O ·lN:FE Se existe-O que é-Como poderemos \ I POR " Mo·��- SÉGUR SEGUNDA EDIÇÃO Approvada pelo Ex.mo e Rev,mo Snr. D. AntoniO, • Llvrar.la Cathollca Portuense Centro de Propaganda Religiosa em Portugal e B1•azil CASA EDITORA DE Aloysio Gomes da Silva 39, Rua da Pical'ia, 41 • ,;. , '\"tt�� • -�t;· :� t:�rmes- nfil- fi6r3r* �,�r�·�.:-! -� 1 �;:: primei .� � meninos. Consel1:1.0s ati o � en : a : I . . l "( . ' . .. 9 · os c s. sobre a pr Communhão, 2."' edição, broch 100, : . .160 reis. j .,.. r Creio ou a cf�nça em Jesus Christo, broch. '1!)0, · xi t - enc. 160 eis . O 1\l . Se e s e . O q� é. C !fi O 'p.·· evitai-o, 2. a edição, broch; 100, enc. _ 1_60le1�agracla , Communhão. 2.• edição, br. ·lOO, �nc. 160 reis. Verdades como · -o · Inferno. �-., po�eremos !l c. r pu_nhos. B och. 50, ene. ---- ·:.,_ Padre F. X. SCHOUPPE da Companhia de Jesus Dogn1a d o Inferno, illt1strado por tirados da historia sagrada e profana• ......, __,...---J.!��!·nv••lln pelo Em.mo Snr. D. Americo, C ardeal do Porto, Broch. 120, enc . 200 reis. ' "' PORTO- TYP. PROGRESSO de Domingos A. da Silva & c.• l ��-... t . · ' 15, Lm:go de S. Domingos, 15 ��http://alexandriacatolica. blogspot.com. br ·j · :. , : � ;1 Apln'unlçüo eanouicn «Póde publicar-se. Porto, 2 de Setembro de 1905. ;· A. fi1sPo no P01rro ». BREV·E UIRIOIUO POR Sua Santidade o Papa Pio IX ao Auctor PIO IX, PAPA Amado Filho, Saudc e Benção Apostol ica . Nós vos feli<'itamos de todo o l'ornção por não deixardes ele. seguir fielmente c com tanto proveito a vossa vol'ação de arauto do Eva ngelho. As vossas publicações são bem depressa espalhadas entre o povo por meio de milhares d'exemplares. · Se os vossos escriptos são t.ão procurados , é porque agradam; e se não tivessem o dom de attrahir os espíritos, de penetrar nté ao intimo dos coraç.ões c de produ:>:ir n'elles os seus benc ficos efl'ritos, não poderiam ngrndar. Aprovcit.ne, pois, a graç a que Deus vos con cedeu, continuae a trabalhar com ardor e a cum prir vosso minist.erio d'cvangclisação. Quanto a Nc)s, vos promPttcmos rla pRrte de Deus uma g randio sa protccção para podérdes tra. zex: ao caminho da Halv�tç.iio um n u m e •· o rl'almas cad a vez mais consirlcr:wcl, c grangca.rdes d'este modo uma magnifica eorôa dn gloria. N'esta espe11tativa, recebei, como penhm· da protel'çào divinR e dos outros dons do Senhor, a Benção Apostolica, que vos concedemos, muito amado F il ho, com todo o afl'ccto do Xoss • c ora ção, p Rra vos testemunhar a N11ssa paternal be nevolenci:t. Dado em H.oma, junto de S. Pedro, aos 2 de Março de 187G, trigessimo anuo do Nosso Ponti ficado. Pro rx, PAPA. http ://alexa nd riacatol ica . blogspot. com.br ...• �t!f111e ·="'�'?l "'•f:'�''r-':: ,. .. " ' · PRO LOGO Era em 1837. Dois alferes, ainda moços, que, ha pouco, tinham sahido de Saint-Cyr7 visitavam os monumentos e raridades de Pa. ris. Entraram na cgrcja ela Assnmp<;ão,junto das Tulherias, e estacaram a observar os qua dros, as fiÍnturas c todas as obras artísticas d'aquellc bcllo cdificio. Nem sequer pensa vam em orar. Um d'elles viu ao pé d'um confissionario um padre, ainda novo, com sobrepeliz, que adorava o SS. Sacramento. <<Olha para este padre, disse ao sen camarada; sem duvida es pera por alguem.- Talvez por ti, respondeu , o outro rindo-se.-Por mim? Pat·a qne? Quem sabe? Talvez para te confessar.- Para me confessar?! Pois bem, apostas que sou ca paz de lá ir?-Tu, ires confessar-te?! Ora!» E pôz-se a rir, sacudindo os h ombros. c< A pos tas ?, repetiu o novo official, com um modo zombeteiro e decidido. Apostemos um bom http://a lexa nd riacatolica . blogspot.com.br PBO.LOGO I I l .>-.- .' -. j antar, ac omp anhado d'uma garrafa de vinho de Champagne.-Acceito a aposta do jan'tar e do vinho. Des 11 fio -te a ires confessar-te.» D i to isto, o outro dirigiu-se ao padre e fallou lhe ao ouvido; este levanto tt - se, entrou no confissionurio, emqnanto o fingido penitente lançava para o seu camarada um olhar de vencedor, e ajoelhava como para confes sar-se. «Tem graça!», mnrmnrou o outro; e as sentou - se, para vêr em que viria aquillo a parar. Esperou cinco lllinutos, dez minutos, um quarto de hora. <tO que é que elle faz?, perguntava a si mesmo, com uma curiosidade quasi impaciente. O q tte poderá elle ter dito todo este tempo? l) Emfirn, o confissionario a L r iu - se, o padre sahiu com o semLlantc animado e gra\-·e, e,- depois de ter sondado o joven militar, entrou na sacristia. O offieial levantou-se t a mLem , vermelho como a crista d'um gallo, puxando pelo bigode com ar um pouco dis s imu l ado, e deu signal ao scn amigo que o seguisse, afim de sahirem da egrcj a. «Que é isso?, disse este. O que foi que te aconteceu? Sabes que te demoraste quasi vinte minutos com o padr e? Palavra de honra , julguei por um momento que ias confessar-te devéras. Com _effeito, ganhaste bem o teu jantar. Queres que seja esta tarde? -Não, respondeu o outro com man humor ; hoje não. Qualquer dia nos veremos. Tenho que fazer e preciso de me retirar de ti.» Apertan.do a mão de seu companheiro, afas· tou-se precipitadamente, de má catadura. O que se teria passado. entre o alferes e o confessor? Eil-o: A penas o padre abriu a portinha do confissionario, conheceu , pelas maneiras do joven official , que este ia alli, nlo para confessar-se, mas para fazer zom baria. Tinha. elle onsndo dizer-lhe, concluin do não sei qne phrase: «A religião! con fissão! Eu zombo de tudo isso ! » O padre era homem atilado. «Perdão, meu caro senhor, disse interrompendo-o com brandura; vejo que o que fazeis não é a serio. Deixemos de parte a confissão e· con versemos alguns instantes. Gósto muito dos militares, e, segundo me parece, vós sois um j oven bom e amavel. Dizei-me: qual é a vossa graduação?)) O official com<'çava a conhecer que tinha commettido uma sanôice. Contente por achar um meio de sahir d'este estado, respondeu ·cortezmente: «Sou apenas alferes. Sahi ainda. ha pouco de Saint-Cyr. -Alferes? E ficareis muito tempo alferes? ( ' li J .t lt I ) .{ PRO!.OGO 9. sei lá. Dois annos, ou trcs annos, quatro annos talvez.- E depois ?_-Oepois passarei a tenente.- E depois?- Depois serei capitão. -Capitão ? em que idade se póde ser capitão ? - :'lc tiver fortuna, re!'!pon den o official sorrindo, posso ser capitão aos vinte e oito ou vinte e nove ann os . -E de pois ?-Oh! depois é diffi.cil. F.ica-se muito tempo capitão. D e poi � passa-se a mnjor, em seguida a tenente-coronel, e depois a coronel. -Muito bem ! Ahi esta<'s vós coronel aos quarenta ou quarenta e dois annos de idade. E depois?-Depois serei general de brigada e depois general de divisão.- E depois? Depois não resta senão o grau de marechal; mas as minhas aspirações não chegam a tanto.-Embora; mas não chegareis a ca sar-vos?- Tal vez chegue, talvez; mas será só q ua ndo fôr official superior. -Pois bem! Então sereis casado, offi.dal superior, general de hrigad:t, �cneral de divi�ão o talvez até marechal de Franr;a, quem sabe ? E depois, senhor ?, accrescenton o pad1·e com andori dade.- Depoi s ? depois? replicou o offi.cial, quasi confuso. Oh! crêde; não sei o que succederá depois.- V êde como isto é singu lar, disse então o sacerdote com um accento cada vez mais grave. Sabeis o que se pas- -Eu ., t I' f I sará até então e não sabeis o que depois succederá. Pois bem, en o sei e vou dizêl-o. Depois, senhor, morrereis. Apenas morrer de<�, npparecereis diante de Deus pam serdes julgado. Se continuardes a viver como até agora, sereis conderunado e ireis arder eternamente no inferno. Eis-aqui o que depois succederá! >> O mancebo, aterrado e enfa8tiado d'este remate, parecia querer esquivar-se. «C m in stante mais, senhor, continuou o padre. Te nho ainda algull!as palavras a dizer-vos. Sois honrado, não é ver.-ladc? Poi:> bem, eu tambem o �on. Vicstcs aqui :towlntr de ruim; deveis por isso dar-me uma reparat:ão. Peço-a, exijo- a em nome ela honra. Será além d'isso muito siwplcs. Haveis de me afiançar que, IJOr espaço de oito dia�, de noite, antes de vos deitardes, posto de joelhos, direis em voz alta.: «. Um cli:a hei de morrer, m as rio-me d'isso. Depois ela minha morte serei julgado, mas rio-me d'isso. Depoi::1 do meu julgamento serei condem nado, mas rio-mo cl'isso. Ireis arder eterna mente no inferno, mas rio-me d'isso. » Direis isto; mas daes-me a vossa palavra de honra de quo não haveis de faltar, não é verdade? » http://a lexa nd riacatolica . blogspot.com . b r -. ·---.·.��· lt PBOI.OGO O alferes, cada vez mais enfad ad o, que . J rendo a todo o custo sahir d'aqu�lle emba raço, prometteu tudo e em seguida o bom padre Jespediu-o com bondade, accrescen tando: «Não preciso, meu caro amigo, dizer que vos perdôo de todo o meLl coração. Se tiverdes necessidade de mim, aqui me achareis sempre no meu posto. Não vos esqueçaes da palavra dada.» D epois sepa- ' .; raram-se, como vimos. O novo offit.:ial jantou sú. Vi a se que es tava ve:s:ado. A' noite, antes de r:.e deitar, hesitou um pouco; ruas tinha d ado sua pala vra de honra; não faltou ao promettido, ccMorrcrei, serei julgado; irei tal v e z para ,� o i n fer no . .. » Não teve anim o de accres- �� centar: \(rio-me d'isso. )l !. Assim decorreram algnns dias. Sua peni tencia lembraya-lhe continuamente e parecia ztwir-lbe aos ouYidos. A su;t índole,. como a das hoventa e no vo centesimas partes dos maneeLc;>s, tinha mais de dis;,ipado que de m;,u. O oitavo dia não passou sem qLte o ofikial \'oltasse, en t ã o desacompanhad o, á egreja da Assumpção. Confessou-se com contricção sincera, e sahiu do confis sionario com o rosto banhado de lagrimas e a alegria no coração. - ·,. ·'' 12. I l 1 1 I�. I I I I O Ill.li'ERlii'O Segundo alguem me certificou, elle foi depois um digno e fervoroso c!1ristão. Foi a meditação do inferno que , com a graça de Deus, operou aqnella mudança. Ora, o fructo que ella prodnziu no espírito d'este novo official, porque o não produzirá no vosso, caro leitor? E' preciso, ·pois, meditar no inferno emquanto é tempo. Cumpre pensar no inferno. E' uma qnestio pessoal a sua exi:;tencia, e, confessao-o, é p1·ofundaruente temível. Aquella questão é proposta a cada um de nós; e, bom ou mau grado nosso , necessita d'uma solução positiva. Vamos pois, se qnizcrdes, examinar, breve mas rigorosamente, duas coisas: 1." se existe inferno; 2." o que é o inferno. A ppéllo. aqui UJÜcamente pa.a • •.,,. fé e probidade. http ://alexa n d riacatolica . blogspot. com.br I ·l l .. . t v I O INFERNO Se existe inferno · lia infet·11o: ((•Jll sido t�sta u t�t·cnçu ti<' todos OS )lUYOS I'Ill todos . os h�tll}lOs O que todos os povos toem sempre acre ditado em todos os tempos, constitue o que se chama uma verdade do senso eommnm , ou, se assim quizerdes dizer, uma verdade de sentimento commum, universal. Aquelle que não quizcsse admittir uma d'estas g1·a.n des v erdad e s uni\·ersaes, não teria, como muito bem se diz, senso commum. Com cf feito, só u m insensato poderá imaginar que pódo ter razão contra todo o mundo. Ora, em todos os tempos, d e sde o principio do m u ndo até aos nossos dias, todos os povos teem acreditado no inferno. . , · . , O INFERNO • . l I I Debaixo d'um ou d' out ro nomé, de f órm as mais ou menos, alteradas, teem rece bido , conservado e proclamado a c re nça em cas tigos terríveis e eternos, em que o fogo ap parece sempre, c omo punição dos maus depois da sua morte. E' es te um facto certo, e que tem sido tio c l aramente estabelecido pe l os n ossos grande s philosophos chris tãos , que se ria superfl.uo, por assim diz er, dar-nos ao tra balho de provai-o . Desde o principio do mundo �ch a-s e a existe ncia d'nm i nfern o eterno de fog o consignada em termos bem c l ar os nos mais an tig os dos livros conhe c idos , que são os de Mo ysés. Não os cito aqui, not a e bem, senão sob o pon t o de vista pu ra m en t e historico. O· nomo de inferno acha-se ahi com tod as a s suas let tra s . Assim , no decimo sext o capitulo do liVl'O dos Numeros vêmos os tres levitas, Coré, Dathan e A biron, que tinham bl a sphe m ado de Deus e se revoltaram contra Moysés, «precipita d os vivos no infe rn o » e o texto r epete : «E descera m vivos para o inferno (descende'l'untque vivi in inje1·num); e o fogo (ignis), que o Senhor fez sahir então, devo rou os outros duz entos e cincoenta rebel- J Sl!l EXISTE IN�'ERXO lõ des. » Ora Moysés escrevia isto mil e seis centos annos antes do nascimento de Je�us Christo, isto é ha perto de tres mil e quinhentos annos. No Deuteronomio o Senhor diz pela bocca de l\loysé3: «O fogo accendeu-se na minha colera, e os seus ardores penetrarão até ás profundezas do inferno (et ardebit us que ad • inferni nodssima'. D No livro de .Tob, igualmente escripto por Moysés, se gundo dfirmnm os maiores sabios, os ímpios, cuja >ida é cheia de gósos, e que dizem a Deus: «. �ão temos necessidade de vós, nem queremos a vossa lei ; de que vale servir-vos e orar? i), estes im pios « cahem n'um instante no inferno (in puncto ad in .fe,·na descendunt/'. >> Job chama ao inferno «a região das trevas, a r egiíto envolvida nas sombras da morte , a região da desgraça e das trevas, onde não ha ordem alguma, mas reina o horror eterno .'sed sernpite?·nus hor?'O?' i?'Jta bitat). >> Eis-aqui testemunhos certos, mui respeitaveis, que remontam á origem pri mitiva da historia. Mil annos antes da éra christit, n'esse tempo em que ainda nil.o existia a historia grega, nem romana, David e Salomito fal- 16 O JNFBHNO Iam frequentement e do inferno, como d'uma grande verdade de tal modo cqnhecida e reconhecida de todos, que nii:o ba mesmo necessidade de a demonstrar. No livro dos Psalmos1 David diz, entre outras coisas, fallando dos peccadores: «que elle3 serão lançados no inferno (conve�·tant·wr peccato- .. res in infe�·num). Que os impios serão con c precipitados no inferno (et dedu cantm· in inje1•mtrn . » �'outra parte falia das «dôres do inferno (dolo�·es il�f'emi). » fundidos Salomão não é menos formal. Ao referir os desígnios dos ímpios, que querem sedu zir e perder o justo, ::ttribue-lhes estas palavras: « Devorêmol-o vivo, como faz o infurno (sz'c-ut in.f&rnus). » E n'aqnella famo sa passagem do livro da Sabedoria, em que descreve tão admiravelmente a desespera ção dos cJndemnados, ac�,;rescenta: ((Eis o que dizem no inferno (in inje1·no) aquelles que peccaram; porque a esperança do impio desvanece-se como o fttmo <1ue o vento leva. » Em outro de seus livros, chamado o Eccle siastico, diz ainda : «A multidão dos impios é como um embrulho de estopa, e o seu ultimo fim é a chamma de fogo (jlamnw ignis); são os infernos, as trevas e as penas · SB E:S:IB'rE INPEBXO (et in fine illorum in.fe?·i, et tenebrae, et ' . prenae,. » Dois :;e culos depois, mais de oitocentos annos anres de Christo, o grande propheta !saia:: ,:izia: (' Como cahiste do alto dos céos, ó Lu��ú:�r? tu) que diúas em teu coraçllo: ,,sn;J::::-e: a:·:- á altura do cóo e serei sem.e lhan::·� a�- -�:::ssi:-�:o ••, eis-te precipitado no inferr: �. no i·:::do do alJ.Ysmo (arl ú�fernum detra:·.�,:$. i • l'ro(u;!rlliu� laci:. l• �·:::..:a outn pa.;,::wgem de s�as prophecias, Isaías :'.:!::a elo fogo eterno elo i n f e r no. «Os pec..·a : -: :::- : -' , dit. elle, fi�.:am aterrados. Qual d'er..tr.:: ;- · , poder:í. ha]J;ta.r com o fogo devo rador :- ,.-:, igne dcvo?·ante) o com as cham mas e te-::::::. s 'cu o' m·do?·ióus sempitm·nis)? » O pr· � :.e:a Daniel, qnc v i veu düzentos an nos .-:._: : :� dt• lsaiHs, diz, fali an do da resnrrei)à:.: ) Juizo final: (( E a multidão olos que -�::- ... e:n no pú despertarão, uns para a >i-la :-:-rn:•, outros para nm o ppro' brio que ::n-: ::.1. :·�rá fim.» O w·:�::: : : ,;- :-:mmho foi d ad o por parte dos ontr• , ; :-:·I·h<·tB até ao precur,;;or do Messias, S. Jo::'w B.tpti;;ta, qne tamLem fal lava ao po>•) de Jerusalem do fogo e terno -_· _ do inferno.· como d'uma verdade conhecida por todos, e de que járnais ninguem duvis t I· l . 18 • O INFERNO dou. «Eis que Christo chega, exclama elle. Pa1h;jar:t o seu grão, recolhent o trigo (os eseolhiàos) nos sons eellciros; quanto á pa lha (os peccai!.ores), lançal-a-ha no fogo que nunca se apaga /in igne in,.xtingnibili). )\ A antignirlade pagã, grega e latina, fal Ia-nos ta.mLem do inferno e de suas terríveis pena�, qno nnnca terão fim. Debaixo de fórma:; mais ou menos cxactas, sr.gunélo os povos cat:;vam mai� ou menos afastados elas tradições primiti;;as c dos <msinamontos dos PatriarclHifl n dos Proplwta,;, acha-se sem pre a cren<,:a no inferno, e no inferno de fog-o e de trevas. Tal é o Tartaro dos gregos e dos latinos. «Os ímpios qne desprezaram a;; leis santas, são precipitados no Tartaro, para nunca sa hirem d'ollc c p>�ra �ofl:'rcrcm ahi tormentos horríveis e eternos 1)1 diz fiocratcs, citado por Plntão, seu discípulo. E Platão diz: «Deve-se dar credito ás tradições a n t i ga s e sagradas, que ensin,am que depois d'esta vida a alma será julgada e punida severamente, se não viveu como devia.» Aristoteles, C í cero e Seneca faliam d'estas mesmas tradições, que se perdem na noite dos tempos. Homeró e Virgílio revestiram-as com o � 19 SE EXISTE DI�'El!liO ' colorido de suas immortnes poesias. Quem a narradl:o da descicla de E:-!ea5 aos infernos, onde, sob o nome de Tar:�ro, d�, Platão, . et_c:, descohrimos as desfiguradas � . :: ::': >":·--::v1•'s prHmtl\7as, � ·c. �1" :��1. pa<r:1lli�mo? Os suppliali �;to eternos, e u - � 1 ;::t·Hto em no ((fixaE�ta crenç, :::.:-�:-:: "'· :: : -'---�-:.-.--e>l '- inc:ontc�tada�i �·o:=- 2. :-·-:::-·· é r·:,•o::hec-ida pPlo primeiro :·::.: .- ...- - s ?··r:;c-", Ba.de. Sen colleg,• no e :-:a impiedade, o inglez • - : : :::-':::.- :�:r.r. B<:-:-. .;'-r-k·�. deebrou-a com igual fran - --o::J.. Diz formalmente: �(A cloutrina d'um ;,:_� -: : :"-.1:·ir·) de recompensas e de castigos, :·.:-:·e •:;,ae se perde nas trevas d:t antigni :.: :-·: �rere1.e turlo o que sabemos de certo. :::_,- ::· � ·:-• romeeamo;; a desenrolar o cahos ,--- :-:�_ achamos esta crença, da . : -_ ·.:" �o lida, no espírito das pri =.r.:- - -:. _- ' q·:e conhecemos.)) E=. •::::-:--:;_...-:: >estig-ios d'ella entre as sn ��--.,..;;; c:"r.r:nes dos selvagens da Ameri � dA _-\!rica e da Oceania. O paganismo da India e da Persia, guarda d'ella vestígios bem notaveis, e, emfim, o mahometismo C·:>:!Ul o inferno no numero dos seus dogmas. não leu aind:t · - - · _ - -._ · - - · - ___ _ - - - - �· - � ---'-�•1, · · v f;"��;: Oh:::. ;_ t:.- l t f·' 11 1 1 {t. r ' i. .i t.f · é _..do dmer que o dogwa. do in ferno é claramente ensi nado como uma das grandes verdades fun damcntaes que servem de base ao edilicio d a Religião. Até os protestantes , que tudo teem atacado com a sua louca doutrina do liv,·e exame, não ousaram tocar no dogma do inferno. Coisa estranha, inexplicavel! :Ko meio de tantas ruínas, Luth ero, Calvino e os outros corypheus da Reforma tiveram de deixar de pé esta terrível verdade, que deveria entretanto ser-lhes tão importtma ! Logo, todos os povos em todos os tempos conheceram e reconheceram a oxistencia do inferno. Portanto, oste dogma terrivel faz parte do thesouro das grandes verdades uni versaes que constituem a luz da humanida de. Ass i m , não é possivel a um homem sen sato pôl-a em duvida dizendo, na loucura d'uma orgulhosa ignorancia: Não h a inferno ! Logo, o inferno existe. lia inrc•·nn: o inlct•Jio mi.o foi nc•nt poclia sc�1· inyc•nhulo I• i f t. •i �- : Acabamos de vêr que, em todos os tem pos, todos os povos erêram no inferno . Só isto basta. para pro\·ar que não é invençilo http://a lexa nd riacatol ica . blogspo t. com.br SE EXIBl'E INFERNO 2b humana. Sllpponhamos por um instante os hc-mens todos vivendo mui tranqnillos no n:'·1o é!o;; prazrrcs, e entregues sem temor a v--!as as p:·ixõcs. Um bello dia um indivi �:- :_·..:.a'q·..:.er. um philosopho, vem dizer •: ::-:::::•:c ::.�er::o, um logar do tormen: ·: ·> Tl� · 1;; n0s punirá se conti' :. --_;.·>:-.:- o mal: um inferno de -::-: - a:-:r:::--:i� ete:-!1�mcnt�, se n�o :;:._a-=.�>-; .::- ..,.. : : : 11 Imaginacs vós o e ffeito C'X' :-:-::.:c:z:ria t:tl annuncio? Primeiramen �- ii:::"Je-:n o acreditaria . « Que estaes a pr·:;ar? diria toda a gente a este inv<·ntor ào i:1ferno. Onne vistes isso ? Que provas :�r.des? Sois um sonhador, um propheta da desgraça. l l Repito, ninguem o acreditaria. �inguem o acreditaria; porqne , no homem C)rrompido, tudo conspira instinctivamente Cüntra a ideia do inferno. Assim como o ·:".llpado :i·epelle tanto quanto lhe 6 possível, a Heia do castigo da mesma sorte, e cem ,ezc:; com mais razão, o homem cnlpado repelle a vista d'este fogo vingador, etorno, que deve punir tão scventmente todas as suas culpas, ainda mesmo as oecnltns. E sobretudo n'uma sociedade, como a que snppozemos ha pouco, em que ningnem tinha ouvido fallar do inferno, a revolta - - . ;·· ' · ·"\._; \ r r r I r .. . . •.- -- O INFERNO dos preconceitos viria juntar-se á revolta das paixões. Não sórnonte ninguem acredi taria n'estc inventor azingo, mas até toda a gente o perseguiria cow colera e apedreja ria de tal modo, ttuo ninguem jámais teria o desejo de propalar uma tal inven<;ão. Se, o que é impossiYcl, se désso credito áquella estranha invenção; se, por uma im possibilidade ainda mais evidente, todos os povos, subjugados pela palavra do sobredito philosoplto, chegassem a crêr no inferno, seria el:ltc um grande acontecimento. Ora dizei-me: o nOillC do inventor, o scculo, o paiz onde viveu poderiam deixar do ser con signados na historia? N'ão. Ora, ha porven tura algum homem as:;ignalado como tendo introduzido no mundo esta doutrina ter ri vel, tão contraria ás paixões as mais enraizadas do espírito humano, do coração e dos senti dos? Não. Logo, o inferno não foiinventado. E não foi inventado, porque não podia sêl-o. A eternidade das penas do inferno é um dogma que a razão não p(',de compre hendcr; p(ídc conhccf·l-o, mas não compre hcndêl-o porque é superior á razão. Corno quereis, pois, que o homem podésse inventar uma coisa qne não é capaz de comprehcnder? llU'EllliO SE EXISrE 23 E" certo que o inferno, inferno eterno, p:de ser comprehcnilido pela razão; e ::::..:1:. :. :-:>.z::.o irBar,:;-e-se contr<t clle, (1uando não :-:-.::a �a e i !lustrada pelas luzes sobre . .:.:·::-.�--" :_, fé. ('omo veremos mais adiante, _--- < : :: : : r1l� injustiça a justiça. � · : · . - • _ : .!:=:; -: -: :-<i l · -·· ·c c )!ll :: penas o ternas o a possibilidade r:·�:;a :r-.:� ·r:}o :� o ::::::1taJ•, Bt·) ,>-!"'-em ,li,ina qn� . � �� ::.�J. •.-::- _:,::-:: - ·· ;tno e, se � c 1atn& uma cleasas brilh,:t �m nós, r. :•":<O: que esta no IntimO d�� ,·o::;,eienc:a, gravada nas profundezas da alma como nm diamante negro, que r:Jha c.:m resplendor sombrio. Xin�uem púde arrancai-o ela alma, por ·:;,ue foi Deus que o pôz n'ella. Póde-se c.'1•rir este diamante e o seu ln·ilho sombrio; !·de-:;e afastar cl'elle a vista e esquecêl-o ;· r algum tempo, p«'•cle-so ncgal-? por p�la � q nmra, m·e-se •:-3.;;; mas, embora se nao �' ·elle, c a consciencia n?io cessa de pro :-.c.:.::a ;:r;,�-:> __ · damal-o. 0.:� ímpios tine zombam do inferno, tcc:n interiormente mnito mf.do d'elle. Os que di zem que lhes pareee que não ha inferno, mentem a si me::;mo o mentem aos outro::;. ,, ·. �··\ .,,. O INFERNO E' um desejo ímpio do cora<;Ao, antes que uma negação razoavel do espírito. No ultimo seculo um d'estes insolentes escrevia a Voltaire que tinha descoberto a prova metaphysica da não existencia do inferno. «Sois muito feliz, respondeu-lhe o velho patriarcha dos incredulos; eu estou muito longe d'isso. )) Não, o homem não inventou o inferno. Não o inventou, nem podia inventai-o. O dogma do inferno eterno éle fogo remonta até Deus. Faz parte da grande revelação primitiva, que é a hase da Heligião e da vida moral do gen<>ro humano. Logo, existe inferno. lia in [pJ•uo: ))pus J'('YI'IOII-JIOS a ('Xis1PJI<'ia fi'CJI(• r I·· f Algumas passagens do Velho Testamento, que a traz citamos, mostram que o dog m a do inferno foi revelado por Deus aos Patriarchas, aos Prophetas e ao antigo Israel. Com effeito, não existem sómcnte testemunhos historicor-J; ha tambem e sobretudo testemunhos divinos, qne nos obrigam a crêr e que impõem :i nossa consciencia com a aucto infallivel de verdades reveladas. 5B Eli:IS rE IN�'ElllW 25 J �-:.: C: ri�f) confirmou solemnemente esta :,�:-.::: re·.·ela·;ão. e qnatorze vezes no E-:..- .:-::-_c, r:e>s fal!a do inferno. Não dire-� -�: t-:-� .s ::_� snas palavras, para n�o :�::--:::o. ):, , :· \'05 �;;qneçaes, caro let - ':'�-··.: :_ue �<tlla, e que d_i sse: -_,_,_::-"). mas as nnnhas - � �.!.-:• -"'. __ :.:: :·· . ·.-. : ·-:- -�,,.:c- ' - : , � 5lla admiravel T:.a l_�)r, Jesus dizia m1dtirlã') que o se �:: : '.o .-.: ,.;; 1 mão (isto é o que tendes -�7 : . ,;.;_., !"·'-::i<:·.:o' é para vós occasião de :.;.��..:..::. ·cJrtae-�: \'ale mais entrar na :·-:-a 'iÍ�a cJm uma só mão, do qnc com l.--::. ":-a;, i:- para o inferno, para o fogo que ::·:::ea se a paga, onde o vernw do remorso ::1: m-Jrre c o fogo nt!o se extinguirá jámnis. s.:· >osso pé ou vosso olho é para v{,,; occade peccado, cortao-o, arrancao-o e ·..:.::. � �-o para longe de vó�: vale mais -:::.·:-a:: na Yida cternn. com um pé ou com wt= só olho, do quo ser l:tn�:ado com os � : . _ _ -::""1--� �-& .. !-- -_ - = ��- - (.. a.:� �-::.< : : -.-: :; ::�.1(·< e á _ · • '>c-550s pri3ão dois pés ou com nmbos os olhos na do fogo eterno, (in gelwnnam ignis i1-<xtinguibilis), e o fogo não se s·n"fu1:·ll. onde o remorso não cessa apaga, (et 1:gnis non extin 26 I ( f Fallando do que :H:ontecerá no fim do mundo, diz: \(Entfio o FjJho do homem envinr:í. os seus Anjos, qne ngarrarão os que tiverem praticado o mal, c os arrrjarão na fornalha do :fogo (in caminnm ignis), onde haved pr,;nto e ranger fie dentes. Quem tiver ou>itlos para onvi1·, que ouçall. Qumdo o Filh·1 de Deus predisse o Juizo final, no vig;•;;Ímo qHi:Jto capitulo do Evan gelho oc S. :\[atlwns, fez-nos conhecer d'antcnião os pr.}prios termo;; da �cntcnça que ha de pronnncia!' contra os rt':prol•os : «Retirae-vos de miu1, maldito.;;, para o ft'go eterno (disceditr; a me, ·),;'J,ledicti in ignem aeternu.m) 11 E accrc3centon : \( F:stes irão para o snpp)i.;io eter n o (in suppliciu.m ae • te·l·num))). Pergnnto· vos: h a porYcntura al gnma cr·isa Jn::is cxplicit.a? Os A1:ostolo81 encarregados pelo Salva dor de rlcsenvolv<·rem sua doutrina c com pletarem suas revcla\:i!cs, f a lla m- nos do inferno c do snas chammns eternas fl'uma maneira não nwnos i,ltelligi•cl. Para não citar :.enão alguma;; c1,1 sum; palavra>t, lem brenJO-nos do que disse S. Paulo aos chris t ãos de Tltcssalonica, na sua p r ógação sobre o Juizo final, que o l;'ilho de Deus «tirará. vingança, na chanuna do fogo (in jlarnma . SB E:S:IBTl!l INFERNO j9 ; 27 . ã.;-.ü ri0s impios que não teem querido a Deus e que não obedeeem ae .E:- --:;.::·:.o ·le �os;;o �enhor Jesus Christo; ac::;.- � -:: o - t'rer penas eternas na morte, 1.�-:.: :·... : :.:- �enhor (prJ!nas dabunt in r::.-·:-... -::o:r I _; . :a: �=- � _ >:o :iz .:..;::.;o � _ -:-_:. ::- :1 r:.>.s os pecca �o dos maus anJOS profundezas do que , .;. ... <o� d·:o Tartaro (ntdenti >;r._•,;s i,l Turtarum t?-adiclit -:. .;.·.,�- . .I '- c:.anw-os (\lilhos da maldição ...__. " � ;:_ ·"·,� .n.'iil. aos quaes estão reser a::., ·s :-.orn·res dai! tre-vasJ) . :" J :::o ;:a:lu-nos tambem do inferno e de 1 ,r- _-:. .:.o tterno. A respeito do Anti-Christo e > �eu ialso propheta, diz: C( Serão lança i:� -,-;,.js no abysmo ardente de fogo e de e=.:;:c-fre Jn stagnwn ignis a�·dentis sul i-..---r;; ·_ . :_ o= : -� :- �-::- ;, par?. ahi srrem atormentados de dia r:oite por todos os seculos dos seculos ;ia�u.nt�w die ac nocte in saec1tla saecu- E:ntim, o Aposto lo S. Judas falia-nos do in mostrando-nos os demonios e os répro1 -� presos por toda a eternidade no meio 6, trevas e soffrendo as penas do fogo -ér:.o, • e:o:r::o (ignis aete�·ni pwnam sustinentes)». 28 O INFERNO E em todo o curso de suas Epístolas inspi radas insistem os A postolos continuamente no temor dos juizos de Deus e nos castigos eternos que aguardam os peccadores impe nitentes. Após ensinamentos tão claros, é porven tura de admirar que a Egreja nos apresente a eternidade das penas e do fogo do inferno como um dogma de fé propriamente dito? E isto de tal modo, que aquelle qne ousasse negal·o, on sômcnte dnvhl.ar d'elle, seria por este facto here je. Portanto, a existencia do inferno é um artig-o de fé catholica, e estamos d'elle tão certos, com o da existen cia de Deus. Logo, ha inferno. Em resumo: o testemunho de todo o ge nero hnmano e das suas mais antigas tradi ções, o testemunho da natureza humana, da recta raziío, do coração e da conscienc:ia, e, além d'isso, o testemunho do ensino infalli vel de Deus e da sua Egreja, são concordes em attestar·nos com uma certeza absoluta que ha inferno, inferno de fogo e de trevas, inferno eterno, para castigar os ímpios e os peccaclores impenitentes. Caro leito r , poderá uma verdade ser esta belecida de maneira mais peremptoria? 29 �c t' (�( · t• tn 11 I J (� m.: i s t(' i n ret• J H I , ( � 1 1 1 1 1 0 (\ l j i H' I I U I I Cil l l i i i !J I H'lll \"1 1 1 1 1 1 1 1 c l l' J:"l '! O inferno existo para c as t igo dos répt·obos e n ão para deixai-os voltar ao mundo . Qua n d o n'ello se cahe, n ' elle se fica. Dizeis que nunca ningucm voltou de lá ? E' verdade na ordem habitual da Provi dencia . Mas é pot· \·entura ce r to que n u nca ningur;m voltou do i n ferno ? E!:itaes certos de que, para mostt·ar a sua misoricordia e j usti�ta, Deus mmca permittiu que appare ccsse n a terra nm conclem nado ? Na Sagrada Escriptura c na h i stori a ha p rovas do con trario , c por mais su p ersti ciosa que se tenha tornado a crença quasi geral nas u l mas q u e veem do o n tro mundo, seria inexpl icavel , se não t i v e sse por f1 m d a mento a verdaclc. Perwitti-mc lf. Ue vos conte aqui a lguns factos cuja authenticiclad (� p a re ce incontes tave l , e q u e provam a existencia do inferno, p e l o trem endo testemunho d o& que de lá. voltaram . O d-1·. Raymundo Dioct•es . - � a vida de ttp://alexand riacatolica . blogspot.com. b r .. .. • 30 0 IIIFEIINO ' S . Bruno, ÍLmdartot· da ordem dos Cartuxos, encontra-se um facto , estudado a fundo pelos doutíssimos Bollandistas, e qne a p re senta :1. criti ca, a mais séri a , todos os cara ct e re s historicos de authcnticidade ; u m facto acontecido em Paris em plPno dia , na pre sença de muitos milhares de testemnnhas, e cujas narrações foram recolhid as por con temporaneos ; omtim, que dl3n nn scim ent o . a uma grancle Ordem re l i giosa . Um celebro clontor da Univor�illacle de Paris , chamado Raym undo Díocrcs, a ca bava de fallecer no m e io da a cl m iral�ào universa l e d a tristeza ele todos os s�us discípulos . Era no anno de 1 08 2 . Cm do s m ais sabios doutores d 'aqnel l e t(•m po, co nhecido em toda n Europa pe l a sua scien cia, talento e virtudes , por nome B r n n o , estava en tão em Paris com qua tro co m pa nheiros, e tomon por um dever assistir ás excquias do illust•·e morto. O cadavor tin ha si do d eposi tado na g•·ande sala d a chan cellaria , proximo á egrej a de N o t r e D a m e , e um a multidão imwensa cercava o leito, onde , segundo o uso do tem po, estava ex posto o morto, coberto com um simples véo. No momento em que se principiava a cantar uma das liç5es do Officio de defnn - SI� B X I � n; t :> F E ilNO 31 tos , que c&mcça assi m : << Uesponà c-mc , quão grandes e numerosas sli.o tuas iniquidados l) 1 uma voz sep nlchral s a h i n deba ixo do véo fune bre, e toda a m ulti rl::to de po v o que assistia, ouYiu estas palavras : C( Por justo juizo de Deus sou necnsadc))) . Todos corre ra m para j nnto do c a r hv er ; e rg u eu - se o pan n o m o r tuario ; o i n fel i r. c�tava immov e l , gela d o , perfeitamente m o r t o . A ceremonia , por um momento interrom p i � a , foi do novo comec,:ad a . 0,; assisten te>� csta\·:tm cheios de esp an to o penctrarl.os do t<�I-ror. RepctÍ il·-se o O fficio ; chogou- so ú referida lic,::1 o : c< Res ponde me l\ . D' esta v e z , li v i :; t.a Llc todo o povo , ergueu- se o mo rto , c com um a voz m ais forte o aind:t mais aeccn tuarla , disse : « Por j u s to j u i r. o ele DclB sou j ulgado >> , e tornou a c ahi r . O tornr elo a n à i t o r i o chegou ao. sm1 auge . Os mcrlieo,; exa m i naram o m orto . O caà av cr estava frio c ri ·2·ido. Nã.o houve coragem de contin uar , e "o Officio ficou a di ad o para o d i a seguinte. As a nctoridadcs ecclosias tieas uã.o sabiam o que se devoria resolver. Uns d iziam : « E ' u m rép ro b o ; é i n d i gn o d a s o r a çõ es d a Egreja)) . O utro s diziam : «'Xão, tud o isto é sem duvida mui terrível ; mas, emfim, todos nós não seremos porventura accusados pri- O INFEIINO - ...- . .......__,_. ' .i •i I - m eiro , de p oi s j ulgados por nm justo juizo de Deus?)) O Bispo foi d'esta opin i ão, e no dia seguinte as cxelfuias recomoc;aram á mesma hora. Bruno e smts c ompa n h e i ros compa recera m , c o rn o na vespera. A Un iver sidade e Paris inteiro apinhara-se em Xo tre-Damo. A' mesma lição : (lRe:�ponde-me » , o cada,·er d o d r. Raymnndo ergnon-se, sen tou- se, e com uma. pausa , que gelou de terror todos os q u e assistiam , excla mou : « Por j usto j uizo de Deus estou cond emna do» ; c tornou a cahit· immo�cl . D ' es ta. vez niugnem ficou com duvida ; O terrivel prorligio m a n ifesto até �t oYidencia não dava logat· a cl i,;lm:;sõcs. Por ordem do Bispo c do CaLido cle:>pojou-sc o cadaver da!:! insig nim; do :mas d i g n idades , e foi levado ao monturo de �Iontfauco n . ..:\o sahir d<t grande s a l a da cbancellaria, Bruno, elo idade do quasi quarenta e cinco annos, decidiu-se irrevogavelmente a deixar o mundo, e foi, com seus com p anheiros, pr o c u r a r nas so lidõJs da Grande- Ca rtuxa , perto de Grenoble, um retiro onde podassem , mais tranquillos, assegurar a sna salvação e· preparar-s�l assim para os justos j uiz;o;; de Deus. Eis , pois, um réprob :� , que voltou do 8R EXISrE INFE RNO S3 inferno,' nã o para sahir d'elle, mas para ' ser a m ais irrecusavel das te stemunha s do inferno . O 1·eligioso de S. Antonino. - 0 sabio A rcebisp o de Florença, S. Antonino, refere nos seus escrip tos um facto não menos ater rador, que, pelo meado do secnlo quinze, en cheu de espanto o norte da ltalia. Um man cebe>, ill nstro p or l:!Ua nobreza, aos dezeseis ou dez esete annos teve a de sgra ça de occultar um p ecc ad o mortal na confissão e de com mungar n'aquelle estado , e foi adiando de se mana para semana, de mez para mez a con fissão de seus sacrileg ios , continuando entre tanto a confessar-se e a commungar por um miseravel respeito humano. Torturado pelos remorsos, procurou allivio nas grandes peni tepcias, de modo que passava por um santo. Porém , nã.o o encont ra nd o n'ellas, entrou em um mosteiro . 11. Alli , ao menos, pensou elle, di rei tud o e expiarei sériamente os meus horro r osos peccados. )) Para sua de sg raç a , foi aco lhido como um santinho pe los superiores, que já o conheciam de fama, e a sua verg on ha an gme n tou por isso ainda mais . Deixou a sua confissão para mais tarde, redobrou as peni tencias, o um, doi s , tres annos se passaram 3 O INFERNO n'este las timoso estado . Não ousava revelar o fteso horrível e v ergo n h o s o que o opprim i a . Emfim, u m a d o e n ç a mortal veio facilitar lhe o meio de fazer uma boa con fissão . « Ago ra , que es t o u cloente, disse elle, vou confessar tudo. Q uero fazer uma confissão geral antes de morrer. » Mas, dominado pela soberba, de tal modo embrulhou a confissão das suas cnl pas, que o confessor nada pô de perceb er. T e ve um vago desej o de confessar-se no dia seguinte ; mas s o b re v e i o um accesso de dali rio, e o desgraçado morreu sem nma boa confissão d as suas culpas . A Communidade, • ' que ignorava a terrivel realidade, dizia : « Se elle não está n o céo , qual de nós poderá lá e n t rar ? )) E nas snas mãos i:J.m tocar cruzes , ro sario s e medalhas. O corpo foi transportado com uma c speci e de vcncraçilo para a egrej a do m o s t eiro , ficando exposto no côro até a manhã do dia seguinte, em que se de v i am celebrar os funeraes. Alguns mo m entos antes da hora marcad a para as ex:equi a s , um dos religiosos , ao ir tocar o sino , viu de repente diante de si, j un to do altar, o defL1nto cercado de cadeias que, de abrazadas pelo fogo, pareci am ver melhas, e divisou na sua figura alg um a coisa de incandescente. Aterrado, o pobre rel igios o SB EXIBl'E I!IFEBNO 35 cahiu de joelhos com os olhos fixos na hor: rorosa ap p arição. Então o réprobo lhe disse : ({ Não oreis por mim . Eu estou no inferno por toda a eternidade. a Contou a la.men tavel historia da sua funesta vergonha e dos seus sacrilegios, e em seguida desappareceu, deixando na. egrej a um tão mau cheiro, que se es p alhou pelo convento, como para attes tar a verdade de tudo o que o religioso acabava de vêr e ouvir. A visados os supe riores, estes mandaram immediatamente levar o cadaver, j ulgando-o indigno de sepultura ecclcsiastica . .A meret1·iz ' de Napoles. - S. Francisco de Jeronymo, celebre missional"Ío da Compa nhia de Jesus no com êço do seculo dezoito, iôra encarregado de dirigir as missões de Na poles. Certo dia, em que prégava n'uma praça d'alli, algumas mulheres de má vida, reunid11s por convite d'uma d'entre ellas, ehamada Catharina , esforçavam-se em per turbar o sermão com descantes e exclama ções ruidosas, para obrigar o padre a retirar-se ; mas elle não deixou de concluir Q seu sermão, dando mostras de não se in •Juietar com as suas insolencias . Algum tempo depois foi de novo prégar · 86 O IN.I'JIIUIO �a mesma praça. Ao vêr fechada a porta e ,;oda a casa de Catharina, onde ordin&· riamente havia grande tumulto, n'um pro fundo silencio exclamou o santo : « Oh ! que aconteceu a Catharina ? - Padre, não sabe? A desgraçada morreu hontem de tarde sem poder pronunciar uma só palavra. - C atha rina morreu ? replicou o santo ; morreu de repente ? Entremos e vejamos. » Abriram a porta ; o santo subio a escadaria, e seguido d'uma multidio de gente, entrou na sala onde o cudaver estava, estendido no chio, sobre um panno mortuario, circumdado de quatro velas, segundo o uso do paiz. Obser vou-a por algum tempo com olhos espan tados, e depois disse em voz alta : « Catha rina, onde estás agora? » O cadaver nada respondeu. O santo repetiu : o: Catharina, dize-me onde estás agora. Ordeno-te que me digas onde ê a tua morada. » Entlo, com grande espanto de todos, os olhos do cada ver abriram-se, seus labios agitaram-se con vnlsivamente, e, com voz aterradora, res pondeu : « No inferno ! estou no inferno ! ) A estas palavras, os que as ouviram fngi ram espantados, e o santo desceu com elles, repetindo : « No inferno ! Oh, Deus ! No in ferno ! Ouvistes? No inferno ! » 8E Elti8'rE I!II'FEBNO A 37 impresslo d'este prodígio foi tlto vi vaJ... que muitos que d'elle foram testemunh• • .·� .� não ousaram entrar em suas casas sem primeiro se terem confessado. O amigo d o Conde Orlo.ff. - No seculo actual deram-se tres fact0s do mesmo gene ro, cada qual mais authentico, e que chega ram ao meu conhecimento. O primeiro pas sou-se quasi na minha família. Aconteceu elle na Russia, em Moscou, pouco tempo antes da horrível campanha de 1 8 12. Meu avô materno, o conde Rostopchine, gover nador militar de Moscou, era muito amigo do general conde Orloff, celebre pela sua bravura, mas mais ímpio do que valente. Um dia, depois d'um o piparo jantar, em que houve numerosos brindes, o conde Orlo:ff e u m de seus amigos, o general V . , tão voltaireano como o conde, pozeram-se a mofar em termos horrorosos da Religilto, e sobretudo do inferno. «E se por acaso, disse Orloff, houvesse alguma coisa além do tumulo ?-N'esse caso, replicou o general V., aqnelle de nós dois que morrer primeiro, virá avisar o outro. Que lhe parece ? Excellente ideia ! », respondeu o conde Orloff. E ambos, ape1:1ar de estarem um \-, O INFERNO pouco embriagados, deram mui sériamente a. sua palavra de honra. de não faltarem ao ajuste. Al gumas semanas depois rebentou uma d'essas grandes guerras que Napoleão sabia suscitar. O exercito russo entrou em campanha, e o general V. recebeu ordem de partir immediatamente, para tomar um commando importante. Tinha deixado Moscou havia duas ou tres semanas, quando uma manhã muito cêdo, no momento em que meu avô se vestia, alguem abriu precipitadamente a porta do seu quarto. Era o conde Orloff, vestido de rou pa branca, em chinelas, com os cabellos eriçados, o olhar espantado, e pallido como um morto. « Que ó isso, Orlo fi' il Sois vós, a esta hora, com semelhante traje? Que ten des, que vos aconteceu ? - Meu amigo, res pondeu o conde Orloft', parece-me que estou doido . .A cabo de vêr o general V. -0 gene ral V. ? Pois elle já voltou ? - Ah ! não, replicou Orloff, assentando-se n' um canapé e segurando a cabeça com as mãos. Não, não voltou e ó isso o que me espanta . >> 1\Ieu avô não comprehendia nada, e pro curava socegal-o. « Contae-me o que vos aconteceu e o que quer dizer tudo isso. >> Eutão, esforçando-se por dominar a sua · SE ElUS rE Ilii! E RNO 39 commoção, o conde Orloff narrou o seguinte : ( Meu caro Ros topchine , h a algum tempo o general V. e eu j ura m o s mutuamente que o pri m eiro que morresse viria dizer ao outro se além do t u m ul o existe alguma coisa. Esta m anhã., ha a pe n as meia hora, estava. tra.nquillamente na minha cama , t e n d o pouco antes acordado, e não p en sav a sequer no meu amigo, qu an do de repente se abriram as cortinas d o meu leito e vi a dois pas sos de mim o general V. , em pé, pa lli d o , e com a mão dit·cita sob re o peito. Disse-me : �! Existe inferno, e cu cahi n'elle. » E desap- · pareceu iwmediatamento. Corri d e p re ss a a. procurar-vos . A minha cabeça parte- se. Que coisa tão estranha ! Não sei o que devo · pensar. » 1\len avô soccgou-o como pôde. Era diffi cil. Fallou-lhe de sonhos, e que elle talvez dormis:�e ainda. Disse-lho que ha muitas coisas extraordinarias o incxplicaveis, e ou tras trivial idades d'cste genero, que dão consolação aos es pí ritos fortes. D ep oi s m a n do u atrcllar os cavallos e reconduziu o conde Odoft' a sua casa. Dez ou doze dia s d e po i s d'este estranh o :mccesso, um postilhão trouxe a meu a,·ô, entre outras noticias, a da m o rte do geno- .{() O Il!IFERNO V. Na manhll d'aquelle mesmo dia em que o conde Orloff .o viu e ouviu, á mesma hora em que lhe appareceu em Moscou, o infeliz general, tendo sabido para reconhe cer a posiçllo do inimigo, foi ferido no peito por uma bala e cahiu immediatamente morto. « Existe inferno, e ou cahi n' elle ! » Eis as palavras d'um que de lá voltou. ral  senhora do b..acelete d'ouro. - Em 1 859 narrei este facto a um padre mui dis tincto, superior d'nma importante Com · munidado. « E' terrivel, disse-me elle, mas nllo me admiro d'isso. Os factos d'este genero nito são tio raros como se pensa ; mas, quando succedem, ha sempre mais ou menos interesse em occultal-os, tanto para honra d 'aquelle que 'IJolta, como para honra de sua familia. Soube de boa fonte , ha dois ou tres annos, um facto quo me foi contado por um parente proximo da pessoa. a quem elle nconteceu. No momento em qne vos estou fnllando (Natal de l SNl) , esta senhora ainda vive ; tem pouco mais de quarenta annos. « Estava ella em Londres no invemo de 1847 a 1 848. Era viuva, tinha entlo quasi vinte e nove annos de idRdo, e era munda- 8111 EXISl'E INI!'EBNO 41 na, rica e de physionomia agradavel. Entre elegantes que frequentavam o seu salil:o, notava-se um lord aindn novo, cuj a fre quencia a compromettia singularmente, e cujo procedimento era além d'isso pouco edificante . «Uma tarde, ou antes , uma noite (porque já tinha dado meia noite), a referida se nhora lia na sua cama não sei que romance, com o fim de conciliar o som no. A pe n a s o relogio deu uma hora, apagou a luz . Começava a adormec:er, quando, com grande espanto seu, viu u m clarão pallido, estranho, que parecia vir da porta do salão, espa lhou-se pouco a pouco pelo quarto , e foi augmentando gradualmente . Estupefacta, abriu muito os olhos, não sabendo o• que aquillo q ue ri a dizer. Começav�t a aterrar-se, quan do viu a bri r- s e lentamente a porta do salão e entrar no seu quarto o lord, cum plice dos seus peccados. Antes de I he poder dizer uma palavra, o mancebo estava junto d 'ella, apertou-lhe o brn ço esquerdo pelo pulso e, com voz estridente, disse-lhe em inglez ; « Exiate inferno. �� A dôr quo sentiu no braço foi tal, que ficou sem sentidos. cc Quando, d'ahi a meia hora, voltou a si, chamou a et•eada de quarto . E sta , ao enos · 42 O INFERNO trar, sentiu nm g rand e cheiro a queimado ; e a pproximando-se da sua senhora, que com difficuldade podia fallar, viu no pnlso uma queimadura tão profunda , que o osso estava á vista e as carnes quasi consumidas, e ti nha de largura a mão d'um homem . Da. porta do salão até :i cama, e da cama á mesma porta, viu no tapete as pégadas d'un1 homem , que ch egaram a queimar o tecir1o d'um a outro lado. Por ordem da sua 'sen hora abriu a porta do s a l ão , e encontrou mais al guns vestí gios no tapete. « Pela manhã a infeliz dama so Ltue, com um terror facil de conceber, que u'aqnella noite, á uma hora , o seu l ord fôra achado morto j nnto a uma mesa. qtw tinha mandado transp ortar para o seu q uarto, onde expi rou , .depoi;; de s e ter embriagado. «Ignoro, continuou o superior , se esta terri vel lição converteu a de i! graç ad a ; mas o que sei, é qne ella ainda �ive, e que, para occultar os signaes da sinistra quei madura, traz no pulso e s qnor d o , á rnaneit·a de bracelete, um a atadura d 'ouro, q n o n ão abando n a nem de noite nem de dia . Repito : este facto foi-me narrado por um proximo parente d'aq n ella senhora, christão fervo roso, e a cuj a palavra dou todo o credito. SE BXISrE JN�'EHNO « N� família não se falia d'isto ; e eu mesmo vol-o confio occultando os nom es das pessoas . » Apesar d o véo em que esta apparição tem estado e deve estar e nvolvida, parece me impossível pôr em duvida a sua terrível authenticidade. C ertamente a dama do bra celete não teria desde então necessidade de que alguem lhe viesse provar a existencia do inferno . A p1·ostitutn d e ' Roma. - N o anno de 1S73, alguns dias antes da Assnmpçito, deu-se em .Roma uma d'essas terríveis nppa rições de almas do outro mundo , que corro; boram efticacissima mente a verdade da exis tencia do inferno . �' uma. d'essa.s casas infames, que a inva são sacrílega do domí nio temporal do Papa fez abrir em muitos log,1res de Roma , uma infeliz donzella tinha uma ferida na mão, que a obrigou a ser transportada ao hos1,ital da Consolação . Ou porque o sangue, viciado pela devassi dão, fez aggravar a ferida, ou por qualquer complicação, a desgraç ada morreu n' cssa noite. No mesmo instante, uma das suas companheiras, que certamente ignorava o que se acabava. de passar no hospital, co- . . , -ç · _ · · - -:- -. � - --- ---, �-. ...-�. . ---.. - . • O INFERNO meçou a dar gritos desesperados, de tal modo que acordou os habitantes do bairro, pôz em agitaçll.o as miseraveis moradoras d'aquella casa, e chegou a provocar a inter venção da policia. A que fallecêra no hos pital, tinha-lho apparecido cercada de cham mas e disse-lhe : «Estou condemnada ; se não queres, como eu, cahir no inferno, sabe d'este logar infame e volta-te para Deus, a quem abandonaste. >> Ningnem pôde acalmar a desesperação e o terror d'esta desgraçada, que logo ao alvorecer se foi embora, deixando toda a casa penetrada de honor, apenas se soube da morte, no hospital, de sua infeliz com panheira . N'este entretanto adoeceu a dona da casa, garibaldina exaltada, o como tal conhecida pelos seuf:l irmãos e amigos. Mandou a toda a pressa chamar o cura da freguezia. Antes de ir a semelhante casa, o respeitavel sa cerdote consultou a auctoridade ecclesiasti· ca., a qual delegou para este fim um digno Prelado, Monsenhor Sirolli, p arocho de S. Salvador in Lauro . Este, munido de instru cções especiaes , apresentou-se e exigiu logo da doente, em presença de muitas testemu nhas, a inteira e plena retractação doa es- SE EXISTE IN}'EBNO c"ndalos de sua vida, de suas blasphemias cont1·a a auctoridade do Summo Pontifica, e de todo o mal que :fizera ao proximo. A in feliz fêl-a sem hesitar, confessou-se e rece beu o Sagrado Viatico com grandes senti mentos de arrependimen to e humildade. Sentin do que ia morrer, supplicou com lagri mas ao bom parocho que não a abandonasse, aterrada, como estava, do que tinha pre senciado . Mas a noite approximava-se, e Monsenhor Sirolli, collocado entre a cari dade, que lhe dizia· qne ficasse, e o decôro, que o obrigava a.. não passar a noite em tal logar, mandou pedir á policia dois guardas, que vieram , fecharam a casa e a guarda ram , até quo a agonisante exhalon o ultimo suspiro. Roma inteira conhecett bem depressa estes tragicos acontecimentos. Como sempre, os impios e os l ibertinos zombaram d'elles, nlo se aproveitando da licção ; os bons utilisa ram-se d'elles, para serem ainda melhores e mais fieis aos setts deveres . A' vista de semelhantes factos, cuja lista podia ainda alongar-se mais, pergunto ao leitor recto e consciencioso se é razoavel repetir, com a multidão dos descrentes, a •46 •-;- ....-.....,. _ -. --.. � . - ·: 1"';"' -.. - - • .._. O 'lNFI'lRNO famosa phr as e que serviu d'epigraphe : « Se é certo que existe inferno, como é que n un c a ninguem voltou de l:í. ? » Mas ainda que, com ou sem ra z ão, se nito quizesse admittir os factos tão au then tico s que acabo de narrar, não ficaria menos inabalavel a certeza absoluta da exis tencia do inferno. Com e ft'e ito , a crença do inferno não re pousa sobre estes prodígios, que não são de fé, mas sim sobre as razões de bom senso, que já expozemos , e prin cipalmente sobre o test em u n h o divino e infal livel de Jesus Christo, dos Prophetas e dos A posto los, assim como sobre o ensino formal, inva riavel e i nviolavel da Egreja Catholica. Os pro d ígi o s podem corroborar a nossa fé ou reanimal-a. Por esta razão, j ulgamos dever citar aqui alguns, bem capazes de fechar a bocca aos que ousam dizer : « Não ha i nferno » ; de c on firmar na fé os· quo são tentados a dizor : « Existe porv ent u r a o in fe r no ? » e, em fi m , de c on solar e i Iluminar ainda mais aquelles qne, fieis e dóceis ao ensino da Egreja, dizem com ella : t1 Existe inferno. » http://a lexand riacatolica . blogspot.com. br, 47 sp l, oi'I J i l l' •' 1 p w t a u ta !Jt' l l l l ' p s f cw1�:1 l ' l l l l l i'!J H I' a c · x i s i i • J w i a d n i 1 1 fC' I' I I O Primeiramente : é porqne a maior parte d'essa gente tem interesse grll.nde e directo em negai-o. Os ladrões, se podessem, aca bariam com a policia ; do mesmo modo, todos os que se�em remorsos estão sempre . dispostos a fazer o possível e o impossível por se persuadirem que não ha inferno, so bretudo inferno de fogo. Sentem que, se o inferno existe, é para elles. Fazem como os poltrões, que cantam fortemente no meio da escuridão da noite, com o fim de se en treterem e de nã.o sentirem o m êdo que ' os affiige. Para terem ainda mais animo, procuram persuadir os outros que o inferno não existe. Escrevem isto nos seus livros, mais ou me nos scientificos e philosophicos ; repetem-o, ora alto, ora baixo, em todos os tons e de todas as maneiras ; e, graças a este ruidoso concerto, terminam por crflr que ninguem acredita no inferno, e que, por consequencia, teem o direito de não acreditar tambem . Taes foram , no ultimo seculo, qnasi todos • • O JJIFEUO os chefes da incredulidade voltaireana. Ha viam estabelecido por A + B que não havia Deus, nem Paraiso, nem Inferno ; queriam, d'cste modo ficar tranquillos. E entretanto a historia mostra-os, uns após outros, to mados de horrível panico no momento da morte, retractando-se, confessando- se e pe dindo perdão a Deus e aos homens. Um d'elles, Diderot, escrevia a respeito da morte d' Alembert : << Se eu alto estivesse j unto d'elle, ter-se- hia retractado, como todos os outt·os. » E mesmo assim pouco faltou, porque elle tinha pedido um padre. Todos sabem que Voltaire, no leito da morte, pe<liLt duas ou tres vezes com instan cia qne lhe chamassem o parocho de S. Sulpicio ; porém sens discípulos cercaram tão bem a sua cama, que o padre não pôde chegar ao pé do velho moribundo, que ex pirou n ' um accesso de raiva e de desespero. Vê-se ai nda em Paris o quarto onde se pas sou estn scena tragica. Os qne gritam mais fortemente contra o inferno, crêem n'elle mais do que nós. No momento da morte cabe a mascara, e entlo vê-se o que estava coberto. Já se não ouvem aquelles an·azoados inspirados pelo intereese e dictados pelo mêdo . , ó· 8� EXIS"fE I N .-t:li�O Em segundo logar, é a corrupção do co raç.ão que faz n égtlr a existencia do inferno. Q uand o se nito quer deixar a má vida que co nd uz ao i n ferno , começa-se a dizer que elle não existe, embora se sinta o contrario. Imaginemos um homem et�jo co ração, phantasia, s en ti d os e habitos quotidianos são regulados e absorvidos por um amor culpavel. E nt r eg a - s e todo :is suas paixê;es , sacrifica-se por ellas inteiramente. Ide entito tà.llar-lhe do inferno ! Falla reis a um surdo. E se algumas vezes, n o meio dos gritos da paixão, ouve a voz da consciencia e da fé, l o g o lhe impõe s i l en c io, não qL1erendo ouvir a verdade, que lhe brada no coração e lhe entra pelos ouvidos. Ide fallar do inferno a esses m an cebos libertinos que povoam os lyceus , as officin a s , as fabricas e os quarteis. Responder-vos-hil.o com p h r a se s de colera e com gargalhadas diaboli cas, mais poderosas para ellcs do que os argumentos d a fé e do bom senso. Não querem que o inferno exista. Um dia vi um , que s e encaminhou para mim, levado por Ulll resto de fé . Exhortei-o quanto me foi possível a n ão deshonrar-se com o seu procedilll c nto, a viver como chris tão, como h om em e nil.o como bruto. « Tudo 4 .''-:-' . - -....- . ' O I!lll'BRl(O é bonito e bom, respondeu-me, e talvez �eja. verdadeiro ; mas o que eu sei é que, quan d o o vicio me assalta, fico como um tolo ; não ouço nem vej o nada, e j ul go que nio existe Deus nem i nfer n o . Se houver in ferno, para lá irei ; isso pouco me i m p or ta » . E nunca mais o tornei a vêr. E os avarentos, os usurarios e os ladrões ? Que argumentos irresistíveis acham nos seus cofres de ferro contra a existencia do infer no I Restituir o que roubaram , abandonar o dinheiro, as l ibras ? ! Antes mil mortes, antes o infer no, se existe. Havia um velho usurario n orman d o , que nem mesmo no momento da morte se quiz resolver a deixar tudo o que tinha adquiri do injustamente. Consentiu, não se sabe como, em restituir sommas enormes , e só faltava pouco mais de 1: 5500 réis. O pad re não pôde obter d' elle a restituição d'esta quantia. O desgraçado morreu sem sacra Jlle ntos. Para o sen coração d ' avarent o , bas tou a quel la pequena quantia para fazer-lhe e s qu e cer o inferno. O mesmo succede com todas as paixõ es violentas : o odio, a vin g a n ça , a am bi ção e certas exaltações d'orgnlho . Não querem ouvir fallar do inferno. Para. negar a sua isso -· SE E:tlSTE INFEB:>iO 51 existencia, em'pregam todos os esforços , e nada lhes custa. Todos estes , qua n do ficam confundidos por alguma d'es(;as grandes razões de bom senso, que j á. ex p ozemos , appellam para os mortos, esperando assim escapar ás censu ras dos vivos . Ol tegam a figurar- s e e a dizer que acred itariam no inferno, se algum morto resuscitasse dian to d'elles e lhes affir masse q ne o inferno existia . Puras illusões, que mesmo Jesus Cla·isto se dignou dissipar, como vamos vêr. E m hm·a os I IHII'tos I"es n s e i tnssl'll l l l l l l i l : : s Y< ' Z < ' S , o h n p i o u ii o a <" l'< ' d i l : n• i a 1 1 0 i u f < ' I' ! I O Um d i a Nosso Senhor passava e m Jeru salem , perto d ' nm a casa cujos alicerces ainda existem , e qne pertcncêra a um j oven pha risen chamado Kicencio. Este tinha morrido havia al gum tem po . Sem o nom ear, Jesus tomou ocea sião do qne se tinh a passado para instruir os sem1 diseipulos, assim como a multidão que o segui a . « Houve u m hom em rico , disse Jesns , que se vestia de purplll' a e linho, e que todos os dias se banqueteava es plendidamente. A' O INFERNO sua. porta jazia. um po br e mendigo, por nome Laz a ro , coberto de chagas, que dese java co m er as m igal has cabidas da mesa do rico ; m a s ni ng uem lh'a.s d ava. Ora o pobre morreu, e foi levado pel os Anjos ao seio d' Abrahll. o , isto é , e.o paraís o . O rico mon·eu tambem, e foi sepultado no inferno. Ahi, no meio dos tor m e nt os, levanton os olhos e viu ao longe Abrahão, e Lazaro em seu seio. E n tão em alt o s gritos, exclamou : « Abra hão, meu pae, t ende · pi eda de de mim ; mandao a. Lazaro que molhe a ponta do seu dedo na agua. e q ue ven h a refrescar-me a língua, p or que estou s o ffr en d o horríveis tormentos n ' estas ch am m a s . - Meu filho, respondeu-lhe Abra hão , lembra-te q ue du ran te a vida gosaste dos prazeres, ao passo que Lazaro padec eu . Agora elle está c on · solado e tu softrendo. - Ao menos, re p licou o rico , enviae L aza ro , eu v ol - o peço, a casa de meu pae, p ois tenho cinco irmãos, e que l hes diga os tormentos que aqui se padecem, para que não venham , como en, cahir n'este logar. - Teem Moys és e os Prophetas, res pondeu Abrahão ; ouçam-os. Não, pae, re plicou o condemnado ; isso não basta. Ma.a s e algum m orto os fôr avisar, então farllo penitencia '' · E Abra hã o lhe disse : c< Se elles SE EXISTE IN�'EBNO nil.o escutam Moysés e os Prophetas, embora resuscite um morto não acreditarão na sua palavra » . Esta grave parábola do filho de Deus é a resp_psta antecipada üs illusões dos que, parit crêrem no inferno e converterem-se, exigem resurrei()Ões ·e milagres. Se ao re dor d'clles abunàasscm mila gres de toda a natureza, ainda não acreditariam . Seriam como os j udens, que , á vista dos mila gres do .Salvador, e particularmente da resurrcição de La zaro. em Bethania, não tiraram senão esta conclusão : « Que deve mos fm:: e r ? Eis que todo o povo corre atraz d'elle. Matêmol-o. )) E mais tarile, á vista dos milagres quotidianos , publicos e abso lutamente incontestavcis de R. Pedro e dos outros Apostolos , àisseram tambem : <r Estes homens fazem milagres que não podemos negar. Mandêmol-os prender o prohibamos lhes que preguem d'ora em diante o nome de Jesus . » Eis o que produ zem ordinaria mente os milagres c as resurreições do"s mortos na-presença dos que teem o espitito -e o coração corrompiàos. Quantas vezeg não se tem repetido a phrase verdadeiramente louca, dita por Diderot, um dos maiores ímpios do seculo O INFEIINO passado : cc Ain d a que todo o Pm-is, dizia. um dia, me viesse aftirmar que vira resus citar um morto, preferia antes crêr que Paris estava louco, do que admittir um milagre. » Ainda os maiores peccaclos desejam vêr milagres ; mas inteiramente são dominados pelas mesmas tenden eias, teem tomado as mesmas r es o luç õ es ; e se um resto de bom senso os impede de p1:oferir semelhantes absurdos, na pratica não fazem mais nem menos. Sabeis o que é p r eci s o para não haver difficuldade em cr 0 r no inferno ? E' viver de maneira que não haja d'ello nenhum mêdo. VMe os verdadeiros christãos, os christãos castos, conscienciosos, fieis aos sens deveres : vem-lhes acaso a i d eia de duvidarem do inferno ? As duvidas provéem antes do coração do que da intelligencia ; e salvo raras excepções, devidas ao orgulho da meia sciencia, o homem de vida regular não sente a mínima necessidade de decla mar contra a existencia do inferno. ,, ' ('·"''· . c�."!�xa nd riacatolica . b logspot.com . b r I O �UE i O INFERNO O quB é o infBrno ) ) a s i d c • i a s f a l s a s I' S I I I J I ' I'S t i l ' i osas Ú l' l ' rea d o i u l c • I' I I O Primeiro que tudo, cu m pre afastar-nos com cuidado de todas as ficções pop ul ares e supersticiosas , que alteram em tantos espíritos a noção verdadeira e eatholica do inferno. Muitos forjam um inferno phantas tico e ridículo, e d ep oi s dizem : 11 Não creio no inferno, pois é absur d o e impossível. Não, não creio nem posso crêr no i n fern o » Com efieito , se o inferno fosse o que dizem muitas mulheres, aliás boas, teríeis cem vezes, mil vezes razão de não acredi tal'des n'elle. Todas estas invencões são dignas de figurar ao lado dos conto� que se fa b ricam para en t ret er a imaginação do vulgo. Não é i sto o que ensina a Egrej a ; e se a lgum as vezes, afim de commoverem mais vivamente os co ra çõ es, alguns auctores e prégadores j ulgaram pod er em p r ega r a phantasia, sua boa inten<;.ão não os impediu de procederem mal , v i s to que a ninguem é p ermittid o desfigurar a verdade e expôl-a á . O INFERNO irrisão dos homens sensatos, sob o pretexto de amedrontar os ignorantes, para mais facilmente os fazer sahir do caminho da perdição . Bem sei q ue muitas vezes se experimenta um grande embaraço em fazer comprehender ao povo os terríveis castigos do inferno ; e como a maior parte da gente precisa de representações materiaes para conceber as coisas mais elevadas, é quasi preciso fallar do inferno e do supplicio dos condemnados d'uma maneira figurada. Mas é muito difficil fazêl·o com moderação ; e muitas vezes , repito , com as mais ex:cellen tes intenç.ões cahe- se no impossível , ou antes , no ridicnlo . Não, o inferno não é isto. D'um modo bem differente, é grande e terrivel . Vamos vêl-o. () i n f P I' I I O ('.O I I S i S(P, (' U I p •·i n w i t·o l o!J a r , n a !J l'H J H I P pe 1 1 a d a f"O JH I P I I l l l a t :i o A condemnação é a separação total de Deu s. O conclemnado é uma creatura total e definitivam ente separada do seu Deus. Foi Jesus Christo, que nos mostrou a con demnação como a pena primaria e dominan- I O QUE t O INFER�O 57 te dos réprobos. Deveis lembrar-vos dos ter mos da senten ça que E l le pronunciará contra os réprobos no Juizo final , e de que já falla mos atraz : (( Retirae-vos de mim , malditos, e ide para o fogo eterno, q u o foi preparado para o demonio e sens anj os >> . Notae bem : a primeira palavra da sen tença do Sobc!'ano Juiz faz-nos comprehcn d�r a primeira pena do inferno, que é a separação do Deus, a p ri vação de Deus, a maldição de Dcns ; por outras palavras, é a condemnação ou reprovaç-ão. A leviandade do espírito e a falta de fé viva impedem - nos <lo co mprehender n'esta vida os hol'l'ores , espantos e desesperos que resultam da conàemnação. Fomos criados para o bom Deus, e só para Elle. Tende mos para Deus como a vista para a Iu·z e o coração para o n m o r . No meio das mil preocci.1 pações d'estc mundo não sentimos bem aquella tendencia, e af,t stamo-nos de Deus, nosso unico fi m , em troco das coisas quo nos cercam , do qne vêmos, ouvimos , soffremos e amamos. l\fas depois da morte, a verdade entra na posse de todos os seus direitos. Cada um de nós acha-se sósinho diante do seu Dens, diante d' Aquelle p elo qual e para o qnal foi criado, e que é o unico que póde dar-lhe a vida, a felicidade , o d escanço, a alegria, o amor, em:fi m , tudo. Ora, :figurae-vos o estado d'aquelle homem. que, n' um momento, absoluta e totalmente, perdeu a vida , a luz , a felicidade, o amor e, mufim , o que para elle era tudo. lma ginae este vacuo subito e absoluto no qual se abysma um sêr criado para amar e possuir Aquelle do qual se vê privado." Um membro da Companhia de J esus, cf' P. Surin , que se tornotl celebre no sec f' decimo setiw o pel a s suas virtudes, sfien . e i n fortunios, sentiu durante quasi vinte annos as angustias d' este terrível estado. Para livrar uma pobre e santa religiosa da obsessão do demonio, que resistira a mais de tres mezes de exorcismos, de orações e austeridades, o caridoso padre l evou o seu heroismo a oflerecer-se como victima, se a misericordia divina se dignasse ouvir os seus rogos e livrar aquella infeliz creatura. Foi attendido ; e Nosso Senhor permittiu , para santificação do seu servo, que o demonio se apoderasse immediatamente do seu cor);!6 � o atormentasse durante longos annos . Nit� mais authentico do que os factos admirav eis � e lihlicos a que deu loga.r a possessão do pob re · P. Surin , e que seria �:Quito longo tP. aJ.tL . p o QUE f.:. o Ji4·Im:-�o .. 59 refe�ir aqui . Depois do seu livramento recolheu n'um escripto, que ainda se con serva , tudo o que soffreu n'aquelle est!\do sobrenatural, em quo o demonio, apoderan do-se materialmente, por a ssim dizer, das suas faculdades e sentidos, lhe fazia sen tir uma parte das suas impressões e do seu desespero de réprobo. (< Parecia-mo, diz elle, que todo o meu . sêr e todas as potencias da minha alma e �o n�.e u corpo eram impellidas com uma .vehemencia inexprimivol para o Senhor Deus ; via qne Elle era a minha suprema felicidade, o meu bem infinito, o unico objecto da minha existencin , e ao mesmo tempo sentia uma força irresistivel que me arrancava ne Deus e me retinha longe d'Elle ; de sorte que, criado para viver, via-me e sentia-me privado d' Aquclle q ue é a vida ; criado para a verdade e para a luz, conhecia-me absolutamente repellido da l uz e da verdade ; criado para amar, vivia sem amor, privado inteiramente do amor ; el'iádo para o bem , estava sepultado no abysmo do m ai. « Nll.o posso, continúa clle, comparar as angustias e os desesperos d'esta inex pri mivel affiição, senão ao estado d'uma frecha 60 O INFERNO vigorosamente lançada para um alvo d'onde a repelle incessantemente uma força · in vencível ; impellida irresistivelmente para diante, é sempre e invencivelmente repel lida para traz . » Isto é apenas um pallido symbolo d'aquella terrível realidade, que se chama a conde mnação. À condemnacão é necessariamente acom panhada do de ;espero . E' a este desespero que Nosso Senhor chama no Evangelho <t o verme >> que roe os condemnados. « Tudo isto vale mais, disse J ems, do que it• para essa pri�ão de fogo ond e o verme dos répro bos n unca morre (ubi vermis eornm non mo1·itm� . >> O verme dos condemnados 6 o remorso, é o desespero . Tem o nome de verme, por que na. alma poccaclora e condemnada nasce da corrupção do peccado, como nos cada veres os vermes nascem da corrupção da carne. Emqnanto vivemos não podemos imaginar exàctamentc o que são o remorso e o desespero dos condemnados, pois que n'este mundo, onde nada é perfeito, o mal anda sempre acompanhado com o bem , e o bGt misturado com algum mal : Por mais Jliolentos que possam ser n'esta- vida os O QUE }; O JNFEIIliO 61 desesperos e remorsos, slio sempre alliviados por certas esperanças, e tambem pela im possibilidade de supportar o soffrimento, quando elle excede uma determinada medi da. Mas na eternidade tudo é perfeito, per mitti-me a expressão ; o mal então é per fei to com o o bem , isto é, não ha allivio, nem esperança, nem possibilidade de miti gação , como adiante explicaremos. O re _morso c o desespero dos condemnados serão completos, irrevogaveis , sem remedio, sem sombra de allivio, sem a possibilidade de serem sua v isados : são absolutos quanto t\ possiYel , porque o mal absoluto não existe. lmaginaes o que será este estado de de sespero , privado d'um raio sequer d'espe rança. E este pensament o tão doloroso : « Perdi-me , porque q niz, e perdi-me para sempre, por coisas do nada, por bagatelas momentanca s ! Podi a com tanta facilidade salvar-me etern amente , como tantos ou tros ! » t< A' vi�ta dos bemaventurados , diz a Sa grada Escriptura, os condemn ados serão possuídos d'um formidavel terror, e afilictos g.ritarão, gem end o : « Ai ! que nos engana mos (e?·go e?'1'avimus), e nos afastamos �o >erdadeiro caminho ! Trilhamos as sendas -� 62 O INFERNO da iniquidade e da perdição, desprezamos o caminho do Senhor. De que nos ser �m as riquezas, e os pra zer��� ? T udo pa ��ou _ como uma sombra, e m� ? ra perdidos . e abysmados na nossa per . 1dade . >> E o escri ptor sagrado accrescen ta t << A ssim di2Jem no inferno os peccadores condemna.dos . l> ·� A o desespero accrescer:i. o odio, fl"ll cto tambem da maldição : << Retirai-vos do mim, malditos ! )) E que odio ! O odio de D eus, o odio per feito do Bem infinito, ela Verdade mes m a , do eterno A m o r , da Bondade. da Bel l eza, da Paz, da Sabedoria , da Perfeição infi nita e eterna ! Odio i m placavel , sobrenatural , que a bsorve todas as potencias do espírito e do coração do condem n ado. O réprobo não poderia odiar o s eu Deus se lhe fosse permittid o , como aos bemaven turados , contem pla-o fa ce a face, com todas RB s u as perfeições e i n dizíveis esplendores. Mas não é assim que no i n ferno se vê o Deus. Os réprobos não o sentem senão nos terríveis effeitos da sua j ustiça , isto é, nos tormentos ; por isso odeiam a D eus, como odeiam os ca s tigos que soffrem , como odeiam a condemnação e a maldição . , i O QUE É O INFERNO . _ .. . . , .#�:·· 63 seculo passado um pailre virtuoso, ao , um possesso em Messina, pergnn-" tou' ao demonio :� . «Qnem é3 tu ? -· Sou o sêr que não ama a Deus)) , resp on de u o espírito . mau . E em Pf!,ris, n 'nm outro exorcismo, perguntando o mi nistro do Deus ao demo nio : « Onde estás ? )) , respondeu este com furor . «:Xos infernos para sempre . - E quererias srr aniquilado ? - Não, afim de poder sempre odiar a Deus. >> O mesmo po deria di:wr cada um dos condemnados : odeia m eternamente A c1uelle que deviam amar eternamente. .N9 :q9fcisar e «.Mas , diz m nitn. gen te , Deus é a mesma Bondade. Como querei:! , poi�, que Elle nos condemne ?)) Não é Deus que condemna ; é o peccn.dor que se condemna. O terrível fácto da condemna<:ão tem por causa , n ilo a B o ndade de Deus, mas sómente sua Santi dade e Justiça. Dens, assim como é Bom, é Santo, e a sua .T ustiça é tão infi nita no inferno, como a sna Bondade e l\'l isnricor dia si'i o i nfinitas no céo. Não o fiendae s a Santidade de Deus e fieae certos de que não sereis condemnados. O répr ó bo possue o que escolheu livremente , desprezando to das as graças do seu Deus. Escolheu o · 64: O INFEBlfO f,M)ll a l, tem o mal ; ora , na eternidade, o mal �em o nome de inferno. Se tivesse escolhido o bem , teria o Lem , e possuil- o-ia eterna mente. Isto é perfeitamente logico, e n'este ponto, como sem pre, a fé concorda admira velmente com a recta razão e com a equi dade. Portanto , a primeira pena doii réprobos, o primeiro elemento d'esta horrível reali dade, que se chama inferno, é a condemna ção, ac om panh a d a da maldição divina, do desespero e do odio de Deus. O i n fi ' I' I I O 1�o n s i s t e , l ' l l l S I ' \J J I I HI O ] O !J tl l', l i H J W I I U l t O J ' I ' i \"1 ' 1 d o ÍO(J O Ha fogo no inferno : i sto é de fé revelada . Lembrae-vos das palavras tão cl aras, tão formaes do Filho de Deus : « Retirae-vos de mim , malditos , para o fogo (in ingnem) , pa:ra a prisão de fogo ; e o fogo não se apa gará jámv is. O Filho do homem enviará seus Anjos, que apa rtarão os que tivera� pratica do o mal , para lançai-os na fornalha. de fogo (in caminum ignis). » Palavras divinas e infalliveis , que foram repetidas pelos A postolos , e que são a base do ensino .1-- ' I j O QUE I� O INJIE!Il!IO 65 da Egreja. No inferno os condemna.dosl" soffrem a pena de fogo. . . Lê-se na historia ecclesiastica que dois mancebos, que segui a m no terceiro seculo os cursos da celebre escóla d' Alexandria, no Egy pto, tendo um dia entra do n'uma egreja, onde o p ad re prégava sobre o fogo do inferno, nm d'elles zombou do que ouvia, ao passo que o outro, possuído de temor e de arrependimento ,, converteu-se e fez-se religioso, }Jara. melhor assegurar a sua sal vação. D'ahi a algum tempo o primeiro morreu de repente. Deus perm itt i u que elle apparccesse ao seu antigo companheiro, ao qna.l disse � « A Egrcj a ensin a a. verdade, quando prég<L o fogo eterno do i nfer no. Os padres ainda não dizem a ccntesirna parte do que é . » O .fogo do inf'e1·no comp1·eheusivel. - Ah ! ,; sab1·enattwal e in quem pódc n'este mundo exprimir on mesmo conceber as grande!:! realidades eternas ? E' impossível aos padres dizer tudo, porque o seu espírito e a sua palavra curvam· se debaixo d'este peso. Se se diz do céo : t< Üs olhos não vi :::-a m , nem os ouvidos ouviram, nem o cspi ::-i�o humano póde comprehendor o que Deus l 5 uu U lft lfl'.õ K�U tem preparado para os qnc O amam » , póde-se igualmente, com relação i .Justiça infinita, dizer do inferno: «Üs olhos do homem não viram, nem os o u v i do s ouviram , nem seu espírito púde, nem poderá jámais concebet· o que a Justiça de Dens tem pre parado para os p e c e� d ore s impenitentes. n a Sou atormentado cruelmente n'est11. cham ma ! » , gritaYa do fundo do inferno o m au rico do Evangelho. Para com p r e h e nder o alcance d'esta primeira palavra do réprobo: «Sou atormentado ! (C1·ucio1· !) » , seria ne cessario poder com p rehender o alcance da segunda: <l.n'esta chamma (in hac jlamma). )) O fogo d'este mundo é imperfeito, como tudo o que exi�te n'elle, e as chammas ma teriaes não são, apesar do s e n horrivel p od e r, mais do q ue um fraco sym bolo das chammas eternas de que falla o Evangelho. Seria acaso poasivel exprimir ex a ct am ente o h orror dos tormontos que sentiria um ho mem lançado por alguns minutos n'uma fornalha ardente, no supposto de que podia alli vi ver ? Dizei-me : seria possível ? Não, certamente. O que se poderá então dizer do fogo sobrenatural do inferno, d'esse fogo eterno, cujos horrores não tecm compa ração ? O QUE I� O INI!'EIINO 67 Comtudo, como estamos no tem po, e n�o na eternidade , precisamos de servir-nos das pequenas realidades d'este mundo, embora fracas o im perfeitas , para elevarmo- nos um pouco ás roalidades invisíveis e immensas da outra vida . De\·emos , pela consideração dos indiziv��j,; tormentos qne cansa o fogo terrestre, temer o fogo do inferno, para não cahirmos nos aby,;mos d'estc fogo vingador. O P. Bussy e o mancebo libe?·tino. - Um santo missionario, que viveu no começo d'e3te seculo ;'" celebre em toda a F1·ança pelo seu zêlo apostolico, pela sua eloquen eia e virtunes, e tambem pelas suas origi nalidades, qniz u m di a qtw certo mancebo libertino tocasse com o dedo no fogo. O P. Bussy dava n'uma grande cidade do snl da. França uma importante missão, que abálava toda a população . E 1·a n a força do inverno ; approxiru ava-se o Natal e fazia muito frio. No q narto, onde o padre recebia os homens, havia um fogareiro com bom lume. Corto dia o padre ' viu chegar u m man cebo que particularme nte lhe tinha sido recommendado por cansa de suas devassi d<ies c ditos ímpios . O P. Bussy conheceu logo que não podia fazer nada com elle. O INl'EBNO 68 Não obstante, disse-lhe alegremente : << Vinde cá, meu bom amigo , n ão tenhaes m êdo, pois não co n fe s s o senão os que querem con fe s sar-se. Appro:s:imae-vos, assentao-vos n'esta ca dei ra, e, ao p a s s o que nos vamos a que cen do, conversem os um pouco. >> Abriu o foga reiro e , vendo que as brazas estavam quasi re du zi d a s a cinzas, disse ao mancebo . «Ant e s de vos assentardes, fazei o favor de trazer-me d'ahi uma ou dL1as achas. " Admi rado o j cvcn , fez en tretan to o qnc o padre lhe pediu. �c\gora haveis do m'as ))Ôt" no fogarei ro , l:í. bem para o Í1 mdo . » E como , elle pozcsse as achas j unto :i porta do foga reiro, o P. Bnssy agarrou-lhe no braço e levou-lh'o até ao fundo. O mancebo deu um gri to e saltou para tra z . �( A i ! , gritou olle ; vossa reverendíssima está tolo ? Quer q uei mar-me ! Qnc ten des, meu caro amigo ? replicou o padre tranqnill amente. A caso não ' precisaes de habitnat· ·•os ? No inferno, para 1 onde ireis, se continua rdes a viver como até : agora, não será sówente as pontas dos dedos que vos arderão no fogo, m as todo o vosso corpo . Este pequeno fogo não é nada em com pa raçã o do outro. Vamos , vamos, meu bom amigo, coragem ; é preciso habituar vos . » E quiz tornar a mettcr-lhe o braço. ·- O QUE 'i; O INFEIIXO 69 O mancebo resisti u, como era de esperar. dnfeliz ! disse-lhe entíio o P. Bussy, mu dando de tom ; reflcctí no que vou dizer vos : quereis ir arder eternamente no in ferno ? Os sacrificios que o bom Deus r eque r para que possaes evi tar tão horrível suppli cio, Hão po r v en t u ra coisas diffi cultosas?» O man ceb o libertino sahiu pensativo. Re flectiu n'isto, c refl ectin tão bem, que d'ahi a ponco "voltou a casa do missionario, fez uma boa confissão d a g snas culpas e entrou no bom caminho. Tenho por certo que , de mil ou de dez mil homens que vivessem a fa st a dos de Deus, e por conse q ucncia trilhando o caminho do inferno, não haveria ta lv e z um q1: e resis tisse « á p rova ele fogo. >> Nen h um , por mais tolo que fos se , acecitaria o seguinte ajuste : «Dura n t e um an no poderás abandonar-te im p unemente n toclos os prazeres , gosar de todas n s volu ptuosidades, sat.i;; fazer os teus caprichos , com a unica ('ondiç:i.o de passares um dia ou m es m o uma hora a arder no fog o . >> Repito : ninguem acccitaria o ajuste. Quereis uma prova d' i!:>to ? .Attendei . Os Um kes .filhos d'wn 'IJelh.o ustwa1·io. - pae de familia, que enriqnecêra á custa O 'lU INFERXO de gransstmas inj ustiças, cahiu pe rigosa mente doente. Soube que a gangrena já e stav a nas feridas, e comtudo não pOde deci d ir-se a restituir o qne roubarn . « Se restituir, d i z i a elle, o que hei de deixar aos meus filhos "{ )) O parocho, homem esperto, para sal v ar esta p obr e alma re corr e u ao segui n te ex p ediente : Disso- lhe que, se que r ia sarar, lhe i ndicava um remedio extre m a m e nte simples, m as muito car0. « Que importa ! C :tste elle embora mi l , d ois mil , dez mil francos m esmo . , , respondeu v i v a men te o velho. Em que consiste clle ? Consiste em derramar, sobre os loga res gangrenados, gordura pro ve niente de al guma pes s o a vi v a. Para isto não é preciso m u ito : basta achar alguem qne, por dez mil francos, consinta em d eix a r qneimar uma das mãos durante um q u arto de hora. Ah ! disse o pobre homem sus pirando ; temo não encontrar quem acceite o contra cto . - Tendes um meio, d i sse tranquilla men te o parocho : chamae vosso filho mais velho, pois elle a m a v os e de>e ser o vosso he r d e i ro Dizei-lhe : « Meu caro fl lho : pódes s al va r a vida de teu v e l h o pae, se consen tires em deixar queimar uma d as tuas m ãos, só durante um escasso quarto de hora. » Se . - - . O QL� É O I�FERXO 'l1 ellc recusar, fazci igual proposta ao segundo, promettendo-lhe que será vosso unico her deiro. Se recusar, o terceiro não deixará. de acceitar. » A proposta foi feita successivamente aos tres irlllãos, que, um a ptÍs outro, a repelli ram com horror. Então o pac lhes disse : « Üh ! para me salvar a Yida aterra·-vos um momento de dôr, e eu, para deixar-vos ricos, iria para o inferno arder eternamente ! Na verdade , era bem tolo ! » E a p ressou-se a restituir tudo o que devia , sem se importar com o que ficava aos filhot�, Teve razão, e os seus tres filhos tambem a tiveram . Deixar qneimar uma das mãos durante um qnarto de hora , mesmo para salvar a vida a sen pae, B sacrificio supe rior �ts forç 1s humanas. Ora, como j á disse mos, .o que é isso, comparado com o fogo eterno ? Meus filhos, evita e o i1�(emo ! - Em 1844 conheci no seminario de S. Sulpicio, em Issy, perto de Paris, um professor mui dis tincto de sciencias naturaes, e cuja humil dade e mortificação todos admiravam. Era o P. Pinault, que, antes de se ordenar, fôra um dos professores mai>3 eminentes da _http ://alexa nd riacato lica . blogspot. com . b r · Escóla Polytechnica . Depois, elevado ao sacerdocio, ensinava physica e chimica no semin ario. Um dia, ao fazer uma experiencia, o fogo ateou-se, não se sabe como, no phosphoro que manipulava, e n'um instante sua mão ficou envolvida em chammas. Aj udado por seus discípulos, o pobre pr ofess or esforçou-se, mas om vão , por apagar o fogo que l he de vomva a carne. Em poucos minutos a mão era uma m assa informe e escandescente : as unhas tinham desa pparecido . Vcncido pelo excesso da dôr, o infeli z perdeu os sentidos. Mergulharam-lhe a mão e o braço n'um balde d'agua fria , para mod erar a ,·4oloncia d'este martyrio . Duran te o dia e a no i t e gritou sempre, torturado pela dôr irresistivel e atroz, e quando em n lgnm interv allo podia articular algumas palavras , dizia e repetia aos tres ou quatro semin arista s que lhe assistiam : « l\Ieus fi lhos , evitae o i n ferno ! » -- O mesmo gri to de dôr e d e carid ade sacerd otal escapou em 1�67 dos labios, ou antes do coração d'nm outro padre em cir cnmstnncia analoga. Perto de Pontivy , dio cese do V annes, um cura ainda novo , cha m ado Louren ço , lançára-se ao meio das chammas d'nm incendio para salvar uma . ... mil.e do famil ia e duas criancinhas. Duas ou tres vezes arremessou-se com uma heroica c ora gem e caridade para o Jogar d'onde partiam os gritos, e teve a ventura de trazer sãos o sal vos os dois pequenitos. �Ias a mito ficava ainda. o nin gucm ousava affronta r a violencia das chammas, que crescia cada vez mais. Doei! á sua cari dade, o P. Lourenço atirou-se outra vez ao fogo , agarrou a desventurada mãe, já presa de terror, o pôl-a fúra do alcance do fogo. Mas immediatamente o telhado abateu, e o bom padre cahiu no meio das chammas . Gritou por soccorro, e com grande difficnl dade foi im·ancudo a uma morte immincnte. Mas , ah ! era demasiado tarde ! O bom padre estava m o rtalmente <lueimado : tinha respir ado chaunuas, o fogo começava a queimai-o interiorm ente, e inexprimiveis soffrimentos o devoravam . E m vlto os seus parochianos procuraram soceorrf-1-o ; tudo foi inutil. As chammas interiores continua ram a queimai-o , c, dentm em poucas horas , o martyr da caridade foi receber no céo a recom pensa da sna heroica dedicação. Tambem elle, durante a sua dolorosa agonia, dh-.ia aos que o rodeavam : « "Meua amigos . . . mens filhos . . . não queiraes ir infeliz para o inferno ! . . E' terrível ! . . assim que se deve arder no inferno ! » . . E' O fogo do infe?·no 6 um fogo co?·poral. - Per g unta-se mui tas vezes o que é o fogo do i n fe rn o e q ual é a sua natureza : se é um fogo material, ou se é pLuamcntc es p i ritual . M uitos inclinam -se para esta opinião, por ser a qtte os aterra menos. Porém, não con,:orda com elles S. Thomaz nem a theo logia catholica. Como já dissemos, a fé e ns i n a que o fogo do inferno é um fogo rea l e verdad eiro, um fogo inextinguível c eterno, que queim a sem consum ir, e penetra os ei! p iri t os e os eorpos. Isto foi revelado por Deus , e tem sido ensi nado como artigo de fé p e l a Egre j a Catho lica . Negai-o, seria não sómente u m er1·o, mas u m a impiedade e heresia prop riam ente ditas. Qt1ereis saber qual é a n a t u re z a do fogo que atormenta os condemnados no inferno ? Se é um fogo corporal , se pertence á mesma especie do fogo terrestre ? E' o príncipe da Theo l ogi a , S. Thomaz d'Aquino, que vae responder-vos, com a clarez � & profunda erLtdição qne lho são peculiares. Obs erv a p ri m ei ro que os philosophos pa- · O QUE E O llll'EII!J!) (k:' ·co gãos, não crendo na resnrreição da carne e admittindo entretanto um fogo vingador na vida futura, deviam ensinar , e com effeito ensin avam , que este fogo é espiritual e da mesm a natureza qtte as almas. O modemo racionalismo , que pretende invadir todas as intclligencin s , e que dimi nue , quanto póde , as verdades da fé, faz inclinar para este sentimento um grande numero de espiritos, pouco instruidos nos ensinam entos cathol ieos . Mas o grande Doutor, depois de ter ex posto este senti mento , declara formalmente que << o fogo do inferno é corporal . » E a razão em que se funda é perem ptoria : << Porque depois ila resurreiçito os réprobos serão precipitados no inferno, e como a alma vae acompanhada do corpo, e o corpo nilo pôde sofft·er senão uma pena corporal, segue-se q n e o fogo do inferno deve ser corporal . A o corpo não se póde applicar outra pen a além da corporal . » S. Thomaz apo!a o seu ensino no de S. Gr·egorio Magno e de S . A gostinho, que, em termos identi cos, dizem o mesm o . «Todavia póde dizer·-se, continúa o grande Doutor, que este fogo corporal tem alguma coisa do espiritual, , não na sua substancia , -, O INFERNO 76 mas sim nos seus effeitos, porque, punindo os corpos, nlo os c on s o me , nem os destroo, nem os reduz a ei n z as . Além d'isto, exerce a sua acção vingadora tambem nas al mas . )) D'este modo, o fogo do inferno distin gue-se do fogo material , que qu eima e con some os corpo� . O fogo do inje1·no, ainda q�te é corp oml, atcwmenta as almas. - A lguem pergnntnrá, talvez, como é quo o fogo do in fe rn o póde atormentar n s al mas que a.té a o dia da resurrcição c do Juizo fi n a l estão separada:; dos corpos ? Cum pre r es po nd e r , antes de tndo, qne no terrível mystcrio das penas do infel'!IO uma coi sa é con h e ce r claramen te a veré!ade d o que é, e ouh·a coisa é com p rehenrlêl-a . Sa bemos d'uma m a n ei1·a positiva c ab!�oluta, por m eio do ensino infa ll ivel da Egrej a , qne immediatamcnte depois da s n a morte, os �ndemnados cahem no i n ferno , no fogo do inferno. 01·a isto não pód e succeder senão r ás suas almas, pois que, até :i. resurrci ç ão , 'os corpos ficalll c on fia do s :í torra, o n d e foram sepultados. Apenas separada do corpo , a alma do réprobo acha-se n a condição dos dem onios, · • O llUB É O IXPBRIIIO� �tli 77 relativamente á acção my .. do fogo d e m o n ios do inferno . Com eft'eito , em bo n ito tenham cor pos, soffrem os tormentos do fogo, no q ual serio l n n t; a dos nm dia os cor pos dos condemnados , como o indica clara men te a sen tent;a do Filho de Deus contra os réprouos ; (t Retirae vos de mim , m alditos ! I de para o fogo eter no , qne foi prepa1•ado para o demonio e seus anj os . » Ora este fogo é corporal , porque d 'outro modo não ator mentaria os co rp os dos condemnados . Por tanto, a alma do réprobo , em bora s e parada elo corpo, é atormentada por u m , fogo cor poral , Eis o que s a b e mos e o que é certo. O q ue não sabemos é o como, Mas para. crê1· não temos neccssi,;l ade de sa.bêl- o , porque as v cr ..la.cies revcladai:l por Deus teem por fiJh esclarecer o nosso e s pí rito e man têl-o. n a dependencia c submissão. Pela fé esta mos cortos ela rea lidade do facto, e basta-nos v êr q nc elle nilo é impossível . Ora o r;� ciocinio c a analogia fazem eo..._ que o vej amos claramente : acaso não somos · todos Od instan tes testem n nh as irrecusaveis da acção real , i n t ima e incessan te que o -. corpo cxc1·cc na alma ? O corpo, que á materi a l , sobre a a l m a , que é espiritual ? Por tant o, é perfeitamente possível que uma · · • r -� substancia material , como é o fogo do in ferno , opere sobre uma substancia espiritual, como é a alma do réprobo . O capitão ajudante-mó1· de Baint-Cyr. respeito permit t i-me, caro l eitor, que vos conte um facto muito curioso que , nos ultimos u n nos da Rcstaura\)ão , se deu na Escóla militar de Saint- C ·v r. O capellllo da Esc{,)a era e ntão u m eccle siastico muito espirituoso e de t a l e n t o , por nome R i g o lo t . Dava um retiro espiri tual ao s j o vens da Esc M a , quo todas as noi tes se reuniam na capel b antes de s e i re m deitar. Uma noi t e , em quo o d i gno cape l l ão fallou admiravelmente d o inferno, depois de concluída a conferencia retiron-so com um ca stiçal na mão para o seu qua rto, que era situado n'um corredor reservado aos A este • ' o:ffi c iaes . No momento em · qnc a bria a porta foi chamado por a lguem, quo subia a esca daria em di recção a c l l c . Era um velho �apitão , de bigode grisalho, e na apparencia pouco fino. « Esperao, sr. capellão, disse e l le, com voz um tanto ironica. Fizostes um bom sermão sobre o inferno. S ó m e nte vos esquecestes de dizer se no fogo do inferno o �ondemnado é ·���· - ------- assado , · queimado ou cozido. Sois capaz de m'o dizer ? » O ca.pelllio, comprehendendo a intenção d'ellc, olhou-o attcntamentc, e, a.pproximando o castiçal á cara do velho official, respondeu tran quillamente : «Vós o vereis, capitão h• E fechou a porta, não podendo deixar do rir-se da confusão e p er turbação em que deb:: o n o pobre capitão, corrido da sua tolice. Não tornou a ponsar n'isto ; mas d�sde então notou que o capitão se afastava d'elle o mais que podia . Sobreveio a revolução de j ulho. l!., oram supprimidas as capellanias militares, e por isso a de Saint-Cyr acabou. O P . Rigolot foi nomeado pelo arcebispo de Paris para. outro logar não menos honroso . Eram j á passados vinte annos, quando o bom padre, 1 1 0 achar-se uma tarde n'um sa lão onde esta>a reunida muita gente, viu ap proximar-sc-lhc um velho de bi gode branco, que lhe perguntou se elle era o rev. P. Ri111 golot, outr'ora capellão de Saint-Cyr. R-:lcebida a resposta a:ffi m wtiva, disse-lhe, com movido, o velho militar : « Snr. capellão, permitti-me que vos di'\ um aperto de mão para vos exprimir o meu reconhecim<>nto : salvastes-me - Eu ? ! Como ? Oh ! não me - J t l I :. t;l INFEJUII� conheceis ? Lembraes-vos de certo capitito instructor da Escóla, qutl uma noite , ao acabardes de prégar um sermão sobre o infemo, vos fez uma pergunta ridicnla, á qual respondestes, approximando o castiçal á cara d' elle ; «Vós o vereis , capitão ! ?» Pois este capitão sou eu. Sabei qtte d esde então tenho tido sem p re a resposta que me déstes, assim como o pensam ento de que iria arder no inferno. Luctei ilez annos contra este pensamento para mim impor tuno ; por Jim rendi- me. Confessei-me, e tornei· me christão, cl.tristão á militar, isto é, completo. E' a \'Ói:! quo de\'O esta felici dade, e foi com gra nde contentam ento meu que hoje vo;; encontrei para poder-vos di:t:er isto . )) Caro leitor, se virde.> alguem que, que rendo zombar, vos faça perg1mtas ridículas sobre o inferno e o fogo do inferno, respon dei- lhe como o P. Rigolot : tt Vós o ·vereis, men Lom amigo ; vós o > oreis . )) Prom etto vos que não terá a tentação do ir vêl-o . .A mão queimada de Foligno. - E' certo qtte q uasi todas as vezes em que, por per missão de Deus, alguma alma réproba ou (j:í. que estamos fallando do fogo da outra :' http :l/alexa nd riacatolica . blogspot. com . b r 81 vida) alguma alma do Purgatorio vem 8; este mundo e "teixa algum signal visí vel, este é o do fogo. Certamente ainda não vos· esquecestes do que dissemos :í.cerca da terri vel appari ção do L o n d r es do pulso da dama do bracelete e do tapete q ueimado. Tambem haveis do lembrar- vos da. atmos phera de fogo e de cha mmas quo cercava a prostituta de Rom a e o j ov e n religioso sa críl e go do S. Antonino, do Florença. Em abri l d'o anno em qun isto eRcrevi, vi o toquei em Foligno, perto de A ssis (ltalia) , n'um d'esses espantosos signaes de fogo, que attestam a verdade do que disse mos, a saber : que o fogo da outra vida é um fogo rea l . A 4. de novembro de 1 859 fallecetl d'uma· apoplex i a fulminante, no c o n v e n t o das Ter ceiras Franciscanas do Foligno, uma boa re ligiosa chamada Thereza. Ma rgarida Gesta, que dura nte muitos : mnos fôra. m estra de noviças, e �o m esmo tem po tinha a seu cargo a h u m i l de rouparia do moste iro. Nas cêra na Cor:;ega, em Babtia , no anno de 1 7 ü7, e en trára no convento em fevereiro de 1 826. E' escusado dizer que se tinha preparado d ignam ente para a morte . Doze dias depois , a 1 7 de no\"embro, uma - G lrml chamada Felicia, que a tinha aj udado no cargo, e que depois da sna morte ficou com elle, subia á ro uparia e ia a entrar, quan d o o uviu gem idos que pareciam vir do interior do q ua rto. Admirada, apre�sou- se a abri r a porta ; nlo estava alli n inguem. D'ahi a pouco ouviu novos gem idos , tio pe n etran tes que, a pesar da sua coragem , s e n tiu-se cortada de mêdo. o: Je sus , Maria ! exclamou ella ; que é isto ? » Ainda nilo tinha acabado dizer estas palavras, quando ouviu uma voz g emebnnd n , acompanhada d'este dolo ros o s us pi ro : « Oh ! m e u Deus ! quanto es tou so:ffrendo ! (Oh, Diol che peno eantol)» A Irmã, estu pefacta, reconheceu logo a voz da pob re Soror Thereza. Rev es tiu-se de cora gem e perguntou-lhe : « Por q ue ? - Por causa da pobreza, respondeu Soror Thereza. - Como ! replicou a lrmil. Vós, que ereis tilo pobre ! - So:ffro, nlo porque transgredisse em mim este preceito , mas porque dei ás religiosas muita li b erda de n'esta mataria. E tu toma cautela. » No mesmo instante o quarto encheu-se d'um espesso fumo, e a sombra de Soror Thereza appal'eceu , dirigindo-se para a porta e pas sando ligeira a distancia que a separava. · A penas ch egou á porta , gritou com força : • • . Q QUB É O IIIFEBJ!O «Eis um testemunho da misericordia de Deus h > Dizendo is to, tocou no caix il ho mais elevado da porta, deixando gravado no pau queimado o signa l perfeitíssimo da sua mio direita. Em seguida desappareceu. A pobre Irmll Anna Felicia ficou aterra· dissima. Agitada, começou a gritar e a pe dir soccorro. Acudiu uma das suas compa nheiras, depois outra , e em seguida toda a communidade. Toda s lhe acudiram , .e admi raram-se de sentir um cheiro a pau quei mado. Examina ram , obser v ara m , até que viram em cima dat porta o terrível signal. Reconheceram logo a fc',rma da mio de Soror Thereza, q ue era muito pequena. Espantadas , sahiram , foram para o caro, pozeram-se em oraçlo e, esquecendo as necessidades do corpo, passaram a noite a orar, a soluçar e a fazer penitencias pela pobre defunta , e no dia seguinte commun garam por alma d'ella, A noticia espalhou-se fóra do convento. Os frades menores, os padres amigos do mosteiro e todas as communidndes da cidade juntaram as suas preces e supplicas ás das Franciscanas. Este impulso de cat·idade tinha alguma coisa de sobrenatural e de insóli to. �..�· (''; ;'··' .\ Si F;<.'.� -:--. - - ; ,� .: - o INFERNO • E n tre tan t o a Irmã. Anna l!,clicia, ai nda agitada por tantas cowmoções, recebeu or dem formal de ir d escançar. Obedeceu, bem decidida a fazer dcsnpparecer a todo o custo, no dia. seguinte, o sign a l ca rbon isa do· que lan çára o espanto elll Foligno. Mas Soror T h erez:t Margarida lhe a ppareceu de novo. �� Sei o que qu e re s fazer, disse-lhe ella em tom severo : queres tirar o signal que deixei . Sabe que não tens poder para o fazer desapparecer, pois quo e s te prodígio foi ordenado por Deus para ensino e corre cçllo de todo::�. Pelo seu j usto e terri ,·el j uizo fu i condonmada a soffrer durante quarenta annos as horrorosas chammas do Pn rgatorio, por causa das miri h as tolerancias com a l g u mas religiosas . Agradeço- te, bem como ás tuas co n, panhoiras, tan1 as ob1·as sa tisfacto rias, que na sua bon d ad e o Senhor se di gnou applicar ex c l ut:: i v a w c n tc :t minhn. po bre alma . » Depois, com rosto risonho , a c crrscentou : «Oh ! feliz pobreza, qno procura nm a ta ma nha a le g r i a aos religiosos quo a observam rigorosamente ! » E dcsa pparecen. N o d i a seguinte, 1 !) de novembro, qua ndo a l rmã Anna Felicia prin ci pia\ra a dorm ir, o u v iu que alguern a chamava pelo seu nome. · • O QUE }: O IIIFKRNO l:!5 Acordou sobresal tada , e ficou na mesma postn1·a sem poder articn lar uma palavra. Ainda d 'csta vez reconh eceu perfeitam ente � voz de Soror Thercza . No m esmo instante, um resplandecente globo ele luz u pparecou d i a n te d'cl la , j u n to da �na cama, e al umiou o quarto como o sol ao mei o dia. Ouviu Soror Thereza, que, com voz nlegrc o ti"Í um phante, p ron unciou estas palavras : « Morri n'uma sexta teirn , dia da P:dxão, e n'esta sE'xta-foi ra von entrar na gloria. Sêde fortes em le,.. n r a cmz , sêJe cora j o sas em sof frer 1 ll E aj untan do, com amor : « A d en s ! � adeus ! . . . afl eus ! » , dcsn pparecen . O Bispo de F o lig n o e os nw gi;trados da ci d ade qnizer<t nl de5de logo fazer uma ave rigun t;ão cn.n oni c a . No dia 23 de novom b1·o , na presença de gr;mcle numero de tc'ltcmu nhas. n hriu-se o tum ulo de Soror Therez:t Mar arida , e reconheceu-se q n c o s ign al carboni,mdo da porta em conform e �t mão da defun ta. O r esul t ad o da avcrigt1a ção foi um n uto o ffi cin l , qne estabclccett a certeza e anthen tici dadc perfeitas do que acabamos de refe1·ir. A porta em que está o signal conser va-se np convento com venera ção. A M�t dre Abbadessa, tcstcmnnha do facto , dignou · se _ . g _ _ . 't:_ , O I!IFBBII'O mostrar-m'a, e, repi to, eu e os meus com panheiros de via gem vimos e tocamos no pau queimado, que attesta d' um a maneira bem clara que as almas que, te m po raria ou eternamente, soft'rem na outra vida a pena do fogo, são penetradas e q ueim adas por este fogo ardente. Quan d o, devido a razi5es que só Deus conhece , lhes é permit tido apparecer n'este mundo, aquillo em que ellas tocam fica com o vestígio do fogo que as atormenta. O fogo _ e ellas parece que são a mesma coisa , como o carvão quando é a bra zado pelo fogo. Portanto , ainda que não possamos pene trar est('l mysterio, sabemos indubitavel mente que o fogo do inferno, embora seja corporal, exerce sua acção vingadora tam bem sobre as almas. Pela sua Omnipotencia , Deus faz com que o fogo do infern o produza todos os effeitos qne reclam a a sua Justiça infinita. D'e11te modo elle penetra e atormenta os espíritos, bem como os co rpos ; nilo consome os corpos dos réprobos, mas conserva-os, segundo estas terríveis palavras do S obera no Juiz : «Na prisão do fogo que não se apaga, todos os ré probos serllo salgados pelo fogo (igne aalietwr). » Assim como o sal penetra e con- 8'l serva a carne dos animaes, assim, por um eft'eito sobrenatural, o f<lgo corporal do in ferno penetra os réprobos e os demonios sem os consumir. O fogo do inferno é tenelwoao ( vislo de Santa Thereza). - Com a auctoridade di vina e in fallivel da sua palavra, Jesus Christo revelou não só que o inferno é no fogo, ma� tambem que elle é nas trevas. No capitnlo vigesimo segundo do livro de S. Matheus, Jesus d:i. ao inferno o nome de trova& exteriores. « Lançae· o, disse, fallando do homem que se apresentára sem a veste nupcial, isto é, em estado de peccado, lan çae-o nas trevas exteriores (in tenelwaa ero Cerioru). » Em varios logares do Evangelho e nas Epís tolas dos Apostolos, os demonios são chamados « príncipes d as trevas, poder d as tre vas » . S. Paulo dizia aos fieis : « Vós sois todos filhos da luz, porque nenhum de nós é filho das trevas » . A s trevas d o inferno são cotporaes como o fogo. Estas duas verdades nlo implicam contradicçlo. O fogo, ou antes o calorico, que é como que a alma e a vida do fogo, é um elemento perfeitamente diatincto da luz . No estado natural , e quando produz a cham- ,, '>. 88 mn O INFERX!\o \� no meio dos gazes atmosphericos, o fogo é sempre mais ou menos luminoso ; mas no inferno o elemento do fogo, conservando a sua subRtanci a , é d espoj a d o d'algnmas pro pri ed a de s n atura cs , e adquire outras que !!ãO sobren atut·aes, i sto é, que não possue em si. E' a11sim quo S. Thomaz, seguindo a S. Basilio M agn o , em i na « q ue pelo poder de Deus a claridade do fogo é sc:>parada da propriedade qne elle tem de abrazar ; é sua força corubustiva que atormenta os condem n ados . Ha , pois, no inferno trevas corporaes, m as <:om um certo clarão q ue permitte aos condemnados vPr os obj octos que os ator mentam . Os escandalosos verão no fogo e na som bra, ao tenue clarão das chammas iio in ferno , diz S. Gregorio Magno , os que foram por el les n rrastados para a condemnaçiio , e esta vista será o com plemento do seu sup plicio . O horror das trevas, quo conhecemos por oxpcriencia na terra, não é comparavel ao que affiige os condem n ados . O negro é a côr da morte , do m a l e da tristeza. Santa 'l'herez a refere que, te n do um dia um ex tase, Nosso Senhot· se dignou assegu rar-lhe a salva ção etern a , se contiuasse a - �. O �l'Qit f: O ll!li!'EBNO 1 8� :)j! servil-o e amal-o co m o entlto fa zi a ; e para augmentar em sua fi el serv a o t emor do p e cc ado e dos terríveis castigos que m erece , quiz deixar- lhe en t rev er o I o ga •· que olla occnparia no i n fern o , se seg uisse . as smts inc l i n a ções para o mundo , para a' vaidade e p ara o pra zer. « Estava um dia em oração , diz clla, quan d o me achei n 'um instan te, s em saber como, transportada ao inferno em co r p o e alma . Comprehendi que Deu'! queria fazer me vêr o logar qne Oi! d0mon ios me tinham prepar a d o , e qne, tendo-o merecido pelos meus pel!cado;;, cahiria n'ell(�, s e não mu dasse de vida. Isto dtu·ou ponco t e m po ; mas , embor:t vi'l"esse m n ito s an.no s , não m e esqueceria de tão h o r rív e i s supplicios. «A e n tr a d a cl'este logar de torm entos pareceu- m e semelhante a um forno extre mamente baixo , escnro c apertado . O chão era uma hol'l'ivel immundicie, que l an çava um c he i r o f��tiil(l, c e:>tava cheio de vet·mes venenosos. N o fi m elevava-se um m u ro , no qual h :�via nm r ed n c t o , onde w e vi encer rada . N ão posso dar uma ideia doii tormen tos q ue hí s o ffri , porque são incom prehensi v ei s . Senti na minha alma n m fogo c uj a natLueza , por fa l t a de termos , não posso '-�-..:: � ...�:-;-.;-:·�;';>"1.f.;_ 90 O IIIFBBNO descrever, e ao mesmo tempo o meu corpo revolvia-se no meio de intoleraveis dôres. Ten ho sido atormentada na minha vida por soft'rimentos tão crueis, que, segundo os me dicos confessa m , slo os maiores que se podem sofFrer n'este mundo. Já vi os meus nervos contrahirem-se d'uma maneira espantosa, quando perdi o uso dos membros ; porém, tudo isto é nada em comparação das dôres que então senti , e o que mais ainda me affiigia, era a lembrança de que ellas se riam eternas e sem allivio. Os tormentos do corpo não eram nada em comparação da àgonia da alma. Estava tão affiieta , angus tiada, com dôr tão viva e tristeza tão amn rga e desesperada, que não pos:;o des crevêl-a. Se disst>r · que a alma soffi-e em todos os instantes as angustias da morte, é pouco. NAo, nil:o me é possi vel ex primir, nem sequer dar uma ideia d'este fogo in te rior e do desespero, que são o cumulo de tantas dôres e tormentos. « N'aquella terrível morada não ha ne nhuma esperança de consolaçil:o ; n'ella res pira-se um cheiro pestilencial . Tal era a minha tortura no estreito reducto aberto no muro, onde fôra encera·ada. Até as paredes d'este calabouço, terror da vista, me oppri· r ' O �- É O IIII'EBKO in iam com o seu peso. Alli tudo á . � ":--:-: ,_...,... 91 e&CIUO : nlo ha luz, mas sim trevas da mais sombria escuridão. E entretanto, ó mysterio !, nlo brilhando nenhuma claridade, vêem-se todos os tm·mentos que podem affiigir a vista. « Aprouve a Nosso Senhor nlo me dar então um conhecimento mais perfeito do inferno. Mostrou- me tambem castigos ai nda mais horríveis, infligidos a certoiJ vicios ; mas, como não soft'ri a pena , o meu t�rror foi menor. Pelo contrario, na primeira vislo o Divino Mestre quiz fazer-me experimentar real mente em espírito oito só a aftlicçilo in terior, mas tambem os tormentos exteriores, como se o meu corpo os soffresse. Ignoro como isto se passou, mas comprehendi que era uma grande grnça, e que o meu adora vel Salvador quiz fazer-me v êr com os pro-· prios olhos o supplicio de que me livrou a sua misericordia. Porque tudo o que se póde ouvir dizer do inferno, tudo o que os livros narram ácerca das dôres e dos diversos supplicios que os demonios fazem soft'a·er aos condemnados, tudo isto está. muito longe da realidade. Entre o que se pensa do interno e o que elle é, ha a . mesma dift'erença que entre um retrato inanimado e uma pessoa viva. O fogo d'este mun do, por mnis ar dente qu� sej a . é nnda em c om pu ra çli:o do fogo em que ardem os réprobos. «Já passa ram seis an n os depois d'esta visão, accrescenta ainda Ran ta Thereza, e ao escrever isto estou tllo a terrada , que o meu sangue gela nas vei n s . No meio das affiicçl'les e dns dô1·es , lembro-me do inferno, e immodiatamente parece-me nada tudo o que S<l pôde softhr n'eote mundo , e até j ulgo que nos lMtim n mos sem razão. « Desdo e n tão, tudo m e parece fucil de su p portar, <:m com pa r. ç1o d'um sô instante qne te n ha de pa�sn.r no supplicio quo então soffd . Não me arlmiro de q ue, tundo l ido tantos li vros que t rat-l m do inferno, <'stava mn i to l onge de fa zer cl'cl le nmn i ·:i <'i:t j usta e de tcmêl- o com o devia. ( ) q n e pensavn eu en tão , ó mcn Dens ! e com o pon in. c ; t A r des cançada n'u l l l gen ero de vida que mo A r l·as tava a tão h0 1·rivel abysmo ! O' men adora vel Mcst 1·e, sêde eternamen te bemdito ! l\los trae-me da m aneira a mais c1 ara que o vosso amor para co m m i go excede infinita mente n quellc co m que me amo. Quan tas vezes me li vrastes d'esta negnt prisão , e quantas v ez es quiz entrar n'clla contra a vos sa vontade ! O QUE t O INFERNO 98 « Esta visito produziu em mim uma dôr indizi vel pelas almas q ue se p er d em Deu-me tambem os mais ardentes desejos do traba lhar ua sua sal\"'ayito ; pura anancnr uma . alm a a tão horríveis suppl icios, cu estaria prompta a sucrifiuar m i l vezes a vida . » A fé devo supprir em cada um de n ós a visão ; e o pensamento d as « trev a s ex.terio.:.· res » onde os réprobos são lanyados como immundicies e escorias da creação , <leve' fo1·talecer-nos nas tentaçõu:; dacl�:iros filhos da lnz ! c fazer-nos ver H'o n h·as penas nu l i lo {l l'tUl des, que aeom p a n h m n o so mhrio f o n o do i n f1�1· n o A l é m d o fogo e das h·O\· a s , h n. no inferno outt·os castigos c outras cspccics do soffri mcntos . Assim o requer a j usti�a divina . Tendo os réprobos colllmcttido o m a l de· muitas maneiras, o tendo cada um dos senti-· dos tomado parte tuais óu menos nos seus peccados, o p or consc q ucncia na sua co n dcmnação , é j usto que, por onde pcccaram mais, sej am punidos mais fortcru ento, se g1mdo estas palana:> da. Escriptnrn : « C ada um será punHo por onde tiver pcccado. » O INII'BB!IO E' principalmente o fogo, este fogo ter rival e sobrenatural de que acabamos de fal lar, o que serve de instrnmento a estes múltiplos castigos : punirá por uma acçilo especial aquelle sentido que tiver especial mente servido para a iniquidade ; o con demnado lançado no fogo e nas trevas exte riores chorará amargamen te e rangerá os dentes, segundo os vicios e peccados que cometteu. « Lá haverá choros e ranger de dentes (jletus et stridor dentium). » São palavras divinas. Estes choros dos réprobos, diz S. Thomaz, alto m ais espirituaes do que corporaes ; mes mo depois da resurreiçã.o, os corpos dos réprobos , sendo verdadeiros corpos humanos com todos os seus sen tidos , orgãos e pro priedades cssenciaes, não serlto suscepti veis de certos actos nem d 'algumas funcções. As lagrimas particula rmente suppõem nm pl'in cip!o physico de secreçilo , o qnal não existirá então. Men caro leitor : imaginao o que serão e soffrerão , sob as diversas influencias do fogo, das trevas, dos terrive: s remorsos e dos desesperos inuteis , os ol hos d'um con demnado, esses olhos que tantas vezes e durante longos annos serviram para conten · · O tar QUB B O IIII I'JIIIUIO · o orgulho, a vaidade, a cobiça e a luxuria. Os seus ouvidos, abertos aos discursos im púdicos, ás mentiras, ás calumnias, ás gar galhadas da impiedade ! A lingua, os labios, a boooa, instrumentos de tantas sensualida des, de tantas palavras ímpias e obscenas, de tantas pragas e de ta n t :1 s gulodices I As suas mãos, que procuraram, escreve ram e espalharam tantas coisas detestaveis, e que praticaram a.cç3es tito más ! O seu cerebro, orgão de tantos milhéles de pensa mentos peccaminosos de todo o genero ! O coraç4o1 séde da s u a vontade depra vada e de todos esses maus aft'ectos que desRppareceram para sempre ! Todo o seu corpo e a sua carne, para n. qual viveu, e de que satisfez todos os dese jos, paixões e concupiscencias ! Tudo n.o condemnado tem castigo e tor mento especial, além da pena geral da con demnaçilo, da maldição divina e do fogo vingador. Que horror ! Mas não basta. S. Thomaz, fundando-se nos Santos Padres , diz : « Na purificação final do mundo haverá nos elementos uma separação radical. Tudo o que fôr puro e nobre subsistirá no céo para gloria dos r;.r:;r�.?t;;v -·�e:· r .:� - - : 96 .... • ' O INl'Eil.ti'O bemaventurados , e tudo o que fôr ig n o b il _e impuro será pr ecipit A d o no inferno para tormento dos condemnados. A si:iim, ao passo que os justos sentirão alegria á vista de to d a s as creaturas, os condemnado;; acharão' em todas as crcaturas occasião de novos to.·mentol:i . Isto serú o cumprim ento do ora cu Jo dos Livros San tos : « O universo i n t e i r o com baterá. com o S,mhor co n t ra os insen satos, isto é, corrtra. os réprobos . >> Emfim, e para complct:tr a exposição do lugubre estado da alma précita, o b;serv em o s ainda o que Nosso S e n h o r declaro u na fór mula da scn tcn t; a q ue ha de pronunciar no Juizo final , a saber : qun os malditos, os condcmnad os, irão arder no inferno, « no fogo que foi preparado para o d em on io c seas anjos . » l\os ardentes a bysmos do i n ferno os .réprobos teem pois ainda o suppl icio , . �; da cxccravcl com pan hia de Satanaz e de todos os de m o n iü s . N 'cste mundo l:iCnte-se ' algum a s v ezes nuw. cspecie de a l livio qna n do '"( no sotfrimcnto se \· ê uma pessoa amigt� ; mas - 'na e :ernidncle a assoda<;ão do condcmnado cmú todos os m a u s a nj os e co!ll os out1·os réprobos a ggravará. ainda muii:l o de s esper o , o odio, a raiva, os soffrimcntos da alma e as d ô re s do corpo . http ://alexa nd riacatol ica . blogspot. com. r. 1 E'l'EBNJDADE DAS PBNAS DO lNFSBIIO 97 Eis-aqui o pouco que sabemos, pela reve laçllo divina e pelos ensinamentos da Egreja, sobre a multiplicidade dos tormentos, que silo na outra vida o castigo dos impios, dos blaRphemadores, dos devassos, dos orgulho sos, dos hy pocritas, e em geral de todos os peccadores obstinados e impenitentes. Mas o que torna ainda mais terriveis estas penas, é a eternidade. Da eternidade das uenas do inferno A e tern idad e • l n s pe n n s do i n ferno é u m a verd ade d e fé revelada Deus revelou ás suas creaturas a eterni dade das penas que as a guardaria. no inferno, se fossem tão insensatas, perversas, • ingratas e tllo inimigas de si mesmas, que chegassem a revoltar- se contra as leis da . t sua santidade e do seu amor. Recordae, caro leitor, os nnmerosos teste munhos j á citados n'este livro. Quasi sem pre ao recordar-nos a revelação qne por sua misericordia se dignou fazer d'esta salutar . · O !NI!ERNO verdane ao5 n os�os p ri m ei ros paes , o Senhor nosso D eus fal i a d a eternidade das penas do inferno , ao nwsm o t•·mpo que d a sna existen cin . A�sim, pelo Patt·iarcha Job e por Moysés dec l a ra-nos qne no i n fe r n o « reina o horror eterno (sempite?·n us ho?'?'O?� . )) O texto o ri ginal é o mais ex pre.,sivo : a p al a vra sem pitenws , significando « se m p re eterno )) ' como que q n er d izer (( eternamente e t e r n o )• . Pelo Pt·ophcta !saias repete-nos a m esma doutri n a , o a i n d a l • aveis de lem hr:tr-Yos da terrí v e l apos tro p he que di rige aos peccado res : (( Qual r1'en tre y,)s poder�í ha b i t a 1 · no fogo d e \·ora dor, n a s cl • am m as etern a s ( c1�m ardol'ibus sem ln:te?'!lis ? l) Aqui a i n d a o snper luti \•O semp1:te•rnis. No Novo Testam e n to a etern idade no fogo e das p enas do i n fel'11 o fui declarnda foJ·m �l mente pelos l abi os do Salvadot·. e pela penna dos A postolos. R e c or d a o , caro leitor, a lguns dos textos já citado!'! . Apenas rcp<.:tirei a l gu mas pnlavras do F i l ho de Deus, porque resumem solemn{lmente to n a s ns outras : é a sent'ln Ç fl. que presi d i rá á n ossa eternidade : « V i n d e , bem ditos de meu Pac ; e o n t m e nn posse do rei no que vos foi preparado desde o principio d o mundo ! Retirae-�os do mim , m a lrlito s , e ide para o fogo eterno, que foi N I'EHX IDA D}; DAS PEXAB DO lXn:BXO iJ\J pre p a r a d o pnra o d ern o nio e sens anj os. » E o a dorn vel Juiz aecrescenta : « e Pstcs irão para o sn pplicio e torno, e aq nelles e n t rarão n a vida eterna (in supplicittm aetenutm, in vitwn aetM·nam ' . ll b;tas palavras c! o F i l ho de Deu s n ã o prcci�am de com m entar:os. Sobre a s ua l u m i nosa cla reza a Egrt;ja faz repousar hn. dczonove ::; rcnlo:� o seu en sino divino, soberano e i n fal l ivel , concernente á eternida·ie propria!l l entc dita da beatitude dos escolhirl o� no eéo c d a s penas dos con dcmnados do inf'L·rno . Portanto , a eternidade do in ferno e das suas terrivPi ,; pen as é u m a v e rdade revelada, uma verdade de fó eatholica tão certa com o a existc n c : a d e Duns c o s outros gmndcs mysterios d a rel i g ião christã. 0 i l l f l ' l' I I O (• ll t'C.t 'SSH l' i H I I H ' I I l< ' t ' l t ' l ' t i O , : t l l l ' l l lH a u a l n ;•t•za t i a t > l <' l' l l i t l a t i P H a m uito tem po quo a fraqueza natural do espiri� humano tem p rete n d id o attenuar o peso d'cste terrí vel myste rio daH penas d os réprobos. J :i no tempo do Job e de Moybés, dezcsetc ou dezoito se c u l o s an tes da éra c hr i st it , a lgun s espiri�os leviano� e cer t a s · �"' ou GWII}�""V.: . . 100 O INFERNO ·�. · consciencias muito remordidas fa.llavam da mitigação e até do termo das penas do in ferno. « Imaginam, diz o livro de Job1 que o inferno diminue e env el hece. » Hoje, como em todos os tem pos, esta ten dencia a mitigar e encurtar as penas do inferno acha advogados mais ou menos directamento interessados na causa. Enga nam-se. Além da sua supposição se basear na phantasia e ser directamente contraria ao ensino divino de Jesus Christo e da sua Egreja, pa rte d'uma concepção absoluta mente falsa ácerca da natureza da eterni dade. Não só não haverá termo nem miti gação nas penas dos condemnados, mas é mesmo completamente impossível hav êl-a . A natureza da eternidade oppõe-se a isso d'uma maneira absoluta . Com effeito, a eternidade não é como o tempo, que se compõe d'uma : mccessão de instantes accrescentad os uns aos outros, e cuja reunião fórm a os minutos , as horas, os dias , os annos e os secnlos . o tem po póde-se mudar, pois que o tempo é m udavel . Mas se o homem nllo tivesse deante de si nem dia, nem hora , nem minuto, nem se gundo, é claro q ue não poderia passar d'um para outro estado. j http ://alexa nd riacatolica . blogspot. com . b r: r . E fEBNlDADil DAS PBN.lll DO . INJ'EBNO 101· · Ora é exactamente o que succede na eternidade. Na etf'rnidade nito ha instantes que succcdam a outros instantes e que sejam distinctos entre si. A eternidade é um modo de duração e de existencia, que nllo tem nada de commum com o do tempo ; pod& mos conhecêl-a, mas não com p rehendêl-a. E' o mysterio da outra " ida, é uma verda deira e m ysteriosa participaçll.o da propria eternidade de Deus. S. Thomaz , fundnndo· se na tradiçito de todo� os seculos, diz que a etE>rnidade é « sempre inteira (tota simul). » E' um pre sente sem pre actual, indivisível e immutavel. Lá não ha seculos accumulados sobre se culos, nem milhões de seculos accrescentados a outros milhl:les de secalos. Estas são ma neiras terrestres e perfeitamente falsas d e conceber a eternidade. Repito· : a natureza da eternidade, não se assemelhando em narta ás successões do tempo, não póde admittir nenhuma mudança quer no bem, quer no mal . Por isso nas penas do inferno é impos'Jivel qualquer mu dança ; e como a cessação , ou mesmo a sim ples mitigação d'estas penas constituiria necessariamente uma mudança, devemos concluir com firme certeza que as penas do 102 o nn·mtso inferno são absolutamente eterna:; , immuta veis, c que o systema d,L m i tigaçâo 6 u m a ' fraqueza do e.;p' rito ou um capricho ela ima.!!.·i n ação c do senti m en t o . O q 1 1 e aea L am os d e eom pcndi:1 r ác e r ca da eternida� e, ca ro l eitor, é tal vc;, u m pont·o : t b:-;t racto ; m as quanto mais refledir dcs , molhe-r reco n h c ,: erci,; quan to é n: •rdncle o q ue deixamos dito. Elll todo o caso, re pou,;emos :nbre a f, ·rm : 1 l e clara affirm açã.o de No8so Senhor Je;n s C h rü,t:o , e di�amos com to l a a sim p ' i•: i J , , d ,� e certeza i! e fé : « C reio na vida eterna ./c1·edo ·ritam w•tM· nwm.) ll1 i sto é, quo a on l ra vida. t<erá pn ra toi!os i mmorta l c e terna : l'ara o :> Lo n s , i m mortal c etL·rna na fel icidade do p waiso ; para os m a u s , i m m o r t. al e eterna n o s tor men to� do i n fern o . U m d i a S . Ago:; tinho, B : t-, p o ele H i p p o n n , procu ra v a eserut : 1 r , c n m a sua intc l l igenda tão po•lerosa , a nat ureza d'c:-;ta ctcrnicla-ie , em <!Ue a Bo n d a d e c a Justiça de De11s agua1·da m todas a ;; cr•·at.uras. I n vcs t;gava e • srtnadrinhava ; ora entendia, ora s�n tia-se detido pelo m ysteri o . De Tcpcnte appnre ceu-lhe, cercado d'uma l uz ra:l iosn , um vel11o do physionom ia venf'randa e re;;plan dceentc de gloria. Era S . .Teronymo que , na B'flolliN I D A.nE DAS PENAS DO IXFEB:'i!O 103 quasi de cem ann os , aca lJava de bem l o n g-e d'al l i , C l l l Belcm. 8 como S. Agos tinho ficou espan tado e arhnit·ado ante a ccle:;t(l v i - ão que se offerecin á sua vista, di:;sc- l h e o san t o velho : (( Os ol hos do homem n u nca v i t·a m , n e m o s O U \' i clos ou viram , n em o cs p ; l'Í to humano poderá j am ais conhecer o que tu J l 'Ocuras comprchender. » E de;;a p parcceu. Tal é o m v stc:·io da eternid a r1 e d o céo e do i n fer n o . A crer1 i te mos humi l d c t u ente e a prov, ·item o - nos · d a ·vi l a , a fim de qne, qui:t n Ci o p a ra ntSs acabar o tem po, sej a mos acl mittidos n a fel i;!; etern ida;'le , evitando , pela mi::;er.icorrl ia d e Deus , a i n feliz . - i< ._• • - edade morrer � S<'!J I I I I d : t nt úl u d n l ' l l ' l ' l l i d : u l < • d a -.; t W i ta S : a f a l i : ! " " \ J I': � <:a Ainda ·quo o condemnado ti v esse tempo para podr>r m n d a r , con verter-He e obtl•r mis · ric01·d ia , e s t e tc!mpo não l he aproveitaria. E porque razão ? p. r• pl•� a causa dos casti gos q u e ollc sofi'r.J é sempre a mes m n . Esta causa é o peccad o , é o mal q u e o réprobo e� c o lh eu na ten·a para sua parti lha. O condmnnado é um peccador im peniente e inconvertivel . .. - ·.. 104 O IIIFBBl!IO Com effeito, o tempo nlo é sufficiente para operar a conversl.o. A h ! acaso nlo o experimentamos n'este mundo ? Vivemos no meio de muitos homens, que o bom D�us espera ha dez, vinte, trinta, quarenta annos e algumas vezes mais. Portanto, para o homem converter-se é preciso tambem a graça. Não é possível a conver.slo sem o dom essencialmente gratuito da graça de Jesus Christo, que é o remedio fundamental do peccndo e o primeiro principio da resurrei çlo das pobres almas que estão separadas de Deus pelo peccado e sep11ltadas na morte espiritual. O Senhor dis!.e : « Eu sou a re surreiçlo e a vidn » ; é pelo dom da graça que Elle resuscita as almas mortas pelo peccado, e que as mantem depois na vida espiritual . Ora na sna Sabedoria infinita. este Sobe rano Senhor determinou que só n'esta vida, qne é o tempo da prova , nos fosse dada a sua graça para podermos evitar a morte do peccado e adiantar-nos no caminho dos filhos de Deus. No outro mundo já nlo é tempo da graça nem da prova : é o tempo da recompensa eterna para os que correspon deram á graça, vivendo christll.mente, e é JI'I'BR111D A DB DAl PBlUI DO IIIII'B RIO I 105 o tempo do castigo eterno para os que des prezaram a graça, vivendo e morrendo no peccado. Esta é a economia da Providencia, r e nada a fará mudar. Portanto, na eternidade j á nl.o ha graça para os pecl•adores condemnados ; e como sem a graça é absolutamente impossível ao homem arrepender-se efticazmente, como é mister para obter o perdlo, segue-se que o perdito nlo é possível, e por isso subsistindo sempre a causa do castigo, deve igualmente subsistir o castigo , efFcito do peccado. Sem a graça nlo póde haver arrependi mento, sem arrependimento nlo pôde ter logar a conversão, sem a converslo nlo póde obter-se o perdlo, sem o perdlo nlo poderá haver cessaçlo nem mitigaçlo nas penas. Acaso nlo é isto razoavel ? O mau rico do Evangelho nlo se arre pende no fogo do inferno. Elle nlo diz : « Arrependo-me I » , nem mesmo : « Pequei » , mas diz : « Boffro horrivelmente n'esta cham ma . ., E' o grito da dar e da desesporaçlo, mas nlto o grito do arrep endimento. Elle nlo sabe implorar o perdlo , porque só pensa em si e no seu allivio. O e�oista em vlo pede a gotta d'agua que podia refrescai-o. Esta gotta d'agua é · http ://a lexa nd riacatolica . blogspot.com . b r _, :<;'""!'"· ·7:�l'<'i': ,.�1. ,., o r x n;uxo o toqtle da graça q nc o snl varia, m a s res ponrletl-sc-lhe que é i m pos�lÍ \·el dal-a . Elle dctest:t o casti .;o, m a s n ão a. c a l p ·1 . Tal é a teni�el hi:>toria de todo:� o" condemnndos. Xa terra, a cidade d e Dcns e a ('idade de Satanaz estão uui ias e mi sturarias. Pó de-� c pas:>ar c n·pass:u· d'uma para a o t l t t·a, podendo o homem de lJ,)lll tornar- se mau e d e m a u tornn r - s e Lo n 1 . l\Ias t ndo i�to acaba 110 monH : n t o da morte. Ent:'to a s duas cicl a des são i rrevogavel m e n te s<•pa rada s, sc;; n n d o diz o Evangdho ; não 8C pó· l c m ;l i :; pas5ar d 'u t l l a par11. a outra , da cil 1dc de D<!IIS pnr.t a ci i aue de Sata naz , do p arai:;o p;n·a o i n ferno , nem do i nfer n o para o parai ;o. N 'esta vida tuno é im perfei to , tanto o bem co mo o m a l . Nada ó d0li n i ti�o, c não sendo rccnsada a n i n g n e m a graça d•: j )cu� , p<írie-se sem pre fu g r rlo m a l , do i m pcrio do dcmonio c da llt orte do peccado, e m quanto se estiver n ' c stc m u n do . l\Ias , como j·� se d i:;sc , i�to é a partilha da v i d a prese nte. A penas tl lll pobre b o n t eiD em estado dt! peec •. do morta l dá o u ltimo sus pi ro , tudo m uda de fig1 1 ra : a etcrni l ade su<..:c ede a o tem po, p astiaram o s m omentos da gra<;a c d a pt·ov :� , já não é possivcl a 1 l: rEIINIDADE D A S l'ENAS DIJ J!ll )'EIIliO 167 resurreic:ão ela almn , e a ar\•ore ca.hina. pa.·ra a e�c pu-rJ;� fica ctcr . 1 am ente n a es q uerda. Portanto, a sorte dos ré prJbos foi ti xada para :;emprc . e p0r isso não pndc>rá h a ver munanç ·• , mi tiga.; ilo , snspen s1o 0 ! 1 c�e:�sação nos tormentos q ue e l l es so ffro m . Falta-lhes nilo st'• o tem po, m a :; tawbcm a gt·aya . Tt Tt ' l ' h•a t•a z:iu e l a 1 ' 1 1 ' 1' 1 1 i c l a c l l ' c h : s pc n m; : n 1 : « ' :'\'l ' l's i c l acle c l n \·o n l :u lt• e l o�; c · o l h l P I I I I !a t l os A ...·ont�• de dog C•) nclonm ano:; cs t:í. endnre cina ' no pec,�ado . n o m a l e na morte so b re natum l . C o m o é que n ' c�ta. vin a pcJ lc con Ye rtcr -se um p ccca do r '1 E' n ã•> scí dan,i o-l he Dens t�m po e g ra t; a p e ra c <:� m· e r tC'r - se , llHI S ta m b c m , c o rn o o h o m em é lin·c, é preciso que o p cc c: a d o}' .-11 neil'a co nvert('r-f; e . Foi por n m a c ·to d a sfin. vontarle l i n·c quo o p cc..:a dor se afastou de s e c t Dens. e é por um ou tro a cto da s n a. v.:m tndo li ne qcte o p ccca d o r , merliante a grn ç c do bom Dc!U'11 volta a E l l c, arre pcncl c-se, c, pobre fi l ho p ród:go , entra p • ·J•doado na c n :; a, patcr n n . :\Ias depois ela t u o r ! e jli. não ha hbe1· ri a de nem g1• a ç a . Isto ncabo tt , e at!abou p ara sem pre. Então trata-se, n ão de escolher , mas de : · :.-:. • · · ftl;�'"�"""�� 108 ,. . . O INFERNO ficar no logar que se escolheu. Escol hestes o bem e a vida, possuireis para sempre o bem e a vida ; escolhestes loucamente o mal e a m01-te, estareis eternamente na morte, n'essa morte que tio livremente escolhestes . Esta é a eternidade das penas . No palacio de Veraa illes vê- se ainda o quarto onde morreu Luiz XIV, em 1 de setembro de 1 7 1 5, com os mesmos moveis e particularmente com o mesmo relogio . Por um sentimento de respeito para com o grande rei defun to, fizeram para r o relogio apenas elle deu o ultimo suspi ro, ás 4 horas e 3 1 minutos. Des:ie então ni nguem mais lhe tocou, c o ponteiro immovcl , marca ainda 4 horas e 3 1 minutos . E' uma viva imagem da immobilid�tde em que entra e permanece a vontade do homem , quando sahe d' este mundo. A vontade do peC'cador collemna do conti núa, pois, a ser a mesma que era no momen to da morte. Desde en tão fiua. immobilisada e - permitta - se-me a expr·essão -:- eterni sada. O condemnado quer sempre e necessa riamente o mal q ue fez , diz S. Bernardo. O mal e elle soo insepa.raveis ; é como que um peccado vivo, permanente e immutavel . A ssim como os bemaventurados , vendo a BTBBNID�DB D�B PEN�S DO IIIFBBNO 1 i ' 1()9 Deus no se u amor, amam-O neceBSariamente, assim os réprobos, nlo vendo a Deu s senlo nos castigos d a sua. Ju sti ça , odeiam-O neces sariamente. Pergunto-v o:J : nlto será rigoro samente j usto que se o pponha. um ca stigo immuta.vel a uma perversidade im m uta.v el, e que uma pena e_te rn a, e sem pre a. m esma , puna uma vontade eternamente fixa no m al , etern am e nte afastada de Deus pela revolta e pelo odio, uma vontade decidida a peccar sempre ? Do que acabam o s de dizer, res u l t a d'uma maneira evidente que no i n fe rn o os conde mnados, não te n do tempo, nem graça, nem vontade de se arrependerem , nlo podem ser perdo ados , e p o r isso devem necessaria mente soffrer um castigo immutavel e ete rno ; fin:\ lmcnte e como conseq uencia. rigorosa, que as penas do inferno não terão fi m , nem são susce ptivejt de diminuições ou m itiga ções, como alguns j ulgam . c> Se c·� "\·er·clude tl u e De u s c: o m pen n s eternas f:t ll.:ts d ' u r n n aorue n to i n j u sto p u n i nd o .E.' es ta u ma velha objccçito , arrancada pelo �do ás co nsciencias torturadas pelo f@ S&i!iP"" · · ·. 0 -��-i;b : " . rernor ;o. Já no q u art o scculo o i l l u �t r o Ar cebi�po de Co nstán tinop l a , S. Jo ão C hry sostom o , a d i sso l v i a n'es tes term o s : « A lí�uns ha yuo dizem : « Em preguei poucos in�•an tes em ma tar um homem , em com m ettcr lllll adu l tcrio, e p or c�to pcccndo d ' u m m o m ei11 o hei do soffrt�r penas etern a s ? » Si 111 , c om certeza, porque Dt.lns julga o Y O tiSO p e ce a d o , não pelo tempo que empregastes em com mett êl- o , mas pela von tade com que o com mettcstcs. » O que já d i f!;jcmos é sufficionto para re solver esta diffi...:u lclnde. A co nv ('r:;1o c a mnd:tn<;a, sendo abso lutam e n te impos�i,·ei,.. no i n ferno por falta de tem po, po r falta de graça c por falta do li bcrda<le , segu e - se que a cansa do castigo el e v e subsistir eter na e in tegr�dmentc, c pr oduzir scmp 1·c o seu effei t o. Não ha que J.izer, pois ;listo é r:g·oro �aw ento j usto . Julgaes pon•entnrn injusto que Dcns puna com penas eternas eriwe,; d'um mom e n to ? Ob�crvae o que ;;e passa todos os dias na socieda de humana. sao punidos c o m a mor te os assassi n os , os pa rrieidas , os i ncen d i a rias, etc. , os quaes praticaram o seu cri m o n'um instante. Acaso é inj usta a soei e<lado ? Q Llem · ' se at1·evcria a dizêl-o ? Ora, o que é a pena de morte na socieclaie hum a n a ? · Não é uma pena perpetu a , sem rPtt·oeesso nem mit i ga ção po�sivcl ? A pena de morte priva para SPm pre o ct·iminoso ela soeieclade dos homens, assim eomo o infer:1o o pri,·a eternamente da soci"clade c1e De : : s . Por que ra�1.o se deve caRtigar d ' ontro m odo os eri 1 1 :es de lesa magestade did n a , i�to é , os peeeados m ortn es ? O t e m po não tem nnrla com o peso llloral do pcceado. Como dizia S. João Chrysosto mo, no i n ferno é pun icla com pen •t etern a , não a d n raç?io d o acto e n l pavel , n.as s : m a malicia da vontade do pet�cador, a qua l n morte veio immobi! i;;a r. D nrando Hempre a sua pervcr:;idade , o ca stigo , que etern a' mente lhe est:í. applicaclo, l on ge de ser i n justo , é j nstissí m o , c nccrssn rio . A sa nticlaclc infinita de Dcns não deV"e porven tura repel l ir eternamente nm sêr que ' jaz no e:;tado eter n o de peccado ? Ora, tal é o reprobo no i n ferno. Refl.e c tindo sóriamente , vêr - se-ha em todo o pecca do morta l um duplo caracter : o pri riJ eiro , esse ncial mente fi nito, é o neto livre da vontade que transgride a lei de Dons e pocca ; o segnndo, i n fin ito , é o ultraj e feito O lJIFEBliO á. santidade e -' á m agestade infinita de Deus. Assim, o peccado encerra d'algum modo uma ma licia infinita (quamdam infinitatem), diz S. Thomaz. Ora, a pena eterna corresponde n 'uma medida exacta ao caracter finito e infinito do peccado. Ella é ao mesmo tem po finita e infinita : finita na intensidade, infinita e eterna na duraçl1o . Finito quanto á du ração do acto e á m a lícia da vontade do que pecca, o peccado é punido por uma pena m ais ou menos coiisideravel, mas sempre finita na in te n si dade ; infinito em relação á santidade d' A quelle que offcnde. é punido por uma pena infinita na duração , isto é, eterna. Portanto, é summamente logico e j usto que sej am eternas a s pen as que no inferno punem o peccado e o peccador ; p orém, nllo seria j usto que os réprobos soffressem todos a mesma pena . Com effeito, é claro que a culpabilidade d'uns é m e n o r que a d'outros. Todos estão em peccado mortal , e por is:;o merecem todos igualmente uma pena eterna. Mus com o o grau da culpa não é igual em todos, segue-se que a intensidade d'esta ETEBNIDADE DAS PENAS DO DIFIMlNO pena eterna deve ser exactamente propor· cionada ao numero e gravidade d11 s faltas de cad�t um. A ssim o exige a. Justiça per fdta e infinita. de Deus. Em fim, nc temos que, se a s penas do pec cador impenitente, condemnado ao inferno, tivessem fim, seria elle, e não o Senhor, que poria termo ao ca.&tigo que merecêra pela sua revolta contra Deus . .Poderia. dizer a Deus : « Eu governo em mim , e por isso devei:� só importar- vod comvosco. Pouco me inqnieta se o tempo, que ordenastes para o meu supplicio, é longo ou breve, porque eu o desprezarei e ficarei senhor da situaçito. Um dia, ou queiraes ou não, irei participar da vossa gloria c da eterna felicidade nos céos. » Pt·rgunto-vos : será isto possível ? Portan to, sob este ponto de vi:�ta, e indt�pendente mente das razÕ<!s pm·emptorias qne já expo zemos, a Justiça e a santidade divinas requerem que os castigos dos condemnados sejam necessariamente eternos. « Mas a Bvndade de Deus ? » dirá talvez alguem . A B mdade de Deus não tem nada com isto ; no inferno reina a sua Justiça, tão in fiuita como a Bondade. I 114 ... \ -r- . ' . :.;q::.r:.-.-4'·.� O IN�·�:BI!O .A B o n d ade de Dens exeree-ee na terra, onde perdôa tu do , sem pre e i u ,mNli<Ltamente apenas o homem se a rrepende Mas na e ter n ida d e não te m log-ar a Bond: 1 d n de Deus : lá mani ftjsta-se un icamente coro:mdo com os gl,sos do c�o a sua obra concluída na terra pelo pe rdão Quereríeis , porventnra , qne na eternidade Deus exercesse n s n a Bondarle em f.lVOl' dos que no m un d o ahu�aram rl' ell<t indi gnamente, que ch ega r a m a desprPza:. l a no momento da morte, c que ago r>t não a qnerem n em po dem q u c r ê l a ? �el'ia sim ple:>mente absu rdo . Dt·us não pórle exercer a s n a Bondade com detrimento da Jnstiçn . Portanto, pu n i n rl o com penas eternas fal tas passageims, Deus , longe de ser injusto, é j nsto e j ustis:>imo. · . - con 1 Sf' Sl H'<'('(II' () lll <'Slll O os Jl«'<'<'ados t l n h·a u i I i d a f ! P. Sem pretender descnlpar além dos justos limites os peccados de fragil idade, de que mesmo os bons christãos se tornam ás vezes culpad os, cumpre reconhecer que medeia um abysmo entre a qu e ll es que os com mettem e aquel le s que a Sagrada Escriptura chama r BTERnDADE DAS PENAS DO INFERNO i l6 . .- geral mente « pectladores» . Estes sl'to a� almas pen·ersas, os cora çõe:'! im pen ite ntes , q · t e pra ticllom o mal t •or C()s t n m e , sem remorsos e como coisa tuuito sim ple<�, que vivu1 11 sem Deus e e m revolh per l l lanente contra J el!US C lu i�to. S;to . �s peccador es pro p ria111 ente d itos, pec �res il e prdi:l�ào. « Peccam em quanto vivem , dizi:t a respeito d ' e l l " s S. G rC'gorio ; peccari tm sem pre, se podes!lem v h·er sem pre1 e quer• ·riam sem pre viver para poderl'm s em p re pecear. A pt·n · t s mor rem, é c l a ro que a Ju�tiça d•) Soberano Juiz exige que não fic1 uem sem ea>�1 iJ0 1 porq •te não quize�·am viver sem pccc:t r. » Não são e,;t a s as disposições dos outros. Mui tas almas ha qne eahem no p eceado ruot·tal e nno são m :ís nem c or r o m pi d a s , e muito menos ím pias. � ra ticam o mal ocl!a siona lmente ; é a fraqueza que as faz cahi'r, e não o am or do m a l em que cahem. A�se DJPlham-se a uma crean ç a qne , n rrancada dos braços de sua mãe por v i olencia ou se iucção, se deixa sPparar e afastar d ' e l la, m a s com p ez a r , dirigindo-lhe um olhar e esten d end o para ella os braços, e qne, ape . nas o seductor a deixa , volta e corre a lança r-se arrependida e alegre nos braços de sua mll.e. 116 O INFERNO Taes são esses pobres peccadores que cabem occasionalmente e por fragilidade, que não amam o mal q ue comme 1 tem , e cuja vontade não é gangrenada, pelo menos intimamente . Cahew no peccado , mn s não o procuram , e arrependem-se d'ellc apen as o commdtew . Acaso estes poocados não serão n 1 ais desculpaveis ? A misericordia adoravel do Senhor não concederá facil mente, sobretudo no momento decisivo da morte, grandes graças de coutri�ão e de perdào a e:.tes filhos prod i gos , que tendo-o offendido , nfto lhe v o l ta ra m as costas, e que dei xan d o arrasta r -se para longe d' Elle, conti nuaram a amal-o e deseja l-o ? Póde-se a ffi rmar que o que Deus disse : «Não abandonarei o que vier a mim » , achará sow pre no seu di \'ino Coração se gredos de graças e de misericordias suffi cientes para. arrancar estas pobres almas á condemnação eterna. Mas, d1gamol·o bem alt o : hto é um se gredo do Cora ção de Jesus, um st>gredo impenetravel ás c reaturas, e com o qual não devemos contar, porque deixa subsistir integralmente esta terrivel doutrina, q ne é . de fé, a saber : que todo aqueile q ne morre � em estado de peccado mortal, é condemna.do :e- 1 · •• El'EBNIDADE DAS PENAS DO INFERNO 117 eternamente e lan çado no inf,�rno para soffrer o castigo que merecem as suas cul pns. Algumas palavras ainda para terminar : Os f'spiritos subtis e as «almas se : lsiveis» , que andam a questionar em lognr de crêrem sim pl esmente e de se sa n t:fi c arem , tran qui l l iiem-se :10 pensn r nos ré probos. A Justi�a, a B •ndade e a San tidnde de Nosso Se•• hor rep;n laril.o tudo mui t o bem , qttP-r no inferno, quer no Purgatorio, de modo que ni1o haverá sombra nPm me:;mo posl!ibili darl e d'uma inj ustiça qual q uer . Todos o s qne forem para o i n f, •rno terllo me•·c�·ido ir para elle eternamf'nt•·. Por mais terri \'CÍ,; que possam ser as suas penas, se rllo a bsol utam· ·nte p roporcionadas ás faltas que com met.tern m . A t i não succ,.de o mesmo que nos tribu naes , lHis e j uizes da term, q•1 e porlem enganar-se, errar e pun i r de n m is ou de meno' : o J dz eterno e sobera n o , Nosso Se n h o •· Je�us Cltrist.f'l, sabe t u d o , vô tudo e pó le tndo. E' mais do qne ju�to ; é a mesma Justiça, e n•t etern irlarle, como Elle me�mo nol-o decla •·on , «dará a carla um segundo as s ua s obra:�» , nem de m ais, nem de me nos. . . �-. -.: t,i,'t';'' r·�..:-....�"'- 118 .: · O INFERNO Portan to, por m aii hnrriveis e incom pre he 1si ni:; yu l e l l as twjam ao O:i!JÍI"i to hu mano, as t • en a :> e t erna:> do i t fer ri.o são e scrfw soberana e et0ruarueute j-u:>tas. s:"to o s l f l l t ' t.l'i l h mn o canl i n h o d o i u ft � 1·n o '! Q tHH's Em p ri m ei r o logar, são os que ab•tsam da tm:t a uctoridade n'uma po�içi'Lo qu. , lquer para a r ra:>ta•· 0::1 sen s tml,ortli Htdo::� P" t•a o mal , já J ·Or v iolcn c i a , j ;í. por seduc�ão . A gua rda os << um J u :zo t u l lito rigoroso » . \' er d ark i ro� demonios da terra, é a el les qne se diri�e m , na pe ::�s o a de se• 1 pae - Satanaz, e.- tas fnrmidavoi s pa.la vra:� da E::�cri ptura : << O' Lucifer ! como cahiste das alt•t ras do cé J ? » �ão o s q ue abus fl m dos d otPs d o e s pí rito para afa�ta rem do s e rv i ço de Deus o povo ignnrante e pa ra arra n ca r-lho a fj. E::�tes corruptürcs p 1 hli.:o::1 são os h e r de i ros dos pha t·i seus do Evangelho, e ca h e m sob o ana t l . e w a do Filho de Do•ts : ,t Desgra çados de Y Ó:I, e::�<:ri ' w s e ph, rit�eus hy poct·itas, por 1uc fechaes aos 1JOmcn:i o reino dos céo::1 ! Cowo não entrarei:� n ' e l lt-, i m pedis os outros de lá. entrarem. Desgraçudos de vt)s, - 1::-rB RNID,\Dlil DAS P.EXAI! DO lXJrEBNU 119 pha riseus hypocritas, porq ue e o m ar pam fazt•r.les um proselyto, e q u · mdo o ganhal"s, fazcis d'elle um fid10 do infurno , d u a s vezes peor do que vú11 ! » A esta cathegoria p erte ncem os puLlicis tas im pios, 011 professores atheus e hert:jes, e e s s a m n l t i•iã.o de cscri ptt·rcs sem fé nem CODiciencia, q ue todo:i os dia s rue : 1 tem, ca lum nia m , blasphtl111am scien tewcnte, e de q • 1 e se sl"rve o d e mo n io , pae da me n ti ra , pa r•t perddr muitas a l ma s e insultar Jesus C hristo . . �il.o os orgulhosos, que , inchados de si, de�prozam 011 o utros e tos insultam desa pie dada menttl. H o n : e n s duros e sem coração, a c h11 rà o um Juiz se1 e1·o, se se não conver terf!m no momento da mo1·te. Rão os egoi�t• • S e os maus r: cos, que, en golfanos no luxo e na sensualidade, não pensam s"'não em si e esquecem os pobrc•s. Acon tccer- l h es-ha o m esmo q ue ao mau rico do EvangPlho, do qual Jesus disse : « Foi sepultan o no infe rno . » São os ava rentos. que não pensam senlo em amonto11r dinhei ro , e q ue se e squ ecem de Jesui Christo e da etern idade. São esses ricos que, por meio de co n t r a ct os usurarios, esl"rib11 s e pt-!�.:o rre is a terra · 120 O INFERNO de muitas injustiças, de neg1cios frantlulen tos e com a com pra dos bens da Egr•:ja,· fazem ou tPem fe.to a sna fortuna, grande ou pequena, sobre bases que a lei de L>eus reprova. Está escripto d'elles : « que nã:o possuirito o reino dos céos. >> São os luxurioios , que vivem tranrpli lla mento e sem remorsos com os seus habitos imputiicos, que so ab�tnrlonam a todM as paix� es, não teem ontro Deus senílo a sua barriga, e chegam a n ih conhecer outra felit.:idade além dos gósos aniwaes e dos gro�seiros prazeres dos sentidos. São as alm as mnn ianns e frivola<J, que nito pensam sen:to em divertir-ao e em pas sar o tem po (•xtrav11 gantemente, e e:.ses, aos quaes o mundo chama hont>stos , e q•te se esqnecem da oraçih, do serviço de n�us e dos Racr11mentos , que condnzem á salva ção. Nilo cuida m de vivt>r chri�tãmente, niio pensam na sua alma : vivem em est:•do de peccado mort:• l, e toem apagada a lampa·i a da sua conscieneia sem fa zerem caso d'ella. Se o Renhor vier de repente, como 1wcriisse, ouvirito a terrivel resposta, que F.lle no Evangelho dá :í.s virgt:-ns loucas : «Não vos conheço. >) Desgraçado o homem que não http ://alexand riacatolica . blogspot.com. ETERNIDADE DAS PBNAB DO Ili"FEBNO 121 _, : · . • estivP.r VPstido com a roup a nupcinl ! O So berano Juiz o rd e n a rá aos seus Anj os q ue prend a m , no momento qa morte, o cr:servo intltil » , para o l ançarem , com os 1 é i e as m i'ío s atarias, no abysmo das trevas ex terio res , isto é, no inferno. Vão para o inft,rno os q n e sã'l d e con scie nd;t falsa e obstinaoa, que <�alcum aos pé�, por meio de co · t fis>�ões nul l as e com m • m i iÕlls sacri legns , o Corpo e o San g11e do �enhor·, «corn e ' l du e b .. bendo a sna con dem n ação >) 1 s egu n flo as tremen·las palavras de S . Pau lo. Vão os quo, abu�nn· f o das graças · de Deus , não q ne rem dei x ar o mau cam : nho, a ni m a d o s com algum as devoçi5e s qut' teem , e pelas quacs espr·ram se r· s l v os ; e v ã o os de cora;;ào odiento, q 1te recusam porrlmtr. Vão, ern fi m , pa1·a o inferno os s ecta rios da ml\\;on ari t e as victi ruas i n sens:� tas das soci eda fl e s secreta'-', q · t e se offer •cem , por aiKÍ n dizP.r7 ao d e m o n i o , j u r· a n d o viver e morrer lóra da E�rej r , sem 11acrameutos, sem .Te�us Christo, e por conse q uencia con tra E l le . Não digo que torl n s estas pob r es nlrnas irlto pa 1·a o infe1·n o. A ffirmo só que trilham o caminho do inferno. O INh'ERNO 122 FrlizmentA, � inrla lá não chegaram , e espero que , a n te s Je terminarem a viagum , qut·rt·rào converter-de com hu w i ldade, para não a1; derem eteT'DH m entn. A h ! q u a n t o é la r�o e commodo o cami nho que cond qz ao inferno ! Vae sen • p t'e desct•n,lo, e La ,t:t ao hom e u t IJÔr-:se n' olle. O Anh·a1or m e s mo di:;::;e : a.O caminho q ne conduz :í ) ·erdiç:i.o é lar�o , e são umito:> os que o p··rcor rem . » E :o- am i n a e a vof!sa conscienda , c a ro leitor, e se por des g raç t and ' ' ' S no mau calll inho, nada rle !Je:>it<� (jâo : sa! t i dc pre:;sa da e:;trada do i u fe r no , em�tuanto é t�w po. l�l'l'(OS HP p o d < • n t o s l'star I J I W SI' I� O i l d l' l l l i i O U a i !J I I I 'lll IJ t te y i J n u s n t O I't'eJ' n m l dll u m sc>greilo de Deus. 1\Iuitos ha que jul6a m que todos vão para o i n t'. ·rno, assitu cowo ha mu:tos q•w crêem que todos vão J •al·a o céo . Os priu .t•it·os q ne rom I I I O:;trll r- se j u,tos, os s<'g•t ttdos n.i:�eri cor. liotiO:l. Uns e ontros eng·anam-&tl, e o seu p1ime:ro erro é quererem j 1 tlgar de coisas qne o !Jomem n'este mundo uãJ póde co nhecer. Nilo. E' r I BTilBNIDADE DAS PENAS DO INFBBNO 123 '- - . � V cndo - se morrer m al alguflm, deve-se sem dud.i a trorner, rn a:t não d1ssimula r a o:;pan tosn proLa l o i l irlade d'uma re prova:;ão etl·r11a. E 1 u Pa ri�, ha an nos , uma infuliz mão, n o saber d a m or te re pe n t i n a a.) filho e m hc-rri V•·is ci l'cumstancias, l'Ste ,·e rl nrantc dois dias de j llclho,;, arrastan d o se d ' n rna para ontra p: . rte , !<OI t1• nLlo grit"s deses 1 ·era dores e re p n tindo sem pt·e : « :'ll e u ti ll.o ! meu p<1 Lrtl fi lho ! . no fogo ! . . a arnt�t', a arder ct(lr nam c n t e ! » Todos se bo.-rorisavam ao v êl-a e ouv1 l - a . A m rl a q ne possa ser prova vel e a t é certa a pl'rda eterna d'a l gumn , d t.!ve, comt•tdo, haver alg una cspcra u çn , sendo imp• ·netra vel o my:�t• ·rio do q ne se p • ssc.u no momento supreu.o e 1 t e a a l m a e Duns. Q· 1 e 1 11 poderá di.�:er o que se passa no . intim o das a l m as, w esmo das mai i cul pt\ da.s, n'a q uel lH momento d ocisi v o em q ne o Deus de bo n dade , q ne m·eou todas as almas para o amor , que as r e m iu com o s eu san g• t e e qu'� deseja a s l va�ào de tod a s , em prel-{1\ to•los os re,·ur::�os de gt·aça e de hiÍ sel"icO I dia para sal v ar ca r:l a uma d' ellas ? Basta poueo tempo para 1 1 11e a vo n ta de se p01:1:1a voltar. par a o sen Deus ! A Egn j ..t. não tolera que se pronuncie • • • . • _, 124. .. Wl t iQ!itF: -�:=�:;· . :�: · · · .� U .í _·� el como a a condemna.çito d'algnem . Com elfeito, é usurpar o Iow de D!!us. Excepto Judas e mais a l g u ns outros, c•1ja condemnaçll.,.. foi mais ou menos explidta mPnte rev�lada por Deus na Ragr11da Escri ptura, nlo é absol utamente CtJrta a conde mnaç!to de p �> s s o a u l�nma. A � an ta Sé d�n d'i �to uma provn curiosa, ainda nlo ha m n i to tempo, pot• occasilo do pro�esso de beatificaçito d'ttm gran de servo de Dens, o P . Pa l o tt a qtte vi ven e m01·reu em Roma com os sentimentos d' n m a arlmi ra vel santirl a.de, durante o Pontificado de Gregorio XVI . Um dia o padre a com pan h ou ao cad · 1 fa.lso um assassino m u i to man, qne reeu'la va obstinadamente arrt•penrler se , zl)mbava de Deus, bh11phem ava e ri1t-se ainda no l"g 1r da execnçã,.,, O P . .Pal ntta ex�otou todos os meios de conversão. Estava sobre o cnda fa.l-Jo1 j unto d'e�te mi o�ernv� 'l; lanço·1-se a seus pés, com o ro s to banhado de l a gorimas, e supplicou-lhe que acceita.sse o perrllio de sru'l crimes, mostrando- l h e o a bysmo ar dente do i n fe rn o em que ia �ahir. A tudo isto o monstro respondeu com um i n�m lto e com a ultima blaspht�mia , e imm· din tam1•nte a sua cabeça ca hi u sob o fatal cute lo . Na , , 1 . ETElUIIJ>ADE 125 DAS Plii :!IAB DO Dll'EBNO ' . . . exalta ç1o da sna fé, por um excesso de dôr e de indigna�1.o, e-. para que e:>te horrivel esca ndalo se mudasse para os que e:;tavam pres•·ntos n'uma l ição salutar, o bom padre levantot t-se , a garrou pe los c.� bellos a cabeça ensa n gucnt tda do suppliciado, e, mostran do-a á ru ultitlão, exdamou em voz alta : «Silencio ! vêde ! eis a cabeça d'um ré probo h > Todos comprehenderam este movimento de fé, e de certo modo elle é assás adUlira vel . Mas por causa d'i::�to, dizem , foi preciso parar com o processo de beatificação do veneravel P. Palotta ; no que bem se vê que a Egr�j a é 1\Iãe de wisl'ricordia e que espera, mesmo não havendo nenhuma espe rant;a , qua ndo se trata da salvação eterna d'uma a l m a ! D'este modo, os verdadeiros cbristãos não devem desesperar ou affi ;gir- se á vista de certas morte:� horríveis, repentinas e impre vi:>tns, ou mesmo positivamente más. Jul gando pela a pparencia, é quasi certo que estas pobres almas se perderam . Ha tantos annos que este velho vi via longe dos sacra mentos, zombava da religião e se vanglo riava de ser incredulo I Este in feliz man cebo, que morreu sem poder confessar-se, 126 O INFERNO v1v1a tlto mal e os seus coi!tumes eram tlo deploravei!! ! J:<:ste h nm eiil , esta m u l her, q ue fo,·am surprehr�nd:dus pela mOJ te n'uma occa.s:ã'l tâ.o desgra ;a-l a , p ·trece certo que nã > ti <: e ram tem po p •r a pen aar em si ! N io import·t : pão devemos n em podr •mo� dizer d'uma mane:ra a b ti o l ut a que el les se con demnaram . Sem n • e no s caba r os d ireitos da San tid • de e ela J n �ti ;a de Deus , nã.•> p er,�a mos j ámais de vista os d:t s u a miserJ Cordia. A este re sp ei t o, recordo-me d'nm fa cto e:x traordinario e ao mesn1o tem po muito consolador. A fonte d'onde o soube é p:tra mim ga ra n ti a s<·gura da sna perfeittt a u the 1 t i c i d a d e . N'um dos melhores conventos de Pa ris viv e ainda uma re liJi o s a , d ' origem j udia, tão n ot a v e l pelas >� • t a s exce l s a s virtudes, como p •la sua intdligen"ia. Seus paes eram is r11 e l i t as7 e ell 11 7 na idade quasi de vinte a n no s , converteu-se e recebeu o b a ptis mo . Sua m ãe era uma verdadeira j udia , seg-uia a sua re ligião de boa fé, e p ra t i ca v a tam bem tod a s as virtndes d'uma boa mãe de famí lia. Amava sua filha com grande ca rinno. Quando soube que sua filha se conver têra, entrou n'um furor indescriptivel, e El!EBNIDADE DAS PENAS DO INFERNO 12t desde ent?io nfio deixou de empregar amea.. ças e ast•tcins de tudo o genoro para con duzir a «apostat·t )) , como ella a chamava, á roligiã l do scn<� pnes. Ao mesmo tumpo a joven chri�tã, cheia de fé e de fer1·or, orava sem ces'iar e fazia tu .lo para obter a con ver-Ji'to de sua m :i e . Vendo a esteri lidade absoluta de seus esforçol'l, o julgando que u m grande sat:ri :ficio obteria, m ais do que tociM a s oraçõds, a graça que so 1icitava, ro.;ol veu entre;�ar-se inteiramente a Jesus fazendo-se rcli dosa, o que executou corajosamente. Tinha então pouco mais ou menos vinte e cinco annos. A infel iz mãe ficon com i-;to aind1t mais irdtarla cont•·a sua filha e contra a r ·ligilo christã, o que fazia a ngmcntar o ardor da nova religi0::�a, a fi m de conquistar para Deus nma alma tlio querida . Continuou assim durante vinte annos. Sua mile ia vêl- a de tem pos a tempos ; o a:ffecto materno tinha nugmentado, mas a sua alma, pelo menos apparentemente, não m,.lhorava. Certo dia a pobre religiosa recebl'u uma carta participando -lhe que sna mãe morrêra. de repente : acharam-a morta na cama. E' impossível descrever o desespero da religiosa. No auge da dôr, e nll.o sabendo o 128 qu<:� fazia nem o que dizia , foi com a carta na mão prostrar-se ante o �antis:.imo Sacra· mento, e, quando os solu)OS a d�ixaram pensa r e fo� llar, disse, ou antes exclamou, a Nosso Senhor : «}leu Deus ! foi. assim que atrendt�stes a� minhas snpplicas, as minhas lagrimas e tudo o q ue pl'atiquei durante vinte annos ? .o E enumera ndo-lhe, por assim dizer, os seus muito:; sacrincios, accrescen tou, com uma affiicçã > inexpriwivel : « Pen sar que, nit•> obstante tudo isto, nlinha mãe, a minha pnbre mãe se condemnou ! » Ainda não tin ha acabado, q uando uma voz, sahida do Tabcrnaculo, lhe disse em tom severo : «Como sabes isso ?» Espantuda, a pobre Irmã não pôle re,;ponder. « Pois sabe, continuou o Salvador, sabe, para te confundir e ao mesmo tempo para te conso lar, que por tua causa dei a tna mãe no momento da morte, urna graça tilo poderosa de luz e de arrependimt�nto, que as suas ultimas palavras foram : « Eu me arrependo e morro na religião de minha filha . » Ttta mãe salvou-se, e está no Purgatorio. Não deixes de orar por ella. » Ouv i contar outro facto analogo, cuja authenticidade é tão certa �mo a do pri ' meiro. Ambos testemunham esta grande e _, . CONCLUBÕBB �B&�ICAB . • :: consoladora verdade, · a saber : que n'este mundo a miserioordia de Deus é supera bundante ; que no momento final faz um esforço supremo para arrancar os peccado res ao inft�rno ; e, finalmente, que só cahem nas mlos da eterna Justiça aquelles que resistem até ao fim aos impulsos da divina :Misericordia. Conclnsoos praticas Subi r i mmediu tamcn te e a tod o o c u sto, d o estu d o d e peccnd o mortal Meu bom e caro leitor : acaso nlo deve remos tirar, de tudo o que fica dito, algu mas conclus�es praticas? Estas grandes verdades foram reveladas por Deus para inspirar-nos o temor, que, unido á fé, é a base da salvaçlo : temor da j ustiça e dos juizos de Deus ; temor do pecca.do que con duz ao inferno ; temor da condemnaçlo e da terrivel maldição, do desespero eterno, do fogo sobrenatural que penetra ao mesmo tempo as almas e os corpos, das sombrias trevas, da horrivel sociedade de Satanaz e · 9 .. http ://alexa nd riacatolica . blogspot. com . b r I ... ......,..., t 130 4hGWI ·- --...:- � ! .. ' O INFERNO dos demonios, e emfim , da eternidade im mutavel de todas estas penas, justíssimo castigo do réprobo. Certamente é b om , e muito bom , ter uma confiança illimitada na Misericordia de Deus ; mas, á luz da verdadeira fé , a espe rança não deve estar separa d a do temor, e se a esperan ça deve sem pre d om i na r o temor, é com a condição de que o temor subsista , assim como os alicerces d 'uma casa, que dão a tod o o edi ficio a sua força e solidez . Assim o temor da Justi ça de Deus , o temor do peccado e do inferno, deve afastar do edifido es p iri tu al da n o ss a salvação qual quer v:t presumpçilo. Deus disse : « Nilo abandonarei o que vier a mim . » Mas tambem disse : «. Trabalhae n a vossa salvação com temor e tremor . » E' preciso santamente temer, para ter o direito de eSperar sa ntamente. A' vista dos abysmos ardentes e eternos do inferno, examinue a vossa consciencia, caro leitor, mas examinae-a bem e séria mente . Como estaes ? Vi veis em estado de gra ça ? Ou a vossa consciencia accusa- vos d ' algum peccado grave, que, se morresseis de re pente, vos sepultaria na eternidade infeliz ? CONCLUSÕES PBATICAS N' este rt'-:t 131 J:"f caso peço-vos que, attendendo á vossa alma, não hes i teis em arrepender-vos de todo o corat;ilo, e em confessar-vos hoj e mesmo, ou ao menos na primeira occasiilo que tiverdes. Acaso é necessario diz er- vos que , para evitardes o inferno, deveis des prezar qualquer intPresse, e antes de tudo, attendei bem , antes de tudo assegurar a. vossa salvação ? «Que a proveitar:í. ao homem possuir o mundo inteiro, se depois vier a p erder a sua alma ? diz-nos a todos o Sobe rano Juiz ; e que poderá dar em troca da sua alm a ? » Nito deixeis para ámanhl. o que hoj e po deis fazer. Estaes certo de que ch egareis ao dia d'áman hã ? Conheci n'uma pequena. aldeia da Normandia um pobre homem, que desde o seu casnmento, isto é, havia m ai s de ttinta a nnos , se tinha deixado arrastar por occupações, e pelo seu pequeno co m merci o , e ainda mais, cumpre dizêl-o, pelo attractivo da tabern a e do copazio de cidra, que chego u a esq 11ecer-se totalmente .do serviço de Deus. Não era de má í n dole , e esta v a bem longe de o ser. Dois ou tres meios assaltos tinh11m-o amedrontado, mas inft�lizmente não bastaram para o conduzir ao cumprimento dos seus deveres. 132 O INFERNO Approximava-se a festa da Paschoa. Uma tarde encontrou-se com o a bbad e, o qual o exhortou a cu m p ri r o preceito da desobriga. « Senhor abLade, respo n deu o pobre homem, agradeço a vossa bondade. Prometto-vos, palavra de honra , que pen sarei no que acabaes de dizer -me. Se isto nlo vos causa nenhum desarranj o, eu virei fallar comvosco d'aqui a alguns dias, » No dia seguinte foi achado o corpo d' este homem n'um ribeiro visinho. Ao atraves sai-o a cavallo, foi atacado d'uma apopl exia e cahiu á agua . Ha dois annos, no bairro Latino, um es tudante de vinte e tres an nos, que desde a sua chegada a Paris, havia quatro annos, se tinha entregado á luxuria com todo o vigor da juventude, recebeu um dia a visi ta d'um de seus companheiros, tlo bom e tio puro, quanto elle o era pelo contrario. Era um com patriota , que ia dar-lhe novas da patri a. De pois d'alguns minutos de conver sação re tiro u-se ; mas, ao vêr que tinha deixado um livro em casa do seu compa nheiro, v o ltou para traz e bateu á porta. Bateu, mas ni n guem fallou de dentro, e en t retanto, a chave estava na fechadura. Depois . de ter batido novam en te , entrou e CONCLUSÕES PRATICAS 183 encontrou o infeliz estendido M chio, morto. Havia um quarto de hora que o compa nheiro o tinha dei xado. Segu n do depd� se viu, uma aneurisma rom peu- lhe o coraçlo. E ncontro u - se a sua P'' peleira cheia de car tas abomi naveis, e os poucos livros que com punham a sua peque n a bibliotheca, eram o que havia de mais obsceno. Poder-se-hirt mul ti plicar os exem plos fl.'este genero, sem contar os m ilhares de n ccHen tes que quotidianamente, por as-1im dizer, fazem passar repen tinamente da vida á morte ; por exemplo : os acciilent(ls dP. ca minho de ferro e de carruagem, ns q n éd<lS de cavallo, os accidon tes da caça e do mar, os naufragi os, etc. E l les mostram , com mais eloquen cia do que torlos os raciocínios , que o homem dc\·e sem pre esta•· preparndo para comparet.:cr diante de Deus, e por isso não deve pôr em risco a sua eternidade ; e que aquelle , q nc vi ve em estafl.o de peccado mortal e não pensa em reconciliar-se com Den'l por m eio da confi�sito e pelo arrependimento, é um louco que dança á beira do abysmo , é tres vezes louco. «Não comprehendo, dizia S. Thomaz, como um homem em estado de peccado 184 . . .... ·- • .-· a. ;p _... O INFERNO mo1·tal é ca paz de rir e de folgar. » Exp5e-se, com a al egr ia no cora ção , a experin1entar, mau g rad o sen, a altura d'estas tremendas palavras do A p ost o lo S. Paulo : «E' horrí vel cahir vivo nas m ãos de DtJus ! » Evi tar c u i d a d osmuen te as oecasiões p e r i u o s a s e a s i I l u sões O hom e m d e ve, não só retirar-se do es tado de peccado mortal, q u and o t i v e r a de s graça de cahir n'elle, mas tambem deve encher - s e de zêlo pela sua sal v a ç ão eterna e toma r precauç<los mais sérias. A lém de s ah ir a toda a pressa do caminho d o i n fern o, é preciso qne se esforce por não tornar a a tri l hal-o. Deve, a todo o custo, evit ar as o ccasi ões do pecc a d o , sobretudo aquellas cuj o pe1·igo lhe é manifesto . Um christão , um homem que tem senso commum s ac l' i fic a tudo, affronta tudo e su pporta tudo para esc:apar ao fo�ro do in ferno. D e u s disse : «Se a v<:>ssa mão direit a, se o vosso pé, se o vosso olho, se o que tendes de mais c ar o no mundo é para vós uma o cca si ã o de pec ca do , arrancae-o e ati rae-o para l o n ge de vós sem hesitar ; v a le mais entrar, sob qualquer condição, no reino CONCLVSÜES PBATIOÁS 185 de Deus é na vida eterna, do que ser lan·· çado no abysmo de fogo, no fogo eterno, onde os remorsos nil.o acabam nem o fogo se extingue. » Não nos i l l u d a m o s a este respeito. As illu�:�õ�s são o « movimento de rodeio» pelo qual o inimi go da no ss a p obre alma procura sur prehendêl- a , quando um ataque de frente nlo lhe o:fferece garantias sufficien tes Q ua n to estas illusões são partidas, subtis, multiplas e freqnentes I Forma m-se de tudo , mas particularm ente do egoísmo, com os seus frios calculos e reqnintes ; de toda a sorte de rebelli<Ses do espidto contra a fé, contra a completa sub missão devida á auctorin ail e da Santa Sé e da EgrPj a ; das pretendidas necessidades de sande ou de co s tume que fa zem escorregar insensivelmente na lama da impureza ; do s usos e co nv e n i enci as do mundo no meio do qual se vive, e que arrastam tlo facilmente para o turbilhlto do prazer , da VH idade, do esq•1ecimento de Deus e da negligencia da vida christl ; emfim , da cegueira da cobiça, que impel le tanta gente a roubar sob o pre texto de necessidades de commercio, de cos tume geral nos negocios, de sábia previ· dencia para o futuro dos seus, etc. . , ... ---"" """ ·· ........ .. -.-�··· .7 186 O INFERNO Repito : acallotélae-vos das 1llus3es. Quan tos réprobos estão no i n ferno, qu� .entraram por esta porta falsa ? ! Pórle · o homem seél u zir-se, ao m enos em certa medida, mas não poderá engan ar a vista de Deus. A vida rel igiosa n?io basta para preser var-nos das illusões . Sabe-se q ue no inferno ha religiosos , espero qne sej am poucos , mas ha-os . E como chegaram lá ? Pelo cam inho fatal das i l l u!!Ões . l lln�ões na obediencia, ill LlsÕes na piedane, il lusões · na pobreza, na castidade , na mortificação, il lnsões no uso da sci':lncia ; que digo ? E' tão largo o ca min ho das illn!:!Ões ! Citarei , a este respeito, apenas um exem plo , tirado da vida de S. Francisco d' A ssis. Entre os Provincia es da Ordem n ascente dos Frades Menores havia um de nome Fr. João de St rachia, cuj a paixão para a scien cia ameaça v a afastar os sens reli giosos da simpl icidade e da santidade de sua vocaçlto. S. l!'ran t·isco advertiu-os va rias vezes, mas sem pre em vão. Temendo j ustamente a funesta infl. 1encia que exer cia este Provi n cial , S. Francisco depôl·o em pleno Capitolio, declarando que Nosso Senhor lhe havia revelaélo que era pre ciso tratai-o com rigor, porque o orgulho CONCLUSÕES PBATI�B ; 131 d'este hon:l�, àttrahira so15re. elle a maldi ção di vin&.í ._· · Bem depre s sa o futuro o mostrou . O des graçado morreu no m eio do mais horrivel 9esespero e gritando : « Estou condemnado e maldito para sem pre ! >) Terriveis circum-· stancias, que acom p a nh a ram a sua morte , confi rm aram esta sentença. · · • Asse!J t l l'aJ' a s u a sa l va�;áo etPt'tJa e mn u tna v i d a S('ri anl Pnte christá Quereis estar ainda mais seguro de evi•: ., t ard e s o i n fe rn o , m eu caro leitO !" ? Não vos contenteis com e vi ta r o peccado mortal , ' combater os vicios e as fal tas que vos con duzem a elle : deveis tamhem ter uma boa e san t a vjda, verdadeiramente christ!t e occupaàa em Jesus Chri::�to. Deveis fazer como as pessoas prudentes que teem de passar por caminhos di:ffi ceis ou de costear precipicios : com m Mo de ca h irem , acautelam-se de an d ar pela beira, onde um passo em falso seria fatal ; cami llha� pelo outro lado da estrada, e afas tam-se o mais possivel do precipicio. Fazei o mesmo. Abraçae generosamente · • • ______.. f"'".- ,,...�_. -. .. -:- : · ·· • t ... �-�, 188 . �; � O INFEBNO •. esta vida bella e nobre, que se chama vida christl, vida ae piedade. Guiado pelos conselhos d 'a l g um pa dre ze loso, snj eitae-vos a uma regra de v id a , na qual en trarei s á medida da;; n ec ess id a de s da vos sa alma e das circumstancias exteriores em que vos achard es, e determinae fazer sempre alguns bons e solidos ex e rcícios de piedade , entre os quaes vos recommendo os seguintes, que estão ao alcance de toda a gente : Começae e terminae sempre o dia com alguma oração bem feita e cordial. Além d'isto , lêde de manhã e á noi te, com a t t e n ç ão , uma ou duas paginas d ' algum bom livro , e dep ois d'esta pequen:J. leitura deveis ter al guns minutos de recolhim ento e fazer algum bom p ro posi to , de manhã para o dia, ao fim do dia p ara a noite , tendo som pre di ante de vós o pensamento da morte e da eternidade. Acostumae-vos a fazer o signal da cruz todas as vezes que sahirdes do vosso quarto e ao entrardes n'elle. E!:!ta pratica, além de ser sim p li císsim a, é m uito sant ificant e. Mas tende cuidado de não fazer este sign al sa grado a correr, sem p en sar e por co$m e, como faz muita gente. E' preci so fazêl-o religiosa e gravemente. CONCLUSÕBS PIIATICAS 139 Se os deveres do vosso estado vos permit tirem, ide á missa todas as· manhlts, para receberdes a bençllo por excellencia e ren derdes a Nosso Senhor a homenagem que cada um de nós lhe deve pelo seu grande Sacramento . Se não podérdes, fazei ao me nos todos os dias uma adoraçllo ao Santissi mo Sacramento, ou entrando na egreja, ou estando em vossa casa, mas que parta. do intimo do coraçllo. Rendei igualmente todos os dias á Bem aventurada Virgem Maria., Mli.e de Deus e dos christllos , alguma homenagem de pie dad e , de amor e de ven eração, com affecto· � : verdadeiramente fi lial . O amor á �antissima. • Virgem , j unto ao amor do Sa.ntissimo Sa cramento , é um penhor C!Uasi infallivel da. sa.lvaljli.O ; e a experiencia tem mostrado em todos os seculos que Nosso Senhor Jesus Christo concede graças extraordinarias, du. rante a vida e no momento da morte , aos que invocam e amam sua Mã.e. Trazei sempre com vosco um escapulario, alguma me dal ha ou um rosario. Tomae e n llo abandoneis o excellente cos tume de vos confessardes e commungardes muitas vezes . Â. confissão e a communhlo silo os dois grandes meios offerecidos pela. 1"40 O INFERNO Misericordia. de Je!IUB Christo aos que que rem salvar e santifi.:ar as suas almas, e\· itar as faltas graves e crescer no amor do bem e na pratica das vir·tudes christil.s . A este respeito nlto se póne d11r uma regra ge•·al, mas o que se póde affirmar é que os bons de boa. vontade , isto é, os qne qn m·em si n ceramente evitar o m a l , servir o Bom Deus e amal ·O de todo o coração , slio tanto me lhores, quanto commungam mais frequen te men te. Qr1anno ha esta disposição, prefere-se sempre o mais , e , embora Re com mung-asse varias vezes por sem a na , e nté todos os · dias , não se estaria ainda satisfeito. Seria muito bom que os ehristã.os virtuo sos podassem santitic11r com uma boa com m nnhil.o todos os domingo� e dias s: mtos, sem faltarem a ella por culpa sua. O cele bre Cateci&mo do Concilio de T r·ento parece dizer que o christão, qne tem algum cnH ado da &ua alma, deve avisinhar· se dos Sacra mentos ao menos todos os mezes. Emfim, proponde na vossa regra de vida combater incessantemente dois ou trei de feitos que notardes em vós , 011 que os outros vos notaram. . E' o lado fraco da praça , e é por elle que o_ inimigo, n ' um ou n'outro momento, CONCLUSÕES PRATICAS 14<1. tentará surprezas e vos · atacará. Evitae, como o fogo . as más companhias e as leit� ras peccaminosas. Deveis compreh ender, caro leitor, que nlo sois obrigado a seguir o que acabo de re;. commendar-vos. Ma s, repito-vos, se entrar des n'este caminho de generosidade e fervor, e andardes n'elle resolutllmente, assegura reis d'uma maneira superabundante o grande e importante negocio da vossa eternidade, e estnrds certo de evitar as penas etet·nas do inferno, como o homem que está certo de evitar as privações da pobreza quando, por uma sábia e int�lligente administração, augmenta extraordinariamente os seus oa.;. bedaes. Portanto, não deixeis de tomar d'estea conselhos os que podérdes seguir, vivei o melhor possível , e por amor da vossa alma e do Salvador, que derramou todo o seu Sangue por ella, nlto recueis diante do. dever, e sêde christão f�:�rvoroso. Pensae muitas vezes e sériamente no in· ferno, nas suas penas eternas, no fogo de vorador, e prometto-vos que ireis para o céo. O grande missionario do céo é o in ferno.