CEFAC – CENTRO DE ESTUDOS DA FAMÍLIA E DO CASAL SINARA DANTAS NEVES TERAPIA NARRATIVA: O LADO QUASE LITERÁRIO DA PSICOTERAPIA SISTÊMICA DE CASAL Trabalho apresentado como parte dos requisitos para conclusão do curso de Especialização em Terapia Sistêmica de Casal e Família Orientadora: Maria Angélica Vitoriano Novembro 2011 “A vida de uma pessoa não é o que aconteceu, mas o que ela recorda e como recorda”. Gabriel Garcia Marques “Não podemos mudar o passado – abandonar dores ou desfrutar prazeres antigos – mas podemos mudar a maneira com que o antes atua agora”, Do livro “Sobre Deus e o Sempre”, Nilton Bonder. Ed. Campus AGRADECIMENTOS: Àqueles que me fizeram prorrogar o dom da terapia ao nutrirem, em mim, a dúvida se poderia... ...Fazer da ameaça uma possibilidade: de ser, estar e me doar. Agora sei que, além de estar sendo, sempre pude, e agora DEVO! Aos meus pais, meus filhos, meu marido, minhas irmãs, meus amigos, meus alunos e meus clientes, razão desta busca e deste encontro comigo mesma através do outro. A todas as terapeutas que tive quando cliente, por cuidarem da minha alma e servirem de espelho... De cada uma levo um pouco para meu consultório! Que Deus nos abençoe! “Quando conheço as pessoas que vêm se consultar comigo, às vezes penso nas possibilidades de direcionamentos para nossas conversas como se elas fossem estradas em uma viagem. Há muitas encruzilhadas, trilhas, muitos cruzamentos e caminhos para escolher. A cada novo passo, surge uma nova encruzilhada ou um novo cruzamento – para frente, para trás, à direita, à esquerda, em diagonal, em diferentes graus. A cada passo que eu dou com a pessoa que está se consultando comigo, abrimos mais direções possíveis. Podemos escolher aonde ir e o que deixar para trás. Sempre podemos tomar um caminho diferente, retroceder, voltar, repetir uma trilha ou ficar na mesma estrada por algum tempo. No início da jornada não sabemos ao certo aonde ela vai terminar, nem o que será descoberto... ...Cada questão que um terapeuta narrativo faz é um passo em uma jornada. Todos os caminhos podem ser tomados, alguns dos caminhos, ou alguém pode viajar ao longo de um caminho por algum tempo antes de mudar para outro. Não há um caminho “correto” a percorrer – simplesmente muitas direções possíveis entre as quais escolher... ...Os terapeutas narrativos estão interessados em unir-se a pessoas a fim de investigar as histórias que eles têm sobre suas vidas e seus relacionamentos, seus efeitos, seus significados e o contexto no qual elas foram formadas e criadas.” (Morgan, 2006) RESUMO Este estudo visa compreender o processo de mudança individual construído em terapia sistêmica de casal, a partir de uma perspectiva narrativa. A observação participante e a análise dos registros das dez sessões do casal permitiram investigar eventos e intervenções terapêuticas que contribuíram para a construção de uma narrativa em que as partes envolvidas se descrevem com uma maior autonomia de suas vidas, individualmente, superando a narrativa anterior do casal, saturada pelo problema e que os impedia de enxergar novas possibilidades individuais ou na conjugalidade. Entendese que os recursos propostos pela perspectiva narrativa, tais como a identificação de acontecimentos extraordinários, a externalização do problema e o fortalecimento de narrativas de enfrentamento ajudaram a construir novos sentidos por meio da criação de um espaço dialógico no contexto do casal. Apesar de contribuir no aprofundamento do conhecimento sobre a forma como o ser humano constrói a sua experiência de modo narrativo e lhe atribui significado, as reflexões realizadas apontaram ainda alguns desafios a serem enfrentados. Palavras-chave: terapia sistêmica, terapia narrativa, casal, autonomia ABSTRACT Keywords: narrative therapy, couple, autonomy APRESENTAÇÃO Este artigo apresenta um estudo de caso de um atendimento em terapia sistêmica de casal orientado pelos pressupostos da terapia narrativa. A história de mudança de duas pessoas numa situação de atendimento de casal, com sessões conjugais e individuais, é contada a partir de reflexões estimuladas pela prática narrativa em alguns episódios dos atendimentos realizados. Além de contribuir com os estudos na literatura científica referentes às contribuições da terapia narrativa no Brasil, este artigo pode estimular a construção de novos sentidos e jeitos de se atuar no âmbito da terapia de casal, uma vez que a prática clínica tem sido um importante contexto de geração de conhecimentos. De acordo com Rasera e Japur (2001), apesar de serem múltiplas as contribuições do construcionismo para o campo da psicoterapia individual e de família, ainda são raros os trabalhos que apresentam tais contribuições para o contexto da terapia de casal. INTRODUÇÃO Nossas vidas estão entrelaçadas constantemente pelas narrativas. Histórias que contamos ou que escutamos, que gostaríamos de contar, todas elas reelaboradas num relato de nossas vidas que contamos a nós mesmos. Vivemos imersos na narração e evolução do significado de nossas ações, convertendo nossas vivências em relatos que dão forma a nossas vidas e nossas relações, através das histórias saturadas de problemas que nos definem e pela qual nos sentimos definidos, que muitas vezes encobrem as habilidades e os recursos dos quais as famílias dispõem. No começo dos anos 80, alguns terapeutas começaram a mudar o foco da atenção sobre a crença de que centrar-se sobre os problemas obscurece os recursos e soluções que residem dentro dos clientes e começaram a tratar o conceito de identidade pessoal como uma construção social fluida (WHITE & EPSTON, 1990), em que o terapeuta não é mais visto como a fonte da solução dos problemas dos clientes, fruto do que cada um é e das relações que têm com suas redes sociais: “A pessoa nunca é o problema, o problema é o problema”. A externalização de um problema consiste na separação lingüística do problema e da identidade pessoal do cliente. A identidade das pessoas é construída através de conexões sociais, podendo ser negociada em seus contextos e comunidades de pertencimento (PALMA, 2008). Por isso, é importante que saibamos reconhecer o efeito negativo das crenças que sustentamos ao longo das nossas vidas, já que muitas delas são resultados da bagagem cultural que absorvemos. Nesse sentido, o enfoque narrativo tem o efeito de buscar extrair ou externalizar esses problemas e crenças. A crença da realidade como construção social foi o principal pressuposto para as práticas narrativas. Com a abordagem narrativa, formula-se uma sequência de perguntas que exercem um efeito libertador para as pessoas. É produzida, assim, uma re-narração de suas histórias e se começa a assumir uma visão externa do problema, impedindo a identificação da pessoa como um problema, ao mesmo tempo em que a motiva a mudar. Investiga-se como o problema tem afetado a pessoa ou a família, o que permite aceitar e reconhecer as limitações que o problema tem imposto às suas vidas. Dessa forma, a família e a pessoa se unem ao terapeuta numa meta comum de destrinchar o problema e seu domínio sobre a pessoa e a família. PERSPECTIVA SISTÊMICA DA TERAPIA NARRATIVA: UMA ELABORAÇÃO CONSTRUCIONISTA DA PRÁTICA CLÍNICA Sob a orientação positivista, Ciência e Psicologia buscavam respostas para suas inquietações acerca da natureza, do universo e do ser humano a partir da objetividade científica e metodológica, em que a subjetividade humana era cada vez mais rejeitada. Este paradigma científico tem dado lugar a conceitualização de uma ciência pósempírica, pós-estrutural e pós-moderna, que tem se destacado pelos confrontos que estabelece com os princípios que dominaram por tradições a produção do conhecimento. Nesta nova perspectiva, o conhecimento emerge da interação entre sujeito e contexto, em que cada sujeito atua como um “construtor ativo de significados” (HENRIQUES, 2000). O fato dos seres humanos serem vistos como contadores de histórias e o pensamento tido como essencialmente metafórico e imaginativo, cuja manipulação é caracterizada por uma procura intencional de significação, tem sido defendido por diversos movimentos da Psicologia, como o Construcionismo Social, o Construtivismo Desenvolvimental, o Pós-Modernismo e a Teoria Narrativa (GONÇALVES, 1998 apud FONTE, 2006). A realidade é encarada como algo que só fará sentido depois de ser construída pelo próprio sujeito, e, assim, vivemos numa pluralidade de mundos criados pelas nossas próprias distinções perceptivas. Nesse sentido, há tantas realidades quanto o número de lentes perceptivas que escolhemos enxergar e a linguagem passa a coconstruir algo com o interlocutor. “É através da linguagem que construímos intencionalmente a nossa experiência, que depois dá lugar a uma configuração narrativa” (MANITA, 2001 apud FONTE, 2006). Em concordância, MacNamee e Gergen (1992 apud FONTE, 2006) argumentam que as construções que fazemos do mundo e de nós próprios são limitadas pelas nossas linguagens. É através da linguagem que os seres humanos conseguem expressar e comunicar a sua experiência. Através da ação proativa da linguagem, que exprime e potencia o que vivemos, construímos conhecimento e significado (GONÇALVES, 2000). No reconhecimento da linguagem como aspecto central da construção do conhecimento, a partir de 1980, a idéia da narrativa passou a ser foco de atenção da Psicologia. Para Fonte (2006), várias definições de narrativa têm emergido, fazendo com que alguns teóricos discutam sobre a idéia de que todos os pensamentos são narrativos (HOWARD, 1991) ou de que “as narrativas iluminam os significados humanos” (POLKINGHORNE, 1998; SARBIN, 1986), como forma de organizar episódios, ações e relatos de ações, como numa associação entre a narrativa coerente da nossa vida e a nossa identidade, através da qual as pessoas passam a nos conhecer. Resultantes da contemplação da epistemologia pós-estruturalista surgem, nos anos 90, nos EUA e Europa, várias novas visões terapêuticas. Alinhados com esta tendência, Michael White, na Austrália, e David Epston, na Nova Zelândia, organizaram uma forma peculiar de abordagem que prioriza a atenção sobre as histórias que as pessoas contam sobre si mesmas e suas dificuldades. Práticas terapêuticas capazes de transformar discursos de fracasso em narrativas de esperança foram desenvolvidas. A narrativa exerce a função de elemento central da experiência do indivíduo, como uma forma de construir um conhecimento indissociável da experiência de existir (GONÇALVES, 1996 apud FONTE, 2006). Conforme Henriques (2000 apud FONTE, 2006), “é através do processo de estruturação das experiências, dentro desta estrutura narrativa, que o ser humano encontra coerência e significado na sua vida”. Assim, percebe-se que a narrativa permite a ligação do indivíduo com os outros, não como um ato mental individual, mas como uma produção discursiva de natureza interpessoal e culturalmente contextualizada. Segundo as abordagens sobre a definição das narrativas, construímos a nossa existência sobre a base de uma estrutura narrativa articulada com os contextos e produção de significações e sentidos. O ser humano organiza seu conhecimento de modo narrativo, constrói e interpreta a realidade que o rodeia como uma forma de representar e reproduzir dramaticamente os acontecimentos. Como não recriam literalmente a experiência, as histórias que contamos acerca das nossas vidas podem ser radicalmente transformadas, o que faz com que deixem de fazer sentido a depender das circunstâncias. Este poder transformativo das narrativas se desenvolve a partir da capacidade de re-narrar os acontecimentos das nossas vidas, atribuindo a eles novos significados. Para Fonte (2006), transportamos conosco um estoque de significados acumulados ao longo da nossa história pessoal e social. A depender da estrutura narrativa que desenvolvemos, construímos significações para experiências passadas e planejamos proativamente experiências futuras. Pensamos, fantasiamos, compreendemos e fazemos escolhas a partir disso. A palavra “narrativa” se refere à ênfase que é colocada nas histórias de vida das pessoas e na diferença que pode ser feita a partir de um modo específico de contar e recontar estas histórias. Cabe ao sujeito, então, a organização narrativa das experiências e acontecimentos numa construção dotada de sentido e passível de reconstruções, já que, à medida que nos desenvolvemos, somos levados a reinterpretar sucessivamente a realidade, na busca de uma compreensão subjetiva mais completa e congruente dessa experiência, estreitamente ligada aos significados sociais e culturais dominantes (MANITA, 2003 apud FONTE, 2006). A abordagem narrativa permite que pessoas, organizações ou comunidades saiam de uma história dominante de descrições de vida para experimentarem novas histórias, novos sentidos de identidade e possibilidades. Trata-se de uma abordagem colaborativa, respeitosa e desculpabilizante, apoiada na ética e na transparência, que sempre coloca as pessoas como peritas das suas próprias vidas, na crença absoluta de que todo ser humano é maior do que qualquer problema e tem habilidades, competências, crenças, valores e comprometimento capazes de sustentar as mudanças na forma de se relacionar com as dificuldades que estão passando. A Terapia Narrativa envolve modos de entender as histórias de vida das pessoas e modos de recuperar a autoria destas histórias, através da colaboração entre o terapeuta e as pessoas cujas vidas estejam sendo discutidas. Trata-se de um modo de trabalhar que está interessado na história, em contextos mais amplos (familiares, sociais, políticos, culturais) que estejam afetando as vidas das pessoas, e na ética ou política da terapia. Questiona as práticas que reduzem os diagnósticos a rótulos já estabelecidos e evita localizar o problema nas pessoas. Pelo contrário, entende que o problema está no modo como as pessoas vivem suas vidas, dentro de um contexto social mais amplo. Não nega a existência de questões biológicas que precisam de cuidados específicos, mas enfatiza que o problema é o significado que as pessoas dão àquilo que estão vivendo, e também às histórias que são contadas sobre o que é problema para cada um. Costa (2011) considera a Terapia Narrativa uma nova abordagem para o trabalho com pessoas, famílias, instituições e comunidades. Somos seres constituídos na linguagem, a partir dos significados que construímos para dar sentido ao mundo em que vivemos. Estruturados numa rede de pessoas, de organizações, mas também em redes ou sistemas de narrativas, que são o conjunto das histórias que contamos e que são contadas sobre cada um de nós, construímos significados que passam a fazer parte da rede de conversações, que constitui a cultura a que pertencemos e de onde surgem as nossas condutas. Para Costa (2011), “é uma prática que vai além dos trabalhos individuais geralmente desenvolvidos nos consultórios dos terapeutas. É um forma de trabalho multi-disciplinar, eficiente para todos aqueles que se interessam pelas relações interpessoais, familiares, grupais, institucionais e sociais. Descarta as noções baseadas na ciência tradicional. No lugar de um saber único e universal, valoriza o saber local, a cultura que se expressa através das histórias que contamos e que contam sobre nós.” Desta forma, a psicologia narrativa configura-se enquanto uma psicologia da significação, que não se detém apenas à entrada, tratamento e devolução das informações, mas essencialmente ao processo pelo qual o sujeito cria suas significações, que não está desligado dos significados sociais, culturais e históricos. Assim, os sujeitos agem de acordo com as significações que as situações ou eventos têm para si, e estas, por sua vez, são um produto social resultante das interações entre os indivíduos. Assim, “organizar narrativamente a experiência é, sobretudo, dar-lhe um sentido” (GONÇALVES, 2000 apud FONTE, 2006). Por isso, quando se pensa num contexto de uma sessão terapêutica, entende-se a psicoterapia como um encontro de narrativas terapêuticas em que o terapeuta ativa suas memórias pessoais durante a sessão. Na atividade de conversação e interação terapêutica o terapeuta participa da coconstrução de histórias do cliente, fazendo recursos às suas próprias histórias, chamando atenção às narrativas presentes em ambos, que “se encontram”. AS PRÁTICAS NARRATIVAS EM PROCESSOS TERAPÊUTICOS O enfoque sistêmico representou uma verdadeira revolução no campo da psicoterapia, apresentando um modelo alternativo de entender os problemas humanos, em que se modificou o conceito de causalidade linear, dominante nos anos 50, que considerava que um acontecimento A determinava ou provocava um acontecimento B e este, por sua vez, determinava um outro C, e assim, sucessivamente, do passado ao presente. A Terapia Familiar é um esforço, com mais de 50 anos de história, de engajamento em idéias novas e não-ortodoxas, de questionamento das visões comumente aceitas e de desenvolvimento de práticas criativas. É caracterizada por um número grande de temas que incluem o enfoque dos problemas que as pessoas enfrentam dentro de contextos mais amplos da vida; a visão das identidades das pessoas como sendo construídas através dos relacionamentos familiares, da história e da cultura; e o entendimento dos problemas das pessoas através de uma abordagem interacional e participativa, através do encontro com as famílias e outras comunidades das quais as pessoas fazem parte. A terapia familiar sistêmica pressupõe que um indivíduo é uma entidade que interatua dentro de um sistema de relações de onde se intercambia informações e onde existem influências recíprocas, caracterizando um conceito de causalidade circular. Desta forma, a análise de uma pessoa se dá em função de sua relação com os demais; se passa do intrapsíquico para o relacional; da análise do passado ao estudo do que governa a relação aqui e agora; do porquê do problema, para o que é o problema e como se pode modificá-lo. A Terapia de Família tem proporcionado um contexto para o questionamento daquilo que freqüentemente não se pergunta. A ênfase na curiosidade dentro da terapia narrativa está ligada ao desenvolvimento da Terapia Sistêmica de Milão; o uso da equipe reflexiva está ligado ao trabalho de Tom Andersen, o que representa a grande contribuição das perspectivas sistêmicas e interações familiares para o desenvolvimento de modos de trabalhos narrativos. Dentro da Terapia Familiar há um grande número de abordagens que exploram estes temas de formas diferentes. A Terapia Narrativa é apenas uma das várias escolas da Terapia Familiar e, dentro deste campo, encontramos também uma diversidade de apropriações da metáfora narrativa na terapia. Alguns autores têm explorado o potencial das idéias pós-modernas para influenciar as conversações terapêuticas, outros têm explorado as idéias pós-estruturalistas e, alguns outros, estão atualmente se denominando terapeutas discursivos, tendo muito em comum com a psicologia crítica. As relações terapêuticas configuradas a partir da abordagem inovadora de Michael White (Austrália) e David Epston (Nova Zelândia), nos anos 80, sofreram grandes transformações. A Terapia Narrativa teve grande repercussão no campo da terapia familiar por apresentar uma nova maneira de compreender os problemas e seus efeitos na vida das pessoas e das famílias. Algumas pessoas escolhem referir-se a “práticas narrativas” ao invés de terapia narrativa, pois acreditam que a expressão “terapia narrativa” de alguma forma é limitadora de um esforço de engajar o trabalho narrativo em diferentes contextos. A possibilidade de construção de sentido e significado às experiências de suas vidas, a partir da narrativa pessoal, molda a vida e os relacionamentos. As pessoas são bastante seletivas quanto a que experiências atribuem importância, sentido e significado, enquanto outras são negligenciadas e adormecidas. A Terapia Narrativa sempre envolve a mudança de significados e o relato de histórias, mas, os modos como isto ocorre, diferem enormemente, dependendo das pessoas envolvidas. Há uma grande variedade de modos como as histórias podem ser contadas e mudadas; as pessoas tentam se fazer entender de muitos modos e o papel dos terapeutas é o de se engajar nas experiências e significados das pessoas que os consultam, seja qual for o modo de expressão destes significados. A terapia narrativa busca ser uma abordagem respeitosa que centra as pessoas como especialistas em suas próprias vidas. Morgan (2006) considera que a terapia narrativa refere-se a formas peculiares de se compreender as identidades das pessoas, seus problemas e os respectivos efeitos disso na vida delas; formas singulares de conversar com as pessoas sobre suas vidas e os problemas pelos quais estão passando e, ainda, formas particulares de compreender as relações terapêuticas, a ética ou a política da terapia. Segundo a Terapia Narrativa, a postura do terapeuta deve focalizar estratégias de iluminação para tirar das sombras os acontecimentos brilhantes, que são as portas de entrada para a construção das histórias preferidas/alternativas. Com isso, quando as histórias preferidas ficarem tão fortes e importantes quanto às histórias dominantes, as pessoas poderão se apoiar nas primeiras, para entender como lidar com as dificuldades da vida. O questionamento do contexto onde se localiza a gênese da construção do problema, muitas vezes se torna imprescindível, refletindo como a vida é moldada pelas exigências sociais e culturais. Trocar as lentes perceptivas da sociedade é essencial, já que, geralmente, os indivíduos se acomodam com o uso daquelas internalizadas por definições culturais internalizadas, destrutivas e opressivas, e, por isso, terminam refletindo isso em suas ações. O terapeuta narrativo busca questionar os domínios de gênero, cultura, classe social e espiritualidade, evitando reproduzir o discurso dominante normativo das sociedades. De acordo com Palma (2008), este profissional necessita desenvolver algumas habilidades em seu trabalho, tais como: a) ouvir as descrições que as pessoas fazem de suas vidas e identidades, buscando as lacunas no discurso; b) desenvolver um estado de curiosidade visando à exploração conjunta da vida do sujeito; c) ser ativo e fazer boas perguntas que enriqueçam a história alternativa em construção; d) contribuir para o desenvolvimento da capacidade das pessoas construírem significados, expandindo as histórias negligenciadas e esquecidas; e) prover a documentação apoiadora do sujeito, através de cartas, documentos e registros por escrito; f) encontrar a audiência adequada, as testemunhas externas, para presenciar a reconstrução da identidade do sujeito. O terapeuta narrativo dispõe de muitos recursos práticos a serem utilizados no decorrer das sessões, mas, a cada etapa do processo terapêutico, deve escolher o recurso mais adequado e de que ma neira poderá fazê-lo. Além de refletir como sua vida é “tocada” pelas histórias que escuta (ressonâncias), o terapeuta narrativo deve buscar sempre uma posição de “não-saber”, no qual se apresenta como descentrado (focalizando a experiência pessoal única do sujeito e não seus conhecimentos pessoais) e influente (buscando, com atenção aos detalhes, a história alternativa que ficou adormecida). Michael White consolidou uma clínica própria, capaz de investigar as intenções e propósitos de vida das pessoas; de forma que os problemas as ameaçam e as distanciam dos seus objetivos, impedindo-as de executá-los. Define Michael White (1989): “A Terapia Narrativa fala sobre opções para contar e recontar e para o desenvolvimento e re-desenvolvimento das histórias favoritas das vidas das pessoas; retribuir os eventos únicos, contraditórios, contingentes e, às vezes, aberrantes das vidas das pessoas, significantes como presentes alternativos; um re-engajamento e uma produção da história dos presentes alternativos das vidas das pessoas; uma exploração dos conhecimentos e habilidades alternativos que informam estas expressões, e a identificação da história e localização cultural destes conhecimentos – muitas vezes os conhecimentos subordinados de habilidades da cultura; descrição rica na qual a história alternativa do presente das pessoas é ligada com as histórias alternativas de seu passado – uma ligação das histórias através dos tempos; ligação de histórias entre vidas, de acordo com temas compartilhados que falam de compromissos em comum e uma descrição rica dos contextos para as atividades de contar e recontar e recontar o já recontado”. As práticas narrativas apóiam-se em ferramentas como: externalização do sintoma; reautoria; remembrança; testemunhas externas e mapas, que só funcionam inseridas de forma coerente numa postura terapêutica que contempla a crença, o respeito, a admiração e a curiosidade pela história singular de cada ser humano. A partir da arte de formular perguntas e estabelecer conversações, histórias e habilidades da vida das pessoas que antes eram negligenciadas podem tornar-se conhecidas, ajudando a reduzir a influência dos problemas em suas vidas. A terapia narrativa geralmente envolve a “re-autoria” ou a “re-narração” das conversas, afinal, significados são constantemente atribuídos para as nossas experiências ao longo da vida. Temos histórias sobre nós mesmos, nossas lutas, nossas competências, nossos relacionamentos, nossos interesses, nossas conquistas, nossos sucessos e, até, nossos fracassos. Assim, a forma como desenvolvemos essas histórias é como uma linha que entrelaça os eventos, formando uma história com uma sequência particular e lógica, a partir dos significados que atribuímos a ela. Há muitas histórias ocorrendo ao mesmo tempo e histórias diferentes podem ser contadas sobre os mesmos eventos, mas “nenhuma história em particular pode ficar livre da ambigüidade ou contradição e nenhuma história pode encapsular ou manipular todas as contingências da vida” (MORGAN, 2006). Os eventos, ao ocorrerem, podem ser interpretados de acordo com o significado que é dominante naquele momento, por isso, viver requer um engajamento pessoal no processo de mediação entre as histórias dominantes e a histórias alternativas de nossas vidas. Michael White (1990) considera que a vida é multi-historiada e as pessoas compartilham histórias de suas vidas sob o ponto de vista de uma história dominante/ oficial, que se configura pelas experiências vividas, qualificando e constituindo o sujeito e, na qual as outras ficam à sombra, caracterizadas como histórias subordinadas/secundárias, formadas por uma variedade de alternativas narrativas incluindo as experiências negligenciadas pela história dominante. Neste universo, o terapeuta narrativo está interessado em procurar, criar nas conversas, histórias de identidade que irão ajudar as pessoas a se libertarem da influência dos problemas que estão enfrentando. Essa busca pelas histórias subordinadas alternativas através das práticas narrativas permite a entrada do sujeito em outros territórios da sua identidade, explorando recursos, habilidades e capacidades até o momento ocultas e esquecidas (PALMA, 2008). A “metáfora do prédio”, criada por Michael White (1989 apud PALMA, 2008), simbolizava a possibilidade do desenvolvimento de histórias subordinadas ricas e consistentes: Imagine um prédio vazio, formado apenas por paredes, chão e teto, sem elevador nem escadas. A história dominante se encontra no térreo e, através de perguntas, o terapeuta narrativo prepara a construção de andaimes, permitindo alcançar os outros andares, até atingir o topo do prédio, onde se encontra a história preferida/subordinada. O movimento de subida se dá de forma progressiva e gradual, dentro da chamada zona de desenvolvimento proximal (VYGOTSKY, 1934), na qual o sujeito e a sua família ainda necessitam de um outro (terapeuta) para auxiliá-los na construção de sua autoria e autonomia, diminuindo a distância entre o já conhecido e o que é possível conhecer. Consoante Elbachá (2005), a prática narrativa de Michael White está ancorada no contraste entre o fino e o espesso, ou seja, as pessoas dão significados às suas experiências vividas através de uma estrutura narrativa e as conversas terapêuticas proporcionam sentidos às histórias subordinadas, através de perguntas terapêuticas que fornecem os “andaimes” para a geração de novas conclusões e significados (despatologizantes e desproblematizantes) sobre a identidade e a história. Assim, conclui Michael White (2005), “as histórias subordinadas saem das sombras e fazem sombra nas histórias dominantes”, proporcionando os “up-grades” para as pessoas na reconstrução das identidades e criação de re-autoria. Para Morgan (2006), as maneiras pelas quais compreendemos nossas vidas são influenciadas pelas histórias mais amplas da cultura na qual vivemos. Ou seja, sempre há um contexto no qual as histórias de nossas vidas são formadas, e é ele o responsável pelas interpretações e significados que atribuímos aos eventos. Assim, as crenças, as idéias e as práticas da cultura na qual vivemos têm uma grande importância com relação aos significados que damos às nossas vidas. Como instrumentos opcionais, para orientar o trabalho dos terapeutas, Michael White desenvolveu os Mapas da Teoria Narrativa, como “andaimes” úteis no desenvolvimento de histórias que relatam, re-relatam e re-re-relatam os sentidos e significados das histórias e dos problemas. São eles: 1) Conversas de re-autoria - Esse mapa tem como finalidade a compreensão dos entendimentos intencionais e internos, do que é valorizado pelo sujeito, do seu aprendizado e das emoções evocadas conectadas à história, às pessoas significativas e aos aspectos culturais. O sujeito é convidado a trazer sua experiência de vida ligando-a à paisagem de ação ao longo da sua vida (história remota, história distante, história recente, presente e futuro próximo) e à paisagem de identidade (personalidade, temperamento, habilidades, qualidades, objetivos/intenções, valores, esperanças/sonhos, princípios e compromissos). Ou seja, como o sujeito interpreta e dá significado aos eventos e experiências de sua vida, de acordo com suas características pessoais e relacionais, suas metas, seus valores, suas crenças e desejos. A busca por histórias na linha do tempo leva à reconstrução da identidade e construção da re-autoria. 2) Conversas de re-membrança - Pelo uso deste mapa pode-se atingir o propósito de refletir e identificar a contribuição da pessoa significativa para a vida do indivíduo, a identidade do indivíduo aos olhos da pessoa significativa, a contribuição do cliente para a vida da pessoa significativa e as implicações desta contribuição para a identidade da pessoa significativa; Ou seja, pessoas significativas podem ser trazidas de volta como “membros do clube da vida” do sujeito. Essa pessoa significativa, viva ou morta, será lembrada pela sua contribuição especial para a vida do sujeito. Isto possibilita a construção de diferentes conceitos de identidade, através do estímulo em relembrar as trocas destas relações. 3) Conversas de externalização - O objetivo deste mapa é a caracterização do problema, verificar como ele se relaciona com outras dimensões da vida do sujeito, trazer a experiência do sujeito sobre o desenvolvimento do problema e permitir a consciência dos valores atribuídos aos problemas; Ou seja, o sujeito não é visto como portador do problema, mas sim, vivendo sob os efeitos dele. Enxergando os problemas separados das pessoas, o sujeito e sua família podem observar a influência dos problemas na sua vida e sua influência na vida do problema. Segundo Elbachá (2005), “o mapa da externalização do problema se ancora em caracterizar o problema: nomeá-lo; mapear as conseqüências dele; contar as experiências dessas conseqüências e questionar o porquê se importa com as conseqüências do problema na sua vida”. Os eventos singulares ou exceções que contradizem a história dominante e que, geralmente, são negligenciados na percepção, passam a ser prioridade na análise, já que podem reduzir a influência dos problemas e criar novas possibilidades de vida. Revelam uma identidade diferente do sujeito, “propiciando a esperança de uma vida com menos sofrimento e mais conforto.” (PALMA, 2008). 4) Cerimônia de definição - Esse mapa contribui, de maneira muito poderosa, para a visibilidade do sujeito (ser ouvido, visto e conhecido) e definição coletiva do seu self, através do reconhecimento e validação, por uma audiência especial, das suas preferências, autenticidade e recursos. Ou seja, nesta sessão, são convocadas, pelo terapeuta, testemunhas externas, com autorização e escolhidas em parceria com o sujeito, que podem ser amigos, familiares, outros profissionais ou pessoas significativas que possam expressar os re-relatos das ressonâncias sobre aquilo escutado. A sessão é composta por três partes: a) o contar – o terapeuta entrevista o sujeito focalizando no desenvolvimento da história alternativa; b) o re-contar – as testemunhas externas são entrevistadas pelo terapeuta de forma estruturada, levando em conta identificar a expressão (palavras ou frases que capturaram sua atenção na história contada?), descrever a imagem (que tipo de imagens ou metáforas foram evocadas sobre o que ouviu?), identificar a ressonância (o que evoca entre o que ouviu e a sua própria história?) e reconhecer as catarses (qual o movimento na vida da testemunha causada pelo impacto da experiência vivenciada, ou seja, qual o novo entendimento sobre sua vida agora?); c) re-contar do re-contar – o terapeuta entrevista o cliente sobre o que este ouviu das testemunhas externas segundo a mesma estrutura (expressão, imagem, ressonância e catarses). Outro instrumento apoiador interessante na prática da narrativa terapêutica é a documentação terapêutica. Através de cartas, declarações, desenhos, músicas, manuais, listas, documentos, projetos artísticos comunitários, anotações ou filmagem das sessões é possível registrar um momento de reflexão, aprendizagem ou descoberta, ao longo do atendimento terapêutico, tornando viável o acesso do sujeito ou da família o ao que já foi construído, avaliando o seu caminhar no processo de autoria da sua vida. OBJETIVO O objetivo deste estudo é compreender o processo de mudança individual construído em terapia sistêmica de casal, a partir das transformações das narrativas de si mesmo no processo conjugal, bem como contribuir no aprofundamento do conhecimento sobre a forma como o ser humano constrói a sua experiência de modo narrativo e lhe atribui significado, dando visibilidade às formas de utilização das propostas de terapia narrativa no contexto da prática de casal. MÉTODO O presente trabalho conta a história de um atendimento de casal realizado no CEFAC – Centro de Estudos da Família e do Casal, localizado em Salvador-BA. O modelo de atendimento, de base construcionista social, foi influenciado pelas contribuições da terapia narrativa, da abordagem sistêmica e dos processos reflexivos (Epston, White e Murray, 1998). A prática realizada apoiou-se na criação de um contexto de conversação de base dialógica em co-terapia, através da qual os terapeutas se colocavam enquanto parceiros de conversação, junto com uma equipe de terapeutas posicionados por trás de uma parede de espelho unidirecional que buscavam criar condições conversacionais que facilitassem a produção de novos entendimentos sobre as coisas e as pessoas, contribuindo para a criação de narrativas de mudança. A equipe reflexiva, por sua vez, assistia silenciosamente à conversação terapêutica e, quando convidada, compartilhava suas impressões e questionamentos com os participantes do grupo. O grupo foi de curto prazo, com dez sessões de uma hora e meia de duração e contou, também, com a participação de um supervisor. Para preservar a identidade dos sujeitos investigados neste estudo de caso, foram utilizados nomes fictícios: João (J.) e Maria (M.). A HISTÓRIA DE JOÃO E MARIA João tem 29 anos e Maria tem 33 anos. Ambos vivem a idealização de um 2º casamento. João é paranaense e veio transferido para Salvador por questões de trabalho, numa operadora telefônica. Maria é gaúcha e veio acompanhar o marido. Apenas depois de 2 meses que se conheceram (no mesmo ambiente de trabalho), foram morar juntos, 1 mês depois Maria engravidou e, no total, após apenas 1 ano de relacionamento, já tinham uma filha, que hoje tem 2 anos, resultado de uma gravidez não planejada, que nasceu no Rio Grande do Sul, mas veio com eles para Salvador. O casamento anterior de Maria durou 9 anos, mas Maria não teve filhos, apesar de levar 6 anos sem utilizar nenhum método contraceptivo. João viveu uma relação anterior de 5 anos de namoro sério, o qual resultou numa gravidez não planejada, cujo filho já está com 6 anos, mas mora com a mãe, em São Paulo. Ambos revelam, de forma geral, logo na 1ª sessão, o desejo de reparar “coisas mal resolvidas entre a gente, ou na vida da gente.” (J.) (M.): “Ele tinha algumas qualidades que meu ex-marido não tinha. Eu via nele uma pessoa determinada. Ele tinha a missão, pretensão de buscar coisas boas para vida dele. Achei inteligente[...] Hoje as coisas estão tão perdidas que eu não sei mais se eu o admiro. As características existem, mas, parecem que elas não chamam tanta atenção, não tem esta representatividade. As coisas que me fizeram com que eu admirasse ele [...] hoje outras atitudes fizeram com que situações ruins acontecessem[...]” (J.): “A gente busca suprir as necessidades que ficaram sem alcançar na relação anterior[... ]O que mais abalou o nosso relacionamento foi que veio acontecer de novo uma gravidez não planejada”[...] “Procurei a terapia tentando encontrar uma ajuda para tentar fechar essa ferida que eu não consigo fechar sozinho[...] ” (M.): “Tudo foi desencadeado desse episódio. Depois disso apareceu um Marcos que eu não conhecia[...]” (J.): “Eu não tenho problema nenhum nem em relação a mim, nem em relação a gravidez, nem em relação a minha filha porque é amor incondicional”[...] “Hoje o mais complicado de estar com Maria[...]” Para Epston, White e Murray (1998), existem momentos em que as narrações e as experiências não se encaixam, não se conectam, deixando lacunas, espaços entre os discursos e aquilo que vivenciamos. Estes momentos são chamados de “acontecimentos extraordinários”, que “incluem toda gama de acontecimentos, sentimentos, intenções, pensamentos, ações, etc. que têm uma localização histórica, presente ou futura, e que o relato dominante não pode incorporar” (WHITE & EPSTON, 1990: 32). Logo na 1ª sessão ficou claro que a conjugalidade deste casal se fez necessária a partir de um acontecimento extraordinário e, por isso, a primeira impressão deste casal fica marcada por este evento significativo. O casal, quando questionado quanto à maior dificuldade em estarem um com o outro, responde da seguinte forma: (J.): “Falta um relacionamento de namoro”; (M.): “Eu demonstro meus sentimentos de uma forma diferente, eu sou mais seca. A gente vive como „cada um numa vida‟[...] Outra intervenção terapêutica foi quanto a possibilidade de receberem uma varinha de condão, mágica, capaz de realizar desejos, em que eles iriam escolher o 1º pedido: (M.): “As coisas estão realmente muito perdidas. Para que a gente recomeçasse tinha que deixar lá no passado [...] ” (J.): “Conseguir fechar a ferida. Se for para a gente ficar junto[...] Vamos ficar juntos? Não sei. ” Foi sugerido, também, que um, olhando para o outro, pudesse dizer o que profundamente deseja alcançar neste processo terapêutico: (J. para M.): “Independente de qual vai ser o rumo do nosso relacionamento, que cada um possa sair sem nenhuma ferida. Foi o que me fez vir aqui, de coração aberto. Você merece muito mais o meu respeito do que ultimamente eu tenho te demonstrado.” (Entende-se que J. quer curar as feridas dele, independente do rumo do casamento) (M. para J.): “Fechar estas mágoas, estas feridas que atrapalham; buscar um equilíbrio para tentar entender o que resultou e a gente tentar ter uma vida mais feliz do que a que a gente teve até agora.” (Entende-se que M. quer ser feliz com J.) A 1ª hipótese a respeito deste casal versa sobre a impressão de que ambos, ao se encontrarem, buscavam novas relações com a expectativa de encontrar o que não acharam nos parceiros anteriores. Cada um entrou na relação com seus objetivos pessoais: Ela querendo inconscientemente ser mãe e ele viu nela um esteio da mulher segura que pudesse dar base para a estrutura emocional dele. Se submeter aos planos de João foi pré-requisito para Maria garantir esta relação, mas quando ela fere o pacto de poder cuidar sozinha da contracepção do casal, ele se acha traído e percebe que ela era uma mulher normal. Esta decepção pelo outro talvez signifique uma estratégia de não conseguir sustentar um contato com a própria decepção (de ter deixado este controle por conta de Maria, somente). A 2ª hipótese foi de que a ferida atual remete João a outras feridas da relação anterior e para Maria é como se a levasse a reviver o casamento que teve, como uma continuidade. A 3ª hipótese foi de que o equilíbrio de Maria amedronta João, que, por não ter esta característica, a inveja. Para ele talvez seja mais fácil conviver com a frágil, com a insegura. Ele proporciona força e ela, desamparada, se submete. White e Epston (1990), em busca da separação entre as pessoas e os seus problemas, propõem um modelo que ajuda as pessoas a criarem histórias alternativas. Este modelo consiste no terapeuta utilizar “perguntas de influência relativa”, em que num primeiro momento busca-se entender a influência do problema sobre a vida da pessoa e, posteriormente, a influência da pessoa sobre a vida do problema. Assim, por meio da definição do problema e deste jeito de se perguntar, o terapeuta busca identificar os “acontecimentos extraordinários”, que podem estar no passado, no presente ou no futuro. Pensando nisso, foram conduzidas algumas sessões individuais, para que cada um pudesse externalizar o problema, redescrevendo a sua relação com ele, o que os ajudou a reformular a sua relação consigo mesmo. DOS RECURSOS DE JOÃO João foi pai, pela primeira vez, aos 22 anos. Viveu uma grande paixão com a mãe de seu 1º filho, mas que sabia não ser para sempre. Teve o segundo filho aos 25. Maria apresenta João como uma pessoa extremamente desconfiada e, acrescenta: (M.): “- Eu confio primeiramente em todo mundo até que me prove o contrário!” João retruca: “- Eu já conhecia ela, quer dizer, acho que já conhecia[...]” Já na 2ª sessão João comenta: “- Eu descobri que o problema não era ela!” (Como se, após a sessão inicial, ele já pudesse enxergar de outra forma o problema). Filho de pais separados, cuja separação ficou por 7 (sete) anos esquecida (ele não consegue lembrar nada da sua vida dos 7 (sete) aos 14 (quatorze) anos de idade, quando justamente sua mãe decide assumir uma nova relação, com seu atual padrasto): (J.): “Dos 7 aos 14 anos teve um „apagão‟[...]” Seus pais brigaram dos 7 (sete) aos 22 (vinte e dois) anos dele! Quando sua mãe casou com seu pai estava grávida dele e, novamente, casou grávida do irmão dele com o 2º marido, quando ele tinha 14 anos. Hoje seu irmão tem 14 anos. Seu pai tem 50 anos, viveu por 17 anos uma relação com uma mulher que já tinha filhos, mas hoje está sozinho por opção. (J.): “Tem umas namoradinhas”. Sua maior frustração é ter saído de uma rota planejada por ele para sua vida (não ter sustentado uma crença): (J.): “– O plano era não ter ninguém” (Depois que a relação com a mãe de seu filho acabara) [...] “A minha família, como um todo, não tem sucesso em relacionamentos.” João tem uma experiência de paternidade, enquanto Maria vem de um casamento anterior sem filhos, mas em nenhum momento João pensa que Maria idealizou a gravidez: (J.): “Eu não consigo acreditar que foi pré-meditado [...] Eu não consigo acreditar que ela bolou tudo isso”. Desenvolve-se mais uma hipótese em torno deste casal: João não pode ainda enxergar que em algum momento essa mulher fez exames de fertilidade com o parceiro anterior. Como se ele não pensasse nessa mulher como mãe, mas ela já era mãe dele nessa relação. (J.); “Eu tenho pensado nestes últimos 2 meses em me separar, por mais que nessas duas últimas semanas isso tenha diminuído [...].” Intervenção terapêutica (Conversas de re-autoria): “A vida traz para você uma história de não planejamento e você insiste em planejar”. (J.): “É, sou eu lutando contra a minha própria história...” Intervenção terapêutica (Conversas de re-autoria): “[...] planejar tanto e viver de forma desplanejada, desorganizada: A vida te traz experiências [...] Ao invés de você abraçar a gestação como um novo plano [...] Você transferiu para essa mulher a responsabilidade de cuidar do seu plano [...] Como você é atento à sua vida [...] Como aqui, nesse processo, você tem sido flexível [...] Você deve estar atento a como integrar essas duas coisas [...]” Devolução por Narrativa Terapêutica: João, Sentimos que nesse momento, do que fomos capazes de começar a te conhecer, não está ainda claro o que seria mais terapêutico para você, o que você realmente precisa construir por você e para você daqui pra frente: Se você precisa ou seria bom se pudesse confiar nas surpresas da vida (?), se aliar a elas (?), usufruir (?), concordar (?), receber (?), ao invés de se punir e ao outro, ou se torturar... Ou se seria melhor para você que você tomasse mais conta e posse dos seus reais desejos e projetos, para que eles possam acontecer o mais dentro possível do planejado (?). Esse é só o começo de uma das “portas” que podemos te ajudar a abrir nesse processo terapêutico. Pense com carinho e profundamente nisso, pois você é o especialista de si mesmo e você pode saber melhor inicialmente o que realmente te falta dar lugar, experimentar e construir para sua vida (?!) Suas terapeutas e Equipe Reflexiva do CEFAC, Em 26/05/2010, às 11:00 horas. Após as intervenções terapêuticas e a narrativa que foi entregue à João, ele foi atribuindo novos significados à sua vida pessoal e organizando novos planos para sua relação conjugal, o que confirma e ilustra a terapia narrativa como uma perspectiva terapêutica pautada por influências construcionistas sociais a partir da linguagem (FREEDMAN & COMBS, 1996; WHITE & EPSTON, 1990; WHITE, 1995, 2007). Para White e Epston (1990), as terapias narrativas focam-se na compreensão de como a experiência das pessoas é narrada e de como essas narrativas dão sentido e constituem as experiências. (J.): “Parece que tá piorando...eu não tô conseguindo sentir nada por ela. Não tô conseguindo nem sentir o respeito que ela merece...” (Nesse momento se sente mais à vontade para revelar seu envolvimento com outra mulher: uma amante, numa relação que já dura 1 (um) mês. Ela é colega de sala da faculdade, onde ele cursa Direito, à noite). Algumas intervenções terapêuticas levaram João à re-membrança (WHITE, 1990) da figura da mãe do seu filho e sua relação com ela: (J.): “Essas terapias me fizeram ver a paixão que eu sentia pela mãe do meu filho [...] Adora sexo, carinho, tato [...] totalmente mimada, tem 30 anos hoje e nunca trabalhou. Não trabalha nem se preocupa com dinheiro [...] Era um relacionamento conturbado [...]” E faz um paralelo com Maria: “Apesar de nunca ter me apaixonado por ela, eu consegui amar ela.” E volta a falar da mãe do seu 1º filho: “Foi uma opção minha a de não querer casar com a mãe do meu filho.” E, mais uma vez, comenta sobre Maria: “Quando ela pediu para casar comigo [...] Colocou meu sobrenome no dela [...] Talvez a perda do pai dela a leve a não demonstrar sentimentos por medo da perda [...] ” Considerando a ênfase construcionista da polivocalidade, Epston, White e Murray (1998) apontam que as histórias que contamos sobre nós mesmos têm um caráter indeterminado e são revestidas de contradições e ambigüidades: (J): “Essas duas últimas semanas foram terríveis...Com esta terapia eu acho que eu já deixei bem claro: Não busco resgatar o casamento; Busco fechar algumas feridas do passado. Superar primeiro, olhando para trás e depois olhar para frente e ver: - Vai dar para continuar o casamento?” (J.): “Há quinze dias atrás pra mim não tava tão claro.” A gente não consegue saber o que existe de fato em relação ao sentimento hoje [...] Por isso que eu não tomei nenhuma atitude[...] ” Fica clara a polaridade que existe neste cliente: um extremo de responsabilidade com a vida e outro extremo de um garoto jovem que quer curtir. Para fazê-lo refletir foi sugerido que ele revelasse qual o seu maior sonho e o seu pior pesadelo, para sua vida: (J.): “Sonho? Eu não tenho. Se fosse para I., para M. eu até saberia [...]” E, então, as terapeutas o instigam: “- Não disperse. Não saia deste lugar difícil para você, do seu desejo [...]” (J.): “Não vem nada! [...] Meu sonho é ser feliz!” Terapeutas: “E qual é o seu pior pesadelo?” (J.): “O 1º pensamento que veio foi perder I. (a filha que teve com Maria).” Ao longo deste processo com João, alguns membros da equipe reflexiva que assistiam silenciosamente, atrás do espelho, às sessões, foram convidados a compartilhar suas impressões e questionamentos na frente do cliente, levando à consideração de algumas hipóteses: * O que será que acontece com João em relação a esta questão de querer deixar tudo tão organizado? É como se ele não pudesse transgredir, tivesse que sustentar a idéia do menino bom; não pudesse conviver com o menino bom e mau ao mesmo tempo. É como se ele tivesse algum prazer em arrumar tudo; * A perspectiva da existência de um casamento em que não existe um casal. Daí a necessidade de João aprender a lidar com os conflitos dentro do casamento. Após um mês e meio, João ainda apresenta uma narrativa saturada em relação à Maria e seu discurso agora aparece repleto de ambigüidades. (J): “Eu pedi que ela não me tocasse e ela respeitou...Temos tido muitos momentos de lazer...É prazeroso estar com ela, mas não sei como marido e mulher.” Há passagens de conversas de externalização (White, 1990), que serviram de ajustes do papel das terapias individuais no processo de terapia de casal. (J.): “O que eu penso muito dessas sessões em que eu tô vindo sozinho é que de fato eu tenho muitas coisas da minha vida para entender [...]” (J.): “Tem um sentimento de zelar pela integridade dela” (Crença de „respeito à mãe dos meus filhos‟). (J.): “Na realidade eu não nos vejo mais como um casal [...] O meu sentimento é de quem queria ser o melhor amigo dela.” Hipótese: João depende tanto de Maria, da figura dela, que se mantém nesse lugar. Mas ela recusa ser qualquer coisa se não for mais esposa dele. Há uma relação de co-dependência. Por outro lado, Maria, desde a 1ª sessão, comenta que João não suporta desorganização e, para haver qualquer re-organização da parte deles, a condição prévia é a desorganização. (J.): “[...] estou 100% bloqueado: „fechei o corpo para ela‟... sexualmente Maria não marcou em nada [...] ” (O caso da triangulação volta a aparecer nas sessões e a crença de que não está traindo Maria porque não se relaciona mais fisicamente com ela). (J.): “ [...] eu gosto tanto dela, como se ela fosse minha irmã” Hipóteses: 1) De que lidar com separação é algo muito difícil para João, porque reaviva a separação dos seus pais, na sua infância e o término com a mãe do seu 1º filho; 2) De que ele quer cuidar desta mulher como o seu pai não cuidou da mãe dele; 3) Iminência dele estar vivendo com Maria uma preparação para uma nova separação. DOS RECURSOS DE MARIA Maria foi mãe aos 31 anos, apesar de ter saído cedo da casa dos pais para se casar e investir num casamento adolescente que durou 9 anos, sem filhos. Conheceu João 1 ano e meio depois de desfazer o casamento anterior, ainda tendo bens em comum para se desfazer. Maria teve na relação dos seus pais o modelo da família feliz. Seu pai (falecido) era extremamente carinhoso, “era como se tivessem 3 (três) crianças em casa: eu, meu irmão e minha mãe”. A mãe era menos pegajosa, “era quem colocava a gente na linha; meus pais deviam brigar, mas não na frente da gente [...]” Ela tem um irmão de 38 anos, que, na época em que ela engravidou de João ficou sem falar com ela: (M.): “O F. (irmão), quando conheceu João achou ele gente boa. Ele foi a 1ª pessoa que contei sobre a gravidez e falei que o João queria que eu tirasse e nunca mais falou nada comigo e eu, minha mãe e minha cunhada achamos que isso aconteceu por ciúmes porque eu acho que, como meu casamento (anterior) acabou, ele achava que era a vez dele dá um neto à minha mãe e aí eu apareci grávida e ele ficou com ciúmes[...]tanto é que meu sobrinho tem 8 meses de diferença para a I. (filha dela com João). A família nuclear de Maria tem um lugar privilegiado ainda hoje, mesmo morando em cidades diferentes. (M.): “Eu falo com minha mãe por telefone todo santo dia [...]a minha mãe é muito intensa[...] negativa, desesperada[...]” (M.): “Eu fiquei quase 3 (três) meses sem puder falar com a minha mãe [...]” (na época da gravidez, foi a medida de prevenção de conflitos que Maria adotou). (M.): “Ela não é contra o casamento (com João), já o F. (irmão) é contra [...]” (M.): “[...] desde que meu pai morreu [...] ela tem boas intenções, mas é de uma maneira que às vezes sufoca a gente. Meu irmão sente assim também [...] Quando eu me separei ela achava que a responsabilidade sobre a minha pessoa passou a ser dela de novo, e aí ela tinha que me ligar o tempo todo [...] Conforme a gente foi crescendo, eu e o meu irmão fomos não dando tanto espaço para que ela agisse dessa maneira [...] Pra mim isso é extremamente irritante [...] Esse cercar, esse sufocar, é uma ansiedade muito grande em cima da gente [...] Esse comportamento dela me cansa; ela é muito invasiva!” Maria apresenta João como “uma pessoa hoje carente, inseguro, perdido, carente. Tem dificuldades em lidar com mudanças muito bruscas. Carinhoso.” (M.): “A gente tem uma dificuldade de comunicação [...] eu sou extremamente rancorosa; eu tenho uma dificuldade muito grande de perdoar.” Como depois da 1ª sessão (com o casal) Maria só compareceu num 5º encontro, ela pôde trazer as suas impressões quanto ao processo individual de João nessa terapia de casal, assim como, esclarecer sobre os novos rumos a que este processo têm os levado. (M.): “Depois que o João saiu das consultas ficou muito confuso, já não sabia mais o que ele queria. De umas 2 (duas) semanas para cá as coisas se acalmaram...a gente decidiu fazer as coisas começarem a mudar. Cada um tem uma parcela de culpabilidade pelas coisas terem acontecido do jeito que aconteceram[...]Hoje ele tá muito mais tranqüilo, eu acho que ele deu uma melhorada [...] Comigo, na realidade, as coisas mudaram faz pouco tempo. Ele saiu daqui com a convicção de que os sentimentos dele mudaram..” O convite para que Maria comparecesse às sessões foi um investimento dos terapeutas em também cuidar para que o processo ocorra também com ela, para que ela entendesse o problema que eles trouxeram no 1º momento e qual o seu engajamento nele. (M.): “Um dos problemas da gente é que a gente compete muito. As coisas começaram a ficar ruim desde quando engravidei [...] a gente não teve tempo de se conhecer direito [...] Talvez se a gente tivesse se conhecido antes, não teríamos escolhido viver juntos [...] Eu sempre gostei dele desde o 1º dia em que o vi. Ele sempre foi uma pessoa divertida [...] A coisa ficou muito densa depois da gravidez”. Com a sua narrativa ela justifica o porquê ter deixado João utilizar um espaço que, inicialmente, era deles, do casal: (M.): “Eu disse: - Vá buscar um tratamento que eu vou cuidar da minha vida [...] Ele tava buscando um caminho muito individualista; ele assumiu um caminho que ele começou a se fechar [...] O João não tem habilidade para lidar com as frustrações. Perdeu status, poder, uma parcela do salário [...] saiu do estratégico e foi para o operacional de novo. Isso desestruturou ele [...] não que a gente tivesse as mil maravilhas, desestruturou ele emocionalmente [...] Entrou na faculdade em março deste ano (2010) e entrou num mundo que parecia cor de rosa; um mundinho que ele criou [...] Peguei ele mentindo e eu comecei a mexer em tudo e foi desse momento que ele começou a ficar com a cabeça virada.” Maria esclarece, como se quisesse, informar, que “a decisão foi dos dois de procurar ajuda”, mas nas ações não foi isso o que apareceu. (M.): “Chegou num ponto em que eu me vi sem opção. Ou eu vou ou o casamento não vai ter futuro.” O interessante de analisar entre os recursos de João e os recursos de Maria é que, de uma história saturada pelo problema pode-se passar para uma história em que a pessoa se sente como responsável pelas próprias narrações, como agente da própria vida, com capacidades de agir e mudar o mundo (RASERA & JAPUR, 2004). (M.): “Resolvemos ficar juntos. Nenhum dos dois se apaixonou... foi uma coisa que foi acontecendo conforme a gente foi se conhecendo [...] Se a I. (filha do casal) não existisse, eu não sei se eu teria largado mão da minha vida lá para vim morar com ele [...]” (M.): “Até o dia em que eu engravidei tava todo bem. Era satisfatório. A notícia da gravidez fez com que a gente tomasse a decisão de ficarmos juntos.” (M.): “Eu não planejo a minha vida, eu vou vivendo [...] Eu vivo as coisas conforme elas vão acontecendo [...] Eu gosto de sair do trabalho e ir para minha casa, descansar, ficar c a I. (filha do casal). (M.): “Ele quer ser bons amigos, mas é um bom amigo muito engraçado. Ele não quer que eu volte; ele não quer separar; diz que eu sou muito egoísta porque vou afastar a I. (filha) dele [...] aí eu disse: - Então tá, se você me diz que tem convicção de que seu sentimento mudou por mim então eu preciso me preparar emocionalmente para me separar porque agora não tenho condições de me separar [...]” Maria apresenta conversas de re-autoria (WHITE, 1990): (M.): “Eu acho que o que me afastou efetivamente dele foi no ano passado o que a gente viveu, que foi horrível. Eu aprendi que a gente não precisa falar tudo o que sente [...] eu guardo muita mágoa, sou rancorosa”. (M.): “Tô tentando ser mais carinhosa, sem ser falsa, então, dentro das minhas limitações, eu vou fazendo [...] Intervenção terapêutica: “- É que vocês são diferentes: ele bota tudo pra fora e você bota tudo para dentro.” No processo em que as pessoas passam a reconhecer “acontecimentos extraordinários” e criar novas explicações e descrições que podem contribuir para a construção de novas narrativas, o terapeuta pode ajudar no fortalecimento das narrativas pessoais do cliente, legitimando-as e possibilitando que o cliente crie um lugar diferente para si mesmo nas suas relações e na sua vida: Ex1: “Hoje na sua casa tem um casal de amigos, um casal de amantes...tem o quê? (M.): “Eu acho que tem um casal em reconstrução [...] Ele diz: A estratégia mudou. Eu acho que às vezes ele leva tudo como um jogo [...] Ele sabe que as coisas não estão bem, então ele não enfrenta a situação, ele foge. Parece que ele tá jogando: parou de ficar em casa, de ser carinhoso, de dar atenção [...] Eu já tenho as minhas limitações e agora ela assim comigo, eu viro para o lado e durmo. Eu encosto, ele vai chegando para o lado, eu encosto a mão ele se afasta [...] Todos os hábitos mudaram. A gente sempre se falava por telefone. Parece que ele mudou a estratégia para eu cair na real [...] É que eu não sou um poço de emoções [...] Eu quero tá junto com ele, eu quero estar casada, eu quero a nossa família [...] então é o momento de reconstruir, dele saber do que eu gosto nele, eu saber o que ele gosta em mim!” Ex2: “Que relação você faz da história de João com a outra esposa (mãe do 1º filho) e com você agora? (M.): “Ele é um adulto, mas não se comporta como. Ele assumiu muitas responsabilidades, talvez de uma maneira emocional que talvez não tivesse preparado para assumir a vida dele sozinho com todas essas coisas acontecendo [...]” Ex3: “Como você se vê dentro dessa situação? (M.): “Ele me via como um suporte e quando eu fragilizo, ele fica inseguro. A partir do momento que eu perdi essa estrutura, isso desestabiliza ele. É como se eu não pudesse me fragilizar porque eu sou a parte forte da relação [...] Não sei se foi insegurança da parte dele, mas talvez ele pensasse que fosse ser diferente.” Ex4: “A terapia não se trata de um tratamento, e sim um processo de reconstrução de significados, de troca... Vá e leve o que ocorreu aqui para pensar...” (no final de uma sessão). Ao longo das sessões, a narrativa de Maria se modifica, demonstrando muitos paradoxos, como uma pessoa que enfrenta processos de desconstruções (PICHON-RIVIÈRE, 1977): “Bem ou mal, de verdade, eu não quero acabar meu casamento, pegar a I. (filha do casal) pelo braço e afastar ela do João. Eu tenho a esperança de que as coisas se acomodem [...]” “Tudo que acontece é culpa de Maria (usa na 3ª pessoa), mas eu tô cansada de ser sempre a culpada de todas as coisas do mundo [...]” Para enfrentar estes processos, Maria estabelece, novamente, durante as sessões, conversas de re-autoria (WHITE, 1990): (M.): “Eu acho que eu entrei num processo de depressão quando vim para Salvador porque sempre tive acostumada a trabalhar e pra mim foi muito difícil. Eu sei que era necessário não trabalhar porque a I. (filha do casal) era muito pequenininha, mas não soube passar por isso [...] O João podia ter me contratado quando eu vim para Salvador, mas não quis [...] esse momento foi muito difícil para mim [...] Eu tava sozinha com uma babá e uma criança de 8 (oito) meses, sem telefone, sem Internet, numa cidade que a gente não conhecia [...] Ele diz que sempre esteve do meu lado, mas desse jeito... Ele passava o dia todo na rua e quando ele chegava em casa, eu queria conversar e ele já chegava reclamando que eu não sabia dar ordens à empregada.” Conversas de externalização (WHITE, 1990): (M.): “Eu tenho coisas pra tratar, tenho, mas eu me acho muito mais equilibrada para lidar com problemas emocionais do que ele (João), que tem dificuldades para lidar com frustrações [...] Ele agora tem mania de dizer que eu sou uma mulherzinha, que tenho um empreguinho e o dele é tudo maravilhoso [...]” (M.): “Eu comecei a me sentir assim, uma farsa, eu sempre fui muito prática, muito objetiva, óbvio que tinha minhas crises, minhas tristezas, mas aqui eu não consegui ter forças para modificar [...] O momento que mais me assustou foi quando eu olhei para Isabela e eu não conseguia sentir nada por ela [...] Como eu não sinto nada pela minha filha? Como eu permito ele me tirar do sério? Ele me tira de sério, mas eu sei que eu permito!” (M.): “A próxima ação dele é me desabonar como mãe [...] Ele quer que eu role no chão com I. (filha do casal)[...]Ele quer rolar no chão, ele role no chão com I (filha do casal). Ele diz que se eu for embora para Porto Alegre, ele vai lutar pela I. (filha) e vai tirar ela de mim [...] Em alguns momentos a impressão que me dá é que ele faz isso para se vingar de um passado”. (Referindo-se ao “acontecimento extraordinário” que os levou à terapia: a gravidez não planejada) A terapia de casal, a partir de encontros individuais com Maria vai estimulandoa a elaboração de novas possibilidades para sua vida, com ou sem João. Para Michael White (2005), como as pessoas estão submersas numa narrativa saturada de problemas (história dominante), tornam-se impedidas da capacidade de perceber as iniciativas, os recursos extraordinários, os eventos singulares que fazem parte das histórias não contadas (histórias subordinadas), onde estão ancoradas as oportunidades de re-significação, riqueza e visibilidade de sua história. Nesse sentido, cabe aos terapeutas assumirem uma postura de engajamento e valorização das narrativas do cliente. Intervenções terapêuticas: (1) “Você acha que essa forma que vocês tem de lidar com .... defesas ... quanto mais você está introspectiva, mais agressivo ele é com você e, em contrapartida, quanto mais agressivo, mais você se fecha...” (para estimular a cliente a observar a influência do problema em sua vida); (2) “Você entrou aqui dizendo sobre sua preocupação com ele e traz um problema do casal e sua maior preocupação é com ele, ao invés de ser com você, com o casal?” (para estimular a cliente a observar a sua influência na vida do problema); (M.): “É porque talvez eu não esteja preparada para uma separação.” (3) “Agora você tá falando de você”. (M.): “Eu acho que agora ele está usando de outra estratégia porque na minha opinião quem quer se separar pega sua mala e vai embora e agora ele diz que a gente ainda não pode se separar por causa de dinheiro [...] Se eu não quero continuar casada [...] ter uma vida de solteiro que no entendimento dele não é vida de solteiro e continuar em casa, lavando a roupa...” (4) “Mas de alguma forma parece que vocês já estão vivendo assim.” (5) “E dormem numa mesma cama.” (M.): “Eu tô aguardando porque eu não tenho a menor intenção de me separar dele e continuar aqui, então eu não vou procurar casa aqui. Eu vou pedir minha transferência e vou embora. Vou fazer o quê aqui sozinha separada?! (Isso pode sugerir que o plano de voltar para cidade-natal faça parte do jogo simétrico que se percebe nessa relação). (6) “Você acredita que ainda existe amor romântico da parte dele?” (M.): “Não sei [...] ele diz que o sentimento dele mudou [...] e eu digo à ele: - Mas se o seu sentimento mudou, então vai cuidar da sua vida [...] e ele diz: - Ah, porque eu quero ser seu melhor amigo! [...] - Mas eu não quero ser sua melhor amiga. Você é o pai da minha filha, mas eu não quero ser sua m amiga!” (M.): “Há muito tempo que eu acho que a gente não tá sendo nada um pro outro.” (M.): “Depois que ele entrou na faculdade foi que a coisa veio à tona. Afetou a auto-estima dele [...] ele tá totalmente desestruturado [...]” (M.): “Há momentos que eu tenho vontade de me separar e momentos que penso que se a gente conseguir melhorar a nossa convivência [...] mas acho q talvez a gente possa construir uma relação de respeito [...]mas eu posso tomar uma decisão de ir embora e [...] À princípio hoje eu não tenho motivo para não ter uma relação amigável com ele.” A equipe reflexiva que assistia silenciosamente, atrás do espelho, às sessões foi convidada a compartilhar suas impressões e questionamentos na frente da cliente, levando à consideração de algumas hipóteses: * É como se a defesa está sendo mais prioridade neste casamento do que o desejo: “Ele se defende agressivamente, sendo bruto, agredindo [...] Ela se defende se fechando com uma dificuldade que já traz na história dela [...] se retraindo, ficando até „fria‟ afetivamente [...] Ele vem com esta agressividade que detona um gatilho da defesa dela em se retrair [...] A gravidez é um marco que abre o gatilho da defesa dos dois. Será que ainda há tempo para o desejo neste casal com tanta defesa?! * “Será que esse casamento ainda existe? Ou as defesas já construíram o divórcio emocional deles?!” * Para este casal só existem 3 (três) caminhos: a reconstrução enquanto casal; um divórcio difícil ou um divórcio amoroso que preserve a filha e o casal. A equipe reflexiva pôde também prestar uma contribuição especial para Maria, sugerindo que ela se implique mais no processo terapêutico, observando o que dá prazer a ela nessa relação e utilizando sua força pessoal a favor dela própria, para que ela possa entender qual o lugar de I. (filha do casal) nesta família (?!), qual o lugar deste pai (?!), desta mãe (?!), do casal (?!) e de cada um, individualmente (?!): “- E, se, por acaso, ela sentir que ainda existe desejo entre eles, talvez se os 2 (dois) puderem fazer um reparo destes danos para que as defesas não ultrapassem os desejos [...] Mas cada um tem que fazer sua parte! Para que as defesas não se tornem desamor, desafeto [...] o que você precisa entender é o que você efetivamente quer! [...]” DOS RECURSOS DE JOÃO E MARIA Após a sessão inicial (entrevista) feita com o casal, os dois só compareceram juntos, novamente, enquanto casal, na 7ª sessão, em que já havia passado 4 meses. Parecem dispostos a melhorar o que machuca no outro e trouxeram queixas quanto as questões profissionais($) x vida pessoal. Era, enfim, a oportunidade dos terapeutas revisarem os significados antigos do casal e possibilitarem a construção de novos, assim como valorizarem os desafios encontrados na busca, individual, de cada um dos seus clientes. Para isso, foram feitos questionamentos capazes de enriquecer as suas histórias de vida: “- O que é de cada um que contribui para a crise do casal?” “- Para estarem juntos, o que é possível?” João revela que, para ele, Maria deve trabalhar o lado retraído dela, tentando não levar em consideração tudo o que ele fala. Comenta que Maria gosta de ter momentos de isolamento; é mais lenta; mais prolixa e pôde reconhecer que, assim, como ele, Maria tem tentado não trazer à tona aspectos do passado para a relação. Em contrapartida, Maria expõe que João gosta de estar com muita gente; é mais elétrico; mais direto e objetivo; mais rígido e sistemático. Valoriza que a partir das suas vindas à terapia, ela percebe o quanto ele tem tentado medir as palavras, ser menos agressivo, pensando e reformulando seu discurso. Torna-se perceptível a existência de um Duplo Vínculo Recíproco que o casal vem mantendo. Maria: amor x liberdade (controle); João: “preciso viver a vida” (raiva) x “não posso viver a vida” (cobranças, responsabilidades). Ela se fecha, ele fica agressivo; ele tem mais necessidade de afeto e termina cobrando, ela se retrai e fica mais „fria‟; essa frieza leva-o a ficar mais agressivo; quando ele fica calmo, ela fica mais amorosa, e assim por diante. A partir do discurso e das observações, os terapeutas chegam à uma hipótese durante a sessão de casal: Será que João está disposto a mudar para investir no casamento ou para “preparar o terreno” para sair de casa? Apesar de apresentar-se disposto a investir, João confessa que todo o investimento dele é por I. (filha do casal) e que isso repercute, muito, no relacionamento deles. Então, Maria frisa que isso só dará certo se ainda existir sentimento. Para João, Maria tem tudo, sabe de tudo e é responsável por tudo: ela tem I. (filha do casal); tem conhecimento sobre ele; e, ainda, tem conhecimento sobre o que precisa modificar nela para que ele esteja melhor na relação. Segundo Gergen (1997), as narrações não são posses do indivíduo, mas das suas relações, que estão inscritas num sistema social e histórico. Nesta perspectiva, as narrações não são a expressão do nosso mundo interno, mas opções discursivas, formas sociais de significarmos as nossas experiências e de organizarmos as nossas ações. Para o autor, a maneira que nos descrevemos ou narramos as nossas histórias pode ajudar ou dificultar a busca por novas soluções para nossos problemas. Assim, o que se observou quanto a este casal, Maria e João, foi que, no momento em que eles saíram da zona de conforto que ocupavam na manutenção do casamento, no lugar de vítimas e/ou culpados, assumindo a responsabilidade por terem deixado chegar onde chegou e a falta de garantia de como estariam suas vidas caso optassem em se separar, puderam não mais procurar achar a causa, e sim buscar um meio para conduzirem melhor as suas vidas e enfrentar as imprevisíveis possibilidades. NEM JOÃO DE MARIA, NEM MARIA DE JOÃO De acordo com as teorias construcionistas, a psicoterapia é um processo de mudar o discurso “problemático” por outro mais fluido que permita à pessoa se relacionar melhor consigo mesma, sua vida, bem como com outras pessoas (LAX, 1998). Assim, a mudança neste contexto é compreendida como um processo em que as pessoas passam a utilizar narrativas preferíveis sobre si mesmas e suas vidas. Talvez por isso Maria tenha resolvido viajar à sua terra natal, para repor energias, para o que estava se aproximando quanto aos rumos da sua relação conjugal: “Era como se eu tivesse ido buscar minha força [...] eu era bem mais forte lá do que aqui [...]” (Isso comprova o quão importante é o processo de re-membrança a que a teoria de White (1990) estimula, em que pessoas significativas ajudam à re-significação da história individual da vida de outrem). (M.): “A M. que saiu de lá, não é a mesma que chegou aqui...voltei muito mais segura de lá, sabendo que o meu porto seguro não está aqui, mas ele existe. A gente corre para as pessoas que nos dão esse suporte (referindo-se à mãe, irmão e amigos).” (M.): “Eu tomei tanta cerveja com as minhas amigas, chorava, chorava, chorava, falava mal do João, queria colocar tudo para fora. Eu falei com meu irmão sobre o porquê dele ter ficado os 9 meses sem falar comigo.” (referente aos 9 meses da gestação da filha dela com João) (M.): “Eu nem fiquei muito tempo com minha mãe; ela ficou envolvida com as crianças... hoje ela tenta controlar de „uma‟ outra maneira... ela antecipa, supõe situações e começa a viver como se aquilo fosse uma realidade.” De acordo com White (2000), não é apenas a nossa experiência que estrutura a nossa expressão, a nossa expressão também estrutura a nossa experiência. Ou seja, as histórias que contamos sobre nós mesmos podem dar sentido para as nossas vidas e as nossas relações, modificando-as. Com base nisso, percebe-se, realmente, uma Maria modificada, na sua forma de ver o outro e a si mesma: “Chegou uma época, quando eu me casei, que eu não sabia se eu realmente gostava dele [...] mas eu não suportava mais viver com a minha mãe [...] eu vivia fora de casa [...] saía sexta à noite e voltava só segunda de manhã.” “O João tem 2 (dois) extremos: ele é extremamente carinhoso, mas também muito violento, em algumas situações. O meu irmão deu um basta em minha mãe de uma maneira que eu achei que não havia necessidade.” “[...] eu senti muito menos falta dele do que eu achei que fosse sentir; eu não tinha nem vontade de falar com ele; as vezes que eu falei c ele foi porque ele me ligava [...]” A re-membrança também foi estimulada por perguntas feitas pelos terapeutas: “- Se nós convidássemos a sua mãe, para falar sobre você, sobre o momento que você está vivendo com o João, ela diria o quê?”; “- E suas amigas, se a gente as chamasse aqui, como é que elas apresentariam este momento da Maria? (M.): “Diriam para eu me cuidar, cuidar da minha auto-estima, que está muito abalada e que eu não deixe ele fazer isso que me abala emocionalmente[...]e que eu só vou tomar uma atitude quando eu estiver preparada e quando isso acontecer, „nós‟ estaremos aqui!” “- Vc acha que elas, que sua mãe, confiam que você é capaz, que você sabe lidar e dar conta da sua vida [...]? E seu irmão?” (M.): “[...]parece que ele pensa que eu sou burra...” Maria pôde dar um feedback em relação ao que está podendo construir a partir deste processo terapêutico, dando-nos demonstrações, no discurso, do seu processo de mudança individual, apesar da terapia de casal: (M.): “Eu continuo vindo aqui para me ajudar com isso. Depois do que pude escutar aqui eu comecei a fazer Acupuntura [...]eu tenho dormido melhor, melhorou a dor de cabeça [...]tô procurando uma academia porque eu detesto fazer exercício, talvez Pilattes e tô atrás de um Centro Espírita para eu ir, de vez em quando assistir umas palestras, tomar uns passes, para eu me sentir forte, para eu me encontrar...” (M.): “Eu tô ficando velha, careca, estressada, doida, não consigo nem trabalhar direito, não tenho tido nem tempo para I. (filha), que tem se tornado agressiva [...] faz uns escândalos [...]parece que ela é tomada de uma raiva [...]isso tá fazendo mal para ela e ela precisa de um ambiente saudável para crescer.” (M.): “Eu tenho preocupação com o João, porque eu sei que ele não tá bem, até perguntei para ele se ele não queria procurar um psicólogo para fazer um tratamento individual e continuar vindo aqui [...] porque ele tem umas coisas muito doidas, medo de perder a I. (filha) [...] porque o João tem o dom da palavra e quando ele conversa com a mãe dele parece que ele está muito bem, mas só quem convive com ele sabe q ele não tá bem [...]” Quando Maria entra num processo de autoria com sua própria vida, João, como que alimentando um processo de retroalimentação, já verificado neste casal, inicia um processo de auto-destruição: (M.): “[...] Dependendo do nível da bebedeira dele eu não digo nada [...] Aí começou a fofocada: A Cris, minha empregada, disse que a empregada da vizinha disse que viu o João abraçado no Shopping com „não sei quem‟ [...] (suspeita de traição por parte de Maria, como se sinalizasse uma certa despreocupação e até negligência de João quanto aos rumos que a relação iria tomar: ter deixado ser visto abraçado com uma outra mulher num ambiente público); (M.): “Liguei para mãe dele [...] era ecxtasy [...] O João está passando por um momento complicado e a mãe dele é ela! (surge uma hipótese de que Maria usa sua sogra para lidar com questões as quais não dá conta de resolver). (M.): “ [...] liguei para ele e disse pra ele que eu tava fazendo as malas dele[...]” (J.): “[...] a única coisa que me importa é a I. (filha), nem o F. (filho mais velho) me interessa [...]” (M.): “Parece que o João tá tentando se mal tratar [...] Ele diz que quer cuidar de problemas dele, que ele tinha saído de uma relação complicada [...] Ele não consegue lidar com ele mesmo!” Nesse estágio, houve uma devolução da equipe de terapeutas para Maria, a respeito do reconhecimento do quanto ela se tornou especialista dela mesma, a partir da possibilidade em fazer suas próprias reflexões a partir dos efeitos que estes encontros têm construído. Quando sugerido para que ela pensasse sobre o que de pior poderia estar por vir entre ela e João e, em contraponto, o que de melhor a vida poderia reservar para eles, Maria rapidamente responde: “Eu sempre levei a minha vida nesse sentido. O que de pior pode acontecer, qual serão as conseqüências disso e eu tenho como suportar [...] sempre fiz isso”, sugerindo a toda a equipe o quanto ela tem procurado construir novas significações à sua vida, ativando memórias pessoais. Nesse sentido, mais uma hipótese fora sustentada pelo grupo: Talvez Maria quisesse ser e ter um pouco das duas mulheres que habitam nela, a Maria de antes e a de hoje: a loucura da relação anterior e a maturidade desta mulher. Quanto a João, na medida em que Maria construía sua trajetória mais autônoma, este chegou à descoberta de que também possuía seus recursos que os ajudariam a transformar sua vida, o que resultou numa nova forma de atuar na conjugalidade. (J.): “ [...] eu me fechei tanto em relação a ela [...] de não compartilhar mais nada da minha vida com ela [...] Eu tô me colocando de maneira muito fechada mesmo, falando muito pouco, tocando pouco [...] essa semana mesmo aconteceu (sexo), mas parece que eu me sinto um pouco sujo de partir para cima dela [...] porque tem o lado da outra pessoa (da relação extra-conjugal que ele mantém) [...] minha vontade é tentar sair um pouco para ver o que acontece [...] a minha idéia era experimentar um pouco, sair fora, sair de casa [...] mas para ela isso é muito difícil, é o aval da minha vagabundagem [...]” (J.): “Uma série de entendimentos depois de estar vindo aqui que ficou claro na minha cabeça sobre a gravidez; a vontade dela em ter realmente um filho [...] ” Agora João já era capaz de tratar de histórias alternativas da vida do casal, que ficaram ausentes enquanto a história dominante assumia grandes proporções, como, por exemplo, ao trazer, passadas 10 sessões, a questão da sexualidade neste casamento: (J.): “[...] faço várias reflexões [...] em relação ao sexo, já é uma coisa que eu pontuo desde cedo para ela [...] mesmo vivendo apenas por 9 meses com ela, eu pontuava...pra mim era muito ruim, eu também pensava que eu não a satisfazia, falei para ela buscar uma sexóloga [...] ela chegou a dizer que ficou 6 meses sem sexo com o ex-marido dela[...] pra mim é muito importante, é uma necessidade diária, semanal, por conta do cotidiano da vida [...] já era ruim antes (no começo da relação) [...] ela fala que sente prazer, mas eu não percebo ela satisfeita; talvez algo trave dentro dela [...] eu tentei entrar em detalhes do casamento anterior dela para entender um pouco [...] e é justamente isso que eu me sinto sujo também, tenho um relacionamento fora e penso que assim como ela fez no casamento anterior, será que ela não está fazendo por obrigação?” (J.): “Uma coisa que eu divido com minha mãe e uma coisa que me frustra é que a Maria nunca me procurou na vida. Se eu não procurar, a gente vai ficar sem fazer. Aí o que é que eu faço? Eu fico sem procurar, e aí não acontece!” (J): “[...] quando as outras coisas estão supridas, o lado sexual não se torna tão importante como está sendo agora [...]” E, ainda, suas percepções quanto a consciência de Maria no que se refere à relação extra-conjugal que ele mantém com uma colega de faculdade: (J.): “[...] Por mais que ela não tenha visto, ela tem isso como certeza absoluta. Ela sabe por que bem no começo da faculdade, e a gente tava tentando salvar o nosso relacionamento, mais uma vez eu falei com ela: - Pega um táxi que eu tô com a galera da faculdade e aí elas se conheceram; bateram altos papos [...] só que as coisas lá na frente foram se confundindo [...] e quando ela pegou as mensagens, por mais que elas não estavam assinadas, eu contei a ela de quem era [...]” (J.): “[...] Maria é muito inteligente e quando ela vê que nosso relacionamento está fragilizado, ela reage colocando a idéia dela de uma forma bem mais madura, e eu não acho que isso seja o mais apropriado [...] tem algumas coisas que para mim são tão claras na minha cabeça que eu fico analisando ela e vejo que ela não tá errada, ela tá querendo salvar o que é dela [...]” (J.): “Maria tem tido reações inéditas! Ela nunca foi de chorar muito, quanto mais chorar berrando! Ela tomou isso (a traição) como uma certeza absoluta [...] isso tem interferido no lado emocional dela.” João expressa novos pensamentos sobre Maria e sua relação com ela, fazendo um “balanço” da sua vida, em comparação com o seu passado, como se avaliasse o seu caminhar no processo de autoria da sua vida: (J.): “[...] Eu era muito satisfeito nas minhas necessidades de sexo, de afeto, na minha relação anterior [...] a busca da Maria não foi por isso, mas justamente por uma pessoa equilibrada[...] em compensação, não tínhamos equilíbrio nenhum, eram duas crianças, era como se aquilo (o sexo) não fosse naquela hora necessário, mas de repente (hoje) voltou a ser!” (J.): “Parece que ninguém se procurou. No 1º dia em que cheguei em Porto Alegre o destino me colocou diante de Maria. Nos encontramos, começamos a nos relacionar como amigos, porque eu cheguei procurando hotel [...] No começo não surgiu nenhuma necessidade de beijar ela, de abraçar ela, de casar com ela; surgiu um outro sentido, muito por gratidão, porque ela me ajudava muito [...] As coisas simplesmente foram acontecendo [...] eu nunca tentei beijar Maria [...] o princípio do nosso relacionamento eu tava solteiro, numa cidade bacana, eu ficava com um monte de menina e a minha idéia é de que eu não queria um relacionamento tão cedo... aquilo era tão diferente pra mim [...]” (J.): “Eu nunca impus nem propus nada nas minhas relações [...]” (J.): “[...] se eu fui feliz nas minhas tentativas ou não, eu não sei, mas, pelo menos, eu não fui omisso... Tirando o meu lado profissional que eu trabalhei muito o ano passado, no pessoal foi só para ela.” (J.): “[...] mas a gente construiu muita coisa boa aqui nessa cidade [...]” Conversas de re-membrança dos bons momentos do relacionamento dos clientes levaram João a um paradoxo: “Consigo ter Maria novamente como minha mulher e vou reconquistá-la, e namorar com ela, mas sei que é muito difícil isso para ela, até porque talvez se ela não suspeitasse nada disso (traição), seria mais fácil [...] ” Coube, então, à equipe terapêutica, intervir chamando atenção para as profecias que se auto-cumprem: aquilo que ele tanto teme pode terminar acontecendo, relacionando isso ao fato de talvez essa relação chegar ao fim sem a garantia do respeito, que ele tanto buscou alimentar, desde o início do processo. Foi sugerido que ele pensasse o que, de fato, seria melhor para este casal: expor a 3ª pessoa da relação (amante), levando Maria, ao se sentir ameaçada, se responsabilizar por uma decisão mediante acúmulo de muitas mágoas, o que prejudicaria a relação dele com a filha do casal, exatamente como ocorreu com o filho mais velho dele na relação anterior, ou se preparar para entrar em contato com o seu real desejo e arcar com a decisão de assumir uma separação (?!). Repetição de padrões? Nunca se soube, ao certo, já que a próxima sessão, que seria de casal, nunca chegou a acontecer. Estes encontros finais foram essenciais para a constatação de que as conversas de legitimação das narrativas de enfrentamento, geradas no contexto das sessões individuais, representaram uma forma de estruturá-los a tomar uma decisão pessoal sobre o futuro do casal, no que se referia às responsabilidades de cada um e suas possibilidades. (M.): “Se eu vou sofrer? A gente sofre e passa [...]” (M.): “[...] o que me abala mais nessa relação é que eu gosto do João, mas eu ficar sozinha, eu cuidar de I. (filha do casal), eu suprir as necessidades da casa, nada disso me apavora!” (J.): “Uma boa parte das minhas frustrações não é porque a pessoa não é assim, e sim porque eu criei uma pessoa que ela não é [...] (J.): “Quanto menos expectativa a gente cria, menor é a chance de se frustrar, e eu crio muitas expectativas. Meu problema é esse!” As sessões individuais, que aconteceram por convite ou circunstanciais, contribuíram para dar visibilidade, tanto para o terapeuta como para seus clientes, de todo o processo de construção e de fortalecimento da mudança. Talvez, por isso, após um longo recesso e desencontro no processo terapêutico, fomos informados que já moravam em cidades diferentes e que era preciso finalizar este processo, ao menos de casal, já que reconheceram que, mesmo existindo casamento, já não existia mais o casal (se é que este algum dia existiu...). João ligou de Salvador comunicando que Maria voltara a residir em sua cidade natal com a filha do casal e nada mais se soube... CONSIDERAÇÕES FINAIS: Ao analisarmos o processo de mudança individual construído em terapia sistêmica de casal percebe-se como as intervenções pautadas pela perspectiva narrativa podem contribuir para criação de novas possibilidades de vida que repercutem na conjugalidade. As intervenções terapêuticas realizadas ao longo do processo individual de cada um puderam contribuir para definição de acontecimentos extraordinários por parte de cada um, na história regressa e atual do casal; externalização do problema que aflige as partes e fortalecimento das narrativas de enfrentamento, comprovando o quanto cada um, individualmente, está imerso no processo da conjugalidade, com responsabilidades pessoais sobre qualquer resultado do processo de casal. De acordo com Rasera e Carrijo (2010) e tomando como base a perspectiva narrativa, os problemas são criados por meio de narrativas que buscam dar sentido à vida das pessoas, mas, no entanto, geram sofrimento. Com sua proposta de desconstruir histórias dominantes que impeçam as pessoas de viver e se relacionar, a terapia narrativa tem como função a promoção de possibilidades narrativas mais ricas e preferidas sobre si mesmos e suas vidas. No atendimento analisado, as práticas narrativas ajudaram a criar na relação terapeuta-cliente um fluxo conversacional que permitiu novas possibilidades para a vida de cada pessoa, individualmente. A utilização clínica da Terapia Narrativa não prescreve nenhum modelo de atendimento pautado no uso pragmático de determinadas técnicas, com indicações de sintomas específicos, e, ao contrário disso, trata-se de uma postura interpretativa, orientada pela analogia textual (WHITE & EPSTON, 1990). Nesse sentido, como defende Rasera e Carrijo (2010), o mais importante é o terapeuta assumir uma postura de engajamento na narrativa das pessoas atendidas “de forma a valorizar e se interessar pelos conhecimentos e sentidos à medida que são criados e vivenciados pelas pessoas em suas conversas”. Com cada cliente o terapeuta deve criar novas possibilidades de vida pessoal e de saber profissional: o saber ser uma pessoa melhor e o saber ser um terapeuta melhor. Desta forma, neste trabalho, contamos a história de mudança de João e Maria, como eles puderam construir a sua experiência de modo narrativo, atribuindo os significados que iam fazendo, para eles, individualmente e maritalmente, mais sentido. Com o destaque para a importância e o uso das propostas narrativas para o campo da terapia de casal, pudemos comprovar que certos jeitos de se conversar podem contribuir para o processo de mudança das pessoas em atendimento terapêutico. Além disso, pudemos perceber como as práticas narrativas criaram espaços dialógicos que permitiram aos clientes conversarem sobre suas dificuldades, compartilharem suas vivências e ressignificarem suas histórias. Contudo, este artigo ainda traz um desafio relativo, especialmente em relação ao casal no processo terapêutico. De forma geral, as intervenções narrativas parecem se adequar facilmente à transformação da narrativa de uma das partes do casal, cabendo ao outro as conseqüências desta transformação. Ou seja, o uso das contribuições da terapia narrativa em casais, apesar de útil e pertinente, pode, em alguns casos, promover inadvertidamente um enfoque individualista quanto aos rumos da conjugalidade. Cabe ao terapeuta, numa atitude de atuação sensível ao processo de construção de sentidos do casal, convidar uma das partes (quem teve um tempo maior para promoção das mudanças) a identificar e refletir sobre as implicações do processo de mudança já alcançado por outrem, contribuindo para a tarefa de desconstrução de algumas verdades normalizadoras íntimas. E como a Psicologia do Senso Comum define: “Quando um não quer, dois não brigam” Já que as narrativas são ferramentas culturais que estão disponibilizadas socialmente e são utilizadas pelas pessoas para dar sentidos às suas experiências, acreditamos que, tratando-se de casal, cabe também ao terapeuta o exercício de ajudar seus clientes, individualmente, a construírem novas possibilidades para a conjugalidade, de forma a criarem um repertório mais rico de sentidos e não serem apenas reprodutores de narrativas que promovam confinamentos e sofrimentos, como defende a crença do senso comum quanto ao casamento. Assim, instituiremos novas verdades sobre o “estar casado”! Além de apresentar a construção da Terapia Narrativa e sua repercussão no campo da terapia familiar, este artigo representa a minha construção como terapeuta familiar, em respeito ao meu estilo pessoal e à convergência deste novo constructo nos meus outros saberes profissionais. Penso que, assim como as Práticas Narrativas exerceram uma forte influência no campo da Terapia Familiar, como terapeuta familiar, poderei incluir meu potencial inovador e minha maneira singular de sentir as pessoas, as famílias, os casais, os grupos e a sociedade, na construção do meu “self terapêutico”. Sabendo conviver com meus problemas separados de mim e, assim, poder melhor observar a influência deles na minha vida e a minha influência na vida do problema (externalização); dando-me conta da minha história de vida, do que é valorizado por mim, dos aprendizados que obtive, dos aspectos culturais e épocas em que cada evento aconteceu e qual o significado/efeito disso (re-autoria); identificando as pessoas significativas que contribuem para eu ser quem sou (re-membrança) e, por fim, me envolvendo com os recursos dos quais disponho, para o reconhecimento do que pensam e sentem de/por mim e do que devo trabalhar terapeuticamente como cliente, enquanto desenvolver esta arte/ofício de atender/acolher o/um outro, através do qual me reconheço (cerimônia de definição com testemunha externa e conversas de construção de andaimes). Quando o terapeuta tem consciência dos recursos dos quais dispõe enquanto indivíduo, consegue valorizar os desafios encontrados na busca dos seus clientes. O terapeuta familiar tem a missão de colaborar com as pessoas no desenvolvimento das histórias de suas vidas, enriquecendo o seu patrimônio afetivo pessoal e de competências. Para o desenvolvimento destas histórias, o terapeuta narrativo pode utilizar as conversas de externalização; os momentos de diferença (exceções e acontecimentos marcantes); a observação direta do que a família diz; as histórias de novos desenvolvimentos (coisas novas que estão acontecendo ultimamente) e o “ausente, mas implícito” nas expressões das narrativas. Através das idéias narrativas busca-se a reconstrução de significados e da identidade dos sujeitos, a partir da rememoração dos passos que o sujeito já deu e os valores que estão por trás deles; da revisão dos significados antigos e construção de novos; de questionamentos que enriqueçam as histórias de suas vidas. As perguntas da Terapia Narrativa não focalizam, mas evocam sentimentos e emoções. Cabe, então, ao terapeuta narrativo, manter a esperança e acreditar na reautoria dos sujeitos; ser agente de sua vida, intenções e valores; optar por sua história e identidades preferidas; agradecer à simples existência neste mundo; submeter-se cada vez mais ao processo de socialização; apropriar-se da sua competência, autonomia e possibilidades, sem necessidade de autorização de ninguém, a não ser própria... ...Enfim, como atingir isso e como fazer os outros atingirem? Ainda bem que se trata de um processo de co-construção! E, sendo assim: - Eu me autorizo! REFERÊNCIAS ANASTÁCIO, Sílvia Maria Guerra. As narrativas e o processo de recriação do sujeito: a semiótica das metáforas / Sílvia Maria Guerra Anastácio, Célia Nunes Silva. 2. ed. rev. – Salvador : EDUFBA, 2008; ANDERSEN, T. Processos reflexivos. Rio de Janeiro: Noos, 1991. BOWLBY, J. Uma base segura: aplicações clínicas da teoria do apego. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989; CERVENY, C. M. de O. 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