Metabolismo de aminoácidos II: Gliconeogênese Bioquímica para Enfermagem – Bloco III Prof. Olavo Amaral/Ailton Borges Julho de 2013 Revisando a última aula... Revisando a última aula... - Moléculas com grupamento amina, grupamento carboxila e cadeia lateral. Revisando a última aula... - Aminoácidos podem formar outros compostos Revisando a última aula... - Para formar carboidratos e lipídeos, é necessário perder o grupo amina. Revisando a outra aula... - A transaminação e a desaminação possibilitam a remoção do grupo amina dos aminoácidos. Revisando a última aula... - Fígado transforma o NH3 proveniente dos aminoácidos em ureia através do ciclo da ureia. Revisando a última aula... - Aminoácidos como a alanina e a glutamina levam o nitrogênio para ser metabolizado pelo fígado. Revisando a última aula... - Após a metabolização, ureia é excretada na urina, carregando o nitrogênio para fora do corpo. OK, mas... - Como vamos usar a cadeia carbonada dos aminoácidos (-cetoácidos) para fazer outros compostos? Glicose Lipídeos OK, mas... - O que sobra após perder o nitrogênio? Glicose Lipídeos -cetoácidos - São os aminoácidos desprovidos de seu grupamento amina. -cetoácidos - Para que via metabólica podem ir estes compostos? -cetoácidos - Todos os 20 aminoácidos, após perderem o grupo amino (e eventualmente serem metabolizados mais um pouco), são capazes de entrar no ciclo de Krebs! -cetoácidos - Todos os -cetoácidos ou seus derivados são capazes de entrar no ciclo de Krebs. Metabolismo de aminoácidos - Aminoácidos glicogênicos: formam compostos capazes de formar glicose (piruvato e intermediários do ciclo). Metabolismo de aminoácidos - Aminoácidos cetogênicos: formam acetil-CoA, que não é capaz de formar glicose. Começando pela glicose... - Como vamos usar este mecanismo para formar glicose? Gliconeogênese - O que é? Gliconeogênese - Formação de glicose a partir de substratos não-glicídicos Lactato Aminoácidos Glicose Glicerol Gliconeogênese - Formação de glicose a partir de substratos não-glicídicos Lactato Aminoácidos Glicose Glicerol Ácidos graxos NÃO são substrato para a gliconeogênese! Piruvato desidrogenase – reação irreversível Gliconeogênese - Onde ocorre a gliconeogênese? Gliconeogênese - Onde ocorre a gliconeogênese? Rim Epitélio intestinal Fígado Gliconeogênese - Fígado é o principal responsável por produzir glicose para os órgãos que necessitam dela. Rim Epitélio intestinal Fígado Gliconeogênese - A gliconeogênese é um processo que fornece ou que consome energia? Gliconeogênese - A gliconeogênese é um processo que fornece ou que consome energia? - Se quebrar glicose nos fornece energia, naturalmente formar glicose deve gastá-la... Gliconeogênese - Quem fornece energia para a gliconeogênese? E a energia? - Oxidação de ácidos graxos e aminoácidos no fígado! Gliconeogênese - Vamos ver como funciona a transformação de aminoácidos em glicose, então? Gliconeogênese - Aminoácidos glicogênicos perdem seu grupo amino e transformam-se em intermediários do ciclo de Krebs. Gliconeogênese - Como os aminoácidos glicogênicos saem do ciclo de Krebs para formar glicose? Gliconeogênese - Para sair do ciclo de Krebs, intermediários tem de formar oxaloacetato e sair da mitocôndria. Mas... - O oxaloacetato não atravessa a membrana mitocondrial. Lançadeira de malato - Oxaloacetato é convertido em malato na mitocôndria, oxidando um NADH em NAD+. Lançadeira de malato - Malato é transportado para fora da mitocôndria e convertido em oxaloacetato novamente, gerando um NADH no citosol. Lançadeira de malato - Serve não só para transportar oxaloacetato, mas também para levar NADH da mitocôndria para o citosol. - Assim, o NADH formado pela beta-oxidação e pelo ciclo de Krebs pode ser utilizado na gliconeogênese! Já no citosol... - Oxaloacetato é convertido em fosfoenolpiruvato pela ação da fosfoenolpiruvatocarboxiquinase (PEPCK) e consumindo GTP. Já no citosol... - O mesmo caminho pode ser usado para formar o fosfoenolpiruvato a partir do piruvato, “revertendo” o passo final da glicólise. Mas... - A reação não é exatamente o oposto da glicólise! - Enzimas diferentes. - Intermediário extra. - Gasto de energia é maior do que o ganho na glicólise. Consumo energético E E Consumo energético E E E E A glicólise ao contrário... - A partir do fosfoenolpiruvato, as mesmas enzimas da glicólise são capazes de fazer as reações ao contrário até transformá-lo em frutose 1,6-bifosfato. A glicólise ao contrário... - Como esta é a fase de “pagamento” da glicose, se formos na direção contrária vamos gastar ATP e NADH! E a energia? - De onde vem o ATP e o NADH? E a energia? - Oxidação de ácidos graxos e aminoácidos e ciclo de Krebs estão acontecendo na mitocôndria! Gliconeogênese - Últimos dois passos da gliconeogênese não são o exato oposto da glicólise. Gliconeogênese - Substratos e produtos são os mesmos. - Enzimas são diferentes. - O ATP gasto na primeira fase da glicólise não é recuperado! Gliconeogênese - E os outros substratos? Gliconeogênese - Lactato pode formar piruvato no fígado, podendo se converter em oxaloacetato e entrar na gliconeogênese. Ciclo de Cori Gliconeogênese - Glicerol pode ser convertido em DHAP, entrando mais adiante no processo. Gliconeogênese - Assim, vários substratos convergem para a mesma via de gliconeogênese. Em resumo... - Gliconeogênese forma glicose a partir de piruvato/oxaloacetato. Em resumo... - Gliconeogênese forma glicose a partir de piruvato/oxaloacetato. - Neste sentido, ela é um processo oposto à glicólise. Em resumo... - Gliconeogênese forma glicose a partir de piruvato/oxaloacetato. - Neste sentido, ela é um processo oposto à glicólise. - Três passos fundamentais são diferentes. Em resumo... - Gliconeogênese forma glicose a partir de piruvato/oxaloacetato. - Neste sentido, ela é um processo oposto à glicólise. - Três passos fundamentais são diferentes. - O gasto de ATP é maior do que o que o ganho obtido com a glicólise. Gliconeogênese vs. Glicólise - Se fossem simétricos, a gliconeogênese não ocorreria, pois o G total da via seria positivo. - Os ATPs extras gastos em relação ao oposto da glicólise mantém a via energeticamente favorável. Consumo energético E E E E Gliconeogênese vs. Glicólise - Ambos os processos têm de ser regulados em conjunto! - Caso contrário, teremos um ciclo fútil com gasto de energia. Gliconeogênese vs. Glicólise - Quais são os passos reguláveis das duas vias? Gliconeogênese vs. Glicólise - Quais são os passos reguláveis das duas vias? - Passos irreversíveis, catalisados por enzimas diferentes nos dois processos! Regulação - Quando queremos que ocorra cada processo? Regulação - Depende do tecido... Regulação Fígado Regulação Fígado Glicólise: no estado alimentado. Gliconeogênese: no jejum. Regulação Músculo Regulação Músculo Glicólise: - no estado alimentado. - ↓ ATP (exercício!) Regulação Cérebro Regulação Cérebro Glicólise: sempre. Regulação Glicólise Regulação Glicólise - Estado alimentado (diversos tecidos) - Jejum (somente em alguns) - Glicose disponível - Falta de ATP Regulação Glicólise - Estado alimentado (diversos tecidos) - Jejum (somente em alguns) - Glicose disponível - Falta de ATP Gliconeogênese Regulação Glicólise - Estado alimentado (diversos tecidos) - Jejum (somente em alguns) - Glicose disponível - Falta de ATP Gliconeogênese (principalmente no fígado e rim) - Jejum - Stress - Substrato disponível - ATP disponível Regulação Glicólise - Estado alimentado (diversos tecidos) - Jejum (somente em alguns) - Glicose disponível - Falta de ATP Gliconeogênese (principalmente no fígado e rim) - Jejum - Stress - Substrato disponível - ATP disponível Como outras vias estudadas, a gliconeogênese será regulada por fatores sistêmicos (ex: dieta/jejum) e fatores locais (ex: disponibilidade de ATP e substrato). Regulação - Quem pode sinalizar a regulação para o corpo todo? Regulação hormonal - Quem pode sinalizar a regulação para o corpo todo? Hormônios - Insulina - Glucagon - Adrenalina Regulação hormonal Mas: - O estímulo é um só, mas nem todos os tecidos devem responder da mesma maneira! Regulação hormonal - Um exemplo? Regulação hormonal - Um exemplo? No exercício físico... - O músculo em exercício pode utilizar diversos tipos de substrato energético, dependendo da intensidade e duração. Corrida de 100 m ≠ Corrida à distância No exercício físico... - A quantidade de ATP no músculo é suficiente para manter a atividade contrátil intensa por menos de um segundo. - Logo, temos que gerar ATP rapidamente no exercício! Sistema creatina-fosfato - Creatina-fosfato pode transferir um grupo fosfato para o ADP, gerando ATP rapidamente. - No repouso, a creatina pode ser novamente fosforilada pela creatina quinase. Durante a atividade Durante a recuperação Glicólise - Após se esgotar a reserva de creatina fosfato, a próxima forma mais rápida de gerar ATP vem da glicólise anaeróbica do glicogênio muscular. limitada 5 ou 6 seg Glicólise - Ao contrário da beta-oxidação e do ciclo de Krebs, a glicólise pode gerar ATP independentemente da presença de oxigênio. ≠ Exercício aeróbico - Para distâncias maiores, os ácidos graxos passam a ser uma fonte de energia mais importante. - Como o ATP é produzido mais lentamente pela fosforilação oxidativa do que pela glicólise, o ritmo do exercício tem que diminuir. Exercícios - Desta forma, distâncias mais longas usam uma combinação de glicogênio muscular, glicose vinda da circulação e ácidos graxos como fonte energética. Exercícios - Desta forma, distâncias mais longas usam uma combinação de glicogênio muscular, glicose vinda da circulação e ácidos graxos como fonte energética. - OK? Voltando ao exemplo... - Como a glicólise e a gliconeogênese estarão reguladas nos diferentes tecidos em uma corrida de média distância? Regulação hormonal - No músculo? Regulação hormonal - No músculo? - Glicólise! (preciso de ATP!) Regulação hormonal - No fígado? - Glicólise! (preciso de ATP!) Regulação hormonal - No fígado? - Glicólise! (preciso de ATP!) - Gliconeogênese (o corpo precisa de glicose!) Regulação hormonal - Logo, o mesmo estímulo pode levar a consequências diferentes em diferentes tecidos... - Glicólise! (preciso de ATP!) - Gliconeogênese (o corpo precisa de glicose!) Regulação hormonal - Logo, o mesmo estímulo pode levar a consequências diferentes em diferentes tecidos... - Como isso acontece? Passos reguláveis Glicose 6-fosfato Glicose Frutose 1,6-bisfosfato Frutose 6-fosfato Piruvato Fosfoenolpiruvato Regulação hormonal Insulina - Onde vai agir a insulina? Regulação hormonal Insulina - Estimula a síntese da hexoquinase, enzima do primeiro passo da glicólise. - Estimula a PFK-2 a produzir a frutose 2,6 bifosfato, um estimulador alostérico da PFK-1 que estimula a glicólise. - Inibe a síntese da PEPCK, responsável pelo primeiro passo da gliconeogênese. Regulação hormonal Glucagon - Onde age o glucagon? Regulação hormonal Glucagon (e adrenalina) - Estimula a síntese da glicose-6-fosfatase, último passo da gliconeogênese. - Inibe a síntese de frutose 2,6-bifosfato pela PFK-2, inibindo a PFK-1 e a glicólise. - Estimula a síntese da PEPCK, responsável pelo primeiro passo da gliconeogênese. - No fígado, inibe a piruvato quinase, último passo da glicólise. Regulação hormonal Glucagon (e adrenalina) - No músculo, no entanto, enzimas da glicólise como a piruvato quinase são estimuladas por adrenalina. Regulação local? - Que fatores locais vão influenciar a glicólise e a gliconeogênese? Regulação local? - Que fatores locais vão influenciar a glicólise e a gliconeogênese? Disponibilidade de substrato/produto Balanço energético Regulação local - Que substratos/produtos podem regular a glicólise e a gliconeogênese? Regulação local Acetil-CoA -Inibe a conversão de piruvato em acetil-CoA e estimula sua transformação em oxaloacetato. -Inibe a piruvato-quinase, último passo da glicólise. Regulação local Glicose - Hexoquinase é estimulada pela glicose (todas) e inibida pela glicose6-fosfato (exceto no fígado) - Hexoquinase-IV (fígado): Km mais alto, não é inibida por glicose 6fosfato Regulação local - Que fatores energéticos podem regular a glicólise e a gliconeogênese? Regulação local ATP -Inibe a PFK-1, inibindo a glicólise. -Inibe a piruvato-quinase, último passo da glicólise. Regulação local ADP e AMP -Estimulam a síntese da hexoquinase. -Estimulam a PFK-1. Regulação local Contração muscular -No músculo, a contração muscular também estimula a síntese da hexoquinase. Regulação - No fígado, a regulação da piruvato quinase por hormônios (insulina e glucagon) é mais importante do que a regulação por fatores locais (ATP, acetil-CoA) Regulação - No músculo, a regulação pela disponibilidade energética é mais importante. OK? - Regulação é complexa, em diversos passos, por vários fatores, variando conforme o tecido. - Mas todos eles fazem sentido, não? Outros destinos de aminoácidos - No jejum, glicogênicos formarão glicose, mas os cetogênicos formarão corpos cetônicos. Outros destinos de aminoácidos - Aminoácidos cetogênicos formam acetil-CoA. - Com os processos de síntese inibidos e o oxaloacetato indo para a gliconeogênese, acetil-CoA forma corpos cetônicos. Metabolismo de aminoácidos - Em excesso na dieta, todos os aminoácidos podem acabar oxidados a CO2 ou transformados em ácidos graxos. Metabolismo de aminoácidos - Cetogênicos formam acetil-CoA, que entra no ciclo de Krebs ou vai para a síntese de ácidos graxos. Metabolismo de aminoácidos - Glicogênicos formam piruvato/oxaloacetato, que com a gliconeogênese inibida podem formar acetil-CoA. OK, mas onde tudo isso vai dar? - Qual o objetivo dessa complicação toda? Disponibilidade de energia - Através do balanço entre anabolismo e catabolismo, corpo consegue construir reservas e sobreviver mesmo a um jejum prolongado! Este artigo quantifica as concentrações de insulina, hormônio do crescimento, glicose, ácidos graxos livres, glicerol, β-hidroxibutirato, acetoacetato, lactato, piruvato glicerol, amino ácidos carbonados e nitrogênio em 11 indivíduos obesos durante jejum prolongada de 5-6 semanas. - Glicemia se mantém estável! Manutenção da glicemia - Glicemia se mantém estável, a partir de várias fontes. fed Exogenous (glucose from diet) 40 Glucose Used g/hr postabsorptive 30 glucose from liver glycogen 20 gluconeogenic prolonged glucose from gluconeogenesis (lactate + amino acids) glucose from gluconeogenesis 10 0 4 8 12 16 HOURS 2 7 42 DAYS Dúvidas? - Nosso conteúdo específico acaba aqui! - Revisaremos na próxima aula, em todo caso. Hora do descanso! - Voltaremos para o estudo dirigido...