Quem percorrer de ponta a ponta, o Centro Histórico de Vila Real, com a devida atenção e
olhando bem os pormenores dos alçados, não terá dificuldade em reconhecer que se está em
presença de uma das mais típicas galerias genuinamente portuguesa.
Pode-se dizer que a cidade autêntica ainda existe, mesmo com os progressos que se assiste na
atualidade, e que para conhecer o coração da cidade, os visitantes têm de ultrapassar a
barreira da arquitetura das construções modernas e percorrer a pé as ruas em questão.
Geograficamente, o centro histórico engloba os seguintes pontos: Sé Catedral (Igreja de São
Domingos), Capela Nova (Igreja dos Clérigos), Igreja de São Pedro, Igreja de São Dinis e Capela
de São Brás, Igreja da Misericórdia, Museu de Numismática e Arqueologia, Museu Etnográfico
e Museu da Vila Velha.
A Rua Central e a Rua Direita, pontos centrais de Vila Real contêm a história do passado, do
presente e do futuro daqueles que pisam as calçadas. Destaca-se ainda o Largo de São Pedro e
as ruelas que se entrelaçam, como a Rua das Pedrinhas, a de 31 de Janeiro, a Rua
Combatentes da Grande Guerra e a Rua da Misericórdia.
Na Capela Nova anualmente, entre 28 e 29 de Junho, realiza-se a Feira de São Pedro, com os
barros pretos de Bisalhães e os linhos de Agarez, sendo a ocasião por excelência de
comercialização. Vários turistas e os habitantes da região enchem a Rua Central para comprar
colchas de linho, tecidos, pucarinhos, moringa ou bilhas de rosca decorativas.
A Capela Nova foi construída por Nicolau Nasoni e é também conhecida como Igreja dos
Clérigos. Este monumento da época renascentista é um ponto a visitar, tendo como aspetos a
destacar o relógio solar, desconhecido pela maior parte dos visitantes, como afirma José
Mesquita, médico e residente em Vila Real.“Temos aqui a Igreja dos Clérigos ou conhecida em
Vila Real por Capela Nova e acredito que quase ninguém conhece como Igreja dos Clérigos.
Além disso temos a Igreja de São Pedro e aqui na zona temos também o antigoEdifício do
Excelsior que está a ser reconstruído, e está precisamente aqui como ponto de referência à
Capela Nova e faz esquina, e que foi uma reconstrução de facto valiosa e chama a atenção dos
visitantes de Vila Real.”
Destaca ainda detalhes que os visitantes e habitantes não dão tanta importância: “Há também
um pormenor a referir que muitas pessoas passam e não reparam, que é por cima de uma
antiga padaria que agora tem um restaurante chamado Status e os senhores tem as telhas em
cerâmica que muita gente passa despercebido e eu vejo e tenho o cuidado de ver muitos guias
turísticos a passarem ali que desconhecem, e desconhecem que quem fez a Igreja dos Clérigos
foi Nasoni, que a Capela Nova se chama Igreja dos Clérigos e que tem um relógio solar que não
é mostrado aos turistas fora de vila real, mas tem lá o relógio solar e vê-se na parte da nave
lateral esquerda.”.
De entre as esplanadas dos cafés, os restaurantes típicos, as galerias tradicionais e as montras
comerciais, são várias as atividades económicas e turísticas que podemos encontrar numa bela
tarde de passeio. Para quem goste de desfrutar de um delicioso lanche deixamos como
sugestão uma passagem pelas pastelarias que são o marco da doçaria típica vila-realense e que
já contam com décadas de existência, como é o caso da Pastelaria Gomes e a Casa Lapão.
As alterações ao longo do tempo não têm sido para melhor e o comércio tradicional tem sido
afetado com as novas superfícies comerciais. Nesse sentido o alfaiate José Morais, entre
botões e tecidos, desabafa: “foge tudo para os centros comerciais e aqui a cidade fica sem
ninguém. No fim-de-semana parece um cemitério… No Sábado de tarde e Domingo é muito
mau e não se vê ninguém.” Confidencia-nos ainda que “O centro histórico é um ponto de
referência para Vila Real, mas podia ser muito melhor se ajudassem, e a Câmara tirou o
comércio daqui, vai tudo para os centros comerciais e a cidade fica sem pessoal.”
Um outro exemplo da resistência às mudanças nas profissões é o latoeiro Júlio Ferreira. Esta
que é uma das profissões quase com dias contados dá vivacidade e mostra-nos o que podemos
encontrar de tradicional nestas ruas. O latoeiro lamenta que o centro histórico “Já não vale
nada e está muito estragado. Sofreu muitas mudanças (…). Já foi um sítio muito importante na
cidade”.
A mesma indignação foi mostrada por José Mesquita, que nos revelou que o centro histórico
“foi sempre e será uma referência para Vila Real, embora esteja a perder em termos de
habitantes, residentes, e em termos de comércio, porque o comércio não se tem renovado. A
nível arquitetónico o município tem apostado muito pouco na renovação de todas as fachadas
dos edifícios, e na reconstrução dos edifícios velhos e em ruinas, que foram inclusivamente na
conhecida Rua das Pedrinhas que faz paralelo do Tribunal para o 31 de Janeiro. Houve edifícios
que sofreram incêndios e continuam sem restauração da fachada e dá má imagem do centro
da cidade.”
Mas são vários os motivos que ultrapassam a atual dificuldade do comércio e que enriquecem
o encanto destes locais. Manuela Guerra, comerciante, confessa: “Acho o centro muito
bonito. Apesar de ser divulgado deveria ter mais publicidade para chamar mais pessoas aqui
ao centro. Noto pequenas alterações ao longo do tempo mas nada significativo. É um dos
sítios mais bonitos para visitar em Vila Real.”.
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