Estudo da Aplicação da Tomografia por Impedância Elétrica à Ensaios Não Destrutivos de Estruturas Aeroespaciais Jader Passos Clarindo da Silva, Cícero Ribeiro de Lima Universidade Federal do ABC Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas Avenida dos Estados, 5001, Santo André, SP A Tomografia por Impedância Elétrica (TIE) é uma técnica recente de monitoramento de corpos. A TIE nos permite obter a representação gráfica da resistividade de cada elemento da seção transversal de um corpo. Um algoritmo de reconstrução de TIE utiliza potenciais elétricos, que são obtidos a partir da aplicação de uma corrente de baixa intensidade em eletrodos, posicionados ao redor do corpo. Devido a sua natureza de diagnóstico não-invasivo, a TIE tem potencial aplicação na área de ensaios não-destrutivos (ENDs). O objetivo deste trabalho de iniciação científica é implementar um algoritmo básico de reconstrução de imagens de TIE baseado no método de Otimização Topológica. Para ilustrar essa implementação, são mostrados resultados de reconstituição da distribuição de condutividades em domínios bem conhecidos. Palavras chave: otimização topológica, tomografia por impedância elétrica, elementos finitos, ensaios não-destrutivos. I. INTRODUÇÃO A Tomografia por Impedância Elétrica (TIE) é uma técnica que tem sido desenvolvida desde a década de 80. Ao longo desse período, a comunidade científica verificou a necessidade do aperfeiçoamento dos algoritmos de reconstrução nesta área. Isto devido ao fato da TIE ser um problema inverso e também um problema mal-posto, ou seja, a solução é descontínua em relação às voltagens [1]. O problema inverso consiste em obter a imagem na seção transversal do corpo a partir dos potenciais elétricos coletados por eletrodos dispostos ao redor do corpo. Os potenciais são obtidos mediante a aplicação de corrente elétrica de baixa intensidade e como resultado final deve ser obtido a distribuição de condutividades no domínio. A TIE tem como principal característica o fato de não causar nenhum dano ao corpo, ou seja, é uma técnica de monitoração não-invasiva e não nociva, pois não expõe o corpo a nenhum tipo de radiação. Esta técnica possui aplicação para fins médicos e geológicos [1], bem como possui potencial aplicação também para fins industriais, como em ensaios não-destrutivos (ENDs) de estruturas aeroespaciais. Observa-se na literatura, a utilização de diversos tipos de algoritmos de reconstrução originais baseados nos métodos de Backprojection, Newton-Raphson e Filtro de Kalman [2]. Neste presente trabalho, é proposto a utilização do Método de Otimização Topológica (MOT), que tem como principal vantagem a possibilidade de inclusão de várias restrições para regularizar o problema inverso da TIE [3]. Nas seções seguintes são apresentados a formulação do problema de OT aplicado à TIE e os resultados obtidos com um software, implementado em linguagem do MATLAB, para a solução do problema. II. PROBLEMA DE OT APLICADO À TIE O algoritmo de MOT, que combina um método de otimização com um método numérico de análise [4], é utilizado para resolver um problema de minimização, cuja função objetivo é dada pela diferença quadrática entre os valores de voltagens medidos nos eletrodos e os calculados em um modelo computacional da seção transversal do corpo, conforme equação a seguir. Minimizar: F 2 1 ne np ij ij0 2 j1 i 1 onde F é a função objetivo, ne é o numero de casos de aplicação de corrente elétrica e np é o numero de pontos de medição dos eletrodos. ϕij e ϕij0 são os potenciais elétricos obtidos no modelo computacional e os potenciais medidos nos eletrodos posicionados ao redor do corpo, respectivamente. Neste trabalho, os potenciais elétricos medidos nos eletrodos (ϕij0) são simulados através de um fantoma numérico. O método de elementos finitos (MEF) [5] é utilizado nos modelos computacionais adotados neste trabalho, ou seja, tanto para o fantoma quanto para o modelo computacional utilizado para reconstruir a imagem na TIE. A malha de elementos finitos do modelo computacional utilizado para reconstruir a imagem na TIE é menos discretizada (quantidade menor de elementos) em relação à malha do fantoma para evitar o chamado “crime de inversão” [1]. No fantoma numérico, a condutividade de cada elemento do domínio é conhecida. Já, no modelo computacional de obtenção da imagem a condutividade de cada elemento dependem de um modelo material [4], dado da seguinte forma: C = ρp cA + (1 – ρp)cB; onde: 0 ≤ ρi ≤ 1 i = 1...N onde cA e cB são as propriedades de condutividade elétrica de dois materiais básicos que compõem o meio. No caso o material tipo A poderia ser ar, por exemplo, e o tipo B, o material sólido da estrutura. As pseudo-densidades ρi podem variar de 0 (indicando a presença do material do tipo B) a 1 (indicando a presença do material do tipo A). Valores intermediários de ρi indicam a mistura dos dois materiais e não são interessantes no resultado final e serão evitados através de uso do coeficiente de penalidade p, cujo valor deve ser ajustado [4]. III. RESULTADOS Um software é implementado para encontrar as perturbações na distribuição de condutividade em dois exemplos, considerando um domínio quadrado e um domínio circular. O resultado da Fig. 2 mostrou a posição em que foi colocado elementos de materiais diferentes no fantoma, ou seja, o software encontrou uma imagem semelhante ao do fantoma. A função objetivo é minimizada em poucas iterações, até um valor próximo de zero. O gráfico da Fig. 3 mostra a convergência da função objetivo em relação as interações. A. Modelo Quadrado O fantoma do domínio é criado com 576 elementos quadrados de 4 nós, como mostrado na Fig. 1. Figura 3 - Gráfico de convergência da função objetivo. B. Modelo Circular O domínio do fantoma circular tem 1728 elementos e 16 eletrodos equidistantes. Assim como mostra a Fig. 4. Figura 1- Fantoma do domínio quadrilátero. Nesse fantoma, os elementos quadrados que estão destacados (cor clara) tem condutividade igual a 0,005(Ωm)-1 e os demais 0,1 (Ωm)-1. Neste caso, são utilizados 16 eletrodos posicionados no contorno de maneira equidistante. A Fig. 2 mostra o resultado obtido através do algoritmo implementado, numa malha menos discretizada (144 elementos) para evitar o chamado “crime de inversão” [1]. Figura 4 - Fantoma circular. Esse fantoma possui uma “mancha” (região escura), indicando que nesse local tem um grupo de elementos com condutividades diferentes dos demais. Os elementos em branco têm condutividade igual a 0,1 (Ωm)-1 e os que estão em preto tem condutividade igual a 0,005 (Ωm)-1. É utilizada uma malha de 432 elementos para o software reconstruir a imagem do fantoma da Fig. 4. O resultado obtido é mostrado na Fig. 5. Figura 2 - Resultado obtido pelo software implementado. V. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem o suporte financeiro da UFABC e CNPq, através de uma bolsa de iniciação cientifica PDPD. VI. REFERENCIAS Figura 5 – Imagem obtida pelo software implementado. A imagem da Fig. 5, mostra que o software é capaz de localizar a “mancha” com elementos de condutividades diferentes, previamente proposta no fantoma. Durante as interações do algoritmo a função objetivo foi minimizada, conforme mostra o gráfico da Fig. 6. Figura 6 – Convergência da função objetivo. IV. CONCLUSÃO Neste trabalho foi implementado um algoritmo de Tomografia por Impedância Elétrica baseado no método de Otimização Topológica, com potencial aplicação em ensaios não-destrutivos (ENDs) de estruturas aeroespaciais. Um algoritmo, implementado em linguagem MATLAB, é utilizado para resolver o problema de otimização topológica aplicado à TIE e, consequentemente, identificar a perturbação na distribuição de condutividades produzida por dois materiais distintos, em domínios quadrado e circular. Como trabalho futuro, propõe-se explorar o desempenho do algoritmo quando um terceiro material é introduzido no domínio. Além disso, elementos de eletrodos podem ser introduzidos no algoritmo para simular a interface de contato entre eletrodo e contorno da estrutura ensaiada. [1] L. Borcea, “Electrical Impedance Tomography”, Inverse Problems, 18, 6, 99–136, 2002. [2] T. J. Yorkey, J.G. Webster, W.J. Tompkins, “Comparing Reconstruction Algorithms for Electrical Impedance Tomography”, IEEE Trans Biomed Eng, 34, 843-52, 1987. [3] C. R. Lima, “Estudo da Obtenção de imagens de Tomografia de Impedância Elétrica do Pulmão pelo Método de Otimização Topológica”, Tese de Doutorado – Escola Politécnica da USP, São Paulo, Brasil, 2006. [4] M. P. Bendsoe and O. Sigmund., “Topology Optimization: Theory Methods and Applications”, Berlin: Springer-Verlag, ISBN 3-540-42992-1, 2003. [5] Filho, Avelino Alves, “Elementos Finitos – A Base da Tecnologia CAE”, São Paulo: Ed. Érica, 2000.