Plantas Daninhas na Cultura da
Cana-de-Açúcar
Prof. José Renato
Objetivo
O objetivo deste trabalho é descrever algumas
das principais plantas daninhas presentes na
cultura da cana-de-açúcar, bem como destacar
a perda de produtividade e o banco de
sementes. Também serão ponderadas
questões como resistência e modelos para a
cultura.
Introdução
Atualmente o Brasil é o maior produtor
mundial seguido pela Índia. O país possui mais
de 8 milhões de hectares cultivados com canade-açúcar sendo a região Sudeste de maior
cultivo, acompanhado pelo Centro-Oeste e
Nordeste (AGRIANUAL, 2012).
A cana-de-açúcar tem-se destacado como
uma das principais culturas do país gerando
mais de 4,5 milhões de empregos diretos e
indiretos (UNICA, 2012) e um PIB de 48
bilhões de dólares (CNA, 2011).
Com relação aos custos de produção,
operações para o controle de plantas daninhas
comprometem em torno de 8,4 % dos custos
para a cana planta e 6,1 % para a cana soca,
gasto esse com pulverizador, carpa, herbicida
e também cultivador para a cana soca
(AGRIANUAL, 2012).
Neste contexto, abordaremos os seguintes
aspectos:
i) Plantas daninhas na cultura da cana-deaçúcar;
ii) A palha da cana-de-açúcar;
iii) A perda de produtividade e o banco de
sementes;
iv) Resistência de plantas daninhas;
v) Modelos.
Plantas daninhas na cultura da
cana-de-açúcar
A primeira etapa de um manejo adequado de
plantas daninhas em uma lavoura envolve a
identificação das espécies na área e quais
destas tem maior importância. Após essa fase,
decide qual o melhor manejo a ser adotado
(OLIVEIRA; FREITAS, 2008).
Assim, a fitossociologia das plantas daninhas
depende do local analisado e de diversos
fatores como clima, solo e temperatura.
Destacamos aqui algumas dessas plantas. As
plantas que serão citadas possuem ao menos
uma das características: resistência, alta
produtividade de sementes ou proporcionam
grande perda de produtividade.
Em levantamento realizado no município de
Batatais-SP, Meirelles et al. (2009)
constataram que a comunidade infestante era
composta, por exemplo, pelas plantas B. Pilosa
(picão-preto), I. Grandifolia (corda-de-viola), E.
Heterophylla (leiteira) e P. Maximum
(colonião).
Oliveira e Freitas (2008) fizeram um
levantamento fitossociológico no município de
Campos dos Goytacazes-RJ, e algumas plantas
daninhas que se destacaram foram a B.
Plantaginea (marmelada), E. Indica (pé-degalina), B. Pilosa, B. Subalternans (picão-preto)
e E. Heterophylla.
No município de Ribeirão Preto-SP, Kuva et al.
(2007) destacaram a C. Rotundus (tiririca)
como a principal espécie.
Oliveira e Freitas (2008) destacaram a R.
Exaltata (capim-camalote) como uma das
plantas que mais oneram a atividade
canavieira.
Pé-de-galinha
Tiririca
Camalote
Leiteira
Picão-preto
A palha da cana-de-açúcar
A palha sem dúvida alterou a emergência de
plantas daninhas na cana-de-açúcar. Segundo
Martins et al. (1999) as espécies picão-preto e
leiteira tendem a manter-se como problemas
mesmo para quantidades de palha superiores
a 10 t/ha.
Lorenzi (1993) verificou que para quantidades
de palha superiores a 6 t/ha, espécies como P.
Oleracea (beldroega), A. Deflexus (caruru), P.
Maximum, E. Indica e D. Horizontalis (colchão)
foram controladas.
Azania et al. (2002) constataram que 15 t/ha
de palha reduziu em 46 e 62% o número de I.
Quamoclit e M. Cissoides (corda-de-viola),
respectivamente.
Por outro lado, Velini e Negrisoli (2000)
mostraram que para uma camada de palha de
1 t/ha, apenas 35,5% da calda pulverizada
atinge o solo. Essa interceptação atinge 99,4%
e 99,5% para 10 e 15 t/ha, respectivamente.
Cabe destacar que existem estudos que visam
a utilização da palha da cana-de-açúcar como
fonte de energia. Assim, além da biomassa do
bagaço, a palha que sobra nos canaviais após
a colheita da cana-de-açúcar é apontada como
grande potencial de geração de energia.
O número de espécies de plantas daninhas na
cultura da cana-de-açúcar é bastante variado
e quando o solo possui uma camada de palha
as plantas que sobrevivem às dificuldades
iniciais acabam se beneficiando pela
abundância de recursos no ambiente,
favorecendo assim sua ploriferação.
Produtividade
A produtividade da cana-de-açúcar é
determinada por diversos fatores, destacandose a variedade, o solo (propriedades físicas,
químicas e biológicas), o clima e as práticas
culturais (controle de pragas e de plantas
daninhas).
É no início do plantio que a cultura se
encontra mais susceptível a competição por
água, luz e nutrientes com as plantas
daninhas. Assim, o controle tardio dessas
plantas daninhas podem acarretar perda de
produtividade.
Segundo Azania et al. (2009) as plantas
daninhas dos gêneros Ipomoea, Merremia e
Euphorbia podem proporcionar até 24% de
prejuízo na produtividade da cana-de-açúcar.
Estudando a B. Decumbens (braquiária) e o P.
Maximum, Kuva et al. (2003) constataram que
o período crítico foi compreendido entre 74 e
127 dias após o plantio. A ausência de
controle dessas plantas daninhas durante todo
o ciclo da cana resultou em 40% de redução
de produtividade.
A C. Rotundus interfere a cultura durante todo
o ciclo. Comparando as produções obtidas nas
condições de ausência total da tiririca com as
obtidas na presença das mesmas durante todo
o ciclo, a redução de produtividade pode
chegar a 20% (KUVA et al., 2000).
A espécie R. Exaltata é considerada uma das
piores espécies de plantas daninhas na cultura
da cana-de-açúcar. Arévalo e Bertocini (1994)
afirmam que o prejuízo é de até 100% para
cana planta e de 80% para cana soca.
Banco de sementes
No estudo de plantas daninhas, o banco de
sementes deve ser considerado. As sementes
situadas abaixo do perfil de cultivo ou em solo
coberto por palha conseguem manter-se
dormentes por maior período de tempo que
as situadas na superfície (MARTINS; SILVA,
1994).
A B. Pilosa infestam culturas anuais e perenes
e produzem até 3000 sementes por planta, e
após maturação poucas germinam
imediatamente (KISSMANN, 1997).
Segundo Kissmann e Groth (1999) as
sementes da E. Heterophylla germinam com
facilidade até 4 cm de profundidade; diminui
entre 4 e 12 cm; e com mais de 12 cm ocorre
pouca germinação. O ciclo entre a emergência
e a frutificação da leiteira é curto, e pode
ocorrer de duas a quatro gerações em um
ano.
Bozán e Rey (1977) estudaram a P. Maximum
e concluíram que uma única planta produziu
127350 sementes em apenas um ciclo.
A R. Exaltata dissemina com facilidade e uma
única planta é capaz produzir 15000 sementes
que ficam dormentes por até quatro anos
(SHARMA; ZELAYA, 1986).
Modelos matemáticos baseados em Jones e
Cacho (2000) seriam pertinentes para melhor
entender o comportamento dessas plantas
que causam prejuízo a cultura da cana-deaçúcar.
Resistência de plantas daninhas
No Brasil, os primeiros casos de resistência
foram documentados para Bidens Pilosa,
Euphorbia Heterophylla e Brachiaria
Plantaginea, na década de 1990. Atualmente
existem casos confirmados de 20 espécies,
sendo que 5 destas possuem resistência
múltipla (HEAP, 2012).
As consequências da resistência
correspondem a restrição ou inviabilização do
uso de herbicidas, perdas de área e
consequentemente perdas de rendimento,
qualidade dos produtos e mudanças no
sistema de produção (CHRISTOFFOLETI, 2008).
Em 2011 o consumo de defensivos na cultura
de cana-de-açúcar foi de 12% e ocupou a
terceira posição, atrás da cultura de algodão
que consumiu 13% das vendas. A soja é a
principal consumidora, com 44% das vendas
de um total de R$ 14,1 bilhões (SINDAG,
2012).
Algumas plantas daninhas que estão
presentes na cultura da cana-de-açúcar e
possuem resistência são E. Heterophylla, B.
Pilosa, B. Subalternans, E. Indica, B.
Plantaginea, D. Ciliaris, D. Insularis
(amargoso), E. Crus-galli, E. Crus-pavonis
(gervão) e L. Multiflorum (azevém).
Avaliação de risco versus
desenvolvimento de resistência
Opções de Manejo
Risco Baixo
Risco Moderado
Risco Alto
Mistura ou Rotação de
mais de dois modos de ação
dois modos de ação
um modo de ação
Forma de Controle
cultural, mecânico, químico
cultural, químico
químico
Uso de Igual Modo de Ação
uma vez
mais de uma vez
muitas vezes
Sistema de Cultivo
rotação plena
rotação limitada
sem rotação
Herbicidas
Fonte: CHISTOFFOLETI, 2008.
Modelos para a cultura da
cana-de-açúcar
O uso de modelos permitem ao gestor fazer
previsões e simulações de cenários para
contribuir na tomada de decisão.
Modelos matemáticos podem auxiliar na
estimativa de crescimento e rendimento
agrícola, análise de impactos ambientais,
visualização das melhores alternativas de
manejo e de uso do solo, entre vários outros
problemas.
A seguir, veremos alguns modelos que existem
para a cultura da cana-de-açúcar. Atualmente
a maior parte dos modelos matemáticos
visam melhorar a produtividade e eficiência
na cultura da cana.
Desta maneira, muitos destes modelos se
concentram em fazer previsões de
crescimento das culturas e de estimativa de
suas produtividades, da dinâmica de
populações e relações hídricas na planta para
determinar a época ótima da colheita na
indústria açúcareira, estudo de crescimento
com base no índice de área foliar, entre
outros.
Um modelo interessante, desenvolvido por
Carvalho (2009), foi mapear a eficiência
produtiva ao longo de 16 safras agrícolas,
analisando a importância relativa do clima e
do solo e inferindo sobre os aspectos
socioeconômicos e conjunturais que
interferem na composição da eficiência de
produção de cana.
Observou que os elementos climáticos
explicaram 43% da variabilidade da eficiência
da produção agrícola da cana. O solo explicou
15% da variabilidade da eficiência (aqui está
incluído a aplicação de herbicidas e o
transporte). Em média, 42% da variabilidade
da eficiência da produção de cana foram
explicados por preço e demanda, entre outros
fatores.
Em da Silva (2009) o planejamento agregado
de produção com aplicação de modelo de
otimização multiobjetivo capaz de apoiar nas
principais decisões envolvidas no
planejamento e controle de produção, na
comercialização e estocagem proporcionou
uma receita bruta de 7,89% superior ao da
usina.
Oliveira (2010) apresentou uma proposta para
a melhoria da qualidade e produtividade do
setor, focado no desempenho dos processos e
produtos, através de métodos estatísticos. Os
resultados mostraram uma redução
significativa no tempo de processo e a
identificação das principais variáveis
envolvidas no processo produtivo do etanol.
Em Saramago et al. (2010) o objetivo foi
apoiar as principais decisões envolvidas na
determinação do dimensionamento ótimo da
frota de veículos de uma usina. A cana, uma
vez colhida, precisa ser entregue para
industrialização em até 72 horas. Assim,
sistemas logísticos são importantes pois
permitem melhorar a eficiência operacional
da empresa.
Em Tolentino et al. (2007) é discutido o uso da
palha da cana. A viabilidade de
aproveitamento desse resíduo para a geração
de energia pode ser feito com base no custo e
no balanço de energia.
Logo, Tolentino et al. (2007) propuseram o uso
de técnicas matemáticas (otimização
multiobjetivo) para auxiliar na escolha das
variedades da cana a serem plantadas a fim de
otimizar o balanço de energia da biomassa
residual de colheita e minimizar o custo de
coleta dessa biomassa do campo para o centro
de produção.
Em Limeira (2010) o objetivo foi propor um
modelo matemático que descrevesse a
interação entre a praga da cana (Diatraea
Saccharalis) com um de seus inimigos naturais
(Trichogramma Galloi) visando o controle de
infestações dessa praga na cultura da cana-deaçúcar.
Considerações finais
O desenvolvimento de novas tecnologias é de
suma importância para a cultura e a criação
de modelos pode auxiliar nesse processo.
Novos modelos, associados ao uso de
computadores, podem melhorar ainda mais a
eficiência produtiva e a própria gestão.
O manejo adequado das plantas daninhas B.
Plantaginea, E. Heterophylla, E. Indica, B.
Pilosa e B. Subalternans e outras espécies
pode evitar ou retardar o surgimento de
resistência a herbicidas na cultura. Aliado a
isso, modelos que consigam abordar os
processos produtivos de forma sustentável
torna-se necessário nos dias atuais.
Portanto, buscar técnicas sustentáveis e que
aumentem a produtividade dessa cultura para
não perder competitividade no mercado é
fundamental.
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Apêndice
Ilustrações das plantas daninhas citadas:
Amargoso
Azevém
Braquiária
Beldroega
Caruru
Gervão
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Plantas Daninhas na Cultura da Cana-de