O Sonho:
Um atalho para o
Simillimum
Dr. Jorge F. S. Bustamante
1º Simpósio Mineiro de Homeopatia
Horizontes da Homeopatia em Minas
Nov-2008
O Sonho: Um atalho para o Simillimum
Monografia de final de curso apresentada pelo
Autor à UFR Leonardo da Vinci
(Universidade Paris 13) – DUMENAT
em Dezembro – 2007, sob a orientação do
Dr. Jean-Luc Allier
Resumo
Neste trabalho, procura-se demonstrar a relevância e a
utilidade dos sonhos na busca do Simillimum. Devido às
suas características intrínsecas, os sonhos possuem um
significado muito pessoal e são capazes de revelar
aspectos ocultos do indivíduo, principalmente nos
momentos em que ele está doente. Durante as
patogenesias as substâncias testadas provocam o
aparecimento de temas específicos nos sonhos dos
experimentadores. Através da comparação direta desses
temas com aqueles presentes nos sonhos dos pacientes,
é possível descobrir, com rapidez e segurança, o
medicamento mais indicado para cada situação,
conforme se pôde comprovar por meio dos casos
clínicos apresentados e analisados.
Introdução: 1º caso clínico
• Com história familiar e pessoal de alergia, o Autor
apresentava crises de asma, rinite e prurido cada vez
mais freqüentes e intensas, que não respondiam aos
medicamentos homeopáticos bem indicados e que
tinham funcionado com eficácia anteriormente.
• Nessa época o Autor teve, por três noites não
consecutivas, sonhos muito marcantes, não só pelo
conteúdo, mas porque ele jamais tinha sonhado com
aquele assunto.
Introdução: 1º caso clínico
• Todos apresentavam o mesmo tema: ele
precisava ir ao banheiro com urgência e passava
por muitos lugares difíceis procurando por um;
quando encontrava algum, o banheiro estava
imundo, com grande quantidade de fezes saindo
do vaso sanitário e derramando pelo chão.
• Apenas duas rubricas repertoriais levaram ao
remédio indicado: Psorinum
Introdução: 1º caso clínico
• Sonhos – excrementos – fezes
– allox ALOE ant-t apis bar-i bros-g bufo cast-v Cupr
cycl hippo-k hydrog Iod mand merc-i-f merc-i-r psil
Psor sars scor sel ZINC zinc-i
• Sonhos – toalete, estando na
– Psor
• Reação – remédios bem selecionados não agem
– Alum carb-v carc laur Mosch OP ph-ac PSOR stram
Sulph Teucr TUB
Introdução: 1º caso clínico
• Uma dose única de Psorinum 30CH teve efeito
surpreendente: em 24h todos os sintomas
desapareceram!
• Isso levou às perguntas fundamentais que
motivaram esse trabalho:
Introdução
1. Como explicar que alguém tenha tido sonhos
com toaletes e com excrementos ao fazer a
experimentação de Psorinum?
2. Porque, justamente numa fase de agravação da
alergia, o Autor foi sonhar com toaletes e
excrementos?
3. A utilização dos sonhos é um caminho seguro
para encontrar o Simillimum?
Os Sonhos
• [...] o sonho nos aparece como a expressão mais
secreta e mais impudica de nós mesmos. [...] O
sonho se subtrai, portanto, à vontade e à responsabilidade do
homem, em virtude de sua dramaturgia noturna ser espontânea e
incontrolada.
• Aí está um dos principais – senão o principal –
interesse desse momento para a prática médica
homeopática: a exclusão da vontade, de sorte que não
há filtros nem controles. As coisas aparecem como
realmente são no seu íntimo, na sua profundeza.
Os Sonhos
• [...] O sonho é um dos melhores agentes de informação
sobre o estado psíquico de quem sonha. Fornece-lhe, num
símbolo vivo, um quadro de sua situação existencial
presente: ele é para quem sonha uma imagem
freqüentemente insuspeitada de si mesmo; é um revelador
do ego e do self. Mas ao mesmo tempo os dissimula,
exatamente como um símbolo, sob imagens de seres
distintos do sujeito. Os processos de identificação não são
controláveis no sonho. O sujeito se projeta na imagem de
um outro ser: aliena-se, identificando-se com o outro ser.
Os Sonhos
• Essas características dos sonhos permitem que vários
sentimentos ocultos no inconsciente, se manifestem;
que muitas situações desejadas, mas reprimidas,
aconteçam; enfim, que uma outra realidade paralela ganhe
vida em nossas mentes durante os sonhos. Podem ser
situações assustadoras, pavorosas, de impasses ou
dificuldades, engraçadas, alegres ou tristes, etc. mas que
têm em comum um aspecto: estamos despidos de todas
as carapaças diante delas. Os temas que aparecem em
nossos sonhos nos desvendam.
Os Sonhos
• Um dos aspectos da genialidade de Hahnemann
foi sua capacidade de perceber a importância de
se observar toda a influência que uma
substância dinamizada era capaz de provocar no
Ser Humano, nos níveis mental, físico e
inconsciente.
Os Sonhos
• Nem sempre as pessoas se recordam de tudo o que
sonharam. Geralmente guardam aquilo que foi mais
marcante, o que as tocou de uma forma particular, o
que lhes causou uma emoção ou sentimento especial.
Ou seja, lembram-se daquilo que tocou a sua
susceptibilidade.
• Exatamente como acontece, por exemplo, com as
emoções que nos perturbam, com as alterações
climáticas que nos afetam ou com as substâncias às
quais temos alergia. Em outras palavras, a mesma
susceptibilidade que é estimulada pelos remédios
dinamizados durante as patogenesias.
Os Sonhos
• Ora, se durante a patogenesia, uma substância
foi capaz de provocar sonhos com temas
específicos é porque esses temas fazem parte da
essência dessa substância. E, se esses mesmos
temas específicos aparecem nos sonhos de uma
pessoa num momento de desequilíbrio (como
um sintoma do próprio desequilíbrio), nada mais
natural e confiável do que se utilizar os sonhos
(que nos desvendam) como uma pista a seguir
para se encontrar o Simillimum.
Os Sonhos
• Em qualquer situação, com certeza, sempre haverá
coerência entre esses temas e o desequilíbrio apresentado
pelo paciente.
• § 153: [...] os sinais e sintomas do caso de
doença que forem mais fortes, singulares, incomuns e
peculiares (característicos)...
• Concluindo, poucas coisas terão um caráter mais
“pessoal” (singular, incomum e peculiar) que os
sonhos de um indivíduo.
Sonho – sintoma homeopático
• Hahnemann teve o cuidado de anotar
criteriosamente todos os sintomas obtidos dos
experimentadores, inclusive os sonhos.
• Eles se tornaram uma ferramenta singular que
apenas os Médicos Homeopatas dispõem para
ajudar a encontrar o remédio mais indicado para
cada paciente. A Homeopatia é provavelmente a
única área da Medicina capaz de utilizar os
sonhos para prescrever um medicamento.
Sonho – sintoma homeopático
• Um conceito importante, compartilhado por diversos
autores, é o que equipara os sonhos às ilusões e aos
medos, pois eles têm a mesma origem ou representação
no imaginário do indivíduo.
• Esse procedimento tem uma grande utilidade prática
durante a consulta, pois as pessoas dificilmente falam,
espontaneamente ou mesmo quando interrogadas,
sobre as suas ilusões. Entretanto elas falam mais
facilmente de seus medos. E, geralmente, relatam os
sonhos com muita naturalidade, contando até mesmo
situações bastante embaraçosas.
Sonho – sintoma homeopático
• Um indivíduo é roubado de algo que lhe é muito caro e
pouco tempo depois sonha com ladrões. Esse sonho
não tem grande valor como sintoma. Porém esse valor
pode mudar se muito tempo depois ele ainda continuar
sonhando com ladrões - o que não era comum
anteriormente. Ou se uma pessoa que nunca foi
roubada de nada sonha com relativa freqüência com
ladrões. Em ambos os casos, fica claro que o tema
“ladrão” está presente nos desequilíbrios de cada um,
constituindo-se assim num sintoma confiável.
Sonho – sintoma homeopático
• Quando dois ou mais temas completamente diferentes
estão presentes nos sonhos do indivíduo, essa
combinação de temas possibilita chegar ao remédio
mais indicado, unicamente através dos sonhos.
• Quando o paciente conta que já teve algum sonho
muito marcante, do qual nunca se esqueceu,
geralmente, ele relata com riqueza de detalhes a
experiência que viveu, exatamente porque o sonho o
tocou num ponto bastante sensível.
Sonho – sintoma homeopático
• Quando o paciente relata exatamente o mesmo sonho
que um dos experimentadores teve durante a
patogenesia do medicamento, tal qual está descrito na
Matéria Médica. Nessas circunstâncias, sem dúvida, o
sonho sozinho indica o remédio correto.
Como encontrar o Simillimum
• Uma vez que os sonhos são extremamente pessoais (singulares,
incomuns e peculiares), é sempre necessário interrogar os
pacientes sobre os sonhos, como se faz com todos os outros
sintomas.
• Anotar criteriosamente os relatos, sem interpretá-los, mas
tentando identificar com precisão as situações, imagens,
personagens, etc. que indicarão os temas presentes nesses
sonhos.
• Uma vez identificados esses temas, eles devem ter prioridade na
lista dos sintomas homeopáticos do caso.
• Fazer a seleção do medicamento através de repertorização ou da
“pesquisa de palavras” diretamente nos textos de Matéria
Médica.
Como encontrar o Simillimum
• Verificar, na Matéria Médica Pura (ou diretamente nas
patogenesias), se os temas abordados nas descrições
dos sonhos conferem com aqueles presentes nos
sonhos do caso em questão.
• Após a seleção do remédio, deve-se confirmar na
Matéria Médica se a esfera de ação do medicamento
corresponde realmente ao quadro patológico que se
quer tratar.
• Recomenda-se guardar sempre os sonhos anotados no
prontuário do paciente, porque eles serão muito úteis
para a análise da evolução do caso.
2º caso clínico
• K C R, 48 anos, feminino, 1ª consulta em 09/08/2007.
• Veio à consulta por causa de constipação intestinal.
Tem um problema de “intestino irritável” e passa
muitos dias sem defecar (já ficou sem funcionar até 13
dias). Início do quadro ainda na infância. Refere
também ter dor de cabeça quase todos os dias, desde os
12 anos de idade.
• Relata já ter feito enema opaco e colonoscopia, que
revelaram “um intestino grosso fino e liso, sem os
gomos característicos”. Faz uso constante de Tamarine,
mas mesmo assim costuma defecar apenas a cada três
ou quatro dias.
2º caso clínico
• Os sonhos são “muito loucos”, todos têm
relação com extermínio, “o mundo acabou, são
só ruínas”. Ela vaga procurando pessoas nesses
lugares. Desde a infância apresenta também,
com freqüência, sonhos com água em grande
quantidade.
• O tema mais marcante: destruição
2º caso clínico
• Encontramos uma única rubrica contendo as
duas palavras juntas: dreams; cities destroyed by fire.
Nessa rubrica há apenas um remédio: Solanum
tuberosum aegrotans.
• Identificação da fonte: Sol-t-ae é o pus da batata
(pus = destruição). Patogenesia inicial de Benoit
Mure, mais tarde ampliada por outros autores.
2º caso clínico
• Para confirmar a esfera de ação da substância
pesquisamos duas Matérias Médicas Clínicas:
• 1) Tratado de Materia Médica Homeopática, de
Vijnovsky;
• ** 17 Constipación, con deseos frecuentes de
defecar y con grandes esfuerzos que, a veces, le
arrancan lágrimas…
2º caso clínico
• 2) A Dictionary of Practical Materia Medica, de Clarke:
• Stool and Anus.─ Frequent urging to stool.─ Stool
scanty, with straining, passing off in small, black lumps
(balls).─ Has to strain until tears come.
• Dessa forma pode-se constatar que o intestino grosso
está na esfera de ação da substância, sendo a
constipação uma das principais indicações clínicas do
remédio.
3º caso clínico
• S M S M, 43 anos, feminino, 1ª consulta em 27/08/2007.
• Veio à consulta porque está muito ansiosa. É uma pessoa
nervosa, irritada, impaciente. Sua ansiedade vem do fato de
querer sempre resolver os problemas de todo mundo, o que
torna sua vida muito agitada.
• O pai era “muito ruim”... Após a morte dele, apesar de ser a filha
mais nova, foi ela quem assumiu as responsabilidades da casa...
• Teve um sonho que ficou marcado: estava numa festa, no
trabalho, e ninguém dava atenção a ela. Quando ia pegar o
último pedaço de bolo, uma colega passou e pegou antes dela;
era como se ninguém visse que ela estava lá, como se ela fosse
invisível.
3º caso clínico
• O que nos pareceu mais original, mais incomum
e peculiar foi o que se revelou nos sonhos: como
se fosse invisível. Demos início à pesquisa, no
HomeoPro, da palavra “invisi*”. A única
ocorrência foi na rubrica dreams; invisible, of being,
com apenas um remédio: Adamas.
3º caso clínico
• Na patogenesia de Sherr:
• [Dreams] Invisible, nos relatos dos sonhos dos
experimentadores 16 e 20.
• ... também o tema da proteção:
• [Dreams] Babies, protection, nos
experimentadores 5, 10, 11 e 15.
4º caso clínico
• V L S, 45 anos, feminino, 1ª consulta em
27/08/2007.
• Queixa-se de ansiedade, instabilidade emocional
e insônia. Não consegue fazer entrevista de
emprego, tem urgência para urinar toda vez que
vai sair de casa, tem que conferir inúmeras vezes
se não esqueceu nada.
4º caso clínico
• Tem medo em excesso, imagina muita coisa que sabe
que não vai acontecer. Teve a primeira crise de medo
quando o pai morreu, aos 12 anos de idade. Teve uma
segunda crise forte há 7 anos, parou até de trabalhar e
não saiu mais de casa, entrou em estado de pânico.
Nessas horas fica travada, os músculos ficam
paralisados, sente-se anestesiada.
• Tem muita insegurança para fazer coisas que sabe e fica
“paralisada” se alguém a observa nesses momentos.
Transpira muito, tem urgência para urinar, sente
tonteiras e frio no peito.
4º caso clínico
• Costuma ter um sonho freqüentemente: ela
mora num barraco imundo, nojento e horroroso.
E tenta fechar as portas e as janelas, com medo
de alguém entrar e roubar algo.
• Na vida real, a sala da casa onde mora está
sempre arrumada e limpa, “varre 10 vezes por
dia”. Mas o quarto onde dorme está sempre
numa confusão enorme, raramente consegue
arrumá-lo.
4º caso clínico
•
•
•
•
•
dirtiness; dreams
delusion; dirty, everything is, appears foul
anxiety; with, urging to urinate
sensitive; looked at, cannot bear to be
Essa repertorização levou a dois remédios:
Arsenicum album e Curare. Como o primeiro é
um grande policresto, optamos por iniciar o
estudo, na Matéria Médica, pelo segundo.
4º caso clínico
• ... os temas “sujeira”, “ameaça” e “roubo”,
presentes no sonho da paciente, pertencem à
essência da substância Curare. Fomos então
para a Matéria Médica clínica, onde constatamos
que a sensação vital de se sentir “paralisada” é o
principal aspecto na esfera de ação desse
medicamento...
Evolução e resultados
• Após a experiência vivida no início de 2005,
ficou claro para nós a importância que os
sonhos têm como sintomas proeminentes da
doença. De volta ao Brasil, retomamos nossas
atividades profissionais em 2006, passando a
levar sempre em consideração os sonhos no
momento da escolha da medicação para os
pacientes.
Evolução e resultados
• Um levantamento estatístico dos 110 novos
pacientes, cujos casos foram conduzidos, desde o
início, com a metodologia proposta, no período
de 01/08/2007 a 21/11/2007 mostrou:
• 37,2% dos pacientes relataram sonhos cujos
temas foram utilizados na busca do Simillimum.
Desse total, os sonhos foram os únicos sintomas
mentais em 4,5% dos casos e os únicos sintomas
para chegar ao remédio em 2,7%.
Evolução e resultados
• 62,8% dos casos, estão divididos em duas
categorias: 51 pacientes que não se recordam
dos sonhos e 18 crianças com menos de 10 anos,
cujos sonhos, quando relatados, são difíceis de
serem analisados com segurança. Esses casos
foram conduzidos pelos métodos tradicionais.
Evolução e resultados
• Excluindo-se as crianças (18) do grupo de
pacientes (110), obtém-se um total de 92
indivíduos consultados, dos quais quase metade
(44,6%) foi capaz de relatar sonhos, desde que
estimulados a fazer isso por uma simples
indagação: “fale-me dos seus sonhos durante o
sono”.
Conclusão
• ... pudemos constatar a rapidez e a precisão que os
sonhos tiveram na indicação do medicamento
mais adequado, provando assim sua utilidade e
confirmando, dessa forma, que o uso dos
sonhos é uma indicação boa e firme para a
escolha da substância capaz de realizar a cura.
Mais que um caminho seguro, os sonhos se
constituem num
atalho seguro para encontrar o Simillimum.
Fim
Obrigado
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