UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ESTRUTURAL E CONSTRUÇÃO CIVIL
CURSO DE ENGENHARIA CIVIL
WASHINGTON BASTOS DA SILVA FILHO
COMPATIBILIZAÇÃO E ENGENHARIA SIMULTANEA NO PROCESSO DE
PROJETOS DE ENGENHARIA CIVIL
FORTALEZA
2010
ii
WASHINGTON BASTOS DA SILVA FILHO
COMPATIBILIZAÇÃO E ENGENHARIA SIMULTANEA NO PROCESSO DE
PROJETOS DE ENGENHARIA CIVIL
Monografia submetida à Coordenação do Curso
de Engenharia Civil da Universidade Federal do
Ceará, como requisito parcial para obtenção do
grau de Engenheiro Civil.
Orientador: Prof. Alexandre Araújo Bertini, D.Sc
Co-orientador: Prof. Augusto Teixeira de
Albuquerque, D.Sc.
FORTALEZA
2010
iiii
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PROJETOS
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ENHARIA CIVIL
Monnografia subbmetida à Co
oordenaçãoo do Curso de
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do C
Ceará, como requisito parcial para oobtenção do
o grau de En
ngenheiro C
Civil.
Aproovada em _03_
_
/ _12_ / _2010_
BAN
NCA EXAM
MINADORA
A
Proff. Alexandree Araújo Beertini, Dr. (O
Orientador)
Univerrsidade Federal do Ceaará
Prof. Augussto Teixeiraa de Albuqu
uerque, D.Scc. (Co-orienntador)
Univerrsidade Federal do Ceaará
Paula Liima Sombraa (Examinad
dor)
Univerrsidade Federal do Ceaará
iv
Dedico este trabalho aos meus familiares e
amigos que amo e aos professores e profissionais
que, juntos, contribuíram para minha formação.
v
Tudo deveria se tornar o mais simples possível,
mas não simplificado.
Albert Einstein
vi
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, à minha família que sempre fez o melhor que pôde por mim,
apesar de todas as dificuldades presentes. Agradeço muito por sempre terem orgulho, pelo
apoio incondicional e pela dedicação e amor presente em toda a minha vida.
Ao PET Engenharia Civil, por todo o conhecimento e oportunidade que me
ofereceu. Por permitir que eu desenvolvesse meu potencial e maturidade. Por ter dado grande
qualidade a minha formação pessoal e profissional. Agradecimento em particular aos meus
amigos petianos, Marcella, Micaella, Priscilla, Iuri, Davi e Pedro Henrique, entre outros muito
queridos, aos quais tenho grande carinho e admiração.
Aos professores e funcionários da instituição, pelo conhecimento oferecido,
auxílio prestado e companheirismo, dentro e fora da sala de aula. Em especial ao professor
Macário e Bertini, tutores do PET Engenharia Civil, pela orientação dos trabalhos
extracurriculares; a Selimar, pela amizade e exemplo de dedicação, e aos professores
comprometidos com a didática, aos quais me adicionaram bastante conhecimento.
Por fim, aos meus amigos que me acompanharam durante minha jornada, aos
quais fui amado e amei em toda plenitude. Estes foram uma grande força, que me motivou e
me guiou, e sempre serei grato. Destaco o Daniel Albuquerque, pela amizade longínqua e
permanente, ao Clark Ribeiro, por ser meu irmão e a fundação da minha estrutura, a Priscila
Pinheiro, pelo companheirismo e crescimento e ao Euzébio Rodrigues, pelas mudanças,
sacrifícios e por incentivar meu autoconhecimento. Obrigado.
vii
RESUMO
A partir de meados dos anos 60, iniciou-se a fragmentação das responsabilidades
do projeto de engenharia. Os projetos passaram a apresentar incompatibilidades entre si,
dificultando a execução de suas partes e ocasionando aumento de prazos e custos e
diminuição da qualidade do processo e produto final. Este trabalho tem por finalidade analisar
o processo de projetos baseado em princípios de engenharia simultânea e compatibilização.
Uma pesquisa bibliográfica do estado da arte dessa área do conhecimento, apresentando seu
histórico, desenvolvimento e aplicação na indústria e construção civil, seguido de um
confronto dos fundamentos entre as partes apresentadas. Diversas técnicas são
disponibilizadas para coordenar todos os projetos envolvidos com um empreendimento. A
Engenharia Simultânea, sistema adotado na indústria manufatureira para suprir as crescentes
exigências dos consumidores, apresenta gradual reconhecimento na construção civil e visa o
paralelismo da execução das atividades ligadas aos projetos. Vários estudos são realizados
para aprimorar o sistema à realidade da construção civil. Ressalta-se também a
Compatibilização de Projetos que trata de técnicas como a sobreposição dos projetos e seu
devido gerenciamento. Deve-se investir na melhoria do processo de projetos na construção,
gerando benefícios consideráveis em todo o processo e na qualidade do produto final.
Observa-se que ainda há necessidade de adaptar os preceitos da Engenharia Simultânea às
particularidades do processo de projetos da indústria imobiliária, com foco nas mudanças de
paradigmas que rege o tradicional processo de produção do setor. Concomitantemente, deve
se utilizar melhor os recursos tecnológicos disponíveis na compatibilização de projetos e se
fazer uma integração desta etapa às vantagens sugeridas pela nova linha de produção.
Destaca-se, por fim, que estudos de caso que gerem conhecimento sobre a aplicação da
Engenharia Simultânea na construção agregariam considerável valor à área do conhecimento.
Palavras-chaves: Coordenação de Projetos, Gerenciamento de Projetos, Compatibilização de
Projetos, Engenharia Simultânea.
viii
ABSTRACT
From the mid of '60s, began the responsibilities’ fragmentation of the engineering design. The
projects began to show inconsistencies between them, making it difficult to play their parts,
leading to increased time and cost reduction and process quality and final product. This study
aims to analyze the process of project management based on principles of concurrent
engineering and compliance. A literature search of the state of the art in this area of
knowledge, presenting its historical development and application in industry and construction,
followed by a confrontation between the parties of the grounds presented. Several techniques
are available to coordinate all the projects involved with a project. Concurrent Engineering,
the system used in the manufacturing industry to meet the increasing demands of consumers,
shows a gradual recognition in the construction industry and aims at the parallel execution of
activities related to projects. Several studies are conducted to improve the system to the
reality of construction. We also emphasize the Building Design that deals with techniques
such as overlapping of projects and their proper management. We should invest in process
improvement projects in construction, generating significant benefits throughout the process
and final product quality. Observe that there is a need to adapt the principles of Concurrent
Engineering to the particularities of the design process of real estate industry, focusing on
changes in the paradigms that govern the traditional production process of the sector.
Concurrently, one should use the best technology available in the consistency of projects and
make this integration a step the advantages suggested by the new production line. It is
noteworthy, finally, that the case studies that generate knowledge on the implementation of
Concurrent Engineering in construction may generate considerable value to the area of
knowledge.
Keywords: Project Coordination, Project Management, Building Design, Concurrent
Engineering.
ix
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 - Nível de Influência x Tempo de Projeto (VARGAS, 2008) ................................. 11 Figura 2.2 - Engenharia Sequencial x Engenharia Simultânea (FABRÍCIO, 2002) ................ 13 Figura 2.3 - Interfaces do Processo de Desenvolvimento de Produto na Construção de
Edifícios. (FABRÍCIO, 2002) .................................................................................................. 20 Figura 2.4 - Exemplo de sobreposição do projeto estrutural com o projeto hidráulico
(MIKALDO JR; SCHEER, 2005) ............................................................................................ 31 Figura 2.5 - Lançamento dos elementos estruturais no plano 2D (MIKALDO JR; SCHEER,
2007) ......................................................................................................................................... 32 Figura 2.6 - Configuração dos elementos estruturais do pilar, viga e laje (MIKALDO JR;
SCHEER, 2007)........................................................................................................................ 33 Figura 2.7 - Modelo 3D do projeto de estrutura (MIKALDO JR; SCHEER, 2007) ................ 34 Figura 2.8 - Modelo 3D dos projetos de instalação (MIKALDO JR; SCHEER, 2007) ........... 34 Figura 2.9 - Modelo 3D da integração do projetos (MIKALDO JR; SCHEER, 2007)............ 35 Figura 2.10 - Exemplificação do Ponto de Origem em 3D (MIKALDO JR; SCHEER, 2007)
.................................................................................................................................................. 35 Figura 2.11 - Interferência Física entre os projeto hidráulico e estrutural (MIKALDO JR;
SCHEER, 2007)........................................................................................................................ 36 x
LISTA DE QUADROS
Quadro 1.1 - Custo Relativo ao estágio do produto. .................................................................. 2 Quadro 2.1 - Síntese em íntegra das discrepâncias entre relacionadas ao ambiente de projeto
na construção de edifícios e na indústria de manufaturados em série. (VARGAS, 2008) ....... 16 Quadro 2.2 - Transposição em íntegra da filosofia da Engenharia Simultânea da Indústria
Seriada para a Construção Civil (VARGAS, 2008) ................................................................. 18 Quadro 2.3 - Responsabilidades de Clientes e Projetistas na Compatibilização de Projetos
(GRAZIANO, 2003) ................................................................................................................. 23 LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 - Exemplo de Índice de Severidade (TOLEDO; AMARAL, 1999) ....................... 29 Tabela 2.2 - Exemplo de Índice de Ocorrência (TOLEDO; AMARAL, 1999) ....................... 29 Tabela 2.3 - Exemplo de Índice de Detecção (TOLEDO; AMARAL, 1999) .......................... 29 Tabela 2.4 - Exemplo de Formulário FMEA (TOLEDO; AMARAL, 1999)........................... 30 xi
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................... ix LISTA DE QUADROS .............................................................................................................. x LISTA DE TABELAS................................................................................................................ x 1 2 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 1 1.1 Justificativa e Contextualização do Tema.................................................................... 1 1.2 Objetivos ...................................................................................................................... 3 1.2.1 Objetivo geral ....................................................................................................... 4 1.2.2 Objetivos específicos ............................................................................................ 4 1.3 Metodologia ................................................................................................................. 4 1.4 Estrutura do Trabalho .................................................................................................. 5 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................................................................ 7 2.1 Engenharia Simultânea ................................................................................................ 7 2.1.1 Conceitos e origem ............................................................................................... 7 2.1.2 Desenvolvimento industrial .................................................................................. 8 2.1.3 Valorização do projeto........................................................................................ 10 2.1.4 Projeto na construção civil ................................................................................. 14 2.1.5 Aplicação na Construção Civil ........................................................................... 15 2.1.6 Processo de projeto tradicional x projeto simultâneo ......................................... 19 2.2 Compatibilização ....................................................................................................... 21 2.2.1 Relevância da compatibilização ......................................................................... 22 2.2.2 Dimensões da Compatibilização de Projetos...................................................... 25 2.2.3 FMEA ................................................................................................................. 27 2.2.4 Compatibilização 2D .......................................................................................... 30 2.2.5 Compatibilização 3D .......................................................................................... 32 xii
3 DISCUSSÃO E CONCLUSÕES ...................................................................................... 38 3.1 Discussão ................................................................................................................... 38 3.2 Conclusões ................................................................................................................. 41 3.3 Dificuldades encontradas ........................................................................................... 42 3.4 Perspectivas para trabalhos futuros ............................................................................ 42 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 43 1
1
1.1
INTRODUÇÃO
Justificativa e Contextualização do Tema
Desde o início da história da humanidade, o homem tem engenhado para atingir a
melhoria de um processo ou de um produto. Foram criadas ferramentas, desenvolvidas
técnicas e, assim, superado obstáculos. Já nos últimos séculos, com a utilização da
metodologia científica, obtiveram-se novos horizontes para a engenharia e esta tem
abandonado os procedimentos empíricos por métodos racionais.
Um dos fatores geradores de motivação para determinar os limites e necessidades
dos processos de engenharia são as exigências do mercado. O processo construtivo atingiu
grandes dimensões e passou a ser mais ricos em detalhes. Também se iniciou uma
necessidade de um procedimento industrial, utilizando-se da manufatura para produção em
grande escala, visando tornar viável novas tecnologias para o desenvolvimento de um
empreendimento.
Desde os anos 60, iniciou-se o fortalecimento da demanda imobiliária. A estrutura
de desenvolvimento de projetos de engenharia começou a se desfragmentar com o aparecer
dos escritórios técnicos especializados em arquitetura, estrutura e instalações. Nesta época, os
profissionais, que anteriormente trabalhavam de forma conjunta dentro de empresas,
projetavam e construíam seus trabalhos, havendo intrinsecamente o acompanhamento do
desenvolvimento de seus projetos.
Segundo Graziano (2003), esta forma de trabalhar deu resultados satisfatórios,
pois as equipes de projeto vinham de um contato direto com a prática da construção e sabiam
as necessidades no que tange à construtibilidade e aos requerimentos das demais
especialidades envolvidas no projeto.
Com o tempo, os construtores se distanciaram das atividades de projeto e os
projetistas menosprezaram a execução dos sistemas por eles projetados. Esta segregação, fez
com que a atividade construtiva passasse a ter altos índices de erro e desperdício.
Na década de oitenta, algumas empresas e segmentos já começaram a perceber a
necessidade de compatibilizar os diversos projetos. Houve a ascensão dos coordenadores e/ou
equipes de projeto, embora ainda se observe diversos empreendimentos que pouco valorizam
esta etapa que deve compor a construção de um empreendimento.
2
As atuais exigências de qualidade do mercado, bem como as requisições das
próprias empresas de aumento de lucratividade, principalmente a curto prazo, têm exigido
cada vez mais desenvoltura dos engenheiros civis. Diversas técnicas, estratégias e perfis
operacionais têm sido desenvolvidos para aperfeiçoar todas as etapas do processo de
construção de um empreendimento, visando um produto de maior qualidade, com menor
custo e tempo de execução.
No entanto, o desenvolvimento fragmentado de projetos de engenharia costuma
por vezes causar incoerência entre suas partes, resultando em grandes custos e retrabalho.
Assim, esses devem ser detectados o mais rápido possível. Segundo Rufino (s.a.), os valores
de correção do custo para cada fase são os seguintes:
Quadro 1.1 - Custo Relativo ao estágio do produto.
Custo Relativo
Estágio do produto
1 x custos
Concepção
10 x custos
Projeto
100 x custos
Construção
1000 x custos
Produto Final
Ainda segundo Rufino, uma solução de projeto gera impacto inclusive no
processo de execução da obra, pois é a partir dele que são definidos os detalhes construtivos e
as especificações que permitem uma maior facilidade de construir, afetando nos desperdícios
de material, no tempo de execução e, consequentemente, nos custos de construção.
Segundo o dicionário da língua portuguesa, o projeto é um “plano para a
realização de um ato”, ou ainda uma “representação gráfica e escrita com orçamento de uma
obra que se vai realizar”. Diversos engenheiros e arquitetos vêm o projeto de um
empreendimento como um registro das características físicas e tecnológicas da construção. No
entanto, este deve ser entendido como mais que desenhos e memoriais descritivos.
Melhado (1994) diz que o projeto deve ser compreendido como uma atividade
multidisciplinar, envolvendo desde análises de marketing, análise de custos, até decisões
acerca da tecnologia e do processo de produção.
Assim como as outras áreas de venda de produtos e prestação de serviços, as
empresas de engenharia civil, para se manterem competitivas, precisam lançar novos produtos
atrativos em espaços de tempo cada vez menores. Uma das soluções adotadas pela indústria
foi o aumento do grau de paralelismo das atividades de desenvolvimento. Após diversos
3
estudos, esta abordagem conhecida por Engenharia Simultânea foi empregada e adaptada na
concepção dos projetos de engenharia civil, a qual visava que cada elemento desenvolvido
considerasse os demais elementos, incluindo qualidade, custo, prazos e requisitos dos clientes.
A Engenharia Simultânea é, assim, considerada uma nova linha de trabalho para
atender as diversas exigências de mercado, relacionado às mudanças do perfil do consumidor,
característica essa que se altera frequentemente nos últimos 40 anos.
Por Ashley (1992, apud PRASAD 1996), a Engenharia Simultânea “inclui valores
de trabalho em equipe, tais como cooperação, confiança e compartilhamento, de forma que as
decisões sejam tomadas, no início do processo, em grandes intervalos de trabalho paralelo
(...), sincronizadas com pequenas modificações para produzir consenso"
Embora haja disponíveis diversas técnicas de aperfeiçoamento do processo de
construção, e seja clara a necessidade de coordenar e compatibilizar projetos, diversas
pesquisas comprovam que, principalmente nas pequenas empresas, os procedimentos voltados
para o projeto bem resolvido quase inexistem. A compatibilização dos projetos é feita ao
acaso durante o desenvolvimento dos projetos e efetivamente durante a execução da obra.
Nesse sentido, um número significativo de pesquisadores e profissionais atuando
diretamente no mercado da construção civil tem concentrado sua atenção no desenvolvimento
de sistemas, métodos e ferramentas voltados a otimização dos projetos das edificações. O
escopo dos trabalhos tem sido amplo, com destaque para as estratégias de coordenação de
projetos, estabelecimento de estratégias que garantam a execução de projetos voltados a
construtibilidade.
1.2
Objetivos
Com a finalidade de conhecer e difundir o processo de compatibilização e
aplicação da engenharia simultânea, embasado pela teoria de gerenciamento de projetos,
propõe-se abaixo os objetivos geral e específicos do trabalho em epígrafe.
4
1.2.1
Objetivo geral
Analisar o processo de coordenação de projetos baseado em princípios de
engenharia simultânea e compatibilização.
1.2.2
Objetivos específicos
Delineando com detalhes o objetivo geral, almeja-se:
- Reunir informações sobre Engenharia Simultânea;
- Discutir o processo de Engenharia Simultânea aplicada a Construção Civil;
- Assinalar pontos positivos e negativos dos principais procedimentos adotados de
compatibilidade de projetos estudados no trabalho;
1.3
Metodologia
Inicialmente, por este trabalho se tratar de uma revisão de literatura, fez-se um
levantamento referencial teórico para a área de estudo. Pesquisou-se sobre a Engenharia
Simultânea como processo industrial, seu histórico e desenvolvimento. Os estudos
focalizaram posteriormente em aplicações na área de construção civil, e sua forma de
adaptação ao processo de projetos desta área.
O próximo passo foi a análise da compatibilização de projetos. O estudo sempre
teve foco à área de projetos de construção civil, onde o tema é melhor desenvolvido, o que foi
favorável para este trabalho. Optou-se por exemplificar a compatibilização através de três
técnicas, com uma abordagem prática e direta, apenas a título de exemplificação para o
processo de análise objetiva do trabalho em epígrafe.
Também foi feito um estudo introdutório ao referencial de gerenciamento de
projetos, Tecnologia da Informação e processo de projetos na Engenharia Civil. Estes temas
foram abordados durante o corpo do trabalho, devidamente referenciados.
5
A discussão enfocou na aplicação à construção civil. Colocou-se o entendimento
do autor sobre o material disponível e foram identificadas as afinidades e convergências entre
os temas de estudo. Houve, assim, um confronto entre as metodologias estudadas,
identificando seus pontos fortes e fracos direcionados à aplicabilidade dos métodos.
Quanto aos recursos necessários, por se tratar de um trabalho fortemente teórico,
não será preciso custos financeiros relevantes ou materiais que não sejam disponíveis em
meio eletrônico gratuitamente.
Foram consultados endereços eletrônicos que forneceram acessos a anais,
periódicos e artigos no domínio da Construção Civil, engenharia Simultânea, Engenharia de
produção, gerenciamento e compatibilização de projetos.
1.4
Estrutura do Trabalho
O trabalho dar-se pela coleta de dados relacionados a caracterização do processo
de coordenação de projetos empregado atualmente nas empresas de construção civil. Esses
dados são apresentados e interpretados visando a aplicabilidade dos conhecimentos presentes
no escopo deste trabalho.
O levantamento de literatura ocorreu até o término do trabalho, visando trazer a
conhecimento o que já foi desenvolvido nas áreas afins ao tema. Utilizou-se primordialmente
bibliografias em meio eletrônico.
O conteúdo final do estudo está apresentado nas seguintes subdivisões:
1. Engenharia Simultânea:
Enfoque na exposição do histórico da Engenharia Simultânea e na comparação de
sua aplicação na Engenharia de Produção e na Construção Civil. Serão detalhados seus
princípios, fundamentos, objetivos e origens.
2. Compatibilização de Projetos:
Inicia-se com uma introdução sobre as exigências implícitas na compatibilização.
Por seguida, há seções mostrando as técnicas que melhor se adéquam ao desígnio do trabalho
em epígrafe. Cada técnica foi abordada de maneira objetiva.
3. Discussão e Conclusão:
6
Apresenta-se uma breve discussão do trabalho, considerando principalmente a
aplicação do conteúdo estudado na Construção Civil. Explicita alguns pontos positivos e
negativos dos principais procedimentos adotados de compatibilidade o do processo
simultâneo de projetos. Expõe-se, por fim, as dificuldades encontradas no trabalho e
perspectivas para trabalhos futuros.
7
2
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1
Engenharia Simultânea
Muito relacionada à automação, a Engenharia Simultânea trata de um método para
o desenvolvimento de empreendimentos e produtos. Teve ascensão inicial em indústrias com
produção em série, como um diferencial competitivo relacionado à qualidade e tempo de
execução do produto final.
Como proposta inicial, a Engenharia Simultânea deve atuar em todo o ciclo de
vida do empreendimento, passando pelo projeto, produção e manutenção, relacionando-os às
aspirações do cliente. Vem-se adaptando este modelo para a indústria de Construção Civil
visando o diferencial competitivo oferecido pelo método, o que é importante devido à alta
concorrência entre grandes e pequenas empresas do setor. Pode trazer benefícios específicos à
construção, considerando os sistemas pouco eficientes adotados no meio e os diversos
desafios pela complexidade de gestão dos seus empreendimentos.
2.1.1
Conceitos e origem
Segundo Vargas (2008), o surgimento da Engenharia Simultânea veio da
necessidade de evolução dos conceitos e paradigmas da indústria, a partir do acúmulo de
experiências e conhecimentos, através de um processo contínuo ao longo da história. Ela
significa uma alternativa ao desenvolvimento e elaboração de produtos e projetos.
O autor ainda diz que consiste em um instrumento gerencial que substitui o
modelo serial, baseado em etapas sequenciais de trabalho, onde o início de uma etapa é
definida pela conclusão da anterior. Percebe-se que o desenvolvimento em série resulta em
baixa produtividade, altos custos de produção, retrabalhos e qualidade final reduzida.
O novo método apresenta o desenvolvimento das especialidades de projeto em
paralelo, através de equipes multidisciplinares e suas interações entre si. Essas equipes são
alocadas precocemente na linha de tempo do empreendimento, propiciando uma concepção
8
participativa e, assim, evitando ajustes e compatibilizações, obtendo prazos e custos
reduzidos.
Segundo Borges e Gordo (1995), por engenharia simultânea entende-se a
constante criação de novos produtos com a integração do conhecimento, experiência e
recursos nas áreas de projeto, fabricação, desenvolvimento, vendas e marketing.
2.1.2
Desenvolvimento industrial
Na história da produção industrial, pode-se ressaltar com importância o início do
século XX, onde os novos pensamentos e conceitos sobre a produção e consumo de Taylor e
Ford redefinem a atividade do ramo. Foi introduzida a produção em massa, linha de
montagem, divisão de trabalho e o controle do tempo versus atividades desenvolvidas. A
indústria obteve, assim, um pico inédito quanto a níveis de produção (CLETO, 2002). O
paradigma taylorista-fordista se apoiou sobre premissas como a produção em grande escala e
redução do custo unitário, trabalho super-especializado, sincronização, repetição e
intensificação de mão-de-obra, esta sendo bastante regulada e específica, sem envolvimento
com o processo global. Assim, estabelecem-se a correlação entre "tempo" e "capital" e a linha
de produção.
Segundo Zancul et al. (2006), a abordagem de Taylor e Ford considera a
produtividade global igual à soma das produtividades individuais. Exige um grande número
de atividades de controle e suporte, normalmente desempenhadas por técnicos especializados
em regime hierárquico. O resultado da implantação desse modelo produtivo foi o
abastecimento maciço do mercado com bens de consumo, redefinindo os padrões de vida da
população e acarretando transformações definitivas no consumo e na divisão de trabalho em
todo o mundo.
Em meados de 1960, o modelo Taylor-Ford inicia um declínio, não atendendo
mais à demanda de produtividade necessária para garantir a competitividade das empresas
(CLETO, 2002). Com os avanços tecnológicos, principalmente o eletrônico, a indústria passa
a buscar novos métodos de organização, visando produtividade. No Japão, na década de 70,
surgem as principais opções ao modelo vigente, e que seria um pontapé inicial para a atual
Engenharia Simultânea. Segundo Sicsú e Ferreira Jr. (2002), os japoneses inverteram a lógica
industrial da produção massificada, para uma produção de acordo com a demanda do
9
consumidor, flexível e em escala reduzida, com trabalhadores polivalentes e com alta
influência nas decisões sobre o processo produtivo. Eliminou-se a padronização em massa da
produção para ser customizada, voltada para as necessidades dos clientes. Assim, com os
avanços da automação, foi exigida uma maior qualificação para a mão-de-obra e mudanças na
lógica de gestão das organizações. A estrutura organizacional vertical e hierárquica (modelo
Fayol) deu lugar para a estrutura horizontal, a partir do trabalho em equipe de operário com
elevado grau de conhecimento especializado (organizações gestoras do conhecimento).
Relata Cleto (2002) que crescia também, nos setores industriais, o combate ao
desperdício. As particularidades da indústria japonesa inspiraram novos métodos e
ferramentas, visando o aproveitamento máximo dos recursos. O cenário da economia
japonesa pós-guerra, impossibilitada de conceber produções de automóveis em larga escala,
visto o tamanho reduzido do mercado consumidor, favoreceu o surgimento do sistema de
trabalho focado na eliminação total de desperdícios. O conjunto de ações foi batizado de
"Lean Production", ou "Produção Enxuta" e nasceu na fábrica da Toyota Motor Company,
comandado por Taiichi Ohno. Por isso, o Lean Production passou a ser mais conhecido por
"método Toyota de produção".
A Produção Enxuta tinha princípios diferentes dos da produção em massa,
principalmente no que se refere à gestão dos materiais (matérias-primas, produtos em
processo, componentes, conjuntos e produtos acabados) e à mão-de-obra nas fábricas. Podem
ser citados alguns alicerces elementais do método, como o Just-in-Time, automação com
toque humano (“autonomação”), polivalência dos trabalhadores, defeito zero, Kaizen,
produção em pequenos lotes, entre outros.
No modelo lean, implantado pela Toyota, elimina-se a produção massiva, com
variedade reduzida e quantidade de produtos aumentada, e insere-se a produção direcionada e
flexível, com opções de modelos conjugados à produção sob demanda, em quantidades
menores, reduzindo o inventário de produtos, custos e tempo de produção. O sistema Toyota
revoluciona os métodos de produção por ser uma contrapartida à produção em massa, agindo
diretamente sobre a produção. Vargas (2008) diz que a filosofia da produção enxuta ajudou a
compor o cerne da Engenharia Simultânea, uma filosofia produtiva cuja ação emana
principalmente sobre a etapa de projetos.
O Institute of Defense Analysis (IDA) produziu, em 1986, um documento
intitulado The Role of Concurrent Engineering in Weapons Acquisition, que realiza uma
sistematização para a integração de todo o ciclo de vida do produto envolvendo os projetos
diversos que o compõem, a produção e a assistência. Ele contempla todo o processo
10
produtivo, da concepção inicial às vendas, passando pela manufatura, sempre considerando as
necessidades do usuário. Essa sistemática foi chamada de Concurrent Engineering, ou
Engenharia Simultânea (PERALTA, 2002).
2.1.3
Valorização do projeto
O PMI (2004) define projeto como “um esforço temporário, com a intenção de
criar um produto ou serviço exclusivo. É elaborado progressivamente e em etapas, realizado
por pessoas, com recursos finitos, sendo submetido a planejamento, execução e controle.”.
Um produto normalmente envolve não apenas um projeto, e sim uma série deles que se
complementam.
A atividade de desenvolvimento de produtos, no setor de produção, opera por
meio de projetos (OLIVEIRA; PEIXOTO, 2007). Com isso, faz-se necessário valorizar a
etapa de constituição de projetos em relação ao produto. Segundo Vargas (2008), essa
preocupação iniciou-se na década de 80, onde se passou a observar a complexidade de
gerenciá-los, dada pela comunicação entre os diversos projetos que se relacionam entre si, as
atividades agregadas à sua elaboração e a divisão de suas responsabilidades. Aos poucos,
atender esses fatores tornou-se determinante para a competitividade das empresas.
Para Fabrício (2004), tradicionalmente, a gestão de projetos consistia
majoritariamente no encadeamento linear de suas etapas, desenvolvidas independentemente
das demais, um após o outro. Esse tipo de alocação resulta em problemas diversos, como a
falta de interação entre as diferentes especialidades de projeto, sendo necessário
compatibilizá-los entre si, elevando o tempo de processo e o custo.
Cita-se como ponto fraco deste processo o custo agregado às alterações de
projetos. Algumas podem ser bastante onerosas, pois há as tomadas de decisões por etapa e
estas precisam ser revisadas. Outro ponto a ser considerado, é a perda do caráter de concepção
do projeto, dado que as compatibilizações podem exigir que a idéia inicial seja adaptada aos
requerimentos dos demais projetos envolvidos com o produto. Fabrício (2004) lista as
seguintes perdas acarretadas pelo fluxo linear de projetos e pela fragmentação de suas
disciplinas:
• Eliminação da possibilidade de discussão de propostas alternativas de projeto;
• Custo considerável de tempo e recursos para as modificações no projeto;
11
• Issolamento entre
e
os pro fissionais das
d disciplin
nas envolviddas;
• Desconsider
D
ação da connstrutibilidaade e suprim
mentos na cooncepção do
os projetos
execuutivos;
F
ão de dadoss de projeto,, dificultand
do a manuteenção da con
nsistência
• Fragmentaçã
destees;
• Perda
P
de info
ormação aoo longo do período
p
de projeto;
p
• Maiores
M
estim
mativas inccorretas sobrre o custo do
d produto.
De acordo
a
com
m Fabrício (22002), denttro de um processo
p
de projeto, ass decisões e
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nar mais carras à medid
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po. De fato,,
quannto mais no início o pro
ocesso estiveer, maior seerá a liberdaade para proopor soluções, e menorr
será o custo dessas decisões.
d
A
As alteraçções que surgirem
em decorrrência dee
incom
mpatibilidaddes entre prrojetos tenddem a ser on
nerosas quaando se deseenvolve um
m projeto dee
modoo sequenciaal.
Figura 2.1 - Nível de Infl
fluência x Tem
mpo de Projeto
o (VARGAS, 22008)
A vaalorização do
d Projeto dentro do processo
p
in
ndustrial foii um imporrtante passoo
em ddireção a mudança
m
de paradigma da produçãão. Neste co
ontexto, a E
Engenharia Simultâneaa
ofereece uma altternativa paara o sistem
ma de projeto e produ
ução. Seu conceito see baseia naa
integgração total e antecipaada dos atuaantes no prrocesso, ao compreendder simultan
neamente o
12
projeto do produto, os projetos complementares e o de produção, em um ambiente de mútua
cooperação, com foco em comunicação e interatividade. Este processo coletivo e
multidisciplinar permite maior permeabilidade entre suas partes, levando a redução do tempo
de projeto, maior controle da qualidade e até uma manufaturabilidade mais controlada e
precisa, com a simplificação dos produtos e a eliminação de etapas e interfaces (FABRÍCIO,
2002).
De acordo com Zancul et al. (2006), visando minimizar o custo de produção e o
prazo de lançamento de produtos, as empresas precisam realizar profundas alterações
organizacionais e de processos em seus quadros. Para tanto, podem adotar os princípios da
Engenharia Simultânea: formação de times multifuncionais de desenvolvimento; instauração
de uma política de qualidade em seus processos; suporte da Tecnologia da Informação como
ferramenta de trabalho.
Para Corrêa e Andery (2006), a Engenharia Simultânea se apresenta como um
referencial teórico desdobrado em diretrizes e ferramentas, diferente da metodologia
sequencial vigente na indústria, por sua integração de produtos e processos. Esta pode ser
explicada pelo paralelismo dos processos, em times multidisciplinares, e pela adoção de
ferramentas automatizadas para a realização de processos componentes.
Para definir o tema de estudo, Passamani (2002) usa o conceito de “método de
trabalho onde as equipes de projeto se comunicam intensamente, e conseguem acessar e
compartilhar informações pertinentes ao projeto e às atividades envolvidas com rapidez e
agilidade, dispondo de autonomia e exercendo intensa interação com clientes e fornecedores
internos e externos”.
Estorillo (1998 apud VARGAS 2008) afirma que a principal característica da
Engenharia Simultânea é a redução dos prazos de desenvolvimento e manufatura dos
produtos. Consequentemente, acarreta na diminuição de seu custo de produção. O paralelismo
das atividades e a antecipação da maioria dos problemas presentes na etapa de projeto, evita o
dispêndio de tempo e recursos na busca por soluções. O paralelismo se apóia na formação de
equipes que envolvem profissionais de todas as áreas e etapas da vida útil do produto, da
concepção às áreas de manutenção e suporte.
13
3
Figgura 2.2 - Engenharia Sequeencial x Engen
nharia Simultâânea (FABRÍC
CIO, 2002)
Fabrrício (2002)) ressalta a multiplicid
dade de defiinições exisstentes paraa o conceitoo
de E
Engenharia Simultânea
S
enquanto m
metodologia de gestão
o de projetoos e de pro
odução. Seuu
conceito abranggente pode ser
s visto coonforme as necessidadees e o intereesse de cad
da autor e o
ambiiente em quue é aplicado
o. Desta forrma, declaraa-se a seleçãão de caractterísticas:
• Organização
O
o do fluxo dde projeto e da produção
o para propiiciar a sobreposição
cronoológica e esspacial das atividades.
a
A
Assim, há a diminuição
o do tempo de projeto;
• Antecipação
A
o das princippais tomadaas de decisões e resoluçções de confflitos do
proceesso, agindoo como um catalisadorr das soluções para prob
blemas de pprojeto;
• Equipes
E
mulltidisciplinaares e multiffuncionais de
d projeto;
• Desenvolvim
D
mento em paaralelo da criação e pro
ocesso de m
manufatura do
d produto;
• Destaque
D
no gerenciameento do pro
ocesso de projeto;
• Definição
D
dee um responnsável pela coordenaçã
c
o geral do pprocesso de
desennvolvimento do produtto;
• Concentraçã
C
ão de recursoos no início
o do projeto;
• Utilização
U
dee ferramenttas automatiizadas para aperfeiçoarr os processos;
• Disponibilid
D
dade e faciliddade no aceesso às inforrmações;
• Forte
F
interfaace com o clliente e forn
necedores in
nternos e exxternos;
• Retro
R
envolv
vimento doss subcontrattados e vend
dedores;
14
• Foco na melhoria contínua e no aprendizado.
2.1.4
Projeto na construção civil
Fabrício et al. (1998) diz que o processo de projeto na Construção Civil é
considerado atrasado, de baixa eficiência e gerador de grandes desperdícios. Corrêa e Andery
(2006) seguem a mesma linha de raciocínio ao afirmarem que se trata de um setor da
economia caracterizado por indicadores desfavoráveis referente a produtividade, qualidade,
desperdícios, prazos e custos, com um mercado instável e de alta competitividade.
A imagem negativa do setor se dá, também, pela pouca importância dada à
atividade de projeto que é fundamental para a qualidade dos produtos e para a atividade da
produção. Na Construção Civil, os projetos têm sido tratados pelas empresas responsáveis
pela construção (produção) como uma atividade secundária. Apesar da importância desta
etapa, são contratados projetistas independentes baseado, preponderantemente, no preço do
serviço. Os projetos podem, ainda, ser caracterizados por especificações e detalhamentos de
produto incompletos e falhos, devido a falta de orientação para a definição do produto,
visando sua construtibilidade. Assim, é durante a obra que a equipe de produção acaba
decidindo determinadas características do edifício não previstas em projeto. (FABRÍCIO et
al., 1998)
Ballard e Koskela (1998) atribuem os problemas do setor à má concepção do
programa de projeto, a comunicação falha, a incapacidade técnica dos profissionais
envolvidos e a falta de confiança no planejamento inicial no trabalho de projeto.
Em seu trabalho, Melhado (1999) aponta despreparo e/ou desinteresse por parte
dos projetistas e construtores quanto às definições preliminares de projeto. Estas são
realizadas informalmente pelos arquitetos, sem a participação dos outros projetistas. Também
cita, entre vários problemas, a falta de coordenação entre as disciplinas de projeto e a
ineficiência do sistema de comunicação adotado. Fabrício (2002) conclui que o investimento
na fase de projetos pode reduzir de significativamente os custos mensais e finais e agregar
valor e qualidade ao produto final.
15
2.1.5
Aplicação na Construção Civil
Vargas (2008) afirma que, atualmente, a indústria no Brasil encontra-se em um
momento econômico favorável à modernização de seus métodos gerenciais, considerando a
estabilidade do Real, dívida pública sob controle, receptividade para o capital estrangeiro,
situação política, queda das taxas de desemprego e um aumento do consumo da população.
Também considera o aumento das exportações, os programas sociais de combate à pobreza
extrema e uma larga oferta de crédito para setores estratégicos.
O mesmo autor explica que a expansão do mercado consumidor resulta em maior
competitividade. É razoável afirmar que as empresas que adotam estratégias de gestão
voltadas à otimização da produção terão vantagem na conquista das oportunidades do
mercado.
Pode-se afirmar que a indústria da Construção Civil está entre as mais
beneficiadas economias devido à política econômica nacional em atividade. Mesmo com o
período de crise observado nos últimos anos em todo o mundo, o setor apresenta ótimas taxas
de crescimento desde 2007, principalmente no que se refere à habitação, para a qual há fortes
incentivos do Governo a partir da redução das taxas de juros. Assim, torna-se propício o
investimento na modernização da estrutura produtiva desta indústria. A Engenharia
Simultânea apresenta um incremento da produtividade, através da redução do prazo de
desenvolvimento e os custos da produção, e focando na qualidade do processo e do produto
final.
Procuram-se no histórico de desenvolvimento industrial as soluções das
dificuldades do desenvolvimento seriado e dos empecilhos à produtividade decorrentes deste
método. Assim, diversos autores têm sugerido a adoção de conceitos da Engenharia
Simultânea para a indústria da Construção Civil.
Vargas (2008) diz que a indústria da Construção Civil tem buscado adaptar o
conceito de Engenharia Simultânea à sua estrutura produtiva, almejando maior capacidade
competitiva e desenvolvimento de novos produtos que atendam às necessidades dos clientes,
bem como o ganho em qualidade, eficiência e a redução de custos e prazos da produção.
No entanto, a adoção da Engenharia Simultânea para a realidade operacional da
Construção Civil é mais que a "importação" do seu conceito, de um meio produtivo para
outro. Fabrício (2002) explica que a filosofia do método foi desenvolvida em setores
16
industriais que diferem em cultura, estruturas produtivas e desafios competitivos da
Construção Civil.
Com isso, faz-se necessária uma formulação para comparar e destacar os pontos
de desconexão entre o modelo de indústria que deu luz ao método da construção civil. Vargas
(2008) pontua exemplos como a organização administrativa, os desafios competitivos, a
disponibilidade e a qualidade de seus recursos, a qualificação da mão-de-obra, entre outros.
Ainda sugere que se analisem as divergências entre as duas realidades produtivas.
Diversos autores utilizam o quadro a seguir, desenvolvido no trabalho Fabrício
(2002), ilustrando os principais pontos divergentes entre o ambiente produtivo da indústria
seriada e da construção civil.
Quadro 2.1 - Síntese em íntegra das discrepâncias entre relacionadas ao ambiente de projeto na construção de
edifícios e na indústria de manufaturados em série. (VARGAS, 2008)
Natureza do
Na construção, o planejamento e a programação do empreendimento, bem
empreendimento como a concepção de projetos e de produção são muito mais segregados
de construção
(a cargo de diferentes agentes) que na manufatura; O negócio da
construção de edifícios envolve aspectos imobiliários que condicionam o
sucesso do edifício à capacidade de incorporar terrenos, deslocando parte
dos requisitos de sucesso do empreendimento da esfera produtiva para a
área imobiliária.
Tipo e
O longo ciclo de vida faz com que seja problemático o planejamento de
características
todas as transformações e solicitações que o edifício sofrerá durante sua
do produto
existência; Além disso, a grande duração dos edifícios cria superposições
entre o ciclo de vida do empreendimento, o ciclo de vida do usuário e as
dinâmicas urbanas.
Peculiaridades
Dimensões estéticas, culturais, históricas e urbanas envolvidas no projeto
do projeto no
de arquitetura; Cisão entre concepção do empreendimento enquanto
setor
negócio, a cargo de promotores e incorporadores; enquanto produto, a
cargo dos projetistas de arquitetura e engenharia; e enquanto construção,
a cargo das construtoras, subempreiteiros e funcionários de obra; Os
projetistas frequentemente estão envolvidos em mais de um
empreendimento ao mesmo tempo.
17
Cultura e
aspectos
relacionais
Fornecedores
Escala de
produção
Limitações do
Canteiro
As relações entre agentes são muito mais sazonais e contratuais, pautadas
pelo ciclo de empreendimentos não repetitivos;
Ao contrário da manufatura, na construção, os clientes contratantes
costumam interferir significativamente na gestão interna do
empreendimento e na sua produção;
A formação dos engenheiros e arquitetos é fragmentada e pouco voltada à
gestão de processos/
Como destacam Lana; Andery (2001), o mercado de trabalho é mais
dinâmico que os perfis curriculares e o modelo de formação das
universidades e faculdades nacionais.
Predomina no setor uma forte fragmentação e heterogeneidade entre os
tipos de fornecedores (indústrias, subempreiteiros, projetistas, etc.) que
participam do empreendimento;
Por diversas razões geográficas e de mercado, a manutenção dos mesmos
fornecedores, em diferentes empreendimentos, é bastante dificultada;
Dados os diferentes portes das empresas envolvidas, o poder de
negociação com os fornecedores é mais restrito e variado conforme o tipo
de fornecedor; Parte substancial da inovação tecnológica no setor de
construção é desenvolvida pelos fornecedores de materiais e
componentes.
A construção costuma trabalhar com pequenas escalas, o que reduz,
relativamente, a possibilidade de amortização dos custos do projeto; Na
indústria de produção seriada a Engenharia Simultânea trata da gestão do
projeto e desenvolvimento de produtos até a realização do protótipo e
disponibilização do projeto para produção em escala. Na construção, a
realização do protótipo se confunde com a realização do empreendimento
e, assim, o método se sobrepõe à gestão do empreendimento.
Na construção o local de produção (canteiro) é muito mais sujeito a
variações e intempéries.
Percebe-se que há certa discrepância entra as características relacionadas dos dois
setores de produção. No entanto, Tahon apud Fabrício (2002) relata as semelhanças de fatores
determinantes como competitividade e produtividade, que seguem:
• Aumento da produtividade;
• Diminuição dos prazos de concepção e disponibilização dos produtos;
• Redução dos custos dos processos e dos produtos.
Fabrício (2004) demonstra a possibilidade de desenvolver uma nova metodologia
a partir de princípios da Engenharia Simultânea. Foca seu trabalho em especificidades de
“formação das equipes, organização do projeto, fatores de competitividade, introdução de
inovações nos produtos, na técnica produtiva e na gestão”.
Vargas (2008), baseado no trabalho de Fabrício (2004), apresenta o quadro
seguinte, onde há uma comparação entre a indústria seriada e da construção civil:
18
Quadro 2.2 - Transposição em íntegra da filosofia da Engenharia Simultânea da Indústria Seriada para a
Construção Civil (VARGAS, 2008)
Indústria Seriada
DesenvolTotalmente controlado pela empresa
vimento de responsável, sendo inteiramente
Novos
desenvolvidos sob seus domínios,
Produtos
desde o marketing até a simulação e
prototipagem, tanto do produto quanto
do processo.
Equipes de Mobilização de funcionários e
Projeto e de departamentos integrantes dos
Produção
quadros da própria empresa, que
podem estar presentes durante toda a
duração do empreendimento.
Profissionais de projeto, de produção
e fornecedores são definidos desde o
início e podem participar exclusiva e
integralmente do processo.
Prazos de
Desenvolvimento do
Produto
Introdução
de
inovações
Construção Civil
Ocorre de forma pouco sistematizada,
fragmentado em diversos agentes
independentes, gerando processos
estanques e descoordenados;
Relações contratuais entre a empresa
promotora, os projetistas, a empresa
responsável pela execução e os
fornecedores, com contratos de
duração menor que a do
empreendimento e dispersos ao longo
do mesmo. Empresas e profissionais
terceirizados envolvidos em vários
empreendimentos ao mesmo tempo.
Heterogeneidade de origem e natureza
dos fornecedores e subempreiteiros.
Busca pela capacidade de desenvolver Busca por manter ou ampliar a
novos produtos e lançá-los no
agilidade no processo de projeto ao
mercado com a maior agilidade
mesmo tempo em que este processo é
possível.
qualificado, resultando em projetos de
maior qualidade e construtibilidade;
desenvolver projetos de produto e
para produção que viabilizem uma
redução do prazo de execução da
obra;
- Grande valorização para inovações
- Mercado consumidor tradicional
conceituais nos produtos, que
com pouco espaço para grandes
normalmente acontecem a cada nova
inovações conceituais;
geração de produtos;
- Inovações tecnológicas e
- Inovações tecnológicas normalmente construtivas seguem na linha de
seguem as inovações conceituais;
racionalização da construção a partir
- Grande espaço para inovações
de uma base técnica instalada;
gerenciais;
- Grande espaço para inovações
gerenciais, com destaque para a
instauração de Sistemas de Gestão da
Qualidade;
Baseado nessas informações, o autor desenvolve o conceito da Engenharia
Simultânea em seu trabalho, de forma a se adequar às especificidades da Construção Civil,
nomeado de Projeto Simultâneo por Fabrício; Melhado (2002).
19
2.1.6
Processo de projeto tradicional x projeto simultâneo
Em concordância com vários autores estudiosos do assunto, pode-se aproximar o
processo tradicional de projetos à uma indústria com etapas em série. Segundo Melhado et al.
(2005) as diversas disciplinas que geram o produto final agem apenas dentro das suas
respectivas especialidades, sem se preocupar com a visão macro do desenvolvimento do
produto. O impacto é a geração de um produto final com baixa qualidade e alto custo de
produção.
“Os grupos tradicionais de projeto de edifícios são estruturados como
uma espécie de equipe de revezamento em que cada projetista
desenvolve sua parte ou especialidade do projeto e passa o canudo
para o projetista seguinte numa sucessão em que o projeto resulta da
soma das contribuições individuais dos diversos projetistas e agentes
decisórios”. (FABRÍCIO; MELHADO, 2002 apud MIKALDO JR.,
2006)
No projeto simultâneo, diferente do processo de projeto tradicional, há integração
entre todos os envolvidos, que é fundamental para um produto final de qualidade.
(FABRÍCIO; MELHADO, 2002).
Segundo Scheer (1997), a engenharia simultânea causa uma mudança no fluxo de
processos de tarefas sequencialmente executadas para tarefas realizadas concomitantemente.
Além disso, realiza uma intensa troca de informações sobre os projetos, favorável à
organização entre as equipes dos projetos e, também, os outros setores, como o setor de
produção, vendas e marketing. O conceito do método também abrange o conceito de projeto
orientado à manufaturabilidade (analógico a construtibilidade na construção), onde a fase de
projeto foca nos processos relevantes para a sua fabricação.
Mikaldo Jr. (2006) apresenta alguns grupos e pesquisadores que estudam a
aplicação da Engenharia Simultânea: o TG33 - Concurrent Engineering in Construction - do
Council for Research and Innovation in Building and Construction (CIB); o GEMAP
(Groupe de Réflexion sur lê Management de Projets) na França; o PCA (Plan Construction et
Architecture). No Brasil, cita: Fabrício; Melhado (1998, 2002), Fabrício et al. (1998), Andery
(2000), Jobim (2000), Brasiliano (2000), Romano et al. (2001), Fabrício (2002), Scheer
(1997).
20
0
A proposta
p
de Projeto Siimultâneo desenvolvid
d
da por Fabrrício (2002)) parte dos
conceitos de collaboração aplicados em
m outras ind
dústrias, não
o impondo aao setor de construção
a rigiidez e compplexidade dos métodoss e das ferraamentas asso
ociadas à Enngenharia Simultânea.
S
Almeeja-se, portaanto, desenv
volver um m
modelo próp
prio de gesttão do proceesso de projeto afim às
caraccterísticas e possibilid
dades setoriiais, consid
derando os paradigmaas contempo
orâneos de
organnização de projetos e as novas poossibilidadees tecnológiicas no trattamento e organização
o
dos ffluxos de innformações.
Defiine-se, como Projeto Siimultâneo, no âmbito da
d construçãão de edifíccios, como:
"O desenvolvvimento in
ntegrado das
d
difereentes dimeensões do
emp
preendimennto, envolvendo a forrmulação cconjunta daa operação
imo
obiliária, doo programa de necessid
dades, da cooncepção arrquitetônica
e teecnológica ddo edifício e do projeto
o para produução, realizaado através
da colaboração
c
o entre o agente promotor, a consttrutora e os projetistas,
con
nsiderando aas funções subempreite
s
eiros e forneecedores dee materiais,
de forma a oorientar o projeto
p
à qualidade
q
aao longo do ciclo de
prod
dução e usoo do empreeendimento" (FABRÍCIO
O, 2002).
De acordo
a
com
m Melhado eet al. (2005), o processso de projetto se inicia a partir de
um ccliente, vistoo pela ótica das suas neecessidades e expectatiivas, e term
mina no clien
nte-usuário,
com o desempeenho do pro
oduto ou serrviço, que deve
d
atendeer às necesssidades e expectativas
iniciaalmente forrmuladas. Concordando
C
o com o au
utor, Fabríciio (2002) appresenta na Figura 2.3
as prrincipais interfaces dos projetos.
Figuura 2.3 - Interffaces do Proceesso de Desennvolvimento de
d Produto na Construção dde Edifícios. (F
FABRÍCIO,
2002))
21
As interfaces da Figura 2.3 apresentam a necessidade de uma comunicação
eficiente e eficaz entre todos os agentes envolvidos no processo, bem como o usuário final
que contribui para a validação das expectativas previamente definidas no início do
desenvolvimento do produto (FABRÍCIO, 2002).
2.2
Compatibilização
A compatibilização de projetos é a etapa que integra os projetos correlativos de
um empreendimento, além do seu próprio gerenciamento, visando o perfeito ajuste entre as
partes. Também apresenta grande relação à obtenção dos padrões de controle de qualidade da
obra.
Segundo Graziano (2003), a compatibilidade é definida como atributo do projeto,
cujos componentes dos sistemas ocupam espaços que não conflitam entre si e, além disso, os
dados compartilhados tenham consistência e confiabilidade até o final do processo de projeto
e da obra.
Pode-se resumir esta etapa como uma sobreposição de projetos. Deve-se, então,
fazer uma parametrização das interferências entre os projetos, de modo a otimizar sua
compatibilização, afim de preservar os principais aspectos qualitativos na correção das
diferenças apresentadas. Picchi (1993) está de acordo com essa metodologia afirmando que a
compatibilização de projetos compreende a atividade de sobrepor os vários projetos e
identificar as interferências. Adiciona que também deve-se programar reuniões, entre os
diversos projetistas e a coordenação, com o objetivo de resolver interferências que tenham
sido detectadas.
Para Rodríguez e Heineck (2001), a compatibilização deve acontecer em cada
uma das seguintes etapas do projeto: estudos preliminares, anteprojeto, projetos legais e
projeto executivo, indo de uma integração geral das soluções até as verificações de
interferências geométricas das mesmas.
Em sincronia com essa idéia, Novaes (1999) destaca que a incorporação do
universo de variáveis que condicionam o projeto, desde o estudo de viabilidade até a
conclusão do empreendimento valoriza a atividade de compatibilização, mesmo sem detalhar
como se poderiam fazer estes procedimentos.
22
Tavares Jr (2002) apresenta, por exemplo, um método para compatibilização de
projetos direcionado a empresas de pequeno porte destacando que nestas, pela não utilização
desta etapa do processo dos projetos, ocorrem má qualidade da edificação, aumento do
retrabalho e do custo global da construção. A presença do compatibilizar de processo é
fundamental para o método.
Novaes (1998) destaca que este procedimento deve ser realizado no domínio da
coordenação de projetos, com o intuito de conciliação física, geométrica e tecnológica, além
da produtividade dos componentes que interagem nos elementos verticais e horizontais das
edificações. Os procedimentos se constituem em um importante fator de melhoria da
construtibilidade e da racionalização por promover a integração dos diversos agentes e
especialidades com a produção.
2.2.1
Relevância da compatibilização
Na pesquisa da FINEP e ITQC (1998) apud Mikaldo Jr. (2006) de análise de
desperdícios, constatou-se que um dos maiores agentes causadores é a falta de
compatibilização entre os projetos.
Castro (1999) relata que diversas manifestações patológicas encontradas em
edifícios estruturados em aço são problemas bastante comuns, devido principalmente a
interferências entre o projeto estrutural e os projetos de instalações. Afirma também que estas
interferências provenientes de incompatibilidades de projetos ou de modificações no decorrer
da construção ocorrem por falta de uma melhor coordenação entre os diversos sistemas
construtivos envolvidos.
De acordo com Egan (1998 apud MIKALDO JR. 2006), estima-se que 30% da
construção é retrabalho pelo fato das atividades não estarem otimizadas e compatibilizadas.
A falta de racionalização, observada em grande número de obras, contextualizada
com a segregação de responsabilidades de projeto e execução, é reflexo do desenvolvimento
do setor nos últimos 30 anos, conforme relatado por Graziano (2003). Surge a necessidade de
coordenar e compatibilizar projetos, devido principalmente a separação de projeto e
23
execução. Além disso, Mikaldo Jr. (2006) também cita, como agentes geradores de
necessidade de compatibilização:
a) Especialização cada vez maior das diferentes áreas de projetos;
b) Conformação de equipes de projeto localizadas em diferentes localidades;
c) Número crescente de soluções tecnológicas sendo agregadas nos
empreendimentos.
Para Rodriguez (2005 apud MIKALDO JR. 2006), a melhoria do processo será
alcançada apenas com ações que estimulem a formação de equipes cooperativas de trabalho e
a integração entre o projeto e a produção. Sugere que as relações contratuais são a ferramenta
que deve consolidar esta forma de atuação.
Graziano (2003) lista a responsabilidade de clientes e projetistas que justifica a
compatibilização dos projetos, conforme segue:
Quadro 2.3 - Responsabilidades de Clientes e Projetistas na Compatibilização de Projetos (GRAZIANO, 2003)
Responsável
Ações
Postergação de decisões que influem no desenvolvimento dos
projetos;
Cliente
Fornecimento de dados incorretos ou incompletos como base
para o desenvolvimento dos projetos;
Falta de capacidade para análise técnica dos diversos projetos
e para as tomadas de decisão.
Desinteresse e ignorância sobre os demais projetos (sua fases
e necessidades);
Descomprometimento com a interação;
Projetista
Falta de normalização na troca de informações entre
projetistas (documentação sem padronização; arquivos
eletrônicos);
Pouco conhecimento das técnicas executivas de obra.
Ainda cita os seguintes exemplos:
a) Deficiência no levantamento topográfico (efeito "saia justa");
b) Indefinição dos elementos de compartimentação (paredes, revestimentos);
24
c) Perda da compatibilidade por postergação de definições (contrapiso, furações,
shafts,...);
d) Planejamento tardio do canteiro (guinchos, gruas, administração,..).
Porém, mesmo havendo um bom intercâmbio entre profissional dos projetos e
construtora, os projetos sempre carecem de um melhor detalhamento, especificação e
compatibilização, pois o mestre de obra nem sempre está apto ao entendimento do projeto
(JACOSKI et al., 2004).
Melhado (1994) complementa quando afirma a necessidade de detalhamentos a
favor do processo, destacando cada etapa com sua análise crítica e compatibilização, com
foco na construtibilidade.
Kamei e Ferreira (2002) identificam que os contratantes dos serviços de projeto
têm como expectativa que estes sejam entregues compatibilizados espacial e conceitualmente,
além de considerar aspectos que envolvam custos, tecnologia e prazos de execução da obra.
Observa-se que, na literatura, ainda não existe consenso na função do Gerente,
Coordenador e Compatibilizador, porém adota-se frequentemente que o primeiro concentra a
tomada de decisões estratégicas no nível mais alto da pirâmide hierárquica, o segundo
operacionaliza estas decisões e o terceiro compatibiliza as interferências nos diversos projetos
(FERREIRA, 2001).
À figura de compatibilizador de projetos cabe perfeitamente a responsabilidade de
levantar incompatibilidades e suas prioridades para planejar as ações preventivas necessárias
para otimizar o processo, bem como implantar um sistema inteligente cabível à realidade da
empresa.
Ferreira (2001), ao propor uma conceituação para os intervenientes do processo de
produção dos projetos, define o compatibilizador como “o sujeito que compreende o
raciocínio conceitual e consegue levar a informação dimensional para a discussão” dando
assim uma importância adicional para este, além da simples sobreposição de desenhos
tradicionalmente praticada.
Kamei e Ferreira (2002) complementam sua colocação ampliando o escopo e
responsabilidade do compatibilizador dos projetos, reconhecendo que suas ações podem
interferir no sucesso do empreendimento.
25
2.2.2
Dimensões da Compatibilização de Projetos
Em seu trabalho, Solano (2005) define cinco dimensões para a compatibilização,
sob responsabilidade dos compatibilizadores de projeto, conforme segue abaixo:
a) Dimensão do plano estratégico dos Projetos:
Propiciar condições para que os projetistas executem os projetos de acordo com o
cronograma estabelecido e dentro do custo. Também consta o desenvolvimento dos projetos
com o foco na produção, evitando contratempos na entrega final do empreendimento.
b) Dimensão da pesquisa de mercado:
Instruir e cobrar dos projetistas o atendimento ao programa de necessidades e ao
memorial descritivo, direcionando-os a atender aos requisitos de estética, de durabilidade e de
facilidade de manutenção do produto.
c) Dimensão da viabilidade técnico-econômica:
Utilizar indicadores geométricos, de consumo, de custos e de produtividade
considerados no estudo de viabilidade econômico-financeira. Sugere-se também usar outros
indicadores conhecidos como o índice de compacidade, taxa de formas, taxas de armaduras e
de concreto, taxa de esquadrias, taxa de tubos de esgoto, verificação dos principais itens da
curva ABC, entre outros.
d) Dimensão da Construtibilidade:
Com muita frequência, restringe-se à sobreposição de desenhos na busca de
inconformidades que possam comprometer o fluxo da construção. O autor propõe um método
direcionado à construtibilidade, operacionabilidade e sua manutenção. Para atingir aos
objetivos do método, pelo menos deve-se elaborar uma listas de verificação das zonas
vulneráveis, recomendando o uso do FMEA - Análise dos Modos e Efeitos de Falhas,
posteriormente descrito neste trabalho. Deve-se, ainda, criar regras para compatibilização,
contendo a ordem e itens como a verificação da data dos documentos que referenciaram o
desenho, ou se o projetista atendeu à padronização dos documentos e se a base dos projetos é
a versão atual do projeto de arquitetura liberado, sendo este o referencial para os demais. O
26
autor ainda sugeriu, a título de exemplo: a sobreposição do projeto no desenho a ser
compatibilizado em ponto de inserção padronizado; a verificação do desenho por campos
definidos em malha 10 x l0 cm; anotação das desconformidades e solicitações no layer do
coordenador; arquivamento padronizado com ampla divulgação para todos os intervenientes
do projeto; elaboração do plano de compatibilização de acordo com o cronograma dos
projetos, considerando o grande número de interação, devendo ser calculada pela quantidade
de tempo disponível (como em um projeto com 20 projetistas e 300 desenhos, que resulta
tradicionalmente em torno de 190 compatibilizações de construtibilidade e 300 horas de
trabalho); compatibilização dos desenhos dos projetos dois a dois, mantendo um controle bem
divulgado entre os intervenientes do projeto.
e) Dimensão da facilitação de fluxo da produção dos projetistas:
Consiste em fazer cumprir os prazos previstos no cronograma de projetos e para
compatibilização, dar ampla divulgação do processo de compatibilização por meio
compartilhado e não liberar desenhos com pendências, sejam elas técnicas ou de formatação,
mesmo por pressão do engenheiro de produção.
“Dentre as dimensões citadas, todas são importantes e necessárias
para um bom resultado final. Porém, a construtibilidade é a mais
utilizada e pode ser conceituada como um neologismo significando a
integração do conhecimento e experiência construtiva durante as fases
de concepção, planejamento, projeto e execução da obra, visando a
consecução de objetivos gerais do projeto” (CONSTRUCTABILITY,
1986 apud MIKALDO JR., 2006).
Oliveira (1993) sugere cinco categorias de princípios gerais destinados à melhoria
da construtibilidade: simplificação do projeto; padronização; sequência executiva e
interdependência entre as atividades; acessibilidade e espaços adequados para o trabalho e; a
comunicação entre projetos e obra. Mikaldo Jr. (2006) ainda complementa citando diversos
autores que identificaram ações gerenciais genéricas ligadas à construtibilidade, que seguem
abaixo:
• Simplificação de detalhes de projetos visando permitir a flexibilidade de
métodos construtivos e substituições de materiais;
• Desenvolvimento de desenhos especificando detalhes de projeto que
simplifiquem a execução dos serviços;
• Exploração da padronização dos elementos construtivos;
27
• Compatibilização de projetos de naturezas distintas;
• Exploração de técnicas modulares para as partes da obra.
2.2.3
FMEA
A Metodologia de Análise do Tipo e Efeito de Falha, também conhecida por
FMEA (Failure Mode and Effect Analysis) é uma método para evitar que ocorram falhas em
projetos, através da ferramenta de análise das falhas potenciais. Deve-se detectar o maior
número de falhas possível antes da execução do projeto. Assim, é possível propor melhorias a
este, aumentando sua confiabilidade.
Segundo Helman e Andery (1995) este método possibilita melhorias nos
sistemas, mediante a detecção de pontos problemáticos, relacionando as falhas nos elementos
do subsistema com suas consequências no sistema macro, aplicando-o nas seguintes
situações:
a) Melhoria de um produto já existente ou processo já em operação, a partir da
identificação das causas das falhas ocorridas e seu posterior bloqueio;
b) Detecção e bloqueio de causas de falhas potenciais, antes que ocorram, em
produtos ou processos já em operação;
c) Detecção e bloqueio das causas de falhas potenciais, antes que ocorram, em
produtos ou processos, ainda na fase de projeto.
Segundo Toledo e Amaral (1999), “a falha de um produto, mesmo que
prontamente reparada, causa, no mínimo, uma insatisfação ao consumidor”. Esse método
convém bastante à construção civil, pois as falhas em seus projetos costumam causar grandes
transtornos, e ainda pode causar graves riscos de vida aos seus usuários.
O FMEA proporciona uma forma sistemática de conservar informações sobre as
falhas dos produtos, oferecendo maior conhecimento a cerca dos problemas relacionado à
atividade da empresa. Com isso, sugere ações de melhoria no projeto do produto ou processo,
baseado no processo de melhoria contínua (dados e monitoração). Assim, haverá diminuição
de custos por meio da prevenção de ocorrência de falhas.
A metodologia pode ser aplicada tanto para produtos, processos e procedimentos
administrativos, embora tenha enfoque em projeto de novos produtos e processos. Dirigindo-
28
se à aplicação de projetos, são consideradas as falhas no planejamento e execução do
processo. Em outras palavras, objetiva-se a análise para evitar possíveis falhas do processo,
baseando-se em não conformidades do produto versus especificações do projeto.
Consiste na formação de um grupo de profissionais que identifique as funções, os
tipos de falhas que podem ocorrer, os efeitos e as possíveis causas em todo o processo.
Posteriormente, são avaliados os riscos das causas de falha por meio de índices. Baseado
nesta avaliação, as ações necessárias são adotadas para reduzir os riscos identificados em
acordo com os índices estabelecidos.
Em síntese, o grupo de trabalho deve definir as funções e características do
produto, relacionar com os tipos de falhas possíveis, descrever causas e efeitos para cada tipo
de falha, relacionar os meios de detecção e prevenção de falhas tomadas ou a serem tomadas e
atribuir índices de riscos para cada causa de falha. Através destes riscos, são discutidas
medidas de melhoria.
Toledo e Amaral (1999) apresentam a seguinte subdivisão da aplicação na
seguinte ordem:
• Planejamento: usualmente realizada por um responsável direto pelo
método, onde descreve os objetivos e abrangência da análise, forma os pequenos
grupos de trabalho multidisciplinares, planeja as reuniões e prepara a documentação
necessária;
• Análise de Falhas em Potencial: o grupo de trabalho discute funções e
características do processo, tipos de falhas potenciais para cada função, efeitos do tipo
de falha, causas possíveis da falha e controles atuais sobre as falhas;
• Avaliação dos Riscos: o grupo define os índices de severidade,
ocorrência e detecção para cada causa de falha independentemente, de acordo com
critérios previamente definidos;
29
Tabela 2.1 - Exemplo de Índice de Severidade (TOLEDO; AMARAL, 1999)
SEVERIDADE
Índice
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Severidade
Mínima
Pequena
Moderada
Critério
O cliente mal percebe que a falha ocorreu
Ligeira deterioração no desempenho com leve
descontentamento do cliente;
Deterioração significativa no desempenho de um
sistema com descontentamento do cliente
Sistema
deixa
de
funcionar
descontentamento do cliente
Alta
Muito Alta
e
grande
Idem ao anterior, porém afeta a segurança
Tabela 2.2 - Exemplo de Índice de Ocorrência (TOLEDO; AMARAL, 1999)
Índice
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
OCORRÊNCIA
Ocorrência
Proporção
Remota
1:1.000.000
1:20.000
Pequena
1:4.000
1:1.000
Moderada
1:400
1:80
1:40
Alta
1:20
1:8
Muito Alta
1:2
Cpk
Cpk> 1,67
Cpk>1,00
Cpk <1,00
Tabela 2.3 - Exemplo de Índice de Detecção (TOLEDO; AMARAL, 1999)
DETECÇÃO
Índice
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Detecção
Muito Grande
Grande
Moderada
Pequena
Muito Pequena
Critério
Certamente será detectado
Grande probabilidade de ser detectado
Provavelmente será detectado
Provavelmente não será detectado
Certamente não será detectado
30
• Melhoria: listam-se todas as ações, e suas respectivas viabilidades, que podem
ser realizadas para diminuir os riscos, considerando facilidade de detecção, prevenção total ou
parcial da falha ou uma de suas causas, assim como eliminar ou limitar seus efeitos;
• Continuidade: sempre que ocorrerem alterações no processo, o FMEA deve ser
atualizado, além de revisar a análise, confrontando as falhas potenciais imaginadas pelo grupo
com as que realmente vêm ocorrendo. Também conta com a incorporação de falhas não
previstas, e reavaliação das falhas já previstas.
O manual de Toledo; Amaral (1999) ainda sugere um modelo de formulário para
a análise, que segue abaixo:
Tabela 2.4 - Exemplo de Formulário FMEA (TOLEDO; AMARAL, 1999)
2.2.4
Compatibilização 2D
Esta técnica habitualmente é realizada em três etapas de compatibilização, sendo a
primeira na fase de estudos preliminares e as demais nas fases de ante-projetos e projetos
finais.
Os projetos são elaborados de modo clássico, em 2D, normalmente se utilizando
de softwares do tipo CAD. A compatibilização ocorre pela simples sobreposição de plantas,
como pode ser visualizado na Figura 2.4.
31
Figuraa 2.4 - Exempplo de sobrepo
osição do proj eto estrutural com o projeto
o hidráulico (M
MIKALDO JR
R.; SCHEER,,
2005))
Sugeere-se o uso
o de check--list, pontuaando as situ
uações de irrregularidad
des a serem
m
obserrvadas.
Um processo utilizado freqquentementte com projetos 2D é a para sobreeposição dee
paress de projeetos. Sobrepor mais de dois projetos pod
de dificultaar a visuaalização dee
interfferências físicas
fí
entree dois projjetos, sendo
o o mais aconselháve
a
el fazê-lo por
p etapas..
Lanççando os projetos baseados
b
nna arquitetura, fazem
m-se neceessárias as seguintess
sobreeposições:
E
x Hidráulico,
H
• Estrutura
• Estrutura
E
x Elétrico,
E
• Hidráulico
H
x Elétrico,
• Outros
O
projeetos x projettos já analissados.
Devvem ser emitidos relatóórios de inteerferências por
p etapa. E
Estes são ap
presentadoss
aos pprojetistas que buscam
m as melhoores soluções visando baixos cusstos e man
nutenção daa
qualiidade do em
mpreendimen
nto.
Mikkaldo Jr. e Scheer (20055) citam com
mo vantagens do métoddo o uso do
o check-list,,
que ttambém agrrega valor ao
a controle de qualidad
de, e a gran
nde facilidadde de execu
ução, pois o
princcipal requissito é conh
hecimento ssobre qualq
quer softwaare do tipoo CAD e, atualmente,
a
,
diverrsos profissiionais atend
dem o requiisito. Com a solução daas incompattibilidades, há reduçãoo
32
2
do cuusto e ganhho na qualid
dade do em
mpreendimen
nto, valorizzando o trabbalho dos projetistas
p
e
dos pprojetos em si.
Em seu estudo, Mikaldo Jrr. e Scheer (2005) aind
da relatam qque, com un
nanimidadee
entree seus entrevvistados, a compatibiliização apresenta diverssas vantageens, desde que
q haja um
m
grupoo gestor e a interação entre os pprojetistas envolvidos.
e
O grupo ggestor deve detectar ass
interfferências físicas entre os projetoss e, além diisso, proporrcionar um ambiente colaborativoo
para a busca dass melhores soluções
s
dee compatibillização.
2.2.55
Compatiibilização 3D
D
Umaa técnica dee compatibiilização quee melhor uttiliza os reccursos computacionaiss
das. Mikalddo Jr. e Sch
heer (2007))
dispooníveis na atualidade, relativo àss outras téccnicas citad
acredditam que a compatibilização 3D
D trata de uma
u
fase de
d fundamenntal importtância, poiss
abrannge e interrfere no cu
usto, flexibbilidade, qu
ualidade, in
novação e tempo do projeto doo
emprreendimentoo. Considera-se, tambbém, que a técnica causa reduução em ree-trabalhos,,
despeerdício de materiais,
m
tempo de exxecução dos projetos e compatibiilização, bem como see
utilizza adequadaamente da in
novação com
m as novas a ferramen
ntas de Tecnnologia da Informação,
I
,
propiiciando quaalidade e fleexibilidade aao processo
o.
Paraa exemplificcação do usso, Mikaldo
o Jr. e Scheer (2007) uutilizaram os softwaress
Eberrick da AlltoQI para, a partir doo plano 2D
D, lançar a estrutura eem 3D. Baaseou-se naa
arquiitetura, impportada de um
u desenhoo no formaato dxf/dwg
g. Então, feez-se a mod
delagem daa
estruutura em 3D
D, lançando os
o elementoos estruturaiis (pilares, vigas
v
e lajess).
Figura 2.5 - Lançamento dos elemento s estruturais no
n plano 2D (M
MIKALDO JR
R.; SCHEER, 2007)
33
O lançamento é feito informando a cota z (eixo vertical) no início do
desenvolvimento do projeto e ao inserir cada elemento estrutural, como mostra a figura 2.6:
Figura 2.6 - Configuração dos elementos estruturais do pilar, viga e laje (MIKALDO JR.; SCHEER, 2007)
34
4
Figuura 2.7 - Mod
delo 3D do proojeto de estruttura (MIKALD
DO JR.; SCHE
EER, 2007)
Quaanto às instaalações, o auutor utilizou
u o softwarre Hydros e Lumine daa AltoQI. A
modeelagem das instalaçõess hidráulicass em 3D se dá a partir do lançameento dos eleementos em
m
2D (cconexões, tubos
t
horizo
ontais e vertticais, lâmp
padas, interrruptores, tom
madas, duto
os elétricos,,
etc.),, baseandoo-se na arquitetura que é importad
da de um desenho dxf/ddwg.
Figurra 2.8 - Modello 3D dos projjetos de installação (MIKAL
LDO JR.; SCH
HEER, 2007)
35
5
Com
m os modelos 3D, é poossível inteegrá-los tanto em um ssoftware dee CAD quee
aceitte arquivos dxf ou no SAI - Soft
ftware de Análise
A
de Interferênci
I
ia da empreesa AltoQi..
Destaaca-se que todos os prrojetos deveem ter o meesmo ponto
o de origem
m, de coordeenada (0,0)..
Em sseu trabalhoo, o autor uttilizou a oriigem no can
nto da escad
da, justifican
ando-se por se tratar dee
um pponto em coomum na maaioria dos ppavimentos.
Figurra 2.9 - Modelo 3D da integgração do projjetos (MIKAL
LDO JR.; SCH
HEER, 2007)
Figura 2..10 - Exemplificação do Poonto de Origem
m em 3D (MIK
KALDO JR.; SCHEER, 2007)
36
As interferências físicas na integração 3D são de fácil visualização e
compreensão, como mostra a figura a seguir.
Figura 2.11 - Interferência Física entre os projeto hidráulico e estrutural (MIKALDO JR.; SCHEER, 2007)
O compatibilizador lista as interferências e, junto aos projetistas, encontram uma
solução para cada caso. As informações são repassadas internamente de forma gráfica e
escrita através de um extranet de projetos, salvando o registro das informações e tomadas de
decisões.
Sugere-se que os modelos 3D sejam gerados como parte do processo para o
dimensionamento dos projetos, utilizando softwares que permitam este artifício. Assim,
facilita-se bastante a etapa de compatibilização, tornando possível realizar esta etapa em
apenas alguns minutos.
No estudo de Mikaldo Jr. e Scheer (2007), listaram-se como vantagens do
método:
• Facilidade de compreensão e visualização das interferências;
• Verificação de um número maior de interferências na etapa de projetos;
• Redução do número de reuniões de compatibilização;
• Precisão nas alterações de projetos, como furos em vigas, evitando patologias;
• Redução do número de modificações, por facilidade de visualização;
37
• Maior compreensão de logística e execução, em função dos modelos 3D;
• Agilidade na integração dos modelos 3D;
• Redução de retrabalhos e desperdício de materiais.
E como desvantagens citadas, encontram-se:
• Falta de interoperabilidade com os softwares de projetos complementares e o
arquitetônico;
• Limitações de modelagem do software;
• Dificuldade de modificação dos modelos em 3D;
• Poucos profissionais habilitados para atuar no desenvolvimento de projetos em
3D;
• Falta de filtros no software, gerando listas de irregularidades muito carregadas;
• Algumas limitações na modelagem e nos filtros dos softwares.
Para Mikaldo Jr. e Scheer (2007), as vantagens superam as limitações. Estes
também dizem que, se as empresas de software investirem em sistemas que elaborem projetos
integrados em ambientes colaborativos, utilizando os recursos de internet, será viável ainda se
utilizar a engenharia simultânea, até ignorando fluxogramas com atividades seriais, que
segmentam as etapas dos projetos.
38
3
3.1
DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
Discussão
Acredita-se que a produção científica tem muito a oferecer à melhoria do processo
de projetos na construção civil. Como mostrado, diversas técnicas e métodos estão
disponíveis para aumentar a produtividade e competitividade de empresas do setor. Assim, o
estudo do gerenciamento e desenvolvimento da etapa de projetos de um empreendimento
pode trazer benefícios consideráveis aos produtos final, da redução do seu tempo de produção
e custos envolvidos à melhoria da qualidade.
A indústria da construção civil desenvolveu-se lentamente comparada as demais
indústrias. Ainda hoje, observam-se profissionais do ramo utilizarem métodos ultrapassados
para executar suas atividades. No Brasil, pode-se afirmar que há pouco incentivo de
desenvolvimento de recursos para o aperfeiçoamento do processo produtivo na construção,
principalmente direcionado à etapa de projetos, envolvendo o estudo e aplicação de processos
consagrados na literatura científica.
Uma característica marcante nos empreendimentos de construção civil é a
multidisciplinaridade envolvida em cada produto. Diferentes áreas do conhecimento precisam
alinhar-se para gerar um produto único final. Todas as especialidades devem coincidir em
tamanho detalhamento que permita a qualidade e conformidade da construção. Nesse aspecto,
a troca de informações entre responsáveis técnicos é essencial para gerar um processo efetivo.
De modo mais tradicional, observou-se uma solução empírica para confrontar as
diversas áreas de conhecimento envolvidas. A sobreposição dos diversos projetos oferecia a
viabilidade de separar as responsabilidades pelas especificidades técnicas. O método foi
aperfeiçoado e pode ser caracterizado por sua fácil execução, eliminando pontos de maiores
disparidade.
No entanto, cada projeto passou a enriquecer-se em detalhes e tecnologia, visando
melhoria da qualidade do produto. O empreendimento, em função de sua utilização, aumentou
consideravelmente o número de projetos complementares, tais como prevenção e combate a
incêndio e pânico, paisagismo, programação visual, etc. Nesta situação, a sobreposição de
projetos por compatibilização 2D, considerando a indicação de fazê-lo em pares, não supre
satisfatoriamente a demanda do processo.
39
Surge então a idéia de melhor utilizar os recursos computacionais disponíveis
atualmente. Algumas empresas voltadas à Tecnologia da Informação, aplicada ao processo de
projetos, passou a utilizar recursos avançados em 3D para a sobreposição de projetos. O
desenvolvimento dos projetos incluindo seus desenhos tridimensionais é bastante favorável à
efetividade da técnica, reduzindo bastante, inclusive, o tempo necessário para compatibilizar
os diversos projetos, independente de suas complexidades. Embora ainda observe-se pouca
utilização, os estudos indicam satisfação quanto à proposta do método, fazendo-se necessário
apenas investir no aperfeiçoamento de softwares, e também em marketing para disseminar a
cultura de seu uso, que é importante para a sua eficácia.
Cita-se ainda outra solução sensorial para melhorar a etapa de projetos, voltado à
compatibilização, que se trata de evitar as falhas. O FMEA consta um método desenvolvido
para atender esse item. Sua metodologia utiliza-se de profissionais capacitados e grande nível
de organização. Procuram-se exaustivamente as falhas possíveis no empreendimento e, na
etapa de projeto, foca-se em suas respectivas prevenções. Evitar constrangimento durante o
uso da construção é de grande valor para a satisfação do cliente, um dos principais
indicadores para a competitividade.
Há bastante incentivos para o crescimento do mercado de construção. Os
programas de habitação disponíveis no governo, oferta de crédito disponíveis em bancos e
aumento do consumo local geram maiores oportunidades no mercado e, consequentemente,
maior competitividade.
Dessa forma, torna-se oportuno fazer envolvimentos para a melhoria do processo
atual da construção. Podem-se perceber numerosas falhas durante a etapa de projetos que é de
fundamental importância para a qualidade e custos do produto. No escopo atual, há um atrito
entre os interesses dos envolvidos durante a vida do empreendimento, resultando na queda da
qualidade final do produto e também do processo. A tomada de decisão fica no encargo do
engenheiro de obra sobre o projeto de terceiros, o que é bastante danoso para o
empreendimento e o sistema de produção.
Observa-se que, principalmente no meio acadêmico, há uma constante busca de
meios para melhorar a etapa de projetos, embora esta etapa não esteja em foco entre as áreas
de maior desenvolvimento.
Em uma visão tradicional, existe esta ênfase na melhoria do processo de
compatibilização, utilizando, principalmente, os recursos oferecidos pela Tecnologia da
Informação. Os estudos apresentam que tal solução pode ser satisfatória, se houver maior
investimento no desenvolvimento de produtos e tecnologias, convindo de exemplo a
40
compatibilização 3D. Acredita-se inclusive que, atualmente, o mercado de construção civil
encontra-se em um período de transição e que, aos poucos, serão inseridos novos recursos que
gerem aperfeiçoamento do processo de projetos.
Observam-se semelhanças no desenvolvimento atual do processo da construção
civil com o desenvolvimento industrial. A produção em massa e competitividade entre
empresas de construção formam uma situação semelhante à situação observada na indústria,
como relatado neste trabalho. Percebe-se que a demanda do mercado sugere um processo
mais adequado às necessidades dos clientes, retirando o foco da produção em escala para a
produção com qualidade.
A engenharia simultânea apresenta princípios positivos para a melhoria de um
processo, independente de sua área. Muitos dos princípios, inclusive, presentes naturalmente
durante o processo de melhoria natural de uma empresa. De forma intuitiva, alguns princípios
podem ser introduzidos na política interna de empresas capacitadas para suprir as
necessidades do mercado de trabalho, dentre elas, presentes no trabalho de Fabrício (2002),
lista-se: definição de um responsável pela coordenação dos projetos; utilização de ferramentas
automatizadas; disponibilidade e acesso às informações e; foco na melhoria contínua e
aprendizado.
Assim, cabe a avaliação da inclusão destes itens ao entendimento dos benefícios
disponibilizados pela Engenharia Simultânea. Os princípios citados podem ser observados
como recomendação de diversas técnicas no estudo de gerenciamento de projetos. Foca-se,
então, nos seguintes princípios que realmente caracterizam a mudança do processo de
projetos, tais seguem:
• Sobreposição das atividades antes seriadas, diminuindo o tempo de
projeto;
• Antecipação das tomadas de decisões e soluções de conflitos do
processo;
• Equipes multidisciplinares;
• Paralelismo entre criação e manufatura;
• Concentração de recursos no início do projeto;
• Maior relação com cliente, fornecedor, subcontratados e vendedores.
Há disparidades marcantes na indústria de produção e na construção civil. A
cultura rege o processo de construção civil, dificultando o uso de técnicas industriais na
construção. Entre alguns fatores que impossibilitam maior estabilidade no ramo imobiliário,
41
percebe-se a intervenção dos clientes, descentralização da tomada de decisão, falta de
detalhamento nos projetos e desvalorização da construtibilidade.
Ainda assim, os itens listados podem apresentar benefícios à construção civil,
como pode ser observado na história do desenvolvimento industrial. No entanto, faz-se
necessário adaptar tais preceitos à realidade da construção civil, considerando principalmente
sua dinâmica e tradição processual.
3.2
Conclusões
Houve uma explanação sobre o desenvolvimento histórico e surgimento da
Engenharia Simultânea, até a introdução deste método voltado à construção civil. Diversos
autores mostram-se a favor da adaptação à construção civil, como parte de uma melhoria
contínua no setor da construção.
Devem-se considerar as grandes diferenças entre o processo de produção do setor
imobiliário e do setor industrial, berço da Engenharia Simultânea. Acredita-se que,
atualmente, haja oportunidade do desenvolvimento do método direcionado à construção civil,
devido ao investimento disponível na infra-estrutura nacional e alta competitividade entre
empresas de construção e escritórios de projetistas. Mas há certa dificuldade em aplicar a
Engenharia Simultânea na construção civil devido a tais disparidades. Os preceitos são
aplicados para a manufatura, com um processo continuo e relativamente mais estável que é
observado na construção.
Assim, a Engenharia Simultânea, sobretudo, sugere uma mudança de filosofia do
processo de produção do produto. Teoricamente, há diversos benefícios a serem agregados
principalmente na etapa de projetos da construção civil, mas estes são de difícil aplicação
devido ao setor se apresentar fortemente tradicional quanto ao seu desenvolvimento de
produtos.
Por fim, o trabalho aborda o processo de compatibilização que, favoravelmente,
está incluso no processo tradicional da construção, devido à frequente observação de
desperdícios e alto custos por interferências entre projetos. Seu investimento se justifica pelo
prevalecimento dos pontos positivos aos negativos das técnicas apresentadas neste trabalho,
que geram a melhoria da etapa de projetos e, consequentemente, de toda a vida útil do
empreendimento. A compatibilização dos projetos com Técnicas como a compatibilização 2D
42
para empreendimento de pequeno porte e a 3D para médio e grande porte antecipam o
problema antes de sua construção, causando a redução de custo e, assim, melhoria e agilidade
do processo. O FMEA também foi explanada, podendo ser particularmente efetivo na redução
de erros por falta de consideração da construtibilidade.
3.3
Dificuldades encontradas
A proposta inicial do trabalho foi bastante alterada devido à abrangência do
conteúdo disponível sobre gerenciamento de projetos. Então, houve uma delimitação do tema
focada na discussão da compatibilização e na engenharia simultânea.
Neste ponto, embora haja bibliografia suficiente para ilustrar a composição da arte, não havia
aplicações práticas efetivas para ilustrar o tema de estudo, principalmente a engenharia
simultânea. A limitação teórica deste tópico gera uma ausência de criticidade sobre a
aplicação na construção civil, o que dificulta o desenvolvimento de uma discussão melhor
fomentada.
Outra dificuldade foi a inclusão de uma etapa prática no trabalho. Tornou-se
inviável a consulta das empresas locais sobre o tema da monografia, por questão de
mobilidade, tempo e até desconhecimento dos profissionais de construção civil sobre o
conteúdo dos temas abordados neste trabalho.
3.4
Perspectivas para trabalhos futuros
Sugere-se que haja foco no estudo da melhoria da adaptação do processo
simultânea na área de construção civil. Que conste, também, o que já é palpável na aplicação
deste em forma de histórico de desenvolvimento.
Estudos de caso e aplicações da Engenharia Simultânea no processo tradicional de projetos
também podem trazer grandes benefícios para o conhecimento científico. Considerar as
diferenças regionais, fundamentado em suas respectivas origens é recomendado.
Por fim, também sugere-se o estudo da compatibilização de projetos aliado à
Engenharia Simultânea, como estes poderiam se complementar e quais pontos e integrar-se de
forma otimizada.
43
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