Disfunções Sexuais Femininas 1 Cabeçalho: DISFUNÇÕES SEXUAIS FEMININAS Disfunções Sexuais Femininas: Caracterização, Classificação e Variáveis Cognitivo-Afectivas Cátia Oliveira Departamento de Educação e Psicologia Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Disfunções Sexuais Femininas 2 Resumo O presente estudo tem como objectivo proporcionar um breve enquadramento teórico em torno das Disfunções Sexuais Femininas, tendo em conta a sua caracterização e a sua relação com os Esquemas cognitivos e a dimensão do Afecto. Apesar de não ter sido verdadeiramente estudada durante muitos anos, a sexualidade feminina é hoje alvo de um grande interesse por parte de diferentes clínicos e investigadores. Num primeiro momento, e através de uma breve revisão de estudos, analisaremos os diferentes sistemas de classificação e a discussão actual em torno dos mesmos, bem como alguns dados de prevalência, comorbilidade e associação entre Psicopatologia e Funcionamento Sexual. Em seguida discutiremos a relação entre Esquemas e Funcionamento Sexual, temática ainda pouco presente na literatura especialmente nos que se refere aos Esquemas Precoces Maladaptativos. Finalmente, serão revistos os estudos acerca da relação entre Afecto-Traço e Funcionamento Sexual Feminino. Disfunções Sexuais Femininas Abstract The purpose of present study was to provide a brief theoretical framework around the Female Sexual Dysfunction, taking into account its characterization and its relationship with the Cognitive Schemas and the Affect. Although not really studied for many years, Female Sexuality is now a theme of considerable interest for different clinicians and researchers. Initially, and through a brief review of studies, we considered the different systems of classification and current discussion around them, and also some data on prevalence, comorbidity and association between Psychopathology and Sexual Functioning. Then we discussed the relationship between Schemas and Sexual Functioning, an underdeveloped issue in the literature, especially in regard to the Early Maladaptive Schemas. Finally, we reviewed studies regarding the relationship between Trait Affect and Female Sexual Functioning. 3 Disfunções Sexuais Femininas 4 Disfunções Sexuais Femininas: Caracterização, Classificação e Variáveis Cognitivo-Afectivas Durante muito tempo, o estudo das Disfunções Sexuais centrou-se nas leis biológicas da reprodução e, somente no início do século passado, é que aspectos relacionados com a psicologia individual começaram a ser considerados pertinentes no comportamento sexual. O estudo da sexualidade foi sofrendo uma evolução que, segundo Gomes (2006), se pode dividir em três momentos distintos: os “anos do casal” (1970 a 1982) pelas mãos de Masters e Johnson onde a terapia sexual se centra neste binómio; os “anos do homem” (19821998) pautados por um exclusivo interesse científico pela disfunção eréctil devido ao comprovado efeito vasoactivo da papaverina; “os anos da mulher, a continuação dos anos do homem e provável regresso aos anos do casal”, a partir de 1998, onde se destaca o lançamento do sildenafil no mercado mundial e um maior interesse científico na mulher e no casal, que começam a ser vistos como essenciais no processo terapêutico. Durante muitos anos a sexualidade feminina não foi verdadeiramente debatida. Contudo, com a sua crescente liberalização, acompanhada por uma maior permissividade em termos de valores e comportamentos (Bancroft, 2002), diferentes profissionais e académicos começaram a interessar-se pelas questões que afectam a intimidade da mulher, dando-se uma proliferação substancial de conferências, livros, projectos de investigação e páginas da internet. Apesar de este avanço ser de uma forma geral positivo, todas estas mudanças em termos sociais, económicos e políticos trouxeram consigo outras preocupações. Com a diminuição do suporte económico para a educação, as instituições públicas e académicas acabaram por se aliar à indústria farmacêutica de forma a obter fundos que permitissem a investigação científica e, igualmente, outras oportunidades profissionais. Assim, o que começou como uma colaboração é hoje visto, por muitos profissionais da área, como uma dependência, levando a uma crescente apreensão (Bodenheimer, 2000; Korn, 2000). Ao longo do tempo têm surgido várias questões, nomeadamente no que diz respeito ao segredo e integridade científica, aos conflitos específicos Disfunções Sexuais Femininas 5 como o “esquecimento” da complexidade psicológica e relacional da sexualidade humana, à dissimulação de factores socioculturais e à ameaça perante a liberdade e não discriminação face à sexualidade. Aparentemente poderemos correr o risco de a sexualidade se tornar apenas um problema médico face à globalização e desregulação da indústria farmacêutica e respectivo marketing face à comercialização. Os dilemas éticos e conflitos de interesses estão na ordem do dia, receando-se um desvio do conhecimento devido à excessiva influência por parte da indústria na investigação e teoria da sexualidade (Moynihan, 2003; Tiefer, 2000, 2002). Face a este contexto, a classificação das Disfunções Sexuais Femininas tem sido igualmente alvo de debate ao longo do tempo. À medida que as atitudes mudam, assim mudam as nomenclaturas diagnósticas, visto que a visão face a uma expressão sexual normal e adequada é bastante permeável às crenças sociais e culturais. Feministas defendem que as classificações tendem a reduzir a sexualidade a um acto físico e individual, sugerindo que a patologia num indivíduo emerge quando este não responde segundo determinados parâmetros considerados aceitáveis. Lembremo-nos contudo que apesar de limitativas, por se reportarem a comportamentos que se inserem na dimensão dos sentidos e da linguagem não verbal, estes mesmos sistemas de classificação permitem a comunicação entre os diferentes profissionais e uma organização do conhecimento (Hartmann, Heiser, Rüffer-Hesse, & Kloth, 2002; Leiblum, 2001) Actualmente, dois dos sistemas de classificação das Disfunções Sexuais Femininas mais usados fazem parte respectivamente, quer da Classificação Internacional de Doenças (ICD-10) da Organização Mundial da Saúde (OMS, 1992), quer do Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-IV-TR; American Psychiatric Association (APA), 2000). Tendo em conta o primeiro sistema de classificação, a Disfunção Sexual surge como sendo a forma através da qual o indivíduo não é capaz de participar numa relação sexual como pretendido (OMS, 1992). Entre as categorias mais específicas pode considerar-se a falta ou Disfunções Sexuais Femininas 6 perda de desejo sexual, a Perturbação de Aversão Sexual, a falha na resposta sexual, a Dispareunia não orgânica e o impulso sexual excessivo (Basson, 2001b). No DSM-IV-TR (APA, 2000) a Disfunção Sexual corresponde a uma perturbação nos processos que caracterizam o ciclo da resposta sexual, baseado no modelo convencional desenvolvido por Masters e Johnson (1970) e posteriormente elaborado por Kaplan (1974). Este pode ser dividido em 4 fases: o desejo, que consiste em fantasias acerca da actividade sexual e no desejo das mesmas; a excitação, que consiste numa sensação subjectiva de prazer sexual acompanhada por modificações fisiológicas correspondentes; o orgasmo, que corresponde a um pico de prazer sexual, acompanhado da libertação de tensão sexual e da contracção rítmica dos músculos do períneo e dos órgão reprodutores; a resolução que consiste numa sensação generalizada de relaxamento muscular e bem-estar. A disfunção também pode estar relacionada com dor associada à relação sexual (APA, 2000). São estas as quatro fases que servem como alicerces para as diferentes categorias de diagnóstico das Disfunções Sexuais Femininas. Assim, podemos considerar as Perturbações de Desejo, nomeadamente a Perturbação do Desejo Sexual Hipoactivo e a Aversão Sexual, a Perturbação da Excitação Sexual, a Perturbação do Orgasmo e finalmente, dentro das Perturbações de Dor Sexual, a Dispareunia e Vaginismo (APA, 2000). Todas estas dificuldades podem ocorrer desde o início ou após um período de funcionamento sexual normal, limitandose ou não a um determinado tipo de estimulação (situacional ou generalizado). Reflectindo-se numa ou mais fases do ciclo de reposta sexual, as Perturbações Sexuais podem ter na sua base factores biológicos (doenças vasculares, diabetes, doenças que afectem o sistema nervoso central ou periférico, consumo de substâncias, idade, etc.) psicossociais (perturbações psicológicas, factores culturais, falta de educação, problemas no casal, etc.) ou uma combinação de ambos (APA, 2000; Bach, Wincze, & Barlow, 2001). Disfunções Sexuais Femininas 7 Leiblum (2001) refere a existência de várias limitações inerentes ao uso deste tipo de classificação. Assim, as diferentes categorias diagnósticas, tal como apresentadas, reflectem a tentativa artificial de criar um paralelismo entre as queixas masculinas e femininas, reflectindo um modelo heterossexual e “falocêntrico”, em que o coito é visto como uma referência obrigatória. Existe igualmente uma falta de operacionalização específica dos critérios de diagnóstico, principalmente no que diz respeito à identificação dos aspectos emocionais e interpessoais do relacionamento sexual, que tendem a ser mais importantes nas mulheres, que a resposta genital em si mesma (Basson, 2000, 2005; Leiblum, 2001). Também a organização das categorias diagnósticas sugerem que a resposta sexual se desenvolve segundo uma sequência linear de excitação, desejo e orgasmo, quando um modelo circular de influência mútua entre a excitação e desejo é considerado o mais pertinente, na sexualidade feminina (Basson et al., 2001; Basson, 2005; Leiblum, 2001). Na prática clínica verifica-se ainda uma grande sobreposição e comorbilidade dos diferentes diagnósticos (Basson et al., 2001; Basson et al., 2004; Basson, 2005; Leiblum, 2001). É no seguimento destas críticas que surgem propostas alternativas para uma melhor compreensão e categorização das Disfunções Sexuais Femininas, quer ao nível do ciclo de resposta sexual humano, quer ao nível do processo de classificação. Basson (2000a, 2001a), por exemplo, apresenta-nos um modelo alternativo da resposta sexual feminina, cujo objectivo final é o de melhorar o tratamento dos problemas sexuais ao nível psicológico, comportamental e farmacológico. Na base do mesmo surge uma nova perspectiva em relação ao desejo sexual e consequentemente do desejo hipoactivo, uma vez que resposta sexual feminina surge mais fortemente da necessidade de intimidade, do que do que da necessidade de excitação sexual. As mulheres apresentam um menor impulso biológico e a sua motivação surge de um conjunto de “reforços” ou “ganhos” que não são estritamente sexuais. Note-se que a atenção dada até aqui às respostas genitais e indicadores tradicionais de desejo, Disfunções Sexuais Femininas 8 ignorou a maioria dos componentes da satisfação sexual das mulheres (confiança, intimidade, respeito, comunicação, afecto e prazer pelo toque sensual) acabando por influenciar a investigação científica em torno destes problemas. Adicionalmente, a sensação de excitação surge, na maior parte das vezes, sem a verdadeira consciência das respectivas mudanças fisiológicas. Quando tal acontece, esta pode ser ou não um estímulo erótico para a mulher. A descarga orgástica pode ser múltipla, contínua, altamente variável, dependente do tipo de estimulação e por vezes sentida como desnecessária. Desta forma, existem muitos padrões em termos de excitação e resolução (Basson, 2000, 2001a). Assim, apesar de uma mulher poder sentir um desejo espontâneo, na forma de pensamentos sexuais, sonhos de índole sexual e fantasias, é mais provável que esta se encontre numa “base neutra” no início da relação com o parceiro. Ao tomar consciência de uma oportunidade para ser sexual e que daí advém um ou mais benefícios que são importantes para si (e não necessariamente sexuais), muda de um estado de neutralidade para a procura de estímulos necessários para despoletar o desejo. Este desejo, mais responsivo que espontâneo, é então definido como uma apetência para sensações sexuais para seu próprio benefício. Muitas mulheres que são sexualmente funcionais e se encontram satisfeitas não possuem marcadores de desejo sexual espontâneo (Basson, 2000, 2001a). À medida que se vai dando a excitação, o foco poderá consistir em gerar um potencial orgasmo, ainda que o bem-estar físico possa surgir sem a ocorrência do mesmo. A recompensa de haver proximidade emocional – o aumento de compromisso, o aumento da proximidade na própria relação e a tolerância às imperfeições na mesma - juntamente com uma apreciação do subsequente bem-estar do parceiro servirão como factores motivadores que irão activar este mesmo ciclo numa próxima vez (Basson, 2000, 2001a). Qualquer uma destas recompensas pode ser eficiente por si só, ou pode ser acompanhada pela necessidade física ou apetite sexual (note-se que o modelo tradicional poderá ser coerente em situações em que há uma separação Disfunções Sexuais Femininas 9 do companheiro, tipicamente após uns dias ou semanas de separação). Apesar de a mulher ser movida mais pela expectativa de um aumento da intimidade, uma experiência prazerosa em termos físicos é necessária para manter a motivação a longo prazo (Basson, 2000). Os Novos Sistemas de Classificação No que diz respeito aos sistemas de classificação, em 1998 um grupo multidisciplinar de peritos directamente relacionados com a sexualidade feminina reuniram-se com o objectivo de rever e actualizar as Disfunções Sexuais Femininas (Basson et al., 2001). Os principais objectivos consistiram em assegurar que as entidades clínicas revistas fossem aplicadas em ambos os contextos médicos e de saúde mental e que a operacionalização das mesmas correspondesse à realidade clínica. A nova proposta de classificação acabou por seguir a linha apresentada pela DSM-IV-TR (APA, 2000), mantendo-se as quatro principais categorias de Disfunção Sexual, ainda que a abordagem dualista da disfunção orgânica/psicogénica tenha sido descartada (Basson, 2000, 2001b). Uma nova tipologia para diferenciar o orgânico, psicogénico, misto ou indefinido foi adicionado nos subtipos. Em termos de alterações mais específicas, uma nova categoria foi adicionada: a Perturbação de Dor sem Penetração. Esta mudança vem de encontro ao facto de algumas mulheres sentirem dor na relação sexual sem haver o coito propriamente dito, abrangendo desta forma as mulheres não heterossexuais. Também o critério referido na primeira classificação como “dificuldade interpessoal” deu origem ao de “dificuldade pessoal”, competindo agora à mulher decidir, e não ao parceiro, se um problema é suficientemente problemático para se fazer o respectivo diagnóstico. No que diz respeito à Perturbação de Desejo Sexual Hipoactivo, surge uma nova definição (“persistente ou recorrente insuficiência (ou ausência) de fantasias sexuais, desejo e/ ou receptividade para a actividade sexual, que causa dificuldades pessoais”) (Basson et al., 2001, p.87), no seguimento de resultados de estudos que indicam a receptividade para a Disfunções Sexuais Femininas 10 actividade sexual sem a presença de um desejo sexual espontâneo (Garde & Lunde, 1980; cit. por Leiblum, 2001). Já a Perturbação de Aversão Sexual ficou definida como “ uma persistente ou recorrente aversão fóbica para e evitamento de contacto sexual com um parceiro sexual, que causa dificuldades pessoais” (Basson et al., 2001, p. 87) enquanto que, a Perturbação de Excitação foi a mais difícil de definir devido às dificuldades de medição da mesma: “a persistente ou recorrente incapacidade de atingir ou manter a excitação sexual, causando dificuldades pessoais; pode ser expresso como a falta de excitação subjectiva ou uma falta de lubrificação genital ou outra resposta somática” (Basson et al., 2001, p.87). Finalmente, a Perturbação do Orgasmo ficou definida como “persistente ou recorrente dificuldade, atraso em ou ausência de orgasmo perante uma estimulação e excitação suficientes, causando sofrimento pessoal” (Basson et al., 2001, p.87) Perante estas novas propostas surgem novas críticas, havendo dúvidas de que as mudanças referidas contribuam de forma efectiva para a prática clínica e investigação científica (Bancroft, Graham, & McCord, 2001). O facto de se manter a mesma estrutura em termos de categorias e, consequentemente o ciclo de resposta sexual clássico, vem reforçar mais uma vez que ambos os sexos partilham as mesmas fontes de stress, apesar de ser cada vez mais aceite que a sexualidade das mulheres é mais contextualizada. Também se mantém a falta de operacionalização específica para muitos dos diagnósticos, não existindo uma distinção clara entre uma queixa a nível sexual e uma verdadeira disfunção. Finalmente, esta nova nosologia omite quase inteiramente as considerações interpessoais, ainda que o acto sexual ocorra na maioria das vezes com uma ou várias pessoas pelas quais podem haver diferentes sentimentos (Leiblum, 2001; Sugrue & Whipple, 2001). Mais recentemente, os mesmos especialistas voltaram a reunir-se propondo as seguintes categorias diagnósticas (Basson et al., 2004, Basson, 2005): Perturbação do Interesse/Desejo Disfunções Sexuais Femininas 11 Sexual Feminino, Perturbação da Excitação Sexual Subjectiva, Perturbação da Excitação Genital e Subjectiva Combinada, Perturbação da Excitação Sexual Genital, Perturbação da Excitação Sexual Persistente, Perturbação do Orgasmo Feminino, Vaginismo, Dispareunia e Perturbação da Aversão Sexual. Assim, a não existência de desejo durante qualquer momento da experiência sexual designa a respectiva perturbação, os subtipos da Perturbação de Excitação distinguem a ausência ou diminuição da excitação subjectiva perante uma visível excitação genital e vice-versa, combinando igualmente a ausência de ambas, surgindo ainda a Excitação Genital Persistente. A Perturbação do Orgasmo fica limitada à ausência do mesmo apesar da presença de uma excitação elevada e a Dispareunia passa a incluir a dor durante a relação ou resultante de tentativas de penetração vaginal parcial. No Vaginismo é sublinhado o reflexo de contracção do músculo que rodeia a vagina e a ausência de problemas físicos. Como a sexualidade feminina é altamente contextualizada, dever-se-á ter em conta a história psicossexual da doente, contexto presente, bem como o estado médico actual (Basson, 2004, 2005). Um novo sistema de classificação foi igualmente proposto por Tiefer (2001, 2002, 2003), que em conjunto com outros profissionais da área criaram um novo sistema de classificação com quatro categorias: problemas sexuais resultantes de factores socioculturais, políticos e económicos; problemas sexuais relacionados com o parceiro e relação amorosa; problemas sexuais devido a factores psicológicos; e problemas sexuais devido a factores médicos. Este é um documento que se baseia sobretudo nas preocupações psico-bio-sociais que parecem atingir os problemas sexuais das mulheres, primariamente em contextos culturais e relacionais. É uma alternativa construccionista que evita a nomenclatura médica e que permite que qualquer mulher identifique os seus problemas sexuais, aqui definidos como “descontentamento ou insatisfação com qualquer aspecto emocional, físico ou relacional da experiência sexual” (Tiefer, 2001, p.130). Disfunções Sexuais Femininas 12 De uma forma geral são ainda poucos os estudos que se têm debruçado sobre as causas psicológicas e fisiológicas da Disfunção Sexual Feminina, havendo uma consequência negativa directa ao nível do respectivo tratamento. Torna-se então necessário explorar diferentes áreas dentro da sexologia da mulher de forma a colmatar as lacunas até aqui existentes, tais como: estudos epidemiológicos e anatómicos que analisem respectivamente a prevalência, preditores e efeitos da Disfunção Sexual Feminina e que definam de forma mais precisa o papel dos factores orgânicos no funcionamento sexual; estudos sobre os mecanismos biológicos da excitação sexual e orgasmo; estudos que permitam compreender os efeitos da idade e da menopausa no funcionamento sexual, bem como a relação entre a disfunção e o stress emocional e físico e a qualidade de vida em geral; investigação acerca do desenvolvimento de instrumentos para avaliar fisiologicamente os parâmetros da resposta sexual da mulher em setting clínico; bem como estudos que avaliem de forma fidedigna o efeito de agentes vasoactivos e outras terapias medicamentosas. Finalmente, é necessário que as dificuldades do doente comecem a ser bem definidas, sendo necessário um maior investimento na formação dos técnicos que trabalham nesta área (Basson et al., 2001; Heiman, 2002). Prevalência e Comorbilidade O estudo da prevalência e comorbilidade associada às Disfunções Sexuais Femininas apresenta alguma incongruência metodológica que se baseia essencialmente na já mencionada falta de estabilidade dos sistemas diagnósticos, no uso de amostras com características muito díspares e pelo uso de instrumentos de avaliação que, além de nem sempre serem os mais válidos, operacionalizam de forma distinta os problemas considerados (Bach, Wincze, & Barlow, 2001; Hayes & Dennerstein, 2005; Heiman, 2002; Lewis et al., 2004). Como consequência, os resultados vão variando à medida que vamos analisando os diferentes estudos, nem sempre sendo fácil estabelecer paralelismo entre os mesmos. Disfunções Sexuais Femininas 13 Cain e colaboradores (2003) examinaram o funcionamento e práticas sexuais em 3262 mulheres americanas com idades compreendidas entre os 42 e 52 anos, tendo em conta a etnia (Caucasiana, Afro-Americana, Chinesa, Hispânica e Japonesa) e a fase do climatério (prémenopausa e perimenopausa recente). Do total da amostra, 79% das participantes envolveramse em relações sexuais com pelo menos um parceiro nos últimos seis meses, apresentando várias razões, nomeadamente a necessidade de expressar amor ou obter a sensação de prazer ou satisfação, pelo facto de o seu parceiro o desejar ou para aliviar a própria tensão. O não envolvimento em actividade sexual (n=676) ocorreu principalmente pela falta de parceiro, seguida de falta de interesse e fadiga. Tendo como base de comparação as mulheres caucasianas, as mulheres chinesas e japonesas foram aquelas que atribuíram uma menor importância à sexualidade, verificando-se o oposto nas mulheres Africanas. O estado de perimenopausa apenas se mostrou significativamente correlacionada com uma maior frequência de masturbação e dor durante as relações. Note-se que de uma forma geral a actividade sexual parece ter tendência a diminuir à medida que envelhecemos (Hayes & Dennerstein, 2005; Lewis et al., 2004) não havendo ainda dados sólidos que comprovem que a menopausa provoca um declínio no funcionamento sexual. Alguns estudos mostraram uma diminuição do interesse sexual em mulheres peri e pós menopáusicas (Avis, Stellato, Crawford, Johannes, & Longcope, 2000; Cawood & Bancroft, 1996), enquanto outros não encontraram qualquer tipo de associação desta natureza (Hawton, Gath, & Day, 1994) Mais recentemente, Nicolosi e colaboradores (2006), conduziram um outro estudo que abrangeu 3006 mulheres (dos 40-80 anos) de 5 países Anglo-saxónicos (Estados Unidos da América, Canadá, Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia), com o objectivo de investigar quer o comportamento sexual e Disfunção Sexual, quer a respectiva procura de ajuda face à problemática. Em termos de prevalência das Disfunções Sexuais, verificou-se que as mulheres Disfunções Sexuais Femininas 14 na Nova Zelândia (57%) se queixam de pelo menos uma problemática em contraste com as mulheres do Canadá (28%). O mesmo padrão se verificou em termos da falta de interesse sexual (35% na Nova Zelândia, 11% no Canadá, 12 % nos EUA) e dificuldades na lubrificação (36%, 12% e 14% respectivamente). A Perturbação da Dor foi a menos referida em todos os países. Um outro estudo, bastante citado por diferentes autores, corresponde ao do National Health and Social Life Survey (NHSLS) conduzido por Laumann e colaboradores (1999), onde participaram 1749 mulheres americanas com idades compreendidas entre os 18 e 59 anos. Os resultados apontaram para uma prevalência de 43% de mulheres com disfunção, das quais 32% não sentem interesse por sexo, 26% não conseguem atingir o orgasmo e 10 a 15% queixam-se de dor durante a relação sexual nos últimos seis meses (Laumann, Paik, & Rosen, 1999). Também Kadri, Alami e Tahiri (2002) verificaram perante uma amostra de 492 mulheres marroquinas sexualmente activas (de uma amostra geral de 728 com idades compreendidas entre os 20 e os 80 anos), que 26,6% apresentavam uma Disfunção Sexual, sendo a Perturbação de Desejo Sexual Hipoactivo a mais prevalente em 18,3% destas mulheres, seguida da Aversão Sexual em 15% da amostra, da Perturbação do Orgasmo em 12% das mulheres, a Perturbação da Excitação em 8,3% e Dispareunia e o Vaginismo em 7,5 e 6,2% respectivamente. Já Moreira, Glasser e Gingell (2005), concluíram que das 750 mulheres espanholas com idades compreendidas entre os 40 e 80 anos, 36% apresenta falta de interesse, 27,8% não consegue atingir o orgasmo e 25,1% reporta falta de prazer. As dificuldades de lubrificação e dor durante as relações também estiveram presentes em 12,5 e 10,7% da amostra. Em termos de comorbilidade, as relações mais significativas ocorreram entre a falta de interesse sexual e o diagnóstico de Depressão, bem como a falta de lubrificação e problemas cardíacos. Disfunções Sexuais Femininas 15 Em 4 centros de saúde de Inglaterra, Dunn, Croft e Hackett, 1998, verificaram através do envio de um questionário anónimo por correio à população, que 41% das mulheres que participaram neste estudo (n=705) referem ter um problema sexual. Os principais problemas apontados dizem respeito à falta de lubrificação vaginal (28%) e Perturbação do Orgasmo (27%). A não existência de dados referentes ao desejo poderá estar condicionada, neste estudo, pelo uso de um questionário que não aborda de forma específica esta dimensão. O mesmo padrão foi encontrado num estudo conduzido em centros de planeamento familiar no Teerão por Shokrollahi e colaboradores (1999), com 300 mulheres, que revelaram dificuldades no orgasmo (26%), falta de lubrificação (15%), desejo inibido (15%), Dispareunia (10%) e Vaginismo (8%). Num outro estudo conduzido por Wylie, Steward, Seivewright, Smith e Walters (2002) em três clínicas psiquiátricas gerais e de abuso de substâncias, mais de metade de um total de 69 participantes referiram como principais problemáticas a pouca frequência de relações sexuais, falta de comunicação, evitamento e a não existência de sensualidade. De uma forma geral e segundo a revisão de estudos feita por Lewis e colaboradores (2004), os dados apontam para que cerca de 40-45% das mulheres adultas tenham pelo menos uma manifestação de Disfunção Sexual. A prevalência de falta de interesse sexual varia entre os 17 e 55%, sendo que aumenta com a idade: 10% em mulheres com uma idade média de 49 anos, seguido de 22% em mulheres entre os 50 e 65 anos e finalmente os 47% entre os 66 e 74 anos de idade. Em termos da Perturbação de Excitação e dificuldades na lubrificação, surge com uma prevalência que vai desde os 8-15% até aos 21-28%, em mulheres sexualmente activas. Para a Perturbação do Orgasmo os dados são mais variáveis, diferindo em alguns países de forma significativa. Na maioria das investigações os dados apontam para uma prevalência de 25% em idades compreendidas entre os 18 e os 74 anos. A prevalência do Vaginismo ronda os 6% e a Dispareunia entre os 18 e 20%. Disfunções Sexuais Femininas 16 Considerando amostras clínicas, Nobre, Pinto-Gouveia e Gomes (2006), analisaram uma amostra de 47 mulheres com Disfunção Sexual e verificaram que a Perturbação de Desejo Sexual Hipoactivo estava presente em 40, 4% da amostra, seguida do Vaginismo e Perturbação do Orgasmo, presentes em 25,5% e em 21,3% das mulheres, respectivamente. Estes autores verificaram igualmente uma sobreposição de diferentes Disfunções Sexuais em cerca de 43% da amostra clínica, salientando uma forte associação entre o Desejo Sexual Hipoactivo e a Perturbação de Excitação, bem como entre a Dispareunia e Vaginismo. Também Hartmann, Heiser, Rüffer-Hesse e Kloth (2002) apontam a falta de interesse sexual como um problema com um grande grau de prevalência na população geral feminina, tendo sido durante duas décadas a queixa mais comum entre as mulheres que procuravam ajuda clínica. Em dois estudos empíricos, estes mesmos autores, compararam 50 sujeitos do sexo feminino com um baixo desejo sexual com um grupo de 100 mulheres sexualmente funcionais, e perceberam que as mulheres que procuram ajuda para as Perturbações de Desejo exibem sinais bastante marcados de instabilidade emocional associados a uma baixa auto-estima. Apresentam igualmente uma maior tendência para se preocuparem mais, para serem mais ansiosas, introvertidas e convencionais quando comparadas com mulheres sexualmente funcionais. Os resultados sugerem assim um nível significativo de alguns sintomas psiquiátricos sub-clínicos como Perturbações do Humor, baixa auto-estima e sentimentos de culpa, que parecem enraizados e afectam o equilíbrio interno da personalidade. Psicopatologia e Funcionamento Sexual na Mulher Em termos de comorbilidade com outras Perturbações Emocionais, mais dados parecem indicar uma associação entre sintomas depressivos actuais e baixos níveis de desejo, excitação e satisfação sexuais (Kockott & Pfeifer, 1996; Heiman, 2000). Cyranowski e colaboradores (2004) estudaram a relação entre uma história de depressão ao longo da vida e o funcionamento sexual numa amostra baseada na comunidade de 914 mulheres, entre os 42 e os 52 anos de Disfunções Sexuais Femininas 17 idade. Verificou-se que mulheres com uma história de depressão recorrente indicaram uma menor excitação durante a actividade sexual e uma relação sexual actual menos satisfatória em termos físicos e emocionais, quando comparadas com mulheres com um episódio depressivo e mulheres sem história de depressão. Também van Lankveld e Grotjohann (2000) estudaram a prevalência da comorbilidade psiquiátrica em casais com Disfunção Sexual, verificando-se uma maior taxa de prevalência de Perturbações de Ansiedade e do Humor nos sujeitos disfuncionais, quer actualmente quer ao longo da vida, quando comparados com a população normal. Na sua revisão bibliográfica, estes mesmos autores referem um estudo de Degoratis et al. (1981) cuja análise de 110 mulheres com Perturbação do Orgasmo permitiu diagnosticar a 19 %, Perturbações da Personalidade, a 9%, Perturbações do Humor, a 7%, Perturbações de Ansiedade, a 13%, Perturbação de Adaptação e 2% Perturbações Psicóticas. As restantes 50% não receberam diagnóstico adicional. Em 16 mulheres com Vaginismo ou Dispareunia, 13% não recebeu diagnóstico, 75% foram diagnosticadas com Perturbações da Personalidade e 13% com Perturbações Afectivas. Mais recentemente outros autores mencionam igualmente a co-ocorrência da Perturbação de Personalidade Anti-social, Borderline e Evitante com Disfunção Sexual (Tomasson & Vaglum, 1995). Em termos dos quadros ansiógenos, Figueira, Possidente, Marques e Hayes (2001), concluíram que, de dois grupos respectivamente com diagnóstico de Fobia Social e Perturbação de Pânico, os pertencentes ao segundo grupo apresentam uma maior proporção de Disfunção Sexual (75% dos casos). Dentro dos diferentes quadros clínicos considerados, a Aversão Sexual foi a mais comum (50%), seguida da Perturbação de Desejo Sexual Hipoactivo (21,4%) e da Perturbação do Orgasmo e Dispareunia (7,1%). Estes dados vão de encontro a um estudo prévio de Sbrocco, Weisberg, Barlow e Carter (1997) onde é explorada a relação entre a Perturbação de Pânico e a Disfunção Eréctil. Ao se basearem no Modelo de Barlow para as Disfunções Sexuais Femininas 18 Disfunções Sexuais (1986), estes autores referem que as dificuldades de erecção podem ter como base o receio das sensações decorrentes da activação fisiológica na resposta sexual, havendo por isso uma diminuição da excitação resultante do foco de atenção nas mesmas. Ainda assim, as mulheres que sofrem de Fobia Social demonstraram um padrão claro de evitamento, sendo visível um menor número de parceiros e de frequência de relações sexuais. Uma grande proporção das mulheres com este quadro clínico tem uma história de apenas um ou nenhum parceiro sexual na sua vida (Bodinger et al., 2002). Kockott & e Pfeiffer (1996) demonstraram que doentes que sofreram previamente de Perturbações Psicóticas, como a Esquizofrenia ou a Perturbação Esquizoafectiva, apresentam frequentemente Disfunções Sexuais, sendo a falta de desejo o problema mais frequente em ambos os diagnósticos. Estas dificuldades são atribuídas a uma combinação entre a doença psiquiátrica e o uso de psicofármacos, questão mais tarde reforçada por uma análise da prevalência levada a cabo por Dossenbach e colaboradores (2005). Este estudo que envolveu 27 países, demonstrou que a frequência de disfunção foi maior em doentes que estavam sujeitos a antipsicóticos com quantidade elevada de prolactina. Em termos de saúde geral, a Disfunção Sexual encontra-se associada com diferentes condições, nomeadamente com os acidentes vasculares cerebrais (Kimura, Murata, Shimoda, & Robinson, 2001), em pessoas hipertensas (Burchardt et al., 2002) e portadoras de outras doenças cardíacas, bem como na diabetes. Verit, Verit e Yeni (2006) compararam uma mostra de 108 mulheres (19-52 anos de idade) normais com 112 mulheres (18-50 anos de idade) que sofriam de Dor Pélvica Crónica. A prevalência da Disfunção Sexual foi na ordem dos 67, 8% nas doentes, quando comparadas com os 32,2% nas mulheres ditas normais. Na amostra clínica, 74,3% sofriam de uma Perturbação de Dor e 53,8% de Desejo Sexual Hipoactivo. Também os hábitos pouco saudáveis devem ser considerados, nomeadamente o fumar e beber álcool em excesso (Heiman, 2002). Disfunções Sexuais Femininas 19 Estruturas Cognitivas e Disfunções Sexuais Esquemas Precoces Mal-Adaptativos Os esquemas são um dos conceitos chave da psicoterapia moderna (James, Southam, & Blackburn, 2004) e com eles surge a ideia de que estes se formam em grande parte durante as primeiras fases do desenvolvimento e que podem ser elaborados e hiperactivados em fases mais tardias da vida do indivíduo, ainda que por vezes de forma irrealista ou distorcida. Estas estruturas cognitivas têm sido denominadas de diferentes formas, por diferentes autores. Beck (1967; cit. por Young, Klosko, & Weishaar, 2003) definiu-os como princípios organizadores da experiência: é uma estrutura que permite examinar, codificar e avaliar os diferentes estímulos (Beck, 1961; cit. por Padesky, 1994). Presentemente definem-se como padrões impostos pela realidade e experiência, para que o indivíduo as possa explicar, para mediar a sua percepção e para guiar as suas respostas: fornecem instruções para guiar o foco, direcção e qualidades da vida e contingências especiais (Beck et al., 1990 cit. por Beck, J.S., 1996). São representações abstractas de características distintas de um determinado evento, uma espécie de impressão digital (natureza idiossincrática) dos seus aspectos mais salientes (Young, Klosko, & Weishaar, 2003). De uma forma geral, o conceito corresponde a estruturas nas quais “a informação está internamente organizada e representada, sendo responsáveis pela atribuição de significação” (Rijo, 2000; p. 132). Young (2003) apresenta-nos os Esquemas Precoces Mal-Adaptativos (EPM) no âmbito da Terapia Focada nos Esquemas, que consiste numa abordagem sistemática que expande a Terapia Cognitivo-Comportamental a um domínio psicopatológico modelado por uma rigidez, evitamento e dificuldades interpessoais. À semelhança das anteriores, estas estruturas cognitivas correspondem a “temas extremamente estáveis e duradouros, que se desenvolvem durante a infância e são elaborados através da vida do indivíduo” (Young, 2002, p.15) influenciando o processamento da experiência mais tardia e interferindo na capacidade do Disfunções Sexuais Femininas 20 indivíduo para satisfazer necessidades básicas como a estabilidade, autonomia, desejabilidade e expressão própria (Young, 2002). Com base em observações clínicas, adoptou uma classificação de dezoito EPM divididos por cinco domínios que, segundo o autor, são o oposto das cinco necessidades desenvolvimentais da criança (Young, 2002). O domínio Distanciamento e Rejeição diz respeito à expectativa de que as necessidades de segurança, estabilidade, apoio, cuidados, empatia, partilha de sentimentos, aceitação e respeito não serão satisfeitas, pressupondo-se desta forma que a família de origem é emocionalmente distante, fria, rejeitante, isolada, abusadora explosiva e imprevisível. Deste domínio fazem parte os esquemas Abandono/ Instabilidade, Desconfiança/Abuso, Privação Emocional, Defeito/Vergonha e Isolamento Social/Alienação. No domínio Autonomia e Desempenho Deteriorados, do qual fazem parte os EPM de Dependência/Incompetência, Vulnerabilidade ao Mal e à Doença, Emaranhamento/Eu Subdesenvolvido e Fracasso, o indivíduo apresenta expectativas sobre si e sobre o ambiente que interferem na percepção das suas aptidões para sobreviver, funcionar de forma independente e actuar com sucesso. A família de origem é habitualmente emaranhada, destruidora da confiança da criança, sobre-protectora e pouco reforçadora das suas competências fora do contexto familiar. Ao nível dos Limites Deteriorados, existe uma clara deficiência nos limites internos da pessoa, na responsabilidade para com os outros ou na orientação para objectivos a longo prazo, o que conduz a uma grande dificuldade em lidar com os direitos dos outros, em ser-se cooperante e assumir compromissos ou alcançar objectivos pessoais realistas. A família de origem é caracterizada pela permissividade, sobre-indulgência, falta de orientação ou sentido de superioridade. Disfunções Sexuais Femininas 21 No domínio Orientação para o Outro, o indivíduo quase sempre provém de uma família que se baseia na aceitação condicional, ou seja, a criança tem que suprimir aspectos importantes de si própria para obter amor, atenção e aprovação. Assim, existe um foco excessivo nos desejos, sentimentos e respostas dos outros e respectivo comprometimento das necessidades pessoais, de forma a ganhar amor e aprovação, e inclusive, para manter o sentido de ligação e evitar a retaliação. Aqui devem-se considerar os EPM de Subjugação, AutoSacrifício e Procura de Aprovação/ Reconhecimento. Finalmente, deve ser considerado o domínio de Sobre-Vigilância e Inibição, que consiste num ênfase excessivo no controlo dos sentimentos espontâneos, impulsos ou escolhas de forma a evitar cometer erros ou em cumprir regras e expectativas rígidas e interiorizadas acerca do desempenho e do comportamento ético, comprometendo a felicidade, auto-expressão, relaxamento, relações próximas e saúde. A família de origem que se encontra na base dos esquemas de Negativismo/ Vulnerabilidade ao Erro, Controlo Excessivo/ Inibição Emocional, Padrões Excessivos /Hipercriticismo e Punição, coloca o desempenho, dever, perfeccionismo, obediência a regras e evitamento de erros acima do prazer, alegria e relaxamento (Young, 2003). Assim sendo, são as experiências negativas na infância (junto da família, pares, escola, grupos da comunidade e a cultura circundante), descritas nos diferentes domínios, a origem primária dos EPM, tendo um maior poder aqueles que se desenvolvem mais cedo e que têm a sua origem junto da família nuclear (Young, Klosko, & Weishaar, 2003). Compreende-se assim que os EPM sejam, para o indivíduo, algo “natural”, verdadeiro, confortável e familiar, e por isso, sejam tão resistentes à mudança. Ocorrem de forma corrente e significativa, são auto-perpetuadores e são activados por acontecimentos ambientais relevantes, influenciando o processamento de determinados acontecimentos e causando altos níveis de afecto, como ansiedade, tristeza, culpa, raiva, entre outros. São dimensionais, o que significa Disfunções Sexuais Femininas 22 que apresentam níveis diferentes de severidade e profundidade. Quanto mais severo, maior é o número de situações que o activam e mais intenso e duradouro é o Afecto Negativo (Young, Klosko, & Weishaar, 2003). São estas estruturas que parecem estar na base dos Distúrbios de Personalidade e, igualmente, outras Perturbações do Eixo I. No fundo, correspondem a padrões cognitivoemocionais de defesa ou estilos de coping (Young, 2002) que se repetem ao longo da vida (Young, Klosko, & Weishaar, 2003) através de um padrão de funcionamento específico e interno que passa por diferentes processos como a sua manutenção, evitamento e compensação. Estes processos podem ocorrer em simultâneo ou não (McGinn & Young, 1996; Rijo, 2000; Young, 2002, 2003). A rigidez característica das Perturbações de Personalidade é em parte devida à manutenção dos esquemas, processo que ocorre a um nível cognitivo (distorções cognitivas), afectivo e comportamental (com acções outrora funcionais) e através do qual os EPM são reforçados perpetuando ou rigidificando o seu modo de funcionamento (Young & Lindemann, 1992; Young, 2003). Perante a sua activação o indivíduo fica sujeito a um estado emocional caracterizado por níveis elevados de tristeza, raiva, ansiedade ou culpa extrema que gera grande desconforto, daí que adopte frequentemente uma série de estratégias voluntárias ou automáticas (evitamento) que lhe permite manter esses pensamentos e esses sentimentos fora da sua consciência (Young, 2002, 2003; Young, Klosko, & Weishaar, 2003). Também é frequente o indivíduo apresentar estilos cognitivos ou comportamentais que parecem o oposto do que se poderia prever depois de se ter o conhecimento dos seus EPM (mecanismo de compensação) sendo visível o seu esforço para ser o mais diferente possível da criança que foi, aquando a construção desta estrutura cognitiva (Young, Klosko, & Weishaar, 2003). Os comportamentos compensatórios podem infringir os direitos dos outros e, em última estância, levar o doente a sérias consequências reais (Young, 2003). Disfunções Sexuais Femininas 23 Os EPM têm sido avaliados e tratados em pacientes com diagnósticos do Eixo I e II, ainda que na literatura não haja quaisquer dados sobre a sua eventual implicação nas Disfunções Sexuais. No que diz respeito aos quadros depressivos, diferentes esquemas são apontados como estando significativamente relacionados com este tipo de sintomatologia, nomeadamente os esquemas de Defeito e Dependência (Schmidt, Joiner, Young, e Telch, 1995) ou os Abandono e Auto-Controlo Insuficiente, que após uma análise de regressão explicaram 47% da variância dos sintomas depressivos medidos pelo Breve Inventário de Sintomas (BSI) (Welburn, Coristine, Dagg, Pontefract, & Jordan, 2002). Tendo em conta as Perturbações de Ansiedade, surgem como principais preditores os esquemas de Vulnerabilidade ao Mal, Abandono, Fracasso, Auto-Sacrifício, Inibição Emocional (Welburn et al., 2002) e também de Incompetência (Schmidt et al., 1995). PintoGouveia, Castilho, Galhardo e Cunha (2006) verificaram a existência de uma forte relação entre os EPM e a presença de psicopatologia ao compararem três grupos distintos: um grupo com o diagnóstico de Fobia Social, um com diagnóstico de outras Perturbações de Ansiedade (na sua maioria com o diagnóstico de Perturbação de Pânico e Perturbação ObsessivoCompulsiva) e um grupo de controlo. Os resultados demonstraram que os participantes com Fobia Social apresentam uma estrutura esquemática diferente dos dois outros grupos, apresentando uma maior activação do domínio Distanciamento/Rejeição e especificamente dos esquemas de Privação Emocional, Fracasso, Defeito, Abuso, Dependência, Isolamento Social e Subjugação. Os participantes do grupo com outras Perturbações de Ansiedade activaram de forma mais significativa, em comparação com os do grupo de controlo, os EPM de Abuso, Padrões Excessivos, Auto-Controlo Insuficiente, Dependência, Isolamento Social, Limites Insuficientes, Abandono e Vulnerabilidade. Disfunções Sexuais Femininas 24 Ao nível dos Distúrbios Alimentares, Cooper, Rosen e Turner (2006) demonstram a existência de diferenças significativas na activação dos EPM ao compararem dois grupos de adolescentes do sexo feminino com a presença ou não de sintomatologia característica das Perturbações Alimentares. Assim, as adolescentes que manifestaram a possível presença do quadro clínico pontuaram de forma significativamente mais alta nos esquemas de Fracasso, Auto-Sacrifício, Padrões Excessivos e Auto-Controlo Insuficiente. Meyer, Leung, Feary e Mann (2001), ao analisarem uma amostra não clínica de 61 estudantes com idade média de 20 anos, demonstraram que o esquema de Defeito se encontra significativamente relacionado com comportamentos de natureza bulímica, havendo alguma sobreposição com os dados apresentados por Turner, Rose e Cooper (2005) que referem os esquemas de Defeito e Dependência/Incompetência como os principais preditores (27% da variância explicada) das atitudes de 367 adolescentes do sexo feminino face à alimentação, medidas pelo Eating Attitudes Test (EAT; Garner & Garfinkel, 1979). Numa amostra de oito doentes com idade média de 36 anos e com várias tentativas de tratamento falhadas, George, Thornton, Touyz, Wallen e Beumont (2004) verificaram que os esquemas mais activados por estas mulheres foram Padrões Excessivos, Defeito, Privação Emocional, Inibição Emocional e Isolamento Social. Numa amostra de 54 adolescentes Britânicos com tendência a exibir comportamentos sexualmente agressivos, Richardson (2005) encontrou como principais Esquemas os de Inibição Emocional, Desconfiança/Abuso e Isolamento Social. Lee, Taylor e Dunn (1999), numa análise das características psicométricas do Questionário de Esquemas verificaram, numa amostra clínica Australiana de 433 doentes com diagnóstico do Eixo I e II, que os indivíduos que apresentam Perturbações de Personalidade obtêm pontuações significativamente mais elevadas nas dimensões de Distanciamento e Rejeição e Limites Deteriorados, havendo a excepção dos esquemas da Subjugação e Disfunções Sexuais Femininas 25 Vulnerabilidade. De uma forma geral, e segundo os autores, estes resultados corroboram a premissa de que doentes pertencentes ao Eixo II apresentam maiores dificuldades ao nível da vinculação primária e no estabelecimento dos limites quando comparados com indivíduos que apresentam perturbações do Eixo I. Esquemas como Abuso, Defeito, e Privação Emocional surgem associados a traços de personalidade Paranóide, Dependente e Borderline, enquanto que esquemas como Grandiosidade e Auto-Controlo Insuficiente surgem associados a traços de personalidade Obsessiva e Passivo-Agressiva. Os traços característicos de uma Personalidade Narcísica parecem activar esquemas de Vulnerabilidade, Inibição Emocional e Auto-Controlo Insuficiente (Nordahl, Holthe, & Haugum, 2005). Apesar do interesse pela Terapia Focada nos Esquemas ter crescido ao longo dos tempos, a sua validação empírica ainda não se encontra consolidada (Nordahl, Holthe, & Haugum, 2005). Segundo Pinto-Gouveia e Rijo (2001), isto só é possível na presença de duas condições importantes: a existência de uma definição operacionalizada de EPM e a prova de que a modificação destas estruturas, supostamente implicadas na psicologia, se traduz em benefícios terapêuticos. Young (2002) afirma que esta terapia tem sido aplicada com sucesso em doentes com diferentes distúrbios, nomeadamente na Depressão e Ansiedade crónicas, nos Distúrbios Alimentares, nas Perturbações de Personalidade, em situações em que houve abuso na infância, nas dificuldades de casal e nas dificuldades em manter relações amorosas, junto de criminosos e na prevenção de recaídas em toxicodependentes (Young, Klosko, & Weishaar, 2003; Kellog & Young, 2006). Hoffart, Versland e Sexton (2002) com uma amostra de 35 doentes com Perturbações de Personalidade Evitante, Dependente e Obsessivo-Compulsiva (em comorbilidade com a Perturbação de Pânico com Agorafobia) testaram a hipótese de que a Terapia Focada nos Esquemas provoca uma modificação dos EPM e uma melhoria da sintomatologia apresentada, Disfunções Sexuais Femininas 26 face à compreensão que os doentes vão adquirindo dos seus problemas ao longo da terapia. Estes autores (Hoffart et al., 2002) encontraram relações sequenciais significativas entre as variáveis preditoras estudadas e a mudança dos esquemas e os sintomas associados, verificando-se uma redução dos sintomas apresentados pelos sujeitos durante a fase do tratamento. Também Nordahl e colaboradores (2005), usando uma amostra com 82 doentes com uma idade média de 37 anos e com a presença de sintomatologia referente aos dois Eixos de Diagnóstico considerados na DSM-IV (APA, 1994) demonstraram, à semelhança de outros estudos (Lee et al., 1999; Schmidt et al., 1995), que mudanças nos EPM específicos parecem predizer um alívio da sintomatologia apresentada. George e colaboradores (2004) desenvolveram um programa de tratamento para doentes com Anorexia Nervosa que se encontram num estado de pré-contemplação ou de mudança (ainda que numa fase inicial). Através de estratégias motivacionais e a Terapia Focada nos Esquemas durante cerca de 6 meses, estes autores demonstraram, ainda que numa amostra claramente limitada, que é possível motivar e manter este tipo de doentes em terapia. Também Richardson (2005) demonstrou a eficácia deste modelo em 54 adolescentes Britânicos com tendência a exibir comportamentos sexualmente agressivos, à semelhança de Nordahl e Nysæter (2005) que comprovaram a obtenção de bons resultados no tratamento e na manutenção do mesmo ao longo do tempo num estudo preliminar com 6 doentes com Perturbação de Personalidade Borderline. Assim, apesar da evidência do papel que os EPM nas Disfunções Sexuais não ser ainda clara, poderemos levantar hipóteses com base nestes e outros estudos cujo objectivo é perceber de que forma as estruturas cognitivas influenciam o funcionamento sexual. Esquemas Cognitivos em Contexto Sexual Nobre e Pinto Gouveia (2008b) desenvolveram um questionário que permitiu estudar a activação de esquemas cognitivos na resposta sexual feminina e masculina. Este instrumento Disfunções Sexuais Femininas 27 apresenta numa primeira parte quatro situações sexuais que ilustram as Disfunções Sexuais mais comuns (Perturbação do Desejo, dificuldades ao nível da Excitação Subjectiva, Perturbação do Orgasmo e Vaginismo, na versão feminina) que o participante tem que seleccionar conforme a sua experiência e classificar mediante a frequência com que ocorre. Depois de indicar as emoções que se encontram mais presentes no(s) episódio(s) seleccionado(s) (preocupação, tristeza, desilusão, medo, culpa, vergonha, irritação, mágoa, prazer, satisfação), o sujeito deverá focar-se na sua experiência e classificar, segundo uma escala tipo Likert de 5 pontos, o seu grau de concordância com 28 auto-afirmações que reproduzem as crenças nucleares ou auto-esquemas apresentados previamente por Judith Beck (1995). Estes constituem duas grandes dimensões, que segundo A. Beck (1996), se encontram relacionados com a psicopatologia: Helplessness, que corresponde à ideia de que se é fraco, inferior e incompetente; e Unlovability que corresponde á crença de que se é indesejado, malamado, abandonado. Cinco domínios principais podem ser tidos em conta após análise do questionário: Indesejabilidade Social, Incompetência, Auto-Depreciação, Diferença/Solidão e Desamparo. Num estudo com 207 mulheres, estes autores demonstraram que mulheres que apresentam Disfunção Sexual, activam significativamente mais esquemas cognitivos negativos relativamente a si próprios, quando confrontadas com uma situação de insucesso sexual (Nobre & Pinto-Gouveia, 2008a). As diferenças entre o grupos funcional e disfuncional atingem um maior nível de significação relativamente à activação do esquema de Incompetência, nas mesmas situações de insucesso sexual. Contudo outros esquemas são igualmente activados de forma significativa, nomeadamente os de Diferença/Solidão, Desamparo, Auto-Depreciação e de Desejabilidade/Rejeição, contribuindo muito provavelmente para a magnificação do próprio insucesso (Nobre & Pinto Gouveia, 2008a). Disfunções Sexuais Femininas 28 Na literatura surge ainda o conceito de Auto-Esquema Sexual com Andersen, Cyranowski e outros colaboradores (Andersen & Cyranowski, 1994; Cyranowski, Aarestad, & Andersen, 1999; Cyranowski & Andersen, 1998). Tal como os EPM, estas estruturas, definidas como generalizações cognitivas estáveis dos aspectos sexuais do eu (Andersen & Cyranowski, 1994), parecem ter sido desenvolvidas a partir de experiências prévias e podem desempenhar um papel importante na interpretação e respectiva resposta comportamental, face a uma situação de cariz sexual. Este constructo foi operacionalizado através da avaliação de diferentes crenças normativas face às importantes disposições da personalidade de uma “mulher sexual”, podendo incluir-se dentro do mesmo duas dimensões positivas – o Auto-Esquema Romântico/Apaixonado e o Aberto/Directo – e uma dimensão negativa – Embaraço ou Conservadorismo, que actua como limitador da expressão sexual (Andersen & Cyranowski, 1994). No seguimento de alguns estudos, e no que diz respeito ao funcionamento sexual propriamente dito, mulheres que apresentem Auto-Esquemas Sexuais negativos manifestam um menor interesse pela actividade sexual, uma menor frequência de fantasias sexuais ou pensamentos eróticos e uma menor capacidade de excitação (Andersen & Cyranowski, 1994). De notar, contudo, que a presença destas dificuldades e dos respectivos auto-esquemas associados, não implicam uma maior frequência de Disfunções Sexuais (Cyranowski et al., 1999). Em termos de comportamento sexual, mulheres com uma visão sexual de si mais negativa, apresentam uma menor frequência e diversidade na actividade sexual, um menor número de parceiros sexuais e de relações ocasionais ao longo da vida (Andersen & Cyranowski, 1994; Andersen, Cyranowski, & Espindle, 1999). Também a dimensão da vinculação afectiva foi abordada por estes autores, chegando-se à conclusão que a presença de Auto-Esquemas Sexuais negativos determina um menor grau de Disfunções Sexuais Femininas 29 envolvimento afectivo com o parceiro, um maior evitamento de episódios de intimidade emocional e maiores níveis de ansiedade relativamente a hipotéticas rupturas da relação amorosa actual (Cyranowski e Andersen, 1998). Kuffel e Heiman (2006) estudaram a interacção da sintomatologia depressiva e esquemas sexuais com a resposta subjectiva de excitação, resposta genital e Afecto em 56 mulheres, usando medidas psicofisiológicas experimentais. Estes autores verificaram que as participantes que foram sujeitas à condição esquemática positiva demonstraram uma maior resposta de excitação (subjectiva e vaginal) e Afecto Positivo que as mulheres que foram sujeitas à condição esquemática negativa. Não deixa de ser curioso o facto de as mulheres pertencentes ao último grupo apenas demonstrarem uma confiança moderada na adopção de esquemas negativos, o que vem reforçar a influência destas estruturas na resposta de excitação e de Afecto aquando a presença de estímulos eróticos. A Dimensão do Afecto e as Disfunções Sexuais Femininas A tradição que rodeia o estudo da emoção continua a ser influenciada por nomes como Darwin, James e Cannon. Foi contudo, a partir de 1990 que esta área de investigação ganhou novos e actualizados contornos. As emoções são agora, e de uma forma geral, conceptualizadas como tendências fundamentais para a acção permitindo uma organização e motivação adaptativas (Cacioppo, 2003). Se por um lado, as emoções positivas são vistas como essenciais para haver uma exploração do ambiente circundante e para o pensamento divergente, as emoções negativas são equacionadas como exercendo um papel fundamental no respectivo ajustamento mental e comportamental (resolução de problemas), bem como para o pensamento convergente (Cacioppo, Larsen, Smith, & Bernston, 2004). Desta forma, se devido ao medo e ansiedade, os comportamentos tendem para a preparação, evitamento ou fuga de situações que sejam perigosas e ameaçadoras, as mesmas também conduzem à procura de segurança e Disfunções Sexuais Femininas 30 suporte por parte dos outros, base necessária para o envolvimento sexual e respectiva descendência (Barlow, 2002; Folkman, & Moskowitz, 2000). Hoje em dia a maior parte dos autores defende que a emoção é constituída por diferentes componentes, das quais faz parte o Afecto. Este é caracterizado como uma variedade de sentimentos diversos e ricos como a “felicidade”, “tristeza”, “raiva”, “surpresa”, “alegria” e “melancolia” (Barlow, 2002). A dimensão do Afecto foi estudada de perto por Clark, Watson e Mineka (1994), com a criação do “Modelo Tripartido” que serviu de trampolim para o estudo da natureza da Ansiedade e dos estados afectivos associados, como a Depressão. Estes autores concluíram que para uma melhor compreensão da Ansiedade e Depressão é preciso perceber que ambos partilham um mesmo componente expresso por ansiedade, humor negativo, falta de concentração, dificuldades no sono e irritabilidade, ou seja, o Afecto Negativo. Este constructo pode ser visto como um factor de vulnerabilidade crucial para o desenvolvimento de estados afectivos mais elaborados de Ansiedade e Depressão (Barlow, 2002), uma vez que se constitui como um traço geral, altamente estável e hereditário, constituído por uma multiplicidade de aspectos que vão desde o humor até ao próprio comportamento (Watson & Clark, 1984). Pode ser conceptualizado como uma sensibilidade extrema a estímulos negativos, sendo responsável pela hiperactivação quer do humor negativo, como o medo/ansiedade ou tristeza/depressão, quer de emoções como culpa, hostilidade e insatisfação. Na formação desta dimensão persuasível de experiências subjectivas, contribuem outras variáveis, nomeadamente cognições negativas, queixas somáticas, uma avaliação pessoal e dos outros negativa e diferentes características de personalidade como a rigidez, o pessimismo e a baixa auto-estima (Clark, Watson, & Mineka, 1994). No “Modelo Tripartido”, também é salientada a importância do Afecto Positivo, que contribui para uma grande parte da variabilidade dos estados depressivos, devido à sua quase Disfunções Sexuais Femininas 31 ausência. É assim comum, o sujeito sentir grandes dificuldades em ter prazer, sendo igualmente visível uma lentidão cognitiva e motora. É um constructo que reflecte o entusiasmo, actividade, controlo e compromisso, incorporando a disposição do sujeito para manter uma visão positiva ao longo do tempo e perante diferentes situações (Aspinwall, 1998; Watson, Pennebaker, & Folger, 1987). Indivíduos que possuem um maior grau de Afecto Positivo sentem uma maior satisfação pela vida e apresentam um maior nível de actividade (Watson & Clark, 1984). Demonstram um maior número e maior grau de satisfação nas relações sociais, sendo igualmente visível uma maior influência social em diferentes organizações (Watson & Clark, 1984). Um estudo de Bood, Archer e Norlander (2004) demonstra que a presença de um baixo nível de Afecto Negativo, a contrastar com um elevado Afecto Positivo (self-actualizing personality), corresponde a um perfil psicológico mais saudável perante o stress e a um maior optimismo, o mesmo não se verificando na presença de baixos níveis de afectividade positiva e negativa. A fechar o triângulo do Modelo Tripartido temos a hiperactivação fisiológica (palpitações, tremores, sensação de falta de ar, tonturas e outros), que se encontra principalmente correlacionada com o Afecto Negativo e com as perturbações de ansiedade (Brown, Chorpita, & Barlow, 1998). A implicação da dimensão do Afecto nas Disfunções Sexuais começa a ser estudada por Masters e Johnson (1970) e Kaplan (1974) que foram dos primeiros investigadores a apontar a ansiedade como o aspecto central na etiologia e manutenção das Disfunções Sexuais, estando associado quer ao medo de inadequação ao nível do funcionamento sexual, quer à grande exigência para satisfazer o parceiro e as expectativas deste último em relação ao desempenho. Segundo Masters e Jonhson (1970), este estado de ansiedade e consequente activação do Sistema Nervoso Simpático inibia a própria resposta de excitação sexual. Sabemos que as Perturbações de Humor e Ansiedade (Bodinger et al., 2002; Cyranowski et al. 2004; Kennedy, Dickens, Eisfeld, & Bagbuy, 1999) se encontram relacionadas com as mudanças na excitação e Disfunções Sexuais Femininas 32 interesse sexual, mas dados clínicos e experimentais em homens e mulheres sugerem que a ansiedade, por exemplo, pode ter um efeito neutro ou até mesmo facilitador na resposta de excitação sexual em ambos os sexos (Barlow, 1986; Beck & Barlow, 1984). Estudos laboratoriais (Hoon, Wincze, & Hoon, 1977; Palace & Gorzalka, 1990), demonstraram que mulheres funcionais e disfuncionais apresentam uma maior excitação sexual durante o visionamento de um filme erótico, quando este é precedido pelo visionamento de um filme que provoca ansiedade, em detrimento de um filme neutro. O mesmo padrão foi encontrado nos homens (Barlow, Sakheim, & Beck, 1983). Ao nível do desejo sexual, a presença de ansiedade e raiva leva a que as mulheres funcionais reportem uma diminuição do mesmo (Beck & Bozman, 1995; Lykins, Janssen, & Graham, 2006). A sexualidade é, contudo, bastante complexa e a interferência dos diferentes estados afectivos pode ser variada, principalmente nas diferentes fases de vida das mulheres, daí que as mesmas tenham vindo a ser alvo de um estudo mais intenso por parte de diferentes clínicos e investigadores (Warner & Bancrotf, 1988) Laan, Evergerd, Van Berto e Rijs (1995) e Meisler e Carey (1991), por exemplo, não encontraram alterações na excitação feminina perante a indução de Afecto Positivo, mas verificaram que a mesma permitiu uma atenuação das emoções negativas decorrentes da visualização de um filme erótico. Também as mulheres que apresentaram maiores níveis de excitação durante a apresentação do filme erótico mostraram uma maior alegria e uma menor taxa de depressão depois da sua passagem, independentemente do humor apresentado antes (Hackbert & Heiman, 2002; Meisler, & Carey, 1991). Outro estudo mais recente indica frequências significativamente menos elevadas de prazer e satisfação e mais emoções de tristeza, desilusão, culpa e irritação no decorrer da actividade sexual em mulheres disfuncionais, quando comparadas com um grupo considerado normal (Nobre 2003; Nobre & Pinto-Gouveia, 2006). De forma congruente Warner & Bancroft Disfunções Sexuais Femininas 33 (1988) verificaram com aplicação de um questionário retrospectivo em torno do ciclo menstrual que o interesse sexual da mulher, emoções e sensação de prazer se encontram fortemente relacionados com os níveis de humor positivo e energia. Também Bancroft (1989), ao estudar as mudanças de humor em relação ao ciclo menstrual, concluiu que as mulheres têm uma maior tendência a expressar sentimentos de índole sexual se estiverem com um humor positivo. Graham, Sanders, Milhausen e McBride (2004) estudaram 80 mulheres com uma idade média de 34 anos ao nível da resposta de inibição/excitação sexual perante diferentes situações, com objectivo de construir um questionário desta natureza. Verificaram que a presença de humor deprimido e irritação têm um efeito negativo na sua sexualidade. Curioso foi o facto de várias mulheres referirem a presença de níveis consideráveis de excitação na presença de sintomatologia ansiosa ou stress, recorrendo à auto-estimulação para uma redução da mesma. Em termos da frequência sexual, Fortenberry et al. (2005) analisaram o humor associado às relações sexuais em mulheres adolescentes que registaram durante cerca de 194 dias informação respeitante a estas duas variáveis. Os resultados demonstraram que a presença de humor negativo diminui a probabilidade de ocorrência de relações sexuais no mesmo dia. Blanchflower e Oswald (2004) analisaram uma amostra recolhida numa sondagem nos Estados Unidos com cerca de 16 000 homens e mulheres e verificaram que a frequência de relações sexuais se encontra positivamente correlacionada com a felicidade no geral. Num estudo com mulheres mais velhas, Burleson, Trevathan e Todd (2007) pretenderam analisar de que forma o afecto físico, actividade sexual e stress se correlacionam na vida diária através do registo diário em 35 semanas, do comportamento sexual, “proximidade física”, humor e stress. Os resultados mostraram que a interacção entre o contacto sexual e atracção física melhoram o humor e reduzem o stress, que por sua vez aumenta a probabilidade de futuras relações sexuais e um aumento na intimidade. A variável atracção física e outras variáveis da actividade sexual mostram-se positivamente Disfunções Sexuais Femininas 34 correlacionadas com o humor positivo no mesmo dia, e negativamente relacionados com o humor negativo e stress, no mesmo dia. O contacto físico com afecto e outras formas de actividade sexual com o parceiro num determinado dia deu origem a relatos de baixo nível de Afecto Negativo e menos episódios stressantes no dia seguinte, particularmente em participantes cujas relações eram relativamente recentes. O aumento do humor positivo predispôs o casal para diferentes comportamentos de índole sexual, à excepção da relação sexual propriamente dita, o que reforça a ideia de que as mulheres estão mais predispostas a expressarem-se sexualmente quando experienciam um estado de Afecto Positivo (Sanders et al., 1983; Warner & Bancroft, 1988). O Afecto Negativo diário e o stress não se correlacionaram com a atracção e comportamento sexual no dia seguinte. De uma forma geral, a investigação sugere que as emoções características da ausência de Afecto Positivo (típico da Depressão) influenciam a reposta sexual de forma mais consistente, que a presença de emoções típicas de Afecto Negativo, como a Ansiedade (Elliott & O’Donohue, 1997). Assim a diminuição do humor positivo parece estar negativamente correlacionado com a excitação sexual (Nobre & Pinto-Gouveia, 2006), uma vez que pode contribuir para um evitamento de pistas eróticas, facilitando ao mesmo tempo a interferência cognitiva produzida pelo foco da atenção em pistas não eróticas (Mitchell, DiBartolo, Brown, & Barlow, 1998). Assim se compreende, no seguimento do modelo de funcionamento sexual apresentado por Barlow (1986), que o impacto das dimensões cognitiva e fisiológica na excitação sexual seja diferenciado e que a activação fisiológica associada muitas das vezes à ansiedade, não prejudique a resposta sexual por si só. Assim, sujeitos considerados funcionais e que possuam uma boa capacidade para auto-regular a sua capacidade sexual (tendo em conta os processos esquemáticos, as aptidões e as expectativas de desempenho) irão dirigir o seu foco de atenção para estímulos sexuais, respondendo de forma mais activa ao aumento dos níveis de activação fisiológica. Esta activação fortalecerá o foco de atenção prévio nos estímulos Disfunções Sexuais Femininas 35 eróticos, melhorando o desempenho funcional e promovendo uma futura aproximação a situações de natureza sexual. Na presença de disfuncionalidade, os sujeitos irão provavelmente apresentar um conjunto de crenças sexuais irrealistas e inadequadas, menos aptidões sexuais, expectativas de desempenho negativas e a tendência para a desistência e evitamento, o que interfere no seu processo de auto-regulação sexual. Assim, perante uma situação sexual, o foco de atenção irá orientar-se para os aspectos negativos consequentes de um mau desempenho e o aumento de activação fisiológica servirá mais uma vez como reforçador deste foco, produzindo neste caso uma diminuição do desempenho sexual e futuro evitamento de outras experiências sexuais (Barlow, 1986; Sbrocco & Barlow, 1996). A comprovar a ideia de que o processo pelo qual a excitação diminui é mais devido a um mecanismo da atenção, que à ansiedade por si só, surgem estudos com mulheres funcionais que demonstram que, a presença única de um elemento distractor perante a exibição de estímulos eróticos provoca uma diminuição mais significativa dos níveis fisiológicos e subjectivos de excitação sexual (Adams, Haynes, & Brayer, 1985), que uma condição unicamente ansiógena ou simultaneamente ansiógena e distractora (Elliott & O’Donohue , 1997). A dimensão do afecto tem assim um papel preponderante em torno das Disfunções Sexuais, havendo um efeito mais significativo (e negativo) da ausência de Afecto Positivo que a presença de Afecto Negativo, outrora visto como o principal elemento ameaçador da funcionalidade sexual. Disfunções Sexuais Femininas 36 Referências Bibliográficas Adams, A. E., Haynes, S. N., & Brayer, M. A. (1985). Cognitive distraction in female sexual arousal. Psychophysiology, 22(6), 689-696. American Psychiatric Association (1994), Manual de diagnóstico e estatística das perturbações mentais – DSM-IV (4ª Ed.). Lisboa, Climepsi Editora. American Psychiatric Association (2000), Manual de diagnóstico e estatística das Perturbações Mentais – DSM-IV-TR (4ª Ed.) Texto Revisto. Lisboa: Climepsi Editora. Andersen, B. L., & Cyranowski, J. M. (1994). Women’s sexual self-schema. Journal of Personality and Social Psychology, 67(6), 1079-1100. Andersen, B. L., & Cyranowski, J. M. (1998). 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