Vol. 22 | nº 3 | 2013 ISSN 0871 - 6099 Revista da Sociedade Portuguesa de ANESTESIOLOGIA Journal of the Portuguese Society of Anesthesiology Órgão Oficial da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia 2 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 Revista da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia Vol 22 - Nº 3 Sumário // ContentS Editorial // 65 António Augusto Martins Artigo Original // Original Article 66 Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono e complicações respiratórias pós-operatórias // Obstructive Sleep Apnea Syndrome and postoperative adverse respiratory events Acácio SiLVA, Helder Pereira, Daniela Xará, Júlia Mendonça, Inês Cunha, Alice Santos, Fernando Abelha. FICHA TÉCNICA EDITOR CHEFE // Editor-in-Chief António Augusto Martins - Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra EDITORES ASSOCIADOS // Associate Editors Isabel Aragão - Hospital de Santo António, Centro Hospitalar do Porto Lucindo Ormonde - Centro Hospitalar Lisboa Norte Rosário Orfão - Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra CONSELHO EDITORIAL // EDITORIAL BOARD Daniela Figueiredo - Centro Hospitalar do Porto Fernando Abelha – Centro Hospitalar S. João, Porto Hugo Vilela -Centro Hospitalar Lisboa Norte Joana Carvalhas – Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Jorge Reis - Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia - Espinho Jorge Tavares – Faculdade de Medicina da Universidade do Porto José Luís Ferreira – Centro Hospitalar Lisboa Central Luís Agualusa – Unidade Local de Saúde de Matosinhos Paulo Sá – Hospital Amadora Sintra, CVP e Clínica de Santo António, Lisboa Pedro Amorim – Centro Hospitalar do Porto Rui Araújo - Unidade Local de Saúde de Matosinhos Sílvia Neves - Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra DIREÇÃO DA SPA // SPA Board Presidente // President Lucindo Palminha do Couto Ormonde Vice - Presidente // Vice - President Isabel Maria Marques de Aragão Fesh Secretário // Secretary Maria do Rosário Lopes Garcia Matos Orfão Tesoureiro // Treasurer Maria de Fátima da Silva Dias Costa Gonçalves Vogal // Member of the Board Rui Nuno Machado Guimarães SPA // SPA Address Centro de Escritórios do Campo Grande Av. do Brasil, nº 1, 5º andar, sala 7 1749-028 Lisboa tel.: (+351) 913 609 330 e-mail: [email protected] Propriedade e Administração da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia // Portuguese Society of Anesthesiology Ownership and Management ISSN 0871-6099 Depósito Legal // Legal Deposit nº:65830/93 Preço Avulso // Individual Copy 7,5€ / Número // Number Assinatura // Subscription Rates: 4 edições // 4 copies / 30€ Distribuição: Gratuita aos Sócios da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia // Distribution: Without Charge for Membership of Portuguese Society of Anesthesiology Tiragem // Printed Copies: 2500 Periocidade: Trimestral (mar, jun, set, dez) // Frequency : Quarterly (Mar, Jun, Sep, Dec) Design, Concepção Gráfica e Paginação // Graphic Design, Paging and Printing: Letra Zen Comunicação [email protected] (+351) 936 206 030 Impresso em papel ácido livre // Printed on acid-free paper. Artigo de Revisão // Review 74 Via Aérea em Obstetrícia // AIRWAY MANAGEMENT IN OBSTETRICs Anabela Marques, Joana Carvalhas Caso Clínico // Case Report 84 EXCLUSÃO PULMONAR EM DOENTE PEDIÁTRICO RECORRENDO A CATETER FOGARTY // Pediatric Pulmonary Exclusion Using a Fogarty Catheter Raquel Veiga, Catarina Costa, Susana Vargas, Fernanda Barros Caso Clínico // Case Report 87 OBSTRUÇÃO PARCIAL DO TUBO ENDOTRAQUEAL POR KINKING NA CAVIDADE ORAL // PARTIAL OBSTRUCTION OF THE ENDOTRACHEAL TUBE BY KINKING IN ORAL CAVITY Jacobo Fedriani de Matos, Iván Ramírez, Francisco M. Mejías Perspetiva // Perspective 90 Histórias da História da Anestesiologia Portuguesa // Stories from the History of Portuguese Anaesthesiology A ANESTESIOLOGIA NO HOSPITAL MILITAR PRINCIPAL // Anaesthesiology in the Lisbon Military Hospital Ana Lufinha, Fernando Matos Rodrigues, Artur Pinto de Magalhães Mateus, Jorge Tavares Âmbito e Objetivos 95 Normas de Publicação 95 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 63 Primeiro Inibidor Direto Oral do Fator Xa Proteção Simples para Mais Doentes Tratamento da trombose venosa profunda Com um só medicamento oral Nome: Xarelto 15 mg, 20 mg. Composição: Cada comprimido revestido por película contém 15 mg ou 20 mg de rivaroxabano. Forma Farmacêutica: Comprimido revestido por película. Indicações terapêuticas Prevenção do acidente vascular cerebral e do embolismo sistémico em doentes adultos com fibrilhação auricular não-valvular com um ou mais fatores de risco, tais como insuficiência cardíaca congestiva, hipertensão, idade ≥75 anos, diabetes mellitus, antecedentes de acidente vascular cerebral ou acidente isquémico transitório. Tratamento da trombose venosa profunda (TVP) e prevenção da TVP recorrente e embolismo pulmonar (EP) após uma TVP aguda em adultos. Posologia e modo de administração: Prevenção do acidente vascular cerebral e do embolismo sistémico: A dose recomendada, que também é a dose máxima recomendada, é de 20 mg uma vez por dia. No caso de esquecimento de uma dose, o doente deve tomar imediatamente Xarelto e continuar no dia seguinte com a toma uma vez ao dia, conforme recomendado. Não deve ser tomada uma dose a dobrar no mesmo dia para compensar uma dose esquecida. Tratamento da TVP e prevenção da TVP recorrente e EP: A dose recomendada para o tratamento inicial da TVP aguda é de 15 mg duas vezes por dia durante as primeiras três semanas, seguida de 20 mg uma vez por dia para continuação do tratamento e prevenção da TVP recorrente e EP. A experiência com Xarelto nesta indicação durante mais de 12 meses é limitada. No caso de esquecimento de uma dose durante a fase de tratamento de 15 mg duas vezes por dia (dia 1 - 21), o doente deve tomar imediatamente Xarelto para assegurar a toma de 30 mg de Xarelto por dia. Neste caso podem tomar-se dois comprimidos de 15 mg ao mesmo tempo. O doente deve continuar no dia seguinte a toma diária e regular de 15 mg duas vezes por dia, conforme recomendado. No caso de esquecimento de uma dose durante a fase de tratamento de uma toma diária (dia 22 e seguintes), o doente deve tomar imediatamente Xarelto e continuar no dia seguinte com a toma diária, conforme recomendado. Não deve ser tomada uma dose a dobrar no mesmo dia para compensar uma dose esquecida. Passagem de Antagonistas da Vitamina K (AVK) para Xarelto: Em doentes tratados para prevenção do acidente vascular cerebral e embolismo sistémico, o tratamento com AVK deve ser interrompido e a terapêutica com Xarelto deve ser iniciada quando o INR for ≤3,0. Em doentes tratados para TVP e na prevenção da TVP recorrente e EP, o tratamento com AVK deve ser interrompido e a terapêutica com Xarelto deve ser iniciada assim que o INR for ≤2,5. Passagem de Xarelto para os Antagonistas da Vitamina K (AVK): Em doentes que passam de Xarelto para um AVK, o AVK deve ser administrado simultaneamente até o INR ser ≥2,0. Durante os dois primeiros dias do período de passagem, deve utilizar-se a dose inicial padrão do AVK, seguida de uma dose do AVK baseada nas determinações do INR. Enquanto os doentes estiverem a tomar simultaneamente Xarelto e o AVK, o INR não deve ser determinado antes das 24 horas após a dose precedente de Xarelto e antes da dose seguinte. Passagem de anticoagulantes parentéricos para Xarelto: Em doentes atualmente a serem tratados com um anticoagulante parentérico, Xarelto deve ser iniciado 0 a 2 horas antes da hora prevista para a administração seguinte do medicamento parentérico (ex.: HBPM) ou na altura da interrupção de um medicamento parentérico em administração contínua (ex.: heparina não fracionada intravenosa). Passagem de Xarelto para anticoagulantes parentéricos: Administrar a primeira dose do anticoagulante parentérico na altura em que deve ser tomada a dose seguinte de Xarelto. Os comprimidos devem ser tomados com alimentos. Compromisso renal moderado ou grave: Na prevenção do acidente vascular cerebral e do embolismo sistémico em doentes com fibrilhação auricular não-valvular, a dose recomendada é de 15 mg uma vez por dia; No tratamento da TVP e prevenção da TVP recorrente e EP: os doentes devem ser tratados com 15 mg duas vezes por dia durante as primeiras 3 semanas. Após isto, a dose recomendada é 15 mg uma vez ao dia com base em modelos farmacocinéticos. Xarelto deve ser utilizado com precaução em doentes com compromisso renal grave. Não é necessário ajuste posológico: compromisso renal ligeiro, população idosa, sexo, peso corporal. Não é recomendada a utilização em doentes com taxa de depuração da creatinina <15 ml/min. Está contra-indicado em doentes com doença hepática associada a coagulopatia e risco de hemorragia clinicamente relevante, incluindo doentes com cirrose com Child Pugh B e C. População pediátrica: não é recomendada a sua utilização em crianças com idade inferior a 18 anos. Contra-indicações: Hipersensibilidade à substância ativa ou a qualquer um dos excipientes. Hemorragia ativa clinicamente significativa. Gravidez e aleitamento. Doença hepática associada a coagulopatia e risco de hemorragia clinicamente relevante incluindo doentes com cirrose com Child Pugh B e C. Advertências e precauções especiais de utilização: Risco hemorrágico, compromisso renal, doentes com risco aumentado de hemorragia. Os doentes com problemas hereditários raros de intolerância à galactose, deficiência de lactase Lapp ou malabsorção de glucose-galactose não devem tomar este medicamento. Doentes com válvulas protésicas. Doentes com embolismo pulmonar agudo. Procedimentos invasivos e intervenções cirúrgicas. Interacções medicamentosas: Inibidores do CYP3A4 e da gp-P: não é recomendada em doentes submetidos a tratamento sistémico concomitante com antimicóticos azólicos tais como cetoconazol, itraconazol, voriconazol, posaconazol ou inibidores da protease do VIH; Anticoagulantes: deve ter-se precaução se os doentes são tratados concomitantemente com quaisquer outros anticoagulantes; AINEs/ inibidores da agregação plaquetária: deve ter-se precaução nos doentes tratados concomitantemente com AINEs (incluindo ácido acetilsalicílico) e inibidores da agregação plaquetária; Indutores do CYP3A4; Os parâmetros de coagulação (ex.: TP, aPTT, HepTest) são afetados. Efeitos indesejáveis: Anemia (incl. parâmetros laboratoriais respetivos), tonturas, cefaleias, síncope, hemorragia ocular (incl. hemorragia conjuntival), taquicardia, hipotensão, hematoma, epistaxe, hemorragia do trato gastrointestinal (incl. hemorragia gengival, hemorragia retal), dores gastrointestinais e abdominais, dispepsia, náuseas, obstipação, diarreia, vómitos, prurido (incl. casos raros de prurido generalizado), erupção cutânea, equimose, dor nas extremidades, hemorragia do trato urogenital (incluindo hematúria e menorragia), febre, edema periférico, diminuição da força e energia de um modo geral (incl. fadiga, astenia), aumento das transaminases, hemorragia pós-procedimento (incluindo anemia pós-operatória e hemorragia da ferida), contusão, trombocitemia (incl. aumento da contagem de plaquetas), reação alérgica, dermatite alérgica, hemorragia cerebral e intracraniana, hemoptise, boca seca, anomalias da função hepática, urticária e hemorragia cutânea e subcutânea, hemartrose, compromisso renal (incl. aumento da creatinina no sangue, aumento de ureia no sangue), sensação de mal-estar, edema localizado, aumento da bilirrubina, aumento da fosfatase alcalina sanguínea, aumento da HDL, aumento da lipase, aumento da amilase, aumento da GGT, secreção da ferida, icterícia, hemorragia muscular, aumento da bilirrubina conjugada (com ou sem aumento concomitante da ALT), formação de pseudoaneurisma após intervenção percutânea, síndrome compartimental secundário a hemorragia, insuficiência renal/insuficiência renal aguda secundária a hemorragia suficiente para causar hipoperfusão Número da A.I.M.: 5132956, 5132964, 5132972, 5423918, 5423926, 5423934, 5424403. Data de revisão do texto: Dezembro 2011 Não comparticipado nas doses de 15 mg e 20 mg. Medicamento sujeito a receita médica. Para mais informações deverá contactar o titular da AIM Bayer Portugal, S.A., Rua Quinta do Pinheiro, nº 5, 2794-003 Carnaxide · NIF 500 043 256 64 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 L.PT.GM.02.2012.0192 Editorial Caros colegas, António Augusto Martins Editor da Revista da SPA O processo de integração da Revista da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia (RSPA) no Serviço de Alojamento de Revistas Científicas Institucionais do Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP) está em desenvolvimento. Esta nova etapa da nossa publicação, tal como já referido em Editorial anterior, obriga a reformulações importantes na sua edição. As Normas de Publicação são um dos aspetos objeto de revisão. A sua conceção original datada do início dos anos 90 (Editor-chefe, Dra. Laura Massa) serviu a RSPA durante este lato período de tempo como uma importante ferramenta pedagógica para os autores. A necessidade de atualização das “Normas” e adequá-las às normas de edição biomédica elaboradas pela Comissão Internacional de Editores de Revistas Médicas (International Committee of Medical Journal Editors - ICMJE) e do Committee on Publication Ethics (COPE) obrigou a um trabalho exaustivo de rescrever este texto. Este processo envolveu a equipa editorial da RSPA. O texto foi submetido a uma avaliação e subsequente contribuição dos colegas que compõe este órgão da revista. Da colaboração dos colegas e do apoio técnico do RCAAP resultou o documento que a atual edição transporta até vós. Neste momento, pensamos ter dotado a RSPA dos requisitos necessários para obedecer às exigências do ICMJE. O processo de tradução das “Normas” para inglês está em curso e é a etapa necessária e indispensável para a inscrição da Revista no ICMJE. Também foi necessário definir o âmbito e objetivos da revista, assim como repensar a política de “copyright” e adaptá-la ao acesso livre (open access). A tipologia dos artigos publicados pela RSPA foi alargada: Originais, Educação Médica Contínua, Revisão (Narrativa e Sistemática), Consenso, Casos Clínicos, Cartas ao Editor, Editoriais, Perspetivas e Imagens em Anestesiologia. Os critérios para publicação permanecem o mérito científico, a originalidade e o interesse para a Anestesiologia. A evolução e o sucesso do processo de indexação da Revista está dependente da qualidade dos artigos que esta conseguir editar. A RSPA é o órgão oficial da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia. Diversas publicações nacionais de características similares (Exemplo: Revista Portuguesa de Cardiologia, Acta Reumatológica Portuguesa ou Revista Portuguesa de Pneumologia) conseguiram obter o processo de indexação internacional (Medline). Este objetivo está ao nosso alcance. A qualidade patenteada nos Resumos das comunicações científicas submetidos ao Congresso da SPA é uma evidência de que estamos no caminho certo. A publicação de artigos é, também, uma forma de afirmarmos a Anestesiologia. Este é o desafio! Os meus melhores cumprimentos, António Augusto Martins Editor da Revista da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 65 Artigo Original // Original Article Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono e complicações respiratórias pós-operatórias Acácio SiLVA 1, Helder Pereira 1, Daniela Xará 1, Júlia Mendonça 1, Inês Cunha 2, Alice Santos 1, Fernando Abelha 1,2. Palavras-chave: - Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono; - STOP-BANG; - Cuidados Preoperatórios; - Complicações Pós-operatórias Resumo Introdução: A Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono, tem sido reconhecida como um potencial fator de risco independente para “outcomes” perioperatórios adversos. O inquérito STOP-BANG (“snore”, “tired”, “observed apnea”, “arterial pressure”, “body mass índex”, “age”, “neck circunference” and ”gender”) pode prever o risco de um doente apresentar Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono. O objetivo deste trabalho foi estudar a incidência de doentes com pontuação STOP-BANG≥3 e avaliar a sua associação com eventos respiratórios adversos pós-operatórios. Métodos: Estudo prospetivo, observacional, que decorreu na Unidade de Cuidados Pósoperatórios Anestésicos do Centro Hospitalar São João, Porto, durante o período de 18 de junho a 12 de julho de 2012. Duzentos e quarenta e dois doentes foram admitidos e 215 cumpriam os critérios de inclusão. Foi obtido consentimento informado de todos os doentes. Todos os doentes completaram o questionário STOP e obteve-se informação sobre o índice de massa corporal, idade e perímetro do pescoço e sexo (BANG). Foi utilizada estatística descritiva para apresentar os dados e o teste de Mann-Whitney, qui-quadrado ou de Fisher em comparações. Foi efetuada uma análise multivariada com uma regressão logística binária. Resultados: A incidência de doentes com STOP-BANG≥3 foi de 51 %. Estes doentes apresentaram uma idade superior (mediana 64 anos versus 43 anos, p <0.001), um IMC mais elevado (mediana 27,7 % versus 25,7 %, p<0,001) e eram mais frequentemente do sexo masculino (68 % versus 48 %, p<0,001). Este grupo de doentes apresentou ainda um estado físico ASA mais elevado (ASA III, IV ou V 32 % versus 15 %, p<0,004), pontuação de RCRI mais elevada (8 % versus 0 % para RCRI>2, p<0,002), tendo prevalência superior de doença cardíaca isquémica (15 % versus 0 %, p<0,001), patologia cardíaca congestiva (5 % versus 0 %, p=0.017), diabetes insulinotratada (25 % versus 7 %, p<0.001), hipertensão arterial (75 % versus 21 %, p<0.001), dislipidemia (55 % versus 13 %, p<0.001) e doença pulmonar obstrutiva crónica (12 % versus 3 %, p=0.011). Estes doentes apresentaram mais eventos respiratórios adversos (24 % versus 10 %, p=0.011); tiveram uma incidência mais elevada de bloqueio neuromuscular residual (22 % versus 15 %, p=0.021) e um tempo de internamento hospitalar superior (mediana de 7 versus 4 dias, p=0.005). Na análise de regressão logística múltipla, a doença pulmonar obstrutiva crónica foi considerada um preditor independente para eventos adversos respiratórios. Discussão: Doentes com STOP-BANG≥3 apresentam uma incidência importante dentro da população de doentes submetida a cirurgia eletiva, no nosso hospital; tendo mais comorbilidades e mais complicações pós-operatórias. Obstructive Sleep Apnea Syndrome and postoperative adverse respiratory events Acácio SiLVA 1, Helder Pereira 1, Daniela Xará 1, Júlia Mendonça 1, Inês Cunha 2, Alice Santos 1, Fernando Abelha 1,2. Keywords: - Questionnaires; - Postoperative Complications; - Preoperative Care; - Severity of Illness Index; - Sleep Apnea, Obstructive 66 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 Abstract Introduction: Obstructive Sleep Apnea Syndrome it has been recognized as a potential independent risk factor for adverse perioperative outcomes and many of them are undiagnosed. STOP-BANG score (snore; tired; observed apnea; arterial pressure; body mass index; age; neck circumference and gender) can predict the risk of a patient to have Obstructive Sleep Apnea. The aim of this study was, to evaluate the incidence of patients with a STOP-BANG ≥3 score and to evaluate its association with postoperative adverse respiratory events. Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono e complicações respiratórias pós-operatórias Methods: Observational, prospective study during the period of 18 June to 12 July 2012, in a Post-Anesthesia Care Unit of a tertiary hospital: Centro Hospitalar São João, Porto, Portugal. 242 patients were admitted and 215 eligible for this study. Written informed consent was obtained from all patients. All the patients were asked to complete the STOP questionnaire and information concerning body mass index, age, neck circumference, and gender (BANG) were collected for every patients. Descriptive statistics was presented and Mann-Whitney U-test and Chi-square test or Fisher’s test were used for comparisons. A multivariate analyses was done with a logistic binary regression Results: Incidence of patients with a STOP-BANG ≥3 was 51%. These patients were older (median age 64 versus 43 years, p<0.001), were more likely to be man (68% versus 48%, p<0.001), had a higher body mass index (median 27.7 versus 25.7, p<0.001), had a higher ASA physical status (ASA III, IV or V 32% versus 15%, p<0.004), had higher RCRI scores (8% versus 0% for RCRI>2, p<0.002), and showed a higher ischemic heart disease (15% versus 0%, p<0.001), congestive heart disease (5% versus 0%, p=0.017), diabetes with insulin therapy (25% versus 7%, p<0.001), hypertension (75% versus 21%, p<0.001), hyperlipidemia (55% versus 13%, p<0.001) and chronic pulmonary obstructive disease (12% versus 3%, p=0.011). These patients had more frequently adverse respiratory events (24% versus 10%, p=0.011), had a higher incidence of residual neuromuscular blockade (22% versus 15%, p=0.021) and higher length of stay in the hospital (median 7 versus 4 days, p=0.005). In the multiple logistic regression analysis, chronic pulmonary obstructive disease was considered an independent predictor for adverse respiratory events. Discussion: Patients with STOP-BANG≥3 score had an important incidence among patients scheduled to surgery in our hospital, had more co-morbidities and were more prone to postoperative complications. 1 Serviço de Anestesiologia – Centro Hospitalar São João, Porto, Portugal Unidade de Anestesiologia e Medicina Peri-operatória – Departamento de Cirurgia, Faculdade de Medicina, Universidade do Porto, Portugal 2 Os autores declaram não ter conflitos de interesses nem terem sido financiados com qualquer tipo de fundos Introdução A Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) é a patologia respiratória mais prevalente durante o sono1 afetando 2-26 % da população em geral. 2 Foi reconhecida como potencial fator de risco para internamento hospitalar prolongado e “outcome” perioperatório adverso nomeadamente complicações cardíacas e respiratórias.3-5 A SAOS é caracterizada por repetidas oclusões da via aérea superior durante o sono, com duração mínima de 10 segundos, que condicionam hipopneia ou apneia respiratórias.4 A SAOS tem sido associada a diversas patologias como: obesidade, hipertensão arterial, dislipidemia, insulinorresistência com o desenvolvimento de diabetes mellitus, hipertensão pulmonar, arritmias, fibrilação auricular, acidente vascular cerebral,3 trombose venosa profunda,6 refluxo gastroesofágico,7 entre outros. Estudos revelam que a SAOS é uma entidade subdiagnosticada8-9 estimando-se que até 80 % dos doentes não estão diagnosticados. A sua prevalência na população cirúrgica é considerada superior à da população em geral3 e 70 % dos doentes submetidos a cirurgia bariátrica têm SAOS.10 O exame gold standard para o diagnóstico de SAOS é a polissonografia. No entanto, é considerada impraticável a execução deste exame a muitos dos doentes durante a avaliação pré-operatória, uma vez que é um estudo dispendioso e complexo de realizar.11 Várias ferramentas têm sido propostas para o screening de doentes com SAOS tal como o questionário de Berlin, o questionário STOP-BANG e a checklist da American Society of Anesthesiologists (ASA). A aplicação destes testes pré-operatoriamente aumenta a probabilidade de diagnosticar a SAOS. Num estudo realizado por Chung F et al13 os autores compararam os métodos de rastreio supracitados, sendo o questionário STOP-BANG aquele que apresentou maior precisão em identificar doentes em risco de desenvolver complicações pós-operatórias, tais como complicações respiratórias. Este inquérito apresenta elevada sensibilidade para a deteção da SAOS (quando a pontuação é ≥3): 93 % e 100 % para SAOS moderada e severa, respectivamente. Trata-se de um questionário, com o acrónimo STOP-BANG (S - Snoring; T – Tiredness during daytime; OObserved apnea; P – high blood Pressure; B – Body mass index; A – Age; N – Neck circumference; G – Gender), que consiste num conjunto de 8 perguntas facilmente realizadas e classificadas em respostas sim/não (classificação 1/0). O doente apresenta risco elevado de SAOS se a pontuação obtida for igual ou superior a 3.12 No período pós-operatório imediato as causas mais comuns de hipoventilação incluem obstrução da via aérea, efeito residual de anestésicos, analgésicos (exemplo: opioides), sedativos e bloqueio neuromuscular bem como alteRev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 67 Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono e complicações respiratórias pós-operatórias rações respiratórias induzidas por dor cirúrgica não controlada. A diminuição das trocas gasosas respiratórias pode ocorrer como resultado de shunt intrapulmonar, edema e embolia pulmonar. A causa mais comum de obstrução da via aérea superior na unidade de cuidados pós-anestésicos (UCPA) é a flacidez muscular faríngea devido à diminuição do tónus muscular local. Outras causas incluem laringospasmo, edema da via aérea e presença corpo estranho. A perda do tónus muscular faríngeo é potenciada pelo efeito anestésico residual, nomeadamente de opióides ou pelo bloqueio neuromuscular residual (BNMR), levando a um estreitamento do diâmetro da orofaringe posterior condicionando uma obstrução supraglótica. Patologias como a SAOS predispõem para a obstrução da via aérea na UCPA. O objetivo deste estudo foi avaliar a incidência de doentes com pontuação STOP-BANG≥3 e a sua associação com eventos respiratórios adversos (ERA) pós-operatórios. Métodos Este estudo foi realizado na UCPA do Centro Hospitalar de São João (CHSJ), Porto, Portugal. A aprovação ética (Ético n º 127/2012) foi fornecida pelo Comité de Ética da CHSJ. Foi obtido o consentimento informado de todos os doentes. O Centro Hospitalar de São João é um hospital terciário que serve 3.000.000 pessoas. Este estudo prospetivo foi realizado numa UCPA com 12 camas ao longo de um período de 4 semanas, de 18 junho a 12 de julho de 2012. Cada doente admitido na UCPA, durante este período de tempo, que foi capaz de fornecer o consentimento informado escrito foi incluído no estudo. Os critérios de exclusão foram: recusa do doente; incapacidade de consentimento; pontuação <25 no mini-mental state examination test (MMSE); idade inferior a 18 anos, nacionalidade estrangeira; doença neuromuscular conhecida; cirurgia urgente / emergente; cirurgia cardíaca, neurocirurgia ou outros procedimentos em que é requerida a hipotermia terapêutica. Todos os doentes preencheram o questionário STOP. Informações relativas ao índice de massa corporal (IMC), idade, circunferência do pescoço e ao género (BANG) foram recolhidas por um investigador do estudo. Os doentes foram classificados como sendo de alto risco para SAOS (AR-SAOS) se apresentaram STOP-BANG≥3 e como sendo de baixo risco de SAOS (BR-SAOS) se a pontuação no questionário foi inferior a 3. O anestesiologista no bloco operatório desconhecia o envolvimento de cada doente no estudo. A anestesia foi administrada e controlada de acordo com os critérios do anestesiologista responsável, contudo orientada pelos padrões mínimos do departamento. Foram utilizados relaxantes musculares para a intubação endotraqueal e, foram administrados bólus adicionais, se necessário. Não existe política escrita sobre a utilização de monitorização 68 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 neuromuscular pelo que esta foi realizada a critério do anestesista. Para garantir que o anestesiologista desconhecia a participação dos doentes no estudo, não se realizou a observação da utilização ou interpretação do TOF intraoperatório. O anestesista foi livre para decidir a reversão do bloqueio neuromuscular (BNM) com neostigmina, na conclusão do procedimento cirúrgico. A extubação dos doentes ocorreu sempre na sala operatória. Os critérios para extubação incluem o levantamento sustentado da cabeça ou aperto de mão por mais de 5 s, a capacidade de cumprir ordens simples, um padrão estável ventilatório com saturação de oxigénio aceitável arterial (SpO2)> 95 %, e uma taxa de TOF superior a 0,80. A todos os doentes foi administrado 100 % de oxigénio por uma máscara após a extubação traqueal. O anestesista foi livre para decidir se administrava oxigénio durante o transporte do doente para a UCPA. Todos os doentes realizaram oxigenoterapia por cânula nasal na UCPA, desde a admissão até à alta. Para cada doente foi sistematicamente preenchida uma folha de recolha de dados. Nesta folha foram registadas as características dos doentes: sexo, idade, peso, altura, IMC, administração de benzodiazepinas no pré-operatório, uso crónico de benzodiazepinas, local da cirurgia (intra-abdominal, músculo-esquelético, cabeça e pescoço), classificação do estado físico (pela American Society of Anesthesiologists ASA-PS), Índice de Risco Cardíaco Revisto (RCRI), tempo de jejum pré-operatório, tipo de anestesia, duração da cirurgia, o uso de protóxido de azoto, ERA na UCPA, duração do internamento na UCPA e no hospital. A magnitude do procedimento cirúrgico foi classificada como major (cirurgia em que as cavidades corporais ou grandes vasos foram expostos à temperatura ambiente, tais como cirurgia vascular major, abdominal, torácica, cirurgia da coluna torácica com instrumentação ou artroplastia da anca), média (cirurgia em cavidades do corpo que são expostas a um grau menor, como apendicectomia) e minor (cirurgia superficial). Os fatores de risco clínico (história de doença pulmonar obstrutiva crónica, história de doença cardíaca isquémica, história de insuficiência cardíaca, história de doença vascular cerebral, diabetes mellitus e insuficiência renal) e de risco cirúrgico (alto risco definido como cirurgia intratorácica, intraperitoneal ou vascular supra-inguinal, ou cirurgia envolvendo grande perda sanguínea ou fluidos) foram definidos de acordo com a estratificação de risco cardíaco para cirurgia não cardíaca mediante as guidelines de 2007 sobre avaliação cardiovascular perioperatória e cuidados para cirurgia não cardíaca da American College of Cardiology / American Heart Association Task Force.16 A informação clínica pré-operatória sobre patologias como a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), hipertensão arterial e dislipidemia foi recolhida a partir de documentação clínica inserida no sistema de informação da instituição. O BNMR foi definido como TOF <0,9 e foi quantificado na Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono e complicações respiratórias pós-operatórias admissão da UCPA usando aceleromiografia do músculo adutor do polegar (TOF-Watch ®).17-8 Complicações respiratórias Cada ERA pós-operatório foi definido numa folha de recolha de dados usando os critérios de acordo com a classificação descrita por Murphy et al 20: obstrução da via aérea superior exigindo uma intervenção (elevação da mandíbula, ou via aérea oral ou nasal); hipoxia moderada (SpO2 de 93 % -90 %) sob oxigenoterapia (3 L/min) por cânula nasal não revertida após intervenções ativas (aumento do fluxo de O2 > 3 L/min, aplicação de alto fluxo de O2 por máscara facial, pedidos verbais para respirar profundamente e estimulação táctil); hipoxia severa (SpO2 <90 %) sob oxigenoterapia 3L/min por cânula nasal que não melhorou após intervenções ativas (aumento do fluxo de O2 > 3L / min, aplicação de máscara facial de alto fluxo de O2, os pedidos verbais para respirar profundamente e estimulação táctil); sinais de dificuldade respiratória ou insuficiência ventilatória (frequência respiratória > 20 ciclos por minuto, utilização de músculos acessórios e esforço traqueal); incapacidade para respirar profundamente quando solicitado pela enfermeira da UCPA; sintomas de fraqueza dos músculos respiratórios ou da via aérea superior (dificuldade em respirar, engolir ou falar); necessidade de re-intubação na UCPA; evidência clínica ou suspeita de aspiração pulmonar após a extubação traqueal (conteúdo gástrico observado na orofaringe e hipoxemia). Durante a permanência na UCPA, os doentes foram observados continuamente pelos enfermeiros da unidade que reportavam a ocorrência de ERA a um investigador do estudo. A incapacidade de respirar profundamente e a presença de sintomas de fraqueza dos músculos respiratórios ou da via aérea superior foram avaliados em intervalos de 10 minutos. Na suspeita de ERA, o investigador presente confirmou a presença de pelo menos um dos critérios para uma ERA. Análise Estatística A análise descritiva das variáveis foi utilizada para resumir os dados. Com base no teste de Kolmogorov-Smirnov para a normalidade da população, as variáveis ordinais e contínuas estudadas que não seguiram uma distribuição normal foram apresentados como mediana e intervalo interquartil; as variáveis com distribuição normal foram apresentadas como média e desvio padrão (SD). Uma análise univariada foi realizada para identificação das diferenças entre os doentes com AR-SAOS e BR-SAOS utilizando o teste de Mann-Whitney para comparar variáveis contínuas e o teste do qui-quadrado ou teste exato de Fisher para comparar proporções entre dois grupos de indivíduos. As diferenças foram consideradas estatisticamente significativas quando P <0,05. Foi realizada uma análise univariada para identificar fatores preditores de ERA. Regressão logística binária múltipla foi efetuada com o método forward condicional a fim de identificar preditores independentes para a ERA. Neste modelo, todas as co-variáveis com p <0,05 nas análises univariadas foram consideradas e uma odds ratio (OR) e intervalo de confiança 95 % (IC 95 %) foram calculados. Os dados foram analisados com o software SPSS para Windows versão 19,0 (SPSS Inc., Chicago, IL, EUA). Resultados Dos 242 doentes admitidos na UCPA durante o período de estudo, foram estudados um total de 215. Foram excluídos 27 doentes: oito doentes foram incapazes de fornecer o consentimento informado ou tiveram um MMSE <25; dois doentes foram submetidos a neurocirurgia; onze doentes tinham idade inferior a 18 anos; três doentes não falavam Português e outros três doentes recusaram-se a participar. Dos 215 doentes incluídos na análise (Tabela 1), 110 foram classificados como AR-SAOS. Estes doentes eram mais velhos (mediana da idade 64 versus 43 anos, p <0,001), tinham um IMC superior (mediana de 27,7 versus 25,7, p <0,001), eram mais frequentemente do sexo masculino (68 % versus 48 %, p <0,001), tiveram uma classificação ASA mais elevada (ASA III, IV 32 % versus 15 %, p = 0,004), e uma pontuação maior de RCRI (8 % contra 0 % em RCRI> 2, p = 0,002). Doentes com AR-SAOS mostraram maior prevalência de co-morbidades pré-operatórias, incluindo doença cardíaca isquémica (15 % versus 0 %, p <0,001), insuficiência cardíaca congestiva (5 % versus 0 %, p = 0,017), diabetes mellitus insulinotratada (25 % versus 7 %, p <0,001), hipertensão arterial (75 % versus 21 %, p <0,001), dislipidemia (55 % versus 13 %, p <0,001) e DPOC (12 % versus 3 %, p = 0,011). Doentes AR-SAOS foram submetidos com mais frequência a cirurgia intra-abdominal (59 % versus 37 %, p = 0,005) e menos frequentemente a cirurgia osteomuscular (34 % versus 49 %, p = 0,004) ou cirurgia de cabeça e pescoço (7 % versus 14 %, p = 0,002). Estes doentes foram submetidos mais frequentemente a anestesia regional (23 % versus 11 %, p = 0,049) e menos frequentemente a anestesia geral ou combinada (77 % versus 89 %, p = 0,049). Na admissão na UPCA apresentaram mais frequentemente hipotermia (36 % versus 24 %, p = 0,045) e BNMR (22 % versus 15 %, p=0,021). Os doentes com AR-SAOS tiveram um tempo de internamento hospitalar superior (mediana de 7 versus 4 dias, p = 0,005). Quanto às complicações respiratórias (Tabela 2) que ocorreram na UCPA, os doentes com AR-SAOS apresentaram mais frequentemente ERA (24 % versus 10 %, p = 0,011). Estes doentes apresentaram mais hipoxia leve/moderada (16 % versus 6 %, p = 0,013) e diminuição da capacidade inspiratória (18 % versus 5 %, p = 0,002). Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 69 Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono e complicações respiratórias pós-operatórias Tabela 1 - Características do doente (n=215) Variáveis Mediana (IQR) ou n (%) Total N=215 AR-SAOS N=110 BR-SAOS N=105 p 58 (43-68) 64 (58 – 72) 43 (33 – 57) <0.001(c) Masculino 125 (58) 75(68) 50 (48) Feminino 90 (42) 35(32) 55 (55) Idade Género <0.001(a) Local de cirurgia Intra-abdominal 104 (48) 65 (59) 39 (37) 0.005(a) Músculo-esquelético 88 (41) 37 (34) 51 (49) 0.004(a) Cabeça e pescoço 23 (11) 8 (7) 15 (14) 0.002(a) 26.2 (23.6-30.0) 27.7 (24.4-32.1) 25.7(22.2 -28.1) <0.001(c) I/II 164 (76) 75 (68) 89 (85) III/IV/V 51 (24) 35 (32) 16 (15) Cirurgia de elevado risco cirúrgico 61 (28) 42 (38) 19 (18) 0.001(a) Doença cardíaca isquémica 17 (8) 17(15) 0 <0.001(b) Doença cardíaca congestiva 6(3) 6 (5) 0 0.017(b) Índice de Massa Corporal (Kg/m ) 2 Estado físico ASA 0.004(a) Doença cerebrovascular 3(1) 3 (3) 0 0.132(b) Diabetes insulinodependente 35 (16) 28(25) 7(7) <0.001(a) Insuficiência renal 15 (7) 9 (8) 6(6) 0.478(a) RCRI≤2 206 (96) 101(92) 105 (100) RCRI>2 9 (4) 9 (8) 0 Hipertensão arterial 104 (48) 82 (75) 22(21) <0.001(a) Dislipidemia 74 (34) 60 (55) 14 (13) <0.001(a) DPCO 16 (7) 13 (12) 3 (3) 0.011(b) Loco regional 36 (17) 25 (23) 11 (11) Geral / combinada 179 (83) 85(77) 94(89) RCRI 0.002(b) Tipo de anestesia 0.049(a) Magnitude da cirurgia 0.170(a) Minor 18 (8) 11 (10) 7 (7) Médio 111(52) 50 (46) 61 (58) Major 86 (40) 49(45) 37 (35) 8 (4) 6 (5) 2 (2) 0.156(b) 0.849(c) Cirurgia Bariátrica Duração da cirurgia (minutos) 90 (55 – 145) 90 (54-141) 90 (54-148) 35.5(34.9-36.0) 35.5(34.9-36.0) 35.5(35.1-36.0) 0.358(c) 65 (30) 40 (36) 25 (24) 0.045(a) Tempo de internamento UCPA (minutos) 112 (80-150) 118 (85-160) 105 (80-148) 0.081(c) Tempo de internamento hospitalar (dias) 6 (3-12) 7 (5-17) 4 (2-8) 0.005(c) Uso de relaxantes neuromusculares 132 (61) 61 (55) 71(65) 0.156(a) Bloqueio neuromuscular residual 40 (30) 24 (22) 16(15) 0.021(a) Temperatura à admissão <35ºC a)Teste X de Pearson’s; b) Teste exato de Fisher; c)Teste U Mann-Whitney; 2 IQR: Intervalo interquartil; AR-SAOS, Alto risco de Apneia Obstrutiva do Sono; BR-SAOS, Baixo risco de Apneia Obstrutiva do Sono; ASA: AmericanSociety of Anesthesiologists; RCRI, Revised Cardiac Risk Index; DPCO: Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica. UCPA: Unidade de Cuidados Pós-Anestésicos. Na análise multivariada (Tabela 3), a DPOC foi identificada como um preditor independente de ERA. Discussão Neste estudo a incidência de doentes com STOP-BANG≥ 3 foi de 51 %, o que pode ser considerado um número rele70 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 vante na população de doentes submetidos a cirurgia eletiva no nosso hospital. Para estudar a incidência de SAOS foi utilizado o questionário STOP-BANG uma vez que este demonstrou ter uma sensibilidade elevada na triagem de doentes com SAOS moderada/grave.12 De facto, uma revisão recente efetuada por Abrishami et al21 mostrou que o questionário Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono e complicações respiratórias pós-operatórias Tabela 2 - Complicações respiratórias (n=215) Variáveis Total AR-SAOS n=215 (n=110) BR-SAOS (n=105) p 11 (10) 0.011 Eventos respiratórios 37 26 (24) Obstrução da via aérea 3 1 (1) Hipoxia leve/moderada 24 18 (16) Hipoxia severa 4 2 (2) Insuficiência respiratória 4 2 (2) Capacidade inspiratória diminuída 25 20 (18) Fraqueza muscular 9 7 (6) 2 (2) 0.103 Re-intubação 2 1 (1) 1 (1) 0.739 2 (2) 6 (6) 2 (2) 2 (2) 5 (5) 0.534 0.013 0.672 0.672 0.002 AR-SAOS, Alto risco de Apneia Obstrutiva do Sono; BR-SAOS, Baixo risco de Apneia Obstrutiva do Sono; Tabela 3 - Análise de regressão logística para preditores de eventos respiratórios adversos Variáveis Simple OR (95%CI) p *OR (95% CI) Pa Idade 1.0 (1.0 – 1.1) 0.046 - Hipertensão arterial 2.6 (1.2 – 5.5) 0.012 - DPCO 4.4 (1.5– 12.7) 0.006 4.4 (1.5– 12.7) 0.006 AR-SAOS 2.7 (1.2 – 5.7) 0.013 - - OR: Odds ratio; CI Intervalo de confiança. DPCO, Doença pulmonar obstrutiva crónica, AR-SAOS: alto risco de Apneia Obstrutiva do Sono Regressão logística múltipla, método forward conditional e *Ajustado para OR, idade, Hipertensão, DPCO, AR-SAOS. STOP-BANG tem elevada qualidade metodológica e, como Chung F et al12 sugere, este cut-off pode ser adequado para estratificar doentes com SAOS não reconhecida na população cirúrgica. Este questionário é conciso, simples de usar e pode ajudar na identificação de doentes com AR-SAOS. Os doentes AR-SAOS foram mais frequentemente do sexo masculino e, como esperado, eram mais velhos (p <0,001) e tinham um maior IMC (p <0,001). Resultados semelhantes foram obtidos noutros estudos22-3 e a sua importância é revelada pela inclusão destas variáveis em diferentes ferramentas usadas para determinar a gravidade da SAOS, tais como o sleep apnea clinical score (SACS) e o próprio inquérito STOP-BANG. A associação entre o aumento da morbidade e a SAOS não tratada está bem estabelecida, o que pode resultar num aumento da taxa de mortalidade.3,24 Estes doentes têm um risco aumentado para desenvolver doenças cardiovasculares 22,25-28 e diabetes mellitus. 29 No nosso estudo, também, observamos que o grupo AR-SAOS teve mais frequentemente co-morbilidade cardíaca (doença cardíaca isquémica e doença cardíaca congestiva), maior frequência de hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes mellitus e doença pulmonar obstrutiva crónica. A associação destas co-morbidades pode indiretamente refletir uma classifica- ção ASA e RCRI mais elevada nos doentes AR-SAOS. Os doentes com AR-SAOS foram submetidos mais frequentemente a cirurgia abdominal, a anestesia regional e apresentaram mais vezes hipotermia. Podemos supor que essas três circunstâncias podem estar interligadas podendo influenciar-se mutuamente. Tal como foi descrito em estudos retrospectivos,5, 30,31 neste trabalho os doentes com AR-SAOS também tiveram um tempo de internamento hospitalar mais prolongado. Liu S et al31 sugeriram que a hipoxemia pós-operatória pode ocorrer para além do primeiro dia de pós-operatório e associar-se a resultados adversos, como intervenções respiratórias frequentes, maior necessidade de monitorização intensiva e um tempo de internamento hospitalar mais prolongado. Por outro lado, Rakesh G et al5 sugere que a duração mais prolongada do internamento hospitalar foi associada a doença arterial coronária e à síndrome metabólico. Os doentes com classificação STOP-BANG≥ 3 tiveram uma maior incidência de BNMR. Está descrito que os doentes com IMC elevado apresentam uma maior incidência de BNMR,32 mas este facto ainda não foi descrito para os doentes com SAOS. Os nossos resultados sugerem a necessidade de uma monitorização apertada nos doentes com AR-SAOS pois para além de estarem expostos a um risco adicional de complicações respiratórias, a prevalência de doentes com IMC elevado é mais elevada neste grupo de doentes. A incidência de complicações respiratórias pós-operatórias foi maior nos doentes com STOP-BANG≥ 3. Este resultado está de acordo com outros estudos publicados, 5, 33 particularmente a hipoxia pós-operatória que teve maior incidência nos doentes com AR-SAOS. No entanto, no presente estudo, tal como no estudo de Chung et alg a análise dos eventos adversos pós-operatórios não mostrou um aumento da morbidade respiratória entre os dois grupos de doentes (AR-SAOS e BR-SAOS). De facto, o nosso estudo não comprovou relação entre AR-SAOS e a ocorrência de ERA. Este estudo tem várias limitações. A primeira, e a limitação mais importante, é que não foi possível comparar os resultados obtidos pelo questionário STOP-BANG com um diagnóstico polissonográfico. A nossa amostra pode ter apresentado alto risco para eventos pós-operatórios sem ter SAOS. A utilização do questionário STOP-BANG, como um instrumento para prever o risco de um doente apresentar SAOS, pode ter condicionado elevada incidência de resultados falsos positivos. É possível que um cut-off mais elevado (STOP-BANG≥5) possa ser utilizado numa tentativa de aumentar a especificidade da amostra, tal como afirmam estudos recentes.12 Em segundo lugar, os eventos respiratórios só foram registados na UCPA e as complicações que poderão ter ocorrido após a alta da UCPA não foram consideradas. Isso pode ser visto como uma limitação importante uma vez que complicações respiratórias desenvolvidas após alta da UCPA podem contribuir para Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 71 Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono e complicações respiratórias pós-operatórias um aumento do tempo de internamento hospitalar. Outra limitação, do presente trabalho, foi o facto de terem sido utilizados critérios subjetivos na definição de ERA. Em conclusão, os principais resultados de nosso estudo foram: • A incidência de doentes AR-SAOS na população estudada foi de 51 %; • O grupo de doentes AR-SAOS apresentou mais co-morbidade, como doença cardíaca isquémica, insuficiência cardíaca congestiva, diabetes insulinotratada, dislipidemia, hipertensão arterial e DPOC; • Os doentes AR-SAOS tiveram uma maior incidência de complicações respiratórias, incluindo hipóxia leve/moderada e diminuição da capacidade inspiratória. • O tempo de internamento hospitalar foi superior nos doentes AR-SAOS. • AR-SAOS não foi fator preditivo independente para a ocorrência de ERA. Referências 1. Kryger H. Diagnosis and management of sleep apnea syndrome. Clin Cornerstone. 2000; 2: 39-47. 2. Young T, Hutton R, Finn L, Badr S, Palta M. The gender bias in sleep apnea diagnosis. Are women missed because they have different symptoms? Arch Intern Med. 1996; 156: 2445-51. 3. Chung A, Yuan H, Chung F. A systemic review of obstructive sleep apnea and its implications for anesthesiologists. Anesth Analg. 2008; 107: 1543-63. 4. Porhomayon J, El-Solh A, Chhangani S, Nader ND. The management of surgical patients with obstructive sleep apnea. Lung. 2011; 189: 359-67. 5. Gupta M, Parvizi J, Hanssen AD, Gay PC. Postoperative complications in patients with obstructive sleep apnea syndrome undergoing hip or knee replacement: a case-control study. Mayo Clin Proc. 2001; 76: 897-905. 6. Ambrosetti M, Lucioni A, Ageno W, Conti S, Neri M. Is venous thromboembolism more frequent in patients with obstructive sleep apnea syndrome? J Thromb Haemost. 2004; 2: 1858-60. 7. Gislason T, Janson C, Vermeire P, Plaschke P, Björnsson E, Gislason D, et al. Respiratory symptoms and nocturnal gastroesophageal reflux: a population-based study of young adults in three European countries. Chest. 2002; 121: 158-63. 8. Kapur V, Strohl P, Redline S, Iber C, O´Connor G, Nieto J. Underdiagnosis of sleep apnea syndrome in U.S. communities. Sleep Breath. 2002; 6: 49-54. 9. Young T, Evans L, Finn L, Palta M. Estimation of the clinically diagnosed proportion of sleep apnea syndrome in middle-aged men and women. Sleep. 1997; 20: 705-6. 10. Frey C, Pilcher J. Obstructive sleep-related breathing disorders in patients evaluated for bariatric surgery. Obes Surg. 2003; 13: 676-83. 11. Stierer L, Wright C, George A, Thompson RE, Wu CL, Collop N. Risk assessment of obstructive sleep apnea in a population of patients undergoing ambulatory surgery. J Clin Sleep Med. 2010; 6: 467-72. 12. Chung F, Subramanyam R, Liao P, Sasaki E, Shapiro C, Sun Y. High STOP-Bang score indicates a high probability of obstructive sleep apnoea. Br J Anaesth 2012; 108: 768-75. 72 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 13. Chung F, Yegneswaran B, Liao P, Chung SA, Vairavanathan S, Islam S, et al. Validation of the Berlin questionnaire and American Society of Anesthesiologists checklist as screening tools for obstructive sleep apnea in surgical patients. Anesthesiology. 2008; 108: 822-30. 14. Shorten D, Opie J, Graziotti P, Morris I, Khangure M. Assessment of upper airway anatomy in awake, sedated and anaesthetised patients using magnetic resonance imaging. Anaesth Intensive Care. 1994; 22: 165-9. 15. Mathru M, Esch O, Lang J, Herbert ME, Chaljub G, Goodacre B, et al. Magnetic resonance imaging of the upper airway. Effects of propofol anesthesia and nasal continuous positive airway pressure in humans. Anesthesiology. 1996; 84: 273-9. 16. Fleisher A, Beckman A, Brown A, Calkins H, Chaikof E, Fleischmann KE, et al. ACC/AHA 2007 Guidelines on Perioperative Cardiovascular Evaluation and Care for Noncardiac Surgery: Executive Summary: A Report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines (Writing Committee to Revise the 2002 Guidelines on Perioperative Cardiovascular Evaluation for Noncardiac Surgery) Developed in Collaboration With the American Society of Echocardiography, American Society of Nuclear Cardiology, Heart Rhythm Society, Society of Cardiovascular Anesthesiologists, Society for Cardiovascular Angiography and Interventions, Society for Vascular Medicine and Biology, and Society for Vascular Surgery. J Am Coll Cardiol. 2007; 50: 1707-32. 17. Murphy S, Brull J. Residual neuromuscular block: lessons unlearned. Part I: definitions, incidence, and adverse physiologic effects of residual neuromuscular block. Anesth Analg. 2010; 111: 120-8. 18. Murphy S. Residual neuromuscular blockade: incidence, assessment, and relevance in the postoperative period. Minerva Anestesiol. 2006; 72: 97-109. 19. Gaudreau D, Gagnon P, Harel F, Tremblay, Roy MA. Fast, systematic, and continuous delirium assessment in hospitalized patients: the nursing delirium screening scale. J Pain Symptom Manage. 2005; 29: 368-75. 20. Murphy S, Szokol W, Marymont H, Greenberg SB, Avram MJ, Vender JS, et al. Intraoperative acceleromyographic monitoring reduces the risk of residual neuromuscular blockade and adverse respiratory events in the postanesthesia care unit. Anesthesiology. 2008; 109: 389-98. 21. Abrishami A, Khajehdehi A, Chung F. A systematic review of screening questionnaires for obstructive sleep apnea. Can J Anaesth. 2010; 57: 423-38. 22. Ramachandran K, Kheterpal S, Consens F, Shanks A, Doherty TM, Morris M, et al. Derivation and validation of a simple perioperative sleep apnea prediction score. Anesth Analg. 2010; 110: 1007-15. 23. Tishler V, Larkin K, Schluchter D, Redline S. Incidence of sleep-disordered breathing in an urban adult population: the relative importance of risk factors in the development of sleep-disordered breathing. JAMA. 2003; 289: 2230-7. 24. Hung J, Whitford G, Hillman D, Parsons R. Association of sleep apnea with myocardial infarction in men. Lancet. 1990; 336: 261-4. 25. Gottlieb J, Yenokyan G, Newman B, Connor G, Punjabi N, Quan S, et al. Prospective study of obstructive sleep apnea and incident coronary heart disease and heart failure: the sleep heart health study. Circulation. 2010; 122: 352-60. 26. Peppard E, Young T, Palta M, Skatrud J. Prospective study of the association between sleep-disordered breathing and hypertension. N Engl J Med. 2000; 342: 1378-84. 27. Nieto J, Young B, Lind K, Shahar E, Samet J, Redline S, et al. Association of sleep-disordered breathing, sleep apnea, and hypertension in a large community-based study. Sleep Heart Health Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono e complicações respiratórias pós-operatórias Study. JAMA. 2000; 283: 1829-36. 28. Ohayon M, Guilleminault C, Priest G, Zulley J, Smirne S. Is sleep-disordered breathing an independent risk factor for hypertension in the general population (13,057 subjects)? J Psychosom Res. 2000; 48: 593-601. 29. Coughlin R, Mawdsley L, Mugarza AJ, Cavereley PM, Wilding JP. Obstructive sleep apnoea is independently associated with an increased prevalence of metabolic syndrome. Eur Heart J. 2004; 25: 735-41. 30. Ballantyne H, Svahn J, Capella F, Capella JF, Wasielewski A, et al. Predictors of prolonged hospital stay following open and laparoscopic gastric bypass for morbid obesity: body mass index, length of surgery, sleep apnea, asthma, and the metabolic syndrome. Obes Surg. 2004; 14: 1042-50. 31. Liu S, Chisholm F, Ngeow J, John RS, Shaw P, Ma Y et al. Postoperative hypoxemia in orthopedic patients with obstructive sleep apnea. HSS J. 2011; 7: 2-8. 32. Gaszynski T, Szewczyk T, Gaszynski W. Randomized comparison of sugammadex and neostigmine for reversal of rocuronium-induced muscle relaxation in morbidly obese undergoing general anaesthesia. Br J Anaesth. 2012; 108: 236-9. 33. Liao P, Yegneswaran B, Vairavanathan S, Zilberman P, Chung F. Postoperative complications in patients with obstructive sleep apnea: a retrospective matched cohort study. Can J Anaesth. 2009; 56: 819-28. 34. Chung F, Ward B, Ho J, Yuan H, Kayumov L, Shapiro C. Preoperative identification of sleep apnea risk in elective surgical patients, Apêndice: Inquérito STOP-BANG 1. Ressona alto (mais alto do que quando fala ou suficientemente elevado para ser ouvido através de uma porta fechada)? Sim Não 2. Sente-se frequentemente cansado, fatigado, ou sonolento durante o dia? Sim Não 3. Já alguém o observou uma pausa respiratória durante o seu sono? Sim Não 4. Tem antecedentes de HTA ou está a ser tratado para HTA? Sim Não 5. Tem IMC >35kg/m2? Sim Não using the Berlin questionnaire. J Clin Anesth. 2007; 19: 130-4. 6. Tem idade >50 anos? Sim Não 7. Tem um perímetro cervical >40cm? Sim Não 8. Género Masculino? Sim Não Risco elevado de SAOS: resposta afirmativa ≥3 itens Risco baixo de SAOS: resposta afirmativa <3 itens. Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 73 Artigo de Revisão // Review VIA AÉREA EM OBSTETRÍCIA Anabela Marques ¹, Joana Carvalhas ² Palavras-chave: - Abordagem da Via Aérea; - Algoritmo; - Intubação Endotraqueal ; - Obstetrícia Resumo A abordagem da via aérea na população obstétrica continua a ser um verdadeiro desafio para o anestesiologista por várias razões. As alterações anatómicas e fisiológicas associadas à gravidez são responsáveis pelo desenvolvimento rápido de hipoxemia em caso de apneia. Existe ainda risco aumentado de regurgitação e aspiração do conteúdo gástrico. As situações de urgência ou emergência em obstetrícia aumentam o risco de dificuldade na abordagem na via aérea, em doentes já potencialmente portadores de via aérea difícil. A evolução da prática anestésica, com o aumento no recurso à anestesia/ analgesia regional, entre outros condicionantes, tem vindo a limitar a manutenção das aptidões em intubação endotraqueal na população obstétrica. Para limitar o risco de via aérea difícil nesta população é importante conceder prioridade à anestesia regional e efetuar uma avaliação cuidadosa da via aérea, no sentido de detetar as situações previsivelmente difíceis. A existência de material adequado e algoritmos de via aérea difícil é essencial nas unidades obstétricas. O treino através das técnicas de simulação assume um papel de grande interesse para o aperfeiçoamento e manutenção das competências neste contexto particular. O nosso objetivo com este artigo é realizar uma revisão sobre os problemas associados à gestão da via aérea na população obstétrica, em função da evolução recente das práticas em anestesia obstétrica, e propor um algoritmo de via aérea difícil em obstetrícia. AIRWAY MANAGEMENT IN OBSTETRICs Anabela Marques ¹, Joana Carvalhas ² Keywords: - Airway Management; - Algorithms; - Intubation, Intratracheal; - Obstetrics Summary Airway management in obstetrics remains a true challenge for several reasons. The anatomical and physiological modifications related to pregnancy are responsible for hypoxemia as well as an increase of the risk of inhalation of gastric contents. The emergency context increases the risks of difficulties with airway management, which justify the classification of the obstetric population as potential difficult airway. The evolution of the practices, with the considerable rise of the regional analgesia/anesthesia limits the training and the maintenance of competences for intratracheal intubation in obstetrics. For limiting the risk of difficult airway on this population is important to give priority to regional analgesia/anesthesia and perform a careful evaluation of the predictive criteria of difficult intubation or ventilation. The adapted material and algorithm for difficult intubation must be available in the labor wards and operatory rooms. The training per simulation appears particularly interesting on the subject. Our objective with this article is reviewing problems related to the airway management in obstetrics, taking into account the recent evolutions and propose an obstetric failed intubation algorithm. ¹ Interna de Anestesiologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Portugal ² Assistente Hospitalar Graduada em Anestesiologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Portugal Na população obstétrica, a gestão da via aérea (VA) continua a ser um verdadeiro desafio para o Anestesiologista por várias ordens de razões. As alterações anatómicas e fisiológicas relacionadas com a gravidez são responsáveis por alterações hemodinâmicas e ventilatórias, tornando a abordagem da via aérea particularmente crítica, com risco aumentado para mãe e recém-nascido. A incapacidade de intubar a traqueia e/ou proporcionar 74 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 a adequada ventilação é a principal causa de morte materna relacionada com a anestesia e a sexta causa de mortalidade materna nos Estados Unidos da América.¹-3 Por outro lado, é consensual entre os profissionais de saúde, que as situações emergentes potenciam o stress das equipas aumentando o risco de desenvolvimento e associação de complicações. A mortalidade materna é um indicador importante dos cuidados de saúde de um País, mas sendo um evento tão raro, não nos podemos basear na sua incidência para alterar comportamentos ou atitudes. Em pleno século XXI e no mundo desenvolvido, temos de pensar, antes de mais, que a mortalidade materna possa refletir a qualidade da prática anestesiológica. A evolução da prática clínica com o aumento considerável VIA AÉREA EM OBSTETRÍCIA das técnicas anestésicas regionais tem vindo a limitar o treino na abordagem da via aérea em obstetrícia.⁴ Mas o anestesiologista deve compreender que a anestesia regional não exclui o problema de uma via aérea potencialmente difícil mantendo sempre presente a possibilidade de uma emergência ou de complicações da anestesia regional (bloqueio não conseguido, bloqueio alto, toxicidade dos anestésicos locais) e estar preparado, técnica e psicologicamente, para a necessidade de intubação traqueal.²,⁵-⁸ O conhecimento destes factos e a preocupação permanente pelas questões de segurança fazem com que os Anestesiologistas tenham a consciência que devem possuir aptidões e condições para a gestão da via aérea em obstetrícia. A correta abordagem da via aérea não se confina ao momento em que estamos efetivamente a ventilar ou a intubar, assentando exclusivamente nas aptidões do Anestesiologista. A gestão da via aérea deverá ser muitíssimo mais abrangente. Deverá ser da superior responsabilidade dos serviços de anestesiologia e obstetrícia, que deverão desenvolver protocolos, algoritmos e programas de treino regular a todos os profissionais das unidades obstétricas. 1. MODIFICAÇÕES ANATÓMICAS E FISIOLÓGICAS INDUZIDAS PELA GRAVIDEZ Mas quais são objetivamente as diferenças da via aérea da população obstétrica? São inúmeras as referências na literatura indicando que a gestão da via aérea, em particular a intubação endotraqueal (IET), é mais problemática na mulher grávida, a partir das 16 semanas, comparativamente à mulher não grávida.9,10 Alguns fatores anatómicos e fisiológicos associados à gravidez explicam o risco aumentado de complicações na abordagem da via aérea (Tabela 1). Durante a gravidez ocorre um aumento significativo da água corporal total devido aos níveis aumentados de progesterona. Mesmo as grávidas saudáveis apresentam edema generalizado, embora este não seja clinicamente observável na maioria dos casos.² Por outro lado, ao edema associa-se o habitual aumento de peso com deposição localizada de gordura, o que causa diminuição da mobilidade dos tecidos moles. Durante a gravidez verifica-se um aumento substancial do tecido mamário. Na posição supina, a mama cai sobre o pescoço dificultando a inserção do laringoscópio.² Também ocorre hipertrofia da glândula tiroide devido à hiperplasia folicular e aumento da sua vascularização. Observa-se um aumento de 50 % dos níveis de T3 e T4 conduzindo a um hipertiroidismo subclínico em 1,7 % dos casos.¹¹ A nível do trato respiratório superior observa-se ingurgitamento vascular durante a gravidez, originando aumento do tamanho da língua, edema da naso e orofaringe, laringe e traqueia.⁷,¹²,¹³ Estas alterações fisiológicas causam frequentemente dificuldade em respirar pelo nariz, epistaxe e alterações na voz, bem como podem explicar a grande incidência de hemorragia na orofaringe pela manipulação da via aérea. ² Todas as alterações descritas podem tornar ventilação com máscara na grávida difícil, particularmente se obesa.¹⁴ Para além disto a laringoscopia torna-se um verdadeiro desafio, sendo muito difícil ou impossível a visualização da laringe.¹⁵ A passagem do tubo endotraqueal pode também estar dificultada devendo ser utilizado um tubo de lúmen inferior ao habitual com um condutor. A mulher grávida está sujeita a um desenvolvimento precoce de hipoxemia durante períodos de hipoventilação e apneia, essencialmente devido às alterações na dinâmica respiratória associada à gravidez - diminuição da capacidade residual funcional (CRF) e ao aumento no consumo de oxigénio materno.¹⁶ Este é devido ao aumento nas necessidades metabólicas maternas e fetais bem como ao aumento do trabalho respiratório. Devido ao ambiente hormonal, a grávida apresenta uma redução do tónus do esfíncter esofágico inferior (EEI), aumento do volume gástrico e redução do pH gástrico. Deste modo todas as grávidas, a partir das 16 semanas de gestação, devem ser consideradas como tendo estômago cheio e com risco aumentado para regurgitação e aspiração do conteúdo gástrico.² Aproximadamente em 12-15 % das grávidas de termo, sobretudo após as 20 semanas, o útero comprime a veia cava inferior e a aorta na posição supina, causando diminuição do retorno venoso, do débito cardíaco, da pressão arterial e do fluxo sanguíneo uterino.¹¹ A nível do SNC, a gravidez condiciona uma diminuição da concentração alveolar mínima (CAM) dos anestésicos inalatórios. Os efeitos sedativos produzidos pela progesterona são parcialmente responsáveis por esta alteração. Esta depressão do SNC pode alterar os reflexos protetores da via aérea, aumentado o risco de aspiração pulmonar. Na mulher grávida o tecido nervoso tem maior sensibilidade aos anestésicos locais, daí se usarem concentrações mais baixas nesta população. Todas as alterações próprias da gravidez, à exceção das provocadas pela compressão do útero grávido, permanecem até 2 a 3 semanas após o parto. Este fato é muitas vezes subvalorizado quando as puérperas necessitam de ser anestesiadas, como por exemplo em curetagens ou laqueação tubar, e não se tomam as precauções habituais, como as que se têm para a cesariana. Tabela 1 - Impacto das modificações anátomo-fisiológicas da gravidez na gestão da via aérea Modificações anatómicas e fisiológicas Impacto clínico Aumento do consumo de oxigénio Dessaturação /hipoxemia precoce Redução da CRF Dessaturação /hipoxemia precoce, denitrogenação rápida Retenção hidrossalina Redução do diâmetro faríngeo-laríngeo Ingurgitamento vascular da naso e orofaringe Hemorragia/diminuição da visibilidade da via aérea Diminuição do tónus do EEI Risco de regurgitação e aspiração pulmonar, volume gástrico aumentado pH gástrico diminuído Risco de regurgitação e aspiração pulmonar, gravidade de lesão pulmonar (em caso de aspiração) CRF - Capacidade Residual Funcional; EEI - Esfíncter Esofágico Inferior Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 75 VIA AÉREA EM OBSTETRÍCIA 2. PATOLOGIAS ASSOCIADAS À GRAVIDEZ QUE CONDICIONAM AUMENTO DO RISCO NA GESTÃO DA VIA AÉREA O aumento de peso é uma das alterações fisiológicas associadas à gravidez. Não existe uma definição clara para a obesidade, segundo o índice de massa corporal (IMC), durante a gravidez.¹⁵ Os últimos relatórios da Centre for Maternal and Child Enquiries (CMACE) identificaram a obesidade como um fator de risco independente para mortalidade materna. Mais de metade das mulheres que faleceram tinha excesso de peso.¹,¹⁵ A obesidade materna aumenta o risco de desenvolvimento de patologias durante a gravidez (hipertensão arterial, tromboembolismo, diabetes gestacional ou cardiomiopatia peri-parto) bem como o desenvolvimento de complicações durante o trabalho de parto (sofrimento fetal, aspiração de mecónio, não progressão do trabalho de parto). Estes fatores são altamente preditivos da necessidade de partos instrumentados ou de cesariana.¹⁵ Por outro lado, as técnicas regionais são tecnicamente mais difíceis de realizar, pelo que a possibilidade de um bloqueio falhado e a necessidade de anestesia geral é superior. As alterações fisiológicas no sistema respiratório associadas à gravidez são agravadas pela obesidade. É o caso da diminuição da CRF que sofre um agravamento, podendo ser inferior ao volume de encerramento dos alvéolos dependentes quando a doente está em posição supina, como por exemplo na indução da anestesia geral.¹⁵ A atelectasia resultante, originando shunt intrapulmonar, proporciona rápido desenvolvimento de hipoxemia. O aumento de incidência de via aérea difícil (VAD) na grávida obesa resulta em risco aumentado de intubação difícil ou falhada, tornando-a uma má candidata à anestesia geral.¹⁵,¹⁷ Desta forma, obesidade e cesariana são fatores de risco independentes e cumulativos adicionáveis de morbilidade e mortalidade materna.¹⁵ Nas pacientes com pré-eclâmpsia observa-se uma diminuição do diâmetro anterior-posterior das vias aéreas superiores, devido ao edema da face, do pescoço e da língua, aumentando a possibilidade de dificuldade na gestão da via aérea, tanto durante a intubação como na extubação.⁹ Idealmente, os anestesistas devem ser informados precocemente de potenciais fontes de complicações como gravidez de alto-risco, comorbilidades graves, de modo a que a preparação prévia e abordagem anestésica adequadas, possam ser bem planeadas.¹⁵ 3. A VIA AÉREA NA POPULAÇÃO OBSTÉTRICA EM PERSPETIVA A via aérea na população obstétrica tem, desde há muito tempo, o respeito e receio dos Anestesiologistas pelo mundo inteiro.⁴ Nos Estados Unidos da América, na déca76 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 da de 50, estimou-se que o risco de morte na população obstétrica, por aspiração, era 1/42000 partos, resultando em cerca de 100 mortes por ano.¹⁸ Cientes do risco de aspiração e morte materna, ocorreu uma crescente preocupação pela obtenção de uma via aérea segura, profilaxia de aspiração pulmonar do conteúdo gástrico e crescente recurso à anestesia regional, resultando nas décadas seguintes num decréscimo importante da incidência de morte materna. Apesar do aumento da popularidade da anestesia regional, a anestesia geral para cesariana emergente continua a ser uma importante causa direta de mortalidade e morbilidade materna devido a dificuldades na gestão da via aérea. Desde 1979 que, no Reino Unido, os resultados publicados pela CMACE sobre causas diretas de mortalidade materna demonstram um maior risco da anestesia geral sobre a regional.¹⁵ Um estudo publicado por Hawkins e colegas chega à mesma conclusão nos Estados Unidos da América.¹⁹ Também a American Society of Anesthesiologists (ASA) conclui que a maioria das mortes maternas relacionada com a anestesia se deve à incapacidade para estabelecer ou manter uma via aérea segura durante a anestesia geral.²⁰ No mais recente relatório da CMACE- triénio 2006-2008, três mulheres faleceram por causas diretamente relacionadas com a gestão da via aérea, uma delas por perda de controlo da via aérea após indução de anestesia geral, outra por aspiração pulmonar de conteúdo gástrico na extubação e uma outra por perda da cânula de traqueostomia na unidade de cuidados intensivos.¹ Este relatório apela aos Anestesiologistas para orientarem também a sua atenção para a via aérea no pós-operatório. Esta perceção entre os Anestesiologistas e as equipas de enfermagem deve fazer aumentar os cuidados na extubação das doentes, com cumprimento de critérios para extubação segura e no reconhecimento precoce de sinais de dificuldade respiratória no pós-operatório, nomeadamente na unidade de cuidados intensivos pós-operatórios. 3.1. Evolução das práticas anestésicas Para uma correta abordagem do assunto que nos propomos rever, é necessário considerar as alterações na evolução da prática obstétrica nos últimos anos. Em França, um inquérito nacional perinatal sobre a evolução das práticas obstétricas entre 1998 e 2003, demonstra um claro aumento na taxa de cesariana, de 17,5 % para 20,2 % bem como uma diminuição ligeira dos partos espontâneos e assistidos.⁹ Este aumento da taxa de cesarianas faz-se sobretudo à custa das cesarianas eletivas, que atualmente englobam as chamadas "cesarianas a pedido", em função da necessidade de satisfação das grávidas. Acreditamos que, também, em Portugal se observa esta tendência. Em 2010 foi publicado um artigo sobre o estado da analgesia de trabalho de parto em Portugal onde se relata um aumento da realização de técnicas de analgesia regio- VIA AÉREA EM OBSTETRÍCIA nal nos últimos anos.²¹ No entanto, não encontramos dados relativos ao número de cesarianas e à sua proporção comparativamente aos partos vaginais. O aumento do número de cesarianas e a diminuição no número de anestesias gerais é uma tendência verificada igualmente no Reino Unido.²² Outra questão relevante é o aumento da taxa de gravidez, devido aos melhores cuidados de saúde, em mulheres com patologia associada grave que anteriormente não engravidavam. São exemplos as patologia autoimune, neurológica, infeciosa, neuromuscular, e os status pós- transplante e pós-quimioterapia. No âmbito da Anestesiologia, observou-se uma alteração substancial nos métodos de analgesia de trabalho de parto. Em Portugal, no ano de 2010, a taxa média de analgesia para trabalho de parto foi de 63,9 %.²¹ As técnicas utilizadas foram maioritariamente a analgesia epidural (92 %), seguida da combinada do neuro-eixo (7 %), a subaracnoideia (0,4 %) e finalmente a endovenosa (0,3 %).²¹ Em França, num trabalho relativo aos anos 1998-2003, constata-se que a percentagem de grávidas submetidas a analgesia epidural passou de 58 % para 62,6 %, e a subaracnoideia de 8,5 % para 12,3 %. A anestesia geral acompanha o referido decréscimo, cerca de 1,7 % das grávidas.⁹ Apesar do número de anestesias gerais na prática anestésica em obstetrícia ter diminuído nas últimas décadas, o seu uso para cesariana emergente não se alterou.²³,²⁴ As indicações da anestesia geral reduzem-se às contraindicações da anestesia regional ou situações de extrema urgência nas quais está recomendada a extração fetal imediata, não sendo possível esperar o tempo necessário para a execução e instalação do bloqueio anestésico, de uma técnica regional.⁹,¹⁹,²⁵,²⁶ Algumas situações obstétricas em que a anestesia geral continua a ser sugerida são: bradicardia fetal grave, hemorragia materna severa, placenta abruptio, rotura uterina e eclâmpsia.²⁵ Para além do risco inerente à cesariana, o risco associado à anestesia geral é superior ao da anestesia regional.¹,¹⁹ Assim os Anestesiologistas devem fazer com que os obstetras percebam, e também assumam o risco associado a uma cesariana emergente sob anestesia geral. A forte diminuição na prática da anestesia geral implica que a aquisição e manutenção de aptidões e a transmissão de boas práticas aos mais jovens seja difícil.⁹,¹⁷ Um trabalho oriundo do Reino Unido, concluiu que, em média, o interno de anestesia durante o seu período de formação, diminuiu a sua participação em anestesias gerais de 18 para apenas 4.²⁷ O trabalho de equipa com colaboração interdisciplinar efetiva e a comunicação assertiva e eficaz, agilizam a prestação de cuidados à grávida e podem melhorar o outcome.¹ Uma vez mais, o relatório da CMACE aponta falhas graves de comunicação entre os profissionais de saúde em casos de mulheres tratadas de forma inadequada e que acabaram por falecer.¹ Para responder a estas problemáticas emergentes, o treino e aprendizagem através das técnicas de simulação assume um papel de grande interesse para o aperfeiçoamento das competências (técnicas e não técnicas) neste contexto particular.⁴,²⁸ São muitas as organizações e sociedades científicas que recomendam este treino de forma regular.¹,²⁹ 3.2. Incidência de intubação difícil e intubação impossível As definições de intubação difícil (ID) e intubação impossível (II) sofrem variações na literatura científica. Classicamente, define-se que uma intubação é difícil quando é necessário mais do que duas laringoscopias ou uso de outra técnica para intubação, após otimização da posição da cabeça, com ou sem manipulação externa da laringe.⁹ Também pode ser usada a definição através da classificação Cormack-Lehane - grau III e IV.⁹,³⁰ Esta não é, no entanto, representativa da dificuldade da laringoscopia, bem como não tem em consideração alguns problemas na intubação tais como obstáculos glóticos ou sub-glóticos, problemas frequentemente encontrados na obstetrícia.⁹ Geralmente refere-se que a incidência da II na população obstétrica é oito vezes superior à população geral.³¹ Está atualmente estimada em 1/280 comparativamente a uma incidência de 1/3000 na população geral.⁹,²²,³² 4. GESTÃO DA VIA AÉREA EM OBSTETRÍCIA 4.1. Avaliação da via aérea em obstetrícia A avaliação adequada da via aérea previamente a qualquer procedimento analgésico ou anestésico, na grávida é essencial.³³ Uma avaliação completa pode ser realizada rapidamente, em cerca de 2 minutos.³³ Esta deve incluir: a classificação de Mallampati, a abertura da boca, a dentição (incisivos proeminentes, falhas dentárias), a distância tiromentoniana (DTM), a distância esternomentoniana (DEM), o diâmetro do pescoço, a presença de obesidade e edema facial, a flexão do pescoço e a extensão da articulação atlanto-occipital.9,10,33 Algumas condições congénitas ou adquiridas também devem ser levadas em conta por poderem contribuir para uma via aérea difícil, como a neurofibromatose ou a pré-eclâmpsia, respectivamente.³³ Uma vez que a incidência de ID ou II é globalmente baixa, os testes que avaliam a via aérea têm um baixo valor preditivo positivo quando aplicados a uma população restrita de doentes, como a população obstétrica.¹⁰,³⁴,³⁵ Contudo a presença de alguns testes negativos tais como Mallampati I ou II é tranquilizante.10 Rocke e colegas¹⁷ analisaram 1 500 cesarianas sob anestesia geral, procurando determinar fatores preditivos de VAD. Concluíram que a classificação de Mallampati, a obesidade, o pescoço curto, o retrognatismo mandibular e o edema da face e língua são fatores com relação positiva. Neste estudo a dificuldade de visualização das estruturas orofaríngeas (classifiRev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 77 VIA AÉREA EM OBSTETRÍCIA cação de Mallampati) foi o fator mais fortemente associado a dificuldade de intubação oro-traqueal. O risco relativo de VAD foi de 3.2 para classe II de Mallampati, 7.6 para classe III e 11.3 para classe IV. Verificaram também que a probabilidade de ID aumenta dramaticamente com a presença concomitante dos fatores referidos. Outros autores concluem que os sinais preditivos de VAD incluem a abertura da boca inferior a 35 mm, classificação de Mallampati superior a II e a DTM inferior a 65 mm.⁹ Existe, também, um agravamento de classe de Mallampati durante a gravidez. Pilkington e colegas³⁶ avaliaram a via aérea de mulheres grávidas às 12 e 38 semanas de gravidez. A incidência da classe IV aumentou 34 % entre os dois períodos.³⁶ Mais curioso ainda, é a possibilidade de um agravamento da classificação de Mallampati durante o trabalho de parto, que pode perdurar até 48 horas pós-parto.37,38Este fato, entre outros, fundamenta a necessidade da presença do Anestesiologista na sala de partos para o acompanhamento regular das parturientes de risco. Os obstetras devem também estar atentos a sinais de via aérea difícil e referenciá-los à Anestesiologia de modo a programar o parto. Nestes casos, e sobretudo se a probabilidade de cesariana é grande, a colocação precoce de um cateter epidural é crucial. Deste modo, praticamente se excluiu a necessidade de anestesia geral com o inerente manuseamento da via aérea e, consequentemente, qualquer catástrofe neste domínio. da bomba de protões. A associação antiácido/antagonista-H2 é mais eficaz que o uso isolado de antiácidos. No entanto, nenhum estudo concluiu uma redução do risco de aspiração pelo uso da associação.³⁹ A European Society of Anaesthesiology recomenda que a todas as grávidas submetidas a cesariana eletiva deve ser administrado antagonista-H (ranitidina 150 mg) ou inibidores da bomba de protões (omeprazol 40 mg) na noite da véspera e na indução da anestesia. A administração concomitante de procinético (metoclopramida 10 mg) deve também ser considerada.⁴⁰ No caso de cesariana emergente sob anestesia regional deve ser administrado antagonista-H2 endovenoso (ranitidina 50 mg) no momento da decisão cirúrgica bem como considerar a sua administração, por via oral, em pacientes de risco durante o trabalho de parto. Todas as grávidas submetidas a cesariana emergente sob anestesia geral devem ser submetidas a profilaxia dupla com antagonista-H2 endovenoso e antiácido oral (30 mL de citrato de sódio a 0.3M) previamente à indução anestésica (Tabela 2).⁴⁰ Tabela 2 - Estratégias para prevenir a aspiração de conteúdo gástrico Aumentar o recurso à anestesia regional Melhorar e manter as aptidões dos profissionais Implementar algoritmo de VAD obstétrica Ter uma mala/carro de VAD disponível Cumprir regime de jejum (2h para líquidos claros ou sumos sem polpa, 6h para sólidos) ⁴⁰ Cumprir terapêutica para profilaxia de aspiração 4.2. Prevenção da aspiração do conteúdo gástrico Indução de sequência rápida Extubação com a doente “acordada” A anestesia regional é a melhor opção para anestesia em cesariana, sobretudo em casos de via aérea previsivelmente difícil.² Ao permitir que a mãe esteja acordada, diminuem todos os riscos associados à manipulação da via aérea. As únicas contraindicações absolutas à anestesia regional são a coagulopatia e a recusa do doente.³³ Como referimos anteriormente, a partir das 16 semanas de gestação a grávida deve ser sempre considerada “estômago cheio”. Para diminuir a incidência e/ou as sequelas da aspiração pulmonar do conteúdo gástrico, está amplamente recomendado um regime profilático para neutralizar ou minimizar a acidez e volume gástrico, prévio a qualquer procedimento cirúrgico, obstétrico ou não.⁹,²⁵,²⁶,³⁹,⁴⁰ Este pode ser constituído por diferentes classes de fármacos: antiácidos não particulados, inibidores da bomba de protões (IBP), antagonistas-H2 e procinéticos.³⁹ O antiácido não particulado mais utilizado é o citrato de sódio (30 mL a 0.3M) que eleva o pH gástrico mas aumenta o volume gástrico. Os inibidores da bomba de protões (por exemplo, o omeprazol) aumentam o pH gástrico e bloqueiam a produção de ácido. Os antagonistas-H2, como a cimetidina ou ranitidina, elevam o pH gástrico e reduzem o volume gástrico, ao bloquear a secreção de ácido pelo estômago. Os procinéticos, como a metoclopramida, aceleram o esvaziamento gástrico e diminuem o volume gástrico, secundariamente não têm, no entanto, qualquer efeito no pH. Os antiácidos são mais eficazes que os antagonistas-H2 na elevação do pH que, por sua vez, são mais eficazes que os inibidores 78 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 4.3. Intubação endotraqueal na população obstétrica Para a abordagem da via aérea o posicionamento é determinante. O pescoço deve estar fletido a nível da junção cervico-torácica e estendido a nível da articulação atlanto-occipital. Almofadas corretamente posicionadas ajudam a conseguir esta posição ao alinhar os eixos anatómicos.⁴¹ A elevação da cabeça e ligeiro proclive (25º), posição conhecida como ”sniffing the London morning air” tem vários benefícios: melhora a oxigenação, mantém a capacidade residual funcional e evita a queda do tecido mamário sobre o pescoço. Para a técnica de denitrogenação, idealmente é recomendado pelo menos 3 minutos de ventilação com Fi02 a 100 %. Se o tempo é limitado, quatro inspirações máximas (capacidade vital) em 30 segundos ou oito inspirações máximas em 60 segundos.³³,⁴²,⁴³ Um ajudante deve estar posicionado, no lado esquerdo, para a manobra de Sellick no início da indução e aplicá-la totalmente quando a doente perder os reflexos. A inserção e o manuseamento do laringoscópio podem ser difíceis devido ao deficiente posicionamento da doente, ao aumento do diâmetro torácico, tamanho das mamas e manobra de Sellick inadequadamente realizada.³³ Assim o laringoscópio de cabo curto deve fazer parte da VIA AÉREA EM OBSTETRÍCIA mala/carro de VAD presente no bloco operatório de obstetrícia.⁶ Surpreendentemente, não encontrámos qualquer estudo sugerindo qual a lâmina de laringoscópio mais adequada. A recomendação atual recai na escolha daquela com a qual o Anestesiologista está mais familiarizado³³, embora nos pareça que uma lâmina de McCoy® possa ser útil em muitas situações. Os novos vídeo-laringoscópios demonstraram diminuir o tempo até à intubação endotraqueal quando comparados com a tradicional laringoscopia direta, apesar da curva de aprendizagem ser demorada. Existem descrições de casos clínicos e pequenas séries com a utilização de Airtraq ®e GlideScope® em Obstetrícia,²² e apesar de a sua aplicação nesta população ser ainda limitada, alguns advogam a sua utilização como primeira opção para a laringoscopia.13,44 Em suma, a dificuldade mais comum é a visualização da glote, que se deve ao difícil manuseamento do laringoscópio e/ou ao obstáculo provocado pelos tecidos moles a nível da boca e faringe. O Anestesiologista deverá identificar qual a dificuldade, introduzir a alternativa apropriada para a contornar, e tentar concretizar a intubação numa segunda tentativa. É importante relembrar que durante a manipulação da via aérea, é grande a probabilidade de hemorragia e de agravamento do edema, o que dificultará ainda mais a visualização da glote e a ventilação através de máscara facial e/ou através de máscara laríngea (MLA). É essencial a verificação de todo o equipamento e fármacos antes de qualquer procedimento anestésico/analgésico, seja geral ou regional.³³ Adjuntos da via aérea e material de VAD, tais como máscaras laríngeas, estiletes, gum-elastic-bougie, fibroscópio e kit de cricotiroidotomia devem estar rapidamente disponíveis (Tabela 3). Tabela 3 - Estratégias para prevenir a intubação falhada Avaliação pré-operatória Posicionamento pré-indução Pré-oxigenação criteriosa Usar o laringoscópio/lâmina preferido Guiar o ajudante na manobra de Sellick Usar um TET de menor diâmetro (nº 6.5-7.0) com condutor Utilização obrigatória de ETCO2 para confirmar IET Ter uma mala/carro de VAD disponível Implementar algoritmo de VAD obstétrica IET - Intubação Endotraqueal; TET - Tubo Endotraqueal 5. ALGORITMOS DE VIA AÉREA DIFÍCIL O stress psicológico envolvendo a via aérea em obstetrícia foi largamente ignorado durante anos. No entanto, as situações de emergência em obstetrícia são mais frequentes do que em outras áreas da medicina, estando não uma, mas duas ou mais vidas em risco: a mãe e o(s) bebé(s). O medo, a inexperiência na abordagem da via aérea e a rapidez em que ocorrem alterações respiratórias perante a incapacidade de ventilação eficaz, precipitam momentos de stress, que têm o potencial de influenciar o comportamento e o discernimento do Anestesiologista. Assim, é essencial para as instituições com serviços de Anestesiologia e Obstetrícia a existência de um algoritmo de via aérea difícil e falhada.1,9,14,43,45,46 Este deve ser adaptado às particularidades da instituição, facilmente compreensível, aceite e treinado regularmente pelas equipas. Paralelamente ao algoritmo, é fortemente aconselhável que exista também um carro/mala de material de VAD. Estas medidas, em conjunto, minimizam o stress do Anestesiologista e preparam a equipa para a abordagem eficiente da VAD.³³ 5.1. Algoritmo da via aérea difícil da ASA O algoritmo da ASA para via aérea difícil é uma abordagem estandardizada para VAD utilizada em todo o mundo e todos os Anestesiologistas devem memorizar este valioso recurso.⁴⁶ Este algoritmo visa, globalmente, diminuir a morbilidade e mortalidade associada à VAD. No entanto, para a população obstétrica necessita de adaptações como, por exemplo, a maior incidência de emergências comparativamente a situações eletivas; a utilização sistemática de indução de sequência rápida; e a necessidade de ter em conta o estado da mãe, do feto bem como as alterações fisiológicas inerentes. A utilização de máscaras laríngeas como resgate da via aérea tem sido muito bem aceite, foi integrado no algoritmo da ASA e, certamente, deverão também integrar um algoritmo de VAD em Obstetrícia. Foram publicados numerosos casos clínicos descrevendo o uso eficaz da MLA ProSeal® como via aérea de resgate⁴⁷-⁵¹ e até de suporte ventilatório pós-operatório⁵⁰ em intubações falhadas durante cesarianas emergentes. Também existem casos descrevendo o uso eficaz de MLA Clássica,⁵² -⁵⁴ MLA Fastrach®,55-57 Combitube®,58 Tubo Laríngeo⁵⁹ e Airtraq®,44 em situações de abordagem falhada da via aérea. O uso da MLA Clássica não é, por alguns, recomendado devido à elevada pressão na via aérea que pode ser necessária, para ventilação com volumes adequados, aumentando o risco de aspiração.⁵¹ A LMA ProSeal®, com uma selagem superior da orofaringe (> 10 cmH20) quando comparada com a LMA clássica, oferece melhor capacidade de ventilação e diminuição do risco de aspiração. Também possibilita a colocação de uma sonda para drenagem do conteúdo gástrico. Está descrito, no entanto, pelo menos um caso de aspiração de conteúdo gástrico com a LMA ProSeal®, devido a mau posicionamento.⁵¹ A MLA Fastrach®, ao permitir a intubação endotraqueal, tem essa vantagem comparativamente aos outros dispositivos. Na população geral, a percentagem de intubação bem-sucedida na primeira tentativa é de 85 %, podendo atingir Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 79 VIA AÉREA EM OBSTETRÍCIA os 100 % nas tentativas seguintes,⁵⁷ mas desconhece-se o sucesso da intubação através deste dispositivo em obstetrícia. Não existem recomendações sobre qual o dispositivo extraglótico (DEG) mais adequado, dada a escassez de estudos randomizados que avalie a sua eficácia e segurança neste contexto.¹⁵ Deve realçar-se a importância de manter a oxigenação nestes contextos críticos, que deverá sempre sobrevalorizar-se e sobrepor-se às tentativas de intubação. Cabe aqui referir de novo o relatório CMACE - 2006-2008, no qual se descreve uma das mortes por problemas da via aérea, que envolveu múltiplas tentativas de intubação, mesmo após se verificar ventilação adequada com máscara laríngea.¹ Não podemos deixar de referir um estudo publicado por Han et al⁵⁴ sobre a utilização da LMA clássica em 1067 cesarianas eletivas, concluindo que o seu uso é eficaz e provavelmente seguro numa população selecionada, neste caso parturientes ASA I e II. Para alguns autores esta solução é inaceitável.⁴⁵ No nosso entender, a estratégia mais adequada talvez seja a de cada instituição disponibilizar os dispositivos mais familiares e consensuais entre os Anestesiologistas e que, de igual modo, sejam esses os dispositivos preconizados no algoritmo de VAD da mesma unidade obstétrica. Para além destas medidas, é igualmente fundamental que os profissionais treinem regularmente a utilização do equipamento e do algoritmo para manterem as aptidões na sua aplicação em emergência. A utilização de um destes dispositivos, pela primeira vez, numa situação de abordagem falhada da via aérea em obstetrícia, está condenada ao fracasso.⁴⁶ É completamente desaconselhado que exista uma parafernália de gadgets de via aérea, que numa situação crítica só servirão para confundir e atrasar a decisão sobre qual o dispositivo a usar. Biro e colegas⁴⁵ propõem a abordagem da VAD em Obstetrícia através de um fluxograma linear muito simples com apenas 3 a 4 degraus e um carro de via aérea com as equivalentes 3 a 4 gavetas. Este autor defende veementemente que a escolha das técnicas e do equipamento a constar em cada degrau é o menos importante. A adesão e a familiarização ao protocolo e ao carro; a acessibilidade e o treino dos profissionais são os aspetos mais importantes para o sucesso na gestão da VAD em obstetrícia.⁴⁵ 5.2. Algoritmo de via aérea difícil obstétrica O Anestesiologista deverá ter um plano curto e conciso para a gestão de uma intubação difícil ou falhada em obstetrícia. Na literatura encontramos alguns algoritmos propostos mas, na sua maioria, são complicados na tentativa de abranger todas as contingências.6,33,60,61 São baseados em compilações de casos clínicos e não existe evidência da sua eficácia.³³ Até ao momento nenhuma entidade ou organização de anestesia ou obstetrícia apresentou guidelines baseadas em evidência para a gestão da VAD em 80 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 obstetrícia. Como já referimos, o algoritmo deve ser simples, consensual, adaptado às caraterísticas da instituição e dos profissionais de saúde, e ser treinado frequentemente por toda a equipa. Com base em toda a literatura consultada propomos um algoritmo de VAD obstétrica. Consensualmente, a abordagem inicial deve ter sempre em conta o estado clínico materno-fetal e a avaliação da via aérea da mulher, que já descrevemos detalhadamente. Assim, o Anestesiologista deve decidir se estamos perante uma via aérea difícil, porque a gestão de uma VAD previsível é mais simples e menos arriscada do que uma VAD não previsível.³³ 5.2.1. Via aérea difícil previsível Se a avaliação da via aérea indica uma VAD, a melhor opção será a anestesia regional ou uma intubação com a doente acordada. A escolha passa por uma técnica não-cirúrgica ou cirúrgica, sendo que esta última tem utilidade limitada em obstetrícia (foram publicados dois casos clínicos de traqueotomia prévia à cesariana).³³ Entre as técnicas não-cirúrgicas para intubação acordada podemos optar pela fibroscopia ou pela intubação apenas com anestesia local. Neste caso, o anestesiologista pode utilizar uma série de recursos que podem facilitar a intubação: vídeolaringoscópios, MLA Fastrach®, estiletes ópticos e estiletes luminosos.²²,⁴⁵ Não é do âmbito desta revisão a descrição detalhada destas técnicas. 5.2.2. Via aérea difícil não previsível Na anestesia geral em obstetrícia está recomendada a indução de sequência rápida, pelo risco de aspiração. Esta circunstância coloca o Anestesiologista numa terrível insegurança, pois desconhece se a ventilação com máscara será eficaz, antes da laringoscopia e tentativa de intubação. Perante a constatação de uma VAD é obrigatório pedir ajuda²² e declarar a gravidade da situação à equipa. Os minutos seguintes são determinantes e podem influenciar o outcome de mãe e filho.⁴⁶ Quando a intubação é difícil, quer seja por laringoscopia difícil ou tentativa de intubação falhada, a prioridade é manter a oxigenação com a ventilação através da máscara facial.³³,⁴⁶ Neste caso o dilema passa por acordar ou não a doente, sendo essencial partilhar a decisão com a equipa obstétrica. Esta deve entender os riscos inerentes às opções anestésicas, definindo objetivamente a urgência da extração fetal. Entretanto, deve manter-se a pressão na cricoide, po- VIA AÉREA EM OBSTETRÍCIA dendo ser aliviada na tentativa de otimizar a ventilação, mas para diminuir o risco de aspiração, alguns autores sugerem que a doente deve ser colocada em Trendelenburg antes de libertar a pressão na cricoide.⁶² Não podemos esquecer também a rotação lateral esquerda da mesa operatória ou elevação da anca direita (15-30°) para evitar a compressão aortocava. Nunca voltar a administrar relaxante muscular, em caso algum. 5.2.2.1. Ventilação adequada e cesariana não urgente Nestes casos deve manter-se a ventilação com máscara facial até que a doente retome a ventilação espontânea e a consciência. Posteriormente, a escolha está entre a anestesia regional ou uma técnica de intubação acordada.⁹,³³,⁴⁶ 5.2.2.2. Ventilação adequada e cesariana urgente Em caso de cesariana urgente/emergente com ventilação por máscara facial adequada, sugere-se uma nova tentativa de intubação, otimizada de acordo com as dificuldades encontradas (melhorar o posicionamento, trocar de cabo/lâmina, tubo mais pequeno, etc.). Este momento é descrito como best attempt intubation,⁴⁶ uma vez que devemos restringir as tentativas de intubação a duas.⁴⁶ O Anestesiologista pode optar por empregar a MLA Fastrach®, para esta segunda tentativa.⁴⁵ 5.2.2.3. Não ventila, não intuba e cesariana não urgente Nestes casos a prioridade é retomar a ventilação espontânea, acordar a doente e prosseguir como em 5.2.2.1. Contudo, é essencial manter a oxigenação. Apesar da ventilação com máscara não ser eficaz, devemos tentar melhorá-la recorrendo à ajuda de outro profissional treinado – ventilação a quatro mãos.⁴⁶,⁶³ Assim será possível fazer a manobra tripla (hiperextensão da cabeça, luxação da mandíbula e selagem ótima da máscara facial), enquanto outra pessoa ventila com o balão. Esta atuação conjunta pode melhorar a ventilação e manter uma oxigenação aceitável até a doente retomar a ventilação espontânea. Caso se instale hipoxemia deve-se de imediato proceder à colocação um dispositivo extraglótico: MLA Clássica®, MLA Proseal®, MLA Fastrach®, Combitube® ou Tubo Laríngeo. 5.2.2.4. Não ventila, não intuba e cesariana urgente Nesta situação o pressuposto descrito em 5.2.2.3 sobre otimizar a ventilação, mantém-se. Se ineficaz, é obrigatória a tentativa de colocação de um dispositivo extraglótico. Garantida a ventilação adequada inicia-se de imediato a cirurgia. Caso contrário a ventilação tem de ser assegurada através de uma abordagem cirúrgica da VA (cricotiroidotomia, traqueotomia ou jet ventilation transtraqueal). Mais uma vez a escolha deve basear-se no material disponibilizado pela instituição ou na experiência do anestesiologista/obstetra. Nestas circunstâncias, as decisões terão que ser muito rápidas. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar da evolução da prática anestésica ditar a diminuição da frequência de abordagem da via aérea, esta permanece absolutamente necessária nas emergências materno-fetais, nos insucessos e complicações da anestesia regional, e nas complicações obstétricas graves como a eclâmpsia ou o colapso cardiocirculatório. Assim a gestão adequada de uma VAD inesperada e da intubação traqueal falhada são aptidões fulcrais do anestesiologista envolvido na área obstétrica. Erros ou atrasos na sua abordagem podem ter consequências devastadoras para as famílias e para os profissionais de saúde. Sendo eventos raros, é essencial a sua antecipação e preparação por parte de todos os profissionais. A liderança, o trabalho da equipa, a comunicação assertiva e eficaz e o cumprimento escrupuloso das recomendações, são fundamentais para a diminuição de outcomes adversos. Atualmente, a prática clínica neste domínio é insuficiente para a aquisição e manutenção das competências técnicas e não técnicas necessárias, para a gestão destes eventos. Assim sendo, o treino regular em simulação é uma ferramenta poderosa na preparação e formação contínua dos profissionais inseridos num ambiente seguro. A nossa proposta de algoritmo de VAD não-previsível (Fig. 1) pretende ser uma base de trabalho e reflexão incentivando as entidades responsáveis a desenvolver linhas orientadoras sobre esta problemática. Cada unidade obstétrica deve possuir protocolos e algoritmos próprios para a resolução das diferentes emergências. Nesta perspetiva, com as adaptações locais, um carro e um algoritmo de via aérea difícil devem ser obrigatórios. Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 81 VIA AÉREA EM OBSTETRÍCIA Algoritmo de Via Aérea Difícil em Obstetrícia VAD não previsível ou intubação falhada Pedir Ajuda - Retomar a ventilação espontânea? - Acordar o doente? - Avaliar o estado fetal? Cesariana Urgente? Sim Não Ventilação com máscara facial Acordar o doente Anestesia Regional Não Sim - Laringoscópio - Cabo/Lâmina Posicionamento Intubação Conseguida Sim Sim Otimizar tentativa de intubação Sim Não Prosseguir com cirurgia Intubação Acordada Otimizar Ventilação - Ventilar a 4 mãos - Manobra tripla - Manobra de Sellick Não Ventilação com DEG Não VA Cirúrgica -cricotiroidotomia -traqueotomia Figura 1: Algoritmo de VA difícil em obstetrícia. JVTT- jet ventilation trans-traqueal; DEG – dispositivo extraglótico Referências 9. Boutonnet M, Faitot V, Keita H. Gestion des voies aériennes en obstrétrique. Ann Fr Anesth Reanim. 2011; 30: 651-64. 1. Saving Mothers' Lives: Reviewing maternal deaths to make motherhood safer: 2006-2008. The Eighth Report of the Confidential Enquiries into Maternal Deaths in the United Kingdom. BJOG. 118 (Suppl. 1): 1–203. 10. Goldszmidt E. Is there a difference between the obstetric and non-obstetric airway? In: Halpern SH, editor. Evidence-based Obstetric Anesthesia. Oxford: Blackwell; 2006.p. 225-35. 2. Krzysztof M, Kuczkowski KM, Reisner LS, Benumof JL. Airway problems and New Solutions for the Obstetric Patient. J Clin Anesth. 2010; 15: 552-63. 3. Hawkins JL, Koonin LM, Palmer SK, Gibbs CP. Anesthesia-related deaths during obstetric delivery in United States, 19791990. Anesthesiology. 1997; 86:277-84. 11. Bucklin B, Gambling D, Wlody D. A Pratical Approach to Obstetric Anesthesia. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2009. 12. Jouppila R, Jouppila P, Hollmen A. Laryngeal oedema as an obstetric anaesthesia complication: case reports. Acta Anaesthesiol Scand. 1980; 24: 97-8. 13. Dobb G. Laryngeal oedema complicating obstetric anesthesia. Anaesthesia. 1978; 33: 839-40. 4. Arendt KW, Segal Scott. Present and emerging strategies for reducing anesthesia-related maternal morbidity and mortality. Curr Opin Anesthesiol. 2009; 22:330-5. 14. Lucas DN, Yentis SM, Kinsella SM Holdcroft A, May AE, Wee M, et al. Urgency of caesarian section: a new classification. J R Soc Med. 2000; 93: 346. 5. Davies JM, Weeks S, Crone LA, Pavlin E. Difficult intubation in parturient. Can J Anaesth. 1989; 36:668-74. 15. Sia AT, Fun WL, Tan TU. The ongoing challenge of regional and general anaesthesia. Best Pract Res Clin Obstet Gynaecol. 2010; 24: 303-12. 6. Suresh MS, Wali A. Failed intubation in obstetrics: airway management strategies. Anesthesiol Clin North Am. 1998; 16:477-98. 7. Reisner LS, Benumof JL, Cooper SD. The difficult airway: risk, prophylaxis, and management. In: Chestnut DH, editor. Obstetric Anesthesia: Principles and Practice. St Louis: Mosby; 1999.p. 590-620. 8. Johnson MD, Ostheimer GW. Airway management in obstetric patients. Sem Anesth. 1992; 1:1-12. 82 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 16. Archer GW, Marx GF. Arterial oxygen tension during apnoea in parturient woman. Br J Anaesth 1974; 46:358-60. 17. Rocke DA, Murray WB, Rout CC, Gows E. Relative risk analysis of factors associated with difficult intubation in obstetric anesthesia. Anesthesiology. 1992; 77: 67-73. 18. Arendt KW, Segal S. Present and emerging strategies for reducing anesthesia-related maternal morbidity and mortality. Curr Opin Anesthesiol. 2009 22: 330-5. VIA AÉREA EM OBSTETRÍCIA 19. Hawkins JL. Anesthesia-related maternal mortality. Clin Obstet Gyneco.l 2003; 46: 679-87. 850. 20. Davies JM, Posner KL, Lee LA, Cheney FW, Domino KB. Liability associated with obstetric anesthesia: a closed claim analysis. Anesthesiology. 2009; 110: 131-9. 44. Dhonneur G, NdokoS,, Amathieu R, Housseini LE, Poncelet C, Tual L.. Tracheal Intubation using the Airtraq® in Morbid Obese Patients undergoing Emergency Cesarean Delivery. Anesthesiology. 2007;106:629-30. 21. Salgado H, Crisóstomo MR, Gonçalves M. Analgesia de parto em Portugal – um estudo nacional. Rev Soc Port Anestesiol. 2010; 19: 11-5. 45. Biro P. Difficult intubation in pregnancy. Curr Opin Anesthesiol. 2011; 24:249–54. 22. Mhyre JM, Healy D. The unanticipated difficult intubation in obstetrics. Anesth Analg. 2011; 112: 648-52. 46. Bucklin B, Gambling D, Wlody D. A pratical approach to obstetric anesthesia. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins: 2009. 23. Royal College of Obstetricians and Gynaecologists. Clinical effectiveness support unit. The National Sentinel Caesarean Section audit report. London: RCOG Press; 2001. 47. Sharma B, Sahai C, Sood J, Kumra VP. The ProSeal laryngeal mask airway in two failed obstetric tracheal intubation scenarios. Int J Obstet Anesth. 2006; 15:338–9. 24. Brown GW, Russell IF. A survey of anaesthesia for caesarean section. Int J Obstet Anesth. 1995; 4:214-8. 48. Awan R, Nolan JP, Cook TM. Use of a proseal laryngeal mask airway for airway maintenance during emergency caesarean section after failed tracheal intubation. Br J Anaesth. 2004;92:144–6. 25. Practice guidelines for obstetric anesthesia: an updated report by American Society of Anesthesiologists Task Force on Obstetric Anesthesia. Anesthesiology. 2007; 106: 843-63. 26. Wee MY, Brown H, Reynolds F. The National Institute of Clinical Excellence (NICE) guideline for caesarean section: implications for the anaesthetist. Int J Obstet Anesth. 2005; 14:147-58. 27. Russel R. Failed intubation in Obstetrics: A self-fulflilling prophecy? Int J Obst Anesth. 2007; 16:1-3. 28. Pinder A. Complications of obstetric anaesthesia. Curr Anaesth Crit Care. 2006; 17: 151-62. 29. Goodwin MW, French GW. Simulation as a training and assessment tool in the management of failed intubation in obstetrics. Int J Obstet Anesth. 2001; 10:273-7. 30. Cormack RS, Lehane J. Difficult tracheal intubation in obstetrics. Anaesthesia. 1984; 39: 1105-11. 31. Samsoon GL, Young JR. Difficult tracheal intubation: a retrospective study. Anaesthesia. 1987; 42: 487-90. 32. Barnardo PD, Jenkins JG. Failed tracheal intubation in obstetrics: 6 year review in a UK region. Anaesthesia. 2000; 55: 690-4. 33. Vasdev GM, Harrinson BA, Keegan MT, Burkle CM. Management of the difficult and failed airway in obstetric anesthesia. J Anesth. 2008; 22: 38-48. 34. Chestnut DH. Obstetric Anesthesia Principles and Practice. St Louis: Mosby; 1994. 35. Glassenberg R, Freiberger D. Beating the odds of failed intubation: number needed to treat or the trick of turning to binomial tables. Anesthesiology. 2002; 96:A1022. 36. Pilkington S, Carli F, Dakin MJ, Romney M, De Witt KA, Dore CJ. Increase in Mallampati score during pregnancy. Br J Anaesth. 1995; 74: 638-42. 37. Farcon EL, Kim MH, Marx GF. Changing Mallampati score during labor. Can J Anaesth. 1994; 41: 50-1. 38. Boutonnet M, Faitot V, Katz A, Salomon L, Keita H. Mallampati classes changes during pregnancy, labor and after delivery: can these be predicted? Br J Anaesth. 2010; 104: 67-70. 39. Parajothy S, Griffiths JD, Broughton HK, Gyte GM, Brown HC, Thomas J. Interventions at caesarean section for reducing the risk of aspiration pneumonitis. Cochrane Database Syst Rev:CD004943. 40. Smith I, Kranke P, Murat I, Smith A, O'Sullivan G, Søreide E, et al. Perioperative fasting in adults and children: guideline from the European Society of Anaesthesiology. Eur J Anaesth. 2011; 8: 556-69. 41. Davies JM, Weeks S, Crone LA, Pavlin E. Difficult intubation in the parturient. Can J Anaesth. 1989; 36: 668-74. 42. Norris MC, Dewan DM. Preoxygenation for caesarean section: a comparison of two techniques. Anesthesiology. 1989; 62: 827-9. 49. Brown NI, Mack PF, Mitera DM, Dhar P. Use of the ProSeal® laryngeal mask airway in a pregnant patient with a difficult airway during electroconvulsive therapy. Br J Anaesth. 2003; 91:752-4. 50. Keller C, Brimacombe J, Lirk P. Failed obstetric tracheal intubation and postoperative respiratory support with the ProSeal® laryngeal mask airway. Anesth Analg. 2004; 98:1467-70. 51. Cook TM, Brooks TS, Van der Westhuizen J, Clarke M. The ProSeal® LMA is a useful rescue device during failed rapid sequence intubation: two additional cases. Can J Anesth. 2005; 52: 630-3. 52. Anderson KJ, Quinlan MJ, Poupat M, Russell R. Failed intubation in a parturient with spina bifida. Int J Obstet Anesth. 2000; 9:94-8. 53. Bailey SG, Kitching AJ. The laryngeal mask airway in failed obstetric tracheal intubation. Int J Obstet Anesth. 2005; 14: 270-1. 54. Han TH, Brinacombe J, Lee EJ, Yang HS. The laryngeal mask airway is effective (and probably safe) in selected healthy parturients for elective Cesarean section: a prospective study of 1067 cases. Can J Anaesth. 2001; 48: 1117-21. 55. Minville V, N´Guyen L, Coustet B, Fourcade O, Samii K. Difficult airway in obstetric using Ilma-Fastrach®. Anesth Analg. 2004; 99:1873. 56. McDonnell NJ, Paech MJ, Clavisi OM, Scott KL. Difficult and failed intubation in obstetric anaesthesia: an observational study of airway management and complications associated with general anaesthesia for caesarean section. Int J Obstet Anesth. 2008; 17: 292-7. 57. Gonzalez G, Marenco de la Fuente ML. Resolución de dificultad de via aérea en una cesarean urgent con Fastrach®. Rev Esp Anestesiol Reanim. 2005; 52: 64-5. 58. Wissler RN. The esophageal-tracheal Combitube. Anesthesiol Rev. 1993; 20: 147-52. 59. Zand F, Amini A. The use of the laryngeal S-tube for airway management and prevention of aspiration after a failed tracheal intubation in a parturient. Anesthesiology. 2005; 102: 481-3. 60. Ezri T, Szmuk P, Evron S, Geva D, Hagay Z, Katz J. Difficult airway in obstetric anesthesia: a review. Obstet Gynecol Surv. 2001; 56:631-41. 61. Balki M, CookeME,Dunington S, Salman A, Goldszmict E. Unantecipated Difficult Airway in Obstetric Patients. Development of a new algorithm for formative assessment in high-fidelity simulation. Anesthesiology. 2012;117:701-2. 62. Tunstall ME. Failed intubation in the parturient. Can J Anaesth. 1989; 36: 611-3. 63. Anesthesia for emergency deliveries. ACOG committee opinion: committee on obstetrics: maternal and fetal medicine. Int J Gynaecol Obstet. 1992; 39:148. 43. Tunstall M. Failed intubation drill. Anaesthesia. 1976; 31: Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 83 Caso Clínico // Case Report EXCLUSÃO PULMONAR EM DOENTE PEDIÁTRICO RECORRENDO A CATETER FOGARTY Raquel Veiga1, Catarina Costa2, Susana Vargas3, Fernanda Barros4 Palavras-chave: - Anestesia; - Criança; - Cateterização; - Respiração Artificial Resumo O aumento do número de intervenções com recurso a videotoracoscopia, bem como os procedimentos torácicos abertos em crianças, exigem técnicas anestésicas que providenciem ventilação pulmonar unilateral. As técnicas descritas na literatura para ventilação pulmonar unilateral em crianças são diversas porque todas elas têm as suas limitações individuais e temos sempre que adaptar a escolha da nossa técnica às possibilidades disponíveis na instituição onde trabalhamos. A utilização, bem-sucedida, de cateteres de embolectomia Fogarty como bloqueadores brônquicos para ventilação pulmonar unilateral está documentada recorrendo a diferentes técnicas. A colocação do cateter é realizada “às cegas” ou guiada e confirmada por broncoscopia ou fluroscopia. Descrevemos um caso bem-sucedido de colocação de um cateter Fogarty para ventilação pulmonar unilateral, através de um tubo endotraqueal convencional, numa criança de 2 anos proposta para ressecção do lobo pulmonar inferior direito. Esta técnica permitiunos uma ventilação sem intercorrências durante todo o procedimento cirúrgico. Pediatric Pulmonary Exclusion Using a Fogarty Catheter Raquel Veiga1, Catarina Costa2, Susana Vargas3, Fernanda Barros4 Keywords - Anesthesia; - Catheterization; - Child; - Respiration, Artificial Abstract The increasing frequency of video-assisted thoracoscopic interventions, as well as open thoracic surgical procedures in children, demands appropriate anesthetic techniques to provide single-lung ventilation. Techniques for single lung ventilation in children have included several devices because they all have their individual limitations and one must adapt to the possibilities routinely available in the institution. Successful use of Fogarty occlusion embolectomy catheters as bronchial blockers for lung isolation and single-lung ventilation has been documented using different techniques. Placement is either performed blindly or guided with visual confirmation using the bronchoscope or fluoroscopy. We describe the successful placement of a Fogarty catheter for single-lung ventilation through a single lumen tube in a 2 year old boy proposed for a lower right pulmonary lobe resection that allowed us an uneventful ventilation throughout the surgical procedure. 1 Interno de Anestesiologia, Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca, EPE - Amadora, Portugal 2 Interno de Anestesiologia, Hospital Pedro Hispano, EPE - Matosinhos Assistente Hospitalar Graduado de Anestesiologia, Hospital de São João, EPE – Porto, Portugal 3 Chefe de Serviço de Anestesiologia, Hospital de São João, EPE – Porto, Portugal 4 As intervenções torácicas vídeo-assistidas, bem como os procedimentos cirúrgicos com recurso a toracotomia, têm vindo a aumentar na população pediátrica. Este desenvolvimento exige técnicas anestésicas apropriadas para realizar ventilação de apenas um pulmão durante o procedimento cirúrgico.1,2 84 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 Esta técnica representa, muitas vezes, um desafio para o Anestesiologista devido à inexistência de tubos de duplo lúmen para algumas idades que necessitam deste tipo de cirurgia. Tubos Univent, bloqueadores brônquicos e cateteres Fogarty têm sido utilizados para proporcionar o isolamento pulmonar em crianças.3 A utilização de cateteres de embolectomia Fogarty para bloqueio brônquico no isolamento pulmonar está já documentada na literatura.4 O posicionamento do cateter pode ser realizado sem visualização direta (“às cegas”) ou guiado por fluoroscopia ou broncoscopia, que proporcionam a confirmação visual do correto posicionamento do Fogarty.5 Nós descrevemos a colocação, bem-sucedida, guiada por fluoroscopia, de um cateter Fogarty para ventilação pulmonar unila- EXCLUSÃO PULMONAR EM DOENTE PEDIÁTRICO RECORRENDO A CATETER FOGARTY teral (VPU), através de um tubo endotraqueal convencional, num doente pediátrico. CASO CLÍNICO Paciente de dois anos de idade, 12 kg de peso, com malformação adenomatóide quística congénita do pulmão, sem outras comorbilidades, proposto para ressecção do lobo inferior do pulmão direito por toracoscopia. Foi realizada uma técnica anestésica combinada. A indução anestésica foi feita com sevoflurano e a traqueia intubada com tubo endotraqueal convencional de 5 mm, sem cuff. Foi introduzido um cateter epidural a nível de T11 e colocado ao nível de T5-6. Administrou-se uma dose bólus de levobupivacaína 0,25 % de acordo com fórmula de Takasaki e, uma hora mais tarde, foi iniciada perfusão de levobupivacaína 0,25 % a 1,5ml/h. Durante todo o procedimento foi utilizada monitorização ASA (American Society of Anesthesiologists) standard, acrescida de monitorização do bloqueio neuromuscular e da pressão arterial invasiva. Para realizar a VPU e excluir o pulmão direito foi utilizado um cateter de embolectomia Fogarty. Todo o material utilizado neste procedimento foi previamente testado, incluindo o volume de insuflação máximo do balão do cateter. No topo do tubo conector foi feita uma pequena incisão com uma agulha 14 gauge (Fig. 1) para permitir a passagem do Fogarty. Foi utilizado um cateter 4-French que passou através da incisão feita no tubo conector e foi posteriormente avançado sob controlo fluoroscópico (Fig. 2). À segunda tentativa, o posicionamento desejado foi obtido e o balão do cateter Fogarty foi insuflado com 0,3 mL de ar até não se observar expansão pulmonar e não serem audíveis sons pulmonares à auscultação com estetoscópio, no hemitórax direito. Não se observou fuga de ar significativa. Os parâmetros ventilatórios iniciais foram FR 30 cpm, PC 16 cmH2O, FiO2 0.35, que correspondiam a um volume/minuto de 2,8L/min. Durante a cirurgia os parâmetros ventilatórios foram ajustados de acordo com os valores obtidos por gasometria arterial. O isolamento pulmonar foi assim mantido por três horas sob estabilidade hemodinâmica e ventilatória. A cirurgia decorreu sem intercorrências. No final do procedimento, o cateter Fogarty foi desinsuflado e obteve-se reexpansão do pulmão direito. Figura 1 – Conexão criada para permitir a passagem do cateter Fogarty através do tubo endotraqueal convencional e que permitiu a VPU durante o procedimento cirúrgico O paciente foi admitido na Unidade de Cuidados Intensivos Pediátrica ventilado com os seguintes parâmetros ventilatórios FR 30 cpm, PC 15 cmH2O, FiO2 0.35. A radiografia de tórax no pós-operatório demonstrou insuflação adequada de ambos os campos pulmonares. A analgesia foi mantida, através do cateter epidural, com levobupivacaína e morfina durante 48 horas. O paciente foi extubado às 24 horas de pós-operatório e posteriormente transferido para a enfermaria de Pediatria. Teve alta hospitalar ao 6º dia de pós-operatório, sem intercorrências. Figura 2 – Cateter Fogarty colocado no local desejado recorrendo ao controlo por fluoroscopia DISCUSSÃO As diferenças anatómicas e fisiológicas existentes entre a população adulta e pediátrica não permitem, muitas vezes, que as técnicas de VPU aplicadas nos adultos sejam aplicadas em crianças. Assim, o método ideal para VPU na população infantil não foi ainda estabelecido.1 As técnicas de VPU em crianças nos últimos anos têm incluído tubos de duplo lúmen, intubação pulmonar seletiva, bloqueadores brônquicos, nomeadamente o cateter Fogarty, tubo Univent e bloqueador de Arndt. Na população pediátrica os tubos de duplo lúmen não podem ser muitas vezes utilizados pela sua elevada dimensão. O tamanho mais pequeno disponível é o tubo 26-French, que pode ser empregue em pacientes entre os 8 e os 12 anos de idade, com peso compreendido entre os 25 e os 35 kg. A intubação pulmonar seletiva tem sido descrita na literatura em relatos de caso, na população pediátrica com idade inferior a dois anos, e embora tenha sido utilizada com sucesso, 6 apresenta como limitação a necessidade de reajuste no posicionamento do tubo endotraqueal. A utilização de cateteres Fogarty tem sido igualmente descrita em relatos de caso7 e são, neste contexto, empregues como bloqueadores brônquicos. Têm como vantagens a relativa facilidade no posicionamento e a possibilidade, se necessário, de administrar oxigénio no campo pulmonar excluído através da desinsuflação temporária do cuff do cateter. Este dispositivo tem como limitações o facto de não ser desenhado especificamente para utilização na via aérea pois apresenta um balão de alta pressão e baixo volume e de poder deslocarRev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 85 EXCLUSÃO PULMONAR EM DOENTE PEDIÁTRICO RECORRENDO A CATETER FOGARTY -se da posição inicial durante o procedimento cirúrgico. Os tubos Univent são tubos traqueais (TT) de lúmen simples que têm incorporado um local para passagem de um bloqueador brônquico. O tubo Univent é colocado da mesma forma que um tubo endotraqueal convencional e o bloqueador brônquico é posteriormente introduzido até ao brônquio principal do pulmão que se pretende excluir. Este tubo apresenta como vantagens a possibilidade de insuflar o pulmão excluído, se necessário. Além disso, após o final da exclusão pulmonar, e retirada do bloqueador brônquico, permite a ventilação pulmonar bilateral, desempenhando a função de um tubo endotraqueal convencional. A limitação neste caso, é mais uma vez a idade do doente, visto que o tamanho mais pequeno disponível tem um diâmetro interno de 3,5 mm e um diâmetro externo de 7,5 a 8,0 mm que corresponde a um TT convencional de 5,5 a 6,0 mm e por este motivo só pode ser utilizado em crianças com idade superior a 4-6 anos. O bloqueador brônquico de Arndt é um cateter 5Fr com fio guia com uma ansa na extremidade que permite a acoplação ao fibroscópio. A extremidade distal possui um cuff esférico, de baixa pressão e elevado volume, insuflável com 2 mL. O tubo utilizado para a sua colocação possui três entradas, uma para o bloqueador brônquico, outra para o fibroscópio e uma terceira para conexão à máquina anestésica. A ansa colocada em torno do fibroscópio é utilizada para guiar o posicionamento do bloqueador. As vantagens deste dispositivo são as características adequadas a utilização na via aérea e a selagem apropriada por um diafragma na entrada do bloqueador brônquico que impede igualmente o movimento do mesmo durante o procedimento cirúrgico. O seu uso é limitado a crianças com idade superior a um ano. Existem atualmente diversas opções para VPU em pediatria. Todas elas têm as suas limitações e nenhuma é inteiramente satisfatória,8 pelo que cada um deverá procurar adaptar-se às condições que possui disponíveis na instituição onde trabalha. No caso apresentado demonstrámos a realização, bem-sucedida, de VPU num paciente pediátrico inserido num grupo etário para o qual não existem tubos de duplo lúmen ou tubos Univent disponíveis. Para isso recorremos à inserção de um cateter Fogarty como bloqueador brônquico, através de um dispositivo por nós adaptado, utilizando o controlo fluoroscópico para garantir o correcto posicionamento. Referências 1. Schmidt C, Rellensmann G, Van Aken H, Semik M, Bruessel T, Enk D. Single Lung Ventilation for Pulmonary Lobe Resection in a Newborn. Anesth Analg. 2005; 101: 362-4. 2. Hammer GB. Single-lung ventilation in infants and children. Pediatr Anaesth. 2004; 14: 98-102. 3. Mohan VK, Darlong VM, Kashyap L, Mishra SK, Gupta K. Fiberoptic-guided FogartycCatheter placement using the same diaphragm of an adapter within the single-lumen tube in children. Anesth Analg. 2002; 95: 1241-2. 4. Campos JH. An update on bronchial blockers during lung separation Techniques in Adults. Anesth Analg. 2003; 97: 1266-74. 86 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 5. Tobias JD. Variations on one-lung ventilation. J Clin Anesth. 2001; 13: 35–9. 6. Huang C, Liu Y, Cai H, Guo Q. Single lung ventilation with an endotracheal tube in a small child undergoing right thoracotomy. Pediatr Anaesth. 2010; 20, 903-4. 7. Asai T, Sakahiro I, Shingu K. Insertion of a Fogarty catheter through an endotracheal tube for one-lung ventilation: a new method. Anesthesiology. 2000; 93: 909. 8. Wald SH, Mahajan A, Kaplan MB, Atkinson JB. Experience with the Arndt paediatric bronchial blocker. Br J Anaesth. 2005; 94: 92-4. Caso Clínico // Case Report OBSTRUÇÃO PARCIAL DO TUBO ENDOTRAQUEAL POR KINKING NA CAVIDADE ORAL Jacobo Fedriani de Matos1, Iván Ramírez2, Francisco M. Mejías3 Palavras-chave: - Obstrução; - Tubo Endotraqueal; - Pressão na Via Aérea. Resumo A obstrução do tubo endotraqueal é uma complicação que pode acontecer em qualquer altura durante uma anestesia geral e requer de um rápido diagnóstico da situação. Apresentamos um caso de obstrução parcial do tubo endotraqueal numa doente de 55 anos submetida a tumorectomia de mama mais biópsia de gânglio sentinela. Foi realizada uma anestesia geral e, no decurso da intervenção foi detetado um aumento da pressão na via aérea devido ao kinking do tubo endotraqueal na cavidade oral. PARTIAL OBSTRUCTION OF THE ENDOTRACHEAL TUBE BY KINKING IN ORAL CAVITY Jacobo Fedriani de Matos1, Iván Ramírez2, Francisco M. Mejías3 Keywords: - Airway Obstruction; - Airway Resistance; - Intubation, Intratracheal Summary The obstruction of the endotracheal tube is a complication that can occur at any time during a general anesthesia and requires prompt recognition. We report a case of partial obstruction of the endotracheal tube in a 55 years old patient who underwent mamma tumorectomy plus sentinel node biopsy. The procedure was performed under general anaesthesia and during the surgery an increase in airway pressure was detected due to a kinking of the endotracheal tube at the oral cavity. ¹ Assistente Hospitalar do Serviço de Anestesiologia do Hospital de Jerez de la Frontera (Espanha), 2, 3 Interno Complementar de Anestesiologia do Hospital de Jerez de la Frontera (Espanha) INTRODUÇÃO A obstrução aguda do tubo endotraqueal (TET) pode ser uma situação que põe em risco a vida do doente e precisa de um rápido reconhecimento e intervenção.1, 2 As causas potenciais da oclusão do TET são múltiplas e podem ser classificadas em intraluminais ou extraluminais.3 Apresentamos um caso de obstrução parcial do TET por kinking na cavidade oral durante uma anestesia para tumorectomia de mama mais biópsia de gânglio sentinela. CASO CLÍNICO Doente de 55 anos de idade, sexo feminino, com diagnóstico de cancro invasivo de mama, e programada para cirurgia eletiva de tumorectomia mais biópsia de gânglio sentinela. Apresentava como antecedentes pessoais hipertensão arterial, obesidade mórbida (peso 110 kg, altura 160 cm e IMC 42,9 Kg/m2), insuficiência venosa dos membros inferiores e tromboflebite na perna direita. Sem alergias nem hábitos tóxicos conhecidos. Medicada no domicílio com diosmina, fibraguar (goma guar), hidroclorotiazida e enalapril. No exame físico a exploração cardiopulmonar foi normal e na avaliação da via aerea apresentaba um grau 1 na classificação de Mallampati, distância tiromentoniana superior a seis centímetros, abertura de boca maior de três centímetros, sem sinais de possível via aérea difícil. Analiticamente dentro dos parâmetros da normalidade e o eletrocardiograma (ECG) revelou ritmo sinusal sem alterações. Foi classificada de acordo com a American Society of Anesthesiologists (ASA) como estado físico ASA III. Foi-lhe prescrita enoxiparina sódica 40 mg subcutânea 12 horas antes da cirurgia; omeprazol 20 mg oral de 12 em 12 horas; e midazolam 7,5 mg oral à noite na véspera e uma hora antes da cirurgia. No bloco operatório foi canalizado um acesso venoso periférico com cateter 18G, colocadas meias de compressão elástica nos membros inferiores e monitorizada com ECG contínuo, saturação periférica de oxigénio (SpO2), pressão arterial invasiva, pressão parcial de dióxido de carbono no fim da expiração (ETCO2), monitorização do bloqueio neuromuscular (train of four – TOF) e avaliação do índice bispectral (BIS). A anestesia foi induzida com midazolam 3 mg, atropina 0,5 mg, fentanil 150 µg, propofol 150 mg e rocurónio 40 mg. Foi entubada orotraquealmente sob laringoscopia direta com tubo 7,5 Hi-Contour de Mallinckrodt® deixando a marca de 21 cm no nível da comissura labial, e confirmou-se clinicamente a sua posição correta por auscultação bilateral do murmúrio vesicular e pela aparição da curva de ETCO2. A cabeça da doente foi deixada em posição olfativa. Não foi utilizado neRev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 87 OBSTRUÇÃO PARCIAL DO TUBO ENDOTRAQUEAL POR KINKING NA CAVIDADE ORAL nhum sistema de aquecimento. Foi ventilada sob volume controlado com uma frequência respiratória de 13 cpm, um volume corrente de 550 mL, um débito de gases frescos de 0,6 L/min com uma concentração de oxigénio variável segundo o consumo de oxigénio, mostrando uma pressão média das vias respiratórias de 15-20 cm de H2O. A manutenção da anestesia foi realizada com desflurano (com uma MAC de 0.8-1) e perfusão intravenosa de remifentanil 0,05-0,2 µg kg-1 min-1. Após 30 min da indução foi detectado um aumento da pressão inspiratória máxima até 41 cm H2O. O volume corrente diminuiu até 470 mL e na curva de ETCO2 foi observado um ligeiro aumento de 30 a 33 mmHg com uma pequena ranhura no fim da expiração. A SpO2 manteve-se nos valores iniciais normais de 98 %, com coloração da pele e das mucosas normais. A posição da cabeça estava inalterada. Foram revistas a marca do TET ao nível da comissura labial que não havia mudado, o grau de profundidade anestésica que apresentava valores de BIS entre 40 e 50, o circuito anestésico e o TET externamente procurando possíveis obstáculos, que não foram observados. Foi então iniciada ventilação manual sem apresentar dificuldade para ventilar e auscultando murmúrio vesicular bilateral adequado. Foi monitorizada a resposta neuromuscular no TOF que revelou zero respostas. A seguir foi introduzida uma sonda de aspiração Nelaton n º 14 para aspiração de possível mucosidade ou sangue intraluminal, sem poder progredir além dos 16 cm e sem aspirar qualquer conteúdo. Tentou-se introduzir outra sonda de Nelaton nº 10 com o mesmo resultado. Decidiu-se realizar uma laringoscopia direta que mostrou um kinking do TET no nível do palato mole, a volta de 16 cm da extremidade do tubo (Fig.s 1, 2 e 3). Figura 1 - Kinking do Tubo Endotraqueal no palato mole. Figura 2 - Kinking do Tubo Endotraqueal perto de 16 cm da extremidade do tubo, causa da obstrução parcial. 88 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 Figura 3 - Deformidade do tubo endotraqueal. Depois de detetar a situação, a cirurgia foi interrompida. Retirou-se o tubo e procedeu-se à reintubação da doente com outro TET nº 7,5 Hi-Contour de Mallinckrodt confirmando a posição correta por auscultação e aparição de curva de ETCO2, retornando aos valores de pressão inspiratória normais iniciais prosseguindo a intervenção cirúrgica. Duas horas mais tarde, a cirurgia terminou e a doente foi acordada e transferida para a unidade de cuidados pós-anestésicos. A alta ocorreu três horas após sem complicações. DISCUSSÃO Têm sido descritos numerosos problemas relacionados com os TET.2 Desde corpos estranhos,3 sangue, mucosidade, compressão externa, intubação brônquica até defeitos de fabrico, incluindo mais frequentemente hérnias do cuff do TET, obstruções traqueais intraluminais,1, 4 defeitos na parede do TET com perda de ar,6 películas plásticas intraluminais7- 9 e por kinking do TET.10-11 Hübler11 numa revisão de três casos de doentes intubados com tubos de polivinilo que produziram um kinking a nível da cavidade oral, concluiu que este tipo de oclusão ocorre quando, exposto à temperatura do corpo, a temperatura do TET aumenta a 36˚C, fazendo este amolecer e dobrar, especialmente na altura da linha do cuff, mais ou menos a 18 cm. Isto poderia explicar o que aconteçeu neste caso, pois não foi encontrada nenhuma outra razão aparente. A obstrução do TET pode comprometer a vida do paciente por isso é importante sempre verificar no pré-operatório o equipamento anestésico a usar. A monitorização clínica e instrumental do doente especialmente da pressão na via aérea e da pressão parcial de dióxido de carbono no fim da expiração são essenciais. Uma vez que ocorra um aumento na pressão da via aérea, deve ser assegurada a oxigenação seguida de uma avaliação sistemática para detetar a sua origem. Neste caso a rotina que foi seguida foi similar à proposta por Rama-Maceiras P et al13 que inclui inspeção rápida do TET e do circuito para detetar possíveis causas mecânicas; auscultação pulmonar para excluir pneumotórax, broncospasmo ou atelectasia; rever o posicionamento do doente, verificar a profundidade anestésica e o grau de relaxamento muscular. Etapas que permitiram, neste caso, encontrar a fonte da obstrução e poder iniciar as medidas necessárias para resolverem o problema. Outros autores como Runciman WB et al14 propõem come- OBSTRUÇÃO PARCIAL DO TUBO ENDOTRAQUEAL POR KINKING NA CAVIDADE ORAL çar com um algoritmo que verifica a via aérea, ventilação, circulação e fármacos (ABCD) dando continuidade à revisão da circulação periférica, cor da pele, fonte de oxigénio, analisador de oxigénio, ventilação, vaporizador, TET, análise de monitores e outros equipamentos (COVER). CONCLUSÃO Em qualquer ato anestésico, a revisão pré-operatória do equipamento e material anestésico incluindo o TET, é essencial. Tendo em conta que, no caso da funcionalidade do TET, o mais importante é a atitude clínica do anestesista que deve executar uma revisão sistemática para detetar rapidamente a origem da obstrução. REFERÊNCIAS 1. Parray T, Martin T, Shah S, Ghafoor A. Maneuvers to relieve the endotracheal tube obstruction by the bevel orifice abutting the trachea in the prone position. WebmedCentral 2010;1(10):WMCRW0061. 2. Szekely SM, Webb RK, Williamson JA, Russell WJ. Problems related to the endotracheal tube: an analysis of 2000 incident reports: Anaesth Intensive Care. 1993; 21: 611-6. 3. Zvi Shalmovitz G, Halpern P. Delayed obstruction of endotracheal tubes by aspirated foreign bodies: Report of two cases. Ann Emerg Med. 2004;43:630-3. 4. Henderson MA. Airway obstruction with a cuffed single-use plastic endotracheal tube. Anaesth Intensive Care. 1993; 21:370–2. 5. Famewo CE. A not so apparent cause of intraluminal tracheal tube obstruction. Anesthesiology. 1983;58:593. 6. Lewer BM, Karim Z, Henderson RS. Large air leak from an endotracheal tube due to a manufacturing defect. Anesth Analg. 1997;85:944–5. 7. Ngan Kee WD. An unusual problem with an endotracheal tube. Anaesth Intensive Care. 1993;21:247–8. 8. Sofi K, El-Gammal K. Endotracheal tube defects: Hidden causes of airway obstruction. Saudi J Anaesth. 2010; 4: 108–110. 9. Hajimohammadi F, Taheri A and Eghtesadi-Araghi P. Obstruction of endotracheal tube; a manufacturing error. Middle East J Anesthesiol. 2009;20:303-5. 10. Chua WL, Ng As. A Defective endotracheal tube. Singapore Med J. 2002;43: 476-8. 11. Hübler M. Intraoperative kinking of polyvinyl endotracheal tubes. Int Anesth Res Soc. 2006;103:1601-2 12. Arai T, Kuzume K. Endotracheal obstruction possibly due to structural fault. Anesthesiology. 1983; 59: 480-1. 13. Maceiras PR, Unzueta MC, Soro M , Castro RG, Belda J. Aumento de presión en la vía aérea durante a ventilación mecánica: más allá del broncoespasmo. Rev Esp Anestesiol Reanim. 2011;58:70-3. 14. Runciman WB, Webb RK, Keppler ID, Lee R, Williamson JA, Barker L. Crisis management-validation of an algorithm by analysis of 2000 incident reports. Anaesth Intensive Care. 1993; 21: 579-92. Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 89 Perspetiva // Perspective A ANESTESIOLOGIA NO HOSPITAL MILITAR PRINCIPAL Ana Lufinha1, Fernando Matos Rodrigues2, Artur Pinto de Magalhães Mateus3, Jorge Tavares4 Palavras-chave: - Anestesiologia/história; - Hospitais Militares Resumo A prática da Anestesia por cirurgiões no Hospital Militar Principal iniciou-se em 1848. Em finais dos anos 50 do século passado foi criado o Serviço de Anestesiologia, a título experimental e integrado no Serviço de Cirurgia. O seu chefe de serviço, Capitão Médico Joaquim Gonçalves, elaborou um relatório em Dezembro de 1960, o qual foi posto à consideração superior e levou à criação de um serviço autónomo em 24 de Fevereiro de 1961. A guerra colonial, que se iniciou pouco depois em Angola, na Guiné e em Moçambique, trouxe novas exigências ao Serviço. Por um lado, registou-se um aumento substancial do movimento operatório sobretudo em Cirurgia Plástica e Reconstrutiva, com cirurgias de longa duração, com elevado número de intubações traqueais difíceis e em doentes com diversos fatores de risco anestésico. Por outro, teve necessidade de proceder à formação de especialistas em Anestesiologia para trabalharem nos múltiplos hospitais militares do ultramar. O serviço aumentou os seus recursos humanos, adquiriu novos equipamentos, criou áreas de consulta e de recobro. Anaesthesiology in the Lisbon Military Hospital Ana Lufinha1, Fernando Matos Rodrigues2, Artur Pinto de Magalhães Mateus3, Jorge Tavares4 Keywords: - Anesthesiology/history; - Hospitals, Military Summary Anaesthesia practice by surgeons at the Military Hospital in Lisbon started at 1848, soon after its introduction in Europe. After Second World War, improvements in anaesthesia practice were introduced. Anaesthesia was experimentally organized as a Service, integrated into the Surgery Service by the end of the last century 50’s. Later (1961) it was recognized as an autonomous service of Anaesthesiology, with a specific preoperative assessment clinic and a recovery room. The Portuguese Colonial War began in Angola (1961), Guinea-Bissau (1963) and Mozambique (1964), lasting for 13 years. As consequence, the main Military Hospital in Portugal suffered a deep modification in the number of surgeries, namely in Traumatology and Plastic Surgery and in the patient risk, largely related to difficult airways. The Service was involved in an accelerated process of education of nurses and anaesthesiologists for the military hospitals in Africa. ¹ 1Assistente Hospitalar de Anestesiologia, Hospital das Forças Armadas – Pólo Lisboa, Portugal 2 Coronel Médico Reformado, especialista em Anestesiologia 3 Major General Médico Reformado, Chefe de Serviço de Anestesiologia Professor catedrático jubilado de Anestesiologia, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Portugal 4 O HOSPITAL MILITAR PRINCIPAL O atual edifício do Hospital Militar de Lisboa começou por ser um convento beneditino, dedicado a Nossa Senhora da Estrela e fundado em 1572. Fortemente afetado pelo terramoto de 1755, foi posteriormente recuperado para acolher o hospital das tropas auxiliares britânicas sediadas em Lisboa. A partir de então, funcionou sempre como hospital militar e foi denominado sucessivamente Hospital Militar da Corte (1834), Hospital Permanente de Lisboa (1852) e Hospital Militar Principal de Lisboa (desde 1926 1 até 2013, ano da sua extinção). Os serviços de cirurgia do Hospital Militar Principal acompanharam desde sempre o aparecimento e desenvolvimento da 90 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 anestesia e das suas diversas técnicas, tal como sucedeu por toda a parte com os serviços de saúde militar. Sebastião Cabral da Costa Sacadura, no seu livro “A Anestesia na antiguidade (nótulas), esponjas soníferas e mandrágora: mais achegas para a bibliografia portuguesa da anestesia: efemérides.” (Lisboa, Tipografia Freitas Brito, 98 p, 1947), dá notícia do que se supõe ter sido a primeira anestesia praticada no Hospital Militar Principal. A extensa “Bibliografia Portuguesa de Anestesia” incluída neste livro, refere o trabalho de J.C. Loureiro “O chloroformo”, publicado no “Jornal dos Facultativos Militares” (1848, pág. 81) e onde estão descritas várias observações da aplicação do clorofórmio em doentes do Hospital Militar da Estrela, a primeira das quais em 8 de Junho desse ano, apenas um mês depois da primeira aplicação, num parto, da mesma técnica no Porto, por Câmara Sinval (Ferreira de Mira, História da Medicina Portuguesa). Na mesma bibliografia, consta ainda o trabalho de J. C. Mendes intitulado “O Clorofórmio (observações em doentes do Hospital Militar) ”, igualmente publicado em 1948 no “Jornal dos Facultativos Militares” (pág. 145). A ANESTESIOLOGIA NO HOSPITAL MILITAR PRINCIPAL No Hospital Militar Principal, nos anos 40 do século XX, além das anestesias locais e regionais (quase em exclusivo raquianestesias), executavam-se anestesias gerais com éter, primeiro em máscara aberta ou semiaberta, em sistema gota-a-gota sobre compressas de gaze fixas em máscaras metálicas do tipo Schimelbush, depois em aparelhos de Ombredane. Ao terminar a II Guerra Mundial (1939-45), começaram a chegar a Portugal notícias de importantes inovações técnicas. Em 1948, o cirurgião ortopedista Fernando de Magalhães regressou de um estágio de especialização em Ortopedia na Inglaterra, com novas ideias sobre a Anestesia. Introduziu no Hospital Militar Principal um aparelho de Boyle provido de uma unidade de absorção de CO2 Coxeter – Mushin. Neste aparelho podiam utilizar-se circuitos fechados, semifechados ou semiabertos, com sistemas circulares de Waters ou de Magill. Lemos Gomes, também ortopedista, regressou de um longo estágio em Buenos Aires (Agosto de 1945 a Novembro de 1946), “onde se especializou em Anestesia Moderna e Ortopedia” (como escreveu num curriculum vitae de 1976).2 A direção do Hospital Militar Principal contratou-o para dar um curso de Anestesia de Maio a Agosto de 1948, tendo sido equiparado a capitão. Frequentaram este curso – além de outros que seguiram a especialidade de Cirurgia – Joaquim Gonçalves3 e José João Águas de Mendonça Villalobos, que vieram a dedicar-se em exclusivo à anestesia. Como principais inovações que acompanharam o curso, foram introduzidas as técnicas de utilização do protóxido de azoto e do ciclopropano e a entubação da traqueia. Em Dezembro de 1960, o chefe de serviço Joaquim Gonçalves elaborou um relatório intitulado “Estado Actual da Anestesia do H.M.P.” em que informava: “Integrados no Serviço de Cirurgia, existem atualmente três Anestesiologistas, dois oficiais do quadro e um civil contratado, que têm assegurado todas as anestesias do hospital, cerca de 40 por mês. Colaboram também na assistência pré e pós operatória dos doentes graves e asseguram a anestesia de urgência, escalando diariamente um dos seus elementos. As marcações das operações que exigem a nossa colaboração são transmitidas verbalmente pelos diferentes Serviços ao Serviço de Cirurgia, cujos graduados, por nossa determinação, registam num Livro que consultamos diariamente. Os doentes são distribuídos entre nós, salvo casos especiais, segundo um critério de roulement em relação aos Serviços e aos Cirurgiões.” Neste mesmo relatório, foi sugerido: “1 – Que seja reconhecida organicamente a autonomia funcional da especialidade de Anestesiologia no H.M.P; 2 – Que o futuro Serviço de Anestesiologia, além do Chefe de Serviço, tenha mais três assistentes, dois estagiários e três graduados ou enfermeiras; 3 – Que os doentes sejam hospitalizados na véspera; 4 – Que os serviços a prestarem sejam requisitados segundo determinados parâmetros; 5 – Que o serviço seja responsável pelo material anestésico existente e que seja adquirido novo equipamento; 6 – Que seja considerada a hipótese de construção de uma central de vácuo e outra de Oxigénio, no pavilhão de Cirurgia; 7 – Que sejam atribuídas instalações, incluindo gabinete, com arquivo A CRIAÇÃO DO SERVIÇO DE ANESTESIOLOGIA Em finais dos anos 50, quando era diretor do Hospital Militar Principal o Coronel Médico Bastos Gonçalves, foi criado, a título experimental, o Serviço de Anestesiologia integrado no Serviço de Cirurgia. O seu “quadro” era composto pelo chefe de serviço Capitão Médico Joaquim Gonçalves (que entretanto frequentara um curso de um ano no Texas, Estados Unidos da América) (Fig. 1) e pelos assistentes Capitão Médico Corte Real e José João Villalobos, anestesiologista civil contratado desde 1951. e ficheiro, sala de reanimação com quatro camas e sala de anestesia”. Perante este fundamentado documento, o Diretor do Hospital Militar Principal, Coronel Médico Diogo Furtado, determinou, em Ordem de Serviço de 24 de Fevereiro de 1961, a criação do Serviço de Anestesiologia. O articulado desta Ordem de Serviço estabeleceu as atribuições e o modo de funcionamento que passaram a regular o Serviço, procurando seguir o que fora sugerido no relatório de 1960. Nele constava a criação, além da referida sala de reanimação, de uma consulta pré-anestésica.4 Aparentemente desde 1961, seguramente desde 1963 e até à sua extinção, o Serviço de Anestesiologia do Hospital Militar Principal, dispôs de um quadro de enfermagem próprio, hierarquizado, com enfermeiro chefe em exclusividade. Os enfermeiros deste quadro não desempenhavam nenhumas outras funções, no bloco operatório ou fora dele. A lista dos enfermeiros-chefes figura em anexo. A GUERRA DO ULTRAMAR Figura 1 – Tenente Coronel Médico Joaquim Gonçalves Pouco depois da criação do serviço, teve início a guerra colonial em Angola (Março de 1961), que se estendeu à GuiRev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 91 A ANESTESIOLOGIA NO HOSPITAL MILITAR PRINCIPAL né, hoje Guiné-Bissau (1963) e a Moçambique (1964), e se prolongou até 1975 com a independência dessas colónias. O elevado número de cidadãos incorporados no exército, que foram deslocados para os três teatros de guerra durante estes 13 anos, deu origem a um enorme aumento do movimento operatório do Hospital Militar Principal, nomeadamente em Traumatologia e em Cirurgia Plástica e Reconstrutiva. A casuística do Serviço de Anestesia do Hospital Militar Principal é esclarecedora. Em 1961, o total de atos anestésicos foi de 258, o qual subiu no ano seguinte para 1030 e em 1974 para 2282. Não se tratou de um aumento apenas quantitativo: a longa duração das intervenções, a complexidade cirúrgica, os problemas anestésicos, nomeadamente as entubações difíceis, eram frequentes e representaram um desafio para o Serviço. O fim da guerra do ultramar (1975) não se refletiu de imediato na redução da atividade operatória do Hospital Militar Principal, uma vez que alguns feridos e acidentados de guerra continuaram a carecer de múltiplas e complexas intervenções cirúrgicas. O número de anestesias tendeu depois a diminuir gradualmente, até que estabilizou em 1966 no ano de 1995. Verificara-se entretanto um novo “pico” em 1986, num total de 2183 anestesias, quando a assistência médica às forças militarizadas (PSP e GNR) foi atribuída ao Hospital Militar Principal. O Serviço foi-se adaptando ao aumento do movimento operatório e aos desafios técnicos e médicos exibidos por uma população cirúrgica tão diferenciada. Começou por formar e treinar enfermeiros e anestesistas do quadro permanente, não apenas com o objetivo de assegurar o seu próprio movimento, mas também com o de integrar as equipas mobilizadas para os hospitais militares em África. Tornou-se também necessário contratar anestesiologistas civis, nomeadamente Marieta do Soveral Rodrigues em 1961 e Maria Leonor Faro em 1964. Como resultado da sua dependência do Serviço de Saúde Militar ou como consequência da prestação do serviço militar obrigatório, passaram pelo Serviço de Anestesiologia do Hospital Militar Principal, antes ou depois da sua mobilização para a guerra no ultramar, alguns anestesiologistas que vieram a desempenhar papéis de relevo na especialidade em Portugal. A lista anexa inclui os seus nomes, bem como os dos anestesiologistas do quadro permanente e os dos médicos civis contratados, independentemente do tempo que durou a sua estadia no Hospital Militar Principal. A idoneidade formativa a 100 % foi-lhe reconhecida pela Ordem dos Médicos.4 O Serviço admitiu um interno por ano. Entre 1962 e 1970, preparou 6 candidatos a especialista, 5 dos quais eram do quadro permanente (TEN MED José Maria Pantaleão de Noronha 1966, CAP MED Joaquim Cortês das Neves 1967, TEN MED Manuel Borlido Laranjo 1968, CAP MED Fernando Matos Rodrigues 1969 e CAP MED Artur Magalhães Mateus 1970).5 O médico miliciano que fez o seu internato no Hospital Militar Principal, Luís Eugénio Pitta de Avilez, continuou a prestar serviço, primeiro como Tenente Miliciano Médico contratado e a partir de 1969, como médico civil especialista em Anestesiologia 92 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 pela Ordem dos Médicos. A EVOLUÇÃO POSTERIOR Em 1980, o Bloco Operatório passou a estar equipado com sistemas de canalização para fornecimento de oxigénio e protóxido de azoto e vácuo, bem como, no ano seguinte, de sistemas de exaustão de gases e vapores anestésicos modelo Scaveging tipo ativo, com válvulas Enderby. Este equipamento foi um dos primeiros a ser instalados no país e o primeiro em Lisboa. A partir de 1982, todas as salas operatórias ficaram equipadas com ventiladores Manley (Pulmovent). Ainda durante esse ano foi assinado um protocolo com o Serviço de Anestesiologia do Hospital Pulido Valente mediante o qual os internos de anestesia daquele hospital efetuavam no Hospital Militar Principal o seu estágio de formação na valência de anestesia em Ortopedia. Figura 2 – Boletim do Hospital Militar Principal datado de 1 de Fevereiro de 1981 (alusivo ao XX Aniversário do Serviço de Anestesiologia do H.M.P.) Em 1985 foi criada a Unidade de Tratamento Intensivo, anexa ao Bloco Operatório, o que obrigou à contratação de mais anestesiologistas para assegurar as escalas de permanência de 24 horas. Foram então admitidos, como médicos civis, Marina Sá Vieira e Ledemar Rodrigues Filho e como consultora, Encarnacion Soares, sendo então nomeado como Coordenador Geral Magalhães Mateus até 1992, data em que foi nomeado para os Altos Estudos Militares. Com vista a assegurar esta nova responsabilidade, foi aprovado pelo diretor do Hospital, Brigadeiro Médico Carrilho Ribeiro, um novo regulamento do Serviço de Anestesiologia. Este tomou então a iniciativa de organizar anualmente cursos de Aperfeiçoamento para pessoal de enfermagem de Anestesia, Cirurgia, Bloco Operatório e Cuidados Intensivos, programados e coordenados pela anestesista Marina Sá Vieira e que se realizaram de 1984 a 1988. Em 1985, foram contratados mais quatro anestesiologistas, após concurso interno: Manuela Felgueiras, Conceição Bacelar, Teresa Galhardas e Fátima Monteiro. Em 1990, sendo Diretor do Serviço de Saúde o Brigadei- A ANESTESIOLOGIA NO HOSPITAL MILITAR PRINCIPAL ro Médico António Pinheiro foi o Serviço de Anestesiologia do Hospital Militar Principal, na pessoa do COR MED Magalhães Mateus, convocado para integrar a Comissão de Aquisição da Unidade Cirúrgica Móvel (atual Hospital de Campanha do Exército Português).6 O Serviço de Anestesiologia do Hospital Militar Principal, sob a direção do COR MED Magalhães Mateus e com a coordenação do MAJ MED Verdelho da Costa, organizou em 1991, com a colaboração do Serviço de Hemoterapia do mesmo hospital, as V Jornadas Inter-hospitalares da Secção Regional do Sul da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia subordinadas ao tema “Transfusões” (Fig. 3), tendo apresentado três comunicações orais que foram publicadas na Revista Portuguesa de Medicina Militar (Fig. 4). Paulo Domingues era o Presidente da Direção da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia e Artur Santos Costa o da respetiva Secção Regional do Sul. Figura 3 – 30º Aniversário do Serviço de Anestesiologia do Hospital Militar Principal Figura 4 – Revista Portuguesa de Medicina Militar Em 1994, a consulta de Dor Crónica, que fora criada por Fátima Monteiro após um estágio na Unidade de Dor Crónica do IPO sob a orientação de José Luís Portela, foi transformada em Consulta Multidisciplinar e passou a integrar outras especialidades, como a Medicina Física e de Reabilitação, a Ortopedia, a Neurologia, a Neurocirurgia e a Psicologia. O Serviço de Anestesiologia evoluiu com a adoção de novos conhecimentos e práticas anestésicas, nomeadamente no referente à monitorização, à anestesia regional, à abordagem da via aérea difícil e às técnicas de analgesia pós-operatória, ao mesmo tempo que foi introduzindo protocolos de atuação e segurança e deu resposta ao movimento operatório de um hospital que passou a ter todas as especialidades cirúrgicas, com exceção da cirurgia cardíaca. Até 2011 o número médio anual de anestesias realizadas foi de 2300. Os diretores do Serviço de Anestesiologia do Hospital Militar Principal foram, desde a sua fundação em 24 de Fevereiro de 1961, os anestesiologistas: CAP MED Joaquim Gonçalves (1961-1968) [mais tarde COR MED e Chefe do Serviço de Saúde da Região Militar de Angola e posteriormente Diretor do Serviço de Anestesiologia dos Hospitais Civis de Lisboa], MAJ MED Corte Real (1968-1970) [depois COR MED e Diretor do HMP], MAJ MED Fernando Neves Ferro (1970-1971), MAJ MED Joaquim Victor-Hugo Cortês das Neves (1971-1974), José João Águas de Mendonça Villalobos (1974), TCOR MED Fernando Matos Rodrigues (1974-1986), TCOR MED Artur Pinto de Magalhães Mateus (1986-1987), COR MED Fernando Matos Rodrigues (1988-1990), COR MED Artur Pinto de Magalhães Mateus (1990-1992) [posteriormente MGEN e Diretor do Serviço Saúde do Exército em 1997/1998], MAJ MED Verdelho da Costa (1992-1993), Marina Sá Vieira (1993-1997), Maria Marta Fernandes (1997-2009), Manuela Felgueiras (2009/2010) e Maria Filipa Achega (2010 a 31 Março 2013). A EXTINÇÃO DO HOSPITAL MILITAR PRINCIPAL O Decreto-lei 187/2012, publicado em Diário da República a 16 de Agosto de 2012, criou o Pólo de Lisboa do Hospital das Forças Armadas (HFAR) pela fusão entre o Hospital da Marinha, o Hospital Militar Principal, o Hospital Militar de Belém e o Hospital da Força Aérea. A nova estrutura hospitalar foi sediada no Lumiar (Lisboa), no local onde funcionava o Hospital da Força Aérea. Neste processo de fusão, o Serviço de Anestesiologia do Hospital Militar Principal foi extinto a 31 Março de 2013 (o do Hospital da Marinha já o fora em 31 Dezembro de 2012). Os três Serviços de Anestesiologia militares (Exército, Marinha e Força Aérea) foram fisicamente unificados a 1 Abril de 2013 e passaram a constituir um único Serviço de Anestesiologia integrado no Departamento de Cirurgia do Hospital das Forças Armadas – Pólo de Lisboa, localizado no Lumiar. O Serviço de Anestesiologia assim formado passou a dispor de seis médicos civis do Quadro (1 Assistente Graduado Sénior, 3 Assistentes Graduados e 2 Assistentes Hospitalares) e de três médicos militares, num total de nove médicos especialistas em Anestesiologia, sob a chefia do Major Médico FAP Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 93 A ANESTESIOLOGIA NO HOSPITAL MILITAR PRINCIPAL Ricardo Mendes Andrade, o anestesista de grau hierárquico militar mais elevado. A 1 de Abril de 2013 teve lugar a ultima reunião do Corpo Clínico e de Enfermagem do Serviço de Anestesiologia do Hospital Militar Principal em que compareceram antigos Chefes de Serviço, assinalando o encerramento de um Serviço que foi pioneiro e modelar em Portugal, ao longo dos seus 52 anos de existência. Maria de Fátima Monteiro Maria Filipa Silva Achega Maria Gabriela da Cruz de Almeida Maria Leonor Cabral Sacadura Faro Maria Luísa Oliveira Maria Manuela Felgueiras da Silva Maria Marta Lourenço Fernandes Maria Teresa Niza Galhardas Marieta Nina do Soveral Rodrigues Marina Martins de Oliveira Sá Vieira Referências Paulo A. Fernandes Domingues 1. Reis CV. História da Medicina Militar Portuguesa. Lisboa: Edição do Estado-Maior do Exercito; 2004. Rita Gregório 2. Tavares J. História da Anestesiologia Portuguesa. 2ª ed. Lisboa: Edição da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia; 2013. Ruy Mascarenhas Leiria Pedro José Ruela Torres Rui Bouça Susana Cláudia Monteiro Arantes 3. Caseiro JM. Discurso da atribuição do título de sócio honorário ao Dr Joaquim Gonçalves e ao Dr Santos Marques. Revista do CAR. 1997; 10: 27-9. 4. Rodrigues FM. O XX aniversário do Serviço de Anestesiologia do HMP. Bol Hosp Militar Principal. 1981;1: 21. 5. Lista Geral de Antiguidades de Oficiais do Exército. Lisboa: Estado – Maior do Exército;1965,67, 72 e 85. 6. Mateus AP. O XXX aniversário do Serviço de Anestesiologia do HMP. Rev Port Med Militar. 1995; 42(1-4); LISTA CRONOLÓGICA DOS ENFERMEIROS-CHEFES DO SERVIÇO DE ANESTESIOLOGIA DO HMP António Sotana Catarino Manuel Ribeiro Laia Maria Libânia Marum Brito Mariano LISTA DOS MÉDICOS ANESTESIOLOGISTAS QUE ESTIVERAM COLOCADOS, MESMO QUE POR POUCO TEMPO, NO SERVIÇO DE ANESTESIOLOGIA DO HMP José Manuel Rodrigues Galo António Manuel da Luz Ribeiro Figueiredo Pereira José Miguel António Rijo António Manuel da Luz Ribeiro Figueiredo Pereira António Maria Corono Nogueira Ana Maria Antunes Ferreira Ana Teresa Lufinha Vasconcelos Álvaro Ferreira Pais Artur Dinis dos Santos Costa Artur Pinto de Magalhães Mateus Carlos Fernandes Fonseca Fernando Manuel da Silva de Matos Rodrigues Fernando Neves Ferro João Sacadura Bote Corte-Real Joaquim Gonçalves Joaquim Victor-Hugo Cortês das Neves Jorge Manuel Mergulhão de Castro Tavares José João Águas de Mendonça Villalobos José Luís Rodrigues Portela José Maria Francisco António Pantaleão de Noronha Ledemar Rodrigues Filho Luís Aníbal Eugénio Pita de Avillez Luís Lima Gonçalves Luís Manuel Verdelho da Costa Mafalda Beatriz Silva Miranda Manuel Bento Soares da Silva Araújo Manuel Martins Borlido Laranjo Margarida Sacadura Faro Maria da Conceição Bettencourt Faria Bacelar 94 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 NORMAS DE PUBLICAÇÃO Âmbito e Objetivos A Revista da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia (RSPA) é editada desde 1985 e é o órgão oficial da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia. A RSPA pretende informar e melhorar a qualidade científica e profissional dos anestesiologistas. A RSPA publica artigos considerados de interesse nas seguintes áreas: Anestesia para procedimentos cirúrgicos e exames complementares de diagnóstico e tratamentos invasivos, Medicina Perioperatória, Medicina Intensiva, Medicina de Emergência e Medicina da Dor, Simulação Médica bem como das Ciências Básicas. Publica, ainda, artigos de interesse em outras áreas, tais como a Educação Médica, a Bioética, a Ética Médica ou a História da Anestesiologia. Publica artigos Originais, de Educação Médica Contínua, de Revisão, de Consenso, Casos Clínicos, Cartas ao Editor, Editoriais, Perspetivas e Imagens em Anestesiologia. Os critérios para publicação são o mérito científico, a originalidade e o interesse para uma audiência multidisciplinar. Todos os manuscritos submetidos estão sujeitos a revisão por pares com o objetivo de garantir que a revista publica apenas artigos de qualidade. A RSPA é propriedade da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia, mas tem independência editorial. O Editor-chefe da RSPA é, desde 2012, o Dr. António Augusto Martins. A revista é editada trimestralmente e é publicada eletronicamente desde 2006. Está disponível em acesso livre em http://www.spanestesiologia.pt/ e em http://revistas.rcaap. pt/anestesiologia. Audiência A principal audiência é composta pelos médicos dedicados às áreas da Anestesiologia: Anestesia para procedimentos cirúrgicos e exames complementares de diagnóstico e tratamentos invasivos, Medicina Perioperatória, Medicina Intensiva, Medicina de Emergência e Medicina da Dor, Simulação Médica bem como das Ciências Básicas, Bioética, Ética Médica ou História da Anestesiologia. Outros profissionais da saúde como médicos de outras áreas de intervenção, enfermeiros ou paramédicos poderão encontrar na publicação artigos de interesse para a sua atividade. Indexação Os artigos publicados na revista são indexados por: - IndexRMP: Index das Revistas Médicas Portuguesas - RCAAP: Repositório Científico de Acesso Aberto em Portugal Patrocínios Os patrocinadores da revista são empresas da indústria farmacêutica ou outras que geram receitas através da publicidade. Não é permitida a influência da publicidade sobre as decisões editoriais. Outras despesas são suportadas pela Sociedade Portuguesa de Anestesiologia. Razão para Publicar na RSPA - Órgão oficial da sociedade científica nacional da especialidade - a Sociedade Portuguesa de Anestesiologia - Política de publicação com arbitragem científica por pares - Indexação no Repositório Científico de Acesso Aberto em Portugal – RCAAP e no Index das Revistas Médicas Portuguesas - IndexRMP - Multidisciplinaridade do público-alvo - Tempo médio para a primeira decisão no prazo de 10 dias - Máxima visibilidade com a publicação em livre acesso - Ausência de custos de submissão ou publicação Normas de Publicação Informação Geral A Revista da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia (RSPA) é uma revista em open access que publica artigos com arbitragem científica cobrindo todos os temas da Anestesiologia ou com ela relacionados. A RSPA publica artigos Originais, de Educação Médica Contínua, de Revisão, de Consenso, Casos Clínicos, Cartas ao Editor, Editoriais, Perspetivas e Imagens em Anestesiologia. A Revista rege-se de acordo com as normas de edição biomédicas elaboradas pela Comissão Internacional de Editores de Revistas Médicas (International Committee of Medical Journal Editors ICMJE), disponível em http://www. ICMJE.org e do Committee on Publication Ethics (COPE). A política editorial da Revista incorpora no processo de revisão e publicação as Recomendações de Política Editorial (Editorial Policy Statements) emitidas pelo Conselho de Editores Científicos (Council of Science Editors), disponíveis em http://www.councilscienceeditors.org/i4a/pages/index. cfm?pageid=3331, que cobre responsabilidades e direitos dos editores das revistas com arbitragem científica. O rigor e a exatidão dos conteúdos, assim como as opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos Autores. A RSPA tem instruções e orientações específicas para a apresentação de artigos. Por favor, leia e analise com cuidado. Os artigos que não são apresentados de acordo com as nossas instruções e orientações têm maior probabilidade de serem rejeitados. Os artigos propostos não podem ter sido objeto de qualquer outro tipo de publicação. As opiniões expressas são da inteira responsabilidade dos autores. Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 95 NORMAS DE PUBLICAÇÃO Copyright Quando o artigo é aceite para publicação é obrigatório a submissão de um documento digitalizado, assinado por todos os Autores, com a partilha dos direitos de autor entre autores e a RSPA, conforme minuta publicada em anexo: Editor da Revista da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia O(s) Autor(es) certifica(m) que o manuscrito intitulado: ___________________________________ _________________________________ (ref. RSPA_________) é original, que todas as afirmações apresentadas como factos são baseados na investigação do(s) Autor(es), que o manuscrito, quer em parte quer no todo, não infringe nenhum copyright e não viola nenhum direito da privacidade, que não foi publicado em parte ou no todo e que não foi submetido para publicação, no todo ou em parte, noutra revista, e que os Autores têm o direito ao copyright. Todos os Autores declaram ainda que participaram no trabalho, se responsabilizam por ele e que não existe, da parte de qualquer dos Autores conflito de interesses nas afirmações proferidas no trabalho. Os Autores, ao submeterem o trabalho para publicação, partilham com a RSPA todos os direitos a interesses do copyright do artigo. Todos os Autores devem assinar Data:_________________________________ Nome (maiúsculas): ______________________ _____________________________________ Assinatura: ____________________________ _____________________________________ Cada manuscrito deve ter um “Autor Correspondente”. Porém, todos os autores devem ter participado significativamente no trabalho para tomar responsabilidade pública sobre o conteúdo e o crédito da autoria. Autores são todos os que: - Têm uma contribuição intelectual substancial, direta, no desenho e elaboração do artigo - Participam na análise e interpretação dos dados - Participam na escrita do manuscrito, revendo os rascunhos; ou na revisão crítica do conteúdo; ou na aprovação da versão final Autoria requer uma contribuição substancial para o manuscrito, sendo pois necessário especificar o contributo de cada autor para o trabalho. Ser listado como autor, quando não cumpre os critérios de elegibilidade, é considerado fraude. O alinhamento final dos autores deve ser determinado por todos os autores antes da submissão e não pode ser alterada sem uma explicação por escrito e assinada por todos os autores. Todos os que contribuíram, mas que não encaixam nos critérios de autoria, devem ser listados nos agradecimentos (com a sua autorização por escrito). Língua Os artigos devem ser redigidos em português (de acordo com o novo acordo ortográfico) ou em inglês. Conflito de Interesses Os Autores devem declarar potenciais conflitos de interesse. Os autores são obrigados a divulgar todas as relações financeiras e pessoais que possam enviesar o trabalho. Para prevenir ambiguidade, os autores têm que explicitamente mencionar se existe ou não conflitos de interesse. Essa informação será mantida confidencial durante a revisão do manuscrito pelos revisores e não influenciará a decisão editorial, mas será publicada se o artigo for aceite. A RSPA reserva-se o direito de comercialização do artigo enquanto parte integrante da revista (na elaboração de separatas, por exemplo). O autor deverá acompanhar a carta de submissão com a declaração de cedência de direitos de autor para fins comerciais. Relativamente à utilização por terceiros a Revista da SPA rege-se pelos termos da licença Creative Commons “Atribuição – uso Não-Comercial – Proibição de Realização de Obras derivadas (by-nc-nd)”. Após publicação na RSPA, os autores ficam autorizados a disponibilizar os seus artigos em repositórios das suas instituições de origem, desde que mencionem sempre onde foram publicados. Submissão A RSPA aceita submissões online via “submissões Online” http://revistas.rcaap.pt/anestesiologia. Todos os campos solicitados no sistema de submissão online terão de ser respondidos. Após submissão do manuscrito o autor receberá a confirmação da receção e um número para o manuscrito. Submissão do manuscrito significa que o trabalho é original e que ainda não foi publicado em todo ou em parte e, se for aceite, não será publicado noutro local em todo ou em parte. A RSPA reserva-se o direito de utilizar um software de deteção de plágio em qualquer manuscrito submetido. Autoria A revista segue os critérios de autoria do International Commitee of Medical Journal Editors (ICMJE). Arbitragem Científica / Peer Review A RSPA segue um rigoroso processo cego (single-blind) de 96 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 NORMAS DE PUBLICAÇÃO revisão por pares (peer review). Todos os manuscritos passam por avaliação do editor-chefe que os pode recusar, nesta fase, sem recurso a opinião dos revisores. Todos os manuscritos que não estejam em conformidade com as instruções aos autores podem ser devolvidos para modificações, antes de serem revistos pelos consultores científicos. A aceitação final é da responsabilidade do editor científico. As Cartas ao Editor ou Editoriais serão avaliados pelo Conselho Editorial, mas também poderá ser solicitada uma revisão externa. Sem revisão pelos pares serão publicadas mensagens do Presidente da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia (SPA), resumos de posters/comunicações aceites para apresentação nas reuniões científicas organizadas pela SPA, assim como documentos oficiais da sociedade. Na avaliação, os artigos poderão ser: a) Aceites sem alterações b) Aceites após modificações propostas pelos consultores científicos c) Recusados Apenas serão aceites manuscritos que contenham material original que não estejam ainda publicados, na íntegra ou em parte, e que não tenham sido submetidos para publicação noutros locais. Após a receção do manuscrito, o editor-chefe envia-o a dois revisores, caso o manuscrito esteja de acordo com as instruções aos autores e se enquadre na política editorial. No prazo máximo de quatro semanas, o revisor deverá responder ao editor-chefe indicando os seus comentários relativos ao manuscrito sujeito a revisão, e a sua sugestão quanto à aceitação, revisão ou rejeição do trabalho. Num prazo de 10 dias o Conselho Editorial tomará uma decisão que poderá ser: aceitar o artigo sem modificações; envio dos comentários dos revisores para que os autores procedam de acordo com o indicado; rejeição. Quando são propostas alterações os Autores dispõem de 15 dias (prazo que pode ser alargado a pedido dos autores) para submeterem a nova versão revista do manuscrito, contemplando os comentários dos revisores e do conselho editorial. Respondendo a todas as questões colocadas e uma versão revista do artigo, com as alterações inseridas destacadas com cor diferente. O editor-chefe dispõe de 10 dias para tomar a decisão sobre a nova versão: rejeitar ou aceitar a nova versão, ou submetê-la a uma nova apreciação por um ou mais revisores. No caso da aceitação, em qualquer das fases anteriores, a mesma será comunicada ao Autor Correspondente. Na fase de revisão de provas tipográficas pelos autores, não serão aceites alterações de fundo aos artigos. A inclusão destas alterações pode motivar a rejeição posterior do artigo por decisão do Editor-Chefe. Em todos os casos os pareceres dos revisores serão integralmente comunicados aos autores no prazo de 6 a 8 semanas a partir da data da receção do manuscrito. Instruções aos Autores O manuscrito deve ser acompanhado de declaração de originalidade e de cedência dos direitos de propriedade do artigo, assinada por todos os Autores. O texto, escrito a dois espaços, com letra tamanho 12, Times New Roman e com margens não inferiores a 2,5 cm, em Word para Windows. Todas as páginas devem ser numeradas. O manuscrito não pode ser submetido em formato PDF. Os Autores devem categorizar o “artigo” submetido como Artigo Original, de Educação Médica Contínua, de Revisão, de Consenso, Caso Clínico, Carta ao Editor, Editorial, Perspetiva ou Imagem em Anestesiologia. Antes da submissão do manuscrito, os autores têm que assegurar todas as autorizações necessárias para a publicação do material submetido. A transcrição de imagens, quadros ou gráficos de outras publicações deverá ter a prévia autorização dos respetivos detentores de copyright, de acordo com as normas que regem os direitos de autor. Todas as investigações que envolvem seres humanos devem ter sido aprovadas previamente por comissões de ética das instituições a que pertencem os autores e terem sido desenvolvidas de acordo com a Declaração de Helsínquia da World Medical Association (http://www.wma.net). A declaração relativa à aprovação e consentimento institucional deverá aparecer no início da secção Material e Métodos. Se se trata de investigação animal os autores devem estar atentos ao Decreto-lei 129/72 de 6/7/92, à Portaria 1005/92 de 23/10/92 e estar de acordo com as guidelines definidas no “Guide for the care and use of laboratory animals” disponível em http://grants.nih.gov/grants/olaw/Guide-for-the-Care-and-Use-of-Laboratory-Animals.pdf Se forem usadas fotografias de doentes, estes devem ter a identidade resguardada ou as fotografias devem ser acompanhadas por uma permissão escrita. Detalhes de identificação devem ser omitidos, se não essenciais, mas nunca devem ser alterados ou falsificados na tentativa de manter o anonimato. Devem ser sempre utilizados os nomes genéricos dos medicamentos, excepto quando nome comercial é particularmente relevante. Estrutura - os textos submetidos para publicação devem ser organizados da seguinte forma: Primeira página Deve incluir a seguinte informação: a) Título em português e inglês, conciso e informativo. Se necessário, pode ser usado um complemento de título. b) Nome dos Autores com os títulos académicos e/ou profissionais e respectiva afiliação (departamento, instiRev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 97 NORMAS DE PUBLICAÇÃO tuição, cidade, país) c) Subsídio(s) ou bolsa(s) que contribuíram para a realização do trabalho d) Morada e correio electrónico do Autor responsável pela correspondência relativa ao manuscrito e) Título breve para rodapé objetivo de atualização. O texto não deve exceder as 3 500 palavras, excluindo ilustrações e referências. Deve ter no mínimo 30 referências bibliográficas recentes, sendo permitidas no máximo 10 ilustrações. No final do texto deve ser incluído um teste com questões para avaliação do que aprendeu. Segunda página a) Título (sem autores) b) Resumo em português e inglês O Resumo para o Artigo Original deve ser estruturado da seguinte forma: Introdução, Material e Métodos, Resultados, Discussão e Conclusões, e não deve exceder as 250 palavras. O resumo de educação médica contínua e de revisão não deve exceder as 400 palavras - será estruturado. O resumo do caso clínico está limitado a 150 palavras e os resumos de consenso estão limitados a 350 palavras, todos não estruturados. c) Palavras-chave em português e em inglês (Keywords). Um máximo de 10 palavras-chave, utilizando a terminologia que consta no Medical Subject Headings (MeSH), www.nlm.nih.gov/mesh/MBrowser.html, deve seguir-se ao resumo. A contagem da palavra: até 3 500 Resumo estruturado: Sim e até 400 palavras Tabelas / Figuras: até 10 Referências: até 30 Na terceira página e seguintes O artigo deve ser incluído num dos seguintes itens: Artigo Original Artigo de investigação original que deve incluir as seguintes secções: Introdução (incluindo Objetivos), Material e Métodos, Resultados, Discussão e Conclusões, Agradecimentos (se aplicável), Referências, Tabelas e Figuras. O Artigo Original não deverá exceder as 4 000 palavras, excluindo referências e ilustrações. O texto deve ser acompanhado de ilustrações, com um máximo de 6 figuras/tabelas e 40 referências bibliográficas. Manuscritos reportando estudos randomizados e controlados devem seguir o CONSORT Statement http://www. consort-statement.org/ Manuscritos reportando ensaios clínicos devem seguir os critérios do ICMJE http://www.icmje.org/. Adesão ao QUORUM Statement (Quality of Reporting of Meta-analysis) e o ao STARD (Standards for Reporting of Diagnostic Accuracy), que guiam os autores sobre a informação que deve ser incluída para permitir que os leitores e revisores avaliarem o rigor e transparência da investigação. A contagem da palavra: até 4 000 Resumo estruturado: Sim e até 250 palavras Tabelas / Figuras: até 6 Referências: até 40 Artigo de Educação Médica Contínua Artigo sobre temas de grande interesse científico, com o 98 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 Artigo de Revisão Sistemática A revisão sistemática deve seguir o formato: Introdução (inclui a justificação e objetivo do artigo), Métodos, Resultados, Discussão e Conclusões. O assunto deve ser claramente definido. O objetivo de uma revisão sistemática é produzir uma conclusão baseada em evidências. Os métodos devem dar uma indicação clara da estratégia de pesquisa bibliográfica, a extração de dados, classificação e análise de evidências. Siga as PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses) guidelines disponíveis em http://www.prisma-statement.org/. Não deve exceder 6 000 palavras, excluindo referências e ilustrações. Não deverá ter mais de 100 referências bibliográficas. O uso de tabelas e figuras para sumariar pontos críticos é encorajado. A contagem da palavra: até 6 000 Resumo estruturado: Sim e até 400 palavras Tabelas / Figuras: até 10 Referências: até 100 Artigo de Revisão Narrativa Artigo abrangente que tem como objetivo: sumariar, analisar, avaliar ou sintetizar informação que já foi publicada. Oferece uma avaliação exaustiva e crítica da literatura publicada e fornece as conclusões que a literatura avaliada permite. São artigos por convite da equipa editorial mas, excecionalmente autores não convidados poderão submeter o projeto de artigo de revisão, que julgado relevante e aprovado pelo editor, poderá ser desenvolvido e submetido às normas de publicação. O texto deverá ter as mesmas secções do Artigo Original. A secção Métodos deve ser utilizada para descrever como foi feita a revisão da literatura. As orientações relativas à dimensão do texto são idênticas ao do artigo de Revisão Sistemática. A contagem da palavra: até 6 000 Resumo estruturado: Sim e até 400 palavras Tabelas / Figuras: até 10 Referências: até 100 NORMAS DE PUBLICAÇÃO Artigo de Consenso O objetivo dos Consensos é orientar a prática clínica (por exemplo, diretrizes, parâmetros de prática, recomendações). Deve descrever o problema clínico a ser abordado; o mecanismo pelo qual o consenso foi gerado; uma revisão da evidência para o consenso (se disponível), e a sua utilização na prática. Para minimizar a confusão e aumentar a transparência, os consensos devem começar por responder às seguintes questões: Que outras orientações/guidelines estão disponíveis sobre o tema? Quais as razões que justificaram a procura deste consenso? Como e porquê este difere das orientações existentes? A SPA, o colégio da especialidade, as entidades oficiais e / ou grupos de médicos que desejem publicar consensos, poderão submetê-los à RSPA. O Editor-Chefe poderá colocar como exigência a publicação exclusiva das recomendações na RSPA. Poderá ser acordada a publicação de uma versão resumida na edição impressa cumulativamente à publicação da versão completa no site da RSPA. A contagem da palavra: até 8 000 Resumo estruturado: não necessário e até 350 palavras Tabelas / Figuras: até 5 Referências: até 100 Caso Clínico O relato de um caso clínico só justifica a sua publicação na presença de um evento ou patologia rara que implicou a adoção de condutas não descritas e originais para a resolução dos problemas levantados, aspetos inusitados, evoluções atípicas ou inovações terapêuticas, entre outras. Os casos difíceis ou complicados, mas que não trouxeram nada de novo, não são considerados publicáveis. As secções serão: Introdução, Caso Clínico, Discussão e Referências. O texto não deve exceder as 2 000 palavras e 15 referências bibliográficas. Deve ser acompanhado de figuras ilustrativas. O número de tabelas/figuras não deve ser superior a 6. Não devem ter mais de 4 autores, mas se tiverem mais deve ser dada uma justificação. A contagem da palavra: até 2 000 Resumo estruturado: não necessário e até 150 palavras Tabelas / Figuras: até 6 Referências: até 15 Carta ao Editor Deve ser objetiva e construtiva. Deve constituir um comentário fundamentado a um artigo publicado anteriormente na revista, enviado não mais de três meses após a publicação do texto original, ou uma nota sobre um tema de interesse geral para os anestesiologistas. Deve ser breve (250 a 800 palavras) e pode conter até duas ilustrações e ter um máximo de 7 referências bibliográficas. A resposta(s) do(s) Autor(es) deve observar as mesmas características. Não precisam de resumo. A contagem da palavra: até 800 Resumo estruturado: não é necessário resumo Tabelas / Figuras: até 2 Referências: até 7 Editorial Os Editoriais serão solicitados por convite do Conselho Editorial. Serão comentários sobre tópicos actuais. Não devem exceder as 1 500 palavras, nem conter mais de uma tabela/figura e ter um máximo de 15 referências bibliográficas. Não precisam de resumo. A contagem da palavra: até 1 500 Resumo estruturado: não é necessário resumo Tabelas / Figuras: até 1 Referências: até 15 Perspetiva Artigo elaborado por convite do Conselho Editorial. Podem cobrir uma grande diversidade de temas com interesse para a Anestesiologia: problemas atuais ou emergentes, gestão e política de saúde, história da anestesiologia, ligação à sociedade, epidemiologia, etc. Não precisam de resumo. A contagem da palavra: até 2 000 Resumo estruturado: não necessário resumo Tabelas / Figuras: até 2 Referências: até 10 Imagem em Anestesiologia Apresentação sucinta com imagens interessantes, novas e altamente educativas para destacar informação anestesiológica pertinente. Devem incluir um título em português e em inglês com um máximo de oito palavras e um texto com um máximo de 200 palavras. Não podem ter mais de três autores e cinco referências bibliográficas. Não precisam de resumo. Só são aceites imagens que não tenham sido previamente publicadas. Conteúdo suplementar em vídeo pode ser incluído. A contagem da palavra: até 200 Resumo estruturado: não necessário resumo Tabelas / Figuras: até 5 Vídeos: até 2 Referências: até 5 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 99 Informações complementares A partir da segunda página, inclusive, todas as páginas devem ter em rodapé o título breve indicado na página 1. Abreviaturas Abreviaturas ou acrónimos não devem ser utilizados no título e no resumo, mas apenas no texto e de forma limitada. Abreviaturas não consagradas devem ser definidas na primeira utilização, por extenso, logo seguido pela abreviatura entre parenteses. Uso excessivo e desnecessário de acrónimos e abreviaturas deve ser evitado. Nomes de Medicamentos Não é recomendável a utilização de nomes comerciais de fármacos (marca registrada), mas quando a utilização for imperativa, o nome do produto deverá vir após o nome genérico, entre parênteses, em minúscula, seguido do símbolo que caracteriza marca registrada, em expoente (®). Forneça o nome do fabricante, cidade e país. Quadro / Figura. Toda a Tabela/Quadro ou Figura incluída no artigo têm de ser referida no texto: Exemplo: Uma resposta imunitária anormal pode estar na origem dos sintomas da doença (Fig. 2). Esta associa-se a outras duas lesões (Tabela 1). As Figuras quando referidas no texto são abreviadas para Fig., enquanto as Tabelas/Quadros não são abreviadas. Nas legendas ambas as palavras são escritas por extenso. As Tabelas e Figuras devem ter legenda e são numerados com numeração árabe independente e na sequência em que são referidas no texto Exemplo: Tabela 1, Fig.1, Fig. 2, As Tabelas e Figuras devem ser acompanhadas da respectiva legenda, sucinta e clara. As legendas devem ser autoexplicativas (sem necessidade de recorrer ao texto para as entender) – é uma declaração descritiva. Unidades de Medida: As medidas de comprimento, altura, peso e volume devem ser expressas em unidades do sistema métrico (metro, quilograma ou litro) ou seus múltiplos decimais. As temperaturas devem ser dadas em graus Celsius (º C) e a pressão arterial em milímetros de mercúrio (mm Hg). Todas as medições hematológicas ou bioquímicas serão referidas no sistema métrico de acordo com o Sistema Internacional de Unidades (SI). Legenda das Tabelas: Colocada por cima do corpo da tabela e justificada à esquerda. Na parte inferior serão colocadas todas as notas informativas – notas de rodapé (abreviaturas, significado estatístico, etc.) Legenda das Figuras: Colocada por baixo da figura, gráfico e justificada à esquerda. As imagens devem ser apresentadas em páginas separadas nos formatos exigidos, em condições de reprodução, de acordo com a ordem em que são discutidas no texto. Tabelas, Figuras ou Fotografias É de responsabilidade do autor obter autorização por escrito e, se necessário, pagar todas as taxas de copyright ao titular do direito para republicação na RSPA. Agradecimentos (facultativo) Devem vir após o texto, e antes das referências, e tem como objetivo agradecer a todos cuja contribuição para o estudo é considerada pelos autores como relevante, mas sem o peso de autoria. Nesta secção é possível agradecer a todas as fontes de apoio, quer financeiro, quer tecnológico ou de consultadoria, assim como contribuições individuais. 1. Obter a permissão do detentor do copyright (geralmente a editora) 2. Fornecer cópias da autorização com a apresentação (anexá-lo como "material suplementar" na área de upload de ficheiros no OJS 3. Reconhecer a fonte na legenda da figura / tabela com uma referência numerada 4. Fornecer a citação completa na lista de referências A inclusão de tabelas e/ou figuras já publicadas, implica a autorização do detentor de copyright (autor ou editor). A publicação de ilustrações a cores é gratuita. O material gráfico deve ser entregue em um dos seguintes formatos: Bitmap (. Bmp), GIF (. Gif), JPEG (. Jpg), Pict (. Pic), Portable Document Format (. Pdf), TIFF (. Tif), Excel. As Tabelas (ou Quadros)/Figuras devem ser numerados de acordo com ordem em que são citadas no texto e assinaladas em numeração árabe e com identificação, Tabela/ 100 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 Referências As referências bibliográficas devem ser classificadas e numeradas por ordem de entrada no texto. Devem ser identificadas no texto com algarismos árabes em expoente. Exemplo: "Os potenciais benefícios de evitar a circulação extracorpórea consistem na redução de complicações pós-operatórias, tais como a inflamação sistémica generalizada, 3 fibrilação atrial,4 sangramento,W de disfunção renal,6,7 e lesão cerebral. 8 As citações completas devem ser listadas por ordem numérica no final do texto. As abreviaturas usadas na nomeação das revistas devem ser as utilizadas pelo Index Medicus Journal Abbreviations ftp://nlmpubs.nlm.nih.gov/online/journals/ljiweb.pdf Incluir apenas as referências acessíveis a todos os leitores. Não incluir artigos publicados sem revisão por pares, ou material que aparece em programas de congressos ou em NORMAS DE PUBLICAÇÃO publicações organizacionais. Manuscritos em preparação ou submetidos para publicação nunca são aceitáveis como referências. Se citar manuscritos aceites para publicação como referências, marcá-los como "in press". Tese / Dissertação Académica Jones DL. The role of physical activity on the need for revision total knee arthroplasty in individuals with osteoarthritis of the knee [dissertação]. Pittsburgh: University of Pittsburgh; 2001. Notas: Não indicar mês da publicação. Nas referências com 6 ou menos Autores, todos devem ser nomeados. Nas referências com 7 ou mais autores, devem ser nomeados os 6 primeiros seguidos de “et al”. Seguem-se alguns exemplos de como devem constar os vários tipos de referências. Documento de Conferência Rice AS, Farquhar-Smith WP, Bridges D, Brooks JW. Canabinoids and pain. In: Dostorovsky JO, Carr DB, Koltzenburg M, editors. Proceedings of the 10th World Congress on Pain; 2002 Aug 17-22; San Diego. Seattle: IASP Press; 2003. p. 437-68. Documento electrónico: Artigo Apelido seguido das Iniciais do(s) Autor(es). Título do artigo. Título da revista [abreviado]. Ano de publicação; Volume: páginas. 1.Com menos de 6 autores Brown EN, Purdon PL. The aging brain and anesthesia. Curr Opin Anaesthesiol. 2013;26:414-9. 2. Com mais de 6 autores Pacella E, Pacella F, Troisi F, Dell'edera D, Tuchetti P, Lenzi T, et al. Efficacy and safety of 0.5 % levobupivacaine versus 0.5 % bupivacaine for peribulbar anesthesia. Clin Ophthalmol. 2013;7:927-32. 3. Sem autores Pelvic floor exercise can reduce stress incontinence. Health News. 2005; 11:11. Monografia Autor/Editor AA. Título: completo. Edição (se não for a primeira). Vol. (se for trabalho em vários volumes). Local de publicação: Editor comercial; ano. 1. Com Autores: McLoughlin T. Magnetic resonance imaging of the brain and spine. 3rd ed. Philadelphia: Mosby; 2012. 2. Com Editor: Holzheimer RG, Mannick JA, editors. Surgical Treatment: Evidence-Based and Problem-Oriented. Munich: Zuckschwerdt; 2001. Capítulo de monografia Blitt C. Monitoring the anesthetized patient. In: Barash PG, Cullen BF, Stoelting RK, editors. Clinical Anesthesia. 3rd ed. Philadelphia: Lippincott-Raven Publishers; 1997. p 563-85. Relatório Científico/Técnico Page E, Harney JM. Health hazard evaluation report. Cincinnati: National Institute for Occupational Safety and Health; 2001 Feb. Report No.: HETA2000-0139-2824. 1. CD-ROM Anderson SC, Poulsen KB. Anderson's electronic atlas of hematology [CD-ROM]. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2002.http://www.umi.com/proquest/. 2. Monografia da Internet Van Belle G, Fisher LD, Heagerty PJ, Lumley TS. Biostatistics: a methodology for the health sciences [e-book]. 2nd ed. Somerset: Wiley InterScience; 2003 [consultado 2005 Jun 30]. Disponível em: Wiley InterScience electronic collection. 3. Homepage/Website Cancer-Pain.org [homepage na Internet]. New York: Association of Cancer Online Resources, Inc.; c200001; [consultado 2002 Jul 9].Disponível em: http://www. cancer-pain.org/. A exatidão e rigor das referências são da responsabilidade do Autor. Provas tipográficas Serão da responsabilidade do Conselho Editorial, se os Autores não indicarem o contrário. Neste caso elas deverão ser feitas no prazo determinado pelo Conselho Editorial, em função das necessidades editoriais da Revista. Os autores receberão as provas para publicação em formato PDF para correcção e deverão devolvê-las num prazo de 48 horas Errata e Retrações Publica alterações, emendas ou retrações a um artigo anteriormente publicado. Após publicação, outras alterações só podem ser feitas na forma de uma errata. Nota final Para um mais completo esclarecimento sobre este assunto aconselha-se a leitura do Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals International Committee of Medical Journal Editors), disponível em http://www.ICMJE.org. Normas revistas a 18 de Outubro, 2013 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 101 A via aérea supraglótica I-gel está agora indicado para reanimação e pode ser inserido em menos de 5 segundos com utilização em pacientes com um peso de 30-90 Kgs+, torna o i-gel indicado para a maioria dos adultos. Para experimentar i-gel visite www.i-gel.com, onde poderá encontrar mais informação, videos, downloads e as últimas novidades. 102 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 ´ Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013 103 104 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº3 | 2013