Reletao de Caso Fistula arteriovenosa pós-traumática da artéria temporal superficial - relato de caso Traumatic arteriovenous fistula of the superficial temporal artery - case report Resumo ABSTRACT Introdução: Fístulas arteriovenosas envolvendo a artéria temporal superficial são relativamente raras. A maioria dos casos estão relacionados a traumatismos cranianos contusos, apresentando-se como uma massa indolor e pulsátil na região temporal. Objetivo: Relatar o caso de um paciente com fístula arteriovenosa pós-traumática da artéria temporal superficial tratado com sucesso através de cirurgia. Relato do caso: Um paciente de 30 anos do sexo masculino procurou atendimento devido à massa pulsátil e indolor em região temporal à direita de 3 anos de lento crescimento relacionada a trauma contuso na região temporal que deu início ao quadro. Foi abordado cirurgicamente e evolui bem, sem qualquer sequela. Considerações finais: O relato mostra que, apesar de rara, fístula arteriovenosa póstraumática da artéria temporal superficial deve ser uma hipótese diagnóstica para aqueles pacientes que apresentem massa pulsátil, indolor e deformante em região temporal, principalmente se houver história prévia de trauma na região pré-auricular. Descritores: Fístula Traumatismos Faciais. André Pires Cortez 1 José Wilson Mourão de Farias 2 Glebert Monteiro Pereira 1 Francisco Cláudio Barros Abrantes 3 Jônatas Catunda de Freitas 4 Arteriovenosa; Artérias Introduction: Arteriovenous;stula of the superficial temporal artery is relatively rare. Most cases are related to blunt head trauma, presenting as a painless, pulsatile mass in the temporal region. Objective: Report the case of a patient with post-traumatic arteriovenous fistula of the superficial temporal artery successfully treated by surgery. Case report: A male patient with 30 year old with pulsatile, painless mass in the right temporal region with 3 years of slow growth after blunt trauma in the temporal region. Was approached surgically and progressed well without any sequel. Conclusion: The case report shows that, despite remote, post-traumatic arteriovenous fistula of the superficial temporal artery should be a diagnosis for those patients who present with a pulsatile mass, painless and deforming in the temporal region, especially if there is a history of blunt head trauma. Key words: Arteriovenous Fistula; Carotid Artery, External; Facial Injuries. Temporais; INTRODUÇÃO RELATO DO CASO Fístulas arteriovenosas envolvendo a artéria temporal superficial são relativamente raras1. A maioria dos casos, cerca de 75%2, estão relacionados à traumatismos cranianos contusos e se apresentam como uma massa indolor pulsátil na região temporal, mas já foram relatados casos devido a implantes de cabelo3, lesões penetrantes no couro cabeludo4, drenagem ventricular peritoneal5, e no sítio de craniotomia6. Este artigo descreve um caso de fístula pós-traumática da artéria temporal superficial tratada com sucesso pela excisão cirúrgica completa. Paciente de 30 anos, sexo masculino, procurou atendimento devido à massa pulsátil e indolor em região temporal à direita com 3 anos de lento crescimento, sem queixas auditivas. Relata trauma contuso na região temporal que deu início ao quadro. Ao exame físico, apresentava uma lesão de 4 x 3cm, pulsátil e com frêmito em região pre-auricuLar. O paciente foi submetido à cirurgia com excisão ampla e ligadura da artéria temporal superficial proximal e distal à lesão (Figura 1). Não houve qualquer intercorrência durante a cirurgia ou no pós-operatório. Uma semana após alta hospitalar, o pa- 1)Médico. Cirurgião de Cabeça e Pescoço do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, Fortaleza / CE. 2)Médico. Chefe do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, Fortaleza / CE. 3)Médico. Residente de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, Fortaleza / CE. 4)Acadêmico de Medicina. Presidente da Liga de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza / CE. Instituição: Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza. Fortaleza / CE – Brasil. Correspondência: André Pires Cortez - Rua Barão do Rio Branco, 20 - Centro - Fortaleza / CE - Brasil - CEP: 60025-060 - E-mail: [email protected] Recebido em 07/03/2012; aceito para publicação em 04/11/2012; publicado online em 23/12/2013. Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. 232 e���������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.42, nº 4, p. 232-234, outubro / novembro / dezembro 2013 Tratamento cirúrgico de tumor odontogênico queratocístico: Relato de caso. Figura 1. - A - Desenho da incisão cirúrgica, B - lesão exposta, C - ligadura proximal, D - Peça cirúrgica. ciente retornou com hematoma sob a ferida operatória e foi reabordado. Evoluiu bem sem qualquer complicação. DISCUSSÃO A artéria temporal superficial se origina da artéria carótida externa na borda da glândula parótida e sobe anteriormente ao meato acústico para a região fronto-temporal, acompanhada da veia temporal superficial e seus ramos afluentes. Após cruzar superficialmente o arco zigomático, divide-se em ramos anterior e posterior para suprir, respectivamente, a pele sobre a região frontal e temporal do couro cabeludo, seguindo sobre o músculo temporal7. Ao atingir a linha temporal superior do crânio, o ramo anterior possui um risco maior de sofrer traumatismos contusos, pois repousa diretamente sobre o periósteo e é bastante superficializado, sendo o local mais frequente de lesões com formação de fístulas arteriovenosas8. Em relação à fisiopatologia, pelo menos dois mecanismos têm sido sugeridos. Uma teoria sugere que a laceração simultânea da artéria e da veia permitem uma conexão entre os dois, causando arterialização da veia para acomodar o maior fluxo de sangue, formando a fístula9. A outra teoria é a da interrupção do vasa vasorum da parede arterial pelo traumatismo contuso, causando isquemia e proliferação de células endoteliais em um hematoma em torno da interrupção do vasa vasorum, formando brotos endoteliais e numerosos pequenos vasos da artéria para veias adjacentes4. As manifestações clínicas estão relacionadas principalmente ao tamanho e a localização da fístula. A lesão geralmente começa como um pequeno nódulo subcutâneo que, ao longo do tempo, transforma-se em uma Santos et al. massa pulsátil indolor8. Caso se encontre em torno da orelha, a principal queixa pode ser zumbido pulsátil. Os pacientes também podem ter sintomas de dor de cabeça, tontura, hemorragia, fadiga e em casos graves, necrose do couro cabeludo10. O diagnóstico é suspeitado quando há antecedente traumático na região e lesão suspeita ao exame físico. O diagnóstico diferencial inclui hematomas simples, abcessos, tumores de partes moles, neuromas e granulomas de corpo estranho7. A compressão digital do segmento proximal na artéria temporal superficial normalmente elimina ou diminui o sopro e o frêmito. Estudos complementares, como ultra-som Doppler e TC com contraste podem confirmar ou descartar outras lesões. O diagnóstico definitivo geralmente é feito pela arteriografia, considerada o padrão ouro por muitos autores7,11, pois além de confirmar o diagnóstico, auxilia no planejamento do tratamento cirúrgico, revelando informações sobre a extensão intracraniana, que, embora rara, pode ocorrer em lesões com apresentação similar8. O tratamento é indicado para aliviar os sintomas, prevenir hemorragias, ou por fins estéticos. Alguns autores têm relatado bons resultados usando a embolização para o tratamento dessas lesões12, porém a cirurgia é o tratamento de escolha, com a ligadura dos vasos proximal e distal à lesão e excisão do aneurisma, modalidade de tratamento preferencial de muitos autores por ser considerado um procedimento simples, eficaz e seguro para o paciente3, 8, 9, 13. A complicação mais grave do tratamento da fístula arteriovenosa é a necrose cutânea do couro cabeludo, porém é muito rara, devido a grande quantidade de anastomoses na oferta de sangue para o couro cabeludo14. Em uma série de 24 casos de fístula arteriovenosa pós-traumática da artéria temporal superficial apenas quatro pacientes desenvolveram complicações isquêmicas, e três destes quatro foram recuperados com tratamento conservador14. CONCLUSÃO Apesar de ser rara, fístula arteriovenosa da artéria temporal superficial deve ser uma hipótese diagnóstica para aqueles pacientes que apresentem massa pulsátil, indolor e deformante em região temporal, principalmente se houver história prévia de trauma na região pré-auricular. Essas lesões podem ser removidas cirurgicamente com segurança e sem sequelas para o paciente. REFERÊNCIAS 1. Marks MW, Argenta LC, Dingman RO. Traumatic arteriovenous malformation of the external carotid arterial system. Head Neck Surg 1984; 6:1054-1058. 2. Bole PV, Munda R, Purdy RT. Traumatic pseudoaneurysm: a review of 32 cases. J Trauma 1976;16:63-70. 3. Davis AJ, Nelson PK. 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