Associação Brasileira de
Ensino Odontológico
Revista da Associação Brasileira de Ensino Odontológico - volume 5 - número 2 - julho/dezembro - 2005
ABENO
ISSN 1679-5954
REVISTA DA
REVISTA DA
ABENO
Associação Brasileira de Ensino Odontológico
ABENO
volume 5
número 2
julho/dezembro
2005
Associação Brasileira de Ensino Odontológico
ABENO
Associação Brasileira de Ensino Odontológico
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Serviço de Documentação Odontológica
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Revista da ABENO/Associação Brasileira de Ensino Odontológico – vol. 1, n. 1, (2001).
– São Paulo : ABENO, 2001Semestral
ISSN# 1679-5954
A partir de 2005, vol. 5, n. 1 a publicação passa a ser semestral.
1. Odontologia – Periódicos I. Associação Brasileira de Ensino Superior (São Paulo)
II. ABENO
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Elaine Bauer Veeck (PUC-RS)
Élito Araújo (UFSC)
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Fernando Ricardo Xavier da Silveira (FO-USP)
Francisco José de Souza Filho (FOP-UNICAMP)
Izabel Cristina Froner (FORP-USP)
Jaime Aparecido Cury (FOP-UNICAMP)
Jesus Djalma Pécora (FORP-USP)
João Humberto Antoniazzi (FO-USP)
Jorge Abrão (FO-USP)
José Eduardo de Oliveira Lima (FOB-USP)
José Ranali (FOP-UNICAMP)
Liliane Soares Yurgel (PUC-RS)
Luiz Carlos Pardini (FORP-USP)
Luiz Clovis Cardoso Vieira (UFSC)
Manuel Damião de Sousa Neto (UNAERP)
Márcia Martins Marques (FO-USP)
Marcio Fernando de Moraes Grisi (FORP-USP)
Marco Antonio Bottino (FOSJC-UNESP)
Marco Antonio Campagnoni (FOAR)
Maria Aparecida de A. M. Machado (FOB-USP)
Maria Celeste Morita (UEL)
Maria da Graça Kfouri Lopes (UNICENP)
Maria José de Carvalho Rocha (UFSC)
Maria Regina Sposto (FOA-UNESP)
Neusa de Lima Moro (UFPar)
Nilza Pereira da Costa (PUC-RS)
Roberto Brandão Garcia (FOB-USP)
Roberto Miranda Esberard (FOAR-UNESP)
Rodney Garcia Rocha (FO-USP)
Rosemary Sadami Arai Shinkai
Simone Tetu Moysés (UFPar)
Sylvio Monteiro Júnior (UFSC)
Vania Ditzel Westphallen (PUC-PR)
Especialização é Ensino Superior
O
ensino de Odontologia vem merecendo atenção continuada e crescente, estimulada pela ABENO. Multiplicam-se os enfoques e as estratégias para sensibilizar as Instituições de Ensino Superior e os docentes.
Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB)
em 1996, passam a ocorrer mudanças na educação do país
que assinalam um divisor de águas para a educação superior
e especificamente para o ensino de Odontologia.
Nesse período pós-LDB, a ação imediata se desenvolveu
junto aos cursos de graduação, tendo em vista as discussões
para a elaboração e, em seguida, para a implementação das
Diretrizes Curriculares Nacionais com a sinalização paradigmática que elas representam. Face à operacionalização da
LDB, o Conselho Nacional de Educação e o MEC se equiparam com regulamentações e ações, inclusive para a avaliação da educação superior.
Essa política também envolve os cursos lato sensu, ou seja,
atinge a extensa rede de cursos de especialização em Odontologia. As normas para credenciamento, funcionamento,
avaliação e registro de certificados se enquadram na legislação educacional do país.
As conseqüências dessas regulamentações educacionais,
seguidas dos estudos e adequações que se fazem necessários
nos cursos lato sensu, criam o cenário para que os cursos de
especialização em Odontologia sejam entendidos e incorporados como integrantes do sistema da educação superior
do país. Ou seja: a especialização é ensino superior!
Antonio Cesar Perri de Carvalho
Presidente da ABENO
Indexação
A Revista da ABENO - Associação Brasileira de
Ensino Odontológico está indexada na seguinte
base de dados:
BBO - Bibliografia Brasileira de Odontologia.
Revista da ABENO • 5(2):99
99
Associação Brasileira
de Ensino Odontológico
DIRETORIA (2002 a 2006)
Comissão de Ensino
Antonio Cesar Perri de Carvalho (DF)
Léo Kriger (UTP e PUC-PR)
Cresus Vinícius Depes de Gouveia (UFF-RJ)
Elaine Bauer Veeck (PUC-RS)
Ellen Marise de Oliveira Oleto (UFMG-MG)
Maria Celeste Morita (UNOPAR-PR)
Miguel Carlos Madeira (UMESP-SP)
Omar Zina (UNIVAG-MT)
Vice-Presidente
Comissão de Especialização
Presidente de Honra
Edrízio Barbosa Pinto (PE)
Presidente
Eduardo Gomes Seabra (RN)
Secretária Geral
Luciane de Moura Brito (DF)
1ª Secretária
Ana Cristina Barreto Bezerra (DF)
Sigmar de Mello Rode (UNIB-SP)
Célio Percinoto (FOA-UNESP-SP)
Hilda Maria Montes R. de Souza (UERJ-RJ)
José Thadeu Pinheiro (UFPE-PE)
Kátia Regina Hostilho Cervantes Dias (UFRJ-RJ)
Luís Fernando Pegoraro (FOB-USP-SP)
Comissão de Pós-Graduação
Lílian Marly de Paula (DF)
Isabela Almeida Pordeus (UFMG-MG)
Adair Luiz Stefanello Busato (ULBRA-RS)
José Carlos Pereira (FOB-USP-SP)
Lino João da Costa (UFPB-PB)
Nicolau Tortamano (UNIP-SP)
Nilza Pereira da Costa (PUC-RS)
Conselho Fiscal
Comissão de Comunicação
Tesoureiro Geral
Sérgio de Freitas Pedrosa (DF)
1ª Tesoureira
José Galba de Meneses Gomes (CE)
Geza Nemeth (DF)
José Aparecido Jam de Melo (SP)
Nelson José Fernandes Graça (RJ)
Reinaldo Brito e Dias (SP)
Assessores do Presidente
Alfredo Júlio Fernandes Neto (UFU-MG)
Bruno Frederico Muniz (Fundação Odontológica
Presidente Castello Branco-PE)
Carlos Alberto Conrado (UEM-PR)
José Dilson Vasconcelos de Menezes (UECE-CE)
Orlando Airton de Toledo (UnB-DF)
Roberto Schimer Wilhelm (UNESA-RJ)
José Luiz Lage-Marques (USP-SP) - Editor da Revista da ABENO
Vera Lúcia Silva Resende (UFMG-MG) - Responsável pela
home page da ABENO
Cléo Nunes de Souza (UFSC-SC)
Daniel Rey de Carvalho (UCB-DF)
Luísa Isabel Taveira Rocha (UFG-GO)
Nelson Rubens Mendes Loretto (UPE-PE)
SUMÁRIO
v. 5, n. 2, julho/dezembro - 2005
Associação Brasileira de
Ensino Odontológico
EDITORIAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
ARTIGOS
Proposta de uma nova abordagem pedagógica para a
Disciplina de Informática aplicada à Odontologia
Fernanda Silveira da Cunha, Ana Elisa da Silva,
Naiara Leites Larentis, Vania Regina Camargo Fontanella,
Rosane Aragón Nevado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
Avaliação de clínicas odontológicas na Universidade
Católica de Brasília
Daniel Rey de Carvalho, Eric Jacomino Franco,
Sérgio de Freitas Pedrosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
O cirurgião-dentista como educador em saúde bucal:
explorações em torno de uma prática
Natan Guterman . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
Ensino de especialização: redirecionamento acadêmico
Antonio Cesar Perri de Carvalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
Otimização da relação demanda/oferta com redução
dos índices de doenças bucais através do modelo
de assistência básica à saúde
Sérgio Henrique Tanos de Lacerda,
Paulo Sérgio Carneiro Miranda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130
Projeto HUKA KATU: a FORP-USP no Parque Indígena do Xingu
Clícia de Oliveira, Raquel de Carvalho Pacagnella,
Maria da Glória Chiarello de Mattos, Janete Cinira Bregagnolo,
Marlívia Gonçalves de Carvalho Watanabe,
Wilson Mestriner Júnior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
Utilização de imagens 3D para o ensino em Odontologia
Marcio Vieira Lisboa, Josmar Gomes de Carvalho,
José Luiz Lage-Marques, Mikiya Muramatsu,
Matsuyoshi Mori . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140
Avaliação da qualidade de ensino em Endodontia do Curso
de Odontologia da Universidade Federal do Ceará
Mônica Sampaio do Vale . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144
ANAIS DA 40ª REUNIÃO ANUAL - 2005
Comissão Organizadora. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
Programação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153
Trabalhos selecionados para apresentação
Seminários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155
Pôsteres . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 158
APÊNDICE
Normas para apresentação de originais. . . . . . . . . . . . . . 208
Proposta de uma nova abordagem
pedagógica para a Disciplina de
Informática aplicada à Odontologia
A informatização das práticas educativas torna-se um desafio
para o docente, pois a tecnologia oportuniza a criação de uma
série de estratégias e enriquece a aprendizagem.
Fernanda Silveira da Cunha*, Ana Elisa da Silva*, Naiara Leites Larentis*, Vania Regina
Camargo Fontanella**, Rosane Aragón Nevado***
* Mestrandas em Clínicas Odontológicas com Ênfase em Radiologia
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
** Doutora em Estomatologia, Professora Orientadora da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. E-mail:
[email protected].
*** Doutora em Informática na Educação pela Universidade Federal do
Rio Grande do Sul.
RESUMO
As evidentes transformações decorrentes das necessidades impostas pela sociedade ampliam a dimensão profissional do cirurgião-dentista e sugerem a
reformulação curricular nas faculdades de Odontologia. A aprovação pelo Conselho Nacional de Educação
(CNE/CES nº 1.300/01, de 06/11/2001) das Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação
em Odontologia permitiu a incorporação de disciplinas optativas ou de atividades de atualização, visando
a capacitação integral do profissional. Assim, apresentaremos a proposta desenvolvida no projeto final da
disciplina intitulada “Formação de professores em
contextos digitais”, a qual se insere na perspectiva inovadora da incorporação da atividade complementar
denominada “Informática aplicada à Odontologia”
no novo programa de graduação do curso. Esta será
disponibilizada aos alunos de graduação, sendo desenvolvida de maneira presencial e à distância, incorporando as tecnologias da informação e da comunicação ao ensino. Buscamos uma nova abordagem que
permita instrumentalizar para a aprendizagem em
uma perspectiva de ação, interação e operação. Na
realidade, trata-se de uma provocação a alunos e professores, de maneira que a capacidade de iniciativa, a
102
capacidade de busca, o estímulo à ação e as trocas de
produção tornem-se uma oportunidade de enriquecimento e construção. Assim, a criação de um ambiente de aprendizagem que seja um convite à ação e à
reflexão constitui a meta a ser alcançada e a construção de saberes partilhados, o objetivo buscado. Esse é
o nosso convite à reflexão, ao crescimento e a uma
nova forma de fazer educação em Odontologia.
DESCRITORES
Ensino. Informática em saúde. Educação em
Odontologia.
A
s Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de
Graduação em Odontologia, aprovadas pelo
CNE (Parecer da Câmara de Educação Superior do
Conselho Nacional de Educação - CNE/CES
nº 1.300/01, de 06/11/2001; Resolução CNE/CES
nº 3, de 19/02/02, publicada no Diário Oficial da
União de 04/03/2002), sugerem a reestruturação do
currículo mínimo e abrem espaço, dentro do novo
perfil de profissional de odontologia proposto, para
o delineamento de disciplinas optativas ou atividades
com propostas de atualização e/ou aprofundamento
de conteúdos, “com ampla liberdade na composição
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Proposta de uma nova abordagem pedagógica para a Disciplina de Informática aplicada à Odontologia • Cunha FS, Silva AE,
Larentis NL, Fontanella VRC, Nevado RA
da carga horária a ser cumprida para a integralização
dos currículos, assim como na especificação das unidades de estudos a serem ministrados”3. Dessa maneira, o curso amplia a possibilidade de diversificação e
de contribuição com a formação do aluno interessado
em novas opções, que deverão ser oferecidas em um
contexto de pluralismo e diversidade cultural. Além
disso, estas deverão conferir um grau de flexibilidade
que permita ao estudante desenvolver e trabalhar vocações, interesses e potenciais3,6.
Nesse contexto de fortes transformações e reformulação das estruturas vigentes, surge a necessidade
do desenvolvimento de novos métodos e da incorporação de novas tecnologias e novos meios de aquisição
de informações. O uso dos recursos de informática
tornou-se uma prática essencial dentro da odontologia1,5,9,16. Assim, torna-se necessária, durante o curso
de graduação, a incorporação da tecnologia da informação no dia-a-dia dos alunos e professores, contribuindo para o desenvolvimento e o enriquecimento
do ambiente de aprendizagem.
Neste artigo, apresentaremos a proposta desenvolvida no projeto final da disciplina intitulada “Formação de professores em contextos digitais”, oferecida
pela Faculdade de Educação da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS), de caráter opcional/
complementar, para os cursos de pós-graduação, nível
de Mestrado. Essa disciplina insere-se na perspectiva
inovadora da incorporação da atividade complementar denominada “Informática aplicada à Odontologia” no novo programa de graduação do curso.
METODOLOGIA
Proposta
A rápida evolução tecnológica nos coloca frente a
problemas que exigem soluções inovadoras12. A introdução de recursos de informática na educação abre
caminho para a criação de novos ambientes de aprendizagem9,12,13,14. A informatização das práticas educativas torna-se um desafio para o docente, pois a tecnologia oportuniza a criação de uma série de estratégias
e, ao mesmo tempo, enriquece a aprendizagem. Nesse ambiente, cada aluno é um sujeito ativo e o professor assume um papel de problematizador, ou seja, de
organizar as interações do aluno com os outros alunos
e com ele mesmo e problematizar as situações de
modo a fazer o aluno construir sobre o tema que está
sendo abordado10,12,17. A verdadeira construção do conhecimento é coletiva e fruto de relações que nunca
são unilaterais10,17. A construção de relações não-verticalizadas e a cooperação que deverá ser estabelecida
favorecem a modificação dos sujeitos, ativando processos de reflexão e de ressignificação dos objetos do
conhecimento10,12,17. Nessa proposta de construção da
disciplina, o que buscamos é o desenvolvimento de
um pensamento múltiplo de possibilidades, em que
fórmulas prontas e freqüentemente aplicadas são colocadas de lado. A distância é diminuída, e o ambiente se torna um local de troca de experiências que
auxiliem na prática da odontologia, na pesquisa e na
didática.
Objetivos da disciplina
• Incorporar ao cotidiano das práticas odontológicas os novos recursos e a tecnologia da informação,
de maneira que esses auxiliem na prática clínica,
bem como na pesquisa e no ensino.
• Propiciar o desenvolvimento de um ambiente
interativo (aluno versus aluno, aluno versus professor, aluno versus meio), buscando a reflexão e a
reestruturação do aprendizado.
• Favorecer a exploração e a experimentação dos
ambientes virtuais de aprendizagem, para que
haja, através da apropriação da informática, a resolução de dúvidas e problemas.
• Descobrir novas possibilidades de uso dos sistemas
informatizados e novos procedimentos que possibilitem êxito na ação através da interação, criandose ambientes de cooperação através da utilização
de recursos telemáticos de aprendizagem.
Sujeitos
Sugere-se que essa disciplina seja cursada nos semestres iniciais do programa, de modo que os alunos
possam interagir e construir possibilidades através das
ferramentas necessárias para a elaboração de trabalhos, buscas na rede, digitalização de imagens e outras
e também através da cooperação com colegas e professores na resolução de dúvidas e problemas que
possam surgir no decorrer das atividades. O aluno,
antes passivo ao recebimento de informações, cede
espaço àquele que busca concretizar seus objetivos e
ampliar seus conhecimentos, questionando-se e buscando a resposta para as indagações de maneira socializada, bem como transcendendo o que é discutido
em sala de aula.
Conteúdo programático proposto
Os conteúdos abaixo elencados fazem parte do
programa proposto para a disciplina. A hierarquização destes será realizada pelo aluno a partir de suas
necessidades e da sua realidade. Cada conteúdo pro-
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Proposta de uma nova abordagem pedagógica para a Disciplina de Informática aplicada à Odontologia • Cunha FS, Silva AE,
Larentis NL, Fontanella VRC, Nevado RA
posto constituirá um eixo, de modo que o somatório
e as interligações originadas deste formem uma rede
de conhecimento, reflexões e práticas4. Assumimos
que o mais importante é fornecer ao aluno o instrumental para que ele, com independência de pensamento, ação e mobilização de sua criatividade e potencial, possa “aprender a aprender, aprender a ser,
aprender a conviver e, principalmente, fazer e compreender”7.
De que maneira esses conteúdos podem ser inseridos na Odontologia? Estamos vivenciando um intenso processo evolutivo no qual o uso progressivo das
novas tecnologias da informação e da comunicação
apresenta-se inserido em nosso cotidiano. Todo processo evolutivo cria múltiplas possibilidades, e o aluno
deve estar preparado para perceber e receber estas
oportunidades de maneira atualizada5. Isso se encaixa
perfeitamente na construção do perfil do cirurgiãodentista contemporâneo que é clínico, professor e
pesquisador3,5,6.
Dessa maneira, tendo em vista as necessidades
oriundas do novo perfil delineado, os conteúdos, assim como a inserção destes em nossa proposta, estão
elencados abaixo:
Ferramentas para edição de textos, elementos
gráficos e planilhas
A função de um programa é fornecer ao computador as instruções de que este necessita para executar
uma tarefa. Quem manipula o programa é o usuário,
que está indiretamente controlando a máquina. Assim, acreditamos que o aluno deva estar apto a manipular alguns programas, tais como Microsoft Word®
e Microsoft Excel®, que são a base para a utilização de
outros recursos5. Apesar de estas serem ferramentas
básicas e essenciais para a manipulação de qualquer
computador, apenas durante o desenvolvimento das
atividades da disciplina e a execução dos exercícios
propostos teremos condições de precisar tanto o grau
de conhecimento de cada aluno, quanto suas dúvidas,
para que assim possamos direcionar a programação e
os pontos-chave que devem ser discutidos.
Aquisição e processamento de imagens digitais
(fotografias e radiografias)
A montagem de uma apresentação requer a utilização de imagens com boa qualidade. As novas tecnologias, apesar de todo o avanço observado, ainda trazem desconfiança, pois existe uma certa resistência na
aceitação do preparo informatizado do material didático5. Desejamos apresentar aos alunos uma metodo104
logia para digitalizar fotografias, diapositivos e radiografias, bem como os auxiliaremos na manipulação
das câmaras digitais, de modo que eles possam desenvolver seu material. Além disso, gostaríamos de propor
uma alternativa para a recuperação de imagens através
da utilização de recursos de baixo custo e de fácil acesso para os alunos.
Ferramentas de internet: dispositivos de busca,
bibliotecas virtuais, websites de aprendizado à
distância
Procuramos aqui discutir alguns conceitos básicos
com os alunos de modo a familiarizá-los com determinadas palavras que são consideradas essenciais em
ambientes de busca. Além disso, as ferramentas de
busca na internet – “buscadores” gerais (nestes têm-se
as ferramentas que procuram em toda a Web, independentemente da procedência das páginas analisadas, por exemplo, ALTAVISTA, MINER, CADÊ? e
YAHOO!) e específicos (“buscadores” na área da saúde, especialmente na Odontologia, tais como MEDLINE, LILACS, PAHO, BBO) – serão exploradas5.
Bancos de dados
Propomos aqui a exploração dos programas Microsoft Access® e Microsoft Excel®, de modo que o
aluno tenha condições de criar o seu próprio banco
de dados, armazenando e buscando informações através de palavras-chave que lhe sejam importantes, tais
como seu desempenho no semestre, aulas, diapositivos, imagens da Web, dados de pacientes e outras que
sejam de seu interesse.
Programas estatísticos
Exploraremos as próprias funções estatísticas do
Microsoft Excel®, por se tratar de um programa acessível aos alunos e disponibilizado na Faculdade. Apresentaremos também alguns outros programas, como
SPSS® de grande aplicabilidade em pesquisas na área
da saúde.
Aplicativos multimídia
O programa Microsoft PowerPoint® será utilizado
para que, através de seus inúmeros recursos, apresentações, material didático e diapositivos possam ser
elaborados e analisados5.
Softwares direcionados para Odontologia:
planejamento de casos, diagnóstico e gerenciamento
O estudante de Odontologia deve estar familiarizado com os softwares disponíveis no mercado para o
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Proposta de uma nova abordagem pedagógica para a Disciplina de Informática aplicada à Odontologia • Cunha FS, Silva AE,
Larentis NL, Fontanella VRC, Nevado RA
emprego na prática clínica. Assim, programas direcionados a planejamento de casos (por exemplo, para
implantodontia), documentação ortodôntica, cefalometria, gerenciamento de consultório, dentre outros,
serão trabalhados. Esperamos que os próprios alunos
busquem outros programas que despertem interesse,
para que possam ser disponibilizados e discutidos em
sala de aula.
Ambientes de aprendizado
No novo programa de graduação do curso de
Odontologia, a visão interdisciplinar dos conteúdos,
bem como as efetivas trocas entre as áreas de conhecimento contribuirão para o desenvolvimento de um
profissional comprometido e participativo. Acreditamos que toda inovação vem acompanhada de uma
contínua necessidade de mudança, apoiada por questionamentos, pesquisas e investigações. Assim, baseados na reestruturação do currículo mínimo e na inserção de uma nova proposta3,6, tendo em vista a
diversidade individual dentro da universidade, cremos que o modelo tradicional observado em sala de
aula possa ser repensado e a inserção de um modelo
de aprendizagem cooperativa e apoiada na construção dos saberes, analisada10.
O modelo que pretendemos implementar não
prevê apenas a busca da informação pelo discente,
pois ela, por si só, não é suficiente; o professor desloca-se da posição de agente transmissor de conhecimentos. O aluno não é um mero receptor de assuntos
elaborados, formatados e arbitrados por um contexto
externo diferente da realidade de cada um8,12. Consideram-se as diferenças destes, partindo do pressuposto de que são indivíduos que tiveram experiências de
vida, conhecimentos adquiridos e expectativas distintas sobre o quê e como é aprender11.
A partir daí, apostamos em uma disciplina planejada em dois momentos: presencial e em ambiente
virtual12,13,14.
• Presencial: as atividades presenciais serão desenvolvidas em momentos planejados, de maneira
interativa e participativa, segundo as necessidades
e dúvidas geradas com a experimentação das ferramentas digitais e as possibilidades de uso e aplicação na Odontologia.
• Ambiente virtual: as atividades em ambiente virtual serão desenvolvidas buscando-se criar um espaço de orientação e cooperação, em que as incertezas geradas pela nova possibilidade de uso das
ferramentas digitais possam ser divididas e discutidas de forma que as contribuições possam ser
socializadas. É o momento da troca de experiências e do esclarecimento das dúvidas.
Estrutura
Os conteúdos a serem desenvolvidos na disciplina
foram elencados anteriormente. Gostaríamos de reiterar que estes não devem ser encarados de maneira
rígida e inflexível. Nossa programação foi elaborada
tendo em vista dúvidas levantadas pelos próprios alunos em turmas anteriores, que não dispunham dessa
atividade no currículo. Ressaltamos também que, apesar de esses conteúdos terem sido arbitrados por um
todo, o desenvolvimento das atividades e tarefas farse-á pela proposta elaborada pelo grupo, através de
um consenso entre alunos e professor. Além disso, os
alunos terão a oportunidade de explorar, segundo seu
ritmo, os assuntos que consideram de maior interesse
e aplicabilidade. Isso favorecerá a conexão com outros
colegas e com os próprios professores, estimulando
trocas e proporcionando uma constante interatividade de reflexão e ressignificação10,12. O impacto gerado
por cada novo conteúdo explorado desencadeia uma
série de disparos individuais que, ao serem socializados através dos meios telemáticos, tornam-se um convite à cooperação; como conseqüência, novos interesses são despertados, enriquecendo o ambiente de
aprendizagem11,12,13,14.
De que maneira as atividades serão
desenvolvidas?
Ambiente virtual
O ambiente virtual de aprendizagem é um espaço
criado para possibilitar a interação entre os participantes de um curso ou de um grupo que utiliza tecnologias de informação e comunicação como, por
exemplo, a internet. Além disso, associa concepções
pedagógicas a recursos tecnológicos que favorecem a
comunicação interativa, criando um contexto favorável para o estudo.
O trabalho deverá ser desenvolvido em parceria
com o Laboratório de Informática da Faculdade, de
maneira que este seja o responsável por todo o suporte técnico da disciplina, pois, para acessar um ambiente virtual de aprendizagem, é necessário ter um computador conectado à internet e o endereço eletrônico
do ambiente. Será nesse ambiente “informatizado”
que as aulas serão ministradas. Um ambiente virtual
de aprendizagem será inicialmente elaborado tendo
em vista apenas as expectativas dos docentes do curso.
Todavia, nosso desejo é que, com o uso deste pelos
discentes, modificações possam ser estruturadas base-
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Proposta de uma nova abordagem pedagógica para a Disciplina de Informática aplicada à Odontologia • Cunha FS, Silva AE,
Larentis NL, Fontanella VRC, Nevado RA
adas na opinião de todos e uma nova concepção possa ser edificada e aplicada em uma próxima turma.
Assim, a estrutura do ambiente pode ser periodicamente reformulada, transcendendo as características
por vezes rígidas observadas em alguns desses cenários. Nesse primeiro momento, o ambiente não será
disponibilizado para toda a faculdade de odontologia;
os acessos serão feitos apenas pelos alunos e professores através de uma senha.
Será empregada uma metodologia ativa de aprendizagem, na qual a tecnologia será utilizada como
suporte para o enriquecimento da interação entre
professor e aluno e entre os alunos. Assim, busca-se
desencadear um processo de reflexão e de tomada de
consciência da própria aprendizagem, bem como
construir conhecimentos referentes ao entendimento
de conceitos básicos e de mecanismos envolvidos nesse processo12. Esperamos alcançar a criação de um
ambiente virtual simples que apresente apenas as ferramentas necessárias para interação. Nele o aluno
encontrará espaço para12,13,14:
• Cooperação: através do uso de fórum e de e-mail,
alunos e professores poderão trocar informações
e dúvidas sobre os exercícios efetuados e sobre as
leituras indicadas.
• Biblioteca: as leituras disponibilizadas pelo professor e sugeridas pelos próprios alunos serão armazenadas na biblioteca.
• Atividades de compreensão: aqui estarão presentes atividades disponibilizadas para discussão; em
um primeiro momento estas serão planejadas e
elaboradas pelo professor; esperamos que, com o
desenvolvimento do trabalho cooperativo, as informações fluam em todos os sentidos, que os saberes sejam compartilhados e que os discentes
possam, de maneira particular e coletiva, desenvolver tarefas voltadas à compreensão dos conteúdos propostos.
• Webfólio2: transcendemos o uso dos portfólios
para os conceitos telemáticos e propomos a inserção de webfólios no ambiente. Portfólio é uma
compilação dos trabalhos que o estudante entende
por relevantes após um processo de análise crítica
e devida fundamentação. Com o avanço das tecnologias da informação e comunicação, surge uma
nova forma de explorar a construção dos portfólios – os webfólios. A emancipação e ampliação da
autonomia dos estudantes, de modo que o professor possa conhecer as peculiaridades e singularidades de cada um, constitui nossa meta com a
introdução dessa ferramenta; acreditamos que os
106
webfólios possam atuar como facilitadores no processo de construção, ressignificação e reconstrução de conhecimento; através destes, esperamos
que os alunos possam registrar aspectos considerados relevantes durante as interações tanto presenciais como à distância, assim como incluir experiências, investigações complementares aos
assuntos propostos, participação em projetos
na rede e outras informações consideradas relevantes; propomos também que os professores
construam seus webfólios próprios, os quais
constituirão um relato dos docentes em que as
experiências,bem como idéias e reflexões, possam
ser trocadas, acessadas e discutidas pelo grupo.
Sala de aula
As atividades em sala de aula são momentos importantes dentro desse processo de construção do
conhecimento, pois favorecem o estabelecimento de
trocas entre os participantes da disciplina, bem como
o estabelecimento de vínculos12. Portanto, serão nestas que os conteúdos poderão ser redirecionados e
explorados e novas propostas, analisadas. Com base
nos pressupostos acima elencados, buscaremos construir em sala de aula:
• Atividades de compreensão: elaboradas para que
a aplicabilidade dos conteúdos propostos possa ser
analisada e discutida.
• Momentos de discussão: serão momentos-chave
dentro dos eixos que permeiam os conteúdos propostos; é a ocasião de tomada de consciência sobre
as experiências vivenciadas, da socialização das
dúvidas, da cooperação e, principalmente, da reconstrução.
• Seminário: durante as atividades presenciais será
proposta para a turma a realização de um seminário focalizado no seguinte tema: “Aplicação dos
softwares odontológicos disponíveis: necessidade
ou exigência do mercado?”; esperamos que nesse
seminário possamos discutir a aplicabilidade de
diversos programas que já fazem parte da realidade de grande parte dos consultórios odontológicos
e estão disponíveis para o cirurgião-dentista; os
alunos serão divididos em grupos, de acordo com
a abordagem de maior interesse; cada grupo contará com o suporte de um professor auxiliar, que
orientará o trabalho e a busca das informações
necessárias para sua elaboração; desejamos que as
informações obtidas e as incertezas geradas a partir da discussão presencial sejam extrapoladas para
o ambiente virtual, de maneira que as inquietudes
Revista da ABENO • 5(2):102-8
Proposta de uma nova abordagem pedagógica para a Disciplina de Informática aplicada à Odontologia • Cunha FS, Silva AE,
Larentis NL, Fontanella VRC, Nevado RA
suscitadas forneçam os subsídios necessários para
novas explorações.
Avaliação
Fundamentamos o processo de avaliação em uma
concepção de avaliação contínua, processual e permanente. Não nos basta testar a quantidade de informação do sujeito, pois ela restringe-se ao dado formatado
e às relações estabelecidas. Não visamos avaliar o produto expresso. É um processo mais complexo, de
transformação que não se dá apenas no sujeito, mas
sim em todos os envolvidos no ambiente de aprendizagem. Realizar essa prática significa ajustar os critérios à ação, fazer com que os alunos assumam, junto
com o professor, os riscos das decisões tomadas: alunos e professores terão o mesmo compromisso de
realizar a edificação do conhecimento no mais alto
grau possível, abrangendo a complexidade e a incerteza que o processo de conhecer apresenta; atuar-se-á
com rigor e exigência, mas sem excluir nenhum dos
atores, porque o pacto pela aprendizagem é coletivo15.
Avaliação da aprendizagem
Acreditamos que o webfólio2 possa auxiliar na análise processual das atividades, uma vez que transcende
a visão pontual de provas e testes. Nele estarão contidas as reflexões de cada educando sobre as experiências vividas, as dúvidas que surgirão no decorrer do
percurso, as interações entre os participantes, as soluções para os questionamentos e os novos questionamentos gerados a partir das análises cooperativas.
Avaliação do modelo
Ao final da disciplina, realizaremos uma avaliação
coletiva por intermédio de uma discussão com todo
o grupo, elencando as percepções de cada um sobre
a sistemática da disciplina, a execução e a aplicabilidade dos exercícios propostos, as contribuições nos
espaços compartilhados, as descobertas interessantes
na rede e a quantidade de interações efetuadas.
CONCLUSÃO
Acreditamos que as provocações geradas pelas
transformações constantes na sociedade na qual estamos inseridos urgem pela elaboração de novas concepções e pelo redimensionamento de antigas práticas. Os meios telemáticos inserem-se justamente aí,
surgindo com estes a possibilidade de transcendermos
as estruturas que há muito se encontram ultrapassadas. A educação, por conseguinte, não fica de fora
dessas alterações. O papel de professor e de aluno
dentro da Universidade vem sendo sistematicamente
redimensionado. O ostracismo vigente nas décadas
passadas cede seu espaço para a participação e, principalmente, para a cooperação entre mestres e aprendizes. Hoje, desejamos alunos conscientes da responsabilidade do aprendizado. Não esperamos apenas
que os conteúdos necessários para aprovação sejam
formatados pelo docente e as informações adquiridas,
testadas em provas. Aspiramos mais. A possibilidade
da inovação surge com as novas Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Odontologia, que abrem espaço para a formação de um cirurgião-dentista generalista, humanista, crítico e
reflexivo. Nesse novo contexto, além das disciplinas
obrigatórias, farão parte do currículo disciplinas optativo-complementares, que visam a formação integral
do profissional. Surgiu, assim, a perspectiva de criação
de uma atividade que fará parte do novo programa,
incorporando também o ensino à distância.
Nossa proposta é apenas o início de uma longa
caminhada, na qual múltiplos desafios nos esperam;
todavia, acreditamos na necessidade de sua execução.
A criação de um ambiente de aprendizagem que seja
um convite à ação e à reflexão constitui a meta a ser
alcançada e a construção de saberes partilhados, o
objetivo buscado. Esse é o nosso convite à reflexão, ao
crescimento e a uma nova forma de fazer educação
em Odontologia.
ABSTRACT
Development of an alternative teaching model for
the discipline of dental informatics
Changes brought about by the needs of society
have had an impact on the practical dimension of the
dental profession and raised the issue of curricular
changes in dental schools. The National Curriculum
Guidelines for Dental Courses, approved by the National Council of Education (CNE/CES nº 1.300/01,
dated Nov 06, 2001), have allowed the incorporation
of optional courses and professional development activities into the curriculum, so that dentists have the
opportunity to be fully qualified and educated. The
proposal presented here was developed during the
preparation of a term project for the “Teacher Training in Digital Contexts” course, and suggests the incorporation of a course called “Computer Sciences in
Dentistry” into the new Dental School undergraduate
program. The course will be offered to undergraduate
students and will be conducted on-campus and by distance learning, incorporating distance education con-
Revista da ABENO • 5(2):102-8
107
Proposta de uma nova abordagem pedagógica para a Disciplina de Informática aplicada à Odontologia • Cunha FS, Silva AE,
Larentis NL, Fontanella VRC, Nevado RA
cepts. This new approach should prepare students to
learn through action, interaction and operation. It is,
in fact, a challenge for teachers and students to use
initiative, search abilities, the stimulus to act and the
exchange of academic production as an opportunity
for enrichment and growth. Therefore, its purpose is
to create a learning environment that invites actions
and reflections, and its goal is the co-construction of
shared knowledge. It is our invitation to reflection,
growth and a new manner to educate in Dentistry.
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tífica - ensino e pesquisa em Odontologia. São Paulo: Artes
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108
Aceito para publicação em 06/2005
Revista da ABENO • 5(2):102-8
Avaliação de clínicas odontológicas
na Universidade Católica de Brasília
A adequação às Diretrizes Curriculares Nacionais não deve
restringir-se somente à grade curricular, mas ser ampliada
para ações que reforcem todo o seu ideal, como por exemplo
adequações dos sistemas de avaliação de clínicas odontológicas.
Daniel Rey de Carvalho*, Eric Jacomino Franco**, Sérgio de Freitas Pedrosa***
* Assessor Pedagógico do Curso de Odontologia da Universidade
Católica de Brasília. E-mail: [email protected].
** Assessor Administrativo do Curso de Odontologia da Universidade
Católica de Brasília. E-mail: [email protected].
*** Diretor do Curso de Odontologia da Universidade Católica de
Brasília. E-mail: [email protected].
RESUMO
Grandes mudanças na área pedagógica dos cursos
de Odontologia têm sido discutidas baseando-se nas
Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Odontologia. Essas mudanças acabam incidindo mais sobre as clínicas odontológicas, e tornase imprescindível que o sistema de avaliação discente
seja coerente com as propostas das Diretrizes Curriculares. Portanto, é nosso objetivo mostrar e propor
um sistema de avaliação discente para toda e qualquer
clínica odontológica. Esse sistema representa o somatório de três notas: uma nota prática (50%), uma nota
teórica (30%) e uma nota de produtividade (20%).
Ao final do semestre, o aluno deverá ter nota igual ou
superior a 7,0 para ser aprovado. A nota prática representa o somatório da avaliação de três quesitos: conduta, material e procedimento. A nota teórica referese ao somatório das avaliações escritas e dos seminários,
e a nota de produtividade é uma pontuação que reflete a quantidade de procedimentos concluídos pelo
aluno. Após sete semestres de aplicação desse sistema
de avaliação, concluímos que o processo avaliativo
permite confrontar informações entre as diversas clínicas e os diversos alunos e professores de especialidades diferentes. Há uma uniformização de dados que
possibilitam diagnóstico e discussão, os quais culminam com uma reavaliação constante de nossos objetivos dentro do curso de Odontologia.
DESCRITORES
Educação em Odontologia. Ensino, tendências.
Avaliação educacional.
G
randes mudanças na área pedagógica dos cursos
de Odontologia têm sido discutidas baseando-se
nas Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de
Graduação em Odontologia3. As discussões concentram-se no perfil do profissional de Odontologia que
deverá ser preparado pelas instituições de ensino. Esse
profissional deverá ser generalista, humanista, crítico
e reflexivo, competente técnica e cientificamente, respeitando os princípios éticos, legais e compreendendo a realidade socioeconômica em que se encontra.
Para tanto, modificações curriculares deverão ocorrer
principalmente nas clínicas odontológicas, de modo
que sejam transformadas em clínicas onde o tratamento oferecido seja completo e integral ao paciente, respeitando-o como um todo biopsicossocial e somático4.
Dentro do contexto das modificações curriculares,
o sistema de avaliação não deverá ser deixado de lado.
Segundo Barrios, de la Torre1 (2002), há necessidade
de clareza sobre os objetivos a serem atingidos, ou seja,
quando se fala em avaliação, saber “o que avaliar”.
Além disso, saber “quando avaliar”, seja no início, chamado de função diagnóstica, no meio, função formativa, e no final, função somativa. A unificação desses
Revista da ABENO • 5(2):109-14
109
Avaliação de clínicas odontológicas na Universidade Católica de Brasília • Carvalho DR, Franco EJ, Pedrosa SF
critérios permite orientar o aluno, regular nossas
ações e saber como os alunos integram a aprendizagem. Marcondes, Gonçalves5 (1998) reforçam que na
avaliação diagnóstica existe a possibilidade da reformulação dos objetivos pré-definidos, enquanto na
formativa devem-se entender os passos necessários
para o cumprimento dos objetivos. A avaliação somativa permite saber se o objetivo maior foi alcançado.
Rocha7 (2001) acredita que o sistema de avaliação
merece atenção especial porque os instrumentos têm
apontado grandes dificuldades quando se trata de
avaliar seja conteúdo, desempenho discente ou desempenho institucional.
A adequação às Diretrizes Curriculares Nacionais
não deve restringir-se somente à grade curricular, mas
ser ampliada para ações que reforcem todo o seu ideal, como por exemplo adequações dos sistemas de
avaliação de clínicas odontológicas. Pelo exposto, o
nosso objetivo é mostrar e propor um sistema de avaliação discente para toda e qualquer clínica odontológica, principalmente para as chamadas “clínicas
integradas”.
METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO DAS
CLÍNICAS ODONTOLÓGICAS DA
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA
O sistema de avaliação das clínicas odontológicas
da Universidade Católica de Brasília busca o aperfeiçoamento do processo de avaliação clínica, incluindo
as funções diagnóstica, formativa e somativa na construção e busca do conhecimento1, aliado à formação
generalista do futuro cirurgião-dentista.
Atualmente o sistema de avaliação empregado engloba as clínicas de Odontologia Integrada do sexto
ao décimo períodos, clínicas de Odontologia Pediátrica, clínicas de Cirurgia e clínicas de Estomatologia.
A clínica de Cirurgia funciona isoladamente somente
no sexto período, fundindo-se com a Clínica de Odontologia Integrada posteriormente. Em toda a Universidade Católica de Brasília, e não somente no curso
de Odontologia, os alunos devem ter média final igual
ou superior a 7,0 para serem aprovados ao final do
semestre.
Antes de iniciar qualquer procedimento dentro
de clínica, o aluno deve preencher uma ficha de “Planejamento de Procedimento Diário”, como se fosse
um rascunho, que, após autorizada pelo professor
orientador, permite que o procedimento seja executado (Figura 1). Neste momento já se identifica a capacidade técnico-científica do aluno em dar segui110
mento ao plano de tratamento do paciente. Vale
ressaltar que os alunos sempre trabalham em duplas
(a quatro mãos), entretanto o seu desempenho diário
é registrado em fichas individualizadas e separadas do
prontuário odontológico dos pacientes que ele atende (Figura 2).
Ao término do semestre, o aluno receberá uma
nota final de clínica que representa o somatório de
três notas: uma nota prática, uma nota teórica e uma
nota de produtividade. A nota prática corresponde a
50% da nota final, a nota teórica corresponde a 30%
e a nota de produtividade corresponde a 20% no somatório final.
A nota prática constitui a média do número total
de procedimentos concluídos pelo aluno e que são
pré-definidos e divulgados no início do semestre letivo. Esses procedimentos, chamados “concluídos”, raramente sofrem adequação entre um semestre e outro. O procedimento concluído terá valor máximo
igual a 5,0 e representa o somatório da avaliação de
três quesitos:
• Conduta: nesse quesito são observados relaciona-
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA - UCB
CURSO DE ODONTOLOGIA
CLÍNICAS ODONTOLÓGICAS
PLANEJAMENTO DO PROCEDIMENTO DIÁRIO
Período:
Horário:
:
hs
Nº do box:
Nome do operador:
Nome do auxiliar:
Nome do paciente:
Nº do prontuário:
Idade:
Data do procedimento:
Aspectos relevantes do exame físico (intra e extrabucal):
/
/
Aspectos relevantes do exame radiográfico:
Diagnóstico:
Nome do procedimento:
Anestésico:
Descrição do procedimento a ser realizado:
Nome do Professor orientador:
Assinatura do Professor (autorização):
Figura 1 - Ficha de Planejamento do Procedimento Di-
ário das clínicas odontológicas da Universidade Católica
de Brasília.
Revista da ABENO • 5(2):109-14
Avaliação de clínicas odontológicas na Universidade Católica de Brasília • Carvalho DR, Franco EJ, Pedrosa SF
CLÍNICAS
ODONTOLÓGICAS
FICHA
FOTO
DE
AVALIAÇÃO
DO
A LUNO
Operador:
Auxiliar:
Endereço:
CEP:
Cidade:
Tel. res.:
Matrícula:
Tel. cel.:
Nome da Clínica:
Box:
Colocar data, procedimento realizado e especificar o operador (Op) ou auxiliar (Aux) ou se foi reposição (Rep). Operador com nota, auxiliar sem nota. Anotar ambos os alunos
DATA
Nº PRONTUÁRIO
NOME DO PROCEDIMENTO
Op/Aux/Rep
CONDUTA
MATERIAL
PROCEDIMENTO
NOTA
CONCLUÍDA
NOTA
DIÁRIA
NOTA
PROVA
PROFESSOR
....../...../.......
....../...../.......
....../...../.......
....../...../.......
....../...../.......
....../...../.......
....../...../.......
....../...../.......
....../...../.......
....../...../.......
....../...../.......
....../...../.......
....../...../.......
....../...../.......
....../...../.......
....../...../.......
....../...../.......
....../...../.......
....../...../.......
....../...../.......
....../...../.......
NOTA PRODUTIVIDADE + NOTA PRÁTICA + NOTA PROVA
NOTA FINAL DE CLÍNICA
Figura 2 - Ficha de avaliação individualizada dos alunos nas clínicas odontológicas da Universidade Católica de Brasília.
mento aluno/professor, aluno/paciente, aluno/
aluno (entre a dupla e demais alunos) e aluno/
funcionário, pontualidade (entrada e saída das
clínicas/laboratórios), trajes adequados (conforme definido pela Comissão de Biossegurança),
preenchimento adequado do prontuário odontológico (inclusive prescrições medicamentosas, encaminhamentos, recomendações) e atividades
relacionadas à central de esterilização.
• Material: nesse quesito avaliam-se a disponibilidade dos materiais necessários para o procedimento
do dia, a organização do box/bancada (tanto no
início quanto no fim do procedimento), a organização das mesas auxiliares (disposição dos materiais e limpeza) e a aplicação dos métodos de
biossegurança (relativos ao box e aos materiais
necessários para a realização do procedimento).
• Procedimento: nesse quesito avaliam-se o planejamento do procedimento do dia (respeitando a
ordem de execução prevista no plano de tratamento geral do paciente), o interesse e o domínio do
aluno sobre o assunto (embasamento teórico), a
Tabela 1 - Distribuição das notas concedidas nos quesitos
conduta, material e procedimento.
Conduta
Material
Procedimento
0,0
0,0
0,0
0,5
0,5
0,5
1,0
1,0
1,0
-
-
1,5
-
-
2,0
-
-
2,5
-
-
3,0
análise crítica do procedimento, o grau de dificuldade do procedimento e o desempenho técnico
(qualidade).
Os quesitos “conduta”, “material” e “procedimento” poderão ter diferentes notas, conforme mostrado
na Tabela 1. Tais notas são baseadas nas falhas que o
aluno poderá cometer durante a execução de um procedimento. Por exemplo, o aluno que cometer uma
falha terá sua nota diminuída em um nível (1,0 para
0,5, por exemplo). Quando cometer uma falha grave,
Revista da ABENO • 5(2):109-14
111
Avaliação de clínicas odontológicas na Universidade Católica de Brasília • Carvalho DR, Franco EJ, Pedrosa SF
o aluno poderá ter sua nota diminuída em dois níveis.
E quando cometer uma falha gravíssima, a nota poderá diminuir três, quatro ou mais níveis. Ou seja, depende do professor estar envolvido e atento na execução de determinado procedimento e no bom senso
em definir se determinada falha foi grave ou gravíssima, por exemplo.
Ao final do período de atendimento, somam-se as
notas dos três quesitos, obtendo-se a nota diária. Um
procedimento concluído poderá precisar de vários
atendimentos diários para sua concretização. Cada
atendimento gerará uma nota diária. Ao concluir um
procedimento integralmente, faz-se a média aritmética das notas diárias (relativas às etapas da realização
do procedimento em questão), obtendo-se a nota concluída. Quando o procedimento for iniciado e concluído no mesmo dia, deverá ser lançado como nota
concluída e não como nota diária. A média aritmética
das notas concluídas do semestre originará a nota prática.
A nota teórica refere-se às avaliações teóricas e aos
seminários de clínicas cujo valor máximo final deverá
ser igual a 3,0.
Em relação à nota de produtividade, é avaliada a
quantidade de procedimentos concluídos realizados
pelo aluno durante o semestre (observados pela quantidade de notas concluídas na ficha de avaliação). A
quantidade de procedimentos concluídos é personalizada para cada clínica e respeita um grau de complexidade crescente, ou seja, a produtividade da Clínica de Odontologia Integrada I é menor que a da
Clínica de Odontologia Integrada II, e assim sucessi-
vamente. Somente o operador recebe nota, uma vez
que o auxiliar está sob sua supervisão. O valor correspondente à produtividade é obtido conforme o Gráfico 1.
Ressalta-se que o sistema de produtividade não
representa quotas a serem atingidas pelas especialidades odontológicas e, sim, a execução dos procedimentos que o paciente tem necessidade, independentemente da especialidade, até a conclusão de seu
tratamento.
DISCUSSÃO
Acreditamos não fazer sentido algum adequar o
currículo odontológico segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Odontologia se o
sistema de avaliação utilizado não corresponder aos
ideais das Diretrizes. Invariavelmente, o desempenho
da grande maioria dos alunos é um reflexo do tipo de
cobrança e do ritmo que o curso impõe. De modo
geral, a avaliação de um aluno deverá ser transformada em valores concretos, sejam números ou conceitos,
pré-definidos e divulgados, para que, pedagogicamente e administrativamente, considere-se o aluno aprovado ou não nas disciplinas matriculadas e que o mesmo possa tornar-se apto ou não a ser um profissional
qualificado para o mercado de trabalho. Dessa forma,
concordamos com Barrios, de la Torre1 (2002) que,
para avaliar, é necessário gerar juízos de valor em relação à aprendizagem do educando, mas é necessário
ter critérios claros e precisos. A grande dificuldade
encontra-se em fazer essa avaliação de forma justa,
equilibrada e transparente, pautada em quesitos que
Nota de Produtividade
Área
Procedimentos concluídos
Notas
Área A
< X1
0,0
Área B
≥ X1
0,5
Área C
≥ X2
1,0
Área D
≥ X3
1,5
Área E
≥ X4
2,0
Distribuição da produtividade
Média
A
B
X1
C
X2
D
X3
E
X4
Gráfico 1 - Áreas de produtividade e pontuação respectiva, seguindo sistema de distribuição normal. O centro da curva
representa uma média histórica de procedimentos concluídos em clínicas anteriores. Cada clínica odontológica possui
valores próprios. Na área C encontra-se a grande maioria dos alunos. Nas áreas D e E, A e B, encontram-se os alunos que
produziram mais e menos, respectivamente. Os valores deste gráfico não são alterados de um semestre para o outro.
112
Revista da ABENO • 5(2):109-14
Avaliação de clínicas odontológicas na Universidade Católica de Brasília • Carvalho DR, Franco EJ, Pedrosa SF
corroboram com as Diretrizes Curriculares Nacionais
dos Cursos de Odontologia.
Para que o aprendizado seja consciente, o professor deverá transmitir segurança ao aluno, alertando-o
sobre as possíveis dificuldades e de como poderá superá-las4; portanto, o aluno deverá saber exatamente
quais falhas cometeu, evitando assim a repetição da
mesma falha. Segundo Barrios, de la Torre1 (2002),
um observador deverá comentar que a conduta realizada não foi a mais efetiva para o contexto da área das
ações a que ela pertence. O que causa um certo receio
é a discussão momentânea que o presente sistema de
avaliação poderá desencadear entre professor e aluno,
uma vez que existem alunos que procuram notas e
não conhecimentos. Mas, uma vez que todos os critérios de avaliação foram previamente divulgados e explicados e o professor está ciente de que não é mais a
única fonte de conhecimento6, essa discussão acaba
virando uma orientação e uma troca de idéias, baseada na experiência do professor, na filosofia da equipe,
na filosofia do curso de Odontologia e na literatura
científica consagrada. O professor passa a ser um facilitador da aprendizagem, um consultor, um orientador, um avaliador e um estimulador do aluno4.
No Curso de Odontologia da Universidade Católica de Brasília, esse sistema de notas é aplicado em
todas as clínicas, pois independe da especialidade que
o utiliza. É um sistema flexível, que se adapta a qualquer situação, inclusive às laboratoriais. Para tanto,
procuramos atribuir valores diferenciados para os aspectos que julgamos mais importantes, sendo que o
desempenho prático e o conhecimento teórico aplicado à prática representam 50% da nota final. Esse
aspecto da avaliação está baseado não só na qualidade
do desempenho, mas na relação entre embasamento
científico, visão crítica e qualidade. Trinta por cento
da nota final representa a avaliação isolada sobre os
conhecimentos adquiridos, seja na forma de provas
seja na de seminários. As provas envolvem sempre uma
problemática multidisciplinar, cuja resolução implica
saber conceitos e sua aplicabilidade. Em todas as clínicas odontológicas estão previstos seminários ao final
do semestre, em que são discutidos assuntos novos ou
casos clínicos interessantes desenvolvidos pelo próprio aluno dentro da clínica. Finalizando, em nosso
sistema de avaliação, somente 20% representa a produtividade, ou seja, a quantidade de procedimentos
concluídos de acordo com uma quantidade pré-definida e previamente divulgada. No total, privilegiamos
80% de nossa avaliação para as qualidades cognitivas,
psicomotoras e afetivas e somente 20% para a produtividade do aluno. Nosso sistema de avaliação, apresentado primeiramente no seminário “Ensinando e
Aprendendo”2, ainda não privilegiava a produtividade; entretanto, não é justo que a nota de um aluno
que produz muito seja a mesma de um aluno que
produz pouco; portanto, a inclusão desse último quesito foi fruto de observação e adequação, reforçando
um outro aspecto da flexibilidade do sistema adotado,
permitindo modificações sem que ocorra a sua descaracterização.
Ribeiro (NUTES8, 1999) já salientava o descuido
na formação humanista dos profissionais da área de
saúde. Lombardo4 (2001) enfatiza que, nos currículos
dos cursos de graduação, predominam os objetivos
cognitivo e psicomotor, não constando o domínio
afetivo. Em nosso sistema de notas, o domínio afetivo
e os aspectos humanísticos estão absolutamente inseridos no processo de ensino-aprendizagem, uma vez
que no item “conduta”, dentro da nota prática, está
prevista a avaliação direta das relações interpessoais.
Além disso, o nosso grande objetivo é dar alta ao paciente, sem que este fique voltando a cada ano em
turmas diferentes. Somando-se a esse fato, o sistema
de produtividade difere de um sistema de quotas, pois
representa a execução dos procedimentos que o paciente tem necessidade e não a execução do que o
aluno ou o professor desejam realizar. Entretanto, não
podemos deixar que o aluno se forme apresentando
deficiências na prática odontológica; por isso, após a
alta de um paciente, a solicitação do novo paciente
respeitará a necessidade de corrigir essas deficiências.
Indiretamente, todo o sistema de nota preza o respeito ao paciente e o bom diálogo entre todos que atuam
dentro da clínica odontológica.
Salienta-se que os alunos sempre trabalham em
dupla, ou seja, a quatro mãos. O auxiliar não recebe
uma nota individualizada, devido à sua atuação estar
vinculada à nota do operador, uma vez que é função
do operador orientar quem o está auxiliando, simulando a relação do cirurgião-dentista com um auxiliar
de consultório dentário (ACD) ou um técnico em
higiene dental (THD). Outro aspecto importante é
que as duplas são sorteadas a cada semestre e não se
repetem até o final do curso. Tal fato justifica-se devido à necessidade de desenvolver o lado profissional
do aluno, pois o mesmo, ao longo de sua carreira,
poderá trabalhar com pessoas diferentes e o seu desempenho profissional deverá ser o mesmo, independentemente de “gostar ou não” dos seus colegas de
Revista da ABENO • 5(2):109-14
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Avaliação de clínicas odontológicas na Universidade Católica de Brasília • Carvalho DR, Franco EJ, Pedrosa SF
trabalho. O paciente não deve ser influenciado por
um possível desentendimento entre os profissionais.
Por outro lado, não podemos deixar que esse tipo de
imposição interfira negativamente no desempenho
do aluno ao longo dos semestres, portanto as duplas
já sorteadas não serão jamais repetidas.
CONCLUSÃO
Passados sete semestres desde a implantação do
sistema de avaliação das clínicas odontológicas da Universidade Católica de Brasília, podemos concluir que,
independentemente da formação do professor, o processo de avaliação é padronizado, sendo possível confrontar informações entre diversas clínicas, diversos
alunos e professores de especialidades diferentes. Há
uma uniformização de dados que possibilitam diagnóstico e discussão, os quais culminam com uma reavaliação constante de nossos objetivos dentro do curso de Odontologia.
ABSTRACT
Evaluation of Dental Clinic Students in the Catholic
University of Brasília
Many changes have occurred in the pedagogic
area concerning the schools of dentistry, based on the
new National Guidelines for undergraduate courses
of Dentistry in Brazil. These changes end up affecting
the disciplines of dental clinic and must be followed
by a new concept for dental students’ evaluation. This
paper aims to propose a model of evaluation of dental
students for any given dental clinic. The new evaluation system is the result of three evaluations: practical
(50%), theoretical (30%) and productivity (20%)
ones, and students must score seven or more. The
practical evaluation is subdivided into three aspects,
namely, behavior, material and procedure. The theoretical evaluation comprises the grade given to students in written tests and seminars. The productivity
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evaluation involves the number of procedures performed by students. After seven semesters observing
this model, we concluded that the evaluation system
enabled the exchange of information among faculty
members and students of the different clinics. The
data collected becomes uniform, which enables diagnosis and discussion, and constant re-evaluation of our
objectives in the teaching of dentistry.
DESCRIPTORS
Education, dental. Teaching, trends. Educational
measurement. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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estratégias didáticas inovadoras. São Paulo: Madras; 2002.
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3. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES 3/2002, de 19 de fevereiro de 2002.
Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Odontologia. Diário Oficial da União. Sec. 1, p. 10.
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Educacional para a Saúde (NUTES). Caderno semestral do
laboratório de currículo e ensino. Ano 1, out 1999.
Revista da ABENO • 5(2):109-14
Aceito para publicação em 06/2005
O cirurgião-dentista como educador
em saúde bucal: explorações em torno
de uma prática
A suspeita da não-efetividade das ações educativas em saúde
realizadas por profissionais da Odontologia levou-nos a esta
pesquisa, que poderá servir de base para capacitar futuros
profissionais na função de educadores.
Natan Guterman*
* Mestre em Odontologia Social pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. E-mail: [email protected].
RESUMO
Neste estudo, procurou-se identificar as representações sociais de “Educação em Saúde” construídas
pelos alunos da graduação em Odontologia de duas
faculdades de Brasília (uma pública e outra privada)
e por Cirurgiões-Dentistas (CDs) formados nos anos
80 e 90 em diante, escolhidos aleatoriamente em Brasília-DF. Este trabalho também visou servir de base
para investigações mais pormenorizadas e aprofundadas acerca do exercício da atividade educativa em
saúde para atender às necessidades da população, no
sentido de contribuir com a melhor adequação do
perfil profissional. Foram pesquisados ao todo 60 sujeitos, sendo 20 graduandos de cada instituição de
ensino e 10 Cirurgiões-Dentistas de cada faixa supracitada. Utilizou-se como instrumento de coleta de
dados um questionário contendo perguntas fechadas
sobre informações sociodemográficas dos sujeitos,
incluindo campo específico para registro do Teste de
Associação Livre de Palavras. Nesse teste, solicitou-se
aos sujeitos que dissessem as cinco primeiras palavras
associadas ao tema “Educação em Saúde” e, posteriormente, as duas palavras mais importantes dentre essas.
A análise das citações foi executada por meio da Teoria do Núcleo Central. As respostas obtidas às perguntas fechadas foram transportadas para tabelas,
gráficos representativos e diagramas. Os resultados
mostraram que as representações sociais dos sujeitos
dos quatro grupos estudados tenderam para prevenção/educação.
DESCRITORES
Educação em saúde bucal. Representações sociais.
Odontologia social.
A
educação em saúde é considerada nos dias atuais
uma das ações mais importantes na prática odontológica, podendo contribuir com a preservação/promoção da saúde do paciente na medida em que trabalha na construção coletiva dos novos conceitos e
tecnologias, bem como nas reais condições em que os
mesmos são compreendidos e postos em prática. Porém, muitas vezes o processo de educação limita-se a
dizer aos pacientes o que eles deveriam fazer, em lugar
de dar condições a eles de tomarem suas próprias
decisões10.
Na Odontologia, apesar do reconhecimento formal acerca das ações educativas em saúde, bem como
de sua prática, ainda ostenta-se um caráter com atenção centrada sobre o indivíduo e com atividades curativas. A fragmentação do objeto em função da especialização ainda focaliza as atividades clínicas,
notoriamente de cunho curativo, superenfatizando
procedimentos e técnicas na resolução dos problemas
de saúde bucal. Essa situação é reforçada tanto no
nível da Universidade, quanto nos serviços de saúde.
Há que se considerar, além desses aspectos, a forma como a Odontologia absorveu a educação em saúde, adotando a educação em saúde bucal, fruto naturalmente do modelo vigente que aponta uma prática
fragmentada e despojada de ações transformadoras.
Esse modelo privilegia as ações curativas e, mais ainda,
Revista da ABENO • 5(2):115-24
115
O cirurgião-dentista como educador em saúde bucal: explorações em torno de uma prática • Guterman N
os procedimentos ditos clínicos, provavelmente devendo-se ao fato de a Odontologia possuir, desde os
primórdios do ofício, um forte apelo técnico em virtude da natureza de sua prática em recuperar a forma
e a função dos elementos dentários. A despeito das
questões envolvendo as demais estruturas da cavidade
bucal, os chamados “tecidos moles” (gengiva, mucosa
oral), os primeiros problemas a serem demandados
sempre foram de ordem dentária.
Assim, alguns autores têm enaltecido a ação de
educar em saúde com ressalvas metodológicas, enquanto outros a criticam segundo as formas como ela
se apresenta perante o público, com suas inúmeras
linguagens equivocadas e recheadas de termos técnicos incompreensíveis para a maioria da população.
A dificuldade de comunicação dos profissionais de
Odontologia e seu aparente despreparo, na graduação, em termos de conteúdos didático-pedagógicos
foram situações percebidas na prática diária do serviço público de saúde bucal, levando-nos a esta pesquisa, que objetivou identificar as representações sociais
da Educação em Saúde de cirurgiões-dentistas e graduandos de Odontologia. Isso servirá de base para a
elaboração de estratégia didático-pedagógica para capacitar os futuros profissionais na função de educadores, quiçá demonstrar a necessidade de adicionar alguns conteúdos disciplinares indispensáveis a essa
nobre função.
DEFINIÇÃO DO PROBLEMA
Desde quando se iniciou profissionalmente no
serviço público de saúde, trabalhando com o coletivo
em palestras sobre temas de saúde bucal, perceberamse diversas lacunas na relação informação-percepção
por parte da clientela desse serviço. Os usuários não
estavam conseguindo compreender as mensagens sobre saúde bucal direcionadas a eles pelos cirurgiõesdentistas. Essa situação foi evidenciada na observação
de suas fisionomias incrédulas e pelos resultados nãootimistas obtidos durante o tratamento odontológico.
Percebeu-se também que aqueles profissionais,
durante as palestras sobre saúde bucal, utilizavam linguagem científica, com termos técnicos próprios,
criando verdadeira barreira à comunicação. Essa constatação iniciou um processo de questionamento e
curiosidade que levou a indagações: seriam os cirurgiões-dentistas profissionais realmente aptos a educar
em saúde? O simples conhecimento – o saber técnico
específico – capacitaria esses profissionais para isso?
A suspeita da não-efetividade das ações educativas
116
em saúde realizadas pelos profissionais de Odontologia acompanhou-nos durante a presente pesquisa,
tendo-se em vista as observações pessoais já citadas.
Esse problema justificou nossa investida em campo,
no sentido de identificar quais as representações sociais desses sujeitos, para tentar compreender como
a Educação em Saúde é entendida e como seu conceito está sendo trabalhado nas práticas diárias desses
profissionais. Foi igualmente necessário pesquisar
como o tema é tratado na literatura odontológica.
Dessa forma, notou-se que a Educação em Saúde
é abordada de vários modos, sendo, em sua grande
maioria, sob forma de análise de programas com caráter educativo-preventivo, voltados para tipos diferenciados de clientela (crianças e seus pais, idosos,
acompanhantes de crianças hospitalizadas, crianças
HIV-positivas, gestantes, deficientes visuais). Inclui-se
nesse rol verificação da eficácia/eficiência de diferentes recursos didáticos (palestras, uso de músicas, teatro, uso de macromodelos etc.). Outros trabalhos
procuraram avaliar o conhecimento popular e as práticas de saúde bucal utilizadas por usuários de serviços
públicos de saúde. Houve também os que evidenciaram a importância das ações educativas e preventivas.
De qualquer forma, a Educação em Saúde mostrou-se
como tema de importância na Odontologia Social.
Neste estudo, identificou-se também a necessidade de se pesquisarem não apenas os cirurgiões-dentistas, mas também os graduandos de Odontologia, pois
a formação poderia, ainda nos dias atuais, carecer de
certos conteúdos necessários à função de educador
em saúde na atualidade, ocasionando distorções nas
práticas.
Com relação às ações cotidianas dos profissionais
de Odontologia, nota-se a existência de algumas dificuldades por parte desses no sentido de trabalhar
atividades educativas em saúde. Uma delas seria a comunicação entre o dentista e o paciente, que pode ser
dificultada pela linguagem usada, pela distância cultural, pelos preconceitos existentes de ambos os lados,
além de outros fatores.
Para ilustrar, Bervique, Medeiros4 (1980) ressaltam algumas das dificuldades de comunicação do cirurgião-dentista. Ele não se percebe como mau comunicador, assim como os professores recusam-se a achar
suas aulas ruins. Quase sempre está preocupado em
transmitir de modo técnico-científico as mensagens,
isto é, em falar do problema do paciente e do tratamento a ser realizado em vez de assegurar-se da compreensão de seu linguajar pelas pessoas comuns. Por
vezes, suas idéias são tão mal organizadas que não se
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O cirurgião-dentista como educador em saúde bucal: explorações em torno de uma prática • Guterman N
faz entender pelo paciente.
Para Belaciano3 (1996), uma das dificuldades dos
profissionais de saúde é o desconhecimento das práticas de comunicação e de abordagem comunitária.
Talvez por causa da excessiva preocupação com questões ligadas à prática clínica quando da formação desse tipo de profissional a capacitação para esse tipo de
atividade não tenha sido devidamente considerada
como importante.
Há ainda o problema da velocidade da fala. Alguns
falam tão rápido, que chegam ao ponto de os esclarecimentos e as orientações não serem compreendidos
pelas pessoas.
Na abordagem das pessoas, deve-se ter em mente
o enraizamento de diversos conceitos incorporados e
construídos durante a vida. Certamente, não é em
uma simples aula ou palestra ou por outro modo de
exposição que se pode conseguir educar alguém, no
sentido de mudança de hábitos, de rotinas.
Costa, Albuquerque5 (1997), discutindo as questões de ordem pedagógica no processo educativo,
afirmam:
“Para quem é educador é importante lembrar que não
basta o domínio da técnica, do conteúdo, do que ensinar.
Mais importante que isso é como ensinar; o que, por sua
vez, implica o mínimo de formação pedagógica, para que
se consiga o objetivo final, que deverá ser a transformação
da realidade a partir da modificação do comportamento,
via novos conhecimentos.”
Esses conceitos e suas influências, geralmente
construídos e experimentados lentamente ao longo
do tempo, configuram-se em senso comum de idéias,
crenças e imaginários próprios, os quais não obrigatoriamente são iguais aos de quem educa. Com isso,
não se deve esperar a simples aceitação imediata e
passiva, por determinado grupo de pessoas, de ensinamentos transmitidos no processo educativo, pois
diferentes grupos de pessoas possuem diferentes
idéias sobre um mesmo objeto. Tendo-se em vista essa
situação, justifica-se o uso da Teoria das Representações Sociais na área da saúde como um todo.
Como a Teoria das Representações Sociais versa
sobre o conjunto de conceitos, proposições e explicações originadas na vida cotidiana, segundo o curso de
comunicações interpessoais, caberia sua aplicação
como referencial metodológico, visto que os sujeitos
em questão devem possuir, enquanto pertencentes a
determinado grupo social, certa organização da informação disponível sobre determinado objeto. Então,
tomando-se a Educação em Saúde como um desses
objetos, é de se esperar que grupos de pessoas possuam uma representação.
Dessa forma, a imagem desses sujeitos sobre a Educação em Saúde teria impacto capital em determinadas atitudes tomadas nas práticas diárias desses profissionais e, dependendo dessa imagem, estas seriam
ações bem ou malsucedidas.
Além disso, a identificação das representações sociais em Educação em Saúde, uma vez discutida na
pesquisa quando da análise dos dados, forneceria importante ferramenta a ser trabalhada, reforçando esses conceitos ou modificando-os e colaborando para
a efetividade do processo educativo em saúde. Dessa
forma, poder-se-ia afirmar que a Teoria das Representações Sociais poderia ser utilizada também no estudo
de grupos de sujeitos a quem se desejaria educar em
saúde, partindo-se de sua representação sobre esse
objeto. A análise das representações sociais, uma vez
realizada, daria consistência metodológica, ou seja,
científica ao trabalho de Educação em Saúde.
Justifica-se, portanto, a adoção de uma abordagem
grupal em discussões envolvendo Educação em Saúde, pois, na atualidade, a Odontologia tende a tratar
as questões de saúde pública no coletivo, não mais
enfocando o indivíduo, principalmente considerando-se os programas atuais, como o Programa de Saúde
da Família (PSF) e as ações odontológicas coletivas no
Sistema Único de Saúde (SUS). Na adoção de uma
teoria que trata de representações existentes nos grupos de pessoas, uma vez se identificando os conceitos
existentes sobre Educação em Saúde, isto é, como se
traduz esse objeto, tem-se maior compreensão dos
fenômenos relativos à saúde/doença bucais, podendo-se contribuir para a recuperação/manutenção da
saúde.
A TEORIA DO NÚCLEO CENTRAL
Em 1976, Abric1 propôs a hipótese do núcleo central, sendo formulada nos seguintes termos:
“a organização de uma representação social apresenta uma
característica específica, a de ser organizada em torno de
um núcleo central, constituindo-se em um ou mais elementos que dão significado à representação” (p. 31).
Optou-se por utilizar a Teoria do Núcleo Central
nesta pesquisa, pois ela proporciona descrições mais
detalhadas de certas estruturas hipotéticas, bem como
explicações de seu funcionamento que se mostrem
compatíveis com a teoria geral das representações so-
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O cirurgião-dentista como educador em saúde bucal: explorações em torno de uma prática • Guterman N
ciais. Porém, essa teoria não pretende substituir a
abordagem teórica primordial. Ela constitui uma das
maiores contribuições atuais ao refinamento conceitual, teórico e metodológico do estudo das representações sociais (Sá, 1996, p. 51-2).
O Núcleo Central tem duas funções fundamentais
na estrutura das representações sociais: a função geradora, que possibilita a criação ou transformação do
sentido dos outros elementos constituintes da representação, e a função organizadora, por meio da qual
se determina a natureza dos elos que unem os diferentes elementos. Dessa forma, tem-se uma centralidade em torno do sentido e valor e outra proporcionada pela organização de sua unidade e
estabilidade.
Em torno do Núcleo Central organizam-se os elementos periféricos, constituindo o conteúdo essencial
da representação, seus componentes mais acessíveis,
mais vivos e mais concretos, enfatizando, dessa forma,
sua estrutura fundamental.
Abric1 (2000) descreve o sistema periférico tendo
determinação mais individualizada e contextualizada
que o Núcleo Central e sendo:
“...mais associado às características individuais e ao contexto imediato e contingente, nos quais os indivíduos estão
inseridos. Esse sistema periférico permite uma adaptação,
uma diferenciação em função do vivido, uma integração
das experiências cotidianas. Eles permitem modulações
pessoais em referência ao núcleo central comum, gerando
representações sociais individualizadas. Bem mais flexível
que o sistema central, ele protege esse último de algum
modo, permitindo a integração de informações e até de
práticas diferenciadas. Permite também uma certa homogeneidade de comportamento e de conteúdo. (...) associado ao sistema central, permite a ancoragem na realida-
de...”.
O Quadro 1 resume as diferenças entre esses dois
componentes da representação social.
METODOLOGIA
A presente pesquisa é do tipo exploratório, de natureza qualitativa, tendo como suporte teórico a Teoria das Representações Sociais, já citada anteriormente. Foi realizada em Brasília-DF, com uma amostra
intencional de 60 sujeitos, composta por três grupos
a saber: Grupo 1 - 20 Cirurgiões-Dentistas (CDs) da
Secretaria de Estado da Saúde do Distrito Federal;
Grupo 2 - 20 graduandos de Odontologia de uma faculdade pública; e Grupo 3 - 20 graduandos de Odontologia de uma faculdade privada. Resolveu-se estudar
sujeitos de diferentes origens de curso (público e privado) para que se pudesse verificar se teriam diferentes representações sociais sobre Educação em Saúde.
O Grupo 1 foi subdividido em dois subgrupos: o
subgrupo 1A, composto por CDs formados entre 1980
e 1989; e o subgrupo 1B, formado por 10 CDs que se
graduaram no período de 1990 até os dias atuais. Com
relação aos alunos de Odontologia, pesquisaram-se
sujeitos que estavam no 9º e no 10º períodos das duas
faculdades envolvidas no estudo.
Processo de seleção
A respeito do processo de seleção dos CDs, seguiuse o critério de disponibilidade para a pesquisa. A
Secretaria de Estado da Saúde do Distrito Federal dispõe de regionais de saúde em sua estrutura hierarquizada e descentralizada; como a Regional de Saúde de
Taguatinga é a que possui maior quantidade de CDs
Quadro 1 - Comparação entre o Sistema Central e o Sistema Periférico.
Sistema Central
Sistema Periférico
• Ligado à memória coletiva e à história do grupo
• Permite a integração de experiências e histórias individuais
• Consensual
• Define a homogeneidade do grupo
• Tolera a heterogeneidade do grupo
• Estável
• Coerente
• Rígido
• Flexível
• Tolera as contradições
• Resiste às mudanças
• Evolutivo
• Pouco sensível ao contexto imediato
• Sensível ao contexto imediato
Funções:
• Gera o significado da representação
• Determina sua organização
Funções:
• Permite a adaptação à realidade concreta
• Permite a diferença de conteúdo
Fonte: Abric1 (2000).
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O cirurgião-dentista como educador em saúde bucal: explorações em torno de uma prática • Guterman N
que, devido à natureza de seu trabalho, poderiam estar realizando em suas unidades a Educação em Saúde, essa Regional foi eleita como o universo de CDs a
serem pesquisados.
Com relação aos graduandos da faculdade pública, à época do contato com esses sujeitos, a instituição
encontrava-se em greve e, com isso, houve muita dificuldade nesse passo. Contudo, por meio do supervisor
de estágio dos alunos, os indivíduos foram contatados
via telefone, sendo questionados quanto à sua disponibilidade para participar da pesquisa. No que se relaciona aos graduandos da faculdade privada, o autor
entrou em contato direto com a mesma, apresentando
o projeto de pesquisa que, após sua análise, foi prontamente liberado para o estudo.
Os períodos da graduação de ambas as instituições
de ensino foram escolhidos em função da maior carga
horária disponível e ainda por esses alunos já terem
trabalhado com esses conteúdos. Todos os sujeitos
foram selecionados aleatoriamente, segundo o critério de disponibilidade para a entrevista. Esse critério,
tendo-se em vista sua aleatoriedade intrínseca, ofereceu oportunidade de se considerarem ambos os gêneros e as faixas etárias na escolha dos sujeitos em questão.
Questões éticas
É importante afirmar que houve a preocupação
do autor com questões de ordem ética envolvidas no
estudo. Dessa forma, o projeto de pesquisa foi submetido aos Comitês de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da
Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde
do Distrito Federal (DF), obtendo sua aprovação.
Quanto aos CDs, contatou-se a Secretaria de Saúde
do DF por meio da Fundação de Ensino e Pesquisa
em Ciências da Saúde do DF, bem como o Diretor da
Regional de Taguatinga, para que concordassem com
a participação desses sujeitos no estudo, obtendo-se
sua anuência. Da mesma forma, solicitou-se do Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN, vínculo acadêmico
do autor, a permissão para a realização da pesquisa.
É importante ressaltar que a todos os sujeitos envolvidos no estudo foi assegurado o direito de participação ou não na pesquisa, bem como da desistência
em qualquer etapa da pesquisa, respeitando-se a autonomia.
Outra questão importante foi a preocupação do
autor com relação à anuência dos sujeitos à participação. Dessa forma, a cada um deles entregou-se uma
cópia do Termo de Consentimento Informado, docu-
mento necessário para a concordância com a participação no estudo. A cada uma das fichas individuais
nas quais os dados foram devidamente coletados, anexou-se uma cópia assinada desse Termo, em conformidade com as necessidades éticas.
Instrumento para coleta dos dados
O instrumento utilizado para a coleta de dados foi
um questionário contendo perguntas fechadas sobre
informações sociodemográficas dos sujeitos, incluindo campo específico para registro do Teste de Associação Livre de Palavras.
Procedimento de coleta dos dados
A pesquisa adotou a Técnica de Associação Livre
de Palavras para a coleta dos dados, bem como procurou identificar dados sociológicos de todos os sujeitos envolvidos, tais como idade, sexo e ano de graduação, para o grupo dos CDs e período de graduação,
para o grupo dos graduandos de Odontologia.
Segundo Gil8 (1991), o Teste de Associação Livre
de Palavras é um teste projetivo, isto é, fundamenta-se
na apresentação de uma situação estimulante após a
qual o sujeito reage de acordo com o significado particular e específico que essa situação assume para
ele.
Optou-se nesse estudo por adotar o teste projetivo
do tipo “verbal”, que utiliza palavras como estímulo e
solicita associações, complementação de frases ou histórias. Esses testes são úteis na pesquisa social quando
se acredita que as pessoas possam hesitar em exprimir
diretamente suas opiniões, por temer a desaprovação
do pesquisador, ou quando as pessoas tendem a considerar as perguntas diretas como ameaçadoras de sua
privacidade. Para Gil8 (1991), a associação de palavras:
“...é o procedimento verbal mais simples e se fundamenta
numa técnica empregada por Jung para o estudo do comportamento anormal. Certo número de palavras é apresentado a determinada pessoa, que deve dizer o primeiro pensamento que associa com cada palavra. Parte dessas palavras
apresenta conteúdo neutro; outras, porém, estão ligadas às
atitudes sociais que estão sendo pesquisadas” (p. 152).
Sendo assim, a situação estimulante foi a seguinte
pergunta: “Quando você ouve a expressão ‘Educação
em Saúde’, quais são as palavras que lhe vêm à lembrança?”. Solicitou-se, então, a cada sujeito, que citasse cinco palavras relacionadas a essa expressão; em
seguida, pediu-se a cada sujeito que apontasse as duas
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O cirurgião-dentista como educador em saúde bucal: explorações em torno de uma prática • Guterman N
que, dentre as cinco ditas, fossem mais importantes
para ele e também que expressasse as razões das escolhas.
Estudo-piloto
Como etapa preliminar, foi realizado um estudopiloto com graduandos do curso de Odontologia da
UFRN, visto que à época o autor estava em meio ao
curso de Mestrado em Odontologia Social, tendo sido
o curso de Odontologia da mesma universidade o universo eleito devido à conveniência de proximidade.
Essa fase objetivou a familiarização do autor com a
técnica eleita para o estudo, bem como a execução de
quaisquer ajustes que, por ventura, se fizessem necessários.
Antes da aplicação propriamente dita do teste,
para que os sujeitos pudessem entender o que se pretendia, fez-se um pré-teste. Dessa forma, pediu-se a
cada indivíduo que dissesse palavras soltas diretamente relacionadas com determinadas expressões, tais
como “aniversário”, “casamento”, “esporte”, até que
cada sujeito compreendesse o mecanismo do teste.
Somente após essa compreensão e quando as palavras
passavam a ser ditas imediatamente às expressões sugeridas pelo pesquisador, dava-se então início à coleta de dados. Esse artifício pretendeu colher respostas
com mínima chance de elaboração.
Análise dos dados
Os dados sociodemográficos (faixa etária, sexo)
foram dispostos em gráficos comparativos criados
pelo programa Microsoft Excel®, versão 2000.
A análise realizada apoiou-se nos dados obtidos
quando da aplicação da Técnica de Associação Livre
de Palavras (TALP). No agrupamento dos elementos,
procedeu-se a apresentação de cada tema individualmente.
O modo de análise utilizado favoreceu o destaque
de temas que mais chamaram a atenção, correlacionando-os com a prática odontológica, sendo essa a
forma que foi adotada. Essa análise seguiu a proposta
de Vergès apud Pessoa11 (1999), combinando a freqüência de emissão das palavras com a ordem em que
essas foram citadas. Ao se optar por esse tratamento,
pretendeu-se captar o princípio organizador da ancoragem da representação do objeto em estudo. Assim,
os temas citados foram dispostos em tabelas, uma para
cada grupo (incluindo subgrupos), segundo sua ordem de citação.
Foram construídos diagramas resultantes do estudo estatístico e base com quatro quadrantes para as
120
análises das relações, em que se dispuseram os temas
citados segundo a Ordem Média das Evocações
(OME) de cada grupo e as freqüências médias de citação desses temas. Procurou-se identificar e caracterizar tanto o Núcleo Central, quanto os Elementos
Periféricos das representações sociais dos três grupos
estudados.
NÚCLEO CENTRAL E SISTEMA
PERIFÉRICO
Antes da apresentação da estrutura das representações sociais dos grupos estudados, serão evidenciadas algumas características da amostra estudada.
Quanto à faixa etária dos sujeitos entrevistados do
subgrupo 1A, 60% tinham entre 35 e 40 anos de idade,
demonstrando certo amadurecimento profissional.
Com relação aos do subgrupo 1B, 50% estavam concentrados na faixa etária de 25 a 30 anos (Gráfico 1).
Com relação aos alunos de Odontologia pesquisados nas duas instituições de ensino (Grupos 2 e 3,
respectivamente pública e privada), 95% dos que estavam cursando o 9º e o 10º períodos estavam compreendidos na faixa etária de 21 a 25 anos e apenas
5%, na faixa de 26 a 30 anos de idade.
Levando-se em consideração o sexo dos CDs entrevistados, observou-se que, tanto para o caso dos
sujeitos do subgrupo 1A quanto para os do 1B, 60%
eram mulheres (Gráfico 2).
Com relação aos sujeitos do Grupo 2, participaram
da pesquisa 50% de mulheres e 50% de homens; no
caso dos sujeitos do Grupo 3, essa relação foi outra:
no 9º período, 90% mulheres e no 10º período,
70%.
(%)
70
60
anos 80
anos 90
50
40
30
20
10
0
21-25
25-30
31-35
35-40
Faixa etária
Gráfico 1 - Faixa etária dos sujeitos do grupo 1.
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O cirurgião-dentista como educador em saúde bucal: explorações em torno de uma prática • Guterman N
(%)
70
60
50
40
30
20
10
0
Mulheres
Homens
Gráfico 2 - Distribuição percentual dos sujeitos dos sub-
grupos 1A e 1B.
Esse fato ocorreu provavelmente devido à alta proporção de mulheres encontrada comparando-se com
a quantidade de homens em cada turma, parecendo
ser tendência geral nos cursos de Odontologia. Essa
evidência é encontrada nos trabalhos de Freire et al.6
(1995) sobre o perfil dos alunos de Odontologia de
uma universidade pública e de Freitas, Nakayama7
(1995) sobre o perfil do aluno de Odontologia no
estado de São Paulo.
Com relação à Técnica da Associação Livre de Palavras, uma vez tendo-se colhido as cinco palavras ditas
pelos sujeitos, atingiu-se um conjunto disperso e heterogêneo de unidades semânticas. Face a essa desordem, tornou-se necessária a categorização dessas unidades. Dessa forma, as palavras foram separadas por
seus sinônimos ou por proximidade semântica. Aquelas palavras idênticas porventura encontradas foram
descontadas2. Por exemplo, as palavras “necessário” e
“necessidade” foram incluídas no mesmo grupo.
Neste trabalho, em virtude da idéia de classe ou
série, preferiu-se utilizar o conceito de “temas”. Justificando a adoção da expressão “temas” em lugar de
“categorias”, cita-se Minayo9 (2000), afirmando que a
expressão “categoria” refere-se a um conceito que
abrange elementos ou aspectos com características
comuns ou relacionados entre si. Essa palavra está ligada à idéia de classe ou série. As categorias são empregadas para se estabelecerem classificações. Nesse
sentido, trabalhar com elas significa agrupar elementos, idéias ou expressões em torno de um conceito
capaz de abranger tudo isso. Esse tipo de procedimento, de modo geral, pode ser utilizado em qualquer tipo
de análise em pesquisa qualitativa. Desse modo, as
palavras foram renomeadas em “temas”, segundo seu
grupo.
Dessa forma, no total, chegou-se a 300 palavras,
sendo que, no caso dos sujeitos do subgrupo 1A, chegou-se a 42 palavras diferentes. Para o subgrupo 1B,
obtiveram-se 38 palavras. Aparentemente, houve uma
similaridade entre esses dois subgrupos na contagem
das palavras citadas. Com relação aos sujeitos do Grupo 2, encontraram-se 72 palavras diferentes e, finalmente, para os do Grupo 3, chegou-se a 54 palavras
diferentes.
Após o processo de categorização, realizada levando-se em consideração cada um dos grupos e subgrupos de sujeitos trabalhados separadamente, o número
de temas encontrados em cada grupo estudado foi,
respectivamente, 15, 22, 26 e 27.
Logo após esse procedimento, calculou-se a freqüência média de evocação dos temas em cada grupo
(média aritmética das evocações dos temas, valor-limite). Esse valor-limite da freqüência foi calculado dividindo-se o somatório das evocações de todos os temas
em todas as posições de evocação de um dado grupo
pelo total de temas encontrados naquele grupo.
Com relação à freqüência média de evocação, obteve-se, então, para o caso dos sujeitos do subgrupo 1A,
3,33 de freqüência média de evocação (50 palavras
evocadas dividido por 15 temas). Para os do subgrupo 1B, encontrou-se 2,27 (50 palavras evocadas
dividido por 22 temas). Para os alunos do Grupo 2,
chegou-se a 3,84 (100 palavras evocadas dividido por
26 temas) e, finalmente, para os do Grupo 3, a freqüência média foi de 3,70 (100 palavras evocadas dividido por 27 temas).
Essa diferença entre a quantidade de temas encontrados nos dois subgrupos pode indicar que os sujeitos
formados nas últimas décadas tenham tido, durante
a graduação, maiores oportunidades de discussão com
relação ao tema “Educação em Saúde”, explicando o
motivo de se ter identificado nesse subgrupo maior
diversificação dos termos. É provável que, na década
de 1980, os indivíduos não tenham tido essa oportunidade de abordar, em suas discussões na sala de aula,
a Educação em Saúde em profundidade, pois tratavase de período em que a prevenção estava iniciando
como novo paradigma no meio odontológico. Ainda
mais, sabe-se da discrepância entre a academia e a
prática profissional na Odontologia; em outras palavras, o meio universitário parece não acompanhar as
novas discussões que ocorrem nos serviços. De qualquer forma, os temas com maior freqüência de citação
foram, nos dois casos, prevenção e educação.
Revista da ABENO • 5(2):115-24
121
O cirurgião-dentista como educador em saúde bucal: explorações em torno de uma prática • Guterman N
Outro dado importante foi a OME dos temas. Esse
dado tem por função relacionar a posição em que o
sujeito evocou determinado tema (da 1ª até a 5ª evocação). Procurou-se na verdade verificar a diferença
de peso entre uma evocação e outra em função da
seqüência dada aos temas, implicando a atribuição de
um valor correspondente à posição relativa de cada
um deles. Trata-se do cálculo da média ponderada.
Dessa forma, para a primeira evocação atribuiu-se o
peso 1, à segunda, o valor 2, e daí por diante até à
quinta evocação, cujo valor dado foi 5.
A OME foi calculada em três etapas:
1ª. multiplicando-se as freqüências de evocação de
cada tema pelo número de ordem da respectiva
evocação, segundo o critério descrito anteriormente (número 1 - peso dado à 1ª evocação; número
2 - peso dado à 2ª, e daí por diante);
2ª. somando-se todos os produtos acima citados;
3ª. dividindo-se a soma dos produtos de cada tema
pelo total das evocações desse tema.
De posse desses dados, os valores das freqüências
médias de evocação e das médias das OME foram dispostos em um diagrama, dividido em quatro quadrantes, colocando-se acima do eixo horizontal os temas
com freqüência de citação maior ou igual à freqüência
média das evocações; os com valor menor que a freqüência média das evocações ficaram abaixo do eixo
horizontal. Os temas de OME maior que a média das
ordens médias de evocação ficaram dispostos à direita do eixo vertical, enquanto os de menor valor ficaram à esquerda desse eixo.
Seguindo-se Vergès apud Pessoa11 (1999), verificase, a seguir, a estrutura das representações sociais
(Núcleo Central e Sistema Periférico) da Educação
em Saúde nos grupos estudados:
“Os elementos que provavelmente participam do Núcleo
Central da representação – os de maior freqüência e pronta evocação – situam-se no quadrante superior esquerdo.
No quadrante inferior direito – os de menor freqüência e
evocação mais tardia –, situam-se os elementos periféricos
das representações. Os elementos dos quadrantes restantes, superior direito e inferior esquerdo, possibilitam uma
interpretação menos direta, uma vez que tratam de cognições que, apesar de não estarem compondo o Núcleo Central, mantêm uma relação de proximidade com este.”
Assim, identificaram-se, quanto aos sujeitos do subgrupo 1A, dois temas destacando-se dos demais em
termos de freqüência de citação e que têm grande
possibilidade de pertencer ao Núcleo Central das representações sociais: os temas “prevenção” e “educa122
ção”.
Os resultados quanto aos sujeitos do subgrupo 1B
mostraram, da mesma forma que no subgrupo 1A, os
temas “educação” e “prevenção” em destaque, apenas
diferindo pela inversão na freqüência de citação, ou
seja, o tema “prevenção” encontrava-se mais citado
que “educação”.
Quanto aos sujeitos do grupo 2, os temas “prevenção” e “educação”, da mesma forma, surgiram novamente com as maiores freqüências de citação, sugerindo sua participação no Núcleo Central das
Representações Sociais de Educação em Saúde para
os grupos até então discutidos.
Finalmente, os resultados em relação aos sujeitos
do grupo 3. Observa-se que esse grupo confirma a
indicação dos temas “prevenção” e “educação” como
componentes do Núcleo Central.
O Núcleo Central das Representações Sociais de
“Educação em Saúde” para os sujeitos do subgrupo 1A
compõe-se dos temas “educação”, “prevenção”, “população” e “saúde”, sendo as de maior destaque a
“educação” e a “prevenção”, segundo o critério de
maior freqüência de citação (13 e 11 vezes, respectivamente). Parece também que os Elementos Periféricos das Representações Sociais estão representados
pelos temas “não-imposição”, “diária”, “direito de todos”, “beleza”, “função”, “qualidade” e “compromisso”.
Quanto aos sujeitos do subgrupo 1B, destacaramse os seguintes temas como pertencentes ao Núcleo
Central das Representações Sociais: “prevenção” e
“educação”. A “prevenção” apresentou maior freqüência de evocação (16 vezes). Nos Elementos Periféricos, destacaram-se os temas “saúde”, “população”,
“técnica”, “priorização”, “adequação”, “atualização”,
“novidade”, “colaboração do paciente”, “gratificante”,
“Odontologia”, “rotina”, “simples” e “futuro”. Dos Elementos Periféricos, alguns apresentaram evocação
mais tardia: “atualização”, “gratificante” e “futuro”.
Com relação aos sujeitos do grupo 2, os elementos
constituintes do Núcleo Central das Representações
Sociais foram relativos aos seguintes temas: “prevenção” (com 23 evocações), “educação” (com 15), “necessidade” e “saúde”. Para os Elementos Periféricos,
destacaram-se “disciplina”, “atitude”, “disponibilidade”, “interessante”, “difícil”, “luta”, “beneficência” e
“vitória”. Desses, os que apresentaram evocação mais
tardia foram “atitude”, “interessante”, “beneficência”
e “vitória”.
Finalmente, com relação aos sujeitos do grupo 3,
observaram-se os seguintes temas pertencentes ao Nú-
Revista da ABENO • 5(2):115-24
O cirurgião-dentista como educador em saúde bucal: explorações em torno de uma prática • Guterman N
cleo Central das Representações Sociais: “prevenção”
(com freqüência de evocação de 24), “educação” (17),
“saúde” (12), “população”, “necessidade” e “precária”. Quanto aos Elementos Periféricos, estes se constituíram por “motivação”, “alimentação”, “resultado”,
“abrangente”, “satisfação”, “positivo”, “hábitos”, “incentivo”, “hospedeiro” e “melhoria”.
Mesmo após a evidenciação da estrutura das representações, para se ter certeza desses achados, tornaram-se necessários mais alguns tratamentos complementares aos dados (reteste). Assim, construiu-se um
quadro demonstrativo das freqüências e da classificação dos temas evocados no quadrante um, referente
aos elementos constituintes do núcleo das representações.
No reteste, constatou-se que o tema mais destacado nas evocações, segundo o critério de mais indicações na 1ª posição, foi “prevenção”. Esse tema recebeu
as maiores indicações no cômputo geral (f = 74); com
relação aos sujeitos do subgrupo 1B o resultado foi
f = 16; aos sujeitos do grupo 2, f = 23, e aos do Grupo 3, f = 24. Recebeu também a segunda colocação
junto aos sujeitos do subgrupo 1A (f = 11).
O segundo tema a considerar foi “educação”. Esse
recebeu a primeira colocação por parte dos CDs formados nos anos 80 (f = 13) e a segunda no cômputo
geral (f = 53) e nos demais grupos pesquisados. Observou-se, junto aos sujeitos do subgrupo 1B, freqüência 8, aos sujeitos do grupo 2 e junto aos do grupo 3,
freqüência 17.
O terceiro tema com mais freqüência de citação
foi “necessidade”, surgindo no cômputo geral com
freqüência 13 de citação. Porém, apareceu apenas nos
grupos 2 e 3, obtendo junto aos sujeitos do subgrupo 1A a freqüência 7 e, com relação aos do grupo 3,
freqüência 6.
DISCUSSÃO
As evocações iniciais e as reevocações valorativas
praticamente conservaram a mesma ordem de classificação. A primeira posição na classificação do cômputo geral refere-se ao tema “prevenção”, com freqüência 74 de citação e colocada 21 vezes em
primeira posição de citação. O mesmo fenômeno
ocorreu com relação ao tema “educação”, surgindo
no cômputo geral na segunda posição e apresentando
freqüência 53 de citação.
Temas prováveis do Sistema Periférico
Tendo-se identificado a composição dos elementos do Núcleo Central, passa-se a enfocar o Sistema
Periférico, revelado no quadrante 3.
Da mesma forma como o quadrante 1 caracterizou-se por apresentar os temas de maior freqüência
de citação e as menores OME, o quadrante 3 apresenta os temas de menor freqüência de citação e as maiores OME. Assim, o quadrante 1 representa os componentes do Núcleo Central e o quadrante 3, o provável
Sistema Periférico da representação social.
Quanto aos elementos periféricos, observou-se
que apenas um tema destacou-se dos demais, em função do somatório das freqüências de citação, qual seja
“Disciplina” (freqüência 3), enquanto os demais temas encontrados tiveram grande dispersão, tendo-se
encontrado a maioria deles com freqüência 1.
CONCLUSÃO
Ao que parece, a representação social de Educação
em Saúde, para os três grupos pesquisados, configurase como “prevenção”. Consideramos que, quando da
citação do tema “educação”, este fora a tradução errônea pelos sujeitos da pesquisa da expressão dada,
pois sugere-se que os profissionais de Odontologia,
em vista dos resultados, ainda não conseguiram transpor a barreira do paradigma preventivista.
ABSTRACT
Dentists as Oral Health Educators: explorations of
a practice
This study aimed to identify the social representations of health education according to dental students
from two schools of dentistry in Brasília-DF (a public
and a private one), and to dentists graduated in the
80s or after the 90s. The participants were chosen at
random in Brasília-DF. This research also aimed to
serve as a basis for a detailed and thorough investigation into health education to serve the needs of the
Brazilian population, and to contribute to graduate
students with a more adequate professional profile.
Sixty subjects took part in this study, 40 dental students
(20 from each teaching institution) and 20 dentists
(10 from each range studied, as mentioned above). A
questionnaire with multiple choice questions was used
for collection of the subjects’ social and demographic
information, including a specific field for the recording of a Free Word Association Test. In this test, the
subjects were asked to say the 5 first words related to
the studied subject and then select the two most important words among these 5. These words were
analyzed according to the Central Nucleus Theory.
The results of the multiple choice questions were
transferred to tables and representative figures and
Revista da ABENO • 5(2):115-24
123
O cirurgião-dentista como educador em saúde bucal: explorações em torno de uma prática • Guterman N
diagrams. Results showed that social representations
of health education according to both dentists and
students tended to be education/prevention.
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Revista da ABENO • 5(2):115-24
Ensino de especialização:
redirecionamento acadêmico
Não é cabível que a normatização, o credenciamento e a avaliação
dos cursos de especialização continuem à margem do sistema
educacional. Torna-se importante a inclusão desse nível de ensino
no projeto pedagógico da IES, mantendo coerência com as Diretrizes
Curriculares Nacionais.
Antonio Cesar Perri de Carvalho*
* Professor Titular Aposentado da Universidade Estadual Paulista,
Campus Araçatuba. E-mail: [email protected].
RESUMO
O ensino de especialização em Odontologia em
nosso país é analisado desde a fundamentação e sistematização da pós-graduação stricto sensu até a situação
atual, em que, no contexto das várias profissões, o
desenvolvimento dos cursos de especialização e a pulverização de especialidades é específico da Odontologia. A partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Brasileira (LDB) (Lei nº 9.394, de 20/02/1996), há
significativa legislação sobre organização e avaliação
do ensino superior e regulamentações sobre credenciamento de oferta, funcionamento, cadastro e valor
atribuído à certificação de cursos lato sensu. Como o
ensino de especialização prepara profissionais para o
mercado de trabalho e também oferece recursos humanos para o ensino, é destacada a necessidade da
vinculação desse nível de ensino ao projeto pedagógico da Instituição de Ensino Superior (IES) e em
coerência com as Diretrizes Curriculares Nacionais
dos Cursos de Graduação em Odontologia. Entre os
estudos cabíveis, são pertinentes os referentes a visão
integrada da saúde; aspectos preventivos e promocionais da saúde na especialidade; introdução de conteúdos mais significativos de bioética, metodologias da
pesquisa e do ensino e para a elaboração de monografia; ensino “on-line”; algumas especificidades de área,
como Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial
(CTBMF). A revisão da proposta dos cursos de especialização também deve atender à legislação sobre
avaliação do ensino superior, alterando-se os critérios
para avaliação dos mesmos. A Associação Brasileira de
Ensino Odontológico (ABENO) encaminhou ao Ministério da Educação e Cultura (MEC) uma proposta
de “Instrumento de Verificação de Cursos de Especialização”. Os novos tempos educacionais pós-LDB induzem à necessidade urgente de discussões e reflexões
no âmbito acadêmico sobre o ensino de especialização.
DESCRITORES
Educação em Odontologia. Ensino. Especialização.
A
fundamentação e sistematização da implantação
da pós-graduação stricto sensu em nosso país e a
definição de lato sensu como “cursos destinados ao
treinamento nas partes de que se compõe um ramo
profissional ou científico”, ou “o domínio científico e
técnico de uma certa e limitada área do saber ou da
profissão, para formar o profissional especializado”,
emanam do parecer de Newton Sucupira (977/65)
do Conselho Federal de Educação15.
O ensino de especialização em Odontologia teve
desenvolvimento amplo, sem regulamentações do Ministério da Educação e Cultura (MEC) e de órgãos
educacionais, e com expansão fora do âmbito das universidades. No contexto das várias profissões, esse cenário e a pulverização de especialidades são específicos da Odontologia.
A Resolução CFO nº 61/2004, de 03/12/20044,
embora sem clareza, cita “tratativas” com a Secretaria
de Educação Superior (SESu)/MEC, e contribuiu
Revista da ABENO • 5(2):125-9
125
Ensino de especialização: redirecionamento acadêmico • Perri de Carvalho AC
para aflorar uma situação que até então era pouco
conhecida pela classe odontológica, ou seja, a visão
jurídico-educacional pertinente a credenciamento,
normatização, avaliação e registro dos certificados dos
cursos de especialização.
A Associação Brasileira de Ensino Odontológico
(ABENO) vem debatendo o ensino de especialização
nos últimos anos, e define como objetivos desses cursos “aprofundar o conhecimento e as habilidades técnicas e científicas, visando à formação de recursos
humanos no campo específico de sua atuação nas diversas subáreas da Odontologia, buscando uma transdisciplinaridade”1.
O objetivo deste estudo é oferecer subsídios para
a reflexão acadêmica sobre a situação atual e propostas que visem a uma melhor definição e aperfeiçoamento do ensino de especialização em Odontologia.
LEGISLAÇÃO
Os cursos de especialização e os certificados expedidos são regidos pela legislação da educação superior
e pelos órgãos educacionais6. Fatos novos emergiram
com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Brasileira (LDB) (Lei nº 9.394, de
20/02/1996), da legislação sobre organização e avaliação do ensino superior (Decreto nº 3.860, de
09/07/2001; Lei nº 10.861, de 14/04/2004). As regulamentações da LDB passam a tratar especificamente
dos cursos lato sensu, pois tornam restrita ao ensino
superior (Art. 44, inciso III) a oferta de cursos de mestrado, doutorado, especialização e aperfeiçoamento.
O Parecer CNE/CES nº 908, de 02/12/1998, define
a variação do valor do título obtido em função da característica das instituições que ofertam o curso. A
Resolução CNE/CES nº 1, de 03/04/2001, estabelece
normas para o funcionamento dos cursos de especialização em nível de pós-graduação modalidade lato
sensu, que podem ser oferecidos por instituições de
educação já credenciadas para oferta de ensino superior ou por instituições especialmente credenciadas
para esse fim pelo Ministério da Educação (Art. 6º).
Destacamos que essas instituições não devem ser confundidas com entidades de classe. Outras normatizações oferecem detalhamentos sobre procedimentos
com o objetivo de credenciamento de oferta, funcionamento e cadastro e valor atribuído à certificação de
cursos lato sensu (Parecer CNE/CES 0281/2002;
Portaria MEC nº 1.180/2004; Portaria MEC
nº 4361/2004).
126
PESQUISAS SOBRE FORMAÇÃO
PROFISSIONAL
Uma pesquisa de “marketing”5 realizada com entrevistas de 614 cirurgiões-dentistas residentes em
cinco regiões do país, no 2º semestre de 2002, apresentou um cenário sobre formação profissional: profissionais que se formaram na iniciativa privada correspondem a 52,1%; do gênero feminino a 57,6%;
residentes na região Centro-Oeste a 64,4%; com até
5 anos de formado a 62,9%; pouco mais de 3/4 da
amostra atua como clínico geral, representando a
maioria nos quatro segmentos analisados; 6 entre 10
entrevistados já tiveram oportunidade de realizar um
curso de pós-graduação.
Dentre esses profissionais, 42% dos entrevistados
preferiram a especialização. Destacam-se, nesse caso,
os profissionais com tempo de formação acima de 10
anos. A pesquisa aponta que cerca de 1/3 da amostra
tem registro como especialista no Conselho Regional
de Odontologia, sendo esse índice maior entre os profissionais atuantes na região Norte (75%). As duas
especialidades predominantes são a Endodontia
(18,3%) e a Ortodontia (16,4%), seguidas da Odontopediatria (14,9%). Dentre os cursos de pós-graduação que os entrevistados gostariam de realizar, o mais
citado é o de Ortodontia (18,7%) e depois o de Prótese (16,8%). O resultado dessa pesquisa, com base
em entrevistas por amostragem, deixa clara a tendência do cirurgião-dentista, inclusive do recém-formado,
em freqüentar cursos de pós-graduação lato sensu.
Estudo comparativo entre três níveis de ensino
evidencia tendência para cursos de especialização3.
Nos questionários-pesquisa preenchidos por graduandos no Exame Nacional de Cursos, em 1997, 1998 e
1999, o interesse em fazer cursos de aperfeiçoamento
e especialização variou de 81,6% para 79,4% e 77,2%,
respectivamente. No mesmo período, alunos de cursos de especialização de Implantodontia e de Periodontia da UNESP-Araçatuba e da ABO-MT já tinham
freqüentado previamente outros cursos de especialização (respectivamente 75% e 35% dos alunos). Alunos de cursos de pós-graduação da UNESP-Araçatuba,
matriculados em Cirurgia, Odontopediatria e Estomatologia (respectivamente 77%, 72,4% e 53,3%), já
haviam concluído algum curso de especialização.
Concluiu-se que as condições dos cursos de graduação, a situação do mercado de trabalho, o intenso
desenvolvimento científico e tecnológico e as exigências de qualificação para atuação na docência são fatores que favorecem a tendência de valorização dos
cursos de especialização.
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Ensino de especialização: redirecionamento acadêmico • Perri de Carvalho AC
TENDÊNCIA ESPECIALIZANTE NA
GRADUAÇÃO
O conhecido Relatório Flexner, analisando a situação das escolas médicas dos EUA, em 1910, provocou
reflexos no ensino da Odontologia até nossos dias. O
chamado modelo flexneriano deu ênfase às soluções
técnicas, desvalorizando soluções políticas e os aspectos preventivos e de promoção da saúde. O corpo humano foi considerado como uma máquina, valorizando-se o tratamento individual das partes8 e atuações
com base em paradigmas cientificistas, distanciadas
de práticas sociais9,10.
O desenvolvimento da formação odontológica em
nosso país sofre inequívoca influência do modelo
flexneriano em todos os níveis de ensino e, principalmente, nos cursos de especialização, que, inclusive,
dão ênfase a especialidades que requerem alta tecnologia para sua execução. Esse modelo influenciou o
ensino e a prática odontológicos, induzindo os seguintes princípios: biologismo, mecanicismo, individualismo, especialização, exclusão de práticas alternativas,
atuação curativa e tecnicização9.
O profissional necessita de uma formação específica, dependendo do grau de complexidade da especialidade abordada. Esse modelo tem sido adotado
por grande parte das faculdades na área, que assim
justificam a necessidade de extensão do curso. Tal
modelo de ensino, conservador e elitista, também estimula a especialização precoce, introduzindo a tendência ainda durante o curso de graduação.
Registra-se um alto percentual de profissionais e,
inclusive, de recém-formados, interessados em cursos
de especialização3. Tem havido demanda por esses
cursos até por deficiências do curso de graduação. Há
dados de que o ensino da odontologia no país, tendo
em vista o mercado de trabalho, está equivocado e
desvirtuado e, em alguns casos, com suspeitas de que
se ensina pouco ao aluno para encaminhá-lo para os
cursos de especialização. Esse desvirtuamento não
tem nada a haver com o critério de definição de matérias formativas e informativas. Além do apelo do
status de profissional especialista, de modismos e até
do “marketing” de muitos desses cursos, atualmente
já se criam “pré-requisitos”, como a freqüência prévia
a uma série de cursos de atualização ou de aperfeiçoamento, o que também pode reforçar o aspecto comercial do empreendimento12.
A falta de clareza, na prática, sobre a formação do
profissional “clínico geral” é, sem dúvida, a causa básica da aberração “especializante”. Além disso, a falta
de inter-relação das disciplinas e a autonomia na es-
colha do conteúdo das disciplinas ministradas – perdendo-se a visão de totalidade do curso e, obviamente,
a ausência de um projeto pedagógico para o curso –
são os fatores responsáveis por inúmeras distorções
no currículo do curso de Odontologia.
Os limites entre clínico geral/especialista são delineados na definição das habilidades, competências
e conteúdos para a formação do clínico geral fundamentados nas Diretrizes Curriculares Nacionais dos
Cursos de Graduação em Odontologia (Resolução
CNE/CES nº 3/2002, de 19/02/2002, D.O.U. de
04/03/2002)6. Para se oferecer uma visão de conjunto da abrangência da profissão, o clínico geral deverá
receber informações que o capacitem para o discernimento dos limites de sua atuação e para o relacionamento com as especialidades odontológicas11,13.
PROPOSTAS
Em vista desse cenário, torna-se importante a discussão, com bases acadêmicas, sobre o ensino de especialização. A nosso ver, a legislação educacional do
país é clara e envolve tal nível de ensino. Não é cabível
que a normatização, o credenciamento e a avaliação
dos cursos de especialização continuem à margem do
sistema educacional. Torna-se importante a inclusão
desse nível de ensino no projeto pedagógico da IES,
mantendo coerência com as Diretrizes Curriculares
Nacionais6.
O ensino de especialização prepara profissionais
para o mercado de trabalho e também oferece recursos humanos para o ensino, pois é grande o número
de docentes que são apenas especialistas; essa categoria é levada em consideração nas avaliações das condições de ensino realizadas pelo MEC.
A presença de docentes especialistas ou dominados pela mentalidade flexneriana, predominantes no
exercício das especialidades, tem gerado dificuldades
para a implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais. Essa questão emergiu e foi debatida nos Grupos de Discussão da 39ª Reunião da ABENO (2004):
“Em um curriculum integrado, como contornar a problemática do professor especialista?”2. As manifestações dos grupos sinalizam para as adequações desses
docentes, a fim de que haja bom andamento do projeto do curso de graduação. Mesmo nos programas de
pós-graduação stricto sensu, há muita ênfase para a pesquisa tecnológica, mas há deficiência na formação
didático-pedagógica do futuro docente12. Para Péret,
Lima10 (2005), a incorporação da pesquisa educativa
e o desenvolvimento da pesquisa científica com enfoque social podem colaborar para a formação crítica
Revista da ABENO • 5(2):125-9
127
Ensino de especialização: redirecionamento acadêmico • Perri de Carvalho AC
do docente de Odontologia.
A relação entre os níveis de ensino de graduação,
especialização, mestrado e doutorado deve ser claramente estabelecida e acompanhada nos projetos institucionais, pois influi no desenvolvimento de cada
um desses níveis e na formação de novas gerações de
profissionais e de docentes.
Dentre os estudos cabíveis voltados ao aperfeiçoamento do ensino de especialização, são pertinentes os
referentes à visão integral de saúde; à prevenção e
promoção pertinentes à especialidade; à introdução
de conteúdos mais significativos de bioética, de metodologias da pesquisa e do ensino; ao maior embasamento científico para a elaboração da monografia.
Especificamente para a formação do especialista
em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial, há
uma situação especial e recomendações que “os Programas de Residência mostram-se como o caminho
mais adequado e seguro” e a sugestão de se aproveitar
a residência como parte dos créditos para o mestrado14.
Um fato que não pode ser ignorado nesses estudos
e planejamentos acadêmicos é o desenvolvimento da
educação à distância e “on-line”, analisando-se a pertinência do que Moran7 (2005) destaca com a organização de atividades inovadoras na sala de aula, no
laboratório e na clínica com acesso à Internet, integradas com atividades à distância e de inserção profissional e experimental.
Além da revisão da proposta dos cursos de especialização, em atendimento à legislação sobre avaliação do ensino, deverão ser alterados os critérios para
avaliação dos mesmos, os quais, sem dúvida, passam a
influir no redirecionamento acadêmico desses cursos.
INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO PROPOSTO
PELA ABENO
A “Proposta para o instrumento de verificação das
condições de ensino dos cursos de pós-graduação (lato
sensu) em Odontologia”1 foi elaborada pela Comissão
de Ensino de Especialização da ABENO e debatida
em evento nacional da Associação (protocolada na
SESu/MEC em 09/03/2005). Essa proposta poderá
ser empregada em avaliações para fins de credenciamento de instituições não-universitárias (Resolução
nº 1 do CNE/CES de 03/04/2001)6 e dos projetos e
dos cursos de pós-graduação lato sensu de Odontologia
já existentes.
A ABENO recomenda que as avaliações sejam feitas por verificação in loco e por comissão de docentes
128
de Odontologia, devidamente treinados e/ou orientados para a tarefa.
A sistemática de avaliação pretende:
1. Considerar uma estratégia metodológica em condições de articular e relacionar o processo ensino/
aprendizagem como um mecanismo de autocrítica
permanente para o aperfeiçoamento e melhoria
da qualidade do ensino.
2. Desenvolver e/ou aprofundar a capacidade avaliativa dos cursos.
3. Identificar as características específicas das atividades de ensino e gestão administrativa. Deverão ser
avaliadas as características das seguintes dimensões:
contexto institucional, organização didático-pedagógica, corpo docente, instalações e o próprio
contexto social, seguindo as orientações do MEC
sobre avaliação do ensino superior. Os novos tempos educacionais – pós-LDB – induzem à necessidade urgente de discussões e reflexões no âmbito
acadêmico sobre o ensino de especialização em
Odontologia.
CONCLUSÕES
A legislação educacional do Brasil é clara sobre o
credenciamento de oferta, funcionamento, cadastro
e valor atribuído à certificação de cursos lato sensu. É
indispensável a vinculação desse nível de ensino com
o projeto pedagógico da IES e em coerência com as
Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Odontologia. Recomendam-se estudos
para melhor tratamento dos conteúdos de visão integrada da saúde; de aspectos preventivos e promocionais da saúde na especialidade; de abordagens mais
significativas de bioética, metodologias da pesquisa e
do ensino e de elaboração da monografia; de preparo
para a educação à distância e “on-line” e de atividades
inovadoras no ambiente de ensino-aprendizagem; de
algumas especificidades de área como CTBMF; e de
nova proposta de avaliação dos cursos de especialização, em atendimento à legislação vigente sobre avaliação do ensino superior. Por fim, há necessidade de
redirecionamento acadêmico dos cursos de especialização em Odontologia.
ABSTRACT
Dental specialization programs: new academic
directives
Dental specialization programs in our country
have been analyzed since the establishment of stricto
sensu graduate courses. Analyzing various professions,
the development of specialization courses with the
diversification of specialties is observed only in
Revista da ABENO • 5(2):125-9
Ensino de especialização: redirecionamento acadêmico • Perri de Carvalho AC
Dentistry. With the Law of Guidelines and Bases
of National Education – LDB (Law n. 9.394, of
02/20/1996), there were significant legislative efforts
about organization and evaluation of higher education and regulations about accreditation, functioning,
registration and attributed value to accreditation of
lato sensu courses. Since specialization courses prepare
professionals to the market and also provide human
resources to teaching, we emphasize the need for connecting these courses to the pedagogical project of
any given dental school, in agreement with the National Curricular Guidelines for Undergraduate Dental Courses in Brazil. Among many suitable studies,
those of increased importance are the ones involving
the concept of integrated health; preventive aspects
and aspects regarding the promotion of health; introduction to more significant knowledge of bioethics,
research and teaching methodologies and methodology for the elaboration of a thesis; on-line education;
some area specificities like Oral and Maxillofacial Surgery. The revision of the proposal of specialization
courses should also be in accordance with the legislation regarding the evaluation of higher education.
The Brazilian Association of Dental Education (ABENO) offered the Ministry of Education a proposal
called “Verification Instrument of Specialization
Courses”. The new post-LDB educational times urge
the need for discussion and reflections in academic
circles about specialization teaching.
XXXIX Reunião da ABENO. Revista da ABENO 2005;5(1):8694.
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ponível em: URL: http://www.abeno.org.br.
2. Associação Brasileira de Ensino Odontológico. Relatório com
base nos resultados dos Grupos de Discussão reunidos na
Revista da ABENO • 5(2):125-9
Aceito para publicação em 06/2005
129
Otimização da relação demanda/
oferta com redução dos índices de
doenças bucais através do modelo
de assistência básica à saúde
É possível levar a saúde bucal e sistêmica para o âmbito coletivo
por meio de um atendimento integralizado, viável e equânime,
sem necessariamente ocupar-se com equipamentos e instrumentos
odontológicos.
Sérgio Henrique Tanos de Lacerda*, Paulo Sérgio Carneiro Miranda**
* Mestrando em Odontopediatria pelo Centro de Pesquisas
Odontológicas São Leopoldo Mandic, Campinas, São Paulo. E-mail:
[email protected].
** Doutor em Saúde Pública pela Universidade de Barcelona, Espanha,
Professor Adjunto da Faculdade de Medicina da Universidade
Federal de Minas Gerais.
RESUMO
Atualmente, o modelo de atenção básica à saúde
é formado por uma Equipe de Saúde da Família, que
atua interdisciplinarmente com uma Equipe de Saúde
Bucal, promovendo prevenção primária e monitorando sistematicamente os índices epidemiológicos das
comunidades abrangidas.
DESCRITORES
Prevenção primária. Odontologia preventiva. Promoção da saúde. Educação em saúde bucal. Odontologia em Saúde Pública.
É
de consciência que a prevenção primária (promoção) é a melhor maneira para se conseguir
uma boa saúde, principalmente quando comparada
com a prevenção secundária (proteção) e terciária
(recuperação e reabilitação)9. Por isso, certifica-se que
as maiores vantagens são trazidas através de modelos
de atenção básica à saúde, principalmente quando
esses modelos estão inseridos dentro do próprio contexto socioeconômico-cultural do cidadão10.
Até pouco tempo atrás, no Brasil, a consciência de
que era “melhor prevenir do que remediar” não tinha
130
muita ênfase, pois era pouco institucional. Portanto,
diante do atual quadro, em que 32 milhões de brasileiros nunca receberam qualquer noção de promoção
e prevenção em saúde bucal e 6 milhões têm doenças
bucais em atividade, viu-se a necessidade de estar reestruturando, a partir de então, uma progressiva expansão do processo de organização e planejamento
dos serviços de atenção básica à saúde1.
No Brasil, várias doenças bucais são consideradas
de alta prevalência, embora com taxas variáveis de
acordo com as áreas do país. Em geral, as taxas apresentam grande disparidade entre regiões mais e menos desenvolvidas. O espectro das doenças bucais e a
prevalência variam nas diferentes regiões de acordo
com as variações socioeconômicas, educacionais e sanitárias de cada área3. Seria de se esperar, entretanto,
que nas áreas mais desenvolvidas a prevalência das
doenças bucais fosse bastante baixa, o que nem sempre é verdadeiro. No interior do estado de Minas Gerais, em regiões carentes, a falta de informação aliada
aos costumes alimentares atípicos e aos hábitos parafuncionais resultam altos índices de doenças bucais,
aumentando a demanda em relação à oferta de atendimento em nível do Sistema Único de Saúde1,4.
Revista da ABENO • 5(2):130-4
Otimização da relação demanda/oferta com redução dos índices de doenças bucais através do modelo de assistência
básica à saúde • Lacerda SHT, Miranda PSC
REVISÃO DE LITERATURA
Em face da progressiva expansão do processo de
organização dos serviços de atenção básica, promoção
e prevenção de saúde, formam-se Equipes de Saúde
da Família (ESF), com médicos, dentistas, enfermeiras, auxiliares de enfermagem, Assistentes de Consultório Dentário (ACD), Técnicos em Higiene Dental
(THD) e agentes comunitários, para se interdisciplinarem com outras equipes com outra área de abrangência15. Juntas, estrategicamente, promovem uma
substituição do modelo vigente, flexneriano, por um
modelo assistencial primário à saúde, em que o atendimento ao cidadão é equânime, integral e universal1.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)
(2000), é urgente que se estabeleça uma nova relação
entre os profissionais de saúde e a comunidade, que
se traduza em termos de desenvolvimento de ações
humanizadas, tecnicamente competentes, intersetorialmente articuladas, socialmente apropriadas, otimizando a relação demanda/oferta e custo/benefício7.
Configura-se, também, uma nova concepção de
trabalho, uma nova forma de vínculo entre os membros de uma equipe, diferentemente do modelo biomédico tradicional, permitindo maior diversidade das
ações e busca permanente do consenso. Tal relação,
baseada na interdisciplinaridade e não mais na multidisciplinaridade, associada à não-aceitação do refúgio da assistência no positivismo biológico, requer
uma abordagem que questione as certezas profissionais e estimule a permanente comunicação horizontal
entre os componentes de uma equipe1,17. Assim, fazem-se necessárias mudanças profissionais significativas nas abordagens individuais, da família e da comunidade, para que ocorra, de fato, a efetiva implantação
de um novo modelo de atenção à saúde bucal como
causa de saúde sistêmica1,4.
A atuação tradicional do setor da saúde sempre
conduziu à compreensão do indivíduo de forma isolada de seu contexto familiar e dos valores socioeconômico-culturais, com tendência generalizante,
fragmentando-o, compartimentando-o e descontextualizando-o de suas realidades familiares e comunitárias. Seu enfoque assistencialista e desarticulador
vem gerando dependentes sociais, tratando os indivíduos como permanentes receptores de benefícios
externos e não como cidadãos com direitos resguardados constitucionalmente1.
Esse problema amplia-se pela tradicional forma de
atenção à família, privilegiando o atendimento indi-
vidualizado de seus membros. O indivíduo é visto de
forma fragmentada, cuja manifestação de doença
ocorre em partes de seu corpo, sem que sejam observadas suas diferentes dimensões, perde sua integralidade e acaba relacionando-se, repartidamente, com
as ações e os serviços de saúde. Seus anseios, seus desejos, seus sonhos, suas crenças, seus valores, suas virtudes, suas relações com os demais membros de sua
família e com o seu meio social são aspectos quase que
completamente esquecidos ao ser abordado por um
profissional de saúde tradicional e positivista1,8,16,17.
Já a família, tradicionalmente vista também de forma fragmentada, quer seja no espaço físico em que
está fixada, quer na sua composição nuclear ou na
relação com os demais subsistemas sociais e econômicos, precisa ser abordada de forma integral e articulada, sem que se perca de vista, no entanto, o estado
de equilíbrio individual (saúde) de seus membros1.
Atualmente vem se estruturando, em nível internacional (México, Canadá, Cuba, e outros), uma nova
visão da atuação da família e da comunidade, fundamental para o desenvolvimento de estratégias de
políticas sociais. Sob essa perspectiva, o papel do
profissional de saúde é o de aliar-se à família no cumprimento de sua missão, fortalecendo-a e proporcionando o apoio necessário ao desempenho da autoestima e de suas responsabilidades, jamais tentando
substituí-la. É preciso ajudá-la a descobrir e a desenvolver suas potencialidades individuais e coletivas1.
Cabe, então, o exercício de uma nova prática, com
base em outra racionalidade, partindo de uma premissa solidária e construída de forma democrática e
participativa, capaz de transformar os indivíduos em
verdadeiros atores sociais e sujeitos do próprio processo de desenvolvimento1,17.
Por essa razão, para que se exerça uma nova prática, são necessárias ações voltadas ao redirecionamento da participação dos profissionais de saúde junto ao ambiente e ao indivíduo, com vistas à construção
da Equipe de Saúde como a verdadeira unidade produtora de ações e desses serviços5. A especificidade
das responsabilidades de cada membro jamais deverá
ofuscar a missão comum da equipe, e sua prática democrática e construtiva precisa estar direcionada a
uma maior motivação, satisfação e eficiência de seu
trabalho. Tal prática somente será eficaz se associada
à criação de canais e mecanismos efetivos para a participação ativa da população, como sujeito do processo de manutenção e recuperação de sua saúde1.
Revista da ABENO • 5(2):130-4
131
Otimização da relação demanda/oferta com redução dos índices de doenças bucais através do modelo de assistência
básica à saúde • Lacerda SHT, Miranda PSC
METODOLOGIA
O presente estudo iniciou-se em fevereiro de 1999
no Município de São Gonçalo do Pará – MG, através
da elaboração de um projeto de prevenção odontológica, que visava atenção primária à saúde das crianças
e adolescentes de 5 a 14 anos de idade, inseridas tanto em âmbito familiar quanto escolar. Para isso, a
Equipe de Saúde Bucal (ESB), recém-formada, interdisciplinou com a Equipe de Saúde da Família (ESF)
que já se encontrava implantada no município promovendo atendimento nas zonas rurais e urbanas
desde 1995, sendo, portanto, uma das cidades pioneiras da região Centro-Oeste de Minas na implantação
do Programa Saúde da Família (PSF). A partir de então, a Equipe de Saúde Bucal (04 cirurgiões-dentistas
e 03 assistentes de consultório dentário) interdisciplinou com a Equipe de Saúde da Família (uma enfermeira, uma médica e 05 agentes comunitários), para
juntamente identificarem, selecionarem, priorizarem
e analisarem as doenças bucais das famílias já cadastradas no PSF2,6.
Procedeu-se, então, a coleta dos dados, a tabulação
e a consolidação para proposição e estratégia do plano
operativo, visando à redução dos índices de doenças
bucais, principalmente nas crianças e adolescentes de
05 a 14 anos de idade, levando, contudo, sempre em
consideração o ambiente familiar e educacional de
cada uma delas.
Inicialmente, priorizamos o levantamento epidemiológico nos índices ceo (dente decíduo cariado,
extraído ou extração indicada e obturado ou restaurado), CPO-D (dente permanente cariado, extraído
ou extração indicada ou perdido e obturado ou restaurado) e CNTP (índice comunitário para necessidade de tratamento periodontal), conforme o Informe Técnico nº 20 da Secretaria de Estado da Saúde
de Minas Gerais11.
Diante dos resultados, viabilizamos parcerias privadas e públicas para a gestão e, posteriormente, manutenção e controle do projeto. A Secretaria Municipal de Educação, como parceira, empenhou-se desde
a divulgação até a manutenção do projeto. A ColgatePalmolive, através do seu programa “Sorriso Saudável,
Futuro Brilhante”, desenvolvido juntamente com a
OMS e a Associação Brasileira de Odontologia (ABO),
apoiou enviando-nos cartazes, fitas de vídeos educativas, álbuns seriados, prospectos, livros pedagógicos e
“kits” odontológicos com escova e pasta dental. A Área
Técnica de Saúde Bucal do Ministério da Saúde (Brasília), por meio do Departamento Regional de Saúde
132
de Divinópolis, forneceu-nos um gel com evidenciador de placa bacteriana e flúor (Dentplaque®) para
aplicação semanal.
Visando sempre a integralidade, equanimidade e
a universalidade do cidadão, intervimos com ações
programáticas preventivas, interdisciplinares, planejadas pactualmente e participativamente, com critério, pelas equipes e os núcleos sociais primários, conforme a lógica do novo modelo de atenção primária
à saúde.
Dentre essas ações programáticas interdisciplinares, destacamos: escovações supervisionadas, exposições de vídeos educativos, montagens de murais e
painéis, atividades pedagógicas, aulas demonstrativas,
construções de escovódromos, fluoretação de águas
de abastecimento público e escolar, apresentações
teatrais e realizações de palestras sobre os mais diversos temas relacionados com promoção, prevenção e
conscientização para a manutenção da saúde bucal e,
conseqüentemente, da saúde sistêmica. Os procedimentos coletivos preventivos primários procederamse em locais comunitários, tais como: associações comunitárias, escolas, creches, asilos, igrejas, unidades
de saúde e domicílios.
Para as escovações supervisionadas, viabilizamos
distribuições de “kits” odontológicos com escova, pasta, gel (Dentplaque®) e fio dental e, ainda, o cirurgiãodentista acompanhava, semanalmente, a profilaxia
bucal de toda a família. No que tange às escovações
dos pacientes especiais, principalmente daqueles portadores de distúrbios neuropsicomotores e/ou mentais, foi necessário que o dentista ensinasse a um membro da família a correta técnica de higienização, sendo
que, uma vez por semana, o mesmo faria a higienização no paciente, preferencialmente diante de toda a
família, incentivando-os à prática da profilaxia bucal12.
As exposições de vídeos educativos aconteceram
com grupos operativos: crianças de zero a 6 anos de
idade (junto com os pais), de 7 a 14 anos de idade,
adolescentes, adultos, idosos, diabéticos, hipertensos
e gestantes, que eram orientadas desde as primeiras
semanas até o período neonatal. Os recursos usados
para fixações de imagens foram murais, painéis, cartazes e álbuns seriados.
Já as atividades pedagógicas foram desenvolvidas
por meio de memorizações musicais, quebra-cabeças,
charadas, livros de contos e oficinas, os quais aumentavam a auto-estima e o interesse quanto aos cuidados
básicos para a manutenção da saúde bucal. Os macro-
Revista da ABENO • 5(2):130-4
Otimização da relação demanda/oferta com redução dos índices de doenças bucais através do modelo de assistência
básica à saúde • Lacerda SHT, Miranda PSC
modelos (RGO) promoviam a dialética teoria/prática, demonstrando a realidade das doenças bucais.
Os escovódromos proporcionavam o condicionamento das técnicas de higienizações e foram construídos, preferencialmente, em locais comunitários, tanto com recursos da Secretaria Municipal de Saúde,
quanto com recursos da Secretaria Municipal de Educação.
As aplicações de flúor diárias e semanais também
contribuíram para a redução em, aproximadamente,
50% da incidência de cárie no período de 1999 a 2000,
no mesmo grupo amostrado, de acordo com o Informe Técnico.
A socialização com materiais e/ou instrumentais
odontológicos foi feita através de teatros com fantoches e fantasias vivas do ambiente odontológico. Enfim, as palestras conscientizaram os grupos operativos
sobre a importância da dieta balanceada, da aplicação
de selante, do uso de anti-séptico bucal, do uso do fio
dental e da visita regular ao dentista na Unidade Básica de Saúde.
Com relação aos atendimentos clínicos, somente
15% da população abrangida foi referenciada para
tratamentos especializados. Ao encaminhá-lo com o
plano de tratamento sugerido, acompanhávamos o
paciente até o momento da contra-referência13. Conseqüentemente, criou-se um vínculo de confiança
profissional/paciente, tornando os atendimentos de
recuperação, reabilitação e manutenção da saúde bucal do indivíduo muito mais confortáveis, reiterandose, dessa forma, a imagem distorcida que se fez durante os anos.
RESULTADOS
1. Promovemos uma redução do índice CPO-D na
idade-padrão de 12 anos, considerada estratégica
pela OMS para comparações internacionais e, também, por se constituir um ponto intermediário no
período de vida em que é grande a prevalência e
a incidência de cárie (Tabela 1).
2. Reduzimos os índices de doenças bucais através
da conscientização da importância da promoção
Tabela 1 - Índices CPO-D em crianças de 12 anos.
Índice
CPO-D (12 anos)
OMS*
3,0
*Meta da OMS para o ano 2000.
Município de São
Gonçalo do Pará
1999
2000
4,46
2,76
3.
4.
5.
6.
em saúde bucal em nível coletivo familiar e escolar, por meio de um atendimento personalizado,
diferenciado, humano, acolhedor e equânime, no
qual o cidadão inserido em seu próprio meio foi
alvo de atenção de uma Equipe de Saúde.
Através de uma assistência sistêmica aos núcleos
sociais primários, desenvolveu-se um vínculo de
confiança entre trabalhadores da saúde e pacientes, proporcionando-lhes um amparo biopsicossocial e aumentando-lhes a auto-estima.
Parcerias formais e informais de vários setores, públicos ou privados, vêm, de certa forma, incentivar
o nível de prevenção primária à saúde e dinamizar
o processo de atendimento descentralizado comunitário, preventivo, intersetorial e vigilante à saúde
bucal e sistêmica do cidadão dentro do seu próprio
meio socioeconômico-cultural.
O fácil acesso da população a todos os níveis de
atenção à saúde, isto é, da referência à contra-referência, despertou a real necessidade da prevenção
primária para um novo estilo de vida, mais saudável, digno e humano.
Na média geral, alcançou-se uma redução satisfatória nos índices ceo, CPO-D e CNTP em dezembro
de 2000 quando comparada aos resultados epidemiológicos da mesma amostragem em dezembro
de 1999.
DISCUSSÃO
Mais do que a discussão de se ter uma Equipe de
Saúde da Família interagindo, interdisciplinarmente,
em espaço-comunidade, com a Equipe de Saúde Bucal, faz-se necessário, antes de tudo, levar a saúde bucal e sistêmica para o âmbito coletivo familiar e escolar,
sem necessariamente ocupar-se com equipamentos
e/ou instrumental odontológicos. Afinal, educação
em saúde pode ser pedagogicamente problematizada
no próprio território/processo do cidadão.
É um estudo de larga aplicação, portanto, vários
delineamentos de pesquisas fazem-se necessários para
a avaliação do projeto em questão14. Um delineamento de estudo transversal comparativo com grupos paralelos (entidade pública versus entidade privada,
equipe de saúde versus equipe de saúde) é passível de
uma elucubração. Também, um delineamento de estudo caso-controle pode ser referenciado, uma vez
que a população pode ser da mesma região abrangida
e do mesmo grupo socioeconômico, isto é, podem
existir semelhanças entre os grupos operativos, o que
é de fundamental importância para o preenchimento
dessa lacuna do conhecimento.
Revista da ABENO • 5(2):130-4
133
Otimização da relação demanda/oferta com redução dos índices de doenças bucais através do modelo de assistência
básica à saúde • Lacerda SHT, Miranda PSC
Educação em saúde pode ser pedagogicamente
problematizada no próprio território/processo do
cidadão, obtendo-se resultados favoráveis, em curto
espaço de tempo.
2000, São Gonçalo do Pará, MG. Vídeo: Abril; 2000.
3. Congresso Mineiro de Epidemiologia e Saúde Pública. Caderno de Resumos. Belo Horizonte; 2000. 86 p.
4. Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais. Coordenador do SB 2000 dá orientações sobre o projeto. Jornal do
CONCLUSÃO
Reduziram-se os índices das doenças bucais por
meio de um atendimento integralizado, sistêmico,
viável e equânime, em que o cidadão inserido em seu
contexto foi alvo de atenção de uma Equipe de Saúde.
Conclui-se que as equipes, ao interagirem interdisciplinarmente e participativamente com as comunidades, facilitaram o acesso às atenções básicas, desenvolveram um vínculo de confiança, conscientizaram
a população da importância da prevenção primária e
monitorizaram os índices epidemiológicos das comunidades abrangidas, otimizando a relação custo/benefício e demanda/oferta.
CROMG. Belo Horizonte; nov/dez 2000; 112:4.
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ABSTRACT
Improvement of the supply and demand
relationship with reduction in rates of oral diseases
by means of primary health care
The current model of primary health care consists
of an interdisciplinary team (Family health team)
formed by various professionals, including a group of
oral health professionals, who promote primary prevention and systematic monitoring of epidemiological
indexes in the communities covered by the program.
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134
Revista da ABENO • 5(2):130-4
Aceito para publicação em 06/2005
Projeto HUKA KATU†: a FORP-USP
no Parque Indígena do Xingu
A construção de um Estágio Optativo em consonância com
as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação dos
profissionais da Odontologia.
Clícia de Oliveira*, Raquel de Carvalho Pacagnella**, Maria da Glória Chiarello
de Mattos***, Janete Cinira Bregagnolo****, Marlívia Gonçalves de Carvalho
Watanabe****, Wilson Mestriner Júnior*****
* Acadêmica da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo.
** Cirurgiã-Dentista da Universidade Federal de São Paulo.
*** Professora Titular da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto
da Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected].
**** Professoras Doutoras da Faculdade de Odontologia de Ribeirão
Preto da Universidade de São Paulo.
***** Professor Associado da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto
da Universidade de São Paulo.
RESUMO
Durante muito tempo, a formação dos profissionais de saúde, dentre eles o cirurgião-dentista, não se
orientou pela compreensão crítica das necessidades
da população em saúde bucal. O modelo formador
(Universidades) do país ficou dissociado da realidade
brasileira, conseqüentemente não se comprometendo com a promoção da saúde bucal. A Faculdade de
Odontologia de Ribeirão Preto, durante a construção
coletiva do seu projeto pedagógico, esteve atenta às
normativas presentes nos vários documentos elaboradas pelo Ministério da Educação (Diretrizes Curriculares para os cursos de Odontologia) e pelo Ministério
da Saúde (Política Nacional de Saúde Bucal e Política
Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas).
Para que as Universidades cumpram com seu papel
transformador, há de se compreenderem novos “Cenários de Aprendizagem” como um conceito amplo,
que diz respeito não somente ao local em que se realizam práticas de uma técnica, mas também à população nela envolvida, à natureza e ao conteúdo do que
se faz. Diz respeito, portanto, à incorporação e à interrelação entre métodos didáticos e pedagógicos, áreas
de práticas e vivências, utilização de tecnologias e habilidades associadas ao cognitivo e psicomotor. Incluem, também, a valorização dos preceitos morais e
éticos orientadores de condutas individuais e coletivas. O novo currículo da FORP apresenta complexidade crescente e se propõe à integração com maior
flexibilização. É nesse contexto que nos propomos a
apresentar o Estágio Optativo (Saúde bucal no Parque
do Xingu-FORP/USP), oferecido para os estudantes
do curso de Odontologia, caracterizando-o como processo capaz de contribuir para a reorganização das
concepções e práticas no campo da saúde bucal, propiciando um novo processo de trabalho e tendo como
principal meta a produção do cuidado.
DESCRITORES
Educação em Odontologia. Odontologia Comunitária. Currículo, educação.
† Na etnia Kamaiura (língua do tronco Tupi), significa “sorriso lindo”, sendo esse um dos nomes sugeridos pela população indígena do
Xingu e escolhido pela comunidade Forpiana por voto direto.
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135
Projeto HUKA KATU1: a FORP-USP no Parque Indígena do Xingu • Oliveira C, Pacagnella RC, Mattos MGC, Bregagnolo JC,
Watanabe MGC, Mestriner Júnior W
O
Parque Indígena do Xingu foi criado em 1961,
no Brasil Central, sob a direção de Orlando e
Cláudio Villas Boas. Seu território está demarcado e
homologado, sendo composto por três terras indígenas distintas: Parque Indígena do Xingu (2.642.003 ha),
Terra Indígena Wawi (150.329 ha) e Terra Indígena
Batovi (5.159 ha), as quais correspondem a uma área
total de 2.797.491 ha.
Atualmente é habitado por 14 etnias pertencentes
a quatro troncos ou famílias lingüísticas: Aruaque,
Caribe, Jê e Tupi, além dos índios Trumai, de língua
isolada. Apresenta uma população de 4.213 indivíduos, que se relacionam com quatro pólos bases devido
à grande extensão territorial. São estes o Pólo Diauarum, localizado no Baixo Xingu, o Pólo Pavuru, no
Médio, o Pólo Leonardo, no Alto Xingu, e o Pólo
Ngoivere, recém-criado.
O aumento da freqüência de saída dos índios para
a cidade vem se apresentando como um fator de risco
para a ocorrência de epidemias e outras doenças contagiosas, favorecendo também a mudança de hábitos
alimentares, como a introdução da mamadeira e do
leite em pó, o que tem gerado alterações no padrão
de morbidade2.
Para que ocorra uma melhor compreensão dos
serviços de atenção à saúde bucal oferecidos à população indígena, faremos um breve histórico dos eventos que antecederam a concepção do modelo atualmente adotado. No ano de 1967, foi instituída a
Fundação Nacional do Índio (FUNAI), que passou a
exercer ações de saúde esporádicas por intermédio
de equipes volantes de saúde, em escala e capacidade
operacional e administrativa insuficientes. Essa atividade foi se atrofiando até a sua paralisação.
Por indicação da VIII Conferência Nacional de
Saúde, foi realizada em 1986 a I Conferência Nacional
de Proteção à Saúde do Índio, que propôs o modelo
dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI’s),
sob a gerência do Ministério da Saúde, envolvendo a
população indígena em todas as etapas do processo
de planejamento, execução e avaliação das ações.
Em 1988, a Constituição Federal definiu os princípios gerais do Sistema Único de Saúde (SUS), posteriormente regulamentado pela Lei 8.080/90, estabelecendo que a direção única e a responsabilidade
da gestão federal do Sistema são do Ministério da Saúde. Por essa mesma Constituição, ficou estipulado que
as organizações socioculturais dos povos indígenas
fossem reconhecidas e respeitadas, assegurando-lhes
a capacidade civil plena e estabelecendo também que
a competência para legislar e tratar sobre a questão
136
indígena ficaria a cargo da União5.
A II Conferência Nacional de Saúde para os Povos
Indígenas, realizada em 1993, reiterou a defesa do
modelo sob a forma de sistemas locais de saúde (Distritos Sanitários – os DSEI’s) e a criação de uma secretaria especial no Ministério da Saúde para gerir a política de atenção à saúde, a fim de que os povos
indígenas tivessem garantido o direito ao acesso universal e integral à saúde4.
Em 1994, o Decreto Presidencial nº 1.141/94 constituiu a Comissão Intersetorial de Saúde e devolveu,
na prática, a coordenação da saúde indígena para a
FUNAI, que ficou responsável pela recuperação dos
índios doentes, enquanto o Ministério da Saúde encarregava-se das ações de prevenção.
Com a Lei 9.836, de 23 de setembro de 1999, ficou
determinada a responsabilidade do Ministério da Saúde/Fundação Nacional de Saúde em relação à saúde
indígena, definindo-se o Subsistema de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas no âmbito do SUS. Isso permitiu a formulação da Política Nacional de Atenção à
Saúde dos Povos Indígenas contando com a participação de representantes dos órgãos responsáveis pelas
políticas de saúde e pela política e ação indigenistas
do governo, permitindo também a participação de
organizações da sociedade civil com trajetória reconhecida no campo de atenção e da formação de recursos humanos para a saúde dos povos indígenas,
além de representantes das organizações indígenas
com experiência de execução de projetos no campo
de atenção à saúde junto ao seu povo6.
Surgiu, com isso, a necessidade de se adotarem
medidas que permitissem o aperfeiçoamento do funcionamento e a adequação da capacidade do Sistema
para que a aplicação dos princípios e diretrizes (descentralização, universalidade, eqüidade, participação
comunitária e controle social) fosse realizada de maneira eficaz.
Após a implementação do Subsistema de Atenção
à Saúde Indígena, a parceria com Universidades, Organizações Não-Governamentais (ONGs), Organizações da Sociedade de Interesse Público (OSCIP),
prefeituras e estados passou a ser o método encontrado para a execução das ações8. Ainda no sentido de
aprimorar o Subsistema, a partir de julho de 2004, a
Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) passou a assumir as ações de planejamento da atenção à saúde,
de gerência dos programas de saúde e do comando
técnico e operacional de todo processo.
Concomitantemente ao processo de desenvolvimento do Subsistema de Saúde, tivemos, nas décadas
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Projeto HUKA KATU1: a FORP-USP no Parque Indígena do Xingu • Oliveira C, Pacagnella RC, Mattos MGC, Bregagnolo JC,
Watanabe MGC, Mestriner Júnior W
de 80 e 90, na área de saúde bucal, um crescimento
significativo na oferta pública dos serviços no Brasil.
Entretanto, o país viveu uma crise de assistência à saúde decorrente do esgotamento do modelo biomédico
tradicional, considerado cirúrgico, restaurador, ineficiente, monopolizador, de alto custo e elitista. Isso fez
ressurgir programas desenvolvidos segundo a lógica
da abordagem da promoção de saúde e mostrou a
necessidade de mudanças no processo de formação
do profissional de saúde3.
Nesse contexto, passou a existir uma exigência
social para que se produzam profissionais diferentes,
com formação geral, capazes de prestar uma atenção
integral e humanizada às pessoas, que trabalhem em
equipe, que saibam tomar suas decisões considerando
não somente a situação clínica individual, mas o contexto em que vivem os pacientes, os recursos disponíveis e as medidas mais eficazes.
Por isso, para cumprir um papel transformador,
as instituições formadoras deverão compreender “os
Novos Cenários de Aprendizagem” como um conceito amplo, que diz respeito não somente ao local em
que se realizam as práticas, mas aos sujeitos nelas envolvidos, à natureza e ao conteúdo do que se faz. Diz
respeito, portanto, à incorporação e à inter-relação
entre métodos didáticos e pedagógicos, áreas de práticas e vivências, utilização de tecnologias e habilidades cognitivas e psicomotoras. Inclui, também, a valorização dos preceitos morais e éticos orientadores de
condutas individuais e coletivas9,10,11.
Em concordância ao exposto acima, as Diretrizes
Curriculares para a educação dos profissionais de saúde do século XXI exigem um novo delineamento para
o âmbito específico de cada profissão, de forma que
todos os profissionais deverão estar dotados de competências (conhecimentos, habilidades e atitudes)
que possibilitem a sua interação e atuação multiprofissional, tendo como beneficiados os indivíduos e a
comunidade, promovendo a saúde para todos7.
É necessário, ainda, que, quanto aos conteúdos
comuns, os currículos dos cursos da área da saúde
proporcionem:
1. conhecimentos de técnicas de comunicação e relacionamento pessoal que permitam a adequada
relação com o paciente, com a comunidade e sua
atuação em equipe multiprofissional de saúde;
2. conhecimentos para participar no gerenciamento
das ações de saúde, levando em conta o processo
de trabalho e a relação custo-efetividade, a eqüidade e a melhoria do sistema de saúde;
3. conhecimentos sobre políticas de saúde e abrangências das ações de saúde, segundo o enfoque de
vigilância à saúde;
4. conhecimentos do processo saúde-doença, das
condições de vida e do perfil epidemiológico da
população;
5. conhecimentos, desenvolvimento de habilidades e
mudança de atitudes que possibilitem o exercício
profissional fundamentado nos princípios da Ética
e da Bioética.
Considerando os objetivos acima como sendo
aqueles a serem alcançados, a Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
(FORP-USP) propôs, em sua reestruturação curricular, um currículo organizado de forma integrada, em
complexidade crescente e praticamente sem separação entre os ciclos básico e profissionalizante12.
É a partir desse entendimento que a FORP-USP
firmou um convênio com o Distrito Sanitário Especial
Indígena do Xingu (DSEI – Xingu) por intermédio
da FUNASA e incluiu, no seu novo currículo, o Estágio
Optativo em Saúde Bucal no Parque Indígena do Xingu, envolvendo as etnias que habitam o Baixo e Médio
Xingu.
Neste ano, foram realizadas quatro entradas com
equipes compostas por professores e alunos da FORPUSP, cirurgiã-dentista, médicos e enfermeiras contratados pela Universidade Federal do Estado de São
Paulo (UNIFESP), agentes indígenas de saúde bucal
e conselheiros indígenas de saúde.
As atividades desenvolvidas e as metas objetivadas
que determinaram todo o processo de trabalho podem ser visualizadas no Quadro 1.
O Estágio Optativo oferecido aos alunos procura
proporcionar, o mais cedo possível, o contato com a
realidade social e com os serviços de saúde, pela observação e pelo desenvolvimento de atividades que
dão condições ao aluno de superar a dicotomia entre
estudo e trabalho.
Ao realizar uma atividade docente-assistencial fora
do ambiente acadêmico, os alunos são levados até a
realidade daquela população, aproximando-se do
contexto sociocultural, o que permite a modificação
da visão mecanicista e reducionista da natureza humana para uma concepção holística e sistêmica da
vida. Essa experiência prática de ensino-aprendizagem permite uma ampliação do referencial social e
cultural do processo saúde-doença e suas implicações
na prática odontológica.
“A universidade não vai adquirir compromisso e relevância
social sem abrir para o mundo do trabalho e para o mundo
da vida; os serviços não vão se transformar no sentido desejado se não se abrirem para a população, para seus interesses e objetivos concretos.”
Revista da ABENO • 5(2):135-9
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Projeto HUKA KATU1: a FORP-USP no Parque Indígena do Xingu • Oliveira C, Pacagnella RC, Mattos MGC, Bregagnolo JC,
Watanabe MGC, Mestriner Júnior W
Quadro 1 - Atividades e metas da USP/UNIFESP determinantes do processo de trabalho no DSEI-Xingu.
Atividade desenvolvida
Descrição
Metas
Treinamento para AIS* e professores
Realizado pela equipe em área
Formação de multiplicadores
Orientações sobre saúde bucal
Realizadas por AIS e pela equipe em
reuniões com a comunidade
Formação de hábitos saudáveis e
motivação para escovação
Visitas nas aldeias
Visitas feitas por AIS às famílias
Motivar toda a família para promoção
de saúde bucal
Distribuição de escovas e pastas dentais
Quatro vezes ao ano para todas as
comunidades em colaboração com o Projeto
Colgate Nativo
Redução da incidência de cárie
Escovação supervisionada
Acompanhamento das atividades de
escovação durante permanência da equipe
na comunidade
Redução da incidência de cárie
Aplicação tópica de flúor gel na escova
Atividade realizada pelos acadêmicos e AIS a
cada entrada com crianças a partir de 6 anos
e jovens
Redução da incidência de cárie
Atenção nos pólos
Atividades preventivas promocionais em
saúde bucal para professores e alunos,
agendadas quatro vezes por ano
Redução da incidência de cárie
Adequação do meio bucal para faixa etária
de 6 a 14 anos
Consiste na restauração com cimento
provisório de lesões de cárie
Controlar a evolução da doença nas
crianças de 6 a 14 anos de idade
Tratamento reabilitador
Consiste na remoção de raízes residuais e
confecção de próteses dentárias
Recomposição da função do sistema
estomatognático
Atendimento de urgências
Atender casos urgentes evitando-se maiores
danos à saúde do indivíduo
Diminuir demanda reprimida e casos
de urgência
* Agentes Indígenas de Saúde. Adaptado de Benevides, Nunes1 (2000).
ABSTRACT
The HUKA KATU† Project – School of Dentistry of
Ribeirão Preto at the Xingu Indigenous Park
For many years, the educational formation of
health professionals, including dentists, was not guided by the critical understanding of the population’s
needs in terms of oral health. The country’s educational model (Universities) became disassociated
from the Brazilian reality, and consequently not committed to the promotion of oral health. The School
of Dentistry of Ribeirão Preto, University of São Paulo
(FORP-USP), during the collective construction of its
pedagogical project, has been aware of the current
regulations of the many documents elaborated by the
Ministry of Education (Curricular Guidelines for dental schools) and Ministry of Health (National Policy
for Oral Health and National Policy for Attention to
the Health of Indigenous People). In order to perform their role of transformation, Universities must
understand the new “Learning Setting” as a broad
concept that concerns not only the place in which
techniques are performed, but also the population
involved, nature and the content of what is being per-
formed. It concerns, therefore, the incorporation and
the interrelation of didactic and pedagogical methods, areas of practice and experiences, use of technologies and abilities associated to the cognitive and
psychomotor domains. It also includes the valorization
of moral and ethical principles which guide individual and collective conducts. The new FORP-USP Curricula presents growing complexity and proposes integration with greater flexibility. It is within this
context that we propose the presentation of the Optional Internship (Oral Health at the Xingu Park FORP/USP) offered to dental students, characterized
as a process capable of contributing to the reorganization of oral health practice and conceptions, providing a new work process with the main goal of promoting health care.
DESCRIPTORS
Education, dental. Community Dentistry. Curriculum, education. 
† In Kamaiura (a language from the Tupi stem), it means “beautiful smile”, which was one of the names suggested by the Xingu indigenous
people and chosen by the dental school community by direct voting.
138
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Projeto HUKA KATU1: a FORP-USP no Parque Indígena do Xingu • Oliveira C, Pacagnella RC, Mattos MGC, Bregagnolo JC,
Watanabe MGC, Mestriner Júnior W
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Rede UNIDA, ano IV, n. 3, out/nov].
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Latina. Rio de Janeiro; s.n.; 1998. p. 1-18.
5. Conferência Nacional de Saúde Bucal. Relatório final. 2. Bra-
gação em Saúde para Debate, n. 22].
12. Universidade de São Paulo. Reestruturação curricular Faculda-
sília; 1993. 28 p.
6. Fundação Nacional de Saúde. Plano Distrital de Saúde. Depar-
de de Odontologia de Ribeirão Preto; jul 2003.
tamento de Saúde Indígena. Brasília; 2002. [Mimeografado].
7. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: Art-
Aceito para publicação em 06/2005
Revista Brazilian Oral Research
Para maior comodidade
aos autores e agilidade
no recebimento, logo
será possível fazer a
submissão de artigos
“on-line”.
Aguarde mais informações em breve!
Revista da ABENO • 5(2):135-9
139
Utilização de imagens 3D
para o ensino em Odontologia
Uma alternativa didática de fácil obtenção, baixo custo e vasta
utilidade em sala de aula, que auxilia o docente, estimula os alunos
e facilita o aprendizado.
Marcio Vieira Lisboa*, Josmar Gomes de Carvalho**, José Luiz Lage-Marques***,
Mikiya Muramatsu****, Matsuyoshi Mori***
* Aluno de Pós-Graduação (Mestrado) da Faculdade de Odontologia
da Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected].
** Aluno de Graduação do Instituto de Matemática e Estatística
da Universidade de São Paulo.
*** Professores Doutores da Faculdade de Odontologia da Universidade
de São Paulo.
**** Professor Associado do Instituto de Física da Universidade
de São Paulo.
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi produzir material
didático utilizando imagens tridimensionais para o
ensino das especialidades da Odontologia. A utilização de imagens tridimensionais (3D) apresenta com
maior clareza detalhes de peças anatômicas, tempos
operatórios, características dos preparos protéticos e
anatomia de canais radiculares. Para obtenção do efeito 3D, as imagens foram obtidas através de uma máquina digital (Mavica®, Sony, Japão) em duas posições.
Da primeira para a segunda imagem houve um deslocamento de 2° no plano horizontal, em torno do eixo
vertical de um goniômetro, obtendo-se imagens sucessivas de um mesmo objeto com ângulos diferentes de
visão. As fotos sucessivas foram editadas em programas
para tratamento de imagens (Photo Editor e Adobe
Photoshop), aumentando-se a intensidade das cores
vermelha, ciano e verde, sendo sobrepostas com os
respectivos deslocamentos. Óculos padrões para imagens 3D foram confeccionados em cartolina e lentes
de acetato nas cores vermelha e ciano, para percepção
do efeito tridimensional. Assim, cabe ressaltar tratarse de material de simples confecção, baixo custo ope140
racional e que resulta em avanço significativo na aquisição de conhecimento pelo aluno de Odontologia.
DESCRITORES
Ensino. Educação em Odontologia. Prótese parcial fixa. Imagem tridimensional.
A
inovação no ensino universitário e a formação
pedagógica daqueles que exercem essa prática
têm contribuído muito para desenvolver nos alunos
um conjunto de habilidades e o domínio de um conteúdo mínimo para formação de cirurgiões-dentistas
cada vez mais preparados para prestação de serviços
qualificados1.
Textos, desenhos e fotografias em duas dimensões
(2D) têm sido utilizados para o ensino por meio de
diapositivos, retroprojeções e multimídia; porém, devido à complexidade do órgão dental, do sistema estomatognático em geral e das técnicas cirúrgicas, aparecem dificuldades principalmente no treinamento
laboratorial, já que não há percepção em profundidade e em volume dessas imagens.
O objetivo deste trabalho é utilizar, com o apoio
Revista da ABENO • 5(2):140-3
Utilização de imagens 3D para o ensino em Odontologia • Lisboa MV, Carvalho JG, Lage-Marques JL, Muramatsu M, Mori M
do PROMAT*, imagens tridimensionais (3D) de peças anatômicas, macromodelos em resina que simulam preparos dentais de finalidade protética e macromodelos em resina que simulam preparos dentais de
finalidade endodôntica para as aulas de graduação, a
fim de aprimorar noções de tamanho e volume de
estruturas anatômicas e de elucidar os conceitos de
convergência, expulsividade e paralelismo em preparos dentários e radiculares por meio de projeções
multimídia e/ou imagens impressas.
Figura 1 - Macromodelos de preparos dentais com finali-
dade protética e endodôntica.
MATERIAIS E MÉTODOS
O efeito 3D ocorre quando cada um dos olhos de
um observador registra a partir de uma mesma região,
duas imagens de pontos de vista diferentes, as quais são
fundidas no cérebro. A visão binocular propicia o deslocamento, nas imagens, dos elementos que compõem
o cenário observado; o cérebro realiza os cálculos necessários, com os quais são inferidas as distâncias entre
os elementos, resultando no efeito tridimensional.
Para a reprodução da sensação de profundidade,
basta fazer com que cada um dos olhos receba uma
das imagens levemente deslocada no cenário.
Foram obtidas imagens de peças anatômicas e de
macromodelos de preparos dentais com finalidade
protética e endodôntica (Figura 1) através de uma
câmera digital (Mavica®, Sony, Japão). Para a obtenção das imagens, construiu-se um suporte sobre a plataforma de um goniômetro e colocaram-se duas fontes
luminosas eqüidistantes, uma de cada lado da plataforma, para eliminar as sombras (Figura 2). Cada objeto foi posicionado centralmente sobre a plataforma
do goniômetro (que gira em torno de um eixo vertical
do mesmo), distante 10 cm da objetiva da câmera digital, fixada em um tripé (Slik Tripod, Japão). Obtida
a primeira imagem do objeto, obteve-se a segunda
com o giro da plataforma do goniômetro em cerca de
2°, gerando, assim, ângulos diferentes de visão dos
detalhes anatômicos, uma vez que a imagem final deve
apresentar pequena diferença de angulação, para aumentar a sensação de volume e permitir a criação de
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�����
������������
A
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������������������������
B
Figura 2 - Desenho esquemático do suporte para fazer as fotografias: A - primeira fotografia; B - segunda fotografia.
* Programa de Apoio à Produção de Material Didático (PROMAT) da Pró-Reitoria de Graduação da Universidade de São Paulo (USP), que
tem como objetivo apoiar projetos que visem à melhoria do ensino de graduação, por meio da utilização de recursos didáticos que explorem novas tecnologias e que facilitem a divulgação interna e externa do conhecimento desenvolvido na USP.
Revista da ABENO • 5(2):140-3
141
Utilização de imagens 3D para o ensino em Odontologia • Lisboa MV, Carvalho JG, Lage-Marques JL, Muramatsu M, Mori M
Figura 3 - Aumento do brilho na cor vermelha da pri-
Figura 4 - Aumento do brilho na cor ciano da segunda
meira foto de um preparo para metalocerâmica em dente
molar superior.
foto (foto deslocada em 2° em relação à primeira) de um
preparo para metalocerâmica em dente molar superior.
Figura 5 - Imagem 3D de um preparo para coroa metalo-
Figura 6 - Imagem 3D de um preparo para acesso endo-
cerâmica em dente molar superior (observar com óculos
3D).
imagens tridimensionais.
Essas duas imagens sucessivas do mesmo objeto
foram editadas em programas para tratamento de imagens (Photo Editor e Adobe Photoshop), aumentando-se a intensidade das cores vermelha na primeira
foto (Figura 3) e ciano e verde na segunda foto (Figura 4), sendo depois ambas sobrepostas com as respectivas alterações (Figura 5).
Observando-se uma imagem através de um filtro
vermelho, os pontos com essa cor não serão vistos pelo
observador, já que não há contraste entre os pontos
vermelhos da imagem e os do filtro. Caso o filtro seja
ciano, os pontos vermelhos serão visíveis e os pontos
de cor ciano passam a não ser vistos.
Com base nesse fenômeno, foram confeccionados
142
dôntico (observar com óculos 3D).
óculos em papel cartolina e filtros de acetato nas cores
vermelho para o olho esquerdo e ciano para o olho
direito, como é padrão em óculos 3D. Dessa forma,
cada um dos olhos recebe estímulos apenas de uma
das imagens com o brilho alterado e em posição diferente; assim, o cérebro “funde” essas imagens e cria a
imagem tridimensional (Figuras 5 e 6).
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
Inovações com fins didáticos têm a função de auxiliar a tarefa do docente em sala de aula, estimular
os alunos a participar das atividades e, principalmente, facilitar o aprendizado.
Com o aumento crescente no uso de imagens di-
Revista da ABENO • 5(2):140-3
Utilização de imagens 3D para o ensino em Odontologia • Lisboa MV, Carvalho JG, Lage-Marques JL, Muramatsu M, Mori M
gitais, internet e outros meios eletrônicos, o computador em geral vem se tornando cada vez mais indispensável na área de saúde4. Na tentativa de que o
aluno possa relacionar o estudo teórico com o prático
e, assim, criar uma fusão de conhecimentos, deve-se
lançar mão de diversas técnicas de ensino3.
Particularmente no ensino da Odontologia, devido à dificuldade apresentada pelos alunos em visualizar os pormenores do arcabouço dental e a localização
espacial de estruturas e tecidos, torna-se importante
a utilização de novas técnicas de ensino que possibilitem ao aluno perceber detalhadamente os passos clínicos de um preparo dental e/ou passos cirúrgicos, já
que estes são procedimentos importantes na formação de um cirurgião-dentista.
Utilizando o princípio da estereoscopia, em que as
características das imagens retinianas no olho humano
e a visão binocular permitem a visualização de profundidade e volume2, a utilização de imagens em 3D apresenta-se como uma alternativa didática de fácil obtenção, baixo custo e vasta utilidade em sala de aula, já que
facilita o aprendizado em prótese, anatomia, periodontia, endodontia e Odontologia em geral.
AGRADECIMENTOS
À Pró-Reitoria de Graduação da Universidade de São
Paulo e ao PROMAT, pelo apoio financeiro.
Ao Instituto de Física da Universidade de São Paulo.
ABSTRACT
3D images in dental education
The purpose of this study was to prepare didactic
material using three-dimensional (3D) images for the
teaching of dentistry. The use of 3D images provides
clear details of anatomic structures, operative procedures, characteristics of prosthetic preparations and
the anatomy of root canals. To obtain the 3D effects,
images of acrylic models of teeth were taken with a
digital camera (Mavica®, Sony, Japan) in two different
positions. Between the taking of the first and the second image, a dislocation of 2° in the horizontal plane,
around the vertical axis of a goniometer, was performed. Thus, successive images of one object with
different angles were obtained. The successive photographs were edited using computer software for image
edition (Photo Editor and Adobe Photoshop) to increase the brightness of red, cyan and green and to
overlay the photos with modified angles, thus creating
a three-dimensional effect. Standard 3D glasses made
in cardboard with lens made of cellophane in red and
cyan were used to observe the three-dimensional effect. It is important to point out that this material is
easy to make, has a low cost and results in significant
improvement to the learning process of students of
dentistry.
DESCRIPTORS
Teaching. Education, dental. Denture, partial,
fixed. Imaging, three-dimensional. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Aceito para publicação em 06/2005
Utilize os óculos para visualizar as imagens
Revista da ABENO • 5(2):140-3
143
Avaliação da qualidade de ensino em
Endodontia do Curso de Odontologia da
Universidade Federal do Ceará
Para o constante aprimoramento do processo ensino-aprendizagem
devem-se utilizar estratégias pedagógicas que promovam cada vez
mais a interação aluno-professor.
Mônica Sampaio do Vale*
* Professora Adjunta IV da Disciplina de Endodontia do Curso
de Odontologia da Universidade Federal do Ceará. E-mail:
[email protected].
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi avaliar a qualidade
de ensino na Disciplina de Endodontia do Curso de
Odontologia da Universidade Federal do Ceará, utilizando-se de um questionário aplicado aos acadêmicos
que cursaram a disciplina no ano de 2004. Foram avaliadas duas turmas de alunos, sendo uma referente ao
semestre 2004.1 e a outra, ao semestre 2004.2. O questionário foi elaborado pela autora do trabalho, que
idealizou 16 perguntas com objetivo de fornecer subsídios para se conhecerem as reais condições de ensino-aprendizagem em Endodontia. Dos sessenta e
nove questionários enviados, quarenta e um foram
respondidos e devolvidos, correspondendo a 59,42%
da amostra. Não houve necessidade de identificação
do aluno respondente. Os dados referentes a cada
pergunta foram coletados e os resultados permitiram
uma auto-avaliação das condições de ensino, que serão consideradas nos futuros planejamentos da referida disciplina, buscando-se assim um nível mais elevado de sua aprendizagem.
DESCRITORES
Ensino. Endodontia. Educação em Odontologia.
A
necessidade de constante aprimoramento na
qualidade do processo ensino-aprendizagem é
destacada nos vários projetos político-pedagógicos
dos Cursos de Graduação do Ensino Superior, valendo-se, para alcançar esse objetivo, de estratégias pedagógicas que promovam cada vez mais a interação alu144
no-professor. O emprego da tecnologia – tal como um
banco de dados eletrônico para armazenar informações de natureza quantitativa e qualitativa relacionadas à Clínica de Endodontia, seja em nível de graduação ou pós-graduação – segundo Zaragoza et al.7
(2004), facilita o acompanhamento dos alunos, bem
como sua evolução durante o andamento da disciplina. Porém, quando as condições estruturais e/ou financeiras são problemáticas, surgem possibilidades
de avaliação das atividades programadas em uma determinada disciplina por meio de questionário, adotando-se perguntas pertinentes à metodologia e ao
conteúdo programático. Nas disciplinas da área da
saúde, a avaliação de aulas laboratoriais prévias aos
procedimentos clínicos nos pacientes é fundamental.
A Endodontia é uma especialidade da área odontológica que visa o preparo do aluno para o conhecimento das alterações pulpares e periapicais com adoção
de medidas preventivas e curativas, considerando-se
nestas o tratamento endodôntico radical. A correta
preparação do aluno deve seguir um planejamento
tanto laboratorial (in vitro) quanto clínico (in vivo),
em ambos adotando-se o ensino de várias etapas operatórias que compõem o tratamento endodôntico, tais
como acesso e preparo da cavidade pulpar, técnicas
de instrumentação, técnicas de irrigação/aspiração,
seleção e aplicação de medicação intracanal e técnicas
de obturação do sistema de canais radiculares.
Segundo Fachin1 (1999), os insucessos em Endodontia estão diretamente relacionados aos erros durante esses procedimentos, inclusive na seleção incor-
Revista da ABENO • 5(2):144-9
Avaliação da qualidade de ensino em Endodontia do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará • Vale MS
reta do caso clínico. O autor enfatiza também a
fratura de instrumentos no interior dos canais como
fator de insucesso, considerando-se assim a possiblidade de retratamento, cuja proservação deve ser de
até 5 anos. A importância de se conhecer o sistema de
canais é condição fundamental para dar prosseguimento às diversas etapas do tratamento endodôntico,
e para se conseguir o respeito à forma original dos
canais quando se estiver realizando a limpeza dos mesmos pela técnica de instrumentação adotada.
Gorni, Gagliani2 (2004) ressaltaram essa importância destacando que o percentual de sucesso do tratamento endodôntico está diretamente relacionado à
manutenção da forma original do canal, considerando-se que o percentual de sucesso aumenta de 69,03%
para 86,8% nas situações em que se preserva a anatomia original. Portanto, o acompanhamento do aluno
desde a fase laboratorial até a fase clínica torna-se
fundamental, e o conhecimento aliado à resolução
das dificuldades encontradas em cada uma delas certamente possibilitará a redução de erros que prejudiquem o processo de ensino-aprendizagem.
É objetivo deste trabalho avaliar a qualidade do
processo de ensino-aprendizagem na Disciplina de
Endodontia do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará, adotando-se como referência a
turma de estudantes do ano de 2004.
REVISÃO DA LITERATURA
Weinfeld6 (1996) avaliou o trabalho pré-clínico de
alunos de graduação em dentes extraídos e adaptados
a manequins e constatou ser a obturação a etapa de
maior insucesso, seguida por abertura coronária, preparo do sistema de canais e, por último, a determinação do comprimento longitudinal do canal radicular.
Concluiu também ser o dente pré-molar inferior o de
menor dificuldade em todas as etapas avaliadas.
Simi Júnior et al.4 (1998) analisaram as dificuldades
nas diversas etapas do tratamento endodôntico. Foram selecionados 740 planos de tratamento e realizadas entrevistas para determinação das maiores dificuldades. Os resultados demonstraram que as
dificuldades encontradas pelos alunos foram: acesso
à câmara pulpar e entrada dos canais (27,02%),
preparo químico-cirúrgico do canal radicular
(24,33%), obturação do canal radicular (18,92%),
retratamento do canal radicular (16,22%) e odontometria (13,51%).
Correlacionando os insucessos em endodontia
com os erros durante o tratamento endodôntico, Fachin1, em 1999, verificou que eles ocorreram por erros
na seleção do caso para tratamento, por omissão de
canais ou por erros técnicos, tais como: precariedade
da cadeia asséptica, precariedade na condensação lateral da obturação do canal, subobturações e sobreobturações. A presença de instrumentos fraturados
no interior dos canais ou de cones de prata também
favoreceu o acréscimo de insucessos. Ressaltou-se a
importância da reintervenção em casos crônicos e que
acompanhamentos radiográficos posteriores não devem superar o período de cinco anos.
Skelton Macedo et al.5 (2001) apresentaram modelos de avaliação em dois momentos distintos no
último trimestre das atividades programadas para a
turma 2000/2001 da FOUSP, obtendo dados individuais que geraram informações quantitativas (certas
e erradas) e qualitativas (análise da coerência) e o
desempenho em grupos de discussão. Os resultados
permitiram concluir que existem diferenças entre as
avaliações quantitativa e qualitativa, apontando um
método seguro e eficaz, e que a discussão em grupos
identifica um importante modelo de ensino não-presencial.
Em 2003, Kamaura et al.3 avaliaram os alunos da
disciplina de Endodontia, comparando alguns quesitos da prática da técnica endodôntica realizada na
clínica e no laboratório. Foram analisadas radiografias
finais dos tratamentos endodônticos, divididas em relação aos grupos dentais uni, bi e multirradiculares.
Nestas foram observados os seguintes critérios de qualidade: 1 - limite apical; 2 - obturação; 3 - forma do
preparo; 4 - extravasamento; 5 - acidentes; 6 - qualidade radiográfica. Nas radiografias avaliadas pelo mesmo operador, foram encontradas diferenças estatisticamente significantes em nível de 5% quando
comparados os grupos dentais quanto aos critérios da
forma do preparo dos canais, tanto nos dentes tratados em laboratório, quanto nos tratados na clínica.
Na comparação entre os tratamentos realizados em
laboratório e os tratados em clínica, ocorreram diferenças significantes em nível de 5% nos critérios “acidentes” e “qualidade radiográfica”, mostrando diminuição da porcentagem de acidentes do laboratório
para a clínica e diminuição da qualidade radiográfica
ao longo do período de exercício da especialidade.
Os achados experimentais permitiram concluir que
há estreita relação entre o aprendizado no laboratório
e sua aplicação nas atividades clínicas, que o método
de ensino integrado produz capacitação discente e
que durante o período ocorreu uma mudança de prioridade adotada pelos alunos, podendo ser observada
pelo desempenho em determinados quesitos analisa-
Revista da ABENO • 5(2):144-9
145
Avaliação da qualidade de ensino em Endodontia do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará • Vale MS
dos.
Gorni, Gagliani2 (2004) classificaram as diferentes
situações clínicas encontradas em casos de retratamento e relacionaram-nas a um período de observação de 24 meses. Um total de 425 pacientes (452 dentes), admitidos para um retratamento endodôntico,
foram monitorados durante um período de 24 meses.
Todos os dentes foram divididos em duas grandes
categorias: dentes com anatomias modificadas pelo
tratamento endodôntico prévio e dentes que não tiveram mudanças anatômicas após o tratamento endodôntico. Embora a margem de sucesso tenha sido de
69,03%, o sucesso no grupo cuja morfologia foi respeitada atingiu 86,8%; no grupo cuja morfologia foi
alterada com o tratamento endodôntico, a margem
de sucesso foi de 47%. O sucesso clínico de um retratamento endodôntico parece depender da alteração
do curso natural dos canais radiculares pelo tratamento endodôntico prévio.
Zaragoza et al.7 (2004) criaram um banco de dados
eletrônico para armazenar informações de natureza
quantitativa e qualitativa relacionadas à Clínica de
Endodontia, em nível de graduação ou pós-graduação. Na plataforma Microsoft Visual Basic®, foram
criadas fichas clínicas que satisfizessem as necessidades da clínica endodôntica: exame clínico, procedimentos diários e obturações, além do arquivo de ima-
gens. O acesso do aluno ao aplicativo era feito por
meio de senha. Ele preenchia todas as fichas clínicas
relacionadas ao caso clínico em tratamento em um
terminal de computador. Todas as imagens eram digitalizadas, o retorno do paciente para controle era
agendado e o tratamento, qualificado pelo professor.
Com base nas informações, foi possível filtrar, classificar e emitir relatórios clínicos, de imagens ou gráficos. Assim, o acompanhamento dos alunos de um
curso de graduação ou mesmo de cursos de extensão
em Endodontia pôde ser mais facilmente realizado e
a evolução do aluno, avaliada. Os resultados obtidos
com 52 alunos no atendimento de 587 pacientes permitiram concluir que o banco de dados eletrônico
ampliou as possibilidades de avaliação do ensino de
Endodontia.
MATERIAL E MÉTODOS
Durante o ano de 2004, aplicou-se um questionário para a turma de acadêmicos que estava cursando
a Disciplina de Endodontia, com o objetivo de obter
informações sobre a qualidade de ensino em Endodontia do Curso de Odontologia da Universidade
Federal do Ceará (UFC). Foram analisadas duas turmas, uma referente ao semestre 2004.1 e outra, ao
semestre 2004.2. Para a confecção do questionário,
foram elaborados 16 quesitos (Quadro 1). Após apli-
Quadro 1 - Questionário para Avaliação.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ – FACULDADE DE FARMÁCIA, ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM
COORDENAÇÃO DO CURSO DE ODONTOLOGIA – DISCIPLINA DE ENDODONTIA
Questionário para Avaliação da Qualidade de Ensino em Endodontia
1. Na sua opinião, qual a etapa do tratamento endodôntico em que você sentiu mais dificuldade?
2. Qual a etapa que você realizou com mais facilidade?
3. Qual(is) o(s) erro(s) ou falha(s) de procedimento que você cometeu no 1º tratamento endodôntico in vitro?
4. E no último in vitro?
5. Qual(is) o(s) erro(s) ou falha(s) de procedimento que você cometeu no 1º tratamento endodôntico in vivo?
6. E no último in vivo?
7. Qual a seqüência operatória que foi melhor ensinada?
8. Qual seqüência operatória deixou mais dúvida no seu aprendizado?
9. Quantos tratamentos endodônticos você realizou in vitro?
10. Quantos dentes in vitro você consideraria ideal para ter segurança de realizar o tratamento endodôntico in vivo?
11. Quantos tratamentos endodônticos concluídos você realizou in vivo?
12. E quantos não concluídos?
13. Quantos tratamentos endodônticos in vivo você consideraria ideal para seu aprendizado seguro?
14. Você acha que o tratamento endodôntico em dupla seria mais adequado para seu aprendizado? Justifique.
15. Qual(is) o(s) conteúdo(s) teórico(s) que deveria(m) ser revisado(s) ao longo do curso?
16. Qual(is) o(s) contéudo(s) teórico(s) que ainda poderia(m) ser ministrado(s) na graduação?
146
Revista da ABENO • 5(2):144-9
Avaliação da qualidade de ensino em Endodontia do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará • Vale MS
cação e coleta dos dados, calculou-se o percentual das
respostas. Na turma do semestre 2004.1 havia 33 alunos, porém, somente 20 questionários respondidos
foram devolvidos para avaliação. Na turma de 2004.2
havia 36 alunos, sendo que 21 devolveram os questionários respondidos. Totalizaram-se, então, 41 questionários, cujas respostas foram coletadas e analisadas,
obtendo-se assim um perfil do nível de ensino-aprendizagem na Disciplina de Endodontia.
RESULTADOS
Observou-se que, de um total de 69 alunos matriculados na Disciplina de Endodontia no ano de 2004,
59,42% devolveram o questionário respondido. Na
primeira pergunta do questionário, observou-se que
a etapa do tratamento endodôntico em que o aluno
sentiu mais dificuldade foi o acesso à cavidade pulpar,
com percentual de 59,71% dos respondentes (média
das duas turmas do ano de 2004), seguida pela etapa
da obturação do canal (24,5%), instrumentação
(7,35%) e outras (8,44%).
Na segunda pergunta, constatou-se que a etapa da
instrumentação foi considerada a de mais fácil realização, com 53,69% dos respondentes das duas turmas,
seguida da obturação (29,15%), do acesso (9,88%) e
de outras (7,28%).
Na terceira pergunta constatou-se que o erro mais
comum no primeiro tratamento endodôntico in vitro
em ambas as turmas foi a abertura coronária exagerada e falha na obturação, em 27,02% e 19,04% dos
respondentes, respectivamente. Outros erros citados
e que totalizaram 32,32% dos respondentes foram
falhas na instrumentação, na tomada radiográfica, na
irrigação/aspiração e na odontometria. Consideraram que não erraram no primeiro tratamento in vitro
9,72% e 11,9% não responderam a esse quesito.
Na quarta pergunta, constatou-se que 35,7% não
responderam a esse quesito, enquanto 27,26% consideraram que não cometeram erro no último tratamento endodôntico in vitro. Nos outros 37,04% dos
respondentes constatou-se erro na obturação, na tomada radiográfica, na abertura coronária e na instrumentação.
Na quinta pergunta, constatou-se que 29,28% erraram durante a instrumentação e 22,5% não erraram
em nenhum procedimento no primeiro tratamento
endodôntico in vivo. Outros erros detectados, que
totalizaram 48,22%, foram durante a radiografia, a
secagem da radiografia, a odontometria e o acesso,
bem como perfuração do canal e falha na obturação.
Já no último tratamento endodôntico in vivo,
68,09% dos respondentes consideraram não ter errado em nenhum procedimento. Relataram falha na
obturação 12,12% dos respondentes. Os outros
19,79% foram distribuídos entre fratura do instrumento, falha na instrumentação e na radiografia e
perfuração na câmara pulpar.
Na pergunta 7, verificou-se que a técnica operatória melhor ensinada foi a instrumentação, com 68,33%
dos respondentes.
Outra pergunta apresentada no questionário foi
sobre o número de dentes para treinamento endodôntico in vitro necessário para o aluno sentir segurança para passar para o atendimento endodôntico in
vivo. Nesse quesito, foi constatado que 5 dentes seriam
ideais (26,5% dos respondentes).
Também 73,33% dos respondentes consideram
que o tratamento em dupla não seria mais adequado
para o aprendizado, acreditando sim que a disciplina
deve continuar com a estratégia de trabalho individualizado.
Os alunos ainda responderam sobre os conteúdos
teóricos que deveriam ser revisados ao longo do curso,
constatando-se que os temas sobre anatomia da cavidade pulpar e obturação foram os mais solicitados
para revisão, atingindo percentuais de 19% e 12,5%
dos respondentes, respectivamente.
A aula prática sobre tratamento endodôntico em
dentes posteriores foi a mais solicitada, atingindo
16,66% dos respondentes, seguida da aula de retratamento endodôntico e emergências em Endodontia,
com 12,5%, para complementação do conteúdo teórico do curso de graduação.
DISCUSSÃO
Considerando-se os resultados obtidos, nossos
achados divergem dos de Weinfeld6 (1996), que constataram que o acesso coronário foi o procedimento
de maior dificuldade de execução (59,71% dos respondentes), seguido pela obturação (24,5%). Há
coincidência apenas com os resultados do referido
autor no que diz respeito ao preparo químico-mecânico, que foi o terceiro colocado em grau de dificuldade (7,35% dos respondentes). Em nosso questionário, o erro mais freqüente no acesso coronário foi a
abertura coronária exagerada. Nossos resultados, no
entanto, conferem com os de Simi Júnior et al.4 (1998),
que constataram que a maior dificuldade encontrada
foi no procedimento de abertura coronária.
A importância de atividades laboratoriais realizadas previamente à clínica endodôntica é constatada
Revista da ABENO • 5(2):144-9
147
Avaliação da qualidade de ensino em Endodontia do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará • Vale MS
no trabalho de Kamaura et al.3 (2003), levando a menores índices de erros durante o tratamento endodôntico no paciente. Esses dados são comprovados pela
estratégia adotada em nossa disciplina, quando se
constata que, quanto mais treinamento no dente extraído houver, menores serão as chances de iatrogenias futuras, fato observado até mesmo em tratamentos endodônticos in vitro. Quarenta e cinco por cento
dos alunos respondentes informaram que não erraram durante as etapas da técnica operatória no segundo tratamento endodôntico realizado em troquel. A
redução também foi constatada no tratamento endodôntico in vivo, quando a ausência de erros aumentou
de 22,5% para 68,09% dos respondentes. Entretanto,
ainda se observa pelas respostas do questionário a necessidade de um maior tempo de treinamento in vitro,
com objetivo de possibilitar maior segurança aos nossos alunos no futuro atendimento ao paciente, considerando-se que o número ideal de dentes referido por
eles para treinamento prévio ao paciente foi de cinco;
atualmente é disponibilizado o treinamento em 1 ou
2 dentes. Um banco de dados é considerado oportuno, concordando-se com Zaragoza et al.7 (2004), pois
possibilita um melhor acompanhamento do aluno
durante o período em que este está cursando a disciplina.
Ao se comparar o percentual do tipo de erro de
procedimento com o tema que foi melhor ensinado,
segundo os alunos, observou-se que há inter-relação
entre eles, pois verificou-se, pela terceira pergunta do
questionário, que a instrumentação não foi considerada a etapa de maior erro. Observando-se, na pergunta 7, o tema melhor ensinado, 68,33% dos respondentes elegeram a instrumentação a etapa operatória
melhor ensinada, embora se tenha observado que, no
primeiro tratamento endodôntico in vivo, um percentual de 29,28% erraram durante a instrumentação. A
falha na obturação foi constatada tanto no tratamento endodôntico in vitro quanto no tratamento endodôntico in vivo, seja no primeiro ou no último. Isso se
reflete na resposta do aluno quanto ao item sobre o
conteúdo que deve ser revisado ao final do curso, detectando-se ser a etapa de obturação um dos itens a
ser solicitado para revisão, bem como a aula de anatomia dos canais, que certamente tem repercussão na
incidência de erros durante a abertura coronária.
A estratégia adotada pela Disciplina quanto ao
atendimento ao paciente na forma individualizada e
não em dupla permanecerá, haja vista que um percentual de 73,3% dos alunos aprovam essa estratégia,
considerando que ela permite um melhor aprendiza148
do, a despeito de possibilitar mais erros na cadeia asséptica do tratamento endodôntico em relação ao
método de trabalho em dupla.
CONCLUSÕES
Baseando-se na metodologia aplicada e na literatura consultada, pode-se concluir que:
1. O questionário aplicado na turma de alunos do
ano de 2004 identificou as dificuldades operatórias
dos alunos, bem como os conteúdos que devem ser
revisados e/ou ensinados durante a disciplina de
Endodontia.
2. A inter-relação entre conteúdo teórico melhor
ensinado e sua correta aplicação na prática endodôntica foi constatada pelo menor índice de erro
correspondente ao referido conteúdo.
3. A Disciplina de Endodontia da UFC deverá considerar as principais falhas de procedimentos encontradas tanto na etapa laboratorial quanto clínica,
adotando maior atenção e treinamento na etapa
de abertura coronária e obturação do canal radicular.
4. O planejamento de aulas práticas deverá continuar
com o sistema de treinamento individual, considerando-se o alto percentual de alunos que aprovam
esse método de ensino.
ABSTRACT
Quality Evaluation of the Teaching of Endodontics
at the School of Dentistry, Federal University of
Ceará
The objective of this research was to evaluate the
quality of the teaching of Endodontics at the School
of Dentistry, Federal University of Ceará. Thus, we
used a questionnaire to be answered by the students
who took the course in 2004. We evaluated two student’s classes. The first one in the first semester of
2004 and the other in the second semester of the same
year. The questionnaire was elaborated by the author
of this research, who proposed 16 questions to assess
the real conditions of the teaching of Endodontics.
Among the sixty-nine questionnaires distributed, we
received forty-one back, which represents 59.42% of
the total. The students did not have to identify themselves. All the data was collected and used as a tool for
the improvement of the teaching methodology. This
data is going to be used in the future to help develop
the teaching of the discipline of Endodontics.
DESCRIPTORS
Teaching. Endodontics. Education, dental. 
Revista da ABENO • 5(2):144-9
Avaliação da qualidade de ensino em Endodontia do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará • Vale MS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
JH. Disciplina de Endodontia: avaliação do desempenho do
1. Fachin EVF. Considerações sobre insucessos na Endodontia.
Rev Fac Odontol Porto Alegre 1999;40(1):7-9.
2. Gorni GM, Gagliani MM. The outcome of endodontic retreat-
aluno de graduação - FOUSP [Resumo 16]. Revista da ABENO
2001;1(1):67.
6. Weinfeld I. Avaliação de quatro etapas de trabalho na endo-
ment: a 2-yr follow-up. J Endod 2004;30(1):1-4.
3. Kamaura D, Carvalho GL, Antoniazzi JH, Lage-Marques JLS.
Avaliação do desempenho dos alunos de graduação durante a
prática da técnica endodôntica. Revista da ABENO 2003;3(1):33-
dontia pré-clínica [Resumo 43]. 13ª Reunião Anual da SBPqO;
1996. Anais. p. 57.
7. Zaragoza RA, Ferrari PHP, Santos M. Avaliação quantitativa e
40.
4. Simi Júnior J, Medeiros JMF, Risso VA, Albetman CS. Avaliação
das dificuldades clínicas identificadas por acadêmicos do curso
de graduação em relação às diversas etapas do tratamento en-
qualitativa em cursos de Endodontia [Resumo 54]. Revista da
ABENO 2004;4(1):93.
dodôntico. Odontol USF 1998;16(1):11-8.
5. Skelton Macedo MC, Lemos EM, Lage-Marques JL, Antoniazzi
Aceito para publicação em 06/2005
Atenção,
autores!
Revista da ABENO • 5(2):144-9
149
Anais da 40ª Reunião Anual da
Associação Brasileira de Ensino
Odontológico
Tema central: “Universidade promotora de conhecimentos,
saúde e prestadora de serviços”
Balneário Camboriú - SC - 17 a 20 de agosto de 2005
COMISSÃO ORGANIZADORA
Nivaldo Murilo Diegoli (UNIVALI)
Lídia Morales Justino (UNIVALI)
Presidente
Valéria Mara de Oliveira (UNIVALI) (Funcionária)
Mário Uriarte Neto
Mário Uriarte Neto (UNIVALI)
Vice-Presidente
Cleo Nunes de Sousa
Giuseppe Valduga Cruz (UNIVILLE)
Renato Valiati (UNIPLAC-SC)
Márcio Rastelli (FURB)
Secretário
Cláudio José Amante (UFSC)
Giuseppe Valduga Cruz
Cleo Nunes de Sousa (UFSC)
Membros Colaboradores
Comissão para Seleção de Trabalhos
José Agostinho Blatt (UNIVALI)
Léo Kriger (PUC-PR)
Elisabete Rabaldo Bottan (UNIVALI)
Simone Tetu Moysés (PUC-PR)
Casimiro Manoel Martins Filho (UNIVALI)
Ditzel Westphalen (PUC-PR)
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40ª Reunião Anual da Associação
Brasileira de Ensino Odontológico
Tema central: “Universidade promotora de conhecimentos,
saúde e prestadora de serviços”
Balneário Camboriú - SC - 17 a 20 de agosto de 2005
Dia 16
Durante o dia: Recepção e credenciamento dos participantes.
Dia 17
Manhã e tarde: Seminário do INEP/MEC: “ENADE e
Avaliação das Condições de Ensino” – Equipe do INEP
e Comissão de Avaliação de Odontologia.
Dia 18
• 8h30 - 12h00: Seminário do INEP.
• 14h30 - 18h00: Mesa “A Universidade como produtora de serviço sob a ótica dos gestores estaduais
e municipais de saúde”:
- O Papel do Gestor Federal - Gilberto Pucca Coordenador de Saúde Bucal do Ministério da
Saúde.
- O Papel do Gestor Estadual - Luiz Eduardo
Cherem - Secretário Estadual de Saúde de Santa
Catarina.
- O Papel do Gestor Municipal - Michele Caputo Secretário Municipal de Saúde de Curitiba.
- O Papel da Universidade - Maria Celeste
Morita - Universidade Estadual de Londrina.
• 20h00: Cerimônia de Abertura da 40ª Reunião da
ABENO.
Durante todo o dia: Sessão de apresentação de pôsteres.
Dia 19
• 8h30 - 12h00: Mesa “A pós-graduação como indutora da transformação do processo interno das
instituições de ensino superior”:
- Pós-Graduação lato sensu no Sistema de
Educação Superior - Antonio Cesar Perri de
Carvalho - ABENO, DF.
- Políticas públicas em educação superior e saúde
e a formação do professor de Odontologia Adriana de Castro Amédée Péret - UFMG.
- A Universidade e a Formação Docente - Luiz
Roberto Augusto Noro - UNIFOR, CE.
- A CAPES e a Política para os Cursos de PósGraduação em Odontologia - Ney Soares de
Araújo - USP e CAPES.
• 14h00 - 16h30: Mesa “A Intervenção Mínima
como conhecimento gerado na Universidade e aplicado em todos os níveis de atenção à saúde”:
- A Intervenção Mínima em Clínica
Odontológica - Adair Luiz Stefanello Busato ULBRA, RS.
- A Intervenção Mínima em Odontopediatria Ana Cristina Bezerra Barreto - UCB, DF.
- Intervenção Mínima e Promoção da Saúde - Rui
Vicente Oppermann - UFRGS.
• 16h30 - 19h00: Trabalho em grupos sobre as
Mesas.
• 17h00 - 19h00: Reuniões das Comissões da ABENO.
Durante todo o dia: Sessão de apresentação de pôsteres.
•
•
•
•
•
Dia 20
8h00: Plenária para a apresentação dos relatórios
dos grupos.
8h30: Assembléia Geral Ordinária da ABENO.
14h00 - 17h30: Oficina “Interdisciplinaridade” Prof. Marcos T. Masetto - PUC, SP.
14h00 - 17h30: Seminário “Ensinando e Aprendendo”.
17h30 - 18h00: Encerramento da 40ª Reunião da
ABENO.
Revista da ABENO • 5(2):153
153
Trabalhos selecionados para
apresentação na 40ª Reunião Anual
da ABENO, 2005
Tema central: “Universidade promotora de conhecimentos,
saúde e prestadora de serviços”
Balneário Camboriú - SC - 17 a 20 de agosto de 2005
SEMINÁRIO “ENSINANDO E APRENDENDO”
1. Clínica Integrada da UNIVILLE:
“A visão da integralidade”
Miguel, L. C. M.*, Andrade, K. R., Cruz, G. V.,
Locks, A.
A
fragmentação do ensino odontológico nas Universidades Brasileiras tem promovido uma visão
distorcida da realidade social. Nas palavras de E. Morin”... o retalhamento das disciplinas torna impossível
aprender ‘o que é tecido junto’, isto é, complexo,
segundo o sentido original do termo”. O projeto político-pedagógico adotado pela Universidade da Região de Joinville em seu curso de Odontologia procura resgatar essa realidade no aprendizado. As Clínicas
Integradas são adotadas já a partir do terceiro ano,
em um curso que possui cinco anos na sua graduação.
As disciplinas são orientadas e construídas de maneira que o ciclo básico laboratorial seja proposto já com
uma visão do todo, da multidisciplinaridade. O início
da fase prática no atendimento a pacientes é feito de
uma maneira conjunta, em que as clínicas são divididas em etapas de complexidade. O aluno inicia essa
fase prática em pacientes já com uma visão do todo,
em escala crescente de complexidade de diagnóstico,
planejamento e tratamento. As clínicas são divididas
em baixa, média e alta complexidade. Os procedimentos foram alocados pelos professores das clínicas integradas em uma programação pedagógica de modo a
favorecer um diagnóstico crescente de complexidades
elaborado pelos alunos. A orientação realizada pelos
professores traz um “feedback” no qual o ensino se
torna uma aprendizagem, uma vez que o professor é
a figura do “orientador” em todos os seus aspectos.
Deve dominar as noções básicas em todas as matérias
pertinentes a sua clínica. Faz com que o processo de
atualização se torne constante e as transformações
pedagógicas na clínica multidisciplinar evoluam como
um todo.
A conclusão que se tira desse processo de ensino-aprendizagem é que o aluno evolui no ensino, tendo uma visão mais
abrangente do ser humano. Planeja melhor e mais eticamente a reabilitação do seu paciente e, acima de tudo, coloca-se
dentro do processo saúde/doença com a capacidade de inverter esse quadro.
2. Aprendendo e ensinando cariologia:
uma experiência inter e transdisciplinar
Abreu, M. H. N. G.*, Brasileiro, C. B.,
Arantes, D. C. B., Silveira, R. R.
A
s atividades educativas atuais nos cursos de odontologia devem buscar a formação de um cirurgião-dentista generalista e que possa atuar de forma
inter, multi e transdiciplinar. Considerando esses aspectos, o presente trabalho objetiva descrever o processo de ensino-aprendizagem de um conteúdo prático de cariologia no curso de odontologia do Centro
Universitário Newton Paiva, Belo Horizonte-MG. Os
conteúdos teóricos e práticos de cariologia são organizados, em complexidade crescente, desde o primeiro período do curso. No quarto período, no conteúdo
de Ciências Odontológicas Articuladas II, o discente
participa de uma atividade prática com características
inter e transdisciplinares. A prática pedagógica objetiva levar o estudante a conhecer as características
histopatológicas, clínicas e radiográficas da doença
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cárie dentária. Além disso, a prática pedagógica é trabalhada de forma contextualizada, com envolvimento
dos aspectos técnicos e sociais, levando-se em consideração a influência da cariologia no processo saúdedoença e na vida das pessoas. Três docentes, com
formação específica em radiologia odontológica e
imaginologia, patologia bucal e saúde coletiva, atuam
nessa atividade, simultaneamente, há dois semestres
letivos. Em um mesmo ambiente pedagógico, o aluno
identifica as características histológicas da doença cárie dentária através da prática no microscópio, interpreta os diversos aspectos radiográficos das lesões de
cárie e analisa as características clínicas da cárie através da avaliação de dentes extraídos.
Observa-se que essa prática pedagógica tem garantido a construção do conhecimento junto ao corpo discente de forma
articulada, inter e transdisciplinarmente, de acordo com as
diretrizes curriculares propostas pelo MEC.
3. Extensão: promovendo a
interdisciplinaridade na Universidade
de Santa Cruz do Sul-RS
Marques, B. B.*, Moraes, R. B., Reis, M. S.,
Raupp, S. M. M.
A
tualmente há uma busca constante para resgatar
a atenção ao paciente de forma integral. É fundamental a atuação em períodos distintos, como na
gestação, primeiros meses e anos de vida e na adolescência, para estimular a inclusão de bons hábitos alimentares e de higiene. Assim, o projeto Atenção à
Saúde da Criança e do Adolescente da Universidade
de Santa Cruz do Sul (UNISC) propõe dar atenção
desde a gestação até a adolescência, valorizando o
ciclo da vida e objetivando a promoção de qualidade
de vida desde o nascimento. Participam das atividades
de promoção de saúde professores e alunos bolsistas
dos cursos de Biologia, Educação Física, Enfermagem,
Fisioterapia, Nutrição e Odontologia. A cada ano que
se inicia são realizados encontros interdisciplinares
semanais para capacitação da equipe. Além de promover a integração de todos os participantes, são abordados os temas e as ações desenvolvidas no projeto,
para que qualquer bolsista tenha condições de fazer
os devidos encaminhamentos das situações encontradas mesmo que não sejam do seu curso de origem,
pois têm condições de reconhecer o problema. Os
bolsistas desenvolvem atividades comuns a todos,
como revisão bibliográfica, planejamento das atividades em equipe, elaboração de material didático-educativo e entrevistas com os beneficiados através de um
156
instrumento de pesquisa comum a todas as áreas. As
ações compreendem educação para a saúde, para os
beneficiados e seus familiares, sobre hábitos alimentares e de higiene; parasitoses; prevenção dos principais agravos em saúde bucal (traumatismo dentário,
cárie, doença periodontal, maloclusão e lesão de
boca); cuidados com a saúde integral; atenção à saúde
das crianças acometidas por agravos externos e recreação de crianças internadas no Hospital Santa Cruz
(Santa Cruz do Sul, RS) e no Hospital São Sebastião
Mártir (Venâncio Aires, RS). Nas atividades específicas de cada área são realizadas atividades de domínio
da equipe de atuação, porém sempre priorizando a
interdisciplinaridade. Geralmente há uma fragmentação de disciplinas dentro dos cursos de graduação,
que é proveniente da estruturação curricular, tornando difícil a integralidade. Isso é semelhante quando
se trabalha em equipes multiprofissionais.
A experiência desse projeto mostra uma possibilidade de interdisciplinaridade e que, com o empenho e esforço de todos
os integrantes da equipe de trabalho das diferentes áreas de
conhecimento, o objetivo de promover qualidade de vida
desde o nascimento pode ser alcançado.
4. Contruir conhecimento, integrar vidas
Noro, L. R. A.
D
urante seis anos o curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza discutiu, através das Oficinas do Projeto Pedagógico, uma nova concepção de
currículo que permitisse a integração dos conhecimentos e a utilização de metodologia ativa de aprendizagem, que considerasse o Sistema Único de Saúde
enquanto eixo estruturante das atividades desenvolvidas na formação odontológica e que entendesse a
relação entre ensino, trabalho e comunidade, permitindo ao aluno entendimento do contexto imposto
pelo mercado de trabalho e da realidade social a ser
futuramente vivenciada. A implantação de tal proposta foi realizada a partir das três áreas de conhecimento definidas nas Diretrizes Curriculares Nacionais. Na
área das Ciências Biológicas, o 1º semestre tem disciplinas com conteúdos de bases moleculares e celulares
dos processos normais e alterados; o 2º semestre é
composto por disciplinas relacionadas à estrutura e
função dos tecidos, órgãos, sistemas e aparelhos; e o
3ª semestre é constituído por disciplinas aplicadas às
situações decorrentes do processo saúde-doença no
desenvolvimento da prática assistencial. Com relação
à área das ciências sociais, foram incluídos conteúdos
referentes às diversas dimensões da relação indivíduo-
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sociedade, contribuindo para a compreensão dos determinantes sociais, culturais, comportamentais, psicológicos e éticos, nos níveis individual e coletivo, do
processo saúde-doença, presentes em todos os semestres do curso. Já a área de Ciências Odontológicas foi
a que sofreu maior alteração, uma vez que as disciplinas tradicionais foram substituídas por áreas de conhecimento compreendidas pela Propedêutica Clínica (Patologia bucal e Radiologia), Pré-clínica e
Clínica Odontológica (todas as disciplinas profissionalizantes, com aplicação no laboratório e na clínica),
Prótese Dentária e Clínica Infantil. A presente proposta, implantada no primeiro semestre de 2005, configura-se como um enorme desafio, pois a formação
do professor ainda tem como referencial a pós-graduação baseada em áreas específicas. No momento em
que o professor é convidado a desempenhar um papel
de orientador de um clínico geral, há necessidade de
uma flexibilidade que permita não simplesmente a
orientação de uma área específica, mas a integração
de conteúdos. Além disso, o aluno está pouco acostumado a aprender através de metodologias problematizadoras, o que dificulta em alguns momentos o entendimento da proposta.
Há necessidade de capacitação constante do corpo docente
visando a plena utilização de metodologia pedagógica com
base na construção do conhecimento para se obter todos os
benefícios de um currículo integrado, assim como sua capacitação técnica para adquirir uma postura interdisciplinar.
É necessária, também, uma maior conscientização do aluno,
permitindo que ele possa efetivamente alcançar todos os benefícios da presente proposta.
5. O Ensino de graduação e o Programa
de Saúde da Família (PSF)
Santos, J. G.*, Barbosa, M. B. C. B., Alves, T. D. B.,
Saliba, N. A.
D
iante da precária condição de saúde bucal da
população brasileira e reconhecendo a necessidade de proporcionar um melhor acesso às ações de
promoção, proteção e recuperação da saúde bucal, o
Ministério da Saúde, através da Portaria Nº 1.444, de
28/12/2000, criou o incentivo destinado ao financiamento de ações possibilitando a inserção do cirurgiãodentista no PSF, dando início a uma nova estratégia
de assistência odontológica acessível a uma demanda
até então reprimida. A recente introdução do cirurgião-dentista no PSF é um processo em construção.
Essa estratégia, que visa permitir uma melhor acessibilidade da população aos serviços odontológicos, e
conseqüentemente a melhoria da sua condição de
saúde bucal, começa a ser estruturada em muitos municípios brasileiros que se deparam hoje com o grande desafio de modificar a assistência odontológica.
Com o mesmo desafio se depara o ensino de graduação em odontologia, cuja responsabilidade é a de formar o profissional cirurgião-dentista conhecedor das
técnicas inerentes à profissão, mas também o profissional de saúde apto a desenvolver suas atividades em
comunidade. Assim, este trabalho tem como objetivo
descrever a prática da Universidade Estadual de Feira
de Santana no ensino de graduação em odontologia,
visando formar esse profissional que começa a atuar
em comunidade junto à estratégia do PSF. O curso
oferece aos alunos de odontologia, na área de Odontologia Social, conteúdos enfatizando o papel que
desempenha o profissional de saúde que atua em comunidade. Os estágios curriculares dessa macrodisciplina permitem aos alunos a partir do 4º semestre
desenvolver ações educativas e preventivas nos diversos espaços sociais (escolares, gestantes, idosos), realizando levantamentos epidemiológicos para reconhecer a prevalência de cárie, doença periodontal,
câncer bucal e outras, das comunidades trabalhadas,
para priorização de atendimento de acordo com a
necessidade local.
Nesse contexto é que o papel dos cursos de odontologia se
torna indispensável, cuja missão é o de formar um profissional de saúde que, além de possuir uma técnica apurada
no desenvolvimento de suas ações ambulatoriais, seja capaz
de, trabalhando em equipe, entender as necessidades e anseios de uma população buscando atuar cada vez mais próximo dessa realidade.
6. Instrumento de Verificação das
Condições de Ensino dos Cursos de PG
Lato Sensu em Odontologia
Rode, S. M.*, Percinoto, C., Pinheiro, J. T.
E
ste trabalho apresenta a “proposta para o instrumento de verificação das condições de ensino dos
cursos de pós-graduação (lato sensu) em Odontologia”
elaborada pela Comissão de Especialização da ABENO, e debatida em reuniões da comissão e em eventos
nacionais da ABENO, sendo adequada pela referida
Comissão e pela Diretoria, e protocolada no MEC.
Esta Proposta poderá ser empregada em avaliações
para fins de credenciamento de Instituições não universitárias (Legislação Específica: Resolução nº 1 do
CNE/MEC de 03/04/2001; Portarias MEC 1.180 de
06/05/2004 e 328 de 01/02/2005), dos novos proje-
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tos e dos Cursos de PG Lato Sensu de Odontologia já
existentes. A sistemática proposta busca avaliar a qualidade da formação proveniente dos cursos de especialização em Odontologia, considerando-se as especificidades de cada área. Deverão ser avaliados as
características de organização administrativa, contexto social, entre outros, seguindo as orientações do
próprio MEC. Como eixo de avaliação, foram propostos os seguintes enfoques principais: em que medida
o ensino de especialidades Odontológicas vem possibilitando o acesso ao mercado de trabalho e a promoção de saúde; quais as condições de oferta, instalações
e competência pedagógica do corpo docente; quais
as características da proposta pedagógica adotada e
da estrutura curricular e como estas vêm atendendo
às especificidades da realidade socioeconômico-cultural da região onde o curso está inserido. Neste sentido,
cada indicador de qualidade compreende 3 partes:
análise das informações fornecidas pela Instituição de
Ensino, avaliação in loco pela comissão avaliadora, determinação dos níveis de padrão de qualidade. Está
dividido nas dimensões: 1- Contexto Institucional, 2Organização Didático-Pedagógica, 3- Corpo Docente
e 4- Instalações, nos seus aspectos essenciais e comple-
mentares. A avaliação de alguns aspectos poderá sofrer alteração de acordo com a avalição dos alunos.
Para que um curso seja recomendado, é necessário
que todos os Aspectos Essenciais (Dimensões 1, 2, 3 e
4) sejam atendidos em no mínimo 90% (conceito A)
ou no mínimo 80% (conceito B) e os Aspectos Complementares em, no mínimo, 70%. Quando atender
no mínimo 70% nos Aspectos Essenciais e, no mínimo
60% dos Aspectos Complementares terão conceito C.
Caso os índices não sejam atingidos, dependendo do
resultado da avaliação a Comissão de Verificação poderá optar por colocá-lo em diligência ou por não
recomendá-lo. Cada Comissão será composta por 2
membros externos à instituição, com o título mínimo
de mestre, de curso reconhecido pela CAPES/MEC,
e as despesas da Comissão, com o processo de avaliação, correrão por conta da Instituição responsável
pelo programa, conforme tabela do MEC.
A ABENO recomenda que as avaliações sejam feitas por
verificação in loco e por comissão de docentes de Odontologia, devidamente treinados e/ou orientados, evitando-se
parecer à distância, inclusive para se evitar a probabilidade
de “conflito de interesses”.
PÔSTERES
1. A integralidade das ações de saúde,
com ênfase nas medidas educativas
preventivas, sem descuidar das
necessidades curativas
Figueiredo, M. C.*, Cruz, I. C., Barreto, V. C.,
Rosa, A. C.
O
Programa Saúde da Família é uma estratégia
adequada, por propiciar uma melhor contextualização do profissional a partir do maior contato com
a comunidade, e um projeto transformador, onde
além de atividades clínicas, os profissionais devem ousar desempenhar novos papéis junto à sociedade, entendendo a necessidade de novas práticas e conhecimentos, notadamente os relativos às ciências sociais.
Deste modo, o presente trabalho tem como objetivo
avaliar a instituição de Equipes de Saúde Bucal na
Estratégia Saúde da Família-PSF que caracterizou-se:
por utilizar o Tratamento Restaurador AtraumáticoART preconizado pela Organização Mundial de Saúde para países como o Brasil, pela sua eficácia e resolutividade no controle e tratamento das doenças
158
bucais; por distribuir e incentivar na preparação de
um fio dental alternativo feito de ráfia desfiada e esterilizada, recipientes para conservação das pastas de
dente e escovas dentárias e por priorizar o atendimento de grupos populacionais de extrema carência, respeitando sempre o protocolo de atenção da coordenadoria da saúde bucal preestabelecidos pelos gestores
municipais. Exemplificar com um programa que após
dois anos de implementação demonstrou resultados
claros da integração de toda a equipe do PSF, uma vez
que todos estavam voltados para um fim comum, refortalecendo a inclusão social. Os índices das doenças
bucais foram sensivelmente melhorados, obteve-se
86,9% e 98,0% de retenção de 969 restaurações avaliadas em dentes decíduos e permanentes respectivamente resultados estes estatisticamente significantes
(teste Qui-quadrado, p < 0,0001).
Concluiu-se que foi certeiro e muito importante ter optado
por utilizar o Tratamento Restaurador Atraumático - ART,
reafirmando a capacidade de execução destes profissionais
envolvidos após terem sido capacitados para tal, e também,
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a utilização de material/instrumentos que motivaram a população na educação para sua saúde. Mudanças de paradigma sobre o sistema de saúde, acesso da população aos
serviços de saúde e redução dos índices de doenças foram
fatos. Um conjunto de unidades, de serviços e ações que
interagiram para um fim comum. Esses elementos integrantes do sistema referem-se, ao mesmo tempo, às atividades de
promoção, proteção e recuperação da saúde. Foi uma nova
formulação política e organizacional para o reordenamento
dos serviços e ações de saúde associado ao papel inalienável
dos educadores: preparar convenientemente os diversos solos,
para que as sementes possam se desenvolver, abastecendo e
saciando plenamente as necessidades da sociedade. Isto reforça uma necessidade de maior integração e sinergia entre
Serviços Públicos e a Academia, para que seja alcançado o
objetivo maior das referidas instituições: servir a comunidade em função da qual suas existências são plenamente justificadas.
2. Vivência comunitária como
instrumento de conhecimento e
aproximação do profissional com
o paciente no âmbito do SUS
Fernandes, L. S., Biazevic, M. G. H.
A
população. Em seguida, procede-se ao levantamento
das condições bucais (cárie, necessidade de tratamento, sangramento gengival, fluorose dentária e má-oclusão) e da autopercepção de saúde bucal (instrumento
Impactos Odontológicos no Desempenho Diário IODD). Além destes instrumentos, que fornecem
mensurações objetivas, existe rico contato do aluno
do curso tanto com o ACS quanto com a comunidade,
em seu próprio ambiente.
Este contato próximo leva à observação de que a percepção
de saúde e de necessidade de tratamento são diferentes quando analisados sob a ótica da população (necessidade percebida) e do dentista (necessidade objetiva); essas diferentes
percepções mostram prioridades diferentes em termos de busca e utilização dos serviços de saúde bucal.
3. Atenção Materno-Infantil na cidade
de São Luiz do Paraitinga: Parceria
Prefeitura Municipal e Uniararas
Antunes, M. I.*, Imparato, J. C. P., Marques, B. A.,
Souza, P. C. B.
O
realidade social do aluno que ingressa em Curso
de Odontologia costuma ser diferente da realidade do usuário dos serviços públicos de saúde. Considerando a necessidade futura de inserção deste profissional na política de saúde brasileira, se faz
premente a integração deste aluno à comunidade a
ser assistida. Para viabilizar esta aproximação, a cada
semestre, a Disciplina de Odontologia em Saúde Coletiva VIII do Curso de Odontologia da Universidade
do Oeste de Santa Catarina (UNOESC) realiza trabalho de campo com o objetivo de levantar as condições
gerais de vida e de saúde bucal em uma comunidade
predefinida. O primeiro passo para a execução desta
aproximação se dá através do reconhecimento do ambiente físico da comunidade, em termos de saneamento básico, áreas de lazer, presença de iluminação pública, coleta de lixo, e acesso a serviços de saúde e de
educação com a divisão dos grupos de trabalho (aluno
de odontologia e agente comunitário de saúde - ACS)
e a delimitação da área de atuação. Feito esse reconhecimento inicial, passa-se às visitas domiciliares,
devidamente acompanhadas pelos ACS. Nesta fase do
levantamento, são observadas condições específicas
de cada moradia, de trabalho, e diversas informações
sociodemográficas. Essa atividade inicia a criação de
vínculo entre profissional (aluno de Odontologia) e
Centro Universitário Hermínio Ometto - UNIARARAS propôs um Projeto, intitulado “Atenção
Materno-infantil à cidade de São Luiz do Paraitinga:
parceria Prefeitura Municipal e UNIARARAS”, o
qual está inserido no Programa de Mestrado em
Odontopediatria do Centro Universitário Hermínio
Ometto - UNIARARAS. Nesse Projeto, cinco alunas
receberam bolsa integral da universidade, realizando as atividades teóricas (área de concentração e
domínio conexo) e cumprindo dois dias mensais
realizando trabalho de campo na cidade de São Luiz
do Paraitinga. O intuito principal deste Projeto de
pesquisa é apresentar uma proposta de atenção
odontológica preventiva e educativa às crianças de 0
a 3 anos e gestantes da cidade de São Luiz do Paraitinga. Os pacientes serão previamente selecionados
por meio de uma triagem e separados por necessidade de tratamento e áreas em que residem. Os pais
e/ou responsáveis serão incluídos em ciclo de palestras educativas que apresentarão temas pertinentes
e esclarecedores dentro da Odontologia. Além da
participação das alunas de mestrado estão incluídos
neste projeto os cirurgiões-dentistas contratados
pela Prefeitura Municipal e que encontram-se incluídos no Programa de Saúde da Família (PSF). Para
que o paciente seja visto integralmente, além das
palestras educativas, quando houver necessidade o
tratamento curativo de escolha será o Tratamento
Restaurador Atraumático (ART), que foi preconiza-
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do pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para
ser utilizado em países em desenvolvimento, uma vez
que possibilita um tratamento de baixo custo, relativamente indolor, o qual baseia-se na remoção da
dentina infectada das cavidades mantendo-se a dentina afetada, usando instrumentos manuais e restaurando-as com Cimento de Ionômero de Vidro. Inicialmente será realizada a avaliação da incidência de
cárie pelo índice ceo-s, incluindo lesões incipientes
ativas. O programa será avaliado através de levantamentos periódicos semestrais do incremento do índice ceo-s e porcentagem de retenção das restaurações realizadas. As comparações serão feitas tanto de
forma longitudinal (acompanhamento das crianças
que começaram no programa) como de forma transversal, através da comparação por faixas etárias das
crianças que entraram no programa após seu início.
4. Perfil do acadêmico de Odontologia
da Universidade do Planalto
Catarinense – Lages – SC, Brasil, 2004
Toassi, R. F. C.*, Kuhnen, M., Brustolin, J.(H1),
Brustolin, J.(H2)
E
sta pesquisa objetivou traçar o perfil do graduando da Faculdade de Odontologia da Universidade do Planalto Catarinense/UNIPLAC, principalmente quanto às suas razões para escolha do
curso e suas expectativas em relação à futura profissão. Todos os acadêmicos do primeiro ao décimo
período do curso responderam a um questionário
estruturado elaborado a partir dos objetivos do estudo (n = 214). A coleta de dados aconteceu no primeiro semestre de 2004. Dentre os principais resultados, pôde ser observado que 53,3% dos estudantes
é do sexo feminino, a maioria é do estado de Santa
Catarina, solteiros, sem filhos, com faixa etária baixa,
alto nível socioeconômico e de escolaridade dos pais,
forte tendência à especialização, opção direcionada
para o serviço público e privado, com boa expectativa de rendimentos. A escolha pelo curso foi motivada principalmente por realização pessoal e profissional. Consideram como principal finalidade da
Odontologia a prevenção e a manutenção da saúde
bucal.
Os resultados deste estudo permitem identificar mudanças e
tendências que estão ocorrendo nas relações entre o exercício
profissional e o ensino da Odontologia e contribuem para
subsidiar a caracterização das qualificações do profissional
a ser formado pela UNIPLAC.
160
5. Sorriso e Saúde no Lar da Abigail
Peres, D. H. D. F.*, Franco, S. C., Pastina, J. C.,
Suchard, R.
O
acompanhamento rotineiro da saúde das crianças, através da Puericultura, compreendendo a
atenção pediátrica e odontológica, pode fornecer
elementos primordiais para se obter um diagnóstico
da situação de saúde das crianças e propor intervenções buscando prevenir e identificar os diversos agravos à saúde a que estão sujeitas, principalmente no
caso de crianças que vivem em ambientes coletivos,
onde sabidamente os riscos são maiores. O presente
projeto bidisciplinar visou realizar um diagnóstico
de saúde na sua integralidade entre as crianças do
Lar da Mãe Abigail, propor ações de prevenção e
recuperação, implementá-las e avaliá-las para verificar sua efetividade. Foram realizadas visitas semanais
ao Lar entre março e dezembro de 2004 que permitiram realizar um diagnóstico em todas as crianças,
orientando as intervenções curativas e preventivas e
servindo de base para a formulação de propostas de
educação em saúde (bucal e geral), com o intuito de
promoção da saúde integral. Os indicadores para
avaliar a saúde foram: diagnóstico clínico, estado
nutricional, desenvolvimento neuropsicomotor, situação vacinal, acuidade visual, índice CPO-D e identificação de enfermidades orais tais como periodontite, gengivite e outras. Todas as crianças avaliadas
tiveram seus dados registrados em fichas clínicas e,
no caso da boca, também por fotografias. Foram realizadas ações de educação em saúde, tais como
orientação de medidas preventivas com motivação
contínua, escovações, além de palestras sobre temas
de saúde. A avaliação individual das 40 crianças, 21
do sexo feminino, com idade entre 18 meses e 26
meses mostrou que a prevalência de desnutrição foi
de 46% (padrão NCHS), 21 (52,5%) não possuíam
carteira de vacinas e 8 (20%) estavam com atraso
vacinal. Foram realizados testes de acuidade visual
em 30 (75%) crianças, sendo suspeitado de vício de
refração em 20 delas, as quais foram encaminhadas
para oftalmologista. Quanto à saúde bucal pode-se
observar uma grande variação nos índices CPOD não
só em função das diferenças de idade mas também
em função das diferenças genéticas (presença de
apinhamentos, esmalte mal formado, arcadas dentárias com mais espaços, etc.). A motivação e a melhora na qualidade da higienização foi clinicamente
percebida pela diminuição da quantidade de placa
visível e do índice de sangramento gengival. As crian-
Revista da ABENO • 5(2):155-207
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ças que necessitavam de tratamento curativo foram
encaminhadas para a Clínica Odontológica da Univille.
As ações de promoção à saúde trouxeram benefícios para
todos os envolvidos, conscientizando-os sobre os fatores de
risco e as respectivas ações de prevenção. Para os acadêmicos
envolvidos no projeto propiciou uma visão realista do impacto causado pelas informações dadas aos pais e aos pacientes e o quanto é importante levar em consideração as
individualidades das crianças, das crianças especiais e adolescentes para se conseguir um resultado a longo prazo.
6. Tratamento Restaurador Atraumático
(ART) em Bebês em uma Unidade
Básica de Saúde do SUS, em Joinville:
Adequação, Condicionamento e
Promoção de Saúde
Peres, D. H. D. F.*, Venturelli, A. P., Ganzler, G.C.
A
doença cárie em crianças de tenra idade se manifesta e desenvolve de maneira aguda e, em função de suas características, foi denominada de “Cárie
Precoce da Infância” (ECC – Early Childhood Caries).
Apesar de todo avanço na Odontologia, a ECC ainda
apresenta prevalência assustadora em populações carentes. O Tratamento Restaurador Atraumático
(ART) preconizado pela Organização Mundial da
Saúde consiste na realização de uma técnica de mínima intervenção, através da remoção da dentina infectada das cavidades cariosas, usando-se apenas
instrumentos manuais sob isolamento relativo e restaurando-as com um material adesivo, biocompatível:
Cimento de Ionômero de Vidro (CIV). Neste trabalho
a técnica detalhada será ilustrada com dois casos clínicos de um Posto de Saúde de Joinville: A- criança de
24 meses, dente 51 e o aspecto da ART um mês após
sua realização; B- criança de 36 meses, ART nos molares inferiores e aspecto após 8 meses.
Sendo o ART um tratamento acessível a bebês por ser uma
técnica de rápida execução e fácil aceitação, sua realização
na primeira consulta foi importante para a adequação do
meio bucal, condicionamento psicológico das crianças e Promoção de Saúde daqueles núcleos familiares.
7. Desenvolvendo habilidades
em Dentística Restauradora
Miguel, L. C. M.*, Schein, M. T., Scubert, E. W.,
Locks, A.
O
s preparos realizados para soluções restauradoras em Dentística são treinados e capacitados em
laboratório específico. O desenvolvimento das habilidades manuais destes alunos normalmente são realizadas em dentes de plástico ou dentes naturais provenientes de banco de dentes regularmente cadastrados.
A técnica usual é ministrar as aulas teóricas de preparo de cavidades e depois iniciar os preparos dos dentes
no laboratório. Existe uma resistência ao início dessas
atividades, por receio e temor, por parte dos alunos
com a utilização de um instrumento que possui grande poder de corte e, se não for bem manuseado, poder
de destruição. Objetivou-se introduzir o aluno em um
novo método de desenvolver habilidades manuais
para o controle de corte com aparelhos de alta e baixa rotação em Dentística clínica. Serão utilizados ossos
de costela bovinos preparados com formol e verniz,
esterilizados, como base de preparo para os alunos
iniciarem a utilização da alta e baixa rotação. Serão
feitos desenhos, com lápis à prova de água, de figuras
que estimulem o controle manual das peças de mão
(ex. estrelas, círculos, escadas, triângulos, etc.) nos
ossos de costela bovina. Com brocas específicas para
preparo serão desenvolvidas aulas que visem aos alunos dominarem os desenhos feitos, procurando executá-los o mais perfeito possível. Foi realizado no ano
de 2004 experiência piloto com o grupo de alunos do
2º Ano do curso de Odontologia da UNIVILLE, coordenado pelos professores da disciplina, onde ficou
demonstrado que a idéia, além de pioneira, traz mais
segurança ao manuseio das peças de mão por parte
dos alunos bem como preparos mais delineados. Os
alunos se sentiram mais seguros no manuseio da alta
e baixa rotação, quando passaram a tratar os dentes
obtiveram preparos mais delineados, os micromovimentos foram aperfeiçoados de uma maneira pedagógica e satisfatória.
A experiência possibilitou um primeiro contato com os aparelhos de alta e baixa rotação que fugiu da maneira tradicional. Os alunos se sentiram mais seguros para iniciar os
preparos de cavidades em dentes artificiais e naturais. Esses
preparos ficaram mais delineados, demonstrando claramente um maior controle dos instrumentos após a experiência.
8. Banco de Dentes como instrumento
de ensino e pesquisa no Curso de
Odontologia da Universidade do Vale
do Itajaí (SC)
Diegoli, N. M.
U
m Banco de Dentes (BD) é um setor componente de uma instituição sem fins lucrativos. A criação de um banco de dentes na Univali visou habilitar
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a recepção de elementos dentais extraídos nas clínicas
do próprio curso ou por particulares para atender a
demanda das disciplinas que montam manequins
para o treinamento de alunos e para as pesquisas dos
trabalhos de conclusão de curso de graduação e de
titulação dos professores. O banco funciona anexo ao
curso de graduação, em três salas, no total de trinta
metros quadrados, sendo uma sala de recepção e arquivos, uma sala de preparação dos dentes (limpeza,
desinfecção, preparo para esterilização, acondicionamento em recipientes próprios e individuais) e uma
sala de armazenamento em geladeira e distribuição.
Estas salas têm iluminação adequada, ventilação com
circulação e renovação de ar condicionado, revestimentos de pisos e paredes com material lavável e impermeável, de cor clara, instalações elétricas e sanitárias embutidas, lavatórios para mãos com dispositivo
que dispensa o contato das mãos com a torneira, toalha de papel descartável e sabonete líquido. O funcionário responsável pelo BD trabalha com os equipamentos de proteção individual (EPIs) como luva
descartável, avental, máscara, óculos e gorro, bem
como, todo o instrumental necessário para a limpeza
dos dentes. Os dejetos provenientes da limpeza são
canalizados para uma caixa de coleta própria, com
5.000 litros de capacidade, a qual é esgotada por veículo apropriado. Os dentes após desinfecção e/ou
esterilização em autoclave são armazenados em refrigerador em recipientes próprios individuais de plástico com solução de timol a 0,1% em álcool de cereais.
O BD é administrado por um coordenador-geral, e
dois coordenadores-técnicos, todos cirurgiões-dentistas, professores do curso e por um coordenador-acadêmico, estudante do curso. A administração é responsável pela divulgação dos objetivos, através da
imprensa e palestras, entre os profissionais da região
e da comunidade, visando as doações. O BD funciona
da seguinte maneira: os dentes doados são recebidos
na sala de recepção juntamente com o termo de doação do paciente ou do próprio dentista. A seguir, é
preparado (limpo, desinfectado ou esterilizado) e estocado em refrigerador. A sua liberação para uso é
feita mediante solicitação do professor ou aluno interessado, em formulário próprio e assinado. Após o uso
o dente é devolvido ao banco íntegro ou no estado
em que a pesquisa ou o tratamento o deixar. A devolução é a condição para que o professor ou aluno faça
futuras retiradas. O dente só é liberado, no caso de
pesquisa, após a aprovação do projeto pelo comitê de
ética. Outras normas que se fazem necessárias estão
explicitadas no regulamento de funcionamento.
162
A criação e funcionamento de um banco de dentes é viável,
auxilia no combate ao comércio ilegal de órgãos e na eliminação da infecção cruzada quando dentes extraídos são
manuseados sem os devidos cuidados de biossegurança.
9. Estratégia da pesquisa como princípio
educativo e o processo de integração
curricular e de ações de extensão
Diegoli, N. M.*, Bottan, E. R., Stuker, H.,
Imianowski, S.
A
experiência do curso de Odontologia, em quinze
anos, tem evidenciado que pesquisar, e simultaneamente ensinar a pesquisar, melhora a qualidade
de um programa educacional. Mediante sistemáticas
observações, identificam-se alguns indicadores positivos do processo de implantação da pesquisa na graduação. Analisando-se o objeto de investigação da produção dos acadêmicos, identifica-se que o marco
conceitual Biologismo foi o predominante, com 65%.
A Conotação Social foi detectada em 35% dos trabalhos. Comparando-se estes valores com os referentes
ao período 1994-2002, observa-se que, embora o Biologismo ainda seja predominante, houve um crescimento da Conotação Social, de 24% para 35%. A tradição essencialmente biológica imperante, por muitos
anos, na Odontologia, fez com que predominasse o
isolamento laboratorial, supostamente neutro e descompromissado com a saúde da população. Assim, a
identificação de que o Biologismo ainda seja o mais
enfocado nas pesquisas desenvolvidas no curso de
Odontologia da UNIVALI é um reflexo da realidade
desta área do conhecimento. No entanto, a evolução
da Conotação Social é um indicador do processo de
mudanças, que vem ocorrendo em todo o território
nacional. Acredita-se, também, que o crescimento
destas pesquisas, no curso de Odontologia, cujos objetos estão relacionados à Saúde Coletiva, esteja vinculado às freqüentes discussões, pela comunidade
acadêmica, sobre a proposta do projeto pedagógico
do curso. Estes encontros têm permitido uma releitura, por parte dos docentes, quanto à filosofia norteadora do curso e a compreensão da dimensão do enfoque de promoção de saúde. Outra característica da
produção de 2004, que merece destaque, é o aumento do número de pesquisas que integram duas ou mais
áreas do conhecimento. No período de 1994-2002, o
percentual de trabalhos com integração de conteúdos
foi de 49%, em 2004, alcançou 67,5%. A área de conhecimento que mais se destacou neste processo de
integração foi a Saúde Coletiva (25%). Estes dados
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reforçam a idéia de que a estratégia da pesquisa na
graduação é um fator propulsor da integração de conteúdos/disciplinas, fazendo com que a prática da pesquisa se volte para a sua aplicabilidade, para a sua
inserção na realidade social. No conjunto das quarenta monografias, verificou-se, também, uma outra situação de integração de domínios cognitivos, qual seja,
a emersão de objetos de pesquisa a partir da leitura
de dados de ações procedentes de diferentes campos
de extensão em que o curso atua. Foram produzidos
nove trabalhos, que representam 22%, tendo por base
a atividade da extensão.
Portanto, a pesquisa no curso de Odontologia da UNIVALI
tem contribuído de forma significativa para a formação do
perfil profissional mais crítico e atuante em diferentes áreas.
E, nesta ótica, este relatório, além de cumprir uma exigência
própria da atividade de planejamento institucional, representa uma possibilidade de reflexão sobre o significado da
pesquisa no curso de Odontologia.
10. Metodologia para o desenvolvimento
da percepção visual e habilidade manual
dos acadêmicos de odontologia da
UNIVALI
Camargo, D. A. A.*, Kosmann, C.
A
pesar das mudanças ocorridas na Odontologia
nos últimos anos, conseqüência do avanço técnico e científico, a maioria dos procedimentos odontológicos ainda exige dos profissionais grande habilidade manual. A partir da constatação da crescente
dificuldade por parte dos acadêmicos para realizar
tarefas manuais, possivelmente devido ao aumento da
informatização e dos diferentes níveis de amadurecimento da capacidade visiomotora entre os estudantes,
desenvolveu-se uma metodologia de ensino composta
de uma série de exercícios. O objetivo destes exercícios foi enfatizar a ação conjunta e integrada das partes do corpo responsáveis pelos movimentos de precisão e a visão, aprimorando assim o desenvolvimento
da percepção visual relacionada ao tamanho, forma,
posição dentária e apurar o controle motor fino dos
acadêmicos. Os exercícios propostos, sempre tendo
como matriz o elemento dental e suas estruturas, foram: técnica do desenho pontilhado; reprodução escalonada mantendo a forma original; preenchimento
das estruturas dentais, empregando diferentes traçados; cópia e transferência do desenho e colagem com
papel colorido para diferenciar as estruturas; jogo das
diferenças; e descascar laranjas para treinamento de
empunhadura. A partir da aplicação da metodologia
acima descrita, por um período de dois semestres, foi
possível observar o cumprimento das tarefas propostas
pela disciplina de modo mais descontraído, com desenvolvimento gradativo e consistente das habilidades
manuais. Também foi observado uma menor discrepância entre as notas nas avaliações, devido ao nivelamento prévio alcançado com os exercícios propostos.
Após a análise dos relatos dos alunos e resultados obtidos
nas avaliações, foi possível concluir que a metodologia proposta melhora o processo ensino-aprendizagem, minimizando o impacto da exigência de habilidades manuais necessárias ao exercício da odontologia.
11. Modelo de avaliação para
procedimentos clínicos em Odontologia
Camargo, D. A. A.*, Kosmann, C.
A
dificuldade inerente à avaliação dos procedimentos clínicos realizados nos cursos de Odontologia
é objeto de questionamentos por parte dos acadêmicos, assim como motivo de preocupação para os professores. O presente trabalho tem como foco principal
a apresentação de uma metodologia de avaliação que
visa minimizar esta dificuldade, trazendo a objetividade que esta tarefa exige e a compreensão dos quesitos
a serem alcançados. Deste modo, torna-a mais eficiente e deixa de ser objeto de conflito entre quem executa e quem avalia. Levando em consideração que
todo procedimento a ser avaliado deve receber um
conceito, que depende diretamente do grau de dificuldade apresentado pelo caso em particular, como
cooperação do paciente, complexidade do procedimento, entre outros, criou-se uma tabela que relaciona os conceitos (insatisfatório, regular, bom e muito
bom) e grau de dificuldade (baixo, médio e alto),
gerando um valor numérico exigido pelo sistema que
vai de 2 a 10. Esta forma de avaliação também premia
o esforço do aluno que executa um maior número de
procedimentos e/ou com maior qualidade. O aluno
que obtiver mais de três conceitos máximos ou executar 30% a mais dos procedimentos mínimos exigidos,
recebe um adicional de 0,3 pontos na média, pra cada
quesito. Esta metodologia tem sido empregada nas
Disciplinas de Dentística da UNIVALI desde 1999,
onde foi desenvolvida, sendo mais tarde empregada
na disciplina de Prótese total e Parcial removível da
UNISUL, e atualmente nas Disciplinas de Cirurgia
também desta instituição.
A partir das experiências de aplicação do presente modelo,
conclui-se que esta forma de avaliação tem-se mostrado ob-
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jetiva, consistente e tem minimizado as dúvidas com relação
aos critérios adotados e a nota final do procedimento. Também foi observado ser possível a adequação desta tabela às
várias áreas que necessitam avaliação imediata em clínica,
cuja presença do paciente seja indispensável. Por fim, conclui-se que a existência de critérios predefinidos permite o
nivelamento entre os diferentes professores que avaliam os
procedimentos clínicos, comprovando a sua validade.
12. Aplicação da Análise Ergonômica
do Trabalho como estratégia de ensino
Kosmann, C.
A
o longo do ensino da disciplina de Ergonomia,
constatou-se ser necessário ampliar o conhecimento para além dos conceitos teóricos ministrados
em sala de aula visando proporcionar melhor entendimento dos diversos aspectos que envolvem o trabalho e familiarizar os estudantes com a profissão por
eles escolhida. Com este objetivo, foi proposto o desenvolvimento de uma atividade curricular denominada Análise Ergonômica do Trabalho (AET), aplicada usualmente nas áreas de engenharia, para o estudo
do trabalho de forma didática e em tempo real. Esta
atividade foi desenvolvida nos consultórios particulares e unidades de saúde pública do estado de Santa
Catarina, pelos estudantes de Odontologia da UNIVALI e UNISUL. Inicialmente, os alunos elaboraram
questões relacionadas às características físicas, fisiológicas, psicológicas e sociais, com o objetivo de conhecer os trabalhadores. Também foram coletadas, através de recursos como anotações, fotografias, esboços
de plantas baixas, informações sobre tipo de equipamentos, cores do ambiente, mobiliário, decoração,
ruídos, iluminação e sobre aspectos relacionados à
administração, organização e relacionamentos no trabalho. Como etapa final foi elaborada pelos alunos
uma lista de recomendações para a melhoria do trabalho e entregue a cada profissional que colaborou
com a pesquisa. Após a finalização das atividades houve uma discussão em sala de aula onde foram discutidos os tópicos mais relevantes. Com o objetivo de
avaliar o porquê e quanto esta metodologia contribui
para o aprendizado, os alunos responderam a um
questionário. Dos 54 alunos participantes da amostra,
analisando uma escala de 1, menor conceito, a 5, conceito máximo, 88,22% atribuíram conceitos 4 e 5 para
a contribuição da atividade no aumento de seus conhecimentos de Ergonomia; 84% atribuíram conceitos 4 e 5 para a eficiência do trabalho em motivá-los
164
a aprender mais sobre as demais áreas da Odontologia. Com relação ao reforço de cada conteúdo ministrado pela disciplina, os alunos afirmaram que o maior
aprendizado se deu em relação ao ambiente de trabalho (71,6%), seguido das posições de trabalho (57,1%)
e dos equipamentos (33,9%). As áreas em que a estratégia menos contribui para o aprendizado e, portanto,
necessitam de outras técnicas de abordagem foram
marketing (5,7%), relacionamento pessoal (8,1%) e
doenças ocupacionais (9,7%).
A partir da aplicação e avaliação da AET, concluiu-se que
esta forma de ensino e pesquisa mostrou ser eficaz para a
sedimentação dos conteúdos ministrados em sala da aula,
assim como para o maior conhecimento do trabalho odontológico. Também, que através desta metodologia é possível
conhecer os aspectos que necessitam de abordagens distintas
de ensino ou reforço do conteúdo. Por fim, que os alunos
julgam importante a utilização de formas de ensino e pesquisa onde não somente o professor repasse o conhecimento,
mas onde o próprio estudante extraia informações e construa
conceitos e opiniões.
13. Atividades interdisciplinares em
saúde a pessoas com necessidades
especiais em Montes Claros
Abreu, M. H. N. G.*, Palma, A. B. O., Rossi-Barbosa,
L. A., Costa, S. M.
C
onsiderando a necessidade de formação de recursos humanos capacitados a realizar atendimento a indivíduos portadores de necessidades
especiais, a Universidade Estadual de Montes Claros UNIMONTES implementou atividades de ensino,
pesquisa e extensão nesta área, desde agosto de 2001.
O objetivo deste trabalho é descrever as atividades de
ensino e extensão a esse público. As atividades de ensino, na Clínica Integrada IV, e extensão envolvem a
realização de procedimentos individuais e coletivos,
desenvolvidos de forma interdisciplinar a pessoas com
necessidades especiais institucionalizadas em Montes
Claros-MG. Assistência odontológica, fonoaudiológica e fisioterápica, voltadas para prevenção de doenças
e promoção, recuperação e manutenção da saúde, são
desenvolvidas por acadêmicos do 9º período do Curso
de Odontologia e pelos profissionais dessas três áreas
de conhecimento. Atualmente, participam do projeto
as instituições APAE e Capelo Gaivota. São atendidos
cerca de 30 pacientes por mês, de diferentes faixas
etárias (4 a 35 anos) e portadores de diversos quadros
(Síndrome de Down, Autismo, Paralisia Cerebral, De-
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ficiência Auditiva e Visual, Deficiência Mental, dentre
outras). A metodologia pedagógica utilizada envolve:
visita às instituições, permitindo ao discente conhecer
o trabalho multidisciplinar de reabilitação e inclusão
do portador de necessidades especiais; triagem dos
pacientes; revisão dos prontuários de saúde arquivados na instituição; atendimento ambulatorial odontológico com participação de fonoaudiólogo e fisioterapeuta; atendimento ambulatorial individual
fonoaudiológico e fisioterápico; ações educativas, preventivas e de promoção de saúde, envolvendo as diferentes áreas, direcionadas aos pacientes, pais ou responsáveis, cuidadores e outros profissionais da saúde,
levando em consideração a demanda dos indivíduos
envolvidos.
Observa-se que as atividades realizadas contribuem para
capacitação do futuro Cirurgião-Dentista no enfrentamento
dos problemas bucais do paciente portador de necessidades
especiais, assim como a compreensão das reações fisiopatológicas e emocionais presentes nesses pacientes. Espera-se ainda, que o discente modifique sua postura, muitas vezes estigmatizante, em relação a esse grupo. A melhor formação
profissional possibilitará a modificação no quadro de pouca
ou quase nenhuma assistência aos indivíduos portadores de
necessidades especiais.
14. Atendimento hospitalar dos traumas
dentoalveolares - Proposta de Criação
de Disciplina
Crivello-Junior, O.*, Lemos, J. B. D.
A
crescente incidência dos traumatismos dentoalveolares e a necessidade da ampliação da capacidade do Cirurgião-Dentista de interagir em diferentes
cenários profissionais levou à proposta de criação desta disciplina, inicialmente optativa, no currículo de
graduação da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. Para tanto, essa disciplina tem
como objetivos: capacitar o diagnóstico dos traumas
dentoalveolares, formação nas condutas terapêuticas
relativas a estes traumas e compreender a rotina do
Pronto-Socorro hospitalar. A proposta apresentada
baseia-se em atividades teóricas e laboratoriais e fóruns de discussões clínicas, para a apresentação dinâmica e atual de seu conteúdo programático.
A utilização de disciplinas optativas é um instrumento importante para complementar o currículo nas áreas de interesse conexo como é o atendimento de urgência dos traumas
dentoalveolares.
15. Teste do Progresso: instrumento
de avaliação no curso de Odontologia
da FOUSP
Crivello-Junior, O.*, Araújo, M. E., Maltagliati, L.
A
valiar o contínuo ganho cognoscitivo do aluno
durante o curso desde o ciclo básico até as últimas
clínicas é uma preocupação constante para os educadores das diferentes áreas médicas. Em Odontologia
não pode ser diferente. Para isso iniciou-se em 2004,
na FOUSP, uma avaliação longitudinal desenvolvida
para o curso médico da Universidade de Maastricht:
o Teste do Progresso. A partir de diferentes modelos
análogos estudados, desenvolvemos um teste adaptado à nossa realidade. Desta forma, chegou-se ao modelo de 80 questões coerentes aos objetivos de formação na graduação, ou seja, de um profissional
generalista e aplicou-se aos alunos do primeiro ano
do curso odontológico. O teste será introduzido gradualmente de forma que no próximo ano participarão
o primeiro e o segundo anos e assim sucessivamente
até o último ano. A distribuição das questões respeita
as cargas horárias das diferentes áreas do ciclo básico
e clínico assim como as questões da área social. O
teste não será utilizado para promoção de um ano
letivo para outro e o resultado é divulgado exclusivamente para o aluno, que utiliza um código, de forma
que somente ele pode se identificar no momento da
divulgação dos resultados.
É extremamente importante para uma escola de saúde avaliar, com este instrumento, o ganho e a retenção do conhecimento cognoscitivo do aluno de Odontologia ao longo do
curso.
16. Alunos do Curso de Odontologia
da UNISC conhecem a realidade de
moradores de bairros de Santa Cruz
do Sul - RS
Marques, B. B.*, Freiberger, E., Bender, C. F. R.,
Gonçalves, E. M. G.
A
s Disciplinas de Saúde Coletiva em Odontologia
do Curso de Odontologia da Universidade de
Santa Cruz do Sul (UNISC) desenvolvem atividades
que permitem interagir conhecimentos teórico-práticos com a realidade. Os conhecimentos teóricos envolvem desde a história da odontologia, educação
para a saúde, passando pelos princípios do Sistema
Único de Saúde e Programa de Saúde da Família
(PSF), até chegar ao planejamento e administração
dos serviços de saúde. Assim os acadêmicos são capa-
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citados para desenvolverem ações individuais e coletivas em saúde. Com este objetivo os alunos fazem visitas domiciliares nos bairros do Município de Santa
Cruz do Sul – RS. No decorrer do ano de 2004 as visitas ocorreram no Bairro Beckenkamp constituído por
227 famílias divididas em duas microáreas, uma com
120 famílias e outra com 107 famílias. Duas Agentes
Comunitárias de Saúde (ACS) atuam nesse território,
as quais acompanharam os alunos nas visitas domiciliares. Além de conhecer as particularidades do bairro
é realizada uma entrevista na família visitada para buscar informações sobre as características socioeconômicas e culturais; história médica; acesso a serviços
odontológicos, autopercepção em saúde bucal; higiene bucal e dieta dos membros da família. Cada família
recebe duas visitas sendo que na primeira a família é
esclarecida do trabalho que se pretende realizar. Se a
família aceita, inicia-se um contato valorizando o vínculo e a educação para a saúde. As famílias são convidadas a participarem de uma feira de saúde, no bairro,
organizada pelos acadêmicos. Do total de famílias residentes no bairro, 86 foram visitadas (38%). A segunda visita tem a finalidade de rever a família e convidar
os membros da mesma para uma consulta a ser realizada nas clínicas do Curso de Odontologia da UNISC,
sem custo. É dada a opção de escolha de dia, geralmente duas datas distintas, e também de turno (manhã ou tarde). No dia da consulta há transporte
gratuito para os beneficiados, com horários preestabelecidos.
A partir dos resultados, em especial o baixo índice de comparecimento às consultas, observa-se que a busca por atendimento odontológico se dá quando a doença instalada
passa a prejudicar a vida das pessoas. As condições socioeconômicas e cultural, onde existe a ineqüidade social, também influenciam na prioridade dos valores.
17. Avaliação dos serviços de
atendimento odontológico prestados
pelas clínicas do curso de Odontologia
da UNIVALI: a visão dos pacientes
Bottan, E. R.*, Sperb, R. A. L., Telles, P. S.,
Uriarte Neto, M.
O
curso de Odontologia da Universidade do Vale
do Itajaí (UNIVALI), desde 1993, em decorrência de sua estrutura curricular oferece, gratuitamente,
serviços odontológicos, de diferentes complexidades,
para a população da área de abrangência da UNIVALI. O atendimento é realizado por acadêmicos sob a
supervisão direta de professores cirurgiões-dentistas.
166
As atividades clínicas integram o processo de ensinoaprendizagem e têm por objetivo oportunizar ao aluno, em situação real de trabalho, a consolidação de
conhecimentos teórico-práticos. Elas são, portanto, a
espinha dorsal do processo de formação do aluno. Por
outro lado, as atividades clínicas, ofertadas por cursos
de graduação e de pós-graduação, constituem-se na
única alternativa de acesso a serviços odontológicos
para grande parcela da população. Através de um estudo exploratório, com abordagem descritiva, investigou-se a opinião de pacientes em atendimento nas
clínicas odontológicas do curso de Odontologia da
UNIVALI sobre a qualidade dos serviços prestados.
Foi constituída uma amostra acidental, escolhida de
forma aleatória, entre os pacientes agendados para
tratamento nas clínicas, no período de setembro a
novembro de 2004. Como critérios de inclusão foram
definidos: ter realizado, pelo menos, três atendimentos; ter idade mínima de 18 anos; aceitar, por livre e
espontânea vontade, participar da pesquisa. Foram
entrevistados 51 pacientes, sendo que 41 (80,4%)
eram do sexo feminino e 10 (19,6%) do sexo masculino, com idades que variaram de 20 a 73 anos, com
uma maior concentração na faixa de 31 a 50 anos
(50%). O maior número de mulheres do que homens
deve-se ao fato de que a maioria dos pacientes destas
clínicas são do sexo feminino. A definição do número
de sujeitos foi embasada no critério de esgotamento
da informação, isto é, quando as falas se tornaram
repetitivas, suspendeu-se a coleta de dados. O instrumento para coleta de dados constou de uma entrevista semi-estruturada que enfocava aspectos estruturais,
aspectos referentes aos professores e acadêmicos e
satisfação do paciente em relação ao processo de atendimento. As entrevistas foram registradas e as falas
agrupadas segundo as categorias de análise. Os pacientes enfocaram, prioritariamente, a qualidade dos
tratamentos realizados (74,5%) e o bom relacionamento com os acadêmicos e professores (41%). No
entanto, um percentual representativo (47%) apontou como principal queixa a demora para conseguir
ser atendido, face ao grande número de pacientes em
lista de espera.
Tendo por base as análises dos depoimentos dos usuários
das clínicas do curso de Odontologia da UNIVALI, afirmase que a grande maioria dos pacientes, de um modo geral,
está satisfeita com o atendimento recebido. (Apoio: Programa
de Iniciação Científica Art. 170/Governo do Estado de Santa Catarina/UNIVALI.)
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18. Concepção dos acadêmicos de
Odontologia da Universidade do Vale
do Itajaí sobre saúde bucal
Bottan, E. R.*, Silveira Filho, L. A. C., Donida, R. R.,
Imianowski, S.
O
termo saúde vem sendo interpretado como uma
dimensão essencial da qualidade de nossas vidas.
Nesta perspectiva, a saúde passa a ser um estado que
indivíduos e coletividade buscam alcançar, manter ou
recuperar. Para o alcance da qualidade de vida, uma
série de determinantes está envolvida: habitação e
saneamento, adequado padrão de alimentação e de
nutrição, ambiente físico limpo, apoio social, estilos
de vida, oportunidades de educação, cuidados de saúde, etc. Consolidar e expandir este abrangente entendimento do conceito de saúde é, portanto, fundamental. Neste processo, evidencia-se a importante
contribuição dos profissionais da saúde e dos formadores destes profissionais. O cirurgião-dentista, como
um dos integrantes da equipe de saúde, deve estar
preparado para atuar na promoção da saúde de seus
pacientes e na população na qual está inserido. O
objetivo desta pesquisa foi analisar as percepções dos
acadêmicos do curso de odontologia da UNIVALI relacionadas à saúde bucal. Como instrumento de
pesquisa foi solicitado aos acadêmicos do 1º ao 9º período que respondessem à pergunta: “Qual seu entendimento sobre saúde bucal?”. Foram selecionados
aleatoriamente dez acadêmicos de cada período. Para
análise, as respostas foram agrupadas em períodos
iniciais (1º ao 3º), períodos intermediários (4º ao 6º)
e períodos finais (7º ao 9º). A partir da leitura do
material coletado, foram identificadas categorias de
análise. Para cada categoria foi calculada a freqüência
relativa. Posteriormente, estas categorias foram classificadas a partir dos conceitos de prevenção e promoção propostos por Buss (2003). Os resultados evidenciam que, nos períodos iniciais, os acadêmicos
conceituaram saúde bucal evocando noções de promoção e de prevenção de forma equilibrada. Nos períodos intermediários existe uma prevalência (68%)
da visão preventivista/tratamento da patologia e nos
períodos finais a visão de promoção prevalece (77%).
De modo geral, os acadêmicos do curso de odontologia da UNIVALI percebem saúde bucal destacando os
pressupostos da abordagem de promoção (53%).
Conclui-se que a filosofia norteadora do curso, que privilegia
o desempenho profissional sob o paradigma de promoção de
saúde, tem sido veiculada ao longo da formação dos acadêmicos.
19. Ensino de especialização.
Adequações à legislação e aos projetos
das IES
Perri de Carvalho, A. C.
A
fundamentação e sistematização da implantação
da pós-graduação stricto sensu em nosso país e a
definição de lato sensu como “cursos destinados ao
treinamento nas partes de que se compõe um ramo
profissional ou científico” ou “o domínio científico e
técnico de uma certa e limitada área do saber ou da
profissão, para formar o profissional especializado”,
emanam do parecer de Newton Sucupira (977/65)
do Conselho Federal de Educação. O ensino de especialização em Odontologia teve desenvolvimento amplo, sem adotar regulamentações de Órgãos Educacionais, e com expansão fora do âmbito das
universidades. No contexto das várias profissões, este
cenário e a pulverização de especialidades é específico
da Odontologia. Os cursos de especialização e os certificados expedidos são regidos pela legislação da educação superior e pelos Órgãos Educacionais. Fatos
novos emergiram com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (Lei nº 9.394, de
20/02/1996), da legislação sobre organização e avaliação do ensino superior (Decreto nº 3.860, de
09/07/2001; Lei nº 10.861, de 14/04/2004) e das regulamentações sobre credenciamento de oferta, funcionamento, cadastro, valor atribuído à certificação
de cursos lato sensu (Parecer CNE/CES 908/1998; Resolução CNE/MEC nº 1/2001; Parecer CNE/CES
0281/2002; Portaria MEC nº 1.180/2004; Portaria
MEC nº 4361/2004). O ensino de especialização prepara profissionais para o mercado de trabalho e também oferece recursos humanos para o ensino. A ABENO define como objetivos destes cursos “aprofundar
o conhecimento e habilidades técnicas e científicas,
visando à formação de recursos humanos no campo
específico de sua atuação nas diversas subáreas da
Odontologia, buscando uma transdisciplinaridade”.
Torna-se importante a vinculação deste nível de ensino com o projeto pedagógico da IES e com as “Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Odontologia” (Parecer CNE/CES nº 1300/01,
de 06/11/2001, D.O.U. de 04/03/02). A questão “Em
um curriculum integrado como contornar a problemática do professor especialista?” foi debatida nos Grupos de Discussão da 39ª Reunião da ABENO (2004),
sinalizando para cuidados e preparativos para o andamento do projeto do curso. Deve-se estabelecer relação entre os níveis de ensino de graduação, especiali-
Revista da ABENO • 5(2):155-207
167
Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005
zação, mestrado e doutorado. Entre os estudos
cabíveis, são pertinentes os referentes à introdução de
conteúdos mais significativos de bioética, metodologias da pesquisa e do ensino e para a elaboração da
monografia. Além da revisão da proposta dos cursos
de especialização, em atendimento à legislação sobre
avaliação do ensino, deverão ser alterados os critérios
para avaliação dos mesmos. A ABENO protocolou no
MEC uma proposta de “Instrumento de Verificação
de Cursos de Especialização”.
Os novos tempos educacionais pós-LDB induzem à necessidade urgente de discussões e reflexões no âmbito acadêmico
sobre o ensino de especialização.
20. A Universidade como espaço
favorável à reestruturação do ensino
da Saúde Coletiva em Odontologia
Gonçalves, E. M. G.*, Bender, C. F. R.,
Marques, B. B.
O
ensino da Odontologia, tanto nas técnicas pedagógicas quanto nos conceitos de saúde mantidos
como hegemônicos, deixa sem resposta muitas questões referentes à melhoria da saúde bucal da sociedade. A Promoção de Saúde, ao se apresentar como um
campo novo de compreensão e ação, por seu conceito ampliado sobre saúde e sua relação com a qualidade de vida, vem propor à universidade o rompimento
com a abordagem ‘tradicional’ da educação em saúde.
A abordagem tradicional acredita existir, “no relacionamento com a população, um saber científico supostamente neutro, fundamentado numa racionalidade
técnica, que pretende enfrentar a condição de exclusão gerada pela pobreza com orientações, questionamentos e intervenções até autoritárias”. Na busca de
princípios como acolhimento, vínculo, integralidade,
a Saúde Coletiva em Odontologia, na Universidade
de Santa Cruz do Sul (UNISC), inicia sua atividade
com os alunos no terceiro semestre e propõe como
prática pedagógica a educação transversalizando a
saúde, isto é, uma “prática pedagógica que agencia
desejos, convida à escuta produtiva, chama à reflexão
e propõe a criação… a criação de novas possibilidades,
de invenção de si e do mundo, instigando/provocando agenciamentos de cognição e reinvenção de territórios de significação da vida”. Os conteúdos disciplinares são desenvolvidos em atividades intra e
extra-muros possibilitando ao acadêmico o conhecimento sobre os agravos mais freqüentes da boca, apontados pela OMS (1954) como os maiores problemas
de saúde bucal: cárie dentária, doença periodontal,
168
má-oclusão, fissuras labiopalatais, câncer de boca, fluorose, traumatismo dentário e ainda uso e necessidade de prótese, assim como as tecnologias preventivas
para os mesmos. Ao longo do processo educativo, o
aluno é estimulado a formular valores, conceitos, análise crítica e síntese, de modo que, por meio de noções
básicas de planejamento, o ato pedagógico referente
aos conhecimentos é sistematizado e passa a buscar
uma interação com espaços e grupos sociais, tanto em
nível interpessoal como em ambiental. “Os estudantes, em geral, estão envolvidos na prática educacional
que responde à urgência da vida cotidiana, constituída de problemas práticos a serem resolvidos com o
máximo de eficácia imediata e que não permite o luxo
das grandes explicações teóricas e sociológicas. Há
que se questionar quando essas categorias – desenvolvidas a partir do senso prático – estão sendo utilizadas
no distanciamento permitido pela sala de aula com a
sociedade”.
Com este trabalho, a intenção é, apontar a possibilidade de
uma construção conceitual mais ampla e portanto rompedora do senso prático, favorável à prática integral da odontologia, por meio de um referencial teórico/pedagógico que
permita uma reestruturação do ensino da odontologia.
21. Estágio de docência: a visão
do mestrando
Silva, C. M.*, Batista, L. V., Reibnitz Júnior, C.,
Locks, A.
O
Curso de Graduação em Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) possibilita aos seus acadêmicos a vivência da realidade de
saúde bucal da população, através do estágio extramuros. Esses acadêmicos estruturam na disciplina de estágio supervisionado 1 (oitava fase) um projeto de
promoção da saúde e aplicam o mesmo na nona fase
(estágio supervisionado II) em instituições conveniadas como creches, escolas estaduais, posto de saúde e
outras de caráter beneficente. O Programa de Pósgraduação em Odontologia, área de concentração em
Odontologia em Saúde Coletiva, utilizou as disciplinas
de Estágio Supervisionado para a realização do estágio
de docência de seus mestrandos, iniciando-se no segundo semestre de 2004 e com término previsto para
6 de julho de 2005). Durante o transcorrer do estágio
de docência, cada um dos mestrandos ficou responsável por ministrar aulas teóricas, elaborar e corrigir
questões de provas escritas e de orientar uma das equipes de acadêmicos para a elaboração de seu projeto
de estágio. Todo este trabalho foi supervisionado por
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um dos professores efetivos das respectivas disciplinas.
As aulas teóricas abordaram conteúdos de epidemiologia, planejamento em saúde, educação em saúde,
promoção de saúde e estratégia de saúde da família.
De acordo com as discussões mantidas pelo grupo de
mestrandos, o estágio de docência tem proporcionado uma experiência ímpar, pois: na fase das aulas teóricas e da elaboração dos projetos de estágio, exigiu
o planejamento de aulas, domínio da informática para
pesquisa em fontes de dados, relacionamento pessoal
e comunicação tanto com professores como com acadêmicos e demais colegas; na fase de aplicação do
programa de saúde bucal além da importância do
programa para a população beneficiada, o estágio
possibilita aos acadêmicos analisar criticamente os
determinantes do processo saúde-doença, uma vez
que se vêem envolvidos na realidade de saúde bucal
da população.
O momento do exercício da prática contribui aos mestrandos
o seu amadurecimento na relação professor-aluno, respeito
ao conhecimento, responsabilidades e participação de cada
um, e na reflexão crítica sobre o papel da ação docente no
ensino da Odontologia.
22. CAPADF - UFSC: Vivência e
aprendizado com a fissura labiopalatal
Silva, C. M.*, Carcereri, D. L., Locks, A.
O
Centro de Atendimento a Pacientes com Deformidades Faciais (CAPADF) é um projeto de extensão do Departamento de Estomatologia do Centro
de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC). O projeto foi criado em
13 de agosto de 1996 pela Disciplina de Ortodontia,
envolvendo professores de outras disciplinas do curso
de graduação em Odontologia da UFSC. Em julho de
1998 foram agregados ao CAPADF os serviços de
odontopediatria, psicologia e fonoaudiologia. Aproximadamente 200 pacientes com fissura labiopalatal,
na faixa etária de zero a dezessete anos, incluindo
alguns adultos, oriundos de todo o estado de Santa
Catarina são atendidos neste centro. O estágio no CAPADF caracteriza-se pela promoção da saúde do indivíduo. O atendimento odontológico é prestado por
estagiários do último semestre do curso de graduação
em Odontologia, sendo auxiliados por estagiários de
fases iniciais do curso. Com a participação neste estágio, o aluno de graduação tem a possibilidade de conviver com pacientes com fissura labiopalatal, aprendendo as particularidades da malformação, que
variam da alimentação cariogênica na primeira infân-
cia às características bucais inerentes da mesma, que
contribuem para um maior comprometimento da
condição bucal destes pacientes. A prática clínica semanal é composta de atividades educativas e preventivas oferecidas aos pacientes e seus responsáveis, bem
como a realização de procedimentos reabilitadores.
O estagiário possui também a possibilidade de acompanhar o paciente por todo o semestre, realizando
procedimentos de controle através do monitoramento da saúde bucal do paciente. A participação no estágio é complementada com ciclos de palestras realizados semestralmente, contando com a participação
de profissionais de diversas áreas envolvidas no processo de reabilitação do paciente com fissura, proporcionando ao acadêmico de Odontologia o contato
multidisciplinar.
Após a realização do estágio no CAPADF - UFSC, o acadêmico participante apresenta condições de em sua carreira
prestar atendimento a pacientes com fissura labiopalatal,
malformação comum que acarreta ao seu portador uma série
de comprometimentos funcionais e estéticos, e extremamente
dependente dos profissionais da área odontológica.
23. Entre a linha de cuidado e a
superespecialização: a incompatibilidade
histórica entre a visão mercadológica e a
atenção à saúde do trabalhador
Lamas, A. E.*, Calvo, M. C. M.
P
or meio das Resoluções nº 22/2001 e nº 25/2002
o Conselho Federal de Odontologia reconhece
e regulamenta uma nova especialidade: a Odontologia do Trabalho. O quadro epidemiológico dos trabalhadores brasileiros, a forte relação entre trabalho e
adoecimento e a história de “desassistência” à saúde
bucal do trabalhador no Brasil fez com que a criação
desta nova área de atuação se justificasse e que fosse
celebrada por profissionais e entidades de classe da
odontologia. Objetivou-se verificar a percepção dos
profissionais de odontologia sobre a especialidade
Odontologia do Trabalho e discutir o caráter privatista reproduzido no interior desta nova especialidade.
Foi feita revisão de literatura dos termos atenção
odontológica ao trabalhador, odontologia do trabalho e programas de atenção à saúde bucal do trabalhador. O atendimento ao trabalhador é objeto das
atividades do odontólogo da rede privada e da rede
pública de saúde em todos os níveis de complexidade,
ainda assim, verifica-se uma distância entre a prática
diária destes profissionais e a necessidade de cuidado
às especificidades deste grupo. É marcante a percep-
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ção de que existe a necessidade de intervir pontualmente sobre o corpo do trabalhador de modo a manter sua produtividade; a suposição de que uma maior
intervenção, centrada no procedimento e na medicalização, aliados à maior especialização do profissional
de saúde, significará melhores condições de saúde de
determinado grupo populacional e, finalmente, a certeza de que a regulamentação em torno da especialidade significa basicamente uma ampliação do mercado de trabalho para a odontologia, independente da
reflexão sobre os objetivos e forma de organização
necessária a uma nova prática.
Intervenções passivas em relação à organização do processo
de trabalho e alheias ao questionamento sobre a forma de
inserção dos indivíduos no processo produtivo impedem uma
abordagem interdisciplinar e intersetorial, desconsiderando
a própria participação dos trabalhadores enquanto agentes
políticos na discussão das ações dos serviços de saúde. Os
achados desta pesquisa sugerem que esta nova especialidade
possa ser insuficiente para suplantar concepções não tão
inovadoras no que tange à atenção à população trabalhadora. Indicando, assim, a possibilidade de reprodução de
velhas práticas, mesmo em uma especialidade recentemente
reconhecida e em um campo de atuação tão importante.
24. Desafios da prática docente na
construção de um novo modelo de
atenção em saúde do trabalhador
Lamas, A. E.*, Calvo, M. C. M.
A
companhamos atualmente, além da influência
de modelos ultrapassados de atenção à saúde, os
efeitos de um processo de globalização que cria novos
valores na relação entre capital/trabalho e na forma
de prestação dos serviços de saúde. O limite dos discursos utilitaristas é evidenciado na precarização dos
contratos de trabalho, desemprego e falta de programas organizados para atenção à Saúde do Trabalhador. Assim, são necessárias reflexões que contextualizem as tentativas de produção de saúde e a formação
de recursos humanos na área da odontologia frente
aos desafios que se impõem neste campo de investigação e prática. Objetivou-se realizar um resgate da formação do campo da Saúde do Trabalhador (ST) e
analisar a inserção da saúde bucal na atenção a ST.
Foi feita revisão de literatura dos termos saúde bucal
coletiva, manifestações orais de doenças ocupacionais
e atenção a ST na Biblioteca Central da UFSC, no
banco da CAPES, na BVS e no sítio do SCIELO. Os
anos 70 e 80 evidenciaram a contradição entre trabalho e saúde em uma sociedade onde a organização do
170
trabalho estava voltada a assegurar o nível de produtividade, neste equilíbrio de forças a sociedade exprimia as normas legislativas, a organização dos serviços
e a formação dos recursos humanos. Na saúde bucal,
além das neoplasias, estudos citam a correlação da
ocupação com uma maior prevalência da doença periodontal, cárie, erosão dental, hipersensibilidade,
hábitos deletérios e dificuldade no acesso aos serviços
pelos trabalhadores. Apesar da evidente relação entre
o processo de trabalho e o processo saúde-doença,
permanece a incógnita sobre o estabelecimento de
condutas adequadas pelos profissionais e serviços na
compreensão e reversão do quadro epidemiológico.
A confluência dos conceitos de ST e Saúde Bucal Coletiva surge nas Diretrizes para Atenção à Saúde Bucal
no âmbito do SUS, onde o Ministério da Saúde (2004)
propõe uma reorganização da atenção em saúde bucal
em todos os níveis de atenção, tendo o conceito de
“linhas de cuidado” como eixo de reorientação do
modelo. Entre estas linhas está a atenção aos adultos;
em especial aos trabalhadores.
A discussão do modelo assistencial e o diagnóstico adequado
dos problemas com ampla participação estão entre as tecnologias que devem ser incorporadas às práticas do odontólogo
na atenção à saúde do trabalhador. O embate no campo
político e do saber definirá as práticas futuras, e a resposta
dada a estes desafios irá definir pela continuidade da crescente produção de procedimentos ou pela condução à tão
almejada produção social de saúde.
25. A Pesquisa e o Currículo de
Graduação em Odontologia
Maltagliati, L. Á.*, Goldenberg, P.
O
presente estudo tem como objetivo dimensionar
perspectivas e desafios relativos à implementação
da pesquisa como princípio norteador da organização
do currículo de Odontologia, tendo em vista as Diretrizes Curriculares. O estudo se circunscreveu a três
universidades paulistas, uma do setor público e duas
do setor privado. O levantamento envolveu a análise
de documentos e entrevistas que fundamentaram a
reconstrução histórica das instituições no tocante ao
desenvolvimento curricular e implementação da pesquisa; à caracterização do currículo odontológico e sua
relação com o desenvolvimento da pesquisa; e, à detecção de perspectivas e desafios frente às alterações curriculares. Tanto a universidade pública, com pesquisa
institucional desde sua fundação, como as privadas, de
histórias mais recentes de pesquisa institucional, adotam o currículo tradicional com movimentos pontuais
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de adesão às novas proposições. Observa-se a preocupação com o desenvolvimento da pesquisa no curso de
graduação, permanecendo a dicotomização entre ensino e pesquisa, professor e pesquisador.
Apesar dos avanços no sentido da adequação às diretrizes
curriculares, não se alcança a configuração de um currículo
sintonizado com a pesquisa.
esde a Conferência Nacional de Saúde Bucal,
destaca-se a preocupação relativa à formação de
recursos humanos em Odontologia. A integração serviço-ensino-pesquisa é antiga reivindicação de docentes, técnicos e gestores em saúde. Entende-se que essa
integração refletirá numa formação de profissionais
comprometidos com a transformação da realidade de
saúde do país. Em razão disso, o objetivo foi avaliar
como a universidade se relaciona com a sociedade, e
se o Sistema Único de Saúde é uma alternativa de
prática pedagógica. A contraposição de conceitos relacionados à formação acadêmica e ao mundo do trabalho possibilitou perceber quais são os espaços de
ensino-aprendizagem e se há impacto na formação de
profissionais e na implementação do SUS. Os conceitos contrapostos foram: 1) relacionado à vivência extracurricular norteada pelo paradigma da integralidade da atenção e na vinculação entre educação,
trabalho e práticas sociais; 2) relacionado a experiências extracurriculares, vivenciadas no cotidiano da
FOUSP, norteadas pelo paradigma técnico-assistencialista, biologicista e procedimento-centrada.
A análise do estudo mostrou que a aproximação com SUS
possibilita ao indivíduo em formação capacidade para desenvolver um pensamento crítico e compromissado com a
transformação da realidade de saúde do país, além de favorecer a ampliação da responsabilidade público-social da
universidade.
numa prática docente de ensino tradicional, que concebe o estudante como um receptor de conteúdos
preestabelecidos, o que dificulta o raciocínio críticocriativo. Com o objetivo de formar profissionais capacitados para enfrentar as diversas realidades de saúde
e especificamente de saúde bucal da população, a partir do ano de 2003 o Curso de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina, através da disciplina de Estágio Supervisionado em parceria com a
Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis formalizou o estágio dos acadêmicos sob a ótica do Programa de Saúde da Família em uma Unidade de Saúde, com carga semanal de 12 horas durante 4 meses,
suficiente para proporcionar para cada estagiário, experiências em ações desenvolvidas tanto na Unidade
Local de Saúde Saco Grande II, através da participação
em reuniões conjuntas com os profissionais e estagiários da mesma, visitas domiciliares à comunidade,
participação nos grupos de puericultura, grupos de
manutenção da saúde bucal e atendimento clínico,
como com escolares na escola da área de abrangência.
Trata-se de um espaço pedagógico, com potencial
para vivenciar a realidade de saúde da população, permitindo uma reflexão crítica sobre os determinantes
do processo saúde-doença, favorecendo o desenvolver
da graduação, revendo o papel da universidade e sua
relação com os serviços de saúde e a sociedade, além
de possibilitar a formação de um profissional apto
para compreender a realidade e nela atuar de forma
resolutiva.
Assim a estratégia educacional de formação em serviço torna
a experiência do estágio supervisionado uma ação integradora somada a uma ação social, orientada de forma multidisciplinar, seguindo os princípios do PSF com ênfase especial à comunidade, interferindo de forma positiva no
estabelecimento de um perfil profissional voltado para a promoção de saúde. Desta forma a graduação deixa de ser apenas o espaço da transmissão e da aquisição de informações
para transformar-se no lócus de construção e produção do
conhecimento, em que o aluno atue como sujeito da aprendizagem.
27. Estágio Supervisionado sob a ótica
do Programa de Saúde da Família:
Integração entre Universidade e
Comunidade
Batista, L. R. V.*, Batista, A. M. R., Moreira, E. A. M.,
Reibnitz-Júnior, C.
28. A Inserção da Nutrição no Ensino da
Odontologia: Enfoque Interdisciplinar
e Multiprofissional no Mestrado em
Odontologia em Saúde Coletiva, UFSC
Batista, L. R. V.*, Moreira, E. A. M., Rossi, A.,
Silva, C. M.
O
O
26. SUS: uma alternativa de rede de
prática pedagógica
Maltagliati, L. Á.*, Barros, R. S., Araújo, M. E.,
Crivello-Junior, O.
D
processo educativo desenvolvido em diversas
universidades brasileiras tem-se caracterizado
s desafios e perspectivas para a odontologia estão
inseridos em sua inovação, procurando acompa-
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171
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nhar as rápidas transformações que estão ocorrendo
em todos os setores. Esta inovação advém inicialmente da quebra de paradigmas, para assim podermos
buscar o preparo e os conhecimentos necessários.
Com o objetivo de capacitar profissionais para enfrentar as diversas realidades da docência, o Programa de
Pós-Graduação em Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina, através do Mestrado de Saúde
Coletiva em parceria com o Departamento de Nutrição, formalizou no ano de 2002 a disciplina de Fundamentos Nutricionais em Odontologia e a participação de profissionais da nutrição no quadro de
docentes do programa. O objetivo foi inserir os conceitos nutricionais como instrumento de atualização
sobre os assuntos relevantes à nova formação exigida,
envolvendo a odontologia e a nutrição em pesquisas,
interpretando tendências globais em saúde humana
nos aspectos sociais, demográficos e epidemiológicos,
relacionando estas tendências com a condição bucal
e o estado nutricional; instituir uma inquietação construtiva e criativa, que aliada às ferramentas adequadas,
fornecerá a matéria-prima para uma nova geração de
profissionais qualificados para desempenharem, em
nível de excelência, atividades de pesquisa e docência,
bem como para exercerem liderança em serviços de
saúde.
Assim o desenho de uma perspectiva equilibrada só será
possível através da integração entre as disciplinas, onde a
pós-graduação stricto sensu ganha especial destaque na implementação da ligação entre grandes ramos do saber.
29. PROVÃO versus ENADE: o retrocesso
revisitado
Noro, L. R. A.
A
avaliação deve ser um instrumento utilizado para
aperfeiçoamento do processo ensino-aprendizagem devendo ser encarada como atividade-meio ao
permitir que o aluno aprenda de forma efetiva, com
a participação fundamental do professor enquanto
facilitador do ensino. Outra contribuição nessa área
é relativa aos processos desenvolvidos pelos seres humanos no dia-a-dia, como a formação superior. Os
mais recentes sistemas de avaliação do ensino superior
brasileiro têm-se concentrado nos resultados do PROVÃO e, mais atualmente, no ENADE para classificarem a excelência no ensino superior. Na essência, os
dois são simples instrumentos de verificação de aprendizagem de alunos, ou seja, encerram-se no momento
em que o objeto (prova) possui determinada configuração (conceito). Ambos são instrumentos estáticos,
172
não sendo coerentes com uma proposta de avaliação
processual visto que pouco contribuem para mudanças significativas na construção dos projetos pedagógicos dos cursos. Este trabalho partiu dos conceitos
obtidos pelos cursos no ENADE para compará-los com
os resultados do último PROVÃO. Assim como o anterior, o ENADE não apresenta qualquer tipo de contribuição objetiva visando melhoria da avaliação, uma
vez que é impossível definir a partir de questões objetivas o real conhecimento de determinado grupo de
alunos sobre um determinado assunto e, por conta
disto, rever todo um sistema de ensino. Os conceitos
do ENADE para os cursos de Odontologia são altamente satisfatórios pois dos 128 cursos analisados, 31
(24,2%) obtiveram o conceito “5”, 84 (65,6%) o conceito “4”, 12 (9,4%) o conceito “3” e apenas 1 (0,8%)
conceito “1”. Tal desempenho seria impossível no
PROVÃO tendo em vista a forma como era feita a
distribuição das notas. Outro aspecto importante é
que o grande diferencial do ENADE seria a inclusão
dos ingressantes para se comparar o desempenho destes com os concluintes em relação aos conhecimentos
gerais. Isto, entretanto, não aparece nos relatórios
disponibilizados pelo MEC.
Há necessidade de uma urgente adequação do sistema de
avaliação do ensino superior que realmente considere aspectos relevantes no cotidiano dos cursos como desempenho docente, estrutura física das instalações, vínculo social do
curso com a comunidade, ensino integrado, interdisciplinar
e multiprofissional, projeto pedagógico baseado em novas
metodologias de ensino, com enfoque centralizado no Sistema
Único de Saúde, enfim, algo que possa efetivamente estar
coerente com as Diretrizes Curriculares Nacionais para os
cursos da área da saúde. O conjunto destes itens, quando
realizados, absolutamente são levados ao conhecimento público com o mesmo destaque dado aos conceitos dos “exames”.
É necessária a construção de um sistema de avaliação que
possa contribuir com a melhoria do ensino, que se manifeste
como um ato dinâmico que qualifica e subsidia o reencaminhamento da ação, possibilitando conseqüências no sentido
da construção dos resultados que se deseja.
30. Promoção à saúde bucal e o papel
da Universidade
Vizzotto, D.*, Paiano, H. M. A., Salles, D. F.,
Ramin, E.
N
a era da globalização, a palavra de ordem é estar
atualizado. Assim, a necessidade de novos conhecimentos e experiências pressupõe um novo caminho
para a Academia. Adequar-se a essa realidade significa
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resgatar o papel fundamental, que é o da construção
do conhecimento, além do compromisso social com
a comunidade, despertando o aluno para uma visão
holística do indivíduo e do contexto em que está inserido. Torna-se necessário “aprender a apreender” e
resgatar o papel de entidade educadora, formadora e
comprometida socialmente, viabilizando a formação
de profissionais capacitados a desenvolver práticas
saudáveis de promoção de saúde bucal. O objetivo é
proporcionar ao aluno do Curso de Odontologia embasamento teórico-prático, para realizar diagnóstico,
planejar e desenvolver atividades em nível crescente
de complexidade. O aprendizado associado à prática
in loco é parte integrante da construção do conhecimento, fundamental para despertar no aluno o senso
crítico, o compromisso social para a vigilância em saúde, fortalecendo o trabalho em equipe e a co-responsabilidade com a comunidade em que atua. Os critérios utilizados para a seleção dos locais de estágio são:
índice CPO-D alto nas faixas etárias de 5 a 6 e 12 anos
de idade (levantamento epidemiológico da Secretaria
Municipal de Saúde de Joinville), condições socioeconômicas e dificuldade de acesso aos serviços de saúde bucal. Os alunos do 3º e 4º ano da disciplina de
Odontologia Coletiva realizam estágios em Escolas
públicas, conforme Convênio firmado entre Universidade e Secretaria Municipal de Saúde, desde 2000.
Cada equipe é composta de 6 a 7 acadêmicos do terceiro e quarto ano de Odontologia que atuam juntos
desenvolvendo atividades como: conhecer o público
alvo; realizar o levantamento epidemiológico dos índices: DAÍ (índice de maloclusão), CPO-D (índice de
dentes cariados, perdidos e obturados), dados sobre
escovação, índice de placa bacteriana visível, índice
de sangramento gengival, risco de doença cárie; elaborar o planejamento estratégico loco-situacional;
atividades de promoção à saúde bucal, realizar coletas
de água para verificar o teor de flúor; vedar cavidades
cariosas com ionômero de vidro; encaminhamento
referenciado para as Clínicas de atendimento da UNIVILLE. Os resultados são positivos, pois os alunos de
odontologia do 3º e 4º ano aprendem a realizar o
diagnóstico, planejamento estratégico loco-situacional. Alunos do 4º ano atuam como monitores para os
alunos do 3º ano, na continuidade dos trabalhos de
promoção à saúde bucal, pois complementam-se ano
a ano.
A prática e os resultados alcançados demonstram que este é
um caminho viável para formar profissionais comprometidos
em transformar a realidade. Ao atuar como multiplicadores
na execução de práticas voltadas para a promoção da saúde
bucal e geral, os alunos cumprem o papel sócio-humanitário
ao resgatar a condição primordial de dignidade e cidadania.
31. Vivência no SUS: a participação da
Universidade na reformulação de uma
Unidade Básica de Saúde da Família
Rendeiro, M. M. P.*, Bastos, L. F., Souza, R. A.,
Vieira, C.
O
processo de formação de profissionais de saúde
tem sido alvo de reflexões e transformações a
partir da constatação de que este continuava preparando profissionais para uma prática centrada no modelo médico assistencial privatista e distante do sistema de saúde vigente no país. O objetivo deste trabalho
foi implementar a integração Ensino-Serviço, possibilitando aprendizado e vivência em uma Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF), por meio de um
trabalho multidisciplinar, inserido nos processos de
educação profissional, aproximação da realidade e
reflexão crítica, planejamento participativo, com participação ativa de docentes e estudantes, nos cenários
de prática de ações em saúde. Para isto, foi estabelecida parceria com a Prefeitura da Cidade de Duque
de Caxias e a UNIGRANRIO, através da Disciplina
Odontologia de Promoção de Saúde, para a reorganização do processo de trabalho, com a participação
de três professoras e vinte alunos voluntários. A agenda de trabalho foi definida em conjunto pelas professoras, alunos e equipe do Programa Saúde da Família.
Os alunos participaram de todas as atividades desenvolvidas como as visitas domiciliares, identificação de
riscos e agravos à saúde, planejamento, ações coletivas
e individuais de promoção, proteção e recuperação
da saúde e acompanhamento das famílias em saúde,
tanto na UBSF quanto nos espaços sociais, integrados
com a equipe de médicos, enfermeiros, dentistas, auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de
saúde, inclusive das discussões, avaliação e replanejamento.
Os resultados têm demonstrado que esta experiência, além
de possibilitar a vivência e a experimentação dos alunos no
processo de trabalho de uma estratégia do Sistema Único de
Saúde, pode contribuir para a necessária familiaridade,
aproximação com os diversos saberes e o desenvolvimento de
competências necessárias à prática no contexto da saúde
coletiva.
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32. O graduando de Odontologia como
ator social na construção coletiva dos
espaços sociais – reflexão e ação
Rendeiro, M. M. P.*, Bastos, L. F., Souza, R. A.,
Teixeira, A. L. H.
A
formação profissional em Odontologia, articulada às necessidades sociais e capaz de produzir
recursos humanos críticos e reflexivos, capacitados
para atuar no sistema público e privado, em todos os
níveis de atenção, é uma necessidade da sociedade. O
objetivo deste trabalho é demonstrar os resultados da
articulação ensino, serviços públicos e privados e comunidade e os impactos desta parceria para a formação profissional e para a qualidade de vida dos envolvidos. Foi estabelecida parceria entre Universidade,
Escola Estadual e Empresas Privadas para o desenvolvimento de ações de promoção de saúde com os escolares e os trabalhadores das fábricas. Ao contato com
a realidade local, os alunos perceberam que era possível realizar muito mais e, por meio de articulação
com a comunidade, realizar a reforma de consultório
odontológico pertencente à Escola, que estava abandonado, ampliar as ações e a clientela, agregando as
famílias dos alunos e dos trabalhadores, tanto nas visitas domiciliares quanto para a atenção clínica individual e encaminhamento dos casos mais complexos
para a Universidade.
A construção coletiva deste espaço possibilitou a responsabilização de todos os envolvidos, maior e melhor oferta de ações
de saúde e a participação consciente e organizada dos alunos
como atores sociais de um processo de mudança.
33. Princípios de biossegurança versus
Princípios de ergonomia em clínicas de
ensino de odontologia
Resende, V. L. S.*, Echternacht, E. H. O., Resende,
M. V. S., Araújo, L. F.
A
equipe odontológica está em constante risco de
contrair doenças infectocontagiosas devido à alta
prevalência de acidentes com instrumentais perfurocortantes e à ocorrência de respingos e aerossóis durante a prática profissional. Nas clínicas de ensino,
durante o curso de odontologia, quando ocorre atendimento a pacientes, a situação é a mesma. Para minimizar esses riscos, algumas medidas devem ser tomadas, entre elas, os cuidados com a construção das
clínicas, obedecendo princípios legais que regem a
construção de ambientes de saúde, tendo em vista o
controle de infecção cruzada, princípios ergonômicos
174
e princípios estéticos. Muitas vezes esses pontos são
conflitantes, ou existe uma maior preocupação com
uns que com outros. A Faculdade de Odontologia da
UFMG possui prédio moderno, e as clínicas foram
montadas procurando atender a todos os princípios
acima mencionados. Cada clínica contém 24 equipamentos odontológicos, dispostos em 4 rosetas, cada
um com 6 equipos completos. Dentro de cada roseta
existe uma estreita bancada que é utilizada pela operadora para coletar alguns materiais que serão utilizados durante o atendimento, por todas as duplas. Uma
barreira de vidro foi colocada para proteger a operadora dos respingos oriundos do uso de aparelhos movidos por ar comprimido. Durante um semestre letivo,
alunos de engenharia de produção, orientados por
uma professora da área e outra do curso de Odontologia, observaram o trabalho das funcionárias das rosetas e dos alunos, e no final, fizeram um relatório
apontando os principais problemas e sugerindo modificações que variaram desde pequenas adaptações
até grandes modificações na edificação. Os principais
problemas apontados foram altura de bancada, a barreira de vidro entre a operadora de roseta e o aluno,
dificultando a comunicação, o que é agravado pelo
uso de máscara; o ruído existente nas clínicas em conseqüência do grande número de pontas de alta rotação, a temperatura no interior das clínicas, que necessitariam de pé direito mais alto.
Concluiu-se que mesmo em uma construção moderna, alguns
aspectos para conforto e saúde deixaram de ser observados,
o que poderia ser evitado se houvesse a participação de uma
equipe maior no planejamento das clínicas. Pode-se observar
que alguns cuidados tomados na construção, procurando-se
evitar a contaminação, foram considerados prejudiciais ao
trabalho das operadoras, como por exemplo, a barreira de
vidro, colocada para protegê-las dos respingos originados dos
seis equipos que as cercam.
34. Avaliação ergonômica das clínicas
de ensino da Faculdade de Odontologia
da UFMG
Resende, V. L. S.*, Echternacht, E. H. O.,
Silva, P. M., Alves, R. N.
N
as clínicas da Faculdade de Odontologia da UFMG
o trabalho é realizado com o sistema de seis mãos,
onde dois alunos atendem o paciente, auxiliados por
uma operadora de roseta, que atende até seis duplas
de alunos. Esse sistema foi implantado quando a nova
faculdade de Odontologia foi construída no Campus da
Pampulha e foi adotado para que os alunos discutam
o caso, minimizando o risco de erro; para evitar que o
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aluno operador toque medicamentos ou equipamentos com luva contaminada e para que ele não tenha
que sair do seu posto de trabalho para buscar material
de consumo. Nos dois últimos anos, alunos do curso
de engenharia de produção, orientados por uma professora de ergonomia e uma da faculdade de Odontologia, realizaram trabalhos na faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais. Um
desses trabalhos consistiu na observação das funcionárias de roseta, com o objetivo de avaliar se durante o
atendimento aos alunos havia alguma postura e/ou
movimento que comprometesse sua saúde, uma vez
que havia história de queixas anteriores de lombalgias,
dores nos ombros e nos joelhos. A população trabalhadora é composta exclusivamente por mulheres com
idade variando entre 24 e 40 anos, admitidas por meio
de concurso público. Após obter consentimento, uma
equipe de alunos permaneceu durante todo período
de trabalho das funcionárias, por vários dias, anotando
cada movimento feito por elas dentro das rosetas. A
seguir, as funcionárias foram entrevistadas quando puderam relatar suas queixas sobre cansaço após uma
jornada de trabalho, presença de dores articulares, dores musculares, etc. A partir dos dados levantados, foi
feito um relatório procurando-se associar as queixas às
possíveis causas, sempre relacionando com as observações feitas durante seu trabalho. Os resultados mostraram que todas as operadoras de rosetas relataram dores
na região lombar, devido à execução de movimentos
repetitivos de flexão da coluna durante o período de
trabalho. Uma lista de sugestões foi então apresentada,
mostrando que, muitas vezes com pequenas alterações
na construção das clínicas pode-se eliminar uma série
de problemas que podem trazer conseqüências maléficas.
Concluiu-se que, para construção de clínicas odontológicas,
torna-se necessário o trabalho de uma equipe multidisciplinar,
para que todos os princípios de biossegurança sejam atendidos,
mas atendendo também os princípios ergonômicos, pois a inobservância de pequenos detalhes pode ter como conseqüência
a necessidade de movimentos repetitivos durante o trabalho,
podendo levar a alterações e danos aos trabalhadores.
Nacionais para os Cursos de Graduação em Odontologia. Estas diretrizes estão norteando as transformações curriculares que vêm ocorrendo no interior dos
cursos de Odontologia no Brasil. Em parte de seu
texto constitucional a resolução CNE/CES nº 3 determina que o projeto pedagógico do curso deva ser
constituído no sentido de “... buscar a formação integral e adequada do estudante através de uma articulação entre o ensino, a pesquisa, e a extensão/assistência.” Quando se pensa na reformulação curricular
a partir do texto das novas diretrizes curriculares e do
panorama profissional da área de atuação da saúde
bucal, o núcleo de disciplinas sociais que compõe o
currículo do curso de odontologia assume um papel
importante. Os contextos de vivências e de atuação
acadêmica proporcionados por esse núcleo de disciplinas mostram-se determinantes para a construção
do futuro perfil profissional preconizado pelas diretrizes. São as disciplinas desse núcleo social que desenvolvem a inter-relação com os serviços de saúde
externos à universidade permitindo com isso ao aluno
o contato com o trabalho comunitário do município
em que a universidade se insere. Criar uma estrutura
de atuação que integre ensino, pesquisa e extensão,
dentro das evidências científicas, técnicas e pedagógicas atuais exigiu que estratégias fossem pautadas em
torno de alguns eixos prioritários de atuação apresentados a seguir: integração do núcleo de disciplinas
sociais, constituição de unidade de ensino serviço municipal, potencialização de inter-relações com núcleos
especializados, divulgação das experiências geradas
nas práticas locais de integração ensino serviço e organização do sistema de referência e contra-referência em saúde bucal da universidade integrado ao sistema único de saúde do município.
O Curso de Odontologia tem procurado promover espaços de
discussão sobre o campo da Saúde Bucal Coletiva com o
objetivo de fomentar na região, na universidade e nos serviços de saúde bucal municipais as pautas mais atuais das
políticas de saúde bucal, potencializando esse campo de atuação entendido como prioritário no processo de reformulação
curricular.
35. Integração ensino-serviço e
reformulação curricular do curso
de Odontologia da ULBRA campus
Cachoeira do Sul
Warmling, C. M.*, Bastos, F. A., Emídio, A.,
Boeckel, D.
36. É a Universidade promotora de
conhecimentos, saúde e prestadora
de serviços: A Palavra do Estudante,
do Professor, do Profissional e do
Usuário Ativo do SUS
Figueiredo, M. C.*, Bender, A. S., Feldmann, V.,
Nascimento, I. M.
A
A
Resolução CNE/CES nº 3 de 19 de fevereiro de
2002 estabeleceu novas Diretrizes Curriculares
s críticas que se fazem ao Sistema Único de Saúde - SUS, traduzidas nas infindáveis filas, no aten-
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175
Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005
dimento desumanizado, na falta de leitos, de exames,
de assistência em saúde e de medicamentos, não surgiram com o novo sistema de saúde. Todo esse conjunto é, na realidade, herança e, portanto, conseqüência natural de um modelo de atenção à saúde
centrado no assistencialismo tecnicista e curativista.
Nesse, se apresentam historicamente como nós críticos a ineficiência de gestão, deficiência de recursos
humanos, precarização das relações de trabalho, resolutividade insuficiente, bem como limitações no
acesso aos serviços. Atualmente, o Educar-SUS, como
política de saúde, apresenta-se de forma a elaborar
estratégias com a intenção de readequar o ensino na
área da saúde, para que esse passe a suprir as reais
demandas apresentadas pela sociedade em que estamos inseridos, ou seja, é a universidade promotora de
conhecimentos e saúde. Fazem parte desse contexto
a difusão da necessidade da mudança na graduação
do futuro profissional da saúde para atender ao espaço de trabalho do SUS, assim como a urgência de que
o trabalho em si seja realizado cada vez mais integrado
e transdisciplinar. Diante dessa situação, o trabalho se
propôs avaliar o que o usuário ativo na rede do SUS,
os profissionais que nela atuam, bem como, a comunidade acadêmica pensa sobre o referido sistema.
Utilizando-se de uma metodologia exploratória e descritiva, 100 questionários, contendo questões-chave
com respostas semi-abertas, serviram de base para desencadear um processo piloto avaliatório da situação
atual vivenciada pela população alvo supracitada. Os
resultados: - professores e acadêmicos: demonstram
nitidamente que há um distanciamento entre a teoria
e a prática, sendo que a formação não está preparando para o espaço de trabalho do SUS, o foco ainda
está muito centrado para o setor privado. Houve um
consenso de que somente as reformas curriculares
implementarão mudanças para melhorar a qualidade
dos profissionais formados; - profissionais do SUS: a
maioria o reconhece como um processo em construção da produção social da saúde; - usuários do SUS:
acreditam que o atendimento prestado à população
deve ser para todos, em contrapartida, reclamam que
há uma inadequação e deficiência nos serviços.
A avaliação que se fez do processo de trabalho quanto à
programação das ações e atividades individuais e coletivas
prestadas à população pelo SUS preocupa. Não há uma
integração ensino-serviço, tampouco orientação pelas necessidades da população. As universidades não estão ensinando e os alunos tampouco aprendendo.
176
37. Saúde Coletiva nas estruturas
curriculares dos cursos de Odontologia
do Brasil
Rodrigues, R. P. C. B.*, Saliba, N. A.,
Moimaz, S. A. S.
A
área da Saúde Coletiva tem papel fundamental
na formação do profissional com o perfil exigido
pelas Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de
Odontologia, implementadas em 2002. O objetivo da
pesquisa foi analisar as características das disciplinas
da área da Saúde Coletiva nos currículos dos cursos
de Odontologia do país, no que se refere à carga horária; duração em semestres; nomenclatura; formato
da disciplina; metodologia de ensino; formas de avaliação. Foram enviadas correspondências para 123
cursos que tinham formado pelo menos uma turma
até o ano de 2003, solicitando a estrutura curricular
do curso e os planos de ensino das disciplinas. Cinqüenta cursos enviaram o material, representando
40,65% do total de cursos selecionados para a presente pesquisa. A carga horária destinada à Saúde Coletiva é heterogênea, encontrando-se de 75 a 699 horas,
sendo que a maior porcentagem está na faixa de 200
a 324 horas, representando 44,18%. No que se refere
à quantidade de semestres destinada à Saúde Coletiva,
verificou-se que os cursos pesquisados destinam de 1
a 8 semestres, destacando-se a concentração em 2 e 3
semestres (20,93% cada) e em 4 semestres (27,91%),
sendo que 4,65% ministram a disciplina em 8 semestres. São várias as nomenclaturas utilizadas pelos cursos para designar a área da Saúde Coletiva, sendo que
Odontologia Social e Preventiva foi a mais citada
(30%). Verificou-se que todas as disciplinas da área
são de caráter teórico-prático e 95,35% dos cursos
mencionou, em seu plano de ensino, a existência de
atividades extramurais. As metodologias ou estratégias de ensino mais citadas pelas escolas foram aulas
expositivas (100%), seminários (71,88%), aulas práticas (59,38%). As formas de avaliação utilizadas foram
prova escrita (100%), prova prática (80%); avaliação
dos trabalhos (57,5%); avaliação dos seminários
(52,5%) e avaliação de relatórios (25%).
Conclui-se que para a maioria dos cursos a carga horária
da área é de 75 a 324 horas, ministradas de 2 a 4 semestres;
a nomenclatura mais utilizada foi Odontologia Social e
Preventiva, todas são de caráter teórico-prático; as metodologias de ensino mais citadas foram aulas expositivas e seminários; e como forma de avaliação, a prova escrita e a
prova prática foram as mais citadas nos planos de ensino.
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38. O Serviço Extramuro Odontológico na
ótica de egressos do curso de graduação
da FOA/UNESP
Zina, L. G.*, Moimaz, S. A. S., Saliba, N. A.,
Garbin, C. A. S.
A
s atividades extramuros possibilitam aos alunos
o conhecimento das dimensões estruturais dos
serviços públicos de saúde, a participação no atendimento à população, compreensão das políticas de
saúde bucal e do contexto social no qual futuramente
o acadêmico irá ingressar. O objetivo deste trabalho
foi avaliar o Serviço Extramuro Odontológico (SEMO)
e suas atividades correspondentes, sob a ótica dos
egressos do curso de graduação da FOA-UNESP. Para
tal, foi elaborado e validado um questionário enviado
por correio, para 76 ex-alunos formados em 2003. O
questionário continha 24 questões abertas e fechadas,
abordando diversos aspectos relacionados à filosofia
do serviço, ações desenvolvidas e percepção dos egressos sobre sua atuação enquanto alunos. Os resultados
obtidos foram submetidos à análise quanti-qualitativa,
sendo utilizado o método de análise de conteúdo,
preconizado por Bardin, para interpretação das questões abertas. Dos 33 questionários retornados, 93,9%
afirmaram ter desenvolvido conscientização em saúde
pública; 42,4% e 57,6% confirmaram a participação
no SEMO como plenamente satisfatória e satisfatória,
respectivamente; e 100% relataram a coerência da
orientação dada pelos professores com a realidade da
população assistida. De acordo com o grau de importância no atendimento, foram realçadas atividades
como palestras e ações de educação em saúde. Dentre
algumas dificuldades encontradas no serviço, foram
listadas deficiências na infra-estrutura (63,6%) e no
transporte dos alunos (15,2%). Vários fatores foram
relacionados à contribuição do SEMO na formação
profissional, destacando-se a capacidade de adaptação
de recursos disponíveis (18,2%), a assistência à saúde
(15,2%) e contato com a realidade (15,2%). Através
da técnica de associação de palavras, foram classificadas unidades de significação e identificadas categorias
como “aspectos positivos do SEMO” (100%), “realidade social” (53,1%), e “ensino” (40,6%). Os objetivos
propostos pelo SEMO foram plena e razoavelmente
alcançados, respectivamente, para 36,4% e 63,6% dos
ex-alunos.
O SEMO, segundo os egressos de odontologia da FOAUNESP, foi avaliado como uma experiência válida, sendo
ressaltada a eficácia das ações realizadas e a organização
do serviço. Assim, foi possível observar a contribuição do
SEMO para a formação profissional dos egressos, estimulando o compromisso com a saúde bucal coletiva e capacitando-os no atendimento às necessidades da população.
39. Análise da adaptação marginal
de cilindros calcináveis e pré-usinados
sobre intermediários de titânio em
implantes unidos por barra
Cardoso, J.*, Frasca, L. A. F., Coradini, S.,
Lopes, L. A. Z.
A
confecção das estruturas metálicas na prótese
dentária ainda passa pelo processo de enceramento, inclusão, eliminação da cera e fundição. Nos
componentes utilizados sobre os implantes osseointegrados, essa premissa se confirma, tornando a margem
predeterminada de estruturas pré-fabricadas uma alternativa para o controle da adaptação marginal dos
componentes com os cilindros protéticos. Esse estudo
procurou medir e comparar, in vitro, a adaptação da
interface intermediário-cilindro pré-fabricado, calcinável e metálico (níquel-cromo-titânio), correspondendo a sobredentadura implanto-suportada retida
por sistema tipo barra. Foram avaliados quarenta cilindros, subdivididos e randomizados em quatro grupos de dez, verificando a desadaptação vertical e horizontal entre eles e os intermediários. Os dados foram
obtidos a partir da análise no microscópio eletrônico
de varredura, por um profissional treinado, através de
um artefato para suportar as amostras elaborado especialmente para esse estudo. Para a avaliação estatística foram utilizados os testes de Wilcoxon e MannWhitney. Após a fundição, a desadaptação no sentido
horizontal resultou em p = 0,15 e, no vertical, p < 0,01,
distorcendo no sentido vertical, mas não no horizontal. Após a fundição, a distorção encontrada entre os
materiais, no sentido vertical, foi de p = 0,07 e, no
horizontal, de p < 0,01. Entretanto, após a solda, a
distorção entre os materiais foi, no sentido vertical,
de p < 0,01 e, no horizontal, de p = 0,39.
Com isso, conclui-se que se os cilindros pré-fabricados estiverem com adaptações adequadas de fábrica, não interferem
significativamente no resultado das fundições quando são
parafusados ambos os cilindros constituintes de uma barra
sobre dois implantes.
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40. Transferência do arco facial para
o articulador utilizando a técnica
tradicional e a de Zanetti, com e sem
o suporte de Ribas
Cardoso, J.*, Bessel, L. F., Lopes, L. A. Z.,
Coradini, S.
A
correta transferência da posição do maxilar do
paciente para o articulador semi-ajustável, com
auxílio do seu arco facial, é fundamental por transferir sua relação maxilomandibular para esse aparelho.
O presente estudo avaliou, em dezoito pacientes, a
fidelidade de transferência do arco facial e posterior
montagem no articulador, na Técnica Tradicional e
na de Zanetti. Além disso, analisou, na técnica de Zanetti, a montagem do modelo com e sem o suporte
de Ribas, artefato que supostamente serviria para evitar a movimentação do garfo do arco facial durante o
procedimento de fixação do modelo superior no
ramo superior do articulador semi-ajustável. Durante
o período experimental, dos dezoito pacientes, em
quatro não foi possível realizar a transferência pela
técnica Zanetti, então somente sete foram realizados
com suporte de Ribas e sete sem. Durante o período
em que o arco facial esteve posicionado no paciente,
foi realizada fotografia digital padronizada, sempre
pelo mesmo operador, que foi repetida após a montagem, no ramo superior do articulador, tanto com
uma técnica quanto com a outra. O objetivo dessas
fotos foi medir o ângulo formado entre o ramo superior do arco facial e o garfo metálico. Os resultados
foram submetidos ao teste não paramétrico de Wilcoxon e Mann-Whitney mostrando diferença estatisticamente significante na técnica Tradicional. Com a
técnica de Zanetti, não houve diferença estatisticamente significante, independente da utilização do
suporte de Ribas.
Portanto, nessa pesquisa a transferência, com o arco facial,
utilizando a técnica de Zanetti se mostrou mais precisa que
a Tradicional.
41. Programa de Pós-Graduação em
Odontologia Preventiva e Social da FOAUNESP: uma experiência de 10 anos
Pagliari, A. V.*, Saliba, N. A., Moimaz, S. A. S.,
Garbin, C. A. S.
N
o processo de formação e qualificação profissional na área da Saúde Coletiva, tão importante
devido à escassez de recursos humanos, o Programa
de Pós-Graduação em Odontologia Preventiva e Social
178
da FOA-UNESP completa 10 anos de implantação e
apresenta sua evolução. Primeiro da área no estado
de São Paulo, obteve sua aprovação em junho de 1993,
após muito esforço, tendo seu planejamento iniciado
em 1988. A primeira turma do curso de Mestrado ingressou em 1994, e em 1995, iniciava a primeira turma
do curso de Doutorado. Nestes 10 anos, uma evolução
significativa pode ser verificada pela demanda de candidatos aos cursos de Mestrado e Doutorado, oriundos
de várias regiões do país, e também pela produção
intelectual de seus docentes e discentes, com 30 Dissertações e 20 Teses defendidas. Os egressos estão
vinculados a instituições de ensino públicas e privadas
por todo país. Reconhecido e recomendado pela CAPES com conceito 4, o Programa foi estruturado para
formar um profissional de saúde com perfil generalista, apto a desempenhar funções de ensino, pesquisa,
extensão e administração, com prática de atuação comunitária, capacitado para analisar, planejar, executar e avaliar, em nível administrativo e operacional,
projetos de Odontologia em Saúde Coletiva. As linhas
de pesquisa compreendem Administração e Políticas
Públicas de Saúde, Bioética e Saúde Coletiva, Ensino
Odontológico, Prevenção e Educação em Saúde e
Epidemiologia em Saúde Bucal. Todas as atividades
desenvolvidas têm proporcionado resultados positivos, no município e na região, por meio da integração
com os serviços locais de saúde, prefeituras municipais
e também pelos trabalhos de pesquisa e extensão realizados no NEPESCO (Núcleo de Pesquisa em Saúde
Coletiva), fundado pelo Programa, entre eles o Heterocontrole do Teor de Flúor nas Águas de Abastecimento Público dos 40 municípios da DIR VI-SP, Assessoria aos Municípios no Planejamento, Execução
e Avaliação dos Programas de Saúde Bucal, Capacitação de Agentes Comunitários de Saúde, Assessoria na
Implementação do PSF em 5 municípios de uma microrregião no Noroeste do estado de São Paulo: Bilac,
Santópolis do Aguapei, Clementina, Piacatu e Gabriel
Monteiro. O Programa proporciona também ampla
integração com o curso de graduação em Odontologia
por meio da participação conjunta do corpo discente
em atividades relacionadas ao Serviço Extramuro
Odontológico, Programas de Atenção Odontológica
à Gestante, Prevenção de Câncer Bucal, Educação
para Saúde Bucal (Municipal e Regional), Promoção
de Saúde Bucal de Pré-Escolares no Município de Araçatuba e outros projetos. Além de todas estas atividades, espaços para discussão e troca de experiências
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são proporcionados pelos Encontros de Saúde Coletiva e Bioética promovidos pelo Programa.
Todas estas contribuições e realizações evidenciam a importância deste, que é um dos poucos Programas de Pós-Graduação na área, formando multiplicadores de conhecimento
para a saúde há 10 anos.
42. Levantamento epidemiológico como
ferramenta para a gestão dos serviços
de saúde bucal
Fernandes, L. S.*, Biazevic, M. G. H.
U
m Curso de Odontologia estruturado segundo a
filosofia de Saúde Coletiva deve incluir, em seu
currículo, conhecimentos básicos em Ciências Sociais,
Epidemiologia e Gestão dos Serviços de Saúde. A cada
semestre, a Disciplina de Odontologia em Saúde Coletiva VIII da Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC), com o intuito de interligar esses elementos, realiza trabalho de campo onde se faz
levantamento das condições gerais de vida e de saúde
bucal em uma comunidade pré-definida. São realizadas visitas domiciliares, acompanhadas dos Agentes
Comunitários de Saúde, para execução do levantamento epidemiológico das condições de saúde bucal
pelos alunos e que fornece subsídios importantes para
o conhecimento da realidade; permite também a definição de prioridades, que associado ao diagnóstico
situacional, fornece base para realização de detalhado
planejamento para fornecer assistência odontológica
à comunidade. A partir dos dados levantados, é possível planejar custos, tempo clínico necessário para
realizar o atendimento, bem como conhecer seu grau
de complexidade. Nas diversas comunidades estudadas, observou-se que há boa cobertura da atenção
básica, em detrimento dos serviços especializados. Ao
apontar soluções ao gestor do município, os alunos
constataram demanda reprimida por serviços especializados (especialmente na área de prótese). Como
possíveis soluções para essa situação, sugeriu-se: 1)
compra de serviços privados; 2) contratação de especialistas; e 3) parceria entre Município e Universidade.
Segundo os gestores das comunidades estudadas, esta
última sugestão apresentou maior viabilidade, principalmente ao considerar as questões financeiras.
Concluindo, a epidemiologia não deve ser um fim em si
mesma, mas uma ferramenta importante na gestão dos serviços de saúde, aliada ao conhecimento da realidade proveniente do vínculo criado pelo aluno durante todo o processo
de visitas domiciliares.
43. Análise das Diretrizes Curriculares
de Odontologia à luz do conceito de
integralidade em saúde – encontros
ou desencontros?
Mattos, D.*, Aguiar, A. C.
I
nstituída como princípio do Sistema Único de Saúde (SUS) na Constituição de 1988, a Integralidade
é um termo que vem sendo empregado nas discussões
acerca da atenção a saúde dos brasileiros. Juntamente
com o princípio de saúde como um direito de todos
e um dever do Estado, busca-se hoje a oferta de serviços que tenham como base a visão integral dos seus
usuários. Através dessas discussões sobre o modelo
assistencial, emergem debates sobre o perfil dos profissionais necessários para essa forma de abordagem.
Paralelamente, no setor Educação, mudanças inerentes à implementação da Lei de Diretrizes e Bases
(1996) incluem a homologação de Diretrizes Curriculares para os cursos de graduação da área de saúde.
Sendo atribuição constitucional do SUS o ordenamento da formação dos Recursos Humanos (RH)
para a área de saúde, observa-se uma aproximação
com o Ministério da Educação e surgem propostas
conjuntas como o AprenderSUS, que visa a construção de práticas entre o SUS e as instituições de ensino
superior orientadas pela integralidade da atenção,
englobando a questão da educação permanente e a
diversificação dos cenários de ensino-aprendizagem.
Neste trabalho analisamos os sentidos atribuídos a integralidade na literatura especializada, buscando identificar suas
repercussões no texto das Diretrizes Curriculares para o curso de Odontologia. Dessa forma o que se pretende com este
trabalho é abrir para discussão as propostas de mudanças
lançadas pelas diretrizes de odontologia e suas relações com
as políticas de formação de RH para o SUS, através de análise propositiva acerca do que se busca para o perfil do profissional e de que maneira vêm sendo abordadas essas mudanças.
44. Laboratório de Psicologia aplicada
à Odontologia: projeto de extensão para
prática clínica
Nicodemo, D.
O
sucesso profissional entendido como o uso da
habilidade e preparo técnico, atrelados à qualidade das relações, requer uma formação humanista e
generalista, portanto multidisciplinar. A Disciplina de
Ciências Sociais Aplicadas à Odontologia - PSICOLOGIA (CSAO – PSICOLOGIA), ministrada na FOSJC -
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UNESP para os primeiros anos, é estruturalmente
teórica. Na avaliação da Disciplina, pelos alunos, temse obtido resultados positivos e pedidos de que a psicologia se estenda por outros anos com uma prática,
culminando com nosso interesse de viabilizar experiências enriquecidas de reflexões e abordagens humanistas durante a formação acadêmica. Considerando
que a Disciplina de CSAO - PSICOLOGIA poderia
oportunizar discussões, vivências e reflexões do conteúdo emocional suscitado pela prática clínica, durante os atendimentos, elaborou-se este projeto de extensão, chamado de Laboratório de Psicologia Aplicada
(LAPA). O LAPA será oferecido aos alunos dos 2º, 3º
e 4º anos do período integral porque além de subseqüente à prática clínica, esta extensão exigirá um tempo (que já é restrito para o integral) que inviabiliza,
até o momento, a participação do noturno. As reuniões estarão sob responsabilidade e coordenação da
Professora Responsável pela Disciplina de CSAO - Psicologia. Dado o enfoque multidisciplinar, é de interesse que haja participação de um professor da clínica
envolvida. Professores de outras disciplinas poderão
contribuir com questionamentos que se redirecionados, poderão gerar trabalhos de pesquisa e favorecerem a visão generalista e integradora do profissional
de odontologia a ser formado. As reuniões serão de
três tipos: Plenária, Científica e Estudo de Caso. Reunião de Plenária: discussões coordenadas, com todo
o grupo, a respeito dos aspectos que suscitaram inquietações e/ou observações na prática clínica, e até
mesmo dos próprios questionamentos dos alunos.
Reunião Científica: estudo e discussão de textos e artigos de pesquisa para embasamento e aprofundamento dos temas originados nas reuniões de plenário.
Reunião Estudo de Caso: apresentação de caso previamente inscrito pelo aluno, para estudo e discussão,
devendo conter dados sociodemográficos; queixa do
paciente; necessidades e plano de tratamento; “situação-problema” do aluno, em relação ao caso, envolvendo aspectos psicossociais da relação profissionalpaciente que é foco de interesse do Laboratório. Em
se tratando de uma iniciativa da Disciplina de Psicologia, que transcende as paredes das salas de aula,
poderá sofrer alterações em conformidade com as
clínicas envolvidas e rotina dos alunos; cada turma
terá seu livro ata na intenção de que a sistematização
dos registros garanta não só o controle dos assuntos
abordados como também a propagação dos temas
para maior conhecimento e aprofundamento.
O LAPA pode contribuir com o ensino odontológico visando
180
atuação nas práticas clínica e investigativa mais humanistas e integradoras.
45. Estágio Extramuros - Aprendizado
multidisciplinar: Módulo Sorria Vila
da Glória
Schubert, E. W.*, França, C. M. C., Schramm, C. A.,
Vizzotto, D.
T
endo em vista a diretriz político-pedagógica, que
enfatiza a formação de um cirurgião-dentista com
atuação generalista e com uma visão humanista, o
módulo Sorria Vila da Glória, inserido na disciplina
de Estágio Extramuros, pretende despertar no acadêmico a sensibilidade para enxergar o paciente como
um indivíduo complexo onde o contexto de sua inserção social é um determinante no desequilíbrio do
processo saúde doença. Diante desta proposta, o módulo apresenta ao acadêmico-formando uma comunidade isolada, de restrito poder aquisitivo, onde o
atendimento odontológico é precário, a água de abastecimento não é tratada nem fluoretada, e onde os
cuidados preventivos da saúde oral praticamente inexistem. Os alunos integrantes da disciplina participam
das atividades normalmente desenvolvidas pelo Programa de Extensão Institucional da UNIVILLE, merecendo destaque o atendimento curativo realizado à
população escolar, com idade de 7 a 12 anos que apresentam CPOD elevado; atividades preventivas coletivas; e em especial a visitação domiciliar, onde podem
observar o modo de vida da população, hábitos de
alimentação e de higiene. Outra atividade de destaque
no programa é a orientação preventiva prestada aos
formadores de opinião que estão inseridos no seio da
comunidade. Neste sentido, cabe aos alunos da disciplina de Estágio Extramuros a tarefa de preparar material e proferir palestras diferenciadas – conforme o
público a ser atingido –, a partir de um conteúdo mínimo predefinido. Entre as palestras proferidas, merecem destaque aquelas que são direcionadas aos
professores da rede de ensino local, onde a instrução
é realizada de modo mais detalhado objetivando a
disseminação das idéias de prevenção odontológica.
Esta vivência permite aos acadêmicos, ao longo do
período de 4 a 6 semanas de atividades, traçar o perfil
destes pacientes (população), destacando a falta de
cuidados preventivos, e o agravamento das doenças
bucais que seguem o seu curso sem a interferência do
cirurgião-dentista, registrando assim altas taxas de incidência e agravamento das doenças bucais (CPOD).
O conjunto destas observações culmina na formação
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de um universo distinto daquele vivenciado pelos alunos nas clínicas da faculdade de odontologia, onde a
população atendida, residente em Joinville, é contemplada por atividades preventivas e curativas coletivas,
tornando-a integrante de um grupo onde as doenças
bucais são até certo ponto controladas.
O acadêmico, ao observar dois universos distintos, caracterizados pela presença ou ausência de medidas preventivas,
consegue realizar uma análise crítica sobre as vantagens e
conseqüências da implantação de programas preventivos,
bem como pode vivenciar intercorrências na implantação de
um atendimento odontológico com características preventivas e curativas. Como resultado o profissional recém-formado está mais qualificado para a implantação, avaliação ou
ainda para a reorganização de programas preventivos odontológicos.
46. Proposta de um método de
ensino-aprendizagem relacionado
à biomecânica da Articulação
Temporomandibular
Luz, F. P.*, Martins Filho, C. M.
A
demanda cada vez maior de pacientes com sinais
e sintomas de Disfunção Temporomandibular
(DTM) e os profissionais respondendo a esta demanda por meio de vários tipos de tratamento denota claramente a deficiência de conhecimentos básicos necessários para a conduta profissional que estão
intimamente relacionados a própria conceituação,
diagnóstico e tratamento. Um dos pontos relevantes
que deve ser abordado é a essência dos conhecimentos
nas áreas básicas de Anatomia, Fisiologia e Oclusão.
É visível a dificuldade por parte de acadêmicos e profissionais de entender como as estruturas anatômicas
se inter-relacionam e os processos fisiológicos acontecem e/ou deixam de acontecer com o envolvimento
da Oclusão. Para melhor compreensão do que é a
Articulação Temporomandibular (ATM), buscamos
por meio de cortes no plano sagital de cadáveres, gentilmente cedidos pela disciplina de Anatomia da Universidade do Vale de Itajaí (UNIVALI), evidenciar as
estruturas anatômicas que estão intimamente ligadas
à ATM. Foi realizado um processo de digitalização dos
cortes anatômicos e logo em seguida utilizamos recursos de animação gráfica computadorizada, por meio
de softwares específicos da área de webdesign, como
o Flash MX versão 2004 (Macromedia) e o CorelDRAW versão 11 (Corel). O processo de animação
gráfica consistiu em evidenciar todo o processo biomecânico de abertura e fechamento bucal em uma
ATM, sem nenhuma presença de disfunção e/ou processos patológicos, demonstrando claramente os movimentos de rotação e translação da cabeça da mandíbula sob a fossa mandibular e tubérculo articular,
interpostos pelo disco articular, evidenciando a própria ATM e os músculos Pterigóide Lateral Superior,
Pterigóide Lateral Inferior e Pterigóide Medial que
estão intimamente ligados aos processos acima mencionados.
O intuito deste trabalho é facilitar o ensino-aprendizagem,
facilitando a compreensão da biomecânica do complexo articular e muscular relacionados à ATM por parte de acadêmicos e profissionais de Odontologia, visando à educação
continuada e complementação de disciplinas curriculares
na graduação e pós-graduação dos cursos de Odontologia.
47. Atenção odontológica a pacientes
portadores de necessidades especiais:
uma experiência inserida no currículo
de graduação
Sari, G. T.
A
tualmente, a “inclusão social” dos indivíduos portadores de deficiência tem-se constituído em um
tema de ampla discussão, especialmente entre profissionais das áreas da saúde e educação. No que concerne à atenção odontológica, ainda prevalece uma série
de mitos que por muito tempo estigmatizaram os pacientes portadores de necessidades especiais como
“impossíveis de serem tratados”. Em parte, esta realidade se deve à quase inexistência de cirurgiõesdentistas preparados para bem atenderem a estes indivíduos, preocupação apenas recente junto às
universidades e escolas de saúde. Esta lacuna histórica,
decorrente da insuficiência de cursos de educação
continuada e aperfeiçoamento clínico nesta área de
atuação, reflete-se em resultados como os encontrados por Lannes; Vilhena-Moraes (1988): menos de
10% de especialistas em Odontopediatria atendendo
ou interessados no tratamento de crianças especiais.
Percebe-se que, apesar de todos os avanços da odontologia como ciência, trabalhar com PPNEs ainda se
apresenta como um desafio para a maioria dos cirurgiões-dentistas. Diante desta realidade, o Curso de
Odontologia da ULBRA – campus Cachoeira do Sul,
em parceria com o serviço de referência do SUS (implantado desde 1995), introduziu a prática desta especialidade como integrante opcional de seu currículo de graduação. Funcionando em nível de extensão
universitária desde o mês de abril de 2004, o curso
atende alunos da Escola Especial (APAE) do municí-
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pio bem como pacientes da cidade e região que procuram o setor de Saúde Mental do SUS. Os atendimentos acontecem em um turno semanal, sendo
coordenados por professor habilitado em curso de
capacitação específico. As equipes de trabalho são
compostas por um máximo de dez acadêmicos matriculados nos dois últimos semestres do curso de Odontologia. A Universidade garante a gratuidade de todos
os procedimentos, não havendo limite de idade para
os pacientes atendidos. Busca-se sempre o atendimento integral do paciente, contemplando todas as suas
necessidades dentro da área de abrangência das especialidades de odontopediatria, cirurgia, periodontia,
dentística operatória, endodontia e alguns casos de
prótese dentária. As condutas clínicas e as estratégias
de atendimento são discutidas entre a equipe
de acadêmicos e o professor coordenador em seminários de casos clínicos (dois por semestres).
Partindo-se da premissa de que as habilidades técnicas necessárias ao profissional que se dedica a atender PPNEs em
nada diferem daquelas adquiridas durante o período de sua
formação acadêmica, a experiência vem conseguindo desmistificar o atendimento odontológico a esta população. Apesar
de há pouco tempo implantada, é perceptível que as equipes
de acadêmicos que dela participam estão ingressando no
mercado de trabalho com a consciência de que o único prérequisito para atendimento do paciente especial é “especializar-se” em qualidades como paciência, dedicação, criatividade, amor ao próximo e espírito de solidariedade.
48. Experiências Didáticas Vivenciais
na FOUSP
Araujo, M. E.*, Crivello-Junior, O., Zilbovicius, C.,
Maltagliatti, L.
N
a formação do Cirurgião-Dentista, o estágio favorece a compreensão da realidade, propicia a
aquisição de competência para a intervenção adequada e possibilita a investigação e a vivência de projetos
teoricamente sustentados. Os estágios vivenciais fornecem ao aluno elementos metodológicos experimentais que lhe permitam conhecer in loco as diversas variáveis que o profissional de saúde lida em seu
cotidiano, incluindo as questões voltadas à saúde coletiva e o processo saúde-doença. A Estrutura dos estágios é composta por: três fases: CONSTRUÇÃO
CONCEITUAL, onde entram em contato com a proposta de estágio, incluindo uma elaboração conceitual de saúde coletiva, promoção de saúde, políticas de
saúde e saúde bucal, que aborda os referenciais teóricos metodológicos que norteiam suas atividades prá182
ticas; EXPERIÊNCIA DE CAMPO que é desenvolvida
em projetos de atenção e assistência em Saúde Bucal
e REFLEXÃO, atividade final para a troca de experiências e avaliação das atividades. Para a conclusão do
Curso de Graduação em Odontologia na Faculdade
de Odontologia da Universidade de São Paulo o acadêmico deve cumprir 480 HORAS, no mínimo, de
ESTÁGIOS VIVENCIAIS tendo por objetivo a complementação de sua experiência didática, aliando o
conteúdo teórico recebido nas diversas disciplinas
com uma capacitação vivencial num contexto diferente ao do ambiente acadêmico tradicional, apresentando um processo dinâmico e contínuo, que permite ao
aluno, desde o 1º Semestre letivo, exercer um papel
mais ativo na construção de sua identidade como profissional de saúde. Os estágios vivenciais obrigatórios
contêm três grandes áreas de atuação: Saúde Bucal
Coletiva e Educação em Saúde; Atividades Clínicas
extramuros e Atividades Clínicas intramuro.
Favorecer a compreensão da realidade, propiciar a aquisição
de diferentes competências e possibilitar a investigação e a
vivência de projetos teoricamente sustentados é passo fundamental para o aluno de graduação em Odontologia.
49. O candidato ao vestibular e o
ingressante de Odontologia da FOUSP
Araujo, M. E.*, Favoretto, D. T., Vilela, T.,
Crivello-Junior, O.
A
s informações referentes aos alunos que se interessam pela Odontologia e aqueles que são aprovados no exame vestibular são, hoje, mais uma ferramenta que deve ser utilizada pelas instituições. A
adequada seleção de seu aluno ingressante assegura
que boas condições de ensino se reflitam no bom
aprendizado dos alunos no transcorrer do curso odontológico. Desta forma, continuamos a avaliar informações do aluno ingressante da Faculdade de Odontologia da USP. Neste momento avaliamos a origem dos
candidatos e a origem dos ingressantes; as matérias
que estão sendo fundamentais para a aprovação no
vestibular e se, em relação ao gênero, há mais interesse para entrar no curso pelos homens ou mulheres e
se esta proporção implica diretamente no resultado
dos aprovados.
Concluímos que há mais interesse por pessoas do gênero feminino para cursarem o curso odontológico, e são também
elas que conseguem maior aprovação, ainda que esta relação
seja diminuída na aprovação; há indícios que o bom rendimento na prova de física está sendo determinante na aprovação no vestibular de Odontologia da FOUSP.
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50. A implantação de um CEO na
Universidade Estadual do Oeste do
Paraná. A IES como prestadora de
serviço e o CEO como campo de atuação
para alunos de especialização e de
estágio para alunos da graduação
Naufel, F. S.*, Melo, M. M., Wlaker, M. S.,
Schmitt, V. L.
A
Universidade Estadual do Oeste do Paraná –
Unioeste, por meio do curso de odontologia e
clínica odontológica, localizados no campus de Cascavel – PR, pleiteou o credenciamento, junto ao Ministério da Saúde, no programa Brasil Sorridente, e a
implantação de um Centro de Especialidades Odontológicas – CEO, modalidade II, previsto nas portarias
1.570, 1.571 e 1.572/GM-MS de 29 de julho de 2004.
O pleito fundamentou-se por entender que a Universidade atende os requisitos exigidos pelas portarias,
comporta a absorção da demanda exigida e, ao se
credenciar estaria cumprindo a função institucional
de também se colocar a serviço da comunidade e atenta à demanda posta pela mesma. A cidade de Cascavel
possui hoje gestão plena da atenção básica e sua oferta de serviços de saúde bucal é principalmente voltada
a pacientes de 0 a 14 anos, ficando a atenção especializada, mesmo para esta faixa etária, sem atendimento.
O curso de Odontologia da Unioeste formou sua primeira turma em 2001 e conta hoje com cursos de Especialização em Dentística, Endodontia, Odontologia
em Saúde Coletiva, Prótese e Ortodontia; além de
cursos de atualização nestas áreas. Na rotina do Curso
de Odontologia da Unioeste já são realizados os procedimentos contidos nas portarias, mas os pacientes
atendidos não são referenciados pelas UBS de Cascavel e demais municípios da abrangência da 20ª Regional de Saúde. Assim, o paciente é inserido em duas
filas para ser atendido, uma na UBS e outra na Universidade. Ao propor o credenciamento, a Unioeste
manteve contato com o gestor municipal e representante da Regional de Saúde, para o estabelecimento
de uma nova rotina, com a possibilidade de se criar
um sistema de referência e contra-referência entre os
serviços. Muitas dificuldades estão sendo vivenciadas
para a implantação do CEO e, entre elas, a exigência
do Ministério de que o atendimento não poderia ser
realizado por alunos de graduação, mas por profissionais. Inicialmente, foi programado o atendimento
desta demanda nos cursos de pós-graduação, às quintas, sextas e sábados. Ao propor a concentração dos
atendimentos nestes dias, cumprindo a demanda e as
horas/atendimento mínimas, previstas nas portarias,
houve negativa do Ministério. A saída se deu por meio
de pactuação entre Unioeste, Município de Cascavel
e 20ª Regional de Saúde, partes estas que se mostraram
interessadas em manter o pleito. Na frustração de contratação de Profissionais pelos gestores municipais,
estadual e IES em curto prazo, a UNIOESTE, estrategicamente, ofertará um curso de Especialização em
Clínica Odontológica, com Ênfase no SUS, gratuito,
para os profissionais dos serviços públicos. Desta maneira, os gestores liberarão seus profissionais algumas
horas/semana do serviço para o cumprimento das
atividades do curso, que acontecerá de segunda a sexta-feira e assim os profissionais cumprirão a demanda
do CEO.
Esta é a experiência da Unioeste na implantação de um CEO,
uma perfeita articulação ensino/serviço.
51. Avaliação da disciplina de
Odontologia Preventiva e Sanitária
em um curso de graduação
Moimaz, S. A. S.*, Zina, L. G., Presta, A. A.,
Saliba, O.
D
iscussões sobre reestruturação curricular dos
cursos de odontologia são fundamentais para
implantação de mudanças, visando a formação adequada de recursos humanos para o setor saúde. As
diretrizes curriculares propostas pelo MEC não foram
ainda implementadas em muitas faculdades. A avaliação tem papel fundamental no processo de construção de projetos pedagógicos, destacando-se o aspecto
formativo que pode exercer sobre os alunos e o desenvolvimento de programas. O “feedback” dos alunos é de grande importância para se obter dados de
desempenho profissional, representando uma fonte
indispensável de informações sobre pontos de afirmação e ruptura dos processos de formação. A disciplina
de Odontologia em Saúde Coletiva tem trabalhado
para buscar a superação das contradições dentro do
próprio curso de Odontologia, capacitando os alunos
para uma identidade real, visando num processo político permanente, a promoção da saúde ao invés de
somente prestar serviços com foco nas doenças. A Faculdade de Odontologia de Araçatuba–FOA/UNESP
permanece com seu currículo baseado em disciplinas
no curso de graduação. Os autores neste estudo buscaram colaborar nas discussões sobre avaliação de
processos de aprendizagem por meio da aplicação de
uma metodologia qualitativa na disciplina de Odontologia Preventiva e Sanitária. Para tanto, foi utilizada
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como metodologia a técnica de associação de palavras,
preconizada por Bardin. O teste foi aplicado após o
término da disciplina nos alunos do 3º ano integral
do curso de graduação da FOA/UNESP. Foi solicitado
aos alunos (n = 68) que associassem três palavras em
uma ficha, livre e rapidamente, a partir da seguinte
questão: “O que representou a disciplina de Odontologia Preventiva e Sanitária para você?”. Uma vez reunida a lista de palavras (n = 204), procedeu-se a análise descritiva de conteúdo. Num primeiro momento
foi realizada aproximação semântica, reunindo-se palavras idênticas, sinônimas ou com mesmo nível semântico. A seguir foram classificadas unidades de
significação, nas quais foram identificadas as seguintes
categorias: “aspectos relacionados à saúde” (prevenção, promoção de saúde) - 31,4%; “conteúdo da disciplina” (informação, qualidade de ensino) - 19,2%;
“caráter social” (comunidade, coletividade) - 19,2%;
“forma de condução da disciplina (dedicação, competência)” - 13,2%; “interação ensino-exercício profissional” (colaboração, trabalho) - 12,7%; “aspectos
negativos” (demora, dispersão) - 3,0%; “aspectos positivos” (importante, necessária) - 1,5%.
O teste mostrou-se útil e eficaz na avaliação da disciplina,
revelando diferentes estereótipos nas percepções dos alunos,
predominantemente vinculados à categoria saúde, muitos
deles partilhados pelo grupo. Ao estabelecer um diálogo com
os alunos, cria-se a possibilidade de estudar o impacto da
disciplina mais profundamente, sendo a avaliação o instrumento necessário para a verificação de seus objetivos e a
orientação para a reformulação de sua prática.
52. Representação social de acadêmicos
de Odontologia sobre a área de
Odontologia Social e Preventiva
Moimaz, S. A. S.*, Casotti, C. A., Garbin, C. A. S.,
Saliba, O.
A
concepção tradicional do currículo odontológico
dividido em disciplinas, caracterizado pela segmentação e esfacelamento do conhecimento, com
fronteiras e limites claramente estabelecidos, não foi
capaz de aproximar o profissional formado da realidade do sistema nacional de saúde. Ainda hoje muitas
instituições de ensino não implementaram as reformas
curriculares, de forma a adequar seus currículos, de
acordo com as diretrizes curriculares propostas pelo
Ministério da Educação. No início da formação acadêmica os alunos dos cursos de odontologia são capazes
de construir uma imagem da área de estudo de algumas
disciplinas como da prótese, periodontia, odontope184
diatria, dentre outras, porém quanto à odontologia em
saúde coletiva, há desconhecimento da área de atuação. Foi objetivo do presente trabalho, durante os anos
de 2002, 2003 e 2004, conhecer a percepção previamente formada sobre a Odontologia Social, ou Odontologia em Saúde Coletiva, por alunos do 3º ano do
curso de Odontologia da FOA – UNESP, que ainda não
haviam cursado a referida disciplina. A cada ano, previamente ao início das aulas da disciplina, todos alunos
presentes, regularmente inscritos, receberam um questionário constituído por uma única pergunta aberta:
“Odontologia social é...”. Ao final de três (3) anos, foram apurados 195 questionários. Inicialmente fez-se
uma leitura na íntegra de todas as respostas de uma
forma rápida; em seguida novas leituras foram realizadas de forma criteriosa, considerando as partes significativas, de acordo com categorias pré-estabelecidas.
Posteriormente, foram identificados as palavras-chaves
e os trechos pré-codificados para cada uma das categorias. Foram calculadas as freqüências em que as palavras-chaves de cada categoria apareceram nos discursos. Os resultados demonstraram que: 37,9% dos alunos
percebem como sendo objetivo da disciplina fazer a
integração do profissional com a sociedade; 53,3%
como sendo esta responsável por estudos de métodos
preventivos; 24,6% por prestação de serviços assistenciais a populações carentes e 39,4% atuação em Saúde
Bucal Coletiva.
Conclui-se que na acepção de grande parte dos acadêmicos,
o campo de atuação da Odontologia Social restringe-se a
ações de cunho assistencial em populações carentes, com
ênfase na prevenção das doenças que acometem a cavidade
bucal. Estes dados demonstram que a noção dos acadêmicos
sobre a área é bastante restrita, havendo necessidade do fortalecimento de ações interdisciplinares, como auxílio no processo de unificação do conhecimento, para que a formação
seja adequada ao exercício profissional. Segundo as diretrizes curriculares a formação deve ser generalista, humanista,
crítica e reflexiva, possibilitando a atuação em todos os níveis
de atenção à saúde, com rigor técnico e científico, capacitando o profissional ao exercício de atividades referentes à saúde bucal da população.
53. Ensinar e aprender odontologia
com a integração de uma equipe
multiprofissional
Lucena, M. G.*, Viana, S. B. P., Oliveira, M. A. M.,
Luciani, E. C.
I
mplantado em abril de 2004 o Programa de Humanização do Hospital Universitário Pequeno Anjo
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(HUPA) de Itajaí/SC tem como proposta o desenvolvimento de ações que promovam o acolhimento e a
participação de cuidadores das crianças hospitalizadas. Uma equipe multiprofissional (fisioterapeuta,
enfermeiro, psicólogo, nutricionista, fonoaudiólogo,
farmacêutico, odontólogo, assitente social e pedagogo) formada por docentes, acadêmicos e profissionais
que atuam no hospital planeja e organiza encontros
diários com os cuidadores com vistas à promoção da
qualidade de vida das crianças e suas famílias. O programa está dividido em duas etapas, a primeira já implantada é realizada diariamente no HUPA no período vespertino tem duração de 30 minutos e está
centrada em ações educativas e preventivas. A Segunda etapa é desenvolvida junto a duas Unidades Básicas
de Saúde correspondentes aos bairros que apresentam o maior índice de crianças internadas. O número
de participantes varia conforme a demanda hospitalar, sendo que a média é de 10 cuidadores por dia. Até
o momento foram realizados 162 encontros, com a
participação de aproximadamente 509 cuidadores.
Os temas trabalhados visam promover a autonomia e a autosustentabilidade tornando o cuidador disseminador destas
informações. A partir da implantação do programa os cuidadores têm se sentido melhor acolhidos no hospital facilitando a relação entre família e profissionais da saúde.
científica. No entanto, apesar de o Curso de Odontologia da UNIPLAC apresentar um quadro superior a
70 docentes, cerca de 20 destes atuam como orientadores, na sua maioria ligado a área de concentração
do trabalho. Dentre os problemas diagnosticados na
disciplina observam-se: em primeira instância, o desconhecimento do regulamento da mesma, o qual está
embasado no regimento interno da Instituição; ausência de rigor científico em determinados projetos; falta
de estímulo aos acadêmicos para elaboração do estudo; relação entre duplas de acadêmicos bem como,
destes com seus orientadores.
Frente ao exposto, caracterizam-se como principais desafios:
estimular a multidisciplinaridade na elaboração e desenvolvimento dos projetos buscando agregar as áreas básicas;
estimular que estes trabalhos realmente sejam publicados a
fim de contribuir com o conhecimento para toda a comunidade científica; tornar a elaboração do trabalho de conclusão
de curso algo prazeroso ao acadêmico, oportunizando uma
experiência de organização e expressão do conhecimento,
incentivando um posicionamento crítico, participativo e
comprometido com uma atuação ética.
54. A experiência da disciplina de TCC
do curso de Odontologia da Uniplac
(SC) - diagnóstico e desafio
Cavazzola, A. S.*, Masiero, A. V., Sá, G. B.,
Fernandes, S. R.
O
O
trabalho de conclusão de curso (TCC) tem por
objetivo geral propiciar condições necessárias
dentro das normas técnicas que caracterizam a pesquisa científica. Dentro deste contexto, visa oportunizar ao acadêmico a vivência dos problemas do trabalho
na Odontologia e aprofundamento no tema a ser desenvolvido, permitindo o aprimoramento teórico e/
ou prático. Em especial, a disciplina de TCC do Curso
de Odontologia da UNIPLAC-SC é composta por 3
professores mestres, sendo 1 da área das Ciências Humanas e 2 graduados em Odontologia. Desde sua implantação, em fevereiro de 2003, trinta e oito trabalhos
foram defendidos e vinte e seis estão em andamento.
Um fator positivo verificado foi que aproximadamente metade dos trabalhos de conclusão de curso estão
vinculados a grupos de pesquisa institucionais financiados por agências de fomento, o que favorece o desenvolvimento de pesquisas com rigor e relevância
55. Explosão Quantitativa X Qualitativa
do Conhecimento
Batista, A. M. R.*, Batista, L. R. V., Oliveira, J.,
Moreira, E. A. M.
conhecimento é o principal fator de inovação
disponível ao ser humano. Não é constituído de
verdades estáticas, mas de um processo dinâmico que
acompanha a vida humana. A transformação da ciência articulada às mudanças tecnológicas referentes à
circulação da informação produziram o uso competitivo dos conhecimentos, uma modernização acrítica
e pouco reflexiva. Embora esse conhecimento não seja
produzido necessariamente na universidade, é dela
que se originam os técnicos e pesquisadores que integram as instituições que estão no mundo do trabalho
produzindo ciência e tecnologia. Os processos de avaliação da produção acadêmica, dos quais dependem
a conservação do emprego e a ascensão na carreira,
são baseados na quantidade de publicação de artigos
e do comparecimento a congressos e simpósios, a
quantidade de “pontos” obtidos por um pesquisador
também depende de que consiga publicar seus artigos
nos periódicos científicos definidos hierarquicamente pelo “ranking”, uma vez que a avaliação deixou cada
vez mais de ser feita pelos pares e passou a ser determinada pelo critério da eficácia e da competitividade.
Assim, quando o pesquisador se prepara única e ex-
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clusivamente para provas, dissertações, teses e quantidade de produção científica, sem a preocupação
com o conhecimento e o saber reflexivo, poderá obter
títulos mas não terá construído sua aprendizagem.
Conclui-se que quando se fala do conhecimento é importante levar em consideração que a explosão quantitativa da
informação deveria ser acompanhada de uma explosão qualitativa.
56. Bioética e Pesquisa com Seres
Humanos
Batista, A. M. R.*, Batista, L. R. V., Moreira, E. A. M.,
Bosco, V. L.
O
s avanços alcançados pelo desenvolvimento científico e tecnológico nos campos da biologia e da
saúde têm colocado a humanidade frente a situações
até pouco tempo inimagináveis. Se por um lado, estas
conquistas trazem renovadas esperanças de melhoria
de qualidade de vida, por outro criam uma série de
contradições que necessitam ser analisadas responsavelmente com vistas ao equilíbrio e bem-estar futuro
da espécie humana e da própria vida no planeta. A
realização de pesquisas por profissionais da área de
saúde envolve em grande parte seres humanos, tornando necessária a avaliação dos projetos de pesquisa
antes da sua fase de execução, objetivando avaliar do
ponto de vista ético, garantindo aos participantes da
pesquisa integridade e dignidade. Os objetivos deste
trabalho são: inserir o ensino da bioética nas universidades e fornecer uma visão geral sobre as diretrizes,
normas e resoluções que norteiam a realização de
pesquisas envolvendo seres humanos; descrever sobre
as implicações sociais, econômicas, políticas e éticas
do desenvolvimento biotecnológico. O presente estudo, se propõe a, através de uma revisão da literatura,
tentar responder a conflitos do dia-a-dia das pessoas,
para ajudar a estabelecer normas e compromissos capazes de vencer os desafios da fragilidade da vida da
espécie humana. Os países em desenvolvimento têm
se tornado, cada vez mais, local de pesquisa dos grandes laboratórios multinacionais. O objetivo maior da
avaliação ética de projetos de pesquisa é garantir os
princípios da autonomia, justiça, beneficência, não
maleficência e eqüidade.
Os documentos como as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos são importantes referências oficiais para os pesquisadores. A necessidade
do ensino da bioética nas universidades e do cumprimento
destas resoluções tem como objetivo primordial a proteção do
ser humano na sua dignidade e integridade, fazendo com
186
que o desenvolvimento científico ocorra de forma ética.
57. Projeto DIBIOL (Digitalizador de
Imagens Biológicas)
Bertholdi, P. R.*, Schneider, C., Rodrigues, E.,
Koroll, L.
O
conhecimento acurado de anatomia humana é
fundamental para qualquer procedimento na
área de saúde. A capacidade de reconhecimento e
memorização de estruturas anatômicas é somente desenvolvida após exaustivos estudos em atlas de anatomia, laboratórios de anatomia e treinamento em procedimentos cirúrgicos. Estes são métodos clássicos
empregados até hoje nos cursos das áreas biológica e
da saúde. No entanto observam-se fatores limitantes
destes métodos como a dificuldade de se adquirirem
peças anatômicas (cadáveres), o problema de conservação destes, o estudo através de imagens bidimensionais de estruturas tridimensionais, e a falta de oportunidades de estudo in vivo (durante cirurgias).
Propõe-se, através deste projeto, desenvolver-se material didático em formato digital adicionando melhorias no método clássico de aprendizagem de anatomia
e cirurgia, registrar e avaliar procedimentos cirúrgicos
e necropsias e dominar o conhecimento tecnológico
da Bioengenharia através da interdisciplinaridade entre as áreas como Biologia, Saúde, Informática, Mecatrônica, Engenharia Mecânica e Engenharia Elétrica.
Utilizando-se o PMC (Princípio da Matriz Cilíndrica),
proposto pelo autor, onde a captura das imagens digitais são feitas imaginando-se que um corpo humano
esteja dentro de um cilindro virtual composto por uma
malha (sistema cartesiano) dividida em quadros que
no ângulo zero da circunferência seria desarticulado
gerando uma matriz de imagens digitais. Cada imagem teria a identificação correspondente às funções
matemáticas relativas ao posicionamento da estrutura
robotizada nos seus graus de liberdade. O conjunto
correspondente ao DIBIOL baseia-se em um robô
composto de uma ESR (Estrutura de Suporte Robotizada) com 4 graus de liberdade, uma IC (Interface de
Controle) de um conjunto de 4 motores de passo conectados ao controlador microprocessado, um CO
(Controlador Operacional) desenvolvido em linguagens Assembler-Delphi-C++ para controlar os movimentos e registrá-los por um SMI (Sistema de Movimento Inteligente) e um BIBD (Banco de Imagens
Biológicas Digitais) que armazenará a matriz de imagens. O DIBIOL responde inclusive a comandos por
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voz e executa automaticamente depois de treinado a
varredura de regiões pré-determinadas.
O desenvolvimento deste projeto e a construção do DIBIOL
trouxeram a possibilidade de utilização de alta tecnologia
através de uma visão simples da solução de um problema,
que, comparada a trabalhos de pesquisa de entidades americanas e européias, obtém imagens naturais de estruturas
anatômicas de boa qualidade e com baixo custo. As imagens
obtidas por RM (Ressonância Magnética), TC (Tomografia
Computadorizada) e outras têm como inconveniente a texturização artificial, pois seu processo ocorre a nível molecular enquanto o DIBIOL simplesmente fotografa as estruturas
anatômicas expostas dando um aspecto mais realista para
quem estuda anatomia.
58. Avaliação do desempenho do curso
de Odontologia da Universidade Tuiuti do
Paraná no Exame Nacional de Cursos –
período 2000-2004 – conforme o conteúdo
abordado nas questões
Mattos, N. H. R.
A
detecção de eventuais problemas, relacionados
ao processo Ensino-aprendizado, pode ser observada pelo desempenho dos alunos no Exame Nacional
de Cursos conforme o assunto abordado, tanto nas
questões objetivas, como nas dissertativas. Apesar da
não garantia de ser o Exame Nacional de Cursos o
melhor processo avaliativo para nossos estudantes,
algumas informações podem ser úteis aos Coordenadores de Curso para análise do desempenho de conteúdos aplicados pelos docentes em seu curso. O presente trabalho objetivou avaliar o desempenho dos
estudantes de Odontologia da Universidade Tuiuti do
Paraná nos últimos cinco Exames Nacional de Cursos
(Provão – ENADE) comparado ao desempenho de
estudantes de Odontologia no âmbito nacional. Observando graficamente este desempenho, a Coordenação pôde verificar: 1. se o grau de dificuldade da
questão foi observado tanto em seu Curso como no
aspecto Nacional; 2. se houve divergências para mais
ou para menos no desempenho específico do conteúdo; 3. a necessidade de sanar eventuais problemas
de Ensino-aprendizado que se mostraram freqüentes
ou repetitivos para determinados conteúdos (Disciplinas). Para tanto utilizou-se dos Relatórios de Curso
enviados pelo Órgão avaliador para análise dos resultados, verificando, para cada questão ou grupo de
questões, conforme os conteúdos abordados, os respectivos resultados obtidos pelos seus alunos, comparados ao âmbito nacional.
Da presente avaliação pôde-se concluir que: 1. a maioria das
Disciplinas do Curso de Odontologia da UTP acompanha
a média do desempenho obtido por outros cursos no Brasil
verificando que a dificuldade de determinadas questões são
sentidas genericamente pela maioria dos cursos; 2. a ação
em algumas Disciplinas resultaram efetivamente na melhoria do desempenho no ENC especificamente Patologia e Semiologia; 3. ações saneadoras deverão ser estudadas e aplicadas principalmente no que se refere às áreas de Ortodontia
e Terapêutica.
59. Docência em Odontologia
Gorini, F. V.*, Batista, S. H. S. S.
O
presente estudo teve como objetivo a análise das
concepções relativas ao processo ensino-aprendizagem que têm orientado práticas pedagógicas de
professores da disciplina de Odontopediatria da graduação em Odontologia. No âmbito dos objetivos
específicos delineou-se: identificar e discutir concepções de ensinar, aprender e avaliar no exercício docente; mapear criticamente atributos de um bom
professor de Odontologia e discutir significados que
são atribuídos ao processo de formação docente no
contexto da graduação em Odontologia. O referencial teórico adotado privilegiou interlocuções com
pesquisadores para configurar aproximações históricas com o Ensino em Odontologia, bem como estabelecer uma inserção na Docência em Saúde e estabelecer uma discussão sobre o Professor de Odontologia.
A metodologia compreendeu entrevistas semi-estruturadas. A análise temática deu-se a partir do entendimento do caminho de apreensão dos sentidos que
compõem a ótica dos professores envolvidos. As concepções de aprendizagem abrangeram quatro eixos:
processo de formação-desenvolvimento-crescimento;
aquisição-retenção de informações, influenciada pelas características dos sujeitos que aprendem; um processo de troca e de relação com o ensino; processo de
entendimento-compreensão. Já em relação ao ensino,
os professores destacaram o ensino como relação de
troca com o processo de aprendizagem; atividade intencional e planejada para favorecer a aprendizagem;
demonstração da prática. A Odontologia é uma profissão que apresenta especificidades, o que, em parte,
pode explicar esta concepção que vincula o ensinar
ao fazer, mostrar. Assim, o docente emerge como
aquele que demonstra, realiza, faz, na relação “mestreaprendiz”. No campo da metodologia de ensino, os
professores referiram propostas de inovação no campo do Ensino da Odontologia, enfatizando a abertura
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a novas tecnologias, apropriação de estratégias mais
participativas, centradas no aluno e problematizadoras da realidade. As práticas avaliativas foram situadas
como desafio, evidenciando um foco de mudanças
dos referenciais adotados.
Ouvir professores de Odontopediatria, ler suas trajetórias,
dialogar com os teóricos e produzir uma interpretação permitem afirmar a necessidade de novos estudos que envolvam
outras áreas da Odontologia e outros cenários de formação,
procurando configurar pesquisas que, efetivamente, contribuam para construir uma docência comprometida com um
processo de ensino-aprendizagem rigoroso cientificamente,
inovador, ético, crítico, instaurando novas referências para
a humanização no ensino e na prática em Odontologia.
análise crítica, de estabelecer relações, dentre outras
habilidades. Apesar da predominância das aulas expositivas, observa-se, principalmente nas disciplinas
profissionalizantes, a utilização de seminários e estudos de casos clínicos. Estas estratégias demonstram
uma nova postura do professor-dentista identificada
como odontologia baseada em evidências.
Conclui-se que: a) houve uma evolução no que se refere à
eleição de estratégias de ensino pelos professores, pois, além
da aula expositiva, que assumiu a dimensão participativa,
destaca-se a adoção da pesquisa de modo significativo; b) os
norteadores filosóficos do curso estão sendo praticados, pois
a pesquisa é concebida como um princípio educativo; c) as
estratégias eleitas estão favorecendo a formação do perfil do
profissional definido pelo curso.
60. Processo de ensino-aprendizagem e
estratégias adotadas pelos professores:
análise do curso de Odontologia da
UNIVALI
Uriarte Neto, M.*, Bottan, E. R., Imianowski, S.
61. O ensino da Odontologia no sistema
educacional do estado de Santa Catarina
Uriarte Neto, M.*, Bottan, E. R., Cruz, G. V.,
Valiatti, R.
A
A
s estratégias de ensino são procedimentos didáticos selecionados pelo professor com o objetivo
de facilitar o processo de ensino-aprendizagem de um
conteúdo específico. A escolha dos procedimentos e
recursos didáticos deve levar em conta que estas atividades possibilitem um processo dinâmico de construção e reconstrução do conhecimento. Atualmente,
dispõe-se de uma grande variedade de estratégias, que
permitem ao docente dinamizar suas aulas. Considerando-se as características próprias da formação do
professor de Odontologia e o processo de Educação
Continuada implantado na Universidade do Vale do
Itajaí (UNIVALI), desde 2000, optou-se pela realização de uma investigação para se identificar quais estratégias são mais adotadas pelos docentes do curso
de Odontologia da UNIVALI. O estudo, do tipo exploratório-descritivo, teve como instrumentos de coleta dos dados: - questionário, com questões do tipo
fechadas, aplicado aos acadêmicos do terceiro ao
nono períodos; - observações assistemáticas das aulas; - análise dos planos de ensino de todas as disciplinas que compõem a matriz curricular. Da análise dos
dados obtidos, identificou-se que as estratégias mais
adotadas pelos professores são a pesquisa e a aula expositiva com a participação dos alunos e utilização de
recursos audiovisuais. A aula expositiva é a estratégia
mais antiga que, na dimensão dialógica, permite o
questionamento, a interação teoria-prática e a participação ativa e crítica dos acadêmicos. A pesquisa desenvolve no aluno a capacidade de observação, de
188
educação superior no estado de Santa Catarina
se constituiu num Sistema de Educação Superior,
a partir da criação, em 1974, da Associação Catarinense das Fundações Educacionais – ACAFE. A ACAFE é
uma entidade sem fins lucrativos, cuja missão é promover a integração dos esforços de consolidação das
instituições de ensino superior por ela mantidas. A
ACAFE tem por objetivos executar atividades de suporte técnico-operacional, representar as Instituições
de Ensino Superior junto aos órgãos dos Governos
Estadual e Federal, e congregar e integrar as entidades
mantenedoras do ensino superior no Estado de Santa
Catarina. O sistema ACAFE é composto por dois Centros Universitários, duas Fundações Educacionais e
onze Universidades. Especificamente em relação aos
cursos de Odontologia, seis, dos sete do estado de
Santa Catarina, fazem parte da ACAFE: FURB, UNIVILLE, UNOESC, UNISUL, UNIVALI e UNIPLAC.
Os cursos de Odontologia do sistema ACAFE são posteriores ao Curso de Odontologia da Universidade
Federal de Santa Catarina e tiveram naquele a principal referência e modelo no qual, inicialmente, basearam suas instalações e matrizes curriculares. A
Odontologia do sistema ACAFE se caracteriza, filosoficamente, pelo paradigma da promoção de saúde,
tendo-o como eixo norteador na formação acadêmica, que contempla um perfil profissional generalista,
e contribui na definição dos fundamentos metodológicos dos cursos. No processo de formação, são práticas constantes, também, o investimento na pesquisa
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como princípio educativo, a inserção em projetos integrados de extensão, com participação de cursos da
área da saúde e de outras áreas como ciências humanas, da comunicação e computação e prestação gratuita de serviços à comunidade local e regional.
O sistema ACAFE tem favorecido a discussão entre os cursos
de Odontologia do estado de Santa Catarina no sentido de
potencializar recursos humanos e físicos, matrizes curriculares e ações de pesquisa e extensão a fim de apresentar as
melhores respostas aos novos desafios trazidos pela Reforma
Universitária e pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, conservando, no entanto, suas principais características.
62. Clínica de Oclusão - Ensino
e Aprendizagem na Prática
Martins Filho, C. M.*, Molleri, R. R., Luiz, B. K. M.
O
ensino da oclusão nos cursos de graduação em
odontologia mostrou-se insuficiente para produzir conhecimento e técnica necessários à prática odontológica após a graduação. A carga horária teórica e
prática insuficiente nos currículos, a dissociação do
ensino das disciplinas básicas e falta de um protocolo
claro de ação nos procedimentos são os principais
responsáveis por essa baixa qualidade de ensino. Para
superar essas dificuldades, foi implantado no curso de
odontologia da UNIVALI em 1995 uma clínica de
oclusão cujo funcionamento ficou suportado pelos
seguintes requisitos: a) resgate de conhecimentos de
anatomia, histologia e fisiologia; b) bases do atendimento sustentadas por investigação científica; c) estabelecimento de efetiva relação entre teoria e prática
nos procedimentos; d) discussão em grupo, exercitada antes de qualquer procedimento; e) informação
ao paciente com riqueza de detalhes sobre o plano de
tratamento, precedendo qualquer conduta do tramento; f) o tratamento só é realizado após a obtenção
de respostas a vários quesitos relativos ao diagnóstico
e plano de tratamento; g) proservação do caso.
Observou-se que estas estratégias racionalizaram a compreensão do assunto e permitiram o delineamento de uma lógica na realização do diagnóstico e condução dos tratamentos,
entendimento das dificuldades e resolução de problemas com
alguma complexidade pelos alunos do curso de graduação
em odontologia de nossa Escola. Possibilitou ainda melhor
formação na área de oclusão, melhorando o nível de conhecimento dos egressos do curso de graduação que freqüentaram
durante um ano essa clínica.
63. Projeto de Extensão Universitária.
Prevenção e tratamento das alterações
bucais induzidas por quimioterapia e
radioterapia
Marín, C.*, Shein, P., Schein, M., Magnabosco, A. E.
E
ste projeto de extensão universitária foi realizado no setor de Oncologia do hospital Municipal
São José, na cidade de Joinville, SC. Possibilitou aos
alunos desenvolver atendimento a uma comunidade
fora das clínicas da Universidade, trabalhando a parte educativa, preventiva e social, necessitando um
resgate e uma integração dos conhecimentos de estomatologia, periodontia, cariologia, cirurgia, odontologia social e preventiva. Permitiu o estudo de patologias como as mucosites, alteração do fluxo salivar
e cáries de radiação, as quais não são rotineiramente
observados no atendimento clínico dentro da universidade. Além do trabalho integrando diferentes
áreas da odontologia, proporcionou o trabalho integrado com diferentes áreas da medicina como a Hematologia, Oncologia pediátrica, além da enfermagem. Participamos de seminários junto à equipe
médica do hospital, onde professores e alunos pudemos aprender com a equipe médica sobre diferentes
patologias, assim como participar do planejamento
dos tratamentos, levando deste modo a uma visão
integral do paciente. Este tipo de trabalho levou a
uma reflexão e análise da saúde bucal desta população, mostrando que existe uma vasta área para atuação dentro do ambiente hospitalar, a qual é ainda
pouco explorada, levou à discussão quanto à necessidade de elaboração de protocolos de Higiene bucal
para os pacientes ambulatoriais e internados, assim
como de protocolos de atendimento clínico e o quanto estes trabalhos podem e devem ser realizados junto a outras equipes de trabalho. Quanto ao trabalho
comunitário, participamos junto à rede Feminina do
combate ao Câncer e a equipe de enfermagem, da
campanha do dia Mundial de Prevenção ao câncer,
onde os alunos tiveram contato com a população que
procurava informações, além da elaboração de um
painel pelos alunos.
Por meio deste trabalho pudemos verificar a importância
de se realizar um trabalho extramuros, o qual proporciona
uma oportunidade diferenciada de aprendizado, de integração do conhecimento e o aprendizado do trabalho em
grupos e multidisciplinar.
Revista da ABENO • 5(2):155-207
189
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64. Reestruturação curricular
da Faculdade de Odontologia
de Araraquara - UNESP
Cruz, C. A. S.*, Montandon, A. A. B.
Reitoria da Universidade, deverá ser implementado para os
ingressantes em 2006, com a expectativa de melhor formação
científica, técnica e humana de seus acadêmicos.
A
65. Motivação – um exercício diário
na relação professor-aluno
Pietrobon, L.*, Fadel, M. V., Regis-Filho, G. I.
s Diretrizes Curriculares Nacionais (Resolução
CNE/CES nº 3, de 19 de fevereiro de 2002) definiram os objetivos e fundamentaram o planejamento
dos Cursos de Graduação em Odontologia, cujo currículo possui base comum, a ser complementada pelas
Instituições de Ensino Superior. Paralelamente, os
princípios que nortearam a criação e a implementação do SUS foram também fundamentais na definição
das Diretrizes. Para atender a esta nova demanda, é
necessário um profissional generalista, tecnicamente
competente e com sensibilidade social. O objetivo
deste trabalho é mostrar a dinâmica do Conselho de
Curso de Graduação da Faculdade de Odontologia de
Araraquara – UNESP durante o processo de reestruturação do curso, bem como os resultados alcançados.
Assim, para melhor atender ao perfil ideal de profissional a ser formado, as disciplinas foram redistribuídas ao longo de 10 (dez) semestres letivos, permitindo
seqüência mais adequada, melhor sedimentação de
conteúdos e participação em atividades complementares. As sugestões quanto a série, subdivisão de assuntos e número de créditos foram devidamente tabuladas e discutidas em reuniões do Conselho de Curso,
durante os anos de 2002 e 2003. Os conteúdos programáticos essenciais para o curso de Odontologia
(Ciências Biológicas e da Saúde, Ciências Humanas e
Sociais e Ciências Odontológicas), assim como as atividades de estágio curricular e complementares, foram agrupados em Núcleo de Formação Básica, Núcleo de Formação Específica e Estágio Supervisionado.
A clínica por disciplinas (Formação Específica) manteve o seu lugar, mas o ensino deverá ter ênfase interdisciplinar. A integração de conteúdos clínicos, coluna mestra das Diretrizes Curriculares Nacionais, será
viabilizada pelo Estágio Supervisionado. Disciplinas
Optativas e Atividades Complementares trazem, em
seu conteúdo, a forte característica da integralidade
de atendimento ao paciente, permitindo, ainda, a flexibilização do currículo e a incorporação de tecnologia ao tratamento odontológico. O Trabalho de Conclusão proporcionará também flexibilização e,
conseqüentemente, o aprofundamento de assuntos
específicos. A carga horária mínima de cada aluno
será de 4.875 horas, das quais 20% em Estágio Supervisionado.
O processo de reestruturação, já aprovado em 2005 pela
190
M
otivação é a força que estimula as pessoas a agir.
A motivação humana é complexa e está baseada
em uma combinação de expectativas, idéias, crenças,
sentimentos, esperanças, atitudes, valores que iniciam, mantêm e regulam o comportamento. Fatores
diversos como experiências prévias, falta de conhecimento, não aceitação de problemas, diminuição da
auto-imagem, circunstâncias sociais, econômicas e situações emocionais podem determinar comportamentos negativos em relação à saúde e ao aprendizado. Muito se discute sobre a motivação na mais
diferentes áreas do conhecimento, no entanto, em
relação e na relação professor-aluno e dentro do contexto da educação em saúde há a necessidade de uma
observação mais focada, já que a motivação deve ser
uma constante e bilateral força estimulando o professor à disposição e engajamento, e o aluno à compreensão e ao apreender.
Em relação ao ensino-aprendizagem em Odontologia devemse buscar mudanças no paradigma do ensino (transmissão
do saber) atual, ainda baseado em um sistema tradicional
em que o relacionamento é vertical e a comunicação unilateral, para um modelo pedagógico crítico-social em que há
um desenvolvimento da prática social, formação cultural e
consciência crítica tornando o relacionamento horizontal,
com uma comunicação informal, via grupo, estimulando a
motivação de participação tanto do professor quanto do aluno.
66. O cirurgião-dentista egresso da
UNIVALI, em atuação em Santa Catarina,
como se insere na Saúde Pública?
Blatt, J. A.*, Bottan, E. R., Zumblick, M., Holetz, R.
O
curso de Odontologia da Universidade do Vale
do Itajaí (UNIVALI), implantado no primeiro
semestre de 1990, foi o segundo curso de Odontologia
em Santa Catarina. Transcorridos mais de dez anos,
o panorama relativo ao mercado de trabalho da Odontologia, em Santa Catarina e no Brasil, sofreu transformações. No Brasil, conforme dados do Conselho
Federal de Odontologia (CFO), estão em funcionamento 161 cursos de Odontologia que, a cada ano,
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enviam para o mercado de trabalho cerca de 14 mil
novos cirurgiões-dentistas (CD’s). Em Santa Catarina,
são 7 cursos que, anualmente, formarão em torno de
470 CD’s, os quais se somarão aos 6.046 já credenciados no Conselho Regional de Odontologia (CRO/
SC). Portanto, a Odontologia do século XXI deverá
passar por grandes mudanças para atender às transformações do mercado de trabalho, ou seja, às novas
demandas frente aos paradigmas de atenção à saúde
que vêm sendo desenhados em resposta ao novo momento sociocultural. Diante deste panorama, o curso
de Odontologia da UNIVALI levantou informações
referentes ao perfil profissional de seus egressos. Foi
realizada uma investigação do tipo exploratório, enviando-se aos egressos do período 1994-2004, cadastrados no CRO/SC, um questionário com 28 questões
do tipo fechado, distribuídas em informações sobre:
a formação continuada, a atividade profissional, satisfação quanto à profissão, entre outras. O retorno foi
de 33%. O grupo investigado ficou constituído, na sua
maioria, por sujeitos do sexo feminino (57%) e da
faixa etária de 27 a 31 anos (62%). Cerca de 63% já
cursou uma pós-graduação, sendo 80% em nível de
especialização e 19% de mestrado. As áreas de especialização mais cursadas foram Ortodontia (25%),
Endodontia (18%) e Prótese (16%). Quanto à situação profissional, a maioria (49,6%) é liberal/autônomo e, apenas 1,6% atua somente em órgão público.
Acumulando o trabalho autônomo com emprego em
órgão público, são 26,4%, dos quais 40% atua como
CD em Unidades Básicas de Saúde, 23% no Programa
de Saúde da Família, 23% em Equipes de Saúde Bucal.
Apenas 18% cumulam a atividade de CD com outra;
sendo 59% no exercício da docência. E, 62% trabalham com algum tipo de convênio. Um altíssimo percentual (96%) encontra-se satisfeito profissionalmente. Com relação à satisfação financeira, o percentual
de insatisfeitos é de, apenas, 19%. Comparando-se
estes dados com a pesquisa nacional feita pelo CFO,
em 2000, verifica-se que o perfil do egresso da UNIVALI é muito semelhante ao perfil do CD do Brasil.
Conclui-se que a atuação do CD egresso da UNIVALI em
empregos públicos é reduzida, o que nos leva a questionamentos como: Preparamos o acadêmico para atuar na saúde
pública? Os órgãos públicos estão valorizando financeira e
profissionalmente o CD? O que influi para que, num país
com índices de saúde bucal preocupantes, com um elevado
percentual de pessoas de baixo poder aquisitivo, a absorção
do CD na Saúde Pública ainda seja pouco significativa?
(Projeto Financiado pelo FAP/UNIVALI.)
67. Universidade e serviço público,
a parceria que vem dando certo:
a experiência do município de
Rio do Sul (SC)
Campos, M. L.*, Bottan, E. R., Paiano, J. A.,
Sebold, R.
O
Programa de Educação e Saúde Bucal de Rio
do Sul (PROESASUL) foi instituído pela Lei
Municipal 2.641/90, que garantiu a introdução, no
currículo das escolas de Primeiro Grau, da temática
Saúde Bucal, bem como de ações diárias de escovação dental, bochechos com flúor e revelação de placa bacteriana. As atividades são desenvolvidas de
forma individual e coletiva, de diferentes complexidades, conforme a faixa etária. O planejamento e a
execução das ações se pautam numa metodologia
participativa. Mensalmente, a equipe de saúde participa da reunião pedagógica promovida pela Secretaria da Educação. E, anualmente, a equipe de saúde
oferece cursos sobre a temática da Saúde Bucal para
professores. Além destas reuniões, periodicamente,
são realizados encontros com os pais dos escolares.
Para auxiliar no processo de ensino-aprendizagem,
foram elaborados materiais instrucionais. A atuação
do professor, como promotor de saúde, envolve as
seguintes ações: - orientação e acompanhamento de
escovação e de bochechos fluoretados, diariamente; - acompanhamento, semanal, dos procedimentos
de revelação de placa bacteriana; - exposição dialogada sobre um tópico de Saúde Bucal, mensalmente;
- inserção do tema saúde bucal, como um tema transversal, no currículo. A participação dos cirurgiõesdentistas (CD) ocorre, trimestralmente, através de
avaliações das condições de Saúde Bucal dos escolares. O Programa, proposto pelo Departamento de
Odontologia da Prefeitura de Rio do Sul, além de
estabelecer parceria com a Secretaria de Educação
daquele município, desde a sua implantação, também, mantém parceria com a Universidade do Vale
do Itajaí (UNIVALI), desde 1998 e com a Universidade para o desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí
(UNIDAVI), mais recentemente.
Mediante estas parcerias, tem-se viabilizado a aproximação
das agências formadoras de recursos humanos com serviço
público, havendo uma troca constante de conhecimentos
entre os sujeitos envolvidos. Estas parcerias têm fortalecido
o Programa e, dentre outros fatores, têm propiciado a continuidade das ações educativo-preventivas do Programa.
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191
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68. A inserção da Odontologia no
Programa de Saúde da Família: análise
da realidade dos municípios do litoral
norte catarinense
Campos, M. L.*, Bottan, E. R., Campos, L.,
Fantini, K.
A
s questões relativas à saúde têm concentrado a
atenção de diversos segmentos da sociedade. A
difusão do ideal de saúde, como bem universal e desejável a ser atingido, coloca uma série de inquietações
e desafios aos diferentes setores que direta ou indiretamente estão envolvidos com a saúde. No Brasil, estas
inquietações resultaram na implantação do Sistema
Único de Saúde (SUS) e, posteriormente, do Programa de Saúde da Família (PSF). A partir do ano 2000,
o Ministério da Saúde tem destinado incentivo financeiro para a reorganização da atenção à saúde bucal,
mediante a inserção de Equipes de Saúde Bucal (ESB)
no PSF. No entanto, ainda que os preceitos e as normatizações propostos pelo Ministério da Saúde para
a inclusão, estruturação e funcionamento das ESB’s
no PSF contemplem diferentes aspectos técnicos, desde a implantação até a avaliação dos serviços, operacionalizar e viabilizar a proposta é, sem dúvida, um
grande desafio. Dentre os principais obstáculos a serem enfrentados estão: a ausência de indicadores da
eficácia dessa modalidade de atenção à saúde da população, as dificuldades inerentes à proposta da prática interdisciplinar e as questões de capacitação, perfil profissional e gerenciamento de serviços e recursos
nos municípios. É no processo de incorporação da
Odontologia no PSF que residiu o objeto desta investigação: analisar a atuação da ESB no PSF dos municípios da 17ª Secretaria de Desenvolvimento Regional/SC. Aplicou-se um questionário aos gestores
municipais e cirurgiões-dentistas que atuam nas equipes. Dos 11 municípios que integram a 17ª SDR, 8 já
implantaram ESB, sendo todas de modalidade I. A
maioria está em funcionamento a menos de 1 ano,
possuindo área de abrangência definida e estando
ligada a apenas uma Equipe de Saúde da Família
(ESF). A maioria dos CD’s que atuam nestas equipes
trabalha mediante contrato de prestação de serviços,
com remuneração de 5 a 10 salários mínimos. Em 50%
das ESB ocorre pouca ou nenhuma ação em conjunto
com a ESF, apesar dos profissionais de saúde bucal
participarem com freqüência das reuniões da ESF. A
atuação da ESB se concentra no atendimento curativo
e preventivo, com algumas atividades educativas, atra192
vés de palestras e orientações a grupos específicos. O
acesso ao serviço é por demanda espontânea, atendimento de urgência e atendimento de escolares. Na
maioria, a avaliação das ações é feita por reuniões com
os membros da ESB e relatórios de produção.
Portanto, o modelo de atuação da Odontologia no PSF não
avançou com relação à interdisciplinaridade e ainda apresenta-se muito semelhante ao modelo tradicional de atuação
curativista. É urgente, portanto, que as Universidades estimulem o trabalho interdisciplinar e multiprofissional, durante o processo de formação do CD, quer seja pela via do
ensino e/ou pela via da extensão. (Projeto Financiado pelo
Programa de Pesquisa PIPG/UNIVALI.)
69. Serviço Ambulatorial e Hospitalar
em Cirurgia e Traumatologia BucoMaxilo-Facial
Bremm, L. L.*, Tanaka, F. Y., Hoeppner, M. G.,
Tanaka, R. A.
A
Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial é a
especialidade que tem como objetivo o diagnóstico e os tratamentos cirúrgicos e coadjuvantes das
afecções, traumatismos, lesões e anomalias congênitas
ou adquiridas do aparelho mastigatório e anexos, bem
como das estruturas craniofaciais associadas (Conselho Federal de Odontologia, CFO 155/84). Trata-se,
portanto, de uma especialidade Odontológica, como
prevê este regulamento do CFO, somente executável
por cirurgiões-dentistas com especialização na área,
constituindo inclusive, cadeira obrigatória no currículo de graduação. Compreende uma grande diversidade de procedimentos, desde tratamentos realizados
em âmbito ambulatorial, como pequenas cirurgias de
afecções do sistema estomatognático, principalmente
as de origem dentária, até mesmo cirurgias reparadoras e funcionais, realizadas sob anestesia geral. Neste
grupo, incluem-se a cirurgia ortognática, os traumatismos e as cirurgias de reconstrução facial, sendo
estes últimos tratados com enfoque multidisciplinar.
A busca constante do aprimoramento de nossas organizações objetiva a melhoria das condições de vida da
população. O serviço de Cirurgia e Traumatologia
Buco-Maxilo-Facial apresenta aos alunos de graduação do curso de odontologia da UNIPAR os atendimentos que são realizados em âmbito hospitalar e
ambulatorial pelos especialistas da área, pois o seu
serviço de saúde é parte integrante do serviço de saúde total, sendo assim, a Odontologia deve fazer parte
dos hospitais modernos para integrar-se com as outras
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atividades médicas, estabelecendo uma relação multidisciplinar.
A realização de tratamento de complexidade superior, mostrando aos alunos do curso de odontologia casos mais complexos e que são da alçada do cirurgião-dentista em âmbito
hospitalar, bem como o relacionamento multidisciplinar despertam no acadêmico a certeza de que a odontologia faz
parte integrante de uma área médica como especialidade
reforçando assim a amplitude da odontologia, bem como traz
também muita satisfação para aqueles que pensavam em
fazer um curso de medicina.
70. Serviço de atenção à saúde bucal
dos pacientes que procuram a
UOPECCAN (União Oeste Paranaense
de Estudos e Combate ao Câncer) da
Cidade de Cascavel
Bremm, L. L.*, Tanaka, F. Y., Lopes, L. C.,
Furlaneto, E. C.
D
entre as doenças sistêmicas que podem acometer
a cavidade bucal, o câncer deve ser considerado
um problema de saúde pública e merece atenção especial no que diz respeito às medidas de prevenção e
diagnóstico já instaladas, devido aos seus altos índices
de mortalidade e morbidades observados, não só no
Brasil, onde registram-se 90.000 mortes/ano, como
em várias partes do mundo que somam 4 milhões de
óbitos (GENOVESE et al., 1998). O câncer de boca
ocupa posição de destaque entre os tumores malignos
do organismo devido a sua relativa incidência e mortalidade. Segundo estatística publicada em 1996 pelo
Ministério da Saúde (PRO-ONCO), o câncer de boca
no homem acaba sendo o 6º lugar entre as neoplasias
malignas mais incidentes. Assim, considerando a relevância desses dados, torna-se interessante alertar a
população sobre o que é e como se previne o câncer
bucal, tentando alterar estas estatísticas. A participação dos acadêmicos neste projeto possibilita o contato
com pacientes submetidos a tratamento radioterápico
envolvendo a região de face. Assim sendo, os acadêmicos poderão dar assistência de cuidados com a higiene oral e agregar conhecimento dos efeitos que a
radioterapia pode ter na homeostasia da cavidade bucal.
Este projeto permite que os acadêmicos tenham contato em
primeira mão com pacientes que apresentam câncer bucal
em região de face e pescoço, desta maneira eles terão condições
de participarem de tratamentos e decisões que envolvem cuidados especiais. Esta participação, indubitavelmente, torna-
se importante para despertar a conscientização de que o
tratamento preventivo é fundamental para o bom prognóstico dos casos.
71. Triagem: a base do tratamento bucal
integral. Relato da experiência do curso
de Odontologia da Univille
Andrades, K. M. R.*, Ávila, L. F. C.
O
curso de odontologia da Univille é, essencialmente, voltado para a promoção de saúde de
forma a proporcionar a formação de um profissional
generalista apto a realizar o tratamento bucal integral
do paciente. As atividades clínicas são divididas de
acordo com o grau de complexidade das necessidades
de tratamento apresentadas pelos pacientes, a saber:
clínica de baixa complexidade (3º ano), clínica de
média complexidade (4º ano) e clínica de alta complexidade (5º ano). O objetivo é que o aluno realize
um tratamento odontológico integral do paciente,
restaurando ou mantendo a sua saúde bucal. A triagem representa um papel chave neste processo, pois
encaminha pacientes de acordo com uma lista de complexidades de tratamento elaborada pelo corpo docente das atividades clínicas. O paciente é encaminhado baseado na sua mais alta complexidade de
tratamento. Essa triagem permite ao aluno elaborar
um plano de tratamento completo e adequado para
cada paciente, compatível com seu grau de conhecimento e habilidade. A triagem, no curso de Odontologia da Univille, é uma atividade didática realizada
por alunos do 4º ano, sob orientação direta do professor responsável. Nesse dia o aluno tem a oportunidade de examinar, em média, 6 pacientes por período,
ampliando a sua capacidade de diagnóstico clínico e
planejamento do tratamento. Os pacientes com dor,
são encaminhados para o serviço de urgência, que
funciona integradamente com as clínicas de média e
alta complexidade. Atualmente os pacientes são encaminhados para o serviço de triagem do curso pelo
SUS, através dos cirurgiões-dentistas que trabalham
nos ambulatórios da Secretaria Municipal de Saúde
de Joinville. No momento da triagem, os pacientes são
orientados pelos alunos sobre o tratamento, rotinas
do curso e prevenção do câncer bucal. Os pacientes
que tiveram seu tratamento concluído e receberam
alta são retriados para proservação do seu tratamento
e, se necessário, reencaminhados para uma das clínicas integradas.
Esse processo é extremamente importante pois permite que o
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aluno, desde seu primeiro contato com o paciente, já tenha
uma visão do tratamento integral de forma a possibilitar a
restauração ou manutenção da saúde bucal além de humanizar o atendimento odontológico.
72. Estágio Extramuros - Aprendizado
Multidisciplinar: Módulo “Centrinho”
França, C. M. C.*, Schramm, C. A., Vizzotto, D.,
Schubert, E. W.
A
chegada de um bebê com fissura lábio-palatina a
uma família sempre constitui motivo de receio
para os pais, que temem não oferecer à criança o que
há de melhor para a sua total reabilitação física e mental, além de colocar à prova todo o equilíbrio psicossocial da família. O curso de odontologia da UNIVILLE, seguindo a diretriz político-pedagógica de ensino,
enfatiza a formação de um cirurgião-dentista com atuação generalista, com visão humanista e com treinamento para atuar em equipes multidisciplinares.
Dentro desta premissa, a disciplina de Estágio Extramuros - Módulo Centrinho proporciona ao acadêmico o contato com pacientes portadores de fissura lábio-palatina, lábio-fissurados e familiares, e com a
equipe multidisciplinar que atua na reabilitação destes pacientes. O município de Joinville (SC), sede do
“Núcleo de Pesquisa e Reabilitação de Lesões LábioPalatais”, mais conhecido como “Centrinho”, presta
atendimento especializado e multidisciplinar aos pacientes portadores de fissuras lábio-palatais oriundos
de diferentes cidades do estado. O Núcleo reúne – em
uma unidade – profissionais de várias especialidades
médicas e sociais, que, através da atuação integrada,
potencializam resultados e promovem saúde, recuperando física e psicologicamente pacientes e familiares.
As fissuras de lábio, de palato e de lábio e palato têm
prevalência relativamente alta em todas as raças humanas e são popularmente conhecidas como “lábio
leporino” ou “goela de lobo”. A incidência média de
fissurados encontrada na cidade de Joinville (SC) é
de 1,24 para cada mil nascidos vivos, semelhante a
outras incidências mundiais. Esta elevada incidência
justifica a importância da capacitação dos futuros
odontólogos ao atendimento de pacientes com necessidades tão específicas. A criança fissurada pode sofrer
uma série de seqüelas por toda vida, podendo ter alterações funcionais na sucção, deglutição, mastigação, respiração, fonação, audição, além de problemas
emocionais e estéticos. A atuação da equipe multidisciplinar na reabilitação dos indivíduos portadores de
194
fissuras lábio-palatais tem como objetivo tornar o paciente apto a se integrar no meio socioeconômicocultural, como um indivíduo ativo.
O papel do Centrinho, junto com a Faculdade de Odontologia da Univille, através da Disciplina de Estágio Extramuros, é de extrema importância na orientação dos pais de
pacientes fissurados lábio-palatais, a fim de tranquilizá-los
e fornecer-lhes informações sobre o tratamento adequado para
que este bebê seja estimulado e seu crescimento e desenvolvimento ocorram de maneira integral. O aluno além de observar a atuação específica dos diferentes profissionais observa
a importância desta atuação multidisciplinar para o paciente, tornando-o mais apto para o trabalho em equipes multidisciplinares, além de lhe oferecer uma visão diferenciada
da atuação do cirurgião-dentista.
73. Estágios extramuros - aprendizado
multidisciplinar: módulo Ancianato
Bethesda
Schramm, C. A.*, França, C. M. C., Schubert, E. W.,
Vizzotto, D.
C
om o elevado crescimento da população idosa
no Brasil, é necessário capacitar os profissionais
da saúde para a realização de atendimentos em Ancianatos, domicílios e Hospitais, na intenção de melhorar a qualidade de vida destes pacientes mediante
reabilitação, manutenção e promoção de sua saúde
oral. O estágio Extramuros módulo Ancianato Bethesda acontece dentro das dependências do referido
Ancianato que mantém 130 idosos residentes e que
com sua proposta de “promover vida” mantém também uma escola para Técnicos em Gerontologia Social. O objetivo deste módulo é delinear níveis de
treinamento onde o aluno possa observar e interagir
multidisciplinarmente, sempre numa postura holística frente ao indivíduo, desenvolvendo habilidades
para diagnóstico, planejamento e tratamentos curativos, preventivos, paliativos e promoção da saúde bucal
de pacientes odontogeriátricos institucionalizados; e
ainda no desenvolvimento de programas de treinamento e motivação à higienização oral dos idosos e
cuidadores. Tal interação visa também despertar à
realização de projetos de iniciação científica, concernentes a esta comunidade específica. O Estágio é de
periodicidade semanal, conta com a presença de um
professor supervisor e uma equipe constituída de 5 a
6 alunos do 5º ano de Odontologia que permanecem
no módulo de 4 a 6 semanas. O atendimento é realizado em consultório fixo convencional e também com
equipamento portátil para atuar em pacientes frágeis
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com dificuldades de deslocamento, proporcionando
não só saúde oral aos pacientes idosos residentes, mas
também motivando e orientando cuidadores da Escola de Gerontologia inserida no Ancianato, que irão
aplicar seu aprendizado nos idosos de suas comunidades de origem, disseminando o conhecimento
odontológico preventivo.
Esta atividade acadêmica diferenciada desperta o aluno ao
mercado emergente da odontogeriatria e à necessidade da
busca constante da educação continuada, capacitando o
formando a reconhecer os condicionantes socioeconômicoculturais que interferem no modo de vida destes pacientes
com características tão específicas que afetam diretamente os
índices epidemiológicos e determinam medidas específicas de
promoção da saúde com uma postura holística multidisciplinar.
74. A educação interativa no Curso
de Odontologia da Universidade
do Sagrado Coração com as novas
tecnologias de informação
Sgavioli, C. A. P. P.*, Sequeira, E.,
Carvalho, I. M. M., Marta, S. N.
A
evolução das tecnologias de comunicação associada às mudanças em relação ao papel do professor no processo ensino-aprendizagem levou nos
últimos anos os educadores à busca de meios e técnicas para o conhecimento sobre a maneira adequada
de inseri-las ao ofertar a Educação. Isto acontece em
todos os campos de saber e na prática da Educação
para a formação de profissionais de saúde já começou
em algumas áreas. Na Odontologia o processo está em
instalação. Os docentes do Curso de Odontologia da
Universidade do Sagrado Coração, sabedores de que
vale a pena trabalhar no sentido de buscar e abrir
novas possibilidades para o ensino na área, estão se
empenhando na geração de conhecimento a partir
da utilização das TICs. Durante a graduação de um
cirurgião-dentista é possível a inserção da Educação a
Distância para se trabalhar muitos conteúdos. Por se
tratar de profissão com grande necessidade de desenvolvimento de habilidades e competências para atividades práticas no atendimento direto ao ser humano
fica clara atualmente a necessidade da mescla de atividades a distância e práticas supervisionadas presenciais de atividades laboratoriais e clínicas. Além de
conteúdos teóricos elaborados de maneira a facilitar
e propiciar o aprendizado do aluno mediado por tecnologias é possível também, com a utilização de mo-
dernas iconografias, a construção de objetos de aprendizagem em 3D de todo o sistema humano, em
especial o sistema estomatognático demonstrando a
anatomia, a fisiologia dos tecidos e suas possíveis alterações estruturais e patológicas. Todo este material e
ainda a possibilidade do uso das TICs para a transmissão ao vivo de procedimentos operatórios, para realização de vídeo ou teleconferências são também recursos úteis para uso na EaD em Odontologia. A utilização
de modelos mais abertos, flexíveis e ricos através de
recursos tecnológicos possibilita a interação baseada
nestes recursos disponibilizando o controle do conhecimento ao próprio aluno, que passa a definir suas
estratégias de apreensão do conhecimento.
Neste novo modelo de prática de ensino o essencial é o docente estar preparado para a correta escolha da ferramenta, do
software, da plataforma de ensino, da metodologia de ensino,
do “design” do material, do tipo de tecnologia, do método de
avaliação, etc. adequados ao conteúdo que pretende desenvolver (e envolver) pela EaD; sendo necessária para isto a
interação com uma equipe de profissionais de outras áreas
tais como informática, pedagogia e “design”. A busca constante de conhecer e inserir-se na Tecnologia Educacional
poderá levar a docência na área de Odontologia ao processo
educativo da Educação Aberta.
75. Estágio de Docência – uma
experiência pedagógica em promoção
de saúde
Fadel, M. A. V.*, Pietrobon, L., Regis-Filho, G. I.
A
s disciplinas de Estágio Supervisionado I e II são
campo de estágio de docência do Programa de
Pós-graduação em Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina, Mestrado em Odontologia,
área de concentração em Saúde Coletiva. Os mestrandos participam durante dois semestres das disciplinas
de estágio supervisionado I e II, perfazendo o total de
144 horas de estágio. Todos os mestrandos ficam sob
a supervisão e avaliação de um professor da disciplina,
devendo participar de reuniões, elaborar e corrigir
provas, orientar e corrigir projetos de atividades, ministrar aulas teóricas, elaborar material didático e
atender alunos extraclasse e acompanhar os alunos
de graduação durante as atividades nas instituições
conveniadas com a universidade. De acordo com a
UNESCO, os quatro pilares da educação para o presente século são: aprender a conhecer, aprender a
fazer, aprender a conviver e aprender a ser. O estágio
de docência permite trabalhar dentro deste contexto
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e contribui para transformar os paradigmas atualmente sedimentados e fundamentados na promoção de
doença (visão curativa) e não na promoção de saúde.
O estágio supervisionado contribui sobremaneira para a
formação de profissionais comprometidos com a promoção de
saúde, propiciando aos futuros docentes uma rica experiência pedagógica.
76. O uso da metodologia
problematizadora na Educação
em Odontologia
Fadel, M. A. V.*, Ribeiro, D. M., Rauen, M. S.,
Prado, M. L.
D
iante das constantes mudanças ocorridas na nossa sociedade, grande ênfase tem sido dada às
questões que cercam o processo de ensino-aprendizagem, especialmente no ensino superior. Com as exigências colocadas pelo mundo contemporâneo são
requeridos dos educadores novos objetivos, habilidades e capacidade de percepção de mudanças. Constata-se que a pedagogia tradicional, que está baseada na
transmissão de conhecimento, na importância do conteúdo e na experiência do professor, e sua metodologia têm sido insuficientes para enfrentar as realidades
atuais. As necessidades humanas e o compromisso de
transformação social não aparecem na seleção dos
conteúdos e na metodologia. Assim, o ponto central
das discussões tem girado em torno da defasagem entre a formação acadêmica e a realidade. É fundamental que alunos e professores interpretem a realidade
para nela poderem intervir, já que todo processo educativo precisa ser uma prática transformadora, tanto
do indivíduo quanto da realidade em que este se insere.
Nesse contexto, este trabalho discute a metodologia problematizadora na odontologia que, baseada em outra concepção de homem e de mundo, supera a relação vertical da
educação, estabelecendo uma relação de diálogo, possibilitando a formação de um profissional crítico e capaz de
identificar os determinantes sociais mais amplos que condicionam a sua prática.
77. Projeto de Assessoria Acadêmica
do Curso de Odontologia da UNIPAR
Miura, C. S. N.*, Bombonatti, J. F. S.,
Ceranto, D. C. F. B., Tanaka, R. A.
O
acadêmico, ao ingressar na Universidade, depara-se com uma realidade diferente à encontrada
196
no ensino médio. Acostumado a estudar apenas por
apostilas e por métodos mnemônicos somente para
memorizar conteúdos para o concurso vestibular, ele
encontra grandes dificuldades de adaptação, principalmente nos cursos da área de saúde que apresentam
um grande volume de informações. Surpreendidos
pelo volume de informações, agem defensivamente
num vale-tudo para a obtenção das notas. Apesar de
saberem que este não é o melhor caminho, desconhecem outros métodos, perpetuando a “tradição” da
prática de fotocópias de cadernos, slides, transparências como material bibliográfico e a grande dependência das informações de aulas teóricas e práticas
como única fonte do saber. Tal prática resolve o problema do aluno a curto prazo, mas não forma o profissional capacitado a aprender. Falta-lhe o aprender
a aprender. Muitas vezes, o acadêmico tenta reverter
o quadro, dedicando-se à leitura de pesados livros,
elaborando seus próprios esquemas e resumos, mas
em ações esporádicas, porque o estudo se tornou uma
tarefa extremamente fastidiosa e extenuante. A aquisição do conhecimento, através de aulas e livros, quando carece de métodos eficazes, causa aversão ao aluno.
Muito tempo é dedicado às informações técnico-científicas, e quase nenhum, à forma de otimizar a obtenção de tal conhecimento. Muitos descobrem empiricamente as melhores formas de estudar, mas outros
sofrem as conseqüências destas dificuldades, resultando num pior aproveitamento do curso. É nesse contexto que este projeto de ensino vem auxiliar os alunos
que apresentam dificuldades a desenvolverem métodos e comportamentos que facilitem o aprendizado.
Assim, logo após as avaliações referentes ao primeiro
bimestre os acadêmicos que apresentaram desempenho insatisfatório nos domínios cognitivos, psicomotores e afetivos são convidados a participarem do
primeiro encontro, onde o objetivo principal é o autodiagnóstico de cada um: “Qual é o meu problema?”,
e a elaboração de um contrato, onde são definidos
direitos e deveres dos participantes, firmando o compromisso tanto dos docentes como dos acadêmicos
envolvidos no projeto. Os demais encontros são agendados durante o ano letivo, no início e término de
cada bimestre, buscando sempre a discussão de fatores
motivacionais ao estudo, orientando e estimulando os
acadêmicos a melhorarem seu aproveitamento, e em
conseqüência, a qualidade do curso.
O projeto tem demonstrado contribuir para a auto-avaliação
do acadêmico desde o início do ano, quando ainda há tempo de resgatar o conteúdo que não teve bom aproveitamento,
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reduzindo os índices de reprovação e contribuindo no processo de educação continuada.
78. Oficinas de Planejamento ClínicoIntegrado
Miura, C. S. N.*, Ceranto, D. C. F. B.,
Bombonatti, J. F. S., Gomes, V. E.
O
diagnóstico e planejamento são partes fundamentais na obtenção de bons resultados no tratamento odontológico e, em muitos casos, o planejamento apresenta-se tão complexo quanto a própria
execução dos mesmos. Os casos complexos envolvendo três ou mais especialidades odontológicas apresentam-se como desafios maiores ao planejamento por
parte dos acadêmicos. Tal fato se deve pelas oportunidades limitadas para executar e exercitar o planejamento dos pacientes por eles atendidos seja por inexperiência nos primeiros anos do curso ou pelo
relativo pequeno número de pacientes atendidos durante a vida acadêmica. Dada a natureza e o tempo
consumido no atendimento odontológico, previamente ao projeto, o acadêmico planejava somente os
casos por ele atendidos. No projeto “Oficinas de Planejamento Clínico-Integrado” são realizados tão somente os planejamentos, permitindo-lhes experimentar uma casuística mais diversificada, dado o maior
número de planejamentos realizados. O projeto conta com a participação de todos os acadêmicos do último ano do curso de Odontologia da UNIPAR, em
datas previamente agendadas. O paciente é recebido
e são realizados: a anamnese, exame físico e clínico,
o preenchimento do odontograma e periograma, realização de exames radiográficos e moldagem necessários à elaboração do diagnóstico e plano de tratamento. O acadêmico, sob orientação de docentes da
Clínica Integrada elabora um ou mais planos de tratamento posteriormente apresentados ao paciente. O
caso poderá ser executado pelo próprio acadêmico
ou direcionado ao setor de triagem para reencaminhamento a acadêmicos de segundo ou terceiro anos.
Esta atividade apresenta-se como um estágio preliminar à implementação do Currículo Integrado, de forma que os acadêmicos de segundo e terceiro ano, que
têm menor fundamentação teórico-prático para o planejamento, sigam um caso já planejado; e que os acadêmicos de quarto ano, com menores dificuldades na
execução de procedimentos e maiores no planejamento, exercitem-no intensivamente.
Os resultados preliminares obtidos foram: a construção um
banco de casos minuciosamente planejados, um direcionamento mais adequado de casos ao aprendizado dos acadêmicos de segundo e terceiro ano e a melhora nas habilidades
de planejamento dos acadêmicos do último ano do Curso de
Odontologia da UNIPAR.
79. Ensino de Técnicas de Cirurgia
em Mandíbula de Suíno
Paza, A. O.*, Kricheldorf, F., Andrades, K. M. R.
O
ensino da técnica cirúrgica em Odontologia é
motivo de dificuldade e de discussão entre docentes. O emprego de língua bovina para a realização
de técnicas de diérese e síntese é amplamente utilizado por diversas escolas, assim como a utilização de
ratos, rãs e cães em Farmacologia e Fisiologia. Uma
dificuldade encontrada pelos docentes de Cirurgia
Odontológica da Univille/SC foi a formulação de didática apropriada para o ensino de manobras de diérese e exérese aos alunos. Revisando a literatura, encontramos o suíno como animal de vasta utilização
em cirurgia geral, como cirúrgias hepáticas, cardíacas
e do sistema digestório, além de alternativa ao ensino
da Cirurgia Odontológica. Estimulados pelo baixo
custo e pela facilidade de obtenção das peças, há 2
anos passamos a utilizar as mandíbulas de suíno para
o ensino e treinamento de incisões, divulsões, odontosecções, ostectomias, exodontias e suturas. Julgamos ser uma excelente alternativa para o ensino das
manobras cirúrgicas, e é propósito deste trabalho
apresentar esta metodologia aplicada ao ensino da
Cirurgia Odontológica nos cursos de graduação.
O emprego de mandíbulas suínas mostrou-se um excelente
método de ensino das manobras de diérese, exérese e síntese
em Cirurgia Odontológica no curso de graduação em Odontologia.
80. Levantamento sobre conhecimentos
e atitudes tomadas por professores de
1ª a 4ª séries de escolas particulares
do município de Lages frente à
avulsão dental
Ramos, I. F. A.*, Masiero, A. V.,
Tondello, R. O., Biavatti, T. L.
O
objetivo do presente estudo foi avaliar o nível de
conhecimento e atitudes tomadas frente a avulsão dental por professores de escolas particulares do
município de Lages que lecionam para alunos de 1ª
a 4ª séries. Utilizaram-se para isso, questionários específicos contendo 5 perguntas, sendo 4 de múltipla
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escolha e 1 descritiva, sobre avulsão e pronto-atendimento. Inicialmente fez-se um levantamento do número de professores que foi de 91, constituindo assim
a amostra do trabalho. Os questionários foram entregues por duas alunas do curso de graduação em Odontologia da Universidade do Planalto Catarinense aos
responsáveis de cada escola explicando o objetivo do
trabalho e também a forma como os questionários
deveriam ser entregues aos professores. Após uma
semana os questionários foram recolhidos e tabulados
de acordo com uma grade de respostas previamente
organizada. Os resultados demonstram que frente a
um caso de avulsão, 61,4% guardariam o dente e encaminhariam a criança ao Cirurgião-Dentista imediatamente. Entretanto, 9,9% não saberiam como armazenar o elemento avulsionado; 88,5% acham que o
reimplante é possível, mas apenas 18,5% realizariam
o procedimento. E destes, a maioria realizaria de forma inadequada demonstrando a falta de conhecimento das pessoas sobre este assunto.
Pode-se concluir que, apesar dos professores pesquisados apresentarem algum conhecimento sobre avulsão dental, eles não
poderiam contribuir favoravelmente para o prognóstico do
caso, podendo ainda, vir a interferir negativamente no futuro do tratamento. Isto mostrou a necessidade urgente de
instituição de programas de prevenção e tratamento imediato para casos de avulsão.
81. Clínica Odontológica Universitária:
Perfil e Expectativas dos Usuários
e Alunos
Silveira, J. L. G. C.*, Tiedmann, C. R., Linhares, E.
A
formação universitária na área da saúde, incluindo a Odontologia, tem sido alvo de constantes
críticas, no contexto acadêmico, social e governamental, especialmente na perspectiva da humanização e
do acolhimento, exigindo-se a adequação do perfil de
formandos mais identificados com as necessidades da
população e capazes de reverter o grave quadro epidemiológico do país, destacando-se nesse processo as
diretrizes curriculares para os cursos de Odontologia
(ABENO - MEC). O objetivo desta pesquisa é revelar
dimensões da relação acadêmico-paciente na clínica
odontológica universitária, descrevendo: perfil socioeconômico-cultural dos acadêmicos e dos usuários,
as noções de responsabilidade e ética dos acadêmicos,
a satisfação dos usuários com o atendimento e as expectativas desses sujeitos. A abordagem foi qualitativa,
com técnica de entrevista não-diretiva entre usuários
198
(n = 57) e alunos matriculados na clínica integrada
da 8ª e 9ª fases (n = 39). Para a análise dos dados quantitativos, referentes ao perfil dos acadêmicos e usuários, utilizou-se a comparação entre as freqüências
relativas encontradas para os dois grupos. A análise
qualitativa foi desenvolvida a partir da criação de categorias (resolutividade técnica; humanização do
atendimento; satisfação) baseadas nos relatos. Resultados: 1) Perfil dos acadêmicos: 87% de 21 a 25 anos;
61,5% mulheres; 77% renda superior a 11 SM; 54%
cursaram outro idioma; escolaridade dos pais 51%
superior; profissão dos pais 59% profissional liberal/
empresário. Perfil dos usuários: 49% entre 31 e 50
anos; 65% mulheres; 80% renda até 4 SM; 3,5% nível
superior; 17,5% cursaram outro idioma; 42% profissão doméstica remunerada ou não. 2) Expectativa dos
acadêmicos: aprendizado técnico, humanização da
relação paciente/profissional, resolução do problema
e satisfação do paciente. 3) Expectativa do usuário:
conclusão e resolutividade do problema; ser bem atendido. 4) Noções de responsabilidade ética como regras e normas profissionais. 5) Satisfação dos usuários:
98%.
Há uma diferença socioeconômico-cultural significativa entre os acadêmicos e os usuários. A natureza da relação ainda é prioritariamente técnica, porém incorporando valores
éticos como regra profissional (deontologia) na maioria dos
casos. Há um forte reconhecimento da atuação dos acadêmicos, com elevada satisfação manifestada pelos usuários.
A clínica universitária deve ser um espaço para o aprendizado técnico mas também para o desenvolvimento dos aspectos humano e social da relação com o paciente, procurando
atingir os princípios do respeito à autonomia do usuário,
da beneficência, e da justiça na relação paciente/profissional.
82. Estágio Supervisionado no Curso
de Odontologia da UNIPLAC: um
compromisso social com a realidade
Busato, C. A.*, Cavazzola, A. S., Ampessan, F. B.,
Schütz, I.
A
disciplina de estágio supervisionado do curso de
Odontologia da UNIPLAC é oferecida no nono
semestre, conta com a participação de quatro docentes e um supervisor no setor de triagem. Neste estágio
os alunos desenvolvem as atividades fora e dentro da
Universidade. Cinco locais servem de campo de trabalho para os alunos, são eles: Irmandade Nossa Senhora das Graças, Centro Cultural, Colégio Industrial
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de Lages, Escola de Educação Básica Armando Ramos
de Carvalho, Creche Sepé Tiarajú e o serviço de Triagem do curso de Odontologia. Os alunos desenvolvem
atividades de promoção, prevenção e recuperação da
saúde dos indivíduos que freqüentam estas instituições. Na Irmandade Nossa Senhora das Graças são
beneficiadas 300 crianças na faixa etária entre 3 e 18
anos, no Centro Cultural, 90 crianças de 3 a 10 anos,
na Crehe Sepé Tiarajú, 80 crianças na faixa etária de
4 meses a 6 anos, no Colégio Industrial de Lages, 500
adolescentes do ensino médio e na Escola de Educação Básica Armando Ramos de Carvalho, 300 do ensino fundamental. Com exceção da Escola Básica, os
outros locais de estágio contam com consultório
odontológico adequadamente equipado para que os
alunos desenvolvam atividades curativas. No serviço
de triagem os alunos estabelecem o plano de tratamento mais indicado para o paciente e fazem o encaminhamento para a devida disciplina. Cada local de
estágio está situado em regiões diferentes da cidade
de Lages e apresentam características particulares,
sendo essenciais momentos de discussão e reflexão
sobre os trabalhos desenvolvidos, nos quais geralmente são apontadas as dificuldades, os objetivos alcançados, os anseios dos acadêmicos e da comunidade que
está sendo atendida. Nestes momentos de discussão
são levantadas questões como a dificuldade de trabalhar com materiais diferentes daqueles utilizados nas
clínicas da Universidade, o aspecto socioeconômicocultural que envolve estas pessoas, as questões éticas
envolvendo o atendimento de menores sob a responsabilidade de professores, a falta de infra-estrutura
para realização de procedimentos de promoção e prevenção da saúde bucal, a dificuldade de algumas pessoas de terem acesso aos serviços de saúde. Entretanto pontos positivos como o reconhecimento do
trabalho dos acadêmicos pelos pacientes, comunidade e pelas Instituições atendidas foi gratificante, o
acolhimento por estas Instituições, aprender a trabalhar com menos tecnologia, porém sem perder a qualidade ética e científica, são pontos fundamentais para
o bom desenvolvimento do estágio supervisionado.
Assim o acadêmico fica mais perto da realidade tanto do
ponto de vista das condições de trabalho oferecidas pelo mercado atualmente, bem como da real condição de vida da
população em geral, cumprindo assim o papel da “Universidade promotora de conhecimento, saúde e prestadora de
serviço”.
83. Empenho dos acadêmicos do estágio
supervisionado na promoção de saúde
bucal em crianças de 0 a 6 anos de idade
Busato, C. A.*, Cavazzola, A. S., Antunes, R. H.,
Chimello, R. A.
A
Creche Sepé Tiarajú está situada no bairro Passo
Fundo no município de Lages (SC), freqüentam
esta creche municipal cerca de 80 crianças de baixa
renda, e com idade entre 0 e 6 anos. As crianças de 0
a 4 permanecem em período integral na creche e as
de 5 e 6 ficam em período matutino ou vespertino.
Nesta instituição são desenvolvidas atividades do estágio supervisionado, projeto de extensão (Sorriso saudável: criança feliz) e já foi desenvolvido um trabalho
de conclusão de curso. Os acadêmicos realizam levantamentos epidemiológicos (ceo-d; IHO-s), palestras,
escovação supervisionada, orientação de higiene bucal nos bebês, adequação do meio bucal nas crianças
com maior necessidade e encaminhamento dos casos
mais complexos para clínica de Odontopediatria da
UNIPLAC. O projeto de extensão já vem sendo desenvolvido desde 2003, sendo renovado desde então.
Neste local os acadêmicos têm contato com crianças
que não têm acesso a serviços de saúde. Durante o
desenvolvimento do Estágio Supervisionado a idade
das crianças torna o trabalho mais desafiador para os
acadêmicos, exigindo mais habilidade, paciência e
conhecimento teórico a respeito de educação em saúde e comportamento infantil, sendo que a falta de
participação dos pais dificulta o processo de promoção de saúde.
Entretanto as atividades realizadas nesta Instituição são de
extrema relevância pois hábitos saudáveis são inseridos na
vida da criança precocemente, sendo a educação o fator
preponderante para obtenção e manutenção da saúde bucal.
84. Construindo e reinventando tempos e
espaços na educação odontopediátrica
Costa, F. O. C.*, Fernandes, A. P. S., Amante, C. J.
A
s doenças periodontais juntamente com a doença
cárie constituem as afecções de maior prevalência
na cavidade bucal. Assim como a cárie, a doença periodontal pode também acometer crianças e levar à perda
precoce de elementos dentais quando não tratadas
adequadamente. Devido à raridade em sua ocorrência,
muitas vezes estas doenças passam despercebidas pelo
cirurgião-dentista, podendo acarretar a perda dental,
devido ao elevado grau de severidade destas. Existe a
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necessidade de inclusão de um programa de promoção
de saúde bucal em crianças internadas em enfermarias,
tanto pelo alto grau de acometimento psicológico e
orgânico, quanto pelas limitações ocasionadas pela situação. Sendo assim, este trabalho se propõe a realizar
um projeto de extensão para a orientação de higiene
bucal nas crianças internadas na enfermaria pediátrica
do Hospital Universitário da Universidade Federal de
Santa Catarina, utilizando o brinquedo como recurso
mediador durante o atendimento odontológico. É certo também que a orientação de higiene bucal é um
fator muito importante para a prevenção destas doenças, o que é muito relevante. Baseando-se nestes aspectos criou-se uma proposta de implantação de um projeto para a orientação de higiene bucal utilizando o
brinquedo como recurso mediador em pacientes internadas na Enfermaria Pediátrica do Hospital Universitário – UFSC. No presente trabalho há a participação
dos alunos da 5ª e 8ª fases do curso de odontologia, os
quais são selecionados através de entrevista e avaliação
de histórico escolar. Como objetivo tem-se a orientação
de higiene bucal em crianças internadas na Enfermaria
Pediátrica do Hospital Universitário – UFSC utilizando
o “brinquedo” como recurso mediador para que haja
uma melhor compreensão e entendimento, bem como
orientação dos pais e/ou responsáveis, além da coleta
de dados que possam contribuir para o desenvolvimento técnico-científico da instituição, e, criar uma integração entre os diversos profissionais que atuam no setor
pediátrico do Hospital Universitário, permitindo uma
maior troca de informação e de conhecimento em busca da melhor qualidade no atendimento e conseqüentemente na vida deste paciente.
A viabilidade deste trabalho se deve ao material desenvolvido pelos professores e acadêmicos, além do material educativo como fitas de vídeo, cartazes ilustrativos e “kits” de higiene bucal gentilmente cedidos pela COLGATE e também pela
Condor. Educação para a prevenção é a grande meta, sempre procurando uma interação multidisciplinar no processo
ensino-aprendizagem.
85. A importância do processo de
construção de estudo de caso nas
atividades clínicas da disciplina de
Odontologia para Pacientes Especiais
da Faculdade de Odontologia da
Universidade do Vale do Itajaí
Patrianova, M. E.
A
odontologia hoje se vê muito envolvida com a
complexidade em sua atividade diária. Além de
200
planejamentos bucais integrados com especialidades
odontológicas, tem-se a relação com pacientes portadores de necessidades especiais, cujas ações odontológicas são interdependentes da condição/limitação
sistêmica. O perfil do cirurgião-dentista da Faculdade
de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí é
de um profissional generalista, cujas ações humanizadas estejam sustentadas nos pilares de prevenção, educação e reabilitação. Inserida neste perfil, a disciplina
de Odontologia para Pacientes Especiais procura
apresentar uma visão desta complexidade bucal e geral através de aulas teóricas e de aplicação clínica.
Dentre as atividades clínicas ressalta-se a técnica de
estudo de caso, onde são trabalhados vários aspectos
da abordagem ao paciente especial, sabendo-se que o
aluno já dispõe de conhecimento científico acerca das
problemáticas abordadas e pensamento crítico para
emitir opiniões e conceitos e pode estar formulando
e planejando ações integradas. O estudo de caso como
processo torna-se então um recurso importante para
sedimentar o aprendizado. No decorrer do atendimento clínico, o professor, mediador neste processo,
sugere a melhor abordagem para o caso clínico, podendo ser observacional, intervencional ou de interrelação com outras áreas, sempre associando a condição geral com a condição bucal do paciente especial.
O estudo de caso, após várias revisões, discussões, apreciações e encaminhamentos, é então definitivamente
concluído, podendo conter fotos, tabelas e gráficos.
Geralmente nesta fase o aluno já tem passado pela
atividade de pesquisa monográfica do curso, facilitando a condução da atividade didática proposta. A apresentação dos trabalhos é feita através de recurso multimídia aos colegas e aberta ao público. Ao final, o
conteúdo é inserido nas últimas avaliações da disciplina e os acadêmicos recebem um CDROM dos casos.
A atividade de estudo de caso na graduação como processo
oferece ao aluno condições de formular estratégias de ação e
senso crítico a partir do contato com o seu paciente reforçando o conhecimento odontológico adquirido e inserido em uma
situação nova que é a do paciente especial. O professor como
mediador conduz a seqüência de construção do conhecimento, devendo ser não só um mero orientador, mas um questionador e formador de novas opiniões e conhecimento junto
ao acadêmico, enfatizando sempre a visão interdisciplinar
e transdisciplinar que envolve o paciente portador de necessidade especial. Dentro das necessidades atuais de integralidade na saúde, os objetivos desta técnica também reforçam
necessidade de formação do cirurgião-dentista voltado para
ações inter, pluri e transdisciplinares.
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86. Projeto de extensão da UNIVILLE
com a comunidade – Projeto Semente
do Sorriso
Cruz, G. V.*, Schein, P. L., Coelho, M. H.,
Patussi, R. S.
A
Semente do Sorriso é um projeto de extensão do
Curso de Odontologia da Universidade da Região de Joinville (Univille) em parceria com a Prefeitura Municipal de Joinville (PMJ) e Associação de Pais
e Funcionários dos CEI (Centro Educacional Infantil)
(APFA). Os alunos do 3º e 4º ano de graduação prestam atendimento odontológico curativo e atividades
educativas e preventivas em crianças de 0 a 6 anos de
idade matriculadas nas creches municipais de Joinville/SC. Este trabalho ocorre em um ônibus equipado
com um consultório odontológico e médico, onde
existe a integração dos alunos da odontologia com os
alunos da medicina, disponibilizando assim, uma
maior atenção à essas crianças. Este projeto tem como
objetivos: *Prestar atendimento odontológico às
crianças do CEI. *Propiciar aos alunos a prática de
uma odontologia em saúde pública, onde os recursos
mais sofisticados nem sempre estão disponíveis. *Incentivar os estagiários a participarem de trabalhos e
pesquisa científica na Universidade.
Após três anos de execução do projeto temos como resultado
não somente uma diminuição da atividade da doença cárie
nessa comunidade como também alunos comprometidos com
ações de promoção de saúde e voltados para a pesquisa científica.
87. Estágios extramuros: aprendizado
multidisciplinar
Cruz, G. V.*, Schramm, C., França, C. M. C.,
Schubert, E. W.
C
onquistar um espaço no mercado de trabalho
requer muito mais do que ser qualificado por
uma instituição de ensino superior. Para o profissional
obter sucesso, mais do que conhecer conceitos e dominar técnicas, precisa entender de “pessoas”. Há uma
necessidade premente de despertar a sensibilidade
para enxergar o indivíduo que está a sua frente, de
entender o contexto em que está inserido, o momento em que ocorre o desequilíbrio do processo saúdedoença e o adoecimento propriamente dito. Assim, a
academia, entidade formadora de recursos humanos,
frente a esta nova realidade, detém a responsabilidade
de fundamentar conhecimentos teóricos-práticos,
bem como proporcionar atividades extracurriculares,
preparando o acadêmico para tal. A diretriz do Pro-
jeto Político-Pedagógico enfatiza a formação de um
profissional generalista/humanista, com apurado
senso crítico para intervir no momento correto. Assim, o Curso de Odontologia, mediante a Disciplina
de Estágios Extramuros, desenvolve módulos específicos junto aos acadêmicos com o intuito de fundamentar o conhecimento do processo saúde-doença,
aliando a teoria à prática. Também possibilita ao acadêmico vivenciar a rotina do dia-a-dia, em instituições
com características completamente diferenciadas entre si e da vivida na academia. Os Estágios Extramuros
são desenvolvidos com a presença de professores supervisores e periodicidade semanal. As equipes são
constituídas de cinco a seis alunos do 5º ano de Odontologia e que permanecem em cada módulo por um
período de quatro a seis semanas. Foram selecionados
seis locais, levando em consideração características
peculiares ao modelo de serviço, para contemplar o
aprendizado do aluno. São eles: Núcleo de Pesquisa
e Reabilitação de Lesões Lábio-palatais, Unidade de
Atenção Básica, Equipe Saúde da Família, Ancionato
Bethesda, Hospital Dona Helana, “Sorria Vila da Glória”.
O conhecimento dos índices edidemiológicos, condicionantes
socioeconômicos e culturais e dificuldades de um determinado público alvo são ferramentas que permitem fundamentar
a equipe de cada módulo na eleição de medidas específicas
de promoção à saúde, prevenção às doenças e recuperação
do dano, adotando uma postura holística frente ao indivíduo e suas reais necessidades. Para atingir os objetivos propostos, o aluno necessita resgatar o conhecimento adquirido
até então, somá-los aos fatores locais detectados e então elaborar uma proposta de saúde, adotando um novo olhar e
postura, frente a especificidade daquela comunidade.
88. Métodos de avaliação de
aprendizagem empregados no curso
de graduação de Odontologia da FOA UNESP
Ferreira, N. F.*, Saliba, N. A., Raphael, H. S.,
Gonçalves, P. E.
H
istoricamente, os métodos de avaliação de aprendizagem têm sido os mesmos, com aplicação de
provas escritas, orais e práticas. No entanto são muitas
vezes criticados pelos acadêmicos, porém muito pouco discutidas modificações da forma de avaliação. A
avaliação dos métodos de avaliação está inserida em
um contexto de extrema importância no processo de
ensino-aprendizagem. Quando estes métodos são avaliados pelos próprios sujeitos que vão utilizá-los há
Revista da ABENO • 5(2):155-207
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Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005
uma análise crítica e conseqüentemente renovação e
transformação desses métodos, para uma melhor fixação dos conhecimentos e formação de recursos
humanos. Assim, julgar, examinar criticamente e fazer
recomendações é criar condições para o desenvolvimento da qualidade educacional. O presente estudo
visou identificar os métodos de avaliação empregados
pelas disciplinas dos alunos de graduação em Odontologia da FOA – Araçatuba – UNESP e a percepção
dos mesmos sobre os respectivos métodos. A população de estudo abrangeu os acadêmicos matriculados
(n = 501) no curso de graduação em Odontologia da
FOA – UNESP, Araçatuba - SP. Estes foram divididos
em grupos de 4 a 6 (n = 86) para que o instrumento
de coleta de dados, um questionário, fosse discutido
e respondido. Os dados foram digitados e analisados
pelo Sofware Epi Info 2000 versão 3.4. Os resultados
mostraram que todas as disciplinas empregam a prova
escrita, 44,0% a prova prática e minoria (18,2%) seminários; a nota final é obtida por média aritmética.
No que tange à percepção dos acadêmicos em relação
ao método de avaliação que trouxe maior contribuição para formação, 74,4% citaram prova escrita, 83,7%
prova prática e 51,2% seminários. Já os métodos que
não contribuíram na visão dos graduandos, foram:
prova oral (18,6%) e trabalho escrito (39,5%). Observou-se que 91,9% das respostas foram negativas em
relação à discussão dos métodos de avaliação entre
docentes e discentes, além dos graduandos relatarem
a intransigência por parte dos docentes na proposta
de sugestões e críticas.
Conclui-se que os graduandos em sua maioria estão de acordo com os métodos de avaliação empregados, que, no entanto, estão sendo colocados em prática de forma não pactuada.
É importante ressaltar, portanto, uma proposta metodológica que visa desvendar a realidade para transformá-la; sua
maior contribuição é a mudança de mentalidade, exigindo,
dos atores envolvidos no processo educativo, a reavaliação
de seus papéis, ressignificando coletivamente o processo de
ensino-aprendizagem. (Apoio: CAPES.)
89. Seminários de Integração: Uma
Experiência de Ensino Integrado na UFPB
Duarte, R. M.*, Martins, F. A. P., Sousa, E. M. D.,
Barreto, R. C.
O
Curso de Odontologia da UFPB encontra-se atualmente em fase de implantação do novo Projeto Político Pedagógico, cuja construção foi norteada
pelas Diretrizes Curriculares Nacionais. A melhor caracterização da Integração dos conteúdos, ministra202
dos fragmentados nos componentes curriculares,
ocorre nos componentes Seminários de Integração,
que objetivam promover discussão a respeito das matérias desenvolvidas antes, durante e até mesmo nos
semestres subseqüentes, e proporcionar aprendizado
contínuo. Os Seminários de Integração encontram-se
distribuídos ao londo do curso, do primeiro ao nono
período. As atividades desenvolvidas neste componente curricular promovem a integração horizontal e
vertical dos componentes integrantes do período correspondente, buscando superar a fragmentação do
ensino e permitindo, conseqüentemente, a formação
integral do aluno. A metodologia desenvolvida é a da
problematização e correlação dos conteúdos abordados no período entre si; e com práticas futuras, centrada no discente, e desenvolvida através de seminários
de situações-problema, casos clínicos e propedêutica.
A construção de temas desenvolvidos se realiza com a
participação de um professor-coordenador e dos docentes responsáveis pelas matérias inerentes ao tema
selecionado para a discussão. Este componente curricular objetiva: enfatizar a importância da integração
dos conhecimentos básicos abordados com os das ciências clínicas para que estas sejam desenvolvidas de
forma plena e segura; estimular a participação ativa
do aluno no processo de integração curricular para
que possa desenvolver visão mais crítica e reflexiva da
prática acadêmica; e enfatizar a importância da interdisciplinaridade e transdisciplinaridade para a compreensão da integralidade das ações.
A Experiência com o desenvolvimento do componente curricular seminário de integração no Curso de Odontologia da
UFPB tem acarretado maior integração do corpo docente do
curso e proporcionado espaço para reflexão das práticas acadêmicas adotadas. Adicionalmente, tem proporcionado ao
discente espaço para o desenvolvimento de espírito crítico e
analítico da prática profissional com vistas à promoção de
saúde.
90. Uma Proposta de Ensino
Complementar da Odontologia Hospitalar
em Disciplina Extramuro
Kricheldorf, F.
O
campo da odontologia vem sendo ampliado nas
mais diferentes áreas de atuação na saúde como
um todo. Inclui-se o cuidado e assistência à saúde bucal em pacientes que se encontram sob tratamento
em nível hospitalar. Com o passar dos anos e aprofundamento no estudo epidemiológico das diferentes
doenças, nota-se sobremaneira a influência da manu-
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tenção no cuidado do aparelho estomatognático. Surgem conceitos e protocolos de atendimento nas comunidades com e sem acesso aos postos de
atendimento de saúde. Tais conceitos definidos como
“atenção básica à saúde” têm influência direta no custo financeiro dos gestores de saúde, nos seus níveis
administrativos correspondentes. No entanto, sobra
uma lacuna vazia nas situações em que pacientes internados a nível hospitalar podem quebrar todo um
trabalho de base realizado nas comunidades, deixando a saúde bucal em segundo plano. Desta maneira,
poderão surgir doenças que promoveriam a agudização da doença pela qual o paciente foi internado.
Assim sendo, este trabalho apresentará uma metodologia simples para o atendimento, controle e manutenção da saúde bucal a nível hospitalar nos setores
de maternidade, pediatria e Unidade de Terapia Intensiva (UTI) dando continuidade do trabalho realizado a nível ambulatorial pelas equipes de PSF e saúde como um todo, possibilitando sobremaneira a
dissipação dos conceitos e cuidados da saúde bucal
fortalecendo o aprendizado pelo acadêmico num
campo extramuro.
Assim sendo, este trabalho apresentará uma metodologia
simples para o atendimento, controle e manutenção da saúde bucal a nível hospitalar nos setores de maternidade, pediatria e Unidade de Terapia Intensiva (UTI) dando continuidade do trabalho realizado a nível ambulatorial pelas
equipes de PSF e saúde como um todo, possibilitando sobremaneira a dissipação dos conceitos e cuidados da saúde
bucal fortalecendo o aprendizado pelo acadêmico num campo extramuro.
micos (N = 500) do Curso de Odontologia da Faculdade de Odontologia de Araçatuba – Unesp, em relação ao ambiente educacional. Foi utilizado um
instrumento, com questões, no qual o acadêmico expressava sua opinião de acordo com o grau de concordância. Os resultados (n = 280) mostraram que
46,1% concordaram com os estímulos voltados para
atenção e participação nas aulas, 53,1% concordaram
que seus professores são reconhecidos, 32,1% não
concordaram intensamente e 9,0% mostraram-se indecisos. Em relação à grade horária, 42,8% afirmaram
não concordar, relatando que é “pesada, muito grande e mal esquematizada”, e que não resta tempo para
estágios extracurriculares. No que tange ao ambiente
da faculdade ser flexível durante o ensino, 34,8% concordaram e 36,9% relataram indecisão. Grande parte
dos discentes (50,3%) afirmaram que os docentes são
humanos e pacientes, no entanto 29,1% afirmam que
são autoritários.
Conclui-se que, o ambiente educacional para os discentes
está representado de maneira positiva em relação à qualificação de docentes e humanitarismo no entanto com restrições
à carga horária, que na ótica dos acadêmicos poderia ser
menor, restando tempo para atividades extracurriculares, o
que atenderia às Diretrizes Curriculares. Sendo a educação
um campo atravessado por múltiplos saberes, múltiplas implicações e diversos interesses, via de regra as mudanças
ocorrem por normas ditadas, em detrimento das necessidades
e dos desejos expressos por segmentos acadêmicos e sociais
brasileiros. (Apoio: CAPES.)
91. Ambiente educacional na ótica
do acadêmico de Odontologia
Saliba, N. A.*, Saliba, O., Botacin, P. R.,
Ferreira, N. F.
92. Participação de alunos de
Odontologia em atividades de
educação em saúde nos Centros
de Educação Infantil
Pinto, L. M. C. P.*, Boer, F. A. C., Frossard, W. T. G.,
Scarpelli, B. B.
A
O
avaliação do ambiente educacional pelos acadêmicos auxilia não somente um processo de tomada de decisões, como também de formação de consciência crítica, ato político intrínseco a qualquer
projeto de educação sério e comprometido com a
qualidade, e refere-se à determinação da eficácia global da entidade com o propósito de medir e interpretar os resultados ao término e após a conclusão do
programa de um curso. O curso de Odontologia da
FOA-Unesp é constituído por disciplinas, com regime
anual e passa atualmente por um processo de reestruturação para atender às Diretrizes Curriculares. O
presente estudo visou avaliar a percepção dos acadê-
objetivo deste trabalho foi avaliar crianças dos
Centros de Educação Infantil da UEL para desenvolver, nos alunos de graduação do curso de Odontologia, a capacidade de operacionalizar soluções dos
problemas encontrados através do processo de educação permanente em saúde. O trabalho foi desenvolvido no Centro Odontológico da UEL e nos dois Centros de Educação Infantil (CEI) desta instituição.
Participaram deste estudo 60 alunos da quarta série
do referido curso e docentes da disciplina de Odontopediatria. Inicialmente uma reunião foi realizada
com o objetivo de informar os educadores dos respectivos CEI a respeito do trabalho que seria desenvolvi-
Revista da ABENO • 5(2):155-207
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Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005
do e promover a integração de todos os participantes
do projeto. Para a investigação direta da realidade nos
CEI e conhecimento da saúde bucal foram avaliadas
249 crianças na faixa etária de 6 meses a 6 anos de
idade. Os dados coletados foram registrados em ficha
clínica e analisados com o propósito de operacionalizar soluções para a promoção de saúde bucal. Após
análise dos dados encontrados os alunos buscaram
informações por meio de levantamento bibliográfico,
orientaram educadores dos CEI sobre hábitos de higiene bucal e alimentação, realizaram e ensinaram
técnicas de escovação nas crianças, desenvolveram
trabalhos educativos (cartilhas e jogos) com a finalidade de motivar as crianças a promover e manter a
saúde bucal.
Conclui-se que de acordo com a situação bucal das crianças
dos CEI os alunos do curso de Odontologia foram capazes
de desenvolver métodos educativos adequados para a promoção da saúde bucal dessa comunidade.
93. Avaliação da utilização do
Cybertutor na construção do
conhecimento na Odontologia
Veronezi, M. C.*, Domingues, L. A.,
Pegoraro, C. N., Wen, C. L.
O
curso de Odontologia da Univeridade do Sagrado Coração, juntamente com a Faculdade de
Medicina da USP, desenvolveu cursos “on-line”, chamados Cybertutor e utilizados como ferramentas educacionais no ensino da graduação. O Cybertutor (tutor eletrônico) é uma ferramenta interativa que
permite o aprendizado de conceitos teóricos pois trata-se de um modelo construtivista estimulando o desenvolvimento da cognição, capacidade de expressão
e síntese. É composto por um ambiente que contém
fórum de debates e tutorização “on-line”, que permite aos alunos uma participação maior na discussão
sobre o assunto, além de exercícios para avaliação de
fixação dos conteúdos. A disciplina de dentística da
USC utilizou esta ferramenta de ensino com os alunos
como um primeiro contato com o conteúdo desenvolvido pela mesma. A classe foi dividida em dois grupos iguais (G1 e G2), sendo que o G1 teve o primeiro
contato com o conteúdo em forma de aula expositiva
tradicional e em seguida com o Cybertutor. Os procedimentos com o G2 foram invertidos, ou seja, primeiro contato com o Cybertutor seguido da aula expositiva tradicional. Desta forma, os dois grupos de alunos
tiveram contato com as duas formas de ensino em
204
momentos alternados. O objetivo deste trabalho é
mostrar a avaliação dos alunos sobre o método empregado, assim como a apreensão de conhecimento
dos mesmos com o presente método.
Os resultados obtidos a partir da avaliação aplicada mostraram que com relação ao aprendizado os dois métodos foram equivalentes, entretanto o tempo gasto para que os alunos entendessem o conteúdo sob a forma tradicional de aula
expositiva foi consideravelmente menor para o G2 (Cybertutor antes da aula tradicional).
94. Nem tudo é estágio
Senna, M. I. B.*, Lucas, S. D.,
Drumond, M. M., Werneck, M. A. F.
O
artigo versa sobre o Estágio Supervisionado, tratando-o como uma oportunidade fundamental
de consolidação do espaço pedagógico capaz de enfrentar, positivamente, os desafios lançados pelas Diretrizes Curriculares para os Cursos de graduação em
Odontologia. Mostra que não se trata de uma proposta nova, mas, uma luta pela transformação das práticas
de ensino em cujas origens, e posterior trajetória, se
encontram, desde os anos 70, o movimento de integração docente assistencial e a proposição do Conselho Federal de Educação, através da Resolução CFE
nº 04 de 1982. Aborda o espaço dos serviços públicos
de saúde e o mundo do trabalho como aspectos centrais de uma nova prática pedagógica, com potencial
para, a partir de situações concretas do cotidiano dos
serviços, se alcançar um perfil profissional com consciência crítica e capacidade de compreender a realidade e intervir sobre ela. Aponta para os riscos de se
compreender – e confundir estágio com prática intramuros, cujos resultados não se constituem em avanços, mas, reprodução, sob o nome de Estágio, de práticas tradicionais, com ênfase em aspectos tecnicistas
e biologicistas sem potencial para alcançar as mudanças propostas pelas Diretrizes Curriculares. Ao ressaltar a importância do estágio na formação profissional,
os autores buscam estabelecer um diálogo inteligente
com a ABENO, contestando algumas de suas posições
expressas no artigo publicado em revista da entidade
em 2002, intitulado “Diretrizes da ABENO para a definição do estágio supervisionado nos cursos de Odontologia”, em atitude que se propõe ao debate/diálogo.
Aí, argumenta-se à luz de práticas já em andamento e
que comprovam a eficácia desta modalidade pedagógica tanto para alunos, professores e Faculdades,
Revista da ABENO • 5(2):155-207
Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005
quanto para os serviços e os profissionais que neles
trabalham.
Neste sentido, o artigo mostra a necessidade de uma ampla
discussão, mais profunda e participativa, agregando o
maior número possível de Faculdades de Odontologia, na
constante construção do tema, enquanto diretriz/bandeira
necessária, abraçada por todos os atores envolvidos com a
formação em saúde bucal.
processo ensino/aprendizagem no curso de Odontologia a utilização do Homem Virtual associada a ambientes virtuais de aprendizagem interativa redefine
o papel do aluno que passa a ser parceiro e colaborador na construção de seu conhecimento.
Projeto Homem Virtual, ferramenta no processo ensino/
aprendizagem para o aluno de graduação, pós-graduação e
aluno egresso. Seu uso traz novos recursos e dinamismo no
processo.
95. Projeto Homem Virtual associado
à aprendizagem significativa em
Odontologia
Soares, S.*, Sgaviolli, C. A. P. P., Castilio, D.,
Wen, C. L.
96. Clínica Integrada do 10º semestre
de Odontologia da UNIPLAC: Uma nova
abordagem pedagógica
Diez, G. F.*, Araldi, M. A., Galli, M. P., Derossi, C. A.
P
A
retende-se mostrar a aplicação do Homem Virtual no Curso de Odontologia da Universidade do
Sagrado Coração, em conteúdos das disciplinas Escultura Dental e Oclusão e Disfunção Crânio Mandibular. Através de ações de cooperação acadêmica-educacional entre USC e Disciplina de Telemedicina da
Faculdade de Medicina - USP vem sendo desenvolvido
o Projeto Homem Virtual na área do sistema estomatognático, desde o ano de 2003. O Homem Virtual
representa um método de comunicação dinâmica e
dirigida que reúne, de forma gráfica e interativa, uma
grande quantidade de informações. A possibilidade
de visualização em 3 dimensões, de estabelecer correlações anatômicas, de aplicar recursos de transparências e subtração (exclusão) de estruturas anatômicas,
e inclusão de dinâmica funcional, o torna uma iconografia inédita para a disponibilização de grandes
quantidades de informações em curto espaço de tempo, aumentando a eficiência educacional dos alunos.
Associado às simulações de movimentos fisiológicos e
patológicos, e recursos terapêuticos, este recurso educacional proporciona a integração dos conhecimentos, desperta curiosidade dos alunos e aumenta a velocidade do aprendizado. A construção destas
iconografias é resultante de um trabalho conjunto
entre especialistas da área odontológica com médicos
especialistas em mídia interativa da Telemedicina e
equipe de artistas gráficos. A tecnologia do modelo
anatômico em 3D é importante para ensino presencial
ou à distância e o projeto proporciona a modernização dos recursos iconográficos educacionais utilizados na Odontologia. O Homem Virtual, como um
objeto de aprendizagem, deve ser inserido em ambientes que favoreçam a aprendizagem significativa
aos alunos, pois colocá-lo apenas como objeto de conhecimento pode não ser suficiente para envolvê-los
e despertar-lhes motivação pela aprendizagem. No
clínica integrada do 10º semestre da faculdade
de odontologia da UNIPLAC é composta de aulas
teóricas e prática clínica executadas dentro do campus,
perfazendo um total de 300 h/a. No começo do semestre, é solicitado que os alunos forneçam temas que
tiveram maior dificuldade no decorrer do curso, para
que os mesmos sejam elaborados e retransmitidos de
sorte a sanar todas as dúvidas advindas no momento
da instrução, capacitando-os a melhor desempenhar
suas habilidades clínicas nos procedimentos ambulatoriais. Desta forma de interação professor-aluno e
aluno-professor, o processo de ensino-aprendizagem
é sedimentado de modo mais eficaz. Em virtude do
contato prévio dos acadêmicos com a atividade clínica
diária, os temas propostos pelos mesmos são mais facilmente assimilados. Na clínica ficam à disposição dos
alunos, professores de cinco especialidades distintas:
periodontia, dentística, prótese, endodontia e cirurgia. No entanto, é necessário que qualquer um dos
professores tenha um perfil de capacitação multidisciplinar, podendo orientar os acadêmicos em qualquer das especialidades. Ficando a cargo do professor
com a titulação da disciplina, os procedimentos mais
complexos de sua área. A avaliação da disciplina é
composta de conceitos teóricos, momento onde cada
professor aplica um caso clínico multidisciplinar, e
avaliações práticas diárias. Cada caso clínico simula
situações reais nas quais o aluno deve fazer um planejamento global de acordo com os conhecimentos adquiridos durante sua graduação. A resolução de tais
problemas habilita-os, também, a realizarem concursos públicos que atualmente preconizam graus de
taxionomia crescente. Outra maneira de completar a
avaliação do ensino aprendizagem é feita através da
Revista da ABENO • 5(2):155-207
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Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005
apresentação de um caso clínico ao final do semestre.
Os alunos da curso de odontologia da UNIPLAC estão sendo capacitados a fazerem um correto planejamento integrado
de seus pacientes, modelo de currículo integrado que deverá
ser implantado de forma semelhante nas fases anteriores do
curso durante a nova reestruturação curricular.
97. Uma experiência de integração
Docência/Assistência com portadores
de necessidades especiais
Carvalho, E. M. C.*, Carneiro, R., Guerra, I.
B
uscando a integração da Universidade com o serviço, particularmente na área da assistência
odontológica, a FOUFBA firmou parceria com uma
das unidades da Secretaria Estadual de Saúde e foi
selecionado o Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira,
que tem por missão institucional oferecer assistência
especializada em saúde mental, buscando fundamentalmente a humanização, a recuperação e a melhoria
da qualidade de vida dos seus usuários, reintegrandoos à sociedade e restaurando os seus direitos de Cidadão. O objetivo deste trabalho foi o de promover,
restaurar e manter a saúde bucal dos pacientes desta
instituição, e assim possibilitar ao acadêmico do Curso de Odontologia a experiência de se sentir membro
de uma equipe multidisciplinar no contexto da atenção integral à saúde humana, neste caso pontual com
pacientes portadores de transtorno mental e comportamental. Buscou-se também, com esta atividade extensionista, propiciar aos alunos envolvidos a aplicação dos aspectos cognitivos, psicomotor e afetivo do
processo de aprendizagem.
Concluímos que este tipo de ação educacional extramuro,
desenvolvida no sistema de preceptoria, trouxe um efeito
positivo tanto para os alunos como para a clientela, mas
destacamos o benefício particular em cada aluno que resultou
na desmistificação sobre a doença mental.
98. Contribuição do estágio
supervisionado da UFPI para formação
humanística, social e integrada
Mendes, R. F.*, Moura, M. S.,
Prado Júnior, R. R., Moura, L. F. A. D.
A
s Diretrizes Curriculares do Curso de Graduação
em Odontologia e a incorporação do CirurgiãoDentista no Programa de Saúde da Família (PSF) tornaram imprescindíveis mudanças e/ou adequações
206
do ensino da Odontologia para adaptar o currículo
do curso ao perfil do profissional exigido pelo mercado de trabalho. Muita ênfase tem-se dado à formação
do CD com base social, econômica, política e cultural
do Brasil, valorizando-se novamente o clínico geral.
Desta forma, estando a Universidade Federal do Piauí
em um dos estados mais carentes do Brasil, durante o
curso de Odontologia, tem-se buscado mostrar ao acadêmico as carências e as necessidades da população
que será por ele assistida. As especialidades inseridas
no Estágio Supervisionado (ES) se integram, na medida do possível, para que o paciente seja atendido
como um todo, não individualizando cada uma das
suas necessidades. Neste contexto, os alunos do último
período do Curso são envolvidos em atividades intra
(atendimento nas clínicas da Universidade e no Hospital Universitário) e extramuros para que tenham
oportunidade de presenciar e vivenciar a realidade
das comunidades. Os alunos do último período que
integram o Estágio Supervisionado em Odontologia
executam atendimento no Instituto de Perinatologia
da Maternidade D. Evangelina Rosa (convênio com a
Secretaria Estadual de Saúde), onde atendem gestantes e bebês e nos postos de saúde da Prefeitura (convênio com a Fundação Municipal de Saúde),
trabalhando com as equipes do Programa Saúde da
Família.
As atividades extramuros abrem à convivência e interação
das universidades com as comunidades e familiarizam e
capacitam os estudantes a trabalhar na realidade que enfrentarão no mercado de trabalho. Os atendimentos extramuros dão maior pluralidade e flexibilidade à pesquisa e ao
ensino que ali se constroem, através de trocas de abordagens
e experiências entre os profissionais que atuam no serviço
público e os alunos que trazem os conhecimentos nos moldes
acadêmicos.
99. Estágios extramuros: aprendizado
multidisciplinar
Vizzotto, D.*, França, C., Schubert, E., Schramm, C.
O
crescente número de profissionais que ingressam no mercado de trabalho, somado às dificuldades econômicas enfrentadas pela maioria da população provocam uma restrição ao mercado de trabalho
privado, sendo o serviço público uma alternativa promissora. Assim, cabe à Academia a responsabilidade
urgente de se adequar para essa realidade. O Projeto
Político-Pedagógico do curso de Odontologia tem
como diretriz a formação de um profissional genera-
Revista da ABENO • 5(2):155-207
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lista/humanitário, com apurado senso crítico e comprometido socialmente com a comunidade. Para isso,
a Disciplina de Extramuros desenvolve o programa de
Estágios em Unidades Básicas de Saúde, em parceria
com o serviço público, para que o aluno vivencie in
loco essa realidade. O objetivo é possibilitar ao aluno
a experiência da rotina das Unidades Básicas de Saúde, bem como conhecer as necessidades da população
adscrita mediante o diagnóstico e o comportamento
do processo saúde-doença na área específica. Também, de auxiliar a equipe no planejamento loco-situacional, com conhecimentos atualizados, associando
teoria à prática na eleição de medidas específicas de
promoção à saúde, prevenção às doenças e recuperação do dano. O estágio é realizado semanalmente na
Unidade de Saúde do Bairro Adhemar Garcia, tendo
duração média de 4 semanas por equipe, que é constituída de 4 a 6 alunos. Os alunos desenvolvem atividades diferenciadas na Unidade, alternando-as, para
que todos tenham acesso às atividades descritas a seguir: interagir com a equipes sobre a forma de atuação
no serviço público, realizar o diagnóstico e o planejamento local; interação multiprofissional; auxílio ao
dentista na intervenção clínica; atividades educativas
com usuários na sala de espera; exames visual (estimativa rápida) e orientação em saúde bucal nas escolas,
creches e jardim de infância adscritos à Unidade; pesquisa com usuários da Unidade de Saúde. Os resultados podem ser avaliados considerando que, ao conhecer os serviços públicos, o acadêmico interage em uma
realidade diferenciada da vivida na Academia e atua
como multiplicador, na medida em que soma esforços
com as equipes locais, mesmo que essa otimização seja
pontual e distante da real necessidade, e contribui
para renovar o entusiasmo dos profissionais, fortalecendo vínculos entre equipe e comunidade.
Assim, a proposta de estágios em Unidades Básicas de Saúde estrutura-se em complexidade de atuação na medida em
que o mesmo transcorre e os obstáculos são ultrapassados.
Talvez seja difícil quantificar a valia que essa singular
oportunidade representa na formação do futuro profissional. Ao inserir o aluno frente às dificuldades encontradas
no serviço público, abre-se um caminho em que a experiência visa despertar o senso crítico, a responsabilidade e o
compromisso social do futuro profissional com a saúde da
comunidade onde está inserido, amplamente enfatizados
no Projeto Político-Pedagógico do Curso de Odontologia da
UNIVILLE.
A Revista da ABENO – Associação Brasileira de
Ensino Odontológico – tem como missão primordial:
• assegurar o contínuo
progresso da formação
profissional;
Envie seu artigo!
Veja as normas
para a submissão
de originais na
página 208.
• produzir benefícios
diretamente voltados
para a coletividade;
• produzir junto aos
especialistas a reflexão e
análise crítica dos assuntos da
área em nível local, regional,
nacional e internacional.
Revista da ABENO • 5(2):155-207
-5954
ISSN 1679
• contribuir para a obtenção de indicadores de
qualidade do ensino odontológico respeitando
os desejos de formação discente e
capacitação docente;
DA
O
ABEN
REVISTA
asileira
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Associa
tológico
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de Ensin
5
volume 2
número ezembro
julho/d
2005
O
ABEa deNEnsino Odontológico
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Associaç
207
Normas para apresentação
de originais
I. Originais - Os originais deverão ser redigidos em
português ou inglês e digitados na fonte Arial tamanho 12,
em página tamanho A4, com espaço 1,5 e margem de 3 cm
de cada um dos lados, perfazendo o total de no máximo 17
páginas, incluindo quadros, tabelas e ilustrações (gráficos,
desenhos, esquemas, fotografias etc.) ou no máximo 25.000
caracteres contando os espaços.
II. Ilustrações - As ilustrações (gráficos, desenhos,
esquemas, fotografias etc.) deverão ser limitadas ao
mínimo indispensável, apresentadas em páginas separadas
e numeradas consecutivamente em algarismos arábicos.
As respectivas legendas deverão ser concisas e localizadas
abaixo e precedidas da numeração correspondente. Nas
tabelas e quadros a legenda deverá ser colocada na parte
superior. As fotografias deverão ser fornecidas em mídia
digital, em formato tif ou jpg, tamanho 10 x 15 cm, em no
mínimo 300 dpi. Não serão aceitas fotografias em Word ou
Power Point. Deverão ser indicados os locais no texto para
inserção das ilustrações e de suas citações.
III. Encaminhamento de originais - Solicitase o encaminhamento dos originais de acordo com as
especificações descritas no item I para o endereço eletrônico
www.abeno.org.br. A submissão “on-line” é simples e segura
pelo padrão informatizado disponível no site, no ícone
“Revista Online”. Somente opte pelo encaminhamento pelo
correio diante da necessidade de publicação de ilustrações
em formato tif/jpg e alta resolução (veja especificações
no item II). Endereço: REVISTA DA ABENO - Associação
Brasileira de Ensino Odontológico - Universidade Católica
de Brasília - Curso de Odontologia - Nova Sede QS 07 Lote
01 - Bairro Águas Claras - CEP: 72030-170 – Brasília - DF.
IV. A estrutura do original
1. Cabeçalho: Quando os artigos forem em português,
colocar título e subtítulo em português e inglês; quando
os artigos forem em inglês, colocar título e subtítulo em
inglês e português. O título deve ser breve e indicativo
da exata finalidade do trabalho e o subtítulo deve
contemplar um aspecto importante do trabalho.
2. Autores: Indicação de apenas um título universitário
e/ou uma vinculação à instituição de ensino ou pesquisa
que indique a sua autoridade em relação ao assunto.
3. Resumo: Representa a condensação do conteúdo,
expondo metodologia, resultados e conclusões, não
excedendo 250 palavras e em um único parágrafo.
4. Descritores: Palavras ou expressões que identifiquem
o conteúdo do artigo. Para sua determinação, consultar
a lista de “Descritores em Ciências da Saúde - DeCS”
(http://decs.bvs.br) (no máximo 5).
5. Texto: Deverá seguir, dentro do possível, a seguinte
estrutura:
208
a) Introdução: deve apresentar com clareza o objetivo
do trabalho e sua relação com os outros trabalhos na
mesma linha ou área. Extensas revisões de literatura
devem ser evitadas e quando possível substituídas por
referências aos trabalhos bibliográficos mais recentes,
onde certos aspectos e revisões já tenham sido
apresentados. Lembre-se que trabalhos e resumos
de teses devem sofrer modificações de forma a se
apresentarem adequadamente para a publicação na
Revista, seguindo-se rigorosamente as normas aqui
publicadas.
b) Material e métodos: a descrição dos métodos usados
deve ser suficientemente clara para possibilitar a
perfeita compreensão e repetição do trabalho, não
sendo extensa. Técnicas já publicadas, a menos que
tenham sido modificadas, devem ser apenas citadas
(obrigatoriamente).
c) Resultados: deverão ser apresentados com o mínimo
possível de discussão ou interpretação pessoal,
acompanhados de tabelas e/ou material ilustrativo
adequado, quando necessário. Dados estatísticos
devem ser submetidos a análises apropriadas.
d) Discussão: deve ser restrita ao significado dos
dados obtidos, resultados alcançados, relação do
conhecimento já existente, sendo evitadas hipóteses
não fundamentadas nos resultados.
e) Conclusões: devem estar baseadas no próprio texto.
f) Agradecimentos (quando houver).
6. Abstract: Resumo do texto em inglês. Sua redação
deve ser paralela à do resumo em português.
7. Descriptors: Versão dos descritores para o inglês.
Para sua determinação, consultar a lista de “Descritores
em Ciências da Saúde - DeCS” (http://decs.bvs.br) (no
máximo 5).
8. Referências bibliográficas: Devem ser ordenadas
alfabeticamente, numeradas e normatizadas de acordo
com o Estilo Vancouver, conforme orientações do
“Uniform Requirements for Manuscripts Submitted
to Biomedical Journals” (http://www.icmje.org). Para as
citações no corpo do texto deve-se utilizar o sistema
numérico, no qual são indicados no texto somente os
números-índices na forma sobrescrita. A citação de
nomes de autores só é permitida quando estritamente
necessária. Todas as citações devem ser acompanhadas
de sua referência bibliográfica completa e todas as
referências devem estar citadas no corpo do texto. As
abreviaturas dos títulos dos periódicos deverão estar
de acordo com o “List of Journals Indexed in Index
Medicus”. A exatidão das referências bibliográficas é de
responsabilidade dos autores.
V. Endereço - E-mail, telefone e fax de todos os autores.
Obs.: Qualquer alteração de endereço, telefone ou e-mail
deve ser imediatamente comunicada à Revista. 
Revista da ABENO • 5(2):208
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volume5, n° 2 - Associação Brasileira de Ensino Odontológico