Prova de Interpretação de Textos
Leia os textos abaixo para resolver as questões 1 a 5.
Texto A
Texto B
Retrato de família
Carlos Drummond de Andrade
[...]
O retrato não me responde,
ele me fita e se contempla
nos meus olhos empoeirados.
E no cristal se multiplicam
os parentes mortos e vivos.
Já não distingo os que se foram
dos que restaram. Percebo apenas
a estranha idéia de família
viajando através da carne.
1
Texto C
MORTOS E VIVOS
Carlos Heitor Cony
Há quem reclame do calendário cristão que dedica um dia aos mortos, a lembrá-los e,
em alguns casos, a chorá-los. Civilizações inteiras, construídas em torno da memória e do
culto aos mortos, tiveram momentos de poder e glória. Todas as religiões prolongam esse
culto que foi a base de antigas civilizações, como a caldaica e a egípcia.
Mesmo uma religião voltada essencialmente para a vida, como a judaica, tem no
respeito aos mortos um dos alicerces de sua força milenar. Daí que o dia de Finados é até
mesmo um pleonasmo. Todos os dias o são.
Ligo a TV e vejo um desfile de mortos, Kennedy prometendo chegar à Lua, Ingrid
Bergman pedindo para Sam tocar As time goes by, o casal Curie fazendo experiências, Tom
Jobim fumando um charuto, o papa Pio XII visitando um bairro de Roma atingido pelas
bombas durante a Segunda Guerra Mundial, Coco Chanel fazendo caras e bocas, Garrincha
driblando uns joões na Suécia.
Se ligo o som, ouço a voz de Jean Sablon ou de Maria Callas, de Elvis Presley ou de
Silvinha Telles, vozes que não mais existem, e tantas, e que tanto marcaram a vida de tantos,
a minha inclusive.
Bem, fiquemos nos livros, que são mais prestativos e nossos. Ler Faulkner ou Flaubert,
Pessoa ou Eliot, Zé Lins ou Sartre - para onde meus olhos vão, nas estantes que forrei de
volumes durante tantos anos, encontro nomes queridos, que muito me deram e nada me
roubaram.
Uns melhores que os outros mas todos com um ponto em comum: estão mortos,
dormindo profundamente como no poema de Bandeira - outro morto por sinal.
Não concordo em que os mortos governam os vivos. Potencialmente, todos seremos
mortos. Mas sempre me inquietei com o futuro, perguntava à minha mãe se quando
crescesse poderia fazer isso ou aquilo. Ela dizia que sim, tudo era uma questão de tempo.
Acho que “crescer” talvez não seja boa coisa. De qualquer forma, no dia de Finados
prefiro mesmo ficar com os vivos. Tenho o resto do ano para pensar nos mortos.
2
Texto D
Nem ciência, nem religião
No julgamento sobre o uso de células-tronco de embriões humanos nos laboratórios, o
Supremo se ateve ao direito - e fez história
[...]
Direito (Carlos Alberto Direito, ministro do STF) e Fonteles (Cláudio Fonteles,
procurador-geral da República) são notoriamente católicos. No curso do processo, foram
acusados de obscurantismo, de tentar sobrepor preconceitos religiosos à razão. São
acusações injustas. Primeiro, porque o argumento da Igreja – o de que a vida é um bem
sagrado, um valor absoluto e inviolável do primeiro instante até o suspiro final – não tem nada
de absurdo do ponto de vista da ética. Ao longo dos séculos, inúmeras conquistas da
civilização se deram graças a esse raciocínio. Em segundo lugar, porque ambos sabem que
ética e direito são reinos vizinhos, mas não coincidentes. Eles não trouxeram a fé para o
debate e raciocinaram de acordo com princípios do direito brasileiro. Não conseguiram,
contudo, que o tribunal se alinhasse com eles.
Texto E
Memorial do Convento
José Saramago – Memorial do Convento
[...]
São onze os supliciados. A queima já vai adiantada, os rostos mal se distinguem.
Naquele extremo arde um homem a quem falta a mão esquerda. Talvez por ter a barba
enegrecida, prodígio cosmético da fuligem, parece mais novo. E uma nuvem fechada está no
centro do seu corpo. Então Blimunda disse, Vem. Desprendeu-se a vontade de Baltasar SeteSóis, mas não subiu para as estrelas, se à terra pertencia e a Blimunda.
3
Prova de interpretação de textos
1.
Tendo em vista os textos A, B e C, faça um comentário sobre a diferença entre gêneros
impressos (poemas, fotografias, propaganda etc) e gêneros midiáticos que usam recursos
audiovisuais (TV).
2.
O texto A é uma imagem retirada de uma propaganda de uma instituição educacional.
Redija três frases afirmativas que evidenciam a sua interpretação da imagem.
3.
Prosopopéia é uma figura de linguagem que confere a seres inanimados
características ou ações próprias de seres animados. Explique como esse recurso é
empregado no texto B.
4.
No texto C, o autor faz referência a uma figura de linguagem. Identifique-a e explique o
porquê dessa referência.
5.
No texto D, em alguns momentos, o enunciador se revela, mesclando opiniões com
informações. Em que o uso do advérbio notoriamente e do adjetivo injustas contribui para
esse efeito textual?
6.
No excerto D, qual a função textual dos numerais ordinais?
7.
No texto E, antes do emprego da palavra “então”, não se observa a utilização do
pretérito perfeito. Depois de seu uso, esse tempo verbal já passa a ser empregado. Comente
como o uso dessa palavra interfere na dinâmica temporal do excerto.
8.
Morte e vida podem ser explicadas por meio de diferentes enfoques, por exemplo:
enfoque biológico, religioso, poético-literário, jurídico, cultural. Escolha um desses enfoques
para, a partir dele, explicar o significado da expressão “subir para as estrelas”, presente no
texto E.
9.
O verbo “pertencer”, na última frase do texto E, empregado na acepção de “ser
propriedade de”, é transitivo indireto. Identifique seu complemento verbal e mostre por que se
pode dizer que há nessa frase uma inversão.
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10.
Muitas vezes, o uso da língua no cotidiano traz exemplos curiosos, que justificam a
dinamicidade lingüística. Um exemplo disso é o caso de um apresentador de TV que sempre
emprega a expressão “reclames do plim-plim”. No início do texto C, há também a ocorrência
de “reclame” (nesse caso, como verbo). Esse recurso de formação de palavras é também
empregado na segunda frase do Texto E. Construa uma frase em que a palavra “queima”
pertença a uma classe morfológica diferente daquela ali empregada.
Prova de redação
Releia a penúltima frase do texto C. Elabore uma “carta argumentativa”, direcionada ao
procurador-geral da República Cláudio Fonteles, em que você defenda essa postura.
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08 - FEPI