Vacina anti-gripal Diana Silva1,2 1- Serviço de Imunoalergologia, Centro Hospitalar de São João, Porto 2- Serviço e Laboratório de Imunologia, Faculdade de Medicina, Universidade do Porto A gripe é causada pela infeção pelo vírus influenza, que é um vírus RNA da família orthomyxovírus, composta por 3 tipos de vírus dos quais 2 têm maior representação na infeção humana, o tipo A e B[1]. A infeção sazonal é responsável por uma taxa de infeção anual mundial que afeta 5-10% da população adulta e 20-30% das crianças, sendo responsável por 250 000 a 500 000 mortes por ano[2], muitas das quais se associam a complicações da infeção pelo vírus da gripe. Os principais grupos de risco são as crianças com idade inferior a 2 anos, os idosos com mais de 65 anos, os que sofrem de doença crónica ou imunodeprimidos[3]. A vacina anti-gripal, que é a forma primária para prevenir a infeção pelo vírus influenza bem como as suas complicações[4], contém imunogénios (hemaglutinina e neuraminidase) que representam 3 (vacina trivalente) ou 4 (vacina quadrivalente) estirpes do vírus da gripe[5]. As estirpes escolhidas para estarem presentes na vacina variam anualmente de acordo com os dados epidemiológicos, antigénicos e genéticos do ano anterior e contém duas do tipo A (H1N1 e H3N2) e uma ou duas do tipo B, dependendo se a vacina é trivalente ou quadrivalente[6]. Existem dois tipos de vacinas, a inativada, administrada de forma intra-muscular ou intradérmica e a vacina viva atenuada com administração nasal[6]. A mais usada em Portugal e disponibilizada gratuitamente pela Direção Geral de Saúde a alguns grupos de risco é a vacina inativada trivalente[7], tendo apresentado na época de 2014/2015 uma cobertura vacinal de 55% para os grupos prioritários. Para a Europa, o alvo de cobertura vacinal é de 75%[4], sendo que no último ano dos 180 milhões de Europeus com indicação para a vacinação apenas 80 milhões foram vacinados[8]. Uma das razões para estes dados pauta-se pelas divergentes recomendações vacinais entre países[4]. A vacina anti-gripal sazonal permitiu prevenir 1,6 a 2,1 milhões de infeções pelo vírus influenza, 45 300 a 65 600 internamentos e 25 200 a 37 200 mortes na Europa[8]. Contudo, a avaliação da eficácia e efetividade vacinal não se encontra completamente estabelecida e depende de vários fatores, nomeadamente da idade, da imunocompetência do vacinado, grau de similaridade dos vírus presentes na vacina e dos que estão em circulação e dos outcomes avaliados[5]. Na grande maioria das vezes o estudo da caraterização da eficácia vacinal é baseada em estudos observacionais sendo os ensaios clínicos controlados e randomizados escassos [6]. Apesar de ser evidente um efeito preventivo da infeção por influenza, em adultos saudáveis é necessário vacinar 70 pessoas para prevenir 1 caso de gripe por influenza. Nos idosos com >65 a eficácia vacinal foi de 58% IC95% [26;77] na prevenção da infeção por influenza confirmada laboratorialmente, mas a evidência na prevenção de complicações, internamentos, pneumonia e morte é ainda limitada. De forma semelhante houve prevenção da infeção em imunodeprimidos (com infeção por HIV) na ordem dos 85% e nas grávidas em 36%, com evidência de proteção do lactente em 41% [IC95% 7-63%][6]. Na asma, apenas um ensaio clínico avaliou a eficácia nesta população, não encontrando prevenção das exacerbações associada à infeção por influenza, mas uma diminuição dos sintomas durante a exacerbação. Contudo, apesar do receio de exacerbação após vacina anti-gripal, tanto na DPOC como na Asma, a imunização foi segura, não se associando a um aumento do risco de exacerbação nas duas semanas seguintes [6, 9]. Diferentes fatores impedem a obtenção de uma cobertura vacinal desejada, tanto a nível europeu como a nível nacional; neles destacam-se: a hesitação na prescrição da vacina anti-gripal por parte dos profissionais de saúde, relacionada com dúvidas na efetividade e segurança da imunização que advém da evidência científica limitada e controversa; da mesma forma esta hesitação é também colocada no próprio doente e nos receios de exacerbação após a vacinação; as recomendações vacinais complexas entre países; o período curto de janela para a vacinação e a falta de recursos[10]. No intuito de ultrapassar estas limitações é necessário criar infraestruturas adequadas para a produção e distribuição da vacina anti-gripal e promover estudos de base populacional, que incluam diferentes períodos de infeção sazonal e que monitorizem outcomes clínicos de interesse, particularmente complicações e morte, bem como promover novas vacinas com uma maior proteção e imunogenecidade. 1. Elsevier. Rapid reference to influenza. 2012; Available from: http://rapidreferenceinfluenza.com/resource-center. 2. Organization, W.H. Influenza update. 2015; Available from: http://www.who.int/influenza/surveillance_monitoring/updates/latest_update_GIP_surveillan ce/en/. 3. Grohskopf, L.A., et al., Prevention and control of seasonal influenza with vaccines: recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP) -- United States, 2014-15 influenza season. MMWR Morb Mortal Wkly Rep, 2014. 63(32): p. 691-7. 4. Control, E.C.f.D.P.a. Seasonal influenza vaccination in Europe – Overview of vaccination recommendations and coverage rates in the EU Member States for the 2012–13 influenza season. . 2015. 5. Tosh, P.K., R.M. Jacobson, and G.A. Poland, Influenza vaccines: from surveillance through production to protection. Mayo Clin Proc, 2010. 85(3): p. 257-73. 6. Centers for Disease, C. and Prevention, Prevention and control of seasonal influenza with vaccines. Recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices--United States, 2013-2014. MMWR Recomm Rep, 2013. 62(RR-07): p. 1-43. 7. Saúde, D.G.d., Vacinação contra a gripe com a vacina trivalente para a época 2015/2016, D.G.d. Saúde, Editor. 2015. 8. Preaud, E., et al., Annual public health and economic benefits of seasonal influenza vaccination: a European estimate. BMC Public Health, 2014. 14: p. 813. 9. Cates, C.J. and B.H. Rowe, Vaccines for preventing influenza in people with asthma. Cochrane Database Syst Rev, 2013. 2: p. CD000364. 10. Ciancio, B.C. and G. Rezza, Costs and benefits of influenza vaccination: more evidence, same challenges. BMC Public Health, 2014. 14: p. 818. Os cuidados de saúde primários são a primeira linha na prescrição da vacina anti-gripal, esta é, até ao momento, a única forma de prevenção das complicações da infeção pelo vírus influenza. A vacina antigripal é fornecida gratuitamente para indíviduos com ≥65 anos, crianças institucionalizadas com patologias crónicas, doentes em diálise crónica, internados e transplantados e para pessoas com probabilidade acrescida de transmitir o vírus para grupos de risco, nomeadamente profissionais de saúde. Contudo, apesar disso, a cobertura vacinal do ano 2014/2015 encontra-se abaixo do alvo português dos 60% na população de idosos ≥ 65 anos e muito inferior aos recomendados 75% pela Europa. No sentido de prevenir complicações associadas a infeção por influenza, a vacina da gripe deve ser recomendada também a outros grupos alvo prioritários e de risco nomeadamente doentes crónicos e imunodeprimidos. A adequada cobertura vacinal permitirá reduzir o número de infeções por influenza, internamentos e mortes, sendo necessário promover a formação e informação no sentido de evitar e promover uma prescrição informada e segura da vacinação anti-gripal. No último ano dos 180 milhões de Europeus com indicação para a vacinação anti-gripal apenas 80 milhões foram vacinados. A vacina anti-gripal é a forma primária prevenção das complicações da infeção pelo vírus da gripe, particularmente nos grupos em risco, crianças, idosos com ≥65 anos, imunodeprimidos e doentes com patologias crónicas.