UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A HISTÓRIA DO RÁDIO ESPORTIVO. OS DOCENTES CONHECEM? Por: André Luís Pinto Gonçalves Orientador Prof. Marcelo Saldanha Rio de Janeiro 2010 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A HISTÓRIA DO RÁDIO ESPORTIVO. OS DOCENTES CONHECEM? Apresentação Candido de Mendes monografia como à requisito Universidade parcial para obtenção do grau de especialista em Docência do Ensino Superior Por: André Luís Pinto Gonçalves 3 AGRADECIMENTOS Ao Marcelo Saldanha, meu professor orientador, pela colaboração. Ao cara lá de cima. 4 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho primeiramente ao meu filho Arthur Gomes Gonçalves, a minha esposa Daniele A. Gomes de Souza, pela colaboração e sobretudo pelo amor, carinho, apoio, estímulo, colaboração e paciência. E a minha mãe Rosangela Maria Teixeira Pinto, por me ajudar em todos os momentos. E aos meus avôs paternos, que vivem lá em cima, os queridos José Maria L. Gonçalves e Ivalda dos Santos Gonçalves, por me proporcionarem a possibilidade de cursar a graduação e esta especialização. 5 RESUMO Sempre fui fascinado pelo jornalista esportivo. Aprendi a ler com seis anos e na época, assim como hoje, adorava ler, principalmente a editoria de esportes dos jornais e, além disso, gostava muito de escrever e falar muito, até demais. Hoje em dia, claro, tem internet, televisão e similares. Mas o que me fascina mesmo é o rádio. Veículo de comunicação fantástico. Meu primeiro curso na área foi em 1994. Com 14 anos, fiz um estágio numa emissora pequena do rádio carioca. Amei. Os anos se passaram, fiz vários cursos e também a graduação de Jornalismo, onde aprendi um pouco mais da profissão sonhada. O tempo passou mais e entrei no mercado. Hoje já sou um pouco conceituado, não estou em veículo de massa, mas tenho credibilidade no mercado. Mesmo com a bibliografia escassa, a história do radialismo esportivo é sensacional. O locutor esportivo é importante e marcante nessa trajetória. O rádio e o esporte tiveram papéis fundamentais no que é o jornalismo esportivo. Tanto é que nos cursos de jornalismo das faculdades e universidades, mesmo com toda a tecnologia atual, o tema é um capítulo à parte nas didáticas dos docentes. A proposta desta monografia é contar um pouco dessa brilhante história do rádio esportivo, desvendar a evolução desse meio e o principal, através de entrevistas com os docentes atuais de radiojornalismo, saber se os próprios conhecem a história do rádio esportivo. 6 METODOLOGIA O método utilizado para o desenvolvimento do tema proposto baseou-se no cotidiano, nas histórias do dia a dia, pouca leitura de livros devido à escassez de referências bibliográficas e claro, entrevistas com os docentes. O desenvolvimento desta monografia consistiu em reunir algumas fontes de informação como referência imediata para tratar o assunto com a devida importância. O propósito é reunir informações muito importantes sobre a história do rádio esportivo no Rio de Janeiro. Tem por fim, transformá-la em uma fonte de consulta para aqueles que desejam iniciar estudos sobre o tema e ainda, mostrar, positiva ou negativamente, o conhecimento sobre o assunto dos docentes da área. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I 09 CAPÍTULO II 14 CAPÍTULO III 20 CAPÍTULO IV 40 CONCLUSÃO 46 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 48 ÍNDICE 49 FOLHA DE AVALIAÇÃO 51 8 INTRODUÇÃO É inegável que o esporte tem um papel importante na vida do brasileiro. Segundo pesquisas, 80% das pessoas acompanham esse setor. O futebol ocupa lugar de destaque na preferência do público brasileiro. Visando atingir estas pessoas, cresceram muito e de forma considerada na mídia, publicações e programas especializados no assunto. Os veículos de comunicação perceberam que a programação esportiva era um filão a ser explorado. O rádio sempre explorou esse potencial, sendo destaque também entre as pessoas, principalmente na freqüência AM. O FM começa a despontar, mas o AM sempre foi a preferência. Claro que hoje, temos TV, sites e jornais inúmeros. E hoje, as tradicionais transmissões de um jogo de futebol pelo rádio, então, têm que concorrer com a sedução e a tecnologia da televisão. Os programas esportivos no rádio ainda têm um público fiel e apaixonado. O rádio tenta se modernizar, não é fácil, é preciso reavalia toda a estrutura. Nem sempre foi assim. Até os anos 90 o imediatismo e o dinamismo do rádio eram soberanos. Grande parte da audiência se devia a fidelidade do locutor, que tem o dom de transformar o ato de narrar futebol uma arte. É como se o ouvinte estivesse dentro do estádio. Fazer o ouvinte ver o jogo é ou era a especialidade de todos os nomes citados neste trabalho. E os docentes de hoje, como Francisco Aiello, Fábio Azevedo, entrevistados da monografia, sabem e/ou conhecem esta fantástica história? Entrevistas com perguntas interessantes foram realizadas. Respostas foram dadas. E cada um que tire a conclusão se os docentes de radiojornalismo do mundo atual conhecem o passado 9 CAPÍTULO I A IMPRENSA E O ESPORTE A Imprensa é a principal divulgadora do esporte. Não é a única responsável pela criação dos ídolos, mas sem dúvida, responde pela manutenção dos astros dos esportes. Sem o apoio dos veículos de comunicação, nenhum craque na sua modalidade é efetivamente conhecido e reconhecido. Existem jornalistas ídolos sim. Inicialmente o futebol era tratado nos jogos como um assunto corriqueiro, merecia poucas linhas quando o assunto era um jogo importante ou a conquista de um campeonato, para logo em seguida, esquecer o próprio assunto. Claro que isso era nos jornais. E também nas emissoras de rádio. Mas quando o rádio descobriu o fascínio que o futebol exercia sobre o público, mudou de comportamento. Teve maior espaço na programação. Tudo era notícia. Treinos, concentrações, entrevistas, tudo isso fora o jogo em sim, virou informação, novidade. Surgiram então, repórteres, redatores e cronistas esportivos especializados. Hoje vemos subcategorias em cada profissional no mercado de trabalho. Quando a televisão surgiu, o futebol estava consolidado como a alegria do povo. Era o esporte que mais empolgava a população brasileira. João Saldanha, cronista até 1990, dizia que a televisão estava assassinando o futebol, pois o torcedor não precisava mais ir aos estádios, bastava acompanhar os gols da rodada nos programas esportivos e às transmissões de jogos. Ele tinha razão, em parte. A TV trouxe inovações, diversas câmeras e outras situações mais, e copiou um pouco o rádio, com informações mais do que precisas durante as transmissões. É claro que nada disso substitui a emoção de assistir aos jogos nos estádios, sentado na arquibancada. 10 O rádio é emoção. A TV tem mais frieza. O jornal é só no dia seguinte e tem que ter criatividade. O que resta dizer e isso parece ser confirmado é que todos os meios de comunicação, sobretudo de massa, buscam vender mais e faturar mais e para isso não importa o que tem que ser feito. Partidas medíocres são transformadas em grandes espetáculos, ídolos aparecem de uma hora para outra e somem com a mesma rapidez. Tudo isso para conquistar o torcedor e não perdê-lo nunca mais. 1.1- HISTÓRICO DA COBERTURA ESPORTIVA NO BRASIL O crescimento da narração esportiva no Brasil está intimamente ligado ao espaço que a mídia dedicou ao esporte durante décadas. Por isso, antes ainda de falarmos da História dos locutores no Rio de Janeiro, onde se faz a História do rádio, é interessante mostrarmos como se deu a evolução esportiva nos últimos tempos, evolução esta, contada no livro “O Brasil na Era do Rádio”. Década de 20: primeira participação do Brasil em Jogos Olímpicos, em 1924, em Paris. Pela precariedade dos veículos de comunicação da época, o evento foi pouco divulgado no Brasil. Enquanto acontecia a Olimpíada, o povo voltava suas atenções para o esporte mais popular da época: o remo. Década de 30: o futebol começava a se destacar, surgiam os primeiros ídolos do esporte: Leônidas da Silva e Domingos da Guia, que acabaram incentivando os mais jovens nos primeiros passos do esporte. Em 1932, nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, o rádio dava apenas pequenos flashes sobre algumas modalidades em que o Brasil participava. Em 1938, na Copa do Mundo da França, quase quinhentas mil pessoas acompanhavam pelo rádio as partidas da seleção brasileira. Nesta Copa, Leônidas da Silva voltou consagrado como artilheiro e começou a ser escolhido para anunciar vários produtos, entre eles o chocolate Diamante Negro, seu apelido, da lacta. Década de 40: nesses anos, o esporte praticamente estagnou-se no mundo. A mídia voltava-se para a cobertura de fatos envolvendo a II Guerra Mundial. Só em 1948, depois de terminado o conflito, é que voltaram as 11 transmissões com os jogos da XIV Olimpíada, realizada em Londres. No entanto, o rádio não deu muita atenção à delegação brasileira que estava na Inglaterra, pois estava voltado para a Copa do Mundo de futebol de 1950, que se realizaria no Brasil. Década de 50: a Copa do Mundo de 50 não deu o título de campeão ao Brasil, mas o rádio, principal divulgador do evento, cumpriu sua missão. Transmitiu o evento para cerca de 9 milhões de pessoas, um número expressivo considerando-se a população da época. Brasil vice-campeão: o país se integrava pelo rádio. A grande novidade da Copa eram os cinejornais, que exibiam os gols e principais lances dos jogos. Dois anos depois, na XV Olimpíada, em Helsinque, o Brasil ganha as suas primeiras medalhas em atletismo e tiro. O rádio comenta, mas não dá muita atenção ao fato, ao passo que os jornais dão maior destaque. Ainda nos anos 50 surge uma revolucionária novidade: a televisão. Primeiramente em São Paulo e Rio de Janeiro e depois, no fim da década em Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife. Como o único esporte transmitido pela TV era o futebol, o povo começou a se apaixonar pelas partidas. A televisão permitia um comentário especializado e didático enquanto as imagens iam aparecendo na tela. Em 1958 o Brasil conquista seu primeiro título mundial. A televisão transmitia o entusiasmo dos jogadores, tendo um papel importante, mas ainda coadjuvante. Durante essa Copa o rádio ainda era essencial. Prendendo cerca de 32 milhões de ouvintes com suas transmissões, enquanto o público da televisão não ultrapassava os 2 milhões de telespectadores. Década de 60: aconteceram os jogos da XVII Olimpíada, em Roma. A televisão não comentou muito, até em virtude dos frascos resultados da delegação brasileira. Entretanto, o público televisivo crescia cada vez mais, principalmente com a cobertura da Copa de 1962 da conquista do bicampeonato do Brasil, saltando de 2 para 7 milhões de telespectadores. As coberturas deixavam de ser feitas em videotapes com cortes e passavam a ser transmitidas na íntegra, com apenas um dia de defasagem. A Olimpíada de 1964, em Tóquio, finalmente teve um apoio maior da mídia. Mas, infelizmente, o Brasil não teve uma participação significativa, o que acabou por desestimular 12 a população a acompanhar a maioria dos esportes. Em 1966, na Copa da Inglaterra, o Brasil decepcionou, mas, em compensação, o Santos de Pelé sagrava-se campeão mundial interclubes. A televisão já movimentava uma massa de 26 milhões de telespectadores, crescendo em uma proporção assustadora em relação ao rádio. Década de 70: Copa do Mundo do México, Brasil tri-campeão mundial de futebol. Pela primeira vez o país estava assistindo a uma transmissão direta da Copa do Mundo pela televisão. Imagem e emoção ajustadas ao mesmo tempo na conquista definitiva da taça Jules Rimet, depois de quarenta anos de disputa. A aquela altura, o rádio já tinha uma audiência de 65 milhões de pessoas e a televisão 34 milhões. A Copa do Mundo de 1974, na Alemanha, trouxe uma novidade para os telespectadores: a transmissão direta e em cores para todo o país. Com isso, a televisão atingiu uma audiência de 44 milhões, enquanto o rádio chegava aos 80 milhões. A copa da Argentina, em 1978, que recebeu a visita de muitos brasileiros deu ao rádio uma audiência de 86 milhões, enquanto a TV beirava os 60 milhões. Se a TV reinou absoluta nas coberturas de Copas e Olimpíadas a partir de 70, o rádio mantinha seu prestígio nas transmissões de campeonatos estaduais e nacionais de futebol, em conseqüência da proibição da transmissão direta das partidas pela TV para as praças onde houvesse no mesmo dia e horário. A Olimpíada de Montreal, transmitida ao vivo para todo o mundo, teve intensa cobertura em todas as redes e foi onde começaram a surgir os primeiros investimentos em marketing esportivo fora do futebol. Década de 80: seria praticamente impossível descrever todas as alterações nas transmissões esportivas dos anos 80. Praticamente tudo mudou. As transmissões via satélite, a computação gráfica, as redes voltadas exclusivamente para o esporte, entre outros. O futebol ratifica-se como paixão nacional e as transmissões de jogos estaduais e nacionais pelo rádio ainda dão bastante audiência. Surge a TV Bandeirantes como o “Canal do Esporte”, cobrindo todas as provas olímpicas e campeonatos das mais diversas modalidades esportivas. O desenvolvimento da computação gráfica permite a criação de vinhetas e aberturas criativas, transformando as competições 13 internacionais em verdadeiros shows para a população, que passa a dar atenção a outros esportes. Década de 90: há o desenvolvimento da TV a cabo, atingindo, no início da década, uma camada da população de maior poder aquisitivos e, agora, já chegando às camadas menos favorecidas, em bairros periféricos e com taxas de adesão e mensalidades mais populares. No início de 1997 as emissoras de TV a cabo tinham como um dos principais apelos junto ao público, transmitir, ao vivo, jogos para as praças onde eles estariam se realizando, seguindo um modelo consagrado nos Estados Unidos, muito comum para o boxe, basquete, baseball, e outros, o sistema pay-per-view. O assinante pagava uma cota extra para poder assistir a esses jogos. A crescente segmentação manifesta-se mais uma vez no surgimento de canais a cabo voltados unicamente para a transmissão e coberturas esportivas. De 2000 até hoje aconteceu à proliferação da TV a cabo, legal ou ilegalmente, para praticamente toda a população, sobretudo nas grandes metrópoles. E também, transmissões da TV aberta dos jogos até para as cidades que ocorrem. Com isso, o rádio perdeu força. Em comparação ao passado, poucas pessoas escutam o futebol pelo rádio. Hoje, no RJ, contando todas as rádios, com futebol nos estádios, o número é 500 mil ouvintes por minuto. Mesmo assim, o rádio continua fascinante, mesmo com essa pouca quantidade de pessoas em relação aos anos anteriores, podemos considerar um público fiel. 14 CAPÍTULO II A PERSONALIDADE DO LOCUTOR O rádio é, antes de tudo, companhia e diversão, pois pode ser escutado em qualquer lugar, no carro, no quarto, na cozinha e no local de trabalho, esses são os espaços mais importantes e, geralmente, por uma só pessoa. O rádio é amigo. Praticamente toda a programação radiofônica baseia-se nesse pressuposto, procurando chegar ao ouvinte, ocupado com alguma atividade, de maneira informal e íntima. Nesse aspecto têm fundamental papel os locutores e animadores, pois viram amigos dos ouvintes. Se nos anos 40 o apresentador dos programas radiofônicos era ao mesmo tempo próximo e distante, também acessível e de certa forma meio travado, com uma aura de austeridade, que lhe conferia maior credibilidade mas também distanciamento, a atual revolução dos costumes e a comunicação de massa exigiram locutores mais populares, antenados com a população ouvinte, que são as empregadas domésticas, os motoristas, os operários, os porteiros, enfim, as pessoas que sentissem na voz do locutor muito mais que a prestação do serviço de informar, mas a voz de um companheiro, de um amigo próximo que lhes compreenda as necessidades, alegrias e tristezas. Sendo o rádio um meio cujo público é altamente heterogêneo, o uso de uma linguagem especificamente cativante e simplificada também se faz necessária. Portanto, a mensagem radiofônica necessita de um tratamento mais delicado, a fim de se tornar mais alegre. É nesse momento que o papel do radialista é importante. Ao locutor, caberá encontrar o estilo homogeneizado para os diversos conteúdos, pois é preciso minimizar a mobilidade semântica da mensagem. A personalização deste locutor não é de hoje, apenas está calcada em outras bases. O que vivemos hoje seria a continuação do estilo que ficou consagrado a partir dos anos 40, com muita força. Mário Erbolato, em “Radiodifusão Brasileira”, lembra que muitos dos radialistas são frutos das camadas populares, por isso com formas de pensar e expressar-se muito próximas: “Muitos dos radialistas em atividade no Brasil 15 formaram-se com a prática, fazendo carreira nas emissoras. Alguns começaram como Office-boys, aproximaram-se dos colegas tarimbados e de projeção e com eles aprenderam”. E é o próprio autor quem completa: “O locutor é um semi-poderoso profissional, cuja voz chega as populações e passa a orientá-las. Há um diálogo, paradoxalmente unilateral, quando o locutor responde a uma carta, atende ao pedido para execução da faixa de um disco ou dirige um cumprimento ao ouvinte amigo estaria na descontração das frases o êxito radiofônico. Em resumo, o radialista tem uma personalidade, que se projeta perante os ouvintes, que o consideram um ídolo. É enfim, o que marca presença pela quantidade de sua voz, assuntos que aborda ou que sabe dizer, dirigindo-se a um público, do qual captou a simpatia.” Mas que discurso é esse, que pretende e cativa o ouvinte? São formas de falar, expressões como “minha amiga dona de casa”...” nossa ouvinte querida”, “ você, minha amiga, você, meu amigo que está aí do outro lado...”, “nós dois, juntinhos, aqui na sua rádio...”, a utilização do nome próprio no trato com os ouvintes, pequenos detalhes que prendem audiência, são usados com frequência pelos locutores, verdadeiros personagens, ícones identificados com as rádios em que trabalham e com a postura que adotam no ar, seja ela qual for. Assim, o locutor torna-se não apenas um informador, mas que é a própria cara do que o rádio pretende ser: amigo, companheiro, informante, tudo o que o ouvinte precisar. Um dos slogans do locutor Francisco de Assis, que foi da rádio Tupi na década passada, explicita isso: “Se você quer um amigo, pode contar comigo”. Essa “amizade” transforma o apresentador em parte do show, em uma metalinguagem que se acrescenta ao sentido de interação pretendido pela rádio. Isso porque todo o processo de elaboração e transmissão das mensagens pelo comunicador deve refletir as experiências culturais, sobretudo as experiências de fala do público receptor. O comunicador, escritor, jornalista, cineasta, produtor de rádio e TV e outros têm a obrigação de estar sintonizado com a linguagem falada pelas pessoas às quais vai se dirigir. As pessoas podem receber suas mensagens sozinhas, em qualquer lugar que estejam. Essa característica faz com que o locutor possa falar para todos os que ouvem como se estivesse falando para cada um em particular, 16 dirigindo-se àquele ouvinte específico. Sendo assim, o ouvinte se sente valorizado, acompanhado e os objetivos de informar ou entreter se tornam mais eficazes no rádio. A grade de programação é elaborada a partir dos locutores e do perfil de programa que eles apresentam, das atrações que eles trazem e do que oferecem ao ouvinte. Tanto o programa quanto a própria estrutura da transmissão são elaboradas a partir da personalidade do locutor, criando uma relação de fidelidade com o ouvinte amigo, coisa que uma profissão de quadros e programas soltos não conseguiria construir. Isso porque o locutor tem que envolver o público, precisa tornar o ouvinte próximo a ele. Isso é uma estratégia e uma necessidade, já que o rádio não pode ser impessoal. Cada radialista procura criar estilo próprio, evidentemente para torná-lo diferente dos demais. Exemplo: dirigindo-se aos motoristas de caminhões, procuram entusiasmá-los e valorizá-los, enquanto também transmitem músicas, notícias e informes ligados aos transportes. Outro ponto importante a ser destacado no comportamento do locutor é o improviso na transmissão diária dos programas. Esse recurso varia de locutor para locutor, mas sempre alcança seu objetivo: torna mais frouxo, natural, sem as amarras do script do programa ou aos horários dos quadros, e permitindo também ao próprio locutor expressar uma opinião, disfarçar uma falha da técnica ou simplesmente suavizar o ambiente depois de uma notícia mais desagradável. Sônia Virgínia Moreira no seu livro “O Rádio no Brasil”, explica que a improvisação tem sido um recurso fartamente utilizado pelos apresentadores, ao ponto de assegurar inclusive o sucesso junto a diferentes camadas de audiência. Isso acontece porque na comunicação radiofônica, tanto a narração do locutor quanto a transmissão de determinados sinais acústicos levam o ouvinte a relacionar essa transmissão a algo que lhe é familiar. Esse signo não será necessariamente uma palavra; poderá ser qualquer coisa capaz de dar origem a outros signos. Dessa forma, improvisar é trazer para o ouvinte a idéia de familiaridade, na medida em que ao improvisar o locutor aproxima-se mais ainda de sua fala e ações normais, emitindo signos, emissões vocais, 17 expressões, suspiros ou risos que identificam o ouvinte no locutor. Entretanto, é válida a ressalva feita por Luís Fernando Maglioca, em “Como falar no Rádio”, do locutor paulista Cyro César: “Será que esta fala é produzida, estudada e planejada? Será que é muito importante ir ao microfone sabendo o que se vai falar? Ou o decantado improviso é mais comunicativo? Ambas são válidas. O que importa é ter noção do que se vai falar”. Outro fator decisivo no sucesso de um locutor é a sensoriedade. Segundo Cyro César: “O rádio envolve o ouvinte, fazendo-o participar por meio de um diálogo mental. Ao mesmo tempo. O ouvinte sente a emoção das palavras do locutor e dos recursos da sonoplastia. Na sensoridade está à ligação direta locutor-ouvinte, onde cabe ao locutor quando ocupar o microfone discernir o certo do errado, o coerente do absurdo. O comunicador manipula a opinião do grupo que o escuta. O ouvinte acredita no que você fala, portanto seja claro, lógico, consciente, razoável e responsável em tudo aquilo que disser.” Entretanto, em vários casos esse poder de convencimento e esse poder de discernir certo do errado podem ser perniciosos ao locutor, e por conseqüência a todo o trabalho da equipe. Como no radialismo AM a opinião tem um espaço privilegiado dentro dos programas, o que diz diante do microfone toma uma dimensão muito maior do que pensa. O comentário, se feito sem responsabilidade ou cautela, pode resultar num mal entendido grave para a informação e consequentemente formação ideológica do ouvinte, e até mesmo para a credibilidade do locutor – embora seja justamente essa credibilidade que possa aumentar mais o estrago feito. Como personagem, o locutor tem o poder de manipular opinião e sentimentos do seu receptor, apresentando pontos de vista que este venha a apropriar-se. Todo radialista, pelo alcance e poder de persuasão de seu meio, deve ter em mente que é um formador de opinião, pois é o responsável pela divulgação de um fato, o qual será traduzido por ele em palavras escritas ou faladas. Entretanto o que se vê são casos de profissionais que não falam com essa responsabilidade como tal, e sim como uma vantagem ou um status sobre o resto do mundo. 18 O repórter ou entrevistador, ao formular perguntas e mesmo interferir na explanação do entrevistado não deve invadir o que costumamos chamar de primeiro plano. Este é sempre o fato que se examina, simbolizado pelo entrevistado que o apresenta. Na medida em que o repórter ou entrevistador é um mero intermediário entre o público receptor e o fato, o entrevistado representa o fato. Portanto o primeiro plano são as intervenções do repórter ou entrevistador, se não forem as de mero intermediário, se não buscam unicamente o maior esclarecimento do fato que está sendo examinado, constituem invasão do primeiro plano. A preocupação é com o ouvinte e tem que ser assim. Desde que o jornalista ou o radialista não venha com princípios éticos, que são consensuais universais, não tem o menor problema. E desde que ele também não vá contra questões fechadas da emissora, nem se posicione contra determinados assuntos. Existem coisas de caráter universal, princípios éticos, e disso a emissora não abre mão. Muitos consideram falha de utilização da posição de locutor, outro nem tanto, nisso não tem como dizer o que é certo ou o que errado, opiniões se divergem. Era o estilo de Cidinha Campos, hoje apresentadora na TV: ao início de cada um de seus programas, a radialista fazia um pequeno editorial, comentando uma notícia geralmente política, e o faz de maneira ferina e muitas vezes acusatória, sempre guiada apenas pela indignação popular, não pela análise desapaixonada dos fatos. Cidinha Campos fez história no rádio. Nesse caso, a defesa é da própria jornalista e apresentadora, em depoimento recolhido por Sônia Moreira em junho de 1989 no jornal Rádio X. Da entrevista, Sônia destaca que Cidinha “afirmava que se sentia um pouco como porta-voz da sociedade”, um pouco como todos os locutores se sentem; “eu sofro os problemas como cidadã. Existe aquela sintonia de eu me colocar ao lado do ouvinte nas mesmas dificuldades. O ouvinte sabe tudo de mim e essa identificação cria a intimidade”. Justiça seja feita: apesar de levada ao extremo por Cidinha, essa “necessidade” de ser íntima e compartilhar a opinião do ouvinte é o que faz de um locutor o que ele é: acima de tudo, um amigo. 19 Hoje, podemos considerar apresentadores no rádio com estilos próprios. Ricardo Boechat, na Band News FM, sereno e crítico ao mesmo tempo. Roberto Canázio e Antônio Carlos, na Globo, têm a linguagem popular, sendo que o segundo é pouco mais comedido nas palavras. Francisco Barbosa, na Tupi, tem um estilo alegre de ser e por isso é bem quisto pelo público. No esporte, José Carlos Araújo e Gilson Ricardo apresentam na Globo o Globo Esportivo e o Panorama Esportivo, respectivamente, e o segundo é mais brincalhão no ar. Na Tupi Wagner Menezes é o apresentador titular do Giro Esportivo e também leva brincadeiras ao ar, sobretudo quando tem o comentarista Jorge Nunes ao seu lado. No Momento Esportivo, da Rádio Brasil 940 AM, na hora do almoço, o apresentador Maurício Moreira é um pouco mais sério. 20 CAPÍTULO III O RÁDIO ESPORTIVO CARIOCA, O INÍCIO A Rádio Sociedade, inaugurada por Roquete Pinto em 20 de abril de 1923 foi a primeira emissora de rádio do RJ e também a primeira do Brasil. No início, investiu em alto estilo informativo e elitista com transmissões apenas de óperas, música clássica e conferências. Aos poucos, o veículo foi se modificando. A programação da Rádio Clube do Brasil, criada em 1924, já era bem mais popular. Apesar da precariedade em termos de tecnológica e serviço, as duas rádios dividiram o público carioca em toda a década de 20. Somente em 1929 foi inaugurada a terceira emissora: a Rádio Mayrink Veiga. Até o final dos anos 20, as emissoras de rádio no país seguiam basicamente o modelo de radio clubes, se sustentando a partir da contribuição de seus sócios. Nesse contexto, o esporte ainda não tinha qualquer destaque. As primeiras transmissões esportivas do rádio brasileiro foram feitas de forma muito precária em 1930, por Amador Santos, locutor da Rádio Clube do Brasil. Também conhecido como o repórter do ar, o locutor tinha marca registrada o tom neutro e absoluta sobriedade. Amador narrava futebol e corridas de cavalo com voz pausada, sem qualquer empolgação ou emoção. O radialista Renato Murce, em seu livro Os bastidores do rádio, chegou a dizer que Amador Santos transmitia futebol como quem transmite uma ópera no Teatro Municipal. Estas primeiras transmissões esportivas geraram vários conflitos entre dirigentes de clubes e profissionais do rádio. Os cartolas impediram os locutores de entrarem nos estádios, acreditando que se o jogo fosse transmitido pelo rádio o público não compareceria. A proibição gerou casos folclóricos. Amador Santos passou a transmitir jogos de binóculo, em cima do muro, lajes e telhados. Chegou a narrar jogos do Fluminense em cima de um galinheiro de uma casa vizinha ao estádio das Laranjeiras. Em 1932, César Ladeira se transformou o primeiro locutor a utilizar o rádio como instrumento de mobilização nacional, durante a Revolução Paulista. No mesmo ano, Getúlio Vargas baixou um decreto que permitia a 21 veiculação de propaganda no rádio. Esse fato mudou de maneira definitiva o perfil do veículo. As principais emissoras começaram a contratar artistas, que antes só se apresentavam em programas como forma de divulgação de trabalho. Além disso, o Brasil passou a distribuir concessões de canais a particulares, o que reforçou o caráter comercial do rádio. Com programas mais elaborados, que traziam chamariz ídolos da música, o veículo passou a se popularizar. Com a diminuição do preço do custo dos aparelhos, o rádio se incorporou definitivamente ao lar da família brasileira. Em 1936, foi inaugurada a Rádio Nacional, que se tornou o principal símbolo da época de ouro do rádio brasileiro. Estatizada em 1940, a Nacional passou a receber investimentos internacionais e do próprio governo, pois Getúlio pretendia utilizar a emissora como veículo maior de propaganda de seu governo. Esse investimento governamental levou a Nacional ao primeiro lugar na audiência, posto que ocuparia por mais 20 anos. 3.1- GAGLIANO NETO, O PIONEIRO Em 1932, a Rádio Mayrink Veiga trouxe de São Paulo um locutor de ficou marcado pelo pioneirismo. Apesar das primeiras transmissões feitas por Amador Santos, Gagliano neto foi quem tornou a locução esportiva conhecida em todo o país, transmitindo jogos até o fim da década de 50. Gagliano se transferiu para a Rádio Clube do Brasil onde foi o primeiro locutor a narrar uma Copa do Mundo, em ap38, na primeira transmissão internacional do rádio brasileiro. Apesar do clima total de amadorismo e do desempenho ruim da seleção brasileira, Gagliano neto se tornou uma celebridade nacional, pois sua voz era a única ligação entre o povo e a seleção. Como o Brasil não possuía um grande número de aparelhos de rádio, as pessoas se aglomeravam em frente a alto-falantes que transmitiam a narração dos jogos. Mais que um pioneiro, ele foi um herói, já que estas primeiras transmissões foram feitas por uma total falta de estrutura. O som limpo dos sinais de satélite que recebemos hoje em dia não passava de utopia naquela época. Os primeiro cabos submarinos, que 22 melhoraram muito a qualidade do áudio só sugiram nos anos 60. O sinal das transmissões de Gagliano era ouvido através de ondas curtas, que refletem na camada atmosférica, chegando até os ouvintes. O resultado era um desafio ao coração do torcedor apaixonado. Como as camadas são imperfeitas, diferentemente da superfície lisa e espelhada por satélites atuais, o som chegava muitas vezes distorcido e marcado por oscilações que tornavam as palavras do locutor incompreensíveis. A aflição do torcedor era tanta que muitos ouviam os jogos nas ruas, na tentativa de conseguir uma melhor localização e uma melhor qualidade de som. É importante lembrar que muitos dos maneirismos dos locutores esportivos vieram exatamente dessa baixa qualidade de som. A letra R, por exemplo, era falada de forma puxada, semelhante a pronúncia espanhola, para facilitar a compreensão por parte dos ouvintes. Invariavelmente as transmissões abriam com um ‘senhorrras e senhorrrres do rrrrádio’ bem característico. 3.2- ODUVALDO COZZI, ARY BARROSO E ANTONIO CORDEIRO No final dos anos 30, a Rádio Nacional já fazia transmissões esportivas com certa regularidade. Às vésperas de um Fla-Flu na Gávea, o principal locutor da emissora adoeceu. A fatalidade foi o pontapé inicial na carreira de um dos grandes nomes do cenário histórico deste meio. A Nacional escalou sem muita alternativa, Urbano Lóes, famoso locutor de comerciais, acostumado a gravar textos de poesias e que não entendia nada de futebol. Para auxiliá-lo, escalou um novato locutor, de apenas 19 anos. Oduvaldo Cozzi. Uma hora antes do jogo, Urbano e Oduvaldo iniciaram a transmissão. Urbano, como seu tom poético fez elogios ao gramado, ao estádio e a entrada dos times em campo. Foi só. Mal a bola rolou e o empostado locutor percebeu que não poderia continuar e entregou o microfone para o garoto Cozzi, que apesar do nervosismo, deu conta do recado. O resultado agradou. É bem verdade, que, como receio de lançar um rapaz tão jovem como locutor 23 principal, a Nacional contratou o experiente Antônio Cordeiro, mas o desempenho de Cozzi lhe rendeu muito prestígio na emissora. Considerado um dos narradores mais completos do rádio, Oduvaldo Cozzi, foi também o criador de várias novidades em termos de transmissão esportiva. Dizem que Cozzi foi o primeiro a colocar gravador escondido no túnel dos técnicos para divulgar declaração dos treinadores durante os jogos. Cozzi ficou pouco tempo na Nacional. No final dos anos 40, a Rádio Continental inovou o esquema das transmissões esportivas, lançando um modelo de rádio totalmente voltado para o esporte. Não à toa o seu slogan era “A rádio 100% esportiva”. E para este projeto a emissora contratou Oduvaldo Cozzi. Ás vésperas da Copa de 1950, disputada no Brasil, a Rádio Nacional de Antônio Cordeiro se mantinha como a número 1. Entre seus repórteres de campo, destacava-se César de Alencar, que apresentava um dos programas de auditório de maior audiência na época. Outro repórter era Jorge Curi, recém chegado da mineira Caxambu e iniciando uma brilhante carreira como locutor. Anos depois ele substituiria definitivamente Antonio Cordeiro, que era sisudo e sério, como narrador titular da Nacional. Porém, antes que seu talento como locutor fosse conhecido e reconhecido, Curi teve que trabalhar animando programas de calouros chamado “A hora do pato”. Curi também sofria com as broncas de Antônio Cordeiro, que muitas vezes esbravejava e reclamava no meio de uma transmissão, coisa pouco comum na época. Mas a espera valeu a pena. Jorge Curi foi um dos nomes mais importantes do rádio na década de 50 e se tornou conhecido como o locutor padrão do rádio brasileiro. 3.3- ARY BARROSO Na mesma época, a segunda força do radiojornalismo esportivo era a Tupi. Seu principal locutor era Ary Barroso, um torcedor apaixonado pelo Flamengo, e que não fazia a menor questão de ser imparcial e transmitia os jogos torcendo com fervor para o rubor-negro. Quando um adversário do Flamengo atacava, ele chegava a interromper a transmissão como um ‘não 24 quero nem ver’. Por causa dessa falta de neutralidade, Ary era odiado pelos dirigentes de outros clubes e várias vezes impedido de entrar em São Januário, estádio do Vasco, maior rival do Flamengo, acusado de ser um defensor do time de maior torcida do país segundo as pesquisas feitas pelo Ibope. Mas ao contrário dos cartolas, torcedores de todos os clubes se sentiam atraídos pelo jeito dele, os rubro-negros vibravam com sua narração apaixonada, enquanto os rivais escutavam sua narração para ouvir a reação do locutor diante de um gol do adversário do Fla. Graças a esse jeito particular e politicamente incorreto, Ary Barroso foi líder de audiência por toda a vida. A carreira de Ary começou de maneira curiosa. Trabalhando na Rádio Cruzeiro do Sul, ele era responsável por programas musicais humorísticos. Numa tarde de Fla-Flu, o locutor oficial da rádio teve uma úlcera e como Ary gostava muito de futebol, foi chamado para substituí-lo. Nunca mais saiu. Estreia bem parecida com a de Oduvaldo Cozzi. Foi Ary Barroso quem acrescentou às transmissões esportivas as figuras do repórter de campo e a do comentarista do intervalo. Outro diferencial do locutor era sua famosa gaitinha. Ao invés do tradicional grito de gol, era com o som da gaita que ele comemorava os triunfos dos atacantes. No livro Radiojornalismo eletrônico ao vivo, de Sidney Resende e Sheila Kaplan, o jornalista Sérgio Cabral conta como este história começou. “Naquela época não havia cabine para as transmissões nos estádios. Os narradores ficavam geralmente na social ou na arquibancada mesmo. Quando havia um gol o ouvinte não percebia, tal a barulhada. Ary ficou imaginando um jeito de contornar isso. Pesquisou em casas de música, ouvindo vários instrumentos até que, numa loja de brinquedos, encontrou uma gaitinha de plástico, que passou a tocar sempre que tinha gol. Ficou conhecido como o home da gaitinha. Se era gol do Flamengo, ele tocava um tempão, se era gol de outro time, acabava logo, porque ele não ia perder tempo com o gol dos outros”. O som da gaitinha virou referência para os rubro-negros. Quando Moraes Moreira fez a música em homenagem à conquista do Mundial em 1981, um dos versos dizia ‘a gaitinha vai tocar, como nos tempos de Ary...’ 25 De temperamento forte, o locutor provocou confusões folclóricas. Em um jogo entre Brasil e Argentina, em Buenos Aires, ele quase foi linchado depois de provocar os argentinos, achando que o árbitro roubara o Brasil, largou a transmissão e invadiu o gramado para brigar. Outro episódio conhecido foi em um Vasco e Flamengo, onde o time de São Januário era favorito. O Flamengo marcou o gol da vitória aos 41 minutos do segundo tempo e de forma ilegal. Ary não agüentou e largou a transmissão para comemorar com os jogadores. No panorama do final da década de 40, os ouvintes se dividiam entre a paixão de Ary Barroso, na Tupi e o jeito forma de Antônio Cordeiro, na Nacional. Porém, duas forças iam surgindo. Uma era a Rádio Globo, inaugurada em 1946 e então emissora de pequeno porte. Seu primeiro locutor era Doalcei Camargo, paulista de Marília, cuja carreira se confunde com a própria história do rádio esportivo. A outra potência era a Rádio Continental, que ficaria famosa por suas inovações nas transmissões. 3.4- AS HISTÓRIAS DE JOÃO SEM MEDO Na história do radiojornalismo esportivo, João Saldanha merece um capítulo à parte. Sua carreira começou por acaso, em 1945, com matéria pela Europa para uma pequena agência de notícias do tio de um colega na faculdade. Apaixonado pro futebol foi dirigente e técnico do Botafogo no final da década de 50. Foi nessa época que surgiu um dos mais brilhantes comentaristas que o rádio já teve. Em março de 59, Cozzi, Curi e Waldir Amaral disputavam a preferência do público. Na ocasião, Cozzi já estava na Mayrink Veiga, Amaral defendia a Continental com seu estilo aplicado, sério, sem preocupações detalhistas nem audácias verbais e Curi utilizava seu vozeirão na Nacional, dando força a cada sílaba das palavras. Nesse fim de 50, Cozzi era o número 1, Waldir em segundo e Curi na terceira posição. O Brasil iria iniciar sua primeira competição depois de conquistar a Copa de 58, o Campeonato Sulamericano de Buenos 26 Aires e as emissoras estavam empenhadas em novidades para suas transmissões. João Máximo, em seu livro ‘João Saldanha sobre nuvens de fantasia’, conta como o comentarista foi contratado pela Nacional. “Alguém sugeriu Curi a levar com ele um comentarista diferente, sem o tenicismo mal humorado de José Maria Scassa nem o palavrório envernizado de Luis Mendes. Quer dizer, alguém que falasse simples, claro, articulado, com capacidade de transmitir seus conhecimentos de futebol tanto à intelectualidade mais exigente quanto ao povão menos sofisticado. Portanto, que Jorge Curi buscasse outro parceiro. E por que não João Saldanha?” João aceitou na hora e nunca mais saiu. Nos 30 anos seguintes passou pelas rádios Nacional, Mayrink Veiga, Continental, Guanabara, Globo e Jornal do Brasil. Saldanha tinha um estilo único, que inovou com a linguagem do radiojornalismo. Seus comentários eram coloquiais com o um papo de esquina, qualquer menino entendia sua análise. Enquanto a regra na época eram frases rebuscadas e palavras difíceis, João iniciava seus comentários com simples ‘meus amigos’. Ao mesmo tempo atraía os intelectuais, que aprenderam a gostar de futebol com ele. João virou o ‘realmente técnico’, o ‘comentarista que o Brasil consagrou’, o ‘João sem medo’. Porém o próprio se intitulou como ‘um homem que gostava de viver. Saldanha virou um fenômeno. A audiência aumentava a cada dia. Até quem ouvia o jogo em outras rádios, sintonizava a Nacional no intervalo. De temperamento forte, dizia o que vinha a mente. Foi autor de frases polêmicas. “Todo técnico favorável a concentrações longas é um candidato a corno”, “se macumba ganhasse jogo, o Campeonato Baiano terminaria empatado”, “pênalti é tão importante que deveria ser batido pelo presidente do clube”. João era célebre pelas histórias que contava em uma disse que Pelé era míope não enxergava a bola direito. Na época de ditadura, a maioria dos comentaristas era obrigada a se omitir, João sempre dava um jeito peculiar de criticar o Governo e como a forma era tão sutil, ninguém encontrava argumentos para puni-lo. O temperamento forte foi responsável por conflitos. Em sua passagem pela Rádio Globo, divergiu em dois lances em duas partidas consecutivas com Jorge Curi. Waldir Amaral, então chefe, deu razão ao narrador e Saldanha 27 pediu demissão. Apesar do jeito intempestivo, para José Carlos Araújo, João Saldanha foi um mestre. “Saldanha foi o maior gênio da comunicação que eu conheci. Ele era um homem muito viajado e por isso seu grande trunfo era sua cultura geral. Para ser um bom comunicador, você ter que ser no microfone o que você é fora dele. E João era extraordinariamente simples. Uma característica que o diferenciava dos demais era que ele não comentava o jogo em si e sim um detalhe do jogo. Falava da grama, da bola e em cima disso fazia o comentário. Graças a esse estilo ele atraía até quem não gostava de futebol”. João terminou como técnico da seleção brasileira. Entrou em 4 de fevereiro de 69 com a missão de arrumar a equipe que fez péssima campanha em 66 e saiu boicotado, em 17 de março de 70. Não sem antes organizar as feras e entregar a seleção pronta para Zagallo, que conquistou o tri no México. Mas isso é outra história. 3.5- AS INOVAÇÕES DE WALDIR AMARAL Em 1962, a Rádio Guanabara deu início ao projeto de formar uma verdadeira seleção. Alguns escalados para a empreitada foram Doalcei Camargo, Jorge Curi, José Cunha e Luis Mendes. Na época, um timaço. Só que a emissora era pequena, tinha som ruim e não oferecia estrutura. Não durou muito tempo. A equipe se diluiu. Curi voltou para a Nacional, Doalcei para a Tupi onde o comentarista era Ruy Porto e na Continental a dupla era Waldir Amaral e Luis Mendes. No ano seguinte a Rádio globo preparava sua ascensão e contratou Waldir e Mendes. A negociação marcou o princípio de uma mudança fundamental na linguagem do rádio. Waldir começou sua carreira na Rádio Clube de Goiânia. Contratado pela Globo, aperfeiçoou um formato de programação esportiva altamente inovador, com aspecto que priorizava o show da transmissão e que seria adotado por todas as emissoras a partir de 70. O locutor deixou ser ao ar sério e passou a interagir mais com o público. Waldir percebeu certos elementos sonoros que poderiam enriquecer e dar mais força 28 a transmissão. Foram dele inovações como vinheta com sinal eletrônico para marcar o tempo e criação de jingle para cada locutor, que até hoje são usadas. Essas características de transmissão são até hoje importantes, tanto é que o anunciante que quiser ter o nome do produto ligado a essas características paga mais do que um anúncio normal. Com suas vinhetas, Waldir Amaral criou uma espécie de valores publicitários. Pouco antes da Copa de 70, Amaral e Mário Viana, então diretor da Rádio Globo, criaram uma das vinhetas mais famosas e representativas do rádio brasileiro. Depois de duas horas num estúdio, na voz de Edmo Zariff, surgiu o “Brasiiiilllll”, vinheta utilizada até hoje. O processo de mudança foi lento e só se concretizou no fim de 70. Até essa época os locutores começavam suas transmissões com o formal ‘boa noite senhoras e senhores’, a bola era chamada de pelota ou balão de couro. Outra mania era usar ‘off side’. O que Waldir Amaral fez foi levar para os programas esportivos a linguagem do povo. As expressões eram colhidas no dia a dia e qualquer situação servia de bordão. Tanto é que no cinema que surgiu o ‘indivíduo competente, esse’, que seria marcante nas suas narrações. Foi ele que deu o apelido de ‘galinho de Quintino’ ao Zico, o ‘demônio de pernas tortas’ ao Garrinha e o de ‘termômetro da Copa’ ao Didi. Até hoje é considerado o inventor do radiojornalismo esportivo, um dos grandes nomes em termos de locução e referência obrigatória aos locutores. Não à toa e nem por acaso, recebeu o prêmio de melhor locutor esportivo do rádio por 10 anos consecutivos, isso quando os prêmios eram sérios, mas isso também é outra história. 3.6- DOBRADINHA WALDIR AMARAL E JORGE CURI A Copa de 1970, no México, foi a primeira a ser transmitida por satélite. Porém a falta de condições técnicas e a precariedade das linhas de transmissão determinaram que as emissoras de rádio brasileiras se organizassem em trios, formando pools de transmissão conjunta. As duas maiores emissoras cariocas da época, a Nacional e a Globo, se uniram com a Rádio Gaúcha, do Rio Grande do Sul, formando um time praticamente 29 imbatível. Na época a equipe da Nacional tinha Jorge Curi narrando, João Saldanha comentando e Denis Menezes como repórter de campo. A Globo por sua vez trazia Waldir Amaral na narração, com Luis Mendes nos comentários e Washington Rodrigues como repórter. Dois verdadeiros timaços, que dividiram o trabalho de transmissão dos jogos em que o Brasil se tornou tricampeão. Na verdade, em 70, o Brasil tinha duas grandes seleções. Uma em campo e outra nas cabines de rádio. A terceira emissora carioca, a Tupi, montou um esquema forte, mas que não fazia frente aos seus concorrentes. Com um pool formado pela Tupi de São Paulo e a Rádio Guarani de Belo Horizonte, trazia Doalcei Camargo como narrador e Rui Porto como comentarista. A direção da Rádio Globo ficou tão satisfeita com o resultado do trabalho, que no final do Mundial levou Curi, Saldanha e Denis para seus microfones. Juntamente com Waldir Amaral, os três ficaram na Globo até 1976, formando uma equipe que até hoje não foi superada. Ainda nessa época as transmissões esportivas tinham um detalhe curioso, que as diferenciava das transmissões atuais. Cada emissora possuía dois locutores oficiais e cada um narrava um tempo do jogo. O sistema era revezamento, quem narrava o primeiro tempo em um jogo, narrava o segundo tempo de outro jogo, e o locutor que narrava o primeiro tempo fazia a promoção do companheiro que iria narrar o segundo tempo. Era comum ouvir Jorge Curi anunciar entre um lance e outro da partida “e no segundo tempo você vai ouvir o clássico dos locutores brasileiros: Waldir Amaral”. Foi uma dobradinha e tanto. Tanto é que quando as emissoras de rádio fazem hoje em dia alguma dobradinha, independentemente dos jogos, sempre informam que tudo começou assim, com dobradinha feita por Curi e Waldir. No meio desse time de feras, um outro locutor, escalado para transmitir os jogos de menor importância começou a ganhar espaço. Era o “verdadeiro garotinho”, José Carlos Araújo, até hoje no rádio. Ele é o grande elo entre os narradores experientes e os mais novos e ainda o grande ídolo dos recémformados e que buscam brilhar no rádio. 30 3.7- JOSÉ CARLOS ARAÚJO, O VERDADEIRO GAROTINHO Quando alguém perguntava para José Carlos Araújo o que ele queria ser quando crescesse era apenas uma resposta: locutor. E foi uma brincadeira de criança que abriu as portas do mundo do rádio para aquele que é hoje um dos nomes da locução brasileira. José Carlos Araújo descobriu seu dom de comunicador narrando partidas intermináveis de seu time de futebol de mesa, o jogo de botão. O pai queria um filho diplomata, a mãe preferia vê-lo médico. José Carlos Araújo formado como professor de Geografia, não porque as salas de aula o atraíssem, mas porque era a única profissão que permitia que ele conciliasse os estudos com sua verdadeira paixão: o rádio. Até hoje, José Carlos Araújo afirma que a maioria dos bordões que utiliza em suas transmissões surgiu no convívio com seus alunos. A carreira de um dos maiores locutores do rádio brasileiro começou quando José Carlos Araújo começou a trabalhar, aos 14 anos, em um programa para estudantes na Rádio Nacional e no programa “Bandeirantes no Ar”, da Rádio Roquete Pinto. Aos 15 já era profissional na Rádio Continental, da qual seu pai era contador. Durante três anos, fez o noticiário da cidade. Cobriu carnavais e eleições. Mas ser repórter de rádio não bastava para José Carlos. Ele queria realizar seu grande sonho que era trabalhar com o esporte: Recentemente José Carlos Araújo concedeu entrevista à Boa Vontade TV, canal 23 da SKY. “Sou de uma época em que jornalista não precisava de diploma. O que contava mesmo era a vocação. As pessoas ingressavam no jornalismo com uma base única, sua cultura geral”. Hoje em dia voltou a ser assim, para trabalhar como jornalista não é necessário diploma, basta o dom. Lógico que os estatutos particulares de cada emissora, mas isso é outro assunto. O apelido pelo qual passou a ser conhecido, veio da mania de José Carlos chamar todas as pessoas de garotinho ou garotinha. Foi na cobertura de sua primeira Copa como locutor da Rádio Globo, em 1974, na Alemanha: “o 31 Denis Menezes (repórter), de tanto me ouvir chamar os outros de garotinho, colocou o apelido, que rapidamente virou marca registrada”. Em 1968, o novato José Carlos Araújo foi para Rádio Globo para ser o segundo locutor da emissora. No final de 76, aconteceu uma verdadeira revolução no radio jornalismo esportivo carioca. José Carlos Araújo achou que era hora de se tornar o primeiro locutor e trocou a Rádio Globo pela Nacional. O repórter Marcus Aurélio de Carvalho, o ceguinho do rádio, atual âncora da Rádio CBN e da Rádio Globo e que trabalhou no esporte durante 15 anos, conta o episódio, numa conversa informal: “em uma entrevista da época, José Carlos Araújo, chegou a dizer que se sentia como produto no fundo de uma vitrine, uma vez que Waldir Amaral e Jorge Curi se revezavam no comando dos jogos principais”. Junto com o Garotinho, foram para a Nacional o comentarista Luis Mendes e o repórter Denis Menezes. Foi uma época de muitas mudanças. José Carlos Araújo adotou o sistema de dois repórteres cobrindo cada partida e para fazer parceria com Denis Menezes, trouxe Washington Rodrigues, na época e hoje, da Rádio Tupi, ao invés dos três habituais. O sistema foi adotado por todas as outras emissoras, dando origem às duplas que marcaram o radio jornalismo esportivo. Um exemplo era a parceria Loureiro Neto/Kléber Leite, contratada pela Rádio Globo após a saída de José Carlos. Ao final de cada partida o locutor Jorge Curi falava “fim de papo, Kléber/ Loureiro”, como deixa para que os repórteres iniciassem os trabalhos de entrevistas. A frase virou marca registrada das transmissões da Globo e caiu no gosto do público. Quando se queria dizer que alguma coisa tinha acabado era só falar ao mesmo tempo em que Curi. Hoje José Carlos Araújo, referência de muitos, apresenta o Globo Esportivo e é ainda o número 1 no Ibope. A Rádio Tupi hoje tomou a liderança da Globo, com a bola rolando e o Garotinho narrando, ele é o campeoníssimo do Ibope. Agora, como é que José Carlos Araújo conseguiu e consegue ficar tanto tempo no topo. Ele mesmo diz na entrevista. “Eu me inovei, sempre estou antenado com o povo, sempre mesmo, converso com todos, entendo o processos da internet, da TV e dou aulas para jovens”. 32 3.8- ANOS 80 E 90 No início dos anos 80, Washington Rodrigues e Denis Menezes tiveram um sério desentendimento por causa de problemas envolvendo publicidade. Já nessa época os profissionais do rádio esportivo tinham um envolvimento muito grande com a colocação de placas publicitárias nos estádios e a veiculação de anúncios durante as transmissões. Essa prática é comum até hoje, quando vários profissionais são também agenciadores de publicidade. A discussão se torna ainda mais delicada quando esbarra na questão de isenção, uma vez que grandes anunciantes são diretamente ligados aos dirigentes de clubes. Mas voltando à história, o fato é que Denis Menezes e Washington Rodrigues se desentenderam de forma definitiva. Para evitar constrangimento de dois repórteres que não mantinham boas relações serem obrigados a dividir as reportagens de campo, José Carlos Araújo colocou Washington como comentarista. Surgia aí o “Apolinho”, famoso por seus comentários feitos numa linguagem informal e cheios de gírias e expressões de efeito, que agradaram em cheio ao ouvinte. O apelido surgiu porque Washington utilizava em suas transmissões um aparelho portátil usado pela NASA na missão Apolo. Foi Washington quem apelidou os freqüentadores de estádios como “Geraldinos e Arquibaldos” e criou a expressão “briga de cachorro grande” para definir os clássicos de futebol. Para o lugar de Washington a Nacional apostou em um garoto recém chegado de Campos: Eraldo Leite, que atualmente comanda parte das transmissões da Globo. Nesse início dos anos 80, a Rádio Nacional recuperou muito do seu prestígio, tirando da Tupi o segundo lugar de audiência. Graças a esse feito, o prestígio de José Carlos Araújo como locutor cresceu de forma extraordinária. Mas os tempos áureos da Nacional duraram pouco. Em 1984, a Rádio Globo afastou Waldir Amaral da narração dos jogos, que passaram a ser divididos por Edson mauro e Jorge Curi. Na verdade, esse foi o primeiro passo para afastar Amaral e trazer Garotinho de volta. A reestreia de José Carlos 33 Araújo na emissora líder de audiência só poderia ser num grande clássico do futebol brasileiro: um Fla-Flu em dezembro de 1984. Em sua volta, José Carlos promoveu outra grande mudança: o sistema de dois locutores, um narrando cada tempo foi abolido definitivamente na Rádio Globo. Mais tarde o locutor único foi adotado por todas as outras emissoras. Contrariado por ter sido preterido, Jorge Curi se transferiu para a Rádio Tupi, onde dividiu o microfone com Doalcei Camargo. Foi uma época de dura disputa pela audiência. A Globo contava com o jeito inovador e moderno de Garotinho, enquanto a Tupi apostava na força e na tradição de Jorge Curi. Os ouvintes tinham tamanha adoração por Curi que, em um primeiro momento, chegaram a se revoltar com a Rádio Globo pela dispensa do locutor, considerado a voz padrão do rádio jornalismo esportiva carioca. Foi em dezembro de 1985 que o rádio perdeu essa voz padrão como conta no mesmo papo informal o jornalista Marcus Aurélio de Carvalho, que na época trabalhava na Rádio Tupi: “no dia 22 de dezembro a Tupi fez um grande almoço de confraternização para seus funcionários. A equipe de esportes estava toda lá e a imagem mais forte na minha memória, é a do Jorge Curi se despedindo, dizendo que ia sair cedo porque de manhã viajaria para Caxambu. No dia seguinte, estávamos na rádio e no meio do programa de esportes que era apresentado pelo Kléber leite, chegou à notícia de que o Curi tinha batido com o carro e morrido na hora. O Kléber se desesperou e começou a chorar, todos nós ficamos muito consternados. Fui o único repórter do Rio a cobrir o velório e o enterro de um dos meus maiores ídolos de infância”. Na Rádio Globo, líder de audiência, um nome começou a despontar nessa época, foi o de Luiz Penido. Com um estilo parecido com o de José Carlos, Penido passou rapidamente de sexto para segundo locutor da emissora. A idéia era ter os primeiros locutores com estilos de voz e narração bem parecidos, para criar uma espécie de marca da emissora que fosse facilmente identificada pelo ouvinte. Penido havia entrado para a Globo em 1969, com apenas 14 anos de idade, com o rádio-escuta. Considerado uma revelação, apenas três anos depois já recebia convites de outras rádios, cobria o time do Botafogo e 34 irradiava trechos de jogos de menor porte. Em 1973, estava escalado para acompanhar Botafogo x Bahia, em Salvador. O jogo principal da tarde seria um Flamengo x Vasco, no Maracanã. Quatro horas antes da partida, o jogo do Maracanã foi adiado e Penido foi avisado que teria que transmitir toda a partida do Botafogo. Em menos de três horas teve que arranjar um comentarista, repórteres de campo e ainda se preparar para a transmissão que acabou sendo um sucesso. A partir daquele dia Penido começou a ser respeitado como locutor e sua carreira ganhou força. Como primeiro locutor da Rádio Eldorado, atual CBN, quando transmitiu basquete, regatas, corridas de fórmula-1. Nessa fase ganhou por oito anos seguintes o prêmio de melhor locutor de basquete do Brasil e voltamos a dizer quando os prêmio eram sério e conceituados. Quando José Carlos Araújo retornou para a Rádio Globo, em 1984, Penido foi convidado para ser seu segundo locutor. Luiz Penido começou a se destacar e a buscar espaço cada vez maior. Foi então, que na ironia do destino, em 1988, a Rádio Tupi convidou Penido para ser seu primeiro locutor, adotando o esquema de único narrador por jogo, assim como antes a Nacional havia feito com José Carlos Araújo. Penido mudou radicalmente a imagem do jornalismo esportivo da Rádio Tupi, levando com ele a linguagem jovem e dinâmica que havia desenvolvido na época que trabalhou com Waldir Amaral na Rádio Globo. Foi Luiz Penido que criou o programa esportivo de duas horas no final da noite, copiado mais tarde por várias emissoras. O locutor também aboliu expressões antigas que ainda eram utilizadas pela equipe da emissora, como “o time ganhou por dois TENTOS a zero” Em 1996, a Rádio Tupi tenta um esquema ousado, trazendo Osvaldo Maciel da Rádio Globo de São Paulo, que era o número dois na equipe de Osmar Santos. Apesar de ser um excelente locutor, Maciel não emplacou. Faltou a Tupi uma estratégia de marketing eficiente para que se tornasse conhecido o nome do novo locutor. “O Osvaldo era um cara desconhecido no RJ, por isso a ousadia da Tupi foi um fracasso, tudo que acontece ao rádio está diretamente ligado a tradição. O sucesso depende da confiança que o público tem em você”, avalia Marcus Aurélio de carvalho. 35 Consciente do fracasso, a Tupi trouxe de volta Luiz Penido, que havia estado uma temporada na Tropical FM, da qual falaremos mais adiante. Quando transmite um jogo, o locutor abusa dos elementos que façam com que o público se identifique com a rádio. Vinhetas musicais, linguagem despojada, gírias e bordões. Todo material lingüístico que foi sendo desenvolvido e aperfeiçoado por grandes profissionais através dos tempos. Outro fator que inclui bastante na criação de uma nova linguagem para a transmissão esportiva foi a publicidade. Ter encontrado no futebol pelo rádio um filão a ser explorado. Até a década de 50 os anunciantes preferiam exibir seus produtos nos jornais e revistas por acreditar que as imagens captavam mais a atenção dos consumidores que as palavras. Hoje em dia esse pensamento foi superado, os locutores criaram uma linguagem na qual associam o patrocinador a um fato determinado do jogo como o tempo e o placar. Isso faz com que o ouvinte estabeleça uma ligação imediata entre o futebol e o produto anunciado sem perceber. A quantidade de anúncios durante as transmissões aumentou tanto que chega a prejudicar a narração. Não é raro o locutor perder um lance ou uma falta importante enquanto fala um comercial. Lógico que a TV ganhou espaço nesse cenário há uns 15 anos, mas no rádio, Globo e Tupi continuam com inúmeros comerciais. As outras menos cotadas na audiência, como a Brasil, da LBV e a Manchete, não têm tantos anunciantes. Durante as transmissões dos jogos, a equipe da Globo mantém uma ligação constante com o jornalismo. O Amarelinho da Globo, que surgiu em 1974, é um repórter que fica pela cidade, cobrindo acontecimentos importantes e transmitindo um noticiário de utilidade pública como condições do trânsito, acidentes, assaltos e outros. Outra figura marcante era a de Alberto Brandão, que hoje está na Tupi e que com sua voz inconfundível, dava um panorama da situação nos principais hospitais e delegacias da cidade. José Carlos Araújo se orgulha de cobrir assim uma lacuna deixada pelo Jornalismo convencional. “eu entendo esporte como jornalismo. Aos domingos, ou à noite, quando as relações estão vazias, eu procuro explorar aquilo que o rádio tem de mais importante, que é a velocidade e o imediatismo”. 36 É exatamente essa interatividade do rádio que José Carlos Araújo explora. A Rádio Globo busca uma ligação com a televisão. Quando o jogo é transmitido pela TV, a rádio baseia suas transmissões em bordões como “de olho na telinha e ouvido na caixinha” e “se o jogo está na TV, a Globo se liga em você”. Para o chefe da equipe, o rádio supre a grande deficiência da televisão que é o áudio. “A televisão evoluiu muito em termos de imagem. Mas a qualidade do áudio do locutor e a do som ambiente deixa muito a desejar. A TV tem um som muito grave e por isso a equalização fica ruim. Já o rádio tem um som que transmite mais alegria e emoção”. Nas coberturas esportivas o som da TV dá ênfase muito grande à voz do locutor e dos comentaristas. O som ambiente praticamente desaparece e o espectador perde muito do calor da competição. O rádio teve que desenvolver estratégias próprias para enfrentar a concorrência da televisão. O primeiro mecanismo é priorizar a transmissão dos jogos de acordo com o tamanho da torcida de cada clube. Um jogo do Flamengo ou do Vasco rende mais audiência do que um do Botafogo e do Fluminense. Se existem dois jogos no mesmo horário envolvendo clubes cariocas, o que hoje é difícil, mas ainda tem, a Rádio Brasil 940 AM, por exemplo, procura transmitir aquele que não será televisionado. Já as rádios Globo e Tupi estão sempre com o que dá mais audiência e procuram atrair o ouvinte para a participação direta. Na Globo, então, durante o jogo o ouvinte é convidado a ligar para a emissora para dizer o que pensa do jogo que está vendo pela televisão. Essa parceria é marcada pelo bordão “fique de olho na telinha e ouvido na caixinha”. Outra vantagem do rádio em relação à televisão é a possibilidade de uma linguagem mais coloquial, que produz uma interação maior com o ouvinte. Mesmo em seus programas mais populares a televisão segue um padrão de linguagem mais formal e burocrático, apesar de na TV Globo, por exemplo, o Globo Esporte tem mudado o visual e o linguajar com apresentadores mais engraçados. O profissional do rádio por sua vez pode abusar das expressões populares e bordões utilizados em qualquer conversa de esquina. Esse estilo imprime ao veículo uma linguagem que se torna familiar ao ouvinte. 37 Na busca constante pela audiência, o rádio jornalismo esportivo muitas vezes é obrigado a alterar suas características. Um fato que ilustra bem essa mudança ocorreu no final de 1998. O mês de dezembro marca a época da final do Campeonato Brasileiro de futebol, que é esporte carro chefe das transmissões. Como neste ano, nenhum clube carioca participou das finais e prevendo uma queda de audiência as rádios Globo e Tupi resolveram apostar em outra área. Se por um lado o futebol carioca beirava o desastre, por outro a decisão do Campeonato Brasileiro de Basquete era decidido por Flamengo e Vasco, os dois clubes de maior torcida no RJ. Sem deixar de noticiar e transmitir as partidas de futebol, as duas rádios passaram a fazer uma promoção enorme em torno dos jogos finais de basquete. Por força das circunstâncias o basquete havia se tornado a paixão do carioca e as emissoras souberam capitalizar muito bem, explorando a grande rivalidade existente entre os dois times. O próprio José Carlos Araújo narrou os jogos entre Flamengo e Vasco, enquanto o futebol foi transmitido por Edson Mauro e Luis Carlos Silva, segundo e terceiro locutores respectivamente na época. A idéia, na época, deu certo. 3.9- FUTEBOL NAS FMS E O RÁDIO ESPORTIVO HOJE A Tropical FM foi durante um tempo uma exceção no dial carioca, como a única emissora FM no Rio de Janeiro a transmitir jogos de futebol e a ter um espaço grande em sua grade para a programação esportiva. A iniciativa começou em 1987, quando Waldir Amaral se tornou coordenador de esportes da emissora. Apesar das dificuldades e de certo estranhamento por parte do público, a iniciativa foi considerada válida e rendeu audiência. Segundo uma pesquisa do Ibope em agosto de 1997, a Rádio Tropical, que hoje não existe mais no FM, atingia o segundo lugar nos horários das transmissões esportivas, perdendo apenas para a Rádio Globo AM. Um fator favorável às emissoras de freqüência FM é a qualidade do som, muito superior a das rádios AM. A Tropical proporcionou mudanças nas transmissões esportivas de modo a adequá-las à linguagem da freqüência FM. Com uma linguagem mais 38 jovem e dinâmica, a jornada esportiva começa meia hora antes e termina meia hora depois, ao contrário das rádios AM que iniciam a transmissão cerca de uma hora e meia ou até mais antes da partida. Seu narrador principal era Sidney Marinho, que segue o estilo moderno, abusando das gírias e das metáforas durante as transmissões. Segundo o locutor Luiz Penido na conversa em que ele foi taxativo a declaração foi esta: “a transmissão em FM é uma opção extraordinária e acho que no futuro as coisas tendem a encaminhar para o FM. Uma transmissão mais enxuta, mais compacta e mais moderna”. E hoje é assim, Globo, Tupi e CBN transmitem o futebol também no FM, além da Transamérica. O futebol da Tropical se encerrou no ano de 1999, mesmo ano em que outra FM se entregava às transmissões esportivas. A 94 FM, do Governo, com Ricardo Mazela coordenando a equipe de esportes, com Rogério Ribeiro e Pierre Carvalho como os principais repórteres. A 94 FM apenas cobria os jogos, não tinha programa diário. Fez sucesso, mas foi extinta no ano de 2001. Seguindo essa tendência de levar o futebol para a FM, durante a Copa de 98, o Sistema Globo de Rádio e a Rádio Tupi, transmitiram alguns jogos também em suas emissoras de freqüência FM, a 98 FM e a Tupi FM, agora Nativa FM, respectivamente. Hoje no FM, além das de grande porte, tem o estilo despojado da Transamérica. Globo, Tupi e CBN, que têm no dial no AM e no FM com a mesma programação, continuam com a linguagem própria, com estilo jornalismo e noticiário. Na Globo, o coordenador foi contratado no fim do ano passado e é o Gilmar Ferreira, que também tem coluna no jornal Extra. Na Tupi segue Luiz Penido até hoje. Na CBN, Álvaro Oliveira Filho. No AM, além destas, tem a Rádio Brasil, com um programa super conceituado na hora do almoço, das 12:10h às 14h, com interatividade com o público e uma bela equipe de esportes. O coordenador é o Marcelo Figueiredo e os comentaristas são Francisco Aiello e André Gonçalves. A Rádio Brasil é emissora mais citada em jornais e sites especializados no esporte no país, devido as matérias feitas de forma exclusiva. A Rádio Manchete está no ar tem 39 cinco anos. O esporte é liderado por Rodrigo Campos e o principal nome da emissora é João Guilherme, que é narrador também no Sportv. 40 CAPÍTULO IV AVALIAÇÃO DO DOCENTE Depois de praticamente toda a história contada, é a hora de sabermos como o estudo está sendo transmitido aos estudantes da área. E para isso, buscamos informações atuais dos docentes na área de Comunicação Social com habilitação em jornalismo. Na grade do curso há a disciplina radiojornalismo. Os docentes conhecem a história do rádio? Esse é o tema proposto do trabalho. Escolhemos apenas dois docentes do ramo. O critério foi bem simples. Um entrevistado é Fábio Azevedo, da Cândido Mendes. O outro é Francisco Aiello, da Estácio. A escolha foi feita com esses dois pelo fato de um ser da universidade onde se concentra o A Vez do Mestre e outro por ministrar aulas na melhor universidade de ensino privado, segundo pesquisas. Já dá para ter uma noção se realmente os docentes conhecem do estão informando aos alunos. A entrevista consiste em dez perguntas, alguma simples, outras nem tanto e alguma situações de análise. 4.1 ENTREVISTA COM FÁBIO AZEVEDO Qual foi a primeira rádio inaugurada no Brasil? R: Rádio Sociedade, em 1923. Um ano antes, primeira demonstração pública através de uma Expo. 41 As primeiras transmissões esportivas no Brasil foram feitas em 1930 e de forma precária. Qual era a rádio e qual era o locutor? R: Em termos de Copa, foi a de 38, com Galliano Neto pelo Clube do Brasil/DF. O primeiro símbolo de ouro do meio foi a Rádio Nacional. Em que década foi fundada? R: Década de 30 Em 1932 a Rádio Mayrink Veiga trouxe de SP para o RJ um locutor que ficou marcado pelo pioneirismo, mesmo não sendo o primeiro a realizar transmissões esportivas. Qual o nome deste locutor? R: Boa pergunta, mas não sei. Teria que pesquisar. O que você sabe sobre Ary Barroso? Sintetize por favor. R: Inventor da sonoridade nas transmissões, pioneiro mesmo. A gaitinha famosa ganhou eco. Ele lançou um estilo diferente de transmitir uma partida. De quem é a voz daquele grito famoso Brasiiiiilll? R: Edmo Zarife A Rádio Globo, carro chefe das transmissões esportivas, teve uma dupla bem conhecida nas narrações. Um narrava o primeiro tempo e o outro narrava o segundo tempo. Quem eram? Conte um pouco do que você sabe sobre esta época. R: Jorge Cury e Waldir Amaral. Dois gênios do rádio e que marcaram época. A 42 década de 70 mostrava que o Rádio tinha muita força, apesar da TV ter tirado grandes nomes deste veículo. Os dois locutores dividiam a transmissão. Mesmo com narradores de peso no rádio, José Carlos Araújo foi e é o melhor de todos? Dê sua opinião. R: Tenho a honra de trabalhar com ele na TV e tive o privilégio de trabalhar com ele no Rádio, onde ele é FERA. Simples e muito profissional, o Zé faz questão de estar atento aos fatos. Sempre com o tom de voz tranquilo, ele sabe conquistar o seu espaço. Um verdadeiro Garotinho, que ainda tem muito para ensinar no Rádio. Para mim, o melhor. Pelo conjunto da obra! Quais são os maiores e melhores narradores, comentaristas e repórteres de todos os tempos? R: Vou apontar os que ouvi e trabalhei. Eraldo Leite, melhor repórter, José Carlos Araújo, o melhor locutor, e Washington Rodrigues, melhor comentarista. Não posso deixar de citar outras feras do Rádio, como Gerson, Mestre Luís Mendes, Luiz Ribeiro e Elso Venâncio, como repórter. Como você analisa o rádio esportivo hoje? R: Atravessa um momento de mudança e com algumas caras novas. A Rádio Brasil representa a geração do lado bom, os que estão preocupados com a credibilidade da informação, Por isso, viraram referência na hora do almoço. A minha geração, talvez, tenha trazido nomes legais para o Rádio e marcado uma mudança: pessoas com formação acadêmica entram no Rádio. Isso é bom porque dá mais qualidade às notícias. 43 4.2 ENTREVISTA COM FRANCISCO AIELLO Qual foi a primeira rádio inaugurada no Brasil? R: Rádio Sociedade, que foi fundada em Abril de 1923, por Edgar Roquette Pinto e Henrique Morize. As primeiras transmissões esportivas no Brasil foram feitas em 1930 e de forma precária. Qual era a rádio e qual era o locutor? R: A Rádio era Pan-americana ou Rádio Record e o locutor Nicolau Tuma. O primeiro símbolo de ouro do meio foi a Rádio Nacional. Em que década foi fundada? R: Foi criada em 1936, de início uma entidade privada e percebendo o sucesso e o potencial da emissora, Getúlio Vargas encampou a Rádio Nacional em 1940 e ela passou a partir deste ano a fazer parte da União. Em 1932 a Rádio Mayrink Veiga trouxe de SP para o RJ um locutor que ficou marcado pelo pioneirismo, mesmo não sendo o primeiro a realizar transmissões esportivas. Qual o nome deste locutor? R: Não sei, mas vou chutar Gagliano Neto. O que você sabe sobre Ary Barroso? Sintetize por favor. R: É compositor de sucesso das décadas de 40, 50 e 60 e também locutor esportivo, tinha como principal característica as narrações dos jogos do Flamengo, a cada gol do Flamengo ele tocava uma gaita de uma forma mais efusiva, mais intensa. E no gol do adversário o toque da gaita era mais suave. 44 De quem é a voz daquele grito famoso Brasiiiiilll? R: Edmo Zarife numa composição com José Cláudio Barbedo, o formiga. Criaram essa vinheta para a Copa do Mundo de 1970, já na Rádio Globo. A Rádio Globo, carro chefe das transmissões esportivas, teve uma dupla bem conhecida nas narrações. Um narrava o primeiro tempo e o outro narrava o segundo tempo. Quem eram? Conte um pouco do que você sabe sobre esta época. R: Jorge Cury e Waldir Amaral. Cada um narrava um tempo, era também uma época de ouro do rádio esportivo, o rádio era absoluto, porque não existia a transmissão de jogos pela televisão. O rádio era forte e presente, bem diferente dos tempos atuais. O rádio era o grande informador esportivo. Mesmo com narradores de peso no rádio, José Carlos Araújo foi e é o melhor de todos? Dê sua opinião. R: Eu acho que ele é o melhor da geração dele, é complicado dizer que ele é o melhor de todos, acho que ao longo dos anos tivemos grandes locutores esportivos. Dá para citar o nome de alguns como Oduvaldo Cozzi, Doalcei Camargo, Jorge Curi, Waldir Amaral e o próprio José Carlos Araújo. No mundo contemporâneo, da década de 80 para cá, ele de fato é o melhor. Quais são os maiores e melhores narradores, comentaristas e repórteres de todos os tempos? R: É complicado citar alguns nomes, porque a gente acaba esquecendo alguém e na verdade locutores como Oduvaldo Cozzi, Doalcei Camargo, José Carlos Araújo, Edson Mauro, a galera nova como o Evaldo José. Comentaristas João Saldanha, Rui Porto, Sérgio Noronha, Luiz Mendes e 45 Washington Rodrigues. Repórteres Deni Menezes, Eraldo Leite, Ronaldo Castro, Kléber Leite, pra mim esse sim é o melhor deles e Elso Venâncio que também pra mim é Top. Como você analisa o rádio esportivo hoje? R: Acho que o rádio hoje necessita de uma transformação, a última transformação do rádio quem deu foi José Carlos Araújo com a mudança da linguagem. O rádio tinha uma linguagem muito rebuscada, uma forma lenta de se transmitir futebol e o Garotinho mudou isso com uma linguagem mais jovem e narrando jogo com uma velocidade maior. Essa pra mim foi a última grande mudança do rádio. Acho que o rádio está precisando viver outro marco. A gente teve marcos importantes na história do rádio esportivo, o Waldir Amaral colaborou e muito com isso, com a colocação das vinhetas, da questão sonora das transmissões, elas eram muito chatas, enfadonhas, porque era só voz e os sinais sonoros deram uma graça maior as transmissões esportivas e aí o Garotinho chegou e mudou a forma de se transmitir futebol e agora está faltando alguém. Essa mudança do José Carlos Araújo no final dos anos 70, início dos anos 80 e a gente já está aí há um bom tempo sem ter uma mudança no rádio esportivo. Eu não sei o que seja, eu até imagino que a rádio CBN esteja tentando fazer isso com uma transmissão mais interativa, com a participação do ouvinte, com a questão de e-mail, chat, twitter, ou seja, uma transmissão com a presença mesmo do ouvinte. Inserindo o ouvinte na transmissão. Não sei se esse possa ser o caminho, mas que algo precisa ser feito, isso com certeza. 46 CONCLUSÃO Apesar dos avanços tecnológicos, o rádio mantém o charme e parte do público continua fiel e apaixonado. A história basicamente se limita ao esporte, o carro chefe das principais emissoras. Claro que no passado, o AM foi o alvo dos musicais e novelas, mas não é de hoje que o futebol toma boa parte da programação. Desde 1938, com Gagliano Neto, o rádio atingiu todas as camadas populares. O veículo mexe com a emoção. Numa partida de futebol, o poeta Nelson Rodrigues dizia: o jogo no rádio era bem melhor que ao vivo. E se o esporte é o número 1 na programação das rádios principais, este trabalho consistiu em contar a história através deste segmento. E com o futebol, claro. E a época áurea se baseou com os narradores e locutores. Devido a eles, a história se constituiu. Nomes receberam atenção especial porque fizeram por merecer, como Ary Barroso, João Saldanha, Waldir Amaral, Jorge Curi, José Carlos Araújo, que é ainda o principal nome no meio, entre outros. No passado a linguagem radiofônica era outra, hoje é mais rápida. Com o passar do tempo, o mundo se aperfeiçoou. Independente do diploma ou não, cada vez mais vemos pessoas interessadas em cursar jornalismo, seja com o foco no rádio ou não. Como está o aprendizado? Como o rádio está sendo ministrado? Como as pessoas estão aprendendo? Como os docentes estão informando a história? Através de entrevistas com dois docentes importantes desse meio. Perguntas feitas em entrevistas cara a cara, para podermos analisar a performance, sobretudo visual, dos professores. A análise é que foram dois estilos iguais de respostas, porém com gêneros diferentes. Na primeira entrevista, tivemos uma linguagem mais simples e com bom humor e obviamente, já era de esperar, como conteúdo. Mais jovem, Fábio Azevedo deu importância a profissionais mais atuais. Por outro lado Francisco Aiello, mais experiente, tem uma fala mais rebuscada, mais coloquial, é um professor meio centrado em todos os assuntos, porém 47 meio político e diz que o rádio necessita atualmente de mais uma mudança radical para significar uma melhora. Com isso, aparentemente, o ensino do rádio está em boas mãos. 48 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FELICE, Mauro de. Jornalismo de Rádio. Brasília, Ed. Thesaurus, 1981. MÁXIMO, João. João Saldanha, Sobre Nuvens de Fantasia. Rio de Janeiro, Ed. Relume Dumará, 1996. MOREIRA, Sônia Virgínia. O Rádio no Brasil. Rio de Janeiro, Ed. Rio Fundo, 1991. MURCE, Renato. Bastidores do Rádio. Rio de Janeiro, Ed. Imago, 1976. REZENDE, Sidney; KAPLAN, Sheila. Jornalismo Eletrônico ao Vivo. Rio de Janeiro, Ed. Vozes, 1994. SOARES, Edileusa. A Bola Ar – O Rádio Esportivo em São Paulo. São Paulo, Ed. Summus, 1994. CÉSAR, Cyro. Como Falar no Rádio – Prática de Locução AM e FM: Dicas e Toques, Ed. Vozes, 1990. 49 ÍNDICE FOLHA DE ROSTO 2 AGRADECIMENTO 3 DEDICATÓRIA 4 RESUMO 5 METODOLOGIA 6 SUMÁRIO 7 INTRODUÇÃO 8 CAPÍTULO I A Imprensa e o Esporte 09 1.1- Histórico da Cobertura Esportiva no Brasil 10 CAPÍTULO II A Personalidade do Locutor 14 CAPÍTULO III O Rádio Esportivo Carioca, O Início 20 3.1- Galliano Neto, O Pioneiro 21 3.2- Oduvaldo Cozzi, Ary Barroso e Antônio Cordeiro 22 3.3- Ary Barroso 23 3.4- As Histórias de João Sem Medo 25 3.5- As Inovações de Waldir Amaral 27 3.6- Dobradinha Waldir Amaral e Jorge Curi 28 3.7- José Carlos Araújo, O Verdadeiro Garotinho 30 3.8- Anos 80 e 90 32 3.9- Futebol nas FMs e o Rádio Esportivo Hoje 37 CAPÍTULO IV Avaliação do Docente 40 50 4.1- Entrevista com Fábio Azevedo 40 4.2- Entrevista com Francisco Aiello 43 CONCLUSÃO 46 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 48 ÍNDICE 49 51 FOLHA DE AVALIAÇÃO Nome da Instituição: Título da Monografia: Autor: Data da entrega: Avaliado por: Conceito: