (58,8%) ocorreram em homens, com uma média de idade de 45,8 anos (variando de 13 a 78 anos). Doze casos (70,6%) ocorreram na mandíbula e 5 (29,4%) na maxila (Tabela II). _______________________________________________________________________Resultados 50 Microscopicamente, observou-se em todos os casos epitélio de revestimento composto por 6 a 8 camadas celulares, com paraqueratina superficial corrugada, além de camada basal composta por células polarizadas e dispostas em paliçada. Todos os casos apresentavam superfície de paraqueratina. Entretanto, em 7 casos (41,2%) que apresentavam infiltrado inflamatório crônico leve, o tecido epitelial se apresentava hiperplásico nessas regiões, com perda de sua arquitetura convencional. Além disso, cistos satélites foram observados em 2 casos (11,7%). Tabela II – Dados epidemiológicos das lesões císticas estudadas Características epidemiológicas Cisto radicular n=35 Lesões Cisto dentígero n=22 Tumor odontogênico queratocístico n=17 Gênero Masculino 21 (60,0%) 13 (59,1%) 10 (58,8%) Feminino 14 (40,0%) 9 (40,9%) 7 (41,2%) 42,2 (19-78 anos) 29 (7-68 anos) 45,8 (13-78 anos) Maxila 20 (57,1%) 17 (77,3%) 5 (29,4%) Mandíbula 15 (42,9%) 5 (22,7%) Idade média Local 12 (70,6%) Expressão imunoistoquímica de p63, EGFR e Notch 1 A análise imunoistoquímica revelou que 32 casos (91,43%) de cisto radicular apresentaram alta positividade para a proteína p63 em todas as camadas celulares do revestimento cístico (Figura 4) e 3 casos (8,57%) foram negativos. Em 2 casos (6,25%) que apresentaram epitélio hiperplásico associado a inflamação intensa na cápsula conjuntiva, observou-se diminuição da expressão de p63 (Figura 4). _______________________________________________________________________Resultados 51 Figura 4 – Expressão da proteína p63 em cistos radiculares. A, B – Alta positividade de p63 nas células epiteliais do revestimento cístico (setas). C – Alta positividade de p63 nas células epiteliais do revestimento cístico hiperplásico (setas), com reação inflamatória crônica intensa no tecido conjuntivo adjacente. D – Diminuição da expressão de p63 no revestimento epitelial hiperplásico, associada à intensa reação inflamatória na cápsula conjuntiva (estreptavidina-biotina-peroxidase, 200x). Todos os casos de cisto radicular apresentaram alta expressão de EGFR em todas as camadas celulares do epitélio cístico, sendo 21 casos (60%) apresentando forte intensidade de expressão e 14 (40%) fraca intensidade (Figura 5). A reação inflamatória presente na cápsula conjuntiva não influenciou a expressão de EGFR. _______________________________________________________________________Resultados 52 Figura 5 – Expressão de EGFR em cistos radiculares. A – Alta expressão e forte intensidade de expressão citoplasmática de EGFR nas células epiteliais do revestimento cístico (setas) (estreptavidinabiotina-peroxidase, 100x). B – Alta expressão e intensa positividade de expressão membranosa de EGFR no revestimento de cisto radicular (setas) (estreptavidina-biotina-peroxidase, 200x). C – Detalhe em maior aumento da fotomicrografia anterior (estreptavidina-biotina-peroxidase, 400x). D – Alta expressão e fraca intensidade de expressão de EGFR no revestimento epitelial de cisto radicular (setas) (estreptavidina-biotina-peroxidase, 200x). Todos os casos avaliados apresentaram o epitélio cístico positivo para Notch 1, com 28 casos (82,35%) apresentando alta positividade e 6 (17,65%) baixa positividade. Com relação à intensidade de expressão de Notch 1, 17 casos (50%) apresentaram forte intensidade de expressão e 17 casos (50%) fraca intensidade de expressão de Notch 1 (Figura 6). Em 1 caso de cisto radicular, significativa expressão inespecífica de Notch 1 foi observada e portanto, o mesmo não foi avaliado. _______________________________________________________________________Resultados 53 Figura 6 – Expressão de Notch 1 em cistos radiculares. A – Alta expressão e forte intensidade de expressão citoplasmática e nuclear de Notch 1 nas células epiteliais do revestimento cístico (setas) (estreptavidina-biotina-peroxidase, 200x). B – Alta expressão e intensa positividade de expressão citoplasmática e nuclear de Notch 1 no revestimento de cisto radicular (setas) (estreptavidina-biotinaperoxidase, 400x). C – Alta expressão e fraca intensidade de expressão citoplasmática de Notch 1 no revestimento epitelial de cisto radicular (setas) (estreptavidina-biotina-peroxidase, 200x). D – Baixa expressão e fraca intensidade de expressão citoplasmática e membranosa de Notch 1 no revestimento epitelial de cisto radicular (setas) (estreptavidina-biotina-peroxidase, 200x). Todos os casos de cisto dentígero apresentaram expressão de p63 em todas as camadas celulares do revestimento epitelial, onde em 16 casos (72,73%) havia alta positividade e em 6 casos (27,27%) baixa positividade (Figura 7). _______________________________________________________________________Resultados 54 Figura 7 – Expressão da proteína p63 em cistos dentígeros. A – Alta expressão da proteína p63 nas células epiteliais do revestimento cístico (setas) (estreptavidina-biotina-peroxidase, 200x). B – Baixa expressão da proteína p63 no revestimento epitelial de cisto dentígero (setas) (estreptavidina-biotina-peroxidase, 400x). _______________________________________________________________________Resultados 55 Assim como na expressão de p63, todos os casos avaliados foram positivos para EGFR em todas as camadas celulares, com 20 casos (95,24%) apresentando alta positividade e 1 caso (4,76%) baixa positividade. Com relação à intensidade da expressão de EGFR, 16 casos (76,19%) apresentaram forte intensidade de expressão, enquanto 5 casos (23,81%) mostraram fraca intensidade (Figura 8). Após a reação imunoistoquímica, um caso de cisto dentígero não apresentava material suficiente para análise. _______________________________________________________________________Resultados 56 Figura 8 – Expressão imunoistoquímica de EGFR em cistos dentígeros. A – Alta expressão e forte intensidade de expressão membranosa de EGFR nas células epiteliais do revestimento cístico (setas) (estreptavidina-biotinaperoxidase, 400x). B – Alta expressão e fraca intensidade de expressão citoplasmática de EGFR no revestimento epitelial de cisto dentígero (setas) (estreptavidina-biotina-peroxidase, 200x). _______________________________________________________________________Resultados 57 Vinte e dois casos (100%) de cisto dentígero apresentaram alta positividade para Notch 1 em todas as camadas celulares, onde em 17 (77,27%) deles havia forte intensidade de expressão e em 5 casos (22,73%) fraca intensidade (Figura 9). Figura 9 – Expressão imunoistoquímica de Notch 1 em cistos dentígeros. A – Alta expressão e forte intensidade de expressão citoplasmática de Notch 1 no revestimento cístico (setas). B – Alta expressão e fraca intensidade de expressão citoplasmática de Notch 1 no revestimento epitelial de cisto dentígero (setas) (estreptavidina-biotinaperoxidase, 400x). _______________________________________________________________________Resultados 58 Todos os casos de tumor odontogênico queratocístico avaliados apresentaram alta expressão de p63 em todas as camadas celulares do revestimento epitelial (Figura 10). Em 1 caso, após a reação imunoistoquímica, o material se soltou e não foi possível realizar a análise. Figura 10 – Alta expressão da proteína p63 em células epiteliais do revestimento de tumor odontogênico queratocístico (estreptavidina-biotina-peroxidase, 400x). A análise da expressão de EGFR revelou que 16 casos (94,12%) de tumor odontogênico queratocístico foram positivos e 1 caso (5,88%) foi negativo. Com relação a intensidade de expressão de EGFR, 12 casos (75%) apresentaram forte intensidade de expressão e 4 casos (25%) fraca intensidade (Figura 11). _______________________________________________________________________Resultados 59 Figura 11 – Expressão imunoistoquímica de EGFR em tumores odontogênicos queratocísticos. A – Alta expressão e forte intensidade de expressão membranosa de EGFR nas células epiteliais do revestimento cístico (setas) (estreptavidina-biotina-peroxidase, 200x). B – Alta expressão e fraca intensidade de expressão citoplasmática e membranosa de EGFR no revestimento epitelial de tumor odontogênico queratocístico (setas) (estreptavidina-biotina-peroxidase, 200x). _______________________________________________________________________Resultados 60 Todos os casos de tumor odontogênico queratocístico avaliados foram positivos para Notch 1, com 12 casos (75%) apresentando alta positividade e 4 casos (25%) baixa positividade. Avaliando a intensidade de expressão de Notch 1, observou-se que 14 casos (87,5%) apresentaram forte intensidade de expressão, enquanto 2 casos (12,5%) mostraram fraca intensidade. Em 1 caso de tumor odontogênico queratocístico houve reação inespecífica significativa, inviabilizando a análise correta e segura desse espécime. _______________________________________________________________________Resultados 61 Figura 12 – Expressão imunoistoquímica de Notch 1 em tumores odontogênicos queratocísticos. A – Alta expressão e forte intensidade de expressão citoplasmática e nuclear de Notch 1 nas células epiteliais do revestimento cístico (setas) (estreptavidina-biotina-peroxidase, 200x). B – Baixa expressão e fraca intensidade de expressão citoplasmática e nuclear de Notch 1 no revestimento epitelial de tumor odontogênico queratocístico (setas) (estreptavidina-biotina-peroxidase, 200x). _______________________________________________________________________Resultados 62 Análise Estatística Comparando a expressão de p63 no epitélio cístico das 3 lesões estudadas, observou-se que o tumor odontogênico queratocístico apresentou positividade para p63 significativamente maior (p<0,001) que os cistos radicular e dentigero. Entretanto, não se observou diferença estatística significante na expressão (p=0,1) e intensidade de expressão de EGFR (p=0,2), o mesmo foi observado quanto a expressão (p=0,1) e intensidade de expressão de Notch 1 (p=0,08) (Tabela III). Tabela III – Análise comparativa da expressão e intensidade da expressão de EGFR e Notch 1, e da expressão de p63 no revestimento epitelial de cistos radiculares (CR), cistos dentígeros (CD) e tumores odontogênicos queratocísticos (TOQ). Variáveis RC n=35 (%) Expressão de p63 Negativa Baixa Alta Expressão de EGFR Negativa Baixa Alta Intensidade de expressão de EGFR Fraca Forte Expressão de Notch 1 Negativa Baixa Alta Intensidade de expressão de Notch 1 Fraca Forte *Estatisticamente significante ** Um (1) caso não foi analisado Lesões CD n=22 (%) p TOQ n=17 (%) 3 (8,57) 0 (0,0) 32 (91,43) 0 (0,0) 6 (27,27) 16 (72,73) 0 (0,0) 0 (0,0) 16 (100,0)** <0,001* 0 (0,0) 0 (5,7) 35 (100,0) 0 (0,0) 1 (4,76) 20 (95,24)** 1 (5,88) 0 (0,0) 16 (94,12) 0,1 14 (40,0) 21 (60,0) 5 (23,81) 16 (76,19) 4 (25) 12 (75) 0,2 0 (0,0) 6 (17,65) 28 (82,35)** 0 (0,0) 0 (0,0) 22 (100,0) 0 (0,0) 2 (12,5) 14 (87,5)** 17 (50,0) 17 (50,0) 5 (22,73) 17 (77,27) 4 (25) 12 (75) 0,1 0,08 _______________________________________________________________________Resultados 63 Nos cistos radiculares, observou-se correlação positiva entre a expressão de EGFR e intensidade de expressão de EGFR (p<0,001), expressão e intensidade de expressão de Notch 1 (p<0,001) e expressão de p63 (p<0,001). Além disso, correlação positiva foi observada entre a expressão e intensidade de Notch 1 (p=0,005). Nos cistos dentígeros, observou-se correlação positiva entre a expressão de Notch 1 e intensidade de expressão de Notch 1 (p<0,001), expressão e intensidade de expressão de EGFR (p<0,001) e expressão de p63 (p<0,001). Nos tumores odontogênicos queratocísticos foi observada correlação positiva entre a expressão de p63 e expressão e intensidade de EGFR (p<0,001), e expressão e intensidade de expressão de Notch 1 (p<0,001). Observou-se ainda correlação entre a expressão e intensidade de EGFR (p=0,03) e entre a expressão e intensidade de expressão de Notch 1 (p=0,005). Discussão ________________________________________________________________________Discussão 65 Estudos recentes relacionados à etiopatogênese das periapicopatias têm utilizado a imunoistoquímica para investigar o papel de citocinas, fatores de crescimento, fatores de diferenciação celular, genes supressores de tumor e oncogenes no início, desenvolvimento e progressão dessas lesões (LI et al., 1997; PIATELLI et al., 2004; MENEZES et al., 2006; NADALIN, 2008; LIMA, 2009). A técnica de imunoistoquímica baseia-se no princípio da reação antígenoanticorpo, na qual se processa em cortes histológicos, associada a métodos de coloração para evidenciar tal reação. Essa técnica detecta os antígenos (proteínas) localizados no núcleo, citoplasma ou membrana da célula a ser estudada, constituindo numa ferramenta útil no diagnóstico histopatológico, sobretudo nas neoplasias indiferenciadas e fusocelulares, e na investigação científica (LI et al., 1997; PIATTELLI et al., 2004; MENEZES et al., 2006; NADALIN, 2008; LIMA, 2009), como foi realizado neste estudo. Atualmente, vários anticorpos estão disponíveis para serem utilizados em tecidos fixados em formol e embebidos em parafina, o que representa uma grande vantagem, visto que é possível utilizar essa técnica importante em material biológico (tecidos) arquivado, como foi executado neste experimento. Dessa maneira, um arquivo bem conservado de tecidos embebidos em parafina é uma fonte importante de material biológico para o desenvolvimento de estudos morfológicos, imunoistoquímicos e eventualmente moleculares, das mais diversas patologias, de diferentes locais, neoplásicas ou não-neoplásicas, inflamatórias ou de desenvolvimento. Achados importantes podem ser obtidos de tais ________________________________________________________________________Discussão 66 estudos, como determinar as características histopatológicas usuais e não usuais de uma determinada lesão, compreender eventos biológicos, determinar fatores prognósticos ou instituir novas terapias. O fato da Universidade de Ribeirão Preto manter o Laboratório de Patologia Bucal por vários anos e propiciar o correto arquivamento dos espécimes recebidos ao longo do tempo, permitiu a realização deste estudo, o qual analisou 74 lesões císticas odontogênicas, utilizando a imunoistoquímica como ferramenta principal de investigação. Neste estudo, praticamente metade dos casos apresentava revestimento cístico hiperplásico e em todos os cistos radiculares havia reação inflamatória crônica na cápsula de tecido conjuntivo, onde em 65,7% dos casos era intensa. Esses achados se justificam, visto que o cisto radicular se origina a partir de uma inflamação e consequente necrose do tecido pulpar, que estimula restos epiteliais odontogênicos localizados no ligamento periodontal apical, denominados restos de Malassez (SHEAR; SPEIGHT, 2007). Após a formação cística, a persistência de agentes irritantes no periápice contribui para a manutenção de uma cápsula fibrosa com reação inflamatória de intensidade variável predominantemente formada por linfócitos, embora plasmócitos, macrófagos, neutrófilos e raramente eosinófilos e mastócitos possam também ser observados (TAKEDA et al., 2005). Além disso, a inflamação presente na cápsula cística estimula o epitélio cístico a proliferar, tornando-o hiperplásico (TAKEDA et al., 2005; SHEAR; SPEIGHT, 2007). O estudo de fatores de crescimento, receptores de fatores de crescimento, genes supressores de tumor, oncogenes, antígenos de proliferação celular e citocinas, ________________________________________________________________________Discussão 67 certamente contribui para o melhor entendimento da patogênese dos cistos odontogênicos. Como os diferentes tipos de cistos odontogênicos originam-se de restos epiteliais formados em diferentes estágios do desenvolvimento do órgão dental, presume-se que o início e desenvolvimento dessas lesões estejam associados a eventos celulares e moleculares, os quais estão relacionados às características do tipo de resto epitelial odontogênico associado à gênese de cada lesão cística (LI et al., 1997). No presente estudo, a maioria dos cistos radiculares e dentígeros, e todos os casos de tumor odontogênico queratocístico apresentaram alta positividade para proteína p63 em todas as camadas celulares. LO MUZIO et al. (2005), no entanto, observaram que a positividade para proteína p63 em cistos radiculares e dentígeros estava restrita às camadas basal e parabasal do revestimento cístico epitelial, enquanto no tumor odontogênico queratocístico a positividade era mais evidente nas camadas intermediária e superficial, seguindo o perfil de expressão do antígeno de proliferação celular Ki-67 (NADALIN, 2008). Avaliando cuidadosamente o estudo de LO MUZIO et al. (2005) e considerando que no cisto dentígero o revestimento epitelial é formado por poucas camadas celulares, assim como em vários casos de cistos radiculares com revestimento não hiperplásico, o qual se restringe praticamente à camada basal e parabasal, esses resultados são similares ao do presente estudo. Por outro lado, este estudo observou uma positividade significativamente mais alta da proteína p63 nos tumores odontogênicos queratocísticos quando comparado ________________________________________________________________________Discussão 68 aos cistos radiculares e dentígeros, como também foi observado por LO MUZIO et al., 2005. Esse achado pode eventualmente estar associado a um distúrbio no controle do ciclo celular, levando a um maior potencial de crescimento intrínseco, que poderia explicar o crescimento mais infiltrativo e agressivo, além de maiores taxas de recidiva observado no tumor odontogênico queratocístico. A proliferação celular tem sido associada a fatores de crescimento, como o fator de crescimento epidérmico (EGF), fator de crescimento transformante (TGF) e seus respectivos receptores, os quais podem desencadear o processo de proliferação celular por meio de uma cascata de fosforilação protéica que permite os sinais de proliferação sejam recebidos, traduzidos e transmitidos ao núcleo celular (BAUMGART et al., 2007). Considerando todas as lesões estudadas, no presente estudo apenas 1 caso de tumor odontogênico queratocístico foi negativo para EGFR, semelhante ao que foi observado por CLARK et al. (2006). Da mesma forma, avaliando a intensidade de expressão de EGFR, a porcentagem de lesões que apresentaram forte intensidade também foi semelhante entre elas. Assim, presume-se que o epitélio cístico das lesões estudadas é capaz de proliferação mediada por EGFR e que este é importante para a manutenção do revestimento epitelial cístico. A maioria dos casos apresentou positividade membranosa e citoplasmática para EGFR. A imunolocalização desse receptor parece ser importante na velocidade da resposta celular ao estímulo de proliferação. Nos casos em que EGFR está restrito à membrana plasmática, a resposta na presença de um ligante é mais rápida. Caso contrário, se o EGFR for internalizado para o citoplasma, a resposta ao estímulo ________________________________________________________________________Discussão 69 proliferativo é diminuída. Caso EGFR seja observado concomitantemente na membrana plasmática e citoplasma, como no presente estudo, alguns estudos evidenciaram que a resposta da célula a um estímulo proliferativo é similar a uma resposta tipo fisiológica (GULKESEN et al., 2001). No presente estudo, todos os casos avaliados, incluindo as 3 lesões císticas estudadas, foram positivos para Notch 1. Adicionalmente, houve maior intensidade de expressão de Notch 1 nos cistos dentígeros e nos tumores odontogênicos queratocísticos quando comparados ao cisto radicular, embora a diferença tenha sido apenas marginalmente significativa. O sistema Notch parece ser importante na manutenção do tecido epitelial normal. Notch 1 desencadeia a diferenciação e inibe o crescimento de queratinócitos humanos in vitro. Deleção genética do sistema Notch em queratinócitos humanos é suficiente, junto com a ativação do gene ras, para causar carcinomas espinocelulares agressivos (LEFORT et al., 2007). KUMAMOTO; OHKI (2008) observaram níveis semelhantes de expressão de Notch 1 em germes dentários e células neoplásicas do ameloblastoma. Ainda com relação aos tecidos odontogênicos, a ativação do sistema Notch pode inibir a diferenciação de células tronco pulpares em odontoblastos (ZHANG et al., 2008). Associando esses dados com os do presente estudo, parece que o sistema Notch não é importante para o desenvolvimento das lesões císticas odontogênicas, mas pode contribuir para diferenciação das células do revestimento epitelial, contribuindo para a manutenção da lesão e consequentemente para a sua progressão. ________________________________________________________________________Discussão 70 A correlação positiva e a co-expressão da proteína p63, EGFR e Notch 1 em todas as lesões é mais um dado que sugere a importância dessas proteínas no desenvolvimento e persistência das lesões císticas odontogênicas, visto que todas essas moléculas são essenciais na diferenciação, homeostase e manutenção do tecido epitelial. Assim, a expressão concomitante indica que elas podem se interagir e atuar de forma sinérgica a fim de manter a estrutura do revestimento epitelial cístico. O presente estudo acrescenta novas informações com relação à expressão de fatores de crescimento e proteínas envolvidas na diferenciação celular, e suas possíveis funções nas lesões císticas odontogênicas estudadas. A identificação de Notch 1, não estudada anteriormente em lesões císticas odontogênicas, sugere que o sistema Notch participa da manutenção da integridade do epitélio de revestimento cístico, contribuindo para a persistência da lesão. Drogas que modulam a ativação do sistema Notch podem eventualmente ser úteis no tratamento dessas lesões, sobretudo os cistos radiculares refratários ao tratamento endodôntico conservador e tumores odontogênicos queratocísticos extensos. Adicionalmente, a alta expressão da proteína p63, alta intensidade de expressão de EGFR e a correlação existente entre elas, indicam participação importante dessas proteínas no desenvolvimento das lesões. Conclusões _______________________________________________________________________Conclusões 72 Nas condições experimentais deste estudo, e com base nos resultados obtidos, foi possível concluir que: 1. A maioria dos cistos radiculares, dentígeros e todos os tumores odontogênicos queratocísticos apresentaram alta expressão imunoistoquímica de proteína p63. 2. Os tumores odontogênicos queratocísticos apresentaram uma expressão significativamente maior de proteína p63 quando comparado aos cistos radiculares e dentígeros. 3. A maioria dos cistos radiculares e tumores odontogênicos queratocístico e todos os cistos dentígeros apresentaram alta expressão de Notch 1. 4. A expressão de Notch 1 pode ser importante na manutenção do epitélio cístico, contribuindo para a persistência das lesões. 5. A alta expressão e forte intensidade de expressão de EGFR sugerem que este receptor participe dos processos proliferativos do epitélio cístico. 6. Em todas as lesões, houve co-expressão e correlação positiva entre as proteínas estudadas. Referências Bibliográficas ____________________________________________________________Referências Bibliográficas 74 AGARAM, N. P.; COLLINS, B. M.; BARNES, L.; LOMAGO, D.; ALDEEB, D.; SWALSKY, P.; FINKELSTEIN, S.; HUNT, J. L. Molecular analysis to demonstrate that odontogenic keratocysts are neoplasic. Arch. Pathol. Lab. Med., v. 128, n. 3, p. 313-317, 2000. ARTAVANIS-TSAKONAS, S.; RAND, M. D.; LAKE, R. J. Notch signaling: cell fate control and signal integration in development. Science, v. 284, n. 5415, p. 770-776, 1999. BARNES, L.; EVERSON, J. W.; REICHART, P.; SIDRANSKY, D. Pathology and Genecs of Head and Neck Tumours- World Health Organization Classification of Tumours, Lyon: IARC Press, p. 430, 2005. BAUMGART, C. S.; LAUXEN, I. S.; SANT’ANNA FILHO, M.; QUADROS, O. F. 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