eF - J B C T RATURA COSTAL COM HÉRNIA INTERCOSTAL E DIAFRAGMÁTICA APÓS CRISE DE TOSSE RELATO JORNAL BRASILEIRO DE CIRURGIA TORÁCICA DE CASO Fratura costal com hérnia intercostal e diafragmática após crise de tosse Fractured rib with intercostal and diaphragmatic hernia after cough crisis Lucas Asperti1, Danilo Sesma Costa1, Arnaldo Teruya2, Ruy de Barros Jr.2, Thabbta de Oliveira Nassif Silveira Vianna2, André Galante Alencar Aranha3 RESUMO Introdução: A hérnia intercostal transdiafragmática (HITD) é uma entidade clínica rara. Ocorre por esgarçamento ou ruptura da musculatura diafragmática e intercostal, com protrusão de vísceras abdominais entre os arcos costais. Pode ser secundária a trauma, ou ocorrer após crise de tosse com fratura costal. Relato do caso: Relatamos o caso de um paciente do sexo masculino, 71 anos, fumante, com história clínica de abaulamento após um episódio de tosse intensa. Confirmado diagnóstico de HITD após a realização de exame físico e de imagem. Conclusões: O tratamento da HITD é sempre cirúrgico. A escolha da via de acesso dependerá da extensão da lesão e cada caso deve ser avaliado individualmente. Uso de fios inabsorvíveis e, eventualmente, tela, em grandes defeitos musculares, é recomendado. Descritores: Diafragma/cirurgia. Hérnia/cirurgia. Tosse. ABSTRACT Introduction: The intercostal transdiaphragmatic hernia (ITDH) is a rare clinical entity. It occurs due to a rupture or fraying of the diaphragm and intercostal muscles, with a protrusion of the abdominal organs between the ribs. It may be secondary to trauma, or after a cough crisis with rib fracture. Case report: We report a case of one patient, male, 71 years-old, smoker, with clinical history of a bulging lesion after an episode of intensive cough. The physical and imaging examination confirmed the diagnosis of ITDH. Conclusions: The treatment of ITDH is always surgical. The approach will depend on the extension of the lesion and each case must be particularly evaluated .The use of nonabsorbable suture, and eventually a soft prosthetic graft in great muscles defects, is recommended. Key words: Diaphragm/surgery. Hernia/surgery. Cough. 1 2 3 44 Trabalho realizado no Hospital Guilherme Álvaro – SP e na Faculdade de Ciências Médicas de Santos (UNILUS), Santos, SP, Brasil. Acadêmico de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas de Santos (UNILUS), Santos, SP, Brasil. Cirurgião Assistente do Serviço de Cirurgia Torácica, cirurgião torácico, Santos, SP, Brasil. Coordenador da Cirurgia Torácica do Departamento de Cirurgia do Hospital Guilherme Álvaro – SP, Professor Titular de Cirurgia Torácica da Faculdade de Ciências Médicas de Santos, Santos, SP, Brasil. Endereço para correspondência: André Galante Alencar Aranha. Av. Siqueira Campos 634, apto 113 – Boqueirão – Santos, SP, Brasil – CEP 11045-200 E-mail: [email protected] Artigo recebido: 9/5/2011 • Artigo aceito: 8/7/2011 e-JCT | 2012;1(1):44-6 A SPERTI L A ET AL . hérnia intercostal transdiafragmática (HITD) é uma entidade clínica rara. Ocorre por esgarçamento ou ruptura da musculatura diafragmática e intercostal, com protrusão de vísceras abdominais entre os arcos costais. inabsorvível e aproximação dos rebordos costais também com fio inabsorvível. A HITD ode ser secundária a trauma, ou ocorrer após crise de tosse com fratura costal1-9. Entidade clínica rara, a HITD pode ter conteúdo de qualquer víscera abdominal através do espaço decorrente da ruptura diafragmática e intercostal. No caso apresentado neste artigo, havia apenas herniação hepática parcial. RELATO DO CASO DISCUSSÃO Paciente do sexo masculino, 71 anos, fumante, com queixa de abaulamento em região de transição toracoabdominal direita há aproximadamente dois anos. Relatou que, após uma crise de tosse, sentiu dor intensa, em pontada na região toracoabdominal direita, com piora ao tossir e melhora após ingestão de analgésicos. Referiu área de equimose em toda região lateral do abdome acompanhando o quadro acima descrito e, após alguns dias, evoluiu com abaulamento progressivo da região. Ao exame físico, apresentava abaulamento redutível no oitavo espaço intercostal, mais evidente à manobra de Valsalva, além de distanciamento de 4 a 5 cm entre os arcos do espaço citado, com sinais de separação anterior em sua junção costocondral (Figura 1). A radiografia de tórax revelou sinais de fraturas em porção posterior do oitavo arco costal e alargamento do oitavo espaço. A ultrassonografia e tomografia computadorizada evidenciavam herniação hepática parcial através do oitavo espaço intercostal (Figura 2). Foi realizada toracotomia sobre o oitavo espaço intercostal e identificado esgarçamento diafragmático junto à parede torácica (Figura 3). Procedeu-se à reinserção do diafragma aos arcos costais com fio Figura 2. Tomografia computadorizada evidenciando herniação hepática entre os arcos costais. Figura 1. Abaulamento da parede torácica durante manobra de Valsalva, palpando-se afastamento das bordas costais. Figura 3. Toracotomia com achado de esgarçamento da inserção diafragmática dos arcos costais. e-JCT | 2012;1(1):44-6 45 F RATURA COSTAL COM HÉRNIA INTERCOSTAL E DIAFRAGMÁTICA APÓS CRISE DE TOSSE A HITD ocorre mais frequentemente secundária a trauma aberto ou fechado1-3,6. Há relatos na literatura de aparecimento da HITD após fratura costal secundária a crise de tosse 1,2,4,8,9 . Fatores predisponentes associados são: DPOC, osteoporose1,2,9, asma, diabetes e tratamento com esteroides5,7. Pode existir fraqueza na parede do tórax, podendo estar localizada junto ao esterno, devido à existência de uma falha dos músculos intercostais externos, ou junto às vértebras, devido à existência de uma falha dos músculos intercostais internos. A falha da musculatura intercostal, associada à sua lesão no momento da fratura dos arcos costais, leva à perda da integridade da caixa torácica1,6. A fratura pode ocorrer em consequência de violenta crise de tosse com contração repentina dos músculos da parede abdominal, levando ao esgarçamento da musculatura intercostal e também da inserção do diafragma no gradeado costal1,2,8,9. Perdendo as forças que mantêm as costelas unidas (músculos intercostais e diafragma), as costelas se sepa- ram, criando um espaço propício ao aparecimento da hérnia1,9. A pressão intratorácica negativa traz vísceras abdominais para o espaço formado. O quadro clínico da HITD caracteriza-se por um abaulamento progressivo na transição toracoabdominal, iniciado após crise de tosse, sendo redutível à manobra de Valsalva 1,2,8,9. Se houver fratura espontânea de costela, pode haver dor, hematoma e sufusões hemorrágicas no local, logo após a crise de tosse 1,9. Radiografia simples de tórax, trânsito intestinal e tomografia de tórax confirmam o diagnóstico1,2,6,9. CONCLUSÃO O tratamento das HITD é sempre cirúrgico1,2,6,9. A escolha da via de acesso dependerá da extensão da lesão e cada caso deve ser avaliado individualmente6. Uso de fios inabsorvíveis, e eventualmente tela, em grandes defeitos musculares é recomendado1,2. REFERÊNCIAS 1. Henriques AC, Malena CR, Freitas ACO, Waisberg J, Pires AC. Hérnia intercostal transdiafragmática após fratura espontânea de costelas secundária à crise de tosse. Rev Col Bras Cir. 2010;37(1): 78-80. 2. Sharma OP, Duffy B. Transdiaphragmatic intercostal hernia: review of the world literature and presentation of a case. J Trauma. 2001; 50(6):1140-3. 3. Balkan ME, Kara M, Oktar GL, Unlü E. Transdiaphragmatic intercostal hernia following a penetrating thoracoabdominal injury: report of a case. Surg Today. 2001;31(8):708-11. 4. Chaar CI, Attanasio P, Detterbeck F. Disruption of the costal margin with transdiaphragmatic abdominal herniation induced by coughing. Am Surg. 2008;74(4):350-3. 46 e-JCT | 2012;1(1):44-6 5. Cole FH Jr, Miller MP, Jones CV. Transdiaphragmatic intercostal hernia. Ann Thorac Surg. 1986;41(5):565-6. 6. Biswas S, Keddington J. Soft right chest wall swelling simulating lipoma following motor vehicle accident: transdiaphragmatic intercostals hernia. A case report and review of the literature. Hernia. 2008;12(5): 539-43. 7. Croce EJ, Mehta VA. Intercostal pleuroperitoneal hernia. J Thorac Cardiovasc Surg. 1979;77(6):856-7. 8. Khan AS, Bakhshi GD, Khan AA, Kerkar PB, Chavan PR, Sarangi S. 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