Associação Brasileira de Ensino Odontológico Revista da Associação Brasileira de Ensino Odontológico - volume 5 - número 2 - julho/dezembro - 2005 ABENO ISSN 1679-5954 REVISTA DA REVISTA DA ABENO Associação Brasileira de Ensino Odontológico ABENO volume 5 número 2 julho/dezembro 2005 Associação Brasileira de Ensino Odontológico ABENO Associação Brasileira de Ensino Odontológico Copyright © Associação Brasileira de Ensino Odontológico, 2005 Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução no todo ou em parte, por qualquer meio, sem autorização da ABENO. Catalogação-na-publicação Serviço de Documentação Odontológica Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo Revista da ABENO/Associação Brasileira de Ensino Odontológico – vol. 1, n. 1, (2001). – São Paulo : ABENO, 2001Semestral ISSN# 1679-5954 A partir de 2005, vol. 5, n. 1 a publicação passa a ser semestral. 1. Odontologia – Periódicos I. Associação Brasileira de Ensino Superior (São Paulo) II. ABENO CDD 617.6 BLACK D05 ABENO Associação Brasileira de Ensino Odontológico Presidente Antonio Cesar Perri de Carvalho Universidade Católica de Brasília - Curso de Odontologia Nova Sede QS 07 Lote 01 - CEP 72030-170 Águas Claras - Brasília - DF Tel.: (61) 356-9611 E-mail: [email protected] Editor Científico José Luiz Lage-Marques Produção editorial Ricardo Borges Costa IMC - Image Maker Comunicações Rua Alice Macuco Alves, 148, cj. 2 - CEP 05453-010 São Paulo - SP Tel.: (11) 3021-0163 Fax: (11) 3023-3165 Apoio para esta edição: Centro de Pesquisas Odontológicas São Leopoldo Mandic Editorial A Revista da ABENO é uma publicação oficial da Associação Brasileira de Ensino Odontológico Presidente de Honra: Edrízio Barbosa Pinto (PE) Presidente: Antonio Cesar Perri de Carvalho (DF) Vice-presidente: Eduardo Gomes Seabra (RN) Editor Científico: José Luiz Lage-Marques (FO-USP) ([email protected]) Editores Adjuntos: Cléo Nunes de Souza (UFSC) Luísa Isabel Taveira Rocha (UFG) Nelson Rubens Mendes Loretto (UPE) Vera Lúcia Silva Resende (UFMG) Conselho Editorial: Álvaro Della Bona (UPFundo) Antonio Carlos Bombana (FO-USP) Carlos de Paula Eduardo (FO-USP) Carlos Eduardo Francischone (FOB-USP) Carlos Estrela (FO-UFG) Célia Marisa Rizzatti Barbosa (UNICAMP) Cinthia Pereira M. Tabchoury (UNICAMP) Cláudio Luiz Sendyk (FO-USP) Denise Tostes Oliveira (FOB-USP) Eduardo Batista Franco (FOB-USP) Esther Goldenberg Birman (FO-USP) Eduardo Dias de Andrade (FOP-UNICAMP) Eduardo Saba Chujfi (UNICASTELO) Elaine Bauer Veeck (PUC-RS) Élito Araújo (UFSC) Euloir Passanezi (FOB-USP) Fernando Ricardo Xavier da Silveira (FO-USP) Francisco José de Souza Filho (FOP-UNICAMP) Izabel Cristina Froner (FORP-USP) Jaime Aparecido Cury (FOP-UNICAMP) Jesus Djalma Pécora (FORP-USP) João Humberto Antoniazzi (FO-USP) Jorge Abrão (FO-USP) José Eduardo de Oliveira Lima (FOB-USP) José Ranali (FOP-UNICAMP) Liliane Soares Yurgel (PUC-RS) Luiz Carlos Pardini (FORP-USP) Luiz Clovis Cardoso Vieira (UFSC) Manuel Damião de Sousa Neto (UNAERP) Márcia Martins Marques (FO-USP) Marcio Fernando de Moraes Grisi (FORP-USP) Marco Antonio Bottino (FOSJC-UNESP) Marco Antonio Campagnoni (FOAR) Maria Aparecida de A. M. Machado (FOB-USP) Maria Celeste Morita (UEL) Maria da Graça Kfouri Lopes (UNICENP) Maria José de Carvalho Rocha (UFSC) Maria Regina Sposto (FOA-UNESP) Neusa de Lima Moro (UFPar) Nilza Pereira da Costa (PUC-RS) Roberto Brandão Garcia (FOB-USP) Roberto Miranda Esberard (FOAR-UNESP) Rodney Garcia Rocha (FO-USP) Rosemary Sadami Arai Shinkai Simone Tetu Moysés (UFPar) Sylvio Monteiro Júnior (UFSC) Vania Ditzel Westphallen (PUC-PR) Especialização é Ensino Superior O ensino de Odontologia vem merecendo atenção continuada e crescente, estimulada pela ABENO. Multiplicam-se os enfoques e as estratégias para sensibilizar as Instituições de Ensino Superior e os docentes. Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) em 1996, passam a ocorrer mudanças na educação do país que assinalam um divisor de águas para a educação superior e especificamente para o ensino de Odontologia. Nesse período pós-LDB, a ação imediata se desenvolveu junto aos cursos de graduação, tendo em vista as discussões para a elaboração e, em seguida, para a implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais com a sinalização paradigmática que elas representam. Face à operacionalização da LDB, o Conselho Nacional de Educação e o MEC se equiparam com regulamentações e ações, inclusive para a avaliação da educação superior. Essa política também envolve os cursos lato sensu, ou seja, atinge a extensa rede de cursos de especialização em Odontologia. As normas para credenciamento, funcionamento, avaliação e registro de certificados se enquadram na legislação educacional do país. As conseqüências dessas regulamentações educacionais, seguidas dos estudos e adequações que se fazem necessários nos cursos lato sensu, criam o cenário para que os cursos de especialização em Odontologia sejam entendidos e incorporados como integrantes do sistema da educação superior do país. Ou seja: a especialização é ensino superior! Antonio Cesar Perri de Carvalho Presidente da ABENO Indexação A Revista da ABENO - Associação Brasileira de Ensino Odontológico está indexada na seguinte base de dados: BBO - Bibliografia Brasileira de Odontologia. Revista da ABENO • 5(2):99 99 Associação Brasileira de Ensino Odontológico DIRETORIA (2002 a 2006) Comissão de Ensino Antonio Cesar Perri de Carvalho (DF) Léo Kriger (UTP e PUC-PR) Cresus Vinícius Depes de Gouveia (UFF-RJ) Elaine Bauer Veeck (PUC-RS) Ellen Marise de Oliveira Oleto (UFMG-MG) Maria Celeste Morita (UNOPAR-PR) Miguel Carlos Madeira (UMESP-SP) Omar Zina (UNIVAG-MT) Vice-Presidente Comissão de Especialização Presidente de Honra Edrízio Barbosa Pinto (PE) Presidente Eduardo Gomes Seabra (RN) Secretária Geral Luciane de Moura Brito (DF) 1ª Secretária Ana Cristina Barreto Bezerra (DF) Sigmar de Mello Rode (UNIB-SP) Célio Percinoto (FOA-UNESP-SP) Hilda Maria Montes R. de Souza (UERJ-RJ) José Thadeu Pinheiro (UFPE-PE) Kátia Regina Hostilho Cervantes Dias (UFRJ-RJ) Luís Fernando Pegoraro (FOB-USP-SP) Comissão de Pós-Graduação Lílian Marly de Paula (DF) Isabela Almeida Pordeus (UFMG-MG) Adair Luiz Stefanello Busato (ULBRA-RS) José Carlos Pereira (FOB-USP-SP) Lino João da Costa (UFPB-PB) Nicolau Tortamano (UNIP-SP) Nilza Pereira da Costa (PUC-RS) Conselho Fiscal Comissão de Comunicação Tesoureiro Geral Sérgio de Freitas Pedrosa (DF) 1ª Tesoureira José Galba de Meneses Gomes (CE) Geza Nemeth (DF) José Aparecido Jam de Melo (SP) Nelson José Fernandes Graça (RJ) Reinaldo Brito e Dias (SP) Assessores do Presidente Alfredo Júlio Fernandes Neto (UFU-MG) Bruno Frederico Muniz (Fundação Odontológica Presidente Castello Branco-PE) Carlos Alberto Conrado (UEM-PR) José Dilson Vasconcelos de Menezes (UECE-CE) Orlando Airton de Toledo (UnB-DF) Roberto Schimer Wilhelm (UNESA-RJ) José Luiz Lage-Marques (USP-SP) - Editor da Revista da ABENO Vera Lúcia Silva Resende (UFMG-MG) - Responsável pela home page da ABENO Cléo Nunes de Souza (UFSC-SC) Daniel Rey de Carvalho (UCB-DF) Luísa Isabel Taveira Rocha (UFG-GO) Nelson Rubens Mendes Loretto (UPE-PE) SUMÁRIO v. 5, n. 2, julho/dezembro - 2005 Associação Brasileira de Ensino Odontológico EDITORIAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99 ARTIGOS Proposta de uma nova abordagem pedagógica para a Disciplina de Informática aplicada à Odontologia Fernanda Silveira da Cunha, Ana Elisa da Silva, Naiara Leites Larentis, Vania Regina Camargo Fontanella, Rosane Aragón Nevado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102 Avaliação de clínicas odontológicas na Universidade Católica de Brasília Daniel Rey de Carvalho, Eric Jacomino Franco, Sérgio de Freitas Pedrosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109 O cirurgião-dentista como educador em saúde bucal: explorações em torno de uma prática Natan Guterman . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115 Ensino de especialização: redirecionamento acadêmico Antonio Cesar Perri de Carvalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 Otimização da relação demanda/oferta com redução dos índices de doenças bucais através do modelo de assistência básica à saúde Sérgio Henrique Tanos de Lacerda, Paulo Sérgio Carneiro Miranda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130 Projeto HUKA KATU: a FORP-USP no Parque Indígena do Xingu Clícia de Oliveira, Raquel de Carvalho Pacagnella, Maria da Glória Chiarello de Mattos, Janete Cinira Bregagnolo, Marlívia Gonçalves de Carvalho Watanabe, Wilson Mestriner Júnior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 Utilização de imagens 3D para o ensino em Odontologia Marcio Vieira Lisboa, Josmar Gomes de Carvalho, José Luiz Lage-Marques, Mikiya Muramatsu, Matsuyoshi Mori . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140 Avaliação da qualidade de ensino em Endodontia do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará Mônica Sampaio do Vale . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144 ANAIS DA 40ª REUNIÃO ANUAL - 2005 Comissão Organizadora. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151 Programação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153 Trabalhos selecionados para apresentação Seminários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155 Pôsteres . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 158 APÊNDICE Normas para apresentação de originais. . . . . . . . . . . . . . 208 Proposta de uma nova abordagem pedagógica para a Disciplina de Informática aplicada à Odontologia A informatização das práticas educativas torna-se um desafio para o docente, pois a tecnologia oportuniza a criação de uma série de estratégias e enriquece a aprendizagem. Fernanda Silveira da Cunha*, Ana Elisa da Silva*, Naiara Leites Larentis*, Vania Regina Camargo Fontanella**, Rosane Aragón Nevado*** * Mestrandas em Clínicas Odontológicas com Ênfase em Radiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. ** Doutora em Estomatologia, Professora Orientadora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. E-mail: [email protected]. *** Doutora em Informática na Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. RESUMO As evidentes transformações decorrentes das necessidades impostas pela sociedade ampliam a dimensão profissional do cirurgião-dentista e sugerem a reformulação curricular nas faculdades de Odontologia. A aprovação pelo Conselho Nacional de Educação (CNE/CES nº 1.300/01, de 06/11/2001) das Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Odontologia permitiu a incorporação de disciplinas optativas ou de atividades de atualização, visando a capacitação integral do profissional. Assim, apresentaremos a proposta desenvolvida no projeto final da disciplina intitulada “Formação de professores em contextos digitais”, a qual se insere na perspectiva inovadora da incorporação da atividade complementar denominada “Informática aplicada à Odontologia” no novo programa de graduação do curso. Esta será disponibilizada aos alunos de graduação, sendo desenvolvida de maneira presencial e à distância, incorporando as tecnologias da informação e da comunicação ao ensino. Buscamos uma nova abordagem que permita instrumentalizar para a aprendizagem em uma perspectiva de ação, interação e operação. Na realidade, trata-se de uma provocação a alunos e professores, de maneira que a capacidade de iniciativa, a 102 capacidade de busca, o estímulo à ação e as trocas de produção tornem-se uma oportunidade de enriquecimento e construção. Assim, a criação de um ambiente de aprendizagem que seja um convite à ação e à reflexão constitui a meta a ser alcançada e a construção de saberes partilhados, o objetivo buscado. Esse é o nosso convite à reflexão, ao crescimento e a uma nova forma de fazer educação em Odontologia. DESCRITORES Ensino. Informática em saúde. Educação em Odontologia. A s Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Odontologia, aprovadas pelo CNE (Parecer da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação - CNE/CES nº 1.300/01, de 06/11/2001; Resolução CNE/CES nº 3, de 19/02/02, publicada no Diário Oficial da União de 04/03/2002), sugerem a reestruturação do currículo mínimo e abrem espaço, dentro do novo perfil de profissional de odontologia proposto, para o delineamento de disciplinas optativas ou atividades com propostas de atualização e/ou aprofundamento de conteúdos, “com ampla liberdade na composição Revista da ABENO • 5(2):102-8 Proposta de uma nova abordagem pedagógica para a Disciplina de Informática aplicada à Odontologia • Cunha FS, Silva AE, Larentis NL, Fontanella VRC, Nevado RA da carga horária a ser cumprida para a integralização dos currículos, assim como na especificação das unidades de estudos a serem ministrados”3. Dessa maneira, o curso amplia a possibilidade de diversificação e de contribuição com a formação do aluno interessado em novas opções, que deverão ser oferecidas em um contexto de pluralismo e diversidade cultural. Além disso, estas deverão conferir um grau de flexibilidade que permita ao estudante desenvolver e trabalhar vocações, interesses e potenciais3,6. Nesse contexto de fortes transformações e reformulação das estruturas vigentes, surge a necessidade do desenvolvimento de novos métodos e da incorporação de novas tecnologias e novos meios de aquisição de informações. O uso dos recursos de informática tornou-se uma prática essencial dentro da odontologia1,5,9,16. Assim, torna-se necessária, durante o curso de graduação, a incorporação da tecnologia da informação no dia-a-dia dos alunos e professores, contribuindo para o desenvolvimento e o enriquecimento do ambiente de aprendizagem. Neste artigo, apresentaremos a proposta desenvolvida no projeto final da disciplina intitulada “Formação de professores em contextos digitais”, oferecida pela Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), de caráter opcional/ complementar, para os cursos de pós-graduação, nível de Mestrado. Essa disciplina insere-se na perspectiva inovadora da incorporação da atividade complementar denominada “Informática aplicada à Odontologia” no novo programa de graduação do curso. METODOLOGIA Proposta A rápida evolução tecnológica nos coloca frente a problemas que exigem soluções inovadoras12. A introdução de recursos de informática na educação abre caminho para a criação de novos ambientes de aprendizagem9,12,13,14. A informatização das práticas educativas torna-se um desafio para o docente, pois a tecnologia oportuniza a criação de uma série de estratégias e, ao mesmo tempo, enriquece a aprendizagem. Nesse ambiente, cada aluno é um sujeito ativo e o professor assume um papel de problematizador, ou seja, de organizar as interações do aluno com os outros alunos e com ele mesmo e problematizar as situações de modo a fazer o aluno construir sobre o tema que está sendo abordado10,12,17. A verdadeira construção do conhecimento é coletiva e fruto de relações que nunca são unilaterais10,17. A construção de relações não-verticalizadas e a cooperação que deverá ser estabelecida favorecem a modificação dos sujeitos, ativando processos de reflexão e de ressignificação dos objetos do conhecimento10,12,17. Nessa proposta de construção da disciplina, o que buscamos é o desenvolvimento de um pensamento múltiplo de possibilidades, em que fórmulas prontas e freqüentemente aplicadas são colocadas de lado. A distância é diminuída, e o ambiente se torna um local de troca de experiências que auxiliem na prática da odontologia, na pesquisa e na didática. Objetivos da disciplina • Incorporar ao cotidiano das práticas odontológicas os novos recursos e a tecnologia da informação, de maneira que esses auxiliem na prática clínica, bem como na pesquisa e no ensino. • Propiciar o desenvolvimento de um ambiente interativo (aluno versus aluno, aluno versus professor, aluno versus meio), buscando a reflexão e a reestruturação do aprendizado. • Favorecer a exploração e a experimentação dos ambientes virtuais de aprendizagem, para que haja, através da apropriação da informática, a resolução de dúvidas e problemas. • Descobrir novas possibilidades de uso dos sistemas informatizados e novos procedimentos que possibilitem êxito na ação através da interação, criandose ambientes de cooperação através da utilização de recursos telemáticos de aprendizagem. Sujeitos Sugere-se que essa disciplina seja cursada nos semestres iniciais do programa, de modo que os alunos possam interagir e construir possibilidades através das ferramentas necessárias para a elaboração de trabalhos, buscas na rede, digitalização de imagens e outras e também através da cooperação com colegas e professores na resolução de dúvidas e problemas que possam surgir no decorrer das atividades. O aluno, antes passivo ao recebimento de informações, cede espaço àquele que busca concretizar seus objetivos e ampliar seus conhecimentos, questionando-se e buscando a resposta para as indagações de maneira socializada, bem como transcendendo o que é discutido em sala de aula. Conteúdo programático proposto Os conteúdos abaixo elencados fazem parte do programa proposto para a disciplina. A hierarquização destes será realizada pelo aluno a partir de suas necessidades e da sua realidade. Cada conteúdo pro- Revista da ABENO • 5(2):102-8 103 Proposta de uma nova abordagem pedagógica para a Disciplina de Informática aplicada à Odontologia • Cunha FS, Silva AE, Larentis NL, Fontanella VRC, Nevado RA posto constituirá um eixo, de modo que o somatório e as interligações originadas deste formem uma rede de conhecimento, reflexões e práticas4. Assumimos que o mais importante é fornecer ao aluno o instrumental para que ele, com independência de pensamento, ação e mobilização de sua criatividade e potencial, possa “aprender a aprender, aprender a ser, aprender a conviver e, principalmente, fazer e compreender”7. De que maneira esses conteúdos podem ser inseridos na Odontologia? Estamos vivenciando um intenso processo evolutivo no qual o uso progressivo das novas tecnologias da informação e da comunicação apresenta-se inserido em nosso cotidiano. Todo processo evolutivo cria múltiplas possibilidades, e o aluno deve estar preparado para perceber e receber estas oportunidades de maneira atualizada5. Isso se encaixa perfeitamente na construção do perfil do cirurgiãodentista contemporâneo que é clínico, professor e pesquisador3,5,6. Dessa maneira, tendo em vista as necessidades oriundas do novo perfil delineado, os conteúdos, assim como a inserção destes em nossa proposta, estão elencados abaixo: Ferramentas para edição de textos, elementos gráficos e planilhas A função de um programa é fornecer ao computador as instruções de que este necessita para executar uma tarefa. Quem manipula o programa é o usuário, que está indiretamente controlando a máquina. Assim, acreditamos que o aluno deva estar apto a manipular alguns programas, tais como Microsoft Word® e Microsoft Excel®, que são a base para a utilização de outros recursos5. Apesar de estas serem ferramentas básicas e essenciais para a manipulação de qualquer computador, apenas durante o desenvolvimento das atividades da disciplina e a execução dos exercícios propostos teremos condições de precisar tanto o grau de conhecimento de cada aluno, quanto suas dúvidas, para que assim possamos direcionar a programação e os pontos-chave que devem ser discutidos. Aquisição e processamento de imagens digitais (fotografias e radiografias) A montagem de uma apresentação requer a utilização de imagens com boa qualidade. As novas tecnologias, apesar de todo o avanço observado, ainda trazem desconfiança, pois existe uma certa resistência na aceitação do preparo informatizado do material didático5. Desejamos apresentar aos alunos uma metodo104 logia para digitalizar fotografias, diapositivos e radiografias, bem como os auxiliaremos na manipulação das câmaras digitais, de modo que eles possam desenvolver seu material. Além disso, gostaríamos de propor uma alternativa para a recuperação de imagens através da utilização de recursos de baixo custo e de fácil acesso para os alunos. Ferramentas de internet: dispositivos de busca, bibliotecas virtuais, websites de aprendizado à distância Procuramos aqui discutir alguns conceitos básicos com os alunos de modo a familiarizá-los com determinadas palavras que são consideradas essenciais em ambientes de busca. Além disso, as ferramentas de busca na internet – “buscadores” gerais (nestes têm-se as ferramentas que procuram em toda a Web, independentemente da procedência das páginas analisadas, por exemplo, ALTAVISTA, MINER, CADÊ? e YAHOO!) e específicos (“buscadores” na área da saúde, especialmente na Odontologia, tais como MEDLINE, LILACS, PAHO, BBO) – serão exploradas5. Bancos de dados Propomos aqui a exploração dos programas Microsoft Access® e Microsoft Excel®, de modo que o aluno tenha condições de criar o seu próprio banco de dados, armazenando e buscando informações através de palavras-chave que lhe sejam importantes, tais como seu desempenho no semestre, aulas, diapositivos, imagens da Web, dados de pacientes e outras que sejam de seu interesse. Programas estatísticos Exploraremos as próprias funções estatísticas do Microsoft Excel®, por se tratar de um programa acessível aos alunos e disponibilizado na Faculdade. Apresentaremos também alguns outros programas, como SPSS® de grande aplicabilidade em pesquisas na área da saúde. Aplicativos multimídia O programa Microsoft PowerPoint® será utilizado para que, através de seus inúmeros recursos, apresentações, material didático e diapositivos possam ser elaborados e analisados5. Softwares direcionados para Odontologia: planejamento de casos, diagnóstico e gerenciamento O estudante de Odontologia deve estar familiarizado com os softwares disponíveis no mercado para o Revista da ABENO • 5(2):102-8 Proposta de uma nova abordagem pedagógica para a Disciplina de Informática aplicada à Odontologia • Cunha FS, Silva AE, Larentis NL, Fontanella VRC, Nevado RA emprego na prática clínica. Assim, programas direcionados a planejamento de casos (por exemplo, para implantodontia), documentação ortodôntica, cefalometria, gerenciamento de consultório, dentre outros, serão trabalhados. Esperamos que os próprios alunos busquem outros programas que despertem interesse, para que possam ser disponibilizados e discutidos em sala de aula. Ambientes de aprendizado No novo programa de graduação do curso de Odontologia, a visão interdisciplinar dos conteúdos, bem como as efetivas trocas entre as áreas de conhecimento contribuirão para o desenvolvimento de um profissional comprometido e participativo. Acreditamos que toda inovação vem acompanhada de uma contínua necessidade de mudança, apoiada por questionamentos, pesquisas e investigações. Assim, baseados na reestruturação do currículo mínimo e na inserção de uma nova proposta3,6, tendo em vista a diversidade individual dentro da universidade, cremos que o modelo tradicional observado em sala de aula possa ser repensado e a inserção de um modelo de aprendizagem cooperativa e apoiada na construção dos saberes, analisada10. O modelo que pretendemos implementar não prevê apenas a busca da informação pelo discente, pois ela, por si só, não é suficiente; o professor desloca-se da posição de agente transmissor de conhecimentos. O aluno não é um mero receptor de assuntos elaborados, formatados e arbitrados por um contexto externo diferente da realidade de cada um8,12. Consideram-se as diferenças destes, partindo do pressuposto de que são indivíduos que tiveram experiências de vida, conhecimentos adquiridos e expectativas distintas sobre o quê e como é aprender11. A partir daí, apostamos em uma disciplina planejada em dois momentos: presencial e em ambiente virtual12,13,14. • Presencial: as atividades presenciais serão desenvolvidas em momentos planejados, de maneira interativa e participativa, segundo as necessidades e dúvidas geradas com a experimentação das ferramentas digitais e as possibilidades de uso e aplicação na Odontologia. • Ambiente virtual: as atividades em ambiente virtual serão desenvolvidas buscando-se criar um espaço de orientação e cooperação, em que as incertezas geradas pela nova possibilidade de uso das ferramentas digitais possam ser divididas e discutidas de forma que as contribuições possam ser socializadas. É o momento da troca de experiências e do esclarecimento das dúvidas. Estrutura Os conteúdos a serem desenvolvidos na disciplina foram elencados anteriormente. Gostaríamos de reiterar que estes não devem ser encarados de maneira rígida e inflexível. Nossa programação foi elaborada tendo em vista dúvidas levantadas pelos próprios alunos em turmas anteriores, que não dispunham dessa atividade no currículo. Ressaltamos também que, apesar de esses conteúdos terem sido arbitrados por um todo, o desenvolvimento das atividades e tarefas farse-á pela proposta elaborada pelo grupo, através de um consenso entre alunos e professor. Além disso, os alunos terão a oportunidade de explorar, segundo seu ritmo, os assuntos que consideram de maior interesse e aplicabilidade. Isso favorecerá a conexão com outros colegas e com os próprios professores, estimulando trocas e proporcionando uma constante interatividade de reflexão e ressignificação10,12. O impacto gerado por cada novo conteúdo explorado desencadeia uma série de disparos individuais que, ao serem socializados através dos meios telemáticos, tornam-se um convite à cooperação; como conseqüência, novos interesses são despertados, enriquecendo o ambiente de aprendizagem11,12,13,14. De que maneira as atividades serão desenvolvidas? Ambiente virtual O ambiente virtual de aprendizagem é um espaço criado para possibilitar a interação entre os participantes de um curso ou de um grupo que utiliza tecnologias de informação e comunicação como, por exemplo, a internet. Além disso, associa concepções pedagógicas a recursos tecnológicos que favorecem a comunicação interativa, criando um contexto favorável para o estudo. O trabalho deverá ser desenvolvido em parceria com o Laboratório de Informática da Faculdade, de maneira que este seja o responsável por todo o suporte técnico da disciplina, pois, para acessar um ambiente virtual de aprendizagem, é necessário ter um computador conectado à internet e o endereço eletrônico do ambiente. Será nesse ambiente “informatizado” que as aulas serão ministradas. Um ambiente virtual de aprendizagem será inicialmente elaborado tendo em vista apenas as expectativas dos docentes do curso. Todavia, nosso desejo é que, com o uso deste pelos discentes, modificações possam ser estruturadas base- Revista da ABENO • 5(2):102-8 105 Proposta de uma nova abordagem pedagógica para a Disciplina de Informática aplicada à Odontologia • Cunha FS, Silva AE, Larentis NL, Fontanella VRC, Nevado RA adas na opinião de todos e uma nova concepção possa ser edificada e aplicada em uma próxima turma. Assim, a estrutura do ambiente pode ser periodicamente reformulada, transcendendo as características por vezes rígidas observadas em alguns desses cenários. Nesse primeiro momento, o ambiente não será disponibilizado para toda a faculdade de odontologia; os acessos serão feitos apenas pelos alunos e professores através de uma senha. Será empregada uma metodologia ativa de aprendizagem, na qual a tecnologia será utilizada como suporte para o enriquecimento da interação entre professor e aluno e entre os alunos. Assim, busca-se desencadear um processo de reflexão e de tomada de consciência da própria aprendizagem, bem como construir conhecimentos referentes ao entendimento de conceitos básicos e de mecanismos envolvidos nesse processo12. Esperamos alcançar a criação de um ambiente virtual simples que apresente apenas as ferramentas necessárias para interação. Nele o aluno encontrará espaço para12,13,14: • Cooperação: através do uso de fórum e de e-mail, alunos e professores poderão trocar informações e dúvidas sobre os exercícios efetuados e sobre as leituras indicadas. • Biblioteca: as leituras disponibilizadas pelo professor e sugeridas pelos próprios alunos serão armazenadas na biblioteca. • Atividades de compreensão: aqui estarão presentes atividades disponibilizadas para discussão; em um primeiro momento estas serão planejadas e elaboradas pelo professor; esperamos que, com o desenvolvimento do trabalho cooperativo, as informações fluam em todos os sentidos, que os saberes sejam compartilhados e que os discentes possam, de maneira particular e coletiva, desenvolver tarefas voltadas à compreensão dos conteúdos propostos. • Webfólio2: transcendemos o uso dos portfólios para os conceitos telemáticos e propomos a inserção de webfólios no ambiente. Portfólio é uma compilação dos trabalhos que o estudante entende por relevantes após um processo de análise crítica e devida fundamentação. Com o avanço das tecnologias da informação e comunicação, surge uma nova forma de explorar a construção dos portfólios – os webfólios. A emancipação e ampliação da autonomia dos estudantes, de modo que o professor possa conhecer as peculiaridades e singularidades de cada um, constitui nossa meta com a introdução dessa ferramenta; acreditamos que os 106 webfólios possam atuar como facilitadores no processo de construção, ressignificação e reconstrução de conhecimento; através destes, esperamos que os alunos possam registrar aspectos considerados relevantes durante as interações tanto presenciais como à distância, assim como incluir experiências, investigações complementares aos assuntos propostos, participação em projetos na rede e outras informações consideradas relevantes; propomos também que os professores construam seus webfólios próprios, os quais constituirão um relato dos docentes em que as experiências,bem como idéias e reflexões, possam ser trocadas, acessadas e discutidas pelo grupo. Sala de aula As atividades em sala de aula são momentos importantes dentro desse processo de construção do conhecimento, pois favorecem o estabelecimento de trocas entre os participantes da disciplina, bem como o estabelecimento de vínculos12. Portanto, serão nestas que os conteúdos poderão ser redirecionados e explorados e novas propostas, analisadas. Com base nos pressupostos acima elencados, buscaremos construir em sala de aula: • Atividades de compreensão: elaboradas para que a aplicabilidade dos conteúdos propostos possa ser analisada e discutida. • Momentos de discussão: serão momentos-chave dentro dos eixos que permeiam os conteúdos propostos; é a ocasião de tomada de consciência sobre as experiências vivenciadas, da socialização das dúvidas, da cooperação e, principalmente, da reconstrução. • Seminário: durante as atividades presenciais será proposta para a turma a realização de um seminário focalizado no seguinte tema: “Aplicação dos softwares odontológicos disponíveis: necessidade ou exigência do mercado?”; esperamos que nesse seminário possamos discutir a aplicabilidade de diversos programas que já fazem parte da realidade de grande parte dos consultórios odontológicos e estão disponíveis para o cirurgião-dentista; os alunos serão divididos em grupos, de acordo com a abordagem de maior interesse; cada grupo contará com o suporte de um professor auxiliar, que orientará o trabalho e a busca das informações necessárias para sua elaboração; desejamos que as informações obtidas e as incertezas geradas a partir da discussão presencial sejam extrapoladas para o ambiente virtual, de maneira que as inquietudes Revista da ABENO • 5(2):102-8 Proposta de uma nova abordagem pedagógica para a Disciplina de Informática aplicada à Odontologia • Cunha FS, Silva AE, Larentis NL, Fontanella VRC, Nevado RA suscitadas forneçam os subsídios necessários para novas explorações. Avaliação Fundamentamos o processo de avaliação em uma concepção de avaliação contínua, processual e permanente. Não nos basta testar a quantidade de informação do sujeito, pois ela restringe-se ao dado formatado e às relações estabelecidas. Não visamos avaliar o produto expresso. É um processo mais complexo, de transformação que não se dá apenas no sujeito, mas sim em todos os envolvidos no ambiente de aprendizagem. Realizar essa prática significa ajustar os critérios à ação, fazer com que os alunos assumam, junto com o professor, os riscos das decisões tomadas: alunos e professores terão o mesmo compromisso de realizar a edificação do conhecimento no mais alto grau possível, abrangendo a complexidade e a incerteza que o processo de conhecer apresenta; atuar-se-á com rigor e exigência, mas sem excluir nenhum dos atores, porque o pacto pela aprendizagem é coletivo15. Avaliação da aprendizagem Acreditamos que o webfólio2 possa auxiliar na análise processual das atividades, uma vez que transcende a visão pontual de provas e testes. Nele estarão contidas as reflexões de cada educando sobre as experiências vividas, as dúvidas que surgirão no decorrer do percurso, as interações entre os participantes, as soluções para os questionamentos e os novos questionamentos gerados a partir das análises cooperativas. Avaliação do modelo Ao final da disciplina, realizaremos uma avaliação coletiva por intermédio de uma discussão com todo o grupo, elencando as percepções de cada um sobre a sistemática da disciplina, a execução e a aplicabilidade dos exercícios propostos, as contribuições nos espaços compartilhados, as descobertas interessantes na rede e a quantidade de interações efetuadas. CONCLUSÃO Acreditamos que as provocações geradas pelas transformações constantes na sociedade na qual estamos inseridos urgem pela elaboração de novas concepções e pelo redimensionamento de antigas práticas. Os meios telemáticos inserem-se justamente aí, surgindo com estes a possibilidade de transcendermos as estruturas que há muito se encontram ultrapassadas. A educação, por conseguinte, não fica de fora dessas alterações. O papel de professor e de aluno dentro da Universidade vem sendo sistematicamente redimensionado. O ostracismo vigente nas décadas passadas cede seu espaço para a participação e, principalmente, para a cooperação entre mestres e aprendizes. Hoje, desejamos alunos conscientes da responsabilidade do aprendizado. Não esperamos apenas que os conteúdos necessários para aprovação sejam formatados pelo docente e as informações adquiridas, testadas em provas. Aspiramos mais. A possibilidade da inovação surge com as novas Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Odontologia, que abrem espaço para a formação de um cirurgião-dentista generalista, humanista, crítico e reflexivo. Nesse novo contexto, além das disciplinas obrigatórias, farão parte do currículo disciplinas optativo-complementares, que visam a formação integral do profissional. Surgiu, assim, a perspectiva de criação de uma atividade que fará parte do novo programa, incorporando também o ensino à distância. Nossa proposta é apenas o início de uma longa caminhada, na qual múltiplos desafios nos esperam; todavia, acreditamos na necessidade de sua execução. A criação de um ambiente de aprendizagem que seja um convite à ação e à reflexão constitui a meta a ser alcançada e a construção de saberes partilhados, o objetivo buscado. Esse é o nosso convite à reflexão, ao crescimento e a uma nova forma de fazer educação em Odontologia. ABSTRACT Development of an alternative teaching model for the discipline of dental informatics Changes brought about by the needs of society have had an impact on the practical dimension of the dental profession and raised the issue of curricular changes in dental schools. The National Curriculum Guidelines for Dental Courses, approved by the National Council of Education (CNE/CES nº 1.300/01, dated Nov 06, 2001), have allowed the incorporation of optional courses and professional development activities into the curriculum, so that dentists have the opportunity to be fully qualified and educated. The proposal presented here was developed during the preparation of a term project for the “Teacher Training in Digital Contexts” course, and suggests the incorporation of a course called “Computer Sciences in Dentistry” into the new Dental School undergraduate program. The course will be offered to undergraduate students and will be conducted on-campus and by distance learning, incorporating distance education con- Revista da ABENO • 5(2):102-8 107 Proposta de uma nova abordagem pedagógica para a Disciplina de Informática aplicada à Odontologia • Cunha FS, Silva AE, Larentis NL, Fontanella VRC, Nevado RA cepts. This new approach should prepare students to learn through action, interaction and operation. It is, in fact, a challenge for teachers and students to use initiative, search abilities, the stimulus to act and the exchange of academic production as an opportunity for enrichment and growth. Therefore, its purpose is to create a learning environment that invites actions and reflections, and its goal is the co-construction of shared knowledge. It is our invitation to reflection, growth and a new manner to educate in Dentistry. 8. Foresti MCPP. Ação docente e desenvolvimento curricular: aproximações ao tema. Revista da ABENO 2002;2(1):13-6. 9. Freitas VS, Pinto LP, Souza LB, Bittencourt RA. Ambiente de aprendizagem virtual colaborativo entre curso de pós-graduação e graduação em Odontologia. Revista da ABENO 2001;1(1):73-6. 10. Kieling SRF. Construtivismo e a Educação. 8ª ed. Porto Alegre: Mediação; 2000. 11. Mattheos N, Schittek MJ, Nattestad A, Shanley D, Attstrom R. A comparative evaluation of computer literacy amongst dental educators and students. Eur J Dent Educ 2005;9(1):32-6. DESCRIPTORS Teaching. Medical informatics. Education, dental. 12. Nevado RA. Processos interativos e a construção de conhecimento por estudantes de licenciatura em contexto telemático. In: Morais VRP (org.). Melhoria do ensino e capacitação docente - Programa de Aperfeiçoamento Pedagógico. Porto Ale- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS gre: Editora da Universidade – UFRGS; 1996. p. 149-65. 1. Abbey LM. Some comments on the state of dental informatics. 13. Nevado RA, Basso MVA. Projeto estadual de informática na educação: Especialização em Informática Educativa para pro- J Dent Educ 1991;55(10):647-8. 2. Alves LP. Portfólios como instrumentos de avaliação dos pro- fessores multiplicadores nos Núcleos de Tecnologia Educacio- cessos de ensinagem. In: Anastasiou LGC, Alves LP. Processos nal. Curso: Formação de Professores em Contextos Digitais. de ensinagem na Universidade - Pressupostos para as estraté- Disponível em: URL: http://www.proinfo.mec.gov.br. [Acesso gias de trabalho em aula. Joinville: Univille; 2003. p. 101-19. 2004 mai. 04]. 3. Análise sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cur- 14. Projetos de Curso - Costa Rica. Curso: Formação de Professores sos de Graduação em Odontologia. Revista da ABENO em Contextos Digitais. Disponível em: URL: http://www.proinfo. mec.gov.br. [Acesso em 2004 mai. 04]. 2002;1(2):35-8. 4. Anastasiou LGC. Ensinar, aprender, apreender e processos de 15. Romanowski JP, Wachowicz LA. Avaliação formativa no ensino ensinagem. In: Anastasiou LGC, Alves LP. Processos de ensina- superior: que resistências manifestam os professores e os alu- gem na Universidade - pressupostos para as estratégias de tra- nos? In: Anastasiou LGC, Alves LP. Processos de ensinagem na balho em aula. Joinville: Univille; 2003. p. 11-37. Universidade - pressupostos para as estratégias de trabalho em 5. Bueno MR. Recursos de informática aplicados ao ensino e à pesquisa. In: Estrela C. Metodologia científica - ensino e pesquisa em Odontologia. São Paulo: Artes Médicas; 2001. p. 348403. aula. Joinville: Univille; 2003. p. 121-39. 16. Schleyer TKL. How should dental Informatics evolve? J Dent Educ 1996;60(3):291-5. 17. Valentini CB. Epistemologia genética de Jean Piaget. Curso: 6. Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação em Odontologia. Revista da ABENO 2002;1(2):31-4. 7. Estrela C. Processo educativo. In: Estrela C. Metodologia cien- Formação de Professores em Contextos Digitais. Disponível em: URL: http://www.eproinfo.proinfo.mec.gov.br. [Acesso em 2004 mai. 04]. tífica - ensino e pesquisa em Odontologia. São Paulo: Artes Médicas; 2001. p. 2-17. 108 Aceito para publicação em 06/2005 Revista da ABENO • 5(2):102-8 Avaliação de clínicas odontológicas na Universidade Católica de Brasília A adequação às Diretrizes Curriculares Nacionais não deve restringir-se somente à grade curricular, mas ser ampliada para ações que reforcem todo o seu ideal, como por exemplo adequações dos sistemas de avaliação de clínicas odontológicas. Daniel Rey de Carvalho*, Eric Jacomino Franco**, Sérgio de Freitas Pedrosa*** * Assessor Pedagógico do Curso de Odontologia da Universidade Católica de Brasília. E-mail: [email protected]. ** Assessor Administrativo do Curso de Odontologia da Universidade Católica de Brasília. E-mail: [email protected]. *** Diretor do Curso de Odontologia da Universidade Católica de Brasília. E-mail: [email protected]. RESUMO Grandes mudanças na área pedagógica dos cursos de Odontologia têm sido discutidas baseando-se nas Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Odontologia. Essas mudanças acabam incidindo mais sobre as clínicas odontológicas, e tornase imprescindível que o sistema de avaliação discente seja coerente com as propostas das Diretrizes Curriculares. Portanto, é nosso objetivo mostrar e propor um sistema de avaliação discente para toda e qualquer clínica odontológica. Esse sistema representa o somatório de três notas: uma nota prática (50%), uma nota teórica (30%) e uma nota de produtividade (20%). Ao final do semestre, o aluno deverá ter nota igual ou superior a 7,0 para ser aprovado. A nota prática representa o somatório da avaliação de três quesitos: conduta, material e procedimento. A nota teórica referese ao somatório das avaliações escritas e dos seminários, e a nota de produtividade é uma pontuação que reflete a quantidade de procedimentos concluídos pelo aluno. Após sete semestres de aplicação desse sistema de avaliação, concluímos que o processo avaliativo permite confrontar informações entre as diversas clínicas e os diversos alunos e professores de especialidades diferentes. Há uma uniformização de dados que possibilitam diagnóstico e discussão, os quais culminam com uma reavaliação constante de nossos objetivos dentro do curso de Odontologia. DESCRITORES Educação em Odontologia. Ensino, tendências. Avaliação educacional. G randes mudanças na área pedagógica dos cursos de Odontologia têm sido discutidas baseando-se nas Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Odontologia3. As discussões concentram-se no perfil do profissional de Odontologia que deverá ser preparado pelas instituições de ensino. Esse profissional deverá ser generalista, humanista, crítico e reflexivo, competente técnica e cientificamente, respeitando os princípios éticos, legais e compreendendo a realidade socioeconômica em que se encontra. Para tanto, modificações curriculares deverão ocorrer principalmente nas clínicas odontológicas, de modo que sejam transformadas em clínicas onde o tratamento oferecido seja completo e integral ao paciente, respeitando-o como um todo biopsicossocial e somático4. Dentro do contexto das modificações curriculares, o sistema de avaliação não deverá ser deixado de lado. Segundo Barrios, de la Torre1 (2002), há necessidade de clareza sobre os objetivos a serem atingidos, ou seja, quando se fala em avaliação, saber “o que avaliar”. Além disso, saber “quando avaliar”, seja no início, chamado de função diagnóstica, no meio, função formativa, e no final, função somativa. A unificação desses Revista da ABENO • 5(2):109-14 109 Avaliação de clínicas odontológicas na Universidade Católica de Brasília • Carvalho DR, Franco EJ, Pedrosa SF critérios permite orientar o aluno, regular nossas ações e saber como os alunos integram a aprendizagem. Marcondes, Gonçalves5 (1998) reforçam que na avaliação diagnóstica existe a possibilidade da reformulação dos objetivos pré-definidos, enquanto na formativa devem-se entender os passos necessários para o cumprimento dos objetivos. A avaliação somativa permite saber se o objetivo maior foi alcançado. Rocha7 (2001) acredita que o sistema de avaliação merece atenção especial porque os instrumentos têm apontado grandes dificuldades quando se trata de avaliar seja conteúdo, desempenho discente ou desempenho institucional. A adequação às Diretrizes Curriculares Nacionais não deve restringir-se somente à grade curricular, mas ser ampliada para ações que reforcem todo o seu ideal, como por exemplo adequações dos sistemas de avaliação de clínicas odontológicas. Pelo exposto, o nosso objetivo é mostrar e propor um sistema de avaliação discente para toda e qualquer clínica odontológica, principalmente para as chamadas “clínicas integradas”. METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO DAS CLÍNICAS ODONTOLÓGICAS DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA O sistema de avaliação das clínicas odontológicas da Universidade Católica de Brasília busca o aperfeiçoamento do processo de avaliação clínica, incluindo as funções diagnóstica, formativa e somativa na construção e busca do conhecimento1, aliado à formação generalista do futuro cirurgião-dentista. Atualmente o sistema de avaliação empregado engloba as clínicas de Odontologia Integrada do sexto ao décimo períodos, clínicas de Odontologia Pediátrica, clínicas de Cirurgia e clínicas de Estomatologia. A clínica de Cirurgia funciona isoladamente somente no sexto período, fundindo-se com a Clínica de Odontologia Integrada posteriormente. Em toda a Universidade Católica de Brasília, e não somente no curso de Odontologia, os alunos devem ter média final igual ou superior a 7,0 para serem aprovados ao final do semestre. Antes de iniciar qualquer procedimento dentro de clínica, o aluno deve preencher uma ficha de “Planejamento de Procedimento Diário”, como se fosse um rascunho, que, após autorizada pelo professor orientador, permite que o procedimento seja executado (Figura 1). Neste momento já se identifica a capacidade técnico-científica do aluno em dar segui110 mento ao plano de tratamento do paciente. Vale ressaltar que os alunos sempre trabalham em duplas (a quatro mãos), entretanto o seu desempenho diário é registrado em fichas individualizadas e separadas do prontuário odontológico dos pacientes que ele atende (Figura 2). Ao término do semestre, o aluno receberá uma nota final de clínica que representa o somatório de três notas: uma nota prática, uma nota teórica e uma nota de produtividade. A nota prática corresponde a 50% da nota final, a nota teórica corresponde a 30% e a nota de produtividade corresponde a 20% no somatório final. A nota prática constitui a média do número total de procedimentos concluídos pelo aluno e que são pré-definidos e divulgados no início do semestre letivo. Esses procedimentos, chamados “concluídos”, raramente sofrem adequação entre um semestre e outro. O procedimento concluído terá valor máximo igual a 5,0 e representa o somatório da avaliação de três quesitos: • Conduta: nesse quesito são observados relaciona- UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA - UCB CURSO DE ODONTOLOGIA CLÍNICAS ODONTOLÓGICAS PLANEJAMENTO DO PROCEDIMENTO DIÁRIO Período: Horário: : hs Nº do box: Nome do operador: Nome do auxiliar: Nome do paciente: Nº do prontuário: Idade: Data do procedimento: Aspectos relevantes do exame físico (intra e extrabucal): / / Aspectos relevantes do exame radiográfico: Diagnóstico: Nome do procedimento: Anestésico: Descrição do procedimento a ser realizado: Nome do Professor orientador: Assinatura do Professor (autorização): Figura 1 - Ficha de Planejamento do Procedimento Di- ário das clínicas odontológicas da Universidade Católica de Brasília. Revista da ABENO • 5(2):109-14 Avaliação de clínicas odontológicas na Universidade Católica de Brasília • Carvalho DR, Franco EJ, Pedrosa SF CLÍNICAS ODONTOLÓGICAS FICHA FOTO DE AVALIAÇÃO DO A LUNO Operador: Auxiliar: Endereço: CEP: Cidade: Tel. res.: Matrícula: Tel. cel.: Nome da Clínica: Box: Colocar data, procedimento realizado e especificar o operador (Op) ou auxiliar (Aux) ou se foi reposição (Rep). Operador com nota, auxiliar sem nota. Anotar ambos os alunos DATA Nº PRONTUÁRIO NOME DO PROCEDIMENTO Op/Aux/Rep CONDUTA MATERIAL PROCEDIMENTO NOTA CONCLUÍDA NOTA DIÁRIA NOTA PROVA PROFESSOR ....../...../....... ....../...../....... ....../...../....... ....../...../....... ....../...../....... ....../...../....... ....../...../....... ....../...../....... ....../...../....... ....../...../....... ....../...../....... ....../...../....... ....../...../....... ....../...../....... ....../...../....... ....../...../....... ....../...../....... ....../...../....... ....../...../....... ....../...../....... ....../...../....... NOTA PRODUTIVIDADE + NOTA PRÁTICA + NOTA PROVA NOTA FINAL DE CLÍNICA Figura 2 - Ficha de avaliação individualizada dos alunos nas clínicas odontológicas da Universidade Católica de Brasília. mento aluno/professor, aluno/paciente, aluno/ aluno (entre a dupla e demais alunos) e aluno/ funcionário, pontualidade (entrada e saída das clínicas/laboratórios), trajes adequados (conforme definido pela Comissão de Biossegurança), preenchimento adequado do prontuário odontológico (inclusive prescrições medicamentosas, encaminhamentos, recomendações) e atividades relacionadas à central de esterilização. • Material: nesse quesito avaliam-se a disponibilidade dos materiais necessários para o procedimento do dia, a organização do box/bancada (tanto no início quanto no fim do procedimento), a organização das mesas auxiliares (disposição dos materiais e limpeza) e a aplicação dos métodos de biossegurança (relativos ao box e aos materiais necessários para a realização do procedimento). • Procedimento: nesse quesito avaliam-se o planejamento do procedimento do dia (respeitando a ordem de execução prevista no plano de tratamento geral do paciente), o interesse e o domínio do aluno sobre o assunto (embasamento teórico), a Tabela 1 - Distribuição das notas concedidas nos quesitos conduta, material e procedimento. Conduta Material Procedimento 0,0 0,0 0,0 0,5 0,5 0,5 1,0 1,0 1,0 - - 1,5 - - 2,0 - - 2,5 - - 3,0 análise crítica do procedimento, o grau de dificuldade do procedimento e o desempenho técnico (qualidade). Os quesitos “conduta”, “material” e “procedimento” poderão ter diferentes notas, conforme mostrado na Tabela 1. Tais notas são baseadas nas falhas que o aluno poderá cometer durante a execução de um procedimento. Por exemplo, o aluno que cometer uma falha terá sua nota diminuída em um nível (1,0 para 0,5, por exemplo). Quando cometer uma falha grave, Revista da ABENO • 5(2):109-14 111 Avaliação de clínicas odontológicas na Universidade Católica de Brasília • Carvalho DR, Franco EJ, Pedrosa SF o aluno poderá ter sua nota diminuída em dois níveis. E quando cometer uma falha gravíssima, a nota poderá diminuir três, quatro ou mais níveis. Ou seja, depende do professor estar envolvido e atento na execução de determinado procedimento e no bom senso em definir se determinada falha foi grave ou gravíssima, por exemplo. Ao final do período de atendimento, somam-se as notas dos três quesitos, obtendo-se a nota diária. Um procedimento concluído poderá precisar de vários atendimentos diários para sua concretização. Cada atendimento gerará uma nota diária. Ao concluir um procedimento integralmente, faz-se a média aritmética das notas diárias (relativas às etapas da realização do procedimento em questão), obtendo-se a nota concluída. Quando o procedimento for iniciado e concluído no mesmo dia, deverá ser lançado como nota concluída e não como nota diária. A média aritmética das notas concluídas do semestre originará a nota prática. A nota teórica refere-se às avaliações teóricas e aos seminários de clínicas cujo valor máximo final deverá ser igual a 3,0. Em relação à nota de produtividade, é avaliada a quantidade de procedimentos concluídos realizados pelo aluno durante o semestre (observados pela quantidade de notas concluídas na ficha de avaliação). A quantidade de procedimentos concluídos é personalizada para cada clínica e respeita um grau de complexidade crescente, ou seja, a produtividade da Clínica de Odontologia Integrada I é menor que a da Clínica de Odontologia Integrada II, e assim sucessi- vamente. Somente o operador recebe nota, uma vez que o auxiliar está sob sua supervisão. O valor correspondente à produtividade é obtido conforme o Gráfico 1. Ressalta-se que o sistema de produtividade não representa quotas a serem atingidas pelas especialidades odontológicas e, sim, a execução dos procedimentos que o paciente tem necessidade, independentemente da especialidade, até a conclusão de seu tratamento. DISCUSSÃO Acreditamos não fazer sentido algum adequar o currículo odontológico segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Odontologia se o sistema de avaliação utilizado não corresponder aos ideais das Diretrizes. Invariavelmente, o desempenho da grande maioria dos alunos é um reflexo do tipo de cobrança e do ritmo que o curso impõe. De modo geral, a avaliação de um aluno deverá ser transformada em valores concretos, sejam números ou conceitos, pré-definidos e divulgados, para que, pedagogicamente e administrativamente, considere-se o aluno aprovado ou não nas disciplinas matriculadas e que o mesmo possa tornar-se apto ou não a ser um profissional qualificado para o mercado de trabalho. Dessa forma, concordamos com Barrios, de la Torre1 (2002) que, para avaliar, é necessário gerar juízos de valor em relação à aprendizagem do educando, mas é necessário ter critérios claros e precisos. A grande dificuldade encontra-se em fazer essa avaliação de forma justa, equilibrada e transparente, pautada em quesitos que Nota de Produtividade Área Procedimentos concluídos Notas Área A < X1 0,0 Área B ≥ X1 0,5 Área C ≥ X2 1,0 Área D ≥ X3 1,5 Área E ≥ X4 2,0 Distribuição da produtividade Média A B X1 C X2 D X3 E X4 Gráfico 1 - Áreas de produtividade e pontuação respectiva, seguindo sistema de distribuição normal. O centro da curva representa uma média histórica de procedimentos concluídos em clínicas anteriores. Cada clínica odontológica possui valores próprios. Na área C encontra-se a grande maioria dos alunos. Nas áreas D e E, A e B, encontram-se os alunos que produziram mais e menos, respectivamente. Os valores deste gráfico não são alterados de um semestre para o outro. 112 Revista da ABENO • 5(2):109-14 Avaliação de clínicas odontológicas na Universidade Católica de Brasília • Carvalho DR, Franco EJ, Pedrosa SF corroboram com as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Odontologia. Para que o aprendizado seja consciente, o professor deverá transmitir segurança ao aluno, alertando-o sobre as possíveis dificuldades e de como poderá superá-las4; portanto, o aluno deverá saber exatamente quais falhas cometeu, evitando assim a repetição da mesma falha. Segundo Barrios, de la Torre1 (2002), um observador deverá comentar que a conduta realizada não foi a mais efetiva para o contexto da área das ações a que ela pertence. O que causa um certo receio é a discussão momentânea que o presente sistema de avaliação poderá desencadear entre professor e aluno, uma vez que existem alunos que procuram notas e não conhecimentos. Mas, uma vez que todos os critérios de avaliação foram previamente divulgados e explicados e o professor está ciente de que não é mais a única fonte de conhecimento6, essa discussão acaba virando uma orientação e uma troca de idéias, baseada na experiência do professor, na filosofia da equipe, na filosofia do curso de Odontologia e na literatura científica consagrada. O professor passa a ser um facilitador da aprendizagem, um consultor, um orientador, um avaliador e um estimulador do aluno4. No Curso de Odontologia da Universidade Católica de Brasília, esse sistema de notas é aplicado em todas as clínicas, pois independe da especialidade que o utiliza. É um sistema flexível, que se adapta a qualquer situação, inclusive às laboratoriais. Para tanto, procuramos atribuir valores diferenciados para os aspectos que julgamos mais importantes, sendo que o desempenho prático e o conhecimento teórico aplicado à prática representam 50% da nota final. Esse aspecto da avaliação está baseado não só na qualidade do desempenho, mas na relação entre embasamento científico, visão crítica e qualidade. Trinta por cento da nota final representa a avaliação isolada sobre os conhecimentos adquiridos, seja na forma de provas seja na de seminários. As provas envolvem sempre uma problemática multidisciplinar, cuja resolução implica saber conceitos e sua aplicabilidade. Em todas as clínicas odontológicas estão previstos seminários ao final do semestre, em que são discutidos assuntos novos ou casos clínicos interessantes desenvolvidos pelo próprio aluno dentro da clínica. Finalizando, em nosso sistema de avaliação, somente 20% representa a produtividade, ou seja, a quantidade de procedimentos concluídos de acordo com uma quantidade pré-definida e previamente divulgada. No total, privilegiamos 80% de nossa avaliação para as qualidades cognitivas, psicomotoras e afetivas e somente 20% para a produtividade do aluno. Nosso sistema de avaliação, apresentado primeiramente no seminário “Ensinando e Aprendendo”2, ainda não privilegiava a produtividade; entretanto, não é justo que a nota de um aluno que produz muito seja a mesma de um aluno que produz pouco; portanto, a inclusão desse último quesito foi fruto de observação e adequação, reforçando um outro aspecto da flexibilidade do sistema adotado, permitindo modificações sem que ocorra a sua descaracterização. Ribeiro (NUTES8, 1999) já salientava o descuido na formação humanista dos profissionais da área de saúde. Lombardo4 (2001) enfatiza que, nos currículos dos cursos de graduação, predominam os objetivos cognitivo e psicomotor, não constando o domínio afetivo. Em nosso sistema de notas, o domínio afetivo e os aspectos humanísticos estão absolutamente inseridos no processo de ensino-aprendizagem, uma vez que no item “conduta”, dentro da nota prática, está prevista a avaliação direta das relações interpessoais. Além disso, o nosso grande objetivo é dar alta ao paciente, sem que este fique voltando a cada ano em turmas diferentes. Somando-se a esse fato, o sistema de produtividade difere de um sistema de quotas, pois representa a execução dos procedimentos que o paciente tem necessidade e não a execução do que o aluno ou o professor desejam realizar. Entretanto, não podemos deixar que o aluno se forme apresentando deficiências na prática odontológica; por isso, após a alta de um paciente, a solicitação do novo paciente respeitará a necessidade de corrigir essas deficiências. Indiretamente, todo o sistema de nota preza o respeito ao paciente e o bom diálogo entre todos que atuam dentro da clínica odontológica. Salienta-se que os alunos sempre trabalham em dupla, ou seja, a quatro mãos. O auxiliar não recebe uma nota individualizada, devido à sua atuação estar vinculada à nota do operador, uma vez que é função do operador orientar quem o está auxiliando, simulando a relação do cirurgião-dentista com um auxiliar de consultório dentário (ACD) ou um técnico em higiene dental (THD). Outro aspecto importante é que as duplas são sorteadas a cada semestre e não se repetem até o final do curso. Tal fato justifica-se devido à necessidade de desenvolver o lado profissional do aluno, pois o mesmo, ao longo de sua carreira, poderá trabalhar com pessoas diferentes e o seu desempenho profissional deverá ser o mesmo, independentemente de “gostar ou não” dos seus colegas de Revista da ABENO • 5(2):109-14 113 Avaliação de clínicas odontológicas na Universidade Católica de Brasília • Carvalho DR, Franco EJ, Pedrosa SF trabalho. O paciente não deve ser influenciado por um possível desentendimento entre os profissionais. Por outro lado, não podemos deixar que esse tipo de imposição interfira negativamente no desempenho do aluno ao longo dos semestres, portanto as duplas já sorteadas não serão jamais repetidas. CONCLUSÃO Passados sete semestres desde a implantação do sistema de avaliação das clínicas odontológicas da Universidade Católica de Brasília, podemos concluir que, independentemente da formação do professor, o processo de avaliação é padronizado, sendo possível confrontar informações entre diversas clínicas, diversos alunos e professores de especialidades diferentes. Há uma uniformização de dados que possibilitam diagnóstico e discussão, os quais culminam com uma reavaliação constante de nossos objetivos dentro do curso de Odontologia. ABSTRACT Evaluation of Dental Clinic Students in the Catholic University of Brasília Many changes have occurred in the pedagogic area concerning the schools of dentistry, based on the new National Guidelines for undergraduate courses of Dentistry in Brazil. These changes end up affecting the disciplines of dental clinic and must be followed by a new concept for dental students’ evaluation. This paper aims to propose a model of evaluation of dental students for any given dental clinic. The new evaluation system is the result of three evaluations: practical (50%), theoretical (30%) and productivity (20%) ones, and students must score seven or more. The practical evaluation is subdivided into three aspects, namely, behavior, material and procedure. The theoretical evaluation comprises the grade given to students in written tests and seminars. The productivity 114 evaluation involves the number of procedures performed by students. After seven semesters observing this model, we concluded that the evaluation system enabled the exchange of information among faculty members and students of the different clinics. The data collected becomes uniform, which enables diagnosis and discussion, and constant re-evaluation of our objectives in the teaching of dentistry. DESCRIPTORS Education, dental. Teaching, trends. Educational measurement. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Barrios O, de la Torre S. Curso de formação para educadores: estratégias didáticas inovadoras. São Paulo: Madras; 2002. 257 p. 2. Carvalho DR, Pedrosa SF, Brito LM, Cavalari MC. Proposta de avaliação em clínica integrada. Seminário Ensinando e Aprendendo. Revista da ABENO 2002;2(1):28. 3. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES 3/2002, de 19 de fevereiro de 2002. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Odontologia. Diário Oficial da União. Sec. 1, p. 10. Brasília, 04 mar 2002. 4. Lombardo I. Reflexões sobre planejamento do ensino de odontologia. Revista da ABENO 2001;1(1):17-24. 5. Marcondes E, Gonçalves EL. Educação médica. São Paulo: Sarvier; 1998. 409 p. 6. Nóvoa A. Universidade e formação docente. Interface-Comun Saúde Educ 2000;4(7):129-37. [Entrevista]. 7. Rocha LIT. Avaliação do ensino e da aprendizagem e a relação com o projeto pedagógico. Revista da ABENO 2001;1(1):823. 8. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde (NUTES). Caderno semestral do laboratório de currículo e ensino. Ano 1, out 1999. Revista da ABENO • 5(2):109-14 Aceito para publicação em 06/2005 O cirurgião-dentista como educador em saúde bucal: explorações em torno de uma prática A suspeita da não-efetividade das ações educativas em saúde realizadas por profissionais da Odontologia levou-nos a esta pesquisa, que poderá servir de base para capacitar futuros profissionais na função de educadores. Natan Guterman* * Mestre em Odontologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: [email protected]. RESUMO Neste estudo, procurou-se identificar as representações sociais de “Educação em Saúde” construídas pelos alunos da graduação em Odontologia de duas faculdades de Brasília (uma pública e outra privada) e por Cirurgiões-Dentistas (CDs) formados nos anos 80 e 90 em diante, escolhidos aleatoriamente em Brasília-DF. Este trabalho também visou servir de base para investigações mais pormenorizadas e aprofundadas acerca do exercício da atividade educativa em saúde para atender às necessidades da população, no sentido de contribuir com a melhor adequação do perfil profissional. Foram pesquisados ao todo 60 sujeitos, sendo 20 graduandos de cada instituição de ensino e 10 Cirurgiões-Dentistas de cada faixa supracitada. Utilizou-se como instrumento de coleta de dados um questionário contendo perguntas fechadas sobre informações sociodemográficas dos sujeitos, incluindo campo específico para registro do Teste de Associação Livre de Palavras. Nesse teste, solicitou-se aos sujeitos que dissessem as cinco primeiras palavras associadas ao tema “Educação em Saúde” e, posteriormente, as duas palavras mais importantes dentre essas. A análise das citações foi executada por meio da Teoria do Núcleo Central. As respostas obtidas às perguntas fechadas foram transportadas para tabelas, gráficos representativos e diagramas. Os resultados mostraram que as representações sociais dos sujeitos dos quatro grupos estudados tenderam para prevenção/educação. DESCRITORES Educação em saúde bucal. Representações sociais. Odontologia social. A educação em saúde é considerada nos dias atuais uma das ações mais importantes na prática odontológica, podendo contribuir com a preservação/promoção da saúde do paciente na medida em que trabalha na construção coletiva dos novos conceitos e tecnologias, bem como nas reais condições em que os mesmos são compreendidos e postos em prática. Porém, muitas vezes o processo de educação limita-se a dizer aos pacientes o que eles deveriam fazer, em lugar de dar condições a eles de tomarem suas próprias decisões10. Na Odontologia, apesar do reconhecimento formal acerca das ações educativas em saúde, bem como de sua prática, ainda ostenta-se um caráter com atenção centrada sobre o indivíduo e com atividades curativas. A fragmentação do objeto em função da especialização ainda focaliza as atividades clínicas, notoriamente de cunho curativo, superenfatizando procedimentos e técnicas na resolução dos problemas de saúde bucal. Essa situação é reforçada tanto no nível da Universidade, quanto nos serviços de saúde. Há que se considerar, além desses aspectos, a forma como a Odontologia absorveu a educação em saúde, adotando a educação em saúde bucal, fruto naturalmente do modelo vigente que aponta uma prática fragmentada e despojada de ações transformadoras. Esse modelo privilegia as ações curativas e, mais ainda, Revista da ABENO • 5(2):115-24 115 O cirurgião-dentista como educador em saúde bucal: explorações em torno de uma prática • Guterman N os procedimentos ditos clínicos, provavelmente devendo-se ao fato de a Odontologia possuir, desde os primórdios do ofício, um forte apelo técnico em virtude da natureza de sua prática em recuperar a forma e a função dos elementos dentários. A despeito das questões envolvendo as demais estruturas da cavidade bucal, os chamados “tecidos moles” (gengiva, mucosa oral), os primeiros problemas a serem demandados sempre foram de ordem dentária. Assim, alguns autores têm enaltecido a ação de educar em saúde com ressalvas metodológicas, enquanto outros a criticam segundo as formas como ela se apresenta perante o público, com suas inúmeras linguagens equivocadas e recheadas de termos técnicos incompreensíveis para a maioria da população. A dificuldade de comunicação dos profissionais de Odontologia e seu aparente despreparo, na graduação, em termos de conteúdos didático-pedagógicos foram situações percebidas na prática diária do serviço público de saúde bucal, levando-nos a esta pesquisa, que objetivou identificar as representações sociais da Educação em Saúde de cirurgiões-dentistas e graduandos de Odontologia. Isso servirá de base para a elaboração de estratégia didático-pedagógica para capacitar os futuros profissionais na função de educadores, quiçá demonstrar a necessidade de adicionar alguns conteúdos disciplinares indispensáveis a essa nobre função. DEFINIÇÃO DO PROBLEMA Desde quando se iniciou profissionalmente no serviço público de saúde, trabalhando com o coletivo em palestras sobre temas de saúde bucal, perceberamse diversas lacunas na relação informação-percepção por parte da clientela desse serviço. Os usuários não estavam conseguindo compreender as mensagens sobre saúde bucal direcionadas a eles pelos cirurgiõesdentistas. Essa situação foi evidenciada na observação de suas fisionomias incrédulas e pelos resultados nãootimistas obtidos durante o tratamento odontológico. Percebeu-se também que aqueles profissionais, durante as palestras sobre saúde bucal, utilizavam linguagem científica, com termos técnicos próprios, criando verdadeira barreira à comunicação. Essa constatação iniciou um processo de questionamento e curiosidade que levou a indagações: seriam os cirurgiões-dentistas profissionais realmente aptos a educar em saúde? O simples conhecimento – o saber técnico específico – capacitaria esses profissionais para isso? A suspeita da não-efetividade das ações educativas 116 em saúde realizadas pelos profissionais de Odontologia acompanhou-nos durante a presente pesquisa, tendo-se em vista as observações pessoais já citadas. Esse problema justificou nossa investida em campo, no sentido de identificar quais as representações sociais desses sujeitos, para tentar compreender como a Educação em Saúde é entendida e como seu conceito está sendo trabalhado nas práticas diárias desses profissionais. Foi igualmente necessário pesquisar como o tema é tratado na literatura odontológica. Dessa forma, notou-se que a Educação em Saúde é abordada de vários modos, sendo, em sua grande maioria, sob forma de análise de programas com caráter educativo-preventivo, voltados para tipos diferenciados de clientela (crianças e seus pais, idosos, acompanhantes de crianças hospitalizadas, crianças HIV-positivas, gestantes, deficientes visuais). Inclui-se nesse rol verificação da eficácia/eficiência de diferentes recursos didáticos (palestras, uso de músicas, teatro, uso de macromodelos etc.). Outros trabalhos procuraram avaliar o conhecimento popular e as práticas de saúde bucal utilizadas por usuários de serviços públicos de saúde. Houve também os que evidenciaram a importância das ações educativas e preventivas. De qualquer forma, a Educação em Saúde mostrou-se como tema de importância na Odontologia Social. Neste estudo, identificou-se também a necessidade de se pesquisarem não apenas os cirurgiões-dentistas, mas também os graduandos de Odontologia, pois a formação poderia, ainda nos dias atuais, carecer de certos conteúdos necessários à função de educador em saúde na atualidade, ocasionando distorções nas práticas. Com relação às ações cotidianas dos profissionais de Odontologia, nota-se a existência de algumas dificuldades por parte desses no sentido de trabalhar atividades educativas em saúde. Uma delas seria a comunicação entre o dentista e o paciente, que pode ser dificultada pela linguagem usada, pela distância cultural, pelos preconceitos existentes de ambos os lados, além de outros fatores. Para ilustrar, Bervique, Medeiros4 (1980) ressaltam algumas das dificuldades de comunicação do cirurgião-dentista. Ele não se percebe como mau comunicador, assim como os professores recusam-se a achar suas aulas ruins. Quase sempre está preocupado em transmitir de modo técnico-científico as mensagens, isto é, em falar do problema do paciente e do tratamento a ser realizado em vez de assegurar-se da compreensão de seu linguajar pelas pessoas comuns. Por vezes, suas idéias são tão mal organizadas que não se Revista da ABENO • 5(2):115-24 O cirurgião-dentista como educador em saúde bucal: explorações em torno de uma prática • Guterman N faz entender pelo paciente. Para Belaciano3 (1996), uma das dificuldades dos profissionais de saúde é o desconhecimento das práticas de comunicação e de abordagem comunitária. Talvez por causa da excessiva preocupação com questões ligadas à prática clínica quando da formação desse tipo de profissional a capacitação para esse tipo de atividade não tenha sido devidamente considerada como importante. Há ainda o problema da velocidade da fala. Alguns falam tão rápido, que chegam ao ponto de os esclarecimentos e as orientações não serem compreendidos pelas pessoas. Na abordagem das pessoas, deve-se ter em mente o enraizamento de diversos conceitos incorporados e construídos durante a vida. Certamente, não é em uma simples aula ou palestra ou por outro modo de exposição que se pode conseguir educar alguém, no sentido de mudança de hábitos, de rotinas. Costa, Albuquerque5 (1997), discutindo as questões de ordem pedagógica no processo educativo, afirmam: “Para quem é educador é importante lembrar que não basta o domínio da técnica, do conteúdo, do que ensinar. Mais importante que isso é como ensinar; o que, por sua vez, implica o mínimo de formação pedagógica, para que se consiga o objetivo final, que deverá ser a transformação da realidade a partir da modificação do comportamento, via novos conhecimentos.” Esses conceitos e suas influências, geralmente construídos e experimentados lentamente ao longo do tempo, configuram-se em senso comum de idéias, crenças e imaginários próprios, os quais não obrigatoriamente são iguais aos de quem educa. Com isso, não se deve esperar a simples aceitação imediata e passiva, por determinado grupo de pessoas, de ensinamentos transmitidos no processo educativo, pois diferentes grupos de pessoas possuem diferentes idéias sobre um mesmo objeto. Tendo-se em vista essa situação, justifica-se o uso da Teoria das Representações Sociais na área da saúde como um todo. Como a Teoria das Representações Sociais versa sobre o conjunto de conceitos, proposições e explicações originadas na vida cotidiana, segundo o curso de comunicações interpessoais, caberia sua aplicação como referencial metodológico, visto que os sujeitos em questão devem possuir, enquanto pertencentes a determinado grupo social, certa organização da informação disponível sobre determinado objeto. Então, tomando-se a Educação em Saúde como um desses objetos, é de se esperar que grupos de pessoas possuam uma representação. Dessa forma, a imagem desses sujeitos sobre a Educação em Saúde teria impacto capital em determinadas atitudes tomadas nas práticas diárias desses profissionais e, dependendo dessa imagem, estas seriam ações bem ou malsucedidas. Além disso, a identificação das representações sociais em Educação em Saúde, uma vez discutida na pesquisa quando da análise dos dados, forneceria importante ferramenta a ser trabalhada, reforçando esses conceitos ou modificando-os e colaborando para a efetividade do processo educativo em saúde. Dessa forma, poder-se-ia afirmar que a Teoria das Representações Sociais poderia ser utilizada também no estudo de grupos de sujeitos a quem se desejaria educar em saúde, partindo-se de sua representação sobre esse objeto. A análise das representações sociais, uma vez realizada, daria consistência metodológica, ou seja, científica ao trabalho de Educação em Saúde. Justifica-se, portanto, a adoção de uma abordagem grupal em discussões envolvendo Educação em Saúde, pois, na atualidade, a Odontologia tende a tratar as questões de saúde pública no coletivo, não mais enfocando o indivíduo, principalmente considerando-se os programas atuais, como o Programa de Saúde da Família (PSF) e as ações odontológicas coletivas no Sistema Único de Saúde (SUS). Na adoção de uma teoria que trata de representações existentes nos grupos de pessoas, uma vez se identificando os conceitos existentes sobre Educação em Saúde, isto é, como se traduz esse objeto, tem-se maior compreensão dos fenômenos relativos à saúde/doença bucais, podendo-se contribuir para a recuperação/manutenção da saúde. A TEORIA DO NÚCLEO CENTRAL Em 1976, Abric1 propôs a hipótese do núcleo central, sendo formulada nos seguintes termos: “a organização de uma representação social apresenta uma característica específica, a de ser organizada em torno de um núcleo central, constituindo-se em um ou mais elementos que dão significado à representação” (p. 31). Optou-se por utilizar a Teoria do Núcleo Central nesta pesquisa, pois ela proporciona descrições mais detalhadas de certas estruturas hipotéticas, bem como explicações de seu funcionamento que se mostrem compatíveis com a teoria geral das representações so- Revista da ABENO • 5(2):115-24 117 O cirurgião-dentista como educador em saúde bucal: explorações em torno de uma prática • Guterman N ciais. Porém, essa teoria não pretende substituir a abordagem teórica primordial. Ela constitui uma das maiores contribuições atuais ao refinamento conceitual, teórico e metodológico do estudo das representações sociais (Sá, 1996, p. 51-2). O Núcleo Central tem duas funções fundamentais na estrutura das representações sociais: a função geradora, que possibilita a criação ou transformação do sentido dos outros elementos constituintes da representação, e a função organizadora, por meio da qual se determina a natureza dos elos que unem os diferentes elementos. Dessa forma, tem-se uma centralidade em torno do sentido e valor e outra proporcionada pela organização de sua unidade e estabilidade. Em torno do Núcleo Central organizam-se os elementos periféricos, constituindo o conteúdo essencial da representação, seus componentes mais acessíveis, mais vivos e mais concretos, enfatizando, dessa forma, sua estrutura fundamental. Abric1 (2000) descreve o sistema periférico tendo determinação mais individualizada e contextualizada que o Núcleo Central e sendo: “...mais associado às características individuais e ao contexto imediato e contingente, nos quais os indivíduos estão inseridos. Esse sistema periférico permite uma adaptação, uma diferenciação em função do vivido, uma integração das experiências cotidianas. Eles permitem modulações pessoais em referência ao núcleo central comum, gerando representações sociais individualizadas. Bem mais flexível que o sistema central, ele protege esse último de algum modo, permitindo a integração de informações e até de práticas diferenciadas. Permite também uma certa homogeneidade de comportamento e de conteúdo. (...) associado ao sistema central, permite a ancoragem na realida- de...”. O Quadro 1 resume as diferenças entre esses dois componentes da representação social. METODOLOGIA A presente pesquisa é do tipo exploratório, de natureza qualitativa, tendo como suporte teórico a Teoria das Representações Sociais, já citada anteriormente. Foi realizada em Brasília-DF, com uma amostra intencional de 60 sujeitos, composta por três grupos a saber: Grupo 1 - 20 Cirurgiões-Dentistas (CDs) da Secretaria de Estado da Saúde do Distrito Federal; Grupo 2 - 20 graduandos de Odontologia de uma faculdade pública; e Grupo 3 - 20 graduandos de Odontologia de uma faculdade privada. Resolveu-se estudar sujeitos de diferentes origens de curso (público e privado) para que se pudesse verificar se teriam diferentes representações sociais sobre Educação em Saúde. O Grupo 1 foi subdividido em dois subgrupos: o subgrupo 1A, composto por CDs formados entre 1980 e 1989; e o subgrupo 1B, formado por 10 CDs que se graduaram no período de 1990 até os dias atuais. Com relação aos alunos de Odontologia, pesquisaram-se sujeitos que estavam no 9º e no 10º períodos das duas faculdades envolvidas no estudo. Processo de seleção A respeito do processo de seleção dos CDs, seguiuse o critério de disponibilidade para a pesquisa. A Secretaria de Estado da Saúde do Distrito Federal dispõe de regionais de saúde em sua estrutura hierarquizada e descentralizada; como a Regional de Saúde de Taguatinga é a que possui maior quantidade de CDs Quadro 1 - Comparação entre o Sistema Central e o Sistema Periférico. Sistema Central Sistema Periférico • Ligado à memória coletiva e à história do grupo • Permite a integração de experiências e histórias individuais • Consensual • Define a homogeneidade do grupo • Tolera a heterogeneidade do grupo • Estável • Coerente • Rígido • Flexível • Tolera as contradições • Resiste às mudanças • Evolutivo • Pouco sensível ao contexto imediato • Sensível ao contexto imediato Funções: • Gera o significado da representação • Determina sua organização Funções: • Permite a adaptação à realidade concreta • Permite a diferença de conteúdo Fonte: Abric1 (2000). 118 Revista da ABENO • 5(2):115-24 O cirurgião-dentista como educador em saúde bucal: explorações em torno de uma prática • Guterman N que, devido à natureza de seu trabalho, poderiam estar realizando em suas unidades a Educação em Saúde, essa Regional foi eleita como o universo de CDs a serem pesquisados. Com relação aos graduandos da faculdade pública, à época do contato com esses sujeitos, a instituição encontrava-se em greve e, com isso, houve muita dificuldade nesse passo. Contudo, por meio do supervisor de estágio dos alunos, os indivíduos foram contatados via telefone, sendo questionados quanto à sua disponibilidade para participar da pesquisa. No que se relaciona aos graduandos da faculdade privada, o autor entrou em contato direto com a mesma, apresentando o projeto de pesquisa que, após sua análise, foi prontamente liberado para o estudo. Os períodos da graduação de ambas as instituições de ensino foram escolhidos em função da maior carga horária disponível e ainda por esses alunos já terem trabalhado com esses conteúdos. Todos os sujeitos foram selecionados aleatoriamente, segundo o critério de disponibilidade para a entrevista. Esse critério, tendo-se em vista sua aleatoriedade intrínseca, ofereceu oportunidade de se considerarem ambos os gêneros e as faixas etárias na escolha dos sujeitos em questão. Questões éticas É importante afirmar que houve a preocupação do autor com questões de ordem ética envolvidas no estudo. Dessa forma, o projeto de pesquisa foi submetido aos Comitês de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde do Distrito Federal (DF), obtendo sua aprovação. Quanto aos CDs, contatou-se a Secretaria de Saúde do DF por meio da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde do DF, bem como o Diretor da Regional de Taguatinga, para que concordassem com a participação desses sujeitos no estudo, obtendo-se sua anuência. Da mesma forma, solicitou-se do Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN, vínculo acadêmico do autor, a permissão para a realização da pesquisa. É importante ressaltar que a todos os sujeitos envolvidos no estudo foi assegurado o direito de participação ou não na pesquisa, bem como da desistência em qualquer etapa da pesquisa, respeitando-se a autonomia. Outra questão importante foi a preocupação do autor com relação à anuência dos sujeitos à participação. Dessa forma, a cada um deles entregou-se uma cópia do Termo de Consentimento Informado, docu- mento necessário para a concordância com a participação no estudo. A cada uma das fichas individuais nas quais os dados foram devidamente coletados, anexou-se uma cópia assinada desse Termo, em conformidade com as necessidades éticas. Instrumento para coleta dos dados O instrumento utilizado para a coleta de dados foi um questionário contendo perguntas fechadas sobre informações sociodemográficas dos sujeitos, incluindo campo específico para registro do Teste de Associação Livre de Palavras. Procedimento de coleta dos dados A pesquisa adotou a Técnica de Associação Livre de Palavras para a coleta dos dados, bem como procurou identificar dados sociológicos de todos os sujeitos envolvidos, tais como idade, sexo e ano de graduação, para o grupo dos CDs e período de graduação, para o grupo dos graduandos de Odontologia. Segundo Gil8 (1991), o Teste de Associação Livre de Palavras é um teste projetivo, isto é, fundamenta-se na apresentação de uma situação estimulante após a qual o sujeito reage de acordo com o significado particular e específico que essa situação assume para ele. Optou-se nesse estudo por adotar o teste projetivo do tipo “verbal”, que utiliza palavras como estímulo e solicita associações, complementação de frases ou histórias. Esses testes são úteis na pesquisa social quando se acredita que as pessoas possam hesitar em exprimir diretamente suas opiniões, por temer a desaprovação do pesquisador, ou quando as pessoas tendem a considerar as perguntas diretas como ameaçadoras de sua privacidade. Para Gil8 (1991), a associação de palavras: “...é o procedimento verbal mais simples e se fundamenta numa técnica empregada por Jung para o estudo do comportamento anormal. Certo número de palavras é apresentado a determinada pessoa, que deve dizer o primeiro pensamento que associa com cada palavra. Parte dessas palavras apresenta conteúdo neutro; outras, porém, estão ligadas às atitudes sociais que estão sendo pesquisadas” (p. 152). Sendo assim, a situação estimulante foi a seguinte pergunta: “Quando você ouve a expressão ‘Educação em Saúde’, quais são as palavras que lhe vêm à lembrança?”. Solicitou-se, então, a cada sujeito, que citasse cinco palavras relacionadas a essa expressão; em seguida, pediu-se a cada sujeito que apontasse as duas Revista da ABENO • 5(2):115-24 119 O cirurgião-dentista como educador em saúde bucal: explorações em torno de uma prática • Guterman N que, dentre as cinco ditas, fossem mais importantes para ele e também que expressasse as razões das escolhas. Estudo-piloto Como etapa preliminar, foi realizado um estudopiloto com graduandos do curso de Odontologia da UFRN, visto que à época o autor estava em meio ao curso de Mestrado em Odontologia Social, tendo sido o curso de Odontologia da mesma universidade o universo eleito devido à conveniência de proximidade. Essa fase objetivou a familiarização do autor com a técnica eleita para o estudo, bem como a execução de quaisquer ajustes que, por ventura, se fizessem necessários. Antes da aplicação propriamente dita do teste, para que os sujeitos pudessem entender o que se pretendia, fez-se um pré-teste. Dessa forma, pediu-se a cada indivíduo que dissesse palavras soltas diretamente relacionadas com determinadas expressões, tais como “aniversário”, “casamento”, “esporte”, até que cada sujeito compreendesse o mecanismo do teste. Somente após essa compreensão e quando as palavras passavam a ser ditas imediatamente às expressões sugeridas pelo pesquisador, dava-se então início à coleta de dados. Esse artifício pretendeu colher respostas com mínima chance de elaboração. Análise dos dados Os dados sociodemográficos (faixa etária, sexo) foram dispostos em gráficos comparativos criados pelo programa Microsoft Excel®, versão 2000. A análise realizada apoiou-se nos dados obtidos quando da aplicação da Técnica de Associação Livre de Palavras (TALP). No agrupamento dos elementos, procedeu-se a apresentação de cada tema individualmente. O modo de análise utilizado favoreceu o destaque de temas que mais chamaram a atenção, correlacionando-os com a prática odontológica, sendo essa a forma que foi adotada. Essa análise seguiu a proposta de Vergès apud Pessoa11 (1999), combinando a freqüência de emissão das palavras com a ordem em que essas foram citadas. Ao se optar por esse tratamento, pretendeu-se captar o princípio organizador da ancoragem da representação do objeto em estudo. Assim, os temas citados foram dispostos em tabelas, uma para cada grupo (incluindo subgrupos), segundo sua ordem de citação. Foram construídos diagramas resultantes do estudo estatístico e base com quatro quadrantes para as 120 análises das relações, em que se dispuseram os temas citados segundo a Ordem Média das Evocações (OME) de cada grupo e as freqüências médias de citação desses temas. Procurou-se identificar e caracterizar tanto o Núcleo Central, quanto os Elementos Periféricos das representações sociais dos três grupos estudados. NÚCLEO CENTRAL E SISTEMA PERIFÉRICO Antes da apresentação da estrutura das representações sociais dos grupos estudados, serão evidenciadas algumas características da amostra estudada. Quanto à faixa etária dos sujeitos entrevistados do subgrupo 1A, 60% tinham entre 35 e 40 anos de idade, demonstrando certo amadurecimento profissional. Com relação aos do subgrupo 1B, 50% estavam concentrados na faixa etária de 25 a 30 anos (Gráfico 1). Com relação aos alunos de Odontologia pesquisados nas duas instituições de ensino (Grupos 2 e 3, respectivamente pública e privada), 95% dos que estavam cursando o 9º e o 10º períodos estavam compreendidos na faixa etária de 21 a 25 anos e apenas 5%, na faixa de 26 a 30 anos de idade. Levando-se em consideração o sexo dos CDs entrevistados, observou-se que, tanto para o caso dos sujeitos do subgrupo 1A quanto para os do 1B, 60% eram mulheres (Gráfico 2). Com relação aos sujeitos do Grupo 2, participaram da pesquisa 50% de mulheres e 50% de homens; no caso dos sujeitos do Grupo 3, essa relação foi outra: no 9º período, 90% mulheres e no 10º período, 70%. (%) 70 60 anos 80 anos 90 50 40 30 20 10 0 21-25 25-30 31-35 35-40 Faixa etária Gráfico 1 - Faixa etária dos sujeitos do grupo 1. Revista da ABENO • 5(2):115-24 O cirurgião-dentista como educador em saúde bucal: explorações em torno de uma prática • Guterman N (%) 70 60 50 40 30 20 10 0 Mulheres Homens Gráfico 2 - Distribuição percentual dos sujeitos dos sub- grupos 1A e 1B. Esse fato ocorreu provavelmente devido à alta proporção de mulheres encontrada comparando-se com a quantidade de homens em cada turma, parecendo ser tendência geral nos cursos de Odontologia. Essa evidência é encontrada nos trabalhos de Freire et al.6 (1995) sobre o perfil dos alunos de Odontologia de uma universidade pública e de Freitas, Nakayama7 (1995) sobre o perfil do aluno de Odontologia no estado de São Paulo. Com relação à Técnica da Associação Livre de Palavras, uma vez tendo-se colhido as cinco palavras ditas pelos sujeitos, atingiu-se um conjunto disperso e heterogêneo de unidades semânticas. Face a essa desordem, tornou-se necessária a categorização dessas unidades. Dessa forma, as palavras foram separadas por seus sinônimos ou por proximidade semântica. Aquelas palavras idênticas porventura encontradas foram descontadas2. Por exemplo, as palavras “necessário” e “necessidade” foram incluídas no mesmo grupo. Neste trabalho, em virtude da idéia de classe ou série, preferiu-se utilizar o conceito de “temas”. Justificando a adoção da expressão “temas” em lugar de “categorias”, cita-se Minayo9 (2000), afirmando que a expressão “categoria” refere-se a um conceito que abrange elementos ou aspectos com características comuns ou relacionados entre si. Essa palavra está ligada à idéia de classe ou série. As categorias são empregadas para se estabelecerem classificações. Nesse sentido, trabalhar com elas significa agrupar elementos, idéias ou expressões em torno de um conceito capaz de abranger tudo isso. Esse tipo de procedimento, de modo geral, pode ser utilizado em qualquer tipo de análise em pesquisa qualitativa. Desse modo, as palavras foram renomeadas em “temas”, segundo seu grupo. Dessa forma, no total, chegou-se a 300 palavras, sendo que, no caso dos sujeitos do subgrupo 1A, chegou-se a 42 palavras diferentes. Para o subgrupo 1B, obtiveram-se 38 palavras. Aparentemente, houve uma similaridade entre esses dois subgrupos na contagem das palavras citadas. Com relação aos sujeitos do Grupo 2, encontraram-se 72 palavras diferentes e, finalmente, para os do Grupo 3, chegou-se a 54 palavras diferentes. Após o processo de categorização, realizada levando-se em consideração cada um dos grupos e subgrupos de sujeitos trabalhados separadamente, o número de temas encontrados em cada grupo estudado foi, respectivamente, 15, 22, 26 e 27. Logo após esse procedimento, calculou-se a freqüência média de evocação dos temas em cada grupo (média aritmética das evocações dos temas, valor-limite). Esse valor-limite da freqüência foi calculado dividindo-se o somatório das evocações de todos os temas em todas as posições de evocação de um dado grupo pelo total de temas encontrados naquele grupo. Com relação à freqüência média de evocação, obteve-se, então, para o caso dos sujeitos do subgrupo 1A, 3,33 de freqüência média de evocação (50 palavras evocadas dividido por 15 temas). Para os do subgrupo 1B, encontrou-se 2,27 (50 palavras evocadas dividido por 22 temas). Para os alunos do Grupo 2, chegou-se a 3,84 (100 palavras evocadas dividido por 26 temas) e, finalmente, para os do Grupo 3, a freqüência média foi de 3,70 (100 palavras evocadas dividido por 27 temas). Essa diferença entre a quantidade de temas encontrados nos dois subgrupos pode indicar que os sujeitos formados nas últimas décadas tenham tido, durante a graduação, maiores oportunidades de discussão com relação ao tema “Educação em Saúde”, explicando o motivo de se ter identificado nesse subgrupo maior diversificação dos termos. É provável que, na década de 1980, os indivíduos não tenham tido essa oportunidade de abordar, em suas discussões na sala de aula, a Educação em Saúde em profundidade, pois tratavase de período em que a prevenção estava iniciando como novo paradigma no meio odontológico. Ainda mais, sabe-se da discrepância entre a academia e a prática profissional na Odontologia; em outras palavras, o meio universitário parece não acompanhar as novas discussões que ocorrem nos serviços. De qualquer forma, os temas com maior freqüência de citação foram, nos dois casos, prevenção e educação. Revista da ABENO • 5(2):115-24 121 O cirurgião-dentista como educador em saúde bucal: explorações em torno de uma prática • Guterman N Outro dado importante foi a OME dos temas. Esse dado tem por função relacionar a posição em que o sujeito evocou determinado tema (da 1ª até a 5ª evocação). Procurou-se na verdade verificar a diferença de peso entre uma evocação e outra em função da seqüência dada aos temas, implicando a atribuição de um valor correspondente à posição relativa de cada um deles. Trata-se do cálculo da média ponderada. Dessa forma, para a primeira evocação atribuiu-se o peso 1, à segunda, o valor 2, e daí por diante até à quinta evocação, cujo valor dado foi 5. A OME foi calculada em três etapas: 1ª. multiplicando-se as freqüências de evocação de cada tema pelo número de ordem da respectiva evocação, segundo o critério descrito anteriormente (número 1 - peso dado à 1ª evocação; número 2 - peso dado à 2ª, e daí por diante); 2ª. somando-se todos os produtos acima citados; 3ª. dividindo-se a soma dos produtos de cada tema pelo total das evocações desse tema. De posse desses dados, os valores das freqüências médias de evocação e das médias das OME foram dispostos em um diagrama, dividido em quatro quadrantes, colocando-se acima do eixo horizontal os temas com freqüência de citação maior ou igual à freqüência média das evocações; os com valor menor que a freqüência média das evocações ficaram abaixo do eixo horizontal. Os temas de OME maior que a média das ordens médias de evocação ficaram dispostos à direita do eixo vertical, enquanto os de menor valor ficaram à esquerda desse eixo. Seguindo-se Vergès apud Pessoa11 (1999), verificase, a seguir, a estrutura das representações sociais (Núcleo Central e Sistema Periférico) da Educação em Saúde nos grupos estudados: “Os elementos que provavelmente participam do Núcleo Central da representação – os de maior freqüência e pronta evocação – situam-se no quadrante superior esquerdo. No quadrante inferior direito – os de menor freqüência e evocação mais tardia –, situam-se os elementos periféricos das representações. Os elementos dos quadrantes restantes, superior direito e inferior esquerdo, possibilitam uma interpretação menos direta, uma vez que tratam de cognições que, apesar de não estarem compondo o Núcleo Central, mantêm uma relação de proximidade com este.” Assim, identificaram-se, quanto aos sujeitos do subgrupo 1A, dois temas destacando-se dos demais em termos de freqüência de citação e que têm grande possibilidade de pertencer ao Núcleo Central das representações sociais: os temas “prevenção” e “educa122 ção”. Os resultados quanto aos sujeitos do subgrupo 1B mostraram, da mesma forma que no subgrupo 1A, os temas “educação” e “prevenção” em destaque, apenas diferindo pela inversão na freqüência de citação, ou seja, o tema “prevenção” encontrava-se mais citado que “educação”. Quanto aos sujeitos do grupo 2, os temas “prevenção” e “educação”, da mesma forma, surgiram novamente com as maiores freqüências de citação, sugerindo sua participação no Núcleo Central das Representações Sociais de Educação em Saúde para os grupos até então discutidos. Finalmente, os resultados em relação aos sujeitos do grupo 3. Observa-se que esse grupo confirma a indicação dos temas “prevenção” e “educação” como componentes do Núcleo Central. O Núcleo Central das Representações Sociais de “Educação em Saúde” para os sujeitos do subgrupo 1A compõe-se dos temas “educação”, “prevenção”, “população” e “saúde”, sendo as de maior destaque a “educação” e a “prevenção”, segundo o critério de maior freqüência de citação (13 e 11 vezes, respectivamente). Parece também que os Elementos Periféricos das Representações Sociais estão representados pelos temas “não-imposição”, “diária”, “direito de todos”, “beleza”, “função”, “qualidade” e “compromisso”. Quanto aos sujeitos do subgrupo 1B, destacaramse os seguintes temas como pertencentes ao Núcleo Central das Representações Sociais: “prevenção” e “educação”. A “prevenção” apresentou maior freqüência de evocação (16 vezes). Nos Elementos Periféricos, destacaram-se os temas “saúde”, “população”, “técnica”, “priorização”, “adequação”, “atualização”, “novidade”, “colaboração do paciente”, “gratificante”, “Odontologia”, “rotina”, “simples” e “futuro”. Dos Elementos Periféricos, alguns apresentaram evocação mais tardia: “atualização”, “gratificante” e “futuro”. Com relação aos sujeitos do grupo 2, os elementos constituintes do Núcleo Central das Representações Sociais foram relativos aos seguintes temas: “prevenção” (com 23 evocações), “educação” (com 15), “necessidade” e “saúde”. Para os Elementos Periféricos, destacaram-se “disciplina”, “atitude”, “disponibilidade”, “interessante”, “difícil”, “luta”, “beneficência” e “vitória”. Desses, os que apresentaram evocação mais tardia foram “atitude”, “interessante”, “beneficência” e “vitória”. Finalmente, com relação aos sujeitos do grupo 3, observaram-se os seguintes temas pertencentes ao Nú- Revista da ABENO • 5(2):115-24 O cirurgião-dentista como educador em saúde bucal: explorações em torno de uma prática • Guterman N cleo Central das Representações Sociais: “prevenção” (com freqüência de evocação de 24), “educação” (17), “saúde” (12), “população”, “necessidade” e “precária”. Quanto aos Elementos Periféricos, estes se constituíram por “motivação”, “alimentação”, “resultado”, “abrangente”, “satisfação”, “positivo”, “hábitos”, “incentivo”, “hospedeiro” e “melhoria”. Mesmo após a evidenciação da estrutura das representações, para se ter certeza desses achados, tornaram-se necessários mais alguns tratamentos complementares aos dados (reteste). Assim, construiu-se um quadro demonstrativo das freqüências e da classificação dos temas evocados no quadrante um, referente aos elementos constituintes do núcleo das representações. No reteste, constatou-se que o tema mais destacado nas evocações, segundo o critério de mais indicações na 1ª posição, foi “prevenção”. Esse tema recebeu as maiores indicações no cômputo geral (f = 74); com relação aos sujeitos do subgrupo 1B o resultado foi f = 16; aos sujeitos do grupo 2, f = 23, e aos do Grupo 3, f = 24. Recebeu também a segunda colocação junto aos sujeitos do subgrupo 1A (f = 11). O segundo tema a considerar foi “educação”. Esse recebeu a primeira colocação por parte dos CDs formados nos anos 80 (f = 13) e a segunda no cômputo geral (f = 53) e nos demais grupos pesquisados. Observou-se, junto aos sujeitos do subgrupo 1B, freqüência 8, aos sujeitos do grupo 2 e junto aos do grupo 3, freqüência 17. O terceiro tema com mais freqüência de citação foi “necessidade”, surgindo no cômputo geral com freqüência 13 de citação. Porém, apareceu apenas nos grupos 2 e 3, obtendo junto aos sujeitos do subgrupo 1A a freqüência 7 e, com relação aos do grupo 3, freqüência 6. DISCUSSÃO As evocações iniciais e as reevocações valorativas praticamente conservaram a mesma ordem de classificação. A primeira posição na classificação do cômputo geral refere-se ao tema “prevenção”, com freqüência 74 de citação e colocada 21 vezes em primeira posição de citação. O mesmo fenômeno ocorreu com relação ao tema “educação”, surgindo no cômputo geral na segunda posição e apresentando freqüência 53 de citação. Temas prováveis do Sistema Periférico Tendo-se identificado a composição dos elementos do Núcleo Central, passa-se a enfocar o Sistema Periférico, revelado no quadrante 3. Da mesma forma como o quadrante 1 caracterizou-se por apresentar os temas de maior freqüência de citação e as menores OME, o quadrante 3 apresenta os temas de menor freqüência de citação e as maiores OME. Assim, o quadrante 1 representa os componentes do Núcleo Central e o quadrante 3, o provável Sistema Periférico da representação social. Quanto aos elementos periféricos, observou-se que apenas um tema destacou-se dos demais, em função do somatório das freqüências de citação, qual seja “Disciplina” (freqüência 3), enquanto os demais temas encontrados tiveram grande dispersão, tendo-se encontrado a maioria deles com freqüência 1. CONCLUSÃO Ao que parece, a representação social de Educação em Saúde, para os três grupos pesquisados, configurase como “prevenção”. Consideramos que, quando da citação do tema “educação”, este fora a tradução errônea pelos sujeitos da pesquisa da expressão dada, pois sugere-se que os profissionais de Odontologia, em vista dos resultados, ainda não conseguiram transpor a barreira do paradigma preventivista. ABSTRACT Dentists as Oral Health Educators: explorations of a practice This study aimed to identify the social representations of health education according to dental students from two schools of dentistry in Brasília-DF (a public and a private one), and to dentists graduated in the 80s or after the 90s. The participants were chosen at random in Brasília-DF. This research also aimed to serve as a basis for a detailed and thorough investigation into health education to serve the needs of the Brazilian population, and to contribute to graduate students with a more adequate professional profile. Sixty subjects took part in this study, 40 dental students (20 from each teaching institution) and 20 dentists (10 from each range studied, as mentioned above). A questionnaire with multiple choice questions was used for collection of the subjects’ social and demographic information, including a specific field for the recording of a Free Word Association Test. In this test, the subjects were asked to say the 5 first words related to the studied subject and then select the two most important words among these 5. These words were analyzed according to the Central Nucleus Theory. The results of the multiple choice questions were transferred to tables and representative figures and Revista da ABENO • 5(2):115-24 123 O cirurgião-dentista como educador em saúde bucal: explorações em torno de uma prática • Guterman N diagrams. Results showed that social representations of health education according to both dentists and students tended to be education/prevention. 5. Costa ICC, Albuquerque AJ. Curso de Mestrado em Odontologia Social. Odontologia Preventiva e Social: textos selecionados. Natal: EDUFRN; 1997. 252 p. 6. Freire MCM, Souza CS, Pereira HR. O perfil do acadêmico de DESCRIPTORS Health education, dental. Social representations. Social dentistry. Odontologia da Universidade Federal de Goiás. Divulgação em Saúde para Debate 1995;10:15-20. 7. Freitas SFT, Nakayama MY. Um perfil do estudante de Odontologia no estado de São Paulo. Divulgação em Saúde para REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Debate 1995;10:29-37. 1. Abric JC. A abordagem estrutural das representações sociais. In: Moreira ASP, Oliveira DC (org.). Estudos interdisciplinares de representação social. 2ª ed. Goiânia: AB; 2000. 328 p. 2. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 1977. 8. Gil AC. Métodos e técnicas de pesquisa social. 3ª ed. São Paulo: Atlas; 1991. 207 p. 9. Minayo MCS (org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 16ª ed. Petrópolis: Vozes; 2000. 80 p. 10. Moysés ST, Watt R. Promoção de saúde bucal – definições. In: 226 p. 3. Belaciano MI. O SUS deve aceitar este desafio: elaborar proposições para a formação e capacitação de recursos humanos em saúde. Divulgação em Saúde para Debate 1996;12:29-33. 4. Bervique JA, Medeiros EPG. Ciências da conduta na área da saúde: um programa modularizado de introdução e aplicação Buischi YP. Promoção de saúde bucal na clínica odontológica. São Paulo: Artes Médicas; 2000. v. 22. 336 p. 11. Vergès apud Pessoa LGP. As representações sociais do ser professor [Dissertação de Mestrado]. Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte; 1999. à Odontologia, Medicina e Enfermagem. São Paulo: PanameAceito para publicação em 06/2005 ricana; 1980. 359 p. Visite o site da ABENO e submeta seu artigo “on-line”. É mais rápido e fácil. www.abeno.org.br 124 Revista da ABENO • 5(2):115-24 Ensino de especialização: redirecionamento acadêmico Não é cabível que a normatização, o credenciamento e a avaliação dos cursos de especialização continuem à margem do sistema educacional. Torna-se importante a inclusão desse nível de ensino no projeto pedagógico da IES, mantendo coerência com as Diretrizes Curriculares Nacionais. Antonio Cesar Perri de Carvalho* * Professor Titular Aposentado da Universidade Estadual Paulista, Campus Araçatuba. E-mail: [email protected]. RESUMO O ensino de especialização em Odontologia em nosso país é analisado desde a fundamentação e sistematização da pós-graduação stricto sensu até a situação atual, em que, no contexto das várias profissões, o desenvolvimento dos cursos de especialização e a pulverização de especialidades é específico da Odontologia. A partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB) (Lei nº 9.394, de 20/02/1996), há significativa legislação sobre organização e avaliação do ensino superior e regulamentações sobre credenciamento de oferta, funcionamento, cadastro e valor atribuído à certificação de cursos lato sensu. Como o ensino de especialização prepara profissionais para o mercado de trabalho e também oferece recursos humanos para o ensino, é destacada a necessidade da vinculação desse nível de ensino ao projeto pedagógico da Instituição de Ensino Superior (IES) e em coerência com as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Odontologia. Entre os estudos cabíveis, são pertinentes os referentes a visão integrada da saúde; aspectos preventivos e promocionais da saúde na especialidade; introdução de conteúdos mais significativos de bioética, metodologias da pesquisa e do ensino e para a elaboração de monografia; ensino “on-line”; algumas especificidades de área, como Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial (CTBMF). A revisão da proposta dos cursos de especialização também deve atender à legislação sobre avaliação do ensino superior, alterando-se os critérios para avaliação dos mesmos. A Associação Brasileira de Ensino Odontológico (ABENO) encaminhou ao Ministério da Educação e Cultura (MEC) uma proposta de “Instrumento de Verificação de Cursos de Especialização”. Os novos tempos educacionais pós-LDB induzem à necessidade urgente de discussões e reflexões no âmbito acadêmico sobre o ensino de especialização. DESCRITORES Educação em Odontologia. Ensino. Especialização. A fundamentação e sistematização da implantação da pós-graduação stricto sensu em nosso país e a definição de lato sensu como “cursos destinados ao treinamento nas partes de que se compõe um ramo profissional ou científico”, ou “o domínio científico e técnico de uma certa e limitada área do saber ou da profissão, para formar o profissional especializado”, emanam do parecer de Newton Sucupira (977/65) do Conselho Federal de Educação15. O ensino de especialização em Odontologia teve desenvolvimento amplo, sem regulamentações do Ministério da Educação e Cultura (MEC) e de órgãos educacionais, e com expansão fora do âmbito das universidades. No contexto das várias profissões, esse cenário e a pulverização de especialidades são específicos da Odontologia. A Resolução CFO nº 61/2004, de 03/12/20044, embora sem clareza, cita “tratativas” com a Secretaria de Educação Superior (SESu)/MEC, e contribuiu Revista da ABENO • 5(2):125-9 125 Ensino de especialização: redirecionamento acadêmico • Perri de Carvalho AC para aflorar uma situação que até então era pouco conhecida pela classe odontológica, ou seja, a visão jurídico-educacional pertinente a credenciamento, normatização, avaliação e registro dos certificados dos cursos de especialização. A Associação Brasileira de Ensino Odontológico (ABENO) vem debatendo o ensino de especialização nos últimos anos, e define como objetivos desses cursos “aprofundar o conhecimento e as habilidades técnicas e científicas, visando à formação de recursos humanos no campo específico de sua atuação nas diversas subáreas da Odontologia, buscando uma transdisciplinaridade”1. O objetivo deste estudo é oferecer subsídios para a reflexão acadêmica sobre a situação atual e propostas que visem a uma melhor definição e aperfeiçoamento do ensino de especialização em Odontologia. LEGISLAÇÃO Os cursos de especialização e os certificados expedidos são regidos pela legislação da educação superior e pelos órgãos educacionais6. Fatos novos emergiram com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB) (Lei nº 9.394, de 20/02/1996), da legislação sobre organização e avaliação do ensino superior (Decreto nº 3.860, de 09/07/2001; Lei nº 10.861, de 14/04/2004). As regulamentações da LDB passam a tratar especificamente dos cursos lato sensu, pois tornam restrita ao ensino superior (Art. 44, inciso III) a oferta de cursos de mestrado, doutorado, especialização e aperfeiçoamento. O Parecer CNE/CES nº 908, de 02/12/1998, define a variação do valor do título obtido em função da característica das instituições que ofertam o curso. A Resolução CNE/CES nº 1, de 03/04/2001, estabelece normas para o funcionamento dos cursos de especialização em nível de pós-graduação modalidade lato sensu, que podem ser oferecidos por instituições de educação já credenciadas para oferta de ensino superior ou por instituições especialmente credenciadas para esse fim pelo Ministério da Educação (Art. 6º). Destacamos que essas instituições não devem ser confundidas com entidades de classe. Outras normatizações oferecem detalhamentos sobre procedimentos com o objetivo de credenciamento de oferta, funcionamento e cadastro e valor atribuído à certificação de cursos lato sensu (Parecer CNE/CES 0281/2002; Portaria MEC nº 1.180/2004; Portaria MEC nº 4361/2004). 126 PESQUISAS SOBRE FORMAÇÃO PROFISSIONAL Uma pesquisa de “marketing”5 realizada com entrevistas de 614 cirurgiões-dentistas residentes em cinco regiões do país, no 2º semestre de 2002, apresentou um cenário sobre formação profissional: profissionais que se formaram na iniciativa privada correspondem a 52,1%; do gênero feminino a 57,6%; residentes na região Centro-Oeste a 64,4%; com até 5 anos de formado a 62,9%; pouco mais de 3/4 da amostra atua como clínico geral, representando a maioria nos quatro segmentos analisados; 6 entre 10 entrevistados já tiveram oportunidade de realizar um curso de pós-graduação. Dentre esses profissionais, 42% dos entrevistados preferiram a especialização. Destacam-se, nesse caso, os profissionais com tempo de formação acima de 10 anos. A pesquisa aponta que cerca de 1/3 da amostra tem registro como especialista no Conselho Regional de Odontologia, sendo esse índice maior entre os profissionais atuantes na região Norte (75%). As duas especialidades predominantes são a Endodontia (18,3%) e a Ortodontia (16,4%), seguidas da Odontopediatria (14,9%). Dentre os cursos de pós-graduação que os entrevistados gostariam de realizar, o mais citado é o de Ortodontia (18,7%) e depois o de Prótese (16,8%). O resultado dessa pesquisa, com base em entrevistas por amostragem, deixa clara a tendência do cirurgião-dentista, inclusive do recém-formado, em freqüentar cursos de pós-graduação lato sensu. Estudo comparativo entre três níveis de ensino evidencia tendência para cursos de especialização3. Nos questionários-pesquisa preenchidos por graduandos no Exame Nacional de Cursos, em 1997, 1998 e 1999, o interesse em fazer cursos de aperfeiçoamento e especialização variou de 81,6% para 79,4% e 77,2%, respectivamente. No mesmo período, alunos de cursos de especialização de Implantodontia e de Periodontia da UNESP-Araçatuba e da ABO-MT já tinham freqüentado previamente outros cursos de especialização (respectivamente 75% e 35% dos alunos). Alunos de cursos de pós-graduação da UNESP-Araçatuba, matriculados em Cirurgia, Odontopediatria e Estomatologia (respectivamente 77%, 72,4% e 53,3%), já haviam concluído algum curso de especialização. Concluiu-se que as condições dos cursos de graduação, a situação do mercado de trabalho, o intenso desenvolvimento científico e tecnológico e as exigências de qualificação para atuação na docência são fatores que favorecem a tendência de valorização dos cursos de especialização. Revista da ABENO • 5(2):125-9 Ensino de especialização: redirecionamento acadêmico • Perri de Carvalho AC TENDÊNCIA ESPECIALIZANTE NA GRADUAÇÃO O conhecido Relatório Flexner, analisando a situação das escolas médicas dos EUA, em 1910, provocou reflexos no ensino da Odontologia até nossos dias. O chamado modelo flexneriano deu ênfase às soluções técnicas, desvalorizando soluções políticas e os aspectos preventivos e de promoção da saúde. O corpo humano foi considerado como uma máquina, valorizando-se o tratamento individual das partes8 e atuações com base em paradigmas cientificistas, distanciadas de práticas sociais9,10. O desenvolvimento da formação odontológica em nosso país sofre inequívoca influência do modelo flexneriano em todos os níveis de ensino e, principalmente, nos cursos de especialização, que, inclusive, dão ênfase a especialidades que requerem alta tecnologia para sua execução. Esse modelo influenciou o ensino e a prática odontológicos, induzindo os seguintes princípios: biologismo, mecanicismo, individualismo, especialização, exclusão de práticas alternativas, atuação curativa e tecnicização9. O profissional necessita de uma formação específica, dependendo do grau de complexidade da especialidade abordada. Esse modelo tem sido adotado por grande parte das faculdades na área, que assim justificam a necessidade de extensão do curso. Tal modelo de ensino, conservador e elitista, também estimula a especialização precoce, introduzindo a tendência ainda durante o curso de graduação. Registra-se um alto percentual de profissionais e, inclusive, de recém-formados, interessados em cursos de especialização3. Tem havido demanda por esses cursos até por deficiências do curso de graduação. Há dados de que o ensino da odontologia no país, tendo em vista o mercado de trabalho, está equivocado e desvirtuado e, em alguns casos, com suspeitas de que se ensina pouco ao aluno para encaminhá-lo para os cursos de especialização. Esse desvirtuamento não tem nada a haver com o critério de definição de matérias formativas e informativas. Além do apelo do status de profissional especialista, de modismos e até do “marketing” de muitos desses cursos, atualmente já se criam “pré-requisitos”, como a freqüência prévia a uma série de cursos de atualização ou de aperfeiçoamento, o que também pode reforçar o aspecto comercial do empreendimento12. A falta de clareza, na prática, sobre a formação do profissional “clínico geral” é, sem dúvida, a causa básica da aberração “especializante”. Além disso, a falta de inter-relação das disciplinas e a autonomia na es- colha do conteúdo das disciplinas ministradas – perdendo-se a visão de totalidade do curso e, obviamente, a ausência de um projeto pedagógico para o curso – são os fatores responsáveis por inúmeras distorções no currículo do curso de Odontologia. Os limites entre clínico geral/especialista são delineados na definição das habilidades, competências e conteúdos para a formação do clínico geral fundamentados nas Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Odontologia (Resolução CNE/CES nº 3/2002, de 19/02/2002, D.O.U. de 04/03/2002)6. Para se oferecer uma visão de conjunto da abrangência da profissão, o clínico geral deverá receber informações que o capacitem para o discernimento dos limites de sua atuação e para o relacionamento com as especialidades odontológicas11,13. PROPOSTAS Em vista desse cenário, torna-se importante a discussão, com bases acadêmicas, sobre o ensino de especialização. A nosso ver, a legislação educacional do país é clara e envolve tal nível de ensino. Não é cabível que a normatização, o credenciamento e a avaliação dos cursos de especialização continuem à margem do sistema educacional. Torna-se importante a inclusão desse nível de ensino no projeto pedagógico da IES, mantendo coerência com as Diretrizes Curriculares Nacionais6. O ensino de especialização prepara profissionais para o mercado de trabalho e também oferece recursos humanos para o ensino, pois é grande o número de docentes que são apenas especialistas; essa categoria é levada em consideração nas avaliações das condições de ensino realizadas pelo MEC. A presença de docentes especialistas ou dominados pela mentalidade flexneriana, predominantes no exercício das especialidades, tem gerado dificuldades para a implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais. Essa questão emergiu e foi debatida nos Grupos de Discussão da 39ª Reunião da ABENO (2004): “Em um curriculum integrado, como contornar a problemática do professor especialista?”2. As manifestações dos grupos sinalizam para as adequações desses docentes, a fim de que haja bom andamento do projeto do curso de graduação. Mesmo nos programas de pós-graduação stricto sensu, há muita ênfase para a pesquisa tecnológica, mas há deficiência na formação didático-pedagógica do futuro docente12. Para Péret, Lima10 (2005), a incorporação da pesquisa educativa e o desenvolvimento da pesquisa científica com enfoque social podem colaborar para a formação crítica Revista da ABENO • 5(2):125-9 127 Ensino de especialização: redirecionamento acadêmico • Perri de Carvalho AC do docente de Odontologia. A relação entre os níveis de ensino de graduação, especialização, mestrado e doutorado deve ser claramente estabelecida e acompanhada nos projetos institucionais, pois influi no desenvolvimento de cada um desses níveis e na formação de novas gerações de profissionais e de docentes. Dentre os estudos cabíveis voltados ao aperfeiçoamento do ensino de especialização, são pertinentes os referentes à visão integral de saúde; à prevenção e promoção pertinentes à especialidade; à introdução de conteúdos mais significativos de bioética, de metodologias da pesquisa e do ensino; ao maior embasamento científico para a elaboração da monografia. Especificamente para a formação do especialista em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial, há uma situação especial e recomendações que “os Programas de Residência mostram-se como o caminho mais adequado e seguro” e a sugestão de se aproveitar a residência como parte dos créditos para o mestrado14. Um fato que não pode ser ignorado nesses estudos e planejamentos acadêmicos é o desenvolvimento da educação à distância e “on-line”, analisando-se a pertinência do que Moran7 (2005) destaca com a organização de atividades inovadoras na sala de aula, no laboratório e na clínica com acesso à Internet, integradas com atividades à distância e de inserção profissional e experimental. Além da revisão da proposta dos cursos de especialização, em atendimento à legislação sobre avaliação do ensino, deverão ser alterados os critérios para avaliação dos mesmos, os quais, sem dúvida, passam a influir no redirecionamento acadêmico desses cursos. INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO PROPOSTO PELA ABENO A “Proposta para o instrumento de verificação das condições de ensino dos cursos de pós-graduação (lato sensu) em Odontologia”1 foi elaborada pela Comissão de Ensino de Especialização da ABENO e debatida em evento nacional da Associação (protocolada na SESu/MEC em 09/03/2005). Essa proposta poderá ser empregada em avaliações para fins de credenciamento de instituições não-universitárias (Resolução nº 1 do CNE/CES de 03/04/2001)6 e dos projetos e dos cursos de pós-graduação lato sensu de Odontologia já existentes. A ABENO recomenda que as avaliações sejam feitas por verificação in loco e por comissão de docentes 128 de Odontologia, devidamente treinados e/ou orientados para a tarefa. A sistemática de avaliação pretende: 1. Considerar uma estratégia metodológica em condições de articular e relacionar o processo ensino/ aprendizagem como um mecanismo de autocrítica permanente para o aperfeiçoamento e melhoria da qualidade do ensino. 2. Desenvolver e/ou aprofundar a capacidade avaliativa dos cursos. 3. Identificar as características específicas das atividades de ensino e gestão administrativa. Deverão ser avaliadas as características das seguintes dimensões: contexto institucional, organização didático-pedagógica, corpo docente, instalações e o próprio contexto social, seguindo as orientações do MEC sobre avaliação do ensino superior. Os novos tempos educacionais – pós-LDB – induzem à necessidade urgente de discussões e reflexões no âmbito acadêmico sobre o ensino de especialização em Odontologia. CONCLUSÕES A legislação educacional do Brasil é clara sobre o credenciamento de oferta, funcionamento, cadastro e valor atribuído à certificação de cursos lato sensu. É indispensável a vinculação desse nível de ensino com o projeto pedagógico da IES e em coerência com as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Odontologia. Recomendam-se estudos para melhor tratamento dos conteúdos de visão integrada da saúde; de aspectos preventivos e promocionais da saúde na especialidade; de abordagens mais significativas de bioética, metodologias da pesquisa e do ensino e de elaboração da monografia; de preparo para a educação à distância e “on-line” e de atividades inovadoras no ambiente de ensino-aprendizagem; de algumas especificidades de área como CTBMF; e de nova proposta de avaliação dos cursos de especialização, em atendimento à legislação vigente sobre avaliação do ensino superior. Por fim, há necessidade de redirecionamento acadêmico dos cursos de especialização em Odontologia. ABSTRACT Dental specialization programs: new academic directives Dental specialization programs in our country have been analyzed since the establishment of stricto sensu graduate courses. Analyzing various professions, the development of specialization courses with the diversification of specialties is observed only in Revista da ABENO • 5(2):125-9 Ensino de especialização: redirecionamento acadêmico • Perri de Carvalho AC Dentistry. With the Law of Guidelines and Bases of National Education – LDB (Law n. 9.394, of 02/20/1996), there were significant legislative efforts about organization and evaluation of higher education and regulations about accreditation, functioning, registration and attributed value to accreditation of lato sensu courses. Since specialization courses prepare professionals to the market and also provide human resources to teaching, we emphasize the need for connecting these courses to the pedagogical project of any given dental school, in agreement with the National Curricular Guidelines for Undergraduate Dental Courses in Brazil. Among many suitable studies, those of increased importance are the ones involving the concept of integrated health; preventive aspects and aspects regarding the promotion of health; introduction to more significant knowledge of bioethics, research and teaching methodologies and methodology for the elaboration of a thesis; on-line education; some area specificities like Oral and Maxillofacial Surgery. The revision of the proposal of specialization courses should also be in accordance with the legislation regarding the evaluation of higher education. The Brazilian Association of Dental Education (ABENO) offered the Ministry of Education a proposal called “Verification Instrument of Specialization Courses”. The new post-LDB educational times urge the need for discussion and reflections in academic circles about specialization teaching. XXXIX Reunião da ABENO. Revista da ABENO 2005;5(1):8694. 3. Carvalho DR, Perri de Carvalho AC. Tendências sobre cursos de especialização. Estudo em três níveis de ensino. IX Congresso Internacional de Odontologia do Distrito Federal; 2001. [Painel]. 4. Conselho Federal de Odontologia. Atos normativos. Resolução CFO nº 61/2004, de 03/12/2004. Disponível em: URL: http:// www.cfo.org.br. 5. Conselho Federal de Odontologia. Pesquisa de “Marketing”; 2002. Disponível em: URL: http://www.abeno.org.br. 6. Ministério da Educação. Educação Superior. Disponível em: URL: http://portal.mec.gov.br/sesu. 7. Moran JM. Propostas de mudança nos cursos presenciais com a educação “on-line”. Revista da ABENO 2005;5(1):40-5. 8. Pelissari LD, Basting RT, Flório FM. Vivência da realidade: o rumo da saúde para a Odontologia. Revista da ABENO 2005;5(1):32-9. 9. Péret ACA. As políticas públicas em educação superior e saúde e a formação do professor de Odontologia numa dimensão crítica [Tese de Doutorado]. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais; 2005. 10. Péret ACA, Lima MLR. A pesquisa nos critérios de avaliação da CAPES e a formação do professor de Odontologia numa dimensão crítica. Revista da ABENO 2005;5(1):46-51. 11. Perri de Carvalho AC. A Odontologia em tempos da LDB. Canoas: ULBRA; 2001. 95 p. 12. Perri de Carvalho AC. Formação do cirurgião-dentista. Ensino e profissionalização. Nupes/Universidade de São Paulo; 1996. [Série Documentos de Trabalho. São Paulo]. DESCRIPTORS Education, dental. Teaching. Specialism. 13. Perri de Carvalho AC. Planejamento do curso de graduação de REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 14. Perri de Carvalho AC. Relatório do Fórum de Ensino e Forma- 1. Associação Brasileira de Ensino Odontológico. Proposta para o instrumento de verificação das condições de ensino dos cursos de pós-graduação (lato sensu) em Odontologia; 2005. Dis- Odontologia. Revista da ABENO 2004;4(1):7-13. ção em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial. Revista da ABENO 2003;3(1):86. 15. Sucupira N. Parecer nº 977 de 1965. Definição dos cursos de pós-graduação. Documenta 1965;56:109. ponível em: URL: http://www.abeno.org.br. 2. Associação Brasileira de Ensino Odontológico. Relatório com base nos resultados dos Grupos de Discussão reunidos na Revista da ABENO • 5(2):125-9 Aceito para publicação em 06/2005 129 Otimização da relação demanda/ oferta com redução dos índices de doenças bucais através do modelo de assistência básica à saúde É possível levar a saúde bucal e sistêmica para o âmbito coletivo por meio de um atendimento integralizado, viável e equânime, sem necessariamente ocupar-se com equipamentos e instrumentos odontológicos. Sérgio Henrique Tanos de Lacerda*, Paulo Sérgio Carneiro Miranda** * Mestrando em Odontopediatria pelo Centro de Pesquisas Odontológicas São Leopoldo Mandic, Campinas, São Paulo. E-mail: [email protected]. ** Doutor em Saúde Pública pela Universidade de Barcelona, Espanha, Professor Adjunto da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. RESUMO Atualmente, o modelo de atenção básica à saúde é formado por uma Equipe de Saúde da Família, que atua interdisciplinarmente com uma Equipe de Saúde Bucal, promovendo prevenção primária e monitorando sistematicamente os índices epidemiológicos das comunidades abrangidas. DESCRITORES Prevenção primária. Odontologia preventiva. Promoção da saúde. Educação em saúde bucal. Odontologia em Saúde Pública. É de consciência que a prevenção primária (promoção) é a melhor maneira para se conseguir uma boa saúde, principalmente quando comparada com a prevenção secundária (proteção) e terciária (recuperação e reabilitação)9. Por isso, certifica-se que as maiores vantagens são trazidas através de modelos de atenção básica à saúde, principalmente quando esses modelos estão inseridos dentro do próprio contexto socioeconômico-cultural do cidadão10. Até pouco tempo atrás, no Brasil, a consciência de que era “melhor prevenir do que remediar” não tinha 130 muita ênfase, pois era pouco institucional. Portanto, diante do atual quadro, em que 32 milhões de brasileiros nunca receberam qualquer noção de promoção e prevenção em saúde bucal e 6 milhões têm doenças bucais em atividade, viu-se a necessidade de estar reestruturando, a partir de então, uma progressiva expansão do processo de organização e planejamento dos serviços de atenção básica à saúde1. No Brasil, várias doenças bucais são consideradas de alta prevalência, embora com taxas variáveis de acordo com as áreas do país. Em geral, as taxas apresentam grande disparidade entre regiões mais e menos desenvolvidas. O espectro das doenças bucais e a prevalência variam nas diferentes regiões de acordo com as variações socioeconômicas, educacionais e sanitárias de cada área3. Seria de se esperar, entretanto, que nas áreas mais desenvolvidas a prevalência das doenças bucais fosse bastante baixa, o que nem sempre é verdadeiro. No interior do estado de Minas Gerais, em regiões carentes, a falta de informação aliada aos costumes alimentares atípicos e aos hábitos parafuncionais resultam altos índices de doenças bucais, aumentando a demanda em relação à oferta de atendimento em nível do Sistema Único de Saúde1,4. Revista da ABENO • 5(2):130-4 Otimização da relação demanda/oferta com redução dos índices de doenças bucais através do modelo de assistência básica à saúde • Lacerda SHT, Miranda PSC REVISÃO DE LITERATURA Em face da progressiva expansão do processo de organização dos serviços de atenção básica, promoção e prevenção de saúde, formam-se Equipes de Saúde da Família (ESF), com médicos, dentistas, enfermeiras, auxiliares de enfermagem, Assistentes de Consultório Dentário (ACD), Técnicos em Higiene Dental (THD) e agentes comunitários, para se interdisciplinarem com outras equipes com outra área de abrangência15. Juntas, estrategicamente, promovem uma substituição do modelo vigente, flexneriano, por um modelo assistencial primário à saúde, em que o atendimento ao cidadão é equânime, integral e universal1. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) (2000), é urgente que se estabeleça uma nova relação entre os profissionais de saúde e a comunidade, que se traduza em termos de desenvolvimento de ações humanizadas, tecnicamente competentes, intersetorialmente articuladas, socialmente apropriadas, otimizando a relação demanda/oferta e custo/benefício7. Configura-se, também, uma nova concepção de trabalho, uma nova forma de vínculo entre os membros de uma equipe, diferentemente do modelo biomédico tradicional, permitindo maior diversidade das ações e busca permanente do consenso. Tal relação, baseada na interdisciplinaridade e não mais na multidisciplinaridade, associada à não-aceitação do refúgio da assistência no positivismo biológico, requer uma abordagem que questione as certezas profissionais e estimule a permanente comunicação horizontal entre os componentes de uma equipe1,17. Assim, fazem-se necessárias mudanças profissionais significativas nas abordagens individuais, da família e da comunidade, para que ocorra, de fato, a efetiva implantação de um novo modelo de atenção à saúde bucal como causa de saúde sistêmica1,4. A atuação tradicional do setor da saúde sempre conduziu à compreensão do indivíduo de forma isolada de seu contexto familiar e dos valores socioeconômico-culturais, com tendência generalizante, fragmentando-o, compartimentando-o e descontextualizando-o de suas realidades familiares e comunitárias. Seu enfoque assistencialista e desarticulador vem gerando dependentes sociais, tratando os indivíduos como permanentes receptores de benefícios externos e não como cidadãos com direitos resguardados constitucionalmente1. Esse problema amplia-se pela tradicional forma de atenção à família, privilegiando o atendimento indi- vidualizado de seus membros. O indivíduo é visto de forma fragmentada, cuja manifestação de doença ocorre em partes de seu corpo, sem que sejam observadas suas diferentes dimensões, perde sua integralidade e acaba relacionando-se, repartidamente, com as ações e os serviços de saúde. Seus anseios, seus desejos, seus sonhos, suas crenças, seus valores, suas virtudes, suas relações com os demais membros de sua família e com o seu meio social são aspectos quase que completamente esquecidos ao ser abordado por um profissional de saúde tradicional e positivista1,8,16,17. Já a família, tradicionalmente vista também de forma fragmentada, quer seja no espaço físico em que está fixada, quer na sua composição nuclear ou na relação com os demais subsistemas sociais e econômicos, precisa ser abordada de forma integral e articulada, sem que se perca de vista, no entanto, o estado de equilíbrio individual (saúde) de seus membros1. Atualmente vem se estruturando, em nível internacional (México, Canadá, Cuba, e outros), uma nova visão da atuação da família e da comunidade, fundamental para o desenvolvimento de estratégias de políticas sociais. Sob essa perspectiva, o papel do profissional de saúde é o de aliar-se à família no cumprimento de sua missão, fortalecendo-a e proporcionando o apoio necessário ao desempenho da autoestima e de suas responsabilidades, jamais tentando substituí-la. É preciso ajudá-la a descobrir e a desenvolver suas potencialidades individuais e coletivas1. Cabe, então, o exercício de uma nova prática, com base em outra racionalidade, partindo de uma premissa solidária e construída de forma democrática e participativa, capaz de transformar os indivíduos em verdadeiros atores sociais e sujeitos do próprio processo de desenvolvimento1,17. Por essa razão, para que se exerça uma nova prática, são necessárias ações voltadas ao redirecionamento da participação dos profissionais de saúde junto ao ambiente e ao indivíduo, com vistas à construção da Equipe de Saúde como a verdadeira unidade produtora de ações e desses serviços5. A especificidade das responsabilidades de cada membro jamais deverá ofuscar a missão comum da equipe, e sua prática democrática e construtiva precisa estar direcionada a uma maior motivação, satisfação e eficiência de seu trabalho. Tal prática somente será eficaz se associada à criação de canais e mecanismos efetivos para a participação ativa da população, como sujeito do processo de manutenção e recuperação de sua saúde1. Revista da ABENO • 5(2):130-4 131 Otimização da relação demanda/oferta com redução dos índices de doenças bucais através do modelo de assistência básica à saúde • Lacerda SHT, Miranda PSC METODOLOGIA O presente estudo iniciou-se em fevereiro de 1999 no Município de São Gonçalo do Pará – MG, através da elaboração de um projeto de prevenção odontológica, que visava atenção primária à saúde das crianças e adolescentes de 5 a 14 anos de idade, inseridas tanto em âmbito familiar quanto escolar. Para isso, a Equipe de Saúde Bucal (ESB), recém-formada, interdisciplinou com a Equipe de Saúde da Família (ESF) que já se encontrava implantada no município promovendo atendimento nas zonas rurais e urbanas desde 1995, sendo, portanto, uma das cidades pioneiras da região Centro-Oeste de Minas na implantação do Programa Saúde da Família (PSF). A partir de então, a Equipe de Saúde Bucal (04 cirurgiões-dentistas e 03 assistentes de consultório dentário) interdisciplinou com a Equipe de Saúde da Família (uma enfermeira, uma médica e 05 agentes comunitários), para juntamente identificarem, selecionarem, priorizarem e analisarem as doenças bucais das famílias já cadastradas no PSF2,6. Procedeu-se, então, a coleta dos dados, a tabulação e a consolidação para proposição e estratégia do plano operativo, visando à redução dos índices de doenças bucais, principalmente nas crianças e adolescentes de 05 a 14 anos de idade, levando, contudo, sempre em consideração o ambiente familiar e educacional de cada uma delas. Inicialmente, priorizamos o levantamento epidemiológico nos índices ceo (dente decíduo cariado, extraído ou extração indicada e obturado ou restaurado), CPO-D (dente permanente cariado, extraído ou extração indicada ou perdido e obturado ou restaurado) e CNTP (índice comunitário para necessidade de tratamento periodontal), conforme o Informe Técnico nº 20 da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais11. Diante dos resultados, viabilizamos parcerias privadas e públicas para a gestão e, posteriormente, manutenção e controle do projeto. A Secretaria Municipal de Educação, como parceira, empenhou-se desde a divulgação até a manutenção do projeto. A ColgatePalmolive, através do seu programa “Sorriso Saudável, Futuro Brilhante”, desenvolvido juntamente com a OMS e a Associação Brasileira de Odontologia (ABO), apoiou enviando-nos cartazes, fitas de vídeos educativas, álbuns seriados, prospectos, livros pedagógicos e “kits” odontológicos com escova e pasta dental. A Área Técnica de Saúde Bucal do Ministério da Saúde (Brasília), por meio do Departamento Regional de Saúde 132 de Divinópolis, forneceu-nos um gel com evidenciador de placa bacteriana e flúor (Dentplaque®) para aplicação semanal. Visando sempre a integralidade, equanimidade e a universalidade do cidadão, intervimos com ações programáticas preventivas, interdisciplinares, planejadas pactualmente e participativamente, com critério, pelas equipes e os núcleos sociais primários, conforme a lógica do novo modelo de atenção primária à saúde. Dentre essas ações programáticas interdisciplinares, destacamos: escovações supervisionadas, exposições de vídeos educativos, montagens de murais e painéis, atividades pedagógicas, aulas demonstrativas, construções de escovódromos, fluoretação de águas de abastecimento público e escolar, apresentações teatrais e realizações de palestras sobre os mais diversos temas relacionados com promoção, prevenção e conscientização para a manutenção da saúde bucal e, conseqüentemente, da saúde sistêmica. Os procedimentos coletivos preventivos primários procederamse em locais comunitários, tais como: associações comunitárias, escolas, creches, asilos, igrejas, unidades de saúde e domicílios. Para as escovações supervisionadas, viabilizamos distribuições de “kits” odontológicos com escova, pasta, gel (Dentplaque®) e fio dental e, ainda, o cirurgiãodentista acompanhava, semanalmente, a profilaxia bucal de toda a família. No que tange às escovações dos pacientes especiais, principalmente daqueles portadores de distúrbios neuropsicomotores e/ou mentais, foi necessário que o dentista ensinasse a um membro da família a correta técnica de higienização, sendo que, uma vez por semana, o mesmo faria a higienização no paciente, preferencialmente diante de toda a família, incentivando-os à prática da profilaxia bucal12. As exposições de vídeos educativos aconteceram com grupos operativos: crianças de zero a 6 anos de idade (junto com os pais), de 7 a 14 anos de idade, adolescentes, adultos, idosos, diabéticos, hipertensos e gestantes, que eram orientadas desde as primeiras semanas até o período neonatal. Os recursos usados para fixações de imagens foram murais, painéis, cartazes e álbuns seriados. Já as atividades pedagógicas foram desenvolvidas por meio de memorizações musicais, quebra-cabeças, charadas, livros de contos e oficinas, os quais aumentavam a auto-estima e o interesse quanto aos cuidados básicos para a manutenção da saúde bucal. Os macro- Revista da ABENO • 5(2):130-4 Otimização da relação demanda/oferta com redução dos índices de doenças bucais através do modelo de assistência básica à saúde • Lacerda SHT, Miranda PSC modelos (RGO) promoviam a dialética teoria/prática, demonstrando a realidade das doenças bucais. Os escovódromos proporcionavam o condicionamento das técnicas de higienizações e foram construídos, preferencialmente, em locais comunitários, tanto com recursos da Secretaria Municipal de Saúde, quanto com recursos da Secretaria Municipal de Educação. As aplicações de flúor diárias e semanais também contribuíram para a redução em, aproximadamente, 50% da incidência de cárie no período de 1999 a 2000, no mesmo grupo amostrado, de acordo com o Informe Técnico. A socialização com materiais e/ou instrumentais odontológicos foi feita através de teatros com fantoches e fantasias vivas do ambiente odontológico. Enfim, as palestras conscientizaram os grupos operativos sobre a importância da dieta balanceada, da aplicação de selante, do uso de anti-séptico bucal, do uso do fio dental e da visita regular ao dentista na Unidade Básica de Saúde. Com relação aos atendimentos clínicos, somente 15% da população abrangida foi referenciada para tratamentos especializados. Ao encaminhá-lo com o plano de tratamento sugerido, acompanhávamos o paciente até o momento da contra-referência13. Conseqüentemente, criou-se um vínculo de confiança profissional/paciente, tornando os atendimentos de recuperação, reabilitação e manutenção da saúde bucal do indivíduo muito mais confortáveis, reiterandose, dessa forma, a imagem distorcida que se fez durante os anos. RESULTADOS 1. Promovemos uma redução do índice CPO-D na idade-padrão de 12 anos, considerada estratégica pela OMS para comparações internacionais e, também, por se constituir um ponto intermediário no período de vida em que é grande a prevalência e a incidência de cárie (Tabela 1). 2. Reduzimos os índices de doenças bucais através da conscientização da importância da promoção Tabela 1 - Índices CPO-D em crianças de 12 anos. Índice CPO-D (12 anos) OMS* 3,0 *Meta da OMS para o ano 2000. Município de São Gonçalo do Pará 1999 2000 4,46 2,76 3. 4. 5. 6. em saúde bucal em nível coletivo familiar e escolar, por meio de um atendimento personalizado, diferenciado, humano, acolhedor e equânime, no qual o cidadão inserido em seu próprio meio foi alvo de atenção de uma Equipe de Saúde. Através de uma assistência sistêmica aos núcleos sociais primários, desenvolveu-se um vínculo de confiança entre trabalhadores da saúde e pacientes, proporcionando-lhes um amparo biopsicossocial e aumentando-lhes a auto-estima. Parcerias formais e informais de vários setores, públicos ou privados, vêm, de certa forma, incentivar o nível de prevenção primária à saúde e dinamizar o processo de atendimento descentralizado comunitário, preventivo, intersetorial e vigilante à saúde bucal e sistêmica do cidadão dentro do seu próprio meio socioeconômico-cultural. O fácil acesso da população a todos os níveis de atenção à saúde, isto é, da referência à contra-referência, despertou a real necessidade da prevenção primária para um novo estilo de vida, mais saudável, digno e humano. Na média geral, alcançou-se uma redução satisfatória nos índices ceo, CPO-D e CNTP em dezembro de 2000 quando comparada aos resultados epidemiológicos da mesma amostragem em dezembro de 1999. DISCUSSÃO Mais do que a discussão de se ter uma Equipe de Saúde da Família interagindo, interdisciplinarmente, em espaço-comunidade, com a Equipe de Saúde Bucal, faz-se necessário, antes de tudo, levar a saúde bucal e sistêmica para o âmbito coletivo familiar e escolar, sem necessariamente ocupar-se com equipamentos e/ou instrumental odontológicos. Afinal, educação em saúde pode ser pedagogicamente problematizada no próprio território/processo do cidadão. É um estudo de larga aplicação, portanto, vários delineamentos de pesquisas fazem-se necessários para a avaliação do projeto em questão14. Um delineamento de estudo transversal comparativo com grupos paralelos (entidade pública versus entidade privada, equipe de saúde versus equipe de saúde) é passível de uma elucubração. Também, um delineamento de estudo caso-controle pode ser referenciado, uma vez que a população pode ser da mesma região abrangida e do mesmo grupo socioeconômico, isto é, podem existir semelhanças entre os grupos operativos, o que é de fundamental importância para o preenchimento dessa lacuna do conhecimento. Revista da ABENO • 5(2):130-4 133 Otimização da relação demanda/oferta com redução dos índices de doenças bucais através do modelo de assistência básica à saúde • Lacerda SHT, Miranda PSC Educação em saúde pode ser pedagogicamente problematizada no próprio território/processo do cidadão, obtendo-se resultados favoráveis, em curto espaço de tempo. 2000, São Gonçalo do Pará, MG. Vídeo: Abril; 2000. 3. Congresso Mineiro de Epidemiologia e Saúde Pública. Caderno de Resumos. Belo Horizonte; 2000. 86 p. 4. Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais. Coordenador do SB 2000 dá orientações sobre o projeto. Jornal do CONCLUSÃO Reduziram-se os índices das doenças bucais por meio de um atendimento integralizado, sistêmico, viável e equânime, em que o cidadão inserido em seu contexto foi alvo de atenção de uma Equipe de Saúde. Conclui-se que as equipes, ao interagirem interdisciplinarmente e participativamente com as comunidades, facilitaram o acesso às atenções básicas, desenvolveram um vínculo de confiança, conscientizaram a população da importância da prevenção primária e monitorizaram os índices epidemiológicos das comunidades abrangidas, otimizando a relação custo/benefício e demanda/oferta. CROMG. Belo Horizonte; nov/dez 2000; 112:4. 5. Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais. Manual de Orientação Profissional. Belo Horizonte; 2000. 6. Dias R. Conferência Municipal de Saúde. Jornal Comunicando. São Gonçalo do Pará; abr 2000; 2:2-3. 7. Ferreira SMG. Conceitos fundamentais referentes ao planejamento. Belo Horizonte: Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva e Nutrição, Universidade Federal de Minas Gerais; 2000. 33 p. 8. Freire P. Como trabalhar com o povo? Textos de Saúde Pública. São Paulo: Associação Paulista de Saúde Pública; 1983. 19 p. 9. Lacerda SHT. Saúde bucal: uma questão de prevenção. Jornal do Tempo. São Gonçalo do Pará; maio/jun 1999; 3:3. 10. Lima IC. As novas diretrizes para a municipalização da saúde. ABSTRACT Improvement of the supply and demand relationship with reduction in rates of oral diseases by means of primary health care The current model of primary health care consists of an interdisciplinary team (Family health team) formed by various professionals, including a group of oral health professionals, who promote primary prevention and systematic monitoring of epidemiological indexes in the communities covered by the program. Jornal da APCD. São Paulo; fev 2001; 526:22-3. 11. Minas Gerais. Secretaria de Estado da Saúde. Coordenadoria de Saúde Bucal. Saúde bucal para crianças e adolescentes manual para diagnóstico e avaliação. Informe Técnico nº 20. Belo Horizonte; 1995. 32 p. 12. Minas Gerais. Secretaria de Estado da Saúde. Superintendência de Epidemiologia. Coordenadoria de Saúde Bucal. Atendimento odontológico a pacientes com necessidades especiais. Belo Horizonte; 1997. 13. Oliveira ACB, Amaral CRFL, Pereira RSP. Fluorose dentária. Rev CROMG 2000;6(3):172-6. 14. Oliveira TFR. Pesquisa biomédica: da procura, do achado e da DESCRIPTORS Primary prevention. Preventive dentistry. Health promotion. Health education, dental. Public health dentistry. escritura de tese e comunicações científicas. São Paulo: Atheneu; 1995. 237 p. 15. Pozzebom F. Odontologia passa a integrar Programa Saúde da Família. Jornal do CFO. Rio de Janeiro; nov/dez 2000; 41:6-7. 16. Rosen G. Uma história de Saúde Pública. 2ª ed. São Paulo: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Unesp, Hucitec, Abrasco; 1994. 400 p. 1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas da Saúde. Departamento de Atenção Básica. Brasília: Cadernos de Aten- 17. Rouquayrol MZ, Almeida Filho N. Epidemiologia & Saúde. 5ª ed. Rio de Janeiro: Medsi; 1995. 570 p. ção Básica: Programa Saúde da Família; 2000. v. 1-4. 2. Conferência Municipal de Saúde de São Gonçalo do Pará, II, 134 Revista da ABENO • 5(2):130-4 Aceito para publicação em 06/2005 Projeto HUKA KATU†: a FORP-USP no Parque Indígena do Xingu A construção de um Estágio Optativo em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação dos profissionais da Odontologia. Clícia de Oliveira*, Raquel de Carvalho Pacagnella**, Maria da Glória Chiarello de Mattos***, Janete Cinira Bregagnolo****, Marlívia Gonçalves de Carvalho Watanabe****, Wilson Mestriner Júnior***** * Acadêmica da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. ** Cirurgiã-Dentista da Universidade Federal de São Paulo. *** Professora Titular da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected]. **** Professoras Doutoras da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. ***** Professor Associado da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. RESUMO Durante muito tempo, a formação dos profissionais de saúde, dentre eles o cirurgião-dentista, não se orientou pela compreensão crítica das necessidades da população em saúde bucal. O modelo formador (Universidades) do país ficou dissociado da realidade brasileira, conseqüentemente não se comprometendo com a promoção da saúde bucal. A Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto, durante a construção coletiva do seu projeto pedagógico, esteve atenta às normativas presentes nos vários documentos elaboradas pelo Ministério da Educação (Diretrizes Curriculares para os cursos de Odontologia) e pelo Ministério da Saúde (Política Nacional de Saúde Bucal e Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas). Para que as Universidades cumpram com seu papel transformador, há de se compreenderem novos “Cenários de Aprendizagem” como um conceito amplo, que diz respeito não somente ao local em que se realizam práticas de uma técnica, mas também à população nela envolvida, à natureza e ao conteúdo do que se faz. Diz respeito, portanto, à incorporação e à interrelação entre métodos didáticos e pedagógicos, áreas de práticas e vivências, utilização de tecnologias e habilidades associadas ao cognitivo e psicomotor. Incluem, também, a valorização dos preceitos morais e éticos orientadores de condutas individuais e coletivas. O novo currículo da FORP apresenta complexidade crescente e se propõe à integração com maior flexibilização. É nesse contexto que nos propomos a apresentar o Estágio Optativo (Saúde bucal no Parque do Xingu-FORP/USP), oferecido para os estudantes do curso de Odontologia, caracterizando-o como processo capaz de contribuir para a reorganização das concepções e práticas no campo da saúde bucal, propiciando um novo processo de trabalho e tendo como principal meta a produção do cuidado. DESCRITORES Educação em Odontologia. Odontologia Comunitária. Currículo, educação. † Na etnia Kamaiura (língua do tronco Tupi), significa “sorriso lindo”, sendo esse um dos nomes sugeridos pela população indígena do Xingu e escolhido pela comunidade Forpiana por voto direto. Revista da ABENO • 5(2):135-9 135 Projeto HUKA KATU1: a FORP-USP no Parque Indígena do Xingu • Oliveira C, Pacagnella RC, Mattos MGC, Bregagnolo JC, Watanabe MGC, Mestriner Júnior W O Parque Indígena do Xingu foi criado em 1961, no Brasil Central, sob a direção de Orlando e Cláudio Villas Boas. Seu território está demarcado e homologado, sendo composto por três terras indígenas distintas: Parque Indígena do Xingu (2.642.003 ha), Terra Indígena Wawi (150.329 ha) e Terra Indígena Batovi (5.159 ha), as quais correspondem a uma área total de 2.797.491 ha. Atualmente é habitado por 14 etnias pertencentes a quatro troncos ou famílias lingüísticas: Aruaque, Caribe, Jê e Tupi, além dos índios Trumai, de língua isolada. Apresenta uma população de 4.213 indivíduos, que se relacionam com quatro pólos bases devido à grande extensão territorial. São estes o Pólo Diauarum, localizado no Baixo Xingu, o Pólo Pavuru, no Médio, o Pólo Leonardo, no Alto Xingu, e o Pólo Ngoivere, recém-criado. O aumento da freqüência de saída dos índios para a cidade vem se apresentando como um fator de risco para a ocorrência de epidemias e outras doenças contagiosas, favorecendo também a mudança de hábitos alimentares, como a introdução da mamadeira e do leite em pó, o que tem gerado alterações no padrão de morbidade2. Para que ocorra uma melhor compreensão dos serviços de atenção à saúde bucal oferecidos à população indígena, faremos um breve histórico dos eventos que antecederam a concepção do modelo atualmente adotado. No ano de 1967, foi instituída a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), que passou a exercer ações de saúde esporádicas por intermédio de equipes volantes de saúde, em escala e capacidade operacional e administrativa insuficientes. Essa atividade foi se atrofiando até a sua paralisação. Por indicação da VIII Conferência Nacional de Saúde, foi realizada em 1986 a I Conferência Nacional de Proteção à Saúde do Índio, que propôs o modelo dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI’s), sob a gerência do Ministério da Saúde, envolvendo a população indígena em todas as etapas do processo de planejamento, execução e avaliação das ações. Em 1988, a Constituição Federal definiu os princípios gerais do Sistema Único de Saúde (SUS), posteriormente regulamentado pela Lei 8.080/90, estabelecendo que a direção única e a responsabilidade da gestão federal do Sistema são do Ministério da Saúde. Por essa mesma Constituição, ficou estipulado que as organizações socioculturais dos povos indígenas fossem reconhecidas e respeitadas, assegurando-lhes a capacidade civil plena e estabelecendo também que a competência para legislar e tratar sobre a questão 136 indígena ficaria a cargo da União5. A II Conferência Nacional de Saúde para os Povos Indígenas, realizada em 1993, reiterou a defesa do modelo sob a forma de sistemas locais de saúde (Distritos Sanitários – os DSEI’s) e a criação de uma secretaria especial no Ministério da Saúde para gerir a política de atenção à saúde, a fim de que os povos indígenas tivessem garantido o direito ao acesso universal e integral à saúde4. Em 1994, o Decreto Presidencial nº 1.141/94 constituiu a Comissão Intersetorial de Saúde e devolveu, na prática, a coordenação da saúde indígena para a FUNAI, que ficou responsável pela recuperação dos índios doentes, enquanto o Ministério da Saúde encarregava-se das ações de prevenção. Com a Lei 9.836, de 23 de setembro de 1999, ficou determinada a responsabilidade do Ministério da Saúde/Fundação Nacional de Saúde em relação à saúde indígena, definindo-se o Subsistema de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas no âmbito do SUS. Isso permitiu a formulação da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas contando com a participação de representantes dos órgãos responsáveis pelas políticas de saúde e pela política e ação indigenistas do governo, permitindo também a participação de organizações da sociedade civil com trajetória reconhecida no campo de atenção e da formação de recursos humanos para a saúde dos povos indígenas, além de representantes das organizações indígenas com experiência de execução de projetos no campo de atenção à saúde junto ao seu povo6. Surgiu, com isso, a necessidade de se adotarem medidas que permitissem o aperfeiçoamento do funcionamento e a adequação da capacidade do Sistema para que a aplicação dos princípios e diretrizes (descentralização, universalidade, eqüidade, participação comunitária e controle social) fosse realizada de maneira eficaz. Após a implementação do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, a parceria com Universidades, Organizações Não-Governamentais (ONGs), Organizações da Sociedade de Interesse Público (OSCIP), prefeituras e estados passou a ser o método encontrado para a execução das ações8. Ainda no sentido de aprimorar o Subsistema, a partir de julho de 2004, a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) passou a assumir as ações de planejamento da atenção à saúde, de gerência dos programas de saúde e do comando técnico e operacional de todo processo. Concomitantemente ao processo de desenvolvimento do Subsistema de Saúde, tivemos, nas décadas Revista da ABENO • 5(2):135-9 Projeto HUKA KATU1: a FORP-USP no Parque Indígena do Xingu • Oliveira C, Pacagnella RC, Mattos MGC, Bregagnolo JC, Watanabe MGC, Mestriner Júnior W de 80 e 90, na área de saúde bucal, um crescimento significativo na oferta pública dos serviços no Brasil. Entretanto, o país viveu uma crise de assistência à saúde decorrente do esgotamento do modelo biomédico tradicional, considerado cirúrgico, restaurador, ineficiente, monopolizador, de alto custo e elitista. Isso fez ressurgir programas desenvolvidos segundo a lógica da abordagem da promoção de saúde e mostrou a necessidade de mudanças no processo de formação do profissional de saúde3. Nesse contexto, passou a existir uma exigência social para que se produzam profissionais diferentes, com formação geral, capazes de prestar uma atenção integral e humanizada às pessoas, que trabalhem em equipe, que saibam tomar suas decisões considerando não somente a situação clínica individual, mas o contexto em que vivem os pacientes, os recursos disponíveis e as medidas mais eficazes. Por isso, para cumprir um papel transformador, as instituições formadoras deverão compreender “os Novos Cenários de Aprendizagem” como um conceito amplo, que diz respeito não somente ao local em que se realizam as práticas, mas aos sujeitos nelas envolvidos, à natureza e ao conteúdo do que se faz. Diz respeito, portanto, à incorporação e à inter-relação entre métodos didáticos e pedagógicos, áreas de práticas e vivências, utilização de tecnologias e habilidades cognitivas e psicomotoras. Inclui, também, a valorização dos preceitos morais e éticos orientadores de condutas individuais e coletivas9,10,11. Em concordância ao exposto acima, as Diretrizes Curriculares para a educação dos profissionais de saúde do século XXI exigem um novo delineamento para o âmbito específico de cada profissão, de forma que todos os profissionais deverão estar dotados de competências (conhecimentos, habilidades e atitudes) que possibilitem a sua interação e atuação multiprofissional, tendo como beneficiados os indivíduos e a comunidade, promovendo a saúde para todos7. É necessário, ainda, que, quanto aos conteúdos comuns, os currículos dos cursos da área da saúde proporcionem: 1. conhecimentos de técnicas de comunicação e relacionamento pessoal que permitam a adequada relação com o paciente, com a comunidade e sua atuação em equipe multiprofissional de saúde; 2. conhecimentos para participar no gerenciamento das ações de saúde, levando em conta o processo de trabalho e a relação custo-efetividade, a eqüidade e a melhoria do sistema de saúde; 3. conhecimentos sobre políticas de saúde e abrangências das ações de saúde, segundo o enfoque de vigilância à saúde; 4. conhecimentos do processo saúde-doença, das condições de vida e do perfil epidemiológico da população; 5. conhecimentos, desenvolvimento de habilidades e mudança de atitudes que possibilitem o exercício profissional fundamentado nos princípios da Ética e da Bioética. Considerando os objetivos acima como sendo aqueles a serem alcançados, a Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FORP-USP) propôs, em sua reestruturação curricular, um currículo organizado de forma integrada, em complexidade crescente e praticamente sem separação entre os ciclos básico e profissionalizante12. É a partir desse entendimento que a FORP-USP firmou um convênio com o Distrito Sanitário Especial Indígena do Xingu (DSEI – Xingu) por intermédio da FUNASA e incluiu, no seu novo currículo, o Estágio Optativo em Saúde Bucal no Parque Indígena do Xingu, envolvendo as etnias que habitam o Baixo e Médio Xingu. Neste ano, foram realizadas quatro entradas com equipes compostas por professores e alunos da FORPUSP, cirurgiã-dentista, médicos e enfermeiras contratados pela Universidade Federal do Estado de São Paulo (UNIFESP), agentes indígenas de saúde bucal e conselheiros indígenas de saúde. As atividades desenvolvidas e as metas objetivadas que determinaram todo o processo de trabalho podem ser visualizadas no Quadro 1. O Estágio Optativo oferecido aos alunos procura proporcionar, o mais cedo possível, o contato com a realidade social e com os serviços de saúde, pela observação e pelo desenvolvimento de atividades que dão condições ao aluno de superar a dicotomia entre estudo e trabalho. Ao realizar uma atividade docente-assistencial fora do ambiente acadêmico, os alunos são levados até a realidade daquela população, aproximando-se do contexto sociocultural, o que permite a modificação da visão mecanicista e reducionista da natureza humana para uma concepção holística e sistêmica da vida. Essa experiência prática de ensino-aprendizagem permite uma ampliação do referencial social e cultural do processo saúde-doença e suas implicações na prática odontológica. “A universidade não vai adquirir compromisso e relevância social sem abrir para o mundo do trabalho e para o mundo da vida; os serviços não vão se transformar no sentido desejado se não se abrirem para a população, para seus interesses e objetivos concretos.” Revista da ABENO • 5(2):135-9 137 Projeto HUKA KATU1: a FORP-USP no Parque Indígena do Xingu • Oliveira C, Pacagnella RC, Mattos MGC, Bregagnolo JC, Watanabe MGC, Mestriner Júnior W Quadro 1 - Atividades e metas da USP/UNIFESP determinantes do processo de trabalho no DSEI-Xingu. Atividade desenvolvida Descrição Metas Treinamento para AIS* e professores Realizado pela equipe em área Formação de multiplicadores Orientações sobre saúde bucal Realizadas por AIS e pela equipe em reuniões com a comunidade Formação de hábitos saudáveis e motivação para escovação Visitas nas aldeias Visitas feitas por AIS às famílias Motivar toda a família para promoção de saúde bucal Distribuição de escovas e pastas dentais Quatro vezes ao ano para todas as comunidades em colaboração com o Projeto Colgate Nativo Redução da incidência de cárie Escovação supervisionada Acompanhamento das atividades de escovação durante permanência da equipe na comunidade Redução da incidência de cárie Aplicação tópica de flúor gel na escova Atividade realizada pelos acadêmicos e AIS a cada entrada com crianças a partir de 6 anos e jovens Redução da incidência de cárie Atenção nos pólos Atividades preventivas promocionais em saúde bucal para professores e alunos, agendadas quatro vezes por ano Redução da incidência de cárie Adequação do meio bucal para faixa etária de 6 a 14 anos Consiste na restauração com cimento provisório de lesões de cárie Controlar a evolução da doença nas crianças de 6 a 14 anos de idade Tratamento reabilitador Consiste na remoção de raízes residuais e confecção de próteses dentárias Recomposição da função do sistema estomatognático Atendimento de urgências Atender casos urgentes evitando-se maiores danos à saúde do indivíduo Diminuir demanda reprimida e casos de urgência * Agentes Indígenas de Saúde. Adaptado de Benevides, Nunes1 (2000). ABSTRACT The HUKA KATU† Project – School of Dentistry of Ribeirão Preto at the Xingu Indigenous Park For many years, the educational formation of health professionals, including dentists, was not guided by the critical understanding of the population’s needs in terms of oral health. The country’s educational model (Universities) became disassociated from the Brazilian reality, and consequently not committed to the promotion of oral health. The School of Dentistry of Ribeirão Preto, University of São Paulo (FORP-USP), during the collective construction of its pedagogical project, has been aware of the current regulations of the many documents elaborated by the Ministry of Education (Curricular Guidelines for dental schools) and Ministry of Health (National Policy for Oral Health and National Policy for Attention to the Health of Indigenous People). In order to perform their role of transformation, Universities must understand the new “Learning Setting” as a broad concept that concerns not only the place in which techniques are performed, but also the population involved, nature and the content of what is being per- formed. It concerns, therefore, the incorporation and the interrelation of didactic and pedagogical methods, areas of practice and experiences, use of technologies and abilities associated to the cognitive and psychomotor domains. It also includes the valorization of moral and ethical principles which guide individual and collective conducts. The new FORP-USP Curricula presents growing complexity and proposes integration with greater flexibility. It is within this context that we propose the presentation of the Optional Internship (Oral Health at the Xingu Park FORP/USP) offered to dental students, characterized as a process capable of contributing to the reorganization of oral health practice and conceptions, providing a new work process with the main goal of promoting health care. DESCRIPTORS Education, dental. Community Dentistry. Curriculum, education. † In Kamaiura (a language from the Tupi stem), it means “beautiful smile”, which was one of the names suggested by the Xingu indigenous people and chosen by the dental school community by direct voting. 138 Revista da ABENO • 5(2):135-9 Projeto HUKA KATU1: a FORP-USP no Parque Indígena do Xingu • Oliveira C, Pacagnella RC, Mattos MGC, Bregagnolo JC, Watanabe MGC, Mestriner Júnior W REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Graf; 1996. 40 p. 1. Benevides LF, Nunes S. Organização dos serviços de atenção 8. Ministério da Saúde. Secretária Nacional de Programas Espe- em saúde bucal na região dos rios Tiquié e Uaupés – Distrito ciais de Saúde. Divisão Nacional de Saúde Bucal. Política Na- Sanitário Especial Indígena do Rio Negro. São Paulo; 2000. cional de Saúde Bucal: princípios, objetivos, prioridades. Bra- [Projeto desenvolvido pela Instituição “Associação Saúde Sem sília (DF); 2003 [2003 jun]. Disponível em: URL: http://www. Limites”]. saude.gov.br/programas/bucal/politica/politica.htm. 2. Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: 9. Rede UNIDA. A construção de modelos inovadores de ensinoaprendizagem: as lições aprendidas pela Rede UNIDA; 2000a. Senado; 1988. 3. Brasil. Ministério da Saúde. Assistência integral à saúde da criança: ações básicas. Brasília: Centro de Documentação; 1984. [Divulgação em Saúde para Debate, n. 22]. 10. Rede UNIDA. Agenda estratégica para as mudanças na formação dos profissionais de saúde no Brasil; 2000b. [Boletim da [Série B: textos básicos de Saúde;7:5-20]. 4. Buss PM. Promoção de saúde e saúde pública: contribuição para o debate entre as escolas de saúde pública da América Rede UNIDA, ano IV, n. 3, out/nov]. 11. Rede UNIDA. Diversificação de cenários de ensino e trabalho sobre necessidades/problemas da comunidade; 2000c. [Divul- Latina. Rio de Janeiro; s.n.; 1998. p. 1-18. 5. Conferência Nacional de Saúde Bucal. Relatório final. 2. Bra- gação em Saúde para Debate, n. 22]. 12. Universidade de São Paulo. Reestruturação curricular Faculda- sília; 1993. 28 p. 6. Fundação Nacional de Saúde. Plano Distrital de Saúde. Depar- de de Odontologia de Ribeirão Preto; jul 2003. tamento de Saúde Indígena. Brasília; 2002. [Mimeografado]. 7. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: Art- Aceito para publicação em 06/2005 Revista Brazilian Oral Research Para maior comodidade aos autores e agilidade no recebimento, logo será possível fazer a submissão de artigos “on-line”. Aguarde mais informações em breve! Revista da ABENO • 5(2):135-9 139 Utilização de imagens 3D para o ensino em Odontologia Uma alternativa didática de fácil obtenção, baixo custo e vasta utilidade em sala de aula, que auxilia o docente, estimula os alunos e facilita o aprendizado. Marcio Vieira Lisboa*, Josmar Gomes de Carvalho**, José Luiz Lage-Marques***, Mikiya Muramatsu****, Matsuyoshi Mori*** * Aluno de Pós-Graduação (Mestrado) da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected]. ** Aluno de Graduação do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo. *** Professores Doutores da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. **** Professor Associado do Instituto de Física da Universidade de São Paulo. RESUMO O objetivo deste trabalho foi produzir material didático utilizando imagens tridimensionais para o ensino das especialidades da Odontologia. A utilização de imagens tridimensionais (3D) apresenta com maior clareza detalhes de peças anatômicas, tempos operatórios, características dos preparos protéticos e anatomia de canais radiculares. Para obtenção do efeito 3D, as imagens foram obtidas através de uma máquina digital (Mavica®, Sony, Japão) em duas posições. Da primeira para a segunda imagem houve um deslocamento de 2° no plano horizontal, em torno do eixo vertical de um goniômetro, obtendo-se imagens sucessivas de um mesmo objeto com ângulos diferentes de visão. As fotos sucessivas foram editadas em programas para tratamento de imagens (Photo Editor e Adobe Photoshop), aumentando-se a intensidade das cores vermelha, ciano e verde, sendo sobrepostas com os respectivos deslocamentos. Óculos padrões para imagens 3D foram confeccionados em cartolina e lentes de acetato nas cores vermelha e ciano, para percepção do efeito tridimensional. Assim, cabe ressaltar tratarse de material de simples confecção, baixo custo ope140 racional e que resulta em avanço significativo na aquisição de conhecimento pelo aluno de Odontologia. DESCRITORES Ensino. Educação em Odontologia. Prótese parcial fixa. Imagem tridimensional. A inovação no ensino universitário e a formação pedagógica daqueles que exercem essa prática têm contribuído muito para desenvolver nos alunos um conjunto de habilidades e o domínio de um conteúdo mínimo para formação de cirurgiões-dentistas cada vez mais preparados para prestação de serviços qualificados1. Textos, desenhos e fotografias em duas dimensões (2D) têm sido utilizados para o ensino por meio de diapositivos, retroprojeções e multimídia; porém, devido à complexidade do órgão dental, do sistema estomatognático em geral e das técnicas cirúrgicas, aparecem dificuldades principalmente no treinamento laboratorial, já que não há percepção em profundidade e em volume dessas imagens. O objetivo deste trabalho é utilizar, com o apoio Revista da ABENO • 5(2):140-3 Utilização de imagens 3D para o ensino em Odontologia • Lisboa MV, Carvalho JG, Lage-Marques JL, Muramatsu M, Mori M do PROMAT*, imagens tridimensionais (3D) de peças anatômicas, macromodelos em resina que simulam preparos dentais de finalidade protética e macromodelos em resina que simulam preparos dentais de finalidade endodôntica para as aulas de graduação, a fim de aprimorar noções de tamanho e volume de estruturas anatômicas e de elucidar os conceitos de convergência, expulsividade e paralelismo em preparos dentários e radiculares por meio de projeções multimídia e/ou imagens impressas. Figura 1 - Macromodelos de preparos dentais com finali- dade protética e endodôntica. MATERIAIS E MÉTODOS O efeito 3D ocorre quando cada um dos olhos de um observador registra a partir de uma mesma região, duas imagens de pontos de vista diferentes, as quais são fundidas no cérebro. A visão binocular propicia o deslocamento, nas imagens, dos elementos que compõem o cenário observado; o cérebro realiza os cálculos necessários, com os quais são inferidas as distâncias entre os elementos, resultando no efeito tridimensional. Para a reprodução da sensação de profundidade, basta fazer com que cada um dos olhos receba uma das imagens levemente deslocada no cenário. Foram obtidas imagens de peças anatômicas e de macromodelos de preparos dentais com finalidade protética e endodôntica (Figura 1) através de uma câmera digital (Mavica®, Sony, Japão). Para a obtenção das imagens, construiu-se um suporte sobre a plataforma de um goniômetro e colocaram-se duas fontes luminosas eqüidistantes, uma de cada lado da plataforma, para eliminar as sombras (Figura 2). Cada objeto foi posicionado centralmente sobre a plataforma do goniômetro (que gira em torno de um eixo vertical do mesmo), distante 10 cm da objetiva da câmera digital, fixada em um tripé (Slik Tripod, Japão). Obtida a primeira imagem do objeto, obteve-se a segunda com o giro da plataforma do goniômetro em cerca de 2°, gerando, assim, ângulos diferentes de visão dos detalhes anatômicos, uma vez que a imagem final deve apresentar pequena diferença de angulação, para aumentar a sensação de volume e permitir a criação de ��������������������� ����� ������������ A ������������ ������������������������ B Figura 2 - Desenho esquemático do suporte para fazer as fotografias: A - primeira fotografia; B - segunda fotografia. * Programa de Apoio à Produção de Material Didático (PROMAT) da Pró-Reitoria de Graduação da Universidade de São Paulo (USP), que tem como objetivo apoiar projetos que visem à melhoria do ensino de graduação, por meio da utilização de recursos didáticos que explorem novas tecnologias e que facilitem a divulgação interna e externa do conhecimento desenvolvido na USP. Revista da ABENO • 5(2):140-3 141 Utilização de imagens 3D para o ensino em Odontologia • Lisboa MV, Carvalho JG, Lage-Marques JL, Muramatsu M, Mori M Figura 3 - Aumento do brilho na cor vermelha da pri- Figura 4 - Aumento do brilho na cor ciano da segunda meira foto de um preparo para metalocerâmica em dente molar superior. foto (foto deslocada em 2° em relação à primeira) de um preparo para metalocerâmica em dente molar superior. Figura 5 - Imagem 3D de um preparo para coroa metalo- Figura 6 - Imagem 3D de um preparo para acesso endo- cerâmica em dente molar superior (observar com óculos 3D). imagens tridimensionais. Essas duas imagens sucessivas do mesmo objeto foram editadas em programas para tratamento de imagens (Photo Editor e Adobe Photoshop), aumentando-se a intensidade das cores vermelha na primeira foto (Figura 3) e ciano e verde na segunda foto (Figura 4), sendo depois ambas sobrepostas com as respectivas alterações (Figura 5). Observando-se uma imagem através de um filtro vermelho, os pontos com essa cor não serão vistos pelo observador, já que não há contraste entre os pontos vermelhos da imagem e os do filtro. Caso o filtro seja ciano, os pontos vermelhos serão visíveis e os pontos de cor ciano passam a não ser vistos. Com base nesse fenômeno, foram confeccionados 142 dôntico (observar com óculos 3D). óculos em papel cartolina e filtros de acetato nas cores vermelho para o olho esquerdo e ciano para o olho direito, como é padrão em óculos 3D. Dessa forma, cada um dos olhos recebe estímulos apenas de uma das imagens com o brilho alterado e em posição diferente; assim, o cérebro “funde” essas imagens e cria a imagem tridimensional (Figuras 5 e 6). DISCUSSÃO E CONCLUSÃO Inovações com fins didáticos têm a função de auxiliar a tarefa do docente em sala de aula, estimular os alunos a participar das atividades e, principalmente, facilitar o aprendizado. Com o aumento crescente no uso de imagens di- Revista da ABENO • 5(2):140-3 Utilização de imagens 3D para o ensino em Odontologia • Lisboa MV, Carvalho JG, Lage-Marques JL, Muramatsu M, Mori M gitais, internet e outros meios eletrônicos, o computador em geral vem se tornando cada vez mais indispensável na área de saúde4. Na tentativa de que o aluno possa relacionar o estudo teórico com o prático e, assim, criar uma fusão de conhecimentos, deve-se lançar mão de diversas técnicas de ensino3. Particularmente no ensino da Odontologia, devido à dificuldade apresentada pelos alunos em visualizar os pormenores do arcabouço dental e a localização espacial de estruturas e tecidos, torna-se importante a utilização de novas técnicas de ensino que possibilitem ao aluno perceber detalhadamente os passos clínicos de um preparo dental e/ou passos cirúrgicos, já que estes são procedimentos importantes na formação de um cirurgião-dentista. Utilizando o princípio da estereoscopia, em que as características das imagens retinianas no olho humano e a visão binocular permitem a visualização de profundidade e volume2, a utilização de imagens em 3D apresenta-se como uma alternativa didática de fácil obtenção, baixo custo e vasta utilidade em sala de aula, já que facilita o aprendizado em prótese, anatomia, periodontia, endodontia e Odontologia em geral. AGRADECIMENTOS À Pró-Reitoria de Graduação da Universidade de São Paulo e ao PROMAT, pelo apoio financeiro. Ao Instituto de Física da Universidade de São Paulo. ABSTRACT 3D images in dental education The purpose of this study was to prepare didactic material using three-dimensional (3D) images for the teaching of dentistry. The use of 3D images provides clear details of anatomic structures, operative procedures, characteristics of prosthetic preparations and the anatomy of root canals. To obtain the 3D effects, images of acrylic models of teeth were taken with a digital camera (Mavica®, Sony, Japan) in two different positions. Between the taking of the first and the second image, a dislocation of 2° in the horizontal plane, around the vertical axis of a goniometer, was performed. Thus, successive images of one object with different angles were obtained. The successive photographs were edited using computer software for image edition (Photo Editor and Adobe Photoshop) to increase the brightness of red, cyan and green and to overlay the photos with modified angles, thus creating a three-dimensional effect. Standard 3D glasses made in cardboard with lens made of cellophane in red and cyan were used to observe the three-dimensional effect. It is important to point out that this material is easy to make, has a low cost and results in significant improvement to the learning process of students of dentistry. DESCRIPTORS Teaching. Education, dental. Denture, partial, fixed. Imaging, three-dimensional. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Araujo IC, Araujo MVA, Melo CB, Barroso RFF. Trajetória nacional e internacional do ensino odontológico e a disciplina de Clínica Integrada nos cursos de Odontologia. Rev Inst Cienc Saude 2002;20(1):69-73. 2. Malacara D. Óptica básica. Cidade do México: Secretaria de Educação Pública; 1989. 3. Mello G, Valiati R. Aprender anatomia com métodos lúdicos. Revista da ABENO 2002;2(1):14. 4. Sverzut AT, Semprini M, Pardini LC, Rosin HR. Métodos auxiliares de ensino em Odontologia. Revista da ABENO 2002;2(1):15. Aceito para publicação em 06/2005 Utilize os óculos para visualizar as imagens Revista da ABENO • 5(2):140-3 143 Avaliação da qualidade de ensino em Endodontia do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará Para o constante aprimoramento do processo ensino-aprendizagem devem-se utilizar estratégias pedagógicas que promovam cada vez mais a interação aluno-professor. Mônica Sampaio do Vale* * Professora Adjunta IV da Disciplina de Endodontia do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará. E-mail: [email protected]. RESUMO O objetivo deste trabalho foi avaliar a qualidade de ensino na Disciplina de Endodontia do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará, utilizando-se de um questionário aplicado aos acadêmicos que cursaram a disciplina no ano de 2004. Foram avaliadas duas turmas de alunos, sendo uma referente ao semestre 2004.1 e a outra, ao semestre 2004.2. O questionário foi elaborado pela autora do trabalho, que idealizou 16 perguntas com objetivo de fornecer subsídios para se conhecerem as reais condições de ensino-aprendizagem em Endodontia. Dos sessenta e nove questionários enviados, quarenta e um foram respondidos e devolvidos, correspondendo a 59,42% da amostra. Não houve necessidade de identificação do aluno respondente. Os dados referentes a cada pergunta foram coletados e os resultados permitiram uma auto-avaliação das condições de ensino, que serão consideradas nos futuros planejamentos da referida disciplina, buscando-se assim um nível mais elevado de sua aprendizagem. DESCRITORES Ensino. Endodontia. Educação em Odontologia. A necessidade de constante aprimoramento na qualidade do processo ensino-aprendizagem é destacada nos vários projetos político-pedagógicos dos Cursos de Graduação do Ensino Superior, valendo-se, para alcançar esse objetivo, de estratégias pedagógicas que promovam cada vez mais a interação alu144 no-professor. O emprego da tecnologia – tal como um banco de dados eletrônico para armazenar informações de natureza quantitativa e qualitativa relacionadas à Clínica de Endodontia, seja em nível de graduação ou pós-graduação – segundo Zaragoza et al.7 (2004), facilita o acompanhamento dos alunos, bem como sua evolução durante o andamento da disciplina. Porém, quando as condições estruturais e/ou financeiras são problemáticas, surgem possibilidades de avaliação das atividades programadas em uma determinada disciplina por meio de questionário, adotando-se perguntas pertinentes à metodologia e ao conteúdo programático. Nas disciplinas da área da saúde, a avaliação de aulas laboratoriais prévias aos procedimentos clínicos nos pacientes é fundamental. A Endodontia é uma especialidade da área odontológica que visa o preparo do aluno para o conhecimento das alterações pulpares e periapicais com adoção de medidas preventivas e curativas, considerando-se nestas o tratamento endodôntico radical. A correta preparação do aluno deve seguir um planejamento tanto laboratorial (in vitro) quanto clínico (in vivo), em ambos adotando-se o ensino de várias etapas operatórias que compõem o tratamento endodôntico, tais como acesso e preparo da cavidade pulpar, técnicas de instrumentação, técnicas de irrigação/aspiração, seleção e aplicação de medicação intracanal e técnicas de obturação do sistema de canais radiculares. Segundo Fachin1 (1999), os insucessos em Endodontia estão diretamente relacionados aos erros durante esses procedimentos, inclusive na seleção incor- Revista da ABENO • 5(2):144-9 Avaliação da qualidade de ensino em Endodontia do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará • Vale MS reta do caso clínico. O autor enfatiza também a fratura de instrumentos no interior dos canais como fator de insucesso, considerando-se assim a possiblidade de retratamento, cuja proservação deve ser de até 5 anos. A importância de se conhecer o sistema de canais é condição fundamental para dar prosseguimento às diversas etapas do tratamento endodôntico, e para se conseguir o respeito à forma original dos canais quando se estiver realizando a limpeza dos mesmos pela técnica de instrumentação adotada. Gorni, Gagliani2 (2004) ressaltaram essa importância destacando que o percentual de sucesso do tratamento endodôntico está diretamente relacionado à manutenção da forma original do canal, considerando-se que o percentual de sucesso aumenta de 69,03% para 86,8% nas situações em que se preserva a anatomia original. Portanto, o acompanhamento do aluno desde a fase laboratorial até a fase clínica torna-se fundamental, e o conhecimento aliado à resolução das dificuldades encontradas em cada uma delas certamente possibilitará a redução de erros que prejudiquem o processo de ensino-aprendizagem. É objetivo deste trabalho avaliar a qualidade do processo de ensino-aprendizagem na Disciplina de Endodontia do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará, adotando-se como referência a turma de estudantes do ano de 2004. REVISÃO DA LITERATURA Weinfeld6 (1996) avaliou o trabalho pré-clínico de alunos de graduação em dentes extraídos e adaptados a manequins e constatou ser a obturação a etapa de maior insucesso, seguida por abertura coronária, preparo do sistema de canais e, por último, a determinação do comprimento longitudinal do canal radicular. Concluiu também ser o dente pré-molar inferior o de menor dificuldade em todas as etapas avaliadas. Simi Júnior et al.4 (1998) analisaram as dificuldades nas diversas etapas do tratamento endodôntico. Foram selecionados 740 planos de tratamento e realizadas entrevistas para determinação das maiores dificuldades. Os resultados demonstraram que as dificuldades encontradas pelos alunos foram: acesso à câmara pulpar e entrada dos canais (27,02%), preparo químico-cirúrgico do canal radicular (24,33%), obturação do canal radicular (18,92%), retratamento do canal radicular (16,22%) e odontometria (13,51%). Correlacionando os insucessos em endodontia com os erros durante o tratamento endodôntico, Fachin1, em 1999, verificou que eles ocorreram por erros na seleção do caso para tratamento, por omissão de canais ou por erros técnicos, tais como: precariedade da cadeia asséptica, precariedade na condensação lateral da obturação do canal, subobturações e sobreobturações. A presença de instrumentos fraturados no interior dos canais ou de cones de prata também favoreceu o acréscimo de insucessos. Ressaltou-se a importância da reintervenção em casos crônicos e que acompanhamentos radiográficos posteriores não devem superar o período de cinco anos. Skelton Macedo et al.5 (2001) apresentaram modelos de avaliação em dois momentos distintos no último trimestre das atividades programadas para a turma 2000/2001 da FOUSP, obtendo dados individuais que geraram informações quantitativas (certas e erradas) e qualitativas (análise da coerência) e o desempenho em grupos de discussão. Os resultados permitiram concluir que existem diferenças entre as avaliações quantitativa e qualitativa, apontando um método seguro e eficaz, e que a discussão em grupos identifica um importante modelo de ensino não-presencial. Em 2003, Kamaura et al.3 avaliaram os alunos da disciplina de Endodontia, comparando alguns quesitos da prática da técnica endodôntica realizada na clínica e no laboratório. Foram analisadas radiografias finais dos tratamentos endodônticos, divididas em relação aos grupos dentais uni, bi e multirradiculares. Nestas foram observados os seguintes critérios de qualidade: 1 - limite apical; 2 - obturação; 3 - forma do preparo; 4 - extravasamento; 5 - acidentes; 6 - qualidade radiográfica. Nas radiografias avaliadas pelo mesmo operador, foram encontradas diferenças estatisticamente significantes em nível de 5% quando comparados os grupos dentais quanto aos critérios da forma do preparo dos canais, tanto nos dentes tratados em laboratório, quanto nos tratados na clínica. Na comparação entre os tratamentos realizados em laboratório e os tratados em clínica, ocorreram diferenças significantes em nível de 5% nos critérios “acidentes” e “qualidade radiográfica”, mostrando diminuição da porcentagem de acidentes do laboratório para a clínica e diminuição da qualidade radiográfica ao longo do período de exercício da especialidade. Os achados experimentais permitiram concluir que há estreita relação entre o aprendizado no laboratório e sua aplicação nas atividades clínicas, que o método de ensino integrado produz capacitação discente e que durante o período ocorreu uma mudança de prioridade adotada pelos alunos, podendo ser observada pelo desempenho em determinados quesitos analisa- Revista da ABENO • 5(2):144-9 145 Avaliação da qualidade de ensino em Endodontia do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará • Vale MS dos. Gorni, Gagliani2 (2004) classificaram as diferentes situações clínicas encontradas em casos de retratamento e relacionaram-nas a um período de observação de 24 meses. Um total de 425 pacientes (452 dentes), admitidos para um retratamento endodôntico, foram monitorados durante um período de 24 meses. Todos os dentes foram divididos em duas grandes categorias: dentes com anatomias modificadas pelo tratamento endodôntico prévio e dentes que não tiveram mudanças anatômicas após o tratamento endodôntico. Embora a margem de sucesso tenha sido de 69,03%, o sucesso no grupo cuja morfologia foi respeitada atingiu 86,8%; no grupo cuja morfologia foi alterada com o tratamento endodôntico, a margem de sucesso foi de 47%. O sucesso clínico de um retratamento endodôntico parece depender da alteração do curso natural dos canais radiculares pelo tratamento endodôntico prévio. Zaragoza et al.7 (2004) criaram um banco de dados eletrônico para armazenar informações de natureza quantitativa e qualitativa relacionadas à Clínica de Endodontia, em nível de graduação ou pós-graduação. Na plataforma Microsoft Visual Basic®, foram criadas fichas clínicas que satisfizessem as necessidades da clínica endodôntica: exame clínico, procedimentos diários e obturações, além do arquivo de ima- gens. O acesso do aluno ao aplicativo era feito por meio de senha. Ele preenchia todas as fichas clínicas relacionadas ao caso clínico em tratamento em um terminal de computador. Todas as imagens eram digitalizadas, o retorno do paciente para controle era agendado e o tratamento, qualificado pelo professor. Com base nas informações, foi possível filtrar, classificar e emitir relatórios clínicos, de imagens ou gráficos. Assim, o acompanhamento dos alunos de um curso de graduação ou mesmo de cursos de extensão em Endodontia pôde ser mais facilmente realizado e a evolução do aluno, avaliada. Os resultados obtidos com 52 alunos no atendimento de 587 pacientes permitiram concluir que o banco de dados eletrônico ampliou as possibilidades de avaliação do ensino de Endodontia. MATERIAL E MÉTODOS Durante o ano de 2004, aplicou-se um questionário para a turma de acadêmicos que estava cursando a Disciplina de Endodontia, com o objetivo de obter informações sobre a qualidade de ensino em Endodontia do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará (UFC). Foram analisadas duas turmas, uma referente ao semestre 2004.1 e outra, ao semestre 2004.2. Para a confecção do questionário, foram elaborados 16 quesitos (Quadro 1). Após apli- Quadro 1 - Questionário para Avaliação. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ – FACULDADE DE FARMÁCIA, ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM COORDENAÇÃO DO CURSO DE ODONTOLOGIA – DISCIPLINA DE ENDODONTIA Questionário para Avaliação da Qualidade de Ensino em Endodontia 1. Na sua opinião, qual a etapa do tratamento endodôntico em que você sentiu mais dificuldade? 2. Qual a etapa que você realizou com mais facilidade? 3. Qual(is) o(s) erro(s) ou falha(s) de procedimento que você cometeu no 1º tratamento endodôntico in vitro? 4. E no último in vitro? 5. Qual(is) o(s) erro(s) ou falha(s) de procedimento que você cometeu no 1º tratamento endodôntico in vivo? 6. E no último in vivo? 7. Qual a seqüência operatória que foi melhor ensinada? 8. Qual seqüência operatória deixou mais dúvida no seu aprendizado? 9. Quantos tratamentos endodônticos você realizou in vitro? 10. Quantos dentes in vitro você consideraria ideal para ter segurança de realizar o tratamento endodôntico in vivo? 11. Quantos tratamentos endodônticos concluídos você realizou in vivo? 12. E quantos não concluídos? 13. Quantos tratamentos endodônticos in vivo você consideraria ideal para seu aprendizado seguro? 14. Você acha que o tratamento endodôntico em dupla seria mais adequado para seu aprendizado? Justifique. 15. Qual(is) o(s) conteúdo(s) teórico(s) que deveria(m) ser revisado(s) ao longo do curso? 16. Qual(is) o(s) contéudo(s) teórico(s) que ainda poderia(m) ser ministrado(s) na graduação? 146 Revista da ABENO • 5(2):144-9 Avaliação da qualidade de ensino em Endodontia do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará • Vale MS cação e coleta dos dados, calculou-se o percentual das respostas. Na turma do semestre 2004.1 havia 33 alunos, porém, somente 20 questionários respondidos foram devolvidos para avaliação. Na turma de 2004.2 havia 36 alunos, sendo que 21 devolveram os questionários respondidos. Totalizaram-se, então, 41 questionários, cujas respostas foram coletadas e analisadas, obtendo-se assim um perfil do nível de ensino-aprendizagem na Disciplina de Endodontia. RESULTADOS Observou-se que, de um total de 69 alunos matriculados na Disciplina de Endodontia no ano de 2004, 59,42% devolveram o questionário respondido. Na primeira pergunta do questionário, observou-se que a etapa do tratamento endodôntico em que o aluno sentiu mais dificuldade foi o acesso à cavidade pulpar, com percentual de 59,71% dos respondentes (média das duas turmas do ano de 2004), seguida pela etapa da obturação do canal (24,5%), instrumentação (7,35%) e outras (8,44%). Na segunda pergunta, constatou-se que a etapa da instrumentação foi considerada a de mais fácil realização, com 53,69% dos respondentes das duas turmas, seguida da obturação (29,15%), do acesso (9,88%) e de outras (7,28%). Na terceira pergunta constatou-se que o erro mais comum no primeiro tratamento endodôntico in vitro em ambas as turmas foi a abertura coronária exagerada e falha na obturação, em 27,02% e 19,04% dos respondentes, respectivamente. Outros erros citados e que totalizaram 32,32% dos respondentes foram falhas na instrumentação, na tomada radiográfica, na irrigação/aspiração e na odontometria. Consideraram que não erraram no primeiro tratamento in vitro 9,72% e 11,9% não responderam a esse quesito. Na quarta pergunta, constatou-se que 35,7% não responderam a esse quesito, enquanto 27,26% consideraram que não cometeram erro no último tratamento endodôntico in vitro. Nos outros 37,04% dos respondentes constatou-se erro na obturação, na tomada radiográfica, na abertura coronária e na instrumentação. Na quinta pergunta, constatou-se que 29,28% erraram durante a instrumentação e 22,5% não erraram em nenhum procedimento no primeiro tratamento endodôntico in vivo. Outros erros detectados, que totalizaram 48,22%, foram durante a radiografia, a secagem da radiografia, a odontometria e o acesso, bem como perfuração do canal e falha na obturação. Já no último tratamento endodôntico in vivo, 68,09% dos respondentes consideraram não ter errado em nenhum procedimento. Relataram falha na obturação 12,12% dos respondentes. Os outros 19,79% foram distribuídos entre fratura do instrumento, falha na instrumentação e na radiografia e perfuração na câmara pulpar. Na pergunta 7, verificou-se que a técnica operatória melhor ensinada foi a instrumentação, com 68,33% dos respondentes. Outra pergunta apresentada no questionário foi sobre o número de dentes para treinamento endodôntico in vitro necessário para o aluno sentir segurança para passar para o atendimento endodôntico in vivo. Nesse quesito, foi constatado que 5 dentes seriam ideais (26,5% dos respondentes). Também 73,33% dos respondentes consideram que o tratamento em dupla não seria mais adequado para o aprendizado, acreditando sim que a disciplina deve continuar com a estratégia de trabalho individualizado. Os alunos ainda responderam sobre os conteúdos teóricos que deveriam ser revisados ao longo do curso, constatando-se que os temas sobre anatomia da cavidade pulpar e obturação foram os mais solicitados para revisão, atingindo percentuais de 19% e 12,5% dos respondentes, respectivamente. A aula prática sobre tratamento endodôntico em dentes posteriores foi a mais solicitada, atingindo 16,66% dos respondentes, seguida da aula de retratamento endodôntico e emergências em Endodontia, com 12,5%, para complementação do conteúdo teórico do curso de graduação. DISCUSSÃO Considerando-se os resultados obtidos, nossos achados divergem dos de Weinfeld6 (1996), que constataram que o acesso coronário foi o procedimento de maior dificuldade de execução (59,71% dos respondentes), seguido pela obturação (24,5%). Há coincidência apenas com os resultados do referido autor no que diz respeito ao preparo químico-mecânico, que foi o terceiro colocado em grau de dificuldade (7,35% dos respondentes). Em nosso questionário, o erro mais freqüente no acesso coronário foi a abertura coronária exagerada. Nossos resultados, no entanto, conferem com os de Simi Júnior et al.4 (1998), que constataram que a maior dificuldade encontrada foi no procedimento de abertura coronária. A importância de atividades laboratoriais realizadas previamente à clínica endodôntica é constatada Revista da ABENO • 5(2):144-9 147 Avaliação da qualidade de ensino em Endodontia do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará • Vale MS no trabalho de Kamaura et al.3 (2003), levando a menores índices de erros durante o tratamento endodôntico no paciente. Esses dados são comprovados pela estratégia adotada em nossa disciplina, quando se constata que, quanto mais treinamento no dente extraído houver, menores serão as chances de iatrogenias futuras, fato observado até mesmo em tratamentos endodônticos in vitro. Quarenta e cinco por cento dos alunos respondentes informaram que não erraram durante as etapas da técnica operatória no segundo tratamento endodôntico realizado em troquel. A redução também foi constatada no tratamento endodôntico in vivo, quando a ausência de erros aumentou de 22,5% para 68,09% dos respondentes. Entretanto, ainda se observa pelas respostas do questionário a necessidade de um maior tempo de treinamento in vitro, com objetivo de possibilitar maior segurança aos nossos alunos no futuro atendimento ao paciente, considerando-se que o número ideal de dentes referido por eles para treinamento prévio ao paciente foi de cinco; atualmente é disponibilizado o treinamento em 1 ou 2 dentes. Um banco de dados é considerado oportuno, concordando-se com Zaragoza et al.7 (2004), pois possibilita um melhor acompanhamento do aluno durante o período em que este está cursando a disciplina. Ao se comparar o percentual do tipo de erro de procedimento com o tema que foi melhor ensinado, segundo os alunos, observou-se que há inter-relação entre eles, pois verificou-se, pela terceira pergunta do questionário, que a instrumentação não foi considerada a etapa de maior erro. Observando-se, na pergunta 7, o tema melhor ensinado, 68,33% dos respondentes elegeram a instrumentação a etapa operatória melhor ensinada, embora se tenha observado que, no primeiro tratamento endodôntico in vivo, um percentual de 29,28% erraram durante a instrumentação. A falha na obturação foi constatada tanto no tratamento endodôntico in vitro quanto no tratamento endodôntico in vivo, seja no primeiro ou no último. Isso se reflete na resposta do aluno quanto ao item sobre o conteúdo que deve ser revisado ao final do curso, detectando-se ser a etapa de obturação um dos itens a ser solicitado para revisão, bem como a aula de anatomia dos canais, que certamente tem repercussão na incidência de erros durante a abertura coronária. A estratégia adotada pela Disciplina quanto ao atendimento ao paciente na forma individualizada e não em dupla permanecerá, haja vista que um percentual de 73,3% dos alunos aprovam essa estratégia, considerando que ela permite um melhor aprendiza148 do, a despeito de possibilitar mais erros na cadeia asséptica do tratamento endodôntico em relação ao método de trabalho em dupla. CONCLUSÕES Baseando-se na metodologia aplicada e na literatura consultada, pode-se concluir que: 1. O questionário aplicado na turma de alunos do ano de 2004 identificou as dificuldades operatórias dos alunos, bem como os conteúdos que devem ser revisados e/ou ensinados durante a disciplina de Endodontia. 2. A inter-relação entre conteúdo teórico melhor ensinado e sua correta aplicação na prática endodôntica foi constatada pelo menor índice de erro correspondente ao referido conteúdo. 3. A Disciplina de Endodontia da UFC deverá considerar as principais falhas de procedimentos encontradas tanto na etapa laboratorial quanto clínica, adotando maior atenção e treinamento na etapa de abertura coronária e obturação do canal radicular. 4. O planejamento de aulas práticas deverá continuar com o sistema de treinamento individual, considerando-se o alto percentual de alunos que aprovam esse método de ensino. ABSTRACT Quality Evaluation of the Teaching of Endodontics at the School of Dentistry, Federal University of Ceará The objective of this research was to evaluate the quality of the teaching of Endodontics at the School of Dentistry, Federal University of Ceará. Thus, we used a questionnaire to be answered by the students who took the course in 2004. We evaluated two student’s classes. The first one in the first semester of 2004 and the other in the second semester of the same year. The questionnaire was elaborated by the author of this research, who proposed 16 questions to assess the real conditions of the teaching of Endodontics. Among the sixty-nine questionnaires distributed, we received forty-one back, which represents 59.42% of the total. The students did not have to identify themselves. All the data was collected and used as a tool for the improvement of the teaching methodology. This data is going to be used in the future to help develop the teaching of the discipline of Endodontics. DESCRIPTORS Teaching. Endodontics. Education, dental. Revista da ABENO • 5(2):144-9 Avaliação da qualidade de ensino em Endodontia do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará • Vale MS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS JH. Disciplina de Endodontia: avaliação do desempenho do 1. Fachin EVF. Considerações sobre insucessos na Endodontia. Rev Fac Odontol Porto Alegre 1999;40(1):7-9. 2. Gorni GM, Gagliani MM. The outcome of endodontic retreat- aluno de graduação - FOUSP [Resumo 16]. Revista da ABENO 2001;1(1):67. 6. Weinfeld I. Avaliação de quatro etapas de trabalho na endo- ment: a 2-yr follow-up. J Endod 2004;30(1):1-4. 3. Kamaura D, Carvalho GL, Antoniazzi JH, Lage-Marques JLS. Avaliação do desempenho dos alunos de graduação durante a prática da técnica endodôntica. Revista da ABENO 2003;3(1):33- dontia pré-clínica [Resumo 43]. 13ª Reunião Anual da SBPqO; 1996. Anais. p. 57. 7. Zaragoza RA, Ferrari PHP, Santos M. Avaliação quantitativa e 40. 4. Simi Júnior J, Medeiros JMF, Risso VA, Albetman CS. Avaliação das dificuldades clínicas identificadas por acadêmicos do curso de graduação em relação às diversas etapas do tratamento en- qualitativa em cursos de Endodontia [Resumo 54]. Revista da ABENO 2004;4(1):93. dodôntico. Odontol USF 1998;16(1):11-8. 5. Skelton Macedo MC, Lemos EM, Lage-Marques JL, Antoniazzi Aceito para publicação em 06/2005 Atenção, autores! Revista da ABENO • 5(2):144-9 149 Anais da 40ª Reunião Anual da Associação Brasileira de Ensino Odontológico Tema central: “Universidade promotora de conhecimentos, saúde e prestadora de serviços” Balneário Camboriú - SC - 17 a 20 de agosto de 2005 COMISSÃO ORGANIZADORA Nivaldo Murilo Diegoli (UNIVALI) Lídia Morales Justino (UNIVALI) Presidente Valéria Mara de Oliveira (UNIVALI) (Funcionária) Mário Uriarte Neto Mário Uriarte Neto (UNIVALI) Vice-Presidente Cleo Nunes de Sousa Giuseppe Valduga Cruz (UNIVILLE) Renato Valiati (UNIPLAC-SC) Márcio Rastelli (FURB) Secretário Cláudio José Amante (UFSC) Giuseppe Valduga Cruz Cleo Nunes de Sousa (UFSC) Membros Colaboradores Comissão para Seleção de Trabalhos José Agostinho Blatt (UNIVALI) Léo Kriger (PUC-PR) Elisabete Rabaldo Bottan (UNIVALI) Simone Tetu Moysés (PUC-PR) Casimiro Manoel Martins Filho (UNIVALI) Ditzel Westphalen (PUC-PR) Revista da ABENO • 5(2):151 151 40ª Reunião Anual da Associação Brasileira de Ensino Odontológico Tema central: “Universidade promotora de conhecimentos, saúde e prestadora de serviços” Balneário Camboriú - SC - 17 a 20 de agosto de 2005 Dia 16 Durante o dia: Recepção e credenciamento dos participantes. Dia 17 Manhã e tarde: Seminário do INEP/MEC: “ENADE e Avaliação das Condições de Ensino” – Equipe do INEP e Comissão de Avaliação de Odontologia. Dia 18 • 8h30 - 12h00: Seminário do INEP. • 14h30 - 18h00: Mesa “A Universidade como produtora de serviço sob a ótica dos gestores estaduais e municipais de saúde”: - O Papel do Gestor Federal - Gilberto Pucca Coordenador de Saúde Bucal do Ministério da Saúde. - O Papel do Gestor Estadual - Luiz Eduardo Cherem - Secretário Estadual de Saúde de Santa Catarina. - O Papel do Gestor Municipal - Michele Caputo Secretário Municipal de Saúde de Curitiba. - O Papel da Universidade - Maria Celeste Morita - Universidade Estadual de Londrina. • 20h00: Cerimônia de Abertura da 40ª Reunião da ABENO. Durante todo o dia: Sessão de apresentação de pôsteres. Dia 19 • 8h30 - 12h00: Mesa “A pós-graduação como indutora da transformação do processo interno das instituições de ensino superior”: - Pós-Graduação lato sensu no Sistema de Educação Superior - Antonio Cesar Perri de Carvalho - ABENO, DF. - Políticas públicas em educação superior e saúde e a formação do professor de Odontologia Adriana de Castro Amédée Péret - UFMG. - A Universidade e a Formação Docente - Luiz Roberto Augusto Noro - UNIFOR, CE. - A CAPES e a Política para os Cursos de PósGraduação em Odontologia - Ney Soares de Araújo - USP e CAPES. • 14h00 - 16h30: Mesa “A Intervenção Mínima como conhecimento gerado na Universidade e aplicado em todos os níveis de atenção à saúde”: - A Intervenção Mínima em Clínica Odontológica - Adair Luiz Stefanello Busato ULBRA, RS. - A Intervenção Mínima em Odontopediatria Ana Cristina Bezerra Barreto - UCB, DF. - Intervenção Mínima e Promoção da Saúde - Rui Vicente Oppermann - UFRGS. • 16h30 - 19h00: Trabalho em grupos sobre as Mesas. • 17h00 - 19h00: Reuniões das Comissões da ABENO. Durante todo o dia: Sessão de apresentação de pôsteres. • • • • • Dia 20 8h00: Plenária para a apresentação dos relatórios dos grupos. 8h30: Assembléia Geral Ordinária da ABENO. 14h00 - 17h30: Oficina “Interdisciplinaridade” Prof. Marcos T. Masetto - PUC, SP. 14h00 - 17h30: Seminário “Ensinando e Aprendendo”. 17h30 - 18h00: Encerramento da 40ª Reunião da ABENO. Revista da ABENO • 5(2):153 153 Trabalhos selecionados para apresentação na 40ª Reunião Anual da ABENO, 2005 Tema central: “Universidade promotora de conhecimentos, saúde e prestadora de serviços” Balneário Camboriú - SC - 17 a 20 de agosto de 2005 SEMINÁRIO “ENSINANDO E APRENDENDO” 1. Clínica Integrada da UNIVILLE: “A visão da integralidade” Miguel, L. C. M.*, Andrade, K. R., Cruz, G. V., Locks, A. A fragmentação do ensino odontológico nas Universidades Brasileiras tem promovido uma visão distorcida da realidade social. Nas palavras de E. Morin”... o retalhamento das disciplinas torna impossível aprender ‘o que é tecido junto’, isto é, complexo, segundo o sentido original do termo”. O projeto político-pedagógico adotado pela Universidade da Região de Joinville em seu curso de Odontologia procura resgatar essa realidade no aprendizado. As Clínicas Integradas são adotadas já a partir do terceiro ano, em um curso que possui cinco anos na sua graduação. As disciplinas são orientadas e construídas de maneira que o ciclo básico laboratorial seja proposto já com uma visão do todo, da multidisciplinaridade. O início da fase prática no atendimento a pacientes é feito de uma maneira conjunta, em que as clínicas são divididas em etapas de complexidade. O aluno inicia essa fase prática em pacientes já com uma visão do todo, em escala crescente de complexidade de diagnóstico, planejamento e tratamento. As clínicas são divididas em baixa, média e alta complexidade. Os procedimentos foram alocados pelos professores das clínicas integradas em uma programação pedagógica de modo a favorecer um diagnóstico crescente de complexidades elaborado pelos alunos. A orientação realizada pelos professores traz um “feedback” no qual o ensino se torna uma aprendizagem, uma vez que o professor é a figura do “orientador” em todos os seus aspectos. Deve dominar as noções básicas em todas as matérias pertinentes a sua clínica. Faz com que o processo de atualização se torne constante e as transformações pedagógicas na clínica multidisciplinar evoluam como um todo. A conclusão que se tira desse processo de ensino-aprendizagem é que o aluno evolui no ensino, tendo uma visão mais abrangente do ser humano. Planeja melhor e mais eticamente a reabilitação do seu paciente e, acima de tudo, coloca-se dentro do processo saúde/doença com a capacidade de inverter esse quadro. 2. Aprendendo e ensinando cariologia: uma experiência inter e transdisciplinar Abreu, M. H. N. G.*, Brasileiro, C. B., Arantes, D. C. B., Silveira, R. R. A s atividades educativas atuais nos cursos de odontologia devem buscar a formação de um cirurgião-dentista generalista e que possa atuar de forma inter, multi e transdiciplinar. Considerando esses aspectos, o presente trabalho objetiva descrever o processo de ensino-aprendizagem de um conteúdo prático de cariologia no curso de odontologia do Centro Universitário Newton Paiva, Belo Horizonte-MG. Os conteúdos teóricos e práticos de cariologia são organizados, em complexidade crescente, desde o primeiro período do curso. No quarto período, no conteúdo de Ciências Odontológicas Articuladas II, o discente participa de uma atividade prática com características inter e transdisciplinares. A prática pedagógica objetiva levar o estudante a conhecer as características histopatológicas, clínicas e radiográficas da doença Revista da ABENO • 5(2):155-207 155 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 cárie dentária. Além disso, a prática pedagógica é trabalhada de forma contextualizada, com envolvimento dos aspectos técnicos e sociais, levando-se em consideração a influência da cariologia no processo saúdedoença e na vida das pessoas. Três docentes, com formação específica em radiologia odontológica e imaginologia, patologia bucal e saúde coletiva, atuam nessa atividade, simultaneamente, há dois semestres letivos. Em um mesmo ambiente pedagógico, o aluno identifica as características histológicas da doença cárie dentária através da prática no microscópio, interpreta os diversos aspectos radiográficos das lesões de cárie e analisa as características clínicas da cárie através da avaliação de dentes extraídos. Observa-se que essa prática pedagógica tem garantido a construção do conhecimento junto ao corpo discente de forma articulada, inter e transdisciplinarmente, de acordo com as diretrizes curriculares propostas pelo MEC. 3. Extensão: promovendo a interdisciplinaridade na Universidade de Santa Cruz do Sul-RS Marques, B. B.*, Moraes, R. B., Reis, M. S., Raupp, S. M. M. A tualmente há uma busca constante para resgatar a atenção ao paciente de forma integral. É fundamental a atuação em períodos distintos, como na gestação, primeiros meses e anos de vida e na adolescência, para estimular a inclusão de bons hábitos alimentares e de higiene. Assim, o projeto Atenção à Saúde da Criança e do Adolescente da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) propõe dar atenção desde a gestação até a adolescência, valorizando o ciclo da vida e objetivando a promoção de qualidade de vida desde o nascimento. Participam das atividades de promoção de saúde professores e alunos bolsistas dos cursos de Biologia, Educação Física, Enfermagem, Fisioterapia, Nutrição e Odontologia. A cada ano que se inicia são realizados encontros interdisciplinares semanais para capacitação da equipe. Além de promover a integração de todos os participantes, são abordados os temas e as ações desenvolvidas no projeto, para que qualquer bolsista tenha condições de fazer os devidos encaminhamentos das situações encontradas mesmo que não sejam do seu curso de origem, pois têm condições de reconhecer o problema. Os bolsistas desenvolvem atividades comuns a todos, como revisão bibliográfica, planejamento das atividades em equipe, elaboração de material didático-educativo e entrevistas com os beneficiados através de um 156 instrumento de pesquisa comum a todas as áreas. As ações compreendem educação para a saúde, para os beneficiados e seus familiares, sobre hábitos alimentares e de higiene; parasitoses; prevenção dos principais agravos em saúde bucal (traumatismo dentário, cárie, doença periodontal, maloclusão e lesão de boca); cuidados com a saúde integral; atenção à saúde das crianças acometidas por agravos externos e recreação de crianças internadas no Hospital Santa Cruz (Santa Cruz do Sul, RS) e no Hospital São Sebastião Mártir (Venâncio Aires, RS). Nas atividades específicas de cada área são realizadas atividades de domínio da equipe de atuação, porém sempre priorizando a interdisciplinaridade. Geralmente há uma fragmentação de disciplinas dentro dos cursos de graduação, que é proveniente da estruturação curricular, tornando difícil a integralidade. Isso é semelhante quando se trabalha em equipes multiprofissionais. A experiência desse projeto mostra uma possibilidade de interdisciplinaridade e que, com o empenho e esforço de todos os integrantes da equipe de trabalho das diferentes áreas de conhecimento, o objetivo de promover qualidade de vida desde o nascimento pode ser alcançado. 4. Contruir conhecimento, integrar vidas Noro, L. R. A. D urante seis anos o curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza discutiu, através das Oficinas do Projeto Pedagógico, uma nova concepção de currículo que permitisse a integração dos conhecimentos e a utilização de metodologia ativa de aprendizagem, que considerasse o Sistema Único de Saúde enquanto eixo estruturante das atividades desenvolvidas na formação odontológica e que entendesse a relação entre ensino, trabalho e comunidade, permitindo ao aluno entendimento do contexto imposto pelo mercado de trabalho e da realidade social a ser futuramente vivenciada. A implantação de tal proposta foi realizada a partir das três áreas de conhecimento definidas nas Diretrizes Curriculares Nacionais. Na área das Ciências Biológicas, o 1º semestre tem disciplinas com conteúdos de bases moleculares e celulares dos processos normais e alterados; o 2º semestre é composto por disciplinas relacionadas à estrutura e função dos tecidos, órgãos, sistemas e aparelhos; e o 3ª semestre é constituído por disciplinas aplicadas às situações decorrentes do processo saúde-doença no desenvolvimento da prática assistencial. Com relação à área das ciências sociais, foram incluídos conteúdos referentes às diversas dimensões da relação indivíduo- Revista da ABENO • 5(2):155-207 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 sociedade, contribuindo para a compreensão dos determinantes sociais, culturais, comportamentais, psicológicos e éticos, nos níveis individual e coletivo, do processo saúde-doença, presentes em todos os semestres do curso. Já a área de Ciências Odontológicas foi a que sofreu maior alteração, uma vez que as disciplinas tradicionais foram substituídas por áreas de conhecimento compreendidas pela Propedêutica Clínica (Patologia bucal e Radiologia), Pré-clínica e Clínica Odontológica (todas as disciplinas profissionalizantes, com aplicação no laboratório e na clínica), Prótese Dentária e Clínica Infantil. A presente proposta, implantada no primeiro semestre de 2005, configura-se como um enorme desafio, pois a formação do professor ainda tem como referencial a pós-graduação baseada em áreas específicas. No momento em que o professor é convidado a desempenhar um papel de orientador de um clínico geral, há necessidade de uma flexibilidade que permita não simplesmente a orientação de uma área específica, mas a integração de conteúdos. Além disso, o aluno está pouco acostumado a aprender através de metodologias problematizadoras, o que dificulta em alguns momentos o entendimento da proposta. Há necessidade de capacitação constante do corpo docente visando a plena utilização de metodologia pedagógica com base na construção do conhecimento para se obter todos os benefícios de um currículo integrado, assim como sua capacitação técnica para adquirir uma postura interdisciplinar. É necessária, também, uma maior conscientização do aluno, permitindo que ele possa efetivamente alcançar todos os benefícios da presente proposta. 5. O Ensino de graduação e o Programa de Saúde da Família (PSF) Santos, J. G.*, Barbosa, M. B. C. B., Alves, T. D. B., Saliba, N. A. D iante da precária condição de saúde bucal da população brasileira e reconhecendo a necessidade de proporcionar um melhor acesso às ações de promoção, proteção e recuperação da saúde bucal, o Ministério da Saúde, através da Portaria Nº 1.444, de 28/12/2000, criou o incentivo destinado ao financiamento de ações possibilitando a inserção do cirurgiãodentista no PSF, dando início a uma nova estratégia de assistência odontológica acessível a uma demanda até então reprimida. A recente introdução do cirurgião-dentista no PSF é um processo em construção. Essa estratégia, que visa permitir uma melhor acessibilidade da população aos serviços odontológicos, e conseqüentemente a melhoria da sua condição de saúde bucal, começa a ser estruturada em muitos municípios brasileiros que se deparam hoje com o grande desafio de modificar a assistência odontológica. Com o mesmo desafio se depara o ensino de graduação em odontologia, cuja responsabilidade é a de formar o profissional cirurgião-dentista conhecedor das técnicas inerentes à profissão, mas também o profissional de saúde apto a desenvolver suas atividades em comunidade. Assim, este trabalho tem como objetivo descrever a prática da Universidade Estadual de Feira de Santana no ensino de graduação em odontologia, visando formar esse profissional que começa a atuar em comunidade junto à estratégia do PSF. O curso oferece aos alunos de odontologia, na área de Odontologia Social, conteúdos enfatizando o papel que desempenha o profissional de saúde que atua em comunidade. Os estágios curriculares dessa macrodisciplina permitem aos alunos a partir do 4º semestre desenvolver ações educativas e preventivas nos diversos espaços sociais (escolares, gestantes, idosos), realizando levantamentos epidemiológicos para reconhecer a prevalência de cárie, doença periodontal, câncer bucal e outras, das comunidades trabalhadas, para priorização de atendimento de acordo com a necessidade local. Nesse contexto é que o papel dos cursos de odontologia se torna indispensável, cuja missão é o de formar um profissional de saúde que, além de possuir uma técnica apurada no desenvolvimento de suas ações ambulatoriais, seja capaz de, trabalhando em equipe, entender as necessidades e anseios de uma população buscando atuar cada vez mais próximo dessa realidade. 6. Instrumento de Verificação das Condições de Ensino dos Cursos de PG Lato Sensu em Odontologia Rode, S. M.*, Percinoto, C., Pinheiro, J. T. E ste trabalho apresenta a “proposta para o instrumento de verificação das condições de ensino dos cursos de pós-graduação (lato sensu) em Odontologia” elaborada pela Comissão de Especialização da ABENO, e debatida em reuniões da comissão e em eventos nacionais da ABENO, sendo adequada pela referida Comissão e pela Diretoria, e protocolada no MEC. Esta Proposta poderá ser empregada em avaliações para fins de credenciamento de Instituições não universitárias (Legislação Específica: Resolução nº 1 do CNE/MEC de 03/04/2001; Portarias MEC 1.180 de 06/05/2004 e 328 de 01/02/2005), dos novos proje- Revista da ABENO • 5(2):155-207 157 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 tos e dos Cursos de PG Lato Sensu de Odontologia já existentes. A sistemática proposta busca avaliar a qualidade da formação proveniente dos cursos de especialização em Odontologia, considerando-se as especificidades de cada área. Deverão ser avaliados as características de organização administrativa, contexto social, entre outros, seguindo as orientações do próprio MEC. Como eixo de avaliação, foram propostos os seguintes enfoques principais: em que medida o ensino de especialidades Odontológicas vem possibilitando o acesso ao mercado de trabalho e a promoção de saúde; quais as condições de oferta, instalações e competência pedagógica do corpo docente; quais as características da proposta pedagógica adotada e da estrutura curricular e como estas vêm atendendo às especificidades da realidade socioeconômico-cultural da região onde o curso está inserido. Neste sentido, cada indicador de qualidade compreende 3 partes: análise das informações fornecidas pela Instituição de Ensino, avaliação in loco pela comissão avaliadora, determinação dos níveis de padrão de qualidade. Está dividido nas dimensões: 1- Contexto Institucional, 2Organização Didático-Pedagógica, 3- Corpo Docente e 4- Instalações, nos seus aspectos essenciais e comple- mentares. A avaliação de alguns aspectos poderá sofrer alteração de acordo com a avalição dos alunos. Para que um curso seja recomendado, é necessário que todos os Aspectos Essenciais (Dimensões 1, 2, 3 e 4) sejam atendidos em no mínimo 90% (conceito A) ou no mínimo 80% (conceito B) e os Aspectos Complementares em, no mínimo, 70%. Quando atender no mínimo 70% nos Aspectos Essenciais e, no mínimo 60% dos Aspectos Complementares terão conceito C. Caso os índices não sejam atingidos, dependendo do resultado da avaliação a Comissão de Verificação poderá optar por colocá-lo em diligência ou por não recomendá-lo. Cada Comissão será composta por 2 membros externos à instituição, com o título mínimo de mestre, de curso reconhecido pela CAPES/MEC, e as despesas da Comissão, com o processo de avaliação, correrão por conta da Instituição responsável pelo programa, conforme tabela do MEC. A ABENO recomenda que as avaliações sejam feitas por verificação in loco e por comissão de docentes de Odontologia, devidamente treinados e/ou orientados, evitando-se parecer à distância, inclusive para se evitar a probabilidade de “conflito de interesses”. PÔSTERES 1. A integralidade das ações de saúde, com ênfase nas medidas educativas preventivas, sem descuidar das necessidades curativas Figueiredo, M. C.*, Cruz, I. C., Barreto, V. C., Rosa, A. C. O Programa Saúde da Família é uma estratégia adequada, por propiciar uma melhor contextualização do profissional a partir do maior contato com a comunidade, e um projeto transformador, onde além de atividades clínicas, os profissionais devem ousar desempenhar novos papéis junto à sociedade, entendendo a necessidade de novas práticas e conhecimentos, notadamente os relativos às ciências sociais. Deste modo, o presente trabalho tem como objetivo avaliar a instituição de Equipes de Saúde Bucal na Estratégia Saúde da Família-PSF que caracterizou-se: por utilizar o Tratamento Restaurador AtraumáticoART preconizado pela Organização Mundial de Saúde para países como o Brasil, pela sua eficácia e resolutividade no controle e tratamento das doenças 158 bucais; por distribuir e incentivar na preparação de um fio dental alternativo feito de ráfia desfiada e esterilizada, recipientes para conservação das pastas de dente e escovas dentárias e por priorizar o atendimento de grupos populacionais de extrema carência, respeitando sempre o protocolo de atenção da coordenadoria da saúde bucal preestabelecidos pelos gestores municipais. Exemplificar com um programa que após dois anos de implementação demonstrou resultados claros da integração de toda a equipe do PSF, uma vez que todos estavam voltados para um fim comum, refortalecendo a inclusão social. Os índices das doenças bucais foram sensivelmente melhorados, obteve-se 86,9% e 98,0% de retenção de 969 restaurações avaliadas em dentes decíduos e permanentes respectivamente resultados estes estatisticamente significantes (teste Qui-quadrado, p < 0,0001). Concluiu-se que foi certeiro e muito importante ter optado por utilizar o Tratamento Restaurador Atraumático - ART, reafirmando a capacidade de execução destes profissionais envolvidos após terem sido capacitados para tal, e também, Revista da ABENO • 5(2):155-207 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 a utilização de material/instrumentos que motivaram a população na educação para sua saúde. Mudanças de paradigma sobre o sistema de saúde, acesso da população aos serviços de saúde e redução dos índices de doenças foram fatos. Um conjunto de unidades, de serviços e ações que interagiram para um fim comum. Esses elementos integrantes do sistema referem-se, ao mesmo tempo, às atividades de promoção, proteção e recuperação da saúde. Foi uma nova formulação política e organizacional para o reordenamento dos serviços e ações de saúde associado ao papel inalienável dos educadores: preparar convenientemente os diversos solos, para que as sementes possam se desenvolver, abastecendo e saciando plenamente as necessidades da sociedade. Isto reforça uma necessidade de maior integração e sinergia entre Serviços Públicos e a Academia, para que seja alcançado o objetivo maior das referidas instituições: servir a comunidade em função da qual suas existências são plenamente justificadas. 2. Vivência comunitária como instrumento de conhecimento e aproximação do profissional com o paciente no âmbito do SUS Fernandes, L. S., Biazevic, M. G. H. A população. Em seguida, procede-se ao levantamento das condições bucais (cárie, necessidade de tratamento, sangramento gengival, fluorose dentária e má-oclusão) e da autopercepção de saúde bucal (instrumento Impactos Odontológicos no Desempenho Diário IODD). Além destes instrumentos, que fornecem mensurações objetivas, existe rico contato do aluno do curso tanto com o ACS quanto com a comunidade, em seu próprio ambiente. Este contato próximo leva à observação de que a percepção de saúde e de necessidade de tratamento são diferentes quando analisados sob a ótica da população (necessidade percebida) e do dentista (necessidade objetiva); essas diferentes percepções mostram prioridades diferentes em termos de busca e utilização dos serviços de saúde bucal. 3. Atenção Materno-Infantil na cidade de São Luiz do Paraitinga: Parceria Prefeitura Municipal e Uniararas Antunes, M. I.*, Imparato, J. C. P., Marques, B. A., Souza, P. C. B. O realidade social do aluno que ingressa em Curso de Odontologia costuma ser diferente da realidade do usuário dos serviços públicos de saúde. Considerando a necessidade futura de inserção deste profissional na política de saúde brasileira, se faz premente a integração deste aluno à comunidade a ser assistida. Para viabilizar esta aproximação, a cada semestre, a Disciplina de Odontologia em Saúde Coletiva VIII do Curso de Odontologia da Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC) realiza trabalho de campo com o objetivo de levantar as condições gerais de vida e de saúde bucal em uma comunidade predefinida. O primeiro passo para a execução desta aproximação se dá através do reconhecimento do ambiente físico da comunidade, em termos de saneamento básico, áreas de lazer, presença de iluminação pública, coleta de lixo, e acesso a serviços de saúde e de educação com a divisão dos grupos de trabalho (aluno de odontologia e agente comunitário de saúde - ACS) e a delimitação da área de atuação. Feito esse reconhecimento inicial, passa-se às visitas domiciliares, devidamente acompanhadas pelos ACS. Nesta fase do levantamento, são observadas condições específicas de cada moradia, de trabalho, e diversas informações sociodemográficas. Essa atividade inicia a criação de vínculo entre profissional (aluno de Odontologia) e Centro Universitário Hermínio Ometto - UNIARARAS propôs um Projeto, intitulado “Atenção Materno-infantil à cidade de São Luiz do Paraitinga: parceria Prefeitura Municipal e UNIARARAS”, o qual está inserido no Programa de Mestrado em Odontopediatria do Centro Universitário Hermínio Ometto - UNIARARAS. Nesse Projeto, cinco alunas receberam bolsa integral da universidade, realizando as atividades teóricas (área de concentração e domínio conexo) e cumprindo dois dias mensais realizando trabalho de campo na cidade de São Luiz do Paraitinga. O intuito principal deste Projeto de pesquisa é apresentar uma proposta de atenção odontológica preventiva e educativa às crianças de 0 a 3 anos e gestantes da cidade de São Luiz do Paraitinga. Os pacientes serão previamente selecionados por meio de uma triagem e separados por necessidade de tratamento e áreas em que residem. Os pais e/ou responsáveis serão incluídos em ciclo de palestras educativas que apresentarão temas pertinentes e esclarecedores dentro da Odontologia. Além da participação das alunas de mestrado estão incluídos neste projeto os cirurgiões-dentistas contratados pela Prefeitura Municipal e que encontram-se incluídos no Programa de Saúde da Família (PSF). Para que o paciente seja visto integralmente, além das palestras educativas, quando houver necessidade o tratamento curativo de escolha será o Tratamento Restaurador Atraumático (ART), que foi preconiza- Revista da ABENO • 5(2):155-207 159 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 do pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para ser utilizado em países em desenvolvimento, uma vez que possibilita um tratamento de baixo custo, relativamente indolor, o qual baseia-se na remoção da dentina infectada das cavidades mantendo-se a dentina afetada, usando instrumentos manuais e restaurando-as com Cimento de Ionômero de Vidro. Inicialmente será realizada a avaliação da incidência de cárie pelo índice ceo-s, incluindo lesões incipientes ativas. O programa será avaliado através de levantamentos periódicos semestrais do incremento do índice ceo-s e porcentagem de retenção das restaurações realizadas. As comparações serão feitas tanto de forma longitudinal (acompanhamento das crianças que começaram no programa) como de forma transversal, através da comparação por faixas etárias das crianças que entraram no programa após seu início. 4. Perfil do acadêmico de Odontologia da Universidade do Planalto Catarinense – Lages – SC, Brasil, 2004 Toassi, R. F. C.*, Kuhnen, M., Brustolin, J.(H1), Brustolin, J.(H2) E sta pesquisa objetivou traçar o perfil do graduando da Faculdade de Odontologia da Universidade do Planalto Catarinense/UNIPLAC, principalmente quanto às suas razões para escolha do curso e suas expectativas em relação à futura profissão. Todos os acadêmicos do primeiro ao décimo período do curso responderam a um questionário estruturado elaborado a partir dos objetivos do estudo (n = 214). A coleta de dados aconteceu no primeiro semestre de 2004. Dentre os principais resultados, pôde ser observado que 53,3% dos estudantes é do sexo feminino, a maioria é do estado de Santa Catarina, solteiros, sem filhos, com faixa etária baixa, alto nível socioeconômico e de escolaridade dos pais, forte tendência à especialização, opção direcionada para o serviço público e privado, com boa expectativa de rendimentos. A escolha pelo curso foi motivada principalmente por realização pessoal e profissional. Consideram como principal finalidade da Odontologia a prevenção e a manutenção da saúde bucal. Os resultados deste estudo permitem identificar mudanças e tendências que estão ocorrendo nas relações entre o exercício profissional e o ensino da Odontologia e contribuem para subsidiar a caracterização das qualificações do profissional a ser formado pela UNIPLAC. 160 5. Sorriso e Saúde no Lar da Abigail Peres, D. H. D. F.*, Franco, S. C., Pastina, J. C., Suchard, R. O acompanhamento rotineiro da saúde das crianças, através da Puericultura, compreendendo a atenção pediátrica e odontológica, pode fornecer elementos primordiais para se obter um diagnóstico da situação de saúde das crianças e propor intervenções buscando prevenir e identificar os diversos agravos à saúde a que estão sujeitas, principalmente no caso de crianças que vivem em ambientes coletivos, onde sabidamente os riscos são maiores. O presente projeto bidisciplinar visou realizar um diagnóstico de saúde na sua integralidade entre as crianças do Lar da Mãe Abigail, propor ações de prevenção e recuperação, implementá-las e avaliá-las para verificar sua efetividade. Foram realizadas visitas semanais ao Lar entre março e dezembro de 2004 que permitiram realizar um diagnóstico em todas as crianças, orientando as intervenções curativas e preventivas e servindo de base para a formulação de propostas de educação em saúde (bucal e geral), com o intuito de promoção da saúde integral. Os indicadores para avaliar a saúde foram: diagnóstico clínico, estado nutricional, desenvolvimento neuropsicomotor, situação vacinal, acuidade visual, índice CPO-D e identificação de enfermidades orais tais como periodontite, gengivite e outras. Todas as crianças avaliadas tiveram seus dados registrados em fichas clínicas e, no caso da boca, também por fotografias. Foram realizadas ações de educação em saúde, tais como orientação de medidas preventivas com motivação contínua, escovações, além de palestras sobre temas de saúde. A avaliação individual das 40 crianças, 21 do sexo feminino, com idade entre 18 meses e 26 meses mostrou que a prevalência de desnutrição foi de 46% (padrão NCHS), 21 (52,5%) não possuíam carteira de vacinas e 8 (20%) estavam com atraso vacinal. Foram realizados testes de acuidade visual em 30 (75%) crianças, sendo suspeitado de vício de refração em 20 delas, as quais foram encaminhadas para oftalmologista. Quanto à saúde bucal pode-se observar uma grande variação nos índices CPOD não só em função das diferenças de idade mas também em função das diferenças genéticas (presença de apinhamentos, esmalte mal formado, arcadas dentárias com mais espaços, etc.). A motivação e a melhora na qualidade da higienização foi clinicamente percebida pela diminuição da quantidade de placa visível e do índice de sangramento gengival. As crian- Revista da ABENO • 5(2):155-207 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 ças que necessitavam de tratamento curativo foram encaminhadas para a Clínica Odontológica da Univille. As ações de promoção à saúde trouxeram benefícios para todos os envolvidos, conscientizando-os sobre os fatores de risco e as respectivas ações de prevenção. Para os acadêmicos envolvidos no projeto propiciou uma visão realista do impacto causado pelas informações dadas aos pais e aos pacientes e o quanto é importante levar em consideração as individualidades das crianças, das crianças especiais e adolescentes para se conseguir um resultado a longo prazo. 6. Tratamento Restaurador Atraumático (ART) em Bebês em uma Unidade Básica de Saúde do SUS, em Joinville: Adequação, Condicionamento e Promoção de Saúde Peres, D. H. D. F.*, Venturelli, A. P., Ganzler, G.C. A doença cárie em crianças de tenra idade se manifesta e desenvolve de maneira aguda e, em função de suas características, foi denominada de “Cárie Precoce da Infância” (ECC – Early Childhood Caries). Apesar de todo avanço na Odontologia, a ECC ainda apresenta prevalência assustadora em populações carentes. O Tratamento Restaurador Atraumático (ART) preconizado pela Organização Mundial da Saúde consiste na realização de uma técnica de mínima intervenção, através da remoção da dentina infectada das cavidades cariosas, usando-se apenas instrumentos manuais sob isolamento relativo e restaurando-as com um material adesivo, biocompatível: Cimento de Ionômero de Vidro (CIV). Neste trabalho a técnica detalhada será ilustrada com dois casos clínicos de um Posto de Saúde de Joinville: A- criança de 24 meses, dente 51 e o aspecto da ART um mês após sua realização; B- criança de 36 meses, ART nos molares inferiores e aspecto após 8 meses. Sendo o ART um tratamento acessível a bebês por ser uma técnica de rápida execução e fácil aceitação, sua realização na primeira consulta foi importante para a adequação do meio bucal, condicionamento psicológico das crianças e Promoção de Saúde daqueles núcleos familiares. 7. Desenvolvendo habilidades em Dentística Restauradora Miguel, L. C. M.*, Schein, M. T., Scubert, E. W., Locks, A. O s preparos realizados para soluções restauradoras em Dentística são treinados e capacitados em laboratório específico. O desenvolvimento das habilidades manuais destes alunos normalmente são realizadas em dentes de plástico ou dentes naturais provenientes de banco de dentes regularmente cadastrados. A técnica usual é ministrar as aulas teóricas de preparo de cavidades e depois iniciar os preparos dos dentes no laboratório. Existe uma resistência ao início dessas atividades, por receio e temor, por parte dos alunos com a utilização de um instrumento que possui grande poder de corte e, se não for bem manuseado, poder de destruição. Objetivou-se introduzir o aluno em um novo método de desenvolver habilidades manuais para o controle de corte com aparelhos de alta e baixa rotação em Dentística clínica. Serão utilizados ossos de costela bovinos preparados com formol e verniz, esterilizados, como base de preparo para os alunos iniciarem a utilização da alta e baixa rotação. Serão feitos desenhos, com lápis à prova de água, de figuras que estimulem o controle manual das peças de mão (ex. estrelas, círculos, escadas, triângulos, etc.) nos ossos de costela bovina. Com brocas específicas para preparo serão desenvolvidas aulas que visem aos alunos dominarem os desenhos feitos, procurando executá-los o mais perfeito possível. Foi realizado no ano de 2004 experiência piloto com o grupo de alunos do 2º Ano do curso de Odontologia da UNIVILLE, coordenado pelos professores da disciplina, onde ficou demonstrado que a idéia, além de pioneira, traz mais segurança ao manuseio das peças de mão por parte dos alunos bem como preparos mais delineados. Os alunos se sentiram mais seguros no manuseio da alta e baixa rotação, quando passaram a tratar os dentes obtiveram preparos mais delineados, os micromovimentos foram aperfeiçoados de uma maneira pedagógica e satisfatória. A experiência possibilitou um primeiro contato com os aparelhos de alta e baixa rotação que fugiu da maneira tradicional. Os alunos se sentiram mais seguros para iniciar os preparos de cavidades em dentes artificiais e naturais. Esses preparos ficaram mais delineados, demonstrando claramente um maior controle dos instrumentos após a experiência. 8. Banco de Dentes como instrumento de ensino e pesquisa no Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí (SC) Diegoli, N. M. U m Banco de Dentes (BD) é um setor componente de uma instituição sem fins lucrativos. A criação de um banco de dentes na Univali visou habilitar Revista da ABENO • 5(2):155-207 161 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 a recepção de elementos dentais extraídos nas clínicas do próprio curso ou por particulares para atender a demanda das disciplinas que montam manequins para o treinamento de alunos e para as pesquisas dos trabalhos de conclusão de curso de graduação e de titulação dos professores. O banco funciona anexo ao curso de graduação, em três salas, no total de trinta metros quadrados, sendo uma sala de recepção e arquivos, uma sala de preparação dos dentes (limpeza, desinfecção, preparo para esterilização, acondicionamento em recipientes próprios e individuais) e uma sala de armazenamento em geladeira e distribuição. Estas salas têm iluminação adequada, ventilação com circulação e renovação de ar condicionado, revestimentos de pisos e paredes com material lavável e impermeável, de cor clara, instalações elétricas e sanitárias embutidas, lavatórios para mãos com dispositivo que dispensa o contato das mãos com a torneira, toalha de papel descartável e sabonete líquido. O funcionário responsável pelo BD trabalha com os equipamentos de proteção individual (EPIs) como luva descartável, avental, máscara, óculos e gorro, bem como, todo o instrumental necessário para a limpeza dos dentes. Os dejetos provenientes da limpeza são canalizados para uma caixa de coleta própria, com 5.000 litros de capacidade, a qual é esgotada por veículo apropriado. Os dentes após desinfecção e/ou esterilização em autoclave são armazenados em refrigerador em recipientes próprios individuais de plástico com solução de timol a 0,1% em álcool de cereais. O BD é administrado por um coordenador-geral, e dois coordenadores-técnicos, todos cirurgiões-dentistas, professores do curso e por um coordenador-acadêmico, estudante do curso. A administração é responsável pela divulgação dos objetivos, através da imprensa e palestras, entre os profissionais da região e da comunidade, visando as doações. O BD funciona da seguinte maneira: os dentes doados são recebidos na sala de recepção juntamente com o termo de doação do paciente ou do próprio dentista. A seguir, é preparado (limpo, desinfectado ou esterilizado) e estocado em refrigerador. A sua liberação para uso é feita mediante solicitação do professor ou aluno interessado, em formulário próprio e assinado. Após o uso o dente é devolvido ao banco íntegro ou no estado em que a pesquisa ou o tratamento o deixar. A devolução é a condição para que o professor ou aluno faça futuras retiradas. O dente só é liberado, no caso de pesquisa, após a aprovação do projeto pelo comitê de ética. Outras normas que se fazem necessárias estão explicitadas no regulamento de funcionamento. 162 A criação e funcionamento de um banco de dentes é viável, auxilia no combate ao comércio ilegal de órgãos e na eliminação da infecção cruzada quando dentes extraídos são manuseados sem os devidos cuidados de biossegurança. 9. Estratégia da pesquisa como princípio educativo e o processo de integração curricular e de ações de extensão Diegoli, N. M.*, Bottan, E. R., Stuker, H., Imianowski, S. A experiência do curso de Odontologia, em quinze anos, tem evidenciado que pesquisar, e simultaneamente ensinar a pesquisar, melhora a qualidade de um programa educacional. Mediante sistemáticas observações, identificam-se alguns indicadores positivos do processo de implantação da pesquisa na graduação. Analisando-se o objeto de investigação da produção dos acadêmicos, identifica-se que o marco conceitual Biologismo foi o predominante, com 65%. A Conotação Social foi detectada em 35% dos trabalhos. Comparando-se estes valores com os referentes ao período 1994-2002, observa-se que, embora o Biologismo ainda seja predominante, houve um crescimento da Conotação Social, de 24% para 35%. A tradição essencialmente biológica imperante, por muitos anos, na Odontologia, fez com que predominasse o isolamento laboratorial, supostamente neutro e descompromissado com a saúde da população. Assim, a identificação de que o Biologismo ainda seja o mais enfocado nas pesquisas desenvolvidas no curso de Odontologia da UNIVALI é um reflexo da realidade desta área do conhecimento. No entanto, a evolução da Conotação Social é um indicador do processo de mudanças, que vem ocorrendo em todo o território nacional. Acredita-se, também, que o crescimento destas pesquisas, no curso de Odontologia, cujos objetos estão relacionados à Saúde Coletiva, esteja vinculado às freqüentes discussões, pela comunidade acadêmica, sobre a proposta do projeto pedagógico do curso. Estes encontros têm permitido uma releitura, por parte dos docentes, quanto à filosofia norteadora do curso e a compreensão da dimensão do enfoque de promoção de saúde. Outra característica da produção de 2004, que merece destaque, é o aumento do número de pesquisas que integram duas ou mais áreas do conhecimento. No período de 1994-2002, o percentual de trabalhos com integração de conteúdos foi de 49%, em 2004, alcançou 67,5%. A área de conhecimento que mais se destacou neste processo de integração foi a Saúde Coletiva (25%). Estes dados Revista da ABENO • 5(2):155-207 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 reforçam a idéia de que a estratégia da pesquisa na graduação é um fator propulsor da integração de conteúdos/disciplinas, fazendo com que a prática da pesquisa se volte para a sua aplicabilidade, para a sua inserção na realidade social. No conjunto das quarenta monografias, verificou-se, também, uma outra situação de integração de domínios cognitivos, qual seja, a emersão de objetos de pesquisa a partir da leitura de dados de ações procedentes de diferentes campos de extensão em que o curso atua. Foram produzidos nove trabalhos, que representam 22%, tendo por base a atividade da extensão. Portanto, a pesquisa no curso de Odontologia da UNIVALI tem contribuído de forma significativa para a formação do perfil profissional mais crítico e atuante em diferentes áreas. E, nesta ótica, este relatório, além de cumprir uma exigência própria da atividade de planejamento institucional, representa uma possibilidade de reflexão sobre o significado da pesquisa no curso de Odontologia. 10. Metodologia para o desenvolvimento da percepção visual e habilidade manual dos acadêmicos de odontologia da UNIVALI Camargo, D. A. A.*, Kosmann, C. A pesar das mudanças ocorridas na Odontologia nos últimos anos, conseqüência do avanço técnico e científico, a maioria dos procedimentos odontológicos ainda exige dos profissionais grande habilidade manual. A partir da constatação da crescente dificuldade por parte dos acadêmicos para realizar tarefas manuais, possivelmente devido ao aumento da informatização e dos diferentes níveis de amadurecimento da capacidade visiomotora entre os estudantes, desenvolveu-se uma metodologia de ensino composta de uma série de exercícios. O objetivo destes exercícios foi enfatizar a ação conjunta e integrada das partes do corpo responsáveis pelos movimentos de precisão e a visão, aprimorando assim o desenvolvimento da percepção visual relacionada ao tamanho, forma, posição dentária e apurar o controle motor fino dos acadêmicos. Os exercícios propostos, sempre tendo como matriz o elemento dental e suas estruturas, foram: técnica do desenho pontilhado; reprodução escalonada mantendo a forma original; preenchimento das estruturas dentais, empregando diferentes traçados; cópia e transferência do desenho e colagem com papel colorido para diferenciar as estruturas; jogo das diferenças; e descascar laranjas para treinamento de empunhadura. A partir da aplicação da metodologia acima descrita, por um período de dois semestres, foi possível observar o cumprimento das tarefas propostas pela disciplina de modo mais descontraído, com desenvolvimento gradativo e consistente das habilidades manuais. Também foi observado uma menor discrepância entre as notas nas avaliações, devido ao nivelamento prévio alcançado com os exercícios propostos. Após a análise dos relatos dos alunos e resultados obtidos nas avaliações, foi possível concluir que a metodologia proposta melhora o processo ensino-aprendizagem, minimizando o impacto da exigência de habilidades manuais necessárias ao exercício da odontologia. 11. Modelo de avaliação para procedimentos clínicos em Odontologia Camargo, D. A. A.*, Kosmann, C. A dificuldade inerente à avaliação dos procedimentos clínicos realizados nos cursos de Odontologia é objeto de questionamentos por parte dos acadêmicos, assim como motivo de preocupação para os professores. O presente trabalho tem como foco principal a apresentação de uma metodologia de avaliação que visa minimizar esta dificuldade, trazendo a objetividade que esta tarefa exige e a compreensão dos quesitos a serem alcançados. Deste modo, torna-a mais eficiente e deixa de ser objeto de conflito entre quem executa e quem avalia. Levando em consideração que todo procedimento a ser avaliado deve receber um conceito, que depende diretamente do grau de dificuldade apresentado pelo caso em particular, como cooperação do paciente, complexidade do procedimento, entre outros, criou-se uma tabela que relaciona os conceitos (insatisfatório, regular, bom e muito bom) e grau de dificuldade (baixo, médio e alto), gerando um valor numérico exigido pelo sistema que vai de 2 a 10. Esta forma de avaliação também premia o esforço do aluno que executa um maior número de procedimentos e/ou com maior qualidade. O aluno que obtiver mais de três conceitos máximos ou executar 30% a mais dos procedimentos mínimos exigidos, recebe um adicional de 0,3 pontos na média, pra cada quesito. Esta metodologia tem sido empregada nas Disciplinas de Dentística da UNIVALI desde 1999, onde foi desenvolvida, sendo mais tarde empregada na disciplina de Prótese total e Parcial removível da UNISUL, e atualmente nas Disciplinas de Cirurgia também desta instituição. A partir das experiências de aplicação do presente modelo, conclui-se que esta forma de avaliação tem-se mostrado ob- Revista da ABENO • 5(2):155-207 163 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 jetiva, consistente e tem minimizado as dúvidas com relação aos critérios adotados e a nota final do procedimento. Também foi observado ser possível a adequação desta tabela às várias áreas que necessitam avaliação imediata em clínica, cuja presença do paciente seja indispensável. Por fim, conclui-se que a existência de critérios predefinidos permite o nivelamento entre os diferentes professores que avaliam os procedimentos clínicos, comprovando a sua validade. 12. Aplicação da Análise Ergonômica do Trabalho como estratégia de ensino Kosmann, C. A o longo do ensino da disciplina de Ergonomia, constatou-se ser necessário ampliar o conhecimento para além dos conceitos teóricos ministrados em sala de aula visando proporcionar melhor entendimento dos diversos aspectos que envolvem o trabalho e familiarizar os estudantes com a profissão por eles escolhida. Com este objetivo, foi proposto o desenvolvimento de uma atividade curricular denominada Análise Ergonômica do Trabalho (AET), aplicada usualmente nas áreas de engenharia, para o estudo do trabalho de forma didática e em tempo real. Esta atividade foi desenvolvida nos consultórios particulares e unidades de saúde pública do estado de Santa Catarina, pelos estudantes de Odontologia da UNIVALI e UNISUL. Inicialmente, os alunos elaboraram questões relacionadas às características físicas, fisiológicas, psicológicas e sociais, com o objetivo de conhecer os trabalhadores. Também foram coletadas, através de recursos como anotações, fotografias, esboços de plantas baixas, informações sobre tipo de equipamentos, cores do ambiente, mobiliário, decoração, ruídos, iluminação e sobre aspectos relacionados à administração, organização e relacionamentos no trabalho. Como etapa final foi elaborada pelos alunos uma lista de recomendações para a melhoria do trabalho e entregue a cada profissional que colaborou com a pesquisa. Após a finalização das atividades houve uma discussão em sala de aula onde foram discutidos os tópicos mais relevantes. Com o objetivo de avaliar o porquê e quanto esta metodologia contribui para o aprendizado, os alunos responderam a um questionário. Dos 54 alunos participantes da amostra, analisando uma escala de 1, menor conceito, a 5, conceito máximo, 88,22% atribuíram conceitos 4 e 5 para a contribuição da atividade no aumento de seus conhecimentos de Ergonomia; 84% atribuíram conceitos 4 e 5 para a eficiência do trabalho em motivá-los 164 a aprender mais sobre as demais áreas da Odontologia. Com relação ao reforço de cada conteúdo ministrado pela disciplina, os alunos afirmaram que o maior aprendizado se deu em relação ao ambiente de trabalho (71,6%), seguido das posições de trabalho (57,1%) e dos equipamentos (33,9%). As áreas em que a estratégia menos contribui para o aprendizado e, portanto, necessitam de outras técnicas de abordagem foram marketing (5,7%), relacionamento pessoal (8,1%) e doenças ocupacionais (9,7%). A partir da aplicação e avaliação da AET, concluiu-se que esta forma de ensino e pesquisa mostrou ser eficaz para a sedimentação dos conteúdos ministrados em sala da aula, assim como para o maior conhecimento do trabalho odontológico. Também, que através desta metodologia é possível conhecer os aspectos que necessitam de abordagens distintas de ensino ou reforço do conteúdo. Por fim, que os alunos julgam importante a utilização de formas de ensino e pesquisa onde não somente o professor repasse o conhecimento, mas onde o próprio estudante extraia informações e construa conceitos e opiniões. 13. Atividades interdisciplinares em saúde a pessoas com necessidades especiais em Montes Claros Abreu, M. H. N. G.*, Palma, A. B. O., Rossi-Barbosa, L. A., Costa, S. M. C onsiderando a necessidade de formação de recursos humanos capacitados a realizar atendimento a indivíduos portadores de necessidades especiais, a Universidade Estadual de Montes Claros UNIMONTES implementou atividades de ensino, pesquisa e extensão nesta área, desde agosto de 2001. O objetivo deste trabalho é descrever as atividades de ensino e extensão a esse público. As atividades de ensino, na Clínica Integrada IV, e extensão envolvem a realização de procedimentos individuais e coletivos, desenvolvidos de forma interdisciplinar a pessoas com necessidades especiais institucionalizadas em Montes Claros-MG. Assistência odontológica, fonoaudiológica e fisioterápica, voltadas para prevenção de doenças e promoção, recuperação e manutenção da saúde, são desenvolvidas por acadêmicos do 9º período do Curso de Odontologia e pelos profissionais dessas três áreas de conhecimento. Atualmente, participam do projeto as instituições APAE e Capelo Gaivota. São atendidos cerca de 30 pacientes por mês, de diferentes faixas etárias (4 a 35 anos) e portadores de diversos quadros (Síndrome de Down, Autismo, Paralisia Cerebral, De- Revista da ABENO • 5(2):155-207 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 ficiência Auditiva e Visual, Deficiência Mental, dentre outras). A metodologia pedagógica utilizada envolve: visita às instituições, permitindo ao discente conhecer o trabalho multidisciplinar de reabilitação e inclusão do portador de necessidades especiais; triagem dos pacientes; revisão dos prontuários de saúde arquivados na instituição; atendimento ambulatorial odontológico com participação de fonoaudiólogo e fisioterapeuta; atendimento ambulatorial individual fonoaudiológico e fisioterápico; ações educativas, preventivas e de promoção de saúde, envolvendo as diferentes áreas, direcionadas aos pacientes, pais ou responsáveis, cuidadores e outros profissionais da saúde, levando em consideração a demanda dos indivíduos envolvidos. Observa-se que as atividades realizadas contribuem para capacitação do futuro Cirurgião-Dentista no enfrentamento dos problemas bucais do paciente portador de necessidades especiais, assim como a compreensão das reações fisiopatológicas e emocionais presentes nesses pacientes. Espera-se ainda, que o discente modifique sua postura, muitas vezes estigmatizante, em relação a esse grupo. A melhor formação profissional possibilitará a modificação no quadro de pouca ou quase nenhuma assistência aos indivíduos portadores de necessidades especiais. 14. Atendimento hospitalar dos traumas dentoalveolares - Proposta de Criação de Disciplina Crivello-Junior, O.*, Lemos, J. B. D. A crescente incidência dos traumatismos dentoalveolares e a necessidade da ampliação da capacidade do Cirurgião-Dentista de interagir em diferentes cenários profissionais levou à proposta de criação desta disciplina, inicialmente optativa, no currículo de graduação da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. Para tanto, essa disciplina tem como objetivos: capacitar o diagnóstico dos traumas dentoalveolares, formação nas condutas terapêuticas relativas a estes traumas e compreender a rotina do Pronto-Socorro hospitalar. A proposta apresentada baseia-se em atividades teóricas e laboratoriais e fóruns de discussões clínicas, para a apresentação dinâmica e atual de seu conteúdo programático. A utilização de disciplinas optativas é um instrumento importante para complementar o currículo nas áreas de interesse conexo como é o atendimento de urgência dos traumas dentoalveolares. 15. Teste do Progresso: instrumento de avaliação no curso de Odontologia da FOUSP Crivello-Junior, O.*, Araújo, M. E., Maltagliati, L. A valiar o contínuo ganho cognoscitivo do aluno durante o curso desde o ciclo básico até as últimas clínicas é uma preocupação constante para os educadores das diferentes áreas médicas. Em Odontologia não pode ser diferente. Para isso iniciou-se em 2004, na FOUSP, uma avaliação longitudinal desenvolvida para o curso médico da Universidade de Maastricht: o Teste do Progresso. A partir de diferentes modelos análogos estudados, desenvolvemos um teste adaptado à nossa realidade. Desta forma, chegou-se ao modelo de 80 questões coerentes aos objetivos de formação na graduação, ou seja, de um profissional generalista e aplicou-se aos alunos do primeiro ano do curso odontológico. O teste será introduzido gradualmente de forma que no próximo ano participarão o primeiro e o segundo anos e assim sucessivamente até o último ano. A distribuição das questões respeita as cargas horárias das diferentes áreas do ciclo básico e clínico assim como as questões da área social. O teste não será utilizado para promoção de um ano letivo para outro e o resultado é divulgado exclusivamente para o aluno, que utiliza um código, de forma que somente ele pode se identificar no momento da divulgação dos resultados. É extremamente importante para uma escola de saúde avaliar, com este instrumento, o ganho e a retenção do conhecimento cognoscitivo do aluno de Odontologia ao longo do curso. 16. Alunos do Curso de Odontologia da UNISC conhecem a realidade de moradores de bairros de Santa Cruz do Sul - RS Marques, B. B.*, Freiberger, E., Bender, C. F. R., Gonçalves, E. M. G. A s Disciplinas de Saúde Coletiva em Odontologia do Curso de Odontologia da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) desenvolvem atividades que permitem interagir conhecimentos teórico-práticos com a realidade. Os conhecimentos teóricos envolvem desde a história da odontologia, educação para a saúde, passando pelos princípios do Sistema Único de Saúde e Programa de Saúde da Família (PSF), até chegar ao planejamento e administração dos serviços de saúde. Assim os acadêmicos são capa- Revista da ABENO • 5(2):155-207 165 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 citados para desenvolverem ações individuais e coletivas em saúde. Com este objetivo os alunos fazem visitas domiciliares nos bairros do Município de Santa Cruz do Sul – RS. No decorrer do ano de 2004 as visitas ocorreram no Bairro Beckenkamp constituído por 227 famílias divididas em duas microáreas, uma com 120 famílias e outra com 107 famílias. Duas Agentes Comunitárias de Saúde (ACS) atuam nesse território, as quais acompanharam os alunos nas visitas domiciliares. Além de conhecer as particularidades do bairro é realizada uma entrevista na família visitada para buscar informações sobre as características socioeconômicas e culturais; história médica; acesso a serviços odontológicos, autopercepção em saúde bucal; higiene bucal e dieta dos membros da família. Cada família recebe duas visitas sendo que na primeira a família é esclarecida do trabalho que se pretende realizar. Se a família aceita, inicia-se um contato valorizando o vínculo e a educação para a saúde. As famílias são convidadas a participarem de uma feira de saúde, no bairro, organizada pelos acadêmicos. Do total de famílias residentes no bairro, 86 foram visitadas (38%). A segunda visita tem a finalidade de rever a família e convidar os membros da mesma para uma consulta a ser realizada nas clínicas do Curso de Odontologia da UNISC, sem custo. É dada a opção de escolha de dia, geralmente duas datas distintas, e também de turno (manhã ou tarde). No dia da consulta há transporte gratuito para os beneficiados, com horários preestabelecidos. A partir dos resultados, em especial o baixo índice de comparecimento às consultas, observa-se que a busca por atendimento odontológico se dá quando a doença instalada passa a prejudicar a vida das pessoas. As condições socioeconômicas e cultural, onde existe a ineqüidade social, também influenciam na prioridade dos valores. 17. Avaliação dos serviços de atendimento odontológico prestados pelas clínicas do curso de Odontologia da UNIVALI: a visão dos pacientes Bottan, E. R.*, Sperb, R. A. L., Telles, P. S., Uriarte Neto, M. O curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), desde 1993, em decorrência de sua estrutura curricular oferece, gratuitamente, serviços odontológicos, de diferentes complexidades, para a população da área de abrangência da UNIVALI. O atendimento é realizado por acadêmicos sob a supervisão direta de professores cirurgiões-dentistas. 166 As atividades clínicas integram o processo de ensinoaprendizagem e têm por objetivo oportunizar ao aluno, em situação real de trabalho, a consolidação de conhecimentos teórico-práticos. Elas são, portanto, a espinha dorsal do processo de formação do aluno. Por outro lado, as atividades clínicas, ofertadas por cursos de graduação e de pós-graduação, constituem-se na única alternativa de acesso a serviços odontológicos para grande parcela da população. Através de um estudo exploratório, com abordagem descritiva, investigou-se a opinião de pacientes em atendimento nas clínicas odontológicas do curso de Odontologia da UNIVALI sobre a qualidade dos serviços prestados. Foi constituída uma amostra acidental, escolhida de forma aleatória, entre os pacientes agendados para tratamento nas clínicas, no período de setembro a novembro de 2004. Como critérios de inclusão foram definidos: ter realizado, pelo menos, três atendimentos; ter idade mínima de 18 anos; aceitar, por livre e espontânea vontade, participar da pesquisa. Foram entrevistados 51 pacientes, sendo que 41 (80,4%) eram do sexo feminino e 10 (19,6%) do sexo masculino, com idades que variaram de 20 a 73 anos, com uma maior concentração na faixa de 31 a 50 anos (50%). O maior número de mulheres do que homens deve-se ao fato de que a maioria dos pacientes destas clínicas são do sexo feminino. A definição do número de sujeitos foi embasada no critério de esgotamento da informação, isto é, quando as falas se tornaram repetitivas, suspendeu-se a coleta de dados. O instrumento para coleta de dados constou de uma entrevista semi-estruturada que enfocava aspectos estruturais, aspectos referentes aos professores e acadêmicos e satisfação do paciente em relação ao processo de atendimento. As entrevistas foram registradas e as falas agrupadas segundo as categorias de análise. Os pacientes enfocaram, prioritariamente, a qualidade dos tratamentos realizados (74,5%) e o bom relacionamento com os acadêmicos e professores (41%). No entanto, um percentual representativo (47%) apontou como principal queixa a demora para conseguir ser atendido, face ao grande número de pacientes em lista de espera. Tendo por base as análises dos depoimentos dos usuários das clínicas do curso de Odontologia da UNIVALI, afirmase que a grande maioria dos pacientes, de um modo geral, está satisfeita com o atendimento recebido. (Apoio: Programa de Iniciação Científica Art. 170/Governo do Estado de Santa Catarina/UNIVALI.) Revista da ABENO • 5(2):155-207 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 18. Concepção dos acadêmicos de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí sobre saúde bucal Bottan, E. R.*, Silveira Filho, L. A. C., Donida, R. R., Imianowski, S. O termo saúde vem sendo interpretado como uma dimensão essencial da qualidade de nossas vidas. Nesta perspectiva, a saúde passa a ser um estado que indivíduos e coletividade buscam alcançar, manter ou recuperar. Para o alcance da qualidade de vida, uma série de determinantes está envolvida: habitação e saneamento, adequado padrão de alimentação e de nutrição, ambiente físico limpo, apoio social, estilos de vida, oportunidades de educação, cuidados de saúde, etc. Consolidar e expandir este abrangente entendimento do conceito de saúde é, portanto, fundamental. Neste processo, evidencia-se a importante contribuição dos profissionais da saúde e dos formadores destes profissionais. O cirurgião-dentista, como um dos integrantes da equipe de saúde, deve estar preparado para atuar na promoção da saúde de seus pacientes e na população na qual está inserido. O objetivo desta pesquisa foi analisar as percepções dos acadêmicos do curso de odontologia da UNIVALI relacionadas à saúde bucal. Como instrumento de pesquisa foi solicitado aos acadêmicos do 1º ao 9º período que respondessem à pergunta: “Qual seu entendimento sobre saúde bucal?”. Foram selecionados aleatoriamente dez acadêmicos de cada período. Para análise, as respostas foram agrupadas em períodos iniciais (1º ao 3º), períodos intermediários (4º ao 6º) e períodos finais (7º ao 9º). A partir da leitura do material coletado, foram identificadas categorias de análise. Para cada categoria foi calculada a freqüência relativa. Posteriormente, estas categorias foram classificadas a partir dos conceitos de prevenção e promoção propostos por Buss (2003). Os resultados evidenciam que, nos períodos iniciais, os acadêmicos conceituaram saúde bucal evocando noções de promoção e de prevenção de forma equilibrada. Nos períodos intermediários existe uma prevalência (68%) da visão preventivista/tratamento da patologia e nos períodos finais a visão de promoção prevalece (77%). De modo geral, os acadêmicos do curso de odontologia da UNIVALI percebem saúde bucal destacando os pressupostos da abordagem de promoção (53%). Conclui-se que a filosofia norteadora do curso, que privilegia o desempenho profissional sob o paradigma de promoção de saúde, tem sido veiculada ao longo da formação dos acadêmicos. 19. Ensino de especialização. Adequações à legislação e aos projetos das IES Perri de Carvalho, A. C. A fundamentação e sistematização da implantação da pós-graduação stricto sensu em nosso país e a definição de lato sensu como “cursos destinados ao treinamento nas partes de que se compõe um ramo profissional ou científico” ou “o domínio científico e técnico de uma certa e limitada área do saber ou da profissão, para formar o profissional especializado”, emanam do parecer de Newton Sucupira (977/65) do Conselho Federal de Educação. O ensino de especialização em Odontologia teve desenvolvimento amplo, sem adotar regulamentações de Órgãos Educacionais, e com expansão fora do âmbito das universidades. No contexto das várias profissões, este cenário e a pulverização de especialidades é específico da Odontologia. Os cursos de especialização e os certificados expedidos são regidos pela legislação da educação superior e pelos Órgãos Educacionais. Fatos novos emergiram com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (Lei nº 9.394, de 20/02/1996), da legislação sobre organização e avaliação do ensino superior (Decreto nº 3.860, de 09/07/2001; Lei nº 10.861, de 14/04/2004) e das regulamentações sobre credenciamento de oferta, funcionamento, cadastro, valor atribuído à certificação de cursos lato sensu (Parecer CNE/CES 908/1998; Resolução CNE/MEC nº 1/2001; Parecer CNE/CES 0281/2002; Portaria MEC nº 1.180/2004; Portaria MEC nº 4361/2004). O ensino de especialização prepara profissionais para o mercado de trabalho e também oferece recursos humanos para o ensino. A ABENO define como objetivos destes cursos “aprofundar o conhecimento e habilidades técnicas e científicas, visando à formação de recursos humanos no campo específico de sua atuação nas diversas subáreas da Odontologia, buscando uma transdisciplinaridade”. Torna-se importante a vinculação deste nível de ensino com o projeto pedagógico da IES e com as “Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Odontologia” (Parecer CNE/CES nº 1300/01, de 06/11/2001, D.O.U. de 04/03/02). A questão “Em um curriculum integrado como contornar a problemática do professor especialista?” foi debatida nos Grupos de Discussão da 39ª Reunião da ABENO (2004), sinalizando para cuidados e preparativos para o andamento do projeto do curso. Deve-se estabelecer relação entre os níveis de ensino de graduação, especiali- Revista da ABENO • 5(2):155-207 167 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 zação, mestrado e doutorado. Entre os estudos cabíveis, são pertinentes os referentes à introdução de conteúdos mais significativos de bioética, metodologias da pesquisa e do ensino e para a elaboração da monografia. Além da revisão da proposta dos cursos de especialização, em atendimento à legislação sobre avaliação do ensino, deverão ser alterados os critérios para avaliação dos mesmos. A ABENO protocolou no MEC uma proposta de “Instrumento de Verificação de Cursos de Especialização”. Os novos tempos educacionais pós-LDB induzem à necessidade urgente de discussões e reflexões no âmbito acadêmico sobre o ensino de especialização. 20. A Universidade como espaço favorável à reestruturação do ensino da Saúde Coletiva em Odontologia Gonçalves, E. M. G.*, Bender, C. F. R., Marques, B. B. O ensino da Odontologia, tanto nas técnicas pedagógicas quanto nos conceitos de saúde mantidos como hegemônicos, deixa sem resposta muitas questões referentes à melhoria da saúde bucal da sociedade. A Promoção de Saúde, ao se apresentar como um campo novo de compreensão e ação, por seu conceito ampliado sobre saúde e sua relação com a qualidade de vida, vem propor à universidade o rompimento com a abordagem ‘tradicional’ da educação em saúde. A abordagem tradicional acredita existir, “no relacionamento com a população, um saber científico supostamente neutro, fundamentado numa racionalidade técnica, que pretende enfrentar a condição de exclusão gerada pela pobreza com orientações, questionamentos e intervenções até autoritárias”. Na busca de princípios como acolhimento, vínculo, integralidade, a Saúde Coletiva em Odontologia, na Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), inicia sua atividade com os alunos no terceiro semestre e propõe como prática pedagógica a educação transversalizando a saúde, isto é, uma “prática pedagógica que agencia desejos, convida à escuta produtiva, chama à reflexão e propõe a criação… a criação de novas possibilidades, de invenção de si e do mundo, instigando/provocando agenciamentos de cognição e reinvenção de territórios de significação da vida”. Os conteúdos disciplinares são desenvolvidos em atividades intra e extra-muros possibilitando ao acadêmico o conhecimento sobre os agravos mais freqüentes da boca, apontados pela OMS (1954) como os maiores problemas de saúde bucal: cárie dentária, doença periodontal, 168 má-oclusão, fissuras labiopalatais, câncer de boca, fluorose, traumatismo dentário e ainda uso e necessidade de prótese, assim como as tecnologias preventivas para os mesmos. Ao longo do processo educativo, o aluno é estimulado a formular valores, conceitos, análise crítica e síntese, de modo que, por meio de noções básicas de planejamento, o ato pedagógico referente aos conhecimentos é sistematizado e passa a buscar uma interação com espaços e grupos sociais, tanto em nível interpessoal como em ambiental. “Os estudantes, em geral, estão envolvidos na prática educacional que responde à urgência da vida cotidiana, constituída de problemas práticos a serem resolvidos com o máximo de eficácia imediata e que não permite o luxo das grandes explicações teóricas e sociológicas. Há que se questionar quando essas categorias – desenvolvidas a partir do senso prático – estão sendo utilizadas no distanciamento permitido pela sala de aula com a sociedade”. Com este trabalho, a intenção é, apontar a possibilidade de uma construção conceitual mais ampla e portanto rompedora do senso prático, favorável à prática integral da odontologia, por meio de um referencial teórico/pedagógico que permita uma reestruturação do ensino da odontologia. 21. Estágio de docência: a visão do mestrando Silva, C. M.*, Batista, L. V., Reibnitz Júnior, C., Locks, A. O Curso de Graduação em Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) possibilita aos seus acadêmicos a vivência da realidade de saúde bucal da população, através do estágio extramuros. Esses acadêmicos estruturam na disciplina de estágio supervisionado 1 (oitava fase) um projeto de promoção da saúde e aplicam o mesmo na nona fase (estágio supervisionado II) em instituições conveniadas como creches, escolas estaduais, posto de saúde e outras de caráter beneficente. O Programa de Pósgraduação em Odontologia, área de concentração em Odontologia em Saúde Coletiva, utilizou as disciplinas de Estágio Supervisionado para a realização do estágio de docência de seus mestrandos, iniciando-se no segundo semestre de 2004 e com término previsto para 6 de julho de 2005). Durante o transcorrer do estágio de docência, cada um dos mestrandos ficou responsável por ministrar aulas teóricas, elaborar e corrigir questões de provas escritas e de orientar uma das equipes de acadêmicos para a elaboração de seu projeto de estágio. Todo este trabalho foi supervisionado por Revista da ABENO • 5(2):155-207 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 um dos professores efetivos das respectivas disciplinas. As aulas teóricas abordaram conteúdos de epidemiologia, planejamento em saúde, educação em saúde, promoção de saúde e estratégia de saúde da família. De acordo com as discussões mantidas pelo grupo de mestrandos, o estágio de docência tem proporcionado uma experiência ímpar, pois: na fase das aulas teóricas e da elaboração dos projetos de estágio, exigiu o planejamento de aulas, domínio da informática para pesquisa em fontes de dados, relacionamento pessoal e comunicação tanto com professores como com acadêmicos e demais colegas; na fase de aplicação do programa de saúde bucal além da importância do programa para a população beneficiada, o estágio possibilita aos acadêmicos analisar criticamente os determinantes do processo saúde-doença, uma vez que se vêem envolvidos na realidade de saúde bucal da população. O momento do exercício da prática contribui aos mestrandos o seu amadurecimento na relação professor-aluno, respeito ao conhecimento, responsabilidades e participação de cada um, e na reflexão crítica sobre o papel da ação docente no ensino da Odontologia. 22. CAPADF - UFSC: Vivência e aprendizado com a fissura labiopalatal Silva, C. M.*, Carcereri, D. L., Locks, A. O Centro de Atendimento a Pacientes com Deformidades Faciais (CAPADF) é um projeto de extensão do Departamento de Estomatologia do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O projeto foi criado em 13 de agosto de 1996 pela Disciplina de Ortodontia, envolvendo professores de outras disciplinas do curso de graduação em Odontologia da UFSC. Em julho de 1998 foram agregados ao CAPADF os serviços de odontopediatria, psicologia e fonoaudiologia. Aproximadamente 200 pacientes com fissura labiopalatal, na faixa etária de zero a dezessete anos, incluindo alguns adultos, oriundos de todo o estado de Santa Catarina são atendidos neste centro. O estágio no CAPADF caracteriza-se pela promoção da saúde do indivíduo. O atendimento odontológico é prestado por estagiários do último semestre do curso de graduação em Odontologia, sendo auxiliados por estagiários de fases iniciais do curso. Com a participação neste estágio, o aluno de graduação tem a possibilidade de conviver com pacientes com fissura labiopalatal, aprendendo as particularidades da malformação, que variam da alimentação cariogênica na primeira infân- cia às características bucais inerentes da mesma, que contribuem para um maior comprometimento da condição bucal destes pacientes. A prática clínica semanal é composta de atividades educativas e preventivas oferecidas aos pacientes e seus responsáveis, bem como a realização de procedimentos reabilitadores. O estagiário possui também a possibilidade de acompanhar o paciente por todo o semestre, realizando procedimentos de controle através do monitoramento da saúde bucal do paciente. A participação no estágio é complementada com ciclos de palestras realizados semestralmente, contando com a participação de profissionais de diversas áreas envolvidas no processo de reabilitação do paciente com fissura, proporcionando ao acadêmico de Odontologia o contato multidisciplinar. Após a realização do estágio no CAPADF - UFSC, o acadêmico participante apresenta condições de em sua carreira prestar atendimento a pacientes com fissura labiopalatal, malformação comum que acarreta ao seu portador uma série de comprometimentos funcionais e estéticos, e extremamente dependente dos profissionais da área odontológica. 23. Entre a linha de cuidado e a superespecialização: a incompatibilidade histórica entre a visão mercadológica e a atenção à saúde do trabalhador Lamas, A. E.*, Calvo, M. C. M. P or meio das Resoluções nº 22/2001 e nº 25/2002 o Conselho Federal de Odontologia reconhece e regulamenta uma nova especialidade: a Odontologia do Trabalho. O quadro epidemiológico dos trabalhadores brasileiros, a forte relação entre trabalho e adoecimento e a história de “desassistência” à saúde bucal do trabalhador no Brasil fez com que a criação desta nova área de atuação se justificasse e que fosse celebrada por profissionais e entidades de classe da odontologia. Objetivou-se verificar a percepção dos profissionais de odontologia sobre a especialidade Odontologia do Trabalho e discutir o caráter privatista reproduzido no interior desta nova especialidade. Foi feita revisão de literatura dos termos atenção odontológica ao trabalhador, odontologia do trabalho e programas de atenção à saúde bucal do trabalhador. O atendimento ao trabalhador é objeto das atividades do odontólogo da rede privada e da rede pública de saúde em todos os níveis de complexidade, ainda assim, verifica-se uma distância entre a prática diária destes profissionais e a necessidade de cuidado às especificidades deste grupo. É marcante a percep- Revista da ABENO • 5(2):155-207 169 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 ção de que existe a necessidade de intervir pontualmente sobre o corpo do trabalhador de modo a manter sua produtividade; a suposição de que uma maior intervenção, centrada no procedimento e na medicalização, aliados à maior especialização do profissional de saúde, significará melhores condições de saúde de determinado grupo populacional e, finalmente, a certeza de que a regulamentação em torno da especialidade significa basicamente uma ampliação do mercado de trabalho para a odontologia, independente da reflexão sobre os objetivos e forma de organização necessária a uma nova prática. Intervenções passivas em relação à organização do processo de trabalho e alheias ao questionamento sobre a forma de inserção dos indivíduos no processo produtivo impedem uma abordagem interdisciplinar e intersetorial, desconsiderando a própria participação dos trabalhadores enquanto agentes políticos na discussão das ações dos serviços de saúde. Os achados desta pesquisa sugerem que esta nova especialidade possa ser insuficiente para suplantar concepções não tão inovadoras no que tange à atenção à população trabalhadora. Indicando, assim, a possibilidade de reprodução de velhas práticas, mesmo em uma especialidade recentemente reconhecida e em um campo de atuação tão importante. 24. Desafios da prática docente na construção de um novo modelo de atenção em saúde do trabalhador Lamas, A. E.*, Calvo, M. C. M. A companhamos atualmente, além da influência de modelos ultrapassados de atenção à saúde, os efeitos de um processo de globalização que cria novos valores na relação entre capital/trabalho e na forma de prestação dos serviços de saúde. O limite dos discursos utilitaristas é evidenciado na precarização dos contratos de trabalho, desemprego e falta de programas organizados para atenção à Saúde do Trabalhador. Assim, são necessárias reflexões que contextualizem as tentativas de produção de saúde e a formação de recursos humanos na área da odontologia frente aos desafios que se impõem neste campo de investigação e prática. Objetivou-se realizar um resgate da formação do campo da Saúde do Trabalhador (ST) e analisar a inserção da saúde bucal na atenção a ST. Foi feita revisão de literatura dos termos saúde bucal coletiva, manifestações orais de doenças ocupacionais e atenção a ST na Biblioteca Central da UFSC, no banco da CAPES, na BVS e no sítio do SCIELO. Os anos 70 e 80 evidenciaram a contradição entre trabalho e saúde em uma sociedade onde a organização do 170 trabalho estava voltada a assegurar o nível de produtividade, neste equilíbrio de forças a sociedade exprimia as normas legislativas, a organização dos serviços e a formação dos recursos humanos. Na saúde bucal, além das neoplasias, estudos citam a correlação da ocupação com uma maior prevalência da doença periodontal, cárie, erosão dental, hipersensibilidade, hábitos deletérios e dificuldade no acesso aos serviços pelos trabalhadores. Apesar da evidente relação entre o processo de trabalho e o processo saúde-doença, permanece a incógnita sobre o estabelecimento de condutas adequadas pelos profissionais e serviços na compreensão e reversão do quadro epidemiológico. A confluência dos conceitos de ST e Saúde Bucal Coletiva surge nas Diretrizes para Atenção à Saúde Bucal no âmbito do SUS, onde o Ministério da Saúde (2004) propõe uma reorganização da atenção em saúde bucal em todos os níveis de atenção, tendo o conceito de “linhas de cuidado” como eixo de reorientação do modelo. Entre estas linhas está a atenção aos adultos; em especial aos trabalhadores. A discussão do modelo assistencial e o diagnóstico adequado dos problemas com ampla participação estão entre as tecnologias que devem ser incorporadas às práticas do odontólogo na atenção à saúde do trabalhador. O embate no campo político e do saber definirá as práticas futuras, e a resposta dada a estes desafios irá definir pela continuidade da crescente produção de procedimentos ou pela condução à tão almejada produção social de saúde. 25. A Pesquisa e o Currículo de Graduação em Odontologia Maltagliati, L. Á.*, Goldenberg, P. O presente estudo tem como objetivo dimensionar perspectivas e desafios relativos à implementação da pesquisa como princípio norteador da organização do currículo de Odontologia, tendo em vista as Diretrizes Curriculares. O estudo se circunscreveu a três universidades paulistas, uma do setor público e duas do setor privado. O levantamento envolveu a análise de documentos e entrevistas que fundamentaram a reconstrução histórica das instituições no tocante ao desenvolvimento curricular e implementação da pesquisa; à caracterização do currículo odontológico e sua relação com o desenvolvimento da pesquisa; e, à detecção de perspectivas e desafios frente às alterações curriculares. Tanto a universidade pública, com pesquisa institucional desde sua fundação, como as privadas, de histórias mais recentes de pesquisa institucional, adotam o currículo tradicional com movimentos pontuais Revista da ABENO • 5(2):155-207 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 de adesão às novas proposições. Observa-se a preocupação com o desenvolvimento da pesquisa no curso de graduação, permanecendo a dicotomização entre ensino e pesquisa, professor e pesquisador. Apesar dos avanços no sentido da adequação às diretrizes curriculares, não se alcança a configuração de um currículo sintonizado com a pesquisa. esde a Conferência Nacional de Saúde Bucal, destaca-se a preocupação relativa à formação de recursos humanos em Odontologia. A integração serviço-ensino-pesquisa é antiga reivindicação de docentes, técnicos e gestores em saúde. Entende-se que essa integração refletirá numa formação de profissionais comprometidos com a transformação da realidade de saúde do país. Em razão disso, o objetivo foi avaliar como a universidade se relaciona com a sociedade, e se o Sistema Único de Saúde é uma alternativa de prática pedagógica. A contraposição de conceitos relacionados à formação acadêmica e ao mundo do trabalho possibilitou perceber quais são os espaços de ensino-aprendizagem e se há impacto na formação de profissionais e na implementação do SUS. Os conceitos contrapostos foram: 1) relacionado à vivência extracurricular norteada pelo paradigma da integralidade da atenção e na vinculação entre educação, trabalho e práticas sociais; 2) relacionado a experiências extracurriculares, vivenciadas no cotidiano da FOUSP, norteadas pelo paradigma técnico-assistencialista, biologicista e procedimento-centrada. A análise do estudo mostrou que a aproximação com SUS possibilita ao indivíduo em formação capacidade para desenvolver um pensamento crítico e compromissado com a transformação da realidade de saúde do país, além de favorecer a ampliação da responsabilidade público-social da universidade. numa prática docente de ensino tradicional, que concebe o estudante como um receptor de conteúdos preestabelecidos, o que dificulta o raciocínio críticocriativo. Com o objetivo de formar profissionais capacitados para enfrentar as diversas realidades de saúde e especificamente de saúde bucal da população, a partir do ano de 2003 o Curso de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina, através da disciplina de Estágio Supervisionado em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis formalizou o estágio dos acadêmicos sob a ótica do Programa de Saúde da Família em uma Unidade de Saúde, com carga semanal de 12 horas durante 4 meses, suficiente para proporcionar para cada estagiário, experiências em ações desenvolvidas tanto na Unidade Local de Saúde Saco Grande II, através da participação em reuniões conjuntas com os profissionais e estagiários da mesma, visitas domiciliares à comunidade, participação nos grupos de puericultura, grupos de manutenção da saúde bucal e atendimento clínico, como com escolares na escola da área de abrangência. Trata-se de um espaço pedagógico, com potencial para vivenciar a realidade de saúde da população, permitindo uma reflexão crítica sobre os determinantes do processo saúde-doença, favorecendo o desenvolver da graduação, revendo o papel da universidade e sua relação com os serviços de saúde e a sociedade, além de possibilitar a formação de um profissional apto para compreender a realidade e nela atuar de forma resolutiva. Assim a estratégia educacional de formação em serviço torna a experiência do estágio supervisionado uma ação integradora somada a uma ação social, orientada de forma multidisciplinar, seguindo os princípios do PSF com ênfase especial à comunidade, interferindo de forma positiva no estabelecimento de um perfil profissional voltado para a promoção de saúde. Desta forma a graduação deixa de ser apenas o espaço da transmissão e da aquisição de informações para transformar-se no lócus de construção e produção do conhecimento, em que o aluno atue como sujeito da aprendizagem. 27. Estágio Supervisionado sob a ótica do Programa de Saúde da Família: Integração entre Universidade e Comunidade Batista, L. R. V.*, Batista, A. M. R., Moreira, E. A. M., Reibnitz-Júnior, C. 28. A Inserção da Nutrição no Ensino da Odontologia: Enfoque Interdisciplinar e Multiprofissional no Mestrado em Odontologia em Saúde Coletiva, UFSC Batista, L. R. V.*, Moreira, E. A. M., Rossi, A., Silva, C. M. O O 26. SUS: uma alternativa de rede de prática pedagógica Maltagliati, L. Á.*, Barros, R. S., Araújo, M. E., Crivello-Junior, O. D processo educativo desenvolvido em diversas universidades brasileiras tem-se caracterizado s desafios e perspectivas para a odontologia estão inseridos em sua inovação, procurando acompa- Revista da ABENO • 5(2):155-207 171 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 nhar as rápidas transformações que estão ocorrendo em todos os setores. Esta inovação advém inicialmente da quebra de paradigmas, para assim podermos buscar o preparo e os conhecimentos necessários. Com o objetivo de capacitar profissionais para enfrentar as diversas realidades da docência, o Programa de Pós-Graduação em Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina, através do Mestrado de Saúde Coletiva em parceria com o Departamento de Nutrição, formalizou no ano de 2002 a disciplina de Fundamentos Nutricionais em Odontologia e a participação de profissionais da nutrição no quadro de docentes do programa. O objetivo foi inserir os conceitos nutricionais como instrumento de atualização sobre os assuntos relevantes à nova formação exigida, envolvendo a odontologia e a nutrição em pesquisas, interpretando tendências globais em saúde humana nos aspectos sociais, demográficos e epidemiológicos, relacionando estas tendências com a condição bucal e o estado nutricional; instituir uma inquietação construtiva e criativa, que aliada às ferramentas adequadas, fornecerá a matéria-prima para uma nova geração de profissionais qualificados para desempenharem, em nível de excelência, atividades de pesquisa e docência, bem como para exercerem liderança em serviços de saúde. Assim o desenho de uma perspectiva equilibrada só será possível através da integração entre as disciplinas, onde a pós-graduação stricto sensu ganha especial destaque na implementação da ligação entre grandes ramos do saber. 29. PROVÃO versus ENADE: o retrocesso revisitado Noro, L. R. A. A avaliação deve ser um instrumento utilizado para aperfeiçoamento do processo ensino-aprendizagem devendo ser encarada como atividade-meio ao permitir que o aluno aprenda de forma efetiva, com a participação fundamental do professor enquanto facilitador do ensino. Outra contribuição nessa área é relativa aos processos desenvolvidos pelos seres humanos no dia-a-dia, como a formação superior. Os mais recentes sistemas de avaliação do ensino superior brasileiro têm-se concentrado nos resultados do PROVÃO e, mais atualmente, no ENADE para classificarem a excelência no ensino superior. Na essência, os dois são simples instrumentos de verificação de aprendizagem de alunos, ou seja, encerram-se no momento em que o objeto (prova) possui determinada configuração (conceito). Ambos são instrumentos estáticos, 172 não sendo coerentes com uma proposta de avaliação processual visto que pouco contribuem para mudanças significativas na construção dos projetos pedagógicos dos cursos. Este trabalho partiu dos conceitos obtidos pelos cursos no ENADE para compará-los com os resultados do último PROVÃO. Assim como o anterior, o ENADE não apresenta qualquer tipo de contribuição objetiva visando melhoria da avaliação, uma vez que é impossível definir a partir de questões objetivas o real conhecimento de determinado grupo de alunos sobre um determinado assunto e, por conta disto, rever todo um sistema de ensino. Os conceitos do ENADE para os cursos de Odontologia são altamente satisfatórios pois dos 128 cursos analisados, 31 (24,2%) obtiveram o conceito “5”, 84 (65,6%) o conceito “4”, 12 (9,4%) o conceito “3” e apenas 1 (0,8%) conceito “1”. Tal desempenho seria impossível no PROVÃO tendo em vista a forma como era feita a distribuição das notas. Outro aspecto importante é que o grande diferencial do ENADE seria a inclusão dos ingressantes para se comparar o desempenho destes com os concluintes em relação aos conhecimentos gerais. Isto, entretanto, não aparece nos relatórios disponibilizados pelo MEC. Há necessidade de uma urgente adequação do sistema de avaliação do ensino superior que realmente considere aspectos relevantes no cotidiano dos cursos como desempenho docente, estrutura física das instalações, vínculo social do curso com a comunidade, ensino integrado, interdisciplinar e multiprofissional, projeto pedagógico baseado em novas metodologias de ensino, com enfoque centralizado no Sistema Único de Saúde, enfim, algo que possa efetivamente estar coerente com as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos da área da saúde. O conjunto destes itens, quando realizados, absolutamente são levados ao conhecimento público com o mesmo destaque dado aos conceitos dos “exames”. É necessária a construção de um sistema de avaliação que possa contribuir com a melhoria do ensino, que se manifeste como um ato dinâmico que qualifica e subsidia o reencaminhamento da ação, possibilitando conseqüências no sentido da construção dos resultados que se deseja. 30. Promoção à saúde bucal e o papel da Universidade Vizzotto, D.*, Paiano, H. M. A., Salles, D. F., Ramin, E. N a era da globalização, a palavra de ordem é estar atualizado. Assim, a necessidade de novos conhecimentos e experiências pressupõe um novo caminho para a Academia. Adequar-se a essa realidade significa Revista da ABENO • 5(2):155-207 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 resgatar o papel fundamental, que é o da construção do conhecimento, além do compromisso social com a comunidade, despertando o aluno para uma visão holística do indivíduo e do contexto em que está inserido. Torna-se necessário “aprender a apreender” e resgatar o papel de entidade educadora, formadora e comprometida socialmente, viabilizando a formação de profissionais capacitados a desenvolver práticas saudáveis de promoção de saúde bucal. O objetivo é proporcionar ao aluno do Curso de Odontologia embasamento teórico-prático, para realizar diagnóstico, planejar e desenvolver atividades em nível crescente de complexidade. O aprendizado associado à prática in loco é parte integrante da construção do conhecimento, fundamental para despertar no aluno o senso crítico, o compromisso social para a vigilância em saúde, fortalecendo o trabalho em equipe e a co-responsabilidade com a comunidade em que atua. Os critérios utilizados para a seleção dos locais de estágio são: índice CPO-D alto nas faixas etárias de 5 a 6 e 12 anos de idade (levantamento epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde de Joinville), condições socioeconômicas e dificuldade de acesso aos serviços de saúde bucal. Os alunos do 3º e 4º ano da disciplina de Odontologia Coletiva realizam estágios em Escolas públicas, conforme Convênio firmado entre Universidade e Secretaria Municipal de Saúde, desde 2000. Cada equipe é composta de 6 a 7 acadêmicos do terceiro e quarto ano de Odontologia que atuam juntos desenvolvendo atividades como: conhecer o público alvo; realizar o levantamento epidemiológico dos índices: DAÍ (índice de maloclusão), CPO-D (índice de dentes cariados, perdidos e obturados), dados sobre escovação, índice de placa bacteriana visível, índice de sangramento gengival, risco de doença cárie; elaborar o planejamento estratégico loco-situacional; atividades de promoção à saúde bucal, realizar coletas de água para verificar o teor de flúor; vedar cavidades cariosas com ionômero de vidro; encaminhamento referenciado para as Clínicas de atendimento da UNIVILLE. Os resultados são positivos, pois os alunos de odontologia do 3º e 4º ano aprendem a realizar o diagnóstico, planejamento estratégico loco-situacional. Alunos do 4º ano atuam como monitores para os alunos do 3º ano, na continuidade dos trabalhos de promoção à saúde bucal, pois complementam-se ano a ano. A prática e os resultados alcançados demonstram que este é um caminho viável para formar profissionais comprometidos em transformar a realidade. Ao atuar como multiplicadores na execução de práticas voltadas para a promoção da saúde bucal e geral, os alunos cumprem o papel sócio-humanitário ao resgatar a condição primordial de dignidade e cidadania. 31. Vivência no SUS: a participação da Universidade na reformulação de uma Unidade Básica de Saúde da Família Rendeiro, M. M. P.*, Bastos, L. F., Souza, R. A., Vieira, C. O processo de formação de profissionais de saúde tem sido alvo de reflexões e transformações a partir da constatação de que este continuava preparando profissionais para uma prática centrada no modelo médico assistencial privatista e distante do sistema de saúde vigente no país. O objetivo deste trabalho foi implementar a integração Ensino-Serviço, possibilitando aprendizado e vivência em uma Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF), por meio de um trabalho multidisciplinar, inserido nos processos de educação profissional, aproximação da realidade e reflexão crítica, planejamento participativo, com participação ativa de docentes e estudantes, nos cenários de prática de ações em saúde. Para isto, foi estabelecida parceria com a Prefeitura da Cidade de Duque de Caxias e a UNIGRANRIO, através da Disciplina Odontologia de Promoção de Saúde, para a reorganização do processo de trabalho, com a participação de três professoras e vinte alunos voluntários. A agenda de trabalho foi definida em conjunto pelas professoras, alunos e equipe do Programa Saúde da Família. Os alunos participaram de todas as atividades desenvolvidas como as visitas domiciliares, identificação de riscos e agravos à saúde, planejamento, ações coletivas e individuais de promoção, proteção e recuperação da saúde e acompanhamento das famílias em saúde, tanto na UBSF quanto nos espaços sociais, integrados com a equipe de médicos, enfermeiros, dentistas, auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de saúde, inclusive das discussões, avaliação e replanejamento. Os resultados têm demonstrado que esta experiência, além de possibilitar a vivência e a experimentação dos alunos no processo de trabalho de uma estratégia do Sistema Único de Saúde, pode contribuir para a necessária familiaridade, aproximação com os diversos saberes e o desenvolvimento de competências necessárias à prática no contexto da saúde coletiva. Revista da ABENO • 5(2):155-207 173 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 32. O graduando de Odontologia como ator social na construção coletiva dos espaços sociais – reflexão e ação Rendeiro, M. M. P.*, Bastos, L. F., Souza, R. A., Teixeira, A. L. H. A formação profissional em Odontologia, articulada às necessidades sociais e capaz de produzir recursos humanos críticos e reflexivos, capacitados para atuar no sistema público e privado, em todos os níveis de atenção, é uma necessidade da sociedade. O objetivo deste trabalho é demonstrar os resultados da articulação ensino, serviços públicos e privados e comunidade e os impactos desta parceria para a formação profissional e para a qualidade de vida dos envolvidos. Foi estabelecida parceria entre Universidade, Escola Estadual e Empresas Privadas para o desenvolvimento de ações de promoção de saúde com os escolares e os trabalhadores das fábricas. Ao contato com a realidade local, os alunos perceberam que era possível realizar muito mais e, por meio de articulação com a comunidade, realizar a reforma de consultório odontológico pertencente à Escola, que estava abandonado, ampliar as ações e a clientela, agregando as famílias dos alunos e dos trabalhadores, tanto nas visitas domiciliares quanto para a atenção clínica individual e encaminhamento dos casos mais complexos para a Universidade. A construção coletiva deste espaço possibilitou a responsabilização de todos os envolvidos, maior e melhor oferta de ações de saúde e a participação consciente e organizada dos alunos como atores sociais de um processo de mudança. 33. Princípios de biossegurança versus Princípios de ergonomia em clínicas de ensino de odontologia Resende, V. L. S.*, Echternacht, E. H. O., Resende, M. V. S., Araújo, L. F. A equipe odontológica está em constante risco de contrair doenças infectocontagiosas devido à alta prevalência de acidentes com instrumentais perfurocortantes e à ocorrência de respingos e aerossóis durante a prática profissional. Nas clínicas de ensino, durante o curso de odontologia, quando ocorre atendimento a pacientes, a situação é a mesma. Para minimizar esses riscos, algumas medidas devem ser tomadas, entre elas, os cuidados com a construção das clínicas, obedecendo princípios legais que regem a construção de ambientes de saúde, tendo em vista o controle de infecção cruzada, princípios ergonômicos 174 e princípios estéticos. Muitas vezes esses pontos são conflitantes, ou existe uma maior preocupação com uns que com outros. A Faculdade de Odontologia da UFMG possui prédio moderno, e as clínicas foram montadas procurando atender a todos os princípios acima mencionados. Cada clínica contém 24 equipamentos odontológicos, dispostos em 4 rosetas, cada um com 6 equipos completos. Dentro de cada roseta existe uma estreita bancada que é utilizada pela operadora para coletar alguns materiais que serão utilizados durante o atendimento, por todas as duplas. Uma barreira de vidro foi colocada para proteger a operadora dos respingos oriundos do uso de aparelhos movidos por ar comprimido. Durante um semestre letivo, alunos de engenharia de produção, orientados por uma professora da área e outra do curso de Odontologia, observaram o trabalho das funcionárias das rosetas e dos alunos, e no final, fizeram um relatório apontando os principais problemas e sugerindo modificações que variaram desde pequenas adaptações até grandes modificações na edificação. Os principais problemas apontados foram altura de bancada, a barreira de vidro entre a operadora de roseta e o aluno, dificultando a comunicação, o que é agravado pelo uso de máscara; o ruído existente nas clínicas em conseqüência do grande número de pontas de alta rotação, a temperatura no interior das clínicas, que necessitariam de pé direito mais alto. Concluiu-se que mesmo em uma construção moderna, alguns aspectos para conforto e saúde deixaram de ser observados, o que poderia ser evitado se houvesse a participação de uma equipe maior no planejamento das clínicas. Pode-se observar que alguns cuidados tomados na construção, procurando-se evitar a contaminação, foram considerados prejudiciais ao trabalho das operadoras, como por exemplo, a barreira de vidro, colocada para protegê-las dos respingos originados dos seis equipos que as cercam. 34. Avaliação ergonômica das clínicas de ensino da Faculdade de Odontologia da UFMG Resende, V. L. S.*, Echternacht, E. H. O., Silva, P. M., Alves, R. N. N as clínicas da Faculdade de Odontologia da UFMG o trabalho é realizado com o sistema de seis mãos, onde dois alunos atendem o paciente, auxiliados por uma operadora de roseta, que atende até seis duplas de alunos. Esse sistema foi implantado quando a nova faculdade de Odontologia foi construída no Campus da Pampulha e foi adotado para que os alunos discutam o caso, minimizando o risco de erro; para evitar que o Revista da ABENO • 5(2):155-207 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 aluno operador toque medicamentos ou equipamentos com luva contaminada e para que ele não tenha que sair do seu posto de trabalho para buscar material de consumo. Nos dois últimos anos, alunos do curso de engenharia de produção, orientados por uma professora de ergonomia e uma da faculdade de Odontologia, realizaram trabalhos na faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais. Um desses trabalhos consistiu na observação das funcionárias de roseta, com o objetivo de avaliar se durante o atendimento aos alunos havia alguma postura e/ou movimento que comprometesse sua saúde, uma vez que havia história de queixas anteriores de lombalgias, dores nos ombros e nos joelhos. A população trabalhadora é composta exclusivamente por mulheres com idade variando entre 24 e 40 anos, admitidas por meio de concurso público. Após obter consentimento, uma equipe de alunos permaneceu durante todo período de trabalho das funcionárias, por vários dias, anotando cada movimento feito por elas dentro das rosetas. A seguir, as funcionárias foram entrevistadas quando puderam relatar suas queixas sobre cansaço após uma jornada de trabalho, presença de dores articulares, dores musculares, etc. A partir dos dados levantados, foi feito um relatório procurando-se associar as queixas às possíveis causas, sempre relacionando com as observações feitas durante seu trabalho. Os resultados mostraram que todas as operadoras de rosetas relataram dores na região lombar, devido à execução de movimentos repetitivos de flexão da coluna durante o período de trabalho. Uma lista de sugestões foi então apresentada, mostrando que, muitas vezes com pequenas alterações na construção das clínicas pode-se eliminar uma série de problemas que podem trazer conseqüências maléficas. Concluiu-se que, para construção de clínicas odontológicas, torna-se necessário o trabalho de uma equipe multidisciplinar, para que todos os princípios de biossegurança sejam atendidos, mas atendendo também os princípios ergonômicos, pois a inobservância de pequenos detalhes pode ter como conseqüência a necessidade de movimentos repetitivos durante o trabalho, podendo levar a alterações e danos aos trabalhadores. Nacionais para os Cursos de Graduação em Odontologia. Estas diretrizes estão norteando as transformações curriculares que vêm ocorrendo no interior dos cursos de Odontologia no Brasil. Em parte de seu texto constitucional a resolução CNE/CES nº 3 determina que o projeto pedagógico do curso deva ser constituído no sentido de “... buscar a formação integral e adequada do estudante através de uma articulação entre o ensino, a pesquisa, e a extensão/assistência.” Quando se pensa na reformulação curricular a partir do texto das novas diretrizes curriculares e do panorama profissional da área de atuação da saúde bucal, o núcleo de disciplinas sociais que compõe o currículo do curso de odontologia assume um papel importante. Os contextos de vivências e de atuação acadêmica proporcionados por esse núcleo de disciplinas mostram-se determinantes para a construção do futuro perfil profissional preconizado pelas diretrizes. São as disciplinas desse núcleo social que desenvolvem a inter-relação com os serviços de saúde externos à universidade permitindo com isso ao aluno o contato com o trabalho comunitário do município em que a universidade se insere. Criar uma estrutura de atuação que integre ensino, pesquisa e extensão, dentro das evidências científicas, técnicas e pedagógicas atuais exigiu que estratégias fossem pautadas em torno de alguns eixos prioritários de atuação apresentados a seguir: integração do núcleo de disciplinas sociais, constituição de unidade de ensino serviço municipal, potencialização de inter-relações com núcleos especializados, divulgação das experiências geradas nas práticas locais de integração ensino serviço e organização do sistema de referência e contra-referência em saúde bucal da universidade integrado ao sistema único de saúde do município. O Curso de Odontologia tem procurado promover espaços de discussão sobre o campo da Saúde Bucal Coletiva com o objetivo de fomentar na região, na universidade e nos serviços de saúde bucal municipais as pautas mais atuais das políticas de saúde bucal, potencializando esse campo de atuação entendido como prioritário no processo de reformulação curricular. 35. Integração ensino-serviço e reformulação curricular do curso de Odontologia da ULBRA campus Cachoeira do Sul Warmling, C. M.*, Bastos, F. A., Emídio, A., Boeckel, D. 36. É a Universidade promotora de conhecimentos, saúde e prestadora de serviços: A Palavra do Estudante, do Professor, do Profissional e do Usuário Ativo do SUS Figueiredo, M. C.*, Bender, A. S., Feldmann, V., Nascimento, I. M. A A Resolução CNE/CES nº 3 de 19 de fevereiro de 2002 estabeleceu novas Diretrizes Curriculares s críticas que se fazem ao Sistema Único de Saúde - SUS, traduzidas nas infindáveis filas, no aten- Revista da ABENO • 5(2):155-207 175 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 dimento desumanizado, na falta de leitos, de exames, de assistência em saúde e de medicamentos, não surgiram com o novo sistema de saúde. Todo esse conjunto é, na realidade, herança e, portanto, conseqüência natural de um modelo de atenção à saúde centrado no assistencialismo tecnicista e curativista. Nesse, se apresentam historicamente como nós críticos a ineficiência de gestão, deficiência de recursos humanos, precarização das relações de trabalho, resolutividade insuficiente, bem como limitações no acesso aos serviços. Atualmente, o Educar-SUS, como política de saúde, apresenta-se de forma a elaborar estratégias com a intenção de readequar o ensino na área da saúde, para que esse passe a suprir as reais demandas apresentadas pela sociedade em que estamos inseridos, ou seja, é a universidade promotora de conhecimentos e saúde. Fazem parte desse contexto a difusão da necessidade da mudança na graduação do futuro profissional da saúde para atender ao espaço de trabalho do SUS, assim como a urgência de que o trabalho em si seja realizado cada vez mais integrado e transdisciplinar. Diante dessa situação, o trabalho se propôs avaliar o que o usuário ativo na rede do SUS, os profissionais que nela atuam, bem como, a comunidade acadêmica pensa sobre o referido sistema. Utilizando-se de uma metodologia exploratória e descritiva, 100 questionários, contendo questões-chave com respostas semi-abertas, serviram de base para desencadear um processo piloto avaliatório da situação atual vivenciada pela população alvo supracitada. Os resultados: - professores e acadêmicos: demonstram nitidamente que há um distanciamento entre a teoria e a prática, sendo que a formação não está preparando para o espaço de trabalho do SUS, o foco ainda está muito centrado para o setor privado. Houve um consenso de que somente as reformas curriculares implementarão mudanças para melhorar a qualidade dos profissionais formados; - profissionais do SUS: a maioria o reconhece como um processo em construção da produção social da saúde; - usuários do SUS: acreditam que o atendimento prestado à população deve ser para todos, em contrapartida, reclamam que há uma inadequação e deficiência nos serviços. A avaliação que se fez do processo de trabalho quanto à programação das ações e atividades individuais e coletivas prestadas à população pelo SUS preocupa. Não há uma integração ensino-serviço, tampouco orientação pelas necessidades da população. As universidades não estão ensinando e os alunos tampouco aprendendo. 176 37. Saúde Coletiva nas estruturas curriculares dos cursos de Odontologia do Brasil Rodrigues, R. P. C. B.*, Saliba, N. A., Moimaz, S. A. S. A área da Saúde Coletiva tem papel fundamental na formação do profissional com o perfil exigido pelas Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de Odontologia, implementadas em 2002. O objetivo da pesquisa foi analisar as características das disciplinas da área da Saúde Coletiva nos currículos dos cursos de Odontologia do país, no que se refere à carga horária; duração em semestres; nomenclatura; formato da disciplina; metodologia de ensino; formas de avaliação. Foram enviadas correspondências para 123 cursos que tinham formado pelo menos uma turma até o ano de 2003, solicitando a estrutura curricular do curso e os planos de ensino das disciplinas. Cinqüenta cursos enviaram o material, representando 40,65% do total de cursos selecionados para a presente pesquisa. A carga horária destinada à Saúde Coletiva é heterogênea, encontrando-se de 75 a 699 horas, sendo que a maior porcentagem está na faixa de 200 a 324 horas, representando 44,18%. No que se refere à quantidade de semestres destinada à Saúde Coletiva, verificou-se que os cursos pesquisados destinam de 1 a 8 semestres, destacando-se a concentração em 2 e 3 semestres (20,93% cada) e em 4 semestres (27,91%), sendo que 4,65% ministram a disciplina em 8 semestres. São várias as nomenclaturas utilizadas pelos cursos para designar a área da Saúde Coletiva, sendo que Odontologia Social e Preventiva foi a mais citada (30%). Verificou-se que todas as disciplinas da área são de caráter teórico-prático e 95,35% dos cursos mencionou, em seu plano de ensino, a existência de atividades extramurais. As metodologias ou estratégias de ensino mais citadas pelas escolas foram aulas expositivas (100%), seminários (71,88%), aulas práticas (59,38%). As formas de avaliação utilizadas foram prova escrita (100%), prova prática (80%); avaliação dos trabalhos (57,5%); avaliação dos seminários (52,5%) e avaliação de relatórios (25%). Conclui-se que para a maioria dos cursos a carga horária da área é de 75 a 324 horas, ministradas de 2 a 4 semestres; a nomenclatura mais utilizada foi Odontologia Social e Preventiva, todas são de caráter teórico-prático; as metodologias de ensino mais citadas foram aulas expositivas e seminários; e como forma de avaliação, a prova escrita e a prova prática foram as mais citadas nos planos de ensino. Revista da ABENO • 5(2):155-207 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 38. O Serviço Extramuro Odontológico na ótica de egressos do curso de graduação da FOA/UNESP Zina, L. G.*, Moimaz, S. A. S., Saliba, N. A., Garbin, C. A. S. A s atividades extramuros possibilitam aos alunos o conhecimento das dimensões estruturais dos serviços públicos de saúde, a participação no atendimento à população, compreensão das políticas de saúde bucal e do contexto social no qual futuramente o acadêmico irá ingressar. O objetivo deste trabalho foi avaliar o Serviço Extramuro Odontológico (SEMO) e suas atividades correspondentes, sob a ótica dos egressos do curso de graduação da FOA-UNESP. Para tal, foi elaborado e validado um questionário enviado por correio, para 76 ex-alunos formados em 2003. O questionário continha 24 questões abertas e fechadas, abordando diversos aspectos relacionados à filosofia do serviço, ações desenvolvidas e percepção dos egressos sobre sua atuação enquanto alunos. Os resultados obtidos foram submetidos à análise quanti-qualitativa, sendo utilizado o método de análise de conteúdo, preconizado por Bardin, para interpretação das questões abertas. Dos 33 questionários retornados, 93,9% afirmaram ter desenvolvido conscientização em saúde pública; 42,4% e 57,6% confirmaram a participação no SEMO como plenamente satisfatória e satisfatória, respectivamente; e 100% relataram a coerência da orientação dada pelos professores com a realidade da população assistida. De acordo com o grau de importância no atendimento, foram realçadas atividades como palestras e ações de educação em saúde. Dentre algumas dificuldades encontradas no serviço, foram listadas deficiências na infra-estrutura (63,6%) e no transporte dos alunos (15,2%). Vários fatores foram relacionados à contribuição do SEMO na formação profissional, destacando-se a capacidade de adaptação de recursos disponíveis (18,2%), a assistência à saúde (15,2%) e contato com a realidade (15,2%). Através da técnica de associação de palavras, foram classificadas unidades de significação e identificadas categorias como “aspectos positivos do SEMO” (100%), “realidade social” (53,1%), e “ensino” (40,6%). Os objetivos propostos pelo SEMO foram plena e razoavelmente alcançados, respectivamente, para 36,4% e 63,6% dos ex-alunos. O SEMO, segundo os egressos de odontologia da FOAUNESP, foi avaliado como uma experiência válida, sendo ressaltada a eficácia das ações realizadas e a organização do serviço. Assim, foi possível observar a contribuição do SEMO para a formação profissional dos egressos, estimulando o compromisso com a saúde bucal coletiva e capacitando-os no atendimento às necessidades da população. 39. Análise da adaptação marginal de cilindros calcináveis e pré-usinados sobre intermediários de titânio em implantes unidos por barra Cardoso, J.*, Frasca, L. A. F., Coradini, S., Lopes, L. A. Z. A confecção das estruturas metálicas na prótese dentária ainda passa pelo processo de enceramento, inclusão, eliminação da cera e fundição. Nos componentes utilizados sobre os implantes osseointegrados, essa premissa se confirma, tornando a margem predeterminada de estruturas pré-fabricadas uma alternativa para o controle da adaptação marginal dos componentes com os cilindros protéticos. Esse estudo procurou medir e comparar, in vitro, a adaptação da interface intermediário-cilindro pré-fabricado, calcinável e metálico (níquel-cromo-titânio), correspondendo a sobredentadura implanto-suportada retida por sistema tipo barra. Foram avaliados quarenta cilindros, subdivididos e randomizados em quatro grupos de dez, verificando a desadaptação vertical e horizontal entre eles e os intermediários. Os dados foram obtidos a partir da análise no microscópio eletrônico de varredura, por um profissional treinado, através de um artefato para suportar as amostras elaborado especialmente para esse estudo. Para a avaliação estatística foram utilizados os testes de Wilcoxon e MannWhitney. Após a fundição, a desadaptação no sentido horizontal resultou em p = 0,15 e, no vertical, p < 0,01, distorcendo no sentido vertical, mas não no horizontal. Após a fundição, a distorção encontrada entre os materiais, no sentido vertical, foi de p = 0,07 e, no horizontal, de p < 0,01. Entretanto, após a solda, a distorção entre os materiais foi, no sentido vertical, de p < 0,01 e, no horizontal, de p = 0,39. Com isso, conclui-se que se os cilindros pré-fabricados estiverem com adaptações adequadas de fábrica, não interferem significativamente no resultado das fundições quando são parafusados ambos os cilindros constituintes de uma barra sobre dois implantes. Revista da ABENO • 5(2):155-207 177 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 40. Transferência do arco facial para o articulador utilizando a técnica tradicional e a de Zanetti, com e sem o suporte de Ribas Cardoso, J.*, Bessel, L. F., Lopes, L. A. Z., Coradini, S. A correta transferência da posição do maxilar do paciente para o articulador semi-ajustável, com auxílio do seu arco facial, é fundamental por transferir sua relação maxilomandibular para esse aparelho. O presente estudo avaliou, em dezoito pacientes, a fidelidade de transferência do arco facial e posterior montagem no articulador, na Técnica Tradicional e na de Zanetti. Além disso, analisou, na técnica de Zanetti, a montagem do modelo com e sem o suporte de Ribas, artefato que supostamente serviria para evitar a movimentação do garfo do arco facial durante o procedimento de fixação do modelo superior no ramo superior do articulador semi-ajustável. Durante o período experimental, dos dezoito pacientes, em quatro não foi possível realizar a transferência pela técnica Zanetti, então somente sete foram realizados com suporte de Ribas e sete sem. Durante o período em que o arco facial esteve posicionado no paciente, foi realizada fotografia digital padronizada, sempre pelo mesmo operador, que foi repetida após a montagem, no ramo superior do articulador, tanto com uma técnica quanto com a outra. O objetivo dessas fotos foi medir o ângulo formado entre o ramo superior do arco facial e o garfo metálico. Os resultados foram submetidos ao teste não paramétrico de Wilcoxon e Mann-Whitney mostrando diferença estatisticamente significante na técnica Tradicional. Com a técnica de Zanetti, não houve diferença estatisticamente significante, independente da utilização do suporte de Ribas. Portanto, nessa pesquisa a transferência, com o arco facial, utilizando a técnica de Zanetti se mostrou mais precisa que a Tradicional. 41. Programa de Pós-Graduação em Odontologia Preventiva e Social da FOAUNESP: uma experiência de 10 anos Pagliari, A. V.*, Saliba, N. A., Moimaz, S. A. S., Garbin, C. A. S. N o processo de formação e qualificação profissional na área da Saúde Coletiva, tão importante devido à escassez de recursos humanos, o Programa de Pós-Graduação em Odontologia Preventiva e Social 178 da FOA-UNESP completa 10 anos de implantação e apresenta sua evolução. Primeiro da área no estado de São Paulo, obteve sua aprovação em junho de 1993, após muito esforço, tendo seu planejamento iniciado em 1988. A primeira turma do curso de Mestrado ingressou em 1994, e em 1995, iniciava a primeira turma do curso de Doutorado. Nestes 10 anos, uma evolução significativa pode ser verificada pela demanda de candidatos aos cursos de Mestrado e Doutorado, oriundos de várias regiões do país, e também pela produção intelectual de seus docentes e discentes, com 30 Dissertações e 20 Teses defendidas. Os egressos estão vinculados a instituições de ensino públicas e privadas por todo país. Reconhecido e recomendado pela CAPES com conceito 4, o Programa foi estruturado para formar um profissional de saúde com perfil generalista, apto a desempenhar funções de ensino, pesquisa, extensão e administração, com prática de atuação comunitária, capacitado para analisar, planejar, executar e avaliar, em nível administrativo e operacional, projetos de Odontologia em Saúde Coletiva. As linhas de pesquisa compreendem Administração e Políticas Públicas de Saúde, Bioética e Saúde Coletiva, Ensino Odontológico, Prevenção e Educação em Saúde e Epidemiologia em Saúde Bucal. Todas as atividades desenvolvidas têm proporcionado resultados positivos, no município e na região, por meio da integração com os serviços locais de saúde, prefeituras municipais e também pelos trabalhos de pesquisa e extensão realizados no NEPESCO (Núcleo de Pesquisa em Saúde Coletiva), fundado pelo Programa, entre eles o Heterocontrole do Teor de Flúor nas Águas de Abastecimento Público dos 40 municípios da DIR VI-SP, Assessoria aos Municípios no Planejamento, Execução e Avaliação dos Programas de Saúde Bucal, Capacitação de Agentes Comunitários de Saúde, Assessoria na Implementação do PSF em 5 municípios de uma microrregião no Noroeste do estado de São Paulo: Bilac, Santópolis do Aguapei, Clementina, Piacatu e Gabriel Monteiro. O Programa proporciona também ampla integração com o curso de graduação em Odontologia por meio da participação conjunta do corpo discente em atividades relacionadas ao Serviço Extramuro Odontológico, Programas de Atenção Odontológica à Gestante, Prevenção de Câncer Bucal, Educação para Saúde Bucal (Municipal e Regional), Promoção de Saúde Bucal de Pré-Escolares no Município de Araçatuba e outros projetos. Além de todas estas atividades, espaços para discussão e troca de experiências Revista da ABENO • 5(2):155-207 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 são proporcionados pelos Encontros de Saúde Coletiva e Bioética promovidos pelo Programa. Todas estas contribuições e realizações evidenciam a importância deste, que é um dos poucos Programas de Pós-Graduação na área, formando multiplicadores de conhecimento para a saúde há 10 anos. 42. Levantamento epidemiológico como ferramenta para a gestão dos serviços de saúde bucal Fernandes, L. S.*, Biazevic, M. G. H. U m Curso de Odontologia estruturado segundo a filosofia de Saúde Coletiva deve incluir, em seu currículo, conhecimentos básicos em Ciências Sociais, Epidemiologia e Gestão dos Serviços de Saúde. A cada semestre, a Disciplina de Odontologia em Saúde Coletiva VIII da Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC), com o intuito de interligar esses elementos, realiza trabalho de campo onde se faz levantamento das condições gerais de vida e de saúde bucal em uma comunidade pré-definida. São realizadas visitas domiciliares, acompanhadas dos Agentes Comunitários de Saúde, para execução do levantamento epidemiológico das condições de saúde bucal pelos alunos e que fornece subsídios importantes para o conhecimento da realidade; permite também a definição de prioridades, que associado ao diagnóstico situacional, fornece base para realização de detalhado planejamento para fornecer assistência odontológica à comunidade. A partir dos dados levantados, é possível planejar custos, tempo clínico necessário para realizar o atendimento, bem como conhecer seu grau de complexidade. Nas diversas comunidades estudadas, observou-se que há boa cobertura da atenção básica, em detrimento dos serviços especializados. Ao apontar soluções ao gestor do município, os alunos constataram demanda reprimida por serviços especializados (especialmente na área de prótese). Como possíveis soluções para essa situação, sugeriu-se: 1) compra de serviços privados; 2) contratação de especialistas; e 3) parceria entre Município e Universidade. Segundo os gestores das comunidades estudadas, esta última sugestão apresentou maior viabilidade, principalmente ao considerar as questões financeiras. Concluindo, a epidemiologia não deve ser um fim em si mesma, mas uma ferramenta importante na gestão dos serviços de saúde, aliada ao conhecimento da realidade proveniente do vínculo criado pelo aluno durante todo o processo de visitas domiciliares. 43. Análise das Diretrizes Curriculares de Odontologia à luz do conceito de integralidade em saúde – encontros ou desencontros? Mattos, D.*, Aguiar, A. C. I nstituída como princípio do Sistema Único de Saúde (SUS) na Constituição de 1988, a Integralidade é um termo que vem sendo empregado nas discussões acerca da atenção a saúde dos brasileiros. Juntamente com o princípio de saúde como um direito de todos e um dever do Estado, busca-se hoje a oferta de serviços que tenham como base a visão integral dos seus usuários. Através dessas discussões sobre o modelo assistencial, emergem debates sobre o perfil dos profissionais necessários para essa forma de abordagem. Paralelamente, no setor Educação, mudanças inerentes à implementação da Lei de Diretrizes e Bases (1996) incluem a homologação de Diretrizes Curriculares para os cursos de graduação da área de saúde. Sendo atribuição constitucional do SUS o ordenamento da formação dos Recursos Humanos (RH) para a área de saúde, observa-se uma aproximação com o Ministério da Educação e surgem propostas conjuntas como o AprenderSUS, que visa a construção de práticas entre o SUS e as instituições de ensino superior orientadas pela integralidade da atenção, englobando a questão da educação permanente e a diversificação dos cenários de ensino-aprendizagem. Neste trabalho analisamos os sentidos atribuídos a integralidade na literatura especializada, buscando identificar suas repercussões no texto das Diretrizes Curriculares para o curso de Odontologia. Dessa forma o que se pretende com este trabalho é abrir para discussão as propostas de mudanças lançadas pelas diretrizes de odontologia e suas relações com as políticas de formação de RH para o SUS, através de análise propositiva acerca do que se busca para o perfil do profissional e de que maneira vêm sendo abordadas essas mudanças. 44. Laboratório de Psicologia aplicada à Odontologia: projeto de extensão para prática clínica Nicodemo, D. O sucesso profissional entendido como o uso da habilidade e preparo técnico, atrelados à qualidade das relações, requer uma formação humanista e generalista, portanto multidisciplinar. A Disciplina de Ciências Sociais Aplicadas à Odontologia - PSICOLOGIA (CSAO – PSICOLOGIA), ministrada na FOSJC - Revista da ABENO • 5(2):155-207 179 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 UNESP para os primeiros anos, é estruturalmente teórica. Na avaliação da Disciplina, pelos alunos, temse obtido resultados positivos e pedidos de que a psicologia se estenda por outros anos com uma prática, culminando com nosso interesse de viabilizar experiências enriquecidas de reflexões e abordagens humanistas durante a formação acadêmica. Considerando que a Disciplina de CSAO - PSICOLOGIA poderia oportunizar discussões, vivências e reflexões do conteúdo emocional suscitado pela prática clínica, durante os atendimentos, elaborou-se este projeto de extensão, chamado de Laboratório de Psicologia Aplicada (LAPA). O LAPA será oferecido aos alunos dos 2º, 3º e 4º anos do período integral porque além de subseqüente à prática clínica, esta extensão exigirá um tempo (que já é restrito para o integral) que inviabiliza, até o momento, a participação do noturno. As reuniões estarão sob responsabilidade e coordenação da Professora Responsável pela Disciplina de CSAO - Psicologia. Dado o enfoque multidisciplinar, é de interesse que haja participação de um professor da clínica envolvida. Professores de outras disciplinas poderão contribuir com questionamentos que se redirecionados, poderão gerar trabalhos de pesquisa e favorecerem a visão generalista e integradora do profissional de odontologia a ser formado. As reuniões serão de três tipos: Plenária, Científica e Estudo de Caso. Reunião de Plenária: discussões coordenadas, com todo o grupo, a respeito dos aspectos que suscitaram inquietações e/ou observações na prática clínica, e até mesmo dos próprios questionamentos dos alunos. Reunião Científica: estudo e discussão de textos e artigos de pesquisa para embasamento e aprofundamento dos temas originados nas reuniões de plenário. Reunião Estudo de Caso: apresentação de caso previamente inscrito pelo aluno, para estudo e discussão, devendo conter dados sociodemográficos; queixa do paciente; necessidades e plano de tratamento; “situação-problema” do aluno, em relação ao caso, envolvendo aspectos psicossociais da relação profissionalpaciente que é foco de interesse do Laboratório. Em se tratando de uma iniciativa da Disciplina de Psicologia, que transcende as paredes das salas de aula, poderá sofrer alterações em conformidade com as clínicas envolvidas e rotina dos alunos; cada turma terá seu livro ata na intenção de que a sistematização dos registros garanta não só o controle dos assuntos abordados como também a propagação dos temas para maior conhecimento e aprofundamento. O LAPA pode contribuir com o ensino odontológico visando 180 atuação nas práticas clínica e investigativa mais humanistas e integradoras. 45. Estágio Extramuros - Aprendizado multidisciplinar: Módulo Sorria Vila da Glória Schubert, E. W.*, França, C. M. C., Schramm, C. A., Vizzotto, D. T endo em vista a diretriz político-pedagógica, que enfatiza a formação de um cirurgião-dentista com atuação generalista e com uma visão humanista, o módulo Sorria Vila da Glória, inserido na disciplina de Estágio Extramuros, pretende despertar no acadêmico a sensibilidade para enxergar o paciente como um indivíduo complexo onde o contexto de sua inserção social é um determinante no desequilíbrio do processo saúde doença. Diante desta proposta, o módulo apresenta ao acadêmico-formando uma comunidade isolada, de restrito poder aquisitivo, onde o atendimento odontológico é precário, a água de abastecimento não é tratada nem fluoretada, e onde os cuidados preventivos da saúde oral praticamente inexistem. Os alunos integrantes da disciplina participam das atividades normalmente desenvolvidas pelo Programa de Extensão Institucional da UNIVILLE, merecendo destaque o atendimento curativo realizado à população escolar, com idade de 7 a 12 anos que apresentam CPOD elevado; atividades preventivas coletivas; e em especial a visitação domiciliar, onde podem observar o modo de vida da população, hábitos de alimentação e de higiene. Outra atividade de destaque no programa é a orientação preventiva prestada aos formadores de opinião que estão inseridos no seio da comunidade. Neste sentido, cabe aos alunos da disciplina de Estágio Extramuros a tarefa de preparar material e proferir palestras diferenciadas – conforme o público a ser atingido –, a partir de um conteúdo mínimo predefinido. Entre as palestras proferidas, merecem destaque aquelas que são direcionadas aos professores da rede de ensino local, onde a instrução é realizada de modo mais detalhado objetivando a disseminação das idéias de prevenção odontológica. Esta vivência permite aos acadêmicos, ao longo do período de 4 a 6 semanas de atividades, traçar o perfil destes pacientes (população), destacando a falta de cuidados preventivos, e o agravamento das doenças bucais que seguem o seu curso sem a interferência do cirurgião-dentista, registrando assim altas taxas de incidência e agravamento das doenças bucais (CPOD). O conjunto destas observações culmina na formação Revista da ABENO • 5(2):155-207 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 de um universo distinto daquele vivenciado pelos alunos nas clínicas da faculdade de odontologia, onde a população atendida, residente em Joinville, é contemplada por atividades preventivas e curativas coletivas, tornando-a integrante de um grupo onde as doenças bucais são até certo ponto controladas. O acadêmico, ao observar dois universos distintos, caracterizados pela presença ou ausência de medidas preventivas, consegue realizar uma análise crítica sobre as vantagens e conseqüências da implantação de programas preventivos, bem como pode vivenciar intercorrências na implantação de um atendimento odontológico com características preventivas e curativas. Como resultado o profissional recém-formado está mais qualificado para a implantação, avaliação ou ainda para a reorganização de programas preventivos odontológicos. 46. Proposta de um método de ensino-aprendizagem relacionado à biomecânica da Articulação Temporomandibular Luz, F. P.*, Martins Filho, C. M. A demanda cada vez maior de pacientes com sinais e sintomas de Disfunção Temporomandibular (DTM) e os profissionais respondendo a esta demanda por meio de vários tipos de tratamento denota claramente a deficiência de conhecimentos básicos necessários para a conduta profissional que estão intimamente relacionados a própria conceituação, diagnóstico e tratamento. Um dos pontos relevantes que deve ser abordado é a essência dos conhecimentos nas áreas básicas de Anatomia, Fisiologia e Oclusão. É visível a dificuldade por parte de acadêmicos e profissionais de entender como as estruturas anatômicas se inter-relacionam e os processos fisiológicos acontecem e/ou deixam de acontecer com o envolvimento da Oclusão. Para melhor compreensão do que é a Articulação Temporomandibular (ATM), buscamos por meio de cortes no plano sagital de cadáveres, gentilmente cedidos pela disciplina de Anatomia da Universidade do Vale de Itajaí (UNIVALI), evidenciar as estruturas anatômicas que estão intimamente ligadas à ATM. Foi realizado um processo de digitalização dos cortes anatômicos e logo em seguida utilizamos recursos de animação gráfica computadorizada, por meio de softwares específicos da área de webdesign, como o Flash MX versão 2004 (Macromedia) e o CorelDRAW versão 11 (Corel). O processo de animação gráfica consistiu em evidenciar todo o processo biomecânico de abertura e fechamento bucal em uma ATM, sem nenhuma presença de disfunção e/ou processos patológicos, demonstrando claramente os movimentos de rotação e translação da cabeça da mandíbula sob a fossa mandibular e tubérculo articular, interpostos pelo disco articular, evidenciando a própria ATM e os músculos Pterigóide Lateral Superior, Pterigóide Lateral Inferior e Pterigóide Medial que estão intimamente ligados aos processos acima mencionados. O intuito deste trabalho é facilitar o ensino-aprendizagem, facilitando a compreensão da biomecânica do complexo articular e muscular relacionados à ATM por parte de acadêmicos e profissionais de Odontologia, visando à educação continuada e complementação de disciplinas curriculares na graduação e pós-graduação dos cursos de Odontologia. 47. Atenção odontológica a pacientes portadores de necessidades especiais: uma experiência inserida no currículo de graduação Sari, G. T. A tualmente, a “inclusão social” dos indivíduos portadores de deficiência tem-se constituído em um tema de ampla discussão, especialmente entre profissionais das áreas da saúde e educação. No que concerne à atenção odontológica, ainda prevalece uma série de mitos que por muito tempo estigmatizaram os pacientes portadores de necessidades especiais como “impossíveis de serem tratados”. Em parte, esta realidade se deve à quase inexistência de cirurgiõesdentistas preparados para bem atenderem a estes indivíduos, preocupação apenas recente junto às universidades e escolas de saúde. Esta lacuna histórica, decorrente da insuficiência de cursos de educação continuada e aperfeiçoamento clínico nesta área de atuação, reflete-se em resultados como os encontrados por Lannes; Vilhena-Moraes (1988): menos de 10% de especialistas em Odontopediatria atendendo ou interessados no tratamento de crianças especiais. Percebe-se que, apesar de todos os avanços da odontologia como ciência, trabalhar com PPNEs ainda se apresenta como um desafio para a maioria dos cirurgiões-dentistas. Diante desta realidade, o Curso de Odontologia da ULBRA – campus Cachoeira do Sul, em parceria com o serviço de referência do SUS (implantado desde 1995), introduziu a prática desta especialidade como integrante opcional de seu currículo de graduação. Funcionando em nível de extensão universitária desde o mês de abril de 2004, o curso atende alunos da Escola Especial (APAE) do municí- Revista da ABENO • 5(2):155-207 181 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 pio bem como pacientes da cidade e região que procuram o setor de Saúde Mental do SUS. Os atendimentos acontecem em um turno semanal, sendo coordenados por professor habilitado em curso de capacitação específico. As equipes de trabalho são compostas por um máximo de dez acadêmicos matriculados nos dois últimos semestres do curso de Odontologia. A Universidade garante a gratuidade de todos os procedimentos, não havendo limite de idade para os pacientes atendidos. Busca-se sempre o atendimento integral do paciente, contemplando todas as suas necessidades dentro da área de abrangência das especialidades de odontopediatria, cirurgia, periodontia, dentística operatória, endodontia e alguns casos de prótese dentária. As condutas clínicas e as estratégias de atendimento são discutidas entre a equipe de acadêmicos e o professor coordenador em seminários de casos clínicos (dois por semestres). Partindo-se da premissa de que as habilidades técnicas necessárias ao profissional que se dedica a atender PPNEs em nada diferem daquelas adquiridas durante o período de sua formação acadêmica, a experiência vem conseguindo desmistificar o atendimento odontológico a esta população. Apesar de há pouco tempo implantada, é perceptível que as equipes de acadêmicos que dela participam estão ingressando no mercado de trabalho com a consciência de que o único prérequisito para atendimento do paciente especial é “especializar-se” em qualidades como paciência, dedicação, criatividade, amor ao próximo e espírito de solidariedade. 48. Experiências Didáticas Vivenciais na FOUSP Araujo, M. E.*, Crivello-Junior, O., Zilbovicius, C., Maltagliatti, L. N a formação do Cirurgião-Dentista, o estágio favorece a compreensão da realidade, propicia a aquisição de competência para a intervenção adequada e possibilita a investigação e a vivência de projetos teoricamente sustentados. Os estágios vivenciais fornecem ao aluno elementos metodológicos experimentais que lhe permitam conhecer in loco as diversas variáveis que o profissional de saúde lida em seu cotidiano, incluindo as questões voltadas à saúde coletiva e o processo saúde-doença. A Estrutura dos estágios é composta por: três fases: CONSTRUÇÃO CONCEITUAL, onde entram em contato com a proposta de estágio, incluindo uma elaboração conceitual de saúde coletiva, promoção de saúde, políticas de saúde e saúde bucal, que aborda os referenciais teóricos metodológicos que norteiam suas atividades prá182 ticas; EXPERIÊNCIA DE CAMPO que é desenvolvida em projetos de atenção e assistência em Saúde Bucal e REFLEXÃO, atividade final para a troca de experiências e avaliação das atividades. Para a conclusão do Curso de Graduação em Odontologia na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo o acadêmico deve cumprir 480 HORAS, no mínimo, de ESTÁGIOS VIVENCIAIS tendo por objetivo a complementação de sua experiência didática, aliando o conteúdo teórico recebido nas diversas disciplinas com uma capacitação vivencial num contexto diferente ao do ambiente acadêmico tradicional, apresentando um processo dinâmico e contínuo, que permite ao aluno, desde o 1º Semestre letivo, exercer um papel mais ativo na construção de sua identidade como profissional de saúde. Os estágios vivenciais obrigatórios contêm três grandes áreas de atuação: Saúde Bucal Coletiva e Educação em Saúde; Atividades Clínicas extramuros e Atividades Clínicas intramuro. Favorecer a compreensão da realidade, propiciar a aquisição de diferentes competências e possibilitar a investigação e a vivência de projetos teoricamente sustentados é passo fundamental para o aluno de graduação em Odontologia. 49. O candidato ao vestibular e o ingressante de Odontologia da FOUSP Araujo, M. E.*, Favoretto, D. T., Vilela, T., Crivello-Junior, O. A s informações referentes aos alunos que se interessam pela Odontologia e aqueles que são aprovados no exame vestibular são, hoje, mais uma ferramenta que deve ser utilizada pelas instituições. A adequada seleção de seu aluno ingressante assegura que boas condições de ensino se reflitam no bom aprendizado dos alunos no transcorrer do curso odontológico. Desta forma, continuamos a avaliar informações do aluno ingressante da Faculdade de Odontologia da USP. Neste momento avaliamos a origem dos candidatos e a origem dos ingressantes; as matérias que estão sendo fundamentais para a aprovação no vestibular e se, em relação ao gênero, há mais interesse para entrar no curso pelos homens ou mulheres e se esta proporção implica diretamente no resultado dos aprovados. Concluímos que há mais interesse por pessoas do gênero feminino para cursarem o curso odontológico, e são também elas que conseguem maior aprovação, ainda que esta relação seja diminuída na aprovação; há indícios que o bom rendimento na prova de física está sendo determinante na aprovação no vestibular de Odontologia da FOUSP. Revista da ABENO • 5(2):155-207 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 50. A implantação de um CEO na Universidade Estadual do Oeste do Paraná. A IES como prestadora de serviço e o CEO como campo de atuação para alunos de especialização e de estágio para alunos da graduação Naufel, F. S.*, Melo, M. M., Wlaker, M. S., Schmitt, V. L. A Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste, por meio do curso de odontologia e clínica odontológica, localizados no campus de Cascavel – PR, pleiteou o credenciamento, junto ao Ministério da Saúde, no programa Brasil Sorridente, e a implantação de um Centro de Especialidades Odontológicas – CEO, modalidade II, previsto nas portarias 1.570, 1.571 e 1.572/GM-MS de 29 de julho de 2004. O pleito fundamentou-se por entender que a Universidade atende os requisitos exigidos pelas portarias, comporta a absorção da demanda exigida e, ao se credenciar estaria cumprindo a função institucional de também se colocar a serviço da comunidade e atenta à demanda posta pela mesma. A cidade de Cascavel possui hoje gestão plena da atenção básica e sua oferta de serviços de saúde bucal é principalmente voltada a pacientes de 0 a 14 anos, ficando a atenção especializada, mesmo para esta faixa etária, sem atendimento. O curso de Odontologia da Unioeste formou sua primeira turma em 2001 e conta hoje com cursos de Especialização em Dentística, Endodontia, Odontologia em Saúde Coletiva, Prótese e Ortodontia; além de cursos de atualização nestas áreas. Na rotina do Curso de Odontologia da Unioeste já são realizados os procedimentos contidos nas portarias, mas os pacientes atendidos não são referenciados pelas UBS de Cascavel e demais municípios da abrangência da 20ª Regional de Saúde. Assim, o paciente é inserido em duas filas para ser atendido, uma na UBS e outra na Universidade. Ao propor o credenciamento, a Unioeste manteve contato com o gestor municipal e representante da Regional de Saúde, para o estabelecimento de uma nova rotina, com a possibilidade de se criar um sistema de referência e contra-referência entre os serviços. Muitas dificuldades estão sendo vivenciadas para a implantação do CEO e, entre elas, a exigência do Ministério de que o atendimento não poderia ser realizado por alunos de graduação, mas por profissionais. Inicialmente, foi programado o atendimento desta demanda nos cursos de pós-graduação, às quintas, sextas e sábados. Ao propor a concentração dos atendimentos nestes dias, cumprindo a demanda e as horas/atendimento mínimas, previstas nas portarias, houve negativa do Ministério. A saída se deu por meio de pactuação entre Unioeste, Município de Cascavel e 20ª Regional de Saúde, partes estas que se mostraram interessadas em manter o pleito. Na frustração de contratação de Profissionais pelos gestores municipais, estadual e IES em curto prazo, a UNIOESTE, estrategicamente, ofertará um curso de Especialização em Clínica Odontológica, com Ênfase no SUS, gratuito, para os profissionais dos serviços públicos. Desta maneira, os gestores liberarão seus profissionais algumas horas/semana do serviço para o cumprimento das atividades do curso, que acontecerá de segunda a sexta-feira e assim os profissionais cumprirão a demanda do CEO. Esta é a experiência da Unioeste na implantação de um CEO, uma perfeita articulação ensino/serviço. 51. Avaliação da disciplina de Odontologia Preventiva e Sanitária em um curso de graduação Moimaz, S. A. S.*, Zina, L. G., Presta, A. A., Saliba, O. D iscussões sobre reestruturação curricular dos cursos de odontologia são fundamentais para implantação de mudanças, visando a formação adequada de recursos humanos para o setor saúde. As diretrizes curriculares propostas pelo MEC não foram ainda implementadas em muitas faculdades. A avaliação tem papel fundamental no processo de construção de projetos pedagógicos, destacando-se o aspecto formativo que pode exercer sobre os alunos e o desenvolvimento de programas. O “feedback” dos alunos é de grande importância para se obter dados de desempenho profissional, representando uma fonte indispensável de informações sobre pontos de afirmação e ruptura dos processos de formação. A disciplina de Odontologia em Saúde Coletiva tem trabalhado para buscar a superação das contradições dentro do próprio curso de Odontologia, capacitando os alunos para uma identidade real, visando num processo político permanente, a promoção da saúde ao invés de somente prestar serviços com foco nas doenças. A Faculdade de Odontologia de Araçatuba–FOA/UNESP permanece com seu currículo baseado em disciplinas no curso de graduação. Os autores neste estudo buscaram colaborar nas discussões sobre avaliação de processos de aprendizagem por meio da aplicação de uma metodologia qualitativa na disciplina de Odontologia Preventiva e Sanitária. Para tanto, foi utilizada Revista da ABENO • 5(2):155-207 183 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 como metodologia a técnica de associação de palavras, preconizada por Bardin. O teste foi aplicado após o término da disciplina nos alunos do 3º ano integral do curso de graduação da FOA/UNESP. Foi solicitado aos alunos (n = 68) que associassem três palavras em uma ficha, livre e rapidamente, a partir da seguinte questão: “O que representou a disciplina de Odontologia Preventiva e Sanitária para você?”. Uma vez reunida a lista de palavras (n = 204), procedeu-se a análise descritiva de conteúdo. Num primeiro momento foi realizada aproximação semântica, reunindo-se palavras idênticas, sinônimas ou com mesmo nível semântico. A seguir foram classificadas unidades de significação, nas quais foram identificadas as seguintes categorias: “aspectos relacionados à saúde” (prevenção, promoção de saúde) - 31,4%; “conteúdo da disciplina” (informação, qualidade de ensino) - 19,2%; “caráter social” (comunidade, coletividade) - 19,2%; “forma de condução da disciplina (dedicação, competência)” - 13,2%; “interação ensino-exercício profissional” (colaboração, trabalho) - 12,7%; “aspectos negativos” (demora, dispersão) - 3,0%; “aspectos positivos” (importante, necessária) - 1,5%. O teste mostrou-se útil e eficaz na avaliação da disciplina, revelando diferentes estereótipos nas percepções dos alunos, predominantemente vinculados à categoria saúde, muitos deles partilhados pelo grupo. Ao estabelecer um diálogo com os alunos, cria-se a possibilidade de estudar o impacto da disciplina mais profundamente, sendo a avaliação o instrumento necessário para a verificação de seus objetivos e a orientação para a reformulação de sua prática. 52. Representação social de acadêmicos de Odontologia sobre a área de Odontologia Social e Preventiva Moimaz, S. A. S.*, Casotti, C. A., Garbin, C. A. S., Saliba, O. A concepção tradicional do currículo odontológico dividido em disciplinas, caracterizado pela segmentação e esfacelamento do conhecimento, com fronteiras e limites claramente estabelecidos, não foi capaz de aproximar o profissional formado da realidade do sistema nacional de saúde. Ainda hoje muitas instituições de ensino não implementaram as reformas curriculares, de forma a adequar seus currículos, de acordo com as diretrizes curriculares propostas pelo Ministério da Educação. No início da formação acadêmica os alunos dos cursos de odontologia são capazes de construir uma imagem da área de estudo de algumas disciplinas como da prótese, periodontia, odontope184 diatria, dentre outras, porém quanto à odontologia em saúde coletiva, há desconhecimento da área de atuação. Foi objetivo do presente trabalho, durante os anos de 2002, 2003 e 2004, conhecer a percepção previamente formada sobre a Odontologia Social, ou Odontologia em Saúde Coletiva, por alunos do 3º ano do curso de Odontologia da FOA – UNESP, que ainda não haviam cursado a referida disciplina. A cada ano, previamente ao início das aulas da disciplina, todos alunos presentes, regularmente inscritos, receberam um questionário constituído por uma única pergunta aberta: “Odontologia social é...”. Ao final de três (3) anos, foram apurados 195 questionários. Inicialmente fez-se uma leitura na íntegra de todas as respostas de uma forma rápida; em seguida novas leituras foram realizadas de forma criteriosa, considerando as partes significativas, de acordo com categorias pré-estabelecidas. Posteriormente, foram identificados as palavras-chaves e os trechos pré-codificados para cada uma das categorias. Foram calculadas as freqüências em que as palavras-chaves de cada categoria apareceram nos discursos. Os resultados demonstraram que: 37,9% dos alunos percebem como sendo objetivo da disciplina fazer a integração do profissional com a sociedade; 53,3% como sendo esta responsável por estudos de métodos preventivos; 24,6% por prestação de serviços assistenciais a populações carentes e 39,4% atuação em Saúde Bucal Coletiva. Conclui-se que na acepção de grande parte dos acadêmicos, o campo de atuação da Odontologia Social restringe-se a ações de cunho assistencial em populações carentes, com ênfase na prevenção das doenças que acometem a cavidade bucal. Estes dados demonstram que a noção dos acadêmicos sobre a área é bastante restrita, havendo necessidade do fortalecimento de ações interdisciplinares, como auxílio no processo de unificação do conhecimento, para que a formação seja adequada ao exercício profissional. Segundo as diretrizes curriculares a formação deve ser generalista, humanista, crítica e reflexiva, possibilitando a atuação em todos os níveis de atenção à saúde, com rigor técnico e científico, capacitando o profissional ao exercício de atividades referentes à saúde bucal da população. 53. Ensinar e aprender odontologia com a integração de uma equipe multiprofissional Lucena, M. G.*, Viana, S. B. P., Oliveira, M. A. M., Luciani, E. C. I mplantado em abril de 2004 o Programa de Humanização do Hospital Universitário Pequeno Anjo Revista da ABENO • 5(2):155-207 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 (HUPA) de Itajaí/SC tem como proposta o desenvolvimento de ações que promovam o acolhimento e a participação de cuidadores das crianças hospitalizadas. Uma equipe multiprofissional (fisioterapeuta, enfermeiro, psicólogo, nutricionista, fonoaudiólogo, farmacêutico, odontólogo, assitente social e pedagogo) formada por docentes, acadêmicos e profissionais que atuam no hospital planeja e organiza encontros diários com os cuidadores com vistas à promoção da qualidade de vida das crianças e suas famílias. O programa está dividido em duas etapas, a primeira já implantada é realizada diariamente no HUPA no período vespertino tem duração de 30 minutos e está centrada em ações educativas e preventivas. A Segunda etapa é desenvolvida junto a duas Unidades Básicas de Saúde correspondentes aos bairros que apresentam o maior índice de crianças internadas. O número de participantes varia conforme a demanda hospitalar, sendo que a média é de 10 cuidadores por dia. Até o momento foram realizados 162 encontros, com a participação de aproximadamente 509 cuidadores. Os temas trabalhados visam promover a autonomia e a autosustentabilidade tornando o cuidador disseminador destas informações. A partir da implantação do programa os cuidadores têm se sentido melhor acolhidos no hospital facilitando a relação entre família e profissionais da saúde. científica. No entanto, apesar de o Curso de Odontologia da UNIPLAC apresentar um quadro superior a 70 docentes, cerca de 20 destes atuam como orientadores, na sua maioria ligado a área de concentração do trabalho. Dentre os problemas diagnosticados na disciplina observam-se: em primeira instância, o desconhecimento do regulamento da mesma, o qual está embasado no regimento interno da Instituição; ausência de rigor científico em determinados projetos; falta de estímulo aos acadêmicos para elaboração do estudo; relação entre duplas de acadêmicos bem como, destes com seus orientadores. Frente ao exposto, caracterizam-se como principais desafios: estimular a multidisciplinaridade na elaboração e desenvolvimento dos projetos buscando agregar as áreas básicas; estimular que estes trabalhos realmente sejam publicados a fim de contribuir com o conhecimento para toda a comunidade científica; tornar a elaboração do trabalho de conclusão de curso algo prazeroso ao acadêmico, oportunizando uma experiência de organização e expressão do conhecimento, incentivando um posicionamento crítico, participativo e comprometido com uma atuação ética. 54. A experiência da disciplina de TCC do curso de Odontologia da Uniplac (SC) - diagnóstico e desafio Cavazzola, A. S.*, Masiero, A. V., Sá, G. B., Fernandes, S. R. O O trabalho de conclusão de curso (TCC) tem por objetivo geral propiciar condições necessárias dentro das normas técnicas que caracterizam a pesquisa científica. Dentro deste contexto, visa oportunizar ao acadêmico a vivência dos problemas do trabalho na Odontologia e aprofundamento no tema a ser desenvolvido, permitindo o aprimoramento teórico e/ ou prático. Em especial, a disciplina de TCC do Curso de Odontologia da UNIPLAC-SC é composta por 3 professores mestres, sendo 1 da área das Ciências Humanas e 2 graduados em Odontologia. Desde sua implantação, em fevereiro de 2003, trinta e oito trabalhos foram defendidos e vinte e seis estão em andamento. Um fator positivo verificado foi que aproximadamente metade dos trabalhos de conclusão de curso estão vinculados a grupos de pesquisa institucionais financiados por agências de fomento, o que favorece o desenvolvimento de pesquisas com rigor e relevância 55. Explosão Quantitativa X Qualitativa do Conhecimento Batista, A. M. R.*, Batista, L. R. V., Oliveira, J., Moreira, E. A. M. conhecimento é o principal fator de inovação disponível ao ser humano. Não é constituído de verdades estáticas, mas de um processo dinâmico que acompanha a vida humana. A transformação da ciência articulada às mudanças tecnológicas referentes à circulação da informação produziram o uso competitivo dos conhecimentos, uma modernização acrítica e pouco reflexiva. Embora esse conhecimento não seja produzido necessariamente na universidade, é dela que se originam os técnicos e pesquisadores que integram as instituições que estão no mundo do trabalho produzindo ciência e tecnologia. Os processos de avaliação da produção acadêmica, dos quais dependem a conservação do emprego e a ascensão na carreira, são baseados na quantidade de publicação de artigos e do comparecimento a congressos e simpósios, a quantidade de “pontos” obtidos por um pesquisador também depende de que consiga publicar seus artigos nos periódicos científicos definidos hierarquicamente pelo “ranking”, uma vez que a avaliação deixou cada vez mais de ser feita pelos pares e passou a ser determinada pelo critério da eficácia e da competitividade. Assim, quando o pesquisador se prepara única e ex- Revista da ABENO • 5(2):155-207 185 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 clusivamente para provas, dissertações, teses e quantidade de produção científica, sem a preocupação com o conhecimento e o saber reflexivo, poderá obter títulos mas não terá construído sua aprendizagem. Conclui-se que quando se fala do conhecimento é importante levar em consideração que a explosão quantitativa da informação deveria ser acompanhada de uma explosão qualitativa. 56. Bioética e Pesquisa com Seres Humanos Batista, A. M. R.*, Batista, L. R. V., Moreira, E. A. M., Bosco, V. L. O s avanços alcançados pelo desenvolvimento científico e tecnológico nos campos da biologia e da saúde têm colocado a humanidade frente a situações até pouco tempo inimagináveis. Se por um lado, estas conquistas trazem renovadas esperanças de melhoria de qualidade de vida, por outro criam uma série de contradições que necessitam ser analisadas responsavelmente com vistas ao equilíbrio e bem-estar futuro da espécie humana e da própria vida no planeta. A realização de pesquisas por profissionais da área de saúde envolve em grande parte seres humanos, tornando necessária a avaliação dos projetos de pesquisa antes da sua fase de execução, objetivando avaliar do ponto de vista ético, garantindo aos participantes da pesquisa integridade e dignidade. Os objetivos deste trabalho são: inserir o ensino da bioética nas universidades e fornecer uma visão geral sobre as diretrizes, normas e resoluções que norteiam a realização de pesquisas envolvendo seres humanos; descrever sobre as implicações sociais, econômicas, políticas e éticas do desenvolvimento biotecnológico. O presente estudo, se propõe a, através de uma revisão da literatura, tentar responder a conflitos do dia-a-dia das pessoas, para ajudar a estabelecer normas e compromissos capazes de vencer os desafios da fragilidade da vida da espécie humana. Os países em desenvolvimento têm se tornado, cada vez mais, local de pesquisa dos grandes laboratórios multinacionais. O objetivo maior da avaliação ética de projetos de pesquisa é garantir os princípios da autonomia, justiça, beneficência, não maleficência e eqüidade. Os documentos como as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos são importantes referências oficiais para os pesquisadores. A necessidade do ensino da bioética nas universidades e do cumprimento destas resoluções tem como objetivo primordial a proteção do ser humano na sua dignidade e integridade, fazendo com 186 que o desenvolvimento científico ocorra de forma ética. 57. Projeto DIBIOL (Digitalizador de Imagens Biológicas) Bertholdi, P. R.*, Schneider, C., Rodrigues, E., Koroll, L. O conhecimento acurado de anatomia humana é fundamental para qualquer procedimento na área de saúde. A capacidade de reconhecimento e memorização de estruturas anatômicas é somente desenvolvida após exaustivos estudos em atlas de anatomia, laboratórios de anatomia e treinamento em procedimentos cirúrgicos. Estes são métodos clássicos empregados até hoje nos cursos das áreas biológica e da saúde. No entanto observam-se fatores limitantes destes métodos como a dificuldade de se adquirirem peças anatômicas (cadáveres), o problema de conservação destes, o estudo através de imagens bidimensionais de estruturas tridimensionais, e a falta de oportunidades de estudo in vivo (durante cirurgias). Propõe-se, através deste projeto, desenvolver-se material didático em formato digital adicionando melhorias no método clássico de aprendizagem de anatomia e cirurgia, registrar e avaliar procedimentos cirúrgicos e necropsias e dominar o conhecimento tecnológico da Bioengenharia através da interdisciplinaridade entre as áreas como Biologia, Saúde, Informática, Mecatrônica, Engenharia Mecânica e Engenharia Elétrica. Utilizando-se o PMC (Princípio da Matriz Cilíndrica), proposto pelo autor, onde a captura das imagens digitais são feitas imaginando-se que um corpo humano esteja dentro de um cilindro virtual composto por uma malha (sistema cartesiano) dividida em quadros que no ângulo zero da circunferência seria desarticulado gerando uma matriz de imagens digitais. Cada imagem teria a identificação correspondente às funções matemáticas relativas ao posicionamento da estrutura robotizada nos seus graus de liberdade. O conjunto correspondente ao DIBIOL baseia-se em um robô composto de uma ESR (Estrutura de Suporte Robotizada) com 4 graus de liberdade, uma IC (Interface de Controle) de um conjunto de 4 motores de passo conectados ao controlador microprocessado, um CO (Controlador Operacional) desenvolvido em linguagens Assembler-Delphi-C++ para controlar os movimentos e registrá-los por um SMI (Sistema de Movimento Inteligente) e um BIBD (Banco de Imagens Biológicas Digitais) que armazenará a matriz de imagens. O DIBIOL responde inclusive a comandos por Revista da ABENO • 5(2):155-207 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 voz e executa automaticamente depois de treinado a varredura de regiões pré-determinadas. O desenvolvimento deste projeto e a construção do DIBIOL trouxeram a possibilidade de utilização de alta tecnologia através de uma visão simples da solução de um problema, que, comparada a trabalhos de pesquisa de entidades americanas e européias, obtém imagens naturais de estruturas anatômicas de boa qualidade e com baixo custo. As imagens obtidas por RM (Ressonância Magnética), TC (Tomografia Computadorizada) e outras têm como inconveniente a texturização artificial, pois seu processo ocorre a nível molecular enquanto o DIBIOL simplesmente fotografa as estruturas anatômicas expostas dando um aspecto mais realista para quem estuda anatomia. 58. Avaliação do desempenho do curso de Odontologia da Universidade Tuiuti do Paraná no Exame Nacional de Cursos – período 2000-2004 – conforme o conteúdo abordado nas questões Mattos, N. H. R. A detecção de eventuais problemas, relacionados ao processo Ensino-aprendizado, pode ser observada pelo desempenho dos alunos no Exame Nacional de Cursos conforme o assunto abordado, tanto nas questões objetivas, como nas dissertativas. Apesar da não garantia de ser o Exame Nacional de Cursos o melhor processo avaliativo para nossos estudantes, algumas informações podem ser úteis aos Coordenadores de Curso para análise do desempenho de conteúdos aplicados pelos docentes em seu curso. O presente trabalho objetivou avaliar o desempenho dos estudantes de Odontologia da Universidade Tuiuti do Paraná nos últimos cinco Exames Nacional de Cursos (Provão – ENADE) comparado ao desempenho de estudantes de Odontologia no âmbito nacional. Observando graficamente este desempenho, a Coordenação pôde verificar: 1. se o grau de dificuldade da questão foi observado tanto em seu Curso como no aspecto Nacional; 2. se houve divergências para mais ou para menos no desempenho específico do conteúdo; 3. a necessidade de sanar eventuais problemas de Ensino-aprendizado que se mostraram freqüentes ou repetitivos para determinados conteúdos (Disciplinas). Para tanto utilizou-se dos Relatórios de Curso enviados pelo Órgão avaliador para análise dos resultados, verificando, para cada questão ou grupo de questões, conforme os conteúdos abordados, os respectivos resultados obtidos pelos seus alunos, comparados ao âmbito nacional. Da presente avaliação pôde-se concluir que: 1. a maioria das Disciplinas do Curso de Odontologia da UTP acompanha a média do desempenho obtido por outros cursos no Brasil verificando que a dificuldade de determinadas questões são sentidas genericamente pela maioria dos cursos; 2. a ação em algumas Disciplinas resultaram efetivamente na melhoria do desempenho no ENC especificamente Patologia e Semiologia; 3. ações saneadoras deverão ser estudadas e aplicadas principalmente no que se refere às áreas de Ortodontia e Terapêutica. 59. Docência em Odontologia Gorini, F. V.*, Batista, S. H. S. S. O presente estudo teve como objetivo a análise das concepções relativas ao processo ensino-aprendizagem que têm orientado práticas pedagógicas de professores da disciplina de Odontopediatria da graduação em Odontologia. No âmbito dos objetivos específicos delineou-se: identificar e discutir concepções de ensinar, aprender e avaliar no exercício docente; mapear criticamente atributos de um bom professor de Odontologia e discutir significados que são atribuídos ao processo de formação docente no contexto da graduação em Odontologia. O referencial teórico adotado privilegiou interlocuções com pesquisadores para configurar aproximações históricas com o Ensino em Odontologia, bem como estabelecer uma inserção na Docência em Saúde e estabelecer uma discussão sobre o Professor de Odontologia. A metodologia compreendeu entrevistas semi-estruturadas. A análise temática deu-se a partir do entendimento do caminho de apreensão dos sentidos que compõem a ótica dos professores envolvidos. As concepções de aprendizagem abrangeram quatro eixos: processo de formação-desenvolvimento-crescimento; aquisição-retenção de informações, influenciada pelas características dos sujeitos que aprendem; um processo de troca e de relação com o ensino; processo de entendimento-compreensão. Já em relação ao ensino, os professores destacaram o ensino como relação de troca com o processo de aprendizagem; atividade intencional e planejada para favorecer a aprendizagem; demonstração da prática. A Odontologia é uma profissão que apresenta especificidades, o que, em parte, pode explicar esta concepção que vincula o ensinar ao fazer, mostrar. Assim, o docente emerge como aquele que demonstra, realiza, faz, na relação “mestreaprendiz”. No campo da metodologia de ensino, os professores referiram propostas de inovação no campo do Ensino da Odontologia, enfatizando a abertura Revista da ABENO • 5(2):155-207 187 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 a novas tecnologias, apropriação de estratégias mais participativas, centradas no aluno e problematizadoras da realidade. As práticas avaliativas foram situadas como desafio, evidenciando um foco de mudanças dos referenciais adotados. Ouvir professores de Odontopediatria, ler suas trajetórias, dialogar com os teóricos e produzir uma interpretação permitem afirmar a necessidade de novos estudos que envolvam outras áreas da Odontologia e outros cenários de formação, procurando configurar pesquisas que, efetivamente, contribuam para construir uma docência comprometida com um processo de ensino-aprendizagem rigoroso cientificamente, inovador, ético, crítico, instaurando novas referências para a humanização no ensino e na prática em Odontologia. análise crítica, de estabelecer relações, dentre outras habilidades. Apesar da predominância das aulas expositivas, observa-se, principalmente nas disciplinas profissionalizantes, a utilização de seminários e estudos de casos clínicos. Estas estratégias demonstram uma nova postura do professor-dentista identificada como odontologia baseada em evidências. Conclui-se que: a) houve uma evolução no que se refere à eleição de estratégias de ensino pelos professores, pois, além da aula expositiva, que assumiu a dimensão participativa, destaca-se a adoção da pesquisa de modo significativo; b) os norteadores filosóficos do curso estão sendo praticados, pois a pesquisa é concebida como um princípio educativo; c) as estratégias eleitas estão favorecendo a formação do perfil do profissional definido pelo curso. 60. Processo de ensino-aprendizagem e estratégias adotadas pelos professores: análise do curso de Odontologia da UNIVALI Uriarte Neto, M.*, Bottan, E. R., Imianowski, S. 61. O ensino da Odontologia no sistema educacional do estado de Santa Catarina Uriarte Neto, M.*, Bottan, E. R., Cruz, G. V., Valiatti, R. A A s estratégias de ensino são procedimentos didáticos selecionados pelo professor com o objetivo de facilitar o processo de ensino-aprendizagem de um conteúdo específico. A escolha dos procedimentos e recursos didáticos deve levar em conta que estas atividades possibilitem um processo dinâmico de construção e reconstrução do conhecimento. Atualmente, dispõe-se de uma grande variedade de estratégias, que permitem ao docente dinamizar suas aulas. Considerando-se as características próprias da formação do professor de Odontologia e o processo de Educação Continuada implantado na Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), desde 2000, optou-se pela realização de uma investigação para se identificar quais estratégias são mais adotadas pelos docentes do curso de Odontologia da UNIVALI. O estudo, do tipo exploratório-descritivo, teve como instrumentos de coleta dos dados: - questionário, com questões do tipo fechadas, aplicado aos acadêmicos do terceiro ao nono períodos; - observações assistemáticas das aulas; - análise dos planos de ensino de todas as disciplinas que compõem a matriz curricular. Da análise dos dados obtidos, identificou-se que as estratégias mais adotadas pelos professores são a pesquisa e a aula expositiva com a participação dos alunos e utilização de recursos audiovisuais. A aula expositiva é a estratégia mais antiga que, na dimensão dialógica, permite o questionamento, a interação teoria-prática e a participação ativa e crítica dos acadêmicos. A pesquisa desenvolve no aluno a capacidade de observação, de 188 educação superior no estado de Santa Catarina se constituiu num Sistema de Educação Superior, a partir da criação, em 1974, da Associação Catarinense das Fundações Educacionais – ACAFE. A ACAFE é uma entidade sem fins lucrativos, cuja missão é promover a integração dos esforços de consolidação das instituições de ensino superior por ela mantidas. A ACAFE tem por objetivos executar atividades de suporte técnico-operacional, representar as Instituições de Ensino Superior junto aos órgãos dos Governos Estadual e Federal, e congregar e integrar as entidades mantenedoras do ensino superior no Estado de Santa Catarina. O sistema ACAFE é composto por dois Centros Universitários, duas Fundações Educacionais e onze Universidades. Especificamente em relação aos cursos de Odontologia, seis, dos sete do estado de Santa Catarina, fazem parte da ACAFE: FURB, UNIVILLE, UNOESC, UNISUL, UNIVALI e UNIPLAC. Os cursos de Odontologia do sistema ACAFE são posteriores ao Curso de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina e tiveram naquele a principal referência e modelo no qual, inicialmente, basearam suas instalações e matrizes curriculares. A Odontologia do sistema ACAFE se caracteriza, filosoficamente, pelo paradigma da promoção de saúde, tendo-o como eixo norteador na formação acadêmica, que contempla um perfil profissional generalista, e contribui na definição dos fundamentos metodológicos dos cursos. No processo de formação, são práticas constantes, também, o investimento na pesquisa Revista da ABENO • 5(2):155-207 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 como princípio educativo, a inserção em projetos integrados de extensão, com participação de cursos da área da saúde e de outras áreas como ciências humanas, da comunicação e computação e prestação gratuita de serviços à comunidade local e regional. O sistema ACAFE tem favorecido a discussão entre os cursos de Odontologia do estado de Santa Catarina no sentido de potencializar recursos humanos e físicos, matrizes curriculares e ações de pesquisa e extensão a fim de apresentar as melhores respostas aos novos desafios trazidos pela Reforma Universitária e pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, conservando, no entanto, suas principais características. 62. Clínica de Oclusão - Ensino e Aprendizagem na Prática Martins Filho, C. M.*, Molleri, R. R., Luiz, B. K. M. O ensino da oclusão nos cursos de graduação em odontologia mostrou-se insuficiente para produzir conhecimento e técnica necessários à prática odontológica após a graduação. A carga horária teórica e prática insuficiente nos currículos, a dissociação do ensino das disciplinas básicas e falta de um protocolo claro de ação nos procedimentos são os principais responsáveis por essa baixa qualidade de ensino. Para superar essas dificuldades, foi implantado no curso de odontologia da UNIVALI em 1995 uma clínica de oclusão cujo funcionamento ficou suportado pelos seguintes requisitos: a) resgate de conhecimentos de anatomia, histologia e fisiologia; b) bases do atendimento sustentadas por investigação científica; c) estabelecimento de efetiva relação entre teoria e prática nos procedimentos; d) discussão em grupo, exercitada antes de qualquer procedimento; e) informação ao paciente com riqueza de detalhes sobre o plano de tratamento, precedendo qualquer conduta do tramento; f) o tratamento só é realizado após a obtenção de respostas a vários quesitos relativos ao diagnóstico e plano de tratamento; g) proservação do caso. Observou-se que estas estratégias racionalizaram a compreensão do assunto e permitiram o delineamento de uma lógica na realização do diagnóstico e condução dos tratamentos, entendimento das dificuldades e resolução de problemas com alguma complexidade pelos alunos do curso de graduação em odontologia de nossa Escola. Possibilitou ainda melhor formação na área de oclusão, melhorando o nível de conhecimento dos egressos do curso de graduação que freqüentaram durante um ano essa clínica. 63. Projeto de Extensão Universitária. Prevenção e tratamento das alterações bucais induzidas por quimioterapia e radioterapia Marín, C.*, Shein, P., Schein, M., Magnabosco, A. E. E ste projeto de extensão universitária foi realizado no setor de Oncologia do hospital Municipal São José, na cidade de Joinville, SC. Possibilitou aos alunos desenvolver atendimento a uma comunidade fora das clínicas da Universidade, trabalhando a parte educativa, preventiva e social, necessitando um resgate e uma integração dos conhecimentos de estomatologia, periodontia, cariologia, cirurgia, odontologia social e preventiva. Permitiu o estudo de patologias como as mucosites, alteração do fluxo salivar e cáries de radiação, as quais não são rotineiramente observados no atendimento clínico dentro da universidade. Além do trabalho integrando diferentes áreas da odontologia, proporcionou o trabalho integrado com diferentes áreas da medicina como a Hematologia, Oncologia pediátrica, além da enfermagem. Participamos de seminários junto à equipe médica do hospital, onde professores e alunos pudemos aprender com a equipe médica sobre diferentes patologias, assim como participar do planejamento dos tratamentos, levando deste modo a uma visão integral do paciente. Este tipo de trabalho levou a uma reflexão e análise da saúde bucal desta população, mostrando que existe uma vasta área para atuação dentro do ambiente hospitalar, a qual é ainda pouco explorada, levou à discussão quanto à necessidade de elaboração de protocolos de Higiene bucal para os pacientes ambulatoriais e internados, assim como de protocolos de atendimento clínico e o quanto estes trabalhos podem e devem ser realizados junto a outras equipes de trabalho. Quanto ao trabalho comunitário, participamos junto à rede Feminina do combate ao Câncer e a equipe de enfermagem, da campanha do dia Mundial de Prevenção ao câncer, onde os alunos tiveram contato com a população que procurava informações, além da elaboração de um painel pelos alunos. Por meio deste trabalho pudemos verificar a importância de se realizar um trabalho extramuros, o qual proporciona uma oportunidade diferenciada de aprendizado, de integração do conhecimento e o aprendizado do trabalho em grupos e multidisciplinar. Revista da ABENO • 5(2):155-207 189 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 64. Reestruturação curricular da Faculdade de Odontologia de Araraquara - UNESP Cruz, C. A. S.*, Montandon, A. A. B. Reitoria da Universidade, deverá ser implementado para os ingressantes em 2006, com a expectativa de melhor formação científica, técnica e humana de seus acadêmicos. A 65. Motivação – um exercício diário na relação professor-aluno Pietrobon, L.*, Fadel, M. V., Regis-Filho, G. I. s Diretrizes Curriculares Nacionais (Resolução CNE/CES nº 3, de 19 de fevereiro de 2002) definiram os objetivos e fundamentaram o planejamento dos Cursos de Graduação em Odontologia, cujo currículo possui base comum, a ser complementada pelas Instituições de Ensino Superior. Paralelamente, os princípios que nortearam a criação e a implementação do SUS foram também fundamentais na definição das Diretrizes. Para atender a esta nova demanda, é necessário um profissional generalista, tecnicamente competente e com sensibilidade social. O objetivo deste trabalho é mostrar a dinâmica do Conselho de Curso de Graduação da Faculdade de Odontologia de Araraquara – UNESP durante o processo de reestruturação do curso, bem como os resultados alcançados. Assim, para melhor atender ao perfil ideal de profissional a ser formado, as disciplinas foram redistribuídas ao longo de 10 (dez) semestres letivos, permitindo seqüência mais adequada, melhor sedimentação de conteúdos e participação em atividades complementares. As sugestões quanto a série, subdivisão de assuntos e número de créditos foram devidamente tabuladas e discutidas em reuniões do Conselho de Curso, durante os anos de 2002 e 2003. Os conteúdos programáticos essenciais para o curso de Odontologia (Ciências Biológicas e da Saúde, Ciências Humanas e Sociais e Ciências Odontológicas), assim como as atividades de estágio curricular e complementares, foram agrupados em Núcleo de Formação Básica, Núcleo de Formação Específica e Estágio Supervisionado. A clínica por disciplinas (Formação Específica) manteve o seu lugar, mas o ensino deverá ter ênfase interdisciplinar. A integração de conteúdos clínicos, coluna mestra das Diretrizes Curriculares Nacionais, será viabilizada pelo Estágio Supervisionado. Disciplinas Optativas e Atividades Complementares trazem, em seu conteúdo, a forte característica da integralidade de atendimento ao paciente, permitindo, ainda, a flexibilização do currículo e a incorporação de tecnologia ao tratamento odontológico. O Trabalho de Conclusão proporcionará também flexibilização e, conseqüentemente, o aprofundamento de assuntos específicos. A carga horária mínima de cada aluno será de 4.875 horas, das quais 20% em Estágio Supervisionado. O processo de reestruturação, já aprovado em 2005 pela 190 M otivação é a força que estimula as pessoas a agir. A motivação humana é complexa e está baseada em uma combinação de expectativas, idéias, crenças, sentimentos, esperanças, atitudes, valores que iniciam, mantêm e regulam o comportamento. Fatores diversos como experiências prévias, falta de conhecimento, não aceitação de problemas, diminuição da auto-imagem, circunstâncias sociais, econômicas e situações emocionais podem determinar comportamentos negativos em relação à saúde e ao aprendizado. Muito se discute sobre a motivação na mais diferentes áreas do conhecimento, no entanto, em relação e na relação professor-aluno e dentro do contexto da educação em saúde há a necessidade de uma observação mais focada, já que a motivação deve ser uma constante e bilateral força estimulando o professor à disposição e engajamento, e o aluno à compreensão e ao apreender. Em relação ao ensino-aprendizagem em Odontologia devemse buscar mudanças no paradigma do ensino (transmissão do saber) atual, ainda baseado em um sistema tradicional em que o relacionamento é vertical e a comunicação unilateral, para um modelo pedagógico crítico-social em que há um desenvolvimento da prática social, formação cultural e consciência crítica tornando o relacionamento horizontal, com uma comunicação informal, via grupo, estimulando a motivação de participação tanto do professor quanto do aluno. 66. O cirurgião-dentista egresso da UNIVALI, em atuação em Santa Catarina, como se insere na Saúde Pública? Blatt, J. A.*, Bottan, E. R., Zumblick, M., Holetz, R. O curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), implantado no primeiro semestre de 1990, foi o segundo curso de Odontologia em Santa Catarina. Transcorridos mais de dez anos, o panorama relativo ao mercado de trabalho da Odontologia, em Santa Catarina e no Brasil, sofreu transformações. No Brasil, conforme dados do Conselho Federal de Odontologia (CFO), estão em funcionamento 161 cursos de Odontologia que, a cada ano, Revista da ABENO • 5(2):155-207 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 enviam para o mercado de trabalho cerca de 14 mil novos cirurgiões-dentistas (CD’s). Em Santa Catarina, são 7 cursos que, anualmente, formarão em torno de 470 CD’s, os quais se somarão aos 6.046 já credenciados no Conselho Regional de Odontologia (CRO/ SC). Portanto, a Odontologia do século XXI deverá passar por grandes mudanças para atender às transformações do mercado de trabalho, ou seja, às novas demandas frente aos paradigmas de atenção à saúde que vêm sendo desenhados em resposta ao novo momento sociocultural. Diante deste panorama, o curso de Odontologia da UNIVALI levantou informações referentes ao perfil profissional de seus egressos. Foi realizada uma investigação do tipo exploratório, enviando-se aos egressos do período 1994-2004, cadastrados no CRO/SC, um questionário com 28 questões do tipo fechado, distribuídas em informações sobre: a formação continuada, a atividade profissional, satisfação quanto à profissão, entre outras. O retorno foi de 33%. O grupo investigado ficou constituído, na sua maioria, por sujeitos do sexo feminino (57%) e da faixa etária de 27 a 31 anos (62%). Cerca de 63% já cursou uma pós-graduação, sendo 80% em nível de especialização e 19% de mestrado. As áreas de especialização mais cursadas foram Ortodontia (25%), Endodontia (18%) e Prótese (16%). Quanto à situação profissional, a maioria (49,6%) é liberal/autônomo e, apenas 1,6% atua somente em órgão público. Acumulando o trabalho autônomo com emprego em órgão público, são 26,4%, dos quais 40% atua como CD em Unidades Básicas de Saúde, 23% no Programa de Saúde da Família, 23% em Equipes de Saúde Bucal. Apenas 18% cumulam a atividade de CD com outra; sendo 59% no exercício da docência. E, 62% trabalham com algum tipo de convênio. Um altíssimo percentual (96%) encontra-se satisfeito profissionalmente. Com relação à satisfação financeira, o percentual de insatisfeitos é de, apenas, 19%. Comparando-se estes dados com a pesquisa nacional feita pelo CFO, em 2000, verifica-se que o perfil do egresso da UNIVALI é muito semelhante ao perfil do CD do Brasil. Conclui-se que a atuação do CD egresso da UNIVALI em empregos públicos é reduzida, o que nos leva a questionamentos como: Preparamos o acadêmico para atuar na saúde pública? Os órgãos públicos estão valorizando financeira e profissionalmente o CD? O que influi para que, num país com índices de saúde bucal preocupantes, com um elevado percentual de pessoas de baixo poder aquisitivo, a absorção do CD na Saúde Pública ainda seja pouco significativa? (Projeto Financiado pelo FAP/UNIVALI.) 67. Universidade e serviço público, a parceria que vem dando certo: a experiência do município de Rio do Sul (SC) Campos, M. L.*, Bottan, E. R., Paiano, J. A., Sebold, R. O Programa de Educação e Saúde Bucal de Rio do Sul (PROESASUL) foi instituído pela Lei Municipal 2.641/90, que garantiu a introdução, no currículo das escolas de Primeiro Grau, da temática Saúde Bucal, bem como de ações diárias de escovação dental, bochechos com flúor e revelação de placa bacteriana. As atividades são desenvolvidas de forma individual e coletiva, de diferentes complexidades, conforme a faixa etária. O planejamento e a execução das ações se pautam numa metodologia participativa. Mensalmente, a equipe de saúde participa da reunião pedagógica promovida pela Secretaria da Educação. E, anualmente, a equipe de saúde oferece cursos sobre a temática da Saúde Bucal para professores. Além destas reuniões, periodicamente, são realizados encontros com os pais dos escolares. Para auxiliar no processo de ensino-aprendizagem, foram elaborados materiais instrucionais. A atuação do professor, como promotor de saúde, envolve as seguintes ações: - orientação e acompanhamento de escovação e de bochechos fluoretados, diariamente; - acompanhamento, semanal, dos procedimentos de revelação de placa bacteriana; - exposição dialogada sobre um tópico de Saúde Bucal, mensalmente; - inserção do tema saúde bucal, como um tema transversal, no currículo. A participação dos cirurgiõesdentistas (CD) ocorre, trimestralmente, através de avaliações das condições de Saúde Bucal dos escolares. O Programa, proposto pelo Departamento de Odontologia da Prefeitura de Rio do Sul, além de estabelecer parceria com a Secretaria de Educação daquele município, desde a sua implantação, também, mantém parceria com a Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), desde 1998 e com a Universidade para o desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí (UNIDAVI), mais recentemente. Mediante estas parcerias, tem-se viabilizado a aproximação das agências formadoras de recursos humanos com serviço público, havendo uma troca constante de conhecimentos entre os sujeitos envolvidos. Estas parcerias têm fortalecido o Programa e, dentre outros fatores, têm propiciado a continuidade das ações educativo-preventivas do Programa. Revista da ABENO • 5(2):155-207 191 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 68. A inserção da Odontologia no Programa de Saúde da Família: análise da realidade dos municípios do litoral norte catarinense Campos, M. L.*, Bottan, E. R., Campos, L., Fantini, K. A s questões relativas à saúde têm concentrado a atenção de diversos segmentos da sociedade. A difusão do ideal de saúde, como bem universal e desejável a ser atingido, coloca uma série de inquietações e desafios aos diferentes setores que direta ou indiretamente estão envolvidos com a saúde. No Brasil, estas inquietações resultaram na implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) e, posteriormente, do Programa de Saúde da Família (PSF). A partir do ano 2000, o Ministério da Saúde tem destinado incentivo financeiro para a reorganização da atenção à saúde bucal, mediante a inserção de Equipes de Saúde Bucal (ESB) no PSF. No entanto, ainda que os preceitos e as normatizações propostos pelo Ministério da Saúde para a inclusão, estruturação e funcionamento das ESB’s no PSF contemplem diferentes aspectos técnicos, desde a implantação até a avaliação dos serviços, operacionalizar e viabilizar a proposta é, sem dúvida, um grande desafio. Dentre os principais obstáculos a serem enfrentados estão: a ausência de indicadores da eficácia dessa modalidade de atenção à saúde da população, as dificuldades inerentes à proposta da prática interdisciplinar e as questões de capacitação, perfil profissional e gerenciamento de serviços e recursos nos municípios. É no processo de incorporação da Odontologia no PSF que residiu o objeto desta investigação: analisar a atuação da ESB no PSF dos municípios da 17ª Secretaria de Desenvolvimento Regional/SC. Aplicou-se um questionário aos gestores municipais e cirurgiões-dentistas que atuam nas equipes. Dos 11 municípios que integram a 17ª SDR, 8 já implantaram ESB, sendo todas de modalidade I. A maioria está em funcionamento a menos de 1 ano, possuindo área de abrangência definida e estando ligada a apenas uma Equipe de Saúde da Família (ESF). A maioria dos CD’s que atuam nestas equipes trabalha mediante contrato de prestação de serviços, com remuneração de 5 a 10 salários mínimos. Em 50% das ESB ocorre pouca ou nenhuma ação em conjunto com a ESF, apesar dos profissionais de saúde bucal participarem com freqüência das reuniões da ESF. A atuação da ESB se concentra no atendimento curativo e preventivo, com algumas atividades educativas, atra192 vés de palestras e orientações a grupos específicos. O acesso ao serviço é por demanda espontânea, atendimento de urgência e atendimento de escolares. Na maioria, a avaliação das ações é feita por reuniões com os membros da ESB e relatórios de produção. Portanto, o modelo de atuação da Odontologia no PSF não avançou com relação à interdisciplinaridade e ainda apresenta-se muito semelhante ao modelo tradicional de atuação curativista. É urgente, portanto, que as Universidades estimulem o trabalho interdisciplinar e multiprofissional, durante o processo de formação do CD, quer seja pela via do ensino e/ou pela via da extensão. (Projeto Financiado pelo Programa de Pesquisa PIPG/UNIVALI.) 69. Serviço Ambulatorial e Hospitalar em Cirurgia e Traumatologia BucoMaxilo-Facial Bremm, L. L.*, Tanaka, F. Y., Hoeppner, M. G., Tanaka, R. A. A Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial é a especialidade que tem como objetivo o diagnóstico e os tratamentos cirúrgicos e coadjuvantes das afecções, traumatismos, lesões e anomalias congênitas ou adquiridas do aparelho mastigatório e anexos, bem como das estruturas craniofaciais associadas (Conselho Federal de Odontologia, CFO 155/84). Trata-se, portanto, de uma especialidade Odontológica, como prevê este regulamento do CFO, somente executável por cirurgiões-dentistas com especialização na área, constituindo inclusive, cadeira obrigatória no currículo de graduação. Compreende uma grande diversidade de procedimentos, desde tratamentos realizados em âmbito ambulatorial, como pequenas cirurgias de afecções do sistema estomatognático, principalmente as de origem dentária, até mesmo cirurgias reparadoras e funcionais, realizadas sob anestesia geral. Neste grupo, incluem-se a cirurgia ortognática, os traumatismos e as cirurgias de reconstrução facial, sendo estes últimos tratados com enfoque multidisciplinar. A busca constante do aprimoramento de nossas organizações objetiva a melhoria das condições de vida da população. O serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial apresenta aos alunos de graduação do curso de odontologia da UNIPAR os atendimentos que são realizados em âmbito hospitalar e ambulatorial pelos especialistas da área, pois o seu serviço de saúde é parte integrante do serviço de saúde total, sendo assim, a Odontologia deve fazer parte dos hospitais modernos para integrar-se com as outras Revista da ABENO • 5(2):155-207 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 atividades médicas, estabelecendo uma relação multidisciplinar. A realização de tratamento de complexidade superior, mostrando aos alunos do curso de odontologia casos mais complexos e que são da alçada do cirurgião-dentista em âmbito hospitalar, bem como o relacionamento multidisciplinar despertam no acadêmico a certeza de que a odontologia faz parte integrante de uma área médica como especialidade reforçando assim a amplitude da odontologia, bem como traz também muita satisfação para aqueles que pensavam em fazer um curso de medicina. 70. Serviço de atenção à saúde bucal dos pacientes que procuram a UOPECCAN (União Oeste Paranaense de Estudos e Combate ao Câncer) da Cidade de Cascavel Bremm, L. L.*, Tanaka, F. Y., Lopes, L. C., Furlaneto, E. C. D entre as doenças sistêmicas que podem acometer a cavidade bucal, o câncer deve ser considerado um problema de saúde pública e merece atenção especial no que diz respeito às medidas de prevenção e diagnóstico já instaladas, devido aos seus altos índices de mortalidade e morbidades observados, não só no Brasil, onde registram-se 90.000 mortes/ano, como em várias partes do mundo que somam 4 milhões de óbitos (GENOVESE et al., 1998). O câncer de boca ocupa posição de destaque entre os tumores malignos do organismo devido a sua relativa incidência e mortalidade. Segundo estatística publicada em 1996 pelo Ministério da Saúde (PRO-ONCO), o câncer de boca no homem acaba sendo o 6º lugar entre as neoplasias malignas mais incidentes. Assim, considerando a relevância desses dados, torna-se interessante alertar a população sobre o que é e como se previne o câncer bucal, tentando alterar estas estatísticas. A participação dos acadêmicos neste projeto possibilita o contato com pacientes submetidos a tratamento radioterápico envolvendo a região de face. Assim sendo, os acadêmicos poderão dar assistência de cuidados com a higiene oral e agregar conhecimento dos efeitos que a radioterapia pode ter na homeostasia da cavidade bucal. Este projeto permite que os acadêmicos tenham contato em primeira mão com pacientes que apresentam câncer bucal em região de face e pescoço, desta maneira eles terão condições de participarem de tratamentos e decisões que envolvem cuidados especiais. Esta participação, indubitavelmente, torna- se importante para despertar a conscientização de que o tratamento preventivo é fundamental para o bom prognóstico dos casos. 71. Triagem: a base do tratamento bucal integral. Relato da experiência do curso de Odontologia da Univille Andrades, K. M. R.*, Ávila, L. F. C. O curso de odontologia da Univille é, essencialmente, voltado para a promoção de saúde de forma a proporcionar a formação de um profissional generalista apto a realizar o tratamento bucal integral do paciente. As atividades clínicas são divididas de acordo com o grau de complexidade das necessidades de tratamento apresentadas pelos pacientes, a saber: clínica de baixa complexidade (3º ano), clínica de média complexidade (4º ano) e clínica de alta complexidade (5º ano). O objetivo é que o aluno realize um tratamento odontológico integral do paciente, restaurando ou mantendo a sua saúde bucal. A triagem representa um papel chave neste processo, pois encaminha pacientes de acordo com uma lista de complexidades de tratamento elaborada pelo corpo docente das atividades clínicas. O paciente é encaminhado baseado na sua mais alta complexidade de tratamento. Essa triagem permite ao aluno elaborar um plano de tratamento completo e adequado para cada paciente, compatível com seu grau de conhecimento e habilidade. A triagem, no curso de Odontologia da Univille, é uma atividade didática realizada por alunos do 4º ano, sob orientação direta do professor responsável. Nesse dia o aluno tem a oportunidade de examinar, em média, 6 pacientes por período, ampliando a sua capacidade de diagnóstico clínico e planejamento do tratamento. Os pacientes com dor, são encaminhados para o serviço de urgência, que funciona integradamente com as clínicas de média e alta complexidade. Atualmente os pacientes são encaminhados para o serviço de triagem do curso pelo SUS, através dos cirurgiões-dentistas que trabalham nos ambulatórios da Secretaria Municipal de Saúde de Joinville. No momento da triagem, os pacientes são orientados pelos alunos sobre o tratamento, rotinas do curso e prevenção do câncer bucal. Os pacientes que tiveram seu tratamento concluído e receberam alta são retriados para proservação do seu tratamento e, se necessário, reencaminhados para uma das clínicas integradas. Esse processo é extremamente importante pois permite que o Revista da ABENO • 5(2):155-207 193 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 aluno, desde seu primeiro contato com o paciente, já tenha uma visão do tratamento integral de forma a possibilitar a restauração ou manutenção da saúde bucal além de humanizar o atendimento odontológico. 72. Estágio Extramuros - Aprendizado Multidisciplinar: Módulo “Centrinho” França, C. M. C.*, Schramm, C. A., Vizzotto, D., Schubert, E. W. A chegada de um bebê com fissura lábio-palatina a uma família sempre constitui motivo de receio para os pais, que temem não oferecer à criança o que há de melhor para a sua total reabilitação física e mental, além de colocar à prova todo o equilíbrio psicossocial da família. O curso de odontologia da UNIVILLE, seguindo a diretriz político-pedagógica de ensino, enfatiza a formação de um cirurgião-dentista com atuação generalista, com visão humanista e com treinamento para atuar em equipes multidisciplinares. Dentro desta premissa, a disciplina de Estágio Extramuros - Módulo Centrinho proporciona ao acadêmico o contato com pacientes portadores de fissura lábio-palatina, lábio-fissurados e familiares, e com a equipe multidisciplinar que atua na reabilitação destes pacientes. O município de Joinville (SC), sede do “Núcleo de Pesquisa e Reabilitação de Lesões LábioPalatais”, mais conhecido como “Centrinho”, presta atendimento especializado e multidisciplinar aos pacientes portadores de fissuras lábio-palatais oriundos de diferentes cidades do estado. O Núcleo reúne – em uma unidade – profissionais de várias especialidades médicas e sociais, que, através da atuação integrada, potencializam resultados e promovem saúde, recuperando física e psicologicamente pacientes e familiares. As fissuras de lábio, de palato e de lábio e palato têm prevalência relativamente alta em todas as raças humanas e são popularmente conhecidas como “lábio leporino” ou “goela de lobo”. A incidência média de fissurados encontrada na cidade de Joinville (SC) é de 1,24 para cada mil nascidos vivos, semelhante a outras incidências mundiais. Esta elevada incidência justifica a importância da capacitação dos futuros odontólogos ao atendimento de pacientes com necessidades tão específicas. A criança fissurada pode sofrer uma série de seqüelas por toda vida, podendo ter alterações funcionais na sucção, deglutição, mastigação, respiração, fonação, audição, além de problemas emocionais e estéticos. A atuação da equipe multidisciplinar na reabilitação dos indivíduos portadores de 194 fissuras lábio-palatais tem como objetivo tornar o paciente apto a se integrar no meio socioeconômicocultural, como um indivíduo ativo. O papel do Centrinho, junto com a Faculdade de Odontologia da Univille, através da Disciplina de Estágio Extramuros, é de extrema importância na orientação dos pais de pacientes fissurados lábio-palatais, a fim de tranquilizá-los e fornecer-lhes informações sobre o tratamento adequado para que este bebê seja estimulado e seu crescimento e desenvolvimento ocorram de maneira integral. O aluno além de observar a atuação específica dos diferentes profissionais observa a importância desta atuação multidisciplinar para o paciente, tornando-o mais apto para o trabalho em equipes multidisciplinares, além de lhe oferecer uma visão diferenciada da atuação do cirurgião-dentista. 73. Estágios extramuros - aprendizado multidisciplinar: módulo Ancianato Bethesda Schramm, C. A.*, França, C. M. C., Schubert, E. W., Vizzotto, D. C om o elevado crescimento da população idosa no Brasil, é necessário capacitar os profissionais da saúde para a realização de atendimentos em Ancianatos, domicílios e Hospitais, na intenção de melhorar a qualidade de vida destes pacientes mediante reabilitação, manutenção e promoção de sua saúde oral. O estágio Extramuros módulo Ancianato Bethesda acontece dentro das dependências do referido Ancianato que mantém 130 idosos residentes e que com sua proposta de “promover vida” mantém também uma escola para Técnicos em Gerontologia Social. O objetivo deste módulo é delinear níveis de treinamento onde o aluno possa observar e interagir multidisciplinarmente, sempre numa postura holística frente ao indivíduo, desenvolvendo habilidades para diagnóstico, planejamento e tratamentos curativos, preventivos, paliativos e promoção da saúde bucal de pacientes odontogeriátricos institucionalizados; e ainda no desenvolvimento de programas de treinamento e motivação à higienização oral dos idosos e cuidadores. Tal interação visa também despertar à realização de projetos de iniciação científica, concernentes a esta comunidade específica. O Estágio é de periodicidade semanal, conta com a presença de um professor supervisor e uma equipe constituída de 5 a 6 alunos do 5º ano de Odontologia que permanecem no módulo de 4 a 6 semanas. O atendimento é realizado em consultório fixo convencional e também com equipamento portátil para atuar em pacientes frágeis Revista da ABENO • 5(2):155-207 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 com dificuldades de deslocamento, proporcionando não só saúde oral aos pacientes idosos residentes, mas também motivando e orientando cuidadores da Escola de Gerontologia inserida no Ancianato, que irão aplicar seu aprendizado nos idosos de suas comunidades de origem, disseminando o conhecimento odontológico preventivo. Esta atividade acadêmica diferenciada desperta o aluno ao mercado emergente da odontogeriatria e à necessidade da busca constante da educação continuada, capacitando o formando a reconhecer os condicionantes socioeconômicoculturais que interferem no modo de vida destes pacientes com características tão específicas que afetam diretamente os índices epidemiológicos e determinam medidas específicas de promoção da saúde com uma postura holística multidisciplinar. 74. A educação interativa no Curso de Odontologia da Universidade do Sagrado Coração com as novas tecnologias de informação Sgavioli, C. A. P. P.*, Sequeira, E., Carvalho, I. M. M., Marta, S. N. A evolução das tecnologias de comunicação associada às mudanças em relação ao papel do professor no processo ensino-aprendizagem levou nos últimos anos os educadores à busca de meios e técnicas para o conhecimento sobre a maneira adequada de inseri-las ao ofertar a Educação. Isto acontece em todos os campos de saber e na prática da Educação para a formação de profissionais de saúde já começou em algumas áreas. Na Odontologia o processo está em instalação. Os docentes do Curso de Odontologia da Universidade do Sagrado Coração, sabedores de que vale a pena trabalhar no sentido de buscar e abrir novas possibilidades para o ensino na área, estão se empenhando na geração de conhecimento a partir da utilização das TICs. Durante a graduação de um cirurgião-dentista é possível a inserção da Educação a Distância para se trabalhar muitos conteúdos. Por se tratar de profissão com grande necessidade de desenvolvimento de habilidades e competências para atividades práticas no atendimento direto ao ser humano fica clara atualmente a necessidade da mescla de atividades a distância e práticas supervisionadas presenciais de atividades laboratoriais e clínicas. Além de conteúdos teóricos elaborados de maneira a facilitar e propiciar o aprendizado do aluno mediado por tecnologias é possível também, com a utilização de mo- dernas iconografias, a construção de objetos de aprendizagem em 3D de todo o sistema humano, em especial o sistema estomatognático demonstrando a anatomia, a fisiologia dos tecidos e suas possíveis alterações estruturais e patológicas. Todo este material e ainda a possibilidade do uso das TICs para a transmissão ao vivo de procedimentos operatórios, para realização de vídeo ou teleconferências são também recursos úteis para uso na EaD em Odontologia. A utilização de modelos mais abertos, flexíveis e ricos através de recursos tecnológicos possibilita a interação baseada nestes recursos disponibilizando o controle do conhecimento ao próprio aluno, que passa a definir suas estratégias de apreensão do conhecimento. Neste novo modelo de prática de ensino o essencial é o docente estar preparado para a correta escolha da ferramenta, do software, da plataforma de ensino, da metodologia de ensino, do “design” do material, do tipo de tecnologia, do método de avaliação, etc. adequados ao conteúdo que pretende desenvolver (e envolver) pela EaD; sendo necessária para isto a interação com uma equipe de profissionais de outras áreas tais como informática, pedagogia e “design”. A busca constante de conhecer e inserir-se na Tecnologia Educacional poderá levar a docência na área de Odontologia ao processo educativo da Educação Aberta. 75. Estágio de Docência – uma experiência pedagógica em promoção de saúde Fadel, M. A. V.*, Pietrobon, L., Regis-Filho, G. I. A s disciplinas de Estágio Supervisionado I e II são campo de estágio de docência do Programa de Pós-graduação em Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina, Mestrado em Odontologia, área de concentração em Saúde Coletiva. Os mestrandos participam durante dois semestres das disciplinas de estágio supervisionado I e II, perfazendo o total de 144 horas de estágio. Todos os mestrandos ficam sob a supervisão e avaliação de um professor da disciplina, devendo participar de reuniões, elaborar e corrigir provas, orientar e corrigir projetos de atividades, ministrar aulas teóricas, elaborar material didático e atender alunos extraclasse e acompanhar os alunos de graduação durante as atividades nas instituições conveniadas com a universidade. De acordo com a UNESCO, os quatro pilares da educação para o presente século são: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. O estágio de docência permite trabalhar dentro deste contexto Revista da ABENO • 5(2):155-207 195 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 e contribui para transformar os paradigmas atualmente sedimentados e fundamentados na promoção de doença (visão curativa) e não na promoção de saúde. O estágio supervisionado contribui sobremaneira para a formação de profissionais comprometidos com a promoção de saúde, propiciando aos futuros docentes uma rica experiência pedagógica. 76. O uso da metodologia problematizadora na Educação em Odontologia Fadel, M. A. V.*, Ribeiro, D. M., Rauen, M. S., Prado, M. L. D iante das constantes mudanças ocorridas na nossa sociedade, grande ênfase tem sido dada às questões que cercam o processo de ensino-aprendizagem, especialmente no ensino superior. Com as exigências colocadas pelo mundo contemporâneo são requeridos dos educadores novos objetivos, habilidades e capacidade de percepção de mudanças. Constata-se que a pedagogia tradicional, que está baseada na transmissão de conhecimento, na importância do conteúdo e na experiência do professor, e sua metodologia têm sido insuficientes para enfrentar as realidades atuais. As necessidades humanas e o compromisso de transformação social não aparecem na seleção dos conteúdos e na metodologia. Assim, o ponto central das discussões tem girado em torno da defasagem entre a formação acadêmica e a realidade. É fundamental que alunos e professores interpretem a realidade para nela poderem intervir, já que todo processo educativo precisa ser uma prática transformadora, tanto do indivíduo quanto da realidade em que este se insere. Nesse contexto, este trabalho discute a metodologia problematizadora na odontologia que, baseada em outra concepção de homem e de mundo, supera a relação vertical da educação, estabelecendo uma relação de diálogo, possibilitando a formação de um profissional crítico e capaz de identificar os determinantes sociais mais amplos que condicionam a sua prática. 77. Projeto de Assessoria Acadêmica do Curso de Odontologia da UNIPAR Miura, C. S. N.*, Bombonatti, J. F. S., Ceranto, D. C. F. B., Tanaka, R. A. O acadêmico, ao ingressar na Universidade, depara-se com uma realidade diferente à encontrada 196 no ensino médio. Acostumado a estudar apenas por apostilas e por métodos mnemônicos somente para memorizar conteúdos para o concurso vestibular, ele encontra grandes dificuldades de adaptação, principalmente nos cursos da área de saúde que apresentam um grande volume de informações. Surpreendidos pelo volume de informações, agem defensivamente num vale-tudo para a obtenção das notas. Apesar de saberem que este não é o melhor caminho, desconhecem outros métodos, perpetuando a “tradição” da prática de fotocópias de cadernos, slides, transparências como material bibliográfico e a grande dependência das informações de aulas teóricas e práticas como única fonte do saber. Tal prática resolve o problema do aluno a curto prazo, mas não forma o profissional capacitado a aprender. Falta-lhe o aprender a aprender. Muitas vezes, o acadêmico tenta reverter o quadro, dedicando-se à leitura de pesados livros, elaborando seus próprios esquemas e resumos, mas em ações esporádicas, porque o estudo se tornou uma tarefa extremamente fastidiosa e extenuante. A aquisição do conhecimento, através de aulas e livros, quando carece de métodos eficazes, causa aversão ao aluno. Muito tempo é dedicado às informações técnico-científicas, e quase nenhum, à forma de otimizar a obtenção de tal conhecimento. Muitos descobrem empiricamente as melhores formas de estudar, mas outros sofrem as conseqüências destas dificuldades, resultando num pior aproveitamento do curso. É nesse contexto que este projeto de ensino vem auxiliar os alunos que apresentam dificuldades a desenvolverem métodos e comportamentos que facilitem o aprendizado. Assim, logo após as avaliações referentes ao primeiro bimestre os acadêmicos que apresentaram desempenho insatisfatório nos domínios cognitivos, psicomotores e afetivos são convidados a participarem do primeiro encontro, onde o objetivo principal é o autodiagnóstico de cada um: “Qual é o meu problema?”, e a elaboração de um contrato, onde são definidos direitos e deveres dos participantes, firmando o compromisso tanto dos docentes como dos acadêmicos envolvidos no projeto. Os demais encontros são agendados durante o ano letivo, no início e término de cada bimestre, buscando sempre a discussão de fatores motivacionais ao estudo, orientando e estimulando os acadêmicos a melhorarem seu aproveitamento, e em conseqüência, a qualidade do curso. O projeto tem demonstrado contribuir para a auto-avaliação do acadêmico desde o início do ano, quando ainda há tempo de resgatar o conteúdo que não teve bom aproveitamento, Revista da ABENO • 5(2):155-207 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 reduzindo os índices de reprovação e contribuindo no processo de educação continuada. 78. Oficinas de Planejamento ClínicoIntegrado Miura, C. S. N.*, Ceranto, D. C. F. B., Bombonatti, J. F. S., Gomes, V. E. O diagnóstico e planejamento são partes fundamentais na obtenção de bons resultados no tratamento odontológico e, em muitos casos, o planejamento apresenta-se tão complexo quanto a própria execução dos mesmos. Os casos complexos envolvendo três ou mais especialidades odontológicas apresentam-se como desafios maiores ao planejamento por parte dos acadêmicos. Tal fato se deve pelas oportunidades limitadas para executar e exercitar o planejamento dos pacientes por eles atendidos seja por inexperiência nos primeiros anos do curso ou pelo relativo pequeno número de pacientes atendidos durante a vida acadêmica. Dada a natureza e o tempo consumido no atendimento odontológico, previamente ao projeto, o acadêmico planejava somente os casos por ele atendidos. No projeto “Oficinas de Planejamento Clínico-Integrado” são realizados tão somente os planejamentos, permitindo-lhes experimentar uma casuística mais diversificada, dado o maior número de planejamentos realizados. O projeto conta com a participação de todos os acadêmicos do último ano do curso de Odontologia da UNIPAR, em datas previamente agendadas. O paciente é recebido e são realizados: a anamnese, exame físico e clínico, o preenchimento do odontograma e periograma, realização de exames radiográficos e moldagem necessários à elaboração do diagnóstico e plano de tratamento. O acadêmico, sob orientação de docentes da Clínica Integrada elabora um ou mais planos de tratamento posteriormente apresentados ao paciente. O caso poderá ser executado pelo próprio acadêmico ou direcionado ao setor de triagem para reencaminhamento a acadêmicos de segundo ou terceiro anos. Esta atividade apresenta-se como um estágio preliminar à implementação do Currículo Integrado, de forma que os acadêmicos de segundo e terceiro ano, que têm menor fundamentação teórico-prático para o planejamento, sigam um caso já planejado; e que os acadêmicos de quarto ano, com menores dificuldades na execução de procedimentos e maiores no planejamento, exercitem-no intensivamente. Os resultados preliminares obtidos foram: a construção um banco de casos minuciosamente planejados, um direcionamento mais adequado de casos ao aprendizado dos acadêmicos de segundo e terceiro ano e a melhora nas habilidades de planejamento dos acadêmicos do último ano do Curso de Odontologia da UNIPAR. 79. Ensino de Técnicas de Cirurgia em Mandíbula de Suíno Paza, A. O.*, Kricheldorf, F., Andrades, K. M. R. O ensino da técnica cirúrgica em Odontologia é motivo de dificuldade e de discussão entre docentes. O emprego de língua bovina para a realização de técnicas de diérese e síntese é amplamente utilizado por diversas escolas, assim como a utilização de ratos, rãs e cães em Farmacologia e Fisiologia. Uma dificuldade encontrada pelos docentes de Cirurgia Odontológica da Univille/SC foi a formulação de didática apropriada para o ensino de manobras de diérese e exérese aos alunos. Revisando a literatura, encontramos o suíno como animal de vasta utilização em cirurgia geral, como cirúrgias hepáticas, cardíacas e do sistema digestório, além de alternativa ao ensino da Cirurgia Odontológica. Estimulados pelo baixo custo e pela facilidade de obtenção das peças, há 2 anos passamos a utilizar as mandíbulas de suíno para o ensino e treinamento de incisões, divulsões, odontosecções, ostectomias, exodontias e suturas. Julgamos ser uma excelente alternativa para o ensino das manobras cirúrgicas, e é propósito deste trabalho apresentar esta metodologia aplicada ao ensino da Cirurgia Odontológica nos cursos de graduação. O emprego de mandíbulas suínas mostrou-se um excelente método de ensino das manobras de diérese, exérese e síntese em Cirurgia Odontológica no curso de graduação em Odontologia. 80. Levantamento sobre conhecimentos e atitudes tomadas por professores de 1ª a 4ª séries de escolas particulares do município de Lages frente à avulsão dental Ramos, I. F. A.*, Masiero, A. V., Tondello, R. O., Biavatti, T. L. O objetivo do presente estudo foi avaliar o nível de conhecimento e atitudes tomadas frente a avulsão dental por professores de escolas particulares do município de Lages que lecionam para alunos de 1ª a 4ª séries. Utilizaram-se para isso, questionários específicos contendo 5 perguntas, sendo 4 de múltipla Revista da ABENO • 5(2):155-207 197 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 escolha e 1 descritiva, sobre avulsão e pronto-atendimento. Inicialmente fez-se um levantamento do número de professores que foi de 91, constituindo assim a amostra do trabalho. Os questionários foram entregues por duas alunas do curso de graduação em Odontologia da Universidade do Planalto Catarinense aos responsáveis de cada escola explicando o objetivo do trabalho e também a forma como os questionários deveriam ser entregues aos professores. Após uma semana os questionários foram recolhidos e tabulados de acordo com uma grade de respostas previamente organizada. Os resultados demonstram que frente a um caso de avulsão, 61,4% guardariam o dente e encaminhariam a criança ao Cirurgião-Dentista imediatamente. Entretanto, 9,9% não saberiam como armazenar o elemento avulsionado; 88,5% acham que o reimplante é possível, mas apenas 18,5% realizariam o procedimento. E destes, a maioria realizaria de forma inadequada demonstrando a falta de conhecimento das pessoas sobre este assunto. Pode-se concluir que, apesar dos professores pesquisados apresentarem algum conhecimento sobre avulsão dental, eles não poderiam contribuir favoravelmente para o prognóstico do caso, podendo ainda, vir a interferir negativamente no futuro do tratamento. Isto mostrou a necessidade urgente de instituição de programas de prevenção e tratamento imediato para casos de avulsão. 81. Clínica Odontológica Universitária: Perfil e Expectativas dos Usuários e Alunos Silveira, J. L. G. C.*, Tiedmann, C. R., Linhares, E. A formação universitária na área da saúde, incluindo a Odontologia, tem sido alvo de constantes críticas, no contexto acadêmico, social e governamental, especialmente na perspectiva da humanização e do acolhimento, exigindo-se a adequação do perfil de formandos mais identificados com as necessidades da população e capazes de reverter o grave quadro epidemiológico do país, destacando-se nesse processo as diretrizes curriculares para os cursos de Odontologia (ABENO - MEC). O objetivo desta pesquisa é revelar dimensões da relação acadêmico-paciente na clínica odontológica universitária, descrevendo: perfil socioeconômico-cultural dos acadêmicos e dos usuários, as noções de responsabilidade e ética dos acadêmicos, a satisfação dos usuários com o atendimento e as expectativas desses sujeitos. A abordagem foi qualitativa, com técnica de entrevista não-diretiva entre usuários 198 (n = 57) e alunos matriculados na clínica integrada da 8ª e 9ª fases (n = 39). Para a análise dos dados quantitativos, referentes ao perfil dos acadêmicos e usuários, utilizou-se a comparação entre as freqüências relativas encontradas para os dois grupos. A análise qualitativa foi desenvolvida a partir da criação de categorias (resolutividade técnica; humanização do atendimento; satisfação) baseadas nos relatos. Resultados: 1) Perfil dos acadêmicos: 87% de 21 a 25 anos; 61,5% mulheres; 77% renda superior a 11 SM; 54% cursaram outro idioma; escolaridade dos pais 51% superior; profissão dos pais 59% profissional liberal/ empresário. Perfil dos usuários: 49% entre 31 e 50 anos; 65% mulheres; 80% renda até 4 SM; 3,5% nível superior; 17,5% cursaram outro idioma; 42% profissão doméstica remunerada ou não. 2) Expectativa dos acadêmicos: aprendizado técnico, humanização da relação paciente/profissional, resolução do problema e satisfação do paciente. 3) Expectativa do usuário: conclusão e resolutividade do problema; ser bem atendido. 4) Noções de responsabilidade ética como regras e normas profissionais. 5) Satisfação dos usuários: 98%. Há uma diferença socioeconômico-cultural significativa entre os acadêmicos e os usuários. A natureza da relação ainda é prioritariamente técnica, porém incorporando valores éticos como regra profissional (deontologia) na maioria dos casos. Há um forte reconhecimento da atuação dos acadêmicos, com elevada satisfação manifestada pelos usuários. A clínica universitária deve ser um espaço para o aprendizado técnico mas também para o desenvolvimento dos aspectos humano e social da relação com o paciente, procurando atingir os princípios do respeito à autonomia do usuário, da beneficência, e da justiça na relação paciente/profissional. 82. Estágio Supervisionado no Curso de Odontologia da UNIPLAC: um compromisso social com a realidade Busato, C. A.*, Cavazzola, A. S., Ampessan, F. B., Schütz, I. A disciplina de estágio supervisionado do curso de Odontologia da UNIPLAC é oferecida no nono semestre, conta com a participação de quatro docentes e um supervisor no setor de triagem. Neste estágio os alunos desenvolvem as atividades fora e dentro da Universidade. Cinco locais servem de campo de trabalho para os alunos, são eles: Irmandade Nossa Senhora das Graças, Centro Cultural, Colégio Industrial Revista da ABENO • 5(2):155-207 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 de Lages, Escola de Educação Básica Armando Ramos de Carvalho, Creche Sepé Tiarajú e o serviço de Triagem do curso de Odontologia. Os alunos desenvolvem atividades de promoção, prevenção e recuperação da saúde dos indivíduos que freqüentam estas instituições. Na Irmandade Nossa Senhora das Graças são beneficiadas 300 crianças na faixa etária entre 3 e 18 anos, no Centro Cultural, 90 crianças de 3 a 10 anos, na Crehe Sepé Tiarajú, 80 crianças na faixa etária de 4 meses a 6 anos, no Colégio Industrial de Lages, 500 adolescentes do ensino médio e na Escola de Educação Básica Armando Ramos de Carvalho, 300 do ensino fundamental. Com exceção da Escola Básica, os outros locais de estágio contam com consultório odontológico adequadamente equipado para que os alunos desenvolvam atividades curativas. No serviço de triagem os alunos estabelecem o plano de tratamento mais indicado para o paciente e fazem o encaminhamento para a devida disciplina. Cada local de estágio está situado em regiões diferentes da cidade de Lages e apresentam características particulares, sendo essenciais momentos de discussão e reflexão sobre os trabalhos desenvolvidos, nos quais geralmente são apontadas as dificuldades, os objetivos alcançados, os anseios dos acadêmicos e da comunidade que está sendo atendida. Nestes momentos de discussão são levantadas questões como a dificuldade de trabalhar com materiais diferentes daqueles utilizados nas clínicas da Universidade, o aspecto socioeconômicocultural que envolve estas pessoas, as questões éticas envolvendo o atendimento de menores sob a responsabilidade de professores, a falta de infra-estrutura para realização de procedimentos de promoção e prevenção da saúde bucal, a dificuldade de algumas pessoas de terem acesso aos serviços de saúde. Entretanto pontos positivos como o reconhecimento do trabalho dos acadêmicos pelos pacientes, comunidade e pelas Instituições atendidas foi gratificante, o acolhimento por estas Instituições, aprender a trabalhar com menos tecnologia, porém sem perder a qualidade ética e científica, são pontos fundamentais para o bom desenvolvimento do estágio supervisionado. Assim o acadêmico fica mais perto da realidade tanto do ponto de vista das condições de trabalho oferecidas pelo mercado atualmente, bem como da real condição de vida da população em geral, cumprindo assim o papel da “Universidade promotora de conhecimento, saúde e prestadora de serviço”. 83. Empenho dos acadêmicos do estágio supervisionado na promoção de saúde bucal em crianças de 0 a 6 anos de idade Busato, C. A.*, Cavazzola, A. S., Antunes, R. H., Chimello, R. A. A Creche Sepé Tiarajú está situada no bairro Passo Fundo no município de Lages (SC), freqüentam esta creche municipal cerca de 80 crianças de baixa renda, e com idade entre 0 e 6 anos. As crianças de 0 a 4 permanecem em período integral na creche e as de 5 e 6 ficam em período matutino ou vespertino. Nesta instituição são desenvolvidas atividades do estágio supervisionado, projeto de extensão (Sorriso saudável: criança feliz) e já foi desenvolvido um trabalho de conclusão de curso. Os acadêmicos realizam levantamentos epidemiológicos (ceo-d; IHO-s), palestras, escovação supervisionada, orientação de higiene bucal nos bebês, adequação do meio bucal nas crianças com maior necessidade e encaminhamento dos casos mais complexos para clínica de Odontopediatria da UNIPLAC. O projeto de extensão já vem sendo desenvolvido desde 2003, sendo renovado desde então. Neste local os acadêmicos têm contato com crianças que não têm acesso a serviços de saúde. Durante o desenvolvimento do Estágio Supervisionado a idade das crianças torna o trabalho mais desafiador para os acadêmicos, exigindo mais habilidade, paciência e conhecimento teórico a respeito de educação em saúde e comportamento infantil, sendo que a falta de participação dos pais dificulta o processo de promoção de saúde. Entretanto as atividades realizadas nesta Instituição são de extrema relevância pois hábitos saudáveis são inseridos na vida da criança precocemente, sendo a educação o fator preponderante para obtenção e manutenção da saúde bucal. 84. Construindo e reinventando tempos e espaços na educação odontopediátrica Costa, F. O. C.*, Fernandes, A. P. S., Amante, C. J. A s doenças periodontais juntamente com a doença cárie constituem as afecções de maior prevalência na cavidade bucal. Assim como a cárie, a doença periodontal pode também acometer crianças e levar à perda precoce de elementos dentais quando não tratadas adequadamente. Devido à raridade em sua ocorrência, muitas vezes estas doenças passam despercebidas pelo cirurgião-dentista, podendo acarretar a perda dental, devido ao elevado grau de severidade destas. Existe a Revista da ABENO • 5(2):155-207 199 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 necessidade de inclusão de um programa de promoção de saúde bucal em crianças internadas em enfermarias, tanto pelo alto grau de acometimento psicológico e orgânico, quanto pelas limitações ocasionadas pela situação. Sendo assim, este trabalho se propõe a realizar um projeto de extensão para a orientação de higiene bucal nas crianças internadas na enfermaria pediátrica do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina, utilizando o brinquedo como recurso mediador durante o atendimento odontológico. É certo também que a orientação de higiene bucal é um fator muito importante para a prevenção destas doenças, o que é muito relevante. Baseando-se nestes aspectos criou-se uma proposta de implantação de um projeto para a orientação de higiene bucal utilizando o brinquedo como recurso mediador em pacientes internadas na Enfermaria Pediátrica do Hospital Universitário – UFSC. No presente trabalho há a participação dos alunos da 5ª e 8ª fases do curso de odontologia, os quais são selecionados através de entrevista e avaliação de histórico escolar. Como objetivo tem-se a orientação de higiene bucal em crianças internadas na Enfermaria Pediátrica do Hospital Universitário – UFSC utilizando o “brinquedo” como recurso mediador para que haja uma melhor compreensão e entendimento, bem como orientação dos pais e/ou responsáveis, além da coleta de dados que possam contribuir para o desenvolvimento técnico-científico da instituição, e, criar uma integração entre os diversos profissionais que atuam no setor pediátrico do Hospital Universitário, permitindo uma maior troca de informação e de conhecimento em busca da melhor qualidade no atendimento e conseqüentemente na vida deste paciente. A viabilidade deste trabalho se deve ao material desenvolvido pelos professores e acadêmicos, além do material educativo como fitas de vídeo, cartazes ilustrativos e “kits” de higiene bucal gentilmente cedidos pela COLGATE e também pela Condor. Educação para a prevenção é a grande meta, sempre procurando uma interação multidisciplinar no processo ensino-aprendizagem. 85. A importância do processo de construção de estudo de caso nas atividades clínicas da disciplina de Odontologia para Pacientes Especiais da Faculdade de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí Patrianova, M. E. A odontologia hoje se vê muito envolvida com a complexidade em sua atividade diária. Além de 200 planejamentos bucais integrados com especialidades odontológicas, tem-se a relação com pacientes portadores de necessidades especiais, cujas ações odontológicas são interdependentes da condição/limitação sistêmica. O perfil do cirurgião-dentista da Faculdade de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí é de um profissional generalista, cujas ações humanizadas estejam sustentadas nos pilares de prevenção, educação e reabilitação. Inserida neste perfil, a disciplina de Odontologia para Pacientes Especiais procura apresentar uma visão desta complexidade bucal e geral através de aulas teóricas e de aplicação clínica. Dentre as atividades clínicas ressalta-se a técnica de estudo de caso, onde são trabalhados vários aspectos da abordagem ao paciente especial, sabendo-se que o aluno já dispõe de conhecimento científico acerca das problemáticas abordadas e pensamento crítico para emitir opiniões e conceitos e pode estar formulando e planejando ações integradas. O estudo de caso como processo torna-se então um recurso importante para sedimentar o aprendizado. No decorrer do atendimento clínico, o professor, mediador neste processo, sugere a melhor abordagem para o caso clínico, podendo ser observacional, intervencional ou de interrelação com outras áreas, sempre associando a condição geral com a condição bucal do paciente especial. O estudo de caso, após várias revisões, discussões, apreciações e encaminhamentos, é então definitivamente concluído, podendo conter fotos, tabelas e gráficos. Geralmente nesta fase o aluno já tem passado pela atividade de pesquisa monográfica do curso, facilitando a condução da atividade didática proposta. A apresentação dos trabalhos é feita através de recurso multimídia aos colegas e aberta ao público. Ao final, o conteúdo é inserido nas últimas avaliações da disciplina e os acadêmicos recebem um CDROM dos casos. A atividade de estudo de caso na graduação como processo oferece ao aluno condições de formular estratégias de ação e senso crítico a partir do contato com o seu paciente reforçando o conhecimento odontológico adquirido e inserido em uma situação nova que é a do paciente especial. O professor como mediador conduz a seqüência de construção do conhecimento, devendo ser não só um mero orientador, mas um questionador e formador de novas opiniões e conhecimento junto ao acadêmico, enfatizando sempre a visão interdisciplinar e transdisciplinar que envolve o paciente portador de necessidade especial. Dentro das necessidades atuais de integralidade na saúde, os objetivos desta técnica também reforçam necessidade de formação do cirurgião-dentista voltado para ações inter, pluri e transdisciplinares. Revista da ABENO • 5(2):155-207 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 86. Projeto de extensão da UNIVILLE com a comunidade – Projeto Semente do Sorriso Cruz, G. V.*, Schein, P. L., Coelho, M. H., Patussi, R. S. A Semente do Sorriso é um projeto de extensão do Curso de Odontologia da Universidade da Região de Joinville (Univille) em parceria com a Prefeitura Municipal de Joinville (PMJ) e Associação de Pais e Funcionários dos CEI (Centro Educacional Infantil) (APFA). Os alunos do 3º e 4º ano de graduação prestam atendimento odontológico curativo e atividades educativas e preventivas em crianças de 0 a 6 anos de idade matriculadas nas creches municipais de Joinville/SC. Este trabalho ocorre em um ônibus equipado com um consultório odontológico e médico, onde existe a integração dos alunos da odontologia com os alunos da medicina, disponibilizando assim, uma maior atenção à essas crianças. Este projeto tem como objetivos: *Prestar atendimento odontológico às crianças do CEI. *Propiciar aos alunos a prática de uma odontologia em saúde pública, onde os recursos mais sofisticados nem sempre estão disponíveis. *Incentivar os estagiários a participarem de trabalhos e pesquisa científica na Universidade. Após três anos de execução do projeto temos como resultado não somente uma diminuição da atividade da doença cárie nessa comunidade como também alunos comprometidos com ações de promoção de saúde e voltados para a pesquisa científica. 87. Estágios extramuros: aprendizado multidisciplinar Cruz, G. V.*, Schramm, C., França, C. M. C., Schubert, E. W. C onquistar um espaço no mercado de trabalho requer muito mais do que ser qualificado por uma instituição de ensino superior. Para o profissional obter sucesso, mais do que conhecer conceitos e dominar técnicas, precisa entender de “pessoas”. Há uma necessidade premente de despertar a sensibilidade para enxergar o indivíduo que está a sua frente, de entender o contexto em que está inserido, o momento em que ocorre o desequilíbrio do processo saúdedoença e o adoecimento propriamente dito. Assim, a academia, entidade formadora de recursos humanos, frente a esta nova realidade, detém a responsabilidade de fundamentar conhecimentos teóricos-práticos, bem como proporcionar atividades extracurriculares, preparando o acadêmico para tal. A diretriz do Pro- jeto Político-Pedagógico enfatiza a formação de um profissional generalista/humanista, com apurado senso crítico para intervir no momento correto. Assim, o Curso de Odontologia, mediante a Disciplina de Estágios Extramuros, desenvolve módulos específicos junto aos acadêmicos com o intuito de fundamentar o conhecimento do processo saúde-doença, aliando a teoria à prática. Também possibilita ao acadêmico vivenciar a rotina do dia-a-dia, em instituições com características completamente diferenciadas entre si e da vivida na academia. Os Estágios Extramuros são desenvolvidos com a presença de professores supervisores e periodicidade semanal. As equipes são constituídas de cinco a seis alunos do 5º ano de Odontologia e que permanecem em cada módulo por um período de quatro a seis semanas. Foram selecionados seis locais, levando em consideração características peculiares ao modelo de serviço, para contemplar o aprendizado do aluno. São eles: Núcleo de Pesquisa e Reabilitação de Lesões Lábio-palatais, Unidade de Atenção Básica, Equipe Saúde da Família, Ancionato Bethesda, Hospital Dona Helana, “Sorria Vila da Glória”. O conhecimento dos índices edidemiológicos, condicionantes socioeconômicos e culturais e dificuldades de um determinado público alvo são ferramentas que permitem fundamentar a equipe de cada módulo na eleição de medidas específicas de promoção à saúde, prevenção às doenças e recuperação do dano, adotando uma postura holística frente ao indivíduo e suas reais necessidades. Para atingir os objetivos propostos, o aluno necessita resgatar o conhecimento adquirido até então, somá-los aos fatores locais detectados e então elaborar uma proposta de saúde, adotando um novo olhar e postura, frente a especificidade daquela comunidade. 88. Métodos de avaliação de aprendizagem empregados no curso de graduação de Odontologia da FOA UNESP Ferreira, N. F.*, Saliba, N. A., Raphael, H. S., Gonçalves, P. E. H istoricamente, os métodos de avaliação de aprendizagem têm sido os mesmos, com aplicação de provas escritas, orais e práticas. No entanto são muitas vezes criticados pelos acadêmicos, porém muito pouco discutidas modificações da forma de avaliação. A avaliação dos métodos de avaliação está inserida em um contexto de extrema importância no processo de ensino-aprendizagem. Quando estes métodos são avaliados pelos próprios sujeitos que vão utilizá-los há Revista da ABENO • 5(2):155-207 201 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 uma análise crítica e conseqüentemente renovação e transformação desses métodos, para uma melhor fixação dos conhecimentos e formação de recursos humanos. Assim, julgar, examinar criticamente e fazer recomendações é criar condições para o desenvolvimento da qualidade educacional. O presente estudo visou identificar os métodos de avaliação empregados pelas disciplinas dos alunos de graduação em Odontologia da FOA – Araçatuba – UNESP e a percepção dos mesmos sobre os respectivos métodos. A população de estudo abrangeu os acadêmicos matriculados (n = 501) no curso de graduação em Odontologia da FOA – UNESP, Araçatuba - SP. Estes foram divididos em grupos de 4 a 6 (n = 86) para que o instrumento de coleta de dados, um questionário, fosse discutido e respondido. Os dados foram digitados e analisados pelo Sofware Epi Info 2000 versão 3.4. Os resultados mostraram que todas as disciplinas empregam a prova escrita, 44,0% a prova prática e minoria (18,2%) seminários; a nota final é obtida por média aritmética. No que tange à percepção dos acadêmicos em relação ao método de avaliação que trouxe maior contribuição para formação, 74,4% citaram prova escrita, 83,7% prova prática e 51,2% seminários. Já os métodos que não contribuíram na visão dos graduandos, foram: prova oral (18,6%) e trabalho escrito (39,5%). Observou-se que 91,9% das respostas foram negativas em relação à discussão dos métodos de avaliação entre docentes e discentes, além dos graduandos relatarem a intransigência por parte dos docentes na proposta de sugestões e críticas. Conclui-se que os graduandos em sua maioria estão de acordo com os métodos de avaliação empregados, que, no entanto, estão sendo colocados em prática de forma não pactuada. É importante ressaltar, portanto, uma proposta metodológica que visa desvendar a realidade para transformá-la; sua maior contribuição é a mudança de mentalidade, exigindo, dos atores envolvidos no processo educativo, a reavaliação de seus papéis, ressignificando coletivamente o processo de ensino-aprendizagem. (Apoio: CAPES.) 89. Seminários de Integração: Uma Experiência de Ensino Integrado na UFPB Duarte, R. M.*, Martins, F. A. P., Sousa, E. M. D., Barreto, R. C. O Curso de Odontologia da UFPB encontra-se atualmente em fase de implantação do novo Projeto Político Pedagógico, cuja construção foi norteada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais. A melhor caracterização da Integração dos conteúdos, ministra202 dos fragmentados nos componentes curriculares, ocorre nos componentes Seminários de Integração, que objetivam promover discussão a respeito das matérias desenvolvidas antes, durante e até mesmo nos semestres subseqüentes, e proporcionar aprendizado contínuo. Os Seminários de Integração encontram-se distribuídos ao londo do curso, do primeiro ao nono período. As atividades desenvolvidas neste componente curricular promovem a integração horizontal e vertical dos componentes integrantes do período correspondente, buscando superar a fragmentação do ensino e permitindo, conseqüentemente, a formação integral do aluno. A metodologia desenvolvida é a da problematização e correlação dos conteúdos abordados no período entre si; e com práticas futuras, centrada no discente, e desenvolvida através de seminários de situações-problema, casos clínicos e propedêutica. A construção de temas desenvolvidos se realiza com a participação de um professor-coordenador e dos docentes responsáveis pelas matérias inerentes ao tema selecionado para a discussão. Este componente curricular objetiva: enfatizar a importância da integração dos conhecimentos básicos abordados com os das ciências clínicas para que estas sejam desenvolvidas de forma plena e segura; estimular a participação ativa do aluno no processo de integração curricular para que possa desenvolver visão mais crítica e reflexiva da prática acadêmica; e enfatizar a importância da interdisciplinaridade e transdisciplinaridade para a compreensão da integralidade das ações. A Experiência com o desenvolvimento do componente curricular seminário de integração no Curso de Odontologia da UFPB tem acarretado maior integração do corpo docente do curso e proporcionado espaço para reflexão das práticas acadêmicas adotadas. Adicionalmente, tem proporcionado ao discente espaço para o desenvolvimento de espírito crítico e analítico da prática profissional com vistas à promoção de saúde. 90. Uma Proposta de Ensino Complementar da Odontologia Hospitalar em Disciplina Extramuro Kricheldorf, F. O campo da odontologia vem sendo ampliado nas mais diferentes áreas de atuação na saúde como um todo. Inclui-se o cuidado e assistência à saúde bucal em pacientes que se encontram sob tratamento em nível hospitalar. Com o passar dos anos e aprofundamento no estudo epidemiológico das diferentes doenças, nota-se sobremaneira a influência da manu- Revista da ABENO • 5(2):155-207 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 tenção no cuidado do aparelho estomatognático. Surgem conceitos e protocolos de atendimento nas comunidades com e sem acesso aos postos de atendimento de saúde. Tais conceitos definidos como “atenção básica à saúde” têm influência direta no custo financeiro dos gestores de saúde, nos seus níveis administrativos correspondentes. No entanto, sobra uma lacuna vazia nas situações em que pacientes internados a nível hospitalar podem quebrar todo um trabalho de base realizado nas comunidades, deixando a saúde bucal em segundo plano. Desta maneira, poderão surgir doenças que promoveriam a agudização da doença pela qual o paciente foi internado. Assim sendo, este trabalho apresentará uma metodologia simples para o atendimento, controle e manutenção da saúde bucal a nível hospitalar nos setores de maternidade, pediatria e Unidade de Terapia Intensiva (UTI) dando continuidade do trabalho realizado a nível ambulatorial pelas equipes de PSF e saúde como um todo, possibilitando sobremaneira a dissipação dos conceitos e cuidados da saúde bucal fortalecendo o aprendizado pelo acadêmico num campo extramuro. Assim sendo, este trabalho apresentará uma metodologia simples para o atendimento, controle e manutenção da saúde bucal a nível hospitalar nos setores de maternidade, pediatria e Unidade de Terapia Intensiva (UTI) dando continuidade do trabalho realizado a nível ambulatorial pelas equipes de PSF e saúde como um todo, possibilitando sobremaneira a dissipação dos conceitos e cuidados da saúde bucal fortalecendo o aprendizado pelo acadêmico num campo extramuro. micos (N = 500) do Curso de Odontologia da Faculdade de Odontologia de Araçatuba – Unesp, em relação ao ambiente educacional. Foi utilizado um instrumento, com questões, no qual o acadêmico expressava sua opinião de acordo com o grau de concordância. Os resultados (n = 280) mostraram que 46,1% concordaram com os estímulos voltados para atenção e participação nas aulas, 53,1% concordaram que seus professores são reconhecidos, 32,1% não concordaram intensamente e 9,0% mostraram-se indecisos. Em relação à grade horária, 42,8% afirmaram não concordar, relatando que é “pesada, muito grande e mal esquematizada”, e que não resta tempo para estágios extracurriculares. No que tange ao ambiente da faculdade ser flexível durante o ensino, 34,8% concordaram e 36,9% relataram indecisão. Grande parte dos discentes (50,3%) afirmaram que os docentes são humanos e pacientes, no entanto 29,1% afirmam que são autoritários. Conclui-se que, o ambiente educacional para os discentes está representado de maneira positiva em relação à qualificação de docentes e humanitarismo no entanto com restrições à carga horária, que na ótica dos acadêmicos poderia ser menor, restando tempo para atividades extracurriculares, o que atenderia às Diretrizes Curriculares. Sendo a educação um campo atravessado por múltiplos saberes, múltiplas implicações e diversos interesses, via de regra as mudanças ocorrem por normas ditadas, em detrimento das necessidades e dos desejos expressos por segmentos acadêmicos e sociais brasileiros. (Apoio: CAPES.) 91. Ambiente educacional na ótica do acadêmico de Odontologia Saliba, N. A.*, Saliba, O., Botacin, P. R., Ferreira, N. F. 92. Participação de alunos de Odontologia em atividades de educação em saúde nos Centros de Educação Infantil Pinto, L. M. C. P.*, Boer, F. A. C., Frossard, W. T. G., Scarpelli, B. B. A O avaliação do ambiente educacional pelos acadêmicos auxilia não somente um processo de tomada de decisões, como também de formação de consciência crítica, ato político intrínseco a qualquer projeto de educação sério e comprometido com a qualidade, e refere-se à determinação da eficácia global da entidade com o propósito de medir e interpretar os resultados ao término e após a conclusão do programa de um curso. O curso de Odontologia da FOA-Unesp é constituído por disciplinas, com regime anual e passa atualmente por um processo de reestruturação para atender às Diretrizes Curriculares. O presente estudo visou avaliar a percepção dos acadê- objetivo deste trabalho foi avaliar crianças dos Centros de Educação Infantil da UEL para desenvolver, nos alunos de graduação do curso de Odontologia, a capacidade de operacionalizar soluções dos problemas encontrados através do processo de educação permanente em saúde. O trabalho foi desenvolvido no Centro Odontológico da UEL e nos dois Centros de Educação Infantil (CEI) desta instituição. Participaram deste estudo 60 alunos da quarta série do referido curso e docentes da disciplina de Odontopediatria. Inicialmente uma reunião foi realizada com o objetivo de informar os educadores dos respectivos CEI a respeito do trabalho que seria desenvolvi- Revista da ABENO • 5(2):155-207 203 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 do e promover a integração de todos os participantes do projeto. Para a investigação direta da realidade nos CEI e conhecimento da saúde bucal foram avaliadas 249 crianças na faixa etária de 6 meses a 6 anos de idade. Os dados coletados foram registrados em ficha clínica e analisados com o propósito de operacionalizar soluções para a promoção de saúde bucal. Após análise dos dados encontrados os alunos buscaram informações por meio de levantamento bibliográfico, orientaram educadores dos CEI sobre hábitos de higiene bucal e alimentação, realizaram e ensinaram técnicas de escovação nas crianças, desenvolveram trabalhos educativos (cartilhas e jogos) com a finalidade de motivar as crianças a promover e manter a saúde bucal. Conclui-se que de acordo com a situação bucal das crianças dos CEI os alunos do curso de Odontologia foram capazes de desenvolver métodos educativos adequados para a promoção da saúde bucal dessa comunidade. 93. Avaliação da utilização do Cybertutor na construção do conhecimento na Odontologia Veronezi, M. C.*, Domingues, L. A., Pegoraro, C. N., Wen, C. L. O curso de Odontologia da Univeridade do Sagrado Coração, juntamente com a Faculdade de Medicina da USP, desenvolveu cursos “on-line”, chamados Cybertutor e utilizados como ferramentas educacionais no ensino da graduação. O Cybertutor (tutor eletrônico) é uma ferramenta interativa que permite o aprendizado de conceitos teóricos pois trata-se de um modelo construtivista estimulando o desenvolvimento da cognição, capacidade de expressão e síntese. É composto por um ambiente que contém fórum de debates e tutorização “on-line”, que permite aos alunos uma participação maior na discussão sobre o assunto, além de exercícios para avaliação de fixação dos conteúdos. A disciplina de dentística da USC utilizou esta ferramenta de ensino com os alunos como um primeiro contato com o conteúdo desenvolvido pela mesma. A classe foi dividida em dois grupos iguais (G1 e G2), sendo que o G1 teve o primeiro contato com o conteúdo em forma de aula expositiva tradicional e em seguida com o Cybertutor. Os procedimentos com o G2 foram invertidos, ou seja, primeiro contato com o Cybertutor seguido da aula expositiva tradicional. Desta forma, os dois grupos de alunos tiveram contato com as duas formas de ensino em 204 momentos alternados. O objetivo deste trabalho é mostrar a avaliação dos alunos sobre o método empregado, assim como a apreensão de conhecimento dos mesmos com o presente método. Os resultados obtidos a partir da avaliação aplicada mostraram que com relação ao aprendizado os dois métodos foram equivalentes, entretanto o tempo gasto para que os alunos entendessem o conteúdo sob a forma tradicional de aula expositiva foi consideravelmente menor para o G2 (Cybertutor antes da aula tradicional). 94. Nem tudo é estágio Senna, M. I. B.*, Lucas, S. D., Drumond, M. M., Werneck, M. A. F. O artigo versa sobre o Estágio Supervisionado, tratando-o como uma oportunidade fundamental de consolidação do espaço pedagógico capaz de enfrentar, positivamente, os desafios lançados pelas Diretrizes Curriculares para os Cursos de graduação em Odontologia. Mostra que não se trata de uma proposta nova, mas, uma luta pela transformação das práticas de ensino em cujas origens, e posterior trajetória, se encontram, desde os anos 70, o movimento de integração docente assistencial e a proposição do Conselho Federal de Educação, através da Resolução CFE nº 04 de 1982. Aborda o espaço dos serviços públicos de saúde e o mundo do trabalho como aspectos centrais de uma nova prática pedagógica, com potencial para, a partir de situações concretas do cotidiano dos serviços, se alcançar um perfil profissional com consciência crítica e capacidade de compreender a realidade e intervir sobre ela. Aponta para os riscos de se compreender – e confundir estágio com prática intramuros, cujos resultados não se constituem em avanços, mas, reprodução, sob o nome de Estágio, de práticas tradicionais, com ênfase em aspectos tecnicistas e biologicistas sem potencial para alcançar as mudanças propostas pelas Diretrizes Curriculares. Ao ressaltar a importância do estágio na formação profissional, os autores buscam estabelecer um diálogo inteligente com a ABENO, contestando algumas de suas posições expressas no artigo publicado em revista da entidade em 2002, intitulado “Diretrizes da ABENO para a definição do estágio supervisionado nos cursos de Odontologia”, em atitude que se propõe ao debate/diálogo. Aí, argumenta-se à luz de práticas já em andamento e que comprovam a eficácia desta modalidade pedagógica tanto para alunos, professores e Faculdades, Revista da ABENO • 5(2):155-207 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 quanto para os serviços e os profissionais que neles trabalham. Neste sentido, o artigo mostra a necessidade de uma ampla discussão, mais profunda e participativa, agregando o maior número possível de Faculdades de Odontologia, na constante construção do tema, enquanto diretriz/bandeira necessária, abraçada por todos os atores envolvidos com a formação em saúde bucal. processo ensino/aprendizagem no curso de Odontologia a utilização do Homem Virtual associada a ambientes virtuais de aprendizagem interativa redefine o papel do aluno que passa a ser parceiro e colaborador na construção de seu conhecimento. Projeto Homem Virtual, ferramenta no processo ensino/ aprendizagem para o aluno de graduação, pós-graduação e aluno egresso. Seu uso traz novos recursos e dinamismo no processo. 95. Projeto Homem Virtual associado à aprendizagem significativa em Odontologia Soares, S.*, Sgaviolli, C. A. P. P., Castilio, D., Wen, C. L. 96. Clínica Integrada do 10º semestre de Odontologia da UNIPLAC: Uma nova abordagem pedagógica Diez, G. F.*, Araldi, M. A., Galli, M. P., Derossi, C. A. P A retende-se mostrar a aplicação do Homem Virtual no Curso de Odontologia da Universidade do Sagrado Coração, em conteúdos das disciplinas Escultura Dental e Oclusão e Disfunção Crânio Mandibular. Através de ações de cooperação acadêmica-educacional entre USC e Disciplina de Telemedicina da Faculdade de Medicina - USP vem sendo desenvolvido o Projeto Homem Virtual na área do sistema estomatognático, desde o ano de 2003. O Homem Virtual representa um método de comunicação dinâmica e dirigida que reúne, de forma gráfica e interativa, uma grande quantidade de informações. A possibilidade de visualização em 3 dimensões, de estabelecer correlações anatômicas, de aplicar recursos de transparências e subtração (exclusão) de estruturas anatômicas, e inclusão de dinâmica funcional, o torna uma iconografia inédita para a disponibilização de grandes quantidades de informações em curto espaço de tempo, aumentando a eficiência educacional dos alunos. Associado às simulações de movimentos fisiológicos e patológicos, e recursos terapêuticos, este recurso educacional proporciona a integração dos conhecimentos, desperta curiosidade dos alunos e aumenta a velocidade do aprendizado. A construção destas iconografias é resultante de um trabalho conjunto entre especialistas da área odontológica com médicos especialistas em mídia interativa da Telemedicina e equipe de artistas gráficos. A tecnologia do modelo anatômico em 3D é importante para ensino presencial ou à distância e o projeto proporciona a modernização dos recursos iconográficos educacionais utilizados na Odontologia. O Homem Virtual, como um objeto de aprendizagem, deve ser inserido em ambientes que favoreçam a aprendizagem significativa aos alunos, pois colocá-lo apenas como objeto de conhecimento pode não ser suficiente para envolvê-los e despertar-lhes motivação pela aprendizagem. No clínica integrada do 10º semestre da faculdade de odontologia da UNIPLAC é composta de aulas teóricas e prática clínica executadas dentro do campus, perfazendo um total de 300 h/a. No começo do semestre, é solicitado que os alunos forneçam temas que tiveram maior dificuldade no decorrer do curso, para que os mesmos sejam elaborados e retransmitidos de sorte a sanar todas as dúvidas advindas no momento da instrução, capacitando-os a melhor desempenhar suas habilidades clínicas nos procedimentos ambulatoriais. Desta forma de interação professor-aluno e aluno-professor, o processo de ensino-aprendizagem é sedimentado de modo mais eficaz. Em virtude do contato prévio dos acadêmicos com a atividade clínica diária, os temas propostos pelos mesmos são mais facilmente assimilados. Na clínica ficam à disposição dos alunos, professores de cinco especialidades distintas: periodontia, dentística, prótese, endodontia e cirurgia. No entanto, é necessário que qualquer um dos professores tenha um perfil de capacitação multidisciplinar, podendo orientar os acadêmicos em qualquer das especialidades. Ficando a cargo do professor com a titulação da disciplina, os procedimentos mais complexos de sua área. A avaliação da disciplina é composta de conceitos teóricos, momento onde cada professor aplica um caso clínico multidisciplinar, e avaliações práticas diárias. Cada caso clínico simula situações reais nas quais o aluno deve fazer um planejamento global de acordo com os conhecimentos adquiridos durante sua graduação. A resolução de tais problemas habilita-os, também, a realizarem concursos públicos que atualmente preconizam graus de taxionomia crescente. Outra maneira de completar a avaliação do ensino aprendizagem é feita através da Revista da ABENO • 5(2):155-207 205 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 apresentação de um caso clínico ao final do semestre. Os alunos da curso de odontologia da UNIPLAC estão sendo capacitados a fazerem um correto planejamento integrado de seus pacientes, modelo de currículo integrado que deverá ser implantado de forma semelhante nas fases anteriores do curso durante a nova reestruturação curricular. 97. Uma experiência de integração Docência/Assistência com portadores de necessidades especiais Carvalho, E. M. C.*, Carneiro, R., Guerra, I. B uscando a integração da Universidade com o serviço, particularmente na área da assistência odontológica, a FOUFBA firmou parceria com uma das unidades da Secretaria Estadual de Saúde e foi selecionado o Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira, que tem por missão institucional oferecer assistência especializada em saúde mental, buscando fundamentalmente a humanização, a recuperação e a melhoria da qualidade de vida dos seus usuários, reintegrandoos à sociedade e restaurando os seus direitos de Cidadão. O objetivo deste trabalho foi o de promover, restaurar e manter a saúde bucal dos pacientes desta instituição, e assim possibilitar ao acadêmico do Curso de Odontologia a experiência de se sentir membro de uma equipe multidisciplinar no contexto da atenção integral à saúde humana, neste caso pontual com pacientes portadores de transtorno mental e comportamental. Buscou-se também, com esta atividade extensionista, propiciar aos alunos envolvidos a aplicação dos aspectos cognitivos, psicomotor e afetivo do processo de aprendizagem. Concluímos que este tipo de ação educacional extramuro, desenvolvida no sistema de preceptoria, trouxe um efeito positivo tanto para os alunos como para a clientela, mas destacamos o benefício particular em cada aluno que resultou na desmistificação sobre a doença mental. 98. Contribuição do estágio supervisionado da UFPI para formação humanística, social e integrada Mendes, R. F.*, Moura, M. S., Prado Júnior, R. R., Moura, L. F. A. D. A s Diretrizes Curriculares do Curso de Graduação em Odontologia e a incorporação do CirurgiãoDentista no Programa de Saúde da Família (PSF) tornaram imprescindíveis mudanças e/ou adequações 206 do ensino da Odontologia para adaptar o currículo do curso ao perfil do profissional exigido pelo mercado de trabalho. Muita ênfase tem-se dado à formação do CD com base social, econômica, política e cultural do Brasil, valorizando-se novamente o clínico geral. Desta forma, estando a Universidade Federal do Piauí em um dos estados mais carentes do Brasil, durante o curso de Odontologia, tem-se buscado mostrar ao acadêmico as carências e as necessidades da população que será por ele assistida. As especialidades inseridas no Estágio Supervisionado (ES) se integram, na medida do possível, para que o paciente seja atendido como um todo, não individualizando cada uma das suas necessidades. Neste contexto, os alunos do último período do Curso são envolvidos em atividades intra (atendimento nas clínicas da Universidade e no Hospital Universitário) e extramuros para que tenham oportunidade de presenciar e vivenciar a realidade das comunidades. Os alunos do último período que integram o Estágio Supervisionado em Odontologia executam atendimento no Instituto de Perinatologia da Maternidade D. Evangelina Rosa (convênio com a Secretaria Estadual de Saúde), onde atendem gestantes e bebês e nos postos de saúde da Prefeitura (convênio com a Fundação Municipal de Saúde), trabalhando com as equipes do Programa Saúde da Família. As atividades extramuros abrem à convivência e interação das universidades com as comunidades e familiarizam e capacitam os estudantes a trabalhar na realidade que enfrentarão no mercado de trabalho. Os atendimentos extramuros dão maior pluralidade e flexibilidade à pesquisa e ao ensino que ali se constroem, através de trocas de abordagens e experiências entre os profissionais que atuam no serviço público e os alunos que trazem os conhecimentos nos moldes acadêmicos. 99. Estágios extramuros: aprendizado multidisciplinar Vizzotto, D.*, França, C., Schubert, E., Schramm, C. O crescente número de profissionais que ingressam no mercado de trabalho, somado às dificuldades econômicas enfrentadas pela maioria da população provocam uma restrição ao mercado de trabalho privado, sendo o serviço público uma alternativa promissora. Assim, cabe à Academia a responsabilidade urgente de se adequar para essa realidade. O Projeto Político-Pedagógico do curso de Odontologia tem como diretriz a formação de um profissional genera- Revista da ABENO • 5(2):155-207 Trabalhos selecionados para apresentação • 40ª Reunião Anual da Abeno, 2005 lista/humanitário, com apurado senso crítico e comprometido socialmente com a comunidade. Para isso, a Disciplina de Extramuros desenvolve o programa de Estágios em Unidades Básicas de Saúde, em parceria com o serviço público, para que o aluno vivencie in loco essa realidade. O objetivo é possibilitar ao aluno a experiência da rotina das Unidades Básicas de Saúde, bem como conhecer as necessidades da população adscrita mediante o diagnóstico e o comportamento do processo saúde-doença na área específica. Também, de auxiliar a equipe no planejamento loco-situacional, com conhecimentos atualizados, associando teoria à prática na eleição de medidas específicas de promoção à saúde, prevenção às doenças e recuperação do dano. O estágio é realizado semanalmente na Unidade de Saúde do Bairro Adhemar Garcia, tendo duração média de 4 semanas por equipe, que é constituída de 4 a 6 alunos. Os alunos desenvolvem atividades diferenciadas na Unidade, alternando-as, para que todos tenham acesso às atividades descritas a seguir: interagir com a equipes sobre a forma de atuação no serviço público, realizar o diagnóstico e o planejamento local; interação multiprofissional; auxílio ao dentista na intervenção clínica; atividades educativas com usuários na sala de espera; exames visual (estimativa rápida) e orientação em saúde bucal nas escolas, creches e jardim de infância adscritos à Unidade; pesquisa com usuários da Unidade de Saúde. Os resultados podem ser avaliados considerando que, ao conhecer os serviços públicos, o acadêmico interage em uma realidade diferenciada da vivida na Academia e atua como multiplicador, na medida em que soma esforços com as equipes locais, mesmo que essa otimização seja pontual e distante da real necessidade, e contribui para renovar o entusiasmo dos profissionais, fortalecendo vínculos entre equipe e comunidade. Assim, a proposta de estágios em Unidades Básicas de Saúde estrutura-se em complexidade de atuação na medida em que o mesmo transcorre e os obstáculos são ultrapassados. Talvez seja difícil quantificar a valia que essa singular oportunidade representa na formação do futuro profissional. Ao inserir o aluno frente às dificuldades encontradas no serviço público, abre-se um caminho em que a experiência visa despertar o senso crítico, a responsabilidade e o compromisso social do futuro profissional com a saúde da comunidade onde está inserido, amplamente enfatizados no Projeto Político-Pedagógico do Curso de Odontologia da UNIVILLE. A Revista da ABENO – Associação Brasileira de Ensino Odontológico – tem como missão primordial: • assegurar o contínuo progresso da formação profissional; Envie seu artigo! Veja as normas para a submissão de originais na página 208. • produzir benefícios diretamente voltados para a coletividade; • produzir junto aos especialistas a reflexão e análise crítica dos assuntos da área em nível local, regional, nacional e internacional. Revista da ABENO • 5(2):155-207 -5954 ISSN 1679 • contribuir para a obtenção de indicadores de qualidade do ensino odontológico respeitando os desejos de formação discente e capacitação docente; DA O ABEN REVISTA asileira ção Br Associa tológico o Odon de Ensin 5 volume 2 número ezembro julho/d 2005 O ABEa deNEnsino Odontológico asileir ão Br Associaç 207 Normas para apresentação de originais I. Originais - Os originais deverão ser redigidos em português ou inglês e digitados na fonte Arial tamanho 12, em página tamanho A4, com espaço 1,5 e margem de 3 cm de cada um dos lados, perfazendo o total de no máximo 17 páginas, incluindo quadros, tabelas e ilustrações (gráficos, desenhos, esquemas, fotografias etc.) ou no máximo 25.000 caracteres contando os espaços. II. Ilustrações - As ilustrações (gráficos, desenhos, esquemas, fotografias etc.) deverão ser limitadas ao mínimo indispensável, apresentadas em páginas separadas e numeradas consecutivamente em algarismos arábicos. As respectivas legendas deverão ser concisas e localizadas abaixo e precedidas da numeração correspondente. Nas tabelas e quadros a legenda deverá ser colocada na parte superior. As fotografias deverão ser fornecidas em mídia digital, em formato tif ou jpg, tamanho 10 x 15 cm, em no mínimo 300 dpi. Não serão aceitas fotografias em Word ou Power Point. Deverão ser indicados os locais no texto para inserção das ilustrações e de suas citações. III. Encaminhamento de originais - Solicitase o encaminhamento dos originais de acordo com as especificações descritas no item I para o endereço eletrônico www.abeno.org.br. A submissão “on-line” é simples e segura pelo padrão informatizado disponível no site, no ícone “Revista Online”. Somente opte pelo encaminhamento pelo correio diante da necessidade de publicação de ilustrações em formato tif/jpg e alta resolução (veja especificações no item II). Endereço: REVISTA DA ABENO - Associação Brasileira de Ensino Odontológico - Universidade Católica de Brasília - Curso de Odontologia - Nova Sede QS 07 Lote 01 - Bairro Águas Claras - CEP: 72030-170 – Brasília - DF. IV. A estrutura do original 1. Cabeçalho: Quando os artigos forem em português, colocar título e subtítulo em português e inglês; quando os artigos forem em inglês, colocar título e subtítulo em inglês e português. O título deve ser breve e indicativo da exata finalidade do trabalho e o subtítulo deve contemplar um aspecto importante do trabalho. 2. Autores: Indicação de apenas um título universitário e/ou uma vinculação à instituição de ensino ou pesquisa que indique a sua autoridade em relação ao assunto. 3. Resumo: Representa a condensação do conteúdo, expondo metodologia, resultados e conclusões, não excedendo 250 palavras e em um único parágrafo. 4. Descritores: Palavras ou expressões que identifiquem o conteúdo do artigo. Para sua determinação, consultar a lista de “Descritores em Ciências da Saúde - DeCS” (http://decs.bvs.br) (no máximo 5). 5. Texto: Deverá seguir, dentro do possível, a seguinte estrutura: 208 a) Introdução: deve apresentar com clareza o objetivo do trabalho e sua relação com os outros trabalhos na mesma linha ou área. Extensas revisões de literatura devem ser evitadas e quando possível substituídas por referências aos trabalhos bibliográficos mais recentes, onde certos aspectos e revisões já tenham sido apresentados. Lembre-se que trabalhos e resumos de teses devem sofrer modificações de forma a se apresentarem adequadamente para a publicação na Revista, seguindo-se rigorosamente as normas aqui publicadas. b) Material e métodos: a descrição dos métodos usados deve ser suficientemente clara para possibilitar a perfeita compreensão e repetição do trabalho, não sendo extensa. Técnicas já publicadas, a menos que tenham sido modificadas, devem ser apenas citadas (obrigatoriamente). c) Resultados: deverão ser apresentados com o mínimo possível de discussão ou interpretação pessoal, acompanhados de tabelas e/ou material ilustrativo adequado, quando necessário. Dados estatísticos devem ser submetidos a análises apropriadas. d) Discussão: deve ser restrita ao significado dos dados obtidos, resultados alcançados, relação do conhecimento já existente, sendo evitadas hipóteses não fundamentadas nos resultados. e) Conclusões: devem estar baseadas no próprio texto. f) Agradecimentos (quando houver). 6. Abstract: Resumo do texto em inglês. Sua redação deve ser paralela à do resumo em português. 7. Descriptors: Versão dos descritores para o inglês. Para sua determinação, consultar a lista de “Descritores em Ciências da Saúde - DeCS” (http://decs.bvs.br) (no máximo 5). 8. Referências bibliográficas: Devem ser ordenadas alfabeticamente, numeradas e normatizadas de acordo com o Estilo Vancouver, conforme orientações do “Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals” (http://www.icmje.org). Para as citações no corpo do texto deve-se utilizar o sistema numérico, no qual são indicados no texto somente os números-índices na forma sobrescrita. A citação de nomes de autores só é permitida quando estritamente necessária. Todas as citações devem ser acompanhadas de sua referência bibliográfica completa e todas as referências devem estar citadas no corpo do texto. As abreviaturas dos títulos dos periódicos deverão estar de acordo com o “List of Journals Indexed in Index Medicus”. A exatidão das referências bibliográficas é de responsabilidade dos autores. V. Endereço - E-mail, telefone e fax de todos os autores. Obs.: Qualquer alteração de endereço, telefone ou e-mail deve ser imediatamente comunicada à Revista. Revista da ABENO • 5(2):208